Revisada por: Hydra
Última Atualização: 12.05.2025Desde que se entendia por gente, a garota de cabelos castanhos se expressava através da dança e toda vez que passava em frente a academia de balé mais renomada da cidade, a pequena aspirante a artista implorava ao seu pai que a matriculasse,contudo, infelizmente, Hank Thunderman não possuía condições, naquele período, de realizar o pedido da filhinha, recém divorciado, o dedicado pai lutava com unhas e dentes trabalhando em uma lanchonete como garçom, a fim de sustentar a casa. Phoebe entendeu, sem problemas, afinal mesmo sendo apenas uma criança, conseguia perceber as lutas do pai.
Contudo, ela não desistiu de seu sonho. Já adolescente, se inscreveu para um programa especial da academia que ofereceria uma bolsa de estudos. A garota de cabelos castanhos agarrou a chance com unhas e dentes, todos os dias depois da escola treinava sem parar com uma sapatilha velha comprada com suas economias em um brechó. O esforço da jovem valeu a pena, ela conseguiu a bolsa e agora aos vinte quatro anos de idade, era uma das alunas da turma especial da senhorita Lily, uma professora renomada, mas muito exigente e mal humorada. Phoebe teve que lutar para conquistar sua admiração, muitas vezes chegava atrasada nas aulas com as mãos cheirando a gordura. Sempre antes da garota conseguir explicar que ela ajudava seu pai na lanchonete própria inaugurada depois de muitos sacrifícios.
A senhorita Lily a advertia na frente de todas as outras alunas esnobes, o que obviamente deixava Phoebe constrangida, porém não era o suficiente para fazê-la desistir de seu sonho, muito pelo contrário a fazia se sentir ainda mais determinada. A falta de recursos ela compensa dando o melhor de si, o atraso, ela compensa ficando todas as vezes depois do horário, a fim de praticar os movimentos.
Dessa forma, com o tempo a jovem sonhadora, conquistou a admiração pela rígida instrutora . Agora, a senhorita Lily não se importava mais com os atrasos daquela que considerava uma de suas melhores alunas. Mesmo assim, Phoebe ainda era insegura, pois não podia ajudar a academia financeiramente como as outras garotas, de famílias afortunadas, faziam, por essa razão quando a senhorita Lily perguntou se poderiam conversar, a garota engoliu em seco, esperando o pior. Cabisbaixa, ela se encaminhou em direção a mulher de cabelos ondulados e nariz arrebitado.
A professora a encarou de baixo a cima enquanto Phoebe tentava esconder as mãos trêmulas, o que ela teria feito? Será que as outras garotas teriam reclamado do cheiro da gordura vindo das roupas de trabalho que ela deixava no vestiário? Ou pior, será que finalmente haviam armado um plano para expulsá-la de vez. Antes de que senhorita Lily pudesse dizer qualquer coisa, começou:
— Eu juro que se o cheiro estiver incomodando eu dou um jeito de deixar as roupa de trabalho em outro lugar, é que eu venho direto…
A dançarina experiente fitou a aluna com as sobrancelhas erguidas em sinal de confusão.
— Do que você está falando?
— É… se não foi isso, então qual foi a reclamação?
— Reclamação ? — A professora cruzou os braços pela primeira vez mostrando disposta a escutar.
A jovem aspirante a bailarina, então decidiu se abrir:
— A senhora já deve ter reparado, mas as outras garotas não gostam muito de mim… — Admitiu em tom mais baixo.
— Sim, eu já percebi, o problema é delas, porque mesmo nas suas condições, atualmente é a minha melhor aluna.
Phoebe não escondeu o sorriso, seus ouvidos provavelmente a enganavam, não era possível. Quer dizer, a garota estava ciente de que a professora agora não a olhava de forma torta como nos primeiros dias e já havia dado sinais de que aprovava seu esforço, mas ouvir as palavras naquela voz rouca? Era uma nova e maravilhosa sensação.
— Nossa, obrigada é uma honra ouvir isso da senhorita.
— Você já está aqui há bastante tempo, e seu desempenho na aula, apesar dos atrasos constantes, é impecável e sua dedicação admirável. Por isso acredito que dará conta.
— Darei conta de que?
O coração de Phoebe parecia não caber mais no peito de tanta ansiedade e alegria, mas mesmo com esse turbilhão dentro de si, ela se manteve serena por fora, enquanto senhorita Lily explicava:
— Você já deve saber que eu estou organizando um espetáculo profissional aqui na cidade: O lago dos cisnes…
— Sim, quer dizer, eu já comprei o meu ingresso! Vai ser tão legal.
— Bom, acredito que não precisará de ingresso, já que fará parte do espetáculo se assim desejar.
— Nossa, que honra, eu serei uma dançarina de apoio? Porque é incrível fazer parte de uma produção profissional.
— Na verdade você será a cisne branca.
Phoebe quase caiu para trás antes de se beliscar de forma discreta para ter certeza de que não se tratava de um sonho.
— Quer dizer a protagonista?
— Sim.
— De um espetáculo profissional? Eu? — sua voz saiu trêmula.
— Exato, a minha antiga protagonista quebrou a perna e por isso ficará de repouso por uma meses, como o espetáculo estreia em alguns dias preciso de uma solução rápida.
— Eu? Sou a solução rápida?
— Claro, afinal é dedicada, talentosa e já está aqui o que vai me poupar gastar com qualquer passagem de avião… mas o que me diz você aceita?
— Se eu aceito? Esse sempre foi o meu sonho!
— Ótimo, mas já aviso que não será fácil, afinal terá que treinar as coreografias de forma dobrada se quiser estar pronta para o dia da estreia.
— Não se preocupe, isso é comigo.
— Sei que será trabalhoso e já que a primeira protagonista se machucou no ensaio e tive que indenizá- la , não poderei te pagar, mas se fizer tudo certo, poderá sim ser recompensador. — Ah, com certeza, quer dizer… protagonizar um espetáculo…
— Não só isso, eu estou falando dos meus amigos olheiros da Royal Academy.
Outra vez Phoebe pressionou para confirmar que seus ouvidos não a enganavam.
— Desculpa, quer dizer da mais prestigiada academia de balé do mundo? O sonho de qualquer bailarina?
Phoebe conhecia muito bem a Royal Academy, sempre assistia aos vídeos dos espetáculos deles , mas nunca cogitou a hipótese de tentar entrar, primeiro porque só a matrícula custava mais do que uma mansão e segundo porque o processo de seleção era muito rigoroso, inclui somente as melhores.
A voz rouca da senhorita Lily a fez voltar ao momento presente.
— Essa mesma, eu falei para eles virem analisar a minha protagonista durante o período em que ficaremos em cartaz,, mas agora eles vão analisar você para uma vaga.
Phoebe precisou de alguns segundos para se recompor antes de responder:
—- Senhorita esse é meu sonho, mas eu nunca teria condições de arcar com…
— Eu sei, mas eles vieram dispostos a oferecer uma bolsa de estudos integral.
Parecia bom demais para ser verdade.
— Como é?
De forma impaciente a professora retrucou:
— Eu não vou ficar repetindo, você ouviu muito bem. Se você mostrar seu talento nesse espetáculo, pode ganhar uma bolsa integral na maior escola de dança do mundo. Infelizmente eles não vão bancar moradia nem todo o resto…
— Isso não é problema, quer dizer, eu tenho uma reserva guardada! — Phoebe afirmou tentando acreditar nas próprias palavras, mesmo sabendo que era impossível, afinal não tinha um tostão furado de reserva.
— Ótimo! Então, depois acertamos os detalhes!
— Tudo bem!
Phoebe chegou na lanchonete com um misto de emoções, felicidade por finalmente ter a chance de realizar seu grande sonho, e insegurança, afinal se ganhasse a bolsa de estudos, como iria se manter. A garota não tinha coragem de pedir ao pai, afinal ele já lutava com dificuldades para manter lanchonete de pé e sustentar a casa, seria injusto exigir que ele a sustentasse em outro país. Claro que Phoebe ganhava um salário pela ajuda que dava a seu pai na lanchonete em seus períodos vagos das aulas na academia, porém este mesmo dinheiro ela usava para ajudá-lo a pagar as contas, portanto não sobrava nada para ela mesma…Não que estivesse reclamando, afinal fazia de bom grado, porém talvez aquela situação exigisse uma nova solução.
Hank Thunderman que conhecia de longe a filha, percebeu sua preocupação e enquanto continuava limpando as cadeiras indagou.
— O que está incomodando a minha pequena Phoebes.
A aspirante a bailarina sorriu ao som do apelido que a trazia conforto desde a infância.
— Pai, eu recebi uma ótima oportunidade. Já te falei que a senhorita Lily está organizando um espetáculo profissional aqui na cidade do lago dos cisnes, que estreia na semana que vem, não é?
— Sim, eu me lembro, inclusive você me pediu para usar parte do seu salário para comprar os ingressos, o que é mais do que justo, já te falei querida, não precisa abrir mão de todo seu dinheiro…
— Eu quero pai, já discutimos isso, mas agora eu nem vou mais precisar do ingresso, porque eu vou ser a protagonista. A bailarina que iria fazer o cisne branco se machucou e vou assumir o papel!
— Isso é maravilhoso, filha! Quer dizer, não para a bailarina, coitada, mas para você! Meu Deus , querida é o seu sonho!
— E não para por aí, alguns olheiros da Royal Academy, a maior academia de dança do mundo, virão assistir ao espetáculo e se gostarem do meu desempenho ao longo das apresentações podem me oferecer uma bolsa integral.
— Que maravilhoso filha! Nossa onde fica essa academia, Nova York, Los Angeles?
— Moscow! — Ela sussurrou já pronta para a reação chorosa do pai.
— Nossa, mas isso é muito longe, não sei se vou aguentar ver minha filhinha do outro lado do mundo, mas é o sonho, então vou te apoiar ainda mais sendo uma bolsa de estudos.
— Sim, a bolsa de estudos é integral, mas terei que arcar com outras despesas como moradia e alimentação.
Através do suor no rosto do Hank, Phoebe conseguiu enxergar uma ruga de preocupação.
— Bom, podemos dar um jeito, se isso acontecer eu posso pegar mais um empréstimo…
— Não pai,vjá temos dívidas o bastante para manter a lanchonete, eu nunca te pediria isso.
— Mas, então, como irá realizar o seu sonho filha.
— Bom, como o espetáculo não vai ser pago, eu estava pensando em arranjar outro emprego, mas não preocupe pai, vou continuar te ajudando aqui da melhor forma. — Imagina, filha. Você é tão talentosa, tem tanto potencial para crescer, olha só o que conseguiu, ainda adolescente entrou na melhor academia da cidade por seu próprio mérito e agora vai protagonizar um espetáculo profissional. Eu quero tanto que você tenha uma vida melhor do que essa que eu posso te oferecer. Por mais que eu goste da sua companhia, jamais te prenderia nessa lanchonete fedorenta para sempre.
Phoebe sentiu uma dor no coração ao ouvir a pessoa que mais amava no mundo e que mais a havia apoiado, falar daquela maneira.
— Pai, não, eu nunca pensei isso. Nossa lanchonete não é fedorenta, viu? Ela é o nosso orgulho, não se esqueça disso. E jamais pense que eu me envergonho dessa vida, muito pelo contrário, eu chego nas aulas com minha roupa suja , mas muito orgulhosa, porque ao contrário daquelas esnobes, eu sei o valor do trabalho, porque você me ensinou! E eu jamais vou esquecer, pode ter certeza que no último dia de espetáculo eu vou agradecer ao meu pai, que vai estar lá na primeira fila!
Hank não segurou as lágrimas diante de tanto carinho da filha.
— Você é mesmo uma filha de ouro meu amor! Eu só queria poder ter te proporcionado todas as oportunidades que você merece… Sabe, uma escola melhor, não ter que trabalhar …
— Pai você nunca me deixou faltar nada e além do mais, me deu o mais importante! Carinho e apoio!!
— Eu te amo, minha pequena Phoebe.
— Também te amo, pai!
Os dois se juntaram em um abraço amoroso e emocionado.
— Desculpa interromper. — Começou Cherry, uma jovem funcionária da lanchonete que ajudava Hank durante as noites. — Eu não pude deixar de escutar e Phoebe eu acho que sei de uma oportunidade de emprego para você.
— Mesmo?
— Sim, como vocês sabem eu trabalho como professora de artes em uma escola durante o dia, sabe como é, tenho dois filhos para sustentar…enfim, a diretora estava procurando uma nova professora de economia doméstica como você tem experiência aqui na lanchonete quem sabe?
— Olha só, minha filha professora! — Hank exclamou orgulhoso, enquanto terminava de ajeitar as cadeiras.
— Será, quer dizer, eu não tenho experiência em sala de aula…
— Bom, se quiser você pode ir comigo amanhã eu te apresento para a diretora, afinal fazer a entrevista não custa nada.
— É, tem razão… muito bem, amanhã vou com você, então. Quem sabe?
Dessa forma, Phoebe terminou a noite empolgada com a ideia de realizar seus sonhos e de um novo emprego, sem saber que além de tudo isso, o destino também a reservava outra surpresa…
Quando conseguiu a bolsa de estudos para a academia, a lanchonete havia sido inaugurada há pouco tempo, por isso seu pai não podia contratar outro funcionário. Não querendo exigir nada do bondoso pai que se sacrificou tanto para criá-la , Phoebe chegou a esconder os papéis, quase abrindo mão de seu grande sonho, contudo Hank os encontrou e indagou a filha porque ela havia mentido dizendo que não havia passado. Phoebe suspirou, explicando que se aceitasse, Hank ficaria na lanchonete sozinho e ela não queria isso.
Hank, ao invés de concordar, limpou a testa suada e pediu que a filha se sentasse ao seu lado.
— Meu amor, você tem que aceitar, é o seu sonho.
— Não posso, pai, eu sei o tanto que o senhor batalhou para conseguir abrir nossa pequena lanchonete, e sei também que não temos condições de contratar um funcionário agora. Você fez tanto por mim , preciso te ajudar.
Segurando as lágrimas Hank respondeu:
— Ah, Phoebe, você é mesmo uma filha de ouro, por isso merece realizar seu sonho , quer dizer, dançar é sua paixão, que tipo de pai eu seria se te impedisse de fazer o que gostas para ficar aqui comigo fritando hambúrgueres?
— Mas, pai...
— Nada demais, eu tenho algumas economias, vou usá-las para contratar alguém apenas para a parte da tarde, assim você pode sair mais cedo e ir para a sua aula.
A garota sorriu incrédula e grata por ter o melhor pai de todo o universo.
— Obrigada — sua voz saiu em um sussurro, enquanto abraçava Hank sem se importar com as manchas de gordura.
Phoebe se deliciava com as lembranças, ao mesmo tempo em que se sentia culpada, com o espetáculo e esse novo trabalho ficaria tão ocupada que talvez nem consiga ajudar seu pai na lanchonete… todavia ela sabia que o pai não a deixaria desistir.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.
— Está pronta? — Cherry indagou não escondendo a empolgação.
Phoebe respirou fundo antes de fazer que sim com a cabeça.
Naquela manhã, Max havia acordado atrasado, talvez devido a noite mal dormida causada por uma rápida mensagem com um efeito catastrófico, se dependesse dele, ficaria debaixo das cobertas pelo resto do dia, porém era um adulto e tinha uma escola para dirigir, afinal a posição de vice diretor que havia conquistado há alguns meses, vinha com grandes responsabilidades. Dessa forma ele se sentou à mesa e deu uma mordida em suas panquecas.
Sua mãe, Barbara, sabendo do ocorrido e por terem escutado o choro noturno, evitaram tocar no assunto.
— Bom dia, e então, como está, querido? — Barbara se limitou a perguntar.
Max encarava a panqueca exibindo um olhar vago, como se sua vida tivesse perdido o sentido.
— Eu estou bem — Continuou sem se preocupar em olhar a mãe nos olhos. — Eu tenho um ótimo trabalho com o qual sempre sonhei e essa é a vida…
— Então, não está mais triste pela Alisson ter te dado o fora? — Era a voz de Chloe a caçula.
— Querida. — Respondeu Barb.
— Tudo bem mãe, essa baixinha adora me irritar, sorte dela que não estuda na minha escola, se não ficaria de castigo todo dia.
— Deus me livre ter meu irmão como vice diretor, já não basta você querendo me dar ordens aqui em casa, achei que ficaria livre de você depois que se casasse , mas a Alisson desistiu, garota sensata.
— Chloe. — Barb repreendeu outra vez as provocações da caçula.
Max havia conhecido a bela e doce Alisson quando a mesma se voluntariou na escola para um projeto relacionado a educação ambiental, não demorou, os dois começaram um intenso romance que resultou em um pedido de noivado por parte de Max, ele passou dias escolhendo o anel perfeito e comentando seus planos para a mãe e a irmã, queria construir uma vida ao lado da amada, contudo quando se ajoelhou, a palavra de três sílabas que saíram dos lábios dela, não foi a esperada.
Agora seu coração estava partido e fechado para o amor…
— Isso mesmo garotinha você vai ter que me aguentar, porque eu vou mergulhar no trabalho e não pretendo me apaixonar tão cedo. — Afirmou Max sem um pingo de dúvidas, Chloe, no entanto, tinha outra opinião.
— Não teria tanta certeza… Eu ouvi dizer que quando não procuramos por algo, é aí que ele aparece.
— Isso é bobagem… — Zombou o mais velho.
— Será mesmo? Aposto que em uma semana no máximo você vai conhecer uma bela garota que vai te balançar outra vez — A garotinha fez um gesto de coração com os dedos em tom de brincadeira.
— Não me joga praga Chloe, agora se me dão licença preciso ir…
Max se levantou da cadeira e caminhou risonho até a escola, ainda caçoando das palavras da irmã, mal sabia ele, que ela estava certa…
O jovem diretor estacionou seu carro na vaga de costume, ver seus alunos no caminho do escritório e cumprimentá-los com um sorriso, o fazia se sentir melhor.
— Bom dia, Diretora Wong!
A mulher em torno de cinquenta anos, de descendência chinesa e cabelos presos por um coque, deixou de lado os papéis em que estava trabalhando a fim de cumprimentar o colega de trabalho.
— Bom dia, vice diretor Mecbugger, que bom que chegou, estamos com um grande problema.
O garoto suspirou já imaginando o que o esperava.
— O que foi dessa vez?
— O zelador Billy pediu demissão.
— O que? Mas ele trabalha aqui há anos, não tem volta mesmo?
— Não, quer dizer, ele saiu furioso gritando coisas que eu não posso repetir.
— Droga, isso é que dá dependermos de um único zelador e agora?
— Eu já coloquei o anúncio nas redes, mas só conseguirei entrevistá-los na semana que vem.
— E o que vamos fazer até lá.
— Bom, eu estou cheia de trabalho, agora mesmo vou entrevistar uma candidata a vaga de professora de economia doméstica, a indicação da Chery, mas você vai pensar em uma solução.
Max suspirou sabendo que teria um longo dia pela frente.
Os dedos trêmulos de Phoebe hesitam girar a maçaneta da sala que definiria seu futuro, Cherry, já conhecendo a garota, segurou sua mão em um gesto de amizade.
— Não se preocupe querida, a diretora Wong é uma pessoa muito legal, não precisa ficar nervosa.
— Eu sei, mas é que eu sou tão jovem e inexperiente e preciso muito desse emprego para conseguir me sustentar na Russia, quer dizer, nem sei se os olheiros vão mesmo gostar de mim, mas tenho que me preparar porque senão…
— Ei, calma, lembra do que eu te ensinei quando por um raro momento a lanchonete estava muito cheia, você teve que matar aula de balé para me ajudar e um cliente gritou com você por ter errado o pedido?
— Sim, respirar fundo e contar até três.
— Exatamente, então vamos juntas?
Phoebe sorriu já se sentindo melhor, desde que foi contratada, Chery se mostrou uma mulher muito gentil e amiga, muitas vezes fazendo o papel da mãe que Phoebe nunca teve.
Após algumas respirações, Cherry indagou:
— Está melhor?
— Sim, você sempre salvando minha vida, sério, nem sei como te agradecer por ter me indicado, quer dizer, se eu fizer alguma bestera é seu nome que vai estar em jogo…
— Ei, eu confio cem por cento em você! E te indiquei com muito orgulho! Agora vamos?
Phoebe se limitou a fazer que sim com a cabeça, enquanto agradecia silenciosamente por seu pai ter escolhido uma pessoa tão legal para substituí-la no turno da noite.
A sala não era muito diferente das que Phoebe já tinha estado, troféus exibidos em prateleiras mostravam o orgulho de todas as vitórias já conquistadas por aquela isnitutição e duas mesas completavam o local, em uma delas, uma mulher de fios negros digitava em seu computador de forma concentrada.
— Diretora Wong?
A mulher em questão desviou o olhar do computador e as encarou com um sorriso.
— Chery! Que bom que chegou, imagino que essa seja a Phoebe.
— Sim senhora, sou eu mesma!
A jovem respondeu cabisbaixa.
— Podem se sentar.
Phoebe obedeceu sem pensar duas vezes.
A diretora colocou os óculos antes de indagar.
— Então, Phoebe A Cherry deve ter dito que a vaga é para professores de economia doméstica, certo?
— Sim.
— Você tem experiência com esse tipo de tarefa?
— Sim, quer dizer, desde mais nova eu trabalho na lanchonete do meu pai, eu faço de tudo, separo os ingredientes, preparo os lanches, lavo a louça, além do mais como somos só meu pai e eu, aprendi desde novinha a cozinhar e a cuidar da casa, eu só não tenho muita experiência ensinando… — Admitiu.
A mulher de cabelos negros sentada a sua frente a encarou de cima a baixo.
— É. Eu imaginei, afinal você parece ser muito jovem, o que me faz indagar se conseguiria impor respeito aos alunos?
Phoebe sentiu um nó se formar em sua garganta, enquanto as ideias de resposta se misturavam em seu cérebro , contudo antes que ela pudesse abrir a boca, Cherry interviu.
— Sim, Phoebe é ótima nisso, ela sempre cuida dos clientes mais jovens.
A aspirante a dançarina encarou a amiga em um silencioso “obrigada”.
— Certo, você parece mais disposta do que os outros que entrevistei ontem, então vamos fazer uma experiência o que acha? Seria possível trabalhar na parte da tarde?
Phoebe sentiu um aperto no coração ao imaginar seu pai na lanchonete sozinho, contudo, ele havia sido o primeiro a apoiá-la, então não demorou a responder:
— Claro, Phoebe sorriu incrédula.
— É claro que eu posso! Muito obrigada!
As duas caminharam, felizes, até uma sala que Chery explicou ser a sala dos professores.
— Nossa, não dá para acreditar que eu consegui.
— Pois é, mas eu sabia, você é muito capaz e talentosa! — Chery abraçou.
— Eu não teria conseguido sem você muito obrigada, quer dizer você voltou correndo depois das suas aulas para me buscar e me salvou naquela última pergunta.
— Imagina meu amor, o mérito é todo seu, agora vamos porque você não pode se atrasar para a aula de balé e seu pai está me esperando…
— Estou tão feliz… Porém ao se encaminhar para a porta, Phoebe se deparou com um aviso.
— Escala para limpar a escola? O que é isso?
Chery se aproximou igualmente curiosa.
— Parece que o nosso único zelador se demitiu e até contratarem um novo o vice diretor montou uma escala para todos os outros funcionários incluindo professores limparem a escola, hoje pelo visto é meu dia.
— O que? Ele não pode fazer isso… Quem esse vice diretor pensa que é para fazer os professores limparem a escola, ele não pensa nos funcionários que como você tem outro emprego para se manter… Ah, como uma pessoa assim tem competência para ser vice diretor, eu não entendo, eu aposto que nunca teve que trabalhar na vida, com certeza é um filhinho de papai arrogante que… Antes que Phoebe pudesse terminar a fala, percebeu a cara assustada de Chery
— O que foi?
— Ele está atrás de você. — sua voz saiu trêmula.
A afirmação, fez Phoebe sentir seu corpo inteiro congelar.