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Revisada por: Aurora Boreal

Fanfic Finalizada

San Francisco, Califórnia

Janeiro

Eu soltei um grito esganiçado quando segurou minha mão e me puxou consigo para que eu aumentasse o passo. Ri, me esforçando para não tropeçar nos saltos e mais ainda para não derramar nada da garrafa de champanhe que a gente roubou da festa de casamento.
— É Ano Novo, por que aqui tá tão vazio? — perguntei ofegante, estranhando a rua vazia.
— Porque são quase quatro da manhã, me lançou um olhar divertido. — O Ano Novo foi meia-noite.
— O pessoal aqui é muito fraco — fiz um bico, descontente. — Se eu estivesse em New York, estaria bêbada na Times Square.
— Ei, olha como fala! — ele disse, em um tom de aviso. — Eu sou daqui.
— Você mora em New York há três anos, , e você é de Los Angeles — puxei a mão dele, o fazendo parar de correr. — Já chega!
Ele riu, mas não insistiu na corrida. Arfei, morrendo de calor. Segurei a garrafa de champanhe entre as coxas, agradecendo por estar de vestido longo e não sentir diretamente a garrafa gelada contra minha pele. arqueou uma sobrancelha, mas ignorei e arrumei meu cabelo em um coque nada arrumado, que pelo menos serviria para receber um ventinho na nuca.
— E sim, eu moro há três anos em New York, mas sou um californiano orgulhoso, então não fale mal de San Francisco. — deu de ombros. — Você que se tornou uma metida desde que foi estudar lá.
— Ah, não — balancei a cabeça, pegando a garrafa novamente. — Eu amo a Califórnia, Los Angeles tem muito mais meu amor do que NY. Mesmo que Gina e Leon venham morar aqui, vou visitá-los apenas quando extremamente necessário, tipo, quando formos tios. Eu só não gosto de San Francisco.
Meu irmão e a irmã de haviam se mudado para cá alguns meses atrás, quando Gina ganhou uma bolsa de doutorado, o que foi ótimo, porque ela não queria ir para longe de casa. Os dois namoravam há mais de nove anos e não foi surpresa quando ele a pediu em casamento — depois de muita enrolação da parte dela — e resolveu vir para San Francisco com ela, onde aconteceu o casamento na noite de Ano Novo, como Gina sempre sonhou. Leon a pediu em namoro na noite de Ano Novo, anos atrás, e ela achou que seria perfeito se pudessem casar na virada de dezembro para janeiro. e eu nos conhecemos por intermédio dos dois e viramos bons amigos quase imediatamente, para sorte deles. Nossos pais nos mandavam para os encontros dele, na intenção de vigiá-los no começo do namoro por serem muito novos, mas com cinco dólares pagos por eles, nós os deixávamos em paz e íamos tomar sorvete.
Foi assim que e eu nos tornamos tão amigos, até mesmo quando fomos para universidade em New York. Ele estudava na Columbia, mas eu só consegui vaga na NYU, o que para mim era perfeito, porque eu não aguentava a atmosfera elitizada da Columbia. Eu fui visitar no campus uma vez e odiei, exceto pelo gramado maravilhoso onde eu me joguei até a hora que me obrigou a irmos embora.
— Metida — murmurou, puxando de leve a minha bochecha.
— E agora você que vai ser o metido indo para o seu intercâmbio — resmunguei, batendo em sua mão por ter me apertado. — Tenho certeza que você vai ser do tipo que tira mil fotos para os storys e marca a localização em todas elas.
jogou a cabeça para trás de tanto rir.
— Ah, com certeza — assentiu, colocando as mãos para trás. — E ainda vou te mencionar em todos os storys para você morrer de saudade.
— Com saudade? — Lancei um olhar de desdém para ele. — Oh, pobre ... Vão ser os cinco meses mais felizes da minha vida dos últimos nove anos.
— Eu não acredito em você — disse, virando de costas e voltando a caminhar.
Quando a festa estava chegando ao fim e a maioria dos convidados se retirou, assim como os noivos, e eu resolvemos fugir para passear por San Francisco. Nenhum de nós conhecia muito a cidade, mas não pareceu um problema na hora. O problema foi só eu ter sido a burra que veio de salto.
— Pois deveria — retruquei, acelerando o passo para acompanhá-lo.
— Não, eu te conheço desde sempre — sorriu, me olhando por cima do ombro. — Eu sei que você vai olhar nossas fotos e chorar escondida, como fazia quando o Leon foi fazer trabalho voluntário na África.
— Ele é meu irmão mais velho! — Revirei os olhos. — Você não é nada.
parou do nada, quase me fazendo tombar com ele, e virou com um olhar de pura indignação que eu sabia ser muito falso. Botei a mão livre na cintura e arqueei as sobrancelhas, esperando pela cena.
— Você sabe que eu fiquei do seu lado quando meu amigo babaca partiu seu lindo coraçãozinho, não é? — semicerrou os olhos, ameaçador. — E te comprei a cafeteira dos seus sonhos no seu aniversário. Eu tô pagando até hoje! Me chamar de “nada” é revoltante.
— Não fala daquele homem! — reclamei, levando o dedo indicador aos lábios dele. — Não suporto nem pensar. Mas sim, você foi um grande exemplo de amigo quando me comprou aquela cafeteira, eu vou estar para sempre em dívida com você.
Alguma coisa no olhar de mudou, mas eu não consegui identificar o que foi e nem o porquê. Ele abriu um sorriso lento, mas que não atingiu seus olhos. Eu não achava que havia sido pela brincadeira de que ele não significava nada para mim, pois ambos sabíamos bem demais que não era o caso. Ele era um dos meus amigos mais próximos, eu com certeza iria sentir demais sua falta, pois nunca tínhamos nos separado assim.
— Não tá mais aqui quem falou. — Ele cruzou um indicador em cima do outro e beijou os dedos, selando uma promessa. — Vamos, continua andando.
— Meus pés estão doendo. — Olhei com pesar para meus lindos saltos. — Eu devia ter trocado. Tá frio demais para ir descalça.
olhou para os meus pés e fez uma careta, mas depois de um suspiro, me olhou novamente.
— Sobe nas minhas costas — instruiu, apontando para si. — Eu te carrego.
Meus olhos brilharam e eu não hesitei, nem pensei duas vezes na proposta. Entreguei a garrafa de champanhe para ele segurar e apoiei as mãos em seus ombros para conseguir subir. Com um impulso que quase nos fez cair, enrolei as pernas na cintura de e soltei um grito, agarrando seu pescoço em um momento que pensei que ia cair. O vestido longo era um empecilho, mas puxei o tecido até a altura das coxas para facilitar.
— Melhor? — perguntou, virando o rosto para me encarar.
— Muito — concordei, quase gemendo de felicidade. — Pode me entregar minha garrafa agora.
Mas ele não entregou, apenas levou o gargalo aos lábios e tomou uns goles bastante generosos. Estendi os braços para livrar minha garrafa das mãos dele, mas riu e esticou o próprio braço — bastante longo — para frente, me impedindo de ter o que eu queria.
— Você é um pé no saco — resmunguei, puxando o cabelo o dele.
— Ai! Eu vou te deixar ir andando de novo — ameaçou, mas eu apertei mais as pernas e os braços ao redor dele.
— Não, não, não... É seu presente de despedida me deixar ir nas suas costas — sorri, apoiando o queixo no topo da cabeça dele. — Que horas o seu voo sai mesmo?
— Às duas da tarde — respondeu. — Você já vai ter ido, né?
— Sim, meu voo sai às onze. — Mordi o canto da boca. — O que me leva a perceber que eu deveria estar no hotel arrumando minhas coisas, porque ainda estão espalhadas pelo quarto inteiro. — Por que eu não fico surpreso? — ele riu.
— Porque você me conhece muito bem. — Baguncei os cabelos dele. — Presumo que suas coisas estão prontas.
— Estão, desde cedo — falou, orgulhoso.
— Devia ter ido arrumar as minhas também — reclamei, mas recebi um beliscão na coxa em resposta. — Ai!
— Eu ia arrumar suas coisas para você revirar tudo de novo, quando estivesse se arrumando para o casamento?
Parei para pensar em uma resposta, mas nada me veio.
— É, você tem um ponto — admiti, contra minha vontade.
Andamos em silêncio por um tempo, observando as ruas vazias de San Francisco, onde ocasionalmente algum carro passava. O tempo estava frio, mas os casacos que colocamos antes de sair ajudavam bastante. A ideia tinha sido minha, então não sei porque minha mente brilhante não pensou que seria inteligente também tirar o salto.
? — chamou.
— Eu.
— Vou sentir sua falta.
E, simples assim, meu coração apertou. Quando falou do intercâmbio para a Alemanha, fiquei extremamente animada porque sabia o quanto ele era louco por isso e nem sequer pensei que isso significava que ficaria sem vê-lo por cinco meses. Parecia besteira apenas alguns meses, mas agora que ele viajaria em poucas horas, eu estava sendo atingida pela realidade.
— Vou sentir sua falta também, .
Encostei minha cabeça na dele, apertando os braços ao redor dos seus ombros em um abraço meio louco por eu estar em suas costas. Ele colocou a mão livre por cima de uma das minhas e apertou levemente. Se eu fosse sincera comigo mesma, eu estava mais temerosa com a viagem dele do que a de , minha melhor amiga, quando ela tirou um ano sabático antes da universidade. Era estranho me sentir assim com , considerando que eu conhecia desde o jardim da infância e era quase uma irmã para mim.
— Eu sabia — sorriu, brincalhão.
— Não fica se achando — bufei.
mudou de calçada comigo e eu fiquei feliz ao ver que finalmente tínhamos chegado no parque que ele disse ter visto no caminho para a festa de casamento e para onde ele queria que fôssemos quando decidimos perambular pela cidade. Quando chegamos no gramado verdinho perto de uma lagoa bonitinha com patos, finalmente me pôs no chão.
— Agora eu quero meu champanhe. — Pulei para cima de e, antes que ele conseguisse me impedir, agarrei a garrafa. — Ahá!
— Eu te deixei pegar, . — Fez um gesto de descaso com a mão. — Pode ficar.
— Você só não quer perder a pose — retruquei, tomando um gole da bebida que, felizmente, ainda estava geladinha no ponto certo.
— Ai, . — Ele balançou a cabeça, mas não estava olhando para mim.
Observei seu perfil, embora seu rosto estivesse meio coberto pelas sombras do parque, que não era muito iluminado. Algo se agitou dentro de mim quando pensei que amanhã e nos próximos cinco meses, eu não o veria assim de perto. Não era apenas o sentimento de antecipação de quando alguém querido vai te deixar por um tempo. Era mais profundo do que isso, algo que eu tentei ignorar pelos últimos meses porque parecia completamente ridículo o que eu estava sentindo.
— Dá para acreditar que amanhã tudo vai mudar pra você? — murmurei, ainda mantendo meus os olhos nele.
O olhar de se voltou para mim e o canto da sua boca ergueu em um quase sorriso.
— Eu tô animado — admitiu, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo.
— Você devia estar mesmo. — Levei outra vez a garrafa aos lábios para mais um gole.
Desviando o olhar dele, resolvi sentar. A grama estava úmida e eu fiz uma careta quando minha bunda ficou gelada. Sabia que, quando levantasse, meu belo vestido rose de dama de honra estaria com uma marca enorme por conta da grama molhada. olhou para mim por um segundo antes de sentar ao meu lado.
— Eu queria estar em New York — suspirei, puxando as pernas para perto do peito. — Em um after animado.
— Eu não sou muito fã da multidão da Times Square. — Ele fez uma careta, com certeza lembrando da nossa primeira experiência no Ano Novo lá.
— É difícil para um claustrofóbico gostar de estar espremido entre milhares de pessoas. — Olhei para ele. — Mas, pelo menos, você é alto. Dava para respirar. Eu, com meus 1,60, tinha que lutar para conseguir ar no meio daquela rodinha dos seus amigos do basquete com os 1,80 pra cima.
riu gostosamente.
— Bom, o Pietro te fez respiração boca a boca na primeira oportunidade que teve. — Arqueou uma sobrancelha, me provocando. — Uma respiração muito boa, devo dizer. — Ri baixinho. — Tá vendo? É isso que eu também sinto falta de estar na Times Square.
— O Pietro? — brincou.
— Não — neguei rapidamente. Pietro não tinha me causado um impacto tão grande. — Os beijos de Ano Novo.
Desde os quinze anos, quando eu arrumei meu primeiro namorado, eu sempre tinha alguém para beijar no Ano Novo. Meu primeiro namoro durou até o fim do ensino médio, então no primeiro ano de faculdade, eu beijei o amigo do . No segundo Ano Novo em New York, eu estava namorando de novo, mas o que começou em outubro, terminou em março, então o beijo de Ano Novo não trouxe tanta sorte. Se eu não tivesse cansado do Trent, um dos meus rolinhos, ele teria vindo para o casamento e teria sido meu beijo de Ano Novo.
— Eu não entendo sua obsessão com beijos no Ano Novo. — franziu o cenho. — Eu sou uma romântica, . — pisquei para ele, sorrindo de leve. — Eu gosto de pensar que beijos no Ano Novo vão trazer boa sorte no amor durante o ano. É mágico!
— Continuo sem entender.
— Qual é! Nunca quis tanto beijar alguém no Ano Novo que quase doeu por que não conseguiu? — perguntei, exasperada. — É quase uma tradição.
não respondeu imediatamente, mas algo em seu olhar fez meu estômago gelar. Seus olhos estavam mais intensos do que o habitual naquela noite, e o tópico da conversa só parecia aumentar isso.
— Já — finalmente respondeu, a voz tão baixinha que eu só ouvi porque ele estava perto. — E ainda quero.
Antes que eu falasse alguma coisa, tirou a garrafa de champanha da minha mão. Eu estava prestes a protestar por isso, mas sua boca calou a minha em um beijo que eu não esperava. Minha respiração ficou presa quando os dedos dele gentilmente seguraram a minha nuca, enviando uma onda de arrepios por meu corpo inteiro. não tentou aprofundar o beijo e eu levei mais de um segundo para registrar que eu estava sendo beijada por um dos meus amigos mais antigos.
E levei mais outros segundos para registrar que eu queria beijá-lo de volta.
Quando eu finalmente me movi, levando minha mão até o rosto dele, suspirou contra meus lábios e finalmente aprofundou o beijo. Sua mão na minha nuca subiu até seus dedos entrelaçarem nas mechas bagunçadas do meu coque, e ele me segurou com mais força. Me aproximei mais dele, quase ficando de joelhos e fez o mesmo, envolvendo seu braço livre na minha cintura, me puxando contra si. A pressão do seu corpo no meu pareceu completamente certa. Não foi um beijo rápido, nem lento. Foi apenas intenso. Cada vez que sua mão passeava por minhas costas, fazendo uma pressão deliciosa quando deslizava pela lateral do meu corpo, meu coração acelerava ainda mais — se é que era possível. Minhas próprias mãos exploraram o rosto, cabelo e braços dele como se eu nunca tivesse tocado em antes. Quando finalmente nós ficamos sem ar, o beijo diminuiu o ritmo até que seus lábios pressionaram os meus em um selinho demorado.
Levei um tempo para finalmente abrir os olhos, me sentindo perdida demais com os sentimentos confusos dentro de mim. me encarava em silêncio, e quando meu olhar encontrou o dele, eu senti tudo dentro de mim revirar. Como eu tinha olhado nos olhos dele mais cedo sem sentir um terço do que eu estava sentindo agora?
? — murmurei, esperando que ele falasse algo que trouxesse clareza pra mim.
— Você é o beijo da meia-noite que eu tenho desejado nos últimos Anos Novos — sua voz soou rouca. — Mas nunca tive a oportunidade.
O que isso significava? Que ele esteve apaixonado por mim nos últimos anos? Ou só tinha a curiosidade de me beijar? E o que isso significava pra mim? Porque, por mais que uma parte dentro de mim estivesse racionalmente dizendo que não foi nada demais, a outra parte gritava que significava tudo. A parte confusa estava gritando que a explicação para a viagem de estar mexendo tanto comigo tinha sido dada nesse beijo.
— Eu não quero falar sobre isso agora, . — acariciou minha bochecha com as pontas dos dedos, passando pelos meus lábios, que ainda formigavam. — A gente pode conversar sobre isso quando eu voltar.
Assenti, completamente de acordo com isso. Eu não acho que meus pensamentos estavam claros o bastante para uma conversa sobre o que quer que isso significou para nós dois. Meu corpo certamente não estava muito afim de conversar.
— Eu vou te beijar novamente, se você não se opuser — ele disse, os olhos escurecendo com desejo.
E eu não me opus. Beijei como se isso fosse algo que eu já tinha feito mil vezes antes, como se em apenas algumas horas ele não fosse viajar para longe de mim. O beijei como se fosse a coisa mais certa do mundo e, pelo menos naquele momento, era.

New York City, New York

Junho

Meu rosto ainda estava todo vermelho quando me vi rapidamente no espelho do lobby do meu prédio. O cabelo estava bagunçado no rabo de cavalo, e o suor ainda cobria meu corpo depois de uma hora intensa de muay thai e uma corrida de 3km na volta da academia para cá. Eu não era muito atleta, nem corredora; sempre pegava o metrô para voltar e só malhava o necessário. Mas hoje eu estava me sentindo especialmente ansiosa, e a corrida liberou pelo menos um pouquinho da tensão que dominava meu corpo.
Quando abri a porta do apartamento, me encarou com as sobrancelhas arqueadas por causa do meu estado. Ela sabia muito bem que eu só malhava o suficiente para dizer que não era sedentária e nunca chegava nesse estado em casa.
— O que aconteceu com você? Teve que fugir de quem? — questionou, ainda me olhando estranho.
— Resolvi dar uma corrida da academia para cá — expliquei, me largando no chão da sala com as costas apoiadas no sofá.
— Esse é o efeito da volta do em você? A sua personal iria amar saber que só precisava disso para te fazer correr. — Ela riu.
— Não é efeito . — Fiz uma careta. — Eu só tava inspirada.
— Ah, é? — Semicerrou os olhos. — Então você tá super de boa em vê-lo depois de cinco meses do beijo de vocês?
— Claro que estou! — fingi. — Ele é meu amigo, . O beijo não foi nada demais.
Os beijos. Não foi apenas um. Foram vários beijos até que voltamos para o hotel e nos separamos na porta do meu quarto. Ele não estava acordado quando eu fui embora naquele dia e eu agradeci por não precisar me despedir dele mais uma vez. Nos falamos normal por mensagem depois daquilo — os beijos nunca foram mencionados —, mas eu duvidava que dava para adiarmos a conversa, agora que ele voltou.
— Então vai logo se arrumar porque a festa de boas-vindas é em duas horas e você geralmente leva três para se arrumar. — Ela abriu um sorriso malicioso. — E com a sua vontade de adiar o inevitável, provavelmente vai enrolar uma hora a mais para chegarmos tarde.
— Eu não estou querendo adiar nada, ! — Atirei uma das almofadas em cima dela. — Para de repetir isso.
— Vai tomar banho, ! — reclamou, agarrando a almofada antes que a atingisse.
Eu podia negar o quanto quisesse, mas eu estava explodindo de nervoso e queria enrolar. não ia deixar, óbvio. Fui direto para o banheiro e me demorei mais que o normal no banho, fiz até hidratação. Cantei bem alto com a playlist escolhida para hoje, só para fingir não escutar toda vez que ia na porta me mandar sair logo. Quando não deu pra enrolar mais, eu saí.
Escolher a roupa foi tão demorado quanto o banho, mas dessa vez, invadiu meu quarto e me obrigou a escolher um dos looks que ela montou. O máximo de maquiagem que ela me permitiu foi rímel e batom ou eu faria questão de enrolar por mais tempo. Quando saímos de casa, já estávamos quase uma hora atrasadas e eu fiquei satisfeita por ter conseguido os quarenta minutos a mais.
— Vocês vão conversar hoje porque eu quero respostas — falou.
vai estar! Você quer mesmo que eu te deixe sozinha com ele? — Arqueei uma sobrancelha, apelando.
— Ah, por favor — revirou os olhos. — Eu posso lidar com o .
— Pode? — sorri com escárnio. — Aprendeu a lidar bem no verão, né?
Ela me ignorou, olhando direto pela janela do Uber. e não eram um casal, mas se gostavam como se fossem. Ambos lutavam fortemente contra o sentimento, especialmente a . Ela gostava de manter a pose de fria inalcançável e focada na carreira. só gostava de ser considerado o galinha sem coração. Nenhum dos dois tinha muito sucesso em manter a pose quando estavam no mesmo ambiente. Tinham passado o verão juntos em um romancezinho que negou até que eu vi as fotos no celular dela. continuou me ignorando durante o percurso, mas finalmente chegamos no prédio onde os meninos moravam. Eu me esforcei para enrolar no táxi também, caçando meus centavos para completar o dinheiro do Uber, mas já tinha entendido meu jogo e entregou os 15 dólares para o motorista, me puxando para fora do carro.
— Deixa de ser infantil, ! Você mesma disse que está de boas e que o beijo não foi nada demais — piscou seus lindos olhos azuis, cínica.
— Até parece que você acreditou — bufei, passando na frente dela. — Vamos acabar logo com isso.
— É claro que não — admitiu, orgulhosa.
Fiz questão de ignorar o sorriso triunfante de enquanto subíamos a escadaria do prédio. morava no segundo andar, mas como a festa seria no terraço do prédio, subimos os quatro andares até lá em cima. O muay thai de hoje já estava começando a me deixar dolorida e essas escadas com certeza iriam colaborar com a dor. O terraço já tinha bastante gente quando chegamos lá em cima. Algumas luzes de natal estavam penduradas como parte da decoração, uma palmeira inflável enorme estava no canto e alguns bancos de paletts estavam espalhados pelo lugar. Uma mesa com bebidas estava em um canto, e a de comidas mais para o lado. Um aparelho de som nada moderno estava no volume máximo perto do parapeito. Eu não estava realmente interessada na decoração, estava mais atenta procurando .
— Chegaram!
Virei para trás na hora que Jensen se aproximou, beijando minha bochecha, e logo em seguida a de . Sorri para ele, o abraçando rapidamente pela cintura. Jensen tinha chegado de viagem ontem, depois de um mês de férias no Brasil. O bronzeado dele estava dando inveja.
— Eu não aguento nem olhar para você, Jensen — suspirei. — Eu queria ter pegado esse bronze.
— Eu te convidei pra ir comigo — ele lembrou.
— Eu tinha estágio de verão, Jen — expliquei, embora ele já soubesse.
— Isso que dá botar os estudos na frente do lazer — desdenhou, empurrando meu ombro com o dele.
— Que burra eu, né? — entrei na onda. — Então... Cadê seu colega de quarto?
— Tá perdido por aí — disse, olhando ao redor rapidamente. — Só vi ele quando chegamos, depois ele desapareceu cumprimentando o pessoal.
— A coitadinha tá precisando beber pra passar o nervoso — falou com ele, alisando minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho machucado. — O que vocês compraram?
Jensen me olhou com um sorriso esperto nos lábios. Ele tinha sido umas das primeiras pessoas a saber do beijo — não por mim — e sempre que o nome “” era mencionado, ele me olhava assim. Eu tinha parado de me irritar quando percebi que ele adorava me ver brava.
— Ah, qual é, nem um tapinha eu recebo mais? — Jensen reclamou quando eu não reclamei com ele.
— Eu não vou te dar o gostinho — abri um sorriso pleno.
— Chata — resmungou, voltando atenção para . — Eu tenho um arsenal de bebidas que é de dar inveja em qualquer alcoólatra.
— Assim você me deixa com tesão — se abanou, indo em direção ao bar.
— Fácil assim? — Jensen maliciou. — A gente pode fazer um bodyshot mais tarde, te deixo molhadinha.
— Não me tenta assim, gostoso — mordeu a boca com malícia.
O flerte dos dois não era novo, mas não levava a nada. Jensen era amigo do , então estava fora dos limites porque todo mundo sabia que era louco por ela. Eles faziam isso mais por diversão do que por estarem falando sério. Jensen não perdia a chance com qualquer garota, mas respeitava os romances sérios dos amigos.
— Ih, se recompõe que seu homem tá ali — Jensen fez cara de sério e apontou com o queixo para onde estava no bar.
— Eu vou arrancar a cabeça da próxima pessoa que se referir ao como meu — ela falou com a voz estranhamente serena.
— Eu não gosto desse tom, Jensen — olhei para ele, segurando seu braço. — Vamos nos afastar calmamente, sem movimentos bruscos.
Ele me seguiu na brincadeira e fomos de braços dados sorrateiramente até a mesa de bebidas. veio atrás da gente com a cara amarrada, provavelmente pela perspectiva de conversar com .
! — cumprimentei-o com um abraço breve. Como e Jensen, ele estava super bronzeado e eu quis bater nele também. — Como foram as férias?
Ele estreitou os olhos, obviamente já sabendo que eu estava ciente do que ele e não queriam que eu soubesse. Eu era esperta demais para não sacar o brilho nos olhos da minha melhor amiga depois de uma viagem com a família para os Hamptons, onde a família de também tinha ido.
— Melhores que a sua, eu soube — retrucou, abrindo um sorriso maldoso. — Foi deprimente ver seus stories da Netflix, trabalho e comida o verão inteiro, .
— Eu não gosto mais de você, — fiz uma careta desgostosa.
— Você começou, linda — estalou os lábios, satisfeito.
— Eu vou arranjar um cara para beijar, espera só — impliquei, fazendo uma dancinha ridícula com as sobrancelhas.
— Bom pra ela — ele respondeu, no mesmo tom sereno que o de , há alguns minutos.
— Para de usar esse tom! — Bati na mão dele. — É de arrepiar.
Estendi o braço pra ele ver que eu tinha arrepiado com a vozinha sinistra de calma. Os olhos dele faiscaram quando olhou para o meu lado, onde fingia que ele não existia e que não tinha sido mencionada na conversa.
— Falando em arrepiar, você tem outro motivo pra isso agora. — O sorriso malicioso de se estendeu, olhando um ponto atrás de nós.
Eu não precisei olhar para saber o que, ou melhor, quem ele estava falando. Sabia que estava vindo até aqui e meu coração acelerou tanto quanto na corrida de hoje mais cedo. Que droga! Por acaso eu tinha virado novamente a adolescente apaixonada pelo Axl Rose que gelou ao encontrar ele no shopping um dia? O nem chegava perto do meu amor pelo Axl e, ainda sim, eu estava congelada.
, , acho que eu preciso falar com vocês sobre aquela coisa. — Jensen agiu rapidamente, puxando e para longe.
Olhei incrédula para os três que se afastaram quase correndo, mas que ficaram perto o bastante para observarem o show. Eu não ia fugir, pois seria infantil e estúpido demais até para mim, que não era conhecida por ser a mais adulta. Agarrei a primeira garrafa de bebida que avistei e busquei por um copo vermelho para começar a encher a cara.
— Olá — uma voz suave, familiar e grossa soou no meu ouvido. — Por acaso você viu a Deutch?
Minha pele arrepiou quando sua respiração quente soprou o meu pescoço por conta da proximidade da nossa proximidade. Congelei, a garrafa ainda na mão e o copo vazio esperando por mim. Girei lentamente, ficando finalmente de frente para . O cabelo estava levemente maior, mas o sorriso e o brilho nos olhos continuavam iguais. Apesar de parecer o mesmo que eu conhecia praticamente a vida toda, meus sentimentos não pareciam os de sempre. Eu pensei que o tempo distante iria me ajudar a resolver o que quer que eu estivesse sentindo por ele. Ter descoberto os sentimentos depois de um beijo, antes dele viajar, não tinha me ajudado muito a lidar com eles, especialmente porque eu preferi ignorá-los e continuar beijando os homens que New York tinha a oferecer enquanto evitava pensar em . Mas agora ele estava de volta e os sentimentos estavam se revirando dentro de mim feito um pequeno furacão.
Deutch? O nome é familiar — franzi o cenho, brincando com ele. — Descreve ela para ver se eu a reconheço.
— Bom, ela tem cabelos escuros, é baixinha e consome mais álcool do que a dignidade dela pode aguentar — provocou, retorcendo os lábios em um sorriso arteiro. — Ela é muito parecida com você. É assombrosa a semelhança, na verdade. Mas ela não bebe tequila.
Abri a boca, indignada com a parte da minha tolerância a álcool e dignidade. Olhei para a garrafa que eu segurava, notando agora o que eu tinha pegado. Eu nunca tinha gostado de tequila, apesar de amar. O gosto não era muito o meu favorito, então eu evitava.
— Ah, sei quem é! — Balancei a cabeça como se tivesse acabado de me dar conta de quem era “ela”. — Ela não bebe, verdade. Mas ouvi dizer que ela vai rever uma pessoa importante hoje, talvez ela precise beber um golinho.
— Sério? — fingiu surpresa. — Deve ser alguém especial demais para ela ter escolhido logo tequila.
Fitei seus olhos, sorrindo com o jeito que ele deu mais um passo pra perto de mim.
— É, é alguém bem especial.
Depois dessa, me abraçou. Seus braços rodearam minha cintura com tanta força que ele quase me tirou do chão. Eu ainda estava segurando a tequila e o copo quando retribuí seu abraço, afundando o rosto na curva do seu pescoço e inalando o cheiro gostoso e quentinho do seu perfume. Eu estava feliz que seu abraço não tinha mudado e que eu ainda me sentia em casa nos seus braços.
— Eu senti sua falta — murmurou, a boca encostando na minha orelha.
Estremeci pela vibração que sua voz baixa causou no meu corpo e fechei os olhos, me apertando ainda mais contra ele.
— Eu senti a sua também — admiti.
se afastou lentamente, deixando um espaço bom entre nós dois. Seu olhar me analisou por um instante e eu franzi a testa, não gostando nada. Ele riu.
— Me encarando por quê? — perguntei, desconfiada.
— Queria me certificar se você era mesmo a minha — zombou, tirando a garrafa de tequila da minha mão.
— Só por causa disso? — Apontei para a garrafa, tirando-a dele e pegando pra mim.
— É — disse, puxando a garrafa para ele.
, para! — reclamei, puxando a garrafa dele novamente. — Você mal chegou de viagem e já quer implicar comigo?
— Eu senti falta de implicar com você — sorriu docemente, não combinando com a expressão diabólica em seu rosto.
— Eu não duvido, você fez questão de continuar implicando, mesmo lá na puta que pariu — revirei os olhos.
manteve a promessa de me marcar em praticamente todas as fotos que botava nos stories. Chegou um momento que eu precisei silenciá-lo só porque não aguentava mais as mil notificações no Instagram.
— Ah, deixa de drama. — Ele apertou minha cintura, me fazendo pular com as cócegas. — Você adorou! Até quando me silenciou, ainda vi suas visualizações em cada story.
— Eu não sei do que você está falando — pisquei os cílios, devolvendo um sorriso doce.
— É claro que não — ironizou, tirando a garrafa de tequila de mim.
O fuzilei com o olhar, pronta para pegar novamente, mas a abraçou fortemente contra seu corpo.
— Você nem gosta de tequila — resmungou, tirando um copo da mesa pra encher para si mesmo.
— Não, eu não gosto, mas eu preciso — justifiquei, cruzando os braços em uma expressão birrenta que o fez rir.
— Ok, — deu de ombros, estendendo a garrafa para o meu copo.
O cheiro da bebida subiu quando derramou uma quantidade no meu copo e eu me segurei para não fazer careta. Eu só não tinha escolhido outra bebida porque era orgulhosa demais para deixá-lo estar certo.
— Então, por que aquele trio está lá no canto olhando para cá de forma nada discreta enquanto juram que estão sendo discretos? — apontou com o queixo em direção a , e Jensen.
— Porque eles queriam nos assistir de camarote, mas sem interferir — bufei, lançando um olhar fulminante em direção a eles.
Os três viraram a cara assim que notaram que eu e os encarávamos.
— Ah, o Jensen me perturbou muito com isso — ele confessou, focando a sua atenção em mim.
— A também — mordi a borda do copo, precisando me manter ocupada de alguma forma. — Ela me levou a ter ansiedade de tanto que falou sobre isso.
riu, mas segurou a minha mão e me puxou um pouco para perto, fazendo o calor do seu corpo passar para o meu. Encarei nossas mãos por um momento antes de voltar a encará-lo.
— Eu quero conversar com você, mas não agora — falou, traçando seu polegar nas costas da minha mão. — Eu acho que a gente precisa de espaço para isso.
— Eu também acho. — E talvez eu precisasse de mais bebida também.
— Mas eu quero saber só de uma coisa antes. — Seus olhos se tornaram ainda mais intensos. — Alguma coisa mudou sobre o que você sentiu naquele beijo?
Mesmo que eu tenha descoberto há meses, os sentimentos que eu tinha por ainda eram novos demais para eu ter aprendido algo sobre eles. Eu beijei várias outras bocas no meio tempo, mas nenhuma delas teve o efeito que aqueles beijos em San Francisco tiveram. E quando o vi hoje, quando o abracei, eu senti a mesma coisa que o beijo me fez sentir.
— Eu ainda me sinto da mesma forma — confessei.
— Eu também. — Seus dedos apertaram os meus, e ele levou minha mão até seus lábios, beijando. — Vamos lá dizer para os nossos amigos que eles precisam treinar as táticas de espionagem.
Os lábios nele na minha pele, mesmo que apenas na mão, fez meu corpo inteirinho arrepiar. Seria um problema se isso continuasse acontecendo cada vez que seus olhos encontrassem os meus, ou quando sua pele tocasse na minha.
— E aí, já estão namorando? — Jensen perguntou casualmente.
— Já marcamos o casamento, Jen — informei, abraçando como se fôssemos um casal.
— E vocês não estão convidados — acrescentou, beijando o topo da minha cabeça. — Minha noiva e eu repudiamos as habilidades medíocres de discrição que vocês têm.
— Ah, a gente nem tava tentando disfarçar — nem hesitou em admitir.
— Conversaram?! — nos olhou com uma pontada de curiosidade.
— Não é da conta de vocês — levei o copo aos lábios e tomei um gole.
Por um momento, esqueci que era tequila e precisei reprimir a vontade de cuspir o que eu tinha acabado de beber, mas foi impossível conter a careta. me encarou com um sorriso divertido.
— Cala a boca — alertei, me desvencilhando dele.
— Eu nem disse nada! — se defendeu.
— Mas ia! — retruquei.
Ele não discutiu, pois eu estava certa. Engoli o resto da bebida em um gole, louca para me livrar e buscar outra. Um calor se instalou no meu estômago e eu associei à tequila, que sempre me deixava com calor. Mas no decorrer da festa, eu constatei que era apenas o efeito . Mesmo quando ele se afastava do nosso grupo para conversar com outros convidados, seu olhar continuava a encontrar o meu e provocava uma onda perturbadora no meu corpo.
Já eram mais de três da manhã quando os convidados foram embora, restando apenas o nosso grupo. estava bêbada e, depois de uma briga com , resolveu ir me esperar no apartamento de Jensen lá embaixo. , por sua vez, foi atrás dela para continuar a discussão que todos sabiam que não ia ser finalizada essa noite. Jensen tinha arrumado uma garota e foi para casa dela, já que sabia que e seriam empata foda por conta da briga. e eu ficamos limpando o terraço, recolhendo os copos sujos e enfiando tudo no saco de lixo. Felizmente, a bagunça não tinha sido pior, e Jensen concordou em vir terminar de arrumar o resto amanhã assim que voltasse. Enquanto arrumávamos, contou sobre o intercâmbio. Eu ri de algumas histórias, revirei os olhos com outras e me senti extremamente feliz por tê-lo de volta.
— Eu desisto — me rendi, largando a bolsa de lixo no canto. — O Jensen vai terminar isso amanhã.
riu e seu olhar me seguiu quando eu fui me jogar em um dos bancos de paletts. Eu tinha passado a noite em pé, e mesmo que não estivesse de salto, meus pés estavam doloridos. Observei recolher a última garrafa de bebida e colocar no cooler com as outras que ainda tinha sobrado alguma coisa. Depois disso ele veio até mim e se jogou ao meu lado. Inclinei a cabeça para trás, encostando no estofado da pallet e olhei para . Ele estava me encarando e eu reprimi a vontade de beijá-lo. Nós precisávamos conversar, depois eu o beijaria.
— Então... — comecei, esperando que ele tomasse a deixa para falar.
— Então... — me imitou, abrindo um lento sorriso quando me viu bufar.
— Como se começa uma conversa dessa? — fiz uma careta, incerta. — Eu nunca precisei conversar assim com um amigo. Os caras que eu namorei já entraram na minha vida direcionados para a área amorosa, nenhum começou com uma amizade que evoluiu para algo mais.
— Eu começo — ele falou, girando o corpo para ficar de frente para mim. — Eu gosto de você há um tempão, . Não foi aquele beijo que começou tudo. Eu só nunca tive a oportunidade de tentar porque você estava namorando, depois começou a ficar com aquele babaca, depois com meu amigo... Nunca consegui encontrar uma brecha pra tentar te dizer. Durante esses meses, fiquei me perguntando se o que você sentiu quando me beijou lá não foi só algo do momento. Suas emoções estavam bagunçadas por conta do casamento, da viagem, da sua loucura com beijos de Ano Novo... Fiquei martelando na minha cabeça se você não achou que sentiu algo, quando na verdade não era isso.
Eu mesma girei meu corpo para encará-lo melhor. Suas palavras me atingiram de tal forma que me senti ainda mais ansiosa do que já estava. Não conseguia imaginá-lo apaixonado por mim há tanto tempo e tentei ignorar a pontada de desconforto ao imaginar que ele esteve gostando de mim enquanto eu continuava a sair com vários caras.
— Eu pensei nisso — suspirei, apoiando o queixo nas costas do banco. — Que talvez fosse só coisa de momento. Eu recapitulei os últimos meses antes do beijo, meus sentimentos, depois aproveitei o tempo longe de você pra tentar chegar a uma conclusão. Seria bem mais fácil se realmente tivesse sido apenas coisa de momento, mas não foi. Eu estava sentindo alguma coisa diferente há um tempo antes daquilo, só não tinha parado pra observar o que era. Até mesmo minutos antes de você me beijar, eu sabia que algo tinha mudado na forma que eu me sentia sobre você.
— O beijo só te fez chegar à conclusão — ele murmurou.
— Só me fez chegar à conclusão — assenti, puxando a mão dele.
Entrelacei nossos dedos, observando como a mão dele era tão maior que a minha. Virei seu braço e, com a mão livre, tracei o contorno da tatuagem do seu antebraço, que começava no pulso e ia até pouco antes do bíceps. não disse nada, mas vi que ele se arrepiou e foi impossível não sorrir.
— É estranho, eu não vou negar. — Umedeci os lábios, erguendo o olhar para ele. — Porque eu te conheço desde sempre e nunca me passou pela cabeça que eu pudesse me sentir assim por você, até que realmente comecei a me sentir assim.
— Então, como vamos fazer isso? — questionou.
— Vamos nos deixar levar — sugeri. — Você vai me levar em uns encontros, vamos dar uns beijos roubados nesses encontros e trocar mensagens safadas, porque eu adoro sexting.
riu e aproveitou nossas mãos juntas para me puxar para mais perto, praticamente me fazendo cair em cima dele. Sua mão livre afastou as mechas do meu cabelo, que caíram no meu rosto com seu puxão, e depois escorregou seu toque para minha bochecha.
— Eu gostei da parte do sexting — sussurrou, o vestígio de um sorriso ainda nos seus lábios. — Acho que encontros e beijos roubados são um bom começo.
— Né? — Inclinei meu rosto para mais perto, roçando minha boca na dele. — Acho que a gente pode começar com os beijos roubados.
O beijei sem o mínimo de hesitação. Soltei nossas mãos para que pudesse tocá-lo e as deixei em seus ombros, pressionando meu corpo contra o dele enquanto sua boca se movimentava de forma deliciosa contra a minha. tinha passado a noite tomando tequila e ainda dava para sentir na sua língua, me deixando bêbada com o gosto, mas eu tinha certeza que o efeito era consequência do beijo e não do resto de álcool. pressionou a palma na minha bochecha, segurando meu rosto com gentileza e fazendo os calos dos seus dedos esfregarem na minha pele causando uma sensação gostosa. Minhas mãos engancharam nas ondas do seu cabelo quando explorei mais para cima e ele mordeu meu lábio inferior, puxando levemente, antes de voltar a me beijar na mesma intensidade e calma de antes.
As pontas dos seus dedos nos meus braços nus deixaram uma trilha de arrepios que fez meu corpo incendiar. Por Deus, eu podia me acostumar com isso. Sua boca na minha, o rastro de calor que seus dedos deixavam em mim... Sim, eu definitivamente poderia me acostumar com isso mais rápido do que pensei.
— Eu acho que esse foi um ótimo começo para os nossos beijos roubados — murmurou, pousando a mão na minha nuca.
— Com certeza foi um bom começo — concordei, sorrindo contra seus lábios. — Mas eu preciso ir antes que e se matem.
— Vamos lá.
Saí de cima dele e me levantei, puxando comigo. e ainda estavam discutindo fervorosamente quando chegamos no apartamento, mas a nossa chegada e os nossos lábios vermelhos e inchados fizeram o tópico da conversa dos dois mudar no mesmo instante. me olhou com um sorriso esperto, que eu fiz questão de ignorar enquanto pedia o Uber. Os meninos foram nos levar lá embaixo quando o carro chegou. Não conversamos no elevador, mas pela parede espelhada, meu olhar encontrou o de e a sensação calorosa invadiu meu peito.
— Avisem quando chegarem em casa — pediu, me abraçando rapidamente.
— Avisaremos. — Assenti, dando um beijo na sua bochecha.
Estava prestes a entrar no carro, mas me puxou pela mão e grudou nossos corpos, abaixando seu rosto contra o meu para um beijo rápido que me deixou sem fôlego pela surpresa.
— Ainda trabalhando os beijos roubados — esclareceu, beijando o canto da minha boca antes de me soltar.
— Você é assustadoramente bom nisso — sussurrei, sorrindo que nem idiota.
Entrei no Uber antes que resolvesse ficar para outra sessão de beijos, e caí contra o banco ainda com um sorriso feliz. sorria como se tivesse acabado de receber o presente de natal que ela esperou o ano inteiro.
— O que isso significa? — perguntou, quase se ajoelhando no bando do carro.
— Significa que nós vamos deixar rolar. — Dei de ombros.

Nas semanas seguintes, e eu começamos a sair no que chamamos de período teste. Era como os 30 dias grátis da Amazon Prime, mas, no nosso caso, era com beijos e encontros antes de decidirmos o que fazer. Essa era a última semana de férias, então passamos ainda mais tempo juntos. Eu o levava em lugares que eu gostava e ele me levava nos que ele gostava. Lugares esse que já tínhamos ido antes. Nós tínhamos gostos bem diferentes, mas era divertido, e eu acabava gostando de qualquer lugar porque ele estava comigo.
— Tá vendo, nem foi horrível. — riu, segurando minha mão quando saímos da pista de patinação.
Meus joelhos e bunda estavam gelados de todas as quedas que eu tinha levado. Eu era péssima em patinar, mas como era um jogador de hóquei assustadoramente bom para quem cresceu na Califórnia, ele tinha insistido em tentar me ensinar. Meus traumas de infância de quando quebrei a perna aprendendo a patinar nunca me permitiram pisar num rinque de patinação, a não ser que eu fosse obrigada, mas hoje não tinha sido horrível.
— Eu vou ficar com roxos pelo meu corpo por uma semana, mas pelo menos nenhum osso foi seriamente prejudicado — sorri, animada pelo feito.
— Mais umas aulas e você vai poder se juntar ao time da universidade. — Arqueou uma sobrancelha, com certeza tirando sarro.
— Não, eu passo.
Eu precisava manter os pés no chão, por isso, na escola sempre preferi vôlei ou futebol. Sem contar que praticar esportes não era minha vibe. Eu ficava satisfeita em sentar e assistir, mas não em praticar.
— Medrosa — implicou, passando um braço ao redor dos meus ombros. — Tava pensando da gente comprar comida e ir lá pra casa. Jensen foi visitar os pais.
— Eu acho uma boa. — Entrelacei os dedos na mão dele, que pendia ao redor dos meus ombros. — A gente pode terminar a terceira temporada de Peaky Blinders.
— Você vai guardar pra você o seu amor pelo John? — Arqueou uma sobrancelha.
— Eu nasci para exaltar John Shelby, querido. — Soltei um risinho. — Você vai ter que se acostumar uma hora ou outra.
— Eu prefiro o Tommy. — Seu olhar baixou para mim. — Ele é sexy.
— Ele é — concordei, mordendo o inferior da bochecha. — Amo o sotaque. Eu faria um ménage com ele e o John se tivesse a chance.
— Cara, qual é o seu fascínio pelo John? — Me olhou sem entender. — Ele não é isso tudo.
— Como é? — arregalei os olhos, indignada. — Ele não é tudo isso?! Ele é tudo isso e muito mais. Você só tá com ciúmes porque eu te esqueço sempre que ele aparece na cena.
— Você interrompeu nossos amassos só para ver a bunda dele — resmungou, o mau humor expressivo na voz.
A cena em que Tommy e John precisam ficar pelados para uma inspeção com aquela louca russa tinha sido uma delícia, apesar de ter ficado de cara feia quando parei para olhar a bundinha do meu Shelby favorito. Eu tinha sonhado com aquela bunda à noite e em como seria dar uma mordidinha nela.
— Desculpa. — Me inclinei para beijar a bochecha dele, mas não me sentia culpada assim. — Prometo te dar mais moral hoje.
Ele pareceu não acreditar muito, mas não discutiu. Entramos no meu carro e atravessamos New York até onde morava, consideravelmente perto da universidade da Columbia e bem longe de onde eu morava. O bairro dele era mais rico, pois seus pais tinham ótimas condições para mantê-lo por aqui e ainda arcar com todos os custos dele.
— Quer pedir o quê? — ele perguntou, abrindo a porta do apartamento para que eu entrasse primeiro.
— Eu quero pizza — retorci os lábios — mas ao mesmo tempo também quero hambúrguer.
— Ah, não... — gemeu, encostando as costas contra a porta quando fechou. — Vai começar.
— O quê? — Fiquei sem entender.
— A luta para decidir o que comer. — Cruzou os braços na frente do peito. — É assim há anos.
Fiz cara feia, indignada por sentir a culpa cair só em mim. nunca tinha sido muito mais decidido que eu, então era por isso que nós passávamos horas decidindo o que comer.
— Vamos fazer assim. — Sentei no braço do sofá, mantendo o olhar nele. — Par é pizza, ímpar é hambúrguer. Independente de qual ganhar, a gente pede milkshake e brownie para acompanhar.
— Sua obsessão por doces vai te deixar diabética — ele brincou, me fazendo revirar os olhos.
— Ainda bem que eu tenho um futuro médico para cuidar disso. — Balancei as pernas, me inclinando levemente para trás.
— O futuro médico pretende se especializar em psiquiatria — retrucou, se aproximando de mim.
— Pra aprender a lidar com a própria loucura? — sugeri, docemente.
— Ou para aprender a lidar com a louca por quem ele resolveu se apaixonar.
Foi inevitável não sorrir, especialmente quando venceu a pouca distância até o sofá e me beijou. Eu estava começando a me acostumar com o fato de que agora ele me beijava ou eu o beijava quando desse vontade. Na primeira semana tinha sido bem estranho porque os nove anos de amizade ainda estavam no meio como um muro enorme, mas aos poucos esse muro estava desabando.
E era tão bom.
Não paramos até ambos estarmos sem fôlego e bagunçados. Eu adorava passar os dedos por seus cabelos e o resultado era um monte de mechas embrenhadas que continuavam bagunçadas porque ele não fazia questão de arrumar.
— Vamos pedir pizza — ele decidiu, pra minha surpresa.
— Nada de queijo! — Lembrei, empurrando-o para trás.
— Tá — bufou, pegando o celular para pedir na pizzaria que sempre pedíamos.
Caí no sofá, as costas apoiadas nos travesseiros fofos com menções de Star Wars. Tirei o próprio celular do bolso para checar as mensagens que ignorei desde que fomos patinar. Como era domingo, não tinha muita gente dando sinal de vida.
— Leon e Gina já estão pedindo confirmação para o jantar de natal. — Eu ri, lendo a mensagem no grupo da família. — Ainda tem Ação de Graças na frente, mas acho que a mamãe que vai cuidar desse.
— Gina é dessas. — Ele deu de ombros, sentando no espaço ao meu lado. — Você vai?
— Minha família vai, então provavelmente irei — respondi, digitando quase o mesmo em resposta.
— Mais um final de ano em San Francisco para conta. — Ele sorriu, arqueando uma sobrancelha.
Eu costumava odiar a cidade, mas agora a ideia de voltar não tinha me deixado tão chateada. Provavelmente porque eu lembrava do beijo.
— Pedido feito — decretou, deixando o celular de lado.
— Vamos começar com a série? — Deixei meu celular de lado também.
— Você promete que vai guardar seus comentários pra você? — Semicerrou os olhos, ameaçador.
— Eu prometo que vou me esforçar. — Era o máximo que ele ia conseguir de mim. Com um suspiro derrotado, pegou o controle da TV. Chutei meu tênis para o canto da sala enquanto ele colocava a série, e depois me encolhi no sofá, perto dele. Botando play no episódio que paramos, afundou no sofá também, jogando as pernas em um dos braços do sofá. Ficamos juntos, apoiados pelos ombros do outro, a cabeça dele apoiada na minha, que estava no ombro dele.
— Olha a boquinha dele, ! — Suspirei, me derretendo quando John Shelby fez uma cara de bravo e a câmera enfatizou sua boca.
— Ele parece que tá com uma constante crise alérgica, .
Bati na cabeça dele com o cotovelo, o repreendendo por falar assim do grande amor da minha vida. retaliou com uma mordida no meu pescoço que quase me desconcertou.
— Fica quieto! — reclamei, mordendo o lábio pra não sorrir.
Voltamos a focar na série, até que a pizza chegou e nos interrompeu momentaneamente quando fomos pegar. Dessa vez, sentamos no chão da sala com a caixa de pizza entre nós, mas com o foco nos últimos episódios. Até terminarmos de comer, continuamos quietinhos até o final da terceira temporada, quando eu senti vontade de morrer pelo final.
— Como assim acabou desse jeito? — Olhei desesperada para . — Eu preciso da quarta temporada!
— Não, não precisa. — alcançou o controle, saindo da Netflix imediatamente. — Você tende a ficar obcecada, , não vou te deixar se afundar novamente.
— Como você pode estar tão calmo com a forma que acabou? — Apoiei a cabeça no sofá, sentindo o coração apertado. — Eu sei que não vai acontecer nada porque eu já vi spoilers, mas ainda assim, meu coração dói.
— Eu também já vi spoilers. Que você mostrou, inclusive — seu tom de voz deixou claro que ele não gostou de eu ter compartilhado minhas descobertas. — Agora só amanhã.
— Eu te odeio — resmunguei.
Aproveitei que estava botando no youtube e roubei o resto do brownie dele, que estava dando bobeira em cima da caixa vazia de pizza. Ele me encarou nem um pouco surpreso, mas eu ri quando seus ombros caíram como se ele desistisse de mim.
— O que você vai colocar? — perguntei, olhando para a TV.
Ele não precisou responder, pois deu play no vídeo na hora. A música I wanna be yours começou a tocar naqueles vídeos de lyrics em uma tela de estrelas no fundo. As luzes da sala estavam apagadas, já que com o passar das horas, não fizemos questão de acender e o brilho azul escuro da tela iluminou o ambiente, oscilando à medida que a letra da música ia mudando.
— É covarde você usar essa música pra me distrair — resmunguei, virando o rosto para encará-lo.
— Essa música não é a única coisa que eu pretendo usar para te distrair.
Minha pele arrepiou de antecipação quando estendeu a mão para mim e me ajudou a levantar. Ele sentou na ponta do sofá, me deixando em pé entre suas pernas. Seus dedos traçaram a pele nua dos meus braços levemente, subindo e descendo, dos ombros até os pulsos.
— Fica aqui hoje — murmurou, levando um dos meus pulsos até seus lábios e plantando um beijo suave. — Fica comigo.
Meu coração disparou, batendo tão forte contra meu peito, que eu achei que fosse ter um treco ali mesmo. Eu estava hipnotizada com a sensação da sua boca na minha pele, como se eu fosse uma virgem inexperiente. Meu olhar disparou para o relógio digital na parede, iluminado pelos números de LED. Era quase meia-noite e eu nem tinha percebido o tempo passar.
— Fica — repetiu.
Eu já tinha dormido aqui outras vezes, compartilhado a cama com ele até. Mas agora era diferente. Se eu ficasse, eu tinha certeza que estaria aceitando mais do que passar a noite aqui. Não era só pelo sexo — que era inevitável, levando em conta o calor que começava a se acumular dentro de mim —, era tudo. Se eu ficasse, não seríamos mais apenas amigos. O nosso período teste foi a preparação para esse momento.
— Fico — respondi.
Com um sorriso, me puxou até que eu estivesse sentada em seu colo, uma perna em cada lado do seu quadril. Encostei a testa na dele, deixando nossos narizes roçarem levemente, até que finalmente o beijei. Nos beijamos várias vezes durante essas semanas e várias vezes hoje mesmo, mas esse foi diferente. Esse beijou acabou de selar o que nós seríamos a partir de hoje.
Eu era dele e ele era meu.
Inclinei a cabeça para trás quando os lábios dele escorregaram mais para baixo, deixando uma trilha de beijos pelo meu queixo até encontrarem meu pescoço. Segurei em seus ombros, puxando o tecido da camisa dele entre os dedos quando sugou a área extremamente sensível que ele tinha mordido horas atrás, durante a série. As mãos dele me seguraram com firmeza contra si, mas ainda não era o contato que eu queria. Precisava de mais.
— sussurrei, completamente perdida.
Seu nome era familiar nos meus lábios. Eu já tinha gritado, sussurrado, xingado, rido e chorado enquanto gritava seu nome, mas ainda assim, soou tão diferente, que ergueu os olhos para me encarar, também surpreso porque eu nunca tinha sussurrado dessa forma. Segurei seu rosto entre as mãos, o puxando para um beijo novamente. O gosto de chocolate do brownie envolveu minha boca quando ele voltou a me beijar e eu sorri, feliz de ter insistido no doce. Seu beijo era tudo que eu não sabia que precisava até que eu provei. Esse momento parecia surreal no começo, mas agora, em seus braços, parecia simplesmente certo. E quando cambaleamos para o quarto e eu caí de costas na cama que eu já tinha deitado mil vezes antes, eu estremeci em antecipação, pensando no porquê de não termos feito isso antes.
Eu definitivamente poderia me acostumar com as novas sensações que eu continuava a descobrir com ele.



Fim


Nota da autora: Sem nota de autora.
💫


Nota da Beth Aurora Boreal: Sua escrita sempre me dando um gatilho de saudades de você escrevendo e mais ainda dos personagens. Sei que você apenas usou o casal de base para a história, mas eles se encaixaram TÃO bem! Parabéns pela história, amiga, eu amei ❤️

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