Revisada por: Hydra
Última Atualização: 18.05.2025Ele se levantou arfando e seguiu correndo para dentro de casa, passando sem problemas pelos feitiços de proteção feitos por ele e por sua esposa. Trancou a porta novamente e subiu as escadas correndo.
— Molly! Molly! — Ele gritava desesperado, subindo as escadas correndo.
— Aqui! — O ruivo ouviu a voz de sua esposa e deu de cara com uma porta fechada.
— Alohomora! — Ele movimentou sua varinha rapidamente e a porta se abriu em um forte baque.
Lá dentro ele encontrou sua esposa igualmente ruiva e rechonchuda, com a feição cansada e assustada. Em seus braços, ela apertava sua filha de dois meses, Gina e o de um ano e sete meses, Ronald. À sua volta e se escondendo com as cobertas, estavam George, Fred, Percy, Carlos e Guilherme, de três a 11 anos.
— O que aconteceu, Arthur? — Ela perguntou, passando correndo pelo meio dos filhos, colocando Ronald no chão e abraçando forte seu marido, fazendo com que a bebê em seu colo chorasse fortemente. — Segure—a aqui, Gui, por favor! — Molly falou, entregando a filha para seu filho mais velho, ouvindo—a parar de chorar brevemente. — O que aconteceu?
— Sirius foi preso, Molly! — Ele falou, segurando as mãos calejadas de sua esposa.
— Como assim? Como isso é possível? — Ela perguntou nervosa.
— Eu não sei muito bem o que houve, estão falando em Godric’s Hollow que ele matou Pedro e 12 outros trouxas em uma cidade vizinha. — Arthur falou.
— O Sirius? — Molly arregalou os olhos.
— Melhor você se sentar. — Ele falou e ela se sentou na cama mais próxima, notando os filhos se aproximarem dela.
— O Sirius não seria capaz disso. — Ela falou.
— Pedro dedurou os Potter para Você-Sabe-Quem, Molly. — Ele respirou fundo enquanto falava. — Sirius era praticamente um irmão para Tiago. — Molly ficou calada por um tempo, soltando um longo suspiro.
— Não podemos ter pedido Tiago, Lílian e Sirius no mesmo dia, Arthur. — O homem passou a mão no rosto, puxando o ar fortemente. — Temos que fazer alguma coisa.
— Não tem o que fazer, Molly. — Ele respirou fundo. — Acabou. Teremos que continuar vivendo. O Lorde das Trevas não retornará mais. — Molly puxou o ar fortemente.
— Mas Sirius será acusado inocente, certo? — Ela perguntou e Arthur negou com a cabeça.
— Não encontraram provas contra ele. Sirius evaporou Pedro, só encontrou um dedo que dizem ser dele. — Molly respirou fundo. — Vamos ficar aqui, todos juntos, esperando notícias. — Ele se sentou na cama em sua frente, passando a mão no rosto.
— E os outros? Como estão? — Arthur balançou a cabeça negativamente.
— Não tive notícias, Molly. — Ele deu um sorriso triste. — Quando eu fiquei sabendo da morte dos Potter, eu fui correndo para Godric’s Hollow e, ao chegar lá, dei de cara com Sirius sendo preso e todos comentando sobre o que ele tinha feito. — Ele pausou mais que o necessário para falar. — O Ministério da Magia estava tentando cobrir o que houve com os Potter e com Sirius.
— Bem, vamos esperar para ver o que conseguimos fazer. — Molly suspirou. — Sirius não deveria ter matado os trouxas com ele, mas até eu mataria Pedro pela sua traição.
— Não Molly. Pare, por favor. — Arthur falou, segurando as mãos da esposa. — Isso é um crime. Sirius pagará por ele.
— Você faria o mesmo, Arthur. — Ela se levantou afobada. — Todos faríamos.
— Sim, eu sei! — Ele falou. — Mas estamos cansados, Molly. Acabou! Vamos descansar e cuidar dos feridos.
A senhora Weasley não se atreveu a responder mais nada. Ela estava igualmente cansada. Participar de uma guerra dessas proporções contra o maior bruxo das trevas enquanto cuidava de sete filhos, não era uma tarefa fácil. Mas ela precisaria descansar, mesmo que fosse demorar algumas semanas ou meses para que ela conseguisse pregar os olhos, o medo ainda era parceiro deles.
Em um momento ela parou rapidamente e arregalou os olhos assustada. Parece que o tempo parou por um segundo, enquanto ela juntasse as peças do quebra-cabeça em sua mente. Até que ela virou rápido em direção ao seu marido, se sentando na cama novamente.
— Lily, Arthur! — Ela falou alto. — O que aconteceu com Lily? Com quem ela ficou? — Ela perguntou apressadamente. — Hagrid a pegou também quando pegou Harry? — Arthur arregalou os olhos apressadamente e se levantou da cama.
— Não! Ele não está sabendo disso. — Ele falou, passando a mão no rosto correndo. — Eu tenho que pegar, ela deve estar no Largo Grimmauld ainda. — Ele agitou a cabeça rapidamente. — Sozinha. — Ele respirou fundo. — Eu vou buscá-la e já volto.
— Você vai leva-la onde? Aqui não é seguro para ela, nem para nossos filhos é. — Molly falou. — Ainda mais ela sendo filha de Sirius. — Arthur respirou fundo, ponderando com a cabeça.
— Eu dou um jeito! Ela não pode ficar sozinha. — Ele falou apressado, tirando a varinha de seu bolso novamente.
— Se proteja, por favor! — Molly falou e Arthur assentiu com a cabeça.
— Estarei de volta até o amanhecer! — Ele falou, visivelmente cansado e seguiu correndo escadas abaixo, saindo da toca e, quando estava fora da proteção dos feitiços, pensou no Largo Grimmauld e aparatou imediatamente, sumindo em uma forma estranha.
— Para onde o papai levará a Lily, mamãe? — Um dos filhos de Molly se aproximou e ela colocou a mão em seus cabelos.
— Não sei, George, eu realmente não sei. — Ela falou, abraçando—o fortemente.
— Ela vai ficar bem? — Ele perguntou.
— Vai sim, querido! — Ela falou, mesmo não sabendo a verdade.
— Senhorita? — Vi uma das assistentes do orfanato entrar e sorri para a negra.
— Oi, Andy. — Ela sorriu.
— Você tem uma visita! — Abri um sorriso, animada. — Posso deixar entrar?
— Claro! — Falei animada, colocando os livros no meu beliche e me levantei da cama, arrumando o uniforme xadrez do mesmo e colocando a blusa para dentro da roupa.
— Lily! — Uma cabeça ruiva apareceu por debaixo do chapéu e eu abri um largo sorriso.
— Tio Arthur! — Falei contente, abraçando o mais velho.
— Como você cresceu, Lily! — Ele colocou as mãos em meu rosto. — Quanto tempo que não te vejo. — Sorri.
— Bastante mesmo, faz uns dois anos, desde que você veio me contar do meu... — Dei de ombros. — Você sabe.
— Sim, sei! — Ele assentiu com a cabeça. — Ah, vejo que gostou do presente! — Ele apontou para o livro que havia me enviado.
— É divertido! — Ri fraco. — As imagens mexem.
— Tem conseguido praticar? — Ele perguntou.
— Não sai nada, tio Arthur. Acho que isso não é para mim. — Dei de ombros.
— Duvido. — Ele segurou minhas mãos. — Você só não deve estar trazendo força do lugar certo. — Concordei com a cabeça.
— Mas, então, o que veio fazer aqui? Não me diga que veio conferir o presente. — Ele riu fraco.
— Estava preocupado se daria algum problema, na verdade. Mas não foi por isso que eu vim não. — Ele apontou para a cama. — Vamos sentar, preciso te contar uma coisa. — Ele se sentou e eu me coloquei ao seu lado.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei e ele suspirou.
— Você sabe sobre seu pai, certo? — Concordei com a cabeça. — Sua vida, sua prisão injusta, sua fuga e o motivo pelo qual ele não veio atrás de você depois que fugiu da prisão, certo? — Concordei com a cabeça.
— Sim, que não seria seguro para mim, sendo ele um dos prisioneiros mais procurados do mundo bru...
— Lily! — Fechei a boca.
— Desculpe. Força do hábito! — Ele sorriu, apertando minhas mãos firmemente.
— Então, Lily, eu já te contei também o máximo que pude sobre o Lorde das Trevas, seu retorno e sua ameaça para o mundo de quem não é trouxa. — Assenti com a cabeça, suspirando.
— Arthur, o que você está tentando me contar?
— Seu pai morreu, Lily! — Arregalei os olhos, sentindo uma dor bater em meu peito. — Foi uma emboscada. O Lorde das Trevas e os Comensais da Morte estavam atrás de uma profecia que envolvia Harry e seu pai foi ajudar, acabando morto por uma prima dele que lutava no outro lado. — Soltei um suspiro alto, respirando fundo.
— Isso... — Balancei a cabeça. — Eu não sei como processar isso. — Respirei fundo.
— É difícil, eu sei. Tem muito mais coisa que eu preciso te explicar, mas eu preciso fazer isso em outro lugar...
— Claro, podemos combinar de jantar em algum lugar longe desse pessoal. — Ele balançou a cabeça.
— Não, Lily, com essa situação toda, você não está segura aqui. Você vai embora daqui, vai morar comigo agora. — Arregalei os olhos.
— Arthur...
— É o mais seguro para você, Lily, você já tem 16 anos, precisa aprender a se defender caso alguma coisa... — Ele balançou a cabeça. — Conversaremos com calma, ok?! — Assenti com a cabeça.
— Mas como eu sairei daqui? — Franzi a testa.
— Se eu falasse isso para os meus meninos, eles arranjariam mil maneiras para isso. — Soltei uma risada. — Mas como estamos no mundo dos trouxas e não podemos chamar atenção, faremos isso do modo convencional. — Ele assentiu com a cabeça. — Eu te adotarei. — Arregalei os olhos.
— Oh meu Deus, mesmo? — O abracei rapidamente.
— Sim, talvez Sirius tenha feito uma escolha errada em deixar sua filha em um orfanato, mas como ele não está mais aqui e eu sou o único que sabe da sua existência, eu farei as decisões. — Ele se levantou. — Se você estiver de acordo, é claro! — Abri um sorriso.
— Com certeza! Meu Deus, eu não vejo a hora de sair daqui. — Eu sorri e ele assentiu com a cabeça. — Obrigada, tio Arthur, não aguento mais ficar sozinha! — Sorri, suspirando.
— Eu sei, querida. E parte dessa culpa é minha. — Segurei suas mãos. — Mas eu ajeitarei isso, ok?! Na sua nova casa você terá pessoas para te amar e te ensinar muitas coisas. — Ele falou e eu assenti com a cabeça.
— Estou empolgada, confesso! — Dei alguns pulinhos no meu lugar.
— Eu vou ver como eu faço isso e volto para te pegar, sim?! — Ele perguntou e eu ri fraco.
— Acredite, tio Arthur, isso vai demorar mais do que alguns dias.
— Mesmo? — Ele perguntou.
— O mundo trouxa é meio lento. — Dei de ombros.
— Oh! — Ele colocou a mão no queixo como se pensasse.
— Mas eu posso agilizar isso um pouco. — Puxei a coberta para cima dos livros animados que tio Arthur havia trazido e coloquei a cabeça para fora do quarto que eu dividia com várias meninas da minha idade. — Andy! — Chamei a assistente que ficava andando no corredor.
— Sim, Lily! — Ela falou, se aproximando.
— Esse senhor quer falar contigo. — Apontei para Arthur que se aproximou da moça.
— Eu queria saber os procedimentos para adotar Lily, senhora! — Ele falou e vi os olhos de Andy se arregalarem. — Eu sou amigo de seu pai e ele faleceu recentemente. Gostaria de leva-la para morar comigo e com a minha família. — Olhei para Andy que tinha travado.
— Andy! — Falei um pouco alto e ela balançou a cabeça.
— Ah meu Deus, claro, senhor! — Ela se virou para mim. — Você vai ter uma casa, Lily! — Ela falou animada, me abraçando fortemente e, nesse momento, eu travei.
Eu finalmente teria uma família de verdade.
Olhei para as poucas coisas espalhadas pela minha cama e suspirei, abrindo a pequena mala que o orfanato havia me cedido e eu coloquei tudo dentro da mesma, enrolando os livros que tio Arthur havia me dado em roupas.
Peguei um porta-retrato que se mexia e soltei um suspiro. Era eu, mamãe e papai. Não que eu me lembrasse deles, mas tio Arthur havia deixado comigo quando me deixou aqui no orfanato após a prisão de meu pai. Minha mãe havia morrido dias depois do meu parto.
O quadro permaneceu estático durante nove anos, quando eu completei 11 anos, ele começou a se mexer, o que causou um grande susto em mim. Tio Arthur dizia que era porque é a idade que a magia fica aguçada nas crianças mágicas... Mas eu não era uma bruxa, eu nunca havia conseguido fazer nada. Talvez fazer esse quadro mexer, mas não acho que conte, sendo que ele é naturalmente mágico.
O enrolei em uma blusa novamente e fechei a mala, vendo—a incrivelmente leve. Afinal, tudo que eu tinha pertencia ao orfanato, pelo menos eles haviam permitido que eu saísse daqui com o uniforme, se não teria que sair da forma que eu vim ao mundo.
Me sentei na cama e abracei a pequena mala, batendo os pés no chão, ansiosa para a chegada de Arthur. Olhei para algumas meninas que estavam no quarto e só nos cumprimentamos com um aceno de cabeça. Elas sempre me achavam estranha, afinal, eu era bem mais inteligente que elas e era vista como a estranha do orfanato e a queridinha das freiras.
Mas eu não me importava com nada disso agora. Minha vida mudaria totalmente. Eu deixaria de ser Lily Black, a tonta sabe—tudo, para Lily Black, a bruxa... Gargalhei sozinha com esse pensamento, chamando a atenção de algumas meninas que estavam no quarto e fiquei quieta, balançando a cabeça.
— Lily! — Virei o rosto para frente, vendo Andy parada na porta com um largo sorriso no rosto. — Ele chegou! — Ela falou e eu me coloquei prontamente em pé, segurando na alça da mala e soltei um longo suspiro, relaxando os ombros.
— Vamos lá! — Falei sorrindo.
— Tchau Lily! — Uma das meninas falou e eu acenei com a mão, sorrindo. — Seja feliz.
— Você também, Anna! — Falei, olhando novamente para Andy e ela sorriu para mim, me estendendo a mão.
Dei uma rápida olhada embaixo do beliche A, próximo à porta e suspirei. Foi ali que eu vivi 14 anos da minha vida, e eu estava entrando numa nova que eu não tinha nem ideia de como seria, quem eu conhecia e se eu não seria a decepção no mundo bruxo. Afinal, 16 anos nas costas e nenhuma experiência no mundo bruxo era meio triste. Provavelmente as crianças de 11 anos seriam mais espertas.
Dei a mão para Andy, sorrindo para ela e seguimos pelo corredor. O orfanato parecia um prédio rústico e antigo. Cheia de tijolos à vista, com largos espaços abertas e algumas freiras andando pelo local. Lá também era um convento.
Passamos pelas portas da diretoria e olhei para a Madre Superiora e para o ruivo com cabelos espetados, roupas engraçadas e um pequeno chapéu na cabeça. Isso fez com que eu desse um largo sorriso, correndo para abraça-lo.
— Demorei, mas estou aqui, querida! — Ele falou e eu sorri, nos afastando um pouco.
— Bom, senhorita Black, nosso trabalho contigo acabou! — A Madre Superiora falou sorrindo e eu me aproximei dela.
— Obrigada! — Falei. — Por tudo que vocês fizeram comigo ao longo dos anos. — Ela assentiu com a cabeça
— Só sinto em não ter conseguido encontrar um lar antes para você. — Assenti com a cabeça.
— Eu sempre tive um lar, senhora. — Falei, virando para Arthur. — Só que o destino queria competir contra. — Dei de ombros. — Mas agora tudo vai mudar. — Ela sorriu.
— Vai sim, senhorita. Que você tenha uma ótima vida, sim?! — Ela falou. — Saiba que nossas portas sempre estarão abertas para você.
— Muito obrigada, senhora, mas espero não precisar! — Falei e ela sorriu.
— Também espero! — Ela abriu os braços e eu a abracei rapidamente, sentindo algumas lágrimas escaparem de meus olhos. — Viva, senhorita Black! Você é extraordinária, mostre isso ao mundo! — Assenti com a cabeça.
— Obrigada! — Virei para Andy! — A você também, Andy! — Abracei—a fortemente e ela sorriu, soltando um largo suspiro.
— Meu trabalho aqui está feito. — Ela ergueu o rosto. — Obrigada, senhor Weasley. — Arthur esticou a mão e cumprimentou as duas moças.
— Eu e minha família cuidaremos dela, senhoras. — Ele esticou a mão para mim e eu estendi, vendo—o pegar minha mala com a outra mão. — Foi um prazer.
— A felicidade é nossa. — Andy falou, seguindo para a porta e abriu a mesma, dando para a rua do orfanato em Londres.
Andei com Arthur do lado de fora até parar ao lado de um Ford Anglia azul, ele tirou as chaves do bolso e abriu o lado esquerdo para que eu entrasse e eu me acomodei no carro, quando ele levou minha mala para o porta-malas. Acenei para as duas mulheres na porta do orfanato e mandei um beijo rápido. Senti Arthur se sentar ao meu lado e ligou o carro, fazendo um forte ronco.
— Para onde vamos? — Perguntei.
— Ottery St. Catchpole, no condado de Devon. — Assenti com a cabeça. — Sabe onde fica? — Ele perguntou.
— Não sei onde, mas sei que fica há umas quatro horas daqui! — Falei, e ele concordou com a cabeça.
Ele tirou o carro da vaga rapidamente e começou a dirigir pelas ruas movimentadas de Londres. Era quase hora do almoço, então o caos estava começando a ser implantado. Observei a postura do homem ao meu lado e ele parecia muito feliz, mas ele era sempre assim.
— Então, tio Arthur, o que eu preciso saber antes de chegar lá? — Perguntei, virando o corpo para ele.
— Você vai saber quando chegar lá. Estão todos te esperando. — Ele falou.
— Todos? “Todos” quem? — Perguntei.
— Meus filhos, amigos do seu pai, da sua mãe, pessoas que ficaram anos sem saber sobre você. — Ele falou.
— Eu já os conheci? — Perguntei.
— Sim! — Ele falou. — Mas você não lembra.
— Por que eu era muito pequena? — Perguntei.
— Também... — Ele suspirou. — Mas também para sua segurança.
— Como assim? — Perguntei.
— Quando eu te trouxe para o orfanato, Lily, eu coloquei um feitiço em você. — Arregalei os olhos. — Que permitiu com que você excluísse algumas memórias da sua mente e não sofresse com a prisão do seu pai ou o afastamento desses amigos. Principalmente meus filhos, vocês brincavam bastante quando crianças. — Ele franziu a testa, soltando um suspiro.
— Como isso é possível? — Perguntei.
— Magia, querida. Magia! — Dei um pequeno sorriso de lado. — Mas não se preocupe, você conhecerá todos em breve e eu tirarei o feitiço de todos.
— Todos? — Perguntei novamente. — Eles também não se lembram de mim? — Falei alto e ele fez um movimento com a mão para que eu abaixasse o volume.
— Eu fiz tudo isso pela sua segurança, querida. Se ninguém soubesse sobre você, ninguém poderia ir atrás de você, entende? — Ele virou para mim rapidamente.
— Parece que estamos fugindo de alguma coisa. — Falei.
— Fugindo não, querida, mas estamos lutando contra algo. — Ele falou.
— O quê? — Perguntei.
— O maior bruxo das trevas que esse mundo já viu, e seus comparsas. Eles foram responsáveis pela prisão e morte do seu pai, pela morte de vários bruxos e trouxas e, principalmente, pela morte dos pais do seu primo Harry.
— Primo? — Falei alto novamente. — Eu tenho um primo? — Ele sorriu.
— Tem sim querida, infelizmente ele não se lembra de você, mas prometo que consertarei tudo isso.
— Como? — Perguntei.
— Eu desfarei o feitiço. — Ele deu de ombros. — Simples assim! — Ri fraco.
— Depois eu volto com as perguntas, então. — Ele sorriu.
— Isso, querida!
Ficamos em silêncio enquanto o carro saía da cidade. Eu não estava cansada, mas viagens eram naturalmente cansativas, só que eu queria saber para onde estávamos indo. O que esperar. Será que eu entraria no mundo bruxo? Ou será que era mesclado com o mundo em que vivíamos?
— Bem, acho que podemos acelerar um pouco agora. — Arthur falou quando saímos da cidade e eu franzi a testa.
— Vamos acelerar mais? — Perguntei.
— Vamos ficar invisíveis. — Ele falou, apertando algum botão no painel e eu não notei diferença nenhuma. — E voar!
— Voar? — Dei um grito, me segurando no painel do carro e notei que o carro deu um pulo para cima, tirando as rodas do chão. — Ah meu Deus! — Falei, apertando firme.
— Você não gosta de voar? — Ele perguntou.
— Eu odeio voar e eu odeio altura. — Falei, firmando os braços no painel, mas notei que o caminho era calmo, mas estávamos indo muito mais alto que as nuvens. — Ah meu Deus! Isso é um sonho! Isso é um sonho! — Repetia diversas vezes.
— Isso não é um sonho, Lily! Isso é magia! — Respirei fundo. — Se acalme, chegaremos logo. — Ele falou e eu tentei respirar fundo e aproveitar o passeio.
Não deu certo.
— Aqui, chegamos! — Ouvi Arthur falar acima das nuvens, após eu desmaiar duas vezes e voltar ao meu estado natural.
— Aqui, onde? — Perguntei e notei que o carro começava a baixar.
Estávamos em um local descampado, com algumas plantações de flores e talvez de alimentos, uma área rural. Um pouco distante ainda, à frente, se erguia a casa mais engraçada que eu vi na minha vida. Ela tinha... Eu não conseguia contar quantos andares ela subia, mas parecia que diversas casas se juntaram e viraram aquela... Coisa.
— Essa é a toca! — Arthur falou. — Seu novo lar.
— Meu novo lar? — Perguntei.
— Poderíamos te deixar na antiga casa de seu pai, que é sua por direito, mas achamos que seria melhor te trazer para cá antes, enquanto te treinamos...
— Me treinar? — Franzi a testa.
— Você é uma jovem bruxa, Lily. Eles tendem ser um tanto quanto voláteis enquanto estão aprendendo. — Arregalei os olhos. — E aqui você tem espaço suficiente para destruir e consertar. — Assenti com a cabeça, mesmo não sabendo o que ele queria dizer. — Ah, os meninos estão no meio do caminho. — Ele falou bufando e puxou algo de seu bolso, me assustando por ser uma varinha e colocou a ponta em seu pescoço. — Fred, George, desçam agora.
O som ecoou, fazendo com que eu colocasse as mãos nas orelhas e notei três objetos descerem do céu. Três vassouras descerem do céu. O carro começou a baixar aos poucos, até que estivesse próximo ao solo novamente. Me segurei firmemente na porta e no apoio de mão quando tocamos o solo, sentindo meu corpo se revirar todo.
Coloquei a mão no peito quando o carro parou totalmente e senti meu coração disparado, me fazendo puxar e soltar a respiração várias vezes. Fechei os olhos e relaxei o corpo no assento do carro, tentando normalizar a respiração. A viagem de Londres para cá durou cerca de uma hora e meia, duas no máximo. Foi como se eu realmente estivesse andando de avião.
Senti uma sombra em meu rosto e abri os olhos, encontrando dois corpos ao lado da porta e vi outras saírem pela porta, me fazendo respirar fundo. Vai dar tudo certo, Lily! Pensei e tirei o cinto de segurança, vendo que Arthur já tinha saído do carro e já tirara minha mala do porta-malas.
Empurrei a porta com receio e saí do mesmo, dando de cara com duas pessoas ruivas exatamente iguais ao lado do carro. Eles eram altos, ruivos, com algumas sardas no rosto e se vestiam com roupas iguais, mudando somente a tonalidade delas.
— Vocês devem ser filhos do Arthur. — Falei e eles se entreolharam.
— Fred, George! — Viramos para Arthur. — Ajudem Lily, leve—a para o quarto das meninas, vamos nos organizar!
— Quem é Fred e quem é George? — Perguntei, virando para os dois.
— Eu sou Fred.
— Eu sou George. — Eles falaram quase juntos e eu balancei a cabeça.
— A gente aprende com o tempo, certo?! — Dei de ombros e eles riram.
— Certo! — Eles falaram juntos.
— Meu Deus! Eu vou ficar louca! — Balancei a cabeça.
— Nós fazemos quase tudo juntos... — Um falou.
— Você se acostuma com o tempo. — O outro falou.
— Está valendo! — Suspirei, abanando as mãos.
— Você me é familiar. — Um deles falou e eu olhei para ele.
— Vocês brincavam muito quando crianças, George! — Virei para Arthur.
— Eu não me lembro. — Ele falou.
— Isso provavelmente deve ser explicado pelo feitiço de esquecimento que ele colocou na gente. — Falei, dando de ombros.
— Você jogou um Obliviate em nós? — Eles perguntaram juntos.
— Ah, de novo não! — Falei rindo.
— Não só de vocês três, como de todo mundo. — Ele falou.
— Pai...
— Arthur Weasley! — Ouvi uma voz alta e estridente e virei o rosto para uma das portas da toca e uma senhora ruiva, similar a Arthur, saía da mesma, mas ela era baixinha e rechonchuda.
— Olá, Molliuóli! — Ele falou e eu me senti perdida. — Você se lembra de Lily, não? — A senhora me olhou dos pés à cabeça e eu coloquei as mãos em frente ao corpo, como se fosse um manequim a ser analisado.
— Claro que eu me lembro! — Ela falou, me dando um abraço de urso, fazendo com que eu abaixasse um pouco o corpo para retribuir o abraço. — Faz tanto tempo, querida! — Ela segurou meu rosto com as mãos. — Você tem os cabelos loiros da sua mãe e os olhos negros de seu pai. — Ela sorriu. — Pensei que nunca mais te veria. — Sorri.
— Sinto muito por não me lembrar da senhora. — Falei, vendo—a rir.
— Tudo bem, querida! Eu não me lembrava de você até essa manhã! — Rimos juntas e ela me abraçou forte novamente.
— Você enfeitiçou a mamãe também? — Os gêmeos falaram de novo e eu ri.
— Foi por uma boa causa, queridos. — A senhora falou. — Vocês entenderão também. — Ela falou. — Eu sou Molly, querida. Você está em casa agora, ok?! Aqui somos um pouco loucos, bruxos, mas somos sua família, desde antes de você nascer. — Assenti com a cabeça.
— Estou empolgada com isso.
— Bem, vamos juntar todos que eu tenho algo para desfazer.
— Assim espero! — Os gêmeos falaram juntos.
— Eles fazem isso sempre? — Perguntei baixo para Molly.
— Desde que aprenderam a falar. — Franzi a testa e ela riu.
— Vamos entrar! — Molly me segurou pelos braços e entramos em uma das portas da toca.
A casa era engraçada por dentro. Era algo que qualquer engenheiro seria contra. Parecia que tinha um cone central que mantinha a casa em pé e que os cômodos foram grudados por toda sua volta.
Engoli em seco quando entramos na sala, fazendo com que eu respirasse fundo. Várias pessoas estavam amontoadas na pequena sala. Desde pessoas da minha idade, até pessoas mais velhas, incluindo uma pessoa de cabelos roxos, que eu achei sensacional.
— Gente, atenção aqui, por favor! — Todos olharam para mim e eu fiquei mais roxa do que os cabelos daquela moça. — Essa aqui é Lily! — Arthur falou. — Ela vai morar conosco. — Dei um pequeno sorriso, tentando ser simpática.
— Ela me é familiar, Arthur. — Um senhor de bigode falou.
— Sim, Lupin, tem motivo. — Arthur falou. — Essa é Lily Black, filha de Sirius. — Vi vários olhos se arregalarem e franzi os lábios, sem saber como agir.
— Como...? — Lupin perguntou.
— Acho melhor você desfazer aquele feitiço logo, tio Arthur! — Cochichei para ele que pegou sua varinha e estendeu pelos ares.
Não sei bem o que aconteceu em seguida. Visualmente uma onda azul clara e brilhante passou por meio de todos da sala, o que me deixou boquiaberta, mas mentalmente, aconteceu muito mais. Foi como se abrissem uma caixinha escondida no fundo do meu cérebro e inundassem minha cabeça com memórias que eu não me lembrava.
Eu me lembrei das cabeças ruivas, dos gêmeos, do moço de bigode que falava, de outras crianças e bebês... E de meus pais. Minha mãe era uma moça da pele bem clara e dos cabelos loiros quase brancos, assim como eu. Já meu pai tinha os cabelos incrivelmente pretos, longos e encaracolados e os olhos negros como a noite.
Vi ambos me segurarem no colo e sorrirem para mim, a cena do meu porta-retrato. Eles brincaram comigo em algum jardim colorido, enquanto eu corria feliz pelas flores. Em seguida a cena escureceu. Me vi sozinha em uma casa grande e escura. Uma criatura estranha, que parecia um duende, me olhava atentamente, como se cuidasse de mim, enquanto encarava uma grande tapeçaria com alguns rostos e algumas manchas chamuscadas no mesmo.
Arthur apareceu na porta com machucados sangrando em seu rosto e me pegou rapidamente, fazendo com que o ser ao meu lado se irritasse e o atacasse, tentando me tirar dele. Senti minha respiração faltar por um momento.
“Não, Monstro. Eu preciso leva-la, aqui não é mais seguro para ela, entende?” Arthur falou na memória, me segurando firme em seus braços. “Sirius foi preso”. Monstro, o duende, ficou atordoado por um momento.
“Cuide dela, senhor Weasley. Ela é a herdeira dos Black”. A criatura falou com uma voz rouca e a cena mudou novamente.
Arthur me entregou para uma Madre Superiora diferente da atual e cochichou algo inaudível, fazendo com que a luz azul clara fosse vista novamente e ela somente assentiu com a cabeça, movimentando os lábios com algo tipo “Cuidarei dela” e me levou porta adentro, fazendo com que a memória sumisse e eu sentisse a respiração faltar, fazendo o coração bater fortemente dentro de meu peito e eu senti meu corpo fraquejar, caindo para trás.
— Opa! — Senti alguém me segurar, mas minhas pernas não respondiam mais aos meus pedidos e eu me senti mole.
— Acho que ela não aguentou a memória, pai. — Ouvi uma das vozes e fui deitada em algum lugar, sentindo meu corpo pesar por um momento.
— Muitas memórias, filho! — Ouvi a voz de Arthur. — São 14 anos de memórias. — Senti meus olhos fecharem.
— Ela ficará bem? — Outra voz perguntou.
— Vai sim! — Molly respondeu. — Agora vai!
Eu estava dentro de um sonho. Um sonho bom. Eu via meu pai de cima, como se eu estivesse deitada em algum lugar e eles estivessem em meu campo de visão. Ele tinha uma feição triste em seu rosto e me encarava ternamente. Outro casal apareceu na nossa visão e eu sorri ao vê-los. Eles não estavam na Toca, mas me pareciam boas pessoas.
— “Você ficará bem, Sirius?” — O homem de óculos perguntou.
— “Vou sim, James.” — Meu pai suspirou, balançando a cabeça. — “Nós não estávamos juntos, mas ela era uma boa pessoa.” — O casal assentiu com a cabeça.
— “Sim!” — Eles falaram. — “Penélope era incrível.”— A mulher ruiva falou, passando a mão embaixo dos olhos, respirando fundo. — “Ela era minha melhor amiga!” — Ela falou, engolindo em seco.
— “Eu vou sentir falta dela.” — Meu pai falou e eu senti o lugar que eu estava se mexer um pouco, eu estava em um berço.
— “Você tem uma criança para cuidar agora, Sirius. O que vai fazer?” — O homem perguntou novamente.
— “Viver!” — Meu pai falou. — “Eu tenho muitos amigos para me ajudar.” — Meu pai falou e o homem pousou a mão em seus ombros.
— “Sim, meu caro amigo, nós estaremos aqui!” — Ele falou e meu pai deu um sorriso de lado.
— “E qual será o nome dela, querido?” — A moça perguntou e Sirius deu um sorriso de lado.
— “Penélope queria chama-la de Lily.” — Ele virou para a mulher. — “Em sua homenagem, Lílian!” — A ruiva deu um sorriso, franzindo o rosto novamente e deixando lágrimas escorrer por ele.
— “Obrigada!” — Ela disse, assentindo com a cabeça e meu pai se levantou para abraça-la.
O sonho acabou e eu me senti cair em um redemoinho, fazendo com que eu ficasse tonta e me sentisse cair em um lugar inacabado. Senti como se isso estivesse acontecendo de verdade e sentei rapidamente, colocando as mãos na lateral do sofá
— Ah! — Gritei, me vendo acordada e notei que as outras pessoas ainda estavam à minha volta.
Coloquei as mãos em meu rosto e, naquele momento, chorei igual uma criança. Deixei com que as lágrimas escorressem pelo meu rosto sem medo e deixei que meus soluços ecoassem pelo local.
— Está tudo bem. — Ouvi a voz de Molly e senti uma mão quente em minhas costas, e a mesma mão me apertou em um abraço forte. — Está tudo bem! — Ela falou novamente, me fazendo respirar fundo. — Estamos aqui.
— Me desculpe! — Falei soluçando, passando as mãos no rosto.
— Não precisa se desculpar. — Molly falou. — Isso é normal. — Ela fez um carinho em meu rosto. — Suas memórias voltarão aos poucos. Não se preocupe. — Assenti com a cabeça.
— Meus pais... — Franzi a testa.
— Eram pessoas maravilhosas. — O moço de bigode falou e eu abri um largo sorriso.
— Tio Remo! — Falei animada e ele atravessou algumas pessoas na sala e eu me levantei, sentindo—o me abraçar fortemente.
— Ah, Lily! — Ele falou em um suspiro. — Que saudade que eu estava. — Sorri, sentindo—o acariciar meu rosto de leve. — Seus pais teriam orgulho de você. Se protegeu sozinha durante todos esses anos. — Ri fraco.
— Vamos dizer que eu tive uma grande ajuda. — Virei para Arthur que tinha um sorriso no rosto.
— Eu não podia deixar que a encontrassem. — Sorri para ele.
— Você fez certo, querido amigo. — Remo falou e eu sorri.
— É impressão minha ou isso ficou mais embaraçoso do que estava? — Ouvi a voz de um dos gêmeos e o pessoal em volta riu e eu virei para ambos novamente.
— George! — Consegui identificar ambos dessa vez e ele sorriu.
Me aproximei dele rapidamente e pulei nos ombros do mais alto, sentindo—o me tirar do chão rapidamente, me fazendo abrir um largo sorriso.
— Quanto tempo que eu não te vejo, baixinha! — Ele falou e me colocou no chão novamente, e eu abri um largo sorriso.
— Eu não vou a nenhum lugar mais. — Sorri e ele assentiu com a cabeça, dando um rápido beijo em minha testa.
— Eu também brincava contigo, ok? — Fred falou e eu sorri, abraçando—o em seguida.
— Eu sei. — Suspirei. — Nós éramos os...
— Três mosqueteiros. — A sala fez um eco maior que o esperado e vi Remo, Arthur, Molly e nós três rirem juntos.
— Meu Deus! Como isso é possível? Um segundo eu não me lembrava de vocês e agora eu me lembro de várias coisas? — Suspirei, sentindo os gêmeos apoiarem as mãos em meus ombros.
— Isso é... — Arthur começou.
— Magia, eu sei! Já entendi! — Falei e eles riram em coro.
Depois disso, demorou somente algumas horas para que eu me acostumasse com o pessoal. Bem, pelo menos com os adultos e com George e Fred, já que eu realmente tinha lembranças vívidas deles. Dos adultos por serem amigos de meus pais, não que eu pudesse me lembrar de algo até os dois anos de idade, mas eu tinha um carinho enorme por eles. E por Fred e George, pois tínhamos a mesma idade e brincávamos quando crianças.
O resto do pessoal ainda era estranho para mim, Harry, Rony, Gina, Hermione, eles eram totalmente estranhos, apesar desse Harry ser afilhado de meu pai, isso nos fazia primos, certo? Ele era a única família que eu tinha e pelo que eu me lembrava, a única que ele tinha também.
Após toda aquela chuvinha azul clara com alguns brilhos, parecia que eu havia me tornado uma pessoa mais completa, se isso fizesse algum sentido. Parecia que eu realmente algumas coisas haviam entrado em mim e fizesse como que eu fizesse parte desse mundo... Bem, com exceção de eu não saber erguer nada com o poder da sua mente... Apesar de que eu acho que não era assim.
Acordei cedo no dia seguinte. Me colocaram para dividir o quarto com Gina e Hermione. Eu nunca havia falado com nenhuma das duas, mas Hermione era um ano mais nova que eu, e Gina dois. No começo ficou aquele clima estranho. Eu era uma estranha para elas, para todo mundo, na verdade. 14 anos era muito tempo para se tornar íntimo. Mas com elas eu realmente não tinha nenhuma ligação, nenhuma intimidade.
Ficamos quietas por um momento, cada uma em sua cama, mas éramos meninas, então Gina se interessou sobre minha história e começamos a papear. Não era como se eu tivesse muito o que dizer também. Eu tinha poucas memórias falhas até meus dois anos. Ninguém consegue se lembrar de muita coisa da infância e depois meus 14 tediosos anos no orfanato.
Hermione entendia um pouco sobre o que eu falava, ela era filha de pais comuns, ou trouxas, como eles diziam. Sabia o que era tudo que eu falava, então era mais fácil. Gina já tentava entender a parte mágica e como ela nunca tinha ouvido falar disso, ou como Sirius nunca havia mencionado.
— Seu pai diz que é para me proteger. Que tem um tal de lorde das trevas atrás de nossos pais desde que éramos crianças. — Dei de ombros. — Na época era para me proteger, por causa do meu pai estar preso e algo assim. Agora ele diz que é porque esse tal de lorde está retornando pela segunda vez e eu preciso aprender a me proteger.
— É claro! — Hermione falou. — Você precisa aprender a se defender, estamos quase em uma guerra. — Ela bufou. — Quero nem pensar o que vai acontecer no segundo semestre depois da morte de seu pai.
— O que houve? — Perguntei, abraçando o travesseiro.
— Harry tem uma ligação com esse Lorde das Trevas, então ele estava vendo e sonhando com coisas que não sabíamos se era verdadeiro ou não. Ele sonhou com Arthur se machucando e isso aconteceu de verdade. — Ela falou. — Quando o encontraram, ele tinha sido atacado por uma cobra. — Arregalei os olhos. — Depois Harry teve uma visão de Sirius sendo capturado, agora antes das férias... — Ela respirou fundo. — Mas dessa vez era só uma visão. Sirius estava bem. Fomos ao Ministério da Magia para resgatá-lo e pegos em uma emboscada. — Ela deu um sorriso de lado. — Foi culpa nossa dele ter morrido.
— Não. — Balancei a cabeça. — Eu não o conheci, tenho tido memórias sobre ele, mas tenho certeza de que ele não culparia sua morte a vocês. — Ele suspirou. — É muita bagagem para crianças de 15, 16 anos. — Ela deu um pequeno sorriso.
— É, mas mesmo assim! — Ela suspirou.
— Quero ver como será no próximo semestre, quando as aulas voltarem. — Gina resmungou e ambas balançaram a cabeça.
— O Ministério vai intervir, isso eu tenho certeza. — Hermione falou e eu me senti perdida no assunto novamente.
Quando acordei no dia seguinte, vi que estava sozinha. Não tinha noção de que horas eram, mas eu também não tinha relógio no orfanato. Conferi se o banheiro estava livre, escovei os dentes e me troquei, colocando uma das blusas que Molly havia me emprestado de Gina.
Voltei para o quarto, arrumando minha bolsinha na minha mala e me aproximei da alta janela que ficava meio torta no quarto. Olhei lá para baixo e vi algumas vassouras voando pelo quintal, me fazendo dar risada. Que mundo era aquele que eu estava vivendo?
Dei meia volta e desci os lances de escada até chegar ao térreo e encontrei Molly e Tonks na mesa da cozinha, tomando café da manhã e lendo o jornal bruxo que se mexia, igual à foto que Arthur havia me dado de meus pais.
— Bom dia! — Falei para as duas.
— Bom dia, querida! — Molly falou sorridente e Tonks, a moça do cabelo roxo, sorriu.
— Bom dia! — Falei tímida.
— Quer tomar café, querida? — Ela perguntou.
— O que eles estão fazendo lá fora? — Emendei.
— Jogando quadribol, querida. — Ela falou e eu franzi a testa, fazendo—a rir. — Deveria suspeitar que você não conhece.
— Não mesmo. — Suspirei.
— É um esporte bruxo. — Molly falou. — Por que não vai lá fora dar uma olhada? Eu preparo seu café. — Assenti com a cabeça, acenando rapidamente para as duas e dei meia volta pela casa, procurando a entrada de ontem.
Saí pela porta, sentindo o forte sol bater em meu rosto e coloquei a mão em meu rosto, até me acostumar com ele. Vi algumas sombras passarem pelo meu rosto e olhei para cima novamente. Eu conseguia ver seis vassouras no ar. Fred, George, Harry, Rony, Gina e Moody. Eles corriam (ou voavam) pelo local, jogando e defendendo uma bola que parecia leve quando jogada no ar.
Hermione, Arthur e Remo estavam no chão, olhando o jogo e gritando palavras de ânimo para os jogadores. Fred e George seguravam um bastão cada. Harry e Gina disputavam as bolas e Rony e Moody estavam na frente de dois gols improvisados.
— Isso é incrível! — Falei, soltando um suspiro.
— É demais, não?! — Remo se aproximou e eu sorri.
— Cada dia é uma descoberta para mim. — Ele sorriu, rindo.
— Quer tentar? — Ele perguntou.
— Oh, não! — Me afastei um pouco. — Prefiro manter meus dois pés bem presos ao chão. Arthur deve ter contado do meu desespero em chegar aqui voando. — Remo riu.
— Ele mencionou algo sobre. — Ri fraco. — Seu pai também não era muito fã de voar. — Sorri.
— Pelo menos temos algo em comum. — Dei de ombros, voltando a olhar para as vassouras que desciam a nossa volta.
— Ele teria orgulho de você, sabia? — Remou falou e eu suspirei.
— Orgulho do que, tio Remo? — Falei. — Eu fiquei escondida durante 14 anos. Eu nem sei se eu sou uma bruxa. Só se for orgulho por eu me manter viva por todos esses anos. — Falei.
— Acho que isso já é o suficiente. — Ouvi uma voz ao meu lado e virei para o menino do raio da testa que vinha em nossa direção, segurando uma vassoura.
— Vou deixar vocês conversarem. — Remo se afastou e Harry tomou seu lugar.
— Você é minha prima, então?! — Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
— Foi o que me contaram. — Dei de ombros.
— Harry! — Ele estendeu a mão.
— Lily! — Apertei sua mão. — Em homenagem à sua mãe, suponho.
— Será? — Ele perguntou.
— Tive uma visão sobre isso, sua mãe era Lílian, certo? —Perguntei.
— Sim, era! — Sorri.
— Então é! — Respirei fundo.
— É difícil, sabe? — Ele virou para mim. — Não ter uma família e tal, mas a gente acaba encontrando nossa própria família. — Assenti com a cabeça.
— Sim. Aposto que sim! — Sorri.
— Bem, Harry, eu não te conheço, você não me conhece. Mas somos primos, ok?! Pode contar comigo sempre que precisar. — Falei e ele sorriu.
— Você também, Lily! Para te ensinar a se proteger e tudo mais. — Assenti com a cabeça.
— Talvez eu precise. — Falei. — Me falaram que você é bom nisso, certo?
— Mais por necessidade, na verdade. — Ele deu de ombros. — Mas estamos aqui. — Assenti com a cabeça.
— Estamos aqui! — Apertei sua mão novamente. — Estamos juntos. — Olhei para o lado, vendo Hermione olhando para cima e me aproximei da mesma.
— Não vai jogar? — Perguntei e ela riu, balançando a cabeça.
— Oh não! Eu odeio voar! — Ela falou e eu ri fraco.
— Entendo esse sentimento.
— Ei, Lil! — Virei para o lado, me assustando com George há alguns metros de mim, em cima de uma vassoura. — Vamos fazer seu primeiro voo de vassoura? — Comecei a gargalhar alto que fez com que Harry se assustasse ao meu lado.
— Ah, nem pensar! — Falei sorrindo.
— Qual é! Vamos lá! — Fred falou.
— Obrigada, garotos. Mas eu prefiro ficar aqui no chão! — Apontei para baixo, mexendo meus tênis na areia.
— Nem vem! — George falou. — Vamos lá! — Não deu tempo de eu me mexer. No primeiro segundo eu estava virando para a porta e, em seguida, eu estava sendo pega pela barriga e gritando o mais alto que eu podia.
Não sei como, mas George havia me colocado na garupa da sua vassoura e eu me agarrei com toda força do mundo em sua barriga, tentando me manter em cima da mesma. Ele não subiu vários metros no passeio, mas ele foi rápido.
Como controlava uma vassoura? Eu realmente não sabia. Não tinha botões, nem velocímetro. Mas não era tão desconfortável quanto parecia. Depois de eu repetir o nome dele umas 200 vezes, ele começou a ir mais devagar. Tornando o passeio até que agradável.
Após alguns minutos, eu senti liberdade em olhar por cima de seu ombro e notar a grande plantação que nascia aos arredores da toca. Afrouxei minhas mãos de sua barriga um pouco e só segurei um pedaço de pano da sua camisa e encarei aquela vista.
O passeio ficou confortável. O vento no rosto, o cheio de flores em meu nariz, a baixa velocidade. Nem era o fim do mundo. Até me permiti esticar a mão e sentir os dedos passarem pelos grãos de trigo no fim do terreno.
— Viu?! Não é tão mal! — Ouvi a voz de George e soltei uma gargalhada alta novamente. — Está gostando? — Ri fraco.
— Estou! Mas agora me coloca no chão, por favor! — Falei e ouvi sua risada.
Ele desacelerou a vassoura devagar, até que estivéssemos próximo do chão e ele pediu que eu segurasse nele novamente, para que eu não precisasse pular da mesma. Enquanto ela planava. Ele desceu a mesma devagar e quando notei, tinha meus dois pés no chão novamente e com uma vassoura inanimada no meio das minhas pernas. Senti minhas pernas fraquejarem por um momento e me segurei novamente em George, respirando fundo.
— Isso foi legal! — Falei rindo.
— Viu?! Nem foi tão ruim. — Ele falou e eu virei para ele, dando alguns tapas em seus braços.
— Mas nunca mais, na sua vida, faça isso. Ok?! — Ele se protegia com suas mãos e ria com a minha reação.
— Ah, qual é, Lil! — Fred apareceu ao nosso lado. — Nem foi radical.
— Vamos de novo, agora eu deixo você pilotar. — George falou e vi os outros meninos rindo.
— Não, obrigada! — Senti uma ânsia. — Eu acho que preciso vomitar. — Falei, correndo rapidamente para o primeiro arbusto que vi e me ajoelhei próximo ao mesmo.
— Bom dia, Lily! — Molly falou quando eu desci as escadas para o café da manhã no dia seguinte.
— Bom dia! — Falei, puxando a cadeira livre ao lado de Arthur e Rony e me sentei na mesma, olhando para todo mundo sonolento à mesa.
— Dormiu bem? — Bocejei, respirando fundo.
— Sim, tudo certo! — Falei, quase dormindo à mesa novamente.
— Quais os planos de hoje? — Arthur perguntou.
— Estávamos pensando em treinar alguns truques básicos para Lily. — Harry falou e eu assenti com a cabeça.
— Contanto que eles não incluam subir em uma vassoura. — Falei e eles riram novamente.
— Qual é, Lil. — Fred falou. — Você vai ter que fazer isso novamente algum dia.
— Exatamente. — Falei. — Algum dia, não hoje! — Sorri para os dois rapidamente, fazendo com que eles desanimassem rapidamente, me fazendo rir.
— Mas temos que aproveitar, as aulas voltam em alguns dias, vocês terão que ficar com ela. —George falou e eu assenti com a cabeça.
— Eu sei cozinhar e limpar. — Falei para Arthur e Molly.
— Ah querida! Não se preocupe! — Molly falou e eu ri fraco, mordendo um pedaço de torrada. Ouvi um pio estranho e virei o rosto para fora.
— O que é isso? — Perguntei, vendo algumas coisas voando do lado de fora.
— É dia de correio! — Rony falou, tão sonolento quanto eu.
— Se proteja, Lily! — George cochichou e eu franzi a testa.
Fred se levantou e seguiu para a janela que dava para a mesa de jantar e abriu a mesma, fazendo com que todos à mesa erguessem seus pratos e copos. Não sabia como reagir, então fiz a mesma coisa. Uma coruja desengonçada entrou pela janela, mergulhando no começo da mesa e indo parar quase no final dela, me assustando.
— Coitada! — Falei, vendo—a desengonçada na minha frente, com um envelope no bico.
— Ela está bem. — Rony falou ao meu lado.
— Errol! — Arthur gritou e foi como se a coruja tivesse sido ligada novamente e ela ficou em pé na mesa e coloquei meu prato e copo de volta no local.
A coruja se aproximou de mim e ficou me encarando. Olhei para ela de volta e parecia que ela queria algo de mim. Olhei o envelope que ela segurava em seu bico e li meu sobrenome escrito na mesma. Aproximei minha mão devagar da mesma, com medo de ser bicada e puxei a carta do seu bico, vendo que ela permitiu que eu a pegasse e me deu liberdade em fazer um carinho rápido em sua cabeça, vendo a coruja se aninhar em mim.
— Parece que alguém gostou de você. — Sorri para Errol e me distraí com a carta em minha mão, vendo um logotipo impresso na mesma, escrito “Hogwarts” com os desenhos de um leão, uma serpente, um guaxinim e uma águia. Nele também tinha um adesivo vermelho.
— É de Hogwarts. — Rony falou ao meu lado e notei que todos à mesa se empolgaram com isso.
Virei a carta de costas e notei os escritos “Lily Black — A Toca, Ottery St. Catchpole, Devon, Reino Unido”. Destaquei o adesivo vermelho e peguei a folha solta dentro do envelope.
— Leia alto, querida! — Molly falou e me senti um pouco acuada ao fazer isso, mas todos estavam curiosos, então eles já deveriam saber do que se trata.
— “Prezada, senhorita Black”. — Dei uma rápida tossida. — “Temos o prazer de informar que Vossa Senhoria tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”. — Li e observei o sorriso que surgiu nos rostos de Arthur e Molly. — “Estamos anexando uma lista de livros e equipamentos necessários para seu ano letivo. Uma varinha, um par de luvas de couro de dragão, um caldeirão de estanho tamanho padrão dois, e pode trazer, se quiser, uma coruja, um gato ou um sapo.” — Franzi a testa, achando engraçado. — “O segundo semestre se inicia dia 1º de fevereiro. Como é uma situação incomum, aguardamos sua coruja o mais breve possível”. — Suspirei. — “Atenciosamente, Minerva McGonagall, diretora substitutiva”. — Terminei de ler, virando a carta para os dois lados, procurando por mais alguma coisa. — O que isso quer dizer? — Perguntei.
— Acho que você não precisa mais de treino, Lily! — Arthur falou. — Você tem uma vaga na escola dos meninos e na escola que seu pai, e todos nós, estudamos. — Dei um pequeno sorriso.
— Mas como? Se eu nunca fiz magia? — Perguntei.
— Dumbledore sabe de tudo, querida! — Molly falou. — Ele com certeza sabe o que está fazendo. — Assenti com a cabeça.
— Mas que ano será que você vai entrar? — Hermione perguntou. — Era para você estar no sexto, mas... — Ri fraco.
— Dumbledore sabe, querida. — Molly falou e eu dei um longo suspiro.
— Eu espero! — Falei. — Porque eu realmente não sei de nada. — Suspirei, virando a página e encontrando o nome de alguns livros. — Como eu vou comprar tudo isso? — Perguntei. — Eu não tenho nada e não tenho dinheiro.
— Vamos para o Largo Grimmauld, seu pai deve ter deixado um cofre em Gringotes. — Arthur falou e eu assenti com a cabeça. — Além do mais, é a lista do primeiro ano, temos vários desses materiais que foram dos meninos, dá para você aproveitar. — Assenti com a cabeça.
— Vai ser ótimo. — Sorri.
— Bem, vamos comer que o dia vai ser cheio! — Molly falou e eu olhei para a coruja que me encarava ainda e aproximei minha mão de seu pelo, acariciando—a levemente de novo.