Revisada por: Sagitário♐
Última Atualização: 3/5/25Fiquei um pouco afastada, a rua cheia de carros estacionados em ambos os lados. Certamente, todos os convidados já estavam devidamente acomodados dentro daquele lugar, pois a noiva já estava saindo de dentro do carro. Não me contive em me imaginar estar ali no lugar dela, me fazendo sentir ainda mais tristeza e arrependimento.
Eu havia perdido o homem que mais amei para ela, não só o amor, mas também sua amizade. Senti minha garganta queimar naquela hora. As lágrimas se formaram no canto dos meus olhos quando fixei meu olhar em sua barriga que já apontava, presumi que estivesse já no seu quarto mês de gravidez.
Outra coisa que me doía: as inúmeras vezes em que me neguei a fazer planos para o futuro com ele, que às vezes dizia querer ter muitos filhos e eu desviava, dizendo que não engordaria por esse propósito. Percebi que tudo que meus olhos viam era resultado do meu orgulho próprio, egoísmo talvez.
Segui aquela noiva com o olhar até entrar definitivamente na igreja. Dava para ouvir a marcha nupcial do lado de fora. Eu tinha duas alternativas: poderia ir embora e tentar apagar tudo que havia vivido com ele, ou continuar o meu sofrimento e entrar naquela igreja com a doce ilusão de que ele voltaria para mim só de me ver.
Claro que optaria pela opção da tortura. Ao atravessar a rua, senti como se meu corpo estivesse sendo arrastado por correntes. A cada degrau da escada, um aperto maior. Respirei fundo e entrei pela porta da forma mais discreta possível. Passei a mão no meu olho direito, limpando a primeira lágrima que tentou sair. Ver ele no altar com outra me matava por dentro.
O sermão do pastor foi passando, até que eles ficaram de frente um para o outro, era o momento de fazerem seus votos. Por um breve momento, virou seu olhar para a porta da igreja. Talvez por nossos olhares sempre se encontrarem independente da situação, mas veio automaticamente em minha direção, mesmo estando escondida atrás do arranjo de flores que compunham a decoração.
Meu coração disparou de imediato, minhas mãos frias começaram a suar. Seu olhar, que estava alegre e cheio de brilho, ficou estático e com traços de decepcionado. Talvez assim como na minha, uma ponta de lembrança dos nossos momentos juntos tenha passado em sua mente. Demorou alguns segundos até que seu olhar voltou para a mulher diante dele, junto com um sorriso singelo e natural.
Soltei um suspiro fraco ao ouvir eles dizendo “sim”, e antes mesmo do pastor dizer que já podiam se beijar, eu já estava saindo pela porta da igreja. Não iria me torturar ainda mais. Permaneci ao longe, vendo-os sair da igreja entre risos e brincadeiras, todos à sua volta jogando pétalas de rosas vermelhas em ambos.
Agora estou eu aqui, em frente ao mar sendo sufocada por todos os meus ressentimentos. Querendo voltar no tempo para trocar minhas palavras e não o deixar ir, mas novamente eu havia seguido pelo caminho errado e passaria o resto da minha vida me arrependendo disso.
E a minha alma, sem motivo pra existir,
[...]
Eu corro pro mar pra não lembrar você,
E o vento me traz o que eu quero esquecer,
Entre os soluços do meu choro eu tento te explicar,
[...]
Esqueci do meu orgulho pra você voltar,
Permaneço sem amor, sem luz, sem ar.”
- Sem ar / D'black