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Revisada por: Hydra

Última Atualização: 03/09/2024
Carter

Ao deparar-me com a majestosa mansão, fiquei boquiaberta. Era simplesmente enorme. Quando a minha mãe mencionou que se casara com o seu primeiro amor do ensino secundário, imaginei que fosse alguém do nosso círculo social, não o proprietário de uma mansão no coração de Londres.

Passei cerca de 30 segundos a admirar toda a fachada daquela que seria a minha nova residência antes de ser envolvida por um abraço cheio de quatro anos de saudades, conforme a minha mãe descreveu, depois de insistir para que me soltasse.

Esta era a minha estreia em Londres, na verdade, era a minha primeira vez fora dos Estados Unidos, e ao que parecia, eu estava aqui para ficar. Depois do casamento da minha mãe, ela começou a pedir-me para me mudar para Londres, para que pudéssemos viver juntas, juntamente com o novo marido e o filho dele, a quem ainda não tive a oportunidade de conhecer. No início, recusei-me a fazê-lo, pois parecia sem sentido. Eu tinha vivido toda a minha vida em Nova Iorque e tinha um relacionamento de seis anos que deixei para trás, após a minha mãe garantir-me uma vaga como professora de Literatura Moderna na Universidade de Londres, onde ela também lecionava economia há cinco anos.

Foi uma escolha difícil, mas a verdade é que minha relação com o Ethan se tornou, no mínimo, monótona. Começamos a namorar quando eu tinha 19 anos, e desde então, nunca mais nos separámos, até o dia em que nos transformámos apenas em parte da rotina um do outro. Não vou mentir e dizer que não chorei, pois chorei bastante, mas creio que o principal motivo das minhas lágrimas, foi quando percebi que já não o via da mesma forma. Era estranho, pois eu o amava, mas não amava a pessoa que estava diante de mim. Então deixá-lo no passado, não foi tão devastador, como imaginei. Se é que isso faz algum sentido...

— Anna, filha! As saudades que tive! — minha mãe abraçou-me mais uma vez enquanto o motorista tirava as minhas malas de dentro do carro e devo ainda acrescentar... que carrão!

— Mãe, por favor! — resmunguei, sendo envolvida pelos seus braços — Estás a apertar-me.

— São abraços de quatro anos de saudade, Anna! Sou tua mãe, deixa-me!

Dei um sorriso mascarado pelo desconforto e deixei-me ser abanada como um fantoche por mais uns segundos, até o bonitão do meu padrasto aparecer, no cimo das escadas, que davam para a entrada da casa.

— Anna! É um prazer finalmente te poder conhecer pessoalmente. — o Michael sorriu abertamente, enquanto descia o lance de escadas que nos separava.

— Olá! — soei tímida.

— Abraça o Michael, filha! — incentivou-me minha mãe antes do seu marido me puxar para um abraço quase tão apertado como o dela.

Naquela altura, já devia estar completamente despenteada. Detestava ser abraçada, e sabia que se o manifestasse em voz alta seria alvo de julgamentos, mas a verdade é que detestava mesmo e estava a fazer um esforço consideravelmente grande para não revelar o meu desconforto.

Quando o Michael me libertou, pude finalmente ter um vislumbre de quão alto e bonito ele realmente era. O seu cabelo era escuro, com alguns fios grisalhos que lhe conferiam charme. Possuía um perfil forte e angelical, se é que isso é sequer possível, e os seus olhos eram de um verde hipnotizante. Não era difícil perceber por que razão a minha mãe se mostrava tão apaixonada sempre que me falava dele nas nossas videochamadas, e se ele fosse realmente tão amável quanto parecia, a minha mãe tinha ganho na lotaria.

Fui guiada a explorar toda a casa, desde o hall magnífico até ao jardim com piscina, e só isso levou quase meia hora. A minha mãe fez questão de não deixar escapar nenhuma divisão, e quando finalmente chegámos à porta do que seria o meu quarto, ela decidiu criar suspense.

— Devo confessar que passei um bom tempo à procura da decoradora indicada para me ajudar a decorar o teu quarto e sei que estás assoberbada, porque até agora tudo o que viste não tem nem um pouco a ver com a vida que levávamos em Nova Iorque, mas asseguro-te que fiz todos os esforços possíveis e imagináveis para fazer deste quarto o teu lugar especial.

Levantei as sobrancelhas, meio que querendo rir um pouco do seu discurso: — Mãe, podes estar tranquila, ok? Eu já não tenho mais 15 anos, e sim! Isto é uma mudança abrupta, mas tu também me deste a oportunidade de uma nova vida aqui e eu pretendo agarrá-la. Eu sei que me mostrei muito relutante a princípio, mas podes estar tranquila, eu vim com intenção de ficar...

Ela sorriu, e respirou fundo, antes de me abraçar pela vigésima vez naquele dia.

— Mãe... por favor... — sacudi-me do aperto do seu abraço.

— Há coisas que não mudam, não é? — riu do meu desconforto, antes de me soltar — Ah! Este em frente é o quarto do teu irmão, Leonardo. — apontou para a porta na frente do meu novo quarto — Ele não está em casa ainda, só chega mais tarde. Provavelmente só se vão conhecer na festa.

Ah, a festa... quase me esquecia da festa... Hoje o meu padrasto ia celebrar duas décadas de carreira como juiz e tinha convidado uma boa parte da elite londrina para festejar essa data na sua mansão.

— Certo. — concordei, tentando não mostrar a minha falta de entusiasmo. Sem demora, a minha mãe abriu a porta do que seria, a partir de agora, o meu quarto, e não consegui evitar formar um grande "O" de admiração, quando entrei. Estava perfeito.

Ela conhecia-me bem demais, o que era evidente desde a escolha do papel de parede até às almofadas e carpetes claras que conferiam ao meu quarto um aspeto acolhedor e elegante.

— Está perfeito. — assegurei-lhe, com um sorriso nos lábios.

— Gostas mesmo? Se quiseres, posso mudar algumas coisas.

— Não mãe, está perfeito! — repeti, agora olhando para ela — Não há absolutamente nada que eu queira mudar.

Ela mostrou-me o armário, cheio de roupas novas que eu nunca sonhei sequer ter. Eram marcas caras, algumas eu nem conhecia, mas os preços nas etiquetas revelavam o luxo em todas aquelas peças.

— Eu fiz questão de escolher todas estas roupas, mas como te disse antes, se houver algo que não gostes, sempre podemos comprar roupa nova.

Mesmo que não gostasse de metade das peças que estavam ali, aposto que continuava a ter mais roupa do que alguma vez tive num armário, ou em dois.

Tranquilizei-a sobre tudo e agradeci-lhe mais uma vez. Ela permaneceu no quarto comigo por mais uns vinte minutos, até perceber que eu realmente precisava de descansar um pouco se quisesse estar presente na festa mais tarde. Não saiu sem antes trazer-me um vestido para usar na festa, e depois abraçou-me, como se os abraços dela ainda não tivessem sido suficientes. Finalmente, deixou-me sozinha, e eu deitei-me.

Imaginem viver dentro do cenário de Gossip Girl! Era exatamente assim que me sentia ao descer as escadas para o primeiro andar da mansão dos Van der Wood. Só faltava alguém gritar, "LUZES, C MARA, AÇÃO!"

Agora sim, eu sentia-me genuinamente uma outsider naquele ambiente exuberante. Para onde quer que olhasse, pensava: "Acabei de ver a mulher mais bonita de sempre." Não havia como não me sentir intimidada no meio de todas aquelas pessoas lindas e importantes. E pior ainda, pessoas que estavam curiosas para conhecer a "nova filha" do juiz Michael Van der Wood.

Inspirei fundo antes de abandonar o último degrau que me separava do primeiro andar e passei as mãos nervosamente pelo vestido acetinado preto que a minha mãe tinha deixado no meu quarto. Devo admitir que me sentia extremamente elegante: o vestido era comprido e sem padrões. A sua beleza estava concentrada nas costas completamente abertas. Tão abertas que sequer podia usar roupa interior sem que se visse. O meu cabelo castanho e ondulado estava solto, descaído sobre um dos ombros, chamando ainda mais a atenção para as minhas costas, repletas de pequenas tatuagens ou, como a minha mãe gostava de as chamar, carimbos.

Olhei em volta à procura da única cara familiar, mas não encontrava a minha mãe em lado nenhum.

— Perdida? — perguntou o meu padrasto.

— É assim tão obvio? — sorri um pouco envergonhada por admitir.

O Michael estendeu-me a sua mão, para que o acompanhasse. Aceitei-a, um pouco relutante.

— Vou te levar à tua mãe para que possas ser apresentada por ela aos nossos amigos — senti um alívio de imediato — Acredito que assim seja menos chato para ti!

Agradeci, sentindo-me como uma criança perdida num supermercado. Uma criança de 25 anos.

A minha mãe estava deslumbrante. Usava um vestido comprido, em tom de azul marinho e o cabelo estava preso num coque em tranças. Era a primeira vez que a via assim linda e radiante. O seu sorriso contagiava qualquer um com quem ela falasse e nem eu mesma consegui me deter em sorrir, quando me aproximei.

— Minha Anna! — exclamou um pouco alto demais, atraindo olhares curiosos para mim — Filha, esse vestido fica-te soberbo.

— Obrigada, mãe. — dei um sorriso de evidente desconforto — Tu também estás linda.

— Christy, Jonnas, esta é a minha filha!

Sorri para uma mulher de estatura média, cabelos loiros e curtos e vestido vermelho escarlate. O homem, que assumi ser o seu marido, tinha o cabelo grisalho, óculos e um bigode engraçado, ele também não era muito alto e usava um smoking preto com um lenço vermelho no bolso, a condizer com o vestido da presumida esposa.

— Anna! Ouvi falar maravilhas de ti, minha querida. — a mulher sorria exibindo os dentes mais brancos que alguma vez vira.

— Vindo da minha mãe não me surpreende de todo. Ela nunca foi poupada de elogios.

— É a minha única filha, que mais podem esperar de mim?

— O nosso Liam também é filho único, Elaine! — exclamou a Christy — E nem assim o gabo um terço, daquilo que gabas a Anna.

— Não há muito que elogiar nele, verdade seja dita! — comentou o Jonnas antes de levar um olhar de reprovação da sua esposa — É verdade Christy, o Liam pode ser meu filho, mas isso não faz dele perfeito, muito menos um exemplo a seguir.

Senti uma nuvem de tensão instalar-se ali, mas felizmente, não durou muito. A minha mãe encontrou uma forma de desviar o assunto, fazendo com que o casal começasse a contar-me toda a sua história de vida, desde o momento em que se conheceram e apaixonaram, até à construção do seu império imobiliário. Eles eram os proprietários de uma das maiores empresas imobiliárias do país, a Hill's House, e pelo que entendi, eram amigos da família Van der Wood há vários anos.

Depois do meu terceiro copo de champanhe e de pelo menos mais vinte caras novas, percebi que precisava de me refugiar por uns instantes. Primeiro porque o jantar ainda não tinha sido servido e o álcool já me estava a afetar, e segundo, precisava urgentemente de usar a casa de banho.

Enveredei por um corredor, que achava ser o certo, e percorri-o até ao fundo, apenas para verificar que muito provavelmente estava na ala errada da mansão.

— Como é que não consigo encontrar um banheiro em uma casa tão grande? — reclamei baixo. Suspirei em aflição, a minha bexiga estava a contorcer-se dentro de mim, e a cada passo que dava, sentia as suas súplicas.

Até que finalmente encontrei! Corri a distância que me separava da porta entreaberta do banheiro, mas fui detida pelo que os meus olhos testemunharam. O meu coração acelerou quando vi um homem alto, de cabelos ondulados e pretos, numa situação íntima com uma mulher que parecia ser uma das camareiras. As suas bocas beijavam-se com voracidade. As mãos dele exploravam o corpo da mulher, cravando os seus dedos na pele dela. Eu estava completamente chocada, mas não consegui mover-me dali, até ela notar a minha presença e chamar o homem à atenção, para que parasse.

Fechei a porta imediatamente. Fiquei tão nervosa que só e conseguia pensar em fugir dali rápido. Disparei a correr para fora do corredor, quase tropeçando nos meus saltos altos, como se tivesse sido testemunha de algum homicídio.

A angústia impelia-me, mas não me permiti olhar para trás para verificar se alguém me seguia. A minha única missão era encontrar a minha mãe, que felizmente, foi rapidamente avistada. Ela se preparava para sentar numa das várias mesas que se estendiam pelo salão. O desejo de sair dali, para longe daquela situação perturbadora, era o único pensamento na minha mente.

— Anna, estás bem?

— Sim, por quê? — sentei-me sem nem sequer confirmar se aquele era mesmo o meu lugar.

— Pareces assustada. — comentou — Acredito que seja um pouco demais para ti. Muitas caras em tão pouco tempo.

Torci o rosto numa careta tonta, mas acho que a minha mãe não estranhou. À minha frente tinha uma placa que dizia Anna Carter, sorri aliviada porque estava sentada no lugar certo.

— Leo! — a minha mãe exclamou — Anda, venha conhecer a Anna!

Olhei para a minha mãe que se colocava de pé para recebê-lo de braços abertos e pus-me de pé também.

Se os meus olhos não me denunciaram, então foi o meu queixo, que quase bateu no chão, quando vi que aquele era o mesmo homem que se estava a enrolar com a empregada no banheiro.

Ele abraçou a minha mãe, cobrindo-a por completo, de tão alto que era.

— Anna, este é o Leonardo, o filho do Michael.

Os seus olhos verde esmeralda cruzaram-se com os meus e a sensação de reconhecimento deu-me a certeza de que ele me tinha visto quando fugi.

— Muito prazer, Anna. — pegou na minha mão para beijá-la. — Estava ansioso por te poder conhecer pessoalmente.

Eu não falei nada. Aliás, acho que naquele momento eu não era capaz de dizer fosse o que fosse. Assenti com uma idiota e tentei produzir algo parecido com um, “o prazer é todo meu”, mas soou mais como um grunhido estranho.

— Senta-te Leo, vais ficar na nossa mesa ao lado da Anna. — congelei de imediato — Vou chamar o teu pai, senão por este andar, só começamos a jantar amanhã.

Vi a minha mãe abandonar a mesa, deixando-me sozinha com o meu novo meio-irmão, que ao contrário de mim, parecia estar inabalavelmente calmo.

Ajeitei o meu vestido evitando criar contacto visual, mas então uma mão pousou sobre a minha e vi-me obrigada a encarar aqueles olhos verdes que me desconcertaram.

— Posso te chamar de Anninha ou preferes Anna? — o seu sorriso revelava o quanto ele se estava a divertir com tudo isto.

Limpei a garganta antes de falar:

— Anna me parece mais apropriado. — respondi, tirando a minha mão debaixo da dele.

— Pena. — disse, olhando para a minha mão que se escondia debaixo da mesa — Anninha soa mais íntimo.

Senti o meu rosto ferver de embaraço. Eu não sabia se era o álcool ou se era a sua presença, talvez fosse uma mistura de tudo, mas eu sentia-me completamente exposta.


Van der Wood


Saí do banheiro a tempo de ver as costas tatuadas daquela que acabava de me flagrar a comer a empregada. Ela fugiu tão depressa, que quase parecia como se tivesse sido ela quem acabava de ser apanhada com a boca onde não devia. Ri baixo antes de retornar ao toalete.
— Achas que ela vai dizer alguma coisa? — a Beatrice abotoava a camisa apressadamente — Eu preciso do dinheiro! Se ela der com língua nos dentes sou despedida!
Olhei-me no reflexo do espelho, enquanto ajeitava o cabelo com as mãos.
— Não seja ingénua. — cruzei um olhar presunçoso com ela — Quem te contratou fui eu! E além do mais… — ignorei a sua tentativa de me puxar para um último beijo — Provavelmente é só a acompanhante de alguém, nunca a tinha visto.
A minha resposta pareceu relaxá-la um pouco mais. Disse-lhe que esperasse uns dois minutos, para que ninguém notasse que saímos do banheiro juntos e quando cheguei ao salão principal, todos se preparavam para jantar.
As duas primeiras pessoas que vi foram a minha nova madrasta, ao lado da morena com as costas tatuadas. O sorriso de cafajeste ameaçava crescer, a cada passo que me aproximava mais da mesa delas. Ainda estava a uns 3 metros de distância quando Elaine me viu. Ela abriu os seus braços para me receber num abraço caloroso ao qual retribuí mais por educação do que por vontade — odiava abraços — e, finalmente, tive a oportunidade de ver o rosto da dona daquelas costas tatuadas. E ela era apetitosa.
O seu cabelo ondulado estava estrategicamente pousado sobre um dos ombros, o seu rosto era delicado, mas os seus olhos intensos criavam um contraste no mínimo aliciante.
— Anna, este é o Leonardo, o filho do Michael.
Anna? Era esta a filha da Elaine? Isto tinha acabado de se tornar tão mais interessante.
— Muito prazer, Anna. — peguei na sua mão e beijei-a sem tirar os meus olhos escuros, dela — Estava ansioso por te poder conhecer pessoalmente.
Senti o seu corpo enrijecer e a sua face ruborizou. Murmurou uma resposta quase inaudível e voltou a sentar-se. Segui-a e sentei-me do lado dela, enquanto Elaine ia chamar o meu pai.
— Posso te chamar de Anninha ou prefere Anna? — pousei uma mão sobre a dela, conseguindo que me olhasse. Sabia que isso ia deixá-la ainda mais desconcertada, mas era divertido demais para não o fazer.
— Anna parece-me mais apropriado. — deixou a sua mão deslizar e escondeu-a de mim.
— Pena! Anninha soa mais íntimo.
A forma como se mostrou afetada, extasiou-me. Parecia uma adolescente.
Os nossos pais chegaram e ocuparam os seus lugares à mesa. Durante todo o jantar, percebi que a Anna estava tensa ao meu lado. A sua inquietação era palpável, e cada movimento mínimo dela instigava-me a buscar ainda mais sua atenção. Enquanto os pratos eram servidos, o meu pai direcionou uma enxurrada de perguntas sobre a minha semana na Itália.
Respondi a tudo, descrevendo minha visita à minha mãe em Roma. Desde o divórcio dos meus pais, ela havia retornado para a cidade, onde vivia com meu padrasto e avós. As minhas visitas eram regulares, e ocorriam a cada dois meses, e eu costumava passar uma semana por lá. Enquanto compartilhava esses detalhes, pude sentir o olhar de Anna sobre mim, embora ela mal se movesse ou falasse. Tentei fazer com que ela reagisse de alguma forma à maneira como eu procurava o seu olhar, mas ela continuava a evitar-me a todo o custo, até que se viu obrigada a responder às perguntas do meu pai.
— E tu Anna? Como te sentes?
Ela pousou os talheres e limpou a garganta timidamente:
— Bem, um pouco cansada da viagem apenas.
— Imagino que esteja cansada, é um voo muito longo. E ainda por cima chegaste justamente hoje. Mal teve tempo para descansar!
Ela deu um pequeno sorriso e negou com a cabeça:
— Foi escolha minha, na verdade! Por isso não me posso queixar.
— E em relação ao teu novo emprego? — agora foi a Elaine quem perguntou — Não estás ansiosa por começar a dar aulas? Quando me disseram que a vaga de professor de Literatura Moderna estava aberta eu soube logo que a Anna seria a pessoa ideal para o cargo, filha.
Professora? Que sexy…
— Começo daqui a dois dias e ainda não sei onde fica a universidade sequer… — sorriu um pouco mais relaxada.
— Não seja por isso! — exclamou o meu pai — O Leo estudou lá e de certeza que te pode levar amanhã para que conheça o lugar!
— Que ótima ideia! — a Elaine deu um salto no lugar, com um entusiasmo que eu diria ser desnecessário — Eu adorava poder levar-te lá, filha, mas amanhã tenho o dia cheio de reuniões. — acrescentou.
O desconforto da Anna era tão grande que se tornava visível:
— Não há necessidade, eu posso muito bem resolver isso sozinha. Além disso, não quero dar trabalho ao Leonardo!
Adorei ouví-la dizer o meu nome…
— Eu te levo. — interferi. — Será um prazer poder ajudar.
Consegui que me olhasse e desta vez senti uma faísca de algo ao qual não sabia dar nome, mas que me despertou a vontade de suster aquele olhar por mais uns segundos.
— Não é necessário. — insistiu, teimosa. — Além disso, acredito que ele não saiba onde fica a ala de literatura.
— Sei sim, namorei com uma garota que estudava Literatura Inglesa. — garanti-lhe, fazendo-a desistir de ripostar.
A noite continuou em volta de trivialidades e conversas que pouco me interessavam. Quando o assunto girou novamente sobre a ideia de eu levar a Anna à universidade no dia seguinte, ela insistiu que não era necessário, mas eu não dei o braço a torcer. Algo me dizia que se não o fizesse, estaria a perder uma grande oportunidade de me divertir um pouco, com a minha nova irmã.
A festa estendeu-se por mais umas três ou quatro horas, mas logo após o discurso do meu pai, arranjei forma de sair sem ser notado. Era domingo e já passava da meia-noite, o que significava que dentro de pouco tempo, os meus amigos também estariam fora de casa prontos para mais uma noite de festa na capital inglesa. Deslizei silenciosamente pelos corredores, evitando os olhares curiosos dos convidados que ainda desfrutavam da festa. No momento em que alcancei a porta de saída, senti o frio noturno bater-me no rosto e escapulindo-me como um puto de 16 anos, fui direto para casa do Liam.
— Que tal a festa? — perguntou-me colocando um cigarro na boca.
— Mais do mesmo… tremendamente chata! — ele riu, enquanto eu acendia um dos seus cigarros. — No entanto… — dei um trago no cigarro — Conheci a minha irmãzinha.
— É boa?
Ri da sua pergunta. A verdade é que ‘boa’, era um eufemismo. Ela não era “boa”, ela era podre de boa, porém, preferi ocultar esse detalhe do meu melhor amigo.
— Basicamente. — respondi, com um sorriso divertido nos lábios.
Eu não ia dizer o que realmente achava dela, ele não precisava de saber.
Seguimos para o Under por volta das duas. A noite estava especialmente fria, mas isso não parecia ser impedimento para todas aquelas pernas nuas na fila de espera, fila essa que dava a volta ao quarteirão. Os apelidos Van der Wood e Hill eram já bem famosos na noite de Londres, então esperar para entrar nunca era algo pelo qual tínhamos de passar.
Ao entrar na discoteca fui inebriado por em cheiro forte a álcool, perfume e tabaco, nada a que já não estivesse habituado. Todos esperavam por nós na zona VIP, mas eu queria ir para o meio da pista divertir-me um pouco, antes de tratar de negócios.
— Eu vou ali beber qualquer coisa. Já te encontro! — informei o Liam, antes de o abandonar.
Lancei-me para a pista da discoteca, imerso na batida pulsante da música eletrônica que preenchia o ar. As luzes coloridas piscavam freneticamente, lançando sombras e reflexos inconstantes por toda a parte. O calor do local misturava-se com a eletricidade no ar, criando uma atmosfera carregada de energia.
Enquanto eu me movia pela pista, avistei uma mulher deslumbrante à minha frente. Os seus olhos eram como um íman, atraindo o meu olhar, e o seu sorriso irresistível. Ela dançava, sedutora, movendo-se ao ritmo da música, e eu não conseguia resistir à tentação de me aproximar.
Colei o meu corpo ao dela e comecei a dançar, deixando a música nos envolver. Os nossos corpos moviam-se juntos, como se estivéssemos a seguir uma coreografia invisível, e a atração mútua crescia. Naquele momento eu pensava em só uma coisa. COMÊ-LA!
Depois de um tempo a dançar, ela puxou a minha mão e sussurrou em meu ouvido, sugerindo irmos para um lugar mais tranquilo. Sem pensar duas vezes, levei-a até à casa de banho da discoteca. Lá, o ambiente era mais silencioso e íntimo, com uma luz suave que criava uma atmosfera ainda mais sensual.
À medida que nos beijávamos, a minha vontade de a ter ali, naquele momento, se intensificava, mas a verdade é que eu tinha pressa e precisava de bazar.
— Qual é o teu nome? — perguntei, ainda ofegante.
Ela deu-me um sorriso enigmático e sussurrou o seu nome suavemente no meu ouvido.
— Prazer, Rachel! — respondi.
— Não me vais dizer o teu nome?
— Talvez noutro dia. — Dei-lhe um último beijo ardente e saí da casa de banho, deixando-a sozinha à espera de saber qual era o meu nome. Tinha negócios a tratar e miúdas como aquela, apareciam todas as noites.



Carter


Acordei naquela manhã, com o corpo pesado e a mente turva. Os efeitos do jetlag ainda estavam bem presentes, deixandome com uma sensação estranha, como se estivesse a flutuar entre dois mundos. Abri os olhos lentamente e encarei o teto do quarto desconhecido, em que me encontrava. Era uma sensação estranha, acordar num lugar tão diferente daquele que estava habituada desde que nasci, mas estava determinada a começar uma nova vida aqui.
Enquanto tentava me situar na realidade, a lembrança da noite anterior começou a emergir, como um filme em câmara lenta. A imagem o rosto do Leonardo, envolvendo-se com uma empregada... O meu estomago revirou ao recordar-se.
À medida que a memória se aprofundava, um nó formou-se na minha garganta. Hoje ele ia me levar a conhecer a University of London, onde eu começaria a trabalhar. A ideia de estar na presença dele, depois do que testemunhei na noite anterior, deixou-me nervosa.
Levantei-me da cama e comecei a me preparar para o dia que se chegava. Olhei para o espelho e respirei fundo, tentando reunir coragem para enfrentar o que estava por vir. Afinal, eu tinha uma nova vida para começar e uma universidade para conhecer, independentemente do aparente mistério que envolvia o Leonardo Van der Wood.

*


Desci as escadas até ao primeiro andar seguindo o cheiro a café fresco e torradas quentes que enchiam o corredor. Era a minha primeira manhã em Londres, e eu estava prestes a partilhar o pequeno-almoço com a minha nova família. Não pude evitar sentir-me ansiosa.
Ao entrar na cozinha, deparei-me com o Leonardo, que estava de pé junto ao balcão. Os nossos olhares cruzaram-se, e senti uma tensão imediata no ar. Era evidente que a relação entre nós não tinha começado com o pé direito.
— Olá. — murmurei, sem saber se o devia ter cumprimentado ou não.
Ele olhou-me de cima a baixo com um olhar indecifrável e respondeu, com uma voz carregada de hostilidade. — Oi, Anninha!
E então sorriu.
Fiquei momentaneamente sem palavras. Antes que eu pudesse responder, a minha mãe entrou na cozinha com um sorriso caloroso.
— Bom dia, meus queridos! — cumprimentou ela, como se não tivesse notado a tensão no ar.
A sua chegada repentina interrompeu o nosso semi-diálogo hostil e agradeci-lhe mentalmente por isso.
— Que caras são essas? — perguntou a minha mãe — Não dormiram bem?
Jetlag… — respondi apenas.
A minha mãe pousou uma caneca de café a escaldar na minha frente — Nada que um café não resolva!
Sorri em respostas e segurei a caneca nas mãos. Soprei algumas vezes, na espectativa de que o café arrefecesse, enquanto alguém me observava de canto d’olho.
— Leo, sempre podes levar a Anna a conhecer a universidade, hoje?
Quis repetir o mesmo discurso de ontem e declarar que podia muito bem ir sozinha, mas a verdade é que eu não fazia ideia de como chegaria lá, sequer tinha carro e nunca conduzi do lado contrário da estrada.
Merda! Como é que não me lembrei disso antes?
— Sim, vou só tomar um ducha e trocar de roupa. Depois posso levá-la. — anunciou ele, antes de se levantar e deixar-me a sós com a minha mãe.
A minha mãe começou a preparar o seu café da manhã de forma descontraída. Acho que era algo que ela nunca dispensaria em fazer, independentemente dos vários empregados que trabalhavam naquela casa. O som suave da torradeira a estalar o pão integral relembrou-me das minhas manhãs em Nova Iorque, quando ainda tinha 13 anos e a minha mãe me preparava o café antes de ir para a escola.
Uma súbita saudade fez-me sentir um aperto no coração. A dúvida apesar de silenciada, ainda vivia dentro de mim. E mais uma vez, questionei se estava realmente feliz com a decisão de ter deixado Nova Iorque para iniciar uma nova vida em Londres.
A minha mãe pareceu ter notado o meu momento de introspeção:
— Está preocupada com algo?
— Apenas a pensar… — respondi, lançando-lhe um pequeno sorriso, ela conhece-me bem até demais.
— Eu sei que estás preocupada e cheia de questões dentro de ti. As questões são inevitáveis. Será que tomei a decisão certa? Será que deveria ter ficado? Mas independentemente da decisão que tomes, tu sempre vais ficar com esse sentimento de incerteza, filha. A verdade é que nós nunca sabemos se estamos a tomar as decisões certas.
Anuí em concordância e sorri, ainda abalada pela nostalgia. Ela deu-me um abraço terno e eu agradeci mentalmente, por ter a minha mãe ali comigo.

*


Estava no fundo das escadas da mansão, à espera de Leonardo quando finalmente ouvi os passos dele a descer o primeiro lance de degraus. O seu cabelo preto e ondulado caia descontraidamente sobre a testa, dando-lhe um ar rebelde. Notei que ele tinha em ambos os braços várias tatuagens e só então consciencializei-me do quão atraente ele realmente era.
Ele usava uma t-shirt preta que realçava o contraste das tatuagens, juntamente com calças da mesma cor. Na mão direita, segurava um casaco de cabedal, o que dava um toque de elegância ao seu estilo descontraído. Na outra mão, segurava um capacete, indicando que estava pronto para sair.
Ao ver o capacete na mão de Leonardo, no entanto, fiquei apreensiva. A ideia de subir numa moto não estava nos meus planos, e era evidente que ele tinha algo do género em mente.
— Está muito enganado se pensas que eu vou subir em cima de uma moto! — disse com firmeza, tentando fazer com que a minha preocupação fosse clara.
No entanto, ele ignorou-me, passando por mim e indo em direção à porta que dava para a saída da casa.
— Está com medo da moto ou de mim? — perguntou, com um toque de provocação.
Senti-me um pouco desconfortável com a situação. A sua questão apanhou-me de surpresa e fez-me refletir sobre o que estava realmente a causar a minha ansiedade: a ideia de andar de mota ou o facto de ter de andar numa mota com ele. Num misto de inquietação e confusão, respondi:
— Não se trata de estar com medo de ti, é apenas... não estava à espera de uma moto, e não tenho experiência nenhuma com isso.
— Calma, Anninha, não é como se estivéssemos a falar de sexo!
Ele deixou-me sem palavras e confusa. Era evidente que a aquela conversa estava a tomar um rumo que eu não procurava, e eu não sabia como reagir perante o humor descontraído daquele idiota que agora era meu meio-irmão.




Van der Wood


Aquela sensação de estranheza que pairava no ar era um lembrete constante das minhas aventuras na noite anterior. Eu sabia que tinha cometido um erro, quando me descuidei e deixei-me ser flagrado pela Anna. Agora, restava-me ser mais cauteloso, para que ela não desse com a língua nos dentes, ainda que, ao que tudo indicava, ela não parecia se importar com aquilo que eu fazia, ou deixava de fazer.
Após tomar um duche rápido e mudar de roupa, estava pronto para levar a Anna até à University of London. Olhei-me ao espelho e tentei parecer mais relaxado do que realmente estava. A noite não tinha corrido como planeei. Esperava ter conseguido fechar negócio com o James, porém, as coisas acabaram por correr bastante mal. Acabámos por nos desentender ao ponto de andarmos à porrada ainda dentro do Under. A verdade é que todo o meu corpo doía. Debaixo daquela t-shirt preta, estavam umas quantas nodoas negras que me apanhavam as costelas e parte das costas.
Desci as escadas, já com o capacete na mão, e encontrei a Anna no fundo dos degraus. Olhou-me de cima a baixo e resmungou quando percebeu que íamos de mota.
— Está com medo da moto ou de mim? — perguntei.
— Não se trata de estar com medo de ti, é apenas... não estava à espera de uma mota, e não tenho experiência nenhuma com isso.
Tentei manter um tom leve, mesmo sabendo que a situação era um tanto inusitada:
— Calma, Anninha, não é como se estivéssemos a falar de sexo!
A expressão no rosto dela era digna de ser fotografada, e eu não pude evitar um sorriso divertido. Era claro que a nossa relação estava a começar de forma pouco usual, mas também só nos conhecemos ontem.
— Bem, a não ser que a condução de uma mota seja um fetiche sexual teu, acho que está exagerando. — acrescentei.
Ela claramente não sabia o que dizer, e de repente parecia estar à beira de rir, mas conteve-se. Dei por mim a fazer o mesmo e do nada, percebi que estava a gostar desta interação descontraída. Talvez houvesse esperança para uma relação amistosa. E enquanto Anna aproximava-se da moto, entreguei-lhe um capacete e expliquei como o colocar corretamente. Ela aceitou-o com relutância, mas não resmungou.
Subimos na mota e dei partida. A sensação do vento pelo rosto e o rugido do motor eram familiares para mim, mas para a Anna, era uma experiência completamente nova, e isso era notável. Enquanto nos afastávamos da mansão e rumávamos para a University of London, podia sentir a tensão ressurgir. Senti o seu corpo enrijecer-se. Ela evitava a todo o custo segurar-se em mim, mas o trânsito da cidade e as estradas maltratadas, impediam-na de se soltar do meu torço. Por duas vezes, senti uma dor aguda, quando ela me envolveu com um pouco de mais firmeza, mas não o demonstrei. O melhor era evitar qualquer pergunta.
Conforme avançávamos pelas ruas movimentadas de Londres, a tensão entre nós parecia diminuir novamente. A Anna começou a relaxar o corpo e encontrou maior equilíbrio na mota. O vento e o rugido do motor pareciam finalmente tê-la conquistado.
Enquanto dirigia, aproveitei a oportunidade para puxar conversa:
— Impressão minha ou está gostando do passeio?
Ela pareceu hesitar por um momento, mas depois respondeu:
— Não exatamente…
Ri. Era evidente que ela estava a mentir.
À medida que nos aproximávamos do nosso destino, o meu pensamento voltou para a discussão com o James na noite anterior. Eu precisava de resolver essa situação de alguma forma, urgentemente.
A University of London estava agora à vista. Procurei um estacionamento próximo do novo local de trabalho da Anna e parei. Descemos da mota, e enquanto tirávamos os nossos capacetes, reparei que a Anna parecia um pouco atordoada, mas ao mesmo tempo, mais relaxada.
Fiquei surpreso por vê-la mais à vontade. Agora, era hora de lidar com os assuntos pendentes. Guiei-a pelo campus até ao prédio onde ela iria dar aulas. Pelo caminho, observei o seu olhar curioso enquanto admirava a arquitetura da universidade. E pude observar, ela era mesmo gata. Nem muito alta, nem muito baixa. O seu cabelo escuro e ondulado, passava do meio das costas. Gostava particularmente dos seus lábios. Eram rosados e carnudos.
Finalmente, chegamos ao edifício e ela parou à porta, há espera que eu me fosse embora.
— Tenho de tratar de algumas coisas. Por isso não vou poder te buscar mais tarde.
— Tudo bem… Eu também acho que o melhor é eu aprender a usar o metrô, para não ter de depender de ninguém.
Assenti em concordância e fui embora.
A caminho da casa do Liam procurei absorver-me dos meus pensamentos menos bons. Estava demasiado focado no problema da noite anterior, e não propriamente em como o ia resolver. Precisa de clareza, para não voltar a perder as estribeiras e acabar por me arrepender.
Cheguei à casa do Liam, onde sabia que poderia encontrar o seu apoio e conselhos. Ele era o meu melhor amigo e parceiro de confiança.
Quando entrei em casa, encontrei-o sentado no sofá, a olhar para o nada.
— O que diabos aconteceu na noite passada, Leo? — perguntou-me, com uma expressão séria.
Inspirei fundo, sentando-me de frente para ele e expliquei-lhe todos os detalhes do desentendimento com o James e como as coisas tinham escalado até chegar ao ponto de partirmos para o lado físico.
O Liam não parecia surpreso, mas estava claramente preocupado com a nossa situação.
— Isso é mau, Leo. O James é um tipo perigoso e você sabe disso. Precisamos de resolver isso antes que as coisas piorem.
Concordei com ele. Não nos podíamos dar ao luxo de deixar esta situação sair do controle. O território disputado era muito lucrativo para ambos e a nossa parceria era valiosa. Tínhamos que encontrar uma solução antes que as coisas descambassem para a algo pior.
Perdemos um par de horas a discutir estratégias para lidar com James e como poderíamos chegar a um acordo que beneficiasse ambas as partes. O Liam era habilidoso em negociações e conhecia aquele mundo, tão bem quanto eu, o que tornava a sua ajuda crucial.
Enquanto trabalhávamos na criação de um plano, eu não conseguia afastar o sentimento de que as coisas estavam longe de acalmar. Os nossos negócios eram um terreno instável, e a nossa sobrevivência naquele meio, dependia da habilidade que tínhamos de enfrentar desafios como este. A situação estava cada vez mais complicada, e a resolução dos problemas com o James eram apenas o começo de uma série de conflitos que ainda estavam por vir, se não tomássemos as decisões certas.
— Temos de encontrar uma solução que beneficie ambos e proteja os nossos interesses. — pensei em voz alta e suspirei, sentindo-me entre a espada e a parede.

*


Quando cheguei a casa, já passava um pouco da meia-noite. A minha boca tinha um sabor a álcool e tabaco. Subi as escadas discretamente, para não ser notado. Não queria ninguém a perguntar-me onde andei o dia todo ou o porquê de estar bêbado numa segunda-feira.
Anna estava parada no corredor, a olhar para a porta do meu quarto. Quando notou a minha presença, a sua expressão mudou completamente, passando de curiosa, para apreensiva.
— Impressão minha, ou estavas prestes a bater à porta?
Ela usava uma t-shirt de banda qualquer, que lhe chegava até meio das coxas. Tinha o cabelo preso num rabo de cavalo desalinhado, e usava uns óculos de hastes prateadas. Pena que ela era enteada do meu pai.
— Estava a ir para o meu quarto.
— Como foi o teu dia? — aproximei-me dela, impedindo-a de abrir a porta.
A Anna ergueu uma sobrancelha, de forma desafiadora e eu não pude evitar sorrir. Afinal ela também ripostava.
— Como se isso te interessasse! — tentou desviar-se, mas eu acompanhei o seu movimento, aproximando-me ainda mais.
Ela engoliu em seco. Os seus olhos encontraram os meus, e por um breve momento, houve um silêncio carregado de tensão entre nós. Baixei o meu rosto para sussurrar no seu ouvido, fazendo-a recuar o máximo que podia:
— Acredite ou não, Anninha, me interesso bem mais do que imagina.
A sua respiração vacilou e eu afastei-me, para poder olhá-la outra vez. Ela observava-me num misto de inocência e curiosidade. Os seus olhos foram de encontro aos meus lábios.
— Você me interessa, Anna. — sussurrei, aproximando-me lentamente dos lábios dela — E gosto particularmente, da forma como me estás a olhar agora… — Passei a mão pelo seu rosto, acariciando-o suavemente. — Pena que somos meio-irmãos, não é?
Vi as suas bochechas ruborizarem antes de bater com as suas costas na porta do quarto e acordar do estado de transe.
— Posso entrar no meu quarto? Por favor? — os seus olhos lançaram-me faíscas.
— Claro… Anninha.— desviei-me para que ela passasse.
— E você está fedendo a álcool. — disse, batendo a porta na minha cara.
Auch! Ela tinha ficado mesmo chateada.
Travei uma vontade desfreada de rir e fui para o meu quarto também. Após fechar a porta, percebi que tinha passado dos limites.
O que diabos estava eu a pensar? Era por isso que não devia beber e ir para casa logo de seguida. Um sentimento de arrependimento apoderou-se de mim.
Aquilo foi no mínimo inapropriado, mas foda-se, estava ansioso por voltar a fazê-lo.





Continua...


Nota da autora: Não se esqueça de deixar um comentário! É muito importante para mim <3
XX Nina


Nota da beth Hydra: Muitíssimo ansiosa por mais capítulos! Nem preciso dizer que já estou rendida nesse pp maravilhoso... Sou suspeita, amo um badboy! Já quero mais.

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