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Codificada por: Cleópatra

Última Atualização: 24/11/2024

“Think I got it bad if I'm honest
Thought that I was good
Turns out I'm a little far from it”

Setembro, 2024 - the current caos

Uma sirene de ambulância soava sobre as janelas entreabertas da cobertura de Jaehyun, anunciando que a avenida abaixo do prédio abrigava alguma espécie de acidente ou um simples fluxo de trânsito caótico. O rapaz arrastou os pés até a abertura do vidro e colocou-se a observar parte do movimento, enxergando pequenos flashes vermelhos e as luzes típicas dos automóveis que transitavam pela rua agitada naquele horário em específico, pouco mais de sete da noite. Trabalhadores vagavam de um lado para o outro criando um fluxo coordenado de idas e vindas, quase que como uma dança da vida noturna em Seoul. Vendedores fechavam suas lojas, na mesma sintonia que os bares eram abertos pelos comerciantes locais que esperavam pela juventude boêmia e fiel, sempre pronta para mais uma dose casual.

Do outro lado da avenida que dividia o condomínio de luxo Saint Louis Lumiére, luzes enfeitavam algumas barraquinhas de comidas típicas na larga calçada movimentada por fregueses famintos por um momento de fuga da realidade avassaladora da vida adulta. Os detalhes foram gravados pelos olhos observadores de Jaehyun por um período de tempo que ele não calculou, mas percebeu que talvez não o fazia a muito tempo: divagar; nem mesmo a chuva fraca que começava a cair sobre a o vidro da janela pode o distrair daquela espécie de imersão que criou para si mesmo, retirando até mesmo os ruídos que antes eram ouvidos pela agitação da rua assistida.

Entretanto, seu interfone parecia ter outros planos para além daquele transe melancólico que havia se enfiado.

Alô? - percebendo que o aparelho provavelmente já estava tocando há mais tempo do que havia percebido, correu em passos largos e atendeu, apoiando-o entre o ouvido e o ombro.

Boa noite, Jaehyun? - a voz rouca de Sr. Kang, o porteiro do edifício, soou do outro lado da linha em um tom de dúvida - o senhor está..está ocupado?

— Ocupado? - repetiu para si mesmo enquanto negava com a cabeça sozinho - não, não, de modo algum. O senhor precisa de algo? - perguntou em curiosidade, ligações atípicas não costumavam ser do feitio do porteiro em questão.

É que..- o idoso pareceu ponderar, coçando a garganta do outro lado da linha, o que fez Jaehyun franzir o cenho por um milésimo de segundo - aconteceu um acidente aqui em frente, não sei se ouviu os barulhos da ambulância chegando, mas…-

— Eu escutei alguns barulhos, mas..- relembrou-se do pequeno devaneio que teve, provavelmente roubou-o atenção suficiente para distrair de qualquer outro acontecimento em volta do prédio - tem alguém ferido? precisam de ajuda? - Jaehyun espantou novamente os pensamentos inúteis, preocupando-se drasticamente com a possibilidade real de alguém precisar de ajuda a esse ponto da conversa, o que parecia bem palpável diante de um acidente

Então, é sobre isso que preciso falar - o porteiro respondeu em um tom mais direto, parecendo finalmente concluir o raciocínio duvidoso - pelo pouco de pude ver, foi um atropelamento que decorreu entre o cruzamento de um caminhão com um táxi…- ponderou -...e então quando corri para socorrer a vítima na calçada, reconheci de imediato a Srta. . Não sei se ainda mantém contato, mas..-

A voz de Sr. Kang pareceu desaparecer por alguns segundos na linha telefônica que Jaehyun ainda mantinha ligada sobre os ouvidos, mas que não conseguia mais assimilar as palavras ditas. . Aquele sobrenome causou as mais absurdas reações no corpo de Jaehyung, desde prender a respiração até o arrepio na espinha e o frio na barriga, misturado com um revirar no estômago intensificado pelas lembranças que tinha sobre a mente. Sentiu que podia desintegrar só com a menção daquele sobrenome, mas tudo parecia se tornar muito pior quando colocado a um contexto trágico. Seu coração parecia ter tomado um tamanho minúsculo perto do corpo largo, fazendo-o angustiar em confusão enquanto tentava manter a razão de alguma forma.

Sr. Jung? Jaehyun? - como um vidro estilhaçado pelo ambiente, a voz insistente do porteiro quebrou a bolha de ansiedade que Jaehyun havia criado durante aquela ligação - o senhor ainda está na linha? Está tudo bem aí? - questionou preocupado; o rapaz tinha ficado em silêncio tempo suficiente para o porteiro finalizar o relato e esperar alguns segundos de assimilação

— Estou descendo, Sr. Kang - anunciou decidido, movendo-se rápido até o cabideiro a fim de pegar o primeiro casaco disponível, logo andando na direção do carpete onde calçou desajeitadamente os tênis e esqueceu de amarrá-los. Era como se tivesse tomado um choque que o retornou à realidade alarmante que o aguardava no térreo - Por favor, esperem por mim - ordenou sentindo a voz vacilar, e desligou em seguida em pensar muito mais sobre qualquer conduta.

Enquanto corria para a saída de emergência em busca de achar um atalho pelas escadas de incêndio, Jaehyun sentiu que estava prestes a hiperventilar com toda a adrenalina. havia sido atropelada, bem a frente de seu prédio, em sua casa. Ele tinha tantos questionamentos que se sentia tonto. Como isso havia acontecido? O que estaria fazendo ali? Estava procurando-o, ou somente passando por ali casualmente? Estava gravemente ferida? Os degraus pareciam infinitos conforme descia desordenado pelos andares, submerso sobre pensamentos e uma angústia que só pareceu cessar no momento que encontrou a porta de saída das escadarias de incêndio, abrindo-a em um solavanco bruto. Andou em passos largos pelo pequeno corredor até avistar a recepção do condomínio lotada de paramédicos e alguns moradores curiosos, passando pela aglomeração até finalmente encontrar cerca de dois paramédicos ao lado de uma silhueta ao chão.

Era , . Despejada sobre o mesmo chão gelado de mármore daquela recepção pela qual entrou outras vezes, em um contexto muito menos hostil.

“I’m six feet deep oh when I see roses”

Janeiro, 2024. - the beginning of us

O começo de ano na SM Entertainment era marcado por reuniões e escolhas decisivas que definiriam os planos para o restante do ano, envolvendo uma quantidade de pessoas que poderia integrar todo o exército da Coreia do Sul e Norte juntas. Staffs, produtores, trainees, engenheiros de som e outros artistas envolvidos; era um fluxo contínuo de portas abrindo e fechando, da mesma maneira que contratos eram assinados e rejeitados. Tendo em vista o pequeno recesso de final de ano, a volta ao trabalho exigia um retorno à rotina caótica da empresa, fazendo com que grande parte do estoque de café fosse esvaziado rapidamente em menos de dois dias.

— É a terceira vez que passa pela máquina de café, Doyoung - na pequena copa sobre o décimo andar do prédio, Taeyong havia acabado de virar a esquina e visualizar o amigo preparando mais uma xícara de café expresso. Apoiou-se sobre a batente da porta e observou em silêncio, queria testar até onde Doyoung iria para perceber sua presença repentina no cômodo

— Ah, Taeyong! - arreganhou os pequenos olhos inocentemente, finalmente reparando a presença do rapaz próximo à porta - a quanto tempo estava aí? - franziu o cenho, vidrado demais para processar qualquer informação sobre tempo e espaço ao seu entorno

— Faz uns dois minutos - Taeyong tratou de rir, negando com a cabeça enquanto adentrava minimamente o espaço em busca de um copo descartável de água - eu disse que você está no terceiro café em menos de….- observou o smartwatch de pulso, fazendo uma pequena conta mental - …uma hora? - concluiu retoricamente, arqueando as sobrancelhas na direção de Doyoung, novamente

— São três xícaras a cada 30 minutos, oras - o mais velho devolveu o olhar crítico à Taeyong, sentindo-se completamente apto para beber a quarta xícara em menos de uma hora e meia - virou um fiscal, hm? - questionou, finalmente retirando a xícara liberada da máquina

— Vai ter um colapso, já já - apontou na direção do coração do amigo, em um risinho frouxo sobre a situação caótica em que ele parecia se encontrar, fazendo com que Doyoung se limitasse a suspirar profundamente em um tom puto

— Haechan ficou jogando Overwatch com Jaemin até as quatro, essa madrugada - bufou, bebericando o café apressadamente enquanto caminhava pelo corredor ao lado de Taeyong - você não ouviu nada? - questionou afetado, havia ouvido cada partida em seus mínimos detalhes pelo microfone estourado

— Veja bem, meu querido amigo - Taeyong apressou em desferir dois tapinhas sobre as costas de Doyoung, feliz por estar longe o suficiente do dormitório de ambos - esse é o preço que você está pagando por ter decidido ter um quarto sozinho.

— Obrigado pelo consolo, seu fodido - franziu o nariz em um riso e empurrou brevemente os ombros do amigo, fazendo com que seguissem de volta à reunião em um clima despojado.

Na sala 213 em questão, as cadeiras eram ocupadas pela subunidade 127 do NCT e todos os seus respectivos colaboradores responsáveis, tais quais produtores, managers, e alguns diretores técnicos de marketing. Em execução desde as 08 daquela manhã, a reunião de alinhamento prometia definir os principais passos e calendário do grupo naquele ano de 2023, tais como lançamentos de álbuns e mini álbuns, turnês, conteúdo das promoções, e todos os pormenores envolvendo os membros ali presentes. Era a segunda reunião desde que haviam retornado do recesso de fim de ano, mas a principal em decisões e impacto sobre todo o grupo, tornando todo o desenvolvimento do dia um grande peso sobre os ombros. Mark e Johnny cochichavam vez ou outra, Jungwoo desenhava uma girafa no bloco de notas, e Taeyong parecia ser o único ali lutando contra o mal da distração.

— …Tendo em vista isso, acho que podemos fazer uma pausa por aqui - o manager interrompeu a própria fala, puxando a cadeira giratória para a mesa - imagino que todos estejam famintos, então voltamos às 14 - anunciou em um tom simples e direto, acenando brevemente como a despedida temporária.

Não demorou muito para que as cadeiras fossem afastadas e todos ali iniciassem um grande movimento em prol do almoço, famintos e sedentos demais para pensarem em qualquer coisa que não fosse comestível. Optaram por um restaurante na quadra de trás do prédio, sabendo que o deslocamento seria mínimo, porém o suficiente para que tomassem ar fresco e se libertassem momentaneamente do ambiente corporativo. O local sugerido por Mark era uma pequena portinha de comida tailandesa, com sustância e aconchego suficiente para que pudessem espairecer e aproveitar uma refeição completa.

— Uma dose de licor de ameixa, por favor - Jungwoo levantou o indicador ao garçom de aparência mais velha, girando a cabeça na direção de Jaehyun que soltou um risinho ao ouvir o pedido com álcool

— Você não está para brincadeira, hein - levantou as sobrancelhas em reação e voltou a atenção ao garçom que esperava pacientemente - uma coca-cola, por favor.

— Você, Taeyong e Doyoung estão dando o sangue nessa reunião, fico até emocionado - Jungwoo brincou, fingindo limpar os olhos com lágrimas - são definitivamente, uma inspiração à todo o 127…

— E você e o Haechan são nosso calcanhar de Aquiles - Doyoung atravessou-se na conversa, puxando uma cadeira e sentando de frente à Jaehyun e Jungwoo - aquele tampinha me paga..- estreitou os olhos em direção ao mais novo, enquanto Haechan se limitava a mostrar sua nova skin de Fortnite à Mark. Jaehyun riu enquanto passava as mãos pelo rosto e Jungwoo acompanhou-o, emitindo um “briga, briga, briga” enquanto encarava os vizinhos de dormitório em tensão.

Por volta de quase meia hora depois, os pedidos chegaram sincronizados às quatro mesas agrupadas em fileira, exibindo um banquete digno de tempos medievais. O amontoado de acompanhamentos e pratos principais fez com que toda a superfície de madeira fosse ocupada por algum utensílio, restando grande satisfação dentre os abastecidos por toda aquela comida. Depois de pagarem a conta e retornarem ao prédio em lentidão e palavras de lamentação, trataram de colocar a máquina de expresso para trabalhar em dobro, revitalizando-os para mais uma tarde de sermões e slides eternos, mantendo-os encarcerados até cerca de quatro e meia da tarde.

— Finalizamos por aqui, acredito que o grosso das informações tenham sido passadas - o manager concluiu com um breve cansaço sobre a voz - enviaremos um documento com todas as datas e…-

Se isso foi o grosso das informações, imagine se fossem detalhadas…- Johnny sussurrou ao lado de Jaehyun, fazendo com que Jung segurasse uma risada contida entre os lábios brincalhões. Que diabos Johnny Suh fazia as melhores piadas nos piores momentos?

…permaneçam na sala somente Jungwoo, Doyoung, e Jaehyun - os ouvidos do loiro voltaram-se em atenção ao ouvir aquela informação preciosa, abrindo um alarme interno sobre a colocação do manager - ainda preciso de vocês.

Porra
, foi tudo que Jaehyun conseguiu conceber naquele momento. Justo naquele dia, naquela eterna e cansativa quarta-feira, ele não teria a felicidade de colocar os pés para cima e descansar enquanto assistia um episódio de The Office. Maldito seja o infeliz que me colocou em amizade com Jungwoo e Doyoung, pensou. Poderia ser um simples comunicado particular, uma divisão de gravações do álbum, ou o manager estaria interessado em ajuda para algum conteúdo digital para o canal do grupo. De qualquer forma, por que não poderia ser resolvido no outro dia?

— Ihh, vocês andaram aprontando - Taeyong alfinetou enquanto dobrava o moletom e jogava-o sobre o braço, prestes a sair da sala - eu não me responsabilizo por qualquer infração, PD.

— Grande líder é você, TY - Jungwoo devolveu a provocação, arqueando as sobrancelhas em direção ao mais velho - não se preocupe, o PD deve estar planejando nos pagar uma refeição sem todos vocês - deu a língua, rejeitando Taeyong

— Hackearam o weverse do Jaehyun e postaram a foto dele de cueca vermelhinha - Haechan se atravessou e instantaneamente recebeu uma caneta em sua direção, era Jungwoo contendo os estragos

— Bem que o Doyoung se arrependeu pela troca de quartos, seu..- Jaehyun devolveu com humor a alfinetada de Haechan, interrompido somente pelo manager em pronunciamento novamente

— Não é nada disso que estão pensando, patetas - pigarreou o homem, abanando com as mãos em direção para que de dispersassem - é um assunto relativo somente aos três, mas daqui à algumas horas já estarão sabendo, provavelmente - concluiu, voltando a ordenar firme - vão, vão!

Depois de finalmente ter a sala evacuada por todos os birrentos e curiosos que insistiam em saber sobre o assunto do trio, o senhor de quarenta e poucos anos encostou a porta e voltou à sua poltrona de praxe. Lee Gongyo era um fiel apoiador na subunidade desde o lançamento de Limitless, acompanhando-os em todos os altos e baixos do grupo, o que tornou-o alvo de grande confiança e gratidão perante os membros. O manager desenhava todos os passos e cuidava para que nada saísse dos trilhos quando se tratava daquele grupo seleto de rapazes em questão, demonstrando-se acima de tudo, um homem humano e de compaixão - ainda que a carranca demonstrasse ordem e desconfiança.

— Agora que todos nos deixaram em paz, podemos falar com calma - anunciou, alcançando a garrafinha de água e levando até os lábios pacientemente

— Estou começando a achar que infringimos alguma lei de trânsito na última viagem à Tailândia - Jungwoo afirmou receoso, recebendo um peteleco de Doyoung sobre a nuca - ouch!

Fique tranquilo, Jungwoo. Nada disso tem um tom ruim - comentou o homem, subindo o olhar dos papéis aos rapazes curiosos em sua frente - tenho uma proposta à vocês três.

— Proposta, hm? - Doyoung franziu o cenho, apoiando o queixo sobre uma das mãos e encarando as expressões do mais velho em certa dúvida

— Não é nada indecente - o manager riu em humor, lambendo os lábios - o calendário abriu uma brecha para uma promoção…menor do grupo. Poderíamos colocar alguns backstages de gravação do álbum, um photoshoot, mas…- suspirou - pensei que seria interessante promover uma pequena parte do grupo, e nesses pensamentos…tive uma ideia um pouco particular - fez uma pequena pausa, voltando a passar os olhos sobre os três rapazes - uma subunidade com vocês três.

— Nós três? - Doyoung indagou, tão confuso quanto os outros dois ao seu lado - em uma subunidade, estreando agora? - cada palavra que saia de sua boca parecia ainda mais absurda. Ainda que Doyoung e Jaehyun já tivessem participado de alguns stations sozinhos, produzir e estreitar um ÁLBUM era muito maior do que tudo que já tinham concebido para esse ano, ainda mais em um subgrupo seleto como o em questão.

— É exatamente isso, quero que vocês inaugurem uma subunidade com vocês três, e acho que um álbum seria a forma perfeita de realizar isso! - bradou animado, observando os rapazes em expectativa.

— Eu não sei vocês, mas estou completamente dentro - Jaehyun se levantou, colocando as mãos sobre os bolsos laterais do jeans e estampando um sorrisinho cúmplice nos lábios.

— Cavalheiros, é uma honra embarcar nessa com vocês - Jungwoo deferiu um tapa sobre a mesa de vidro, evidenciando que estava tão dentro daquele projeto quanto o próprio manager - a não ser nosso querido Doyoung nos abandone e ...-

— Ficou maluco? - Doyoung riu nervoso, acertando a mão bem acima da de Jungwoo, tal qual o tapa anterior que o mesmo havia dado sobre a mesa - estou nessa, queridos.

Gongyo abriu um grande sorriso satisfeito ao notar o positivo dos três rapazes, sabendo que tinha ali exatamente o que precisava para criar uma sub unidade única dentro do universo de NCT. Até então, o grupo possuía sub unidades deveras diversas, entretanto, nenhuma que fosse compacta e versátil como pensou que os três rapazes poderiam ser, misturando personalidades e sonoridades diferentes em um só pequeno trio. Doyoung entregava a melancolia e os traços fortes sobre sua música; Jaehyun exalava elegância e romantismo em todos os seus versos, e Jungwoo finalizava com o divertimento e doçura em cada nota que alcançava. O mix era perfeito quando pensado para uma subunidade sofisticada, profunda e desinibida, trazendo um pouco de cada membro sobre o projeto que pretendia render um álbum de estreia aos rapazes. Olhando ali, os três amigos sabiam que não poderiam ter feito outra escolha, senão mergulhar de cabeça sobre o futuro universo que mal conheciam, mas que viriam a chamar carinhosamente de Dojaejung.

Internamente, Jaehyun sentiu que poderia virar aquela mesa ao contrário e pular diretamente ao chão, quão animado estava em integrar um novo projeto tão intimista. Estar em um grupo tão esparso fazia-o sentir, vez ou outra, meramente alheio sobre tantos rostos. A atenção, linhas, participação em projetos, composição…era tudo metodicamente dividido a fim de comportar todos os membros igualmente, método que era questionado constantemente pelos próprios membros. Quantas vezes Jaehyun sentiu-se apto para cantar uma linha, mas está não o foi destinada? Ou poderia ser com Jungwoo, Yuta, ou qualquer outro amigo que já tivesse seu lugar bem definido dentro do grupo. Jaehyun já havia entrado em debates filosóficos com Doyoung de vez em quando, refletindo sobre as pré definições de posições dentro da indústria da música e o quanto isso limitava-os artisticamente, ainda que a conversa não saísse de uma mesa de bar. Portanto, naquele momento, ao perceber a preciosidade daquele projeto em suas mãos, Jaehyun jurou para si mesmo que daria não só seu sangue e suor, mas toda sua alma dentro de casa letra do álbum.
E assim foi feito.


“Met this girl from California
Something 'bout her aura got me good at sticking around”


As semanas se sucederam, e com elas a dinâmica do grupo precisou abrir espaço para o novo projeto inusitado, trazendo uma espécie de excitação e entusiasmo até mesmo pelos membros não participantes. Haechan tinha ido à loucura ao receber a notícia, Taeyong estava entusiasmado para observar o desempenho de Doyoung como líder, e o restante explodia em sugestões e ideias para a estreia em eminência. Enquanto grande parte dos rapazes tinha uma única agenda de compromissos, os felizardos integrantes do novo projeto precisavam cumprir uma jornada dupla de trabalho e organização, vivendo uma vida quase que dupla até o lançamento definitivo de estréia. Naquela terça-feira em questão, um dos pontos principais do dia seria a visita ao set de gravações do MV de estréia, no qual os três cavalheiros deveriam comparecer das 09h00 até o momento em que grande parte das cenas estivessem alinhadas, ao menos naquele cenário. Até então, sabiam que as gravações envolveriam a estética perfumista, cenas casuais entre as ruas da cidade, e uma espécie de “história” contada dentro do título de Perfume.

Dentro do pequeno apartamento localizado a beira do rio Han em Seongdong-gu, Jaehyun arrastava os pés pelo piso laminado de cor clara em direção à pequena cozinha planejada, velocidade que foi suficiente para chegar a tempo de desligar a chaleira que gritava em plenas 08h15 daquela manhã. Despejou o líquido quente dentro do pequeno envelope de café individual e levou a xícara próximo ao rosto, suficiente para que pudesse verificar se o ponto do café estava do jeito que gostava, e sim. Bebericou em pequenos goles o líquido quente enquanto seguia até a sacada e sentou-se na cadeira dobrável de metal, de alguma forma buscando conforto naquele pequeno ritual matinal. Embora ocorresse em alguma frequência, não era do tipo que gostava de se atrasar: precisava de uma preparação antes, ainda que fosse simples. O loiro sentia uma necessidade de sono muito grande (e justificável pela rotina intensa), sabendo que acordar despreparado faria seu dia ser catastrófico durante todo o restante.

Ao finalizar o último gole do líquido escuro, Jaehyun soube que seus afazeres e correria poderiam finalmente se dar início. Distraidamente, deixou a xícara suja sobre a pequena mesa ao lado da cadeira, e seguiu apartamento adentro em busca de preparar-se para a saída em direção ao set. Tomou um bom banho morno, vestiu-se com sua casual camiseta e as confortáveis calças de moletom pretas, e pegou tudo que achou necessário para que enfrentasse aquele dia de gravações, socando todos em sua mochila de guerra. Não se permitiu refletir demasiadamente sobre a programação do dia, somente enfiou a bolsa sobre os ombros e entrou no elevador, certificando-se de descer diretamente no estacionamento onde o carro da empresa esperava-o.

— Bom dia, senhor Hwang - cumprimentou o motorista conhecido em um sorriso brando e enfiou-se sobre o banco de trás, colocando a mochila ao lado sabendo que Doyoung e Jungwoo vinham de outra direção da cidade.

— Bom dia, rapaz! - o motorista cumprimentou em maior animação que o próprio, lançando-lhe um sorriso paternal enquanto manobrava o KIA Sportage - sua voz me diz que ainda está ligando a partida interna...- brincou, observando Jaehyun pelo retrovisor

— Acertou em cheio - riu baixinho, relaxando então as costas sobre o banco de couro do KIA - essa vida dupla está me treinando antecipado para o exército - admitiu em certo cansaço, bocejando brevemente enquanto olhava as notificações recém expostas na tela do celular. O kakao talk exibia Doyoung enviando um breve bom dia, e Jungwoo enviando uma foto sua recém acordado (e podre) naquela manhã.

— Bom, quando chegar seu alistamento, o senhor estará devidamente preparado - o motorista soltou um risinho, tirando um negar de cabeça de Jaehyun e melhorando gradativamente o clima de preguiça daquela manhã nublada.

Não demorou muito tempo até que se aproximassem do local de gravações, não tomando mais que meia hora de trajeto entre o apartamento e o destino. O motorista ancião aproximou-se do que parecia um grande prédio histórico, quase que como um museu milenar o qual Jaehyun não pode reparar profundamente por ter o carro engolido pelo estacionamento subterrâneo. Arqueou as sobrancelhas ainda que sozinho, não imaginou que um dos sets fosse um museu de verdade, se é que estava certo sobre sua concepção visual. O estacionamento escuro e pouco iluminado ofereciam ainda mais curiosidade sobre a real aparência do local, fazendo com que o loiro soltasse o cinto de segurança assim que percebeu o carro parando sobre a vaga.

— Está entregue, Jung - o senhor inclinou a cabeça para o banco de trás e lançou uma expressão otimista ao mais novo - tenha um bom dia.

— Muito obrigado - Jaehyun sorriu tímido, ainda que verdadeiramente agradecido, e pulou para fora do carro com a mochila nas costas. Seguiu o que parecia ser o caminho do elevador e subiu até o andar onde Doyoung havia mandado mais cedo, parando sobre o 2° pavimento do prédio até então misterioso. Ao abrir a porta, deu de cara com uma estrutura bem mais específica do que o que tinha em mente: um teto alto em mármore, paredes bem desenhar sobre gesso e detalhes minuciosamente esculpidos, uma escadaria de basalto, e muitos outros detalhes que não se permitiu observar pois foi interrompido pelo próprio manager.

— Oh, só estávamos te esperando - anunciou animado, acompanhando os passos lentos de Jaehyun com pequenos tapinhas nas costas - os meninos já estão aqui há uns dez minutos, mas parece que o trânsito da região de Seongdong-gu estava caótico - terminou, lançando uma expressão dolorida na direção de Jaehyun

— Eles iniciaram uma nova obra na via de acesso ao parque Hangang - Jaehyun bocejou e deu os ombros, acostumado demais com a região para emitir qualquer surpresa - e daqui há alguns meses vão iniciar outra, pode ter certeza - riu em derrota, voltando a subir o olhar pelos milhões de metros quadrados e detalhes artísticos que aquele local tinha. Quadros dispersos, colunas e pedestais evidentes sobre os detalhes de creme e dourado, e um corredor que parecia dar acesso ao próprio céu, quão detalhado e bem desenhado era - onde estamos, exatamente? - Jaehyun questionou distraidamente, ainda que não tirasse os olhos do cenário ao redor de si

— Sabia que iria perguntar — o mais velho soltou um risinho convencido, apoiando uma das mãos sobre o ombro do loiro — é o Seoul Museum of Art — respondeu -, SEMA para os íntimos do prédio e região — sorriu em um tom jocoso — achei que já tivesse passado por aqui em algum momento dos seus desvaneios...-

— Eu? — Jaehyun levantou as sobrancelhas, sabendo que um dos pontos notáveis de sua personalidade era sobre bater carteira nesses locais — não, não. Quer dizer…— ponderou — já visitei uma boa quantia de museus em Londres e Nova Iorque, mas acho que nunca havia parado para pensar no que poderia haver bem aqui — riu em surpresa, guardando as mãos sobre o próprio bolso e aguardo Gongyo abrir uma porta corrente de madeira sólida e pesada.

— Finalmente! — foi a primeira coisa que Jaehyun conseguiu ouvir ao finalizar o ruído da porta, descobrindo que Doyoung encontrava-se animado do outro lado da sala que parecia ser um local de reuniões típico, se não fosse pelos enormes quadros e as cortinas bem trabalhadas — achei que haviam caído em um desses portais que os quadros costumam guardar em seu interior — resmungou

— Você assiste a tantos dramas de fantasia que começa a vivê-los sem perceber, meu caro — Jaehyun brincou e deferiu um afago sobre as costas do amigo, adentrando a sala e cumprimentando as poucas três pessoas que estavam junto aos membros e Gongyo.

— Antes que qualquer coisa, gostaria que conhecessem o museu - Gongyo voltou a adentrar a sala, escorando as costas sobre um pedaço de parede livre de qualquer adereço artístico — como vocês bem sabem, foi decidido que o conceito das gravações de Perfume devem seguir uma estética com referências artísticas, abrindo espaço para que a elegância e belas artes sejam amarradas não só durante essa faixa — ponderou - mas durante todo o álbum.

— Gongyo está se tornando cada vez mais profundo, obrigado pelas aulas de romantismo, Jungwoo - Doyoung lançou uma piscadela ao colega, recebendo uma continência por parte do amigo.

— Enfim — pigarreou o gerente, voltando a atenção a si — achamos que a sugestão de Jaehyun seria muito cabível para esse contexto — direcionou o olhar ao loiro, fazendo-o lembrar sobre o primeiro palpite de utilizarem um museu como um dos pontos focais das gravações. Dentre tantos MVs já vivenciados durante aqueles anos, sentiu que nunca haviam explorado um território muito óbvio para o próprio Jung: a arte em sua essência, exposta ao mundo. Sentiu uma pontada de orgulho, sabendo que estar em um grupo seleto o dava oportunidades para expressar melhor suas opiniões e visões com relação à música — muito obrigado pela sugestão, Jung.

— Vou estar cobrando a consultoria de criatividade — apertou as covinhas em um riso convencido em resposta ao gerente, enfiando as mãos sobre os próprios bolsos e tornando-o a passar novamente os olhos sobre os detalhes da sala.

— Portanto, preciso que conheçam uma pessoa antes de qualquer coisa — Gongyo apressou em afastar mais a porta, tirando um ruído que fez Jungwoo dar um pulinho no lugar — conheçam , a curadora do Seoul Museum of Art.

Quebrando todas as expectativas criadas pelos três patetas presentes na sala, uma silhueta baixa surgiu porta adentro, parando ao lado de Gongyo em um sorrisinho contido e frouxo aos integrantes do cômodo. Vestindo roupas em preto e azul marinho, parecia ter seus vinte e poucos, nem tão longe dos vinte e cinco, nem tão perto dos vinte; os cabelos escorriam por boa parte dos ombros em um tom que Jaehyun assimilou ao caramelo queimado, e era quase como se involuntariamente pudesse sentir o gosto doce instantaneamente sobre a boca. As pequenas sardinhas surgiam por poucas partes do rosto, mas suficiente para que reparasse em todas, quase que contando-as mentalmente. Muito longe do que esperava de qualquer estereótipo de pessoas ligadas à museus, não tinha nenhum traço (aparente) de soberba ou mesquinharia, e estranhamente enquanto Jung observava-a, sentiu que a mesma também fazia algum julgamento contraditório sobre si.

Bom dia, bom dia — a voz aveludada cumprimentou-os em um pequeno aceno de cabeça, mas não demorando a aproximar-se em poucos passos e estender uma das mãos em um cumprimento formal.

Primeiro Jungwoo, que utilizou o tom de voz fino para exibir uma doçura que todos ali sabiam que ele não utilizara no natural; depois Doyoung, que cumprimentou-a num misto de confusão e timidez. Quando observou o pulso finalmente estendido em sua direção, Jaehyun levantou os olhos na mesma altura que a receptora o observava. Ao tocar a pele quente que lhe entrava em contato, pode então perceber o quão menor era em relação à sua, ainda que tivesse longos dedos pintados em um azul-céu sobre as unhas. Não sabia exatamente a expressão que estava exibindo à curadora, mas jurava ser a de um completo palhaço circense, destes que traz uma piada ruim à plateia e acaba sendo vaiado. Ainda sim, mesmo que não pudesse se dar conta, Jung Jaehyun exibia um sorriso mínimo ladino, o mesmo que costumava ter quando se topava com uma fonte histórica nas ruas de Milão, ou uma escultura milenar em algum dos palácios de visitava no interior do país. As covinhas apareciam timidamente sobre a expressão observadora e intimidada que exibia, quase como o encontro do desconhecido de Lovecraft e do magnífico de Shakespeare em uma mesma hora. Tal qual na mesma intensidade que o rapaz lhe havia lhe indicado a expressão, devolveu-a em um sorriso torto.

— Seja bem vinda ao Dojaejung, — o tom de inglês arrastado de Gongyo fez com que Jaehyun acordasse do pequeno transe de observações e pré-conceitos que fazia na própria cabeça - você já sabe quem eu sou, então vamos dispensar os discursos — riu — em ordem, estes são Jungwoo, Doyoung e Jaehyun - apontou com o indicador, recebendo um positivo por parte de mulher — inclusive, agradeça à Jaehyun pela brilhante ideia do museu! - Gongyo sorriu em orgulho, deferindo bons tapinhas sobre as costas do rapaz em questão

— Ah, Gongyo…— Jungwoo protestou — ele vai ficar se achando, cara!

— Hmmmmm — murmurou em curiosidade, passando o olhar até que encontrasse o último da fileira, Jaehyun — então foi um de vocês o responsável por essa parceria? — respondeu em imediato, subindo as sobrancelhas em um tom surpreso. Até então, imaginou que a parceria tivesse surgido entre a equipe de produção audiovisual e os publicitários da empresa, o que era relativamente esperado de artistas requisitados. No mesmo tom de surpresa, Jung Jaehyun queria abrir a boca e dizer o quão bom era o coreano saído da boca da estrangeira.

Eu tenho um carinho especial por coisas desse tipo aqui — Jaehyun estreitou parte do olhar e passou a língua sobre os lábios secos, desviando a visão sobre a pintura extensa por todo o teto trabalhado em gesso — embora não entenda droga alguma, na verdade - riu fraco, voltando a encarar a curadora em um tom divertido.

— Não se preocupe — apaziguou em um riso fraco, lançando um breve assentir de cabeça na direção do olhar indecifrável de Jaehyun — o fascinante da arte é não entendê-la por inteiro — deu os ombros, sorrindo por cima de uma expressão descomplicada. De algum modo e em alguma instância, o loiro sorriu um pouco mais abertamente sobre a frase dirigida a si, pois entendia exatamente o que lhe havia sido dito. Porém, antes que tirasse mais conclusões sobre a frase certeira da moça intrinsecamente curiosa em sua frente, Jungwoo demonstrou-se mais rápido na arte da reclamação.

— Ele vai se achar até os últimos dias de vida agora, PD — Jungwoo voltou a resmungar, sentando-se sobre a primeira cadeira em sua proximidade.

— E você parece uma matraca - Doyoung cortou-o em um riso indignado, negando com a cabeça enquanto também se sentava sobre um dos assentos livres - obrigado por nos receber, — suspirou em honestidade — imagino que seja um porre aguentar uns rapazes de meia idade discutindo entre si — lançou um olhar cortante à Jungwoo, fazendo-o pigarrear em reação.

— O problema de trabalhar com um subgrupo pequeno, é que vocês ficam soltinhos pra falarem asneiras — Gongyo respirou profundamente em um tom de contenção, voltando um sorriso ainda gentil sobre a curadora — eles não são sempre assim, acho que beberam muito café — brincou — mas voltando ao que interessa…já teve algum contato com K-POP, ? — indagou, indicando para que o restante da reduzida equipe se sentasse ao redor da mesa de reuniões.

— Contato é uma palavra um pouco forte - riu em um tom duvidoso — estou há pouco mais de dois anos aqui, então acho que tem camadas que ainda não pude explorar — confessou, Gongyo tornando a incentivá-la em continuar — sabe, no interior da Califórnia nosso repertório é o suco do country, tudo que vem depois é tecnológico — torceu o nariz em um tom divertido.

Ainda sem que percebesse, Jaehyun havia feito uma nota mental involuntária, um pequeno post-it sobre a consciência, ato que o fez concordar com a fala de tal qual como se estivesse sendo repetida diretamente a si. Hmm, a garota havia saído do interior da Califórnia, assim como as massas de ar quente do oceano pacífico chegam à Coreia durante o verão? Externamente, pensou que seria interessante ter alguém de fora envolvido sobre as gravações e contribuindo com um olhar distinto sobre a música e a arte; internamente, sentia-se curioso e animado para a mera possibilidade de ter alguém fora Johnny e Mark para poder tagarelar seu inglês brevemente enferrujado pelos anos em Boston. Entretanto, a última expectativa era algo que se quer sabia que seria palpável ou possível, ainda que de imediato parecesse uma das pessoas mais instigantes a se ter uma conversa qualquer. Em contrapartida sobre outro ângulo, enquanto se pode perceber os pequenos acenos em concentração por parte do loiro, sentiu-se lisonjeada por tamanha atenção voltada ao seu humilde relato sobre a vida pacata do interior dos Estados Unidos. As sobrancelhas franzidas do rapaz que davam a sensação de estar falando sobre o prêmio Nobel, embora a realidade fosse uma breve descrição da vida caipira de uma ex-estudante de belas artes do interior.

— Então nunca ouviu K-POP?! — dessa vez foi Doyoung quem direcionou a dúvida em surpresa, parecendo fascinado como alguém que observa um animal exótico sobre a jaula em exibição.

— Não, não! - abanou as mãos em negação — o que eu estou dizendo é que não é muito comum de onde eu vim, entretanto — enfatizou em tom alternativo, ainda brincando entre as palavras — minha sobrinha mais nova conhecia e me mostrava coisas aqui e ali, grupos mais antigos como 2NE1 e Super Junior — respondeu — e aí, como se fosse um empurrão do destino, acabei caindo aqui — concluiu — e junto com isso, comecei a adicionar no meu Spotify mais do que achei que gostaria — sorriu satisfeita, cruzando as mãos sobre a mesa.

— Uhh — balbuciou em confusão e incerteza — então você já nos conhecia previamente? — Jungwoo questionou, fazendo com que Jaehyun mudasse seu ponto focal de questionamentos para este. A garota já conhecia previamente os rostos que via ali? havia pesquisado seu nome no google? Era tão frequente encontrar alguém que descobrira até mesmo sua maternidade de nascimento, que qualquer questionamento nesse sentido lhe era válido. De repente, a dúvida pareceu uma dúvida muito mais aguçada do que para Jungwoo, mas achou pertinente permanecer em silêncio e aguardar a estimada resposta.

— As músicas? — devolveu a pergunta, assentindo em um sorriso mínimo — sim, embora não seja exatamente uma fã de carteirinha — lambeu os lábios, estava falando há tanto tempo que sentia a boca seca sobre sua respiração — a vida de uma estrangeira às vezes falta tempo para o spotify — concluiu, ainda ru em divertimento; tinha a plenitude de compreender que a vida adulta te impedir de certos privilégios de ser uma fã de algo tão profundamente.

— Ah, senhorita .. — Doyoung dramatizou, levando uma das mãos sobre a clavícula — achei que já havia decorado nossas datas de aniversário e o signo chinês — alfinetou em brincadeira, retirando um risinho que fez com que mostrasse todas as ruguinhas de seu nariz franzido. Secretamente, e sem digerir, Jaehyun assistiu a expressão e achou completamente encantador.

Poxa — protestou a curadora, ainda em um tom brincalhão — eu fiz a lição de casa, vaguei o Pinterest sobre imagens do grupo, mas eram tantos que… — ponderou — minha memória visual é muito deturpada por criações artísticas, eu dificilmente reconheço pessoas reais durante a minha vida — encolheu parte dos ombros em certa timidez momentânea.

Ainda que não estivesse inserido naquele diálogo em específico, soltou um riso baixo com a leveza que aquele momento em cena estava tendo. Dentre tantas gravações e sets de filmagem, era a primeira vez em muito tempo que sentia-se aconchegante, quase como uma lareira sobre brasa localizada ao fundo de uma tarde fria. Durante um tempo de sua vida e juventude que não soube estimar com precisão, Jung sentiu-se engessado em muitos contextos como este, quase que como uma máquina a seguir protocolos e ordens. Analisando a perspectiva de muitos sobre si próprio, sentia-se visto como um grande monumento inerte e sem personalidade, e isso frustrava-o em cada pedaço de célula de seu corpo.

— Guardem as piadinhas, rapazes — Gongyo retrucou, abanando com as mãos em direção à — marco um jantar de boas vindas e vocês podem tentar importuná-la, mas fora do horário comercial — suspirou, voltando a se recompor — certo, . Acha que podemos iniciar com a demonstração dos locais e as gravações ainda hoje? — perguntou em excitação

— Com certeza — respondeu firme, assentindo com a cabeça e arrastando um maço de papéis de Jaehyun estimou ser uma espécie de roteiro — acho que pode guiá-los, e eu complemento com alguma informação ou orientação sobre o museu que seja necessária — afirmou, levantando-se em prontidão.

Gongyo fez um sinal para que debandassem e assim o restante dos presentes no cômodo seguiu rumo a saída pela porta. O scarpin de estatura média era o único som possível entre o trajeto pelos corredores, o silêncio pairando como uma espécie de manto de concentração e responsabilidade que achou internamente bonitinho. Havia guiado uma boa quantidade de visitas desde que chegou ao SEMA, suficiente para vivenciar desde as pré escolas mais eufóricas, até os grupos de turistas idosos que mal ouviam o que falava. Antes do que se previa, chegaram a um dos salões principais de abrigava uma pequena sala do museu destinada ao que pareciam estátuas, estatuetas em bronze e outros acessórios arquitetônicos que pareciam remeter à uma grande mansão do começo do século XX, regada à estética old money e neoclássica. Envolto sobre diversos arcos vazados para o restante do museu, o salão principal abrigava um piso em mármore calculadamente projetado, além de tantas colunas dispersas que Doyoung chegou a sentir-se na Grécia antiga.

— Tenho medo de quebrar uma dessas coisas e precisar hipotecar meu apartamento em troca do estrago — Jungwoo sinalizou em espanto, contendo os braços próximos ao corpo em receio com tamanha luxuosidade do local.

— Não se preocupe, Jungwoo - virou o rosto em uma expressão branda, cruzando os braços sobre o peito e caminhando em passos lentos pelo mármore abaixo dos pés — as peças tem seguro e tudo mais, ainda que precisem de um pouquinho de cuidado — riu baixo — mas vou orientar vocês certinho, fiquem tranquilos.

Em um espectro muito particular, Jaehyun sentia-se como uma criança no meio de uma enorme piscina de bolinhas, afogando-se sobre a quantidade de informações que tentava absorver do local e o tom de voz nebuloso que parecia acalmá-los de uma possível destruição. A voz de o tirou novamente de seu próprio transe pessoal, tornando-o a prestar atenção como quem ouve uma flauta soar pela floresta silenciosa. Ainda que não soubesse entender, achou curioso como todas as informações que a mulher entornava pareciam extremamente importantes para que ele decorasse cada sílaba.

É absurdo — murmurou um pouco mais alto do que previu, mantendo o olhar amplo sobre o ambiente e os detalhes consequentes da arquitetura. ouviu-o mesmo que não tão próxima, virando o rosto na direção da voz de Jaehyun

— Você parece estar no paraíso — respondeu de modo observador, atraindo o olhar surpreso de Jung sobre sua colocação. Não esperava ser ouvido naquele tom, e muito menos causar qualquer reação sobre a curadora (que, em sua visão, estava acostumada demais com qualquer reação admirada sobre o museu). Parou os passos e estacionou sobre onde andava, tornando a observar a expressão curiosa que era direcionada para si

— Talvez eu esteja, não? — respondeu afiado, guardando um risinho controlado sobre o sorriso ladino que exibiu. ergueu as sobrancelhas em surpresa e cruzou os braços sobre o suéter, analisando-o

Touché devolveu em um risinho receptivo, entrando naquela onda que Jaehyun parecia estar submerso. Embora não soubesse a razão ou a verdadeira intensidade do desconhecido em relação ao museu e o ambiente, achou engraçadinho a maneira como tratou com humor a situação

— É uma honra poder visitar o paraíso antes da morte, — Jung assentiu brevemente com a cabeça, fazendo uma pequena reverência em tom de brincadeira com o contexto. Em resposta, a curadora reservou-se a rir baixinho e negar com a cabeça, seguindo em passos lentos de volta à Gongyo e aos demais staffs.

As próximas duas horas foram imersas por recomendações, apresentação de cômodos, e informações sobre os takes necessários para o videoclipe em questão. Gongyo fez questão de exibir o roteiro a toda a equipe do museu e staffs, de modo que finaliza com recomendações sobre o contato com as obras de arte e outras sugestões para utilização do cenário. Os três mosqueteiros limitavam-se a concordar com a cabeça, ora ou outra sugerindo e questionando livremente os tópicos; dinâmica que favoreceu para que todos os presentes sentissem liberdade e leveza sobre o set. Jungwoo questionava quase tudo, curioso como uma criança recém colocada sobre a pré-escola; Doyoung mantinha-se a maior parte do tempo analítico, parecendo concentrar-se para a preparação das gravações, e Jaehyun manteve-se admirado, atencioso à todas as recomendações e informações acerca do museu que lhes eram passadas, exibindo uma série de expressões indecifráveis para cada curiosidade que vinha a tona com aquele shot de história de arte.

As gravações ocuparam pouca parte do tempo dentro do museu, de modo que a maior extensão do tempo foi dividida entre preparações de maquiagem e figurino. Enquanto isso, a equipe do museu trabalhava na montagem no carregamento das peças do próprio, tomando cuidado com a alocação do cenário e outros detalhes. O almoço deu lugar a um grande revezamento de papéis, deixou o local com parte dos funcionários enquanto os três rapazes e Gongyo organizavam as primeiras filmagens. Ao fim da tarde, grande parte do programado para o dia havia sido concluído e com isso a satisfação pairava no ar com toda a equipe, ainda que gravassem o cut final daquele dia: a cena do grande salão externo.

— Muito bom! — Gongyo comemorou, juntando as mãos em comemoração — as cenas de hoje foram feitas, faltaram só alguns detalhes que deixamos para outro momento.

e seu braço direito, Yejin, chegaram juntas após uma tarde tentando repor uma das peças que Gongyo havia solicitado ao cenário. Não viram o início e grande parte das gravações do dia, mas chegaram ao final e puderam beliscar um pedaço da estética do dia. Aproximaram-se de fininho enquanto os rapazes executavam a coreografia e pararam ao fundo das câmeras e equipamentos.

Após focar o olhar um pouco melhor do que sua miopia permitia, pode enxergar perfeitamente. Dentre as muitas coisas que reparou, inclusive a sincronia no grupo entre si, uma delas a deixou inquieta. O loiro que até então apresentava-se como um mero entusiasta da arte, exibia agora um semblante confiante e intenso o qual jamais poderia prever sobre aqueles traços finos. O cabelo bem alinhado em um topete despojado, a camisa de cetim perfeitamente delineada sobre os ombros largos e o cinto em couro legítimo segurando as pernas longas e ágeis nos movimentos; tudo parecia compor uma grande exposição que o museu exibe de em vez em quando, uma exposição de arte definida em um pessoa de carne e osso. Era tão instigante que não soube dizer se estava reparando demais, mas tentou acatar aquilo como uma das críticas que fazia sobre muitas obras expostas no museu. Ele era bonito, instigante e enigmático como um quadro pintado por Da Vinci.

— Finalizamos, estão liberados — o roteirista anunciou, desligando parte das câmeras e indicando um jóinha aos demais rapazes levemente suados pela ação física. Afastaram-se do grande centro das cenas, e Jung não pôde deixar de notar que a curadora havia voltado, questionando-se internamente se havia visto parte das gravações ou não. Entretanto, por que deveria se preocupar com o assistir da moça as gravações? Ainda que sem entender, decidiu passar por cima de qualquer dúvida intrusiva que fosse em volta disso.

— Obrigado, pessoal — Jungwoo anunciou em alto e bom tom e seguiu até o camarim improvisado, secando parte do cabelo com uma toalha apoiada ao ombro. Doyoung e Jaehyun se limitaram a agradecer em uma breve reverência e um murmúrio em obrigado, jogando-se sobre os bancos expostos na lateral. Alguns staffs passavam pelo local e recebiam agradecimentos da dupla, ainda que o cansaço estivesse evidente em ambos.

— Já estou de saída, tem espaço pra uma carona no Jipe — Gongyo anunciou aos rapazes, girando a chave em um dos dedos — queria agradecer a curadora e a equipe, mas parece que sumiram em algum desses quadros misteriosos — riu incrédulo, negando com a cabeça.

O que Gongyo não sabia, era que ao finalizarem minutos atrás, havia corrido para guardar as peças enquanto Yejin reclamava em seu encalço, preocupada demais com qualquer possível acionamento do seguro. Até mesmo sentiu uma pontinha de incômodo, sentia um dever em agradecer ao produtor e principalmente ao cuidado e cautela dos rapazes. Fez um jota mental para se despedir na próxima gravação, não importasse que acontecesse.

— Eu vi ela seguindo a assistente — Doyoung respondeu — pareciam ocupadas, apressadas — observou — ou estava intimidada demais pela nossa coreografia sensual — riu, dando de ombros ao tirar as expressões do amigo ao lado.

— Ela deve ter se exaurido das piadinhas do Jungwoo — Jaehyun assoprou em tom de riso, levantando-se na intenção de seguir seu caminho para casa.

Ou com os seus flertes — retrucou Doyoung, recebendo um arquear de sobrancelhas quase que imediato por parte do loiro.

— Meus flertes? — repetiu retoricamente, rindo em escárnio de tamanha acusação. Ele por acaso havia flertado com em alguma realidade alternativa ao mundo real? Doyoung estava carente, e provavelmente havia se tornado sem filtro pela convivência com Jungwoo — vai pra casa, Doyoung.

— Uh? - balbuciou sem muita atenção — “vai pra casa, Doyoung” repetiu em humor, imitando o tom de voz sonolento de Jaehyun — vou, e vou com Gongyo — anunciou, acenando em despedida e virando o corpo em direção ao elevador que levava ao estacionamento no subsolo. Fez uma nota mental para guardar as provocações na próxima oportunidade, se fosse o caso.

[...]

Em casa, longe da movimentação do set e de todo o caos envolto nas gravações, Jaehyun pode finalmente colocar seus pensamentos em ordem durante um banho demorado. A água morna soube retardar todos os acontecimentos desenvolvidos ao longo do dia, trazendo-os como uma vaga lembrança sobre sua mente que insistia em pular inquieta sobre a própria cabeça, quase que como uma intuição inesperada. Mas porquê diabos teria um lapso de intuição após tanto trabalho e cansaço? estava à beira do delírio? assim, Jaehyun não soube definir. Até que pudesse deitar sobre a própria cama, passou as próximas duas horas vagando pelo apartamento, e entre um chai e outro, tentou ligar os pontos de sua inquietude até que caísse em sono profundo, vencido pela falta de conclusões e poucas respostas.

Embora tenha falhado miseravelmente, Jaehyun saberia muito em breve, que sua inquietude tinha nome, sobrenome e um par de olhos profundos, tanto quanto sua própria consciência podia conceber.





Continua...


Nota da autora: Muito feliz por estar escrevendo essa história, e por ter levado pra frente a ideia qua tive em uma tarde qualquer enquanto escutava (pela primeira vez) o álbum do nosso queridíssimo Jaehyun. De imediato, pensei que o disco era TÃO absurdo e romântico, que cada música em si merecia uma história pra contar, e foi exatamente o que coloquei na cabeça: escrever uma história de como Jaehyun chegou até essas letras e esse álbum intenso, absurdo, e cheio de poesia.
Obrigado às minhas queridas Sial e Peach Lee que apoiaram 200% essa loucura, vocês são tudo!! <3
E muito obrigado a minha scrib Marizinha, por aguentar mais uma bomba de quase 30 páginas.
Espero que gostem, esse é só o começo :)

Nota da Scrib: Meu deus que começo foi esse? Eu já fiquei completamente impactada com a cena do acidente.
Tudo isso para depois, você me mostrar como eles se conheceram e depois acabar por ai? Dona Nancy, você está obrigada a me mandar uma att assim que ler isso, obrigada <3

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