Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 24/11/2024— Entra. — Tirei o óculos, aproveitando para descansar minha vista um pouco da tensão de estar totalmente focada no mesmo croqui há horas. Ergui o rosto para a porta.
— ? — Kiara, minha assistente, colocou apenas a cabeça no vão. — Tem uma visita para você.
— Se for alguma noiva querendo contratar nossos serviços, pode agendar um horário. Essa semana não estamos mais fazendo orçamentos. Estou sem as meninas, lembra?
— Sim. Mas essa pessoa está pedindo para ver você em específico — ela insistiu, sendo um pouco cautelosa. — Eu não teria vindo até aqui, se ele não tivesse insistido.
— Ele? — estranhei. — Acho que é a primeira vez que um noivo nos procura.
— Ele não parece muito bem um noivo.
— Qual o nome dele? — perguntei, deixando o óculos em cima da mesa e abrindo o laptop, a fim de ver na câmera.
— Então… Ele não quis me dizer, mas insistiu para eu te chamar. Disse que sabia que você estava aqui e precisa muito falar com você.
Arqueei as sobrancelhas e a deixei em espera, digitando a senha no aplicativo de segurança. Entretanto, o sistema estava fora do ar. O que fez a história ficar mais cabeluda ainda.
— Certo, diga que já estou indo. Peça para esperar aqui em cima, se ele ainda estiver lá embaixo.
Kiara assentiu e fechou a porta.
Tirei o lápis que prendia meu cabelo em um coque e passei as mãos no rosto para tentar parecer menos cansada. Fosse o maluco que fosse, eu ainda precisava manter a imagem da empresa e o meu nome como designer de vestidos de noiva. Ao me levantar da cadeira e dar a volta na mesa, respirei fundo; tratar com pessoas era a especialidade de Ariana ou Dinah, as duas atendiam aqueles que tinham questões além do que as nossas recepcionistas podiam responder. Mas como as duas não estavam na cidade por conta de um evento externo, eu teria que me sacrificar.
Ajustei meu vestido ao corpo e abri a porta, caminhando em paz pelo corredor, até me virar no final e ver, na sala de espera, um homem de costas, virado de frente com o vidro que permitia ver a parte debaixo, o saguão de parte da loja de vestidos e itens para casamentos. O escritório, a parte mais administrativa, ficava em cima, como um mezanino.
Senti um arrepio correr meu corpo ao reparar demais nas costas cobertas por uma jaqueta jeans escura. O corte de cabelo era familiar até demais para o tanto de tempo que aquilo se fixou em minha memória e o cheiro do perfume trouxe lembranças distantes muito à tona.
— Com licença. O senhor me procura? — chamei, levando as mãos para trás do corpo, segurando uma à outra, que de repente estavam trêmulas.
Quando ele se virou, engoli o bolo seco na garganta.
— Sim. E que bom que te encontrei — sorriu, simpático, como se fosse a minha pessoa favorita no mundo. Cruzei os braços e ele acompanhou cada movimento com o olhar. — Como você está, ?
— Estou bem — respondi de maneira restrita. — Como posso te ajudar?
A porta do elevador se abriu e, antes que ele pudesse dizer algo, uma moça de aparência bem jovem saiu muito animada e correu até ele, pulando em seus braços e ficando de costas para mim. Ela espalmou o peito dele com as duas mãos e se inclinou toda para poder dizer:
— Estou decidida, Sammy! É daqui mesmo que eu quero o vestido pro casamento.
Eu já estava bem acostumada com noivas histéricas, empolgadas demais em busca do vestido perfeito para o momento perfeito, mas ver um ex com sua noiva me procurarem era a primeira vez. Então eu ri nasalado, piscando os olhos mais lentamente do que o normal e virei o rosto, descrente de como eu poderia ter sido tão odiada por qualquer que fosse o salvador acima.
— Então você quer que eu faça o vestido da sua noiva… — afirmei, tomando a atenção dos dois.
— Não, não é-
— Ah, meu Deus! Que falta de educação a minha! — ela se virou, vindo até mim. — Muito prazer, você deve ser a incrível designer que fez todos aqueles vestidos maravilhosos que estão expostos lá embaixo! Eu sou a Bonnie, a noiva.
Bonnie me amassou em um cumprimento caloroso e eu mal tive a chance de manter a seriedade com apenas um aperto de mão. Olhei por cima dos ombros dela com os meus olhos semicerrados, quase fazendo-o sumir enquanto ele tinha o rascunho de um riso preso no rosto.
Detestável como cinco anos atrás.
— Sammy disse que você é uma excelente opção para o casamento. Nós já temos a empresa que está organizando, mas ele insistiu que eu fizesse o vestido com você — Bonnie completou ao se afastar e voltar para o lado dele, agarrando-se em seu ombro.
— Ah, sim… E quando é o casamento? — perguntei, me mantendo profissional e evitando o contato visual com ele.
— Daqui a três meses.
— Acredito que não tenho disponibilidade para esse período. — Me alegrei por dentro pela verdade dita. E, mesmo que não tivesse minha agenda cheia pelos próximos oito meses, eu também diria o mesmo. — Sinto muito.
Ela murchou o sorriso, olhando para ele.
— Nem se nós pagarmos a mais? — perguntou, manhosa. — Por favor…
Eu ia responder, mas o elevador abriu novamente e dele saiu um homem alto e vestido sob muita elegância. Bonnie se desprendeu de e foi até o recém-chegado.
— Amor, ela não tem disponibilidade — disse, desesperada. — Eu disse que deveríamos ter vindo antes!
— Podemos encontrar outra pessoa, querido — o homem disse.
— Mas eu quero ela. Schulter, a designer do vestido mais lindo da temporada passada! Está na revista de noivas! — Bonnie insistiu. — Aquela que o Sammy mostrou!
Olhei para e ele parecia prender um riso. Mas, controlando-se, ele apenas mimicou um “por favor”. A sorte dele é que noivas eram o meu ponto fraco — e a noiva não era dele.
— Eu posso tentar — pigarreei, tendo a atenção do casal. — Olha, hoje eu não consigo atendê-los com calma. Tenho uma reunião em alguns minutos. — Olhei no relógio, relaxando os braços que até então estavam cruzados. — Mas vocês podem agendar um horário com a Kiara para a próxima quinta e nós discutimos sobre o assunto. Tudo bem?
— Tudo ótimo! — Bonnite voltou até mim. — Você vai fazer uma noiva muito feliz! Ainda bem que você é amiga do Sammy! — Se adiantou, me dando um beijo na bochecha e indo até o noivo, puxando-o pela mão. — Vem, vamos descer logo! Quero ver outras coisas…
Tão rápido quanto sua chegada, o noivo de Bonnie foi puxado pela própria e ambos sumiram pelo elevador, deixando eu e sozinhos. Quando as portas se fecharam, olhei para ele, que sorria.
— Quem disse que eu sou sua amiga? — questionei.
— Então você ficou nervosa de eu estar te procurando para fazer o vestido da minha noiva? — ele zombou de mim em resposta.
— Cala a boca — revirei os olhos. — O que você e sua boca grande prometeram para a garota?
— Desculpe?
— Você só deve ter perdido uma grande aposta ou prometido algo para me procurar. Se não fez isso anos atrás, por que faria agora? — Me mantive com o tom furioso. — Sério? Desde quando sou sua amiga?
— E desde quando é minha inimiga? — ele devolveu com ironia. Entre nós dois tinha uma poltrona. Peguei a almofada e joguei nele. — Escuta, primeiramente muito obrigado. — Lentamente, ele se aproximou. — Bonnie é como uma irmã pra mim, nos conhecemos desde o jardim de infância. Ela foi a pessoa que eu mais senti falta quando fui para a Coreia. Por acaso eu acabei mencionando que… que…
Ele gaguejou e eu arregalei os olhos, jogando a segunda almofada.
— Seu infeliz! Você falou que se envolveu com uma designer de vestidos de noiva, Kim ? Por acaso você mencionou uma aventura de verão!
— Ei! Você não foi uma aventura, — ele falou mais alto que o meu estresse, segurando as duas almofadas. — Eu disse a ela que conhecia uma excelente designer e que poderia indicar. Mas demorei a encontrar você.
— Se você tivesse salvado o meu número, teria conseguido — acabei soltando em tom de desabafo e ele cerrou o olhar.
— … Já são cinco anos — disse mais baixo. — Eu realmente tentei te encontrar.
— Eu não nasci ontem, . — Respirei fundo, me aproximando e pegando as almofadas. — Você já conseguiu o que queria. Eu vou atender a Bonnie porque nenhuma noiva merece ter o sonho arruinado por causa de um melhor amigo egoísta. Agora pode ir, preciso trabalhar.
— — ele me segurou pelo cotovelo e eu fiquei com o corpo rígido, estava parada de perfil para ele —, com o casamento da Bonnie e o fim da turnê, eu peguei um período de férias. Vou ficar na cidade por um tempo. Podemos sair para aquele jantar que estou te devendo.
— Depois de cinco anos a dívida é esquecida pelo governo. — Me soltei e tomei certa distância. — Eu preciso voltar para a minha sala. Passar bem.
Dei as costas, indo direto para o meu metro quadrado. Ao entrar, encostei a testa na porta, querendo cair em briga com todos os extremos do meu corpo por estarem entorpecidos com o mínimo toque recebido. Ou em discussão com meu estômago por ser tão ingênuo e liberar as mesmas malditas borboletas que estiveram longe por muito tempo. Mas meu coração logo se concentrou e petrificou todo o resto, assim como ele já estava.