Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 24/11/2024Estar apaixonado era uma droga, pelo menos para . Ele odiava ficar ansioso com cada coisinha que sua amada poderia fazer. A preocupação vinha com as coisas mais mínimas: a forma com que ela reagiria a algo que ele fez, o que ela diria, se ela se importaria ou se seria algo meio tanto faz.
Ele odiava, mas também amava ser apaixonado por . Uma relação sem sentido que ele jamais entenderia, mas tentava aceitar a realidade da forma mais plena possível. De fato, era apaixonante. Talvez porque ela sempre superava suas expectativas em qualquer coisa, ou quando suas reações eram tão genuínas que pareciam contagiar por inteiro.
Eram naqueles pequenos detalhes que a garota o conquistava cada vez mais, deixando-o confuso e nervoso. Confuso, pois não sabia decifrar exatamente o que era aquele pulsar mais forte em seu peito sempre que a via ou quando se pegava apenas pensando nela. Nervoso, pois não sabia se era recíproco. E, céus, aquilo o apavorava.
Porém, naquela tarde, havia decidido confessar seus sentimentos — ou seja lá o que fosse aquela sensação de borboletas no estômago. Gostaria de dizer tudo o que estava entalado, talvez por meio de uma música ou em um momento romântico que ele criasse. O rapaz só precisava que aquilo acontecesse logo.
E, nessa urgência, achou de bom tom convocar seu melhor amigo para uma reunião extraordinária, que nomeou carinhosamente de SOS Coração. tinha achado graça do nome.
— Não acredito que colocou um nome cafona até mesmo nisso — disse entre as risadas altas.
— Cala a boca, alguém pode te escutar — o mais novo deu um tapa com a parte de trás da mão na coxa do melhor amigo, enquanto olhava para os lados para garantir que ninguém estava prestando atenção neles.
precisou respirar fundo para acalmar as gargalhadas altas. Seu corpo, que outrora estava jogado para trás no encosto do sofá, foi lentamente tomando postura à medida que as risadas diminuíram. No início, até mesmo olhar para o rosto pidão de era engraçado.
Jung achava cômico seu melhor amigo estar apaixonado por sua melhor amiga, principalmente por eles serem de nichos diferentes de sua vida. apareceu como melhor amiga da sua ex — que deu uma facada nas costas deles dois anos atrás, por isso tinham se aproximado tanto. Já sempre foi seu melhor amigo, vizinho de porta. Cresceram juntos e, agora, estavam na mesma escola.
Ao ver o desespero evidente ainda nos olhos do amigo, pegou uma prancheta de dentro de sua mochila. Desde o instante em que o convocou para aquela reunião urgente, teve certeza de que precisaria arquitetar algum plano — ele só não esperava que fosse ser um plano de confissão de sentimentos.
A folha sobre a prancheta começou a ficar completamente riscada e preenchida de desenhos e palavras com uma caligrafia duvidosa. desenhava o passo a passo que o amigo teria que cumprir para se confessar perfeitamente. Era ridículo demais até para ele, mas decidiu usufruir do cafona para não deixar ainda mais ansioso.
— E é isso, acho que é o suficiente. — Parou de olhar para a prancheta, levantando o olhar ao amigo. — Que foi?
— Estou nervoso. — jogou-se sobre o sofá, cobrindo os olhos com as mãos, cansado. Sua cabeça palpitava forte, deixando-o ainda mais tenso. revirou os olhos, soltando uma risada fraca.
— Era para eu estar surpreso com isso? — O mais velho tombou a cabeça para o lado, logo descansando sua caneta sobre a mesa de centro. — Você sempre fica ansioso quando o assunto é a .
sentiu todos seus pelinhos se arrepiarem. Ele se sentia patético com o quanto seu corpo reagia ao apenas escutar o nome da garota.
— E você decidiu se declarar para ela depois de, sei lá, três anos gostando dela? — ele continuou, ainda encarando o amigo.
sentia-se orgulhoso pelo garoto finalmente ter criado coragem de confessar seus sentimentos pela melhor amiga. Atualmente, era próxima de ambos. Depois de terminar o relacionamento e se mudar para a sua escola, os três viraram quase inseparáveis. Ela era como uma irmã caçula para si, mas sabia que o amor e carinho que sentia era totalmente diferente.
— A não gosta de coisas extremamente extravagantes, você sabe. Não precisa ser nada para chamar atenção, apenas uma coisa simples e direta.
— E se ela não achar o suficiente?
— Eu juro, , se a sente o mesmo por você, isso será muito mais que o suficiente — largou a prancheta, levantando-se do sofá e caminhando em direção do amigo, que nessa altura já estava se jogando no chão da sala.
As pessoas já estavam se dispersando e indo para outros lugares da república, provavelmente seus quartos, já que estava escurecendo e os dois rapazes tinham praticamente tomado a sala toda para eles mesmos. ficou em silêncio, encarando o amigo e esperando alguma reação, mas nada aconteceu. Voltou para o sofá.
se sentia em um dilema. Queria muito se confessar. Acreditava que, devido aos últimos incidentes, já era mais que hora de ele se declarar de vez para , mas algo parecia impedi-lo.
, por outro lado, conseguia entender perfeitamente as enormes interrogações em volta da cabeça de , por isso, não queria pressioná-lo a nada. Gostava da forma que o amigo se preocupava com sua irmãzinha, mas tinha receio de algum dos dois se machucar.
— hyung.
— Fala.
— Me desculpa — Jognho disse de repente em um resmungo, virando a cabeça na direção do outro. Estava com aquele pedido de desculpas entalado dentro da garganta desde o momento em que chegara à república com sua mochila e a prancheta cafona de sempre.
— Te desculpar por…?
— Pelos surtos de ciúme que tive — confessou com a voz baixa, sentindo vergonha. riu. — É sério, cara. Acho que fiquei tão louco apaixonado que não sabia medir meus sentimentos, me desculpe mesmo.
— Fique tranquilo, Jognho. é como uma irmã para mim, e você sabe disso — sorriu, botando as mãos sobre os joelhos e suspirando. Haviam passado por poucas e boas por conta do ciúme excessivo de , mas decidiu relevar no momento. — Mas saiba que ainda vou te zoar por isso.
Em um estalar, se lembrou de algo, logo pegando o celular rapidamente, ignorando todas as mensagens e notificações nas redes sociais e procurando por um vídeo em sua galeria. Não tardou a encontrá-lo.
A voz de começou a soar no recinto, fazendo com que ele próprio levantasse a cabeça do chão, confuso. Ele não estava cantando, mas por que aquela voz era tão parecida com a dele?
Percebeu que o amigo encarava o celular com os olhos fixos, como se analisasse algo no aparelho. se dirigiu até , curioso com o que ele assistia, e aproveitou para sentar no sofá ao seu lado.
Era um vídeo seu cantando uma de suas composições.
— Nem pense — adiantou-se, já prevendo o que diria.
— Essa música ficou incrível, mano, a adoraria.
— Eu não vou me declarar para ela por meio de uma serenata, .
— Por favoooor — o mais velho pediu, juntando as mãos. — Você compôs essa música para ela, por que não se confessar assim? Você pode se sentir mais livre cantando, não é como se nunca tivesse te escutado.
pressionou os lábios, avaliando a possibilidade. Sim, talvez se ele cantasse, fosse até mais fácil. Mas ele não tinha coragem de mostrar a suas composições, não ainda.
— Desencana.
— “Eu te amo, eu gosto de você, eu amo você. É estranho listar assim, são tantas palavras” — cantarolou, fazendo com que o mais novo sentisse o rosto inteiro esquentar. — Eu tenho certeza de que a vai adorar.
— Eu não consigo, amigo.
— Por que não?
— Porque não, ué — confessou sem paciência, sentindo o nervosismo voltando e suas mãos suando. Olhou para o próprio colo, arrependido de ter sido levemente ignorante. — Desculpa, cara, é que… Eu não me sinto confiante com minhas composições ainda. Acho que a merece tanto mais…
O vídeo já havia parado de rodar, no entanto, as memórias de estavam frescas em sua mente e coração. Quando começara a escrever a letra e montar a melodia simples em seu violão. Quando se frustrou diversas vezes, pois achava que era muito mais do que ele havia escrito.
A melodia era como a batida de seu coração, e a letra era a melhor declaração que ele poderia fazer. E, mesmo assim, ele não conseguia.
Sua mente sabotava-o como se aquilo não fosse bom o bastante, como se fosse cobrar por mais e mais — pois ela merecia, mesmo. achava que ela poderia não gostar, e aquilo doeria muito mais do que se ele nunca tivesse tentado.
— Hyung, isso é tão difícil — disse baixo e sem vontade alguma de continuar, mas, mesmo assim, prosseguiu. — Eu quero que ela diga que me ama de volta, que gosta de mim. Eu só… preciso disso.
— Basta você dizer primeiro — aconselhou, apoiando a mão sobre o ombro do amigo. — Ou cantar sobre isso primeiro, aí você que sabe.
— Ela é tão… A — riu ao notar que não conseguia defini-la. — Ela tem um jeito estranho e mané, mas é tão adorável nela.
revirou os olhos com um sorriso, percebendo o quão clichê e apaixonado falava.
— E, mesmo com esse jeito bobo dela, eu ficaria ao seu lado e cuidaria dela com a minha vida. Eu sempre estaria ao lado dela porque… Sei lá, talvez eu a ame.
olhou em volta, arregalando os olhos em seguida ao notar algo. Ajeitou a postura, colocando a mão sobre a boca.
— E por que você não conta sobre esse segredo para a ?
— Porque eu tenho medo dela dizer não — falou quase rindo, sentindo vergonha de si mesmo. — Por que essa seria uma lembrança totalmente horrível e eu só quero ter memórias boas com ela. Gosto de olhar para a e pensar que, nossa, eu só lembro de coisas boas sobre ela.
— Você pode se surpreender.
— Olha para ela, cara.
— Ninguém é perfeito, .
— Mas ela é quem mais se aproxima da perfeição, — cortou-o rapidamente. Riu baixo logo em seguida. — Eca, isso foi extremamente meloso.
O mais velho sorriu, olhando em volta mais uma vez e se esforçando para segurar a vontade imensa de rir.
— Acho que você deveria tentar — disse por fim, batendo de forma leve na mesa e ficando em pé. — Pode apenas mostrar o vídeo para ela. vai entender o recado.
Seus olhos se posicionaram fixamente na direção da porta, despertando a curiosidade em .
Por Deus, o que ele tinha acabado de dizer, mesmo?
estava atônita.
— O-o quê? — A voz da garota soou baixa, quase inaudível. poderia jurar que seus batimentos cardíacos estavam muito mais altos do que qualquer outro som do lado de fora daquela sala — que ironicamente estava vazia no momento.
— Acho que vocês precisam ficar a sós, não?
não esperou por nenhuma resposta, apenas se virou e seguiu pisando fino. queria esganá-lo, mas não conseguia desviar o seu olhar que prendera no de .
Seu coração parecia bater em seu intestino.
— Desde quando você está aí ouvindo?
— Você… Gosta de mim? — ela perguntou com o rosto pegando fogo, ignorando a pergunta do outro. Seus olhos piscavam com mais velocidade que o normal.
— , o que você escutou?
— O suficiente — respondeu com as sobrancelhas arqueadas. — Agora, me responde.
Ele não tinha mais como mentir, né?
— Sim.
sentiu as pernas fraquejarem, precisando urgentemente se sentar. Seu coração batia forte, suas mãos suavam e ela nem ao menos conseguia entender a razão daquilo tudo.
Ela nunca havia imaginado aquela situação: e como um casal apaixonado. Aquilo era demais, inusitado demais.
Mas, ao mesmo tempo, lhe soava bem.
— Desde quando?
— Faz um tempo já… — ele disse baixo, coçando a parte de trás da cabeça. — Olha, , eu juro que estava planejando fazer algo mais organizado para te dizer isso, me desculpa.
— Não tem porqu–
A garota se calou, lembrando-se de algo:
— De que vídeo o estava falando?
— A-ah… — sentiu a garganta ficar seca de repente. — Não é nada importante.
— Eu quero ver.
— Não mesmo.
curvou as sobrancelhas ao mesmo tempo que seus braços se cruzaram, demonstrando sua confusão.
— Oi?
— Não vou te mostrar o vídeo, .
— E por que não?
— Vergonha.
— De mim?! — perguntou, incrédula. Sua boca permaneceu aberta, indignada. soltou uma risada baixa, não se surpreendendo com o mini drama.
— Para com isso.
colocou a mão no coração, atuando em seu sofrimento. Ela estava super curiosa sobre o vídeo, mas não iria forçar que o rapaz o mostrasse. Preferiu deixar com que se confessasse no tempo dele, e demorasse o tempo que lhe fosse necessário. Ela poderia esperar mais um pouco — na verdade, ela mesma precisava redescobrir o que eram aquelas palpitadas diferentes em seu peito.
Contudo, se aproximou em passos curtos. continuava estático desde o momento em que a viu parada na porta, segurando uma sacola plástica na mão — que ele chutava estar com um lámen e duas salsichas dentro. Encarou o rosto da menina se aproximando.
parou a um passo de distância, também encarando os olhos do rapaz.
— Eu vou esperar até você ficar pronto, ok? — ela disse assim que parou de andar, esperando alguma reação de , que continuava paralisado.
— C-como assim?
— Você pode planejar tudo o que quiser para se confessar para mim, só não posso fingir que não me lembro do que aconteceu aqui — ela riu da careta dele, esticando os dois braços para segurar sua mão entre as suas. — Eu te espero.
Oh nós estamos, nós estamos, nós estamos Então estamos em tempo de amor