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Revisada por: Lightyear 💫

Finalizada em: 12/06/2025

Joguei água no meu rosto, observando-me no reflexo do espelho e pensando: O que diabos eu estou fazendo?
estava fucking noiva de um homem que era, literalmente, dono de um castelo na Escócia e eu simplesmente achei que seria uma boa ideia acompanhá-la nesta loucura em que ela havia se metido.
Logo eu, o melhor amigo apaixonado.
Conheci no ensino médio, ela era a garota esquisita, que precisava de ajuda social, e eu era o cara popular, que precisava de ajuda com todas as matérias de exatas. Era o plano perfeito. Lembro-me do nosso primeiro encontro como se fosse hoje.

— Erm... Oi — ouvi uma voz feminina atrás da porta do meu armário e já dei o meu melhor sorriso antes de mover a porta.
— Oi, sugar — falei, antes mesmo de olhar quem era, e me deparei com olhos assustados atrás de uma armação preta com grossas lentes. Suas bochechas estavam tão coradas quanto o fichário vermelho que ela apertava em seu peito. — Ah... — Tentei fingir que não estava um pouco decepcionado. — , certo?
— Isso. E você é . — concluiu ela, surpresa por eu saber seu nome.

Ela me lembrava uma versão menos gostosa da Velma de Scooby-Doo.

— Esse sou eu — respondi convencido, erguendo uma sobrancelha, aguardando-a criar coragem para dizer o motivo de estar puxando assunto comigo. Éramos visivelmente opostos na classe social do colégio.
— Bem, , eu gostaria de saber se você quer fazer um trato — ouvi-a dizer, enquanto trancava meu armário e a olhava com curiosidade. Tamanha era a astúcia daquele serzinho, um metro e sessenta de pura vergonha, porém corajoso o bastante para vir falar comigo. Eu não era o cara popular babaca, ela sabia disso, e, provavelmente, queria usar este fato a seu favor. Acenei com a cabeça, indicando que estava ouvindo. Ela empurrou a armação dos óculos antes de prosseguir: — Eu preciso de ajuda, e sei que você também precisa para conseguir a bolsa integral de futebol. Achei que, talvez, pudéssemos fazer um trato em que um ajuda o outro.
— E que tipo de ajuda você precisa? — perguntei, unindo as sobrancelhas e cruzando os braços sobre o peito. Alguns amigos meus passaram por nós, tão curiosos quanto eu, apenas acenei com a cabeça para eles.
— Eu preciso da sua ajuda para convidar um amigo para o baile de Sadie Hawkins. — O baile de Sadie Hawkins, há! Eu já havia recebido tantos convites que nem sabia exatamente quem escolheria como meu par. Meus olhos mergulharam nos olhos cor âmbar de , e, por um momento, um sorriso de compaixão surgiu em meu rosto.
— Ok, , acho que posso te ajudar com isso. — Afinal, ela não era tão esquisita assim, e podia me ajudar com exatas. Que mal podia haver nisso? O sorriso que ela deu iluminou seu rosto, e naquele momento, eu percebi que podia receber aquele sorriso a qualquer momento e provavelmente não negaria nada que viesse dele.
E como eu estava certo.

Passamos muito tempo enterrados em livros e eu passei muito tempo ajudando-a com garotos, dizendo o que vestir e o que falar. Deu certo. Encontrei nela a amiga que precisava e ela encontrou em mim o irmão mais velho que não tinha.
Eu só percebi que estava apaixonado por ela na faculdade, quando finalmente achou seu grupinho de pessoas parecidas com ela — escritores esquisitões que fumavam charutos —, usava seus blusões de lã que a engoliam enquanto continuava falando comigo, o ascendente de atleta que não seria ninguém na vida; mas eu a tinha. A garota inteligente que sempre sabia o que dizer e tinha um radar tão bom com as minhas namoradas que eu ficava até meio assustado. Era como se ela tivesse um sexto sentido, e, no fundo, sabia que o tinha. Passei por tantas namoradas que perdi as contas, e em todo término tinha minha melhor amiga, me esperando no bar para afogarmos a mágoa com seus amigos esquisitões, mas que eram tão legais quanto ela. Um deles, Duncan, sabia que eu era apaixonado por ela antes mesmo de eu admitir para mim mesmo.

— Você ainda vai partir o seu coração, se continuar olhando-a desse jeito — disse ao meu ouvido uma vez, enquanto ela pronunciava algo que eu nem prestava a atenção, vendo seus cabelos soltos caindo em cachos largos por seus ombros, com um caneco de chopp pela metade. E eu finalizei o meu caneco sem respondê-lo, apenas vendo como os olhos dela brilhavam na meia-luz daquele bar de procedência duvidosa.

É, eu alimentei uma paixonite boba pela minha melhor amiga nerd por mais tempo do que eu gostava de admitir. E em uma viagem idiota de conclusão do seu curso de literatura inglesa, ela simplesmente voltou com um namorado europeu. Um namorado europeu bonito, charmoso e babaca.
Eu odiava Peter, odiava seu sotaque que sempre me corrigia: “É, Pee-tah”, e eu só gostaria de ter a oportunidade de dar um soco bem no meio dos seus olhos. , por outro lado, estava radiante como nunca estivera, e aquilo acabava comigo. Me sentia em um videoclipe antigo do Nickelback, com a chuva caindo, as coisas em preto e branco e uma música clichê tosca ao fundo.
Agora eu estava aqui.
Perdido na Escócia, ouvindo absolutamente todos falarem em como aquele fucking castelo era lindo, em como era sortuda por ter encontrado Peter, e o pior comentário veio dos meus pais, que também estavam hospedados no castelo para o casamento: “, como você deixou uma garota como escapar?”
Deus, por favor, me ajude aqui.
Admirei meu reflexo cansado no espelho, vendo a água escorrer por meu rosto patético. Até quando você vai ficar engolindo esta paixonite besta por ela? Vai esperar mais quinze anos? é a sua alma gêmea, a sua metade da laranja. Vocês são opostos e, mesmo assim, se dão tão bem que chegam a irritar os outros. Quem mais poderia ser tão certa para você?
Eu não iria esperar esse casamento acontecer sem falar para ela o que eu sinto. Não. Iria atrás do que é meu.
Saí pelos corredores daquele maldito castelo idiota. As paredes eram de pedra e concreto, e tinham uns mil anos, como Peter havia dito, mas eu apenas ignorava tudo o que saía da sua boca. Nas paredes, havia luminárias antigas que pareciam ter saído de um cenário de Game of Thrones. Todo aquele lugar era úmido e frio, odiava isso; eu era calor e verão.
Procurei-a por cinco ambientes diferentes antes de desistir. Voltei ao meu quarto com o coração na mão e me deparei com ela deitada em minha cama, os braços abertos, o olhar preso no teto.

? Está tudo bem? — perguntei, fechando a porta atrás de mim.

Ouvi um suspiro alto e dramático.

— Está. — Suas pernas balançavam para fora da cama, os pés com pantufas fofas.
— E por que eu não acredito nisso? — questionei, aproximando-me. Eu não estava nervoso; conhecia aquela criatura tão bem que não me deixava intimidar por suas atitudes.
— Porque você me conhece bem demais. Não conta. — Ela ergueu o tronco, ficando apoiada nos cotovelos. — Eu e Peter brigamos... Foi uma briga boba, mas eu precisava sair de lá. Respirar um pouco. — Explicou sem rodeios, conosco era assim: a amizade durava tanto tempo que não precisávamos de filtros.
— Entendi. — Sentei-me ao seu lado. — Pode ficar o tempo que precisar.
— Ok, obrigada — disse, largando o corpo de volta na cama. — Você viu a prima de Peter? A ruiva? Ela parecia estar te comendo com os olhos durante o jantar. — Seu semblante era divertido; era apenas um papo furado para distraí-la da briga.

Confesso que notei, sim, que havia uma ruiva na mesa, que parecia estar olhando demais para mim; porém, minha cabeça estava tão focada em e Peter dando comida um para o outro, como a porra de um casal de propaganda de loja de perfumes, que não consegui me concentrar em qualquer outra coisa. Aquela cena me dava náuseas.

— Ah, sim, vi sim. — Dei de ombros, sem muita empolgação.

Realmente, não era minha intenção ficar falando de uma pessoa qualquer, enquanto estava deitada na minha cama. Deitada na minha cama — meu cérebro relembrou — com a porra de um roupão de seda, que me mostrava muito mais do que eu realmente estava preparado psicologicamente. Porra, eu estava tão fodido.

— O que você tem? — perguntou ela, sentando-se num pulo. Suas sobrancelhas uniram-se, uma ruguinha apareceu entre elas.
, eu preciso fazer algo. Mas você precisa me prometer que não vai ficar brava — falei, olhando no oceano cor de mel que seus olhos tinham.
— Você está me assustando, — disse ela, ainda com as sobrancelhas unidas e eu sorri querendo mostrar que estava tudo bem.

Aproximei meu rosto do seu, devagar, como imaginei infinitas vezes em minha mente. Seus olhos denunciaram estranhamento com minha aproximação, e dei um meio sorriso antes de colar nossos lábios. No início, foi apenas um par de lábios conhecendo o território, colados sem movimento, as respirações se misturando. Após sentir uma eletricidade avassaladora no peito, abri a boca para aprofundar o beijo, algo que estava reprimido em meu peito há anos.
provavelmente não entendia nada; sentia suas mãos perdidas, sem saber se iam até minha nuca ou se empurravam meu ombro para trás. Nossas línguas se tocaram por um segundo antes de eu colocar minhas mãos em sua cintura, puxando-a para mais perto. Eu sentia um calor inexplicável no pescoço, um arrepio interminável na pele, e meu coração pareceu finalmente voltar a bater quando senti sua mão me empurrando levemente para longe. Seus olhos estavam arregalados e seus lábios ligeiramente inchados pela fricção contra minha barba; seu peito subia e descia exasperado, assim como o meu. Nossos olhares se cruzaram mais uma vez antes de nossas bocas colarem mais uma vez. Merda. Eu achava que já era viciado o suficiente nela, mas agora, sentindo o gosto de sua boca, finalmente percebi que não conhecia minha o bastante.
Desta vez, sua língua misturava-se à minha em uma sincronia menos assustada; suas mãos criaram coragem para vagar pelos meus cabelos, e as minhas mantinham-se em suas costas, puxando-a o mais perto possível. Não havia medo, frustração ou nervosismo; aquele beijo tinha gosto de companheirismo, amor e saudade. Era possível sentir saudade de algo que nunca havia provado? Eu sentia, como se aquele beijo estivesse faltando em todos os meus trinta anos de vida.
Separamo-nos mais uma vez.

, eu vou me casar — disse ela, os olhos fechados e a respiração descompassada, nossas testas encostadas. — Merda, eu vou me casar!

Foi uma exclamação que beirava o desespero. E não era um desespero por perceber que eu era o homem da vida dela e ela precisava impedir o casamento. Era um desespero de “que merda eu acabei de fazer?”.

, está tudo bem.
— Não, , não está. Você não podia ter feito isso — disse, finalmente afastando-se de mim; senti meu corpo reclamar.
— Bom, você queria que eu fizesse o quê? — perguntei sem realmente saber o que dizer. — Eu quero fazer isso há anos!
— Para começar, eu queria que você não tivesse me beijado e, depois, podia ter dado esse beijo antes de eu ficar noiva! — As palavras surgiram nervosas em sua boca; ela estava tão perdida e aturdida quanto eu.
— Eu achei que teria tempo, , não achei que você voltaria com um namorado europeu naquela viagem. — Admiti, passando as mãos pelo meu cabelo. Meus olhos correram pelo seu rosto indignado e acabaram pousando em seu ombro desnudo pelo roupão que havia escorregado.
— A culpa não é minha se você não foi homem o suficiente para admitir que gostava de mim antes de eu conhecer Peter. — As suas palavras me magoaram um pouco, mas eu tinha noção de que ela estava certa.
— Eu não consegui admitir nem para mim, quem dirá para você.
, você está me deixando... confusa. Eu preciso... Eu preciso sair daqui. — Sua voz falhava, e eu sabia que as lágrimas estavam vindo. Ela levantou-se exasperada e correu para a porta.
, espera. — Chamei-a antes que saísse. Segui até ela, tão rápido que não tive tempo de pensar em meus atos e uni nossas bocas mais uma vez.

Sua mão enlaçou minha nuca com uma facilidade incrível, minhas mãos agarraram sua cintura, para ter a certeza de que ela não fugiria de mim. Nossos lábios brincaram um com o outro antes das línguas se misturarem novamente. Aquilo ali era nosso.
Nosso beijo, nosso momento e nosso encontro.
Eu não iria perdê-la de jeito nenhum.



Fim


Qual o seu personagem favorito?


Nota da autora: Sem nota.

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