Codificada por Lua ☾
Finalizada em: 15/01/2025
— Caramba, Sebastian! Que demora foi essa...? — As palavras de morreram em sua boca assim que ela afivelou o cinto de segurança e se virou para o motorista. — O que diabos você está fazendo aqui?
— É tão bom começar o dia ao lado de alguém tão educada quanto você, — respondeu Drew, com um sorriso torto, enquanto acelerava e deixava o jardim da família para trás.
piscou, incrédula, tentando entender o que estava acontecendo.
— Por que você veio me buscar? Onde está o meu primo? Por que você está no carro dele?
Drew soltou uma risada, e sentiu a paciência esvair-se como água entre os dedos. O tom sarcástico dele era insuportável, quase sempre acompanhado de algum comentário irritante.
— Eu adoro quando você diz “meu primo” como se ainda tivéssemos nove anos e ele fosse uma propriedade sua.
— Eu nunca fiz isso! — retrucou , mesmo sabendo que, na verdade, tinha feito. Por muito tempo.
— Claro que não. — Drew parou no sinal vermelho e se virou para ela, o olhar transbordando de provocação. — Mas, enfim, respondendo à sua pergunta: o jeep quebrou. Minha mãe só conseguiu consertá-lo hoje de manhã. O Sebastian resolveu ir de carona com a Reagan e me pediu para trazer o carro até a escola. Só que ele lembrou, um pouco tarde demais, que não te avisou que não poderia te buscar. Então, por pura e espontânea pressão, cá estou.
O sinal abriu, e cruzou os braços, encarando a rua à frente.
— E você precisava demorar tanto?
— Mal-educada e mal-agradecida — comentou Drew, como se estivesse sozinho, arrancando um revirar de olhos da garota.
queria dizer que sua relação com Drew Starkey nem sempre tinha sido difícil. Mas estaria mentindo. Até os 12 anos, a irritação vinha principalmente do fato de Drew ter aparecido de repente e, em questão de semanas, ocupado um espaço gigantesco na vida de Sebastian — que era seu melhor amigo muito antes de Drew surgir. Não ajudou em nada o fato de que absolutamente todos os seus primos resolveram gostar dele também, como se Drew Starkey fosse um presente dos céus e ela fosse a única maluca por não enxergar isso.
Claro, Riverside era do tamanho de um ovo, e todas as crianças e adolescentes da cidade acabam se conhecendo de um jeito ou de outro. Mas odiava como Drew simplesmente se embrenhou em sua família a ponto de até mesmo a sua avó perguntar sobre ele no almoço de domingo, o que, para ela, era um absurdo. Como é que a vovó , em uma casa com seus sete filhos e seus já-perdi-as-contas-de-quantos netos ainda tinha tempo para se lembrar de Drew Starkey?
De qualquer forma, as coisas podiam ter começado mal pelo ciúmes de , ela poderia admitir isso, mas definitivamente haviam piorado por causa dele.
Drew Starkey era insuportável. poderia passar o dia inteiro falando sobre todas as vezes em que ele escondeu seu material escolar, convenceu algum de seus primos a fazer uma pegadinha sem graça com ela ou simplesmente o quanto ele era um arrogante, presunçoso e irresponsável que não ligava pra nada. Para ela, tudo que Starkey sabia fazer além de piadas inconvenientes no meio da aula e carregar aquele maldito skate para todos os lados, era atrapalhar os estudos de Sebastian. Estava mais do que feliz em saber que, em alguns meses, estaria bem longe de Riverside e, consequentemente, de Drew também.
tinha o histórico perfeito. Passou doze anos da sua vida dando o seu máximo em absolutamente todas as atividades escolares. Ela até mesmo aprendeu a tocar violoncelo e participou de um grupo musical por 2 anos, pelo amor de Deus. Mas tudo valeria a pena assim que ela tivesse o e-mail da universidade de Harvard na sua caixa de entrada. Ela só precisava aguentar o idiota do Drew por mais algum tempo, e então, eles nunca mais se viram. A não ser, é claro, em algum aniversário de Sebastian. Infelizmente, sabia que a amizade desses dois seria para sempre, igual o vínculo sanguíneo que ela mesma dividia com o primo.
Starkey e eram diferentes demais para terem uma relação pacífica, embora, depois que ficaram mais velhos, tentassem muito mais do que antes, pelo bem da sanidade de Sebastian, que odiava ficar entre os dois.
— Tanto faz, só estou preocupada — disse ela.
— Com o quê?
— 15 minutos na sua companhia é a minha cota semanal. Parece que vou atingi-la cedo demais.
— Ah, claro. Porque estar com você é como ir a um parque de diversões, Miss Enciclopédia.
revirou os olhos em resposta, nem se dando ao trabalho de pedir, pela milésima vez, que Drew parasse de chamá-la assim. Eles passaram o resto do caminho em silêncio. Tudo que a pensava era em formas diferentes de matar o primo quando o visse. Sebastian lhe dava carona todos os dias. Todos os dias! Como poderia ter se esquecido dela? E, por que diabos não fez Reagan ir até a sua casa? Ela não morava tão longe, e com certeza não iria se opor, afinal, também era sua prima.
Quando o carro finalmente parou no estacionamento da escola, quase saltou para fora, mas congelou ao olhar o relógio.
— Estamos meia hora atrasados para a aula de Estudos Sociais, Drew. Meia hora!
Drew caminhava ao lado dela, completamente despreocupado.
— É só o Sr. Foster. Ele nem vai perceber que você não estava lá.
— Você só pode estar brincando, né? Ele vê tudo!
— Foster é totalmente desligado, . Não repara em nada que não seja sobre o conteúdo que esteja passando.
balançou a cabeça. Sabia que Eddie Foster não era assim, mas não esperava que Drew soubesse. Era idiota demais pra isso.
— É a primeira vez no ano que eu me atraso. E, é claro, a culpa tinha que ser sua.
Drew soltou uma risada baixa, irritantemente despreocupada, enquanto recebia um olhar feroz de . Ela estava a um fio de explodir, mas sabia que discutir naquele momento só pioraria sua situação. Permaneceram em silêncio, caminhando juntos pelos corredores quase vazios até a sala de aula. Os dois se entreolharam em um acordo silencioso quando chegaram até a porta entreaberta da sala, entrando da forma mais quieta que conseguiam.
É claro que a forma mais quieta dos dois não queria dizer absolutamente nada para o professor Edward Foster.
— e Starkey — a voz bem-humorada do professor Edward Foster cortou o ar, fazendo congelar no lugar. Seu rosto ficou imediatamente vermelho enquanto ela apressava o passo para alcançar sua carteira. — Fico feliz que tenham resolvido se juntar a nós. Realmente, me sinto muito especial.
— Desculpe, professor — disse , sentindo os olhos do professor e de toda a turma em si. Drew sentou-se atrás dela, sem parecer ligar. O professor se sentou na ponta da mesa e cruzou os braços, encarando os dois alunos.
— Acho que é a primeira vez que vejo você se atrasar, Srta. — O tom dele era amigável, mas também carregado de um ar cômico que fez se encolher ainda mais.
— Não vai acontecer de novo, senhor.
— É claro que não vai. Que tal compartilharem com a sala o motivo do atraso? ? Drew?
A postura de Drew mudou na mesma hora, inclinando-se para frente e falando mais alto do que o normal.
— Meu altruísmo, senhor!
Eddie Foster tentou reprimir um sorriso.
— Seu altruismo?
— Veja bem, professor, infelizmente, sou um homem muito empático. Tive que fazer um desvio heroico e difícil para garantir que chegasse em segurança na escola. Não seria justo deixá-la caminhando por conta própria. Riverside anda muito perigosa. Ela poderia ser facilmente subjugada pela gangue de galinhas ilegais da Sra. Andrews.
A turma explodiu em risadas, e nem mesmo Eddie Foster aguentou. fechou os olhos por um momento, tentando encontrar alguma paciência em seu interior.
— O carro do meu primo quebrou — explicou, ignorando completamente Drew e suas piadas idiotas. — Ele pediu ao Drew para me buscar. Foi um imprevisto.
— Tudo bem, acontece — disse o professor.
— Viu? Eu disse que ele não se importava — comentou Drew, com um meio sorriso, enquanto apoiava os braços preguiçosamente na cadeira.
virou-se para encará-lo, fulminando-o com o olhar.
— Ai meu Deus, será que você pode calar a boca? — sussurrou entre os dentes, mas Drew apenas deu de ombros, ainda mais satisfeito por provocar.
— Não seja rude, — disse o Sr. Foster com um tom de advertência leve, mas que fez as bochechas de queimarem ainda mais. Mortificada, ela se virou para frente, encarando a mesa como se fosse a coisa mais interessante do mundo naquele momento.
Nunca havia se atrasado para uma aula em todo o ano, muito menos recebido uma resposta atravessada de um professor. E, é claro, na única vez em que isso acontece, tinha que ser culpa do idiota do Drew Starkey. Para piorar, o incidente foi justamente com o Sr. Foster — não só um dos amigos mais próximos dos seus pais, mas também o professor de uma das matérias em que ela não estava indo tão bem.
Não que Estudos Sociais fosse exatamente difícil, não era, e com certeza não para . Mas, ao focar demais nas outras disciplinas, acabara negligenciando essa matéria mais do que deveria. Agora, com o trabalho final se aproximando, ela sentia o peso da responsabilidade. De jeito nenhum deixaria que seu boletim ficasse menos do que impecável por causa de uma única disciplina.
— O que importa — começou o Sr. Foster, com aquele tom casual que sempre fazia parecer que ele sabia mais do que dizia — é que vocês chegaram assim que terminei de passar o trabalho final da disciplina.
ergueu o olhar para ele, tentando ignorar o pânico que começava a se formar em seu peito.
— Que é em dupla — continuou o professor, lançando um olhar significativo para Drew e depois para ela. — E agora vocês terão que fazer juntos.
Toda a vergonha que sentia desapareceu em um instante, substituída por indignação.
— Professor Foster! — exclamou, em um tom que misturava incredulidade e protesto.
O Sr. Foster apenas deu de ombros, completamente imperturbável. Um sorriso debochado curvava seus lábios, e ele claramente não lamentava nem um pouco pela situação que acabara de criar.
— Vocês chegaram por último — ele explicou, como se estivesse falando sobre algo óbvio. — E agora todos os outros já têm pares.
apontou para os primos sentados em cadeiras próximas, tentando conter o desespero que crescia em seu peito.
— Podemos trocar... — começou, lançando um olhar esperançoso para o Sr. Foster.
Ele balançou a cabeça antes mesmo que ela terminasse a frase.
— Não — respondeu com um tom firme e definitivo. — Vocês chegaram atrasados. O trabalho é de vocês.
soltou um suspiro pesado, claramente contrariada, enquanto o professor se levantava de sua mesa e caminhava em direção ao quadro. Ela se afundou ainda mais na cadeira, o desânimo estampado em cada movimento.
— E sobre o que é o trabalho?
O Sr. Foster parou e lançou um sorriso que parecia guardar uma surpresa.
— Que bom que você perguntou, Drew. Acho que vai gostar. É uma dinâmica nova... — ele disse, com um brilho nos olhos que fez imediatamente sentir um calafrio de antecipação.
Instintivamente, ela olhou para Sebastian, na esperança de encontrar algum apoio moral. No entanto, seu primo parecia mais interessado em conter uma gargalhada, claramente se divertindo às custas dos amigos.
— Como vocês sabem — continuou o professor, virando-se para a turma com as mãos cruzadas atrás das costas — esse é o último trabalho do ano. Em poucas semanas, vocês vão se formar e deixar a Riverside High…
O murmúrio de excitação foi imediato, seguido por aplausos e gritos de comemoração. Eddie Foster revirou os olhos, embora não conseguisse esconder completamente o sorriso que ameaçava aparecer.
— Sim, sim, vocês vão finalmente ficar livres. Agora façam silêncio — disse, gesticulando com as mãos para acalmar o burburinho. — O que eu quero de vocês é algo especial. Um planejamento de futuro.
— Em dupla, é claro — acrescentou o professor, com um sorriso que só aumentou a tensão de . O restante da sala parecia assistir a cada movimento que e Drew faziam, e saber que esse trabalho seria feito pelos dois parecia ser o maior espetáculo deles. — Juntos.
Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquela palavra, “juntos”, nunca soou tão ameaçadora quanto agora.
— Desculpe, professor. Acho que não entendi... — interveio, erguendo a mão com hesitação.
O Sr. Foster virou-se para ela, parecendo já esperar por isso.
— Vejamos… — o Sr. Foster começou, com um sorriso malicioso que fez encolher na cadeira. — Drew e serão um casal recém-casado, com uma gravidez surpresa. Quero um orçamento detalhado de absolutamente tudo que envolve essa vida que vocês vão criar. Quanto gastaram na festa de casamento, se é que decidiram ter uma. O preço da casa onde vão morar, os empregos de cada um, as despesas iniciais com o bebê, os custos do hospital, se vocês possuem carro… Enfim, tudo.
Ele fez uma pausa, olhando diretamente para , como se quisesse reforçar o peso do trabalho.
— Cada detalhe deve ser bem pensado, com justificativa e coerência. Quero que pesquisem preços reais, visitem casas ou apartamentos se necessário, procurem valores de carros. Tudo isso vai enriquecer o projeto e deixá-los mais próximos da nota que precisam para fechar o ano.
sentiu o rosto esquentar e teve certeza de que estava vermelha como um tomate. Não bastava fazer um trabalho com Drew Starkey — o que já seria um pesadelo por si só. Não. Ela precisava, essencialmente, “criar uma vida” ao lado dele. A ideia de passar horas planejando e discutindo detalhes com Drew fez um arrepio estranho percorrer sua espinha.
— Professor Foster… — ela tentou mais uma vez.
— Sem negociação, . Considere isso uma oportunidade de crescimento.
Ela suspirou, desistindo de vez. De que adiantava ter como professor um dos melhores amigos do seu pai, se ele não era capaz de entender o quão terrível Drew seria como parceiro de trabalho? Pior, quando ele se divertia ao torturá-la dessa maneira?
Quando finalmente encontrou forças para erguer o olhar, ela percebeu Sebastian observando-a com um misto de diversão e pena nos olhos. Ele se inclinou levemente para frente, sussurrando com um sorriso contido:
— Desculpe.
apenas deu de ombros, mas por dentro, ela estava furiosa. Não deveria estar surpresa. Na verdade, sabia que o dia estava condenado no exato momento em que avistou Drew Starkey no banco do motorista do jeep antigo de Sebastian. Não tinha como algo bom acontecer com ele por perto.
E agora, não só precisava aturá-lo, como também seria obrigada a passar mais do que quinze minutos ao lado dele nos próximos dias. A simples ideia fez seus ombros tensionarem, e ela se pegou mordendo a parte interna da bochecha para se controlar.
Levou até a hora do almoço para processar o fato de que teria mesmo que fazer aquele trabalho com Drew. Não havia saída, e ignorar a situação só faria o problema aumentar. Quando o encontrou, ele estava recostado contra o metal, um meio sorriso no rosto enquanto conversava com alguns amigos. Drew parecia descontraído, relaxado, exatamente o oposto de . Isso a irritava ainda mais.
Respirando fundo, se aproximou, os passos rápidos e decididos enquanto os amigos dele se afastaram.
— Quinta-feira, depois da aula, na biblioteca — declarou antes mesmo que Drew tivesse a chance de soltar qualquer uma de suas famosas frases espertinhas. Ela mantinha os braços cruzados, olhando para ele com firmeza. Drew, no entanto, apenas arqueou uma sobrancelha enquanto puxava um livro do armário e o fechava com um baque alto.
— Não posso, tenho que trabalhar — respondeu ele, sem demonstrar nenhum esforço em disfarçar o desinteresse.
estreitou os olhos, claramente irritada. — Sexta?
Drew a olhou com um sorriso de canto, como se ela tivesse acabado de dizer a coisa mais burra do mundo. — As pessoas geralmente trabalham todos os dias úteis, princesa. Não que você saiba o que é isso.
respirou fundo, controlando a vontade de revirar os olhos. — Sexta à noite, então?
Ao ouvir isso, Drew abriu um sorriso malicioso, inclinando-se despretensiosamente contra a porta metálica do armário. Ele estava claramente se divertindo.
— Não sei se vida social é um conceito muito distante pra você, princesa, ou se você realmente só quer passar sua sexta à noite comigo.
— Nem se todos os homens do mundo morressem e só restassem você e eu no planeta, Drew. Nem assim eu sairia com você.
— Isso é o que você diz — Drew continuou no mesmo tom arrogante, como se tivesse a resposta pronta para qualquer coisa que dissesse. — De qualquer forma, não posso. Já tenho compromisso.
— Você pretende fazer esse trabalho em algum momento? Porque, se você não quiser, eu posso simplesmente escrever que resolvi criar o maldito bebê idiota sozinha. Muitos pais por aí não criam os filhos que fazem — cruzou os braços, abrindo um sorriso de lado um tanto quanto maldoso, pronta pra dar o bote final em Drew, como sempre faziam. — Sempre achei que você meio que tinha essa cara.
O sorriso arrogante de Drew se desfez na mesma hora. Sua postura se endureceu, e, por um segundo, sentiu algo desconfortável no ar. O olhar de Drew, antes divertido e irreverente, agora estava gélido, sem qualquer traço de humor.
franziu o cenho, sem entender o que havia mudado tão rapidamente. Ela não se deixou intimidar, no entanto.
— Sábado eu passo na sua casa — disse Drew, a voz seca e indiferente, como se tivesse dado a última palavra.
Drew não deu sequer chance de a garota dizer alguma coisa, apenas saiu, sem esperar nenhuma resposta. continuou observando enquanto ele subia em seu skate e impulsionava-se em direção a um dos corredores, sem se importar de ser visto pelo Sr. Johnson, o zelador, que odiava mais do que qualquer outra coisa quando Drew andava de skate pelos corredores.
Ela piscou algumas vezes antes de bufar, indignada. Ele era tão mal-educado. Como podia sair assim, sem mais nem menos? Sem mesmo dar a ela a chance de dizer se poderia vê-lo no sábado?
Será que ela finalmente havia encontrado o calcanhar de Aquiles de Drew? Ela já tinha dito muitas coisas ofensivas para ele — e, claro, também já ouviu algumas bem piores —, mas nunca, nunca ele a encarou daquela maneira. A atitude dele tinha sido completamente diferente dessa vez. começou a se perguntar se, de alguma forma, ela realmente o havia ofendido, embora não conseguisse entender por quê. Tudo o que ela fez foi sugerir que ele não queria fazer o trabalho, o que, convenhamos, ela sabia que ele realmente não queria.
Ela bufou novamente, frustrada, jogando o cabelo para trás com um movimento impaciente. decidiu que não tentaria entender os incontáveis dramas de Drew Starkey.
A questão é que ela não contava em ser ignorada o resto daquela semana inteira. Os dois não conversavam de verdade, mas Drew nunca tinha deixado o local porque ela havia chegado antes, e isso era extremamente desconfortável para duas pessoas que andavam com o mesmo grupo de amigos, para dizer o mínimo.
Sebastian foi o primeiro a perceber o silêncio entre os dois. Mas, sendo quem era — e sabendo o quanto detestava se meter nos conflitos de e Drew —, ele esperou até que a situação ficasse tão óbvia que não havia como ignorar. E, na sexta-feira, isso aconteceu. Enquanto caminhavam pelos corredores entre as aulas, Drew, como sempre, parecia animado, mas, ao avistar parada ao lado do primo, simplesmente virou as costas e sumiu na multidão. Sebastian suspirou pesadamente, amaldiçoando todos os deuses possíveis por ter que fazer a pergunta que mais odiava no mundo:
— O que aconteceu entre você e o Drew? — apenas deu de ombros. As aulas haviam acabado e os dois já estavam indo pra casa no carro de Sebastian. mexia no rádio, despreocupadamente.
— Não fiz nada com ele — respondeu, sem fazer muita questão de explicar.
— Ele tá estranho.
— Ele é estranho, Seb.
Ele balançou a cabeça, não aceitando aquela resposta. Conhecia Drew muito bem, mas talvez conhecesse a sua prima grosseira ainda mais.
— Acho que fez, sim.
revirou os olhos, cruzando os braços.
— Eu só disse para ele que podia fazer o trabalho sozinha e ele saiu com raiva — disse sincera, recebendo uma risada seca do primo.
— Drew nunca se ofenderia com isso, . Na verdade, isso é exatamente o tipo de coisa que ele ofereceria só pra te irritar.
— Eu sei! Eu te disse: não fiz nada com esse idiota — falou. — Drew Starkey é um mistério.
Sebastian abriu um sorriso pequeno, quase imperceptível.
— Você sempre gostou de desvendar mistérios. Não era você quem dizia que era a Nancy Drew nas nossas brincadeiras?
— Ah, Sebastian, me poupe — falou, exasperada — Os mistérios de um irresponsável de 18 anos são os últimos que quero desvendar.
— Pega leve com ele, — Sebastian pediu, parando o carro no sinal vermelho. — O Drew não é irresponsável. Ele melhorou muito esse ano.
— Ah, tá! Você só fala isso porque ele é o seu melhor amigo, mesmo que o motivo para isso seja um mistério pra… — parou de falar ao sentir o celular vibrando no seu colo, com o contato de Drew piscando na tela.
soltou uma gargalhada incrédula.
— Sério! — Ela ergueu o celular para Sebastian, que olhou rapidamente antes de voltar a focar no trânsito, que já havia recomeçado. — Ele é um idiota completo, Sebastian! Ele passou a semana toda me ignorando, mesmo sabendo que temos um trabalho pra fazer, e agora, como se nada tivesse acontecido, mandou uma mensagem avisando que vamos nos encontrar amanhã para fazer essa maldita pesquisa. Eu nem achei que isso ia acontecer mais!
Sebastian fez uma careta. sabia ser difícil, mas Drew certamente também.
— No fim de semana? Achei que você viajaria com a Tia Rosalie e as meninas…
— Porque era o que eu planejava! Mas então, o imbecil do seu amigo recusou todos os outros dias que eu falei e escolheu esse sem nem me perguntar! — reprimiu um grito de frustração. — Tia Rosalie vai me odiar por cancelar, voltar atrás e agora cancelar de novo.
Ela suspirou, encarando a janela. realmente achou que Drew havia desistido da reunião depois de não ter nem mesmo olhado para ela durante toda a semana.
— Ela vai entender… — Sebastian disse, baixinho, fazendo com que o olhasse com um olhar matador
— Ela não deveria ter que entender, Sebastian, essa é a questão. Não tente defender esse babaca. Não hoje.
Sebastian não disse nada, respeitando o pedido da prima, enquanto tentava pensar o que poderia estar se passando na mente do amigo, mas não estava a fim de ficar em silêncio.
— Ele é um imbecil. Um imbecil total. Ele acha que o mundo gira ao redor dele, que mimado do…
— , não é bem assim…
— Claro que é! Ele nem me perguntou se eu podia, apenas supôs que poderíamos fazer o que fosse melhor para ele. É um egoísta, isso sim — Ela suspirou, agradecendo quando começou a avistar a própria casa — Tudo bem que ele disse que estava trabalhando, mas deixar de fazer o trabalho hoje porque tinha um encontro? Com quem ele tem um encontro, afinal?
— Ahn... Madison, eu acho…
— Coitada! — revirou os olhos, tirando o cinto de segurança e puxando a mochila que estava no banco de trás com ferocidade. Sentia suas bochechas esquentarem de tanta irritação. — Eu realmente não sei por que ele não me deixou fazer o trabalho sozinha — continuou ela quando o carro finalmente parou em frente à sua casa e ela pôde ver seu pai no jardim podando algumas plantas. — Honestamente, uma mãe solteira que cria o filho sem o apoio do pai é algo que eu conseguiria construir com as mãos amarradas!
já estava com a mão na porta do carro, pois sabia que Sebastian não concordava com nada do que ela falava, afinal, sempre queria defender Drew, e isso também a irritava. Mas então, a mão do primo a parou, puxando-a de volta e fazendo com que ela olhasse para ele. Os olhos de Sebastian estavam arregalados e ele a olhava como se fosse louca.
— Você não disse isso para ele, disse?
— Claro que disse! — se soltou, abrindo a porta do carro e descendo — Não preciso do Starkey para nada! — falou, antes de bater a porta do carro velho do primo com tudo e marchar para dentro da sua casa.
Sebastian parecia assustado e ligeiramente chocado com as palavras da prima, mas não conseguia perceber nada além da própria indignação. Teria que meditar o resto do dia para conseguir lidar com Drew Starkey na tarde seguinte ao invés de ir à exposição de arte em Los Angeles com sua tia e primas, para a qual estava tão ansiosa. Decidiu, quando saltou do carro e ignorou os chamados de Sebastian, que não pensaria no garoto Starkey pelo tempo que lhe fosse permitido. Ou seja, até às 14:00h de sábado.
acenou para o pai de longe, fugindo antes que ele pudesse engatar alguma conversa com ela. William havia acabado de perder o emprego na empresa onde trabalhava e embora a filha tivesse toda a empatia do mundo com a situação que o pai estava enfrentando a sua empatia não funcionava o dia inteiro.
Ela amava seu pai e tinha muito orgulho do homem que ele era, tinha mesmo, mas Will sempre fora um pouco dramático, e o fato de ele estar se dedicando apenas ao cultivo das flores na entrada de casa estava começando a irritar todos ali. Sabiam que ele sempre gostou de cuidar do jardim, que era sua forma de relaxar. sempre amou ter grama verde e flores para olhar desde que nascera, mas depois da demissão, aquilo parecia ter se tornado uma obsessão nada saudável. Havia um limite para o quanto você podia se lamentar pela própria sorte. Até sabia disso — e ela era de Câncer! Ser filha de Will e ter nascido em julho explicava bem de onde vinha o drama que corria em suas veias.
O resto do dia passou mais rápido do que desejava — ela realmente se esforçou para não pensar em Drew, embora tenha ficado difícil quando decidiu, já perto das onze da noite, montar uma lista de tudo que eles precisavam ter em seu trabalho.
2. Plano de saúde
3. Carro: minivan
4. Casa, não apartamento
5. Coisas para o bebê
6. Poupança
7. Emprego: vendedor de carros x advogada
Parecia um bom começo e ficou satisfeita. Eles só precisavam fazer algumas pesquisas de campo e teriam todo o trabalho feito em pouquíssimo tempo.
sabia que aquela tinha sido a pior segunda-feira do ano.
Enquanto seus primos se trancavam em casa no fim do verão, desesperados para terminar os trabalhos antes do início das aulas, aproveitava seus últimos dias de liberdade na piscina da casa do pai de Sebastian. Não que fosse obcecada por estudar, como Drew gostava de insinuar, nem a pessoa mais certinha do mundo, como ele adorava exagerar para provocá-la. Mas era esforçada e sabia exatamente quais eram suas prioridades. O oposto de Drew Starkey, que parecia fugir de tudo que exigisse o mínimo de responsabilidade e atenção. Exceto, talvez, pelo skate velho que carregava para todo lugar.
Na verdade, não conseguia se lembrar de um único dia em que Drew não estivesse com aquele skate. Provavelmente era a única coisa que ele já havia mantido por mais de uma semana.
Foi por isso que, quando Drew apareceu quase uma hora depois do combinado, não estava apenas irritada — estava furiosa. Não havia nada que ela odiasse mais do que atrasos, e Drew Starkey sabia disso muito bem.
— Olá, Sr. ! — Drew chamou, abrindo um sorriso largo.
O pai de , que estava agachado no jardim, levantou os olhos das sementes de girassol que plantava e apontou uma pequena pá estreita na direção dele.
— Não ouse usar esse skate assassino no meu jardim, ouviu bem, garoto?
Drew segurou o skate debaixo do braço e se aproximou pelo caminho de pedras, o sorriso ainda maior.
— Qual é, Sr. ! O senhor sabe que eu jamais cometeria essa atrocidade com o seu jardim.
— É, espero que não! Não quero ver minhas rosas sofrendo, elas são muito sensíveis — respondeu o Sr. , apontando para as roseiras próximas. — Estão quase desabrochando. Mais uns dias, e você vai ver o melhor jardim do quarteirão, garoto!
Drew olhou para onde o mais velho apontava, simpático e interessado.
— Já é o melhor, Sr. . Nenhum outro tem seu toque especial.
O Sr. riu, mais do que satisfeito com o elogio, enquanto Drew aproveitou a oportunidade para se aproximar do pequeno banco próximo a porta, onde a Sra. estava sentada.
— Sra. , a senhora está cada dia mais bonita!
, na janela, revirou os olhos para a cena.
— Idiota fingido — murmurou para si mesma, enquanto sua mãe ria, feliz com o comentário. Drew sempre dizia a mesma coisa quando via Hope , e ela sempre ficava feliz.
— Drew Starkey, você sempre com esse papo de galanteador… Já está pensando em cursos na faculdade? Que tal Teatro?
Drew riu, negando.
— Sra. W, minha vocação é ser sincero. Estou apenas dizendo a verdade.
Ela balançou a cabeça, rindo enquanto voltava a regar as flores.
— Você é tão charmoso quando quer, Drew. Espero que isso funcione com a também. Ela está te esperando há uma outra, e, pelo jeito, não muito feliz. Boa sorte com isso.
Na mesma hora, saiu de casa a passos decididos. Sem prestar atenção no que seus pais ainda falavam, ela simplesmente empurrou Drew em direção à rua, como se ele fosse um móvel fora de lugar.
Drew quase podia jurar que viu a fumaça saindo das orelhas de . Mesmo assim, manteve-se calado, aguardando que ela mesma resolvesse explodir — conhecia ela bem o suficiente pra saber que, com ela, funcionava melhor. Ele não teve que esperar muito. Quando estavam a duas casas de distância da residência , finalmente soltou:
— “Você está tão bonita, Sra. ”, “Seu jardim é tão perfeito, Sr. …” — repetiu ela, imitando-o com a voz afetada e revirando os olhos dramaticamente. Drew não conseguiu conter uma risada alta. — Você é tão idiota.
— Porque sou legal com seus pais?
parou no meio da calçada, virando-se para encará-lo como se ele fosse louco.
— Não, porque você é um puxa-saco descarado, e ainda levou mais de uma hora pra chegar até aqui.
— Ei, eu disse que viria depois do almoço, não disse quando — argumentou ele, levando a mão para trás e ajustando o skate que, agora, estava preso na mochila. — E qual o problema de ser legal com seus pais?
soltou uma risada forçada e ele arqueou as sobrancelhas, sem entender.
— Eu gosto dos seus pais, .
— Você é amigável demais com eles, e eles acham que somos melhores amigos por causa disso.
— Duvido que você já tenha dito alguma coisa boa sobre mim para eles.
deu de ombros com indiferença teatral.
— Não disse, mas como você age desse jeito, eles pensam que eu estou só brincando.
Drew sorriu, mas antes que pudesse responder, mudou de assunto como se nada tivesse acontecido.
— Enfim, eu já montei uma base do que podemos fazer no trabalho antes de começarmos a pesquisa. Vamos à biblioteca?
Drew fez uma careta.
— Eu odeio a biblioteca.
— É claro que você odeia a biblioteca — jogou as mãos para o alto, aumentando o drama. — Você poderia ser mais clichê, Starkey? Olhem para mim: bad boy, skatista, irresponsável que odeia estudar e provavelmente tem alergia a livros.
Drew passou a mão na cabeça, despreocupado.
— Primeiramente, não sou irresponsável.
o olhou de cima a baixo com um sorriso irônico no rosto.
— Você apareceu com uma hora de atraso, Drew.
— Isso não conta. Foi uma falha de logística.
— Ah, claro.
— E eu não tenho alergia a livros. Só não gosto do ambiente.
— Ok, tanto faz. O que você sugere então?
— Vamos no Café da Sue.
assentiu, preferindo não perder tempo discutindo. Já estavam próximos do café, afinal. Essa era, talvez, a única vantagem de morar em uma cidade do tamanho de um ovo. Quando chegaram ao local, Drew se adiantou, abrindo a porta para ela e fazendo uma mesura exagerada como se fosse um mordomo em um filme antigo.
— Você é ridículo.
— E você também — respondeu ele, sorrindo despreocupado enquanto revirava os olhos e entrava, procurando por uma mesa vazia e afastada.
Os dois acabaram escolhendo uma mesa no fundo do restaurante, onde o barulho das conversas ao redor seria apenas um murmúrio distante. Assim que se sentaram, puxou seu caderno e o abriu diante de Drew, mostrando a lista que havia feito na noite anterior.
— Vamos escrever com base nisso e... — Ela parou de falar no meio da frase, notando a careta que Drew fazia enquanto balançava a cabeça em desaprovação. — O que foi agora?
— Eu não casaria sem uma festa de casamento. Seb quer ser meu padrinho.
piscou.
— É um casamento fictício. Ninguém vai realmente casar, Drew.
— E daí? — Ele deu de ombros. — Até em um casamento de mentira, Sebastian ia querer ser meu padrinho.
— Você só pode estar de brincadeira — passou a mão pelo rosto, apertando a ponta do nariz como se precisasse reunir toda a paciência do universo. — Estamos "grávidos", Drew. Lembra? O bebê indesejado é, basicamente, o ponto-chave do trabalho. Tudo gira em torno dele.
— Mas nem uma festinha pequena? — insistiu ele.
— Festas custam caro. Quase tanto quanto o bebê que está para chegar. Então, não, sinto muito, mas a nossa "cerimônia" vai ser tão simples que você vai precisar mandar uma mensagem de texto pra ele avisando que é casado.
Nesse momento, percebeu a garçonete parada ao lado da mesa, com uma expressão que oscilava entre o choque e a curiosidade, obviamente tentando entender o contexto daquela conversa. Para quem não conhecia os métodos pedagógicos questionáveis do professor Foster, aquilo parecia a coisa mais maluca e pessoal do mundo. pigarreou, tentando afastar o clima estranho.
— Ahn... Um milkshake de chocolate, por favor.
— Dois — disse Drew, casualmente, sem nem desviar os olhos da lista. Quando a garçonete se afastou, ele apontou para o item "carro" com o lápis. — Eu não vou dirigir uma minivan.
— É o carro mais prático para famílias — rebateu ela, indignada.
— No mínimo um Honda CR-V.
— Drew…
— Não vou dirigir um Toyota, . Não vou andar por aí parecendo um motorista de carona escolar.
— Bebê, Drew! Você vai ser pai! — Ela enfatizou com sarcasmo, gesticulando exageradamente. — Você precisa pensar no custo-benefício! Onde você vai arranjar dinheiro pra essas coisas que você quer? Carro, festa?
Drew deu de ombros.
— Bem, isso claramente não vai acontecer com um pai fracassado que trabalha numa concessionária e uma mãe advogada, vai, ?
piscou, incrédula, antes de puxar o caderno das mãos dele.
— Qual é o problema?
— Talvez o fato de que você nem sequer me perguntou o que eu quero fazer e apenas assumiu que qualquer coisa estaria bom enquanto você persegue o seu sonho mais clichê de todos?
respirou fundo, fechando os olhos por um instante enquanto se obrigava a contar até dez. Foi nesse exato momento que o milkshake chegou, como um presente divino para salvar Drew de uma resposta pouco educada.
— Se você está tão incomodado com a sua profissão, apenas escolha outra.
— Piloto de corrida, skatista profissional, dublê de filme de ação…
— Ok, chega. Eu vou embora. Me ligue quando você levar isso a sério — começou a juntar suas coisas, mas Drew segurou sua mão, pegando o caderno de volta.
— Estou brincando. Deus, você não tem humor algum.
— Você passou a semana toda fugindo de mim e agora me cobra bom humor? Sério, você podia só ter me deixado fazer sozinha.
— Você colocaria o meu nome?
— E eu tenho cara de imbecil?
— Então pronto — Drew ficou de pé. — Relaxa, já sei por onde começar. Vamos lá, princesa.
e Drew andaram por 25 minutos, e ela já estava quase desistindo quando finalmente chegaram onde ele queria. Os pés de já estavam pedindo socorro quando ela viu uma grande placa de madeira em frente a um modesto escritório.
— Onde nós estamos?
Drew não respondeu, apenas abriu a porta e olhou para . Drew geralmente deixava seu cabelo razoavelmente grande, mas não fazia muito tempo que havia raspado. não sabia o motivo, mas combinava com ele. Seu cabelo não era tão escuro, então com aquele sol, o que ainda restava até fazia com que ele parecesse mais loiro do que era de verdade. Ela desviou o olhar, entrando dentro do escritório e sentindo os olhos de Drew atrás de si.
Assim que cruzaram a porta, uma mulher alta, de cabelos escuros e longos, abriu um grande sorriso ao avistar Drew.
— Meu sobrinho favorito! — disse ela, puxando-o para um abraço apertado.
— Sou seu único sobrinho, tia Daphne — ele riu.
A mulher deu de ombros, soltando-o e ainda sorrindo.
— E essa é , minha parceira no trabalho que mencionei — disse ele — , essa é a minha tia, Daphne Beaumont.
A mulher sorriu para , mas seus olhos a analisaram com curiosidade, como se já soubesse algo a seu respeito. Havia uma leveza naquele olhar, quase uma familiaridade, como se o nome de não fosse uma completa novidade para ela. sentiu o rosto esquentar, imaginando por um instante o que Drew poderia ter dito a seu respeito.
— ? — disse ela, com um sorriso radiante que lembrava muito o de Drew. — Conheci toda a sua família, sabia?
O rosto de começou a relaxar, o rubor desaparecendo aos poucos, como se tivesse levado um banho de água fria. Então ele não havia dito nada. Ela só conhece alguém da minha família. Daphne estreitou os olhos por um instante, como quem buscava uma lembrança específica.
— Will e Hope, não é?
sorriu, assentindo educadamente.
— Ah, eu sabia! — exclamou Daphne, com entusiasmo. — Você me lembra muito sua mãe. É tão bonita quanto ela, querida.
— Muito obrigada, Srta. Beaumont.
Daphne estendeu uma pasta e um molho de chaves para Drew, mas não antes de franzir o cenho, como se uma memória divertida acabasse de lhe ocorrer.
— Sabe, quando estávamos na escola, namorei um dos seus tios.
arregalou os olhos, soltando uma risada. Sua mãe era filha única, então sabia que a mulher à sua frente só podia estar falando de um dos irmãos de seu pai. Claro, ela entendia que eles eram pessoas como qualquer outra e que tinham vivido suas vidas inteiras em Riverside, mas ainda era estranho — e um pouco engraçado — imaginar alguém namorando qualquer um deles. Talvez, no fim das contas, fosse apenas esquisito pensar que algum deles já foi jovem como ela.
— Sério?
Drew fez uma careta de puro desconforto.
— Qual deles? — perguntou , genuinamente interessada.
Daphne Beaumont abriu a boca para responder, mas Drew a interrompeu antes que ela pudesse.
— Ah, pelo amor de Deus, , não! — Ele foi até a porta e, sem cerimônia, a puxou pela mochila. Daphne riu baixinho da interação enquanto protestava, sendo arrastada para fora do escritório.
— Não! Eu quero saber! Drew!
A porta se fechou atrás deles com um estrondo.
— Você é tão chato, sabia disso? — reclamou , tentando ajustar a mochila nos ombros.
— O que importa pra você se minha tia namorou um dos seus tios ou não?
— Não importa nada, mas eu sou curiosa.
— Curiosa até demais, se quer saber minha opinião.
— Não quero. — retrucou na mesma hora, puxando a pasta das mãos de Drew. — Agora, dá pra explicar o que viemos fazer? Onde estamos indo?
estava prestes a abrir a pasta quando Drew a pegou de volta com um sorriso presunçoso.
— Estamos indo escolher um ninho de amor, princesa.
Acontece que Drew não estava tão indiferente à pesquisa deles quanto pensava. Ele havia ido até o escritório da tia, que é corretora imobiliária, e pedido uma planilha com o valor dos apartamentos mais baratos perto do centro e conseguido a chave de alguns deles para que os dois pudessem visitar e colocar no diário de bordo que Foster exigia que fizessem. Eles podiam até tirar algumas fotos e pegar a planta do lugar, segundo a tia dele.
Ele explicou tudo isso no caminho, mas só acreditou de verdade quando chegaram ao primeiro apartamento. Algo em sua mente resistia à ideia de que Drew Starkey pudesse ser tão proativo e criativo ao mesmo tempo. O primeiro apartamento ficava em uma rua meio estranha, quase no final do centro da cidade. O poste da frente não funcionava, e o prédio não tinha porteiro nem elevador.
— Eu jamais moraria em um prédio sem elevador — comentou enquanto subiam para o quarto andar.
— Você disse que queria economizar. Prédios com elevador são mais caros.
— Ainda assim. Imagine subir esses lances de escada todos os dias?
Drew riu, revirando os olhos.
— Tudo bem, princesa, já entendi.
chegou à porta do apartamento sentindo o coração acelerado e a respiração falhar, mas isso não parecia importar no momento.
— Pare de me chamar assim.
— Quando você parar de agir como uma princesinha mimada, talvez eu pare.
Ela bufou, parando diante da porta que tinha o número 404 quase todo descascado. O metal oxidado fez torcer o rosto em uma expressão enojada.
— Cala a boca e abre isso de uma vez.
Demorou alguns segundos, mas Drew finalmente girou a chave e empurrou a porta.
— Uau — disse , cruzando os braços ao entrar. — Isso é um cubículo.
O apartamento era de fato minúsculo. A sala e a cozinha pareciam fundidas em um único espaço, onde uma pia de inox manchada e um fogão minúsculo dividiam o mesmo balcão de mármore gasto. Não havia armários, apenas algumas prateleiras desajeitadas pregadas na parede. O chão era de um azulejo bege manchado, e as paredes tinham marcas de infiltração perto do teto. No canto oposto, um banheiro sem porta oferecia uma visão nada convidativa de um vaso sanitário e um chuveiro que pareciam tão sujos que nem conseguiu olhar por muito tempo.
— A localização compensa — argumentou Drew, apoiando o ombro na parede e olhando para ela com aquele sorriso divertido.
— Você só pode estar brincando. Esse banheiro nem tem porta! — apontou, claramente indignada.
— Isso é o mais fácil de resolver, é só colocar uma cortina.
arqueou uma sobrancelha, incrédula.
— Isso é nojento, Drew. Você consegue imaginar alguém morando aqui?
— Claro, você. Toda princesa precisa de um castelo.
fechou os olhos por alguns segundos, tentando se recompor, mas a risada alta de Drew rapidamente a fez abrir novamente. Ele estava parado perto do banheiro, balançando a cabeça como se não acreditasse no que via.
— Tem um colchão velho aqui. Acho que esse apartamento vem com um "quarto" e tudo — disse ele, rindo enquanto apontava para o canto.
caminhou até ele e viu o colchão mofado encostado na parede. Drew já tirava o celular do bolso, e antes que ela pudesse dizer algo, ele capturou uma foto rápida.
— O que você está fazendo?
— Vou mandar para o Sebastian e dizer que achei a casa perfeita para ele.
não conseguiu segurar uma risada fraca, mas verdadeira. A lembrança veio quase instantaneamente: a vez em que foram ao zoológico com a família e Sebastian enviou uma foto de um bicho-preguiça para Drew com a legenda “ei, esse é você”. Ela balançou a cabeça. Eles eram realmente idiotas, mas era difícil não achar graça.
Drew colocou o celular de volta no bolso, mas quando virou para ela, seus movimentos ficaram mais lentos. Algo na expressão dele mudou, como se estivesse considerando alguma coisa importante. Ele se afastou um pouco, indo em direção à porta do apartamento, mas parou antes de sair.
— Que estranho.
— O que é estranho?
Ele se virou, enfiando as mãos nos bolsos do casaco enquanto a olhava diretamente. Seu tom de voz era mais baixo agora, ao mesmo tempo sério e contemplativo.
— Você, rindo de algo que eu disse. É estranho — comentou Drew, os olhos fixos nos de . — A última vez que isso aconteceu nós tínhamos uns 14 anos e estávamos em uma festa no porão do Joshua.
ficou imóvel, parada no meio daquele apartamento caindo aos pedaços enquanto Drew a encarava do outro lado. O ar parecia mais pesado do que antes para ela e sentiu cada batida do seu coração encarando o garoto à sua frente de uma maneira que não se lembrava de acontecer há muito tempo. Sabia exatamente de que festa Drew estava falando e, se tivesse que ser honesta, se lembrava exatamente do que ele havia dito também.
— Mas é bom — disse ele, por fim, com um pequeno sorriso sem graça. — Tem outro apartamento no andar de cima. 505. Vamos?
Antes que ela pudesse responder, Drew virou-se e saiu pela porta, deixando as chaves penduradas na maçaneta para que fechasse o apartamento. Mas ela ficou ali por alguns instantes, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Seu corpo parecia hesitante em se mover, como se seus pés estivessem presos ao chão. Finalmente, quando conseguiu, ela soltou um suspiro aliviado, agradecendo mentalmente por Drew ter ido na frente. Não sabia porque Drew tinha tocado naquele assunto, muito menos que ele se lembrava desse dia. Saber disso fez com que se sentisse desconfortável.
Quando chegou no andar de cima, Drew já estava parado na frente do apartamento. Ele pegou as chaves de volta e abriu a porta, mostrando um segundo apartamento que não era muito melhor do que o anterior.
A sala e a cozinha compartilhavam o mesmo espaço, separadas por um balcão pequeno e desgastado. O piso de azulejos na cozinha estava rachado em vários pontos e manchado, e o fogão parecia tão velho que duvidava que ainda funcionasse. Uma janela estreita acima da pia deixava entrar uma luz fraca e amarelada, que provavelmente vinha da casa de algum vizinho. Só havia um quarto minúsculo também, com espaço para uma cama de casal, e talvez um berço, se o armário fosse pequeno. A pintura desbotada nas paredes dava a impressão de que aquele poderia ser, facilmente, o cenário de um filme de ação de baixo-custo.
O banheiro, apesar de finalmente ter uma porta, era tão apertado que balançou a cabeça em negação assim que entrou.
— Desculpe, mas isso é impossível. Eu sinto claustrofobia só de estar aqui dentro — disse , espreitando entre a pia e o vaso sanitário com um olhar de pânico exagerado. — Acho que posso sentir as paredes se aproximando, Drew, estou falando sério!
— Não seja tão exagerada, princesa.
— Exagerada? — ela exclamou, gesticulando dramaticamente e batendo o cotovelo na parede no processo, provando seu ponto. — Isso não é um banheiro, é uma armadilha! É como se eu tivesse construído um quadrado no The Sims, sem porta, só para assistir meu personagem morrer.
Drew tentou segurar o riso, mas falhou miseravelmente, soltando uma gargalhada alta.
— Você definitivamente passa tempo demais no computador, . Vou te provar que não é assim.
Drew entrou no banheiro, e deu um passo para trás, tentando inutilmente abrir espaço naquele ambiente minúsculo. Assim que ele tentou se posicionar perto da banheira, o lugar pareceu ainda menor. Ele tentou passar por cima do vaso sanitário, mas perdeu o equilíbrio, e suas mãos instintivamente foram parar nos ombros de .
— Você vai cair, idiota! — ela exclamou, segurando os braços dele antes que ele terminasse de despencar direto na banheira, que, com toda certeza, poderia causar uma infecção em que se aproximasse daquilo de tão suja.
Drew soltou uma risada nervosa.
— Não dá, Drew.
Ele suspirou, analisando o banheiro como se pudesse magicamente deixá-lo do tamanho normal.
— Ok, talvez não seja tão grande quanto eu pensei.
— Que descoberta, Sherlock — revirou os olhos.
Mas antes que pudesse se afastar, Drew virou o rosto para ela. Seu sorriso torto sempre parecendo estar à beira de alguma provocação.
— Mas sabe, ... Banheiro é mesmo para uma pessoa só. Bebês tomam banho em banheiras próprias. Ou será que você está imaginando tomar banho com seu marido aqui?
piscou, tentando encontrar uma resposta inteligente que parecia ter sumido de seu cérebro sempre tão preparado para retrucar Drew Starkey. De repente, percebeu que estava ciente de cada detalhe ao seu redor. Especialmente dos olhos azuis de Drew que passeavam por todo seu rosto sem pressa, e do fato de que estavam perigosamente próximos. Sentiu sua respiração vacilar e tentou desesperadamente pensar em qualquer coisa, mas como, se os olhos dele não saiam de cima dela? Como, quando Drew parecia tão absurdamente confortável com a proximidade?
Ela tentou dar um passo para trás, mas não havia espaço. Sentia o toque das mãos dele, firmes, ainda apoiadas em seus ombros, e percebeu que seus próprios dedos estavam pressionados nos músculos dos braços de Drew. Assim como ela, Drew não se movia. Ele parecia a observar como se estivesse estudando. não conseguiu definir se ele a olhava como se fosse uma presa ou um quadro pendurado em um museu.
fechou os olhos por um segundo quando sentiu a respiração quente de Drew chegar perto de seu rosto, e quando o olhou, percebeu um pequeno sorriso tentando surgir no rosto dele, como se soubesse exatamente o efeito que estava causando nela. abriu a boca para mandar que ele saísse de uma vez, mas nada saía.
Então, sem aviso, ele se afastou. Tirou as mãos dos ombros dela, espremendo-se para sair do banheiro minúsculo, como se nada tivesse acontecido.
ficou ali, imóvel, enquanto o calor subia para seu rosto fazendo com que ela sentisse que estava prestes a explodir. O que diabos estava acontecendo?
Quando ele se virou para ela novamente, já fora do banheiro, seu sorriso descontraído estava de volta, como se a tensão de segundos atrás tivesse sido apenas invenção da cabeça de .
— Acho que o próximo apartamento vai ser maior — disse ele casualmente.
— É bom que seja — murmurou em resposta.
saiu do banheiro em silêncio, o som dos próprios passos ecoando nos ouvidos como um lembrete de que nada daquilo havia sido um sonho. Ela esperou Drew fechar o apartamento sem dizer nada, e os dois deixaram o prédio ainda envoltos em um silêncio esquisito. queria sugerir que poderiam voltar para casa e procurar algo online — tinha certeza de que encontraria algo melhor. Mas as palavras se recusaram a sair. Talvez porque não queria admitir para si mesma que o motivo de querer sumir dali era o fato de que seu coração ainda estava descompassado, ela não tinha a menor intenção de discutir aquilo, muito menos com Drew Starkey. Então, sem trocar uma palavra, os dois atravessaram a rua e entraram em outro prédio, desta vez com um aspecto menos desolador.
O apartamento, ao contrário dos outros, ficava no primeiro andar, para o alívio de , que já não suportava a ideia de subir mais escadas. Para sua surpresa, parecia a opção perfeita.
A sala e a cozinha, embora pequenas, eram cômodos separados. O fogão não parecia prestes a explodir, e havia dois quartos minúsculos, mas funcionais — mais do que suficiente para um casal de recém-casados com um bebê. Até o banheiro era aceitável, com uma porta e nada claustrofóbico.
— Acho que esse vai funcionar — disse finalmente, quebrando o silêncio enquanto analisava a pasta que Daphne Beaumont havia entregue a Drew, cheia de plantas e planilhas de custos. Puxou a página correspondente ao terceiro apartamento e, sem pensar muito, a guardou na própria mochila.
Se sentia tão envergonhada desde o que havia acabado de acontecer que sabia que aceitaria o terceiro apartamento até mesmo se fosse apenas um grande cômodo vazio com um vaso sanitário no meio. Drew a observava enquanto ela fechava a mochila e a jogava de volta nas costas, sua expressão indecifrável. , por outro lado, evitava olhá-lo a qualquer custo.
— Vamos pra casa? Acho que já consigo escrever alguma coisa com isso — disse ela, sem emoção, tentando soar prática.
— Claro — respondeu Drew, sem insistir.
Embora tivesse insistido em voltar sozinha, Drew recusou mais de uma vez. Ele afirmou, em um tom firme, que não podia deixá-la andar por aí sozinha ao escurecer. Assim, os dois seguiram lado a lado pelas ruas estreitas de Riverside. O silêncio entre eles parecia mais alto do que nunca. Normalmente, não ligaria — ela era boa em se perder em seus próprios pensamentos quando a conversa não fluía, e não se preocupava com isso. Mas naquele momento, ela estava ligando. Talvez seu coração que ainda não havia desacelerado completamente desde a proximidade repentina de Drew no banheiro. Talvez fosse o comentário sobre a festa de Joshua, que acabou desenterrando memórias que ela não tinha certeza se queria revisitar. Ou talvez fosse o jeito que Drew parecia estar fugindo dela há dias. É óbvio que eles não eram como Drew e Reagan ou e Sebastian — eles nunca foram amigos assim. Mas ele nunca a olhou com aquela mistura de mágoa e distância antes, e, por mais que quisesse ignorar, algo nisso a incomodava profundamente.
Não que ela fosse admitir isso em voz alta.
O sol já havia desaparecido completamente, e os dois já estavam longe da barulhenta parte central de Riverside e caminhavam tranquilamente sob a luz fraca dos postes quando resolveu ceder a sua inquietação e perguntar:
— Então… nada de vendedor de carros. O que você quer que eu coloque?
Drew levou um tempo para falar, fazendo com que a inquietação dentro de crescesse.
— Arquiteto.
piscou, quase parando no meio do caminho. Ela olhou para Drew, mas ele não retribuiu o olhar, mantendo-se firme a frente. Ela sabia que ele estava com vergonha. Não poderia explicar como, mas sabia.
— Você quer fazer Arquitetura? Sério?
Drew deu de ombros.
— É tão surpreendente assim?
— Um pouco, sim, você odeia estudar — respondeu, sincera, e Drew riu — Mas é um bom curso, eu só não esperava.
— Você não esperava que eu tivesse planos para faculdade, não é?
não queria dizer que sim, de repente, pareceu algo muito insensível para se dizer. Mas ela não precisava, pois Drew sabia que era isso que ela pensava.
— Não é isso.
— Você pode dizer.
— Como eu disse, você não gosta de estudar. Não achei que estava preocupado com isso.
Drew assentiu.
— Tudo bem, eu entendo. Sei que fiz algumas besteiras nos últimos tempos — ele admitiu. — Estou tentando compensar.
Dessa vez, foi quem assentiu. Eles continuaram andando por alguns segundos em silêncio até que começou a falar novamente.
— Mas… hum… eu achei legal. É uma boa escolha, de verdade. Nada clichê, como o meu.
Os dois riram fracamente com as luzes dos postes lançando sombras suaves sobre o caminho. O som distante do trânsito misturava-se com o farfalhar das folhas das árvores nas calçadas.
— Você quer mesmo ser advogada?
— Sim.
— Por causa da sua mãe?
— Acho que sim — falou depois de um tempo. — Ela é uma boa advogada, ajuda muita gente. Sempre quis ser como ela.
— Nem todos os advogados são bons — disse Drew, seu tom carregado de um amargor inesperado.
— É, não são — concordou — Mas ela é.
— Eu sei — respondeu Drew, sua voz suavizando enquanto diminuía o ritmo, parando lentamente conforme se aproximavam da casa dos . — Você também vai ser. Harvard vai ter sorte de ter você.
parou ao lado dele, estudando-o com cuidado. Ele estava sério, o olhar fixo nela, e por mais que ela tentasse encontrar algum sinal de brincadeira ou sarcasmo, só encontrou sinceridade. De repente, sentiu o coração bater mais rápido, quase desconfortavelmente.
— Você sabe que quero ir para Harvard?
Drew riu, baixinho, com aquele jeito descontraído que fazia parecer que nada o abalava. Ele se encostou no muro baixo que cercava a casa dos , cruzando os braços enquanto olhava para ela.
— É claro que eu sei, . Você fala disso desde sempre.
engoliu em seco, sentindo um peso estranho no ar. Havia algo na forma como Drew a olhava que parecia atravessá-la, como se ele enxergasse algo além do que ela própria conseguia ver. Desviou o olhar para frente, tentando ignorar o calor que subiu até seu rosto. Drew seguiu seu gesto, e os dois ficaram em silêncio, observando a janela da casa.
Por trás do vidro, William e Hope estavam na cozinha, rindo juntos enquanto organizavam algo no balcão. Sammy, o irmão mais novo de , corria atrás de Nora, a cachorra da família, os dois em um jogo de perseguição que arrancava gargalhadas do menino.
Pela primeira vez, o silêncio entre eles não parecia desconfortável. O ar noturno era fresco e tranquilo, e as risadas abafadas de Sammy dentro de casa davam ao momento um toque de familiaridade aconchegante. continuou observando o irmão e Nora pela janela, mas sentiu uma inquietação crescer. Não sabia exatamente o porquê, mas queria que Drew continuasse falando, mesmo que ele parecesse tão cansado quanto ela.
— Nós andamos muito hoje — comentou, quebrando o silêncio.
— É verdade — respondeu calmo, ainda mirando a janela.
— Os dois apartamentos foram apenas uma piada. Você sabe disso, certo? Nós podíamos ter ido direto no último — comentou.
Drew soltou uma risada, dando de ombros. Eles pararam de olhar para a janela da casa e se encararam.
— Queria ter todas as opções. Você disse que éramos pobres — disse ele, fazendo revirar os olhos.
— Assim que eu escrever a primeira parte do trabalho, vou te enviar.
— Tudo bem, mas só vou poder ler na segunda-feira. Amanhã eu trabalho.
— Você trabalha no domingo? — arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
— A lanchonete do Joe está aberta todos os dias. Você sabe disso.
— Eu sei, mas…
— Nem todos podemos simplesmente não trabalhar, princesa.
bufou, cruzando os braços enquanto encostava-se mais ao portão de madeira.
— Estava demorando.
Drew levantou as sobrancelhas, confuso.
— Era a primeira conversa civilizada que tínhamos desde... — parou abruptamente, sua voz morrendo enquanto pensava na festa de Joshua. Não queria mencionar aquilo, especialmente agora, sob o olhar atento de Drew. Ela deu de ombros, desviando o olhar. — Bom, em muito tempo. Mas você continua com esse apelido idiota, que nem sequer faz sentido, na minha opinião.
Drew riu, o som baixo e divertido, enquanto observava o bico que começava a se formar nos lábios dela.
— Não faz sentido?
— É claro que não. A família Parker tem muito mais dinheiro do que nós. O Sebastian é seu melhor amigo, e eu nunca te vi chamando ele de príncipe ou de mimado. Eu não tenho um emprego como você, tudo bem, isso é um privilégio, não nego. Mas não somos ricos. Nem chegamos perto disso. Meu pai até foi demitido!
Drew piscou, sua expressão mudando instantaneamente. O sorriso desapareceu de seu rosto.
— O Sr. foi demitido? É por isso que, sempre que eu passo aqui, ele está cuidando do jardim?
— Sim, faz um tempinho.
Drew passou a mão na cabeça, constrangido e preocupado.
— Não sabia disso, , sinto muito.
mexeu a mão no ar, dispensando o comentário suavemente.
— Não tem problema. Está tudo bem. Eles sempre foram muito organizados com dinheiro, e meu pai deve arranjar algo em breve.
Drew assentiu, os olhos fugindo para a janela da casa novamente. O casal que antes estava lá já havia saído de vista, e a luz parecia mais suave agora, refletindo na madeira do portão.
— De qualquer forma, meu ponto permanece. Seu apelido é idiota e não faz sentido — insistiu , cruzando os braços com firmeza.
Drew soltou uma risada sincera, jogando a cabeça para trás e encostando-a no muro por alguns segundos antes de se virar para ela. Um sorriso largo se espalhava em seu rosto, como se ele não pudesse acreditar que era daquele jeito. Algo na cena fez o canto dos lábios dela subir involuntariamente.
— Sabia que você não ia desistir — disse ele, ainda sorrindo. — Mas eu não te chamo de princesa porque achei que você fosse rica, . Sei que ninguém nessa cidade tem tanto dinheiro quanto o pai do Seb.
piscou, confusa.
— Não?
— Não — respondeu Drew, dando de ombros. — Você não é parecida com seus primos. Você sempre tem uma resposta na ponta da língua e se irrita muito fácil, principalmente comigo.
Ele parou por um instante, como se avaliasse a reação dela, antes de continuar:
— Sempre me irritou muito fácil também. Confesso que te chamar de mimada sempre pareceu funcionar melhor para te tirar do sério.
— Sim, porque eu não sou! — rebateu , bufando e cruzando os braços com ainda mais força.
— Você é, sim — retrucou Drew, o sorriso em seu rosto suavizando. Um sorriso verdadeiramente amigável, algo raro entre eles.
— Não sou, não.
Drew ergueu a mão, aproximando o polegar do indicador, deixando apenas um pequeno espaço entre eles. Seus olhos azuis se apertaram levemente, formando um vinco adorável no meio de sua testa.
— Nem um pouquinho assim? Nem quando brigou comigo porque o Sebastian não te dava atenção? Ou quando o Fred começou a namorar e parou de te levar ao cinema todo fim de semana? Ou então naquela vez que você passou uma semana inteira sem falar com a Violet e a Reagan só porque…
— Tudo bem, tudo bem! — interrompeu , empurrando a mão dele para baixo, rindo. Ao mesmo tempo que sentia o calor subir às bochechas, percebeu algo diferente: embora estivesse constrangida, também se sentia vista. — Você sabe muito da minha vida, Starkey.
— É claro que eu sei — respondeu Drew, com um sorriso fraco. Sua expressão fazia parecer que aquilo era óbvio, mas para não era.
Há anos eles não tinham uma conversa normal que durasse tanto, e tinha certeza de que Drew nunca a havia olhado com tamanha atenção antes, como se nada além daquele momento importasse. Ela tentou ignorar o sorriso que começou a se formar em seu rosto por causa disso, mas era inútil. Queria fingir que era surpresa, mas não podia enganar a si mesma: sabia que conversar com Drew sempre fora assim. Fora assim aos 14 anos, e continuava sendo agora, aos 18.
Será que todo mundo que falava com ele sentia isso? Essa atenção devotada, ilimitada, mas que ela sabia ter um tempo contado, porque Drew nunca ficava tempo demais em lugar algum?
Quando ele sorriu de novo, mostrando a covinha tímida que tinha apenas em uma das bochechas, sentiu aquela sensação desconcertante retornar. Ela simplesmente não conseguia entender de onde tudo isso estava vindo.
— Posso te perguntar uma coisa? — ela disse, depois de hesitar por alguns segundos.
Drew estreitou os olhos, fingindo desconfiança.
— Eu preciso dizer a verdade?
— Drew.
— Tudo bem, vá em frente — respondeu, inclinando levemente a cabeça.
— Por que você fugiu de mim nos últimos dias? — perguntou ela, sentindo as palavras saírem mais rápido do que o planejado. — Percebi que te ofendi, mas não sei como.
Drew suspirou, passando os dedos pelos fios baixinhos do seu cabelo em um gesto que começava a notar: ele só fazia aquilo quando estava nervoso. Seu olhar azul desviou do dela, e percebeu algo que a incomodou: ele hesitava. Sabia que a pergunta estava vindo e não queria responder. Aquilo só deixou ainda mais curiosa.
— Veja bem, eu só estou perguntando porque você realmente pareceu ofendido. Você é um idiota, mas não quero magoar ninguém de propósito, nem mesmo você.
Drew suspirou pela segunda vez, abrindo a boca para responder. Ele parecia estar à beira de finalmente dizer algo importante quando o portão atrás de se abriu de supetão, interrompendo a conversa e a desequilibrando. Ela quase caiu no chão — ou em cima do irmão mais novo — se Drew não tivesse sido rápido o suficiente para segurá-la pelo braço. O toque dele foi firme e rápido, mas não ajudou em nada naquela sensação esquisita que já se formava dentro dela. Drew a puxou para perto por reflexo, verificando se ela estava bem.
— Você está bem?
— Sim, sim. Você foi muito rápido, obrigada.
Drew assentiu, soltando seu braço com cuidado, enquanto se virava para encarar o irmão mais novo, agora parado com uma expressão de total inocência.
— Samuel, isso é jeito de chegar? Eu poderia ter me machucado feio!
— Portões são feitos para abrir, , você não deveria estar encostada em um, né!
Ela revirou os olhos e suspirou, olhando para o garotinho de 11 anos de língua afiada na frente dela.
— O que você quer, pirralho?
— Papai disse que vocês estão aqui fora há muito tempo e não é legal namorar no portão de casa.
— Ah. Meu. Deus! — exclamou , incrédula, enquanto Drew ria abertamente atrás dela. — Qual é o problema do papai?!
Sammy apenas deu de ombros, completamente impassível diante da explosão da irmã, já acostumado.
— Mas a mamãe pediu pra você ficar para o jantar, Drew!
Quase que automaticamente, e Drew trocaram um olhar. A última coisa que queria admitir para si mesma naquele momento era que, lá no fundo, queria muito que Drew aceitasse o convite. Seu estômago parecia dar voltas sempre que ele a olhava diretamente ou sorria daquele jeito despreocupado, como se nada pudesse perturbá-lo.
Sabia que não deveria querer isso. Mas queria. Uma parte de si sentia tanta vergonha por desejar que Drew Starkey jantasse na sua casa e continuasse ali — falando o resto da noite, mesmo que não fosse com ela —, que mal sabia onde enfiar a cara. Qualquer outro dia, teria surtado com a ideia, mas naquele dia não. Naquele dia, percebeu que queria. E talvez Drew tivesse percebido também, porque ela o encarava com uma expectativa que parecia impossível de disfarçar.
Ainda assim, Drew apenas sorriu, desviando o olhar para Sammy, que agora o encarava com olhos suplicantes. Ele puxou o garoto para perto, bagunçando os longos cachos castanhos de forma afetuosa.
— Não posso, Sammy. Sinto muito — disse ele. — Eu prometi que ia jantar com a minha mãe hoje. Se não fosse isso… — Ele olhou de relance para , como se quisesse que aquilo fosse dito diretamente para ela. — Eu adoraria jantar com vocês. Fica pra próxima, tá? Digam à Sra. que agradeço muito o convite.
Sammy franziu os lábios, mas acabou assentindo, enquanto Drew se afastava dele.
— Tchau, — disse Drew suavemente, pegando o skate que estava preso à mochila e colocando-o no chão. Ele abriu um sorriso pequeno, fitando-a por algum tempo. — Até mais.
E, em poucos segundos, ele já estava longe, desaparecendo pelo quarteirão com seu skate.
O silêncio caiu no quintal, deixando para trás um Sammy visivelmente chateado por não poder mostrar seus novos action figures e uma confusa, curiosa e ligeiramente preocupada.
— Sério que você não tem senha no seu celular?
— Ahn... Quê? — murmurou, confusa, sem tirar os olhos do notebook. Por reflexo, afastou o telefone da orelha e viu o nome “Estressadinha” brilhar na tela. A ficha caiu imediatamente, trazendo consigo uma onda de irritação e constrangimento. — Ah, puta que pariu…
— “Babaca”, sério? — A voz de Drew veio carregada de diversão. — Esperava algo mais criativo de você, .
suspirou, massageando a testa como se pudesse apagar o constrangimento.
— Achei que resumia você bem o bastante.
— Justo — respondeu ele, com uma risadinha. — Mas como a gente conseguiu trocar de celular?
puxou a memória com pressa, tentando se lembrar.
— Deve ter sido na hora do banheiro apertado. — Ela hesitou, sentindo as bochechas queimarem com a lembrança. — Nós dois colocamos o celular em cima da pia…
colocou a mão no rosto, como se pudesse esconder o rubor, mesmo estando sozinha.
— Que droga... Você quer destrocar agora? — perguntou, lançando um olhar automático ao relógio digital ao lado da cama, que mostrava que já passava das dez da noite.
Houve uma pausa do outro lado da linha.
— Não precisa se você não quiser. Não tem nada urgente pra mim aí — Drew respondeu, sua voz soando atípica, quase contida. — Podemos fazer isso amanhã, depois do meu turno no Joe’s. Eu só fico até o almoço.
franziu o cenho. Havia algo de errado com ele, tinha certeza. Drew parecia estar contando cada palavra antes de falar, como se pisasse em ovos, e esse definitivamente não era o Drew que ela conhecia. O Drew que ela conhecia era irritantemente confiante, até demais.
— Claro. Eu posso... ir até aí. Quer dizer, até lá… no Joe’s.
fez uma careta, fechando e apertando os olhos com força. Agora ela não conseguia mais formar uma simples frase?
Houve um pequeno silêncio antes de Drew responder, sua voz mais leve.
— Ok. Você pode aproveitar para me mostrar o que falta do trabalho, então.
— Sim, claro — respondeu rápido demais, apertando os olhos como se quisesse se fazer desaparecer novamente.
O silêncio tomou conta da linha por um instante. mordeu o lábio inferior, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, até que Drew soltou uma risada curta, quase como se não conseguisse se segurar.
— Então... Boa noite, Babaca.
não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seu rosto, aquecendo algo dentro dela que ela não queria admitir.
— Boa noite, Estressadinha.
não soube dizer exatamente por que havia ignorado as duas ligações de Sebastian no telefone fixo de casa. Nem por que pediu a Sammy para responder as mensagens de Roxanne apenas mais tarde. Mas, o mais preocupante — e isso a irritava profundamente — foi o incômodo que sentiu ao ver as mensagens de Madison no celular de Drew. Não fazia ideia do conteúdo delas, e francamente era a última coisa que queria descobrir, mas apenas saber que estavam chegando foi o suficiente para que um sentimento pequeno, azedo e impossível de engolir se instalasse em seu peito.
teve que se forçar a ignorar aquilo, assim como ignorou as lembranças que rondavam em sua mente sobre como Drew havia ficado próximo dela, como ele havia sido carinhoso e atencioso em diversos momentos e mostrado o quanto a conhecia, e como se lembrava de tudo que a envolvia. E teve que fazer muita força para ignorar a conversa que tiveram em frente à sua casa, onde tudo foi tão natural.
A lanchonete onde Drew trabalhava ficava a poucas ruas da casa de . Por isso, após o almoço, depois de se despedir do pai e de Flora — ironicamente o nome da primeira rosa que nasceu no jardim da família —, ela decidiu pegar sua velha bicicleta e seguir até lá.
No fim das contas, ir de bicicleta foi uma boa ideia. Ou pelo menos foi o que ela repetiu para si mesma quando chegou, talvez um pouco mais atrasada do que deveria. Ao se aproximar, viu Drew do lado de fora da lanchonete, encostado na parede enquanto tirava o avental laranja e o enfiava na mochila. Ele então esticou o corpo, passando a mão pelo pescoço e pela nuca, em um gesto que pareceu involuntário, mas que causou em um arrepio inesperado, especialmente quando a camiseta branca que ele vestia subiu, mostrando uma parte considerável da sua barriga. E, como se fosse pouco, o sorriso ladino que ele deu ao notar sua presença fez seu coração bater mais rápido. escolheu acreditar que todas aquelas sensações vinham do seu péssimo condicionamento físico.
— Nunca pensei que seria eu a dizer isso, mas está atrasada! — provocou Drew, com um sorriso que só piorou o calor no rosto dela. — Fazia tempo que eu não via essa garota do lado de fora.
Ele passou a mão no guidão da bicicleta amarela de , provavelmente recordando, assim como ela, das inúmeras corridas no parque de Riverside. James, o irmão de Sebastian, e Fred, mais um dos inúmeros primos de e Sebastian, sempre organizavam as competições e, embora e Drew não ligassem muito para ganhar, não suportavam o fato de perderem um para o outro.
— Fazia tempo que ela também não via o lado de fora — respondeu , rindo.
— Sinto falta de James e Fred às vezes, e das ideias malucas deles para acabar com o tédio de domingo. Riverside não é tão divertida desde que eles foram para a faculdade.
— Eu também. Mas só às vezes.
Drew riu, balançando a cabeça.
— Você trouxe o trabalho, não trouxe? — Ele apontou para a mochila presa à cesta da bicicleta. — Claro que trouxe. A Miss Enciclopédia anda com a mochila dela para cima e para baixo, não é? — Ele nem mesmo deu tempo para que respondesse, já continuando: — Vamos ao parque.
— Parque?
— O dia está muito bonito para ficarmos enfurnados em algum lugar — explicou ele, casualmente.
Ela hesitou por um momento, mas acabou dando de ombros.
— Tudo bem.
— Vai me dar uma carona? — perguntou Drew, com um sorriso de desafio.
—Vai sonhando, Starkey. — sorriu de volta, já se afastando com a bicicleta. — Vai surfando nessa sua coisa aí.ss
chegou ao parque alguns minutos antes de Drew. Com cuidado, apoiou a bicicleta no chão e escolheu um lugar sob uma das grandes árvores. A sombra ampla e refrescante parecia convidá-la a relaxar enquanto esperava, e foi o que ela fez, fechando os olhos enquanto sentia o vento acertar seu rosto. Apenas alguns minutos depois, sentiu o espaço ao lado dela ser ocupado.
— Isso foi extremamente ofensivo com a Daisy — foi a primeira coisa que Drew disse após se sentar. abriu apenas um dos olhos, encarando-o com uma expressão cética. Drew tentava manter uma seriedade teatral, mas o leve sorriso nos lábios o denunciava.
— Não vou cair nessa. Você não deu o nome de “Daisy” ao seu skate.
— Dei sim.
— É impossível que eu seja a única pessoa que sabe como você é ridículo.
Drew soltou uma risada baixa, o tipo que fazia com que lutasse para não sorrir também. Ele enfiou a mão no bolso e estendeu o celular para ela.
— Aqui, sua majestade. — Ele fez um gesto exagerado, como se estivesse entregando algo precioso. revirou os olhos, pegando o aparelho e entregando o dele em troca.
— Desligado? — Drew perguntou ao perceber que o celular não ligava imediatamente.
deu de ombros, tentando parecer natural.
— Você recebe muitas mensagens, ele não parava de vibrar — disse ela — Teve até um número desconhecido também. Você deve ter muitas fãs.
já havia treinado aquela desculpa várias vezes. Não havia a menor possibilidade de dizer que as notificações só passaram a incomodar quando ela viu o nome de Madison piscar na tela.
— O seu também não estava ligado até uma hora atrás — retrucou Drew no mesmo instante. — Scott te mandou mensagem a noite inteira.
travou por um segundo, mas tentou não demonstrar nada.
— Nem sabia que você conhecia o capitão do time de basquete — ele continuou.
— Não é o que você está insinuando — disse ela, apontando o celular como se fosse uma arma. Drew levantou as mãos em rendição, com um sorriso divertido.
— Não estou insinuando nada.
— Claro que insinuou. E para deixar claro, não sou você. Estou apenas ajudando ele com Cálculo.
Drew riu, uma gargalhada incrédula e alta que fez estreitar os olhos para ele, incomodada.
— Você acha que ele te mandaria mensagem às onze da noite de um sábado... por Cálculo?
— É o único motivo possível, então, sim.
Drew revirou os olhos dramaticamente, encostando-se ainda mais na árvore atrás dele. Ele cruzou os braços, olhando para frente.
— Pra alguém tão inteligente, você com certeza é bem burrinha às vezes.
bufou, indignada, sentindo a irritação borbulhar. Drew sempre agia como se soubesse de tudo e, pior, como se o mundo inteiro fosse igual a ele. sabia, no fundo, que o capitão do time nunca estaria interessado em alguém como ela, mas não precisava que Drew zombasse disso.
— Quer saber? Eu nem sei porque estou falando disso com você. Não preciso te convencer de nada.
Drew não respondeu, apenas ergueu uma sobrancelha com aquele mesmo ar provocador. bufou novamente, tentando se controlar, mas então um pensamento passou pela sua cabeça, fazendo-a se virar rapidamente para ele.
— Espera aí... você leu?
Dessa vez, Drew olhou diretamente para ela. O sorriso de canto começou a se formar nos lábios dele, o tipo que fazia querer socá-lo na maioria das vezes.
— Será que eu li? — Ele deu de ombros, o tom casual apenas aumentando a irritação dela.
— Drew!
se endireitou, a indignação transbordando. Ela nunca colocava senha no celular porque sabia que, inevitavelmente, esqueceria. Seu celular era usado principalmente para tirar fotos de anotações, e ela sempre achou que não havia nada ali que fosse constrangedor. Mas, se Drew tivesse lido as mensagens, isso seria extremamente errado.
— Eu nunca vou dizer. Talvez isso finalmente faça você colocar uma senha nesse troço, sua tonta.
A boca de se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Depois de alguns segundos de frustração, ela desistiu e deixou escapar a frase de sempre:
— Você é ridículo.
— É, você já disse isso antes. Precisa trocar o disco, princesa.
— Ótimo, porque você realmente é. — respirou fundo, tentando conter os nervos. Drew tinha um talento único para irritá-la sempre que passavam tempo demais juntos. — Vamos só acabar logo com isso. Nunca dá para ter uma conversa séria com você. Não sei por que eu sequer tento…
Ela puxou sua mochila com movimentos rápidos, abrindo-a para pegar o trabalho, mas Drew colocou a mão sobre a dela, interrompendo-a.
— Ei, ei, ei. Calma. Eu estava só brincando, foi mal.
olhou para ele.
— Você está sempre brincando — respondeu ela, sua voz mais baixa agora, mas ainda cansada.
O olhar de se desviou para a mão de Drew em seu braço. Ele pareceu perceber o mesmo, e com um movimento lento e hesitante, afastou a mão. soltou a mochila, recostando-se contra a árvore novamente.
O silêncio caiu entre eles, mas não era exatamente desconfortável. O som de crianças brincando ao longe e o farfalhar das folhas sempre que o vento parecia forte demais parecia deixar tudo mais tranquilo.
— Eu não li, sabe — Drew quebrou o silêncio de repente, sua voz mais suave agora.
virou o rosto para encará-lo, surpresa com o tom sério e calmo.
— Não?
Ele balançou a cabeça.
— Claro que não. Eu só gosto de te irritar.
soltou uma risada curta, sem conseguir evitar. Ele riu também e a tensão entre eles diminuiu tão rápido quando foi criada.
— Bom, parabéns. Você é muito bom nisso.
— Eu sei. É um dom e uma maldição.
riu novamente, percebendo que estava se tornando muito fácil rir ao lado de Drew. Ela achou que o silêncio entre eles iria voltar, mas Drew recomeçou a falar:
— Ontem você fez uma pergunta que eu não pude responder. Você ainda quer saber?
Drew mantinha os olhos fixos no chão, mas não desviava os dela de tudo que ele fazia. Havia algo na expressão dele, algo diferente do habitual, que chamou sua atenção. Drew sempre tinha um ar confiante e descomplicado, mas agora sua postura parecia mais pesada. Ele estava hesitante, quase vulnerável. inclinou a cabeça, intrigada. Era óbvio que alguma coisa o incomodava profundamente, e, por algum motivo, ele queria compartilhar isso com ela. Antes mesmo que pudesse se conter, as palavras já estavam saindo:
— Você sabe que sim.
Ele respirou fundo, os ombros subindo e descendo devagar, como se precisasse de tempo para organizar os pensamentos.
— Bem, ahn... Naquele dia, na frente do meu armário, você... — Drew parou. A frase ficou suspensa no ar, e ele pareceu perder o fôlego, como se o simples ato de falar fosse um esforço.
imediatamente se arrependeu de ter insistido. O desconforto dele era palpável, quase tangível, e ela se sentiu envergonhada por querer saber algo que agora parecia tão pessoal. Ao mesmo tempo, uma pontada de preocupação tomou conta dela. Ela já tinha visto Drew em quase todos os humores possíveis. O viu radiante, comemorando uma vitória do pior time da NBA (que ele propositalmente escolheu como seu), e o viu triste, quando James e Fred deixaram a cidade para ir à faculdade do outro lado do país. Já tinha até testemunhado ele chorar durante um filme de drama que todos assistiram no cinema. Mas nunca o viu assim, constrangido. Até esse momento, nem sequer achava que Drew Starkey ficava constrangido de verdade.
sabia que ele não terminaria a frase. Não naquele momento, pelo menos. Então, sem pensar muito, ela se levantou, pegou o skate encostado na árvore e começou a caminhar em direção ao caminho asfaltado do parque.
— ! — Drew exclamou, claramente surpreso e um pouco desesperado, vendo a garota arrastar seu skate. Em poucos segundos, ele já estava do lado dela. — O que você está fazendo?
— Pode me ensinar? — pediu ela casualmente, segurando o skate.
Drew franziu o cenho, confuso.
— Pensei que você achava que era um esporte idiota e irresponsável.
— Não — respondeu prontamente, deixando o skate cair no chão e colocando o pé em cima dele. — Você é idiota e irresponsável. O skate não tem nada a ver com isso.
Antes que Drew pudesse retrucar, ameaçou colocar o outro pé no skate, o que foi suficiente para ele agir rápido e segurá-la pelos ombros, evitando que ela caísse de bunda no chão.
— Você está sendo meio inconsequente, . Só passamos um dia juntos. Você não vai poder me culpar.
Ela revirou os olhos.
— A vida inteira e um dia — corrigiu ela, e o comentário fez Drew sorrir de um jeito que deixou desconcertada. Haviam conversado bastante nas últimas horas, mas ele não havia dado esse sorriso em nenhum momento. sentiu seu coração pesar e teve que piscar várias vezes para tentar voltar ao normal. Ela pigarreou, falando: — Fala logo como fazer isso, idiota.
Demorou alguns segundos para Drew perceber que ela falava sério. Quando entendeu, ele respirou fundo, claramente dividindo sua atenção entre ensinar e evitar que ela se machucasse.
— Tá, tudo bem. Um pé em cima do skate, um pouco para frente... Isso, aí mesmo. Agora é só impulsionar com o outro e, quando ele começar a andar, você coloca o pé na parte de trás.
— E se eu quiser parar?
— Você pode colocar o pé no chão ou transferir o peso para essa parte aqui. — Drew bateu levemente na parte de trás do skate e, sem perceber, tocou de leve na perna dela ao explicar.
não disse nada, mas sentiu o gesto mais do que deveria. Talvez ela não tivesse pensado direito ao pedir aulas de skate. Não achou que haveria tantos... toques.
— Tudo bem, acho que já entendi. Pode soltar.
Drew balançou a cabeça, negando. Ele puxou uma das mãos de e a colocou sobre o próprio ombro.
— Não mesmo. Se você cair, não vou mais ser o favorito da sua vovó .
riu, enquanto impulsionava o skate para frente. Tentava imitar o que já tinha visto Drew fazer tantas vezes, mas dessa vez sentindo a firmeza dele ao seu lado, segurando-a para garantir que não caísse. Seu toque era seguro e decidido na sua cintura, e sentia seu corpo todo ter leves calafrios.
— Sei o que você está fazendo — comentou Drew casualmente, com o tom baixo de quem tinha plena certeza. desviou o olhar do chão para ele, mas Drew apenas arqueou as sobrancelhas em desafio, a desafiando silenciosamente a dizer que ele estava errado.
Ensinar não era algo ruim, eles estavam trocando risadas e falando calmamente como não faziam em anos, mas Drew a conhecia e sabia que aquilo era mais do que só vontade de aprender alguma coisa nova.
nem tentou negar.
— Você não precisa me contar nada se isso te deixa desconfortável.
— Mas acho que você merece saber. Foi em você que eu descontei.
— Nós descontamos nossas frustrações um no outro há anos, Drew.
— Eu nunca descontei nada em você.
parou, inclinando o rosto em direção ao dele, como se precisasse confirmar que ele realmente acreditava naquilo.
— Bom, então foi apenas eu.
Drew soltou uma risada breve, mas sem muito humor.
— Você disse que poderia fazer o nosso trabalho sozinha. Que poderia ser uma mãe solteira e que tudo bem, porque já haviam muitas por aí. Disse que eu tinha essa "energia" também.
congelou. Parou de olhar para o skate e focou toda a atenção em Drew, que continuava a caminhar devagar ao seu lado, ainda segurando sua cintura enquanto as mãos de repousavam nos ombros dele. A tensão nos olhos dele, mesmo disfarçada, fez seu estômago afundar.
— Acho que você sabe que somos apenas minha mãe e eu aqui em Riverside.
— Claro que sei. Sua mãe é incrível. É a única pessoa que já vi ficar linda mesmo consertando carros o dia inteiro.
Drew sorriu, assentindo.
— E meu pai está em Nova York. — Ele hesitou, como se as palavras fossem mais difíceis de formar do que pensava. — Ele sempre esteve em Nova York.
Demorou alguns segundos para compreender o que Drew queria dizer. Quando entendeu, foi como se o chão desaparecesse sob seus pés. O skate deslizou, e ela perdeu o equilíbrio. Drew apertou o toque em sua cintura antes que ela pudesse cair, e seu cuidado trouxe um conforto que ela não sentia que merecia.
— Eu... Meu Deus, Drew, eu sinto muito. Eu... Eu não fazia ideia. Sabia que ele não morava aqui, mas achei... Como eu fui idiota! Burra! Eu não tinha o direito de achar nada!
— Está tudo bem, . Você não tinha como saber. Não é o tipo de coisa que eu saio contando por aí. Acho que só Sebastian sabe o quanto nossa relação é... Bem, praticamente inexistente.
Ele tentou rir, como se não fosse grande coisa, mas a vulnerabilidade em seus olhos azuis como o céu traía a tentativa de parecer despreocupado. , por outro lado, não conseguia parar de balançar a cabeça, indignada com si mesma.
— Não, isso não é desculpa. O que eu falei foi péssimo e ainda mais por ser com você. Brinquei com algo que nunca deveria ter sido uma piada, Drew. Me desculpe, de verdade. Eu fui horrível. Falei tão mal de você e a idiota foi eu.
Drew riu, vendo o desespero de , que balbuciava coisas aleatórias enquanto olhava para todos os lados menos para ele. Ele soltou sua cintura e, hesitante, tocou seu rosto, fazendo com que parasse de se mexer e olhasse para ele. Sua mão se encaixou na curva do pescoço dela como se tivesse sido feita para aquele lugar em específico. O toque dele fez com que ela parasse, focando nele.
— ... Você está sempre falando mal de mim. Está tudo bem, eu juro.
riu, pois percebeu que era o que Drew queria que ela fizesse, mas ainda sentia seu coração afundar de vergonha e tristeza. Havia sido tão egoísta a ponto de simplesmente ignorar que nunca sequer havia visto o pai de Drew quando provavelmente conhecia o pai de todos os outros colegas de sua sala? E ainda disse aquilo para ele? Logo para ele? Por Deus, queria que um raio acabasse com o seu sofrimento. Não podia ficar mais arrependida nem se tentasse. Drew pegou o skate que havia escapado e puxou a garota pela mão para o local onde estavam antes. A respiração de imediatamente falhou, sentindo como ele havia entrelaçado seus dedos.
Quando eles se sentaram na sombra da árvore, Drew a soltou.
— Eu estava mais chateado naquele dia do que nos outros — começou Drew, sua voz baixa e contida, como se as palavras carregassem um peso que ele nem sabia como soltar. não conseguia evitar encará-lo, mas os olhos de Drew permaneciam fixos em algum ponto indistinto à frente. — Meu pai não gostou nada de saber que minha mãe estava grávida. Eu só tenho o nome Starkey porque meu avô paterno insistiu antes de morrer. Isso me deixou com raiva por muito tempo. Preferia ser mais um Beaumont, como minha mãe e minha tia.
sentiu a culpa latejar no peito. A maneira como Drew falava, como sua voz soava trêmula fazia seu coração se partir. Ele precisava falar, e ela o ouviria.
— Ele nunca veio atrás de você? — perguntou, com cuidado.
Drew riu, mas não havia humor algum no som.
— Não. Não até o ano passado. Por dezoito anos, tudo o que eu tinha dele era um nome, os recibos da pensão alimentícia que caíam na conta e... um artigo na Wikipedia. Algo que qualquer um pode ler. — Ele respirou fundo, a voz ficando mais tensa. — Mas, de repente, ele ligou para minha mãe. Disse que queria me conhecer, saber das minhas notas, do que eu fazia, onde eu queria estudar. Foi... foi demais. Foi muita coisa de uma vez.
assentiu, e seu coração apertou ao lembrar daquele ano. Drew havia mudado completamente. Sempre foi o tipo de garoto que aprontava, mas, no ano anterior, ele parecia ter se perdido por completo. Começou a matar aula, a desrespeitar ainda mais os professores. Teria reprovado sem sombra de dúvidas, se Sebastian não o tivesse praticamente forçado a ficar em casa e estudar para as provas finais. Na época, julgou tanto Drew quanto Sebastian. Pensava que, se Drew queria reprovar, que reprovasse. Mas Seb sabia mais do que ela e cuidou do melhor amigo.
— E sua mãe? Ela está bem?
Foi a primeira vez que Drew a encarou enquanto falava. Seus olhos brilharam com algo que parecia gratidão, talvez alívio, por ela ter perguntado sobre sua mãe.
— Ela é muito durona. — Ele sorriu, e era sincero. sentiu uma vontade quase incontrolável de tocar seu rosto, talvez de abraçá-lo, mas se conteve. — Não acho que ela o odeie, embora pudesse. Minha mãe queria que eu desse uma chance a ele, mas eu... eu jamais conseguiria.
— É por isso que você trabalha tanto, desde sempre.
Drew assentiu.
— Não sou idiota. Sei que a pensão é uma obrigação dele, e sei que minha mãe usa esse dinheiro para nos manter quando a oficina está parada. Também sei que a maior parte disso está guardada no banco para pagar minha faculdade e consigo viver com isso. Mas eu não quero viver como se precisasse dele para tudo. Nem mesmo para comer um lanche. Dá para entender?
sorriu fraco. Isso era tão Drew Starkey que chegava a ser engraçado. Apertou a mão de Drew sobre a grama, um gesto que pareceu instintivo, quase íntimo. Ele notou no mesmo instante, olhando para as mãos entrelaçadas, mas não as afastou.
— Dá, sim — respondeu ela, com sinceridade.
— Naquele dia, ele tinha acabado de ligar. Ano passado, ele ligava só para minha mãe. Agora, está ligando para mim. Troquei de número na mesma hora, mas ele conseguiu de novo. — Drew respirou fundo, a voz ficando mais amarga. — O número desconhecido que você viu ontem... era ele. O desgraçado teve a coragem de me ligar, . Ele me deixou, deixou minha mãe, nunca fez questão de mim por dezoito anos. E agora quer se meter? Quer ligar para perguntar como eu estou, o que faço da vida? — Drew soltou uma risada seca. — Como se fosse da conta dele.
Ele parou, tentando recuperar o fôlego. continuava a observá-lo, com total atenção, seus dedos acariciando distraidamente a mão de Drew.
— Desculpa — ele murmurou, balançando a cabeça. — Não sei por que estou falando tudo isso. Nem o Sebastian sabe toda a história.
— Tudo bem. Você pode falar o que quiser. Eu vou ouvir — respondeu , sem hesitar, inclinando-se ligeiramente para mais perto dele.
Drew respirou fundo.
— Andrew Starkey — disse ele, o nome saindo como se fosse um xingamento.
arregalou os olhos, incrédula.
— O nome dele é... Andrew?
O tom horrorizado fez Drew rir pela primeira vez naquela conversa, ainda que fosse um riso cheio de agonia.
— Foi outro pedido do meu avô. Acho que ele ainda tinha esperança de que as coisas se resolvessem, e acho que minha mãe também.
balançou a cabeça, de repente entendendo porque Drew odiava quando diziam o nome completo dele.
— Quando eu era menor, achava que ele ia aparecer. Sempre esperei. Mas nunca recebi nem um cartão de aniversário. Quando percebi como as coisas realmente eram, parei de esperar. Fugi de tudo que pudesse me lembrar dele. Nunca tinha ouvido sua voz até o dia em que ele me ligou. Foi como se abrissem as portas do inferno. Mas agora eu sei o que ele quer.
— O que você quer dizer?
— Ele não quer um filho, . Ele quer um herdeiro. Não é à toa que me procurou agora, quando estou prestes a entrar na faculdade. Ele quer alguém para assumir os negócios da família. Mas esse alguém não sou eu. Nunca vou ser. Por mim, a empresa de advocacia dele podia explodir.
balançou a cabeça sem acreditar nas palavras de Drew. Não sabia como era possível alguém fazer isso com outra pessoa. Era cruel. A família sempre fora próxima. Claro, brigavam como qualquer família, mas o amor e o cuidado sempre prevaleciam. Era difícil conceber que alguém pudesse ser tão negligente e frio.
Como se lesse os pensamentos de , Drew sorriu de lado, a olhando.
— Já sei o que você vai dizer. Sebastian disse o mesmo: "Por que não dá uma chance a ele, Drew? Talvez ele esteja arrependido... Ele ainda é seu pai..."
— Eu jamais diria algo assim — rebateu , firme.
Drew ergueu uma sobrancelha, surpreso.
— Seu pai… Não, esse homem — ela se corrigiu rapidamente, com firmeza — Parece um ser humano horrível. Se você quiser dar uma segunda chance para ele, tudo bem, mas eu não daria. Ele perdeu a melhor família que poderia ter tido. E se tudo o que ele fez foi te ligar como se não tivesse sumido por 18 anos, então ele não merece o seu perdão.
Drew ficou estático por um momento, absorvendo as palavras dela. Então, sem aviso, ele soltou a mão de e passou os braços ao redor dela, puxando-a para um abraço apertado. congelou, sem saber como reagir. Era como se seu corpo inteiro entrasse em combustão. Os braços fortes dele cercaram seu corpo e cada vez a apertavam mais. Lentamente, ela deixou que seus braços o embalassem também.
Eles ficaram assim por um tempo indefinido, até o celular de Drew começar a tocar. Como se soubessem o que aquilo significava, os dois se afastaram devagar. O celular, jogado na grama, exibia um número desconhecido. A chamada caiu e recomeçou quase na mesma hora. Drew soltou uma risada amarga, mas foi mais rápida. Pegou o celular, colocou no modo silencioso e o devolveu a grama, desta vez com a tela virada para baixo.
— Eu odeio quando ele liga. Odeio quando ele troca de número. Odeio que ele ache que tem esse direito. Eu… odeio ele, — confessou Drew, a voz carregada de sinceridade. — Simplesmente odeio. E não sei o que fazer com tanta raiva.
— Ele é um lixo — disse ela depois de um tempo.
— Da pior espécie — concordou Drew, sem hesitar.
— Sinto muito por ter te comparado a ele. Eu estava só... sendo maldosa. Não pensei.
— Eu sei, princesa — respondeu ele, sua voz mais suave.
sorriu, grata por ele não estar olhando para ela. Nunca imaginou que estaria numa situação assim com Drew Starkey. E, definitivamente, não imaginou que o apelido que ele usava há anos a faria sorrir dessa forma.
— Karma não existe, não é? — ela perguntou, tentando aliviar o clima. — Se existisse, ele já teria sido castigado.
— Ele é muito rico. Então, acho que é seguro dizer que não — respondeu Drew, um toque de sarcasmo na voz.
— Ele quer que você faça Direito, não quer? — perguntou , voltando ao assunto.
— Sim. Foi o que ele disse para a minha mãe.
— E o que ela disse?
A voz de Drew já estava mais estável, mas seu tom ainda carregava cansaço. Mesmo assim, percebeu que ele parecia menos esmagado pelo peso da conversa. Talvez, só talvez, desabafar tivesse ajudado um pouco.
— Ela disse que eu quero fazer Arquitetura — Drew fez uma pausa, sua expressão endurecendo antes de continuar: — Ele disse que não era um curso digno para um Starkey.
não conseguiu evitar rir.
— Meu Deus, ele é doente mesmo.
Ela virou a cabeça alguns centímetros, observando uma nuvem que tinha o formato de um coração. De repente, quis dizer que o céu tinha o mesmo tom de azul dos olhos de Drew, mas engoliu as palavras antes que saíssem.
— Você ia desistir da universidade por causa dele?
Drew demorou alguns segundos para responder.
— Sim.
— O que te fez mudar de ideia?
— Sebastian. Minha mãe.
Ele virou o rosto para o lado, observando . Ao sentir o olhar dele, ela fez o mesmo, sem pensar muito. Os rostos estavam perigosamente próximos, mas nenhum dos dois se afastou.
— Você.
— Eu?
— Ano passado, Sebastian perdeu uma aula porque foi me procurar. Isso estava se tornando comum, lembra?
assentiu, os olhos fixos nele enquanto ouvia a voz melodiosa de Drew. Mas sua atenção começava a vagar, absorvendo cada pequeno detalhe do rosto dele — como seus olhos piscavam devagar e como os lábios pareciam absurdamente vermelhos de perto.
— Em um desses dias, quando voltamos, você nos encontrou no estacionamento. Disse que tínhamos perdido um teste surpresa. Sebastian estava de castigo naquela época, porque as notas dele despencaram junto com as minhas, então a situação já não estava muito boa.
— É, eu lembro — sorriu, um toque de malícia na voz. — Eu joguei a Daisy no chão.
Drew riu, o som enchendo o espaço entre eles, e o sorriso de aumentou. Gostava de como ele ria daquele jeito, por causa dela.
— Você puxou meu skate, jogou do outro lado do estacionamento e me empurrou, dizendo que eu estava atrapalhando o Sebastian.
— Você deveria ter jogado o skate na minha cabeça por ser intrometida — ela murmurou. Com a proximidade, não havia motivo para falar alto.
Drew deixou os olhos deslizarem brevemente pelos lábios de antes de continuar.
— Você disse que, se eu quisesse jogar fora todo meu potencial, deveria fazer isso sozinho.
— Pode deixar que eu bato com o skate na minha própria cabeça.
Drew riu mais uma vez do humor bobo de .
— Eu só conseguia pensar: " acha que eu tenho potencial?"
piscou, mordendo os lábios para segurar qualquer besteira que ela pudesse vir a falar.
— Sério?
Drew assentiu, e balançou a cabeça, rindo.
— Você é mesmo muito idiota, Drew Starkey.
— Acho que sim — disse ele — Minha mãe e Sebastian são as duas pessoas que mais me amam nesse mundo, pra mim era óbvio que eles não desistiriam de mim. Mas você, que me odeia desde o dia que me conheceu, achar que eu tenho potencial? Talvez eu tivesse mesmo.
voltou a olhar para o céu, tentando ignorar o fato de que Drew ainda a encarava.
— Sempre soube que você tinha potencial para entrar em uma universidade boa. Só pensei que você não queria.
— Bom, você sabe mais do que nosso orientador acadêmico, então.
— Como assim? Ele disse que você não consegue?
— Ele meio que só sugeriu faculdades onde tudo que eu preciso fazer é seguir o perfil delas no Instagram.
Ele riu, mas não o acompanhou.
— Isso não faz sentido algum — disse ela, séria, virando-se para Drew novamente e começando a enumerar os feitos dele com a mão. — Você estava no time de basquete nos três anos em que ganhamos o campeonato estadual. Ganhou aquela medalha na competição de skate do ano passado. Fazia parte da banda de James antes de ele ir para a faculdade, e, por mais que ele negasse, era um clube da escola, sim, e ele fez pensando exatamente em usá-lo para entrar na faculdade. Sem contar que você só teve um ano realmente ruim. Pode entrar em qualquer universidade contanto que…
Ela parou de falar de repente, percebendo o quanto estava divagando. Drew a encarava com um brilho divertido nos olhos, segurando uma risada enquanto ela o olhava de volta.
— O que foi?
— O que foi? — perguntou , desconfiada.
— Você sabe muito da minha vida, — disse ele, imitando exatamente o tom que ela havia usado no dia anterior.
— É, bom, é claro que sei — retrucou , espelhando a resposta de Drew com a mesma naturalidade e um toque de ironia.
Os dois seguraram uma risada, até que se virou novamente, tentando desviar a atenção.
— A vida inteira e um dia, não é? — murmurou Drew, seus olhos ainda colados no perfil de .
Ela não respondeu de imediato, refletindo sobre as palavras. Então, finalmente, disse:
— E eu não odeio você.
Drew piscou, surpreso, enquanto continuava:
— Depois de tudo que você me contou, acho que a única pessoa que eu odeio de verdade é o seu pai.
Ele riu, mas havia um toque de amargura na risada.
— Você vai ter que entrar na fila, princesa — disse ele, com um meio sorriso. — Minha mãe sempre diz que a melhor vingança é uma vida feliz.
— Besteira — rebateu sem hesitar, arrancando uma risada alta de Drew. — A melhor vingança é aquela em que você desconta sua raiva no culpado.
Ele assentiu lentamente, um brilho pensativo nos olhos.
— Eu bem que queria poder descontar um pouco da minha raiva nele…
sentiu seu celular vibrar no bolso. Pensando que era sua mãe, o pegou rapidamente. Ao desbloquear a tela, era só mais uma mensagem de Sammy. Estava prestes a guardar o aparelho de volta quando viu o aviso de mensagens não lidas no seu e-mail. Sem pensar muito, pressionou o ícone do envelope vermelho, mas seu corpo gelou ao ler as palavras no topo da mensagem:
soltou um suspiro trêmulo, uma mistura de choro engasgado e algo que parecia um grito preso na garganta. Sem perceber, ela se sentou imediatamente no chão, esquecendo completamente que Drew a observava com atenção.
— ? Aconteceu alguma coisa?
— Eu… Hm… — tentou falar, mas as palavras sumiram. Drew logo se aproximou, tocando sua mão.
— ?
Ela se virou, encontrando o olhar preocupado de Drew. Mas o nó em sua garganta parecia grande demais. Como poderia explicar que, naquele instante, em suas mãos, seu sonho havia acabado de ser destruído? piscou, tentando voltar para a realidade. Ela bloqueou o celular, se levantando.
— Eu tenho que ir…
De pé, agarrou sua mochila com dedos trêmulos, como se aquilo fosse a única coisa que a mantinha ancorada a terra. Olhou ao redor, procurando sua bicicleta com os olhos embaçados. Drew, agora em pé, observava cada movimento dela com o cenho franzido.
— , o que aconteceu?
— Eu só… preciso ir.
A voz dela soou como um sussurro quebrado, e Drew não precisou de mais para perceber que algo estava mesmo muito errado. sentia o peito apertado, como se todo o ar do mundo não fosse suficiente para encher seus pulmões. Não sabia se estava frustrada, decepcionada ou envergonhada. Drew a parou, puxando a mochila de sua mão e a jogando no chão. Ele tocou o rosto de com delicadeza, da mesma forma que tinha feito antes, trazendo ela de volta para realidade e para ele.
— , olha pra mim. Respira — pediu, sua voz baixa, quase como um comando. obedeceu instintivamente, sem perceber que sua respiração estava completamente descompassada até aquele momento. — Você não precisa, mas eu acabei de te alugar com o segredo da minha vida, então, se você quiser, pode me contar o que quer que seja.
sentiu os lábios de baixo tremerem e os mordeu, em vão, porque seus olhos denunciavam seu choro iminente. A expressão de Drew ficou ainda pior.
— Eu não passei — ela quase sussurrou — Em Harvard. O e-mail estava na minha caixa de entrada desde ontem e eu não vi.
— Oh, … — foi tudo que Drew disse antes de puxar a garota para um abraço. Ela tentou resistir, ou pelo menos, imagina ter tentado resistir, sua mente gritando que aquilo era idiota, que não era o momento, mas ele foi mais forte do que ela.
— Desculpa — ela murmurou, sua voz embargada e os dedos agarrando a camisa dele — Eu sei que não tem nada a ver, você acabou de me contar uma coisa horrível e… e eu estou aqui, chorando por isso…
— Para de se desculpar. Você nunca pediu desculpa antes. Não vai começar agora ou eu vou achar que você bateu a cabeça.
— Mas é idiota mesmo…
— Não é — ele disse firme, apertando ainda mais e sentindo as lágrimas dela molhando sua camisa. — Não é mesmo.
— Eu realmente achei… — ela travou, parando de falar.
Os braços dele continuaram em volta dela, suas mãos subindo até os cabelos de , acariciando-os em um ritmo lento e reconfortante enquanto a deixava chorar livremente. Os minutos passaram como horas, mas nenhum dos dois se afastou de imediato.
Quando finalmente conseguiu se recompor, se afastou alguns centímetros, mas não completamente. Drew ainda a segurava, cheio de preocupação.
— Eu realmente achei que daria certo. — confessou, sua voz carregada de tanto peso que Drew sentiu o coração apertar por ela. — Pensei que muita coisa daria errado, mas não isso.
— Eu sei — Drew concordou tão rápido que quis chorar ainda mais.
— Eu me esforcei tanto, eu fiz tudo certo, tudo mesmo, Drew…
— Eu sei, , eu sinto muito — falou. — Eles são uns babacas que não sabem escolher seus alunos.
— O Barack Obama estudou lá — ela retrucou, com um sorriso fraco, tentando segurar as lágrimas que insistiam em voltar. Lentamente, Drew secou o rosto dela o máximo que podia e apenas se deixou ser cuidada dessa forma, pois não conseguia lembrar a última vez em que isso aconteceu, muito menos de ter acontecido assim. Drew a tocava com tanto cuidado que parecia que ela ia quebrar. Quando ele terminou, olhou bem no fundo dos seus olhos.
— É, mas a não. Então, claramente, eles saíram perdendo.
Um riso fraco escapou dos lábios de , breve, mas genuíno. Drew a soltou lentamente, e ela deu um passo para trás, respirando fundo.
— Tudo bem, vou superar. Eu tenho outras opções. — Sua voz soou determinada, mas não totalmente convincente.
— É isso aí. — Drew concordou, oferecendo um pequeno sorriso de encorajamento.
se virou, ficando de costas para Drew, inspirando e expirando algumas vezes, como se precisasse liberar a tensão que ainda segurava no peito. De repente, chutou o chão, arrancando um pedaço da grama verde com a ponta do seu all-star.
— Eu só… foram doze anos da minha vida. — ela quase rosnou de tanta frustração. — Acho que estou mais com raiva e vergonha do que triste, pra ser sincera.
— Vergonha? — Drew arqueou uma sobrancelha, confuso.
— É. — desviou o olhar, mordendo o lábio. — Eu me preparei a vida toda pra esse momento. Meu pai me deu a porra de um moletom de Harvard quando eu tinha 16 anos. Tem uma bandeira daquele time idiota deles na minha parede! Eu me esforcei, achei que tinha feito tudo da forma que eles queriam… só pra ser recusada no fim.
— , você não estudou a vida toda por Harvard. — Drew falava de maneira firme, mas gentil. — Você estudou a vida toda porque é assim que você é. Isso é o que te define, não uma carta de aceitação.
Ela parou, se virando de volta pra ele.
— Sebastian me fez mandar pedido de admissão para todas as universidades de Arquitetura do país, até aquelas em que eu sei que não tenho a menor chance. — Drew continuou, seu tom adquirindo um traço divertido. — Tenho certeza que você fez o mesmo. Harvard pode não ter aceitado, mas ela não é a única do mundo, é?
— Eu sei, só estou com raiva, sabe?
— Claro, e você pode ficar, você tem esse direito. Isso só… — ele parou por uns segundos, tentando achar as palavras certas. — Isso só não muda quem você é. Preciso que você saiba que você é incrível, , e o lugar certo vai te aceitar. Tudo acontece por um motivo — ele parou novamente, dessa vez abrindo um sorriso fraco e engraçado. — É meio brega, mas é o que a minha mãe diz.
riu, concordando levemente com a cabeça.
— Obrigada, Drew.
Um breve silêncio se instalou entre eles, mas não era desconfortável. Drew desviou o olhar, como se considerasse algo, e depois caminhou na direção dela, os passos hesitantes.
— Você quer que eu te leve em casa? — perguntou, meio incerto. o olhou. Queria ir pra casa? Queria mesmo que Drew não estivesse mais por perto?
Ela já sabia da resposta.
— Não. — Ela balançou a cabeça, e sua voz saiu mais firme. — Eu só queria… esquecer um pouco. Extravasar.
Drew ergueu uma sobrancelha, e um sorriso maroto apareceu em seu rosto.
— Você quer descontar essa raiva?
estreitou os olhos, desconfiada. Conhecia bem aquela expressão.
— Quero. — respondeu, cuidadosa.
— E se, digamos… você descontasse essa raiva na casa e no carro de um milionário escroto que abandonou o próprio filho recém-nascido?
piscou, demorando um pouco para entender o que ele queria dizer. Mas quando entendeu, por algum motivo, só conseguiu sorrir.
— Está falando sério?
— A justiça divina está atrasada, não é?
— Você quer fazer o karma acontecer com ele?
— Se você quiser. Eu só preciso de um taco de beisebol e uns ovos podres. Nova York fica só a umas três horas daqui.
riu nervosamente, mas sabia que Drew falava sério. Seus olhos azuis estavam presos nela com uma animação silenciosa e controlada, e ela sabia que ele não esperava que ela dissesse sim. Mas não podia simplesmente deixar que ele fosse sozinho na mesma medida em que não queria que ele fosse sozinho.
— Vamos nessa.
— Está falando sério?
— Você sabe onde ele mora? — perguntou e Drew assentiu. — Então vamos.
— Isso não é nada Miss Enciclopédia da sua parte.
— Não, não é — admitiu ela.
Drew a encarou pelo que pareceram minutos antes de se aproximar novamente.
— Mas é bastante , se eu for sincero. E eu acho que gosto bastante dessa parte.
sorriu, jogando a mochila nas costas e o olhando.
— Quer mesmo fazer isso?
— Se eu quero jogar ovos podres na casa do meu pai escroto e quebrar algumas janelas? Você está mesmo me perguntando isso? Eu quem deveria perguntar. Não é problema seu, , você não precisa se encrencar por causa de mim.
revirou os olhos indo até sua bicicleta caída.
— Você sempre falou demais, Drew Starkey.
— Achei que era isso que você mais gostava em mim — retrucou, juntando as próprias coisas e caminhando ao lado de em direção à saída do parque.
— Definitivamente não. Prefiro quando você está calado.
Drew riu fraco. Ele quem havia sugerido, e era ele quem parecia hesitar agora que havia concordado. duvidava que ele se arrependesse, mas tinha certeza que ele estava ficando com medo de que ela pudesse se arrepender.
— ...
— Não vou te deixar sozinho, Drew. E você me prometeu uma válvula de escape.
Drew sorriu ao ouvir as palavras dela, e juntos, os dois saíram do parque de Riverside.
— Então vamos, princesa. Temos uma encomenda para entregar.
Em um acordo silencioso, os dois decidiram, quase que por instinto, pedir ajuda a Reagan em vez de Sebastian. Sabiam que Sebastian faria perguntas demais (Para onde estão indo? O que vão fazer? Por que estão juntos?), perguntas que nenhum dos dois conseguiria ou queria responder. Reagan também era curiosa, mas, definitivamente, menos insistente. Além disso, ela conseguiria manter a mentira de que estava na casa dos tios, caso o pai dela ligasse para checar. Sebastian era um péssimo mentiroso.
Quando chegaram à casa da prima, porém, nem precisaram inventar desculpas. Reagan os avaliou de cima a baixo, seus olhos parando por um momento nos de , ainda vermelhos, mas escolhendo não fazer nenhuma pergunta no momento a não ser que horas eles voltariam.
— Acho que nos ver juntos sem brigar foi um choque muito grande para ela. Acho que a quebras — comentou Drew, enquanto saíam.
A bandeja de ovos podres foi providenciada por Drew em questão de minutos, o que, honestamente, não surpreendeu tanto assim. Já a lata de spray dentro da mochila dele — que agora estava na pequena mochila rosa dela — a deixou levemente intrigada.
— Isso é um pouco preocupante, Starkey — ela comentou, arqueando uma sobrancelha. — O que mais você carrega por aí?
— Só o necessário, princesa — respondeu calmamente.
Embora Drew quisesse incluir um taco de beisebol na lista, ambos concordaram que talvez não fosse uma boa ideia andar com algo assim pelas ruas.
O trajeto até Filadélfia foi rápido, mas foi o suficiente para deixar com uma mistura de nervosismo e empolgação. Sentada ao lado de Drew no banco de trás do carro, ela tentou entender como, exatamente, tinha acabado ali. Mas não encontrou nenhuma resposta que não fizesse com que ela morresse de vergonha.
Fugir não era novidade para ela. Já tinha feito isso antes, numa escapada clandestina para Atlantic City com Sebastian, James, Reagan, Drew e outros amigos da escola para assistir a um show de rock. Ficou de castigo por três meses, mas valeu a pena. Dessa vez, porém, era diferente. Ela estava fugindo ao lado de Drew Starkey, e apenas dele.
sabia que aquilo era importante para ele. Drew precisava de um jeito de descontar a raiva, fosse jogando ovos ou encarando o pai cara a cara. Sabia que ele precisava disso, e ela também não iria se opor a jogar alguns ovos na janela de um milionário idiota. Também tinha que admitir que precisava esquecer que seu maior objetivo acabara de se despedaçar.
Ela não sabia como contar aos pais que foi recusada. Quando disse a Drew que nunca imaginou que isso poderia acontecer, estava sendo sincera. E sabia que ninguém na sua família tinha imaginado também. Seus pais já discutiam os detalhes de como fariam para visitá-la em Boston e se seria melhor ela morar num apartamento próprio ou nos dormitórios. Agora, tudo parecia perdido. Era aterrorizante imaginar que tudo que ela havia planejado tinha acabado.
Claro, ela ainda tinha outras opções. Sabia que seria aceita em alguma universidade, mas nunca achou que realmente precisaria dessas alternativas.
Uma hora depois, quando desceram do carro na estação de trem, Drew comprou as passagens, e em poucos minutos, já estavam a caminho de Nova York. Sentaram-se lado a lado, e ele cedeu o lugar da janela para ela, porque sabia que ela gostava de viajar observando a paisagem passar.
— Tentei fazer tudo rápido pra não dar tempo de desistir — confessou Drew, depois de alguns minutos. Ele olhou para as próprias mãos, nervoso. — Mas agora estamos presos aqui por, pelo menos, duas horas, e meu cérebro tá tentando me sabotar.
, que estava distraída olhando para a janela, se virou para ele.
— Está com medo de que ele chame a polícia?
Drew riu, uma risada breve e cheia de desprezo.
— Não mesmo. — Ele passou a mão pela nuca, um gesto que já reconhecia como nervosismo. — Não precisa se preocupar com isso.
— Como tem tanta certeza? — ela insistiu.
— Se ele chamasse a polícia, a próxima manchete seria: “Advogado Andrew Starkey tem filho escondido que vandaliza sua casa”.
tentou segurar o riso, mas não conseguiu.
— Faz sentido.
Por um instante, o silêncio entre eles foi confortável. Drew parecia perdido em pensamentos, olhando para o chão do vagão, e voltou a observar a paisagem que passava rapidamente pela janela. Até ele interromper a quietude:
— Você está melhor?
— Acho que sim. — Sua voz carregava uma incerteza que nem ela conseguiu disfarçar. — Quer dizer, eu não posso fazer nada quanto a isso, sabe? Então só preciso aceitar.
— E do que você quer falar?
soltou um longo “hmmmm”, dramaticamente passando a mão pelo queixo enquanto fingia pensar. Drew sorriu enquanto observava a cena.
— Por que você quer fazer Arquitetura? É porque você desenha bem?
Ele piscou, confuso.
— Como você sabe que eu desenho?
— Você me disse — respondeu calmamente — Na festa do Joshua.
— Ah — Drew balançou a cabeça.
Os dois se viraram para frente, sem saber exatamente como continuar a conversa. Sempre que mencionavam a festa do Joshua, algo mudava, e nenhum sabia muito bem o que dizer a seguir. não sabia porque havia falado sobre isso, pois sempre que pensava, ficava muito chateada mesmo tentando esquecer, pois estava tendo um momento muito bom com Drew e não queria ser perturbada por memórias antigas.
Foi Drew quem quebrou o silêncio, mas sua voz saiu mais baixa do que o habitual, quase hesitante:
— Minha mãe queria ser arquiteta. Mas teve que desistir da faculdade quando engravidou de mim.
virou-se para ele, capturando cada detalhe do rosto de Drew enquanto ele falava.
— Os pais dela morreram antes de eu nascer, e minha tia Daphne não estava nos Estados Unidos na época. Ela estava completamente sozinha. Então, não tinha muito o que fazer.
Sua voz estava baixa e pesada, conseguia sentir o quanto aquilo era um assunto delicado pra ele.
— Ela sempre diz que tudo acontece por um motivo. Nesse caso, foi descobrir o quanto ela era boa em consertar carros.
Ele soltou uma risada fraca, mas percebeu que o peso continuava ali.
— Nós desenhamos nossa primeira casa juntos. E, não sei... Acho que o sonho dela passou para mim, de alguma forma.
Enquanto falava, Drew olhava para o resto do vagão, como se buscasse coragem no ambiente ao redor. Era óbvio que ele nunca tinha colocado esses sentimentos em palavras antes. Ele passou a mão pela cabeça raspada, quase automaticamente, e abriu um sorriso tímido, sincero.
— É meio bobo, mas acho que foi isso.
— Não é bobo. — foi rápida em responder, sua voz firme e calorosa. — A relação que vocês têm é muito bonita.
Drew a olhou por um momento antes de dizer:
— Obrigado, .
não queria que o silêncio ficasse entre eles novamente, então antes que Drew pudesse se dispersar, ela resolveu mudar de assunto.
— Para quais universidades você se inscreveu?
Drew soltou um suspiro, inclinando a cabeça contra o encosto do banco.
— Muitas. — Ele riu, balançando a cabeça. — Sebastian me fez me inscrever em todas as Ivy Leagues, mesmo sabendo que eu não tenho a menor chance. Também me inscrevi nas mesmas que ele e em algumas outras, um pouco menores.
— Você pediu isenção da taxa de inscrição?
— Pedi. Nem todas aceitaram, mas tá tudo bem. — Ele virou a cabeça para olhá-la, ainda encostado no banco. Um sorriso pequeno apareceu, e sua covinha esquerda ficou evidente. — Tenho 18 anos de pensão alimentícia pra gastar com isso.
não conseguiu conter o riso.
— Você tem alguma favorita?
— Eu pensei em ficar perto de casa, na Universidade da Pensilvânia ou em Maryland.
— Por causa da sua mãe?
Ele desviou o olhar de para a janela por alguns segundos antes de responder. As palavras saíram ensaiadas, como se essa fosse uma discussão que ele tinha consigo mesmo constantemente.
— Sim. Ela geralmente precisa de ajuda com os carros.
assentiu, mas sentiu um aperto desconcertante no coração. A preocupação de Drew com a mãe era admirável, mas aquilo também soava como um peso que ele carregava sozinho.
— Você já ouviu falar da Escola de Design de Rhode Island?
viu na hora em que um brilho acertou Drew em cheio. E ela soube que já, mesmo que ele não tivesse respondido ainda.
— Sim, com certeza. Acho que todo mundo que quer fazer Arquitetura já ouviu falar.
— Você não se inscreveu?
— Me inscrevi, mas é muito difícil de entrar — ele disse com um sorriso fraco — Sem contar que fica a quase cinco horas de distância de Riverside.
— Acho que você conseguiria entrar, sim — disse ela casualmente.
Drew abriu um sorriso maroto.
— Você acha mesmo que eu conseguiria entrar em uma universidade que não é uma party school? — franziu o cenho, estava prestes a responder quando Drew continuou falando. — Ah, desculpa, princesa, esqueci da sua falta de vida social. Party school é quando…
fechou o punho e deu um soco no ombro de Drew. Ele colocou a mão onde ela acertou, tentando soar dramático. Não funcionou muito bem, já que ele também estava rindo.
— Deixa de ser idiota.
Ele riu por alguns segundos, como se provocá-la fosse tudo que ele realmente precisasse para relaxar de verdade.
— Mas e você? Quais são as opções?
— Além de Harvard? — provocou , com um tom levemente depreciativo, enquanto Drew revirava os olhos e lhe dava um peteleco fraco na cabeça.
— É sério, .
Ela sorriu, fingindo indignação, e passou a mão na testa de forma exageradamente dramática, como se ele tivesse feito mais do que apenas tocá-la.
— Yale, Columbia, Stanford, Duke, Georgetown, Berkeley, Princeton…
Ela parou ao perceber o sorriso de Drew se alargando lentamente
— O que foi?
— Nada.
— O que foi? — ela insistiu, empurrando de leve o ombro dele com o seu, incapaz de conter a curiosidade.
— São bem distantes de casa.
— Nem todas.
— Três horas de carro não é distante?
deu de ombros, tentando disfarçar o desconforto que crescia dentro dela.
— Depende de quem está perguntando. — Ela mordeu o lábio inferior, hesitando por um instante antes de continuar. Seu coração acelerou só de pensar no que estava prestes a dizer, mas ela resolveu falar mesmo assim: — James viaja três horas e meia várias vezes no mês para visitar a namorada dele.
Drew pareceu refletir sobre aquilo, mas sua resposta veio com um tom de leveza que contrastava com o peso que sentia no próprio peito.
— Não disse que era impossível. Não é tanto tempo pra quem quer se ver.
baixou os olhos, sem saber como responder. Não sabia se havia algo naquelas palavras que pareciam mais do que uma constatação casual, ou ela estava se deixando levar pelo charme de Drew Starkey por tempo demais. Provavelmente a última opção, mas não estava pronta para sair da bolha que os dois criaram.
Não ainda.
— Qual é a sua favorita agora? — ele quis saber.
— Yale.
Eles continuaram conversando casualmente o restante da viagem inteira, rindo, como se não estivessem prestes a invadir a casa de alguém. Quando eles desceram do último trem, tiveram que andar um pouco até encontrarem a casa de Andrew Starkey. Contrariando o que pensava, o pai de Drew não morava em um condomínio de luxo.
A casa dele ficava depois da maioria dos condomínios de pessoas famosas que você vê em revistas. Era uma casa um tanto quanto isolada, para ser sincera. Depois que eles pularam o muro que cercava a propriedade, ainda tiveram que seguir por uma curta ladeira até a porta da frente.
— Como você sabe que é aqui? — perguntou, ofegante. A pequena caminhada havia deixado suas pernas cansadas.
— Ele me mandou um livro há um tempo. Pedi pra minha mãe jogar fora, mas vi o endereço e, não sei, devo ter decorado — Drew disse, tentando soar indiferente.
o observou por um momento, notando a forma como ele evitava encará-la diretamente. Era fácil perceber que ele tentava minimizar a importância daquele detalhe, mas ela sabia que não era tão simples.
não sabia exatamente o que tinha esperado. Talvez uma mansão colossal, como aquelas que só existem em filmes, cercada de seguranças em ternos pretos, ou quem sabe um prédio luxuoso e exagerado. Mas a casa de Andrew Starkey não era nada disso. Quer dizer, ainda era grande, definitivamente maior que a dela, mas não era uma mansão digna de ostentação, nem uma obra-prima da arquitetura moderna. Na verdade, parecia apenas mais uma daquelas casas caras e genéricas de homens brancos ricos, sem qualquer tipo de personalidade própria.
A única coisa que destoava era o Rolls-Royce branco estacionado na entrada. Aquilo, pensou, até emanava uma certa personalidade. Só não era uma boa.
Ela se aproximou de Drew, que olhava fixamente para a porta da frente da casa com um nervosismo palpável. Suas mãos tremiam, e as segurou com firmeza, chamando seu nome.
— Drew, você está bem? Quer ir embora?
Ele piscou, sendo puxado de volta pela voz suave de .
— Não, claro que não. Só... não acredito que estamos aqui. Por tanto tempo, tudo o que eu quis foi conhecer este lugar. Mesmo que eu nunca admitisse, eu imaginava como seria a casa dele, como seria…
Sua voz morreu no meio do caminho, e apenas assentiu. Ele não precisava continuar.
— Agora eu só queria que desaparecesse.
Drew abriu a mochila rosa que vinha carregando desde que chegaram à Filadélfia e tirou de lá o saco de ovos podres e a lata de tinta spray. tocou o próprio pulso de forma distraída, sentindo a adrenalina e o nervosismo percorrerem seu corpo.
Ela sabia que aquilo era uma burrice colossal — vandalizar a casa de Andrew Starkey não estava nem perto de ser uma ideia brilhante. Mas também sabia que Drew precisava fazer isso.
Ele parou diante de uma das janelas e pegou um ovo. pensou em pará-lo, quase deu um passo à frente, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Drew já havia arremessado o ovo com força, que acertou bem no meio de uma das janelas, pintando-a de amarelo.
parou no lugar, tampando a boca e o nariz pelo cheiro que começava a subir. Estava chocada. Estava mesmo, mas quando se virou para Drew, ele já a encarava e tudo que tinha no rosto era um sorriso. Um sorriso largo, verdadeiro, satisfeito e, percebeu com carinho, muito aliviado. Talvez isso não fosse apenas algo que Drew precisava fazer. Talvez fosse algo que ele precisava sentir. E, por isso, não se importou com mais nada. sabia que Drew merecia tirar um pouco desse peso dele.
— Você precisa tentar, — disse ele, com um brilho travesso no olhar enquanto lhe entregava à sacola. — Finja que é a casa de algum dos entrevistadores de Harvard.
riu, caminhando até ele. Depois disso, ela não quis pensar muito. Assim que agarrou o primeiro ovo, ergueu o braço e o jogou na janela na mesma hora. O barulho da casca se rachando na janela trouxe uma adrenalina desconhecida para .
Drew e começaram a arremessar ovos sem parar, rindo alto enquanto deixavam a casa de Andrew Starkey irreconhecível. Vidros, paredes, portas, até os degraus da entrada — tudo estava coberto de manchas amarelas e um cheiro insuportável.
Depois que os arremessos de ovos começaram, Drew não conseguia parar de rir e parecia genuinamente feliz. Não era uma terapia, mas parecia chegar perto. E irritaria alguém, que era basicamente o modus operandi diário de Drew Starkey. não conseguia não sorrir também. Jogar ovos na casa de alguém era emocionante e Harvard definitivamente era a última coisa em sua mente naquele momento, mas, antes disso, ver Drew tão relaxado fazia sorrir.
Drew deixou a sacola nos pés de e agarrou a tinta spray. Estava a meio caminho da porta quando parou de repente, como se uma ideia tivesse acabado de cruzar sua mente. Quando ele se virou, podia garantir, nunca havia visto um sorriso inconsequente mais bonito na vida. Era tão bonito que a deixou desnorteada e completamente aérea da vida real por segundos.
Os segundos suficientes para acordar novamente quando Drew já estava parado na frente do Rolls-Royce brilhante de 30 milhões de dólares de Andrew Starkey estacionado atrás deles.
piscou, esquecendo do ovo que ainda estava na sua mão e entrando no caminho de Drew.
— Drew, espera um pouco. Esse carro vale mais do que... do que... do que nós dois juntos!
— , isso não é nada para ele. Não deve ser nem mesmo o único carro desse desgraçado.
balançou a cabeça, ainda dividida. Era um Rolls-Royce. Ovos eram uma coisa; um carro desse valor era outra completamente diferente. Ela estava prestes a protestar quando sentiu algo estranho, como se alguém a estivesse observando. Sem perceber, ergueu os olhos, como se algo a puxasse.
Na varanda do segundo andar, Andrew Starkey estava ali, com um terno preto impecável, observando-os. Seu rosto era uma máscara de indiferença, inexpressivo como pedra. Nenhuma raiva, irritação ou surpresa, nada.
— Drew, ele está... está em casa. — A voz de saiu baixa, quase um sussurro, enquanto seus olhos permaneciam fixos na figura acima deles. — Ele está nos olhando da varanda.
A postura de Drew mudou na mesma hora. Ele ficou tenso, rijo e seus olhos azuis pareciam perder um pouco do brilho e do tom divertido, mesmo que magoados, que carregava há poucos minutos.
— Ótimo.
Drew deu um passo para o lado e se abaixou na frente do carro. sentiu o ar ao redor deles mudar, a tensão crescendo como uma onda prestes a quebrar. A diversão que ainda existia há poucos minutos havia evaporado. Também percebeu que Drew tinha razão sobre o pai: ele não ligava. Ao menos, era o que parecia. Andrew Starkey continuava imóvel, encostado na grade da varanda, sem demonstrar qualquer incômodo ou interesse em interromper o que o filho fazia. Ele mal parecia notar a presença de .
olhou em volta, agarrando sua mochila e a carteira de Drew que haviam caído no chão. Não sabia o que estava prestes a acontecer, mas sabia que tiraria Drew dali antes que seu pai babaca fizesse mais alguma coisa contra ele.
Drew finalmente se afastou do carro. Seus ombros permaneciam rígidos, mas ele parecia satisfeito com o que havia feito. engoliu em seco ao ver as palavras que ele havia escrito na lateral do carro, com tinta vermelho-sangue que escorria lentamente sobre o metal brilhante:
Drew não olhou para , apenas fixou seu olhar no homem acima, como se o desafiasse a reagir. A garota sentiu que havia algo ali que ela não compreendia completamente. A dinâmica entre eles era algo que ela nunca havia visto antes. Se é que havia alguma dinâmica, além da falta de caráter de Andrew e a mágoa de Drew.
Quando Andrew finalmente falou, sua voz foi fria e calculada, sem gritos ou nada do tipo. Apenas seu tom de voz normal que podia ser facilmente ouvido.
o odiou.
— Essa é a sua forma de dizer oi?
— É, sim.
Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Drew girou os calcanhares e, com um chute certeiro e rápido, acertou o retrovisor do carro. O impacto foi alto, e o barulho do metal e do vidro quebrado puderam ser ouvidos por todo o quintal. deu um pequeno grito, assustada, enquanto o retrovisor voava longe.
Drew virou-se novamente para encarar o pai. Sua mandíbula estava cerrada, e os punhos fechados. Ele não gritava, mas a intensidade de sua raiva era visível.
— E essa é a minha forma de dizer pra você cuidar da sua vida e nos deixar em paz, seu babaca de merda! — Sua voz saiu firme, carregada de rancor. — Não vou ser sua marionete. Não é assim que se faz. É o único aviso que vou te dar. É melhor você se lembrar.
Drew não esperou por uma resposta. Jogou a lata de spray no chão, pegou a mochila que segurava e agarrou sua mão, puxando-a em direção à saída. tropeçou no primeiro passo, mas seguiu seu ritmo. Antes de desaparecerem de vista, ela olhou para trás.
percebeu, com um certo calafrio tomando o seu corpo, que Andrew Starkey continuava parado no mesmo lugar. Dessa vez, com a sombra de um sorriso no seu rosto.
Eles já estavam quase pulando o muro novamente quando o portão principal começou a se abrir lentamente.
Drew não pareceu perceber o que aquilo significava, ou sequer se importar que o pai estava, de alguma forma, os deixando sair sem consequências. Ele seguia em frente, sua expressão distante, o olhar vazio. Drew estava no automático.
Foi por isso que parou, fazendo Drew parar também e apenas o empurrou contra um banco qualquer, em um parque qualquer e o fez sentar. tirou a mochila da mão dele, fazendo força. Nenhum dos dois tinha percebido o quão forte ele estava segurando o objeto nas mãos.
— Você é tão esquisito. No meio dessa confusão, você ainda precisa carregar a mochila pra mim — comentou, abrindo a mochila e tirando uma garrafa de água que ela havia comprado ainda na estação de trem. deixou a mochila, sentando-se ao lado de Drew e entregando a água para ele — Bebe.
Drew apenas obedeceu. O silêncio entre eles se prolongou até que Drew finalmente falou, sua voz soando mais baixa e hesitante do que o normal:
— Você tá bem?
soltou uma risada curta, quase incrédula.
— Eu é que deveria te perguntar isso.
Drew não respondeu. Passou a garrafa de volta para ela e respirou fundo. Por um momento, ficou apenas olhando para as próprias mãos, onde ainda havia manchas de tinta vermelha.
— Eu odeio ele.
— Eu sei.
— E ele é meu pai. — Drew riu, mas o som era seco e amargo. — Não importa o que eu faça, eu nunca vou estar livre disso. Ele sempre vai ser meu pai.
balançou a cabeça automaticamente, pronta para argumentar. Estava prestes a dizer que sangue não significava nada, que Drew podia escolher afastar-se dele para sempre se quisesse. Mas então ele continuou, e ela percebeu que o problema não era apenas esse.
— E se eu for como ele, ? — A voz de Drew saiu trêmula, quase um sussurro. Seu olhar encontrou o dela, e o desespero que viu a fez parar. — E se eu acabar sendo exatamente como ele?
— Drew, não… — começou, mas ele não parou.
— Você não entende. Ele é meu pai, no fim das contas. E, às vezes, eu penso que talvez eu…
— Drew! — interrompeu, segurando o rosto dele entre as mãos e forçando-o a olhar para ela. Seus rostos ficaram a centímetros de distância. — Escuta. Você não tem nada a ver com ele. Nada.
— Como você sabe, ? — murmurou Drew, a voz baixa e quase trêmula, completamente diferente do tom duro que usara antes.
O coração de se partiu. Drew Starkey, o garoto que sempre parecia inabalável, era, na verdade, tão frágil quanto qualquer outra pessoa. Poderia fingir que não o quanto quisesse para qualquer outra pessoa, mas não para ela. Não mais. conseguia vê-lo com muita clareza agora. Por um segundo, ela pensou que finalmente estava o conhecendo, mas a ideia rapidamente foi deixada de lado.
já conhecia Drew. Conheceu ele durante toda a sua vida. Hoje, entretanto, viu um lado dele que fez todo o resto fazer sentido.
— Você nem gosta de mim. Você disse que…
balançou a cabeça com força, cortando as palavras dele.
— Cala a boca e me escuta, idiota. — Sua voz firme e mandona voltou, carregada de urgência. — Você é leal. Você nunca deixa seus amigos para trás, nunca. É sempre o primeiro a ligar para casa, e o primeiro a voltar também, porque odeia deixar sua mãe sozinha, mesmo sabendo que ela consegue se virar muito bem.
Drew a olhava fixamente, confuso, mas continuou. Não se importou com mais nada além de fazê-lo entender.
— Você foi suspenso por três dias quando aquele babaca foi homofóbico com o Seb no nosso primeiro ano. Você é engraçado, e eu sei disso porque, por mais que eu tente não rir das suas piadas, às vezes é impossível. Você é sincero, mas diferente de mim, nunca usou isso para machucar ninguém, porque não é cruel, Drew. Você é bom.
Os olhos de estavam fixos nele enquanto suas mãos continuavam segurando seu rosto, exatamente como ele havia feito com ela quando a notícia de Harvard a tirou de órbita. Sua voz tremeu, mas não o suficiente para desviar sua determinação em continuar.
— Você é empático, sempre sabe como conversar com as pessoas. E sim, você pode ser irresponsável na escola, mas nunca deixou ninguém fazer seu trabalho por você. Ano passado, mesmo quando você queria propositalmente bombar, todos os seus trabalhos em grupo foram entregues. E sabe por quê? Porque você se importa. Você estudou de verdade para não decepcionar o Seb, porque sabia o quanto ele estava se esforçando por você, o quanto ele ama você.
respirou fundo, percebendo que estava falando mais rápido agora, mas não conseguiu parar.
— O que eu disse antes foi idiota, foi cruel, e eu nunca vou parar de me arrepender por isso. Porque não era verdade. Não é verdade, Drew. Você não é perfeito, mas você não é ele. Você nunca seria alguém como ele. Porque você é bom. E eu sei disso.
O silêncio que se seguiu era tão denso que sentiu o peito apertar. Drew continuava parado, olhando para ela com aqueles olhos azuis claros que eram tão familiares quanto o céu de Riverside.
E ali, no meio de algum parque qualquer em Nova York, depois de encher a casa do advogado mais famoso do país com ovos podres e assistir Drew destruir o carro caro dele, percebeu algo tão óbvio que parecia impossível ignorar.
Ela estava apaixonada por Drew Starkey.
Não fazia ideia de quando isso aconteceu. Uma parte dela sussurrava insistentemente que Drew nunca ficava com ninguém por muito tempo, que o charme irresistível dele era um privilégio temporário para todos, exceto os amigos.
Mas não se importava.
Porque ela era inteligente o suficiente para fazer o imposto de renda dos pais, para entender os conflitos sociais internacionais mais complexos, e também para saber quando estava apaixonada por alguém.
E, meu Deus, como ela estava apaixonada por Drew Starkey.
O silêncio entre eles foi quebrado com um abraço. Drew passou os braços ao redor de e ela sentiu seu mundo todo se derreter ao toque dele. Meu Deus, eu estou acabada, acabada, era tudo que ela pensava.
— Obrigado — disse ele, afastando-se.
— Eu não fiz nada.
— Você fez tudo. Você veio comigo, me apoiou e me ajudou e isso... — Drew fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras certas. — Eu nunca vou me esquecer disso, .
Ela o soltou, assentindo devagar. Não sabia o que dizer, e tinha certeza de que Drew também não. Mas o silêncio entre eles não era incômodo. Era um silêncio carregado, cheio de coisas que nenhum dos dois estava pronto para colocar em palavras. Não ainda. O único desconforto, sabia, estava dentro de sua própria cabeça. Ela não conseguia lidar com o fato de que estava gostando de Drew Starkey — e que havia descoberto isso no momento mais delicado da vida dele.
O caminho até Riverside parecia se arrastar, como se o tempo tivesse desacelerado, mas nenhum dos dois se incomodou. Especialmente quando a cabeça de não conseguia parar. Seus sentimentos estavam a inundando de uma forma que achava que se abrisse a boca iria acabar gritando que gostava de Drew no meio de todo mundo, e ela não podia fazer isso. Também não se incomodou com o silêncio vindo dele. Sabia que sua mente também deveria estar um turbilhão, e por um motivo muito pior que o dela.
Quando finalmente chegaram à frente da casa de , o silêncio entre eles foi quebrado com certa hesitação.
— Obrigado de novo, . — Drew parecia desconfortável, como se tivesse ensaiado aquela frase e ainda assim não estivesse satisfeito com ela. — Você não precisava ter ido comigo. Tinha acabado de descobrir sobre Harvard e eu... eu te meti nessa confusão.
riu, encostando-se ao portão.
— Você precisa parar de agradecer. Eu fui porque quis — respondeu, os lábios se curvando em um sorriso suave. — Até a Miss Enciclopédia precisa de algumas emoções também.
Drew riu baixo, desviando o olhar para os cadarços do all-star amarelo de , como se aquele detalhe fosse a coisa mais fascinante do mundo.
— Você devia falar com sua mãe sobre o que aconteceu. — A voz dela saiu gentil, mas firme. — Não precisa lidar com isso sozinho, Drew. Sei que você acha que seu pai ainda é importante para ela, mas você é mais. Muito mais. Eu garanto.
Ele assentiu, os olhos ainda no chão.
— Vou falar.
esperou, mas Drew parecia ter terminado. Quando ela já estava se preparando para entrar, ele ergueu os olhos, um leve sorriso brincando em seus lábios.
— Isso quer dizer que somos amigos agora?
Ela arqueou uma sobrancelha, o sorriso dele fazendo o dela crescer.
— Há poucas coisas capazes de fazer duas pessoas como nós se entenderem. Invadir uma propriedade privada é uma delas. Pelo menos é o que eu acho.
O sorriso dele aumentou, e deu de ombros antes de se afastar.
— Até amanhã, Drew.
Ela já tinha aberto o pequeno portão e estava prestes a entrar quando ele a chamou novamente.
— ?
Seu tom era ansioso e quando seus olhos pararam nos de , ela sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. Já estava começando a se acostumar com eles. Mas aquele foi diferente, porque, por algum motivo, em meio aquele silêncio e aquela atmosfera que emanava dos dois, pensou que as palavras dele poderiam ser diferentes. Poderiam ser um pouquinho parecidas com as que rondavam sua mente. Entretanto, não foram.
— Você... pode me mandar o arquivo do trabalho de Estudos Sociais? Depois de hoje, preciso compensar. Pode deixar que eu termino.
respirou fundo, e então sorriu.
— Pode deixar.
Drew estava perdido. De verdade. Não conseguia mais evitar, não conseguia mais esconder. Ia explodir.
Estava apaixonado por .
Estava apaixonado por desde que se entendia por gente, e agora sabia que nenhuma quantidade de implicância seria capaz de disfarçar isso.
Quando chegou em casa, foi direto terminar o trabalho. Fez o melhor que podia e só conseguiu ir dormir depois da 1h da manhã. Em qualquer outra situação, Drew teria acordado tarde e se atrasado para a aula. Mas ele não faria isso com .
Sabia que havia prometido falar sobre o que aconteceu com sua mãe — e ele o faria, só não agora. Não podia se dar ao luxo de ficar de castigo nos últimos dias de aula. Talvez fossem os últimos dias que teria com . Porque, é claro, era uma tremenda estupidez confessar seus sentimentos depois de anos, justo quando estavam prestes a ir para a universidade. Mas Drew Starkey estaria pronto para fazer essa estupidez.
Estava preparado para ser rejeitado por ela, tanto quanto estava preparado para ser aceito e aproveitar os meses que tinham enquanto ela não ia embora. Depois de passar 24 horas ao lado de daquela forma, achava que iria enlouquecer. Quase a beijou mais vezes do que podia contar.
Ele não sabia para onde iria, mas sabia que ficaria perto de casa. E também sabia que esse não era o caso de . Ela podia não ter passado em Harvard, mas ele tinha certeza de que Yale não a deixaria escapar.
Drew tentou não pensar nisso, mas quando saiu do quarto pela manhã, percebeu que seria impossível. Sua mãe estava parada na cozinha, imóvel. Por um segundo, ele pensou que seu pai poderia ter ligado para contar tudo o que aconteceu, mas quando ela se virou, parecia animada e ansiosa.
— Chegou para você, querido.
Drew piscou, olhando para os três envelopes grossos em cima da mesa do café da manhã. Ele correu até lá, nem se dando conta de que aquele era o dia oficial em que a maioria das faculdades começava a enviar os resultados, fosse por e-mail ou correio.
— Não quero azarar, querido, mas olha o tamanho desses envelopes... — disse sua mãe, com a voz embargada. Drew observou os três envelopes lado a lado:
UNIVERSITY OF MARYLAND
RHODE ISLAND SCHOOL OF DESIGN
Drew não era do tipo que criava expectativas para a maioria das coisas, então simplesmente começou a rasgar envelope após envelope. Todos eles diziam a mesma coisa: "Caro Drew Starkey, parabéns! Em nome do corpo docente e da comissão de admissões..."
Drew mal teve tempo de processar a notícia antes de sua mãe se aproximar, os olhos brilhando de emoção. Ela o abraçou tão forte que Drew mal pôde respirar.
— Eu estou tão orgulhosa de você, Drew. Tão orgulhosa. Você tem três opções. Três!
— Obrigado, mãe.
Ela se afastou, puxando uma cadeira para se sentar e apontando para que Drew fizesse o mesmo também, os olhos ainda brilhando
— Então... Para onde você quer ir? Ou a que você quer ir não chegou ainda?
Drew se sentou desconfortavelmente. Queria ter encontrado os envelopes sozinho. É claro que estava feliz e é claro que gostava que sua mãe também estivesse, mas ele sabia o que viria a seguir. Os olhos de Eleanor Beaumont já o escaneavam como uma águia.
— Vou para a UPenn.
Por um momento, ela ficou em silêncio, surpresa com a resposta. Não porque não fosse uma boa escolha, mas porque não era a escolha que ela esperava. Ainda assim, manteve o tom calmo e carinhoso.
— Você tem certeza disso, Drew? Quero dizer, a Universidade da Pensilvânia é uma universidade incrível, mas… Não quer pensar um pouco?
Ele desviou o olhar.
— É uma boa escolha, é perto de casa e…
A expressão de sua mãe mudou imediatamente. Ela colocou as mãos na mesa e respirou fundo antes de encará-lo.
— Drew, querido, você sabe que eu te amo, não sabe?
— Sim…
— Então vou te dizer isso com todo o amor do mundo — ela fez uma pausa, abrindo um sorriso logo depois — Eu não preciso de você aqui o tempo todo, querido.
Drew piscou, surpreso com a resposta de sua mãe. Ela alcançou as mãos dele, cobrindo com as suas.
— Joseph, me escute bem — disse ela e Drew fez uma careta ao ouvir o seu primeiro nome que nunca era usado. — Eu estou muito orgulhosa do jovem independente, corajoso e decidido que você é. Você trabalha desde sempre, você nunca me deu trabalho… — sua mãe fez uma pausa, dando um sorriso engraçado. — Bem, quase nunca. Nunca de verdade. E agora você passou em três universidades maravilhosas. Eu não poderia ser mais feliz nem se quisesse.
— Mas…
— Ainda não acabei — Ela o interrompeu com um sorriso suave. — Você precisa viver a sua vida, querido, não precisa cuidar de mim. Eu sou adulta. Jovem, até! E sempre vou estar aqui para você, mas não às custas do seu sonho. Nunca às custas do que você quer.
Ele engoliu em seco, as palavras dela atingindo-o em cheio. Eleanor apertou as mãos dele, inclinando-se ligeiramente para tentar ver seus olhos que miravam o chão.
— Então, eu vou perguntar de novo. Para onde você realmente quer ir?
Drew olhou para os envelopes, hesitando por um momento. Mas, quando seus olhos pousaram na carta da Rhode Island School of Design, algo brilhou. Algo tão grande e forte que nem se quisesse poderia ter negado. Havia se inscrito em vários lugares, lugares como Princeton e Brown, mas nenhum lugar mexia com ele como a RISD. Nenhum lugar dizia tão claramente que faria todo seu potencial ser usado como a RISD, e ele precisava disso.
Nunca em um milhão de anos pensou que essa carta estaria em suas mãos. Por alguns segundos, olhando a carta na mesa, chegou a tentar se convencer de que apenas o fato de ter sido aceito já seria o bastante. Pelo resto da sua vida, poderia pensar “pelo menos, eu fui aceito” e isso já o traria certo conforto. Mas estava enganado.
Queria ir.
— A RISD tem um currículo incrível em Arquitetura…
O sorriso dela ficou ainda mais largo, e ela puxou Drew para um outro abraço apertado.
— Então você vai para Rhode Island, querido.
Ele retribuiu o abraço, sentindo um peso enorme ser tirado de seus ombros.
— Eu também te amo. Sabe disso, não sabe?
— Sei, sim — ela disse, se afastando — Agora você precisa ir ou vai se atrasar.
Drew lançou um olhar para o relógio na parede, arregalando os olhos.
— Ah, droga.
Drew enfiou os envelopes na mochila com as mãos ainda tremendo, tentando se concentrar nos movimentos simples. Ele se despediu rapidamente da mãe, que o acompanhou até a porta com um sorriso, e correu para o carro. O motor roncou alto, abafando o som da chuva fina que começava a cair, mas Drew mal notou. Tudo o que conseguia pensar era em como precisava contar para . Não que ela tivesse pedido, mas ele sabia que ela ficaria orgulhosa. Talvez tanto quanto Sebastian. Talvez até mais. O pensamento o distraiu o suficiente para que ele passasse por um sinal amarelo que estava mais para vermelho. Novamente, ele não se importou.
Ele ainda chegou a tempo de ver o final da apresentação de Sebastian e Benjamin.
— E foi assim que Ben e eu nos tornamos milionários — Sebastian finalizou sua apresentação fazendo todos rirem, até mesmo o professor. — E eu acho muito simbólico dois garotos gays no parlamento.
— E que além de gay, também não é branco — disse Ben Chang com orgulho, entregando o trabalho que segurava ao professor que estava encostado na parede ao canto da sala, assistindo as apresentações. — O dinheiro vem das ações. Sebastian tinha uma boa poupança que seu pai rico deixou para ele. Eu, infelizmente, não posso dizer o mesmo.
Eddie Foster revirou os olhos, ameaçando o afilhado com as folhas de papel que segurava enquanto os dois garotos passavam correndo de volta aos seus lugares.
— Tudo bem. Próximos — chamou o professor, ajustando os óculos com um ar exausto, mas satisfeito.
— Sr. Foster, Drew ainda não…
— Estou aqui! — anunciou Drew, parado na porta, atraindo os olhares de toda a turma. Ele abriu os braços dramaticamente. — Naturalmente, não quis interromper os nobres colegas, então esperei educadamente aqui na porta por... 20 minutos.
, sentada no meio da sala, soltou um suspiro que parecia misturar alívio e exasperação. Drew quase esperava que ela jogasse um livro na direção dele, mas, para sua surpresa, ela apenas sorriu. Talvez fosse a primeira vez na vida que não queria matá-lo por se atrasar.
— Apenas entre logo antes que eu te dê a detenção que você merece, Starkey — disse Eddie Foster, cansado.
Drew obedeceu, entregando o trabalho para , que precisou de menos de um minuto para começar a apresentação.
— Então, ficamos com a gravidez surpresa — começou ela, a voz firme e clara, embora os olhos ainda brilhassem com a empolgação do momento. — Não é nada fácil para um casal que mal saiu da faculdade sustentar uma criança.
— É por isso que optamos por não ter festa de casamento nenhuma — completou Drew, com um tom de falsa seriedade. — Investimos tudo o que tínhamos em coisas para o bebê, que o Sr. Foster pode encontrar detalhadas no Anexo 1. Dizer tudo seria extremamente tedioso, mas acho que a única coisa que vocês precisam saber é que bebês são caros. Então, pessoal, usem camisinha.
— Drew... — advertiu o professor, tentando manter a compostura enquanto o resto da turma ria.
— Isso é literalmente educação sexual, mas tudo bem. Sejamos conservadores — rebateu Drew, levando um empurrão discreto de .
— Também demos entrada em um apartamento na rua principal — continuou.
— A planta está no Anexo 2, e o valor do empréstimo e a forma de parcelamento no Anexo 3.
— Um empréstimo não é difícil quando se tem um emprego estável. Eu sou advogada, e Drew é arquiteto — continuou , com um sorriso satisfeito que ficou ainda maior quando viu o professor balançar a cabeça positivamente.
— Vamos terminar de pagar a casa em 15 anos, mas o carro já é nosso — completou Drew. — Uma minivan para Olivia -Starkey caber. E quem sabe mais alguns outros.
arqueou as sobrancelhas para Drew como se ele fosse louco, antes de voltar-se para os colegas de classe com uma voz divertida ao dizer:
— Não há absolutamente nenhum plano para isso!
Foster sorriu abertamente, satisfeito pelos alunos terem entrado tanto no espírito da pesquisa.
— Não vamos ser milionários como Sebastian e Benji nem nada, mas vai dar para sobreviver em empregos que gostamos. Acho que a vida é sobre isso, não é?
— Podemos te emprestar dinheiro, , família é para isso — acrescentou Sebastian.
— Para duas pessoas que não queriam nem mesmo trabalhar juntas, vocês fizeram um ótimo trabalho. Podem se sentar — disse Eddie Foster, finalmente. Quando passou por , acrescentou em um tom mais baixo: — Parece que você vai conseguir o boletim perfeito no final das contas, .
A garota sorriu ainda mais, quase flutuando de volta para o seu lugar. Ela olhou Drew, sorrindo, que logo correspondeu. Ele sentiu o olhar questionador de Sebastian em si, mas ignorou. Como poderia explicar que depois de anos de uma relação de gato e rato, eles estavam bem? Pior, como poderia explicar que, para ele, isso nunca realmente existiu?
Quer dizer, era mesmo irritante e mimada. Ela também era meio certinha demais às vezes, embora isso parecesse errado de se dizer depois dela ter vandalizado a casa do pai dele ao seu lado. Ela definitivamente era o gato, e Drew era com certeza o rato que nunca quis escapar dela.
— Estou realmente satisfeito com o que vocês me trouxeram hoje. Foram ótimos trabalhos, de verdade — disse o professor, percorrendo a sala com o olhar. — Sei que nem todos precisavam da nota, mas vocês se esforçaram, e isso me deixou feliz. Vocês foram uma boa turma.
— Sr. Foster, o senhor está ficando sentimental demais! — provocou um aluno do fundo, arrancando risadas da turma.
— Talvez eu esteja mesmo — admitiu ele, sorrindo de canto. — Mas acho que é permitido, não é? Afinal, essa é a última aula de Estudos Sociais da vida de vocês.
Ele olhou para o relógio, a sala mergulhada em um silêncio incomum.
— Bom, o sinal já vai tocar. Antes disso, quero que saibam que vocês fizeram um bom trabalho, e eu desejo toda a sorte do mundo nessa nova etapa da vida de vocês. A universidade pode parecer intimidadora no início, mas sei que todos vocês vão se sair bem.
Quando Eddie terminou, o sinal tocou, ecoando pelo corredor. Pela primeira vez, ninguém correu para a porta. O professor soltou uma risada baixa, como se estivesse genuinamente emocionado.
— Pela última vez, então, pessoal... Turma dispensada!
Drew queria falar com agora, mas todos se levantaram de uma vez. Tudo piorou quando Joshua apareceu na porta com o aviso que todo mundo queria ouvir:
— As listas estão no mural!
Algumas das universidades próximas de Riverside, como a UPenn, Penn State e até mesmo a de Maryland, costumavam enviar as listas de alunos aprovados para o diretor. Todo mundo já havia recebido o e-mail e a carta a essa altura, ninguém estava mais nos anos 60, mas o costume continuou. Coisa de cidade pequena, provavelmente. A questão é que todo mundo corria para as listas de qualquer forma, e foi o que aconteceu. Drew tentou acompanhar no meio da confusão, mas em segundos ela desapareceu da sua vista.
Sentiu um leve desespero tomar conta de si. Sabia que não era questão de vida ou morte. Nem sabia se tinha o menor interesse nele. Afinal, ela poderia só ter ido a Nova York com ele por pena, ele poderia, sim, ser rejeitado. Mas seus sentimentos estavam presos dentro dele há tanto tempo que sentia que poderia ficar doente se não os colocasse para fora. Queria que ela soubesse. Mais do que tudo, Drew queria que soubesse.
Drew já estava na porta quando a voz de Sebastian o parou. Quase que imediatamente, Drew congelou no lugar. Quando se virou, Reagan e Sebastian vinham até ele, animados.
— Starkey!
Drew começou a falar, mas a visão dos seus dois melhores amigos o parou. A primeira coisa que notou foi o que eles vestiam: suéteres que, com certeza, não estavam usando antes da aula. Reagan exibia um preto com letras grandes em vermelho que diziam "STANFORD". Sebastian, por sua vez, tinha um de cor marrom com "BROWN" estampado no peito.
Os olhos de Drew quase saltaram do rosto.
— Vocês estão de brincadeira! — ele exclamou, puxando os dois para um abraço apertado. — Por que não me disseram antes?
— A gente combinou de esperar a aula acabar — explicou Reagan, rindo.
Drew olhou ao redor e percebeu o que antes lhe escapara: vários alunos estavam vestindo suéteres das universidades para as quais haviam sido aceitos. Na entrada, um grupo animado se reunia ao redor das listas.
— Não acredito que você vai para a costa oeste — a mão de Drew repousava no ombro de Sebastian enquanto a outra alisava delicadamente a cabeça de Reagan. Estavam todos tão felizes que Reagan nem mesmo se importou que o toque de Drew pudesse desfazer os cachos de seu cabelo. Ele se virou para Sebastian, sentindo um amor muito grande inunda-lo. — E você! Brown! Sabia que você conseguiria, Seb, sabia mesmo. Parabéns, de verdade.
Drew deu mais um abraço nos dois antes de se afastarem.
— Por que você está tão emotivo hoje? Isso é esquisito — Sebastian comentou, enquanto caminhavam pelo corredor. — Até parece que você...
Sebastian parou no lugar.
— Você passou?
Reagan encarou Drew também, que abriu um sorriso culpado.
— Você passou? Onde?!
O sorriso dele se alargou com a ansiedade dos amigos. Sabia o quanto eles estavam torcendo por ele desde o início do ano letivo e o quanto eles não queriam deixá-lo para trás. Drew abriu a boca para responder. Ele queria contar para Sebastian que eles só precisariam se despedir de Reagan, já que Brown e RISD ficavam a meros cinco minutos de distância. Mas antes que pudesse soltar uma palavra, uma voz fina o interrompeu, seguida de um puxão em seu braço.
— Gatinho, seu nome está ali! Você vai para Maryland comigo! — Madison praticamente gritou, agarrada ao braço de Drew.
Sebastian quase engasgou, ignorando completamente o fato de que agora Madison estava pendurada no pescoço de Drew como se fosse um cachecol.
— Você passou em Maryland?
— Starkey! Mandou bem!
Drew começou a balançar a cabeça, tentando explicar. Ele queria esclarecer tudo, mas as vozes de Reagan, Sebastian e Madison começaram a se misturar de tal forma que nem sabia mais por onde começar. Até que a viu.
.
Ela estava parada a poucos metros de distância, observando a cena. Pela primeira vez em muito tempo, Drew notou que ela não usava a mochila rosa de sempre. Ele se perguntou, distraído, se a lata de spray tinha manchado o tecido como manchara suas mãos no outro dia. parecia prestes a dizer algo, mas quando percebeu o olhar de Drew nela, virou-se bruscamente e começou a sair.
— ! — Drew chamou, mas a voz dele soou fraca, se perdendo em meio ao barulho do corredor.
Ele afastou os braços de Madison de si e deu um passo para longe.
— Não vou para Maryland, mas eu explico melhor depois, preciso ir!
Sem esperar resposta, ele disparou atrás de . Ainda ouviu Sebastian exclamar:
— Mas que porra foi essa?
E Reagan rindo enquanto dizia que precisava contar o que aconteceu no dia anterior.
Drew não se importou. Naquele momento, só importava alcançá-la. Estava quase desistindo quando avistou os cabelos loiros de virando no último corredor em direção ao estacionamento. Drew se amaldiçoou mentalmente por não ter trazido o skate naquele dia — o único dia em que realmente precisava dele. Ele correu mais rápido, sentindo o coração disparar, até que finalmente a alcançou antes que ela saísse do prédio. Ele segurou seu braço, a puxando para ele.
— , por que saiu correndo?
Ela tentou parecer indiferente, mas não conseguiu realmente.
— Aconteceu uma emergência, então tenho que ir para casa.
— Posso te levar — Drew sugeriu, mas balançou a cabeça rapidamente.
— Não, eu posso ir sozinha.
Ela tentou se afastar, mas Drew segurou seu braço de novo.
— …
Desta vez, ela o puxou com mais força, a voz cortante como uma lâmina.
— Pare de agir como se fôssemos amigos!
Drew recuou. Como se isso fosse exatamente o que queria, ela se virou novamente, indo para o estacionamento.
A chuva começou a cair com força quando ela alcançou o estacionamento, mas não parecia ligar. Drew piscou, confuso com o que estava acontecendo. Sem pensar nem por um minuto, ele a seguiu, sentindo os pingos o molharem por inteiro.
— !
Ela parou de repente, se virando para encará-lo no meio do estacionamento. Os dois estavam completamente molhados, mas o mundo parecia ter desaparecido ao redor deles.
— Por que você está fazendo isso ser a maldita festa do Joshua de novo?
piscou, confusa, mas não disse nada. O peito dela subia e descia rapidamente, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Por dentro, ela sentia o coração se partir em mil pedaços. Sempre pensou que era uma garota corajosa, mas talvez não fosse.
Depois que Drew foi embora, seu coração se acalmou, e quando isso aconteceu, seu cérebro pôde tomar o controle de volta. Sabia que estava apaixonada, mas também sabia que Drew nunca iria gostar dela. Poderiam ser amigos, claro, mas sabia que não passaria disso. Por um momento, isso pareceu o bastante.
Quando acordou e viu o e-mail de Yale na sua caixa de entrada, ela sorriu e bloqueou o celular. Depois de tudo que passaram, depois de Drew ter sido a pessoa que a consolou depois de Harvard, ela queria que ele fosse a primeira a saber que ela iria para Yale. Até mesmo quando o viu correndo para apresentar o trabalho que ele tanto se esforçou para fazer, tudo isso a fez pensar que, sim, ela queria ser amiga de Drew. Queria simplesmente tê-lo por perto de verdade depois de tanto tempo o evitando.
Mas então, quando a apresentação acabou e ele abriu um sorriso largo e feliz enquanto passava a mão pelo seu cabelo que mal começara a crescer de verdade e sentiu seu coração disparar, ela percebeu que estava perdendo a noção da realidade novamente. Como poderia ser amiga dele se a cada movimento que ele fazia, sentia que poderia derreter?
Então, depois da aula, ela correu. Sabia que ele tentaria falar com ela. Sabia que Drew traria Sebastian e diria que tinham feito as pazes, como se isso fosse um marco incrível e agora todos seriam grandes amigos — mesmo que isso não importasse mais, já que estavam indo embora. Ela estava prestes a desaparecer antes do fim do dia, mas os viu no corredor. A forma como Madison o agarrou fez querer vomitar. A forma como Madison gritou que eles iriam para Maryland juntos fez querer desaparecer. Não só por ciúmes — embora isso também a queimasse por dentro — mas porque Drew havia entrado na Universidade de Maryland, e era egoísta o suficiente para não conseguir ficar completamente feliz por ele. Ela era horrível mesmo.
Ele estaria a seis horas de distância dela.
E com Madison.
Foi demais. Ela só queria ir embora. Estava prestes a fazer isso, mas ele a seguiu, e agora ambos estavam no meio da chuva.
— Está chovendo, por que você simplesmente não vai embora?
— Não temos mais 14 anos, . Qual é o seu problema? — Drew rebateu, ignorando a chuva que os encharcava e se aproximando dela.
— Meu problema? Qual é o seu problema? — ela devolveu, com um toque de indignação. — Foi você que estragou tudo na festa do Joshua!
Drew franziu o cenho.
— Do que você está falando?
— Como se você não soubesse!
Drew deu mais um passo à frente, os olhos fixos nos dela.
— Nós conversamos a noite inteira. Sebastian e Reagan estavam beijando garotos, Louis estava tentando roubar cerveja, todo mundo estava se divertindo como queria, mas nós dois ficamos juntos, . A noite inteira. — Drew falou com tanta emoção que se sentiu desarmada. A forma que ele olhava para ela a fazia pensar que Drew havia lembrado dessa noite todos os dias desde que aconteceu. — E então, você sumiu. Foi embora sem dizer nada, e no dia seguinte fingiu que nada aconteceu. Na verdade, você passou a me tratar ainda pior.
balançou a cabeça, tentando ignorar o nó crescente em seu estômago.
— Eu fui ao banheiro e, quando voltei, você estava dizendo ao Joshua o quanto eu sou insuportável!
Drew riu, alto, sem humor.
— Princesa, você é mesmo maluca!
sentiu a pequena faísca de irritação correr pelo seu corpo, aquela que surgia e desaparecia do nada, que apenas Drew conseguia causar. Ela não estava maluca e poderia provar. Ele podia se lembrar de uma parte daquela noite, mas ela se lembrava de outra muito bem também.
— Eu ouvi, idiota! Josh estava fazendo piada sobre o quanto estávamos próximos, disse que finalmente tínhamos nos entendido e queria saber quando seria o casamento. E você riu! Você disse: “Você já viu a ? Não fala besteira. Nada aconteceria em um milhão de anos.”
A expressão de Drew mudou, como se ele finalmente se lembrasse de verdade. Isso fez com que quisesse continuar.
— Você falou como se eu tivesse uma doença, e, quer saber? Tudo bem. Eu também não era sua maior fã. Mas eu só tinha 14 anos, Drew, ouvi isso, fui embora e tentei te dar o troco já que eu era tão insuportável assim, coisa que você correspondeu, aliás. Eu não sei porque você fica falando…
parou de falar quando Drew a interrompeu com uma risada. Uma risada alta e genuína. Ela franziu o cenho, confusa. Ele estava rindo dela? Ele, que estava falando como se uma festa de adolescentes tivesse sido o evento mais importante de suas vidas, estava rindo dela? A incredulidade a fez dar um passo para trás, pronta para ir embora, mas foi interrompida por algo ainda mais impensável.
— Meu Deus, princesa… eu gosto tanto de você — disse ele, com um sorriso estampado no rosto, como se aquelas palavras fossem a coisa mais natural do mundo.
congelou. Não disse nada, apenas ficou ali, parada, olhando nos olhos azuis de Drew, esperando que ele dissesse algo que provasse que ela não estava imaginando coisas.
Quando Drew falou novamente, sua voz era doce, mas carregava uma firmeza que a fez tremer. Ele deu um passo à frente.
— “Nada aconteceria em um milhão de anos, Joshua. é boa demais para mim.”
Agora ele estava tão perto que o barulho incessante da chuva de verão parecia um ruído distante, algo irrelevante.
— Foi isso que eu disse para ele, .
— Mas… — começou ela, hesitante, mas ele a interrompeu novamente.
— Você não ouviu tudo. Tá tudo bem, princesa, nem todo mundo sabe ser enxerido — disse ele, com humor leve, tentando aliviar a tensão que sentia no peito. — No dia seguinte, quando você continuou a me ignorar e provocou brigas, eu pensei que você só tinha falado comigo naquela noite para não ficar sozinha.
Ele riu, mas o som era quase melancólico. Drew sentiu a mão coçar de vontade de tocar o rosto dela, mas não podia fazer isso. Não ainda.
— Antes disso, eu achava que você só pensava que me odiava porque nunca tínhamos conversado de verdade. Mas depois daquela festa… eu achei que o problema era eu. Achei que eu era simplesmente intragável pra você, e isso partiu meu coração, um pouco, confesso — admitiu, rindo outra vez, agora de forma mais suave, como se fosse uma lembrança ruim, mas já distante e que não importava mais.
— Drew, eu nunca… nunca odiei você. Eu… — começou , mas sua voz falhou.
Os olhos dela brilhavam como duas estrelas à beira de explodir, e Drew não conseguiu mais se conter. Já estavam ali, na chuva, com tudo desabando ao redor deles de qualquer forma. Ele não podia esperar mais. Com as duas mãos, segurou o rosto de , decidido.
— , você foi a primeira garota que eu achei bonita na vida — começou ele, a voz baixa e intensa. — Eu tinha sete anos, e tudo em que conseguia pensar era em como você era linda. Eu quis tanto que você me notasse que fiz a pior coisa possível: eu te irritei. E eu sei que você se lembra disso, porque você é tão linda quanto é rancorosa, princesa. E eu sempre fui egocêntrico demais para o meu próprio bem, então achei um absurdo você não ligar para mim. Porque todo mundo sempre ligou para mim.
não sorriu. Ou pelo menos achava que não. Ela mal conseguia perceber o que acontecia ao redor deles. Fora a voz de Drew e o toque delicado dele em seu rosto, o mundo parecia ter desaparecido.
— E aí nós crescemos, e nada mudou. Você continuou ficando cada vez mais linda, e só me dava atenção quando eu te irritava. E, por algum motivo, você começou a querer implicar comigo também.
Drew riu como se isso fosse um absurdo, mas havia ternura em cada palavra dele.
— Mas eu não me importava. Porque gostar de você… gostar de você foi a melhor parte da minha adolescência, — confessou com um suspiro calmo. — E eu não trocaria nada disso. Nenhuma das nossas discussões. Nenhuma das vezes em que você ganhou de mim em algum jogo idiota, e eu precisei fingir que você não é a coisa mais adoravel do mundo sendo uma má ganhadora.
Drew abriu um sorriso aliviado e apaixonado, observando o quanto o ouvia com atenção. Seus polegares acariciaram as bochechas dela devagar.
Ele fez uma pausa, os olhos presos nos dela, e completou com um sorriso pequeno:
— Não trocaria nenhuma das vezes em que fingi que meu carro quebrou só para que Sebastian nos trouxesse para a escola ao mesmo tempo. Porque, em algumas manhãs, tudo o que eu queria era te ouvir primeiro. Antes de qualquer outra coisa, eu só queria a minha dose de .
— Talvez eu trocasse as vezes em que outros caras também perceberam o quanto você é incrível e eu tive que agir como se não estivesse enlouquecendo.
sentia o coração bater como se quisesse atravessar sua pele, tão forte e descompassado que fazia ela esquecer que precisava respirar. O mundo inteiro parecia estar congelado naquele instante, e nem nos seus sonhos mais absurdos ela imaginaria Drew Starkey dizendo tudo aquilo para ela.
— Você não está brincando comigo, está? — perguntou, com a voz mais baixa do que pretendia.
Drew inclinou a cabeça, e deixou um riso fraco escapar.
— Brincando? , eu sou apaixonado por você desde criança.
— Você disse que eu era uma “irritante e insuportável sabe-tudo”.
— E você é, princesa. — Ele deu de ombros, como se fosse óbvio. — E essa é uma das suas qualidades mais encantadoras. Provavelmente o que eu mais gosto em você.
O corpo de realmente parecia ter esquecido como se respirava, porque o ar dela parecia não existir mais. Ela sentiu como se borboletas dançassem dentro dela e traziam as sensações mais malucas e indescritíveis possíveis, porque Drew Starkey estava apaixonado por ela.
E ela estava apaixonada por ele. Completamente e profundamente apaixonada por ele.
— Você é mesmo ridículo.
— Você está me rejeitando?
— Não, só constatando um fato. Que tipo de idiota deixa para se declarar quando estamos prestes a ficar mais de seis horas de distância um do outro?
Ele riu de novo, e a mão que estava no rosto dela deslizou para o pescoço. sentiu a boca se abrir levemente, um suspiro fraco escapando de seus lábios sem permissão. Aquela reação fez o corpo todo de Drew se arrepiar.
— Quem disse isso?
— Eu vou para Yale e Maryland fica a…
— Eu vou para Rhode Island — ele interrompeu. — Rhode Island School of Design, você conhece? Fica a menos de duas horas de distância de Yale. Infelizmente não é uma party school, mas acho que vai servir…
A cada palavra que ele dizia, o sorriso de foi aumentando.
— Que idiota — foi tudo o que conseguiu dizer depois de um tempo.
— Essa é a sua forma de dizer que gosta de mim também, não é, ?
assentiu.
— É — admitiu. — Você vai ter que se acostumar.
— Não se preocupe, eu já estou acostumado. Uma vida inteira e um dia — Drew disse, passando a língua entre os lábios. Seus olhos fitaram a boca de enquanto falava — ?
— Sim? — murmurou ela, observando a proximidade lenta do rosto de Drew e sentindo os dedos dele apertarem levemente seu pescoço, enquanto a mão que ainda repousava em seu rosto descia de encontro a sua cintura. Os olhos dele pareciam famintos por ela. Nunca alguém a olhou com tanto desejo assim.
Seus corpos estavam colados e ouvir sair da boca de Drew foi provavelmente a coisa mais bonita que ela pensou ter ouvido. Não sabia de onde ele havia tirado aquele apelido, mas isso não importava. Já era a palavra favorita dela.
— Sempre quis te chamar assim — ele falou. Seus lábios estavam quase se tocando e a antecipação seria capaz de matar os dois. — Vou te beijar agora, .
Ele disse, mas foi quem acabou com o espaço entre eles. Sentir suas línguas encostando uma na outra causou uma onda de eletricidade por todo o corpo deles, como se estivessem completamente conectados. sentiu a pressão que a mão de Drew fazia em seu pescoço e arfou baixinho enquanto dava alguns passos para trás, encostando-se em um carro qualquer e deixando que ele pressionasse seu corpo no dela.
não se incomodou com mais nada além do fato de estar nos braços de Drew Starkey, sentindo sua boca na dela e suas mãos percorrendo seu corpo de forma necessitada e rápida.
sempre odiou estar errada, e quase nunca admitia quando isso acontecia. No entanto, dessa vez, ela estava feliz por ter errado. A segunda-feira em que se atrasou para aula pela primeira vez no ano tinha sido a melhor segunda-feira da sua vida. O beijo parou devagar e Drew se afastou apenas alguns centímetros para que pudesse olhar para com seu sorriso ladino que fazia sua covinha esquerda aparecer. Drew mal podia acreditar que aquela garota estava realmente ali, com ele.
— Acho que Estudos Sociais virou minha disciplina favorita, princesa — ele murmurou antes de beijá-la de novo, dessa vez sem pressa alguma.
FIM!
Nota da autora: Let, minha amiga secreta, já te deixei uma mensagem enorme, então vou ser breve aqui! Espero muito que você se apaixone por esses dois e por essa bíblia como eu me apaixonei. Escrever pra você foi divertido, mágico e muito inspirador! <3
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