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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 19/07/2024
(Matthew)

Eu sempre fui bom em lutar, sem treino nenhum. Era natural o modo como eu reagia em situações intensas — e cheguei a competir clandestinamente algumas vezes por dinheiro, que era o que qualquer imortal deveria fazer algum dia. Mas quando o assunto era fugir, bem…

— Puta merda, como vocês correm tanto? — grito pro vento atrás de mim, forçando meu corpo exausto a manter o ritmo.

A questão era que imortais se cansavam, se feriam e seus pulmões ardiam caso não treinassem em uma academia ou batessem nos seus outros inimigos imortais, mas como eu disse, nunca achei que eu precisasse. A minha vida era bem mais complicada que a do meu irmão, ele não era tão atraente — para mulheres ou confusão, então alguém tinha que cumprir esse papel.

A floresta que eu estava ficava bem longe da minha casa, talvez meio continente de distância. Mas me lembrava de ter bebido o suficiente para ficar bêbado, mesmo com o meu corpo se regenerando da sensação do álcool a cada investida e acordado ali. Meio inebriado, lembrava de ter sentido minhas mãos amarradas e um peso a mais no meu peito onde Jasper estava pisando.

— Levanta, babaca. — Ele me odiava. Seus motivos eram rasos, eu devia ter dormido com uma irmã dele e matado seu outro irmão ou algo assim, para falar a verdade, das primeiras vezes, eu apanhei pra caralho tentando lembrar quem esse cara era. Não devia estar sozinho, as risadas ao redor eram falhas e imbecis igual seus dois parceiros que eu não lembraria o nome nem se me matassem, e eles tentaram bastante.

Com um pouco de sorte e o sangue do irmão dele correndo nas minhas veias, consegui escapar dali e correr floresta adentro. Mas corrida? Não era meu forte. Em poucas horas, já estava oscilando e meus passos em velocidade máxima já tinham decaído pra um mediano fudido.

E com pouca esperança, uma foto dela no bolso e uma coragem maior do que deveria, pulo pelo precipício confiante de que ali eles não me seguiriam.

A névoa ao redor embaça minha visão, o que mal fazia sentido, pois o sol brilhava no céu poucos minutos atrás. Mas a descida que parecia rápida e dolorosa não chegou ao fim, e eu me sentia em uma daquelas pegadinhas com pacientes em coma. Demorou tanto que eu pude raciocinar a burrice toda daquela situação, e eu tinha me superado. Nem mesmo minha versão pirralho que botou fogo em um bairro inteiro e quase em si próprio mais de uma vez fez algo tão burro.

Não sabia dizer o que me fez sair daquele estado de declínio, mas quando pisei no chão, minha cabeça já não era mais a mesma. Eu fui me desfazendo do meu passado e literalmente o via passando por mim como poeira, fugindo do meu alcance. Aos poucos, ia perdendo todos em que podia me apegar e me vi sozinho em um vazio completo.

— Se isso for morrer, espero que me digam meu nome!

— Por quê?

A resposta inesperada me assustou, com um pulo, teneio ver algo em meio à uma neblina aterrorizante e cheguei a caminhar um pouco antes de falar outra vez.

— Onde eu estou?

— Sabe, nem toda voz secreta no meio do nada tem a obrigação de te responder o que quer saber.

Dou uma risada, me sentando no chão. Não percebi na hora, mas quando fiz isso, o vazio abaixo de mim se tornou um gramado. Olhei para cima, acreditando que a voz vinha de lá, e me senti bem idiota, mas curioso.

— Como quiser. E qual sua obrigação então?

Sinto-a travar antes da resposta, uma confusão passando pelo seu rosto que pude ver por longos segundos antes que sumisse tão rápido quanto veio.

Em minha cabeça, tinha uma pequena curiosidade sobre como eu era fisicamente e minha mão hesitante percorre meu cabelo. Ele sempre foi grande assim? Há quanto tempo eu não o cortava? As perguntas eram deixadas para trás ao ver que, acima de mim, já existia céu. Então, eu sabia pouco, mas como estava conformado de que isso fosse a morte, não busquei informações.

— Eu preciso da sua ajuda. E, em troca, eu te faço algo que queira.

— Interessante. Pode me reviver?

— Espere, você está morto?

A última peça que faltava no local aparece, bem a minha frente, meu corpo pendurado em uma enorme estaca de madeira no fundo de um precipício com várias estacas empalando corpos de idiotas o suficiente para pularem sem olharem o fundo antes. A cena se desenrolou na minha frente e, sem reação, somente observei o sangue seco escorrendo do enorme buraco na minha testa, do meu pescoço quebrado e de outras partes do corpo que eu preferia não comentar como estavam. No meu peito, uma camisa rasgada deixava aparecer um nome riscado com faca e tive certeza ser o meu, porque o senti como se fosse, e era o suficiente para mim.

Ouvi a voz chamar, mas estava absorto na dor que aquilo me trazia, caindo de joelhos no gramado tão verde que parecia uma piada perto de tudo que estava acontecendo bem ali na minha frente.

Não sei dizer quanto tempo fiquei daquele jeito ou o que me fez sair disso, se foi a inércia ou a aceitação de que nada ia mudar a minha morte e mesmo se eu fizesse algo, seria em vão. Só pude dizer que aceitava, esperando que o vazio me consumisse. E quer saber? Não consumiu.



Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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