Revisada por vênus. 🛰️
Atualizada em: 31.10.2024
Escutava como um sussurro baixo. A voz masculina parecia longe demais. tentou reagir, mas não conseguiu se mexer.
Tudo estava preto.
— Levanta, por favor…
Eu não consigo, pensou, ainda batalhando mentalmente para mexer os seus pés. Começou a sentir o desespero tomando conta de si.
Precisava reagir.
— Você consegue me ouvir?
Consigo, gritava.
Ela sabia que estava acordada, mas era como se seu corpo não conseguisse obedecer sua mente.
— .
De repente, abriu os olhos.
se viu dentro de um quarto grande e branco, de mãos atadas. Seus pés estavam descalços e extremamente machucados, com alguns cortes leves. Esforçou-se para levantar, mas apenas o fato de seus pés encostarem no chão doía todos os seus ossos.
Ela se esforçava para gritar, mas nada saía. Estava sem voz.
Respira.
Isso só é um sonho ruim, preciso acordar.
Se concentrou para permanecer imóvel, fechando os olhos devagar, tentando manter a frequência cardíaca no compasso correto. Não podia se desesperar. Era apenas um pesadelo. Ela já tinha acordado de sonhos ruins outras vezes.
Acorde, . Acorde agora.
Começou a sentir o macio do seu colchão sob suas costas. Os raios de Sol entrando sobre as frestas da sua cortina. A coberta levemente jogada de lado, cobrindo apenas uma parte da sua canela esquerda. O travesseiro também deslocado, um pouco pra cima demais, deixando seu pescoço um pouco encurvado…
Ela finalmente estava acordando e saindo daquele pesadelo.
— Amor? — a voz do rapaz parecia mais próxima de seu ouvido.
deu um leve sorriso ao se imaginar acordando e encontrando seu amado ao seu lado, acariciando seu cabelo com cuidado como ele sempre fazia quando queria despertá-la de alguma soneca. Ela amava aquela voz.
Abriu os olhos.
E estava no mesmo quarto branco.
Começou a respirar descompassadamente. A falta de oxigênio em seu cérebro ia aumentando à medida que sua frequência respiratória piorava. Não. Não podia ser real. Ela tinha certeza que aquele era um sonho, a droga de um sonho ruim.
Tentou correr assim que conseguiu se levantar, mas seus pés pareciam estar em carne viva. Chacoalhava-se, tentando se livrar das amarras em seus braços que a prendiam em uma espécie de camisa de força. Forçou sua garganta para que um grito de desespero saísse por seus lábios.
Amor, amor!!!, gritava mentalmente, tomada pela angústia. Alguém, por favor, eu preciso sair daqui.
Me tirem daqui.
Viu um vulto alto e pálido correr à sua frente.
Sentiu um calafrio por toda a sua espinha.
Amor?
Um vento frio pareceu passar por trás de suas costas, deixando-a completamente arrepiada. Virou-se o mais veloz que pôde, mas não viu nada.
Eu não estou gostando dessa brincadeira…
— Quem disse que é uma brincadeira?
parou. Aquela não era a mesma voz de antes. Não. Com toda a certeza, aquela não era a doce e calorosa voz de seu amado.
Era uma voz diferente, mais fria. Uma voz estranha, mas ao mesmo tempo, memorável.
A garota parou de se debater, encarando os próprios pés ensanguentados. De fato, eles estavam machucados até ser possível ver a carne viva quase sobressaindo sobre a pele queimada.
— Senti saudades, .
Estremeceu. fechou os olhos para não ver o vulto outra vez.
— Você tinha desaparecido, parece até que estava tentando me evitar… Fiquei magoado.
Isso não é real, isso é apenas um sonho ruim. Isso não é re–
— Você nunca esteve tão lúcida, minha doce .
A garota sentiu uma presença fria se aproximando ao seu lado, deixando-a entorpecida com o cheiro forte e ruim. Não parecia enxofre, mas com certeza era tão fétido quanto. Um cheiro que dava um gosto horrível na boca, como a mistura de uma fruta azeda forte com o amargor de uma rúcula podre e uma pitada de um doce enjoativo. Uma mistura completa e putrefata.
— Abra os olhos, meu amor, eu estou bem pertinho de você.
sentiu seus lábios quase serem tocados. A respiração da criatura à sua frente era tão intensa, e ele estava tão perto, que ela jurou poder sentir sua respiração quase dentro de si.
— Olhe para mim.
A voz ficava cada vez mais amedrontadora.
Não olhe.
— .
Eu só preciso ficar de olhos fechados. Eu vou acordar. Isso vai passar.
— , não me faça ter que pedir isso outra vez…
Quem diabos é esse cara?
— Abra. Os. Olhos. — a criatura disse com a voz aumentando a cada palavra. sentiu um frio correndo em sua espinha.
Ela tinha que resistir, mas…
Precisava ver.
— .
Abriu os olhos uma última vez.
Ele sorriu.
— Bu!
As sobrancelhas da garota se arquearam automaticamente, desacreditada no tom de voz do namorado. Suas mãos foram com força em direção a mesa, fazendo um barulho alto ao encostar na superfície.
— Para de gritar comigo!
— Os dois estão gritando! — se segurou para não subir ainda mais o tom, sentindo as veias em seu pescoço saltarem. Ele fechou os olhos, recompondo a sanidade. o deixava louco. Completamente maluco.
Aquela era a terceira briga em duas semanas que provavelmente teria o mesmo fim das outras: um término de dois dias; e depois voltariam como se nada tivesse acontecido.
Sentando-se em uma das cadeiras, pressionou as têmporas com força. Ele odiava brigar com . Odiava perder a paciência e acabar gritando para ela em resposta à sua gritaria. Assim que levantou o olhar para encará-la, notou que a garota estava com os braços cruzados, olhando-o de volta.
Ambos lacrimejavam. Era nítido o quanto nenhum dos dois gostava daquelas brigas diárias e cansativas, mas ninguém fazia nada a respeito. Estavam vivendo naquele ciclo vicioso há mais de sete meses, quase metade de todo o namoro deles.
não sabia exatamente quando aquelas brigas mais sérias haviam começado, só sabia que as odiava desde o primeiro dia. Mas ele não fazia nada, apenas atuava naquele relacionamento fadado ao fracasso.
— Vamos terminar — ela disse repentinamente, com o tom bem mais baixo do que outrora. Ele levantou o olhar, soltando ar pelo nariz.
— Assim como todas as vezes — murmurou, ficando em pé e se esticando, ouvindo a coluna estalar.
encarou os próprios braços cruzados, sentindo um turbilhão de sentimentos de uma única vez. Ela sabia o que deveria saber, sabia há muito tempo assim como , ela só não sabia ainda como fazê-lo.
Respirou fundo antes de criar coragem de encarar àquelas íris pela última vez:
— Dessa vez é sério — soltou o ar que ela nem tinha percebido que estava segurando. — Vamos dar um tempo. Vou ver com minha irmã se posso morar com ela por algum tempo e…
Ele piscou algumas vezes, processando.
— …
— Você sabe que alguém precisa fazer isso — a primeira lágrima escorreu em seu rosto e quase correu em sua direção para secá-la, mas prendeu os pés no chão. percebeu o leve vacilo do, agora, ex-namorado. — Vamos terminar.
— Você repetiu isso mais de uma vez em menos de dois minutos — sua voz soou baixa.
Ele não queria. Não queria ver partindo de sua vida, mesmo que ela fosse a responsável por bagunçar a maior parte da sua rotina. não achava que conseguiria viver sem tê-la por perto.
— Eu te amo — ele deu um passo em frente, em um último ato de esperança de fazê-la mudar de ideia. recuou.
— Eu também te amo — ergueu os braços, sentindo mais duas lágrimas escorrerem. — Mas eu preciso me amar primeiro, pelo menos agora.
7 dias.
Uma semana desde que tinha dado um ponto final naquele relacionamento e, mesmo que ela tivesse sentidomuita vontade de ir até ele, não o fez.
Assim que saiu do apartamento de naquela noite, ela ligou para sua irmã e foi passar um tempo em sua pequena casa, não muito distante de Seul.
— Vai acabar de comer todos seus dedos ou vai almoçar? — escutou a mais nova falando com a voz pesarosa. tirou a mão da boca, girando o pescoço para ficar de frente à irmã. — Eu preciso ver algumas coisas lá na empresa, então vou confiar a minha casinha em suas mãos durante essa tarde.
As sobrancelhas de se curvaram.
— Você acha que eu sou uma ameaça ao seu lar? — afetou a voz, inconformada. Sua irmã riu.
— Não confio na versão coração partido — levantou os ombros, divertida, mas não recebeu nem um sorriso em resposta. Apenas ao ter escutado sobre o seu aparente estado deplorável, perdeu toda a vontade de rir.
Assentindo levemente, sem ânimo para continuar a conversa que outrora estava leve e divertida com sua irmã, minimizou um sorriso para a caçula, tentando não transparecer tanto o seu desconforto repentino. Ela sabia que a garota não fazia de propósito, mas não deixava de magoá-la de qualquer forma.
— Bem, qualquer coisa me liga — avisou antes de dar meia volta e sair.
O som da porta da frente batendo e o som de chaves foram o suficiente para fazer com que se sentisse, enfim, sozinha o suficiente para liberar todo o choro guardado dentro de si. Por ser a irmã mais velha, nunca gostara de chorar na frente de sua família. Era como um sinal de fraqueza.
Ficou alguns minutos ali, encolhida na poltrona com os joelhos puxados para si. Sentia seu peito bater em sua coxa durante algumas fungadas mais fundas, mas não conseguia segurar as lágrimas.
— Tenho sessão na terapia hoje mais tarde — murmurou para si mesma assim que encarou o relógio pendurado na parede da cozinha.
Levantou-se sem vontade, já com o rosto seco das duas únicas lágrimas que haviam escorrido naquela manhã. Arrastou seu corpo durante todo o corredor, se jogando na própria cama assim que entrou em seu quarto temporário.
A casa de sua irmã era pequena e confortável, apesar de ter sido construída no século passado. As paredes com pintura branca rachada, que nunca havia sido retocada, davam um ar ainda mais antigo para a casa.
sabia que precisava descontar todos aqueles pensamentos sobre e seu antigo relacionamento com o rapaz em alguma coisa, mas não sabia em quê.
Encarou todo seu quarto temporário, procurando por algo. Uma mesinha de madeira com alguns livros, sua mala no canto – que ainda não havia desfeito –, e a pequena cômoda.
Não tinha nada ali que ajudasse-a a parar de pensar no passado.
Levantou-se com o corpo pesado, determinada em procurar por algo pela casa. Sua irmã só se importaria caso ela quebrasse algo, mas esse não era seu objetivo.
Seu celular estava desligado sobre a mesa da sala, onde ela o havia deixado desde que chegou. Não queria saber se tinha ligado ou não. Ela bem sabia que, caso ele o tivesse feito, ela já estaria tocando a campainha de sua casa e voltando atrás em sua decisão.
Portanto, decidiu ficar na ignorância. Era melhor se conformar com a possibilidade dele não ter corrido atrás dela, pois ela não queria se render aquele sentimento novamente. Ela não podia.
Continuou caminhando pela casa, mas não encontrava nada. Eram apenas móveis velhos nos quais nem ao menos tinha coragem de encostar. E se eles quebrassem? Ela não estava com dinheiro para pagar pelo conserto.
— Que isso? — perguntou em voz alta ao notar algo diferente.
Ela tinha chegado ao lavabo, onde não havia pisado os pés ainda desde que se mudara para a casa de sua irmã. As paredes também estavam rachadas como em toda a casa, mas o teto era diferente.
Um pequeno quadrado com uma cordinha pendurada foi o suficiente para animá-la.
esticou os braços, tentando pegar a cordinha, mas não a alcançou. Apesar de estar beirando os 1,70, o pé direito da casa de sua irmã era ridiculamente alto.
Bufou, irritada. Precisava arranjar algum jeito de alcançar a bendita cordinha. Olhando rapidamente em volta em busca de alguma escada, encontrou um monte de caixas. Não parecia ser a coisa mais apropriada para se fazer, mas sua força de vontade para esquecer sobre aquele assunto naquele momento era maior do que tudo.
Uma caixa, outra e mais outra empilhadas como em uma pequena escada, indo da maior para a menor. As caixas eram de plástico, provavelmente tinham o propósito de servir como baús, mas em algum momento perderam sua utilidade.
— Vamos lá… — murmurou, criando coragem de subir. Respirou fundo enquanto revezava o olhar entre sua pequena criação e o teto com a portinhola.
Soltou o ar e tentou subir, pisando rapidamente sobre as caixas em sequência para, pelo menos, alcançar a cordinha e puxá-la, na esperança de alguma escada dobrável surgir do teto.
Seus dedos sentiram levemente a textura da corda e seus olhos se arregalaram em emoção.
— Consegui!
O plano era bom. Ela só não contava com a possibilidade das caixas cederam em tão pouco tempo e ela cair com força no chão, perdendo a noção do que estava acontecendo.
sentiu a cabeça rodopiar quando recobrou a consciência. O que tinha acontecido?
Abriu os olhos devagar, encontrando inicialmente a portinhola no teto aberta, com a escada dobrável meio esticada, provavelmente com as molas velhas. Lembrava-se vagamente de encostar na corda e, de repente, não se lembrava mais.
Assim que seu olhar parou no antigo montinho de caixas que estava completamente amassado, sua mente processou o que provavelmente havia acontecido ali.
Ela tinha caído.
E provavelmente havia batido a cabeça forte o suficiente para simplesmente não reconhecer o rapaz que a observava.
Calma aí…, pensou, se dando conta do que havia acabado de ver.
— QUEM É VOCÊ?
continua...
Nota da autora: Espero que você tenha amado essa fic tanto quanto eu. Para saber mais do meu mundinho de fics, me siga no insta!
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❯ beth's note: QUE????? BU??????? AMADA VOLTA AQUI!!!?????
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