Codificada por: Polaris 👩🏻🚀
Última Atualização: Fanfic Finalizada.Tudo parecia extremamente escuro, como se eu estivesse no meio do nada. Provavelmente o vazio em meu subconsciente não sabia mais o que repassar durante meu sono.
Felizmente, não haveria nenhum sonho àquela noite.
A paz reinava em meu coração, uma vez que eu sentia a convicção de que aquela seria uma noite tranquila, sem sonhos e sem nenhuma surpresa desagradável que eu mesmo criaria em minha cabeça.
Até que eu escutei aquela voz.
Uma voz distante e suave, melodiosa.
Uma voz que eu nunca havia escutado antes.
Em casa, pelo menos.
Demorei alguns minutos deitado na cama para, enfim, criar coragem e me arrumar. Teoricamente, eu deveria correr para a faculdade e conversar com Doyoung sobre nosso seminário, mas não me apressei.
Assim como o esperado, me atrasei. Saí de casa faltando pouco mais de dez minutos para minha primeira aula do dia, sendo que o campus ficava a cerca de meia hora de distância. O trânsito então, nem se fala: estava fazendo jus ao horário de pico.
Sempre quando estamos com pressa, o mundo parece nos sabotar para atrasarmos ainda mais.
— Ainda bem que nosso seminário não é na primeira aula — escutei Doyoung cochichando assim que me sentei na cadeira ao seu lado na sala de aula.
A professora de Banco de Dados estava escrevendo algo no quadro negro enquanto a sala toda conversava em voz baixa, impossibilitando-a de me ver chegando de fininho pelo fundo da sala.
Ela sempre fazia a chamada no final da aula e, por isso, não me preocupei mais.
Assim que soltei os ombros e finalmente relaxei, virei para meu amigo e dei um sorriso amarelado.
— Perdão — respondi baixo, apoiando os cotovelos sobre a mesa. — Tive um sonho essa noite e acabei me atrasando.
Uma risada abafada soou atrás de mim e imediatamente reconheci o dono, virando-me para encará-lo. Yuta tombou a cabeça para trás antes de dizer:
— Você e seus surtos por sonhos.
Ergui os ombros, ainda sentindo-os tensos após o trânsito terrível de Seoul, e não disse nada. Ambos meus amigos sabiam a minha aversão à sonhos e, por isso, sempre me zoavam.
Nem mesmo eu entendia o porquê de tamanha repulsa por algo natural do ser humano, algo incontrolável. Eu apenas não gostava de sonhar, e isso desde pequeno.
— Mas você consegue se lembrar de algo? — escutei Doyoung ao meu lado depois de alguns minutos, encarando-me rapidamente antes de voltar a escrever em seu fichário.
— Não, isso que está me matando — resmunguei e segui com uma bufada alta.
Sonhar já era ruim, mas sonhar e não se lembrar era ainda pior.
— Romeu, cadê você? — chacoalhei a tigela para que a ração fizesse barulho e chamasse a atenção de meu gato desaparecido.
Apesar de ser um gato bem caseiro e não ser muito de seu feitio atravessar portões e entrar em outras casas, Romeu sempre sumia. Ele conseguia se enfiar em lugares completamente inesperados e eu sempre ficava procurando-o por horas.
E dessa vez não foi diferente.
— Aí está você! — alterei a voz assim que o encontrei totalmente encolhido entre o armário e a parede da sala, dormindo.
Optei por não acordá-lo, apenas deixando a tigelinha ao lado da pequena fonte de água, e fui para o meu quarto.
O dever me chamava em cima de minha mesa, com meu computador já ligado e meu caderno cheio de rascunhos e códigos, mas não consegui desviar a atenção de minha cama.
Os lençóis brancos completamente organizados e bem alinhados, os travesseiros empilhadinhos… O sono parecia gritar por todo o meu corpo, principalmente depois da última noite.
Inconscientemente, segui na direção do colchão, jogando-me contra o mesmo e revisando mentalmente as coisas que eu ainda precisava fazer antes de descansar.
Terminar o trabalho de Logística, preparar a base do seminário de Sistemas Operacionais, reler minha parte do trabalho em grupo e enviar para a Kessy…
Nenhum esforço foi o suficiente quando meus olhos se fecharam e minha mente rapidamente se transportou à outro lugar além da minha imaginação.
💭
Noite 1
Acordei em cima de uma toalha de piquenique. Meus olhos se abriram vagarosamente enquanto eu assimilava as imagens que se formavam – que eu sabia muito bem serem frutos da minha imaginação.
— Você não parece muito feliz — escutei a mesma voz, fazendo-me olhar desesperadamente para todos os lados.
Nada.
— Você não pode me ver — a suposta garota avisou dando um risinho no final. — Mas eu estou aqui.
— Por que não posso te ver? Você é uma imagem da minha consciência — resmunguei em frustração.
— Não sou fruto dos teus sonhos, sou uma pessoa real.
Pisquei algumas vezes, sem entender. Como ela seria uma pessoa real? Era impossível, eu nunca tinha escutado aquela voz antes.
Levei uma de minhas mãos até minha perna, tentando beliscar-me para garantir se aquele era um sonho ou não.
— Você sabe muito bem que está sonhando — pude imaginar a dona da voz revirando os olhos apenas por seu tom de voz.
Não senti o beliscão.
— Acho que estou louco — murmurei para mim mesmo, acreditando que ela não poderia escutar. — Eu quem controlo meus próprios sonhos, não? Então eu ordeno que você apareça, seja onde quer que você esteja.
Uma risada sarcástica soou em meus ouvidos, vindo de todos os lados. Eu estava, definitivamente, enlouquecendo.
— Por hora, você não comanda em nada por aqui. Mas fique tranquilo, serão dias incríveis até que você finalmente tenha a honra de me conhecer.
💭
— Mais ou menos isso — abaixei minha cabeça, bagunçando meu penteado em frustração.
Aquela era uma das poucas vezes em que eu me lembrava do sonho, de cada detalhe. Era como se cada palavra que a voz misteriosa dissera tivesse sido cravada em minha pele, como uma tatuagem.
— Não sei o que fazer, Doyo.
💭
Noite 2
— Sério? — resmunguei assim que percebi onde estava. O mesmo cenário da noite anterior. — Por isso sempre odiei sonhos.
— Você parece ser bem carrancudo — a voz melodiosa soltou uma risada baixa, me fazendo revirar os olhos. — Quando você estiver de bom humor, eu penso em aparecer.
Respirei fundo antes de começar a andar pelo lugar, uma vez que eu não tinha muito o que fazer mesmo. Passei pela mesma toalha de piquenique, estendida no mesmo pequeno morro onde eu havia despertado ontem. Me agachei para tocá-la, sentindo o tecido de forma extremamente leve em meus dedos.
— Sabe que isso aí não é real, né? — ela voltou a falar.
— Assim como você?
— Já te disse que sou real — seu tom de irritação me alegrou. Pelo menos não era apenas eu que me irritava em meu próprio sonho. — Mas essa sensação de toque é porque você está tocando em seu próprio lençol.
Minhas sobrancelhas se ergueram, deixando-me ainda mais inquieto. Não parecia uma loucura, principalmente depois do meu teste se eu sentia o beliscão ou não.
Decidi tentar novamente.
— Não vai desistir, não? — a desconhecida soltou uma risadinha baixa.
— Vai ficar nessa de “garota misteriosa” até quando? — olhei para o céu, como se estivesse falando diretamente com ela.
— Até você merecer me ver.
Noite 3
— Lá vamos nós.
— Você parece já estar se conformando com essa realidade — ela riu.
— Não tenho muita opção — ergui os ombros, fazendo-a rir ainda mais alto. — Mas então, já que eu não sei como você é, muito menos o que você é, poderia me dizer se você tem um nome?
— Hm… — ela fez um som com a garganta. — Me chame de .
— Certo, — deixei um pequeno sorriso escapar por meus lábios. Seu nome era extremamente fofo. — O que você é?
— Já te contei meu nome hoje, deixa para amanhã.
Noite 4
— Ok, agora você pode me dizer o que você é? — foi a primeira coisa que disse assim que despertei em meu sonho. O cenário continuava o mesmo, apesar de, diariamente, eu despertar em lugares diferentes.
— Achei que fosse se esquecer.
— Antigamente eu não costumava me lembrar de meus sonhos, por isso sempre os odiei tanto — comentei sem me atentar que estava me abrindo para uma desconhecida. — Mas, ultimamente eu tenho me lembrado de cada detalhe.
Pude escutar uma risada bem baixa e tímida, como se a minha pequena confissão tivesse tocado . O sorriso inevitável apareceu em meus lábios outra vez, mas não me importei naquele instante.
Por mais irônico que aquilo soasse, eu não me sentia mais tão incomodado assim de estar sonhando.
— Não vai me falar? — perguntei depois de algum tempo, ouvindo novamente sua risada.
— Sou uma anja.
💭
— Preciso de uma ajuda — avisei assim que me sentei ao lado de Doyoung no horário do almoço, fazendo-o dar um pequeno pulo da cadeira.
— Que diabos…
— Eu continuo sonhando com aquela garota.
Doyoung me encarou por alguns segundos, terminando de mastigar sua comida e virando para mim pouco tempo depois, pigarreando antes de começar a sua esperada onda de perguntas.
— Faz quanto tempo isso?
— Alguns dias, acho que uns quatro.
— E ela já apareceu? Ou continua sendo apenas a voz dela?
— Só a voz… — percebi que minha fala soou mais baixa, como um resmungo. O fato de eu não saber qual era a aparência de realmente me incomodava mais do que eu queria.
Quer dizer, eu tinha o direito de saber como ela se parecia, não?
— Pode ser que ela tenha alguma voz que tenha te marcado na infância, sei lá — ele deu de ombros, parecendo tão confuso quanto eu. — Não entendo muito de sonhos, mas até onde eu sei, nós não conseguimos criar o rosto de ninguém, muito menos uma voz desconhecida. Você precisa ter escutado-a em algum lugar.
— Certo — agradeci, sentindo meu semblante desanimado ficar cada vez mais evidente. As informações de Doyoung só me deixavam ainda mais confuso. — Alguma hora eu descubro mais alguma coisa.
Doyoung assentiu antes de se virar novamente e voltar a almoçar, e eu o segui. Eu sabia muito bem que aquela não era apenas uma mera voz que estava guardada no fundo da minha memória, mas eu não conseguia entender o que estava acontecendo.
Por que eu estava sonhando com uma anja?
— Cadê o Yuta? — perguntei depois de algum tempo, notando a ausência de meu outro amigo.
Doyo mastigou mais algumas vezes antes de responder:
— A irmã dele veio para cá, daí ele ficou lá com ela.
💭
Noite 5
— Como funciona?
— Como assim? — sua voz soou confusa.
— Como é esse seu negócio de anjo, o que você faz?
— Ah… — pausou por algum tempo, talvez revisando as palavras que iria dizer. — Eu sou uma anja dos sonhos.
— E o que você faz exatamente?
— Cuido dos sonhos, ué — ela riu, fazendo-me acompanhá-la.
Acho que eu estava rindo demais para qualquer coisa.
— Chega de perguntas — me interrompeu antes mesmo que eu dissesse alguma coisa.
Senti meus ombros murcharem, mas aproveitei para conhecer ainda mais o ambiente que parecia não ter fim.
Vez ou outra, eu e conversávamos sobre assuntos banais de minha vida, mas nada que desse qualquer dica sobre o que ela fazia ou quem ela realmente era.
Dia após dia, eu me sentia ainda mais intrigado em descobrir.
Noite 6
Assim que abri meus olhos e dei de cara com o mesmo sonho de sempre, decidi não dizer nada, apenas encarando o ambiente.
Comecei a perceber que eu estava gostando de lá. Era um lugar aconchegante e agradável, onde eu me sentia bem e me fazia repensar sobre muitas coisas.
Como, por exemplo, por que haviam alguns locais tão isolados e visualmente tristes?
— Esse sonho que você vem vivendo ultimamente não se desprende de suas raízes — escutei a voz de e continuei encarando o horizonte. — Você nunca gostou de sonhar, então isso fica registrado em alguns pontos daqui.
— Como você sabia o que eu estava pensando?
— Oras, Jaehyun, eu estou dentro da sua mente.
Um riso fraco e nasal saiu de mim, fazendo-me respirar fundo antes de tomar coragem e dizer:
— Não acha que eu já tenho o direito de te ver?
Ela não respondeu.
— Digo… — comecei a sentir minha voz falhar levemente. — Seis noites que te escuto falar e falar, mas nunca pude te ver, não é meio injusto?
O silêncio prevaleceu.
💭
— Yuta, você conhece alguém que gosta muito de ler sobre sonhos e essas coisas? — perguntei no desespero depois da nossa última aula do dia.
O silêncio angustiante de permaneceu até eu acordar hoje pela manhã, deixando-me angustiado pelo resto do dia.
— Minha irmã vive falando dessas coisas, então eu sei um pouco sobre — ele respondeu calmo, arrumando o seu notebook. — Por quê?
— Eu venho sonhado o mesmo sonho há alguns dias e é com uma garota que nunca vi na vida — comecei já falando tudo, não querendo rodear o assunto.
Yuta parou antes de se virar e, com a expressão espantada, perguntar:
— Você está sonhando?
— Sim, estou sonhando o mesmo sonho há dias e quero saber quem é essa garota.
— Eu–
— Se você souber qualquer coisa, a mínima que seja, já vai me ajudar muito — eu o interrompi. — Estou em completo surto.
— Eu percebi — respondeu um pouco mais ríspido, provavelmente porque eu havia o interrompido, então me calei. — Cara, talvez essa desconhecida possa ser o amor da sua vida, ou uma garota idealizada em seu próprio subconsciente e por isso você não consegue esquecê-la quando acorda.
Pisquei algumas vezes tentando raciocinar tudo que ele havia dito. Parecia que Yuta falava em outra língua comigo.
— Digo, esse sonho pode estar sendo um sinal para você, não é algo aleatório que sua mente criou — ele continuou, tentando melhorar as palavras. — Pensa que pode ser algo sobrenatural acontecendo, mas não necessariamente algo ruim.
— Certo… — resmunguei ainda sem entender, mas com um pequeno raio de esperança. — Acho que isso pode me ajudar, obrigado.
💭
Noite 7
— ?
— Oi… — a voz soou mais baixa do que o normal.
— Me desculpe por ontem, eu não queria te pressionar a nada.
Enquanto ia para casa depois de conversar com Yuta, pensei exatamente nas coisas que poderia fazer em meu sonho. Se ele fosse meu, eu poderia criar coisas se eu pensasse nelas, certo?
De qualquer forma, eu precisaria testar.
Fechei meus olhos, sabendo que não me responderia mais, e idealizei algumas rosas. Mas não rosas comuns, rosas negras. Não havia um motivo específico para aquilo, eu só queria que fosse algo diferente.
Assim que meus olhos se abriram, ali estava o buquê.
Estiquei a mão para pegá-lo no ar, puxando-o para perto e sentindo a textura esquisita em meus dedos.
— Fiz esse buquê para você — estiquei aos céus, como se entregasse à .
— Estou atrás de você.
A voz não soou de cima. Na verdade, o som pareceu vir de uma pessoa que estava atrás de mim, levemente distante.
Senti meu coração palpitar forte antes de eu respirar fundo e me virei, dando de cara com .
Cabelos brancos, extremamente brilhantes e claros que harmonizavam com sua pele também muito clara, com as bochechas pouco rosadas. E asas. Lindas asas de penas brancas saíam detrás de si.
— Você… — eu tentei encarar seus olhos, mas era como se ela estivesse vendada. — Consegue me ver.
Ela assentiu, parecendo tímida de estar realmente diante de meus olhos.
Caminhei lentamente em sua direção, tentando acalmar meus batimentos cardíacos para que ela não percebesse tamanho nervosismo. Ela estava ali, depois de quase uma semana sem poder vê-la.
E ela era ainda mais linda do que eu havia imaginado.
Estendi o buquê em minhas mãos em sua direção, deixando que ela pegasse e sentisse o cheiro das rosas. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios e aquilo fez meu coração explodir.
Eu não conseguia acreditar que estava daquela forma apenas por estar vendo-a.
Em um impulso pré-planejado, projetei meu corpo em sua direção e coloquei uma das mãos em sua nuca, trazendo-a para mais perto. não resistiu.
Como numa resposta silenciosa, aproximei meu rosto do seu e encostei nossos lábios em um selar singelo. Mas aquilo já fora o bastante para me fazer perder a cabeça.
Com muito custo, me afastei para encará-la.
— Eu costumava odiar sonhos — comecei a dizer baixo. — Mas agora que você é o meu, talvez eu não os odeie tanto assim.