Codificada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 28/05/2025.— Eu não vou trabalhar com ela! — disse .
— E quem disse que eu quero trabalhar com você? — retrucou , devolvendo a provocação.
Os dois se entreolharam, e um verdadeiro fuzilamento mental aconteceu ali mesmo.
— Eu não consigo acreditar que meus dois melhores funcionários agem como duas crianças! — bufou o chefe.
— É natal, senhor Carter! — choramingou .
— Eu sei! — respondeu ele, levantando as mãos em um gesto de defesa. — Vocês serão muito bem remunerados. — tentou persuadi-los.
Já fazia exatamente quarenta e cinco minutos que os três estavam naquela gigantesca sala, tentando chegar a um acordo. A Signature, uma marca de vinhos muito famosa em Nova York, estava desesperada, pois precisava de uma campanha natalina a apenas dois dias do feriado.
— Essa conta é do . Por que ele não pode fazer sozinho? — perguntou , exibindo um sorriso cínico.
— Ele jamais conseguiria terminar uma campanha tão rápido sozinho. — Carter lançou um olhar firme para , que abaixou a cabeça. — É por isso que eu gostaria que vocês trabalhassem juntos. — explicou.
— Você, realmente, é um perdedor! — ela fez questão de provocar.
— E você é tão madura, certo? — perguntou , estreitando os olhos.
— Bem, eu conseguiria fazer sozinha. — rebateu ela, em tom debochado, enquanto arqueava as sobrancelhas.
— Eu não preciso dela. — disse, voltando seu olhar para o chefe e travando o maxilar.
Por um instante, sentiu um desconforto. Desde que chegara à empresa, já havia notado o lado competitivo dele, mas, naquele momento, tudo o que enxergava era alguém disposto a fazê-la se arrepender de cada palavra dita. O sadismo nos olhos dele anunciava que ele sentiria um prazer imenso em provar que era melhor do que ela naquilo que ambos faziam.
— Por que vocês não podem agir como profissionais? — irritou-se Carter. — Essa competição idiota entre vocês é simplesmente ridícula e está atrapalhando a porra do meu trabalho! — gritou.
— Ele que começou! — ela gritou, levantando-se da cadeira. — Desde o dia em que pisei aqui, tudo o que ele faz é encontrar algo para me tirar do meu equilíbrio e me irritar profundamente, ao ponto de eu querer cometer um assassinato e nem pensar nas consequências disso! — falou tudo em uma velocidade absurda, antes de puxar o ar e respirar fundo.
riu, atraindo a atenção dela.
Ele achava engraçado o quão fácil era tirar do sério. Sendo uma pessoa tão volátil, ela estava constantemente suscetível a situações em que podia ser manipulada por outros — e isso acontecia com frequência. Quase sempre, ela acabava caindo no jogo psicológico dele, embora, por vezes, conseguisse sair por cima.
, por outro lado, não entendia o motivo de tanta implicância. Observava constantemente o comportamento de com os outros funcionários, e ele parecia indiferente. Mas, com ela, desde o primeiro dia na agência, era uma perseguição. Ela suspeitava que ele tivesse medo de perder o posto de melhor publicitário, já que ela vinha se destacando cada vez mais.
— Você se acha muito boa, não é, ? — perguntou.
A garota permaneceu em silêncio.
— Eu até deixaria você se colocar nesse lugar de vítima, se não fosse tão insuportável. — disse, revirando os olhos e soltando uma risada fraca.
— Como é? — exasperou, incrédula.
— É isso que você ouviu! — ele se levantou da cadeira, aproximando-se até ficarem frente a frente. — Você é ridícula com esse complexo de perseguição, como se não revidasse tudo o que faço. — gesticulou círculos com o dedo indicador ao redor do rosto dela.
— Complexo de perseguição? — ela o fitou, furiosa.
— É isso mesmo! — confirmou. — É até divertido, porque você talvez seja a única que está no meu nível aqui. — ele umedeceu os lábios. — Mas acho que acreditei demais no seu potencial! — debochou.
— Você se sente tão ameaçado por mim? — cruzou os braços, exibindo um sorriso intimidador.
— Como eu poderia? — ele retrucou.
— Parece que precisa me diminuir para se sentir alguém bom no que faz. Sabe, já que é um péssimo profissional... — falou, fazendo bico, sarcástica.
— Eu preciso te diminuir para te colocar no seu devido lugar. — ele estufou o peito. — Você não é nada, ! — balançou a cabeça, como se estivesse decepcionado. — É engraçado você dizer que conseguiria fazer essa campanha sozinha, quando quase chorou por ter que trabalhar no natal. Você é fraca! — cuspiu as palavras sem se preocupar com o impacto que teriam.
Após ser bombardeada com tanta rispidez, ficou momentaneamente sem palavras. Ela já sabia que jogava sujo; para enfrentá-lo e sair por cima, muitas vezes precisava vestir uma armadura que não era sua. Tornar-se alguém que não reconhecia em si mesma tornara-se uma estratégia, especialmente para provar a quem estivesse ao redor que ela não era frágil.
O verdadeiro problema dele com parecia estar enraizado em algo muito além de palavras trocadas ou olhares desafiadores. Talvez fosse o fato de ela carregar um comportamento que, para ele, beirava o egoísmo, como se o mundo girasse ao seu redor. Ainda assim, ela era doce e atenciosa na maior parte do tempo. No entanto, bastava um leve empurrão — ou a provocação certa — para que o pior dela viesse à tona. Seu emocional era como um fio desencapado, e , perspicaz, sabia exatamente onde tocar para vê-la perder o controle.
Já para , o rapaz era um mistério difícil de decifrar. Ela não conseguia entender de onde ele tirava a ideia de que superar suas conquistas ou monopolizar todas as contas da agência era uma prova de ser o melhor publicitário. Mais ainda, não fazia ideia de quando ela mesma havia se tornado uma espécie de padrão de medida para ele.
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de ecoando novamente pela sala, trazendo-a de volta à realidade.
— Eu não preciso dela! — olhou para o senhor Carter que assistia a discussão até o atual momento. — Consigo entregar a campanha amanhã. — assentiu com a cabeça e deu as costas em direção a porta.
— Nós podemos apresentar duas propostas, a melhor vence. — falou sem pensar muito.
— , por favor não! — Joseph respirou fundo.
— Eu aceito! — disse voltando o olhar para ela.
— Vale tudo? — sorriu.
— Você quer dizer trapacear? — perguntou ansioso.
— Fracos não trapaceiam, certo? — questionou e a encarou por alguns segundos. — Vou te mostrar que fraqueza e o sobrenome não andam juntos. — aproximou-se dele o suficiente para sentir a respiração pesada em seu rosto. — Você sempre gosta quando eu jogo sujo. — colocou as duas mãos para trás.
De alguma maneira, podia jurar que ela estava tentando seduzi-lo.
— Eu já deveria esperar você querer trapacear. — disse, chegando mais perto dela. — É o único jeito de você ganhar. — mordeu o lábio.
— Ainda bem que você sabe! — o fitou de uma maneira tão sexy que pode sentir seu coração acelerar.
— Vocês dois, eu não vou tolerar...
— Está valendo! — o rapaz interrompeu seu chefe e respondeu .
— Eu desisto! — Carter jogou o corpo na cadeira.
A essa altura, o chefe já havia compreendido que sua presença ali não fazia mais diferença. Observou os funcionários saírem de sua sala sem sequer se despedirem, ansiosos demais com mais um jogo estúpido que haviam inventado. Embora fosse bom vê-los constantemente se desafiando e tentando extrair o melhor — ou o máximo — uns dos outros, ele não conseguia acreditar que esse tipo de comportamento pudesse levar a um desfecho realmente positivo.
Por outro lado, e seguiram para suas respectivas salas, movidos pela mesma determinação implacável: destruir qualquer chance de vitória um do outro.
— ! — a garota o chamou, antes do mesmo entrar na sala dele. — Só não venha chorar quando perder a Signature para mim. — ele apenas sorriu com o comentário e adentrou ao seu espaço.
Por fora, exalava confiança, mas, por dentro, sentia-se à beira do colapso. Contava os segundos, convencida de que desmoronaria a qualquer momento. Enfrentar daquela forma havia se tornado um hábito que ela não sabia como romper, mesmo que isso a consumisse lentamente. E, por mais que tentasse ignorar, a tensão sexual entre os dois era inegável, quase sufocante, sempre presente quando se encontravam frente a frente.
Assim que fechou a porta de sua sala, sentiu um alívio imediato, como se finalmente pudesse respirar um ar que não estivesse contaminado pela presença dele. Mas a sensação de liberdade era breve. Era como se um vírus, carregado por um desejo reprimido e persistente, a perseguisse, atravessando qualquer barreira.
— Por que você sempre tem que ser tão burra? — perguntou a si mesma.
O segundo estágio do turbilhão de sentimentos que ele provocava nela era a negação — negar a própria vulnerabilidade e a falta de habilidade para lidar com os jogos psicológicos que , habilidoso como era, adorava jogar. Ainda que tentasse resistir, sempre acabava, de alguma forma, cedendo exatamente ao que ele queria, mesmo sem perceber ou sem querer.
Bastava insinuar que ela não era boa o suficiente ou que não era capaz de realizar algo para que todos os gatilhos possíveis fossem acionados dentro dela. Era como se ele conhecesse, com precisão cirúrgica, cada ponto fraco que a faria reagir. Talvez, no fundo, ela o deixasse acreditar que tinha algum tipo de poder sobre ela — ou, pior ainda, talvez ele realmente tivesse. De forma quase imperceptível, ele a atraía para um jogo que ele mesmo havia iniciado, e ela, como uma peça no tabuleiro, seguia os movimentos, cega pela provocação e pela rivalidade.
O toque do celular a arrancou bruscamente desse transe, trazendo-a de volta à realidade com o mesmo peso sufocante de antes.
— Oi mãe! — ela atendeu.
— Que animação é essa? — a senhora ironizou do outro lado da linha.
— Eu estou normal, mãe. — resmungou.
— É natal! — Louise disse. — É o seu feriado favorito! — justificou.
— Eu sei! — suspirou.
— Querida, eu sei que não vai conseguir vir a Itália esse ano e que está morrendo de saudades do papai, mas, a família da Olivia vai te acolher exatamente como acolheríamos você. — tentou acalmar a filha.
— Eu sei mãe, eu sei... — respirou fundo. — É só que eu vou ter que trabalhar no natal e...
— O que? — interrompeu a garota. — Isso é um absurdo trabalhar em um feriado tão importante, é quase como se fosse pecado. — riu com o argumento da mãe. — Eu estou falando muito sério!
— Eu poderia recusar senhora , eu não estou sendo forçada. — fechou os olhos enquanto procurava as palavras certas. — Eu só pensei que como não estaria indo ver vocês, poderia focar em outra coisa para não sentir tantas saudades. — foi doce e sutil na sua explicação. — E eles vão me remunerar, então só uni o útil ao agradável.
— Apenas me prometa que não vai ficar trancada nesse escritório. — pediu.
— Eu prometo que irei tentar. — foi sincera.
— Eu amo você meu bebê! — Louise falou com o coração apertado.
— Eu também, mãe! — repetiu. — Boa noite na Itália! — deu uma risada fraca e finalizou a chamada.
A saudade apertava o coração de . Ter os pais presentes em sua vida era algo que ela nunca imaginou abrir mão, mas, quando eles decidiram voltar ao país de origem do pai, não havia muito o que fazer. Ela já era adulta e sabia se virar sozinha. Nascer e crescer em Nova York provavelmente foi uma das melhores coisas que lhe aconteceram. Apesar de ter visitado a Itália algumas vezes, sentia que nunca conseguiria se encaixar por lá.
Buscando conforto, voltou sua atenção ao notebook à sua frente. Começou a organizar os esquemas da campanha, alinhando as ideias que já tinha em mente. Afinal, jamais entraria em uma competição com sem ter ao menos um esboço.
Enquanto isso, estava em sua sala, um tanto desesperado. Não tinha sequer uma ideia. Resmungava em silêncio sobre como a Signature adorava lançar campanhas de última hora. Era algo que ele detestava profundamente, pois sempre acabava preso no escritório, criando peças para redes sociais ou vídeos comerciais em prazos apertados.
Desta vez, porém, a situação era diferente. tinha decidido se meter mais uma vez, apenas para provar que era melhor do que ele. Era irritante — e, pior ainda, difícil de ignorar quando a intrometida tinha um nariz tão bonito. Não que ele prestasse atenção nesses detalhes. Quer dizer, talvez só nos olhos ou no cabelo dela, que ela insistia em jogar para trás dos ombros toda vez que discutiam. Mas algumas coisas eram simplesmente impossíveis de não notar.
— Por que você aceita isso? — questionou, apoiando seus cotovelos na mesa a sua frente e escondendo o rosto com a mãos.
Ao mesmo tempo em que pensava no quanto era manipuladora, percebeu que, ironicamente, ele mesmo caía com facilidade nas armadilhas que ela armava. Era quase automático: aceitava suas provocações e embarcava nas confusões que sua colega de trabalho insistia em criar. A convivência recente, mais intensa do que gostaria, começava a deixá-lo com a sensação de que estava prestes a perder o juízo.
Suspirando, ele pegou o celular e posicionou-o à sua frente, ajustando o ângulo para uma chamada de vídeo. Após alguns segundos de espera, a tela revelou o rosto familiar de seu irmão, que parecia ligeiramente surpreso com a ligação inesperada.
— Eu vou matá-la! — disse impaciente.
— Sobre o que você está falando? — Nate perguntou confuso. — Deixa eu adivinhar, é a , não é? — questionou risonho, depois que entendeu sobre o que, ou melhor, quem era o motivo da ligação.
— Ela é tão, tão... — tentou achar as palavras.
— Gata? — o homem provocou.
— Cala a boca seu idiota! — disse irritado.
— Eu não entendo a sua implicância com essa garota. — falou.
— Ela me irrita! — mordeu o interior da bochecha. — Fica andando pelos corredores da agência como se fosse dona de tudo. — bufou.
— Ok! — revirou os olhos. — Bem, eu preciso trabalhar...
— Você acredita que ela agora quer competir para ver quem vai entregar a melhor campanha de natal para Signature? — o fitou incrédulo pela tela do celular. — E por acaso essa é minha conta. — proferiu as palavras arqueando as sobrancelhas.
— Eu acho que é justo! — sorriu.
— O que? — indagou surpreso.
— Você prendeu a garota em um elevador da última vez e fez ela perder a apresentação dela. — Nate expos sua opinião.
— Você supostamente não era para ser o irmão mais velho? — segurou o celular e aproximou-se da tela. — Por que está defendendo ela? — perguntou.
— Pare de ser um bebê chorão! — pediu. — , mas, campanha de natal? Isso significa que não vai chegar a tempo? — suspirou.
— Eu vou ficar preso por aqui hoje e amanhã só consigo ir depois da minha apresentação. — explicou.
— É o segundo natal seguido, a mamãe vai te matar. — falou ansioso.
— O que eu posso fazer? É o meu trabalho! — coçou a cabeça.
— Poderia dizer não! — retrucou.
— E perder para ? — questionou e o irmão bufou do outro lado da tela. — Eu prometo tentar chegar antes do jantar. — forçou um sorriso. — Eu tenho que ir!
Despediu-se do irmão e desligou o telefone.
O fato é que tentava a todo custo evitar contato com o seu pai desde que havia cancelado o noivado com sua ex, Melissa, no último natal em família. Tudo o que o seu genitor sabia falar quando via o filho era sobre ele ter deixado escapar a única mulher que seria capaz de aguentá-lo. Na verdade, o velho não se importava se ela estava atrás de dinheiro ou não, só queria expor para o resto da família como troféu de filho obediente.
Tornar-se um publicitário, na visão do pai, apenas tinha sido outro erro do filho, o mesmo sempre questionava os motivos de não agir como o irmão e seguir os negócios da família. E a resposta era simples: ele queria paz. E isso significava bater de frente com o senhor Harris e fazer o que gostava. Porém estava sem tempo para pensar nisso, deveria estar focando na campanha e consequentemente, na apresentação da mesma.
Os problemas de família dissiparam em sua mente e ele se dedicou apenas a Signature durante o resto da tarde, antes de sentir vontade de importunar a única pessoa dentro daquele lugar que respondia a altura suas implicações. Ficou sabendo que não deixou ninguém entrar no seu escritório, pois não gostaria de ser atrapalhada, então decidiu esperar mais um pouco para poder perturbá-la.
Umas horas depois conseguiu ouvir a voz da garota pelos corredores, achava impressionante como ela não se esforçava nem um pouco para disfarçar sempre que estava perto da sala dele, era quase como que se a mesma gostasse que ele soubesse que ela estava lá. Porém dessa vez, mal sabia o que a morena estava querendo aprontar.
— Sean, você tem o endereço do ? — perguntou ao seu colega que estava sentado em uma mesas que ficavam do lado de fora da sua sala.
— Para que você quer o endereço dele? — o loiro arqueou uma das sobrancelhas desconfiado.
— O senhor Carter está separando uns documentos confidencias e quer mandar para casa dele, me falou que eram muito importantes para estarem sendo transferidos via email. — olhou para porta a sua esquerda, que era do dito cujo, e voltou seu olhar com um sorriso falso para o rapaz.
— Porque ele não entrega em mãos? O está na sala dele. — indagou ainda confuso.
— Eu não sei Sean, será que deveríamos perguntar ao nosso chefe os motivos que ele tem para fazer as coisas? — retrucou irritada.
— Jesus! — resmungou. — Me desculpa, eu já te passo. — fez um bico com raiva.
— Obrigado por fazer o seu trabalho! — foi sarcástica.
Enquanto isso ouvia toda a conversa por trás da sua porta, como ele já havia dito anteriormente, ela não sabia disfarçar muito bem quando estava por perto.
— Para que merda você quer o endereço da minha casa ? — perguntou a si mesmo em um sussurro. — Então, está disposta mesmo a trapacear. — sorriu malicioso.
De certa forma, gostava mais desse lado de . Não podia negar que ela se tornava extremamente atraente quando estava arquitetando algo, fosse bom ou ruim. Mas, no seu caso, certamente não seria nada bom. nunca dava um passo sem ter uma intenção por trás; ele sabia que ela logo encontraria um jeito de mandá-lo para fora de sua zona de conforto, talvez até enviando algo para tirá-lo do foco.
Decidiu que o melhor seria pegar o que precisava e ir trabalhar em casa, assim nada poderia interferir no seu caminho rumo à vitória contra ela. Ao abrir a porta do escritório, deparou-se com , que exibia um sorriso cheio de cinismo. Ela definitivamente estava aprontando alguma coisa, pensou , já pressentindo que o jogo estava prestes a mudar.
— Você me assustou! — a garota murmurou.
— Ótimo! — rebateu.
— Onde você está indo? — questionou após observar todo o material sendo carregado por .
— Para bem longe de você. — ajeitou a alça de sua bolsa no ombro e chegou mais perto da garota. — Não importa o que você está tentando fazer, espero que arque com as consequências disso mais tarde. — a encarou por alguns segundos.
— Você entrou nisso por que quis. — aproximou-se mais ainda dele, o suficiente para sentir a respiração dele sobre ela.
Sempre que discutiam, parecia um hábito. Eles faziam isso sem perceber, mas, invariavelmente, ficavam perto um do outro, trocando palavras afiadas enquanto podiam sentir a respiração do outro, envolvente e quase palpável, em cada frase dita. As palavras podiam mentir, mas as ações nunca o fariam. Eles gostavam daquilo — seja lá o que fosse.
se aproximou mais, até quase encostar a boca na orelha dela.
— Quem me dera entrar em você! — sussurrou, malicioso, no ouvido de .
Quando queria tirá-la do eixo, sabia que bastava um simples sussurro, algo bem obsceno, para que ela perdesse toda a pose de durona e mandona. E, para desestabilizá-lo, só precisava ser doce e gentil, como era com os outros — mas nunca com ele. No entanto, na maioria das vezes em que ele adotava esse tipo de atitude, ela não conseguia revidar da mesma forma.
— Pervertido. — disse com raiva, empurrou ele pelo ombro e seguiu caminho de volta para sua sala enquanto o ouvia rir.
— Diga a Carter que eu fui mais cedo para casa para finalizar a proposta da Signature, por favor! — pediu ao colega a sua frente.
— Não precisa se preocupar. — Sean respondeu. — Ele já liberou todos para o natal, só está aqui quem ainda está resolvendo algumas pendencias para as campanhas desse fim de ano. — explicou.
— Ele liberou todos para véspera também? — questionou.
— Sim, apenas você e sua rival estarão aqui amanhã para apresentar a campanha para Signature. — bufou. — Ridículo como eles sempre pedem tudo de última hora, não é? — assentiu.
Tentou se concentrar no que poderia estar aprontando, mas logo ignorou o pensamento ao se lembrar de tudo o que ainda tinha para fazer. Precisava ensaiar a apresentação para o dia seguinte. Sem mais delongas, pegou o carro e seguiu em direção à sua casa, decidido a cumprir o cronograma que havia planejado mais cedo.
acordou com o barulho da sua campainha tocando absurdamente.
— Eu estou indo! — respondeu enquanto ainda tentava despertar.
Ainda confuso, acabou tropeçando em algo no meio do caminho, o que fez com que o rapaz do lado de fora do apartamento continuasse apertando o botão. Sabia que era véspera de natal, mas, não imaginava alguém bater a sua porta as sete da manhã.
— Entrega especial de natal para . — o entregador a sua frente anunciou.
— Mas, eu não pedi nada. — disse desorientado.
— É por isso que é especial, é uma surpresa! — o jovem rebateu.
— Claro! — ele assentiu, impressionado com a audácia do garoto. — Sabe dizer ao menos quem mandou? — questionou.
— Infelizmente não, mas, imagino que há um bilhete dentro. — sorriu. — Feliz natal senhor! — agradeceu de maneira terna e deu as costas.
segurou a cesta com cuidado, para que não caísse até chegar à cozinha. Não conseguia imaginar quem mandaria um café da manhã com uma temática natalina, especialmente sabendo que ele mesmo detestava o Natal, principalmente por causa dos últimos acontecimentos. Respirou fundo antes de abrir a embalagem, desejando que fosse de qualquer pessoa no mundo, menos de sua ex.
Melissa havia parado de assediá-lo, de tentar conversar ou de insistir para que ele mudasse sua visão sobre eles. Então, não seria surpresa se ela mandasse um presente assim, justamente em um dia como aquele, esperando que ele sentisse alguma compaixão por ela. Apressou-se em colocar a cesta sobre a mesa, retirando o pequeno envelope de dentro e o abrindo com certa ansiedade.
“Feliz natal para meu perdedor favorito!”
.
O primeiro nome que lhe veio à mente foi esse. Óbvio que ela o provocaria de alguma forma. Estranhou o comportamento silencioso da garota de ontem para hoje. Mesmo com o comentário desnecessário, aquilo foi o suficiente para desconcertá-lo um pouco. Era só disso que precisava para desestabilizá-lo: afastá-lo de seu lado mais calculista, sendo doce e gentil da mesma forma como agia com os outros ao seu redor.
— Então... — ficou pensativo ao olhar para o lindo presente. — Era para isso que você queria meu endereço? — posicionou uma mão na cintura enquanto passava levemente o papel pela boca. — Você não seria tão boazinha assim, seria? — indagou.
Esfregou os olhos, ainda sem acreditar na gentileza dela. Conhecia o suficiente para saber que aquilo não era por acaso. Ela sabia exatamente o que estava fazendo; queria tirá-lo da jogada, e como mais poderia fazer isso se não fosse se comportando como a pessoa que desejava que ela fosse? Mesmo assim, por mais que pudesse ser apenas uma jogada, ele não podia negar o sentimento de que havia gostado daquilo.
— Muito fofo ! — sorriu segurando o bilhete. — É uma pena que eu odeie o natal. — jogou o cartão de volta para dentro da cesta.
Optou por deixar a surpresa de lado e tomou uma grande xícara de café preto, o suficiente para mantê-lo acordado pelo resto do dia. Não demorou muito para preparar a bebida e, enquanto a saboreava, começou a escolher a roupa para a apresentação na Signature.
Após um banho quente, vestiu uma camisa social azul escuro e uma calça jeans preta. Gostava dessa combinação, pois, normalmente, a usava nos dias em que precisava de sorte — e sempre parecia dar certo. Mas, naquele momento, ele não podia imaginar o que ainda estava por vir.
Dirigiu-se para o estacionamento do prédio em busca do seu carro, um tanto ansioso. Sabia que tinha criado uma boa proposta, mas não tinha certeza se era a melhor. Repreendeu-se por ter consumido tanta cafeína; toda a agitação que sentia no corpo poderia ser efeito daquilo. Fechou os olhos, tentou respirar fundo e expelir o ar da maneira mais leve possível, buscando se acalmar.
— Hoje não, por favor! — ele disse após abrir os olhos e ver um dos pneus do seu carro, furado.
Correu em direção ao automóvel, ansioso para entender o que havia acontecido, e foi então que se deu conta de que não era apenas um, mas os quatro pneus haviam sido furados. Não veio outro nome à sua mente, a não ser . Era claro que ela não seria gentil com ele, e talvez ele tivesse se permitido acreditar que poderia ser diferente. O ódio começou a corroê-lo por dentro, uma raiva visceral, como se fosse impossível conter a frustração que sentia.
— Sua vadiazinha de merda! — proferiu as palavras com uma raiva enorme no peito. — Eu sabia que você ia jogar sujo, porque fui tão estupido? — colocou as duas mãos na cabeça, desesperado.
Mesmo que chamasse um carro por aplicativo, sabia que jamais chegaria a tempo, pois havia perdido tempo demais admirando a maldita surpresa que a senhorita problema lhe enviara. Pegou o celular e não hesitou em enviar uma ameaça para a garota.
“Eu vou matar você!”
O celular vibrou em cima da mesa da sala de reuniões, e sorriu ao ver a mensagem na tela. Com a sensação de missão cumprida, soube que não conseguiria apresentar sua proposta. E, independentemente de ser a melhor ideia ou não, ela venceria. Afinal, não havia mais com quem competir.
— Então senhores, é exatamente isso o que queremos comunicar, que o vinho pode nos trazer esse conforto ao lado da pessoa que amamos. — sorriu serene e utilizou um controle para pular o slide para peça final. — Você pode ter uma noite em família, como também uma noite calorosa com o amor da sua vida, desde que a Signature esteja presente no seu natal. — finalizou a apresentação e aguardou os aplausos dos três homens a sua frente.
— Você é uma grande salva vidas senhorita ! — Thomas a elogiou.
— Está sensacional! — Mitchel concordou. — Onde estava escondendo essa preciosidade Carter? — questionou o amigo ao lado e todos riram, inclusive ela.
— Fico feliz que tenham gostado e acho que realmente o não conseguirá mais comparecer a essa altura do campeonato. — Joseph disse sem graça.
— Sim, teríamos outra proposta para apresenta-los, mas o senhor teve um problema com o carro, infelizmente. — reproduziu uma feição triste com as sobrancelhas.
— De qualquer maneira, ainda escolheríamos esse conceito que nos apresentou, tem tudo a ver com a nossa marca e para algo que pedimos em cima da hora está além de qualquer outra campanha que já tivemos. — Mitchel frisou o motivo de gostar tanto da ideia.
— E a partir de hoje, queremos que tenha o controle da nossa conta aqui na agência. — Thomas sorriu. — Não nos leve a mal, adoramos tudo o que o fez por todos esses anos, mas, a sua ideia nos cativou de um jeito que não conseguimos expressar em palavras.
— Eu não sei nem como agradecer, eu ao menos esperava que você fossem gostar tanto assim. — esboçou o maior sorriso que pode.
— Nós amamos senhorita , e esperamos que a partir de meia noite já esteja rodando em todos os lugares possíveis que foi nos apresentado. — o mais velho entre eles, Mitchel, foi direto. — Bem, feliz natal! — desejou.
— Obrigado, novamente, Carter! — o mais novo agradeceu. — Senhorita , espero que nos perdoe por arruinar seu natal! — assentiu com a cabeça e um sorriso no rosto em forma de cumprimenta-la.
Depois de se despedirem, Joseph e levaram os dois até o elevador. O chefe da garota aguardou até que as portas se fechassem para fazer uma pergunta a ela, que ainda mantinha um semblante vitorioso, não por ter conseguido entregar a campanha, mas sim por ter vencido a aposta com .
— O que você fez? — Carter a questionou.
— Eu mandei uma cesta de natal para distraí-lo tempo suficiente e ele não ver que eu havia furado os quatro pneus do carro dele. — não conteve a risada.
— Ele vai matar você! — o senhor a sua frente disse com toda certeza.
— Eu sei! — ela continuou rindo.
— E eu não quero estar aqui quando isso acontecer, então por favor, organize as artes e as envie o mais rápido possível para onde elas devem aparecer a meia noite, ok? — chamou a atenção da sua funcionária.
— Pode deixar! — concordou gesticulando com a cabeça.
Após desejar boas festas ao chefe, se dirigiu à sua sala. Agora que havia conseguido o que queria — finalmente, , derrotado —, sentia-se estranhamente vazia. Gostaria de entender a razão pela qual seu inimigo parecia ter tanta necessidade de vivenciar essa sensação de derrota repetidamente.
— Você é uma vadia sem coração mesmo! — entrou gritando no escritório dela, fazendo com que a mesma se assustasse e olhasse para trás.
— Quem você pensa que é para me chamar de vadia? — questionou com raiva.
— Quem, você... — apontou o dedo para ela enquanto jogava a sua bolsa em um pufe rosa posicionado ao seu lado esquerdo. — Pensa que é! — travou o maxilar e a garota não pode evitar o frio na barriga.
— Não se atreva a chegar perto de mim! — pediu, afastando-se para atrás e batendo na sua escrivaninha.
— Ficar longe de você? — estreitou os olhos enquanto dava passos em direção a ela. — Além de perder a minha conta de anos para alguém como você, eu ainda vou ter um prejuízo enorme com a porra do meu carro. — prendeu a morena contra a mesa que estava atrás dela.
— Você disse que valia tudo. — ela justificou sem encará-lo. — Você já sabia que eu iria jogar sujo. — falou baixinho.
— Jogar sujo? — puxou o queixo dela fazendo com os olhos dela encontrassem os dele. — Jogar sujo é você me fazer acreditar que realmente me mandaria a porra de uma cesta de café da manhã. — alcançou o rosto dela só para que pudesse sentir a respiração, como sempre fazia.
— Eu achei que sempre esperasse o pior de mim, não passou pela minha cabeça que você fosse burro ao ponto de acreditar que era sério. — umedeceu os lábios, nervosa.
— Você me chamou de que? — a pressionou mais forte contra a mesa.
— Eu sinto muito! — choramingou.
— Isso não é suficiente para pagar os danos do meu carro. — ele a suspendeu em um súbito e a colocou sentada na escrivaninha, ficando entres as pernas dela.
estava sem reação.
— O que você vai fazer? — engoliu seco.
A morena não conseguia acreditar no que estava acontecendo. , definitivamente, estava fora de si, mas, ele nem imaginava que estava fazendo o sexo dela latejar com todo aquele comportamento e aquelas frases com duplo sentido, por um momento ela até esqueceu o quanto o odiava.
— O que você acha que eu vou fazer ? — ele sorriu de uma maneira sacana.
E mesmo sem saber, poderia tê-la por inteira naquela mesma hora.
— Não me chame assim! — tentou sair do lugar que estava e a encurralou mais ainda.
— Não gostou do apelido que acabei de criar para você? — segurou o rosto dela para conseguir enxergar o que ela não queria demonstrar.
— O que você quer ? — perguntou irritada e pode perceber o quanto suas bocas estavam próximas.
— Tudo o que eu mais quero agora é te enforcar de um jeito que você vai ficar correndo atrás de mim igual a uma cachorra, implorando para que eu acabe com você aqui mesmo nessa mesa o resto da sua vida! — disparou as palavras sem pensar, apertando a cintura dela com tanta força que, por um segundo, ela não pôde evitar um pequeno gemido.
O silencio predominou a sala. Era um tanto confuso explicar o que estava acontecendo naquele ambiente, mas, os dois se perguntavam se era normal sentir tanta excitação e desejo em uma questão de segundos, o que poderia ser compreendido, era que não sabia o que estava fazendo, estava repleto de ódio, queria puni-la de alguma forma.
Só não imaginava que ela gostaria de ser punida.
— Então faça! — sussurrou, esfregando os lábios no dele e partindo para um beijo.
A ação foi tão repentina que ele a correspondeu da mesma maneira. Era evidente que ambos queriam isso há muito tempo, só pelo modo como se devoraram a cada milésimo de segundo. As línguas se encontravam com tanta ferocidade, o ar faltava, o calor se espalhava por seus corpos.
As mãos de , que estavam na cintura dela até aquele momento, subiram para suas costas, deslizando sobre o tecido de seda da blusa de . Ela afastou-se do beijo, jogando a cabeça para trás, um sinal claro para que ele a tocasse no pescoço. Ele não demorou a percorrer sua pele macia com a boca, marcando-a com algumas mordidas.
Rapidamente, o trouxe de volta aos seus lábios, e voltaram a se beijar desesperadamente. Tentavam disfarçar o que estavam sentindo, mas era impossível negar: ambos ansiavam por isso. o puxou mais para perto, comprimindo o corpo dele contra a intimidade dela, sem afastar os lábios dele dos seus. Não demorou muito para ela perceber a ereção dele.
Foi nesse momento que finalmente percebeu o que estava acontecendo e se distanciou abruptamente.
— Não! — falou uma vez. — Não! Não! — continuou a dizer sem parar com a mão na cabeça.
— O que? — desceu da mesa nervosa.
— O que você fez? — a fitou surpreso.
— Eu achei que era isso que você queria, e-eu... — gaguejou.
— Ai meu Deus! — disse exasperado, pegou sua bolsa e saiu em disparada do local, deixando a garota completamente perdida.
Ela deve ter ficado paralisada em sua cadeira por pelo menos duas horas após o ocorrido, tentando reconstruir a cena em sua cabeça, perguntando-se em que momento achou coerente beijá-lo. Aquilo simplesmente mudava tudo e poderia prejudicar os dois dentro da empresa.
Começou a se questionar por que, mesmo sem querer, continuava cometendo os maiores erros da sua vida. Dramática? Talvez. Mas, quando se tratava dela, era o que normalmente acontecia: uma imensa quantidade de drama e vitimização por causa de seus próprios erros.
Por mais que tentasse, sair do escritório não parecia uma opção viável. Ela se sentia envergonhada demais para isso. Procurou nos seus pensamentos uma maneira de consertar a burrada que acabara de cometer e, assim que encontrou algo que pudesse amenizar a situação, foi rápida em entrar em contato com quem precisava.
— Eu irei ficar muito agradecida se puderem deixar exatamente nesse endereço que eu disse. — disse com o celular no alto falante já que estava concentrada no seu notebook com as artes da Signature. — Eu já efetuei a transferência, irei mandar o comprovante agora para vocês. — agradeceu e desligou.
Já estava perto das seis da noite quando ela começou a se organizar para ir para a casa da família de sua melhor amiga. Foi então que ouviu três batidas na porta. Uma pequena fresta foi aberta, e ela viu o rosto de com uma expressão triste, o que a surpreendeu, pois esperava que ele não falasse com ela tão cedo.
— , me desculpa. — a garota levantou-se da cadeira de supetão. — Eu...
— Pode parar! — ele a interrompeu e abriu a porta, fazendo com que as sacolas que ele segurava entrassem no campo de visão dela. — Nós temos suco de laranja e comida japonesa. — colocou tudo em cima da mesa de centro que tinha na sala enquanto falava.
— Comida japonesa? — ela sorriu.
— Eu sei que é a sua favorita. — conseguiu encará-la após um tempo.
— Como você sabe disso? — questionou chegando mais perto dele.
— Você sempre faz questão de dizer, não importa onde esteja. — debochou da garota que era sempre previsível. — É uma oferta de paz! — disse.
— Não era eu que supostamente deveria está fazendo isso? — indagou sem graça.
— Eu disse coisas terríveis a você e te tratei como um objeto. — engoliu seco. — Minha mãe não se orgulharia disso...
— Você voltou aqui por causa da sua mãe? — perguntou confusa.
— Não! — disse impaciente. — Eu voltei aqui porque eu sinto muito, nós fizemos uma aposta, colocamos nossos termos e você ganhou dentro deles, eu não tenho direito algum de vir aqui e tentar te matar. — gesticulou com as mãos.
— Você, realmente, iria me matar? — questionou desconfiada.
— Se você não tivesse me beijado, eu não sei o que teria acontecido. — ele a encarou.
Ambos riram por um curto período de tempo.
— Sobre isso... — tentou falar algo após cessar sua risada.
— Apenas vamos deixar para lá! — não deu tempo para ela se explicar. — Se eu fosse você também iria querer me beijar. — justificou e a garota sorriu com a resposta, porque era exatamente algo que ele diria se os dois estivessem em uma confusão.
— Claro, não é mesmo? — falou como se fosse algo obvio.
Eles riram novamente até o silencio dominar outra vez aquele espaço.
— Bem, aproveite sua refeição! — ele disse com um sorriso e assentiu.
Abriu as sacolas, enquanto observava ir em direção a porta.
— Nossa! — ela riu nasalado e o rapaz olhou para trás. — Você trouxe comida para dois, estava esperando que eu te convidasse? — o encarou de forma irônica.
— Você vai me convidar? — forçou um sorriso.
— Você quer ficar? — respondeu ele com outra pergunta.
— Você está aqui sozinha, não prefere que alguém fique ao seu lado? — retrucou.
— Não iria para casa da sua família? — questionou.
— Eu não curto muito o natal. — tentou se explicar. — Eu... — respirou fundo para encontrar as palavras certas. — Por favor, você pode ser a desculpa a qual eu não precise ir para lá? — pediu, sem graça.
— Porque? — perguntou curiosa.
— Para ser honesto, eu prefiro estar aqui com você do que ter que ver o meu pai. — franziu o cenho, um tanto surpresa com aquela novidade e como ele havia se aberto para ela.
Seu celular vibrou, a impedindo de responder naquele momento.
“Cadê você? Sério que não vir para ceia de natal?”
Era Olivia.
“Me desculpa!!! Presa no trabalho, produzindo aquela campanha que te falei!”
Logo a amiga respondeu.
“Nossa! Que merda hein?”
“Eu prometo passar por aí amanhã! Te amo! Feliz Natal!
“Feliz natal babe! Te amo mais!!”
— Quem era? — perguntou após observar ela bloquear o aparelho.
— Minha melhor amiga. — sorriu.
— Você tinha planos com ela? — questionou desconfortável. — Eu posso ir embora, eu não quero...
— Ela só estava me desejando feliz natal. — ela o interrompeu, mentindo.
Por mais que houvesse ódio entre eles, era perceptível que não estava bem. Além do fatídico acontecimento mais cedo, ele ainda havia revelado um lado mais sensível para : problemas com o pai, aversão àquela que talvez fosse a maior festa tradicional do mundo, raiva excessiva… Ou seja, todos os sinais indicavam que ele precisava de uma companhia diferente naquele dia.
— Vamos comer? — questionou sorrindo com os olhos.
— Obrigado! — ele assentiu com a cabeça.
Sentaram-se no chão e começaram a retirar tudo o que havia trazido de dentro das sacolas, organizando sobre a mesa de centro. Não demorou muito para que atacassem a comida diante deles. Ambos estavam famintos, afinal, não haviam comido nada o dia inteiro, sobrevivendo apenas com café preto. Era curioso como não percebiam as semelhanças que compartilhavam em tantos aspectos.
— Ainda deve um pedido de desculpas pelo meu carro! — resmungou de boca cheia.
— Nunca! — riu e foi acompanhada por um sorriso do rapaz a sua frente.
A garota percebeu que era a primeira vez que via sorrindo de forma sincera, tantas vezes, em um único dia, para ela.
— Você beija muito mal, por sinal! — disse. — Eu acho que te odeio mais ainda agora! — foi irônica, o que arrancou mais uma risada dele aquela noite.
De alguma forma, vê-lo feliz a deixou confortável. Ela sabia que quando voltassem ao trabalho após as festas, os dois ainda iriam brigar e quase se matar no dia a dia, mas, o agora estava valendo cada segundo, pois, era natal e parecia ter algum problema não resolvido com seu pai que estava o deixando mal, então se ele estava sorrindo perto dela, significava que ela estava fazendo a coisa certa.
— Você também beija muito mal, não me peça para falar sobre isso. — disse e colocou mais uma peça de sushi na boca.
riu.
Por mais que a odiasse, sentiu que sua noite não poderia ser a mesma se ela não estivesse lá, foi a escolha certa ter voltado e não importava se depois eles iriam continuar discutindo ou pensando em cometer possíveis crimes passiveis, ainda valeria a pena se ele estivesse comendo sushi com ela em uma véspera de natal. Por um breve momento, pensou em como seria ter essa versão de todos os dias e lamentou ter deixado que ela criasse uma imagem tão distorcida dele.
— O que está pensando? — ela o questionou.
— Isso é real? — fez um bico. — Nós dois comendo juntos, em uma véspera de natal, mas, sem facas ou rastros de sangue ao redor. — falou em um tom sarcástico.
— É porque você não tem um carro para colocar um corpo na mala. — retrucou.
— Sim... — olhou desconfiado para ela. — Mas, você tem... Isso significa que ainda pode estar planejando me matar. — falou, fingindo está assustado.
— Definitivamente. — ela respondeu.
E eles riram mais uma vez.
Não havia mais contagem para quantas vezes um fez o outro rir naquela noite.
Passaram horas conversando coisas bobas e sobre o trabalho, preferiram ignorar assuntos sérios, mas, na realidade, só estavam com medo de parecerem vulneráveis o bastante para expressem o que sentem de verdade. não evitou pensar que se tivesse trazido uma garrafa de gim ao invés de um simples suco de laranja, o beijo poderia ter terminado em outras ações.
Culpou a si mesmo por querer algo com alguém que jamais gostaria de ter algo com ele. Mas, um tanto de perguntas martelavam na cabeça. Se ela o odiava tanto assim, então por que tomou a decisão de beijá-lo? Ela se sentiu pressionada para fazer isso? Ou ela se sentiu coagida, pois, também tem desejos carnais assim como ele?
— Olá! — ele acordou de seu devaneio ao ouvir ela estalar os dedos. — Você foi para um lugar bem longe, de novo. — sorriu sem graça. — Tem certeza que está tudo bem? — perguntou preocupada.
— Sim! Sim! — assentiu. — Me desculpa! — pediu.
— Então, vamos? — questionou apontando para saída do elevador.
— O que? — demonstrou um semblante confuso.
— Eu estava dizendo que ia te dar uma carona, seu esquisito! — ela riu nasalado.
— É o mínimo que você pode fazer, visto que destruiu meu carro. — arqueou uma das sobrancelhas.
— Você quer que eu te deixe no meio da rua? — provocou.
— Você não quer assumir seus erros. — revirou os olhos.
— Era uma aposta que valia tudo e você aceitou. — disse com uma certa irritação.
— Você está certa! — bufou. — Vai levar um tempo para eu aceitar essa derrota, apenas lide com isso. — deu as costas a garota e seguiu em direção ao estacionamento a sua frente.
Depois de entrarem no carro, dirigiu em direção à casa de . Não podia negar que o dia havia sido diferente. Tê-lo sentado no banco do carona de seu automóvel era algo que nunca imaginara acontecer. Enquanto o conduzia, sua mente vagava. Pensou no quanto ele era imprevisível e se perguntou, por um breve momento, se ele já desejara beijá-la da mesma forma que ela o havia beijado.
Preferiu acreditar que não. Era mais fácil assumir que fora apenas um desejo carnal, uma fagulha do momento. Admitia que ele tinha um charme único, mas tentou se convencer de que aquilo era apenas um impulso da carne. Poderia ter sido qualquer outra pessoa no lugar dele, e o resultado teria sido o mesmo. Ou pelo menos era o que repetia incessantemente em sua mente durante todo o trajeto, tentando manter a lógica à frente das emoções.
Não queria que seu corpo a traísse novamente perto dele. Com esse mantra silencioso, o percurso pareceu breve. Quando finalmente estacionou o carro em frente ao prédio de , seus olhos pousaram no relógio digital do painel. A meia-noite havia acabado de chegar.
sorriu. Finalmente era Natal, e ela amava essa data.
— É aqui que eu fico. — disse. — Poderia agradecer se não fosse a mesma maluca que rasgou os pneus do meu carro. — reclamou.
— Não vai superar isso, não é mesmo? — ela perguntou.
— Você sabe que não. — sorriu gentil e retribuiu o sorriso.
— , sobre o beijo... — tentou trazer o assunto novamente à tona e foi interrompida.
— Como eu disse, vamos fingir que não aconteceu. — pressionou os lábios, nervoso, ao lembrar do toque macio da língua dela. — Foi apenas um momento louco, não sabíamos o que estávamos fazendo. — disse sem graça.
— Não se preocupe! — a garota falou sem jeito. — Eu ainda te odeio! — os dois riram fraco.
Ele abriu a porta do carro para descer e hesitou um pouco.
— Feliz Natal ! — riu nasalado. — Já faz um tempo que não digo isso de maneira sincera. — ele a encarou. — Obrigado! — agradeceu e desceu do automóvel o mais rápido que pode para não haver tempo para justificativas.
— Boa noite ! — gritou enquanto o observava passar pela porta giratória do prédio.
decidiu não olhar para trás ao sair do carro, por que estava se sentindo estranho por dentro e era, sem dúvida, a maior responsável por isso. O dia havia sido um tanto louco e ele não sabia como definir em palavras. Entrou no elevador com a cabeça acelerada nos seus pensamentos em relação a ela, até seu celular tocar.
Era Nate. E ele respirou fundo antes de atender.
— Eu sinto muito! — disse. — Fiquei preso no trabalho, inclusive cheguei em casa agora. — justificou com uma pequena mentira.
Odiava mentir para seu irmão, mas, não havia muito o que fazer.
— A mamãe está bem triste, só liguei para fazer essa leve pressão psicológica com você. — o irmão mais velho suspirou.
— Eu vou dormir um pouco e prometo que vou aparecer para o almoço. — tentou persuadir.
— Assim como prometeu ontem? — questionou, triste.
— Eu prometi que tentaria ir e não que eu iria, são coisas diferentes. — bocejou enquanto falava, pois, realmente estava cansado.
— Que seja! — reclamou.
— Amanhã eu estarei aí! — disse.
Quando as portas do elevador se abriram, se deparou com uma visão no mínimo peculiar: quatro pneus perfeitamente alinhados no corredor, adornados por um gigantesco laço vermelho em volta. Eles estavam posicionados bem na frente da porta do seu apartamento, como se fosse algum tipo de presente.
Ele soltou um suspiro carregado de exasperação e alívio simultâneo. Pelo menos ninguém havia roubado os pneus — uma sorte que ele devia ao fato de seu prédio ter apenas um apartamento por andar. Ainda assim, não era preciso ser um gênio para deduzir quem poderia ser a responsável por um gesto tão absurdo.
. Claro que era ela.
— ? — seu irmão chamou sua atenção.
— O que? — respondeu.
— Você ouviu o que eu disse? — perguntou.
— Eu preciso ir Nate, podemos nos falar amanhã assim que eu acordar, pode ser? — desligou a chamada antes mesmo de uma resposta.
Ele balançou a cabeça, reprimindo um sorriso de incredulidade.
— Você é realmente uma caixinha de surpresas! — falou para que apenas o universo entendesse.
Foi em direção ao pequeno envelope que estava grudado no laço e retirou o bilhete que estava dentro do mesmo.
“Feliz natal para meu perdedor favorito!”
As discussões constantes, as provocações diárias e aquele ódio mútuo — isso ela tolerava. De certa forma, até se divertia com a rivalidade.
Mas roubar sua ideia? Aquilo era uma traição inaceitável.
O barulho do salto em atrito com o chão começava a dar indícios que um buraco se formaria naquele lugar a qualquer momento e se houvesse justiça divina, o mesmo engoliria inteiro. Seu coração batia descompassado, mas não por nervosismo, era pura raiva. Uma fúria cega que a fazia desejar encontrar qualquer objeto ao seu alcance capaz de causar algum dano real naquele homem desprezível.
Foi então que seus olhos encontraram a tesoura, repousando inocente dentro da caixinha sobre sua mesa. O pensamento nem teve tempo de se formar por completo. Ela a agarrou com tanta força que poderia ter se cortado, mas nem sentiu. Virou-se decidida, mas no instante seguinte, a porta se abriu com um estalo súbito — e congelou.
— Hey, ! — a cumprimentou com aquele cinismo insuportável e um sorrisinho torto nos lábios. — Estava planejando fazer algo errado com isso na mão? — apontou para a tesoura com um olhar debochado.
— Sim! — ela retrucou sem hesitar, com um sorriso tão falso quanto o dele. — Meu plano era te ver em um caixão antes do fim do expediente.
— Uma pena! — ele murmurou, inclinando a cabeça com fingida melancolia e fazendo um bico irônico. — Seria um desperdício... esse rosto lindo fora de circulação assim, tão cedo.
Antes que ela pudesse responder, ele avançou alguns passos e, com um movimento ágil, tomou a tesoura de sua mão. O gesto brusco fez dar um passo para trás e estreitar os olhos, irritada.
— Porque fez isso comigo? — questionou. — Você sabia que eu queria esse cliente. — arqueou as sobrancelhas em um esboço de tristeza.
— Eu sabia. — ele disse com calma, prendendo uma mecha solta do cabelo dela atrás da orelha e seu olhar pousou nela por alguns segundos longos demais. — Assim como você sabia que eu precisava do meu carro para chegar cedo e apresentar minha proposta para a Signature naquele dia. Mas, mesmo assim você estourou os pneus.
Ele terminou sua frase com um peteleco leve na testa dela, só para irritá-la ainda mais. soltou um gemido manhoso, levando a mão à testa.
— Estamos quites agora. — declarou ele, triunfante, cruzando os braços como se tivesse acabado de vencer uma guerra. — Eu perdi meu cliente... agora você perdeu o seu.
— Mas eu não roubei a porcaria da sua ideia! — ela rebateu.
— Não, mas eu roubei a sua. — confessou com um sorriso debochado nos lábios. — A sua proposta era melhor que a minha. Inclusive... — ele arqueou as sobrancelhas com falsa inocência — você realmente devia mudar a senha do seu notebook.
Fez uma careta cínica, arregalando os olhos com reprovação.
— “1,2,3,4,5”? Sério, ? Quem em pleno 2025 ainda usa uma senha dessas?
Ela revirou os olhos com tanta força que parecia prestes a cair para trás.
— Eu te odeio, ! — rosnou, avançando para bater no peito dele.
Mas ele foi mais rápido. Segurou o pulso dela com uma facilidade irritante, como se já soubesse exatamente o que ela faria.
— O sentimento é totalmente recíproco, . — disse, num tom seco, antes de soltá-la.
Ela o encarou com os olhos explodindo de ódio.
— Você devia ir embora. Agora! — ordenou, apontando para a porta como se estivesse expulsando um demônio.
— Claro. — ele respondeu com naturalidade, já se virando, porém parou na entrada, porém, apenas para soltar o golpe final. — Ah, e a propósito... obrigado pela promoção. — agradeceu com um sorriso zombeteiro antes de desaparecer do escritório, deixando ela sozinha.
sabia exatamente como tirar aquela garota do sério. Desde o momento em que atravessou as portas da empresa, ele sentiu que algo mudaria. Seu espírito competitivo colidia diretamente com o que ele mais precisava: alguém que o desafiasse, que o motivasse a ser melhor.
Antes dela, ele reinava absoluto. Todas as promoções, os elogios, a atenção do chefe... tudo era dele. Mas bastou uma única olhada naquela morena confiante, caminhando pelo hall de entrada, para ele entender que sua supremacia estava ameaçada. era diferente. Ela tinha talento, presença, e a audácia de roubar dele as melhores campanhas publicitárias.
No início, as coisas até pareciam pacíficas. Eles se cumprimentavam com educação, sem ataques pessoais. Mas essa calmaria durou pouco. O ponto de ruptura veio quando apresentou uma ideia brilhante para um dos principais clientes dele. Eles não apenas adoraram a concepção do projeto como decidiram, ali mesmo, que ela deveria assumir a conta da empresa. A mesma coisa aconteceu com a Signature.
Foi nesse instante que ele percebeu que subestimá-la seria o maior erro de sua carreira. não era apenas uma novata; ela era uma ameaça real. E, se ele não tomasse cuidado, seria deixado para trás.
As lembranças se dissiparam no instante em que o som agudo do celular o tirou de seus pensamentos. puxou o aparelho do bolso e, com um deslizar rápido do dedo, desbloqueou a tela. Uma nova mensagem no grupo da agência apareceu, com os colegas organizando um happy hour para depois do expediente. Ele sorriu ao confirmar sua presença, já imaginando o cenário.
Mas, antes de encerrar a conversa, não resistiu à tentação. Abriu o chat privado com e digitou uma mensagem provocativa, aproveitando a oportunidade para comemorar, com uma dose de sarcasmo, a conquista de seu novo cliente. Era o tipo de jogo que ele adorava — provocá-la e observar como ela responderia, sempre afiada, sempre à altura.
“Não deixe de comparecer, sentirei sua falta se não for!”
“Você não cansa de ser insuportável?”
Era visível o sorriso na boca dele por ter sido respondido na mesma hora.
“Com você? Nunca!”
A garota também sorria para o telefone ao mesmo tempo que lia o recado de para ela, no fundo gostava de toda aquela provocação.
“Só estarei lá se devolver meu cliente, babaca!”
“Acho que vai ser difícil, já que o motivo de nos encontrarmos é festejar meu contrato com ele.”
bufou alto ao entender a resposta. Nem precisava ver o rosto dele para imaginar a expressão cínica que provavelmente usava naquele momento. Decidiu, então, que não valeria a pena gastar mais um grama de energia com . Preferiu voltar a focar nas tarefas que ainda tinha para concluir — longe da aura irritantemente arrogante dele.
Odiá-lo talvez fosse o item número um da sua lista de afazeres para o fim de semana. Mas, por mais que tentasse, não conseguia manter o foco nas campanhas que precisava revisar. A mente girava em círculos, sempre voltando para o mesmo ponto: o erro estúpido de ter deixado brechas para ele roubar sua ideia. Era claro que ele tentaria alguma jogada suja, ela sabia disso. Mas mesmo assim, vacilou.
E, para piorar, ele estava certo sobre a maldita senha. Sua péssima memória para esse tipo de coisa só tornava tudo ainda mais frustrante.
Deu-se por vencida no final da tarde, quando uma das colegas veio chamá-la para o happy hour no pub próximo ao edifício da agência. Relutante, começou a arrumar sua bolsa. A intenção inicial era ir direto para casa — estava exausta demais para arriscar mais um confronto com . Mas mudou de ideia ao ouvir que ele ficaria preso no escritório por pelo menos mais duas horas.
Perfeito, pensou. Tempo suficiente para umas cervejas geladas e algumas boas risadas. Depois de um dia daqueles, merecia. Era sexta-feira, afinal.
Assim, seguiu com os colegas até o bar. Não demorou para que o álcool a soltasse um pouco — e junto dele veio a leveza, as conversas sem filtro, as piadas bobas. Pela primeira vez no dia, conseguiu rir de verdade. Apesar disso, em algum momento, deu por si olhando para a porta. E detestou perceber o vazio que sentia por não vê-lo chegar.
Ridículo, pensou, afastando aquela sensação incômoda. Não sentiria falta de alguém como ele. Definitivamente, não.
Mas, cerca de uma hora e meia depois, o inevitável aconteceu.
apareceu.
Foi recebido com entusiasmo pelos colegas, que o puxaram para dentro como se ele fosse a estrela da noite. Ele sorriu, cumprimentou a todos com aquele charme despretensioso e confiante... mas seus olhos diziam outra coisa. Eles escanearam o ambiente com precisão, em busca de apenas uma pessoa.
.
Ele podia até tentar disfarçar diante dos outros, bancar o indiferente. Mas ela sabia — e ele também. Era por ela que ele estava ali.
Sempre foi.
— Sean, você viu a minha rival que ainda não aceitou a derrota? — perguntou.
— Você quer dizer a ? — o colega riu, dando um gole na bebida. — Provavelmente bem bêbada em algum canto. — deu de ombros. — Não parou de beber desde que chegamos.
— E ninguém está com ela? — a preocupação escapou antes que ele pudesse controlá-la.
— Ninguém a viu mais. — respondeu Luke, se aproximando com uma garrafa de cerveja recém-tirada do balcão. Estendeu para ele com um sorriso.
— Valeu cara! — recusou educadamente, para a surpresa dos dois colegas ao seu lado. — Estou dirigindo, vou ter que dizer não dessa vez. — justificou.
Sem perder tempo, deu as costas aos amigos e começou a vasculhar o pub. Seu olhar percorria o ambiente como um scanner: grupos animados, casais rindo, colegas se esbarrando, brindes sendo feitos — mas nada dela. A impaciência crescia, junto com uma inquietação que ele tentava ignorar desde o momento em que entrou.
Então, a ideia surgiu como um estalo: o banheiro.
Desviou-se da multidão e seguiu na direção indicada por placas penduradas sobre uma parede lateral. Quando finalmente a viu saindo do banheiro feminino, parou no mesmo instante.
Ela vinha devagar, as bochechas coradas pelo álcool, os cabelos ligeiramente bagunçados e o olhar... ainda perigoso. Mesmo embriagada, exalava uma intensidade que nenhuma outra pessoa naquele bar conseguiria replicar. A expressão dela não era de fragilidade. Era de alguém que estava tentando fingir que não se importava. Mas ele conhecia aquele olhar. Já tinha sido alvo dele mais vezes do que poderia contar.
— Sentiu minha falta? — ele disse, encostado casualmente na parede próxima à porta, como se não tivesse acabado de vasculhar o pub inteiro atrás dela.
Ela parou por um segundo, surpresa, mas logo recuperou a pose.
— Estava me procurando? — retrucou, com um arqueamento de sobrancelha que deixava claro que não estava disposta a facilitar.
sorriu, o típico sorriso torto e seguro.
— Posso dizer que sim?
A confirmação fez com que levantasse os olhos para ele, como se só naquele momento percebesse o quão próximos estavam. Por um instante, o efeito do álcool que ela havia consumido se intensificou. Uma onda de vulnerabilidade e desejo a invadiu, fazendo-a considerar algo impensado ali mesmo.
Bêbada e carente: a combinação perfeita para o desastre.
Para piorar, estava ainda mais atraente naquela camisa social branca, que realçava o tom castanho dos seus olhos. Ele parecia irradiar uma energia magnética, impossível de ignorar. Sem perceber, se pegou encarando-o por alguns segundos, absorvendo cada detalhe.
— ? — ele a tirou do transe.
— Sabe que eu odeio quando me chama assim. — resmungou, mas não pôde evitar o leve sorriso que se formou em seus lábios. Era mentira, ela sabia, porque na verdade gostava quando ele a chamava daquele jeito, mas preferia manter a fachada.
— Você está bem? — perguntou preocupado.
— Só um pouco enjoada. — reclamou. — Me leva para casa por favor! — pediu tirando do seu ponto de equilíbrio, jamais imaginava ela solicitando algo assim para ele. — Meu carro está em casa, peguei um taxi para trabalhar hoje, imaginei que o pessoal sairia para beber. — explicou.
— Então se preveniu. — sorriu, admirado com a perspicácia dela. — Você realmente quer que eu te deixe em casa? — perguntou, ainda incrédulo, buscando ter certeza da situação.
— Eu pedi por favor! — fez um bico e ele engoliu seco, sentindo o impulso de beijá-la.
O pensamento foi rápido, mas a sobriedade voltava a dominar sua mente. Sabia que não havia desculpas para justificar um gesto assim — seria ridículo, quase patético, desejar aquilo quando ela claramente o odiava, ou pelo menos parecia odiá-lo na maior parte do tempo. Ela, inclusive, planejava matá-lo algumas horas antes. Definitivamente não era o momento para qualquer demonstração de afeto, especialmente depois do que aconteceu no Natal.
Então, ele apenas assentiu, controlando-se. Após isso, passou o braço pela cintura dela, guiando-a com firmeza e colocou um dos braços dela sobre seu ombro conduzindo-a até o carro.
Ao chegarem ao automóvel, teve dificuldade para abrir a porta — ainda se apoiava nele, quase sem conseguir manter o equilíbrio. Com cuidado, ele a acomodou no banco do passageiro e, num gesto delicado, ajustou o cinto de segurança.
— Não é irônico você estar pegando carona exatamente no carro onde furou meus pneus? — provocou , soltando um leve soluço na hora.
— Desculpa — murmurou, baixando a cabeça.
— Pelo quê?
— Por furar seus pneus — respondeu, tentando disfarçar a culpa.
— Eu gostaria de ter gravado isso — ele disse, levantando o queixo dela com o dedo, fazendo-a encará-lo. — Seria meu maior triunfo contra você em algum outro dia — completou com um sorriso malicioso.
— Droga! — ela gemeu, fitando-o intensamente, e o arrepio que percorreu o corpo dele foi inconfundível.
Depois desse momento carregado, ele retirou a mão do rosto dela e, com um suspiro contido, fechou a porta do carro. Foi para o lado do motorista, determinado a levá-la para casa, mesmo confuso sobre o que exatamente estava fazendo ali.
, com um leve resmungo, forneceu o endereço. Então se deixou cair contra o encosto do banco, tentando descansar. Sabia que havia exagerado na bebida e a sensação da ressaca iminente já se instalava. A manhã seguinte prometia ser dolorosa, e ela sentia aquele desconforto que apertava seu estômago.
Minutos depois, chegaram ao destino. , tomado por uma estranha sensação de obrigação, ajudou a sair do carro. A situação de sustentá-la estava se tornando cada vez mais desconfortável. Ela pendurava-se em seu pescoço, mais pesada do que ele gostaria de admitir. A mistura do cheiro do álcool com a essência doce e marcante de canela do perfume dela invadiu suas narinas sem filtro algum, fazendo seu incômodo crescer ainda mais.
Ele se culpou pela distração no momento em que ela se desequilibrou, arranhando sua pele no processo. , no entanto, não parecia nem um pouco preocupada com o arranhão, mas o rapaz não pôde evitar um resmungo de reclamação. Mesmo assim, segurou-a firme para evitar que ela caísse.
— Sou um idiota! — sussurrou para si mesmo, em um tom de reprovação.
— E um cuzão! — completou, soltando uma risadinha.
— Um cuzão que acabou de ser arranhado por estar levando a bêbada para casa em segurança! — rebateu, sensato.
— Isso doeu! — ela choramingou, e agradeceu mentalmente quando o elevador finalmente parou. Começava a acreditar que lidar com ela sóbria seria menos complicado.
Saíram do espaço do elevador e seguiram para a entrada do loft dela. Ele a acomodou sentada no chão e agachou-se ao lado dela, procurando a chave dentro da bolsa que carregava desde que saíram do bar.
O aroma doce de canela dela invadia seus sentidos, uma tentação quase insuportável — especialmente porque ele adorava aquela especiaria. Ele balançou a cabeça negativamente, tentando focar em encontrar as chaves. Quando finalmente as localizou, encaixou a correta na fechadura e girou, abrindo a porta. Buscou rapidamente o interruptor e acendeu as luzes do apartamento.
Ao olhar ao redor, gostou de ver que era tão organizada quanto aparentava — tudo meticulosamente arrumado, cada coisa em seu lugar. Voltou sua atenção para ela ao perceber que tentava se levantar sozinha do chão. Apressou-se e, sem hesitar, a pegou novamente nos braços, carregando-a até o sofá. Com cuidado, acomodou-a confortavelmente, deitando-a.
Ele deu as costas, querendo se livrar rapidamente daquela situação desconfortável. Mas, antes que pudesse se afastar, ouviu a voz dela, baixa e sonolenta, murmurando algo que não entendeu direito.
— O que foi agora, ? — perguntou, abaixando-se para ficar mais perto e tentar ouvi-la melhor.
— Apaga essa luz! — reclamou, estreitando os olhos, já mergulhando na vulnerabilidade da embriaguez.
— Eu vou apagar assim que sair da sua casa. — retrucou. — Acha que consegue se virar sozinha a partir daqui? — questionou, observando-a se ajeitar no sofá, tentando ficar mais confortável.
— Sim! — concordou, quase dormindo.
— Assim que acordar amanhã, me manda uma mensagem para eu saber que você está bem. — pediu, articulando as palavras com cuidado, sabendo que ela provavelmente esqueceria.
— Pode deixar! — ela sorriu, levantando o polegar num sinal de “certo” que durou apenas um instante, antes de sua expressão se perder novamente no cansaço.
O silêncio pairou e , incomodada, se viu na obrigação de abrir os olhos novamente. Quando fez isso, seus olhos se depararam com o olhar de , que estava agachado bem à sua frente. Ela, confusa, começou a se ajeitar para tentar se sentar no sofá, e, ao ver sua dificuldade, ele se levantou prontamente para ajudá-la.
— É sério! — ela quebrou o silêncio.
Jamais imaginou que ficaria tanto tempo sozinha com ele, especialmente depois do que aconteceu no Natal. A situação parecia mais estranha a cada segundo.
— Tem certeza? — ele perguntou, fixando o olhar nela, buscando uma resposta verdadeira.
— Você pode ir. Eu vou ficar bem — disse, desviando o olhar para a esquerda, evitando o confronto direto.
— ? — ele posicionou o indicador na testa dela e, com delicadeza, empurrou a cabeça dela levemente para trás, fazendo com que seus olhares se encontrassem de novo.
— Por que me chama assim? — ela questionou, umedecendo os lábios, percebendo que sua ação havia deixado visivelmente desconfortável.
— Porque você odeia. — respondeu, curvando-se o suficiente para conseguir enxergar a pupila dela dilatar.
A tensão no ar era palpável. Não havia só rancor entre eles — e eles ainda não sabiam exatamente qual sentimento diferente os prendia naquele momento. Os acontecimentos do final do ano passado tinham mudado tudo, e o desconhecido os assustava, especialmente .
— Eu acho que você deveria ir embora. — engoliu seco e retirou o dedo dele de sua testa, fazendo-o recuar devagar.
— Ultimamente, você tem dito essa frase com sequência. — retrucou.
— Deve ser porque não quero você perto de mim. — tentou justificar o mais rápido possível.
— Eu quis dizer que depois que nos beijamos no natal, você tem me evitado mais que o normal. — estreitou seu olhar para ela.
— Eu sempre te evitei! — outra resposta rápida e ele não pode evitar dar uma risada. — O que? — perguntou confusa.
— Você parece alguém que está fugindo de algo que quer. — ele sorriu serenamente, sem mostrar os dentes, e, por um momento, o silêncio entre eles se fez ainda mais pesado.
— Como eu disse, você deveria ir embora. — olhou para suas mãos, sem coragem de encará-lo diretamente agora.
— Nem um “obrigado”? — questionou, enfatizando as aspas com os dedos, mudando o assunto e sentiu-se à vontade para lançar um olhar mortífero para ele e permanecer calada. — Típico! — sorriu de lado. — Bem, não esquece de trancar a porta. — ele falou, já começando a se afastar, enquanto ela balançava a cabeça em resposta silenciosa.
O rapaz caminhou em passos lentos em direção à saída, mas parou abruptamente quando o cheiro de canela, forte e envolvente, invadiu novamente o apartamento. Não bastava cuidar da garota embriagada; agora, ele estava preso e hipnotizado por aquela essência que adorava, quase como um feitiço.
, definitivamente, era o inferno na terra.
Por um instante, pensou em como aquele perfume combinava com ela — quente, intenso, impossível de ignorar. Mas ela jamais saberia disso.
— Hey ! — ele a chamou, e a garota, sem surpresa, olhou por cima do ombro, revirando os olhos, irritada por ouvi-lo usar aquele apelido outra vez. — Canela não combina com você! — mordeu o lábio inferior em meio a um sorriso.
— Vai se foder ! — disse, pegando uma almofada e jogando nele. Ele desviou com agilidade, rindo enquanto deixava o apartamento.
sentiu-se desconcertada com a situação. Quando saiu, ela finalmente pôde respirar fundo e se dirigir até a porta para trancá-la. Por mais que seu corpo implorasse para chamá-lo de volta, refletiu no fundo da sua mente que aquilo não terminaria bem no dia seguinte. Era só a carne falando alto, não havia sentimentos envolvidos. Ela não conseguia entender o motivo pelo qual queria tanto beijar aquela boca novamente.
Tentou convencer a si mesma de que estava ficando louca — ou apenas muito bêbada.
Era , o cara mais insuportavelmente chato do universo. Ele havia roubado a sua ideia e a promoção que tanto almejava naquela semana. A imagem dele passando a língua pela boca invadiu seus pensamentos, e ela não conseguia entender por que ainda contemplava a possibilidade de sentir aqueles lábios outra vez. Não acreditava que tinha bebido tanto para querer se entregar a alguém como ele.
Definitivamente, o álcool falava mais alto.
E ela pensou que poderia usar isso como desculpa depois, se aproveitando da situação mesmo sem pensar direito, mesmo sabendo que poderia enfrentar consequências enormes. Porque, no fundo, queria muito mais do que o que aconteceu no escritório no fim do ano passado.
Enquanto esperava pelo elevador, ponderava se deveria voltar ou seguir seu caminho. Ele não havia reparado naquele dia no trabalho que nunca abaixava a guarda — e era isso que o impedia de vê-la de outra forma. Mas hoje, aquela noite, ela se mostrara tão vulnerável quanto no Natal, quando estivera em seus braços, pedindo para ser beijada.
Soltou um suspiro e deu passos de volta para a porta do apartamento, sem entender direito o motivo.
Ao mesmo tempo, segurava a maçaneta, decidida a ir atrás dele. Girou a chave para abrir o acesso ao seu espaço — e congelou ao dar de cara com parado ali, respirando ofegante e ansioso.
Os olhos dele se arregalaram ao vê-la.
Aquela troca silenciosa disse tudo: eles desejavam a mesma coisa, pelo menos naquele momento.
Ambos se perguntaram, surpresos e ansiosos, se aquilo poderia finalmente ser o começo de algo diferente — ou apenas mais um fogo-fátuo prestes a se apagar.
— Onde estava indo? — questionou a garota.
— Por que você não foi embora? — retrucou, franzindo o cenho.
Ele não respondeu. Num impulso, entrelaçou os dedos nos cabelos dela e a puxou para um beijo intenso, sem pensar duas vezes. , surpresa, correspondeu; seus lábios se encaixaram num movimento natural e perfeito. As mãos de deslizaram pela cintura dela, aproximando-a ainda mais.
As línguas se encontraram numa dança feroz e doce ao mesmo tempo. No começo, havia uma serenidade calma, quase reconfortante — mas, à medida que o beijo avançava, um fogo tomou conta, fazendo com que ambos precisassem se afastar para recuperar o fôlego.
— ... — ela sussurrou, colocando a mão na boca. — Eu acho que vou vomitar.
— O beijo foi tão ruim assim? — ele provocou.
— É sério! — ela disse, virando-se apressada, correndo para o banheiro, com ele logo atrás.
Ela foi rápida o bastante para se ajoelhar diante do vaso, enquanto seu corpo expelia tudo o que podia. segurou cuidadosamente o cabelo dela, evitando que ela se sujasse, e tentava entender o que exatamente estava fazendo ali. Era confuso demais, beijar a maior inimiga no trabalho e, logo depois, estar ali cuidando dela naquele estado.
Fechou os olhos com força, tentando bloquear o cheiro forte que preenchia o banheiro, e perguntou a Deus qual pecado tão grave teria cometido para estar ali, naquela situação tão estranha. Ele observou o cansaço evidente na garota e agradeceu mentalmente o fato de não precisar trabalhar no dia seguinte, ele mesmo já se sentia exausto o bastante para dormir a manhã inteira.
resmungava baixinho, mas pelo menos havia parado de exagerar nas reclamações. se adiantou e soltou o cabelo dela para pegar a toalha que estava pendurada num gancho acima da pia. Molhou o pano na torneira e, com delicadeza, limpou os lábios de .
— Por que está fazendo isso? — ela perguntou, empurrando-o levemente.
— Depois de ter passado o Natal comigo, acho que te devo essa, não? — ele respondeu, com um meio sorriso.
— Para de ser bonzinho! — protestou, soltando um soluço.
Ele a ignorou e continuou limpando o rosto dela, repetindo os mesmos movimentos cuidadosos. Poderia odiá-la, mas não deixaria nenhuma garota naquele estado sem cuidados. Tinha seus princípios, até mesmo quando se tratava de .
Depois de um tempo, sentindo o corpo da garota relaxar contra seus braços, ele percebeu que ela havia finalmente caído no sono, exausta. Com cuidado, a suspendeu no colo e caminhou em direção à sala, sentindo-se um intruso no espaço dela, sem querer bisbilhotar mais do que deveria.
Depositou lentamente no sofá, ajeitando as almofadas para que ela ficasse confortável. Sentou-se ao lado dela, observando seu rosto tranquilo e sonolento. Sorriu, pensando que, apesar de tudo o que havia acontecido entre eles, se ela estivesse sóbria, jamais se permitiria aquela vulnerabilidade, principalmente sabendo que era ele quem cuidava dela.
Seus olhos passearam pela mesa de centro e encontraram várias folhas com anotações, canetas espalhadas, evidências do vício dela pelo trabalho.
Riu baixinho, admirando a dedicação daquela mulher, mesmo que parte dele não esquecesse como ela tentou destruir sua carreira e seu carro. Revirou os olhos, consciente de que estava sendo bom demais para alguém que parecia gostar de odiar tanto assim.
Mas, no fundo, sabia que não conseguiria se afastar tão facilmente.
Agachou-se para alcançar um papel e deixar um recado para .
“Quando acordar tome um banho, por favor!”
Depois disso, ele apagou a luz do cômodo, saiu do apartamento dela e foi para casa. Dirigir estava mais difícil do que o normal, pois sua mente não parava de pensar no beijo — como ele tinha gostado, e, por um instante, sentiu até raiva de si mesmo por pensar nela daquele jeito. O que estava acontecendo com ele para ter voltado para ela daquele jeito? Para beijá-la como se realmente quisesse aquilo? E ainda por cima, para sentir algum tipo de prazer ao tocar os lábios daquela criatura desagradável?
Por um breve instante, lembrou vagamente que ela também tinha ido atrás dele. Isso significava que ela queria aquilo também. estava completamente desequilibrado emocionalmente. Não fazia sentido algum que um beijo entre eles mexesse tanto com a sua cabeça. Era só um beijo, poderia ter sido qualquer garota. E, o mais irônico, ele não estava sob efeito de nada — ao contrário dela, que poderia culpar a bebida. Ele, por outro lado, estava completamente sóbrio.
— Merda! — xingou, batendo levemente no volante.
Na sua mente, ele havia cedido àquela garota com uma facilidade absurda, entrando em contradição consigo mesmo. Agora, ela podia tê-lo na palma da mão, se quisesse. Chegando em casa, tentou não pensar muito no assunto; talvez ela nem se lembrasse do que aconteceu. Era isso que ele esperava. Após tomar um banho, esforçou-se para dormir, mas não conseguia encontrar uma posição confortável na cama.
A lembrança do jeito como o olhou ao abrir a porta — o mesmo olhar que ele tinha visto na véspera de Natal — permanecia vívida em sua mente, dominando tudo o que sentia por ela. Era insensato acreditar que eles um dia teriam uma boa relação, depois de tantas palavras de ódio trocadas entre eles.
Então, por que um beijo agora faria tanta diferença?
A pergunta ecoou em seu inconsciente pelas horas seguintes, até que ele finalmente caiu no sono. Talvez fosse mais fácil lidar com tudo isso depois de descansar o suficiente para odiá-la de novo, quando ela ligasse para insultá-lo, ao acordar, e encontrasse o recado que deixara na mesa de centro. Com certeza, ela arranjaria uma maneira de despejar seu ódio nele, já que os dois passariam o fim de semana separados e só se veriam na segunda-feira.
E foi exatamente isso que aconteceu.
foi despertada pelos raios de sol que atravessavam a enorme janela da sala. Como havia dormido no sofá, seu sono foi abruptamente interrompido, e ela ficou irritada consigo mesma por ter sido tão irresponsável, nem sequer lembrava como tinha ido parar ali. Bocejou, ao mesmo tempo em que se sentava, tentando colocar sua consciência e alma no lugar certo.
Fez uma careta ao sentir o cheiro forte de vômito invadir o ambiente, e não pôde evitar imaginar que havia feito bagunça no banheiro novamente. Choramingou manhosa, lamentando não ter tomado um banho depois de cometer aquela atrocidade. Levantou-se, ainda um pouco zonza, tentando se equilibrar para ir ao toalete.
Colocou a mão na cabeça, incomodada pela dor que começava a se insinuar, e respirou fundo, buscando coragem para fazer algo naquele sábado. Depois de se espreguiçar e baixar a cabeça, seus olhos se estreitaram ao notar algo sobre a mesa de centro. Desistiu do banheiro e se aproximou para investigar. Pegou o bilhete, e assim que reconheceu a letra, sentiu o corpo gelar.
— Não! Não! Não! — começou a andar de um lado para o outro, com o papel na mão. — Você seria tão burra assim, outra vez, ? — se perguntou, revoltada.
Correu para o banheiro, desesperada, na esperança de encontrar algum resquício de líquido espalhado — o que significaria que não tivera nada a ver com aquilo, que ele não a ajudara de alguma forma. Mas não teve sucesso. Uma nova pontada de dor lhe cortou a cabeça, e um flash dele carregando-a nos braços veio à sua mente.
Para azar da garota, ele estava presente em pequenos fragmentos espalhados por toda a sala, pelo banheiro e, principalmente, pelo seu corpo. Não acreditava que tinha feito algo com o pior ser vivo que habitava a Terra. A frustração começou a dominar sua mente por completo, e o suor frio escorreu pelo seu pescoço. Ela estava, com toda certeza, ferrada. Pensou em como encararia o dito cujo se algo realmente tivesse acontecido.
Decidiu acabar com a ansiedade e falar com ele. Foi até a bolsa, procurou o celular movida pela agonia e, quando o encontrou, percebeu que a bateria estava quase acabando. Dirigiu-se ao quarto, pegou o carregador que estava sobre a mesa de apoio ao lado da cama e o conectou à tomada. Desesperada, buscou o número de na lista de contatos e ligou. A cada toque, seu coração acelerava; talvez já tivesse mordido o interior da bochecha até doer.
— Vamos, atende! — suplicou baixo.
não atendeu na primeira tentativa. Era óbvio que isso aconteceria, considerando que ele tinha ido dormir tarde após toda a confusão entre eles. Mas ela não sabia disso, pois não lembrava de nada, só daquele único flash dele carregando-a nos braços. Odiou a si mesma por isso. Discou novamente, e após o quarto toque, ouviu algo diferente.
— Alô? — a voz dele soou embargada.
— , por favor, não me diga que me trouxe para casa — falou, apressada.
— , vai com calma! — ele reclamou. — Por Deus! — olhou para o despertador ao lado da cama. — São sete da manhã de um sábado, o que você tem na cabeça? — perguntou, ainda meio sonolento.
— O que aconteceu entre nós? — ela perguntou, nervosa.
— Como assim? Do que você está falando? — questionou, confuso, ajeitando-se nos lençóis.
— Eu vi o bilhete que você deixou. Eu reconheceria sua letra em qualquer lugar, — respondeu ansiosa.
— E qual é a sua preocupação? — ele tentou entender o que estava passando na mente dela, e a lembrança do beijo veio à sua cabeça. Desejou não ter lembrado disso, mas logo compreendeu o motivo do incômodo dela. Ela estava com medo. — Ah! — um sorriso sacana surgiu em seu rosto. — Não acredito que você achou que eu ficaria com você de novo. — ele riu, fraco, e ela permaneceu em silêncio. — Sério?
— Eu não sei! — falou, irritada. — Eu não consigo me lembrar de nada, só de você me carregando nos braços, desse seu bilhete estúpido e do cheiro de vômito. Eu pensei...
— Pensou que eu me aproveitaria de você? — indagou a garota, um pouco ressentido.
Eles se odiavam, mas ele não imaginava que ela poderia pensar algo assim dele.
— , não é isso, é só que...
— É só que você se acha tão boa a ponte de ter qualquer um a seus pés, não é mesmo, ? — perguntou, sarcástico, e ela engoliu seco.
Aquilo só pioraria a relação deles mais à frente.
— Eu não quis dizer isso... — ela tentou se explicar, mas ele a interrompeu pela terceira vez.
— Olha, eu entendo, você está certa! — se levantou da cama enquanto falava. — Existe algo maior que impede vocês, mulheres, de confiar na gente, homens — soou compreensivo. — Mas eu não seria esse tipo de cara, nem se você fosse a última mulher neste planeta — falou, tentando soar indiferente. — Além do mais, não valeria meu tempo! — disse, em um tom desdenhoso, e ela revirou os olhos do outro lado da linha.
sabia quando uma mulher o desejava, e tinha dado todos os sinais na noite anterior. Não podia ser só loucura dele ou o álcool falando mais alto por parte dela. Mas, se ela não lembrava do beijo, não seria ele quem a faria lembrar. Por mais que estivesse incomodado com tudo aquilo, entendia a garota e pensou que seria melhor deixar as coisas como estavam.
Preferiu acreditar que aquilo não faria diferença no resto dos seus dias, que não havia motivo para ela saber, afinal, não mudaria nada entre os dois. No fim, eles ainda se odiavam e deveriam continuar assim. Mas, no fundo, só estava fugindo do que estava bem na sua frente: ele gostou daquele beijo. Não admitiria, mas gostou.
— Então por que você estava me carregando? — ela indagou .
— Não é obvio? Você estava completamente bêbada. — explicou. — E para ser sincero, ninguém parecia preocupado com você...
— Você ficou preocupado comigo? — ela não conseguiu evitar um sorriso ao fazer a pergunta.
— O que? — proferiu nervoso. — Claro que não!
— Claro que sim! — mudou a entonação da voz. — Por qual outro motivo me traria para casa em segurança? — mordeu seu lábio inferior.
— Para sua informação, foi você quem me pediu ajuda! — ele exclamou, exasperado.
— E você ajudou. — por alguma razão pode sentir a felicidade disfarçada na fala da garota, ele realmente acreditava que estava ficando louco.
— E você ficou feliz com isso não é mesmo? — o rapaz a questionou e o sorriso que estava no rosto dela foi desaparecendo. — Imagina quando souber que pediu desculpas por ter furado os pneus do meu carro. — disse triunfante.
— Eu jamais faria isso! — retrucou.
— E vomitar na minha frente enquanto eu segurasse seu cabelo e depois te limpasse, acha que faria isso ? — ele perguntou risonho e ela ficou sem palavras.
Na cabeça dela, juntando as peças, tinha certeza que sim, que seria capaz de fazer tudo aquilo — especialmente dadas as suas condições naquele momento. Sentiu outra pontada nas têmporas, levou a mão até o local para massagear, e outra lembrança veio à mente.
Dessa vez, eles estavam dentro do carro dele, e ela sentiu desejo ao vê-lo dirigindo. Fez uma cara de nojo, balançando a cabeça para afastar a memória. Não queria acreditar que era possível sentir algo além de ódio por ele.
Saiu do transe quando ouviu a voz dele novamente.
— E se eu te disser que você gemeu para mim ontem? — provocou, malicioso, passando a mão pelos cabelos e mordendo o lábio inferior, enquanto ela soltava o ar pela boca, esquecendo-a entreaberta. — O gato comeu sua língua, ? — falou irônico.
— Você é um babaca, ! — xingou. — Isso ao menos faz sentido para mim — desconversou.
Mas fazia sentido, afinal lembrou do quanto o desejou naquele escritório no final do ano passado. Pensou na possibilidade de ser verdade e pediu aos céus que não fosse, mas não estava mentindo, só sendo exagerado. Ela não sabia disso, pois não conseguia lembrar de tudo que havia acontecido.
A ideia a corroeu por dentro. Significava que ele estava à sua frente, naquele momento. Fechou os olhos com força, tentando lembrar de algo que pudesse tranquilizá-la. Queria se culpar por ter bebido tanto a ponto de desejar alguém que odiava.
— Não me faça ir na sua casa te dar o que você tanto me pediu ontem. — ele, realmente, gostava de infernizá-la, mas, ela não ficaria por baixo na situação.
— Você não seria homem o suficiente para isso! — foi a vez dela de o intimidar.
Por um segundo, ele se deu ao luxo de acreditar que ela estava falando sério, mas optou por usar a velha tática da psicologia reversa.
— Vou tomar um banho e em alguns minutos estarei aí. Sugiro que faça o mesmo — disse, com sarcasmo. — Você estava fedendo bastante ontem à noite.
E antes que ela respondesse, desligou o telefone.
— ? — chamou. — ? — repetiu, mas não teve retorno.
Ela ficou parada, sem saber o que pensar. A simples ideia de ele ir até sua casa a tirou do eixo, acelerando seu coração. No que ele está pensando? — perguntou a si mesma, confusa com o rumo que as coisas estavam tomando. Nenhum dos dois gostava do outro — pelo menos era isso que insistiam em acreditar. Então, qual era o propósito de tudo aquilo?
Sua intuição gritava que sabia mais do que deixava transparecer, mas não diria nada. E isso a deixava ainda mais nervosa.
Do outro lado, também tentava entender o que estava acontecendo. estava agindo de forma estranha. Primeiro o provocava, depois dizia que ele não era homem o bastante... Mas homem o bastante pra quê, exatamente? O que ela queria provar? Ele balançou a cabeça, tentando se livrar da confusão mental.
E aquela ligação? — questionou-se. Aquilo não fazia sentido algum. Por que estavam flertando? Por que estavam entrando nesse jogo? Quando tentou buscar respostas, tudo o que encontrou foram lembranças das discussões, dos insultos, dos olhares cortantes... Até que o beijo surgiu de novo na sua mente, como uma cena que ele não conseguia apagar.
Isso o irritou.
Desde o episódio na Signature, tudo vinha mudando entre eles, mesmo que nenhum dos dois tivesse coragem de admitir. E o pior de tudo era que ele carregava sozinho o peso do que realmente aconteceu na noite interior. Se soubesse — ou se lembrasse — tudo ganharia uma nova dimensão. E ele não queria lidar com isso.
Frustrado, jogou o telefone na cama.
Não posso alimentar isso, pensou. Seria dar uma vitória pra . E isso eu não permito.
Ela era só mais uma mulher, ao menos era o que tentava repetir para si. Não havia motivo algum para desenvolver sentimentos por ela. No máximo, uma atração boba, gerada por toda aquela tensão mal resolvida entre eles. Com esse pensamento, decidiu encerrar aquela linha de raciocínio. Precisava descansar ou pelo menos tentar.
Ele acreditava que ela estava apenas tentando se sobressair. Era óbvio que não iria até o loft dela. Para , aquilo tinha sido apenas mais uma provocação entre tantas. No entanto, para , talvez essa “obviedade” não fosse tão clara assim.
Ao contrário dele, ela se apressou ao máximo para arrumar o apartamento e tomar um banho, pois, ela estava mesmo com um odor insuportável. Lavou o corpo como se pudesse apagar não só os vestígios da noite anterior, mas também a lembrança da ligação, da provocação, do bilhete e de coisas, as quais ela não conseguia lembrar agora.
Ironias do destino, ali estava ela, uma hora e meia depois, sentada no sofá, pronta, checando o celular a cada dois minutos, esperando uma mensagem, uma ligação, qualquer sinal.
Mas nada veio.
Três horas se passaram. E, finalmente, entendeu o óbvio: ele não apareceria. Sentiu-se ridícula por ter acreditado que ele falaria a verdade. Eles nunca tiveram qualquer laço de confiança, nenhuma amizade, só provocações e guerra fria constante.
Por que acreditar que dessa vez seria diferente?
A frustração tomou conta, embora ela tentasse não nomear aquilo assim. Pois, como se frustrar com alguém que era apenas um colega de trabalho, alguém com quem nunca teve uma relação sequer minimamente amigável? Sempre foi tensão, confronto, alfinetadas.
Então por que esperar algo dele agora?
Sua intuição continuava insistindo que estava escondendo algo. Algo naquela noite, ou depois dela, que ele não queria compartilhar. Mas ela decidiu que não deixaria isso estragar seu final de semana. Não permitiria que interferisse em sua sanidade, ele não merecia esse poder.
Na mente de , era apenas um idiota arrogante, que sabia exatamente como provocar e usar qualquer situação a seu favor. Nunca existiu nada entre eles além de rivalidade, então aquilo... aquilo também não significava nada. Só mais um episódio descartável.
Determinada a virar a página, pegou o celular e mandou uma mensagem para Olivia, sua melhor amiga desde os tempos de faculdade. Precisava sair. Precisava beber. Precisava esquecer. Mesmo que fosse algo que mal conseguia lembrar.
E não havia pessoa melhor para acompanhá-la nesse plano impulsivo do que a garota que, segundo ela mesma, dividia os poucos neurônios que ainda lhe restavam.
“Liv, o que vamos fazer hoje?”
Digitou a mensagem ansiosa, pois, ainda rondava os seus pensamentos e ela não fazia ideia do que ele estivera fazendo lá. Assustou-se com o barulho anunciando a resposta da colega.
“Não vai ao menos perguntar se estou ocupada?”
“Até parece que não arranjaria tempo para mim, é por isso que somos melhores amigas e eu, de verdade, preciso de você.”
“Aconteceu algo no trabalho?”
Olivia perguntou preocupada, visto que nada tirava a amiga do seu ponto de equilíbrio se não fosse o trabalho.
“Talvez?”
“Tudo bem! Posso te pegar as 19h?”
“Pode me pegar quando quiser, já sabe disso.”
Após sua melhor amiga visualizar a mensagem, se dirigiu ao quarto e tentou dormir até a hora de se arrumar e esperar Liv chegar. Mesmo rolando diversas vezes na cama, acabou pegando no sono poucos minutos depois, quando seu cérebro, enfim, se deu por vencido e decidiu desligar para que ela pudesse descansar.
Horas depois, acordou e tateou a cama em busca do celular. Parecia tolice, mas queria ver se havia alguma mensagem ou ligação de . Não entendia por que estava tão ansiosa com isso, talvez fosse a sensação de que ele escondia alguma coisa, ou, quem sabe, seu ego ferido tentando encontrar respostas. A verdade era que, por mais que o odiasse, gostava da ideia de vê-lo rendido a ela.
Talvez ele estivesse certo sobre isso, pensou.
Não se demorou na reflexão. Sabia que em breve teria tempo de sobra para conversar sobre tudo com Olivia. Então levantou-se, tomou um banho, escolheu um vestido curto e brilhante, combinando com o salto alto, e finalizou com uma maquiagem leve.
Pouco tempo depois, Liv chegou para buscá-la, e as duas seguiram direto para uma das baladas mais badaladas de Nova York. A ruiva acertara em cheio na escolha. O lugar estava lotado, com música alta, luzes vibrantes e a energia exata que elas precisavam naquela noite. As duas caminharam até o bar e pediram dois drinks. O álcool seria o melhor amigo delas, ao menos por algumas horas.
— Então... me conta o que está te assombrando. — Liv apoiou o cotovelo no balcão e encarou a amiga com um olhar curioso.
— Na real, eu decidi que hoje só quero beber e paquerar. — respondeu com um sorriso, pegando a bebida recém-servida e virando tudo de uma vez.
— Pelo visto, beber virou prioridade mesmo, hein? — a ruiva riu, dando um gole mais contido na própria bebida, enquanto revirava os olhos. — Vai, fala logo! — insistiu, mais séria.
— É o ! — bufou.
— Alguma novidade? — relaxou, ao entender que o drama ainda girava em torno do mesmo homem de sempre.
— Ele esteve na minha casa ontem à noite. — revelou, observando a amiga se engasgar com o drink.
— O quê? — Olivia arregalou os olhos, surpresa.
— Eu estava muito bêbada e...
— E o quê?! — interrompeu, tensa.
— Eu não sei! — respondeu, já visivelmente irritada. — Ele me levou pra casa e falou umas coisas muito estranhas. — soltou o ar pesadamente.
— Que coisas, ? — ela segurou a morena pelos ombros, como se tentasse extrair a verdade no olhar dela.
— Disse que em algum momento eu gemi pra ele, que vomitei muito e que ele ajudou a me limpar. — confessou, enquanto Liv a encarava, boquiaberta. — E ainda deixou um bilhete com uma das ironias ridículas dele, mandando eu tomar banho. — concluiu, revirando os olhos ao lembrar.
— Ai, meu Deus... — sussurrou, com um sorriso malicioso começando a se formar nos lábios. — Você tá tão ferrada! — caiu na gargalhada.
— Não tem graça! — a fuzilou com o olhar.
— Vocês...
— Não! — interrompeu rapidamente. — Não quero acreditar que eu e ele... Você sabe! — mordeu o lábio, desconfortável. — Ele disse que nada aconteceu, mas eu não confio nele.
— Então você acha que rolou algo? Tipo... um beijo? Ou mais? — questionou, tentando entender o caos mental da amiga.
— Provavelmente. — admitiu, contrariada.
— Não seria a primeira vez, né? — Olivia relembrou o primeiro beijo entre os dois, recebendo em troca um novo olhar fulminante da morena.
— Eu só não entendo por que ele esconderia isso. Sei que não nos damos bem, mas... você não acha um pouco estranho? — questionou, franzindo o cenho.
— Talvez ele só não queira lembrar que isso aconteceu de novo entre vocês dois. Afinal, supostamente vocês se odeiam. — respondeu, com ironia na última palavra.
— O que você quis dizer com supostamente? — retrucou, com a voz mais áspera do que pretendia.
— Você acha normal duas pessoas que se odeiam se beijarem duas vezes? Porque, sinceramente, eu nunca vi isso. — disse com sinceridade, fazendo engolir seco, desconfortável com a ideia que queria ignorar.
— Se ao menos a idiota aqui lembrasse de alguma coisa... — resmungou, já irritada de novo.
— Você não tem medo de morrer, não? — Olivia mudou o tom, mais séria, após refletir melhor sobre tudo. — Ainda bem que ele te levou pra casa. Já pensou no que poderia ter acontecido se ele não estivesse lá? — repreendeu a amiga com firmeza.
— Me desculpa! — pediu, quase em um sussurro.
— Tô falando sério, ! — insistiu, com os olhos fixos nela. — E se ele fosse um cara disposto a te fazer mal de verdade?
— Mas ele já faz isso desde que eu entrei na empresa, Miller. — tentou brincar, arrancando um olhar nada divertido da ruiva.
— Tudo bem, tudo bem! Não vai se repetir! — prometeu com um biquinho arrependido. — Vem, vamos dançar! — puxou Olivia pela mão, mas foi contida.
— Vai você. Eu vou terminar meu drink. — disse, inclinando a cabeça para trás discretamente.
Foi então que percebeu que um cara a poucos metros estava claramente interessado na amiga.
— Parece que a parte da paquera vai ficar com você. — ironizou com um sorriso, dando espaço para Liv conversar com o pretendente.
Sozinha, pediu mais um sex on the beach ao barman. Beberia para evitar que os mesmos pensamentos voltassem a dominar sua mente. Passou o dedo indicador pela borda da taça recém-servida e soltou um suspiro, olhando ao redor do local, absorta.
Por que a consumia tanto, mesmo sem estar por perto?
O devaneio foi interrompido de forma sutil quando um homem se aproximou e perguntou seu nome. Ela percebeu que ele já tentava chamar sua atenção havia algum tempo, mas ela estava ocupada demais pensando em como resolver uma situação da qual nem sequer se lembrava com clareza.
— Terra chamando! — ele sorriu, alertando a garota.
— Sinto muito! — ela riu, um pouco sem jeito. — Eu estava distraída. — explicou.
— Eu percebi. — sorriu novamente, e só então ela pôde contemplar a grandeza do homem à sua frente.
Ele era absurdamente lindo. Os olhos azuis brilhavam, e a barba por fazer deixava seu rosto ainda mais charmoso. se perguntou, por um instante, se ele teria se aproximado por achar que ela era uma acompanhante de luxo. Arrependeu-se de ter escolhido um vestido tão curto.
— Eu não faço programas. — sussurrou no ouvido dele, envergonhada.
— Eu também não! — respondeu com uma risada gostosa, daquelas que faziam o estômago revirar de leve.
— Achei que tivesse me confundido...
— Com uma prostituta? — ele a interrompeu, arqueando uma sobrancelha. — Não me diga que pareço esse tipo de homem. — fez uma careta dramática e levou uma das mãos ao peito, como se tivesse levado um golpe no coração.
— Não é isso! — ela se apressou em explicar, tomando um gole do drink. — Você é muito bonito... e está de terno.
Ele a fitou, confuso.
— Calma! — disse, erguendo a mão, como se sinalizasse paz. — É só que, para estar num lugar como esse, vestindo isso, você deve ter algum cargo executivo e quer passar despercebido. — completou, orgulhosa da própria teoria.
— Então quer dizer que está me julgando pela roupa? — ele perguntou, provocativo. E antes que ela respondesse, continuou. — Agora entendo por que achou que eu te confundiria com uma garota de programa. Achou que seu vestido falaria mais por você do que você mesma.
ficou sem reação, completamente constrangida.
— Mas, na verdade... eu gosto do seu vestido. — ele disse, com um sorriso sereno, sem mostrar os dentes.
— Eu não quis julgar. — murmurou, tocando de leve a mão dele e sentindo sua pele macia. — É só que eu entendo de moda. Sei quanto custa um terno como esse... e esse relógio, então...
— Eu sei. — assentiu. — E, em partes, você está certa. Por isso vou te perdoar. — soltou a mão dela e, com o dedo indicador, tocou suavemente a ponta do nariz da garota.
O gesto fez se lembrar de algo da noite anterior. havia feito exatamente o mesmo movimento, a diferença é que ele tocara sua testa, e estavam tão próximos que poderiam ter se beijado. Não conseguia recordar o que ele dizia, mas lembrava da tensão no ar. Qualquer coisa poderia ter acontecido.
— Você está bem? — o homem perguntou, percebendo a mudança em sua expressão.
Ela assentiu, ainda levemente desconectada da realidade.
— Tem certeza? — ele tocou sua cintura com gentileza, e ela voltou à si naquele instante.
— Sim, deve ter sido o álcool. — respondeu, sentindo o calor nas bochechas ao notar o toque dele. — Meu nome é ! — sorriu.
— Max. — respondeu com outro sorriso, afastando-se um pouco.
— Então, por que quer passar despercebido? — ela sinalizou ao garçom por mais um drink.
— Para ver se consigo conversar com uma garota sem que o assunto seja sobre quanto dinheiro eu ganho. — foi direto.
— Justo. — concordou, sincera.
O silêncio se instalou por um instante. Eles se encararam com intensidade. O tipo de olhar que diz mais do que qualquer frase. sentiu o desejo crescer. Fazia tempo que não transava com alguém, e o homem à sua frente era incrivelmente convidativo.
— Então... você quer meu número ou o quê? — ela quebrou o silêncio com sua voz suave.
— Eu quero você. — respondeu, sem rodeios.
ficou sem reação. Nas últimas semanas, acostumou-se com o comportamento evasivo e provocador de , sempre driblando suas perguntas, devolvendo suas palavras como se fosse uma partida de xadrez constante. Estava sempre na defensiva ou contra-atacando e achava que aquilo era o normal... até que alguém a desarmou.
Max parecia esse alguém.
Então por que diabos ainda pensava em ?
Ela o fitou, quase implorando com o olhar para que ele tomasse a iniciativa. E ele entendeu. Não demorou para puxá-la com firmeza e colar sua boca na dela, invadindo-a com a língua. A morena correspondeu sem hesitar, segurou sua nuca, colando seu corpo ao dele com desejo acumulado e incontido.
Ele sorriu entre o beijo e mordeu o lábio dela, antes de voltar a devorá-la com voracidade. Estava a ponto de rasgar o vestido ali mesmo, era o que desejava. Traçou uma trilha de mordidas pelo pescoço de , que arfou em resposta, entregando-se ao prazer que ele lhe causava.
Fechou os olhos para absorver melhor aquela sensação, mas, como um gatilho, outra memória com invadiu sua mente. Sentiu o corpo paralisar nos braços do homem que, segundos antes, a beijava.
Lembrou o quanto estava bêbada, mas mesmo assim correu atrás de para beijá-lo.
E ele... ele voltou.
Ele quis aquilo.
Recordou claramente. dera o primeiro passo. E agora, por mais absurdo que parecesse, aquilo era real.
O pior não era ter tocado seus lábios, mas sim o desejo de repetir esse toque. A lembrança de como esse sentimento a consumiu com força naquela noite a desequilibrou por dentro. Percebeu que estava aérea de novo. Seus olhos ardiam, talvez de ficar tanto tempo sem piscar, ou talvez do que sentia por dentro.
Voltou a si e afastou-se levemente de Max, que pareceu confuso com sua atitude. Estava prestes a dizer algo, quando foi interrompido pelo toque insistente do celular dela.
— É a minha amiga. — disse, olhando a tela. — Você deveria pegar meu número... se quiser, é claro. — completou, sem graça.
— Ainda não está claro o que eu quero? — ele arqueou a sobrancelha, e ela sorriu em rendição.
Trocaram os contatos rapidamente e, em seguida, ela virou de costas para atender o telefone, que tocava novamente.
— Oi, babe! — disse, tentando disfarçar a agonia provocada pela lembrança anterior.
— O que aconteceu? — Liv perguntou, percebendo o tom estranho.
— Nada. — respondeu de forma indiferente. A amiga estranhou, mas não deu tempo para que ela insistisse. — Onde está?
— Então... eu te liguei porque saí com o cara daí, e estamos indo pra minha casa. — respondeu com um olho fechado, esperando ser repreendida.
— Assim, tão fácil? Sério? — soou incrédula.
— Me desculpa por não ter ido falar com você antes. — choramingou.
— Tudo bem... — suspirou. — Me manda sua localização em tempo real e não esquece de avisar quando chegar, tá?
— Você acha que consegue voltar sozinha? — perguntou, preocupada. — Se quiser, eu fico e dou um jeito, ainda estou na frente da boate.
— Não precisa, eu pego um Uber. — tranquilizou a amiga. — Mas... e seu carro?
— O carinha não bebeu, então vamos nele. Por isso liguei, queria saber se você ia ficar bem. — explicou, com carinho.
— Eu amo você! — disse.
— Eu também amo você, babe! — Olivia respondeu.
Quando desligou, virou-se para procurar Max, mas ele já não estava mais ali. Suspirou, frustrada. Sentiu que havia perdido a chance de conhecer alguém que parecia interessante o suficiente para ouvir as besteiras que ela dizia. Talvez ele não tivesse gostado do beijo. Ou talvez tenha se incomodado com algo, mas, definitivamente, aquela não foi a despedida que ela gostaria de ter.
Interpretou como um sinal do universo para encerrar a noite, ir para casa, descansar e tentar, ao menos por algumas horas, eliminar da mente qualquer resquício dos homens que a confundiam em tantos níveis. Talvez o dono daqueles olhos azuis não fosse tão diferente dos outros homens que passaram por sua vida.
Entrou no carro que chamou pelo aplicativo e passou todo o trajeto desejando acordar, no dia seguinte, no corpo de outra pessoa. Alguém que não tivesse que lidar com o tipo de merda que ela sabia que, inevitavelmente, teria que enfrentar. Encostou a cabeça na janela e fechou os olhos, tentando pensar em como ocuparia o domingo para não ficar à mercê da própria mente. Mergulhar no trabalho agora não parecia uma opção viável.
Ao chegar em casa, pagou e agradeceu ao motorista, que respeitara seu silêncio durante todo o percurso e só abrira a boca para perguntar se ela estava sóbria. Desceu do carro e, ao pisar na calçada, sentiu o salto fino afundar em algo pegajoso.
Um chiclete.
praguejou mentalmente e começou a arrastar o pé no chão, tentando desgrudar a goma de mascar com uma mistura de irritação e nojo. Lutava contra a gosma até que alguém se agachou ao seu lado, segurou gentilmente seu tornozelo e, de forma inesperada, acalmou seus movimentos agitados.
No instante em que o estranho ergueu o rosto, ela viu quem era e um arrepio percorreu sua espinha.
O toque dele em sua panturrilha era reconhecível demais.
Era .
Ele retirou um pequeno lenço do bolso da calça e, enquanto ambos se encaravam, pediu permissão com o olhar. A morena assentiu. Com toda delicadeza, deslizou a mão sob a pele de para levantar o pé dela e retirar o chiclete grudado. Ela observava tudo desacreditada, como se aquela cena jamais pudesse acontecer, até porque aquilo nem parecia fazer parte do perfil dele.
se levantou devagar, deixando um pequeno carinho com o dedo na perna dela durante o movimento. O toque fez com que se arrepiasse involuntariamente e instintivamente colocasse um espaço entre eles.
— Obrigada... — ela articulou devagar.
Não conseguiu evitar que os olhos dele a percorressem dos pés à cabeça. não precisava se esforçar para ficar bonita, mas ele jamais a tinha visto vestida de maneira diferente das roupas formais que usava no trabalho. O vestido prateado valorizava todas as curvas do corpo dela e realçava ainda mais o castanho escuro, quase preto, de seus cabelos.
Era impossível não notá-la.
se perguntou quantos homens ela teria atraído naquela noite. Ainda assim, não deixaria que soubesse o quanto ele a achava deslumbrante.
— Está parecendo uma garota de programa com essa roupa. — disse, debochado.
Ela bufou.
— Você é realmente inacreditável. — retrucou, passando por ele e esbarrando, de propósito, o ombro em seu braço com raiva, seguindo rumo à entrada do prédio.
Ela havia se esquecido de como era fácil odiá-lo. Até estar sóbria o suficiente para conversar com ele novamente. era o tipo de cara que testava os limites das pessoas só para ver até onde elas aguentavam. Foi exatamente o que ele fez com quando percebeu que ela era uma “ameaça” dentro da agência. O péssimo convívio entre os dois começou com a ideia torta de que ela roubaria seu lugar.
Não foi difícil odiá-lo.
Ele tornara tudo mais difícil no momento em que ela mais precisava se firmar. Nova York já era um tiro no escuro, e qualquer erro podia custar tudo. No início, era até divertido competir, mas isso não a manteria empregada. Então, começou a espalhar suas ideias por outros departamentos, a se destacar em outras frentes e, a partir dali, a guerra para roubar clientes começou.
— ? — ele a chamou, fazendo com que ela olhasse para trás.
— Qual é o seu problema, ? — deu meia-volta e caminhou em sua direção, irritada.
— Eu disse que viria... então, estou aqui. — respondeu com um sorriso sarcástico.
— Isso foi há mais de dez horas! — ela o empurrou com uma das mãos. — Aliás, o que está fazendo aqui? Virou meu stalker agora?
Ele desviou o olhar para cima, incapaz de encarar os olhos furiosos dela. Talvez preferisse a bêbada, porque a que estava à sua frente agora o odiava. E com certeza não estava disposta a beijá-lo. percebeu que, provavelmente, ela nunca o olharia com o mesmo desejo... não sem álcool no organismo.
— Acho que você tem razão. — murmurou, cabisbaixo.
— O quê? Você bebeu? — ela franziu o cenho. — Primeiro, me deixa esperando a manhã inteira, e agora aparece na porta da minha casa? Eu não estou... — ele a interrompeu.
— Eu não achei que estivesse falando sério. — confessou, surpreso. — Você realmente me esperou?
— Eu achei que... que... — gaguejou, tentando encontrar as palavras.
Então entendeu... não apareceu porque acreditava que ela não queria que ele fosse.
Ele sorriu, um pouco desconcertado com a confusão dela. E aquilo fez o coração de disparar por um segundo. Aquele sorriso carregava a mesma energia caótica que tantas vezes bagunçara seus dias. Era difícil admitir, mas ela gostava. Não era um sorriso tão ruim assim, agora que o via de perto.
— Por que está me olhando assim? — ela mordeu a bochecha, ansiosa.
— Do que você se lembra, ? — ele perguntou, se aproximando o bastante para que ela sentisse sua respiração.
— Do que você está falando? — engoliu seco.
— Não precisa fingir que não sabe. — disse sério. — Está sóbria agora. Eu acredito.
— Só lembro de você me carregando. — mentiu, e ficou evidente na expressão do rosto.
— Eu disse para não fingir. — a segurou pela cintura, colando seus corpos.
— Eu não estou fingindo. — ela tentou recuar, mas ele não a soltou.
— Não lembra que eu te beijei?
— Você não seria homem suficiente pra isso. — rebateu, repetindo o que dissera antes. Queria ver a reação dele ouvindo isso ao vivo.
— Quer que eu te beije agora? — perguntou, encarando-a firme.
Ela permaneceu em silêncio por um tempo, até finalmente perceber o que estava acontecendo entre eles.
— Eu só quero que me deixe em paz, seu idiota! — empurrou-o com força, e ele enfim a soltou.
— Aí está a que eu conheço! — ele abriu um enorme sorriso.
— Você deveria tomar mais cuidado com a porra do seu carro! — apontou o dedo no rosto dele, e fez um bico.
— Isso é uma ameaça? — estreitou os olhos. — Por um momento, achei que você realmente queria que eu te beijasse. — mordeu o lábio, divertido.
bufou, nervosa, e deu as costas.
— É bom te ter de volta, ! — ele gritou, observando-a entrar pela porta giratória do prédio. Ela apenas levantou o dedo do meio sem se virar, em resposta ao que ouviu.
talvez fosse o único homem a ter duas versões dela: a que o odiava e a que, bêbada, queria beijá-lo. Mas arriscava dizer que a primeira era a que mais o instigava. Por isso dissera que era bom tê-la de volta, sóbria. Porque era aquela com quem ele realmente interagia no dia a dia.
Talvez fosse loucura imaginar que essas duas versões pudessem se fundir.
Como desejar tanto alguém que você insiste em odiar? Ainda assim, desde que apareceu em sua vida, a monotonia desapareceu. Ele não queria que ela o odiasse, mas, se esse era o único sentimento que a mantinha por perto, então que fosse assim. Melhor tê-la desse jeito do que não tê-la de forma alguma.
Enquanto ela procurava maneiras de lidar com esse novo comportamento dele, que fugia completamente dos padrões anteriores, estava sendo gentil. E nunca havia conhecido esse lado dele. O receio de que ele estivesse escondendo algo era maior que qualquer outra coisa. Não entrava em sua cabeça que uma pessoa pudesse mudar da noite para o dia sem um motivo forte o suficiente. Ela sequer cogitava essa possibilidade.
Afinal, por que ele seria bom para ela se não estivesse interessado em algo que pudesse ganhar em troca?
Quando entrou em casa, retirou os saltos e os jogou por perto. Precisava descansar não só o corpo, mas, principalmente, a mente que já não funcionava do mesmo jeito depois dos dois últimos dias. Ainda precisava estar preparada para sua apresentação de segunda-feira. Uma empresa muito grande estava prestes a fechar contrato com a Easy Communication, agência em que trabalhava, e ela queria aquela conta.
Passaria todo o domingo ensaiando as propostas do seu projeto para impressionar o possível cliente. Nada a atrapalharia. Não queria distrações. Estaria completamente focada.
Seguiu em direção ao banheiro e começou a encher a banheira. Não queria apenas tomar um banho, mas relaxar por alguns minutos antes de dormir. Inspirou o aroma dos sais de banho que jogava na água morna e, logo depois, despiu-se do vestido. Conectou o celular à pequena caixinha de som que costumava deixar naquele espaço, ouvir música durante o banho era quase uma religião para ela. Abriu uma playlist qualquer, colocou para tocar e deixou o aparelho sobre um banco ao lado. Assim que entrou na banheira, sentiu a espuma fazer uma leve cócega nas pernas.
Cochilou por uns dez minutos e foi acordada pelo som de mensagem no celular. Acomodou-se novamente na banheira, enxugou uma das mãos e pegou o aparelho. Além da nova notificação, havia algumas mensagens não lidas. Sorriu para a tela quando viu que algumas delas eram da sua amiga Olivia:
"Já cheguei em casa!"
Uma hora depois:
"Ele é péssimo de cama, por Deus."
Trinta minutos depois:
"Ele sabe cozinhar, não deixei ir embora. Sexo a gente recusa, uma boa alimentação jamais."
Ela gargalhou ao ler aquilo. Liv era hilária. O tipo de pessoa que conquistava a atenção de quem quisesse, por ser atenciosa, engraçada e extremamente carismática. decidiu responder à amiga à altura.
"Pena que não vai ter sobremesa!"
Foi irônica, claro, pelo fato da transa ter sido ruim. Logo em seguida, viu que um número desconhecido havia acabado de lhe mandar uma mensagem.
"Me desculpa por ter desaparecido, coisas do trabalho. Não consegui me despedir, você estava em ligação e eu não quis atrapalhar."
Era Max.
"Por um momento, achei que tivesse beijado um fantasma."
"Um fantasma bonito, eu espero!"
revirou os olhos. Atrair egocêntricos parecia ser seu carma. Decidiu não responder mais, até que o celular vibrou novamente:
"Poderia te ver novamente?"
"Talvez durante a semana."
"Amanhã não é um dia bom pra você?"
"Tenho trabalho a fazer."
"Temos uma viciada, é isso mesmo?"
Ele brincou, mas gostou da resposta, achava isso atraente em uma mulher.
"O suficiente pra deixar você de lado por mais alguns dias? Sim!"
Ela sorria enquanto escrevia a mensagem. Queria dar um gelo naquele ego.
"Não me atingiu! Achei isso extremamente sexy, por sinal."
Ela o ignorou. Mais um minuto sem resposta e ele já estaria inquieto.
"Eu voltarei em poucos dias para o meu estado, mas não antes de te fazer minha, ."
O estalo veio. Ele não era de Nova York. Ela percebeu o quanto havia sido ingênua, estava ali, escancarado. Max só estava de passagem, e por isso falara sobre "passar despercebido". Mesmo assim, decidiu que não perderia a chance de viver algo, ainda que breve. Ele era gato, o beijo havia sido bom, provavelmente o sexo também seria, e o mais importante, ele a queria.
"Terça funciona pra você?"
"Ótimo! Eu ligo pra você então."
Ela não viu necessidade de responder. Estava claro para os dois o que seria feito. Não quis prolongar a conversa. Max não era um alvo duradouro, voltaria logo para seu estado. Mas seria a distração perfeita para que não atrapalhasse com seu novo e estranho comportamento.
Depois do banho, revisou algumas vezes sua apresentação e adormeceu.
O domingo passou sem grandes surpresas. se afastou do mundo para focar totalmente nas estratégias da empresa que estava prestes a entrar na agência. Sempre ficava ansiosa ao atender novos clientes, principalmente porque diversas ideias seriam apresentadas na reunião, e caberia ao contratante escolher quem ficaria à frente da conta.
Ainda naquela noite, colocou uma roupa confortável, calçou seus tênis, posicionou os fones nos ouvidos e saiu para correr pela caótica cidade. Sua banda favorita começou a tocar e ela não conseguiu evitar o sorriso enquanto dobrava o quarteirão, concentrando-se na respiração ritmada.
O mesmo sorriso se desfez no instante em que o toque do celular interrompeu a música.
— Quem é? — perguntou, irritada, após passar o dedo no sensor do fone de ouvido.
Não conseguia ver o nome de quem ligava, já que o celular estava preso no suporte no braço.
— O que você está fazendo? — perguntou do outro lado da linha.
— ? — ela parou de correr no mesmo instante. — O que você quer? — achou estranho ele estar ligando.
— Só queria saber o que você está fazendo — respondeu, enquanto se deitava na cama.
— Sério isso? — colocou as mãos na cintura e respirou fundo.
— Ah! — percebeu. — Estava correndo. — sorriu, mesmo que ela não pudesse ver.
talvez a conhecesse mais do que qualquer outro dentro daquele escritório. O fato de estar sempre por perto para provocá-la o fazia decorar sua rotina e reparar em cada detalhe.
— Sim, eu estava correndo — confirmou, sem entender o motivo da ligação. — Mas, de verdade, o que você...
— Está ansiosa pra amanhã, não é? — ele a interrompeu. — Por isso saiu pra correr.
A voz dele parecia carregada de angústia. percebeu que ele também estava sentindo o mesmo. A competição entre os dois sempre desencadeava esse tipo de tensão. Às vezes, não era tão divertido assim e isso mexia com o emocional de ambos.
Os dois eram perfeccionistas, teimosos, e sempre queriam estar no topo.
— Não acredito que vou dizer isso... — ela revirou os olhos e mordeu o lábio. — Mas... quer tomar um vinho? — perguntou, impulsivamente.
— Achei que não fosse perguntar — respondeu, levantando-se da cama imediatamente.
— Na minha casa, em trinta minutos — ordenou, mandona.
soltou uma risada nasalada.
— Quer que eu desista? — provocou, fazendo um biquinho que ele não podia ver, mas que parecia surtir efeito mesmo assim.
— Tudo bem! — cedeu. — Obrigado, .
— Até mais. — desligou.
Ficou pensativa por um momento. As coisas com estavam confusas, e ela não sabia se tinha feito a escolha mais sensata ao convidá-lo. Mas precisava de álcool no sangue, e ele parecia ter adivinhado isso ao ligar.
Deu meia-volta e começou a correr em direção ao seu apartamento, acreditando que trinta minutos seriam suficientes para se arrumar e esperar pelo homem que tanto a perturbava nos últimos dias.
Não sabia explicar o motivo da ansiedade que sentia. Estar perto dele despertava emoções conflitantes, era como andar numa montanha-russa. E, por mais que tentasse negar, já havia aceitado que gostava da sensação de ir do céu ao inferno em segundos.
Definitivamente, a noite ficaria marcada na memória dos dois.
Seja por algumas taças de vinho ou por não conseguirem mais esconder o veneno, também conhecido como desejo, que tinham um pelo outro.
— Está tão desesperada assim? — murmurou diante do espelho. — É o ! Ele te odeia! — disse a si mesma, incisiva. — Você é melhor do que isso. — sorriu, sem mostrar os dentes.
Decidiu que, naquele momento, sua vagina estava tomando as decisões por ela. Por mais que fosse absurdamente atraente, ainda era seu maior inimigo. Ele bagunçava sua rotina, atrapalhava seu trabalho e, invariavelmente, era o motivo por trás de suas oscilações de humor. O simples fato de ele estar a poucos quarteirões dali, e por um convite que ela mesma fez, era prova viva de como ele sempre dava um jeito de mudar seus planos.
— Por que você o convidou? — continuou o monólogo, bufando. — Qual o seu problema?
Repetia para si que tudo não passava de uma conversa sobre a ansiedade comum aos dois, diante do que talvez fosse o maior contrato de suas carreiras. Ainda não tinham muitos detalhes, mas sabiam que, se o senhor Carter os convocara para aquela reunião exclusiva com o novo cliente, era porque algo muito grande estava por vir.
Seus pensamentos se dissiparam ao ouvir a campainha. Um frio percorreu sua barriga.
Olhou para o teto, como quem pede forças ao universo, respirou fundo e soltou o ar lentamente pela boca. Caminhou até a sala decidida. Precisava de uma dose de álcool no sangue, e rápido. Ao segurar a maçaneta, já estava profundamente arrependida por tê-lo chamado. Mas, assim que abriu a porta, tudo o que conseguiu ver foi um levemente sem graça. E foi aí que se lembrou da principal diferença entre eles.
, quase sempre, conseguia disfarçar o que sentia.
— Trouxe vinho rosé — ele disse, levantando a garrafa com uma tentativa de sorriso.
Ela ficou sem reação por alguns segundos. Era a primeira vez que o via tão visivelmente ansioso. Percebeu o esforço que ele fazia para esconder que as mãos tremiam levemente.
— Não precisava — tentou ser gentil. — Eu que te chamei, a bebida era por minha conta.
— Foi barato! — respondeu, rindo de forma desconfortável. — É de um amigo meu... ele disse que foi barato. — justificou-se, ainda visivelmente nervoso.
— Mas...
— Eu quis trazer — a interrompeu, assentindo com a cabeça de forma firme, como se precisasse garantir o gesto.
— Tudo bem! — encarou ele por alguns segundos, pegou o vinho de suas mãos e deu as costas, seguindo caminho para cozinha.
O clima era constrangedor. Nunca estiveram tão lúcidos em um mesmo ambiente. Normalmente, quando se viam fora dos jogos psicológicos, era uma névoa densa de raiva que pairava no ar e não essa estranha tranquilidade. No mínimo, uma situação incômoda para ambos.
— Vai ficar aí parado? — perguntou, virando-se e vendo que ele ainda estava do lado de fora.
— Você não disse que eu podia entrar — respondeu, meio sem jeito.
— Como se você já tivesse precisado de autorização antes. — retrucou, estreitando os olhos, estranhando toda aquela repentina educação.
entrou apressado, tentando disfarçar o constrangimento, e a seguiu até a copa. Agora, com tudo mais nítido e sem a tensão usual que sempre o cegava, pôde perceber como o loft refletia a personalidade de em cada detalhe. A atmosfera era sofisticada, leve, mas com toques intensos, exatamente como ela.
Enquanto ela tirava duas taças do armário e as colocava sobre a bancada de mármore no centro do espaço, ele ficou em silêncio, absorvendo tudo.
— Então, quais são seus palpites sobre esse cliente de amanhã? — perguntou, trazendo de volta a atenção dele.
— Deve ser alguém grande. — respondeu, observando-a servir as taças com outro vinho. — Signature? — arqueou a sobrancelha ao ver a garrafa.
— Me deram quando eu apresentei a campanha que te tirou deles — respondeu com um sorriso irônico.
revirou os olhos ao lembrar.
— Pois é... — ela continuou, empurrando uma das taças para ele e levando a outra aos lábios. — Também pensei nisso. Carter nem ao menos deu alguma prévia para montarmos uma apresentação.
— Isso me faz pensar que seja um cliente novo — comentou, bebendo dois goles e, de imediato, fazendo uma careta.
riu.
— O quê? — ele questionou, confuso.
— Nunca tomou vinho antes? — provocou, sarcástica.
— Não é minha bebida favorita, ok? — reclamou, franzindo o nariz.
— Então por que está bebendo? — perguntou, realmente intrigada.
— Porque você pediu. — respondeu, direto, com uma sinceridade desconcertante.
— E desde quando você faz o que eu peço? — o fitou cínica.
— Eu só estou tentando ser legal! — retrucou, já entediado com o comportamento dela.
— E desde quando você é legal? — lançou, em tom debochado, uma pergunta retórica.
— Você poderia parar? — ele perguntou, visivelmente irritado.
— Por que eu pararia? — rebateu, antes de virar de uma vez o conteúdo da taça.
— Talvez um bom motivo seja o fato de você ter me convidado — bufou, impaciente.
— Eu fiquei com pena. Você estava praticamente implorando — comentou, enchendo a taça novamente, enquanto recebia um olhar de desaprovação de .
— Eu não sei por que achei que seria uma boa ideia vir! — coçou a cabeça, frustrado. — Eu realmente odeio você! — abriu um sorriso tenso. — Você é insuportável! — apontou o dedo para ela, que o encarava, surpresa com o tom.
— Eu também odeio você, mas...
— Eu não preciso ficar aqui! — exclamou, ofegante. — Eu nem sei o que estou fazendo com a pessoa que eu menos gosto neste planeta! — passou as mãos pelo rosto, em desespero.
— ...
— Boa noite pra você, — disse por fim, já se virando em direção à porta.
— Você pode parar com o drama? — gritou, impaciente, pegando uma maçã da fruteira prateada sobre a mesa e a lançou, acertando a parte de trás da cabeça dele.
— Você jogou uma maçã em mim? — perguntou, incrédulo, olhando a fruta no chão e levando a mão à cabeça, sentindo a dor.
— Sim, como percebeu? — respondeu, irônica. — Achei que você não tivesse um cérebro, então não sentiria nada. — sorriu, cínica.
— Qual é o jogo dessa vez, ? — aproximou-se dela com passos firmes.
— Do que você está falando? — questionou, agora um pouco nervosa.
— Disso tudo. — ele disse, parando a centímetros dela. — Meses atrás, você não cogitaria dividir o mesmo ambiente comigo. Agora, estamos na cozinha do seu apartamento.
E ali estava.
A respiração que ele tanto ansiava sentir.
Estavam perto o suficiente para que ele notasse os detalhes dela.
— E qual é a sua, ? — rebateu, encarando-o e fazendo um leve movimento com a cabeça, enfatizando a pergunta. — Me liga como se soubesse que, quando estou ansiosa, eu saio pra correr... Como se estivesse esperando por uma migalha da minha atenção. — mordeu o interior da bochecha, tentando disfarçar o nervosismo.
engoliu seco.
— Talvez porque eu sei que você só corre quando está ansiosa. — respondeu, sem desviar os olhos dela.
Eles estavam vidrados um no outro.
— E como você saberia disso? — empurrou levemente o ombro dele com o dedo.
— Porque você posta toda a sua vida na maldita do seu instagram. — sorriu de lado.
— E o que você estava fazendo lá? — tentou pressioná-lo novamente com o dedo, mas dessa vez ele foi mais rápido e segurou sua mão.
— É o único lugar onde posso te ver sem você ser uma chata do caralho. — falou baixo, rouco — Como está sendo exatamente agora. — e, com um só impulso, puxou para perto de si.
— E por que... — tentou questionar, mas foi interrompida.
— Por favor! — pediu em um sussurro. — Apenas para com essas perguntas idiotas e me pede pra fazer o que você realmente queria quando me chamou.
Os olhos dele desceram para os lábios dela, agora entreabertos.
— Como assim? — ela se fez de desentendida.
— O que você quer, ? — ele umedeceu os próprios lábios, tenso.
— Só... beber, . — respondeu, recuando um passo. — Para com essa merda de falar como se fosse me beijar — disse, antes de virar a taça cheia de uma só vez.
— Você vai acabar ficando bêbada desse jeito. Já é a sua terceira — comentou, desviando o olhar, tentando conter algo dentro de si.
Por mais que quisesse responder que queria beijá-la, que seu corpo desejava desesperadamente sentir a maciez daqueles lábios outra vez, lutava contra isso a cada segundo. Entregar-se para seria um caminho sem volta. Para ele, significaria comprometer sua imagem, sua racionalidade, talvez até sua carreira dentro da agência. Pelo menos, era isso que tentava acreditar.
— Essa é a intenção! — retrucou, sarcástica.
— Então vamos fazer isso! — sorriu, e ela não conseguiu conter um pequeno gesto de comemoração.
Depois que percebeu que havia esvaziado a garrafa presente da Signature, decidiu abrir o vinho que tinha trazido. Aproximou o gargalo do nariz e, ao sentir o aroma adocicado do rosé, foi invadida por boas memórias da Itália. Mesmo que fosse algo barato, como ele tinha enfatizado, o cheiro trouxe uma onda de nostalgia das ruas estreitas, das tardes em família durante as férias, dos dias em que a simplicidade bastava.
— Não é tão ruim assim — deu de ombros, e ele caiu na gargalhada.
— Eu estou falando sério! — ela disse, entre risos, acompanhando o riso dele. — ! — repreendeu com um olhar semicerrado.
— Me desculpa! — falou, tentando se controlar. — É só que você já bebeu o suficiente pra achar qualquer coisa boa. — apontou para a garrafa vazia ao lado.
— Eu quis dizer que o cheiro me lembrou a Itália, seu idiota! — arregalou os olhos, mas sorriu, suavemente.
— Faz mais sentido agora. — ergueu as sobrancelhas, genuinamente interessado. — Você sente falta de lá?
— Eu sinto falta da minha família — suspirou. — Eu nasci aqui, então não é como se eu tivesse tanta ligação assim, sabe? — franziu o cenho, como se tentasse acreditar no que acabara de dizer.
— Não parece ter tanta certeza. — comentou, observando-a.
Ela hesitou.
A frase dele ecoou como um espelho da própria dúvida que havia tentado disfarçar com cinismo e vinho.
— Lá é lindo e sempre é divertido quando eu vou passar um tempo, mas... não é Nova York — suspirou.
— Você poderia ser muito grande na Itália. Já imaginou? — falou empolgado, genuíno, porque acreditava no potencial dela.
— Está tentando me convencer a morar em outro país só pra ficar com a agência toda pra você? — rebateu séria.
Alguns segundos depois, ambos riram.
Ainda não estavam acostumados a momentos, supostamente, felizes acontecendo entre os dois. Por isso, um ar constrangedor sempre surgia após alguns instantes.
— Você é muito desagradável. — ele revirou os olhos, tentando disfarçar o desconforto.
— Para! — ela pediu, divertida. — Eu não estou bêbada o suficiente pra isso. — fez um leve bico, irritada.
— Não consegue ficar perto de mim por dois segundos sem achar que quero roubar o seu emprego? — virou toda a bebida da taça e fez uma careta involuntária.
— Ainda não se acostumou? — ela retrucou, olhando para ele sem que ele percebesse.
Seu olhar caiu sobre a boca dele, ainda úmida por causa do vinho.
— Como eu disse antes, não é meu favorito. — comentou, e passou o polegar pelos lábios, depois o levou à boca, chupando-o distraidamente.
Ele não notou que estava sendo observado.
Mas a imagem teve um efeito devastador em . Um arrepio percorreu seu corpo inteiro, nunca desejara tanto ser um maldito polegar em toda a vida. Suspirou, irritada consigo mesma. Todo o tesão acumulado a faria cometer uma loucura. Por um momento, se questionou por que não tinha chamado Max. Mas concluiu rápido. De que adiantaria outro homem ali, se sua mente estava completamente em outro?
— Eu tenho bourbon. — disse, tentando afastar o pensamento, chamando a atenção dele.
— Não acredito! — ele respondeu surpreso. — É o meu favorito!
— Eu sei. — sorriu, sem graça, e ele conteve a alegria para encará-la.
— Como sabe disso? — perguntou, franzindo o cenho.
— É o que você sempre pede quando saímos com o pessoal do trabalho. — ela respondeu, balançando levemente a cabeça. — Bourbon com duas pedras de gelo. Mas, se estiver estressado, você bebe puro. — completou com um sorriso discreto.
ficou boquiaberto.
— O que foi? — questionou, desconcertada com o modo como ele a olhava.
— Eu não estou bêbado o suficiente pra isso. — murmurou, desviando o olhar para o chão.
O ar entre eles mudou.
não tinha intenção de demonstrar que prestava atenção nele. As palavras apenas saíram, num impulso inocente, e só depois ela percebeu o quanto havia se exposto. Era compreensível que ele ficasse surpreso. Afinal, ela vivia dizendo que o odiava, mas estava ali, revelando que notava os detalhes mais sutis do seu comportamento.
Naquele momento ela preferiu o silêncio. Levantou-se e foi até o armário em busca da bebida favorita dele. Como de costume, precisou puxar a mini escada da cozinha para alcançar as prateleiras mais altas. Mas, antes que conseguisse se aproximar, colocou a mão direita sobre a bancada, bloqueando sua passagem.
— O que você está fazendo? — ela perguntou, sentindo a tensão aumentar à medida que seus corpos se aproximavam.
Sem responder, ele abriu a porta da estante com a outra mão e pegou a garrafa do líquido âmbar. Colocou-a sobre a superfície de mármore, ao lado dela. Em seguida, a prendeu entre os próprios braços, limitando o espaço ao redor dela.
— É este? — perguntou, inclinando a cabeça levemente para o lado.
— Você sabe que é. — respondeu, olhando para cima, encontrando os olhos dele.
— Esse cheiro... — murmurou, segurando o queixo dela.
E em uma ação rápida ele virou levemente sua cabeça e aproximou-se do pescoço, inalando devagar sua essência. já havia morrido por dentro mil vezes. O arrepio que percorreu seu corpo foi tão intenso quanto um carro em uma corrida frenética. A atitude repentina dele a desarmou completamente. Não estava preparada para esse novo comportamento, confiante, íntimo, tentador.
— É canela. — respondeu, tentando recompor-se enquanto retirava, devagar, a mão dele do seu rosto.
— Eu sei! — exclamou, sem se afastar.
— Você odeia. — ela engoliu em seco, sem conseguir manter a voz firme.
— Quem disse isso? — deixou o rosto dela mais próximo do dele.
— Na última vez que esteve aqui, você falou que não combinava comigo. Automaticamente, pensei que odiasse — justificou, fazendo um bico para o lado.
— Eu menti. — ele sorriu de lado, cínico.
— Por quê? — perguntou, confusa.
— Porque você gosta quando eu faço essas coisas... não gosta, ? — esfregou a ponta do nariz no dela, e a garota fraquejou por um breve instante. Quase o beijou, mas conteve-se.
— Nós precisamos de música! — disse, após respirar fundo e empurrar devagar, abrindo espaço para passar.
Ele não escondeu o sorriso vitorioso no rosto.
Depois de pegar a garrafa de bourbon, ele a seguiu até a sala e não resistiu ao impulso de observá-la dos pés à cabeça. Achou curioso como a postura mandona desaparecia quando ela trocava de roupa. Agora, vestindo apenas um vestido preto curto, rodado e decotado o suficiente para chamar a atenção de toda Nova York, especialmente a dele, seus olhos demoraram um pouco mais do que deveriam quando pousaram no busto de .
— Perdeu alguma coisa, ? — perguntou, percebendo a ousadia do olhar dele.
— Foi proposital? — indagou com sarcasmo, mordendo o lábio inferior.
— O quê? — ela questionou, e em seguida bebeu um generoso gole de vinho direto do gargalo.
— É assim que vamos beber? — balançou a garrafa de uísque que segurava.
— O que foi proposital, senhor ? — ela foi direta.
— Suas roupas, senhorita . — ele sorriu, levantando as sobrancelhas.
— Você é tão presunçoso! — exclamou, revirando os olhos.
— Acho que isso tudo é um plano pra me tirar do foco amanhã. — disse enquanto abria a tampa do uísque com facilidade, já que não estava lacrada, o que indicava que havia aberto antes.
— Faz todo sentido! — concordou ironicamente. — Sou eu quem está colocando todo esse álcool dentro da sua boca — rebateu, observando virar dois goles da bebida.
— Não posso evitar. — suspirou, afastando a garrafa da boca.
— Eu entendo. — respondeu, com um sorriso genuíno. — Não faço a mínima ideia do que nos espera amanhã, mas... não tenho um bom pressentimento — confessou, arfando levemente, nervosa.
— Nós já passamos por coisas piores. — ele tentou se aproximar ao dizer isso.
— Não sei se essa é a melhor coisa a se dizer agora. — ela riu, sem conseguir evitar.
— Só quis descontrair. — deu de ombros antes de virar mais um gole, que desceu rasgando sua garganta, fazendo-o emitir um som estranho com a boca.
— Não sei como consegue gostar disso. — ela fez uma careta de reprovação.
— Mais respeito, por favor! — ele reclamou, brincando. — E se você não gosta, por que tem uma garrafa disso em casa?
— Eu comprei hoje. — sorriu sem graça.
— Mas... já estava aberta, eu... — ele franziu a testa, confuso.
— Abri pra experimentar, mas não foi uma boa ideia — explicou.
— Você comprou pra mim? — perguntou, curioso.
— Sim! — ela assentiu rapidamente.
Apesar da surpresa, sentiu que não fazia mais sentido pressioná-la por algo tão banal, ou pelo menos, que deveria ser. Sabia que não entregaria facilmente os motivos por trás daquele gesto, então preferiu acreditar que era só um ato de gentileza da colega de trabalho.
Desviou o olhar e a observou conectar o celular à caixa de som sobre a mesa de centro. Sentia-se culpado por admirá-la daquele jeito e isso incluía o corpo todo dela. Mas não havia maldade. Era como se, por um instante, ele desejasse que, se não pudesse tocá-la, ninguém mais pudesse.
Saiu do devaneio quando a música começou a tocar e levou um susto.
— O que é isso? — perguntou, com a mão no peito, sentindo o coração acelerado.
— Blink-182 — respondeu, satisfeita. — Minha banda favorita.
— Sua banda favorita? — perguntou, surpreso.
Ela confirmou com um aceno.
E, Não demorou para que começasse a dançar, girando pela sala com leveza.
— Você vai acabar caindo desse jeito, . — alertou, sendo completamente ignorado.
— Não seja ridículo! — rebateu, puxando-o pela mão.
O vestido preto rodopiava ao redor do corpo dela, despertando uma onda de sensações em . Era difícil acreditar no que via. Para ele, se movia em câmera lenta. Tentava acompanhá-la, mas era impossível, estava absorvendo demais tudo o que aquele momento revelava.
A risada dela ecoava pela sala. Ele jamais tinha presenciado aquele lado de . Leve, espontâneo, divertida. E isso o corroía por dentro. Saber que havia uma versão dela tão acessível e ele a afastara. Passou a se culpar por não ter sido sincero desde o início, por ter criado um ambiente hostil em vez de ter acolhido a presença dela. Imaginava como as coisas poderiam ter sido diferentes se tivesse feito outra escolha.
Aos poucos, os efeitos do álcool começaram a se manifestar. Cinquenta minutos depois, estavam largados no chão, suados, rindo e ofegantes. mantinha as pernas apoiadas sobre o colo de , que acariciava os pés dela com delicadeza. O silêncio, antes confortável, agora parecia carregado de dúvidas.
— Como chegamos a esse ponto? — ela perguntou, quebrando a quietude.
— Aquilo ali. — respondeu, soltando os pés dela e apontando para a garrafa de vinho caída a poucos metros.
— ... — chamou, fazendo com que ele a encarasse.
Esperou que ela continuasse, mas ela permaneceu em silêncio.
— O quê? — insistiu, deitando-se ao lado dela.
Agora os dois fitavam o teto, lado a lado.
— Por que a gente se odeia? — perguntou, soltando um leve soluço.
— Você é mandona e controladora. Acho que esse é o principal motivo. — disse, colocando uma mão atrás da cabeça e a outra sobre o peito. Só então notou que estava sem camisa, mas não deu importância.
— Talvez seja porque você sempre foi estúpido comigo. — ela retrucou, virando-se de lado, o que o fez acompanhá-la. — Eu não gosto de gente grossa.
— E você acha que não é? — rebateu, ajeitando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
— Eu só me defendo! — fez um bico, contrariada.
— Claro! — ironizou. — Como se você fosse toda inocente.
— Eu não sou! — afirmou. — Mas você começou tudo isso. — empurrou o ombro dele suavemente e voltou a encarar o teto. — Às vezes, juro que quero te matar.
a observou em silêncio, atento ao contorno do rosto dela sob aquela luz baixa. Mesmo com a raiva presente nas palavras, algo nela ainda despertava nele um sentimento que estava longe do ódio. Talvez fosse o efeito da bebida. Ou talvez não.
— Continua linda pra mim. — disse, sem pensar, enquanto admirava o perfil dela.
— O que você disse? — o fitou, incrédula.
— Que você continua linda. Mesmo querendo me matar — repetiu.
Os dois se encaram por alguns segundos antes de caírem na gargalhada.
— Nunca te vi tão bêbado. — ela comentou, entre risos.
— Muito bêbado, pra ser honesto. — confessou, respirando fundo. — Obrigado por ter comprado o uísque pra mim.
— Não sou tão má assim, viu? — piscou para ele, brincando. — Aliás... por que você está sem camisa? — perguntou, só então se dando conta da ausência da peça.
— Não faço ideia de onde foi parar... ou o que fizemos com ela. — respondeu, passando a mão pelos cabelos.
O movimento fez seu peitoral se contrair. não resistiu e observou e mordeu o lábio inferior.
— Provavelmente o mesmo que fiz com minha calcinha. — soltou impulsivamente, enquanto o encarava.
— O quê? — exclamou, arregalando os olhos. — Você... está sem calcinha agora? — sentou-se num pulo, encarando a região íntima dela antes de desviar rapidamente o olhar de volta para o rosto.
— Você ficou nervoso ao saber disso? — provocou, levantando-se devagar e ficando ao lado dele.
— Que homem não ficaria? — retrucou, ansioso. — Estamos sozinhos, bêbados... em que momento achamos que isso daria certo? — virou o rosto em direção a ela, ficando perigosamente próximo.
A respiração que tanto o fascinava estava ali, presente, quente.
— E se a gente tentasse? — perguntou, enquanto arrastava as unhas pelas costas dele, subindo lentamente até os cabelos macios.
— Para... — murmurou, jogando a cabeça para trás ao sentir o carinho das garras delicadas.
— Tem certeza que quer que eu pare? — questionou, engatinhando até se acomodar no colo dele.
— O que você tá fazendo, ? — segurou a cintura dela de maneira firme.
Um arrepio percorreu o corpo da garota.
Nunca imaginou que estaria com ele assim.
Mais do que desejar, precisava sentir , entender quem ele era longe da máscara arrogante que usava sempre que ela se aproximava.
— Não quer fazer isso? — sua voz saiu levemente arrastada. — Eu posso sentir que você quer. — disse, percebendo a ereção crescente sob o jeans dele.
E era verdade. queria, mais do que deveria.
— Nós estamos bêbados... Vamos nos arrepender depois, e você sabe disso. — murmurou, acariciando o rosto dela com ternura.
— E se não nos arrependermos? — ela mordeu o lábio, hesitante.
— Eu não quero que aconteça se isso for te fazer me odiar ainda mais amanhã. — respondeu sério, sustentando o olhar dela.
Ela sabia que ele tinha razão.
Estavam fora de si.
Não havia sentimento ali, só desejo. E isso poderia comprometer o ambiente de trabalho, pior ainda, custar o emprego de um dos dois.
— Você está certo! — suspirou e saiu devagar do colo dele.
Frustração.
Essa era a palavra que melhor descrevia o que ambos sentiam. O que era diversão evoluiu para algo intenso e carnal, depois virou peso, seriedade e confusão. Para , talvez fosse ainda mais difícil. Se ela insistisse mais um pouco, ele teria cedido sem pensar duas vezes.
— Desculpa por quebrar o clima. — ele se recostou no sofá.
— Na verdade... tudo bem. — respondeu, se aproximando. — Talvez tenha sido melhor assim. — apoiou a cabeça no ombro dele.
— A gente ainda se odeia? — ele perguntou em um tom brincalhão.
— Definitivamente. — confirmou com um movimento de cabeça.
Mas o desejo ainda estava ali, pulsando. Ambos sabiam disso.
— ... — o nome escapou dos lábios dela quase como um gemido.
Sem esperar resposta, subiu novamente no colo dele. No impulso, desequilibrou-se um pouco, e ele a segurou para evitar que caísse. O aperto na cintura fez arfar e encostar a testa na dele, um segundo depois, os lábios se encontraram.
— Tem certeza que quer isso? — perguntou, com a boca roçando na dela.
não respondeu. Apenas o beijou.
buscava a língua dela como se estivesse faminto. Quando finalmente a alcançou, um choque acendeu seu corpo. Não havia mais como negar. Ele a queria. Enterrou os dedos nos cabelos dela, puxando com desejo, e mordeu o lábio inferior da garota. fechou os olhos. Tudo o que conseguia imaginar era ele dentro dela.
Com o quadril, pressionava seu sexo contra a ereção sob o jeans dele, tentando conter o próprio desejo, em vão. Estava completamente entregue. A excitação ficou evidente quando ele deslizou a mão sob o vestido dela e tocou seu clitóris com dois dedos. Confirmou, sem surpresa, que ela realmente estava sem calcinha.
— Difícil acreditar que me odeia... desse jeito, tão molhada — provocou, ofegante.
— Cala a boca! — ela resmungou, tentando aumentar ainda mais o contato entre os dois.
— Aqui você não vai mandar, — falou sério. Em um movimento ágil, tirou-a do colo, deitou-a no chão e posicionou-se sobre ela. — Eu te machuquei? — perguntou ao sentir o impacto da queda.
— Não... — respondeu manhosa.
— Pode ter certeza que não tem ninguém nesse momento com mais vontade de te foder do que eu. — disse, inclinando-se sobre ela, apoiando as mãos no chão. — Mas estamos bêbados, . Não é uma boa ideia e você sabe disso.
O olhar dele era sério, mesmo com o corpo clamando pelo dela.
— Tudo bem! — suspirou, acariciando os ombros dele com um toque provocante.
— Você não tem jeito... — comentou entre risadas, deixando-se cair de novo ao lado dela.
— Podemos só... ficar assim? Abraçados? — perguntou, já se aconchegando com a cabeça em seu peito, como se nem precisasse da resposta.
— E eu lá tenho escolha? — disse, rindo baixo ao perceber que ela nem esperou ouvir um "sim".
O silêncio se instalou, confortável. logo notou que havia apagado nos braços dele. Ainda assim, começou a acariciar os cabelos dela, macios e perfumados.
Para ele, dormir foi mais difícil. A mente ainda borbulhava com os acontecimentos da noite. Odiava como só o desejava sob efeito do álcool. Lembrou do Natal, do beijo que ela não hesitou em retribuir, do pedido sussurrado para que fosse dele.
Era aquela que ele queria, não a versão bêbada e impulsiva.
Por mais que desejasse tê-la — e Deus, como desejava. Não conseguiria transar com ela daquele jeito. A verdade é que, embora tivesse dito que estavam bêbados, a desculpa não era tão verdadeira assim. estava apenas levemente tonto, pois já tinha acostumado a beber bourbon. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Queria. Mas jamais colocaria ela nessa posição.
Mesmo com a tentação de tê-la ali, sem calcinha, grudada em seu corpo, lutou contra os próprios impulsos até o sono vencê-lo. Durante a madrugada, ela se mexia, virava, falava palavras desconexas, mas invariavelmente acabava se agarrando a ele de novo. Ele resmungava, mas no fundo, adorava.
Horas depois, os primeiros raios de sol invadiram a sala sem a menor cerimônia. soltou um gemido preguiçoso, ainda sonolenta. Foi aos poucos percebendo a presença de alguém ao seu lado. Abriu os olhos devagar.
Seu coração disparou.
Ali estava , sem camisa, dormindo serenamente ao seu lado. Por um segundo, ela não entendeu nada. Se sentou rapidamente, tentando organizar os pensamentos. Observou o peito dele subir e descer com a respiração lenta. Aquilo, de certo modo, a acalmou.
Era estranho vê-lo tão natural. Sem as linhas de expressão contraídas, sem os olhos ferozes que usava toda vez que eles discutiam. O sol batendo no rosto dele o deixava quase... bonito demais. Ela sorriu.
Mas logo o sorriso sumiu quando percebeu que... ainda estava sem calcinha.
O pânico voltou. Olhou para , depois para a garrafa de whisky e as duas de vinho ali ao lado, todas vazias. As peças começaram a se encaixar e o desespero foi instantâneo.
— NÃO! — gritou.
— Quê? Que foi?! — ele acordou assustado, tateando ao redor, ainda meio perdido.
— Pelo amor de Deus! Me diz que a gente não transou! — ela falou ofegante, se levantando em um salto.
— O que você está falando? — perguntou, bocejando enquanto se sentava, confuso.
— Eu estou sem calcinha, você sem camisa... isso significa que... — o encarou, aflita.
— Fica tranquila, ! — respondeu, agora mais desperto e sério.
— Tranquila? , pelo amor de Deus! — gesticulava sem parar.
— A noite foi ótima, mas a gente não transou — afirmou, impaciente.
— "Ótima"? Como assim ótima?! — rebateu, desconfiada.
— Ah, pelo amor de Deus! — revirou os olhos. — Você estava tão mais legal ontem, quando queria dar pra mim. — soltou com ironia, se levantando.
— Por que eu tinha que nascer assim? — exclamou, dramática, olhando para o teto.
— Atirada? — provocou, cruzando os braços. — Você precisa se manter longe de homem quando bebe. Sério. Se eu tivesse te comido ontem, talvez você lembrasse. — ironizou.
— Sabe que eu te odiaria mais se tivesse feito isso. — estreitou os olhos.
E recordou que foi exatamente por esse motivo que não fez nada.
— Eu sei. — mordeu o interior da bochecha. — Mas, pelo menos me diga que lembra que eu te toquei ontem? — indagou a garota.
— Eu... — fez um bico.
lembrava bem, mas, dispersou os pensamentos e apenas assentiu com a cabeça.
— Ótimo! — bufou. — Gostaria de ressaltar que apenas fiz porque você queria. — apontou o dedo para ela.
— Eu estava bêbada! — reclamou.
— E foi por isso que eu parei. — retrucou.
— O que quer dizer? — perguntou confusa.
— Se você quisesse dá para mim sóbria , eu faria você nunca mais desejar outro homem na cama. — sorriu de forma sacana e a garota revirou os olhos.
— E lá vamos nós mais uma vez, você e seu ego gigante. — fez uma cara de nojo.
— Quer tentar? — umedeceu os lábios e recebeu um olhar condenável. — O que? Não sou eu que ainda está sem calcinha. — levantou as mãos em sinal de defesa.
— Você pode parar com isso? — questionou irritada e não pode evitar soltar uma gargalhada.
— Adoro quando fica nervosa assim. — falou despropositadamente.
não sabia, mas ele realmente gostava de vê-la sem jeito por causa dele. No fundo, a implicância constante tinha um propósito: arrancar qualquer migalha que não fosse ódio. sabia que ela não se irritava por detestá-lo, e sim pelo tesão que sentia. E era por isso que ele a atiçava cada vez mais.
— Vamos só cortar esse papo. — foi direta, ácida. — Que horas são? — o encarou, ainda com a cabeça girando levemente.
A pergunta o fez, automaticamente, olhar para o pulso dele. levantou o braço e viu o vidro do relógio rachado. Seu semblante mudou de imediato, e percebeu.
— O que foi? — perguntou, preocupada.
— Está quebrado... — murmurou, engolindo a vontade de chorar.
Ela soube, ali, que não era um relógio qualquer.
— Posso ver? — estendeu as mãos com cuidado. — Olha, não está quebrado, só rachou um pouco. Consegue ver? — segurou o pulso dele com delicadeza, mostrando o ponteiro ainda se movendo. — Ainda funciona. — sorriu com os olhos, tentando acalmá-lo. — Sei que é caro, mas dá pra trocar o vidro, se quiser.
apenas assentiu, soltando devagar as mãos dela. Às vezes era difícil lidar com aquele lado mais meigo de . Mas ele se surpreendia com a forma como ela, mesmo de ressaca e confusa, conseguia notar o que era importante para ele e o acalmar antes que algo dentro dele quebrasse de vez. Aquele era o relógio do avô dele. O único objeto de valor sentimental que ainda carregava. Só tirava para tomar banho, já que não era à prova d’água.
— Espera... — ela piscou várias vezes, voltando a encarar o relógio. — ... que horas é a nossa reunião com o novo cliente?
— Oito e meia, eu acho. — respondeu, dando de ombros, sem muito entusiasmo.
— Então a gente deveria estar no escritório há mais de meia hora! — gritou, os olhos arregalados.
— Como assim? Mas ainda são... — ele voltou o olhar para o acessório e congelou. Não conseguiu nem terminar a frase. — Merda! Carter vai nos matar. — passou a mão pelos cabelos, desesperado.
— Certo! — ela se recompôs. — Eu vou me arrumar, e você veste a camisa AGORA. A gente pega meu carro e vai direto pra agência!
apenas assentiu. Mas antes que ela desaparecesse em direção ao quarto...
— ? — chamou, hesitante.
Ela se virou.
— Onde você colocou minha camisa?
— O quê? — franziu o cenho.
— Ontem você derrubou vinho nela... depois ela sumiu.
— Quem, em sã consciência, deixa uma bêbada lavar sua camisa?! — exclamou, lembrando vagamente da cena. — Homens! — resmungou, correndo em direção à lavanderia e foi atrás.
— Eu não imaginava que você ia realmente colocar na máquina! — disse ao alcançá-la.
o lançou um olhar fulminante.
— Ah, qual é, ! Você estava mais sóbrio do que eu. — reclamou, abrindo a porta da máquina. — Sabia! — falou, frustrada, puxando a camisa ainda encharcada de dentro.
— Por que está brava comigo? — franziu o cenho. — Foi você quem me chamou pra beber! — justificou. — E nós estamos apenas perdendo tempo, vou para minha casa e de lá subo para reunião. — forçou um sorriso.
— Vai para sua casa? Sério? Acha mesmo que dá tempo de tomar banho, se trocar, atravessar a cidade e subir para o escritório antes do Carter começar a reunião? — respirou fundo. — Se Carter imaginar que chegamos atrasados por que bebemos na noite anterior, o que você acha que vai acontecer? — disse, com os nervos à flor da pele.
Ele hesitou.
— E o que a gente faz agora? Eu vou sem camisa? — levantou as sobrancelhas. — Não tem outro jeito !
— Não me chama assim. — o cortou, irritada. — Acho que tenho uma camisa aqui. Meu irmão deixou da última vez que veio pra cidade. Talvez sirva.
— Você tem um irmão? — perguntou, surpreso.
— Sim. E vocês têm praticamente o mesmo corpo. Acho que dá certo — disse, balançando a cabeça, já indo na frente em direção ao quarto.
a seguiu. Estava claro que não havia outra alternativa.
— Acho que está por aqui... — disse, fuçando nas prateleiras do guarda-roupa.
— ? — ele provocou, de propósito.
— O que?! — bufou.
— Só temos vinte minutos. — escorou-se na porta do quarto que estava aberta.
Ela parou por um segundo, respirou fundo para não cometer um crime, e então...
— Achei! — disse, vitoriosa, puxando uma camisa branca do fundo do armário e a estendendo para ele.
— Não! — foi direto. — Eu não vou usar isso.
arqueou uma sobrancelha.
— Você está recusando uma camisa limpa com um...— ela olhou para a estampa. — “I love New York”?
— Isso é uma piada! — ele exclamou, indignado. — Parece camisa de turista perdido.
— A gente tem vinte minutos. — ela sorriu com sarcasmo, empurrando a blusa em direção ao peito dele. — Escolhas, ou vai vestido de Times Square, ou vai sem camisa e perde o emprego.
— Você disse que ele tinha meu biótipo! — reclamou, sentindo a blusa um tanto apertada no corpo.
— Eu não sabia que você tinha essa quantidade de músculos. — retrucou, caminhando ao lado de pelo corredor até a sala de reuniões.
— Você viu meu abdômen ontem, . — revirou os olhos.
— Sem expectativas. — deu de ombros, indiferente.
— Que porra é essa, ? — Carter disparou, irritado, ao ver a camisa que seu funcionário usava.
— Longa história. — tentou se esquivar.
— Onde vocês dois estavam? — questionou, visivelmente irritado.
— Você não vai querer saber. — o fitou com cinismo, fazendo o chefe respirar fundo.
— Estão atrasados. Por favor, não façam mais isso. Não quero ter que demitir meus dois melhores funcionários de uma vez. — lançou um olhar sério para ambos, que assentiram em concordância.
Carter virou-se e seguiu para a sala de reuniões, sendo acompanhado por eles.
Assim que adentrou o espaço, paralisou, e acabou esbarrando nela sem querer. Rapidamente, percebeu que ela não estava bem. Os olhos arregalados, a respiração pesada e o corpo tenso. Seguiu o olhar da morena até o loiro sentado à mesa de negócios com um sorriso branco escancarado.
— Vocês já podem se sentar, eu não tenho muito tempo. — o homem riu, sem graça.
— ? — sussurrou, chamando-a. — Você está bem?
Ela saiu do transe quando ele tocou em seu braço.
— Sim. — balançou a cabeça repetidamente, tentando se recompor.
— Vamos sentar, então. — sugeriu.
De todas as coisas que poderiam acontecer naquele dia, aquela era a última que esperava. Seu ex, herdeiro das empresas Crawford, havia conseguido encontrá-la, mesmo dentro de uma entre tantas agências publicitárias em Nova York. Aquilo parecia uma piada de mau gosto ou um castigo.
A ansiedade tomou conta dela. O suor escorria por seu corpo, a perna tremia descontroladamente. A presença de Adam, depois de tanto tempo, a deixava desconcertada. Não sabia como agir, muito menos queria trabalhar com ele. Estar por perto já era sufocante, quanto mais manter uma postura profissional.
Ela se sentia como uma presa acuada diante de um lobo faminto. A sensação de que sua vida se tornaria um inferno dali em diante a dominava. Fechou os olhos, tentando conter o nó na garganta e as lágrimas que insistiam em se formar. nunca ficara nervosa com nenhum cliente, por isso, só poderia se tratar de alguém realmente influente. E, se algo saísse errado, a agência poderia pagar caro.
nunca a tinha visto daquele jeito. Preocupado, ele apenas encostou a mão no joelho dela, por debaixo da mesa, fazendo com que a tremedeira cessasse. Pouco a pouco, foi voltando ao controle. A morena o olhou e, discretamente, gesticulou um “obrigado” com a cabeça.
— Talvez vocês me conheçam. — o loiro sorriu, lançando um olhar direto para , que desviou os olhos.
Definitivamente, algo estranho estava acontecendo ali. tinha certeza.
— Meu nome é Adam Crawford. — umedeceu os lábios antes de continuar. — Eu sou...
— Herdeiro de uma das maiores empresas imobiliárias de Nova York. — o interrompeu. — Uau!
— Vejo que fez o dever de casa. , certo? — Adam sorriu, olhando diretamente para ele. O rapaz assentiu. — Ótimo. Vai ser um prazer trabalhar com vocês. — disse com seriedade.
Na verdade, ele não havia feito dever algum. Era praticamente impossível viver em Nova York e não saber quem era Adam Crawford. Mesmo sem conhecer seu rosto, sabia de quem se tratava. E aquilo explicava o nervosismo de , mesmo que ele ainda não soubesse da relação entre os dois.
Crawford era poderoso o suficiente para arruinar reputações com um estalar de dedos.
— Pode nos apresentar qual será a proposta? — perguntou, tentando manter a formalidade.
— Não vai ser necessário. — Carter o interrompeu. — O senhor Crawford já me passou tudo o que sua empresa deseja, e eu escolhi vocês dois para liderar essa conta. Sei que vão trabalhar exatamente como ele espera. — o chefe sorriu amigavelmente.
mordeu a parte interna da bochecha ao ouvir aquela frase. A última coisa que queria era estar no mesmo ambiente que Adam, quanto mais trabalhar para ele. Claramente, não estava preparada. A presença dele a sufocava. O ego, inflado e dominante, parecia grande o bastante para engoli-la por completo.
— Antes que eu me esqueça, será o aniversário da nossa empresa nesta sexta-feira. Seria interessante se vocês fossem. — Adam gesticulou com as mãos.
— Eu não acho que isso seja necessário, senhor Crawford. — se manifestou pela primeira vez, e olhou para ela, desconfiado do tom passivo-agressivo entre os dois.
— Não seja boba, ! — Carter riu sem graça. — Claro que estaremos lá! — confirmou, olhando para o loiro.
— Sei que esse mundo empresarial é péssimo, mas faço questão de proporcionar uma das melhores noites da sua vida, senhorita . — Crawford sorriu de forma maliciosa, deixando-a visivelmente enojada.
Com isso, Adam se despediu e deixou a sala ao lado de Joseph. fechou os olhos com força, finalmente conseguindo respirar. Detestava demonstrar fraqueza, diante de qualquer pessoa, porque sabia que, de alguma forma, isso sempre voltava contra ela.
— Por que está tão nervosa? — perguntou, confuso, virando a cadeira em sua direção.
— Nada. — fungou.
— ? O que está acontecendo? — insistiu.
— Eu disse que nada. — respondeu com a voz falha.
— Tudo bem. — levantou as mãos, rendido. — Vou trabalhar. — ergueu-se da cadeira, incomodado, mas sem tempo para lidar com o drama alheio.
— ... — ela segurou a ponta do dedo indicador dele, impedindo-o de sair da sala.
O pequeno gesto foi suficiente para fazê-lo parar.
sempre conseguia desconcertá-lo com muito pouco. Ao contrário dela, não escondia bem seus pontos fracos. Ela talvez não soubesse exatamente quais eram, mas já percebera que havia um lado doce nele, e isso bastava.
— Ele é meu ex-namorado. — revelou, desconfortável.
— O quê? — ele disse surpreso, sentando-se novamente. — Como você namorou um Crawford? — franziu o cenho.
— É uma longa história. — baixou a cabeça. — E eu não quero tocar nesse assunto.
— Mas por que está tornando isso algo tão grande? Ele é só um ex! — deu de ombros. — Eu sei que é um saco trabalhar...
— Ele não foi um bom namorado. Logo, não é um ex que quero ter por perto. — engoliu seco.
Naquele momento, entendeu que a situação era bem mais grave do que havia imaginado. De algum modo, Adam tinha ferido e saído impune. O dinheiro o protegera, como tantas vezes vira acontecer com o próprio pai. E isso o enojava.
— O que ele te fez? — questionou, com raiva evidente no olhar.
— Por que está me olhando assim? — ela recuou, assustada.
— O que ele fez, ? — insistiu, travando o maxilar.
Mesmo sem saber os detalhes, o desejo de era claro. Fazer justiça. Vingá-la. Imaginava o quanto ela deve ter lutado, recorrido a todos os meios, e ainda assim, sem conseguir se defender, enterrou aquela história para poder seguir em frente.
— Ele me bateu algumas vezes... — confessou, baixinho.
— Covarde! — a interrompeu, levantando-se num rompante e indo em direção à porta.
— O que está fazendo? — foi atrás dele, agarrando-o pelo braço.
— Eu vou encher esse idiota de porrada. — soltou-se, furioso.
— Você enlouqueceu? — segurou-o novamente, firme. — Levei muito tempo para enterrar essa merda de burburinho e impedir que isso prejudicasse minha carreira. Então, não espere que eu vá deixar um lunático emocionalmente descontrolado acabar com tudo. — estreitou os olhos, irritada.
— Mas, ...
— , não! — ela o soltou devagar, tentando acalmá-lo. — Eu tentei antes. É em vão. — forçou um sorriso. — Mas está tudo bem...
O toque do celular a interrompeu. Tirou o aparelho da bolsa, e o nome de Max apareceu na tela, o que a intrigou. Haviam combinado de se encontrar apenas no dia seguinte, mas a curiosidade venceu.
— Max? — atendeu, enquanto observava.
— Eu sei que você está no trabalho, e me perdoe por isso. — a voz do outro lado da linha soou hesitante — Mas, surgiu um imprevisto, e eu vou precisar ir para Chicago amanhã bem cedo. Liguei para saber se podemos nos encontrar hoje.
— Você quer dizer depois do expediente? — colocou a mão na cintura, enquanto tentava assimilar a conversa.
— Seria ótimo para mim. Estou louco para te ver de novo. — ele sorriu ao lembrar da morena.
gostaria de dizer o mesmo, mas estaria mentindo.
— Pode ser... — respondeu, fazendo um leve bico.
— Parece que alguém não está muito animada. — ele riu de forma nasal. — Podemos deixar para quando eu voltar, sem problemas. — tentou ser gentil.
— Desculpa... o dia hoje não está sendo dos melhores aqui no trabalho. — explicou, virando de costas para para que ele não ouvisse mais do que deveria. — Mas também quero te ver.
— Me manda seu endereço. Te pego assim que você estiver livre. — disse ansioso, antes que ela assentisse e encerrasse a ligação.
— Quem é Max? — a encarava com desconfiança.
— Não é da sua conta. — empurrou-o levemente pelo ombro. — Volte a trabalhar. — gesticulou com a mão e saiu da sala.
Durante o resto do dia, permaneceu inquieto em seu escritório, remoendo a conversa. Quem era esse tal de Max? Por que ele nunca ouvira falar dele? Seria um caso recente? Ou... algo mais sério? As perguntas o corroíam. As borboletas no estômago tornaram-se um incômodo constante, minando sua concentração.
— Ela não me chamaria para tomar um vinho se tivesse algo sério com alguém. — resmungou para si mesmo, batendo a caneta freneticamente na mesa. — Isso não faz sentido... não combina com ela!
Tentando se convencer, preferiu acreditar que o tal Max era apenas um passatempo. Se fosse algo sério, teria chamado o cara para sua casa, não ele. Sorriu, sem jeito, ao perceber que, mesmo com outro atrás dela, ela preferiu estar com ele.
— Mesmo me odiando, você quis estar comigo, ... — soltou a caneta sobre a mesa. — Isso significa que você se importa? — fitou a lixeira ao lado esquerdo, como se ela pudesse oferecer respostas. — Por que eu estou pensando nisso? — reclamou, sacudindo a cabeça. — Recomponha-se, . — endireitou-se na cadeira.
Mas, apesar das tentativas, não conseguia se concentrar. A ideia de outro homem tocando da mesma forma que ele tocou, com aquela intensidade, aquela entrega. Era enlouquecedora. Não deixaria isso acontecer. Ela podia odiá-lo, mas enquanto fosse o único capaz de fazê-la sentir o que sentiu, não daria espaço para que outro a ferisse... ou tomasse seu lugar.
Levantou-se de súbito e seguiu até o escritório dela. Não fazia ideia do que estava fazendo, mas tinha certeza de uma coisa. Não deixaria que ela encontrasse Max. De jeito nenhum. Ao chegar à porta, respirou fundo antes de tocar a maçaneta, procurando uma justificativa racional para sua impulsividade, mas acabou recuando. No exato instante em que se virou, deu de cara com Sean.
— Ia falar com a ? — o jovem perguntou, e ele rapidamente negou com a cabeça.
— Eu ia pedir para avisar que o Carter está chamando ela, mas posso fazer isso. — sorriu, prestativo.
— Pode deixar. — o impediu, erguendo as duas mãos. — Aproveito pra falar com ela sobre uma coisa que vi no contrato da empresa Crawford. — assentiu, encontrando aí sua desculpa perfeita.
Entendeu aquilo como um sinal do universo. Um motivo qualquer que o autorizava a impedir aquele encontro. Sentiu-se aliviado, como se tivesse acabado de validar a própria invasão emocional com uma desculpa técnica.
Bateu três vezes na porta antes de abri-la.
— ? — chamou, e ela tirou os olhos do celular, voltando-se para ele.
— Quando vai parar de me chamar assim, ? — bufou, irritada.
— Nunca. — entrou em sua sala e deu de ombros. — Carter está te chamando. Acho que é algo importante. — passou o recado de Sean.
— Espero que não seja mais problemas... — suspirou, largando o celular sobre a mesa. Saiu da cadeira e caminhou até a porta.
— ? — segurou sua mão por um instante, e logo a soltou. — Preciso falar uma coisa com você. — coçou a cabeça, claramente desconcertado.
— Tudo bem. — engoliu seco ao sentir o toque inesperado. — Não acho que vá demorar. Pode esperar aqui, se quiser. — forçou um sorriso e saiu.
permaneceu na sala com as mãos nos bolsos, inquieto. Aguardava a volta dela enquanto tentava, sem sucesso, encontrar argumentos lógicos para convencê-la a não sair com outro cara. O ciúme o consumia. Detestava admitir, mas era isso. E só de encarar essa verdade, já se sentia desequilibrado.
Começou a se perguntar se era justo sentir ciúmes de alguém que o odiava, considerando tudo o que havia acontecido entre eles. Moveu o pescoço de um lado para o outro, tentando aliviar a tensão que dominava sua mente. Seus olhos rodaram o ambiente mais uma vez, até pararem sobre a escrivaninha de .
— Por que deixou o celular dando sopa? — murmurou, aproximando-se e pegando o aparelho nas mãos. — Isso é errado, ! — reclamou consigo mesmo, colocando-o de volta no lugar. — Foda-se! — rosnou, e o pegou de novo.
Logo de cara, viu uma foto dela sorrindo de forma doce.
— Até parece que você é assim. — revirou os olhos.
Inicialmente, ele não sabia o que procurava. Tentou desbloquear o aparelho da mesma forma que havia feito com o notebook, mas não teve sucesso. Provavelmente ela mudara a senha depois que ele reclamou da sequência numérica fácil demais. A garota era péssima com números, talvez por isso usasse o reconhecimento facial sempre que podia.
— Ao contrário? — murmurou, digitando 654321. O telefone desbloqueou. — Tão previsível! — soltou uma risada fraca.
Imediatamente, abriu o aplicativo de mensagens e procurou desesperadamente pelo nome "Max". Tentou controlar a irritação ao ver a conversa. O jeito como o cara falava com ela, como se fosse um troféu ou uma meta pessoal, o enojou. Aquilo passava dos limites até para ele.
— Você ao menos é bonito? — murmurou, rolando a tela, e então começou a digitar:
“Hey Max, ao que parece vou ficar presa aqui por um bom tempo. Me desculpa por ter que cancelar nosso encontro!! :( ”
Mordeu o lábio, rindo da própria audácia, mas quase deixou o celular cair quando ele vibrou. Max respondeu rápido, o que só confirmou o quanto estava interessado.
“Não acredito! Estava ansioso para te ver. Mas fica para próxima. Não demorarei por Chicago, pois, tenho evento empresarial ainda essa semana aqui.”
— Cala a boca! — bufou, revirando os olhos.
Logo em seguida, apagou a conversa para não deixar rastros. Recolocou o celular exatamente como estava e saiu do escritório sentindo-se vitorioso. Se não fosse dele, não seria de mais ninguém. Isso, ele tinha certeza. Mas, ao fechar a porta, deu de cara com a própria chegando.
— Onde você está indo? — ela franziu o cenho. — Você disse que precisava falar comigo — completou, confusa.
— Acabei resolvendo com o Sean. — respondeu, sorrindo de um jeito doce.
— O que deu em você? — arqueou a sobrancelha, desconfiada.
— Sabe, ... você me odeia — ele inclinou a cabeça, aproximando-se. — Mas acordar com você nos meus braços me fez perceber que eu consigo fazer qualquer coisa. — sussurrou perto do rosto dela, fazendo-a se sobressaltar.
— Fica quieto! — repreendeu. — Quer que as pessoas saibam que dormimos juntos? — disse, irritada.
— Mas a gente não dormiu... ainda! — piscou maliciosamente, sorrindo de lado com segundas intenções.
— Cresça! — empurrou-o de leve e entrou no próprio escritório.
sabia exatamente o que havia feito, e não sentia um pingo de arrependimento. Sabia que logo receberia uma ligação dela, furiosa, e estava contando os segundos para que isso acontecesse. Para , aquele havia sido um dia longo. O reaparecimento do ex, o convite de Max e o comportamento insuportável de ... tudo somado a uma tensão constante.
Adam, para ser sincera, já não a preocupava como antes. Faria seu trabalho independentemente dos dramas passados. Sobre Max, a verdade é que não estava muito animada. Ainda tentava digerir tudo o que acontecera com na noite anterior, e, sinceramente, não estava com vontade de transar com ninguém. Sabia que Max não a chamaria para outra coisa.
Mesmo assim, aceitou sair. Queria se distrair, beber alguma coisa. Nos últimos dias, o álcool tinha sido o que a movia.
Esperou o relógio marcar sua saída, foi para casa e mergulhou na banheira por longos minutos. Depois, colocou uma música animada para tocar e começou a se arrumar. Sempre acreditou que tudo melhorava se dançasse um pouco. Passado um tempo, finalizou a maquiagem com seu melhor batom vermelho e se admirou no espelho por alguns segundos. Estava pronta, seja lá o que a noite reservasse.
Escolheu a bolsa, pegou o celular e digitou uma mensagem para Max:
“Eu estou pronta, vou te mandar a localização.”
Quando estava prestes a compartilhar o endereço, o celular começou a tocar.
— Alô? — atendeu.
— Achei que você ficaria presa até mais tarde — disse Max, confuso.
— Sobre o que está falando? — franziu a testa, surpresa.
— Você me mandou uma mensagem mais cedo dizendo que não conseguiria sair a tempo do jantar hoje, não lembra? — ele riu, sem jeito.
Ela ficou em silêncio por um momento. Não se lembrava de ter feito isso, porque não tinha feito. O sorriso de deixando seu escritório horas antes veio imediatamente à mente.
Respirou fundo para não surtar. Sabia que ele era um idiota, mas não imaginava que fosse tanto.
— Me desculpa, Max. Hoje foi um dia puxado. Acabei esquecendo — tentou justificar, sem graça.
— Não precisa se preocupar. — ele respondeu, tentando tranquilizá-la. — Só não passo aí porque adiantei uma reunião. Mudei todo o meu cronograma — riu fraco, mentindo descaradamente, pois, estava com outra garota ao lado.
— Fica bem, então! — disse, encerrando a chamada.
Entre todas as coisas que já tinha feito, aquela havia sido a mais invasiva. Desmarcar um encontro sem deixar pistas do que havia feito, foi o cúmulo. E o pior: com o cinismo de sempre, como se tivesse feito um favor.
Furiosa, discou o número dele na hora. E, claro, ele atendeu quase que imediatamente.
— Eu estava esperando que você me ligasse. — disse ele, sorrindo do outro lado da linha, enquanto caminhava.
— Como adivinhou a senha do meu telefone? — ela perguntou, furiosa.
— Não é minha culpa se você é a pessoa mais previsível que eu conheço — retrucou com sarcasmo.
— Quem te deu permissão para fazer essa merda, ?! — gritou.
— Não precisa ficar assim. Eu te livrei de uma! — estalou a língua, irritantemente calmo.
— ! — inspirou profundamente, controlando o impulso de arremessar algo. — Onde caralhos você está? — pegou a bolsa e saiu em disparada do loft. — Eu juro por Deus! Eu vou te matar hoje à noite! — bradou, abrindo a porta com violência.
E, um segundo após, estava cara a cara com ele.
— Hey, ! — sorriu, desligando a ligação.
— Você é a porra do meu problema, ! — a segurou pelos braços e a encarou firme.
Os cabelos da morena estavam emaranhados por causa da agitação dos últimos segundos. ainda a mantinha presa, tentando fazê-la se acalmar e encará-lo. Por mais que ela tentasse se soltar, sabia que jamais teria força suficiente para lutar contra um homem daquele tamanho. Então, aos poucos, foi cedendo.
— O que quer dizer com isso? — ela o fitou, confusa.
— Não vai mais me bater? — arqueou as sobrancelhas e, ao vê-la negar com a cabeça, soltou-a.
— Por que você sempre precisa atrapalhar a merda da minha vida? O que diabos eu te fiz, ? — bufou, exaltada.
— Me desculpa... — ele desviou o olhar.
Por mais que não se sentisse nem um pouco arrependido, achou que a melhor saída naquele momento era pelo menos parecer arrependido. Mesmo acreditando que havia um certo sentido no que tinha feito, ele não sabia como explicar para que a simples ideia de vê-la com outro homem o tirava completamente do eixo. Aquilo havia sido... automático.
— Te desculpar? — ela perguntou, chateada. — Por que você estragaria um encontro? Em que isso te afetaria? — apertou os lábios, ameaçando levantar a mão novamente.
— Você disse que não ia me bater. — ele a repreendeu com o olhar.
— Só queria entender o motivo...
— Ele não presta! — a interrompeu.
— E você sabe disso como? Por acaso tem uma bola de cristal? — cruzou os braços, sarcástica.
— Se ele realmente quisesse te ver, teria insistido! — resmungou.
— Talvez ele não teve escolha, não acha? Aliás, o que exatamente você disse a ele? — ela franziu a testa, fazendo um leve bico.
— Que você ficaria presa no trabalho. — respondeu cabisbaixo.
— Inacreditável! — revirou os olhos, exasperada.
— Ele poderia ter insistido, pedido o endereço do seu trabalho, levado comida para você. Exatamente como eu fiz no Natal. — a olhou, aborrecido.
Na hora, não soube por que aquilo fazia sentido. Se , que afirmava não gostar dela, foi capaz de fazer esse tipo de coisa, por que Max, que dizia estar interessado, não fez o mesmo? E mais, o que estava realmente querendo dizer com tudo aquilo? Ele quis estar com ela no Natal, por vontade própria?
— Tem pessoas que, ao contrário de você, respeitam o espaço dos outros. — desconversou.
— Ele poderia ter feito algo, . — gesticulou com as mãos. — Se ele realmente te quisesse...
— E como eu saberia disso, se você apagou a porra das mensagens? — ela o censurou, irritada.
— Isso não vem ao caso... — ele tentou se justificar.
— Sério? — o fitou, incrédula. — Então me explica uma coisa, por que um homem me beijaria se não tem interesse em mim? As contas não batem. — questionou, desafiadora.
— Você... você o beijou? — perguntou, visivelmente desconfortável.
— O que você tem a ver com isso, ? — estreitou os olhos.
— Ele só quer te foder! — exclamou, exasperado, assustando .
— E se eu quiser só dar pra ele? — forçou um sorriso, completamente sem paciência para aquele interrogatório.
— Você não pode! — retrucou, irritado.
— Ok! — ela respirou fundo, tentando manter a calma. — Além de pegar meu celular sem permissão, desmarcar um encontro, agora quer decidir com quem eu devo transar? — hasteou o dedo indicador, indignada.
— A ideia de outro cara tocando em você está me deixando louco. — cuspiu as palavras, deixando sem reação. — Não foi isso que eu... Bem, o que eu quero dizer é... — passou as mãos pelos cabelos, girando no mesmo lugar, completamente perdido.
Quando se deu conta do que acabara de dizer, ficou paralisado. O medo começou a percorrer suas veias. Ele sabia que aquele não era o tipo de comportamento que esperava dele. E se ela não interpretasse aquilo de uma forma minimamente receptiva, estaria ferrado.
— ... — suspirou. — Desde o nosso beijo no Natal...
— Para! — o interrompeu, chocada.
Ela estava mesmo ouvindo o início de uma confissão?
— Você precisa me ouvir. Eu não sei mais com quem falar sobre isso. — ele suplicou.
— Eu não quero ouvir. — ela tampou os ouvidos.
— Eu só queria saber se você está sentindo se sentindo tão confusa quanto eu. — ele franziu o cenho, vulnerável.
— Não. Não estou. — sorriu sem mostrar os dentes e balançou a cabeça rapidamente.
— Você nem sabe o que eu ia dizer. — revirou os olhos, impaciente.
— ! — ela o empurrou suavemente, buscando espaço entre eles. — Você definitivamente precisa de álcool. — apontou para ele, trancando a porta atrás de si. — Vamos! — segurou sua mão e tentou arrastá-lo até o elevador.
— Você poderia me ouvir? — ele a puxou de volta, segurando-a pela cintura, suavemente.
Era impossível dizer “não” para ele naquele momento.
Nunca o viu daquela forma: tão vulnerável, tão exposto.
O olhar de estava sereno, sem malícia, apenas ele — inteiro e verdadeiro — diante dela. Seus olhos pairaram sobre com uma doçura quase sufocante, como se estivessem implorando por algo. E para ... poderia ser qualquer coisa, visto o quão anestesiada ela estava com a situação.
— Toda vez que algo acontece entre nós... — ele hesitou, envergonhado. A morena o tocou no ombro, como se lhe desse coragem para continuar. — Sempre tem álcool envolvido... ou muita raiva. — pigarreou. — No Natal, a gente não estava bêbado, mas eu estava furioso com você... e, de alguma forma, isso me deu muito tesão. — confessou.
— Eu sei como é... eu também senti isso. — riu sem graça, tentando se soltar, mas ele não a deixou ir.
— Na segunda vez que nos beijamos, você estava alcoolizada... — continuou, e ela quis interrompê-lo.
— Por falar nisso... me desculpa por ter vomitado. — disse, envergonhada.
— Eu não deveria ter te beijado, você estava fragilizada. Foi errado. — apertou a cintura dela de leve, procurando as palavras certas.
— Mas você cuidou de mim. — sussurrou, tímida.
— Sim. Eu cuidei. — ele sorriu fraco, lembrando daquela noite.
— , eu não acho que deveríamos... — tentou falar, mas ele a cortou.
— Na terceira vez... eu te toquei. — aproximou ainda mais o corpo dela do seu. — Eu quis muito aquilo, . — olhou para cima, engolindo seco, antes de encará-la de novo. — Te ver daquela maneira... tão entregue... você não faz ideia do quanto aquilo mexeu comigo. Nunca quis tanto foder uma mulher na vida. — riu nervoso, tentando disfarçar o impacto das próprias palavras.
esperava tantas coisas de , mas nenhuma delas envolvia o fato de ele confessar o desejo sexual que sentia por ela. Não sabia se era isso exatamente o que ele estava tentando dizer, mas, àquela altura do campeonato, já não tinha mais nenhuma carta na manga para usar contra ele e, para ser sincera consigo mesma, talvez nem quisesse.
— Mas... — o incentivou a continuar.
— Mas você estava tão alcoolizada quanto eu. — justificou-se. — Eu tinha certeza de que acordaria me odiando no dia seguinte. E eu não estava bêbado o suficiente para apenas fingir que nada aconteceu. — deu de ombros.
— Por que não tenta agora? — arrastou as mãos dos ombros dele até o pescoço.
congelou.
— O quê? — perguntou, desconcertado.
— Não estamos bêbados. Nem furiosos um com o outro. Ainda sente vontade de me beijar? — cravou os olhos na boca dele, depois subiu até os olhos.
— Eu queria te beijar para saber se isso é apenas...
— Carência ou algo que você realmente quer? — completou, incisiva.
Por que ela tinha que ser tão direta? Será que não percebia como aquilo era difícil para ele? E por que, diabos, ela parecia tão tranquila com tudo? As perguntas rodavam a cabeça dele com uma velocidade insana. Estava tão desorganizado por dentro que mal sabia como dar o primeiro passo.
— Eu não sei como fazer isso. — bufou. — É mais fácil quando você está brava comigo. — baixou a cabeça, fazendo-a rir.
— Se eu estiver com raiva, como vamos descobrir o que realmente está sentindo? — questionou, tombando a cabeça para o lado.
— Então... você poderia... você sabe... — desviou o olhar.
— Tomar a iniciativa? — arqueou as sobrancelhas, direta como sempre.
— Isso! — engoliu em seco, ansioso.
puxou o rosto dele para mais perto e começou a respirar pesado, mesmo sem perceber. Isso sempre acontecia quando estava perto de . E se antes ele já estava nervoso, agora que sentia a respiração dela sobre si, estava ainda mais. Tentava disfarçar o suor nas mãos, limpando-as discretamente no tecido macio do blazer dela. Quando ameaçou encostar os lábios nos dele, ele recuou.
— Seu batom... é vermelho! — tentou fugir.
— E o que tem? — ela riu, confusa.
— Vai borrar toda sua boca. — disse, gesticulando vagamente para o rosto dela.
— ... — o fitou séria.
— É só que eu...
Ela não pensou duas vezes antes de colar a boca na dele, e foi a única coisa que o fez se calar. Os olhos dele ainda estavam abertos, as pupilas dilatadas. Ao sentir os lábios aveludados de , um arrepio percorreu seu corpo. Era diferente dessa vez. Não era um beijo como os outros.
não acreditava que estava beijando seu inimigo, mas como resistir a um tão vulnerável, tão claramente desejando-a do jeito que ela sempre quis ser desejada? Nunca assumiria sentir tesão por ele, não daria esse presente ao ego inflado de , jamais. Tê-lo assim, daquele jeito, já era o suficiente, ela o mantinha em um lugar onde jamais permitiria que ele a colocasse.
logo pediu passagem com a língua, e ela permitiu. Trocaram carícias intensas, e o beijou tornou-se mais urgente. Estava tão óbvio que aquilo não era só carência, mas nenhum dos dois jamais admitiria. Talvez por isso se beijassem com tanta intensidade, tentando sufocar a verdade.
As mãos dele deslizavam pelas costas dela, até se entrelaçarem nos fios macios de seu cabelo. Puxou-os com firmeza e mordeu o lábio inferior de , que aproveitou a brecha para recuperar o fôlego. Logo ele voltou a beijá-la, agora de forma mais lenta, esfregando os lábios nos dela, desacelerando o ritmo entre ambos.
— Você sentiu algo? — perguntou, ainda ofegante.
— Definitivamente não. — ele respondeu, fitando seus olhos castanhos.
— Conseguiu a resposta que queria? — afastou-se um pouco.
— Acho que sim. — disse, confuso, soltando-a.
— Ótimo! — ela sorriu. — Agora você vai me levar para comer alguma coisa. — começou a limpar os vestígios do batom vermelho ao redor da boca dele, e não pôde evitar sorrir.
— Por que está sorrindo? — perguntou, desconfiada.
Ele estava feliz. E isso era uma novidade. Não sabia explicar o que sentia. Das outras vezes, era mais fácil: “foi só a bebida” ou “é só tesão por você me irritar até o limite”. Mas agora? Agora ele se sentia... bem. E isso bagunçava tudo ainda mais. e felicidade juntos não faziam sentido.
— Está com fome? — ele mordeu o lábio inferior, fazendo-a parar o que estava fazendo.
— Faminta! — respondeu, fitando os lábios dele. — E como você arruinou uma das poucas chances de uma ótima transa pra mim, o mínimo que pode fazer é pagar um lanche. — deu dois tapinhas no peitoral dele e seguiu em direção ao elevador.
Por alguns segundos, pensou em como explicar a ela que um beijo não era suficiente para confirmar o que estava sentindo. Precisava de mais. Precisava dela. Precisava comprovar que não era só desejo, era uma necessidade que estava o consumindo.
— ? — chamou, antes que ela desse três passos pelo corredor.
Ela sabia o que aquilo significava.
Não queria olhar para trás e vê-lo daquele jeito. Faminto, vulnerável, prestes a implorar. Sabia que ceder significava muito mais do que só mais um beijo. E ela estava cansada de se arrepender depois. Especialista nisso, inclusive. Ficou parada, imóvel, como uma estátua, esperando que algo, qualquer coisa, os interrompesse.
Antes que fosse tarde.
— , eu estou...
— , apenas vamos! — ameaçou continuar andando.
— Eu estou mandando você olhar pra mim. — a provocou.
— Quem você pensa que é pra mandar em mim? — virou-se de repente, o dedo em riste, determinada a colocar em seu lugar, de novo.
Então foi nesse instante que se deu conta do que havia feito. O sorriso malicioso tomava conta dos lábios dele, e pareceu tão convidativo que ela jurou sentir o desejo pulsar só de encará-lo. Ele sabia exatamente como atingi-la, e conseguiu. Ela caiu direitinho.
— Você gosta de ser mandada. — ele se aproximou.
— Você não sabe nada sobre mim. — rebateu com sarcasmo.
— Então por que me olha desse jeito, toda submissa, quando eu falo assim com você? — ele a puxou de repente, pressionando-a contra a parede à direita.
— , com licença! — tentou se esquivar, mas ele não permitiu. — Eu não faço ideia da merda que você tá falando. — franziu a testa, irritada.
— Tem certeza? — soltou a garota, apoiando uma das mãos ao lado da cabeça dela, enquanto a outra deslizou para suas costas.
podia ir embora se quisesse, mas ao mesmo tempo estava encurralada ali e, no fundo, queria ficar.
— ! — bufou. — Você queria provar um ponto, conseguiu. Então...
— Mentirosa. — ele riu baixo, com ironia.
— O quê? — o encarou, sem acreditar.
— Mentirosa. — repetiu, roçando o nariz no pescoço dela. — Me diz que não quer que eu te foda aqui mesmo, agora. — sussurrou contra os lábios dela.
As pernas de vacilaram com aquelas palavras, e pela primeira vez ela não podia culpar o álcool, estava mais sóbria do que nunca. foi rápido ao segurá-la antes que caísse, envolvendo-a em seus braços.
— Não me chame de mentirosa. — murmurou, manhosa, o fitando como uma refém.
— Está vendo como gosta de ser controlada? — umedeceu os lábios.
— Está errado! — retrucou.
— Será? — ela não respondeu, apenas assentiu com o olhar mais entregue que ele já vira. — Para de me olhar assim! — ordenou, deslizando a mão pelas costas dela até apertar sua bunda com firmeza, fazendo-a arfar.
— Assim como? — provocou, deixando a boca entreaberta de propósito, ciente do efeito que causava nele.
— Como se fosse minha. — respondeu, entrelaçando os dedos nos cabelos dela.
— Eu nunca iria querer... — tentou soar indiferente, forçando um sorriso fraco.
Mas ele a interrompeu de imediato.
— Não? — a encarou. — Quer que eu vá embora? — começou a soltar os cabelos dela, devagar.
— Não! — respondeu rápido, com a voz falha, temendo que ele realmente se afastasse.
— Então me peça o que quer. — disse, agarrando-a com força e a levantando num só impulso.
Ela foi, voluntária.
Era isso. nunca se sentiu tão rendida por alguém.
Talvez houvesse mais — desejo, tesão, entrega.
Talvez eles se odiassem, mas seus corpos se encaixavam perfeitamente. E qual era o problema nisso? Não eram sentimentos. Eram só impulsos.
apalpava a bunda dela com uma mão, enquanto ela envolvia suas pernas ao redor da cintura dele e os braços em torno do pescoço. Naquele momento, o corredor era o menor dos problemas, pouco se importavam com o risco de serem pegos, ou com as câmeras de segurança do prédio.
Eram só eles. Ali. Agora.
— Eu quero ser sua. — falou sem hesitar.
Era tudo que precisava ouvir. Todo o desejo acumulado se transformou em urgência. Ele a beijou com fome, como se precisasse prová-la. , entregue, seguia cada movimento como se tivesse esperado por aquilo a vida inteira. Se atacavam sem fôlego, como dois amantes proibidos.
Ele a colocou no chão com cuidado, sem parar de beijá-la, e mordeu seu lábio inferior com força, o suficiente para que deixasse marca. Quando os pés dela tocaram o chão, tirou o blazer dela com lentidão, os olhos fixos nos dela.
— E se nos pegarem? — ela perguntou com a voz trêmula, olhando ao redor.
— Eu não me importo com o que aconteça se eu te fizer minha essa noite. — respondeu, deixando a peça preta cair no chão.
— ... — tentou argumentar, mas ele calou sua boca com dois dedos.
— Tão maravilhosa... — murmurou, com o olhar cravado nos seios dela, realçados pela regata branca de seda. — Tão sedento... — falou de si, antes de distribuir beijos por seu busto.
— Para de me torturar! — grunhiu, impaciente.
— Você gosta! — provocou.
— De você? — chamou a atenção dele, que levantou o rosto para encará-la. — Nunca! — arregalou os olhos com teatralidade.
Levaram dois segundos para caírem na risada. Estavam ali, naquela situação absurda e íntima, ainda negando qualquer sentimento. Mas já sabiam jogar esse jogo. cessou o riso ao buscar a boca dela de novo, roçando os lábios até ela ceder.
Quando o beijo veio, foi avassalador, mais um, sem pausa, sem explicação. puxou os cabelos dele com força, sem saber que gostava tanto de ser selvagem até querer domá-la. Era dele, ali e agora. Onde e como ele quisesse.
levou as mãos ao botão do short de napa dela e o abriu devagar. Em seguida, deslizou o zíper, revelando a calcinha preta de renda. Dedilhou a barra e gemeu baixo, o toque dele estava a consumindo por dentro.
— Ia mesmo dar pra ele? — questionou, apertando-a contra a parede. Ela ficou em silêncio. — Eu estou falando com você! — retirou a mão da calcinha para segurar o queixo dela.
— Eu estou aqui com você. Por que isso importa? — mordeu o lábio, provocante.
— Me promete que, aconteça o que acontecer, não vai dormir com ele. — recostou a testa na dela.
— O quê? — sussurrou. — Eu não vou prome...
— Me promete! — interrompeu, enfiando a mão dentro da calcinha dela.
gemeu alto.
— Eu prometo! — agarrou os ombros dele, em busca de apoio. — Só me toca logo!
— Assim? — pressionou dois dedos no clitóris dela, esfregando em círculos lentos.
— Exatamente assim. — respondeu, com o olhar colado no dele.
Eles se beijaram mais uma vez enquanto deslizava os dedos com facilidade por entre as pernas dela. estava completamente molhada. mal conseguia esperar para estar dentro dela. Ela apartou o beijo ao sentir o volume dele pressionando sua coxa.
— Vamos entrar. — pediu, sem conseguir conter o desejo.
— Ainda não. — retrucou, levando os dedos até a boca e os chupando. — Tão deliciosa! — sorriu, sacana.
— Eu quero te sentir dentro de mim. — agarrou a camisa dele com força.
— Diz de novo. — pediu, quase como um súplica.
— Eu quero te sentir dentro de mim. — repetiu, passando a mão pelo volume que estufava a calça jeans de .
Nesse momento, o barulho do elevador anunciando a chegada de alguém ecoou pelo corredor.
— Ai, meu Deus! — Olivia gritou. — Que porra é essa? — cobriu os olhos com as mãos.
e , completamente assustados, se afastaram na mesma hora.
— Ai, meu Deus! — repetiu, tentando cobrir a ereção com as mãos.
— Olivia, que merda você está fazendo aqui? — reclamava com a melhor amiga, enquanto fechava o botão do short.
— Eu que te pergunto o que está fazendo transando com um estranho no meio do corredor? — resmungou, incrédula.
O rapaz estava pálido, sem reação.
— Nós não estávamos transando! — a garota repreendeu a amiga.
— E eu não sou um estranho! — complementou, visivelmente nervoso.
— Bem, eu não sei quem você é. — a ruiva rebateu, sem abaixar a guarda.
— Pode descobrir os olhos, Liv. Não há nada que você já não tenha visto antes. — a morena disse, pegando o blazer que estava jogado no chão.
— Acho melhor eu ir, . — ele falou sem jeito, tentando disfarçar o desconforto ao enfiar as mãos nos bolsos da calça. — Te vejo amanhã no trabalho. — sorriu de forma contida para , que naquele momento só queria desaparecer.
— A gente se fa...
— Espera aí! Trabalho?! — Miller a interrompeu, arregalando os olhos. — Meu Deus! Você é o famoso ?
— Famoso? — olhou confuso para .
— Liv, você quer calar a porra da sua boca, por favor? — a morena puxou a amiga para mais perto, constrangida.
— Eu não sei quanto ao "famoso", mas... sim, eu sou o . — confirmou, assentindo com a cabeça.
— Do que você tanto reclama? — Liv lançou um olhar incrédulo para . — Ele é um gostoso! — tentou sussurrar, mas ouviu e soltou uma risada abafada.
— Olivia, por favor! — revirou os olhos, claramente constrangida.
— Eu sou a melhor amiga da . — apontou para a garota ao seu lado. — Pode me chamar de Liv! — sorriu simpática.
— É um prazer te conhecer... eu acho. — falou, ainda constrangido. — Acho melhor eu realmente ir. — gesticulou em direção ao elevador.
— Sim, sim! — respondeu rapidamente, ainda vermelha de vergonha.
— Está tudo bem, certo? — ele quis confirmar, talvez com medo de que o odiasse na manhã seguinte.
— Certo! — respondeu, sorrindo com os olhos, e ele retribuiu com a mesma sinceridade.
— Tchau! — disse, mordendo o lábio com um sorriso leve. o acompanhou com um riso nasalado, as mãos para trás, observando até que ele entrou no elevador e desapareceu.
Para Olivia, que observava tudo de outro ângulo, aquilo definitivamente não parecia o comportamento de duas pessoas que se odiavam. Ainda não entendia por que a amiga insistia em dizer que não gostava dele, quando estavam claramente se pegando loucamente e o pior: aquela não havia sido a primeira vez.
— Pode começar a se explicar! — a ruiva cruzou os braços e lançou um olhar inquisidor para .
— Eu não quero falar sobre isso. — respondeu, passando direto pela amiga e indo em direção à grande caixa de metal.
— Você não quer explicar por que estava quase dando para seu inimigo em frente à porta da sua casa?! — questionou, com ironia, seguindo os passos da amiga.
— Vamos apenas beber algo! — apertava freneticamente o botão do elevador.
— Com você cheirando a sexo? — debochou, enquanto a morena apenas revirava os olhos.
encarava um ponto fixo há alguns minutos. Sua mente era um turbilhão de confusão. Nada do que havia acabado de acontecer entre ela e fazia sentido. Como poderia definir a relação entre eles agora? Principalmente quando não existia uma razão clara para desejar tanto que ele tivesse terminado o que começou.
A simples ideia de gostar de lhe causava náuseas.
Mas, então, por que gostava tanto de ser tocada por ele? Era um paradoxo. Não conseguia compreender e tudo piorava ao perceber que não era carência ou falta de toque. Há poucos dias, tinha beijado Max, vinha conversando com ele e, provavelmente, teriam transado se não tivesse atrapalhado tudo. Ainda assim, era o corpo dela que desejava seu suposto rival.
— ? — Olivia estalou os dedos, chamando-a de volta à realidade.
— Oi! — balançou a cabeça, saindo do transe.
— Estou esperando você me explicar o que aconteceu. — ergueu as sobrancelhas com expectativa.
— Eu não sei... — deu de ombros. — Ele apareceu falando umas coisas estranhas e eu... — pigarreou.
— Incrível como ele sempre aparece falando coisas estranhas pra você. — comentou, lançando um olhar desconfiado.
— Tipo... — respirou fundo. — Basicamente, disse que estava se sentindo atraído por mim. — falou rápido, como se assim soasse menos absurdo.
— E você, pelo visto, correspondeu, né? — ironizou com um sorriso enviesado.
— Sério? — fez uma careta, e Liv desfez o sorriso imediatamente.
— Acho que estava bom o suficiente para você querer fazer no corredor mesmo, não é? — soltou, com sarcasmo.
— Não me culpe! — fez um bico. — Estou há meses sem uma transa...
— Claro! Só quer saber de trabalho. — revirou os olhos.
— Ele me tocou de uma forma diferente. — mordeu o lábio. — Nunca me senti tão desejada, Liv, eu juro! — engoliu seco.
— Eu não estou sentindo coisa boa saindo dessa situação, . — repreendeu. — Vocês trabalham no mesmo lugar, isso pode dar uma merda gigantesca... E até ontem vocês se odiavam! — gesticulou com as mãos, indignada.
— Eu ainda o odeio. — corrigiu a amiga, sem hesitar. — Mas não posso odiá-lo e ainda assim querer fazer sexo com ele? — perguntou, inclinando a cabeça com expressão pensativa.
— Onde isso vai te levar? — perguntou, tomando um gole da cerveja à sua frente.
— A um orgasmo? — respondeu cinicamente.
— E por que ele? Você pode ter qualquer um nesse bar. — cruzou os braços, esperando uma explicação.
— Você mesma disse que ele era um gostoso, Olivia Miller. — retrucou emburrada.
— Mas existem outros caras tão gostosos quanto ele. — estreitou os olhos.
— É diferente, é como...
— Se fosse impossível ele gostar de você? — Liv a interrompeu.
Naquele instante, teve a sensação de que a amiga estava descrevendo exatamente seu padrão de relacionamentos. Sempre se atraía por desafios, homens difíceis, que exigiam esforço para serem conquistados. Talvez fosse isso que a mantinha entretida, como se o jogo de poder fosse mais interessante que a conexão em si.
— O que está querendo dizer? — perguntou, forçando um sorriso falso.
— Não me venha com essa cara. Você sempre vai atrás do que não pode ter. — reprovou, olhando fixamente para a amiga.
— E quem disse que eu não posso tê-lo? — deu de ombros, desafiadora.
— Está tentando ser demitida? — bufou, impaciente.
— Não, eu só...
— Só está tentando provar que pode tê-lo na palma da mão mesmo ele te odiando? — arqueou uma sobrancelha, afiada.
— Para com isso! — pediu, desconfortável. — Está me assustando com essa leitura idiota sobre mim. — virou o copo de cerveja.
— Eu te conheço desde sempre! — encarou , séria. — Isso é o seu ego falando. E você vai terminar se machucando. — apontou o dedo para ela, preocupada.
— É só sexo! — suspirou, tentando convencer a si mesma.
— Nunca é só sexo quando se tem ego envolvido. E se ele estiver pensando da mesma forma que você, isso só vai piorar. — alertou.
— Chata! — estirou a língua.
Em parte, ela sabia exatamente por que Olivia estava preocupada. estava se tornando interessante para ela justamente por ser alguém que, até pouco tempo, jamais a escolheria. Ele cogitaria qualquer outra mulher antes dela. E agora, tão vulnerável, parecia o momento ideal para descobrir os pontos fracos dele, e provar que sempre esteve um passo à frente.
Mesmo concordando com a amiga sobre o risco de se envolver nessa situação, acreditava que não tinha muito a perder. também não queria ser demitido, o que significava que manteria a boca fechada, pelo menos por tempo suficiente para que ela se aproveitasse do que fosse possível.
A ideia de usar o próprio corpo para isso deixava tudo ainda mais excitante. Não era mentira. Ele realmente a tocou de forma diferente. Fez com que se sentisse desejada, como se, naquele instante, fosse a única mulher no mundo para ele. Descobrir suas fraquezas e ainda por cima ter orgasmos por isso parecia uma excelente ideia.
Decidiu, então, que não comentaria muito mais com Liv sobre o que acontecesse entre ela e . Nem ela mesma sabia o que viria a seguir. Resolveria tudo conforme os eventos se desenrolassem. Confiaria no instinto e, quem sabe, na psicologia reversa.
Depois de desconversar o máximo que pôde na mesa do bar, foi para casa descansar. Precisava acordar cedo no dia seguinte para o trabalho. Já no apartamento, se dirigiu ao banheiro, começou a se despir, começando pelo blazer. Foi então que flashes de a tocando vieram à mente. Umedeceu os lábios, involuntariamente.
"Isso pode dar uma merda gigantesca."
A frase de Miller ecoou em sua mente. bufou, irritada.
Pegou o celular que havia deixado sobre a pia há poucos segundos e foi direto ao contato do dito cujo que estava perturbando sua paz. Não era possível que ele fosse capaz de tocá-la daquela forma e sequer mandar uma mensagem ou provocar como de costume. Sentiu o coração palpitar mais forte quando o aparelho vibrou em suas mãos, fazendo-a se assustar.
— Merda! — fechou os olhos, tentando se recompor.
A vibração veio novamente e voltou a encarar a grande tela em suas mãos. Duas notificações com o nome de apareciam na tela. Ela evitou olhar diretamente para a câmera frontal, como se temesse que o celular a reconhecesse e liberasse as mensagens contra sua vontade.
— Está adivinhando até quando penso em você agora? — fez um bico após resmungar.
“Chegou em casa?”
“Está com raiva de mim?”
leu as mensagens, confusa. Desde quando demonstrava tanta preocupação? Nada naquilo fazia sentido. Por que ele se importaria tanto com o que ela estava sentindo após o que aconteceu entre eles? A situação já era caótica o suficiente e agora parecia que o universo estava com os chacras desalinhados.
“Do que tem medo?”
A morena respondeu, ansiosa.
“O que quer dizer?”
“É que você parece sempre pisar em ovos quando esse tipo de situação acontece entre a gente.”
engoliu seco. Odiava o fato de ela não captar as entrelinhas. Era péssimo com sentimentos e pior ainda sob pressão. Achava que ela já teria percebido isso. Mas não, era sempre direta, sempre incisiva, como se exigisse respostas imediatas e ele sequer sabia como respondê-las.
Então, sem pensar muito, resolveu ligar. Tinha medo de que mais coisas ficassem subentendidas. Não sabia o que diria, mas talvez fosse melhor assim. Quem sabe, ao falar, conseguisse organizar o que nem ele compreendia direito.
— Alô? — atendeu.
— O que está fazendo? — tentou puxar assunto, a voz baixa.
— Eu estava indo tomar banho antes de você começar a me perturbar. — queixou-se.
— Isso significa que está pelada? — sorriu só de imaginar.
— O que você quer, ? — cortou qualquer chance de jogo.
Queria que ele fosse direto.
— Ai! — resmungou. — Por que tem que ser tão seca?
— Estou cansada. — disse enquanto apoiava o celular no ombro para tirar a blusa, em seguida o short.
— Me desculpa. — colocou o telefone no viva-voz para tirar sua camisa.
— Pelo quê? — ela segurou o aparelho novamente.
— Por não te fazer dormir relaxada hoje, sua amiga nos atrapalhou. — riu fraco.
passou os dedos por cima da calcinha rendada, relembrando onde ele a tocara horas antes.
— Talvez tenha sido o melhor, não acha? — provocou, mordendo o lábio.
— Por que você acha isso?
— Achei que me odiasse, mas agora quer me foder... está me deixando confusa, senhor . — disse olhando para o espelho à sua frente, sorrindo de canto.
— Talvez eu queira te foder justamente porque te odeio, senhorita . — umedeceu os lábios, deitando na cama.
— Olha só quem perdeu o medo de falar. — zombou.
E só então ele percebeu o quão direto tinha sido.
— Ah, qual é! É só sexo! — disse, tentando disfarçar a timidez.
— É mais fácil assim, não é?
— Como assim?
— Acreditar que só é atração física. — justificou.
— Porque é apenas atração física. — rebateu.
— Então vamos fazer isso. — mordeu o dedo indicador, ansiosa.
— O quê? — franziu o cenho, confuso.
— Sexo. — soltou a palavra sem hesitar. Do outro lado, ouviu-o engasgar.
Era impressionante como ele perdia a compostura diante das provocações dela. sabia exatamente onde queria chegar, e não era do tipo que recuava.
— O que foi? — continuou. — Você quase me fez gozar no meio do corredor do meu apartamento, ...
— É diferente! — ele a interrompeu, agora sentado.
— Como?
— Aconteceu naturalmente. — argumentou. — A gente não forçou nada nas vezes em que rolou alguma coisa.
— Covarde. — sussurrou entre os dentes.
— A gente pode perder os empregos, ! — exclamou, indignado.
— Só se descobrirem! — rebateu com um sorriso. — E levando em conta que você quase tirou minha calcinha dentro da própria agência, somos ótimos em manter segredo.
agora tinha certeza do desejo mútuo, mas ainda assim não acreditava que ela estivesse falando sério. Aquilo não parecia parte do comportamento impulsivo de .
Respirou fundo.
— Está jogando comigo, ? — mordiscou o interior da bochecha ao sentir um frio na barriga.
— Acha mesmo que, se fosse jogo, eu teria deixado você encostar um dedo em mim? — respondeu firme. — Ou vai dizer que está com medo? — estalou a língua no céu da boca, provocando. — Você é mesmo um covarde. — debochou.
— Quer mesmo fazer isso? — ele soou nervoso.
Na mesma hora, o celular vibrou. Era uma mensagem temporária. Seu coração acelerou. A prévia da notificação já era suficiente para deixá-lo inquieto. Uma foto de olhando para cima, com o sutiã preto à mostra, acompanhada de uma pergunta sugestiva.
“Você não quer?”
— Você não presta! — exclamou, massageando o membro por cima da cueca, já duro e pulsando.
— Você acha? — ela gemeu.
Ambos riram da tensão e do desejo.
— Eu te odeio, ! — murmurou, indo em direção ao banheiro.
— Não, você não odeia. — respondeu sorrindo. — Agora preciso tomar banho. — disse, ligando a torneira da banheira e observando a água cair.
— A gente podia fazer uma chamada de vídeo. — sugeriu, já tirando a cueca.
soltou uma gargalhada deliciosa que ecoou de um jeito que fez algo dentro dele estremecer.
— Boa noite, . — desligou antes que ele pudesse responder.
— É, amigão! Parece que vamos ter que resolver isso sozinhos. — murmurou, olhando para o próprio pau duro. — Não acredito que vou bater uma pensando em você, . — resmungou, entrando no box.
Odiava a ideia de se tocar pensando nela. Sentia-se exposto, vulnerável. Nunca em dois anos imaginou que ela pudesse invadir sua mente dessa maneira. O que tinha mudado? O beijo no Natal? Ou estava apenas cedendo ao próprio prazer como qualquer outro homem?
As dúvidas rodavam sua mente como um turbilhão, do mesmo jeito que vinha invadindo seus pensamentos. Com a mão direita, começou a massagear o membro ereto, sentindo uma onda de choque tomar conta do corpo. Fechou os olhos e iniciou o movimento de vai e vem, acelerando o ritmo conforme a imagem dela se tornava mais vívida.
Lembrou da maciez dos fios escuros, do cheiro de canela que ela exalava, da pele quente, dos lábios entreabertos e da voz sussurrando.
"Eu quero ser sua!"
A frase se repetia como um mantra enquanto ele gemia involuntariamente, apoiando a mão na parede para não perder o equilíbrio ao gozar.
A alguns quarteirões dali, fazia o mesmo, afundada na banheira, os dedos ágeis estimulando seu clitóris. Tentava imitar o toque de , que ainda vibrava em sua memória. Recostou a cabeça no azulejo e mordeu o lábio, sentindo o prazer crescer.
— Eu não acredito que estou fazendo isso. — sussurrou para si mesma, os olhos fechados, entregue ao momento.
Quem diria que, meses atrás, seria impensável imaginar algo assim? Agora, mesmo à distância, gemiam em sincronia, conectados por um desejo que ignorava lógica, orgulho ou razão.
E então, juntos, mesmo separados, chegaram ao ápice.
Deixando a mente em completo branco, mas, o corpo inteiro em vibração.
Eles realmente haviam se masturbado pensando um no outro?
deu um passo à frente, movida por um súbito pensamento de que talvez precisasse de sua ajuda. Mas evitou continuar, receosa de como ele a olharia depois do que havia acontecido na noite anterior. Por mais que tivesse dito que estava tudo bem, estavam no trabalho, e aquilo poderia causar uma grande confusão. Apertou, novamente, o botão do elevador, que havia se fechado poucos segundos antes.
— Você é muito fracassado mesmo, não é, ? — murmurou para si mesma.
A mulher agora gritava, gerando um certo eco no hall de entrada do enorme prédio. não resistiu e olhou para trás novamente. gesticulava com as mãos, tentando falar baixo, numa tentativa falha de acalmar a loira à sua frente.
— Parece que não sou só eu que tenho dedo podre — debochou , num sussurro.
O elevador abriu suas portas mais uma vez.
— É por isso que seu pai nunca vai se orgulhar de você! — a loira empurrou , que ficou paralisado ao ouvir aquelas palavras.
Falar da relação dele com o pai era golpe baixo — até sabia disso. A morena, agora angustiada, não conseguia assistir àquela cena sem intervir.
— Sempre será um grande perdedor! — a mulher riu fraco com o olhar carregado de desprezo.
Mais uma vez, desistiu do elevador e seguiu em direção aos dois.
— Ei! — gritou, passando pela catraca de segurança. — Sua mãe não te deu educação, não? — perguntou, encarando a loira.
apenas observava a cena, ainda atônito com as palavras que acabara de escutar.
— Quem te chamou na conversa, sua idiota? — ela retrucou.
— Isto é um ambiente de trabalho, se você não percebeu — respondeu com um sorriso irônico, sem mostrar os dentes.
— E eu te perguntei alguma coisa? — aproximou-se, desafiadora.
— Não, mas parece que alguém precisa ensinar boas maneiras para você, sua louca! — cruzou os braços, mantendo uma postura firme.
A loira rosnou de raiva, e era possível ver os seus olhos pegando fogo. Deu um passo adiante e levantou a mão, como se estivesse prestes a atingir . Porém, antes que fizesse qualquer coisa, , que até então permanecia inerte, finalmente recuperou a compostura e interveio, agarrando seu pulso com firmeza.
sequer piscou, como se já soubesse que ele a defenderia.
— Melissa, você está fora de controle! Pare com isso agora mesmo! — ele disse autoritário.
A loira tentou se solta, encarando com ódio, mas não a deixou escapar.
— Eu vou acabar com essa… essa vagabunda! — gritou, lutando contra o aperto dele.
— Quero ver você tentar — a morena rebateu, com um riso audacioso.
— ! — a repreendeu.
A essa altura, todos os olhares no amplo saguão estavam voltados para o conflito.
— Quem você pensa que é, sua cadela? — , que antes segurava apenas o pulso da loira, agora teve que agarrá-la pela cintura, impedindo-a de avançar sobre .
— Eu sou a namorada dele. E você está passando uma vergonha enorme. — disse sem pensar.
sentiu um frio na espinha ao ouvir afirmar ser sua namorada. Olhou para ela, surpreso, tentando disfarçar a confusão que se instalava em sua mente, mas a morena apenas devolveu um olhar firme, como se dissesse: “Já fomos longe demais, vai nessa”. Melissa, boquiaberta com a revelação, acabou se desvencilhando dos braços do ex-noivo.
— O quê? — questionou, franzindo o cenho.
— Você é surda? — provocou, com desprezo.
— , tá tudo bem! — ele pediu, gesticulando com a mão. — Por favor, Melissa, já chega! — insistiu, tentando fazê-la recuar.
— ? Ela tem a porra de um apelido? Seus pais sabem disso, ? Já conhecem ela? — a loira esbravejou.
— Isso não é da sua conta... — interrompeu antes que ela pudesse terminar a frase.
— Eu disse que já chega, Melissa! — repetiu, com a paciência visivelmente esgotada.
Apesar de ter iniciado a mentira, permaneceu firme ao lado dele, sustentando o papel que parecia necessário naquele momento. Não vacilou quando Melissa voltou a confrontá-la, mantendo a cabeça erguida e sem demonstrar que aquela situação a afetava.
— Não cabe a você questionar sobre minha vida pessoal! — ele continuou. — Você é minha ex-noiva. Sabe o que significa ex, não sabe? — estreitou os olhos.
Ex-noiva? congelou.
Melissa virou-se bruscamente para encarar .
— Você acha que pode simplesmente me trocar? — cuspiu as palavras com ironia.
Ele ergueu o queixo, mantendo-se firme diante dela.
— Eu não te troquei por ninguém, Melissa. — balançou a cabeça, negando. — Você me traiu, não se lembra? — arqueou as sobrancelhas.
— Não me venha com essa baboseira! — ela disparou, avançando em sua direção. — Perdi as contas de quantas vezes te pedi perdão por isso!
— E eu tentei... mas simplesmente não consigo te tocar novamente sem pensar que você transou com outro cara. — tentou disfarçar a angústia que apertava seu peito.
engoliu seco.
Traição? A história só se complicava. Começava a considerar sentir pena do seu inimigo. Um pai que nunca lhe deu valor e uma ex-noiva que o traiu. Que combo! Pensou em como sempre acabava no meio das maiores confusões possíveis e agora, já era tarde para consertar. Aliás, teria como piorar?
— Isso é ridículo, ! Você está sendo um completo idiota! — Melissa exclamou, desdenhosa.
— Pare de se fazer de vítima, Melissa. Você sabe muito bem o que fez. E não adianta tentar manipular a situação a seu favor. Acabou! — ele falou com firmeza.
A loira soltou um riso amargo.
— Você vai se arrepender por isso, . Eu vou garantir que se arrependa a cada segundo da sua miserável vida! — ameaçou.
— Chega, Melissa. Você precisa sair daqui. Agora. Não vou repetir. — ele a fitou, indignado.
A loira o encarou por alguns instantes, como se estivesse avaliando suas opções. Então, com um último olhar cheio de rancor para ele e , virou as costas e saiu do prédio, com uma expressão de pura raiva estampada em seu rosto.
suspirou profundamente quando ela finalmente desapareceu de vista, como se tivesse tirado um peso dos seus ombros. Virou-se então para com os olhos buscando os dela em uma tentativa silenciosa de encontrar algum consolo, ou compreensão. retribuiu o olhar e aproximou-se.
— Você está bem? — perguntou, preocupada.
assentiu lentamente, sentindo um misto de alívio e gratidão por tê-la ali.
— Como pôde noivar com aquela louca? — a morena questionou, assustada, o que arrancou dele um riso sincero.
— É uma longa história! — bufou. — Mas agora estou mais preocupado com como vou sustentar essa mentira para os meus pais. Melissa é capaz de qualquer coisa. — passou a mão pelos cabelos, frustrado.
Ele a encarou com seriedade e certa hesitação.
— , eu sei que é pedir muito...
— Não! — ela o interrompeu antes mesmo que ele continuasse.
— Mas você nem esperou eu terminar de falar!
— Porque eu sei o que vai pedir. — respondeu, ríspida. — E é demais pra mim. — deu-lhe as costas e apressou o passo em direção ao elevador.
— Mas isso tudo é culpa sua! — a seguiu, indignado.
— O quê? Eu só estava tentando ajudar! — ela o fitou, incrédula, e passou a catraca.
— Você não precisava se meter, e mesmo assim inventou essa mentira, que agora eu não consigo sustentar sozinho! — repetiu o movimento dela, logo atrás.
— Isso é loucura! — disse, nervosa, apertando várias vezes o botão do elevador.
— Isso não vai fazer ele descer mais rápido. — ele comentou, segurando sua mão numa tentativa de conter a ansiedade que ela exalava.
De forma quase automática, olhou para a mão dele segurando a sua. Depois, seu olhar subiu até encontrar o rosto de , que agora exibia uma expressão de cachorro abandonado. Era estranho... Meses atrás, ela poderia afirmar com toda certeza que nunca sentiria atração pelo homem à sua frente. Mas agora? Era impossível vê-lo tão vulnerável e não sentir nada.
— ? — ele a chamou, ainda segurando sua mão.
— Não me chame assim! — puxou a mão no impulso.
suspirou, visivelmente abatido com a reação.
— Pelo que conheço da Melissa, meus pais já devem estar sabendo de toda a história — esfregou a testa, ansioso.
— Eu já disse que não! — ela reforçou, categórica.
— Isso é ridículo! Você mesma se colocou nessa situação e agora não quer me ajudar? — disse irritado, entrando no elevador assim que as portas se abriram, sendo seguido pela garota.
— Eu sei que fiz merda. — confessou. — E que você está numa situação difícil, mas eu não posso fingir ser sua namorada. Isso é loucura, ! Só vai piorar ainda mais as coisas. — respondeu, impaciente.
abaixou o olhar por um instante, resignado.
— Eu sei que é pedir muito, mas, você é uma das únicas pessoas que sabe... — hesitou. — Dos meus problemas familiares. E com a Melissa fora de controle, eu não vejo outra saída.
De repente, ajoelhou-se, assustando .
— , levanta, seu idiota! — resmungou, tentando puxá-lo para cima antes que o elevador chegasse ao andar deles.
— , eu prometo que vou te dever uma grande. E vou fazer o possível para compensar, de alguma forma. — implorou, os olhos desesperados fixos nos dela.
sentiu o coração apertar diante da vulnerabilidade dele. Sabia que estava prestes a entrar numa confusão ainda maior, mas não conseguia ignorar o apelo evidente no olhar do homem à sua frente. Suspirando profundamente, finalmente cedeu.
— Tudo bem. Eu vou ajudar. Agora levanta, por favor! — beliscou o braço dele, fazendo-o se levantar e o mesmo reclamou da dor. — Mas, , isso é só temporário. Assim que as coisas se acalmarem, nós vamos acabar com essa farsa. — fez questão de deixar claro.
— Que tipo de pergunta é essa? Eu nunca namoraria você de verdade! — ele a encarou com uma expressão fingidamente enojada, fazendo com que a morena revirasse os olhos.
— Quer que eu mude de opinião? — ela rebateu, justo no momento em que as portas do elevador se abriram.
— Ah, aí estão vocês! Preciso dos dois na minha sala — ordenou Carter, o chefe, ao encontrá-los no corredor.
Os dois apenas assentiram e seguiram o homem.
— Precisamos discutir os detalhes da apresentação da empresa do Sr. Crawford — Joseph anunciou.
— Como assim, apresentação? — questionou, confusa.
— Ele decidiu isso de última hora? A festa já é nesta sexta-feira! Como vamos organizar algo em quatro dias? Isso é loucura! — exclamou, indignado.
— Pois é! — concordou, ainda surpresa.
— Mas quem somos nós para contrariar um cliente, não é? — disse Carter, abrindo a porta da sala de reunião e permitindo que os dois entrassem antes dele.
No interior do grande espaço envidraçado, e se acomodaram nas cadeiras, enquanto Carter ocupava o lugar à cabeceira da mesa.
— Sei que é uma situação complicada, mas o senhor Crawford é um cliente importante. Precisamos atender às demandas dele — explicou, observando a reação dos dois.
pareceu desconfortável, e notou de imediato.
— Isso significa trabalharmos sem planejamento? — o rapaz retrucou.
— Não, . — respondeu. — Mas essa apresentação é uma oportunidade crucial para a agência e, consequentemente, para o seu trabalho. Precisamos dar o nosso melhor para garantir que ele fique satisfeito — Carter disse, com seriedade.
Para , as palavras “Adam” e “satisfeito” provocavam arrepios. Velhas memórias, que ela desejava enterrar para sempre, invadiram sua mente. Mesmo assim, ela assentiu em silêncio, tentando manter a compostura. , entendendo o peso da situação, resolveu tomar a frente.
— Entendido, Carter! — disse, com um sorriso contido. — Faremos o possível para garantir o sucesso da apresentação.
— Ótimo. Confio em vocês. Se precisarem de mais recursos ou suporte, não hesitem em me procurar. — o chefe finalizou dando um leve aceno com a cabeça em direção à porta, sinalizando que estavam liberados.
Com a reunião encerrada, ambos saíram da sala, prontos para começar a trabalhar na organização da apresentação. Enquanto caminhavam pelo corredor, ela parou por um momento e respirou fundo, se aproximou dela com uma expressão séria e os dois trocaram um olhar rápido.
— Não acredito que, além de ter que ir nessa festa estúpida de sexta, ainda vou precisar trabalhar para esse cara. — ela disse, irritada.
— Pode deixar a apresentação comigo. — ele falou, surpreendendo .
— Como assim? — perguntou, confusa.
— Estou te devendo uma, não estou? — levantou as sobrancelhas.
— Seria muita falta de profissionalismo da minha parte misturar o que aconteceu com o trabalho. — riu, sem humor. — Mas é óbvio que você esperaria isso de mim, né?
— Não foi isso que eu quis dizer — tentou se justificar.
— Vocês poderiam conversar sem parecer que vão se matar a qualquer momento? — Sean surgiu de repente, assustando os dois. — E o que aconteceu lá embaixo? — perguntou, curioso.
— Nada demais. — mentiu, rapidamente.
Ela sabia que se o RH desconfiasse de algo, os dois estariam em apuros. Com todas as coisas estranhas que vinham acontecendo entre ela e , ser demitida estava definitivamente fora dos planos.
— Foi só uma briguinha de casal. — completou com naturalidade.
— Mentira! — o colega pareceu chocado. — Eles trabalham aqui mesmo?
— Nunca os vi antes — ela tentou manter o tom leve, mas estava visivelmente desconfortável.
— Com toda certeza! — reforçou rapidamente.
— O que deu em vocês hoje? — Sean estreitou os olhos, desconfiado.
— Muito trabalho. — a morena desconversou. — Bem, vou para minha sala. — virou-se e saiu, apressada.
— Eu também preciso ir. Sean, pede para a Paige deixar o briefing da empresa Crawford na minha sala, por favor! — pediu, e o colega assentiu.
Sean observou os dois se afastando com uma expressão intrigada, mas decidiu não pressionar mais sobre o assunto naquele momento. Ao invés disso, dirigiu-se até a mesa de Paige para informar sobre o pedido de seu superior dentro da agência.
Enquanto isso, caminhava pelos corredores com a mente a mil por hora, a confusão em que se metera parecia cada vez mais complexa, e agora ela estava envolvida até o pescoço. Sentia-se como se estivesse presa em uma teia de mentiras, incapaz de escapar.
Ao chegar à sua sala, jogou-se na cadeira com um suspiro pesado. Pegou o celular e viu uma notificação de mensagem não lida piscando na tela. Com um impulso nervoso, endireitou-se para ver quem era. Por um breve momento, torceu para que fosse Max, talvez isso melhorasse seu dia.
Mas o sorriso que ameaçava se formar desapareceu no instante seguinte, substituído por um nó no estômago.
“Espero que esteja pronta para a apresentação de sexta-feira. Não aceito nada menos do que perfeição. Você sabe o que acontece quando as coisas não saem como eu quero. — A.C.”
engoliu em seco, sentindo um calafrio subir pela espinha.
— Como ele conseguiu meu número, esse imbecil! — murmurou, ofegante.
A mensagem trouxe de volta tudo aquilo que ela queria esquecer: Adam.
O nome que preferia deixar enterrado agora surgia novamente, como uma sombra ameaçadora sobre seu presente. As palavras cortantes, as ameaças veladas, os pesadelos. Era como se todas as feridas mal cicatrizadas tivessem sido brutalmente reabertas.
Sentindo-se nauseada, ela respirou fundo, tentando recuperar o controle.
Estava no trabalho, não podia desmoronar ali. Precisava encontrar uma maneira de lidar com aquilo, mesmo que isso significasse encarar os próprios demônios. Antes que pudesse reunir seus pensamentos ou ceder às lágrimas, a porta da sala se abriu abruptamente. entrou, aflito.
— , você... — parou ao vê-la. — Você está bem?
Ela ergueu os olhos, forçando um sorriso que não alcançou os olhos.
— Estou... tentando — respondeu, empenhando-se em parecer confiante.
fechou a porta atrás de si e se aproximou, sentando-se à sua frente. A última vez que a viu tão abalada foi quando Crawford apareceu de surpresa na agência, e ela foi obrigada a encará-lo.
— Foi o Adam? — perguntou, apreensivo.
— Eu não sei como lidar com isso, . — confessou. — Ele me assusta.
— Você precisa denunciá-lo, . Se ele começou a te assediar dessa forma, significa que não vai parar. — disse, preocupado.
— Você não entende...
— O que eu preciso entender? Que esse cara é um babaca que não para de te perseguir mesmo depois de anos sem contato? — questionou, visivelmente irritado.
— Eu sei... mas ele tem influência demais, . Eu já tentei antes... — respondeu, sentindo-se impotente diante da situação.
— Então, vamos contar ao Carter! — sugeriu, interrompendo-a de imediato.
— E perder meu emprego? Quem você acha que o Joseph manteria na agência? Alguém com um contrato milionário ou uma simples funcionária? — ela retrucou, com o semblante abatido e os olhos marejados.
sentiu o peito apertar ao vê-la tão angustiada. Queria protegê-la, ajudá-la a sair daquele tormento, mas começava a perceber a complexidade do que enfrentavam. E mesmo com todas as desavenças, não conseguia aceitar aquilo passivamente.
— , me dá seu celular. — pediu, levantando-se da cadeira e estendendo a mão.
— , você não pode... — começou, mas ele a interrompeu.
— Eu preciso fazer isso. Ele não pode continuar te ameaçando impunemente só porque tem poder ou dinheiro. — disse firme.
— ... — ela puxou o celular mais para perto do corpo, hesitante. — Por favor, eu não quero que isso aconteça... Você consegue entender isso?
— Ok! — ele pousou as mãos na cintura, respirando fundo. — Melhor eu resolver isso pessoalmente, então. — virou-se em direção à porta, decidido, mas foi impedido por , que correu até ele e segurou seu braço.
— Você tá maluco? Quer perder o emprego também? — puxou-o de volta com força.
parou.
— Eu não posso simplesmente assistir você ser ameaçada, . — a fitou sério. — Não importa o que aconteça comigo. Eu não vou deixar isso passar.
Ele tentou se soltar, mas ela o segurou com firmeza, desesperada.
— Eu sei que quer me ajudar, , mas denunciar o Adam pode trazer consequências graves... Já estamos com problemas demais por causa da Melissa, não acha? — soou preocupada.
De certa forma, ela tinha razão. suspirou fundo, dividido entre o desejo de protegê-la e o receio das consequências. Manteve o olhar nos olhos dela por alguns segundos, buscando uma resposta silenciosa, e então cedeu.
— Tudo bem. — murmurou, e ela soltou o braço dele.
— Mas se ele... — começou.
— ! — reclamou, já adivinhando o que viria.
— Se ele encostar em você, eu juro que não vou me controlar. — disse, com o maxilar travado de raiva.
— Acho que falei com uma parede. — ela bufou, cruzando os braços.
— Você se lembra quando eu disse que a ideia de outro cara te tocar me enlouquece? — aproximou-se perigosamente. — Eu quis dizer de qualquer maneira.
— Você não é meu dono, ! — rebateu irritada.
— Não é sobre isso. — tentou justificar.
— Então pare de agir como se fosse! — retrucou, o encarando firme.
— Foi você que pediu sexo ontem, naquela ligação. — soltou, com um sorriso irônico.
— Não consegue calar a boca? Estamos no trabalho, seu idiota! — avançou para tapar a boca dele.
agarrou o pulso dela antes que conseguisse o calar.
— Você quer mesmo discutir agora? — ele sussurrou com a voz rouca.
— É melhor a gente parar com isso... alguém pode nos ver. — sussurrou de volta, visivelmente abalada.
— Mas não foi você que disse que éramos ótimos em esconder as coisas? — provocou, com um sorriso torto.
— Aonde você quer chegar com isso? — ela perguntou, sem tirar os olhos dele.
se aproximou ainda mais e sussurou no ouvido dela.
— Esse é o momento em que eu finalmente consigo... tirar sua calcinha?
lutou mentalmente para manter a compostura.
— Não era você que estava com medo? — ela devolveu a provocação.
— Posso ser muitas coisas, . Mas covarde não é uma delas. —
— Você não tem limites, . — disse, incrédula.
— Eu sempre fui imprudente quando se trata do que eu quero. E agora, o que eu quero... está bem na minha frente. — falou com clareza, sem desviar o olhar.
— Desde quando eu sou algo que você quer? — ela perguntou, levantando as sobrancelhas.
— Então, é mesmo um jogo. — respondeu, lembrando da noite anterior.
— Já disse que não é isso... — ela negou com a cabeça.
— Então por que continua fugindo, depois de ter deixado claro que queria que eu te fodesse?
— Eu não estou fugindo.
— Está sim.
— Como você pode dizer isso, quando acabei de dizer para sua ex-noiva que sou sua namorada? — ela disparou, indignada.
— Então me deixa te levar para tomar um drink. — pediu, mais calmo.
— Eca! — ela respondeu com um misto de nojo e desdém.
— ... — ele a repreendeu com o olhar.
— Eu estava excitada ontem, . Falei coisas demais. Isso acontece quando uma mulher sente tesão. Mas eu não quero nada com você. Nunca quis. E pensei que isso fosse recíproco. — mentiu.
A verdade era outra: desejava que ele a agarrasse ali mesmo, naquele escritório. Mas não podia deixar que ele soubesse. Não podia abrir espaço para invadir sua vida ou seu corpo. Ela ainda não sabia quais eram as intenções dele. E se tudo não passasse de um jogo? E se, na primeira oportunidade, ele a deixasse para trás?
Já , ficou em silêncio por um momento, tentando processar tudo aquilo. Estava confuso, magoado... e cada vez mais envolvido.
— Entendi. — disse finalmente com a voz mais fria do que o habitual. — Não vou mais te incomodar com isso.
A mudança no seu semblante foi imediata.
— , eu... — ela tentou se explicar.
— Eu disse que entendi. — ele a cortou, seco.
— Desculpe, não foi minha intenção te chatear. — murmurou, sentindo-se culpada por ter sido tão brusca.
— Quem disse que você me chateou? — estreitou os olhos, parecendo indiferente.
— É que você parece chateado. — explicou.
— Não, eu só estou decepcionado. Esperava mais de você. — riu fraco.
— O quê? — indagou, confusa.
— Parece que o covarde entre nós é você! — fez uma cara de surpresa, sendo um tanto debochado.
— Sabe o que eu acho engraçado? — umedeceu os lábios. — Era você quem estava com medo e querendo ser cauteloso, principalmente por causa do trabalho... e agora está aí, agindo com toda essa postura, como se realmente quisesse isso.
— Mas eu quero. — retrucou.
— Eu não acredito em você! — rebateu.
— O quê?
— Desde que entrei nessa empresa, você fez da minha vida um inferno. E eu só cedi porque estou na seca há meses e você fez o favor de estragar uma possível transa na minha vida. — ela apontou o dedo para .
— Com aquele babaca? Coloca “favor” nisso! — balançou a cabeça positivamente, e fez menção de querer enforcá-lo. — Calma! — pediu, levantando as mãos. — Eu me arrependo do que fiz com você. Fui um idiota inseguro.
Ela estava realmente ouvindo se desculpar por todas as coisas que ele já havia feito? Não podia ser real. Podia?
— O quê? — pareceu surpresa.
— Eu sei que é difícil de acreditar, mas eu realmente me arrependo. Não foi nada profissional da minha parte. Me senti ameaçado por você — você é uma ótima publicitária. — confessou.
— Eu sei. — ela tentou esconder o sorriso. — Mas o que isso tem a ver com a nossa situação atual?
— Quero que me dê uma chance...
— De ser sua namorada de verdade? Está maluco? — interrompeu, franzindo o cenho.
— Não. — ele suspirou, dando um passo à frente. — De te foder. — expeliu as palavras sem piedade.
teve que se segurar para não cair. Não esperava ouvir algo tão direto vindo dele, não pessoalmente. Seu rosto corou instantaneamente e ela ficou sem palavras por um momento, tentando processar o que acabara de ouvir e com sua mente girando com confusão e excitação.
Ela sabia que deveria se afastar, que era loucura ceder aos desejos de depois de tudo o que aconteceu entre eles. Mas havia uma parte dela que não conseguia negar a atração que sentia por ele, uma parte que ansiava por mais do que confrontos e discussões.
No entanto, ela também sabia que não podia simplesmente se render às investidas dele sem pensar nas consequências. Precisava ter certeza de que ele estava falando sério, que aquilo não era apenas mais um jogo, e que eles conseguiriam lidar com tudo que viesse depois.
— E o que me garante que você não vai voltar a ser um idiota depois disso? — arqueou uma das sobrancelhas.
— Me dê a oportunidade de mostrar que posso ser alguém em quem você pode confiar. E aí, eu vou respeitar qualquer escolha que você fizer. — disse com seriedade.
Por um momento, se permitiu considerar a possibilidade de dar uma chance a . De deixar para trás todo o passado conturbado entre eles e começar de novo. Mas então, uma vozinha em sua mente a lembrou das ameaças de Adam, das consequências potencialmente devastadoras de se envolver com , especialmente agora que ele estava determinado a confrontar o empresário.
Ela precisava ser inteligente, precisa.
E isso significava não se deixar levar pela tentação do momento. Precisava proteger a si mesma e sua carreira. E manter longe desse problema também era um objetivo. Mesmo que ele estivesse sinceramente tentando mudar, isso não significava que ela podia ignorar todas as possíveis consequências.
— Eu... preciso de tempo pra pensar sobre isso, . — ela disse. — Toda essa situação com o Adam... e também tem a questão com a Melissa. Não acho que esse seja o momento de a gente simplesmente ficar transando por aí. — o encarou.
— Acho que você está certa, de certa forma. — ele balançou a cabeça positivamente. — Mas... isso quer dizer que você também quer isso? — questionou, ansioso por uma resposta.
— Você foi quem disse, desde o começo, que era só atração física e sexo. Então, por que eu não iria querer isso? — deu de ombros. — Você é gato, nosso beijo se encaixou...
— Ei, ei, ei! — cortou ela. — acabou de dizer que me acha bonito? — soltou um sorriso espontâneo.
— Por que você precisa estragar tudo? — ela revirou os olhos.
— Foi só uma brincadeira. — levantou as mãos em sinal de defesa. — Por favor, não mude de ideia. — suplicou.
— ... — o fitou. — Precisamos fazer um pacto de que isso vai ser realmente só sexo, e que não vamos nos envolver emocionalmente.
— Até parece que isso aconteceria. — ele zombou. — Jamais arriscaria perder meu emprego por sua causa.
— Você consegue ser menos imbecil? — deu um tapa no ombro dele. — Eu falei sério.
— Eu também! — concordou. — Vou esperar sua decisão, tá bem? — perguntou, e ela assentiu.
— Tudo bem. — sorriu, sem mostrar os dentes. — Posso trabalhar agora? — arqueou as sobrancelhas.
— Claro. — ele se afastou, indo em direção à porta. — Se ele continuar mandando mensagens, quero que me diga. — pediu, antes de pegar a maçaneta.
— Já disse que não quero que se envolva nisso. — ela o repreendeu.
— Eu já estou envolvido. — a encarou por um tempo e deixou a sala, sem dar chance para respondê-lo.
não conseguiu dizer nada. Ele tinha um ponto. Era o único que sabia da situação com Adam Crawford, e talvez, pela própria segurança dela, ter a par do que realmente estava acontecendo fosse o melhor, ainda mais com a festa que aconteceria na sexta-feira.
A ansiedade a dominava emocionalmente, assim como dominava , que observava cada minuto passar pela tela do computador à sua frente, contando os segundos para receber uma ligação de sua mãe. Tinha certeza de que Melissa contaria tudo sobre a situação com e não demorou muito até que o toque alto do celular o assustasse.
— Oi, mãe? — atendeu, receoso.
— Você está namorando, ? Como assim? — a senhora perguntava de maneira exasperada do outro lado da linha.
— Mãe...
— Meu Deus! Por que você nunca me conta nada? — reclamou a mãe, indignada. — Me sinto tão distante de você.
— Mãe... — ele tentou interromper.
— Você evita os jantares em família, as festividades... Acha que eu mereço pagar o preço pelo que seu pai fez, ? — choramingou.
— Mãe! Calma! — pediu. — É algo recente. Você sabe que eu te contaria. A Melissa descobriu por acaso — tentou consolá-la.
— E quando poderei conhecê-la? — foi direta.
— Acabei de dizer que é recente, mãe! — respondeu, já impaciente.
— Mas, se estão namorando, é porque é sério. Quero conhecê-la. Vamos levá-la para a casa de praia neste fim de semana — insistiu.
— Eu trabalho na sexta, não posso...
— Vamos no sábado, então! — o interrompeu sem hesitar.
— Mãe! — chamou sua atenção, frustrado. — Eu não quero assustá-la. Já disse, é algo recente!
— Mas, ... — a mulher do outro lado da linha soou triste.
— Eu vou levá-la, mas não agora. É uma promessa — afirmou, assentindo com a cabeça, como se ela pudesse vê-lo.
— Tudo bem... — suspirou resignada. — Podemos ao menos almoçar juntos, então?
— Claro, mãe! — respondeu com um sorriso fraco.
concordou em almoçar com a mãe no fim de semana e desligou o telefone, sentindo um misto de alívio e preocupação. Talvez conseguisse enrolá-la tempo suficiente para fingir um término e evitar que conhecesse sua família.
Enquanto isso, tentava encontrar foco no trabalho após uma manhã completamente tumultuada. Ela sabia que precisava tomar uma decisão sobre toda aquela bagunça com , aquela mudança repentina de comportamento, os encontros “casuais” que invariavelmente terminavam em toques, beijos, e agora, um convite para sexo sem compromisso.
— Acho que vou enlouquecer! — bagunçou os próprios cabelos. — O que você quer de mim, ? — bufou, frustrada.
— Está tudo bem com você? — perguntou Luke, antes de entrar na sala. Ao ver o estado dela, hesitou. — Desculpa por não bater... Sei que você não gosta. Por favor, não me mate! — defendeu-se com humor.
— Aconteceu alguma coisa? — suspirou, cansada.
— Você está ocupada? — ele estreitou os olhos, desconfiado.
— Por que está me olhando assim? — franziu o cenho.
— Bem... sobre aquela conta... — mordeu o lábio, nervoso.
— Que conta, Luke? Fala logo, para de enrolar — disse, irritada.
A verdade é que ele estava tentando evitar que explodisse ali mesmo.
— Foi enviada uma proposta de mídias para a Red Cup e agora eles estão aqui querendo conversar sobre isso — disse com cautela.
— O quê? — ela arregalou os olhos.
— Eu não sei, ...
— Essa conta é minha e eu não enviei absolutamente nada para eles! — exaltou-se um pouco. — Encaminhe-os para a sala de reuniões e tente segurá-los o máximo que puder.
— O já está lá com eles — interrompeu, como se estivesse esperando uma explosão.
Traidor.
Essa foi a única palavra que passou pela mente de .
Toda aquela baboseira de "dar uma chance"...
Ele não mudaria.
Ela estava certa desde o início.
só queria transar com ela para manter o controle.
Uma onda de raiva e decepção percorreu seu corpo. Levantou-se num salto com o coração disparado e sentindo-se uma completa idiota por ter ignorado todos os sinais. Cada palavra dele agora soava como uma farsa, uma manipulação para conseguir o que queria. A cada passo em direção à sala de reuniões, lutava contra o impulso de esganá-lo e a necessidade de manter a compostura profissional.
Ao abrir a porta, deu de cara com apertando as mãos dos representantes da Red Cup. Precisou respirar fundo ao perceber que chegava ao final da reunião. Em poucos segundos, todos os olhares se voltaram para ela, surpresos. No rosto dele, no entanto, só havia uma expressão: culpa.
— ! — o senhor careca a recebeu com um sorriso largo.
— Me desculpe pelo atraso, senhor Gabriel. Fiquei presa em outra reunião. Por isso mesmo pedi ao que os recebesse em meu lugar. Espero que tenha corrido tudo bem. — disse com um tom amigável, tentando contornar a situação.
— Ele foi ótimo! — elogiou Suzanne. — Adoramos a proposta. Você, como sempre, muito profissional, não é mesmo, senhorita ? — estendeu a mão, e correspondeu ao aperto.
— Obrigada, senhora Bennet. Fico feliz que tenham gostado — forçou um sorriso, mantendo a compostura.
Mas seus olhos, involuntariamente, encontraram os de e ele estava visivelmente desconfortável.
— Então, quando podemos começar a trabalhar nessa parceria? — Gabriel perguntou.
— Assim que recebermos o contrato formalizado para essa nova ação. Meu time entrará em contato para agendar uma nova reunião e finalizar os detalhes — respondeu.
— Seu time? Você quer dizer o ? — Suzanne perguntou, e pigarreou nervoso.
respirou fundo.
— Então... Acontece que ele é o outro chefe do departamento de criação aqui. Por isso, as atividades são divididas entre nós dois — explicou, engolindo em seco.
— Mas eu adorei ele! Gostaria que estivesse à frente do projeto com você — a mulher retrucou.
— Sim, seria incrível ver vocês dois trabalhando juntos — o senhor Bennet concordou.
— Eu receio que isso não seja possível, infelizmente — tentou intervir, ciente de que devia estar fervendo por dentro.
— Que pena! — Suzanne murmurou, visivelmente decepcionada.
— Mas, se a senhora desejar, o pode ficar à frente deste projeto, sem problemas — sorriu, querendo chorar.
— Seria ótimo! — a mulher não pensou duas vezes. , por sua vez, não conseguiu evitar a sensação de que Suzanne talvez estivesse interessada em , que parecia muito mais jovem que o marido ao seu lado.
— Mas estamos com a desde o início, querida. — Gabriel se intrometeu, tentando suavizar a situação.
— Quem sabe não seja bom respirar novos ares? — Suzanne respondeu, encarando . — Obrigada, . Você, como sempre, é um anjo! — sorriu satisfeita.
— Sem preocupações, senhora Bennet. Tenho certeza de que ele cuidará muito bem de tudo. — respondeu com um tom cínico, suficientemente sutil para não parecer um ataque direto, mas agressiva o bastante para ser sentida.
Com as formalidades encerradas, os representantes da Red Cup se despediram e deixaram a sala, deixando os dois publicitários sozinhos no ambiente.
— , eu posso explicar... — tentou falar, mas foi imediatamente interrompido.
— Não quero ouvir suas desculpas, — ela rebateu, indignada.
— , por favor, me escuta — ele implorou.
— Como eu disse, não tenho tempo para suas mentiras — ela o encarou friamente antes de se virar e ameaçar sair da sala.
— Faz mais de três semanas que enviei essa proposta. Eu nem lembrava mais disso, até vê-los saindo do elevador... — ele tentou impedir sua saída, segurando-a pelo punho.
— Você acha que eu sou idiota? Acha que não percebi o que tentou fazer? — ela o cortou novamente. — Quis me sabotar, não foi? Me colocar numa situação desconfortável diante dos nossos superiores!
— Isso foi antes de...
— Antes de você querer me comer? — travou o maxilar e lançou um olhar furioso em sua direção.
ficou atônito diante da acusação. Soltou o punho dela como se tivesse se queimado e deu um passo para trás, abalado pela intensidade da raiva dela.
— Não! Não é isso que você está pensando, . — ele a fitou sério, mas percebeu que, naquele momento, suas palavras não teriam qualquer efeito.
— Você mentiu para mim, . — ela levantou o dedo indicador, firme. — E agora vai ter que lidar com as consequências das suas ações.
se virou e saiu da sala sem olhar para trás.
ficou parado, impotente, sentindo um nó se formar no estômago. Viu-se, mais uma vez, afundando na própria impulsividade. Odiava aquela versão de , a que estava sempre furiosa, sempre decepcionada com ele.
— Merda! — praguejou, sentindo o peso do que acabara de acontecer e imaginando o quanto as coisas voltariam a ser difíceis dali em diante.
A semana foi especialmente complicada para . Os dias se arrastaram, difíceis, principalmente porque sequer olhava em sua direção. Durante as reuniões, o silêncio entre eles era absoluto, quebrado apenas pelo profissionalismo afiado de . A ausência de comunicação era tão profunda que se tornava ensurdecedora.
Para , cada interação necessária era direta, fria, sem qualquer traço de pessoalidade. sentia a tensão pairar no ar sempre que estavam no mesmo ambiente, e isso o frustrava ainda mais. Quando parecia que as coisas poderiam, enfim, melhorar, os dois voltavam à estaca zero.
— Então é isso! Vejo vocês hoje à noite! — disse Carter, referindo-se à festa dos Crawford, antes de deixar a sala de reuniões, seguido por .
— ? — a chamou, fazendo com que ela se virasse.
— Sim?
— Você vai hoje? — perguntou, genuinamente preocupado.
— Claro. É o meu trabalho! — respondeu ela com sarcasmo, antes de se virar novamente e sair da sala.
bufou, irritado.
— Você está bem? — Luke perguntou, sentado ao seu lado.
— Tentando sobreviver, cara — suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Ela é difícil, né? Às vezes, sinto medo dela. E olha que eu a acho atraente, mas, por Deus... tem horas em que sinto que posso ser devorado vivo — o rapaz disse, arregalando os olhos.
— Você a acha atraente? — perguntou, estreitando os olhos com desconfiança.
— E você não? — retrucou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
ficou em silêncio por alguns segundos, tentando conter a irritação ao ouvir o colega falar de com tanta casualidade. Ele sabia que seus sentimentos por ela eram profundos e confusos, muito além de atração. E por mais que estivesse irritado com ela, não suportava a ideia de outro homem sequer fantasiando com .
— Acho que não é apropriado discutirmos isso no ambiente de trabalho, não acha? — disse, forçando um sorriso sem mostrar os dentes.
— Olha, eu sei que as coisas estão tensas entre vocês, mas não desconta em mim. — Luke riu, desconfortável. — Além disso, você precisa encontrar uma forma de consertar isso. — referiu-se a situação atual.
— Eu sei, Luke. Mas toda vez que tento falar com ela, só pioro ainda mais as coisas — respondeu, frustrado.
— E como vai ser mais tarde, ? Joseph colocou vocês dois juntos na apresentação da nova imagem das empresas Crawford. Se algo der errado...
— Se algo der errado, pode ser o fim pra mim. E pra ela também. — completou.
Após a conversa, ele finalizou alguns detalhes e foi para casa, determinado a se arrumar para o evento. Ao mesmo tempo, também se preparava. Sabia que a festa dos Crawford era uma oportunidade importante para a agência, e precisava manter a compostura, independentemente de como se sentia com tudo, inclusive com sua antiga história com Adam Crawford.
A noite chegou envolta em sofisticação. O evento dos Crawford começou com uma elegância deslumbrante, decoração impecável, iluminação luxuosa e um clima de glamour pairando sobre o salão. chegou cedo, garantindo que todos os detalhes técnicos da apresentação estivessem sob controle. Enquanto verificava os últimos ajustes, seu olhar foi atraído para entrada.
acabara de chegar.
Estava deslumbrante em um vestido preto elegante, com uma fenda que revelava sua perna esquerda. Os cabelos soltos caíam em ondas pelos ombros, realçando ainda mais sua beleza e transmitindo uma confiança avassaladora. O coração de disparou, não apenas pela beleza dela, mas pelo abismo que havia entre eles naquele momento.
caminhava pelo salão com graça, cumprimentando os convidados com um sorriso profissional e sendo calorosamente recebida por todos. Tentava manter o foco nas interações, mas não conseguia evitar procurar com os olhos. E, quando finalmente o viu, em um terno azul-escuro impecável, percebeu que ele a encarava, com a boca entreaberta num silencioso "uau".
Ela desviou o olhar rapidamente, pegando a taça de champanhe recém-servida e virando o conteúdo de uma vez.
— Vejo que está se aquecendo. — disse uma voz carregada de deboche e ela reconheceu na hora.
— Senhor Adam Crawford. — forçou um sorriso.
— Espero que tudo saia perfeito hoje, senhorita . Fiquei um pouco chateado por não ter respondido à minha mensagem. — comentou com sarcasmo.
— Meu superior não permite trocas de mensagens entre funcionários e clientes — respondeu, engolindo seco.
— Acontece que eu não sou apenas um mero cliente, não acha? — aproximou-se com um olhar insinuante.
— ? — uma nova voz interrompeu a conversa, e ela agradeceu mentalmente pela intervenção. — Que coincidência! — o homem falou, e automaticamente, ela se virou.
— Max? Meu Deus! — sorriu, surpresa. — O que está fazendo aqui?
— Vim prestigiar o evento do meu grande amigo. — ele disse, passando um braço por cima dos ombros de Adam.
— White, seu grande idiota! — a risada exagerada de Crawford fez os pelos de arrepiarem.
Em que mundo esses dois poderiam se conhecer?
Talvez estivesse certo. Max era, sim, um babaca. E idiotas como ele nunca andam sozinhos.
Talvez... talvez ela se arrependesse, ainda que por um breve momento, de ter beijado Max naquela noite.
— Essa é a linda garota de quem te falei, a que conheci na boate — Max disse, apontando diretamente para ela.
gelou.
— Você falou de mim? — perguntou, desconfortável.
— Claro! Quem em sã consciência não falaria? — ele respondeu com um sorriso malicioso, fazendo-a se encolher por dentro.
Adam lançou um olhar estranho para , uma expressão indecifrável, mas carregada de uma centelha possessiva. O tipo de olhar que fazia o estômago dela revirar. Ele sempre fora assim: abusivo, controlador e territorialista. E a ideia de outro homem falar sobre certamente feria o ego inflado que ele carregava como uma armadura.
— Vejo que se envolveu com minha melhor ex-namorada, White — Adam fez questão de dizer, com um sorriso ácido.
— Ex o quê? — Max perguntou, incrédulo. — Mas… em que mundo vocês namoraram e agora ela trabalha com você? Isso é coragem ou loucura. — comentou, irônico.
— Também acho. — o amigo respondeu, sem desviar os olhos de . — Mas já cumpri meu papel, então vou deixá-la para você. — disse com cinismo.
— Não precisa ser um idiota, Crawford. — Max riu, desconfortável com o deboche do amigo.
— Na verdade, estou sendo um cavalheiro, emprestando o corpo que eu já conheço de ponta a ponta. — ele retrucou, soando tão nojento quanto sempre fora.
sentiu o sangue ferver, mas manteve um sorriso forçado. Não podia permitir que Adam percebesse o quanto aquelas palavras a afetavam. Ele sempre soubera como provocá-la, como manipular os sentimentos dela com falas cruéis e insinuações perversas. Mas naquela noite, ela se recusava a ceder ao jogo dele.
— Realmente, muito cavalheiresco da sua parte, Adam. Mas me permita dizer que as minhas decisões são minhas. — respondeu, com firmeza. — Agora, se me dão licença, preciso verificar alguns detalhes antes da apresentação. — disse, sorrindo educadamente antes de se afastar.
Max a observou, surpreso. Já Adam riu, satisfeito com a pequena cena que provocara. , por sua vez, caminhou rapidamente pelo salão, tentando afastar o mal-estar crescente. Dirigiu-se ao bar, em busca de um momento para se recompor. A apresentação era crucial e ela precisava manter o foco, mesmo com os fantasmas do passado rondando tão de perto.
, que havia assistido a cena à distância, sentiu um misto de ciúme e preocupação. Sabia do histórico problemático entre e Adam e vê-los juntos só o deixava mais inquieto. Quando a viu se afastar, decidiu ir até ela, mesmo correndo o risco de ser rejeitado novamente.
— , você está bem? — perguntou ao se aproximar do bar.
— Estou, . Só me preparando para a apresentação. — respondeu, forçando um sorriso que ele reconheceu de imediato como falso.
E pior ela estava falando “normal” com ele, então definitivamente ela não estava bem.
— Eu vi Adam falando com você. Se ele fez alguma coisa, eu...
— Não, , ele não fez nada. — ela o cortou, evitando criar mais atrito.
— Mas ele estava com aquele tal de Max. Eles são amigos? — questionou, desconfiado. — Eu te falei que ele era um babaca...
— Agora não é a hora, . — cortou novamente, séria. — Temos uma apresentação para fazer. E é isso que importa.
— Me desculpa, eu... — ele procurou as palavras, mas elas pareciam escapar.
— Tudo pronto? — ela desconversou, num tom profissional.
— Sim. Acho que já deveríamos nos dirigir ao palco. — ele respondeu, tentando conter a ansiedade.
Caminharam juntos até o local designado, cada passo ecoava a tensão não resolvida entre eles. A música ambiente parecia se dissolver à medida que se aproximavam do palco. O salão, com seu luxo e elegância, contrastava com o turbilhão emocional que sentia por dentro. Ela respirou fundo, consciente de que precisava manter a postura impecável.
— Devemos? — estendeu a mão, gentilmente, para ajudá-la a subir os degraus.
hesitou por um breve segundo antes de aceitar. No instante em que seus dedos tocaram os dele, ambos sentiram uma faísca quase esquecida de conexão. O toque foi breve, mas significativo. Ele a olhou com atenção, e naquele momento, percebeu o óbvio: tinha sido um completo idiota por tanto tempo.
era — sem exageros — a criatura mais fascinante que já cruzara seu caminho.
— Você está incrível, . — disse com um sorriso genuíno.
— Obrigada, . — respondeu contida, soltando sua mão e subindo os degraus com elegância.
No palco, todos os olhares voltaram-se para eles. A expectativa pairava no ar.
— Vamos começar logo com isso. — ela cochichou.
Ele assentiu e pegou o microfone, que chiou levemente ao ser ligado, atraindo a atenção geral. esboçou um sorriso breve, como um pedido silencioso de desculpas, antes de iniciar.
— Boa noite a todos. — sua voz soou firme. — É um prazer estarmos aqui para apresentar a nova imagem das empresas Crawford.
— Trabalhamos arduamente para capturar a essência e a inovação que essa empresa representa. — continuou, com segurança.
— A nova imagem reflete a visão da companhia para o futuro. — disse ela, gesticulando com as mãos. — Uma combinação de tradição e modernidade, algo que acreditamos que irá ressoar com todos vocês. — apontou para o telão, que revelou o novo emblema da marca.
Os presentes reagiram com expressões de encantamento.
— Como a mencionou, nossa equipe se dedicou a criar algo inovador e impactante. — ele acrescentou. — Queremos que todos vejam a Crawford não apenas como uma empresa de sucesso, mas como uma marca que está na vanguarda da inovação.
— E é por isso que cada detalhe foi pensado com cuidado, para refletir a força dessa marca no mercado atual. — ela completou, com postura confiante.
A apresentação seguiu impecável. Os slides estavam bem organizados, e a narrativa, coesa. e estavam em perfeita sincronia, suas vozes e argumentos se complementando como se tivessem ensaiado juntos por semanas. A plateia estava visivelmente impressionada.
Ao final, os aplausos foram calorosos. Os sorrisos dos convidados refletiam aprovação e entusiasmo. Os dois trocaram um breve olhar. Havia ali um reconhecimento silencioso de que, apesar de tudo, eles haviam vencido aquela batalha juntos.
— Obrigado a todos pela atenção. — disse. — Estamos ansiosos para trabalhar juntos e alcançar novos patamares de sucesso.
Ao descerem do palco, foram imediatamente cercados por convidados que queriam parabenizá-los. Carter apareceu, orgulhoso.
— Sempre me perguntei o que aconteceria se meus dois melhores funcionários trabalhassem juntos… e agora eu sei. Trabalho espetacular, crianças! — ele falou com um sorriso antes de se afastar.
e permaneceram no salão, ainda recebendo elogios. Por um momento, toda a tensão entre eles parecia ter sumido, substituída pela sensação do dever cumprido. Mas ambos sabiam que aquela calmaria era temporária. Logo, o mundo real voltaria a bater à porta, e com ele, os sentimentos, os conflitos e os assuntos inacabados que insistiam em não desaparecer.
— Fizemos um bom trabalho — ele disse, tentando romper o gelo entre eles.
— Sim, fizemos — ela respondeu, brindando com ele.
Em seguida, sentiu um leve toque em seu ombro e virou-se para ver Max White novamente.
— Desculpe interromper, mas precisava parabenizá-la pela apresentação. Foi brilhante! — comentou, sorrindo.
No mesmo instante, revirou os olhos.
— Obrigada, Max — respondeu com um sorriso forçado, tentando manter a cordialidade.
White lançou um olhar curioso para antes de continuar.
— Então, , gostaria de tomar um drinque comigo? Parece que essa noite merece uma celebração especial — disse, umedecendo os lábios.
quis intervir imediatamente, mas se conteve. Já havia errado demais com ela, e se comportar mal novamente estava fora de cogitação. se preparava para responder ao homem à sua frente, mas foi interrompida por Adam, que se aproximou com um sorriso cínico.
— Parabéns pela apresentação — disse, olhando diretamente para .
— Obrigada, Adam — ela respondeu, mantendo a postura.
tentou se conter mais uma vez. A presença de Crawford ali não significava coisa boa, e ele sabia disso.
— Nenhum parabéns para mim? — ele se meteu na conversa com um bico tristonho, demonstrando certa ironia.
— Concordo, senhor . Excelente trabalho — Adam respondeu, seco.
— Mas, enfim, precisamos conversar sobre algumas coisas, . Podemos? — ele lançou um olhar a Max, que abaixou a cabeça, e em seguida voltou-se para .
Ela hesitou, olhando para , um tanto apreensiva e relutante, o que fez o coração dele acelerar. Aquele olhar era quase um pedido de socorro.
— Vamos? — Crawford insistiu, e ela apenas assentiu, receosa.
acompanhou Adam até um canto mais isolado do salão, sentindo um nó se formar no estômago. Estava nervosa com o que ele queria discutir e temia que a situação se tornasse desagradável, como tantas outras vezes. Embora ela não soubesse, cada movimento seu era observado por . O olhar dele permaneceu fixo enquanto os via se afastar. Ele não deixaria Crawford encostar um dedo nela, nem que isso lhe custasse o emprego.
acompanhou com os olhos enquanto e Adam entravam em uma sala discreta que ele nem havia notado antes. Sentiu, de imediato, uma mistura de frustração, preocupação e uma fúria latente crescendo dentro de si.
Não podia deixar que Adam machucasse . Não de novo.
Enquanto isso, tentava manter a compostura diante do ex-namorado. Ele sempre soubera como mexer com suas emoções e causar medo. Durante muito tempo, ela se perguntou como pôde se envolver com alguém como ele, mas agora, com Adam diante dela, estava determinada a não deixá-lo abalar sua confiança.
— Pode fechar a porta, por favor? — Adam pediu, depois que ela entrou.
— Por qual motivo? — engoliu seco.
— Para conversar. Por quê? Está com medo? — sorriu debochado, como se soubesse que sua simples presença já a intimidava.
— Não tenho medo de você, Adam. — respondeu séria, embora seu coração batesse acelerado.
— Ótimo, então feche a porta e vamos conversar — ele insistiu.
Com medo, ela fechou a porta, mantendo uma distância segura entre eles. A sala, pequena e bem decorada, de repente parecia claustrofóbica. não queria estar ali. Sabia que nada de bom poderia vir de um Crawford, a última vez que estivera com um, foi o pai de Adam que ameaçou sua carreira.
— O que você quer, Adam? — perguntou diretamente, cruzando os braços em um gesto de autoproteção.
— Só quero conversar, . — disse, com um sorriso falso. — Não precisamos fazer disso um grande drama, certo?
Ela o encarou.
— Seja rápido. Não tenho muito tempo pra você — respondeu, seca.
Crawford deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles e o desconforto familiar tomou conta dela.
— Só queria parabenizá-la pela apresentação. Foi realmente incrível — começou, mas sua voz soava insincera.
— Obrigada! — agradeceu com um sorriso sem mostrar os dentes. — Agora, se é só isso, vou voltar para a festa.
— Espere, — ele a segurou pelo braço quando ela tentou se mover. — Quero falar sobre nós.
— Não existe mais “nós” há muito tempo, Adam — disse, tentando soltar o braço, mas ele apertou mais forte.
— Você sempre foi teimosa, não é mesmo? — murmurou, sarcástico.
Ela sentiu o cheiro forte do perfume dele, algo que antes a atraía, mas agora a nauseava.
— Apenas me deixe ir, Adam! — tentou se soltar mais uma vez, sem sucesso.
— Alguém precisa te ensinar uma lição — Crawford lançou um olhar sombrio sobre ela.
A sala pareceu encolher quando Adam a empurrou contra uma estante. Rapidamente a prendeu pelos braços e começou a beijar seu pescoço. tentou afastá-lo, mas sua força era esmagadora.
— O que pensa que está fazendo? — ela questionou, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.
Estava acontecendo de novo. Adam estava invadindo seu corpo.
— Você gosta, não é? — ele zombou, enquanto descia os beijos em direção ao busto dela.
— Eu mandei você parar! — ela tentou chutá-lo no meio das pernas, mas ele desviou.
— Não adianta resistir, . — murmurou, pressionando ainda mais o corpo contra o dela.
Os minutos pareceram eternos. lutava inutilmente contra ele. Quando ele soltou um dos punhos para tocar sua intimidade, ela tentou gritar, mas o pânico a sufocava — nenhum som saía. O desespero crescia. A necessidade de escapar. A impotência. Era como se estivesse destinada àquilo. Adam não atingia apenas seu corpo, mas seu psicológico.
Então, de repente, a porta se abriu com um estrondo.
estava ali.
Seus olhos ardiam de fúria e a respiração era pesada.
Ele não hesitou.
Avançou sobre Adam, puxando-o brutalmente pelo ombro e desferiu um soco em seu rosto. O impacto fez Crawford cambalear para trás, libertando de seu aperto. Ela deslizou para o chão, com os olhos arregalados e as mãos trêmulas. se posicionou imediatamente à frente dela, protegendo-a.
— Me espera lá fora, ! — ele ordenou.
— Mas, ... — ela choramingou.
— Eu disse pra me esperar lá fora. — virou a cabeça para trás, encarando-a com raiva.
A garota se apressou em sair da sala o mais rápido possível, ainda preocupada com o que poderia acontecer ali dentro. Adam se recuperou rapidamente, limpando com as costas da mão o sangue que escorria do canto da boca. Um sorriso malévolo surgiu em seu rosto, mesclado à raiva e à vergonha de ter sido pego em flagrante.
— Isso não é da sua conta, . — cuspiu as palavras, tentando manter a postura.
— Isso se tornou da minha conta no momento em que você encostou nela sem permissão. — deu um passo à frente, deixando claro que faria pior, se necessário.
Adam riu, um som seco e sem humor, enquanto massageava o maxilar onde havia recebido o golpe.
— Vamos ver o que Joseph vai achar disso. Vai ser difícil encontrar uma agência em Nova York que te aceite depois dessa. — ficou cara a cara com .
— Você não vai fazer nada, Adam. — ele sorriu, debochado.
— Isso é o que você pensa. — o fitou com ódio.
— Acho que seu pai ficaria bem irritado em perder um dos maiores patrocinadores dele, não acha? — umedeceu os lábios, com um ar de desafio.
— Você não me assusta, seu idiota! — apontou o dedo para o rosto dele. — Aliás, nem sei que merda você está falando. — tentou sair da sala.
— Harris. — pronunciou com solidez, fazendo Adam parar no mesmo instante. — Reconhece esse sobrenome, Crawford? — ele virou-se lentamente, encarando .
— O quê? — Adam perguntou, confuso.
— Harris. Prazer. — umedeceu os lábios novamente, agora com um sorriso vitorioso.
— Isso é impossível! — Crawford gargalhou. — Você, um Harris? — zombou, descrente.
— Vá até Joseph e eu vou garantir que você deseje nunca ter nascido. — travou o maxilar.
— Bela tentativa. — ele disse com ironia. — Mas o que um Harris estaria fazendo em uma agência de publicidade qualquer? — arqueou uma sobrancelha.
— Dói, né? Saber que o seu papai não te deu liberdade pra fazer o que queria? — provocou com sarcasmo.
Adam permaneceu em silêncio por alguns segundos. Ainda tentava digerir a revelação. A família Harris era um dos nomes mais influentes do país. Como um herdeiro poderia simplesmente ignorar o caminho tradicional e seguir sua própria vontade? Aquilo não fazia sentido para ele.
— Se tiver dúvidas, pesquisa. — deu de ombros. — Mas até lá, é melhor manter distância da .
— Você acha que pode me ameaçar, ? — rosnou com a voz carregada de veneno.
— Eu estou te ameaçando. — estreitou os olhos. — Se você tocar nela de novo, eu juro que vai se arrepender.
— Isso não acabou aqui! — Crawford retrucou com o rosto contorcido de raiva, antes de sair da sala batendo a porta com força.
Passou por sem ao menos notá-la.
respirou fundo, tentando acalmar os nervos.
Precisava encontrar . Precisava ter certeza de que ela estava bem.
Ao sair da sala, a viu encolhida contra a parede com os olhos cheios de lágrimas e o corpo ainda trêmulo. Ele a encarou com o semblante carregado de tristeza.
— ... — aproximou-se rapidamente e a envolveu em um abraço protetor, fazendo com que ela finalmente caísse no choro. — Está tudo bem agora! Eu estou aqui. — murmurou, sentindo o corpo dela relaxar um pouco em seus braços.
— ... eu... eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse chegado. — a voz dela saiu fraca.
— Você está segura agora. — respondeu, afastando-se levemente para olhar nos olhos dela. — Vamos sair daqui, ok? — segurou a mão dela e começou a conduzi-la.
— Vão nos ver... — ela recuou, puxando-o de volta, os dedos ainda entrelaçados nos dele.
— Eu não me importo. — disse firme, segurando o rosto dela com delicadeza. — Só quero te tirar daqui.
o olhou, o rosto ainda marcado pelo medo, mas encontrou um vislumbre de segurança nos olhos dele. Sabia que não conseguiria enfrentar Adam sozinha. E, naquele momento, tudo o que queria era sair dali.
— Tá bom. — falou, apertando a mão dele com segurança.
Os dois caminharam em direção à saída, tentando passar despercebidos pelos convidados. não conseguia desviar o olhar do homem que acabara de salvá-la. Não sabia o que havia dito a Adam, mas fora suficiente para fazê-lo sair calado, e isso bastava.
, agora, parecia absurdamente atraente.
Mesmo com toda a raiva que ainda sentia dele, sabia que, depois daquilo, encontraria um motivo para perdoá-lo — por tudo.
Outro pensamento também martelava sua mente: Adam faria algo sobre isso e o que aconteceria com os respectivos empregos deles depois dessa noite?
Mas, por ora, era como se existissem apenas os dois.
Caminhavam em câmera lenta por aquela sala cheia de gente rica, egocêntrica e alheia. O vento que entrava pelas janelas parecia reforçar ainda mais o cheiro de . Um perfume amadeirado com notas cítricas que a confortava de forma inesperada.
Ela não pôde evitar um sorriso ao olhar para ele.
Jamais um homem havia feito algo assim por ela. Apenas seu pai.
estava começando a se tornar uma ideia amável. E, depois de tantos anos o odiando... ela não sabia se estava pronta para isso.
— A gente poderia... só ir andando? — ela sugeriu, hesitante, com o olhar meio perdido, após ver a tentativa frustrada de em parar um dos motoristas que passavam em alta velocidade.
Ele parou por um momento, observando-a com delicadeza. Os olhos dela brilhavam como as luzes da cidade naquela noite. Percebeu, de imediato, a vulnerabilidade por trás daquela proposta e assentiu devagar com um sorriso suave em seus lábios.
— Claro. Por que não? — respondeu, iniciando os primeiros passos.
, abraçada ao próprio corpo para se proteger do frio, parecia distante, vagando em pensamentos, talvez ainda em Adam, talvez em um lugar mais sombrio dentro dela mesma. a fitava de relance, angustiado, mas respeitava seu silêncio. Sabia que ela precisava desse espaço para processar tudo o que havia acontecido.
— Está com frio? — ele perguntou, preocupado.
— Não... — ela respondeu com um sorriso tímido, tentando desconversar.
— Aqui. — em um movimento rápido, ele tirou o blazer e o colocou sobre os ombros dela.
— Obrigada. — assentiu com a cabeça, grata.
Continuaram andando em silêncio por mais alguns minutos, sob as ruas parcialmente desertas, que ofereciam uma atmosfera completamente diferente da agitada Nova York. A iluminação refletia no pavimento molhado, pela chuva que havia cessado há pouco tempo, criando um cenário quase cinematográfico.
— Então... para onde estamos indo exatamente? — perguntou suavemente, quebrando a calmaria.
Não queria mencionar o nome de Adam Crawford, ela não merecia mais esse peso naquela noite.
— Você quer comer algo? — franziu o cenho, incerta.
— Perfeito. — ele abriu um sorriso. — Conheço um lugar não muito longe daqui. O que acha?
— Acho que seria ótimo. — concordou.
levou até um pequeno restaurante italiano que frequentava ocasionalmente. Pensou que talvez memórias afetivas ligadas ao país de origem dos pais dela a fizessem se sentir melhor. O lugar era acolhedor, com móveis rústicos e uma música ambiente suave que criava uma atmosfera íntima. Acomodaram-se em uma mesa no canto e começaram a folhear o cardápio.
— Bem conveniente me trazer para um restaurante italiano, não acha? — ela arqueou as sobrancelhas, desconfiada.
— Não foi intencional. — ele estreitou os olhos, encenando inocência. — Ou talvez tenha sido... — completou, tentando esconder a astúcia.
riu fraco.
— Eu gostei daqui. Parece um lugar agradável. — disse, observando o ambiente com interesse genuíno.
— A comida é ótima, você vai ver. — respondeu, assentindo.
— Olá, boa noite! — o garçom os interrompeu com um sorriso simpático. — Gostariam de pedir algo?
— Boa noite! — retribuiu o sorriso e voltou sua atenção ao menu. — Podemos começar com uma porção de bruschettas de tomate e manjericão, por favor. E para beber... você prefere vinho ou outra coisa, ?
Ela pareceu surpresa com a sugestão imediata.
— Acho que sim... — hesitou. — O que você recomenda? — perguntou ao garçom, mostrando real interesse.
— Temos um Pinot Noir muito suave e aromático, que combina bem com o pedido. Posso trazê-lo para vocês?
— Seria ótimo, é um dos meus favoritos. — comentou, encarando à espera de aprovação.
Ela assentiu, e o garçom anotou o pedido antes de se retirar.
— Você parece entender bastante sobre a Itália, senhor . — ela brincou.
— Minha mãe sempre foi apaixonada pela cultura italiana. Inclusive, visitamos o país duas vezes. — ele explicou com um pequeno sorriso no rosto.
arregalou os olhos, surpresa.
— Sério? Nunca soube disso.
— Você estava ocupada demais me odiando. — ele respondeu com ironia leve.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Bem, você não facilitava as coisas. — retrucou.
assentiu com um riso contido.
— É. Eu era um pé no saco. — justificou.
— Era? — ela o provocou com deboche.
Os dois se entreolharam e, após alguns segundos, caíram na gargalhada.
— Você está bem? — perguntou depois que as risadas cessaram com o olhar cheio de carinho.
— Acho que sim... graças a você. — ela engoliu seco. — Eu não sei o que Adam teria feito se você não tivesse aparecido.
sentiu um nó na garganta ao ouvir aquelas palavras.
— Ele é um covarde. Merecia estar atrás das grades. — a expressão suave que carregava foi lentamente substituída por raiva.
percebeu a mudança e tocou levemente sua mão.
Ele respirou fundo, tentando recuperar a compostura. Sabia que não podia deixar a raiva dominá-lo, ela já tinha passado por demais, e agora ele precisava ser o apoio que ela necessitava.
— Desculpa. Não era minha intenção estragar o clima. — murmurou, forçando um pequeno sorriso.
— Você não estragou nada. Você me salvou. Obrigada! — respondeu com sinceridade, ainda segurando a mão dele, sorrindo de forma singela.
Nesse momento, o garçom retornou com o vinho e as bruschettas. puxou a mão discretamente de volta para si.
— Aqui está o Pinot Noir que pediram. — disse o garçom ao servir o vinho. — E a entrada. — colocou a louça no centro da mesa.
agradeceu com um aceno de cabeça e um sorriso cordial. observou a comida com apetite, sentindo-se estranhamente grata por estar ali com alguém que parecia entender exatamente o que ela precisava. Pegou uma bruschetta e deu uma mordida delicada, saboreando o frescor dos tomates e o aroma do manjericão. Aquilo a fez se lembrar de casa, especificamente, do colo da mãe.
— Está bom? — ele perguntou, rindo da expressão de satisfação dela.
— Como eu não conhecia esse restaurante? — comentou, cobrindo a boca cheia com a mão.
— Não se culpe. Ele é meio escondido. — respondeu.
— Mas você conhece... e eu sou a que tem descendência italiana. Deveria saber disso! — o fitou, indignada de brincadeira.
— Minha mãe adora vir aqui...
— Você ama muito sua mãe... mas parece odiar seu pai, né? — ela o interrompeu sem pensar.
congelou por um segundo.
— Tópico sensível. — murmurou, visivelmente desconfortável.
— Me desculpa, . Eu...
— Não precisa se desculpar. É só... complicado. — ele pausou por um momento, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Meu relacionamento com meu pai não é dos melhores. Tivemos... muitos atritos ao longo dos anos. — sua feição transbordava frustração. — Ele tem uma maneira... diferente de demonstrar afeto. — então, engoliu o resto do vinho e fez uma careta.
A garota riu fraco.
— Por que não pediu outra bebida? Você odeia vinhos. — questionou, arqueando as sobrancelhas.
— Eu não odeio. Só não sou muito fã. — deu de ombros.
— E sobre sua mãe? Parece que vocês têm uma relação muito próxima. — ela mudou de assunto, suavemente.
assentiu, feliz por falar de algo mais leve.
— Ela é incrível. — era possível ver a admiração em seus olhos.
— Quando vou conhecê-la? — perguntou diretamente.
— Mas... você disse que... — ele não conseguiu terminar.
— É uma forma de te agradecer pelo que você fez hoje. — explicou, com sinceridade.
— O que eu fiz hoje não tem nada a ver com esperar que você me retribua, . Você sabe disso, não sabe? — perguntou, ansioso.
— Sei. — ela balançou a cabeça, afirmando. — Mas eu preciso dizer a ela que a criação que ela te deu fez de você um homem como nenhum outro que já passou pela minha vida. — o encarou com um olhar singelo.
ficou sem palavras. Estava visivelmente tocado pela sinceridade dela. Para ele, o que fizera naquela noite era simplesmente o que qualquer pessoa decente faria ao ver alguém em perigo. Mas ouvir aquilo, vindo de , tinha um peso diferente.
— Você vai amá-la, . — respondeu com um sorriso terno. — E quanto ao que você disse... — respirou fundo. — Obrigado.
— Ótimo. Então vamos marcar esse encontro? — a morena perguntou, bebericando o vinho.
— Você está livre amanhã? — ele rebateu sem hesitar.
— Amanhã? — indagou, surpresa. — Já?
— Por que não? — disse, ainda sorrindo. — Até porque... ela já me ligou perguntando de você.
— Não acredito... Melissa? — perguntou, desconfiada.
apenas assentiu.
— Aquela louca... — ela comentou, arregalando os olhos ao lembrar da cena escandalosa que a ex-noiva dele havia causado no hall da agência.
— Nem me lembre. — balançou a cabeça.
— Ela claramente te odeia.
— Não vamos falar dela. — ele interrompeu, sério. — Eu preferia que você roubasse todas as minhas contas na agência, se isso fosse o preço para Melissa esquecer que eu existo. — encarou com convicção.
— Ai meu Deus... você está mesmo falando sério! — a morena tentou conter o riso.
— ! — ele a repreendeu, manhoso.
— Tá bom, tá bom. Sem Melissa. — assentiu, levantando as mãos. — Amanhã, então. — confirmou com um sorriso travesso. — Fingirei ser sua namorada e acabaremos com o reinado da loira sem sal.
riu, contagiado pela espontaneidade dela. Um calor gostoso cresceu em seu peito.
— Ótimo! Estamos combinados, então. — ele levantou a taça, propondo um brinde. — A um novo começo?
— A um novo começo. — ergueu a taça com um sorriso hesitante, mas sincero.
Terminaram a refeição conversando sobre assuntos mais leves, relembrando brigas antigas, rindo de situações absurdas que viveram no trabalho, descobrindo afinidades. Quando decidiram que era hora de partir, insistiu em pagar a conta, apesar das tentativas de em dividir.
— Podemos dividir, você sabe. — ela argumentou, puxando a carteira.
— Pode relaxar? — devolveu com um olhar provocador. — Não é como se estivéssemos num encontro. — falou com ironia e a convenceu.
Ao saírem do restaurante, foram surpreendidos pelo vento frio que ainda soprava nas ruas. Caminharam em silêncio por alguns minutos em direção ao ponto de táxi mais próximo. A tensão entre eles parecia crescer, alimentada pela proximidade física e emocional que os envolvia. Até que decidiu romper o silêncio.
— O que você disse a ele? — a pergunta saiu em um tom baixo, quase hesitante, mas o suficiente para que ouvisse.
— Como? — fingiu não entender.
Revelar sua origem e sobrenome para as pessoas nunca esteve nos planos. Odiava como tudo mudava quando sabiam quem era seu pai. Não que achasse que mudaria por isso, conhecia o caráter e a personalidade forte dela. Mas ainda assim, o anonimato lhe dava paz.
O que temia, acima de tudo, era que ela passasse a duvidar de sua capacidade profissional, achando que ele só chegara onde estava por influência ou por carregar o nome Harris. Mas não era isso. havia lutado muito para se tornar publicitário — sozinho. E usar o peso do sobrenome naquela noite havia sido sua última opção para proteger .
— Eu conheço aquele homem, . Ele não desistiria fácil. — ela continuou, determinada. — Então... o que você disse a ele? — levantou as sobrancelhas, insistindo.
— Eu disse que a polícia estava a caminho... e que ele deveria sair antes que as coisas ficassem ainda piores. — respondeu, desviando o olhar para a calçada à frente. — Por sorte, ele acreditou e foi embora. — concluiu, tentando parecer indiferente.
parou de andar.
— Ele acreditou nisso? — o olhou, surpresa.
— Ele estava bêbado. E já tinha causado problemas demais. — ele justificou, mexendo as mãos, visivelmente desconfortável.
Ela balançou a cabeça devagar, absorvendo tudo. Sabia o quanto era difícil confrontar alguém como Adam Crawford. Sabia que muitos teriam preferido não se envolver. Mas esteve lá. E agora, mais do que nunca, ela se sentia grata.
— Obrigada. — disse, com os olhos fixos nos dele.
Ele sorriu. Um sorriso meio triste, talvez pela profundidade daquele momento, talvez porque sabia que ainda havia tanto que não podia revelar. Tantas coisas que queria contar a .
Mas seu ego, teimoso, ainda o impedia.
— Quantas vezes você ainda vai me agradecer? — brincou, tentando disfarçar a turbulência interna.
— Quantas vezes for necessário. — deu uma risadinha, mas seus olhos ainda estavam sérios, como se buscassem algo dentro dele.
Com a noite cada vez mais fria, ela se aconchegava no blazer dele enquanto os dois seguiam em silêncio por mais alguns minutos. Ao chegarem ao ponto de táxi, acenou para um carro que se aproximava. Quando o veículo parou, ele abriu a porta para .
Ela hesitou por um momento antes de entrar, como se algo a prendesse ali, algo não dito.
— Eu... — começou, mas a voz falhou, e ela mordeu o lábio, lutando para encontrar as palavras certas.
— O quê? — ele sussurrou, dando um passo em sua direção.
— Nada. — a morena disse finalmente, sacudindo a cabeça e afastando os pensamentos. — Só... obrigada por tudo, de novo.
assentiu, aproximando-se ainda mais. A tensão entre eles era quase palpável. Por um breve momento, ele deixou a respiração escapar pela boca e percebeu o quão próximo estava do rosto dela. Com os olhos fixos nos dela, buscou permissão para cruzar aquela linha invisível.
Ela se inclinou levemente, sentindo o coração acelerar.
O tempo pareceu parar enquanto seus lábios quase se tocavam e um calor inesperado surgiu em meio ao frio que tentava congelá-los. Mas então, algo dentro dela a fez recuar. Talvez fosse o medo de estragar o que tinham construído naquela noite. Ou talvez fosse o fato de que, no fundo, ainda eram adversários no trabalho, com um longo caminho pela frente.
— Obrigada por tudo hoje. — disse, retrocedendo um pouco. — Eu realmente aprecio o que você fez por mim.
deu um meio sorriso, sentindo uma pontada de decepção, e abriu a porta do táxi para ela.
— Qualquer hora, . — respondeu.
Por um segundo, ela desejou tanto que ele tivesse a chamado de “”.
Ela entrou no carro, e ele fechou a porta suavemente, observando enquanto o veículo se afastava, com a sensação de algo inacabado consumindo seu peito. Sabia que a relação deles era complicada, cheia de altos e baixos, mas aquela noite havia mudado algo.
Enquanto o táxi levava para casa, ela observava a cidade passando pela janela, refletindo sobre o quão agitado havia sido seu dia. No entanto, cada detalhe parecia mais intenso, mais significativo. O gesto de ao colocar seu blazer sobre seus ombros, a conversa no restaurante, o quase beijo.
Tudo isso a fazia questionar o que realmente sentia por ele e, de certa forma, isso a incomodava. sempre soube lidar com tudo, mas, quando se tratava de , tudo parecia mais difícil. Estava tão ansiosa que apertou o tecido do blazer com força e respirou fundo, até se dar conta de que não o havia devolvido.
“Fiquei com seu blazer.”
Ela digitou desesperadamente no celular e enviou para .
Ele, prestes a entrar em um táxi, sentiu o celular vibrar. Pegou o aparelho do bolso e viu a notificação de . Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto, e ele digitou rapidamente uma resposta.
“Espero que esteja à altura. Caso contrário, vou precisar de uma descrição detalhada das condições do blazer antes da devolução.”
Não demorou para receber a resposta dela:
“Desculpe, a descrição vai ser simples: confortável e cheiroso! Mas se eu soubesse que você faria piadas, teria devolvido antes.”
riu para si mesmo, imaginando a expressão de ao digitar aquela mensagem. Estava prestes a responder quando a buzina do táxi o interrompeu.
“Ok, ok. Apenas cuide bem dele. E não se preocupe, as piadas são apenas um bônus. Boa noite.”
guardou o celular no bolso após responder, entrou no veículo e deu instruções ao motorista. Apesar de o dia ter sido intenso e suas emoções estarem à flor da pele, a leveza da troca de mensagens trouxe um sorriso genuíno ao seu rosto.
Do outro lado da cidade, chegava em casa e ia direto para o quarto, ainda com o blazer de sobre os ombros. A sensação do tecido contra a pele era quase como um abraço. Ela jogou a pequena bolsa no chão e deitou-se na cama, encarando o teto, refletindo sobre como a noite havia sido diferente de tudo que esperava.
Com um suspiro e as mãos suando frio, pegou o celular novamente. Queria mandar mais uma mensagem. Tentava entender por que estava tão ansiosa para enviar um simples texto, sendo que há poucos meses era capaz de xingar até a quarta geração dele.
Enquanto encarava a tela vibrante, hesitando sobre o que escrever, estava no carro, olhando pela janela. Sentia que algo havia mudado entre eles, mas ainda não sabia o que isso significava para o futuro. Era diferente de quando só falavam sobre sexo. Desta vez, o quase beijo não tinha sido motivado por ódio, álcool ou tesão.
Quando o táxi de parou em frente ao seu prédio, ele pagou o motorista e saiu, ainda com a mente acelerada. Subiu para seu apartamento e, ao entrar, jogou o molho de chaves sobre a mesa de centro, o barulho ecoou pela sala e ele sentiu o vazio do lugar. Por um breve momento, desejou que ainda estivesse ali com ele, mas afastou rapidamente esse pensamento, tentando reprimir qualquer emoção diferente por ela.
Em outro ponto da cidade, a morena ainda estava deitada, segurando o celular, ponderando algo diferente dele. Decidiu mandar mais uma mensagem, uma que mostrasse um pouco da sua vulnerabilidade, algo que raramente fazia, sem saber no que aquilo poderia resultar:
“Hoje foi estranho, mas de um jeito bom. Obrigada por me mostrar que as coisas podem ser diferentes entre nós. Boa noite, .”
já estava deitado no sofá, tentando acalmar a cabeça, quando o celular vibrou de novo. Ele pegou o aparelho e, ao ver quem havia mandado o recado, foi pego de surpresa, até mais do que esperava. Sentiu um aperto no peito, uma mistura de confusão e esperança. Por alguns segundos, ficou encarando a tela, sem saber como responder.
— O que você está fazendo, ? — sussurrou para si mesmo. — Eu estou tentando não ir por esse caminho... por que está tentando me fazer mudar de ideia? — mordeu o lábio, nervoso.
Subitamente, tomou a decisão de ligar para ela.
A chamada soou por alguns segundos até que finalmente atendeu.
— Alô? — a voz dela parecia um pouco surpresa, mas também ansiosa.
— Sou eu, ! — ele disse, tentando soar calmo, apesar do nervosismo.
— Eu sei... aconteceu algo? — a morena perguntou, tentando entender o motivo da ligação.
— Eu recebi sua mensagem — explicou.
— É por isso que ligou? — respondeu, ainda sem entender o motivo da ligação.
— Eu só... queria ter certeza de que você estava bem. — pausou por um momento, esforçando-se para encontrar as palavras certas.
— Ah... — ela respirou fundo, como se estivesse tentando acalmar os próprios nervos.
— Por que você recuou hoje? — ele a interrompeu, inquieto.
— Desculpa, não entendi — retrucou, confusa.
— Você sabe que íamos nos beijar... mas você recuou — falou rápido, como se temesse perder a coragem se não dissesse logo.
ficou em silêncio por um instante, lutando para encontrar uma resposta adequada. Sabia que, em algum momento, seria questionada sobre aquilo, só não imaginava que seria tão cedo. E o que mais a assustava era o fato de que ela quis beijá-lo. Imensamente.
— Não é óbvio? — tentou desconversar. — Você sabe que isso nunca funcionaria e estávamos vulneráveis. Poderíamos nos arrepender depois, eu só...
— E o que você quis fazer com aquela mensagem? Mais uma massagem no seu ego? — ele a cortou de imediato, frustrado.
suspirou profundamente.
A acusação caiu como um peso sobre seus ombros. Sua tentativa de se proteger, de evitar complicações, parecia ter sido mal interpretada. Tudo havia sido tão repentino. Pela primeira vez, não havia tensão sexual, álcool ou ódio para culpar. Se o beijo tivesse acontecido, seria carregado de um sentimento novo. E ela temia que isso desmoronasse o pouco que estavam construindo.
— Não é uma questão de massagem no meu ego. — respondeu, esforçando-se para manter a calma. — Eu só... estou tentando entender o que aconteceu e o que isso significa pra nós.
— O que significa pra nós? — repetiu, sentando-se no sofá. — Estamos lidando com um monte de coisas aqui, . — ele engoliu seco antes de continuar. — Eu só não quero que isso vire um jogo ou algo que você vai esquecer depois. Eu já disse isso antes.
— Exatamente! — concordou. — Mas antes era só sobre sexo, e agora é diferente. Eu...
— Você o quê? — ele a interrompeu novamente.
— Não estou jogando, — disse com firmeza, embora seu coração estivesse disparado. — Era mais fácil quando nossas discussões eram só sobre desejos carnais... — ela fez uma pausa. — Mas hoje, eu não conseguiria colocar a culpa do beijo na raiva que sinto por você. Porque, especialmente hoje, eu não conseguiria te odiar... nem mesmo se tentasse. E eu não conseguiria fingir depois que te beijei só por impulso, porque, na verdade, eu queria. — confessou.
ficou em silêncio.
Paralisado.
A confissão dela caiu como um raio, rompendo a fachada que ele tentava manter desde o início da noite. Ele sabia que havia algo diferente entre eles, mas ouvir aquilo... Ouvir admitir que não conseguia mais usar a raiva como escudo, que o beijo teria sido real, verdadeiro, foi mais do que ele esperava.
— Eu... eu não sei o que dizer. Acho que está certa. É mais fácil quando você está brigando comigo — ele riu, nervoso.
— Entendo onde quer chegar... Eu nunca imaginei que teríamos esse tipo de conversa. Na verdade, acho que só agora estamos agindo como pessoas civilizadas. — disse num tom mais baixo, ainda tímida com o que havia confessado.
suspirou, sentindo o peso da conversa. Sabia que estava pisando em território desconhecido, mas algo o impelia a continuar. Havia ali um lado de que ele nunca tinha visto antes — e isso o desarmava.
— É estranho, não é? — ele perguntou, tentando suavizar o momento. — Nós dois... sendo honestos, sem brigas, sem jogos.
— Sim... — deixou escapar uma risadinha nervosa.
Seguiu-se um breve silêncio, confortável dessa vez.
— Então... sobre amanhã... — começou.
— Eu vou estar lá — confirmou, antes que ele pudesse perguntar. — Seria bom escolhermos um lugar mais escondido, não é?
— Não precisa se preocupar. Todas as vezes que minha mãe quer almoçar comigo, isso significa que eu terei que cozinhar — riu, fraco.
— Parece que vou ter uma refeição caseira autêntica. Soa deliciosamente bom pra mim. Mas sempre posso reclamar da comida, se não estiver boa. — provocou com ironia.
— Ah, então você já está me ameaçando? — ele entrou no jogo. — Vou ter que garantir que a comida esteja impecável.
— Melhor garantir mesmo! — riu novamente.
— Bom... parece que temos um plano pra amanhã — disse, confiante.
— Sim, e isso significa que você tem que descansar para cozinhar. Boa noite! — tentou encerrar a ligação.
— Tudo bem. Amanhã eu te mando o endereço — disse.
— Não precisa. Já estive aí, não lembra? — respondeu, sarcástica.
— É verdade — revirou os olhos, relembrando a cena.
— Não se preocupe, ficarei longe dos pneus do seu carro amanhã — mordeu a língua, sabendo que o provocaria.
— Nossa! Muito engraçadinha — ele respondeu, em tom de falsa reclamação.
— Fico feliz que você tenha um senso de humor sobre isso, senhor — debochou.
— É a única forma de lidar com você, senhorita .
— Está vendo? Não é tão difícil assim ser civilizado, não é?
— Porque você entende muito disso, não é mesmo? — riu. — Boa noite, — finalizou a chamada.
permaneceu deitada na cama, segurando o celular, com um sorriso suave nos lábios. Sentir-se tão exposta era incomum, especialmente com . Mas, de algum modo, aquela conversa trouxe alívio. Como se uma barreira invisível tivesse sido, enfim, derrubada.
Deitada, ela puxou o blazer mais para perto de si, sentindo o cheiro dele no tecido.
"Será que as coisas realmente podem ser diferentes entre nós?"
Ela pensou, enquanto seus olhos se fechavam lentamente.
Do outro lado da cidade, ainda estava sentado no sofá, com o celular na mão. Seu lado racional gritava que tudo era complicado demais, que misturar as coisas poderia acabar mal. Mas havia outra parte, teimosa e impulsiva, que queria descobrir onde aquilo tudo poderia levar.
Levantou-se e foi para o quarto. Precisava de descanso — físico e mental — para o que estava por vir. No fundo, sabia que estava ansioso para ver novamente, mesmo que fosse sob o pretexto de uma refeição “casual” com sua mãe.
Enquanto se preparava para dormir, os pensamentos continuavam a importuná-lo. Mas uma certeza começava a se formar: agora, não havia mais como voltar atrás. E, de certa forma, isso o assombrava. Se algo desse errado, poderia perder até mesmo a versão de que o odiava. Depois de muito se remexer na cama, tentando encontrar uma posição confortável, finalmente adormeceu.
Na manhã seguinte, acordou com a luz do sol atravessando as frestas da cortina. Por um breve momento, sentiu uma serenidade estranha enquanto se espreguiçava lentamente, o tecido macio do blazer ainda sobre ela. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto. Sabia que o dia não seria fácil: encontrar em um contexto tão íntimo quanto um almoço em sua casa, e ainda com a presença da mãe dele, com certeza seria um desafio.
Após bocejar por alguns segundos, levantou-se, dobrando cuidadosamente o blazer e colocando-o sobre a cadeira em frente à penteadeira. Tateou a cama em busca do celular e, ao encontrá-lo, ligou a tela. As notificações já indicavam mensagens de .
“Você realmente vem, né?”
Ela sorriu e decidiu provocá-lo um pouco.
“Você está parecendo um adolescente, senhor !”
não conseguiu conter o sorriso ao ler a resposta. Pensou por alguns segundos antes de digitar.
“Você também está parecendo uma adolescente tentando implicar comigo, senhorita . Mas, pelo menos isso significa que você virá, certo?”
continuou a provocação.
“E se eu disser que não vou?”
“Então vou te buscar à força.”
A resposta ousada de a surpreendeu.
“Bem que você gostaria, não é? Mas, para seu azar, eu já estou me arrumando. Preciso garantir que vou causar uma boa impressão na minha sogra.”
O comentário fez rir em voz alta. Ele olhou para o celular mais uma vez, ainda sem acreditar que aquela mulher, com quem travara tantas batalhas, agora estava disposta a brincar sobre algo tão íntimo quanto conhecer sua mãe, parecia irreal.
“Já estamos nesse nível de intimidade?”
“Não se acostume, . É só uma brincadeira.”
respondeu, mordendo o lábio inferior enquanto se olhava no espelho, pensando na roupa que usaria.
“Vou manter isso em mente. Vejo você em breve.”
Ele enviou a mensagem, guardou o celular no bolso e encarou o relógio na parede. Estava mais nervoso do que imaginava. A ideia de que aquele simples almoço pudesse se tornar algo tão significativo o deixava inquieto. A presença da mãe era apenas mais uma peça no quebra-cabeça que era seu relacionamento com .
Enquanto isso, terminava de arrumar o cabelo quando sentiu o coração acelerar. Era estranho como uma troca de mensagens podia mexer tanto com ela. Sabia que seria difícil manter a fachada de frieza a que estava acostumada perto de , mas decidiu que não recuaria.
Uma hora depois, já pronta para sair, pegou o blazer que ainda estava dobrado sobre a cadeira. Inspirou profundamente o cheiro que ainda permanecia no tecido e se permitiu sorrir mais uma vez antes de guardá-lo cuidadosamente na bolsa.
finalizava os preparativos para o almoço quando ouviu a campainha tocar. Um frio no estômago, inesperado, percorreu seu corpo. Aquilo não combinava com sua habitual confiança. Muitas coisas estavam prestes a mudar. Mas, assim como , ele decidiu que não recuaria. Respirou fundo e abriu a porta.
— Você está atrasada! — ele estreitou os olhos.
— Trânsito. — se justificou, com naturalidade. — Mas eu trouxe um presente. — ergueu o blazer com um sorriso.
Ele riu suavemente ao pegar o casaco de suas mãos.
— Você fica bem com ele, sabia? — levantou as sobrancelhas.
— Já disse para não se acostumar, . — rebateu, com um sorriso travesso, entrando no apartamento.
— Fique à vontade — disse ele, fechando a porta e apontando para a sala de estar. — Minha mãe ainda está no quarto se arrumando, então temos um tempinho antes de ela aparecer.
assentiu e começou a observar o ambiente, enquanto ele colocava o blazer em cima do sofá. O apartamento era bem decorado, elegante e aconchegante, não estava surpresa, pois, o local exalava a energia dele mais que o normal.
Porém, o que chamou a atenção dela foram algumas fotos emolduradas na parede da sala, uma delas era de ainda criança, ao lado de uma mulher que tinha o mesmo sorriso caloroso que ele, e teve certeza de que se tratava da mãe dele.
— Você era adorável, sabia? — comentou, apontando para a foto.
Ele bufou, rindo logo em seguida.
— Não deixe minha mãe ouvir isso. Ela vai passar o almoço inteiro contando histórias constrangedoras da minha infância — cochichou, aproximando-se dela.
— Por favor, faça isso acontecer! — ela respondeu, dando um passo à frente e piscando para ele.
Ele balançou a cabeça, claramente em negação, mas antes que pudesse responder, passos leves ecoaram pelo corredor.
— , querido, você... — a voz se interrompeu ao ver a moça de pele clara e cabelos escuros ao lado do filho. — Oh, você deve ser a !
— É um prazer conhecê-la, senhora . — apresentou-se, caminhando até ela e estendendo a mão com um sorriso educado.
— Por favor, me chame de Elizabeth. — surpreendeu a morena ao envolvê-la num abraço gentil. — E posso dizer que você é ainda mais bonita do que ele me contou.
corou e lançou um olhar acusador para , que apenas deu de ombros, fingindo inocência.
— Fico feliz que tenha vindo. — Elizabeth continuou, conduzindo-a até a cozinha, onde um aroma delicioso preenchia o ar. — Você é especial, sabia? Meu filho nunca cozinhou para uma mulher que não fosse a própria mãe.
— Mãe, por favor... — ele resmungou, quase derrubando a panela ao tentar manter a compostura.
— Estou só brincando, querido. Agora, por que não termina de arrumar a mesa enquanto eu converso com a minha nora? — disse, rindo e dando um tapinha carinhoso nas costas dele.
Ele suspirou, resignado, e começou a organizar a mesa para o almoço, observando as duas se acomodarem próximas.
— Sabe, o é um ótimo cozinheiro, mas sempre faz essa cara tensa quando quer impressionar alguém. — a mãe dele confidenciou a , quando o filho voltou à cozinha para pegar os talheres. — Aposto que passou a noite pensando no que prepararia para você.
— Sério? — arqueou as sobrancelhas, surpresa, e olhou na direção de , que parecia concentrado.
— Ele não admitiria nem sob tortura, mas é verdade. — respondeu, e ambas riram.
— Bom, isso é bem a cara dele mesmo. — concordou, ainda sorrindo.
O riso da senhora foi mais alto dessa vez, e , que voltava à cozinha, parou por um momento, observando as duas com um sorriso discreto. Era raro ver sua mãe se conectar tão rapidamente com alguém, nem mesmo Melissa, amiga de infância, havia conseguido isso.
— O que estão falando de mim? — perguntou, fingindo indignação.
— Nada que você já não saiba, querido! — a senhora respondeu com um olhar travesso.
— Não tenho tanta certeza disso. — ele retrucou, lançando um olhar desconfiado para , que apenas sorriu e deu de ombros.
Logo o almoço foi servido. A comida estava deliciosa, e ficou boquiaberta, o que rendeu a muitos elogios sobre seus dotes culinários. O clima à mesa era leve. Elizabeth era encantadora, cheia de histórias e comentários afetuosos, o que ajudou a quebrar o gelo rapidamente e deixou todos à vontade.
Mas o que realmente surpreendeu foi como parecia diferente. Estava mais relaxado, quase vulnerável. Não era o mesmo homem com quem ela discutia no escritório, tampouco o sarcástico e impaciente com quem trocava farpas. Era alguém mais autêntico, alguém com quem ela começava a se conectar de um jeito que a assustava.
Por mais que tudo isso fosse parte de um teatro, não podia ser totalmente mentira. Ela pensou.
Foi tirada do devaneio quando a mãe de comentou, empolgada:
— , você precisa conhecer a nossa casa de praia!
— Mãe, a gente já conversou sobre isso! — reclamou, impaciente. — É muito cedo pra falar em...
— Vocês têm uma casa de praia? — o interrompeu, surpresa.
— Sim! Quando vamos? — Beth completou, visivelmente animada.
— Mãe... — ele respirou fundo, tentando manter a calma.
— Você não quer que eu vá? — o encarou, confusa com a reação dele.
— Não é isso! — ele se apressou em dizer, colocando a mão sobre a dela. O gesto não passou despercebido por Elizabeth. — É só que... — hesitou. — Eu não quero te pressionar.
olhou para ele, sentindo o calor da mão sobre a sua, e não conseguiu conter um sorriso. Pela primeira vez, viu algo além da costumeira autoconfiança quase arrogante, havia uma preocupação genuína em seu olhar, como se tivesse medo de assustá-la.
— Pressionar? — repetiu suavemente, sentindo o coração acelerar. — Eu adoraria ir. — disse por fim, forçando um pequeno sorriso.
— Ótimo! — a mãe dele exclamou, animada. — Podemos planejar para o próximo fim de semana. É um lugar maravilhoso, você vai adorar, !
— Próximo fim de semana senhora ? Mas... estamos no inverno. — franziu o cenho, curiosa.
— E é exatamente por isso que o lugar fica ainda mais bonito — respondeu com um sorriso gentil. — E, por favor, pare de me chamar de senhora . Esse nem é meu sobrenome. É o segundo nome do .
— Segundo nome? — arqueou as sobrancelhas.
— Isso mesmo. O pai dele nunca gostou do nome , sempre disse que era delicado demais. — disse com certa amargura na voz. — Por isso o chama de . Foi o nome que ele escolheu e impôs.
Elizabeth revirou os olhos e , percebendo a mudança de tom, tentou suavizar o clima.
— Então como devo chamá-la? — perguntou, com voz mais baixa, quase doce.
— Você pode me chamar de senhora Ha...
— Mãe, não! — ele a interrompeu de imediato, num tom que surpreendeu ambas. — Ela ainda não sabe.
Naquele instante, ele soube que não poderia fugir por muito mais tempo. A última coisa que queria era falar sobre seu pai, ou sobre o sobrenome que herdou. Na verdade, preferia que ninguém soubesse, especialmente . Não agora, quando as coisas pareciam estar finalmente dando certo.
— O que eu não sei? — ela perguntou, curiosa.
O silêncio se instalou por alguns segundos, até que Elizabeth decidiu contorná-lo.
— Me chame apenas de Beth, minha querida! — disse amistosa.
levantou-se abruptamente, pegando alguns pratos para levar à pia, numa clara tentativa de evitar o assunto. o observou com atenção, intrigada com a reação. Mas respeitou o silêncio. Algo dentro dela sabia que, cedo ou tarde, descobriria o que o incomodava tanto.
— Com licença, Beth. — sorriu para a senhora à sua frente antes de seguir para a cozinha.
Ela parou na entrada e o observou de costas, lavando a louça com movimentos duros. Os ombros estavam tensos. Era nítido que o assunto o afetava. Ainda assim, ela preferiu apenas ajudá-lo, em silêncio, com presença.
— Você não precisa fazer isso. — ele disse, como quem tenta mudar o foco da conversa anterior.
— E perder a chance de ajudar o chef do dia? — ela sorriu, pegando um pano de prato.
— Então você realmente gostou da comida? — riu, aliviado.
— Só um pouquinho — respondeu, fazendo um gesto pequeno com os dedos.
— ?
— Não precisa me contar nada. — interrompeu com gentileza.
— É só que... tem algumas coisas sobre mim que são complicadas. — ele murmurou, com um sorriso cansado.
Ela se aproximou, pegou um prato recém-lavado e começou a secá-lo, colocando-o na bancada com cuidado.
— Acho que já entendi que você não é só o cara irritante com quem eu vivo brigando no escritório. — brincou suavemente.
parou de lavar e virou-se para ela.
— E isso não te assusta?
— Não. Alguém precisa manter você na linha. — disse com ironia, dando mais um passo em direção a ele.
— E quem melhor do que você pra essa tarefa? — provocou, com um sorriso de canto.
riu, mas sentiu a intensidade do momento crescer entre eles como uma onda que se aproximava, inevitável.
— Você sabe, eu... — ele começou, mas a voz falhou.
queria dizer que estava sentindo algo por ela, algo que ia muito além das brigas, da irritação e das disputas tolas. Era óbvio que já não a via com os mesmos olhos. Mas o medo do que isso significava o paralisava.
— O que foi? — ela incentivou, inclinando-se um pouco mais, com os olhos fixos nos dele.
Ele não conseguiu resistir.
Num gesto rápido e ao mesmo tempo cuidadoso, ele levou a mão à nuca dela, puxando-a levemente para si.
— ... — sussurrou, prestes a dizer algo, quando ele a silenciou com os lábios pairando sobre os seus.
— Me deixa tentar... só dessa vez? — pediu, um tanto manhoso.
Ela assentiu levemente, e naquele instante, os lábios dele finalmente encontraram os dela em um beijo suave, tão delicado que nem pareciam as mesmas pessoas que estavam tentando se matar semanas atrás. A realidade ao redor desapareceu, e naquele momento, nada mais importava, a não ser a certeza de que, por mais complicado que fosse, eles não haviam recuado.
À medida que ela correspondeu, os dedos dele se enroscaram em seus cabelos, puxando-a para mais perto, como se tivesse medo de perdê-la. fechou os olhos, entregando-se ao momento, sentindo o calor da mão dele contra sua nuca.
O beijo, antes contido, aprofundou-se com urgência. A respiração dele ficou mais pesada. Era como se todos os desejos reprimidos nas provocações e discussões finalmente tivessem encontrado sua válvula de escape. Cada toque, cada suspiro dela, alimentava nele uma necessidade crua de não deixar aquele momento escapar.
— , meu filho...
A voz de Elizabeth cortou o clima como um raio, fazendo os dois se afastarem assustados, como se tivessem levado um choque. Ela parou na entrada da cozinha, surpresa. O rosto dela passou da curiosidade ao leve desconforto, definitivamente, não era sua intenção interromper.
— Eu... eu não sabia que vocês estavam... — tentou justificar-se, enquanto já sentia o rosto arder.
pegou o pano de prato de cima da bancada e começou a secar as mãos, tentando parecer o mais natural possível, embora seu coração estivesse disparado, uma mistura de excitação, vergonha e nervosismo queimando sob a sua pele.
— Me desculpem! — Elizabeth disse, apressada. — Eu só queria avisar que estou de saída.
— Já? — perguntou, um pouco desapontado.
— Seu pai precisa de mim. — respondeu, seca, mas sem rancor.
— Justo agora que a senhora está comigo. Grande coincidência. — ele soltou, com sarcasmo na voz.
— ... — ela o repreendeu com um olhar.
— Desculpa, mãe. Eu não quis... — ele começou a se justificar, mas foi interrompido pelo toque leve da mãe em seu rosto.
— Está tudo bem. Fico feliz de ter te visto hoje. — ela sorriu com ternura. — Eu sinto saudades, sabia?
— Eu também, mãe. — ele a puxou para um abraço, apertando-a com carinho.
observou a cena e não conseguiu conter um sorriso, havia algo bonito naquele momento que ela não esperava testemunhar.
— E você, senhorita , foi um prazer conhecê-la! — Beth disse, abrindo os braços para a moça.
— O prazer foi todo meu. — a morena respondeu, retribuindo o abraço com sinceridade.
— Não se esqueça que estou te esperando no próximo fim de semana. — disse, segurando as mãos de com doçura.
— Pode deixar! — ela assentiu, sorrindo.
Beth se afastou, mas antes de sair lançou um último olhar divertido para os dois.
— E vocês dois... comportem-se. — apontou o dedo indicador para os dois. — E se cuidem, hein?
— Mãe, eu não sou mais adolescente. — ele reclamou.
— Eu sei que você já é um homem, mas isso não quer dizer que pode sair por aí sem responsabilidade. — respondeu, com um olhar firme entre os dois, avaliando se podia confiar.
— Pode deixar, senho... Beth! — respondeu, contendo o riso diante da seriedade do sermão.
Elizabeth soltou uma risadinha e balançou a cabeça, satisfeita com a determinação da jovem. Com um último aceno, dirigiu-se à sala, sendo acompanhada por ambos. Pegou sua bolsa, foi até a porta e se despediu mais uma vez.
— Meu Deus! Não acredito que sua mãe nos pegou no flagra. — desabafou assim que a senhora deixou o ambiente.
— Você viu? — riu, e ela acabou contagiada pelo som da risada.
— Eu quase morri de vergonha, e você está rindo? — ela brincou, cobrindo o rosto com as mãos, mas não conseguiu conter o sorriso que se formava em seus lábios.
— Mas foi um beijo e tanto, não foi? — ele provocou, aproximando-se.
— Definitivamente valeu o risco! — respondeu, mordendo o lábio.
— Então você não se arrepende? — ele perguntou, com um brilho travesso nos olhos.
— De jeito nenhum! — ela garantiu. — Na verdade, gostaria que acontecesse de novo.
— Quem é você e o que fez com ? — ele a fitou com ironia.
— Eu sou a mesma , só que um pouco mais ousada! — ela provocou, jogando os cabelos para trás e se aproximando ainda mais. — Acha mesmo que eu conseguiria ser só a garota chata do escritório para sempre?
— Por mim, tudo bem. Eu gosto das duas. — o sorriso dele se alargou.
Ela riu, um som leve e alegre que parecia iluminar o ambiente.
— Ah é? E o que você mais gosta na do escritório? — perguntou, curiosa.
— Gosto da sua coragem. — ele respondeu, sem hesitar.
— Coragem? — franziu o cenho, surpresa.
— Sim, coragem. — confirmou. — Você não tem medo de me confrontar, mesmo quando eu sou um completo idiota. — ergueu as sobrancelhas.
Ambos riram, cúmplices.
Mas então ela baixou o olhar por um instante, refletindo sobre suas palavras.
— E da que está bem na sua frente agora, o que você mais gosta? — desafiou novamente, desta vez com um tom mais sério.
— Gosto do fato de que você está aqui. Agora. Comigo. — ele se inclinou, reduzindo a distância entre eles até quase desaparecer. Em seguida, segurou-a pela cintura, puxando-a para mais perto.
O coração dela disparou com a proximidade.
— ... — ela murmurou, com um traço de insegurança na voz.
— Eu quero você, . — ele disse, inclinando a cabeça de maneira provocativa.
teria fechado os olhos e o beijado novamente naquela noite, se o celular não tivesse começado a tocar.
— Eu preciso ir! — anunciou após olhar a tela.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, preocupado.
— Nada demais. — ela deu de ombros. — Acho que essa é a deixa perfeita para eu ir embora. — pegou a bolsa que estava no sofá.
, sem entender muito bem a mudança repentina, apenas a acompanhou até a porta.
— Está tudo bem, então? — insistiu, tentando decifrar o que havia mudado.
se virou para ele.
— Só acho que preciso de um tempo para processar tudo isso. — sua voz saiu mais baixa do que o normal.
A expressão dele se transformou.
A confiança de instantes atrás deu lugar a uma inquietação silenciosa.
— Claro, eu entendo. — tentou disfarçar a preocupação, mas não conseguiu evitar que um peso se instalasse em seu peito.
— A gente se vê segunda, na agência, certo? — ela perguntou, e ele apenas assentiu com a cabeça, abrindo a porta para que a morena passasse.
— Até mais, . — disse, fazendo com que ela olhasse para trás.
— Até mais, . — respondeu, tentando esconder a confusão que a consumia.
Ele a observou sair, com a mente tomada por perguntas. O beijo ainda ardia em seus lábios, mas a expressão dela o inquietava. Não entendia por que a leveza daquele momento havia se transformado tão rapidamente em algo pesado. Após fechar a porta, se encostou nela, buscando alguma clareza.
O que ele tinha com ?
Por que parecia tão diferente de qualquer outra conexão que já tivera?
Ele achava que o beijo traria alívio, mas agora só sentia um nó na garganta, e não via sinal de quando isso passaria.
Do lado de fora, caminhava apressada em direção ao elevador, quando o celular vibrou novamente em sua mão. Era Olivia, a única pessoa de quem ela precisava naquele instante. Ainda assim, hesitou por um momento antes de atender, sentindo uma onda de nervosismo.
— Oi, ! — a ruiva disse, animada. — Até que enfim me atendeu, hein?
— Oi... me desculpa, amiga, é que... — ela suspirou. — Enfim, o que você precisa?
— Pode ir dizendo o que aconteceu. — Liv foi direta.
— O quê? Mas foi você quem me ligou! — retrucou, confusa.
— Eu só queria saber se está livre para vinho e chocolate... mas, pela sua voz, percebi que quem está precisando mesmo é você. — explicou.
— Sim... tudo o que eu mais preciso agora é vinho, chocolate... e você.
— Perdida? Isso soa interessante. — Olivia bebeu o resto de vinho que estava presente na taça que segurava. — Vocês dois definitivamente são uma caixinha de surpresas.
— É que... foi intenso demais, sabe? — pegou um chocolate da caixa quadrada, que encontrava-se na mesa de centro, ao mesmo tempo que andava de um lado para outro, e o colocou inteiro na boca. — Eu estava lá, me sentindo completamente conectada com ele, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim gritava que isso não podia acontecer e então, eu simplesmente fugi. — falou, enquanto mastigava e engolia o doce, em seguida.
— Mais intenso do que eu vi aqui na frente do seu apartamento? — questionou sarcástica relembrando a cena dos dois se pegando. — Aliás, parece que vocês são péssimos em esconder as coisas, já que a mãe dele também pegou vocês no flagra. — disse em tom de deboche.
parou de andar abruptamente ao ouvir a última frase de Olivia e encarou a amiga séria.
— O que? — a ruiva ergueu os ombros.
— Você é uma péssima amiga sabia? A sua intenção era me ajudar. — reclamou.
— Eu sei, eu sei! — Liv jogou as mãos para cima, rendendo-se. — Mas, convenhamos, você e juntos... é o tipo de plot twist que ninguém esperava.
A morena suspirou e sentou-se no sofá.
— Primeiro, não estamos juntos. — levantou o indicador. — Segundo, não era para acontecer. — ela balançou a cabeça, parecendo mais falar consigo mesma do que com Olivia. — A gente se odeia. — tentou parecer convincente.
A amiga a lançou um olhar irônico no rosto.
— Odiavam pelo visto né? — soltou o comentário.
— Liv! — repreendeu a ruiva.
Miller tentou conter o riso.
— Tá bom, desculpa! Vou tentar ser séria agora. — ela suspirou. — Me conta, . O que realmente te preocupa nisso tudo? Além do fato de vocês trabalharem juntos? — perguntou, mostrando interesse.
suspirou e passou as mãos pelos cabelos, como se isso ajudasse a organizar os pensamentos.
— Eu não sei se posso confiar nele. E, ao mesmo tempo, não sei se posso confiar em mim mesma com ele. — mordeu o lábio inferior.
— Por causa de tudo o que já aconteceu entre vocês? — Miller completou.
— Também, mas, é que nunca imaginei que chegaríamos nesse ponto, ele sempre me olhava com tanta raiva nos olhos, e agora... — ela não conseguiu continuar.
— E agora? — incentivou a morena ao seu lado.
desviou o olhar, parecendo relutante em admitir a verdade.
Encarou Olivia e finalmente confessou:
— E agora... Ele me olha de um jeito... que me deixa completamente desarmada. — a voz dela saiu em um sussurro.
— Talvez porque agora não exista apenas desejo...
— O que está querendo dizer? — ela interrompeu a ruiva.
— Estou com medo de falar e ser jogada pela varanda desse apartamento. — arregalou os olhos.
— Fala logo! — ordenou.
Miller a observava com um brilho curioso no olhar, o tom debochado agora estava ausente. Ela entendia o conflito da sua melhor amiga, mas também sabia que a mesma precisava ouvir certas verdades, mesmo que isso doesse um pouco.
— , você já parou para pensar que talvez ele esteja tão confuso quanto você? — perguntou, escolhendo as palavras com cuidado. — Esse que você conheceu, com toda a raiva e arrogância, talvez seja só uma camada. E agora, o que está surgindo pode ser outra coisa... uma parte dele que ele também está descobrindo.
engoliu em seco.
O que sua amiga dizia fazia sentido, mas ela não queria aceitar.
Porque, ao aceitar, teria que admitir que significava mais para ela do que apenas seu rival do escritório.
— Olha, eu não o conheço tão bem quanto você. — Liv continuou. — E também não estou o defendendo. — ela gesticulou com as mãos. — Mas, ele ganhou meu voto de confiança quando te salvou daquele babaca do Crawford. — fez um bico ao encarar Olivia. — Acha mesmo que ele se sacrificaria tanto se tudo significasse apenas um jogo? — levantou ambas sobrancelhas. — Não acha que está sendo um pouco dura com ele? — perguntou suavemente, tentando acalmar as inseguranças da amiga.
— Eu... não sei, Olivia. É difícil baixar a guarda, você mais que ninguém sabe disso. — explicou e a amiga suspirou.
— Vem cá! — ela puxou a morena para um abraço. — Deixas as coisas rolarem, vai dar tudo certo! Você vai ver. — afirmou com firmeza, tentando acalmá-la.
fechou os olhos por um momento, permitindo-se relaxar nos braços da amiga, embora soubesse que as próximas semanas não seriam fáceis. Mas, mesmo assim decidiu escapar um pouco do atual assunto e as duas conversaram mais sobre outras coisas e o tempo passou tão rápido que elas ao menos perceberam que já haviam bebido três garrafas de vinho e estavam rindo das piadas mais bobas, como se o mundo lá fora não existisse.
Liv, embora ainda preocupada com a situação de , não podia deixar de se divertir ao lado da mesma. A noite estava tranquila, sem mais preocupações e não demorou muito para que elas cansassem de dançar ao som de músicas pop e uma delas adormecesse. E a dita cuja que havia apagado era Miller.
ficou ali por alguns minutos, observando sua amiga, enquanto a sensação de estar entre as paredes acolhedoras de sua casa parecia afastar o peso da conversa que tivera mais cedo. No fundo, sabia que Olivia tinha razão em muitas coisas. E mais ainda, sentia o conselho da mesma reverberando dentro dela.
O celular em cima da mesa de centro vibrou e ela inclinou-se para olhar. Havia uma mensagem não lida de . Ela sabia que poderia ignorá-lo, como tantas outras vezes. Poderia continuar em sua zona de conforto, longe das complicações que ele sempre trazia, mas a verdade era que sua mente não a deixava em paz.
Ela precisava saber.
Com um suspiro, pegou o celular e abriu a mensagem.
“Ainda está acordada?”
Não sabia por que, mas aquelas palavras provocaram um sorriso involuntário em seus lábios, como se o simples fato de ele a procurar fosse algo bom, algo que ela não podia negar.
“Algo aconteceu?”
Ela digitou rapidamente, mordendo o lábio inferior e a resposta logo chegou.
“Posso te ligar?”
sentiu seu coração acelerar ao enviar a pergunta.
hesitou por um momento.
O impulso de ignorá-lo, de proteger a si mesma das complicações que sua presença sempre trazia, estava lá, como uma sombra. Mas, ao mesmo tempo, o desejo de entender o que realmente estava acontecendo entre eles, de saber o que ele queria, a consumia.
Ela olhou para sua amiga que continuava em sono profundo, levantou e seguiu em direção para varanda, tentando fazer o mínimo de barulho possível, e após chegar ao espaço, segurou o celular com mais força, pois, suas mãos tremiam um pouco e o respondeu.
“Pode!”
E em segundos, o aparelho vibrou novamente, anunciando a ligação.
Após o atender ela ficou ali, apenas ouvindo o som de sua respiração.
Então, a voz familiar de surgiu do outro lado.
— ? — ele a chamou e automaticamente a morena fechou seus olhos, rendida àquela intimidade que ela sempre tentava evitar.
— Hey! — disse baixinho.
— Deus! — o rapaz exclamou. — Como é bom ouvir sua voz! — admitiu.
Ela soltou uma risada tímida, forçando-se a manter a compostura.
— O que? Fiquei com medo que estivesse chateada comigo. — desconversou logo em seguida.
— Achei que estivesse acostumado, pois é normal eu estar sempre chateada com você. — disse e se apoiou na beirada da varanda, sentindo o vento frio acariciar seu rosto, tentando buscar alguma calma que, no fundo, sabia que não encontraria.
— Não mais ! — foi a vez dele de sorrir.
sentiu uma pontada no peito ao ouvir as palavras dele, e por um instante, tudo pareceu ficar em suspenso. Ele estava ali, do outro lado da linha, falando com ela de uma maneira tão diferente do que ela estava habituada. A leveza na conversa, o tom quase carinhoso e isso desafiava todas as defesas que ela vinha construindo ao longo dos últimos tempos.
— Não mais, é? — ela perguntou, tentando manter a voz firme, mas sem muito sucesso. Era como se ele tivesse descoberto um botão secreto dentro dela, um que ela não sabia que existia.
— É, ... Eu não quero mais ver você chateada comigo. Eu... Eu só... — ele parou, parecendo procurar as palavras certas, o que era raro, pois, o mesmo sempre soubera o que dizer. — Eu só senti sua falta. — confessou.
A confissão dele a atingiu como um choque.
— O que está tentando fazer ? — ela murmurou.
levou um tempo para responder.
— Para ser sincero eu não sei o que estou fazendo. — finalmente disse com a voz um tanto rouca. — Mas, as coisas estão diferentes e você sabe disso , eu...
— Sim, eu sei! — disse. — E é por isso que eu estou tão confusa. — bufou. — E eu odeio me sentir assim, por que odeio saber que perdi o controle de mim mesma. — assumiu.
— Eu também estou confuso. Eu não queria que fosse assim, mas parece que agora ao invés de ir para minha cama querendo te matar, eu sinto falta de ouvir sua voz. — ele pareceu impaciente.
— ...
— Eu quero você ! — falou com firmeza. — E isso não é mais só sobre um beijo impensado no escritório ou uma pegação na frente do seu apartamento. — respirou fundo antes de continuar. — Eu sei que sempre fomos assim, distantes, brigas e provocações, mas... neste instante é diferente. Não sei o que isso significa, mas... eu quero mais — ele foi incisivo.
ficou em silêncio, sentindo o coração bater tão rápido que poderia sair do peito a qualquer momento.
Ele queria mais?
Como poderia ele? O mesmo , a mesma pessoa com quem ela passava mais tempo brigando do que conversando, querer algo mais do que apenas a tensão entre eles?
Ela se sentou na cadeira que estava perto, procurando equilíbrio.
— Diz alguma coisa , pelo amor de Deus... — ele soou frustrado, como se já não soubesse o que mais fazer para quebrar as paredes que ela teimava em manter.
— Isso é loucura! — resmungou. — Vamos ser demitidos! — desconversou.
— ... — a chamou, frustrado, como se não soubesse mais o que dizer para quebrar as paredes que ela teimava em manter. — Pode me odiar amanhã, pode me evitar no escritório, mas agora, só me escuta, por favor.
Ela mordeu o lábio. Queria desligar o telefone. Queria fugir. Queria que a voz dele não estivesse fazendo-a ficar naquela linha esperando a próxima frase sair da boca dele. Queria tantas coisas naquele momento. Mas, principalmente, ela queria ainda odiá-lo, pois, tudo seria mais fácil.
— O que? — indagou com a voz manhosa.
— Uma noite, apenas uma noite. — ele falou com toda coragem possível.
— O que quer dizer?
— Seja minha apenas por uma noite . — pediu. — E se depois disso, conseguir olhar para mim e dizer que ainda está confusa sobre o que sente ou que não sente nada ao menos, eu deixarei você ir.
O silêncio que se seguiu às palavras dele parecia tão palpável que o deixava ansioso a cada milésimo de segundo. Ela abriu a boca para dizer algo, mas nenhuma palavra saiu. Como poderia responder a isso? Como poderia lidar com o turbilhão que era ?
— , você... — começou, mas ele a interrompeu.
— Não precisa decidir agora. Não quero te pressionar. Só precisava dizer isso. Porque, honestamente, se não falasse, acho que enlouqueceria. — ele riu suavemente, mas havia uma vulnerabilidade em sua voz que fez o coração dela apertar.
engoliu seco. Ele estava jogando tudo no ar, sem nenhuma rede de segurança, enquanto ela... Bem, ela sequer sabia o que queria. Ou talvez soubesse, mas tinha medo de admitir.
— Isso é um jogo pra você, não é? — ela finalmente perguntou, buscando uma justificativa, uma razão para desconfiar.
— Não, . — foi direto. — Pela primeira vez, isso não é um jogo. Você não é um jogo.
Ela soltou um suspiro.
— Você é... complicado. — riu sem humor.
— Acho que nós dois somos. — ele rebateu, rindo junto.
— Te vejo na agência amanhã ! — deixou um pequeno sorriso escapar.
não respondeu de imediato, deixou que ela desligasse primeiro. Era sua maneira de respeitar o espaço dela, mesmo que seu coração estivesse acelerado, ansiando pelo que estava por vir. Já ficou na varanda por um tempo com o celular ainda em sua mão, pensando em como agora ele era um homem que a desarmava com uma sinceridade que ela não estava pronta para enfrentar.
— Tudo bem por aí? — a voz de Olivia surgiu em meio ao silêncio.
— Acordou bela adormecida? — ela desconversou.
— O que está fazendo na varanda sozinha? — questionou.
— Apenas pensando. — encarou a amiga.
— Em alguém cujo o nome começa com a letra “N”? — arqueou ambas sobrancelhas.
— Cala a boca garota! — revirou os olhos.
— Desculpa! — Miller disse em meio a uma risada. — Preciso ir para casa, amanhã será um dia cheio no restaurante, o papai vai com uns empresários para lá. — bufou. — Sabe como é, preciso impressionar.
— Você vai tirar isso de letra, é a melhor chefe que eu conheço. — sorriu.
Olivia aproximou-se da amiga e a beijou na testa.
— Qualquer coisa me liga! — disse.
— Pode deixar! — a morena assentiu.
Assim que Olivia saiu, o silêncio tomou conta do apartamento novamente. suspirou, passando as mãos pelos cabelos e encarando a cidade iluminada à sua frente. Sua mente ainda estava presa na conversa com .
Uma noite.
Apenas uma noite.
Era um pedido simples e ao mesmo tempo tão complicado.
Ela se levantou da cadeira e voltou para dentro, sentindo o frio da madrugada arrepiar sua pele. Precisava dormir. Precisava esquecer o que ele disse. Ou ao menos tentar.
E apesar da noite ter passado devagar para ela, logo o despertador tocou, e a própria se colocou de pé com a sensação de ter dormido apenas alguns minutos. Respirou fundo e obrigou a si mesma a seguir sua rotina. Tomou um banho gelado para afastar o torpor e vestiu-se com a armadura de todos os dias: um conjunto impecável, maquiagem bem feita e um olhar afiado.
Ninguém poderia saber o quanto estava despedaçada por dentro.
Afinal, ela era .
Ao chegar no grande salão do prédio que ficava a agência, seu estômago revirou ao ver parado perto do elevador. Ele vestia um terno escuro, os cabelos perfeitamente alinhados, mas havia algo mais em sua expressão—um brilho nos olhos que ela não sabia dizer se era confiança ou provocação. Talvez os dois.
— Deus! Quando você começou a ficar tão bonito? — ela sussurrou para si mesma enquanto o observava de longe.
parecia ter sentido sua presença, porque, no instante seguinte, seu olhar encontrou o dela. E, como se o tempo desacelerasse, ele deu aquele meio sorriso que a desarmava completamente, e ela precisou respirar fundo para encontrar o oxigênio presente dentro daquele espaço.
Sentindo o coração bater mais rápido, pensou em como não podia permitir que ele percebesse esse novo efeito que, agora, tinha sobre ela. Então, ergueu o queixo, ajeitou a bolsa no ombro e caminhou na direção do elevador como se nada estivesse acontecendo dentro dela.
Quando as portas metálicas se abriram, ela entrou primeiro, ocupando um canto, tentando ignorar a tensão que percorria o ar. entrou logo atrás, ficando ao seu lado.
“Quando esse elevador ficou tão pequeno?”
A morena pensou.
— Bom dia, . — a voz dele soou baixa, um tanto rouca.
Ela se recusou a olhá-lo.
— Bom dia, . — respondeu.
As portas se fecharam, e o elevador começou a subir.
“Quando você ficou tão cheiroso?”
Ela pensou de novo e acabou fechando os olhos por um segundo, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o homem ao seu lado.
— Dormiu bem? — tentou puxar assunto em um tom sarcástico.
finalmente olhou para ele, estreitando os olhos.
— Como uma pedra. — mentiu descaradamente.
Ele riu de forma suave e cruzou os braços.
— Jura? Porque parece que alguém passou a noite em claro. — provocou.
bufou e virou o rosto, ignorando-o.
As portas do elevador se abriram, e ela foi a primeira a sair, caminhando com passos rápidos pelo corredor. Mas, não demorou a alcançá-la.
— Vai continuar fingindo que nada aconteceu? — ele murmurou.
Ela apertou os lábios e virou-se para encará-lo.
— Você quer mesmo ter essa conversa aqui, ? No meio da agência? — sussurrou, tentando soar ameaçadora.
Ele inclinou a cabeça, aproximando-se ligeiramente.
— Quero ter essa conversa em qualquer lugar que você esteja disposta a me ouvir. — respondeu, sem desviar o olhar.
umedeceu os lábios, não era justo ele estar tão calmo enquanto ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar. Mas antes que pudesse respondê-lo, a voz de um colega de trabalho os interrompeu.
— Bom dia, . Bom dia, . — Sean disse. — Já estão brigando a essa hora da manhã? — questionou ambos.
— Eu tenho mais o que fazer do que dá atenção a essa criatura Sean. — ela olhou para o amigo ao lado e sorriu sem mostrar os dentes. — Me deixa trabalhar em paz! — voltou seu olhar para , apontou o indicador e deu as costas, dirigindo-se ao seu escritório.
O publicitário deu uma risada fraca. Adorava a versão desconcertada dela.
— Você gosta de irritá-la né? — o colega indagou.
— Gosto de ver até onde ela aguenta. — respondeu ao amigo, dando de ombros.
— Então, colha as consequências disso sozinho. — Sean reclamou e também deu as costas a ele.
seguiu para sua sala, com o sentimento de vencido por dentro, não que aquilo fosse um jogo, por que não era. Ele, de fato, queria , mas, era impossível estar perto dela e não provoca-la, existia algo na áurea da mesma quando ela estava irritada, que era muito excitante.
A manhã se arrastou como de costume, e a morena decidiu por não sair do pequeno cubículo que trabalhava, nem arriscou ir ao banheiro com medo de ter pensamentos impróprios. Enquanto organizava documentos, estimulava prazos e atendia ligações, sua mente vagava por entre os “e se…” que insistiam em invadir seu espaço.
— E se eu me jogar? — ela mordeu o lábio ao olhar para grande janela a sua direita.
O som de uma notificação no computador a trouxe de volta para a realidade. Era uma nova tarefa enviada por . arqueou uma sobrancelha ao ver que, além do título “Campanha Solstice – Rascunho Final”, havia um pequeno comentário anexado ao final do briefing:
“Se quiser conversar... sabe onde me encontrar.”
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso que escapou antes que pudesse impedi-lo.
— Idiota! — murmurou, clicando no arquivo, determinada a ignorar qualquer impulso que a fizesse levantar e ir até a sala dele.
Só que o impulso era insistente.
E , mesmo à distância, parecia presente em cada centímetro do ambiente ao redor. Era como se o ar carregasse seu nome, como se a janela da sala refletisse o rosto dele, como se a tesoura que estava jogada em algum lugar da mesa trouxesse memorias que ela não queria estar revivendo naquele momento.
tentou se distrair com a proposta da campanha, mergulhar nos detalhes do layout, dos números e do design. Mas tudo parecia sem vida perto do caos emocional que se instalava dentro dela. Quase uma hora se passara e ela decidiu levantar-se para ir até a copa.
Precisava de café, precisava de espaço, precisava de qualquer coisa que a afastasse dos próprios pensamentos. Mas ao sair da sala, deu de cara com ele. vinha no sentido oposto, celular na mão, passos calmos. Seus olhares se cruzaram por milésimos de segundo e, ao contrário de todas as vezes em que ela conseguia virar o rosto, fingir, escapar… dessa vez não conseguiu.
Ele parou.
Ela também.
— ... — ele disse, e não era uma provocação.
Era um convite.
Ela suspirou, observando o corredor vazio atrás dele. Depois olhou para a copa. Então de novo para ele.
— Cinco minutos. Sala de reuniões. Se atrasar, eu vou embora. — disparou, e virou-se na direção à copa.
ficou parado por um momento, absorvendo as palavras como quem saboreia uma vitória que parecia distante demais. E esperar aqueles cinco minutos, definitivamente, seria uma grande tortura, ainda mais quando sabia que vinha a resposta para o que ele tanto queria ouvir.
Olhou paro o relógio em seu pulso e decidiu direcionar-se para sala, depois de entrar, a primeira coisa que fez foi checar o corredor, pelo menos, duas vezes, e não havia sinal de ninguém, o que era bom por um lado, mas, também não havia sinal de . Ele bufou depois de fechar a porta e sentar em uma das cadeiras ao redor da mesa.
Após mais do que do cinco minutos, ela adentrou ao espaço e deu de cara com ele sentado, com as mãos entrelaçadas sobre a mesa e os olhos fixos nela como se tivesse medo de piscar e perdê-la.
— Pensei que não viria. — ele disse com a voz baixa.
— Eu também pensei. — ela admitiu. — Paige me prendeu por um momento na copa. — explicou.
Ele se levantou devagar e caminhou até ela, mantendo o espaço entre os dois.
— Esperei mais do que cinco minutos, isso é tempo suficiente para você? — encarou a morena a sua frente.
— Não sei se existe “tempo suficiente” quando se trata de você, . — respondeu, o encarando de volta. — Às vezes acho que sim. Que posso te colocar numa caixa, numa gaveta qualquer... e então você aparece e bagunça tudo de novo.
— Eu tenho muitas intenções, mas, nenhuma delas é te bagunçar . — deu mais um passo até ela.
— Isso aqui... você e eu... é uma bagunça desde o começo. — confessou.
— E mesmo assim, você veio. — umedeceu os lábios.
— Eu vim. — confirmou, mordendo o lábio. — E eu odeio isso. — hesitou, sentindo um nó na garganta.
Ele se aproximou ainda mais.
— Então me odeie mais de perto. — sussurrou bem próximo a boca dela.
poderia tê-lo empurrado.
Poderia ter dito algo cruel, como fazia tão bem.
Mas não disse.
Não fez nada além de fechar os olhos por um segundo, como se aquilo fosse o suficiente para conter o vendaval que crescia dentro dela.
levantou a mão devagar, como se pedisse permissão para tocá-la, e repousou os dedos no queixo dela, o que causou arrepios por toda extensão da sua pele. Seus olhos se encontraram novamente, e por um instante inteiro não existia mais agência, trabalho, nem mágoas. Só o silêncio denso entre os dois.
E então, ele a beijou.
Não com pressa, não como quem precisava provar algo, mas, como quem sabia exatamente o que estava fazendo.
Os lábios de tocaram os dela com uma delicadeza surpreendente, como se tivessem todo o tempo do mundo, como se aquele momento já tivesse acontecido mil vezes dentro da mente de ambos. E ela respondeu ao beijo com a mesma entrega contida, mas nem um pouco fraca.
As mãos dela subiram, instintivamente, até os ombros dele, e os dedos se fecharam levemente no colarinho. Por um breve segundo, ela se odiou por ter cedido, mas se odiava ainda mais quando se lembrava de quanto desejava aquilo.
O beijo se tornou mais profundo, os corpos se aproximaram, e ele não hesitou em levantá-la um pouco e coloca-la em cima da mesa, afastando, com um movimento certeiro do braço, os blocos de anotações e o controle do projetor, e logo voltou a percorrer as mãos pelos cabelos da morena.
Tudo que não era essencial desapareceu naquele instante.
arfou contra os lábios dele e seus dedos, agora estavam cravados na nuca de , como se, se o soltasse, ele evaporasse. As pernas dela se fecharam ao redor da cintura dele, instintivamente, puxando-o para mais perto, e o mesmo gemeu baixo contra a boca dela. Ele deslizou os lábios pela mandíbula da morena até alcançar o pescoço, onde depositou beijos lentos, úmidos, enquanto uma das mãos escorregava pela lateral do corpo dela, agarrando a cintura com mais força.
— Quer que eu pare? — ele interrompeu os beijos e questionou com a voz falha, por causa da respiração ofegante.
A pergunta a acertou em cheio, porque ele sabia que ela odiava perder o controle. Mas, era exatamente o que sempre a oferecia: controle e escolha. segurou o rosto dele entre as mãos, sentindo o maxilar tenso sob seus dedos.
— Se você parar agora… — ela sussurrou contra a boca dele — …eu não vou te perdoar.
— Então não vou parar. — murmurou com os olhos fixos nos dela.
Ele deslizou os dedos pela lateral da coxa dela, subindo a saia justa, e revelando a calcinha de rosa rendada, que contrastava com a personalidade da mesma, um sorriso de canto surgiu de maneira instantânea e sua boca encheu d’agua, queria tanto sentir o gosto dela.
Ele estava realmente sedento.
Umedeceu os lábios e encostou os dedos na intimidade de por cima do tecido de um jeito delicado, e foi o suficiente para ela sentir seu sexo arder, estava demasiadamente excitada. decidiu afastar um pouco a peça intima com seu indicador, devagar, enquanto a encarava, e com o anelar identificou o quão molhada ela estava.
E isso o fez hesitar por um segundo.
— O que foi? — ela apoiou sua testa na dele, e o encarou confusa.
— Quero que você me peça, . — ele disse, com os lábios roçando os dela sem beijá-la, da maneira mais cafajeste possível.
Ela riu, seca.
— Você é um desgraçado. — disse, com a boca colada na dele.
— Eu sei. — respondeu, e finalmente a tocou.
O gemido que escapou dos lábios dela foi abafado por um beijo urgente, faminto. Os dedos de se moveram com uma lentidão cruel, como se saboreasse cada pequena reação do corpo dela. o agarrou pela nuca, puxando-o para mais perto, pressionando o quadril contra a mão dele num impulso desesperado.
Ele a observava o tempo todo, sem desviar o olhar, como se cada reação dela fosse uma resposta direta ao seu próprio desejo. A conexão entre os dois era crua e intensa, mas, principalmente antiga. Talvez ambos já quisessem isso desde o início, só levaram tempo demais para perceber.
E naquele momento, não havia espaço para pretensões, para ironias ou máscaras. Havia apenas dois corpos entrelaçados numa sala de reuniões vazia, e duas histórias que se chocavam violentamente sempre que se aproximavam demais.
pressionou os lábios contra o pescoço dela novamente, sentindo o perfume adocicado com notas de canela que era inconfundível — e viciante. Seus dedos trabalhavam com mais firmeza, arrancando outro gemido mais audível de , que levou a mão à boca em um gesto preocupado para abafar o som.
— Shhh... — ele questionou com um sorriso perverso. — Quer que alguém descubra?
— Você é um idiota... — ela sussurrou com a voz embargada pelo prazer. — E eu sou mais idiota ainda por deixar você fazer isso comigo. — o corpo dela tremeu em reposta ao polegar dele que tocou propositalmente seu clitóris.
Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, um sorriso se formou nos seus lábios combinando a perfeita junção de arrogância e desejo ao saber que ela estava tão entregue assim. Depois, sem quebrar o contato visual, levou os dedos molhados à boca e os lambeu com lentidão provocativa.
— É... você é mesmo uma idiota, . — murmurou. — Mas é a idiota que vai gozar na minha boca.
o encarava, os lábios entreabertos, os olhos incendiados por algo que ia muito além de desejo. Era raiva contida, era saudade que ela não sabia que existia, era a maldita certeza de que aquele homem tinha o poder de desmontá-la com um olhar — e pior, ele sabia disso.
Quando percebeu que ela não conseguiria o responder, apenas a observou. A saia ainda levantada, o rosto corado, os cabelos levemente bagunçados. Ele passou as mãos com delicadeza pelas coxas dela, e segurou a barra da calcinha, puxando a mesma para baixo devagar e mesmo sem acreditar no que estava acontece, ela o ajudou a deslizar a peça com mais facilidade, fazendo com que a mesma caísse no chão.
Ele ajoelhou na frente dela e passou a língua pelos lábios, ela fechou os olhos por um momento, tentando ignorar o que aquelas ações provocavam nela. Mas qualquer tentativa de manter o controle evaporou quando sentiu a boca dele tocar sua pele.
Primeiro foram beijos suaves no interior das coxas, depois mais firmes, mais exigentes. Quando a língua dele finalmente a alcançou, o corpo dela curvou-se levemente para frente, e suas mãos seguraram as laterais da mesa com força para controlar um gemido mais alto, mas não conseguiu evitar que o nome dele escapasse entre dentes.
— ...
Ele ergueu os olhos ao ouvir, satisfeito, mas não parou.
Seus movimentos eram ritmados, intensos, afastava-se quando ela quase chegava lá, apenas para prolongar o efeito e fazê-la implorar, ainda que silenciosamente. arqueou o corpo quando ele sugou seu clitóris com mais firmeza, e foi como um estopim.
— Porra... — ela arfou, entre um gemido e outro, tentando se segurar à sanidade que escapava a cada segundo.
adorou ouvi-la xingar, sabia exatamente o que estava fazendo. Com cada movimento da língua, cada leve mordida, ele a empurrava mais fundo para um estado onde o tempo não existia, só o prazer. Suas mãos seguravam as coxas dela com firmeza, como se a ancorassem ali, e ela não tivesse como fugir, mesmo que quisesse. Mas ela não queria. E esse era o maldito problema.
— Não para... — ela gemeu, quase sem ar. — Pelo amor de Deus, não para agora.
As mãos dela que antes seguravam a mesa, agora pousavam no cabelo dele, agarrando o mesmo com força. Ela mordeu o lábio para conter um grito quando sentiu o corpo inteiro se tensionar, os músculos se contraírem num ápice que parecia rasgar sua alma por dentro. Ele segurou seus quadris com mais força, a mantendo firme contra sua boca, levando-a exatamente onde ela precisava.
E quando o orgasmo finalmente a atingiu.
Ela estremeceu.
Gozo. Um intenso, arrebatador e impiedoso gozo.
havia gozado da maneira mais deliciosa possível na boca de .
Seus olhos se fecharam com força e o nome dele escapou de novo, desta vez num tom baixo, reverente, como se ele fosse uma oração dita em meio ao caos.
permaneceu entre suas pernas por mais alguns segundos, ainda com a língua em seu clitóris, saboreando cada estremecimento involuntário dela até que não restasse uma gota daquele fluido escorregando pela intimidade da mesma. E então, sem muita pressa, levantou-se, lambendo os lábios com aquele maldito ar satisfeito e partiu para beijá-la.
ainda sentia o corpo trêmulo, os músculos fracos e a respiração um tanto desconcertada quando os lábios de tocaram os dela novamente. O gosto dela ainda estava ali, entre a língua e o hálito quente, e por um momento, a realidade parecia uma memória distorcida.
Ela o beijou de volta, sem força, mas com intensidade.
Como se fosse a única coisa que ainda pudesse fazer.
Quando o beijo cessou, ele encostou a testa na dela, e por um instante, o silêncio foi mais pesado do que qualquer palavra.
— E agora? — ela foi a primeira a falar algo.
— Agora... — ele se aproximou mais uma vez, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. — Você volta para o seu cubículo fingindo que me odeia. E eu volto pra minha sala fingindo que não contei cada segundo pra ver você entrar por aquela porta.
— Você é maluco… — falou, mais doce do que queria parecer. — Qualquer um poderia ter entrado nessa sala.
Ela afastou o rosto devagar, tentando recuperar alguma dignidade, descendo da mesa e ajeitando a saia com mãos trêmulas. observou cada movimento dela, como se gravasse em câmera lenta o instante exato em que retomava o controle — ou fingia fazê-lo. Ela ajeitou os cabelos rapidamente, sem encará-lo, como se o simples ato de olhar em seus olhos fosse o suficiente para desmoronar tudo de novo.
Mas ele não disse nada.
Só a fitou, com aquela maldita expressão de quem já tinha vencido, mesmo sabendo que aquilo estava longe de ser uma vitória.
— Você não vai dizer nada? — ela perguntou, sem olhá-lo diretamente.
— Não preciso. Seu corpo já disse tudo por você, . — sorriu sarcástico.
Ela bufou.
— Onde está minha calcinha? — questionou, procurando a peça intima.
— Está aqui. — ele ergueu a peça com dois dedos, balançando-a como quem acabara de conquistar um troféu. — Mas, você vai ter que pedir de novo... se quiser de volta.
— Você tem cinco segundos para me entregar isso antes que eu enfie esse controle de projetor onde o sol não bate, . — ela estreitou os olhos.
— Que agressiva! — disse, com um sorriso ladino. — Achei que depois do que acabamos de fazer você estaria mais... gentil.
— Gentil? — cruzou os braços, tentando esconder o rubor que insistia em subir por seu rosto. — Você tem uma ideia do quão humilhante é gozar na sala de reuniões?
Ele inclinou a cabeça, divertido.
— Humilhante? — indagou. — Achei sexy! Aliás, você gemendo meu nome enquanto tenta lembrar que é chefe de criação dessa agência? — umedeceu os lábios. — Inesquecível.
— Isso não vai acontecer de novo. — ela disse, tentando parecer firme.
— Claro que vai. — respondeu, calmo demais.
— Você sempre transforma tudo numa grande piada, .
— Porque se eu levar a sério, eu te arrasto de novo para essa mesa e não deixo você sair daqui até gritar meu nome de novo. — provocou, com um brilho debochado nos olhos.
— ...
— Não vou discutir com você, . — interrompeu, se aproximando mais uma vez. — Porque a gente pode passar meses brincando de guerra fria, mas você e eu sabemos exatamente o que acontece quando ficamos sozinhos.
Ela engoliu seco, desejando odiá-lo de verdade, mas falhando miseravelmente nisso.
— Pode ficar com a maldita calcinha! — sorriu sem mostrar os dentes, irônica.
— Então vou guardar como lembrança. — respondeu, colocando a calcinha no bolso interno do terno com toda a calma do mundo e o sorriso malicioso ainda pendurado nos lábios. — Algo me diz que vou precisar dela nos dias mais difíceis.
— Você é insuportável. — ela falou com raiva e virou-se em direção a porta.
a observou enquanto ela caminhava até a porta, os quadris ainda marcando um ritmo que ele já conhecia bem demais. Ela estava vulnerável — mas escondia isso sob a armadura do sarcasmo, como sempre fazia. Quando tocou a maçaneta, parou por um instante, talvez esperando que ele dissesse algo. Um último comentário. Uma piada. Uma confissão. Mas o silêncio veio denso como fumaça.
Diante disso, ela apenas saiu do espaço, o deixando sozinho e correndo para sua sala em uma tentativa frustrada de se esconder. Só quando sentou em sua cadeira foi que percebeu algo. Ninguém havia a beijado, tocado e dado um orgasmo tão bom quanto aquele que ela diz odiar.
Pegou o seu celular, desesperadamente.
“Acabei de gozar sala de reuniões! Sou uma grande vadia!”
Digitou e enviou para Olivia, no mesmo instante foi respondida.
“O QUE?”
“É isso mesmo! Acabei de gozar em cima da mesa que o meu chefe apresenta os meus futuros clientes.”
Parecia que ela havia tirado um peso das suas costas.
“VIOLET QUINN SUA SAFADA!!! Deixa eu advinhar, ?”
“Sim! E quer saber? Foi a melhor gozada da minha vida.”
estava sorrindo por causa de , e ninguém poderia tirar isso dela, nem ela mesmo.
“Está me dizendo que vocês transaram no trabalho?”
“Tecnicamente não! Mas, posso te dizer que ele deve tá com o meu gosto na boca até agora.”
“Ele te chupou?”
Miller questionou chocada.
“Não é o suficiente para você? Estou sem minha calcinha até agora, pois, ele disse que não me devolveria.”
A amiga respondeu.
“Você está pelada no trabalho? O que você fez o que de ontem? Ou melhor o que o fez?”
“Você estava certa Liv! Ele está descobrindo isso comigo.”
“Eu sempre estou! Você sabe!”
sorriu.
“Ainda não estou acreditando que fiz isso e com a porta destrancada.”
“Estou orgulhosa de você!! E precisamos comemorar!”
“Comemorar?”
“Claro! Você gozou depois de meses.”
Olivia foi sarcástica e revirou os olhos.
“Posso passar no restaurante mais tarde?”
“Obvio que sim, vou pedir para separarem o melhor espumante. Preciso ir agora babe! Amo você!”
“Também amo você!”
“Me atualize caso aconteça uma penetração antes de você chegar aqui.”
soltou uma gargalhada abafada, levando a mão à boca para não chamar atenção dos colegas fora dos seu escritório. Mas era inútil. Seu rosto ainda ardia, seu corpo ainda vibrava, e por mais que tentasse se concentrar no trabalho, tudo o que conseguia pensar era no olhar de , na boca dele, na maldita calcinha, agora, desaparecida.
Do outro lado da agência, não conseguia parar de encarar a tela do computador. Não que estivesse produzindo alguma coisa, pois, a mente dele estava longe dali, parada exatamente no instante em que os joelhos dela tremeram sob seu toque. Encostado na cadeira, com os dedos entrelaçados atrás da cabeça, ele sorria com um ar perigoso de quem sabia o que tinha feito.
E o que ainda pretendia fazer.
Enquanto isso, encarava o reflexo no vidro da própria sala com um misto de incredulidade e euforia. Ela não era o tipo de mulher que se perdia em momentos. Ou era? Talvez sempre tivesse sido, só nunca teve coragem de se permitir.
Uma notificação nova pipocou no celular que ele havia deixado de lado há alguns segundos.
“Você sabe que eu não vou conseguir devolver aquela calcinha, né?”
Ela mordeu o lábio e digitou uma resposta na intenção de provoca-lo.
“Você vai devolvê-la. Dentro de uma gaveta. Com um pedido de desculpas formal. E talvez uma carta de renúncia.”
“Só se for uma carta de rendição. A sua.”
Ela não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seus lábios.
“Você é um idiota presunçoso.”
“E você é uma mentirosa. Finge que me odeia, mas geme meu nome como se fosse uma oração. Pode negar o quanto quiser, . Mas seu corpo já escolheu por você.”
Ela bufou e largou o celular sob a mesa, como se ele estivesse em chamas.
Era isso. O perigo com nunca foi só o desejo — foi o fato de que, com ele, ela não tinha armadura.
Nenhuma defesa funcionava.
Ele atravessava todas.
Saiu dos seus pensamentos quando alguém bateu em sua porta.
— Carter pediu um encontro com você e em cinco minutos na sala de reuniões. — Paige avisou.
arregalou os olhos.
A mesma sala onde, minutos antes, ela literalmente se desfez nos braços do homem que agora teria que encarar de novo, como se nada tivesse acontecido.
— Tudo bem Paige! Obrigado! — ela respondeu gentil.
A colega de trabalho assentiu com um sorriso e saiu deixando a porta entre aberta.
soltou o ar que nem sabia que estava prendendo, fechando os olhos por um segundo. Uma reunião. Com Carter. Na mesma sala em que ela gemia o nome de minutos atrás. O universo tinha um senso de humor bem distorcido.
Ela se levantou, ajeitou a saia de novo, como se isso pudesse apagar o que havia acontecido. Tentou olhar-se no pequeno espelho que guardava na bolsa, mas, desistiu. Não queria ver o reflexo de alguém que, até minutos atrás, se dizia no controle. Porque não estava. E ela sabia disso. tinha tirado cada grama de racionalidade do seu corpo com a língua.
Com o coração ainda acelerado, ela pegou o tablet, respirou fundo e saiu. Enquanto caminhava pelo corredor, tentou ignorar as lembranças recentes: as mãos dele, a boca dele, o som do próprio nome sussurrado contra seus lábios. Mas, quando entrou na sala de reuniões, o primeiro olhar que cruzou foi justamente o dele.
já estava ali, sentado como se nada tivesse acontecido, pernas abertas, cotovelos nos joelhos e o mesmo olhar provocador que a fazia querer bater e beijá-lo ao mesmo tempo. Ele ergueu os olhos lentamente quando a viu entrar, e um sorriso quase imperceptível se formou no canto dos seus lábios.
fingiu não ver.
— Bom dia Carter! — ela disse.
— . — ele a cumprimentou com um aceno breve. — Sente-se, por favor. Isso não vai demorar visto que já é quase horário de almoço.
Ela sentou o mais longe possível de , cruzando as pernas com elegância e mantendo os olhos fixos nos gráficos da apresentação que Carter projetava. Mas ela podia sentir. O olhar dele. A tensão entre eles ainda pulsava, viva.
— A ação com os Crawford foi um sucesso! — Joseph abriu um sorriso. — Duas novas marcas nos procuraram depois da apresentação de vocês, então quero que continuem trabalhando juntos e sobre o pitch da próxima semana... — Carter começou a falar sobre orçamentos e expectativas de campanha.
Mas a mente de estava dividida entre os números na tela e o calor que ainda sentia entre as pernas. O maldito resquício do toque de ainda a fazia morder o lábio instintivamente. E foi exatamente isso que ele viu, e reconheceu. Porque não olhava para Carter. Ele olhava para ela. Como se soubesse exatamente o que ela estava pensando.
Como se dissesse, silenciosamente: Você está sentindo também.
não se deu o luxo de retribuir. Precisava manter o controle. Era isso ou desmoronar ali mesmo.
— Então quero vocês como os criativos principais desses novos projetos, vou precisar de uma versão final do conceito até sexta-feira. Tudo certo? — o chefe os questionou.
— Claro. — respondeu, antes que dissesse qualquer coisa.
— Fico feliz em saber que finalmente aceitaram que são melhores quando estão juntos. — o chefe se levantou. — Preciso correr para outra reunião. Confiando em vocês dois. — apontou o indicador, sinalizando para ambos. — Bom almoço!
Quando o diretor saiu, a tensão preencheu o espaço como fumaça.
Só restavam os dois. Sozinhos.
De novo.
Naquela sala.
— Nem trinta minutos se passaram e já estamos aqui de novo. — disse, em um tom calmo, quase divertido.
recolheu o tablet rápido, com uma das mãos.
— Isso foi trabalho. Esquece o resto. Enterra. Apaga da sua mente. — disse, apontando com o indicador para sua cabeça.
Ele se aproximou devagar, parando ao lado dela, inclinando a cabeça para encará-la.
— Tudo bem. — ele suspirou. — Só quero deixar registrado que essa mesa aqui... — bateu levemente a mão no tampo de madeira — ...foi abençoada hoje.
Ela fechou os olhos, respirando fundo.
— Você é inacreditável. — falou, finalmente o encarando diretamente. — Não consegue ficar sem falar disso aqui? — questionou com um pouco de indignação.
— Você quer mesmo que eu apague o gosto da sua pele da minha memória? — ele ficou próximo dela o suficiente para seus narizes roçarem. — Porque eu ainda consigo sentir você na ponta da língua. — sorriu sarcástico.
— Eu não quero! — confessou e deixou um tanto surpreso.
— Não? — a fitou desarmado.
Era a primeira vez que, de fato, havia assumido algo.
— Não, mas, se vamos fazer isso, pelo menos vamos fazer de uma forma que a gente não corra risco aqui, eu não sei você, mas, sem esse emprego eu não consigo me manter aqui em Nova York. — o encarou séria.
ficou em silêncio por um instante. Pela primeira vez desde que entrara naquela sala, o sorriso dele vacilou, não porque o desejo tivesse diminuído, mas porque algo na voz dela tinha mudado. Ele deu um passo para trás, não em rendição, mas em respeito.
Pela primeira vez, ouviu. Realmente ouviu.
— Então quer dizer que você quer ficar comigo? — perguntou desacredito, sem ironia.
Ela apenas assentiu como se não conseguisse silabar as palavras.
— Bom... isso muda tudo. — ele disse, passando a mão pelos cabelos, como se estivesse recalculando cada passo dali em diante.
— Muda mesmo. — concordou. — Porque se a gente for continuar com isso, vai ter que ser com regras. E limites claros. — estreitou os olhos.
franziu o cenho, curioso, mas com aquele brilho nos olhos de quem adora um desafio.
— Regras? — repetiu, se aproximando devagar, mas parando antes de invadir o espaço dela de novo. — Isso é tão ! — soltou um riso nasalado. — Vai me dizer que já fez uma lista?
— Talvez. — respondeu, segurando o tablet em meio aos braços cruzados.
— Qual seria a regra número um então? — questionou.
— Nada acontece aqui dentro da agência de novo. Nada de mesa “abençoada”. — ela gesticulou com, apenas, uma das mãos.
— E fora da agência? — ele arqueou uma sobrancelha, com aquele meio sorriso que sempre a deixava desarmada.
hesitou por um segundo, depois baixou os olhos e respondeu.
— Fora da agência… a gente conversa. Depois.
— Tudo bem. Regra número um, anotada. Qual é a dois? — perguntou, sério agora.
— Regra número dois: nada de mensagens provocativas durante o expediente. Me desconcentram. — levantou ambas sobrancelhas.
levou uma mão ao peito, dramatizando.
— Está me pedindo para parar de ser quem eu sou?
— Estou pedindo para você ser um profissional, pelo menos até as seis da tarde. — rebateu.
— Seis em ponto? — perguntou.
— Cinco e cinquenta e nove. — retrucou.
Eles se entreolharam por um segundo e riram.
— Tudo bem, . Vamos fazer do seu jeito. Regras, limites, essa coisa toda. — disse, colocando as mãos nos bolsos. — Mas tem uma regra minha também.
— Qual? — ela perguntou, desconfiada.
Ele deu um passo à frente. Só um.
— Regra número três: você não vai mentir para mim. Nem para você mesma. Se sentir, me fala. Se quiser, me mostra. Se mudar de ideia, me diz. Eu aguento o que for, menos meias-verdades. — a fitou seriamente.
Ela engoliu seco.
Porque sabia que, ali, ele estava sendo honesto. Sem provocação. Sem duplo sentido. Só ele, desarmado, dizendo o que queria.
— Tudo bem. — respondeu rapidamente. — Eu gosto disso também.
O homem assentiu lentamente.
— Agora será que poderia devolver minha calcinha? — a morena o questionou. — Acabei de ter uma reunião com o meu chefe, pelada.
riu com a cabaça baixa.
— Receio que isso não será possível. — provocou.
— É uma peça cara, . E se você acha que vai começar uma coleção clandestina com as minhas lingeries, pode esquecer. — disse, arqueando uma sobrancelha.
— Ainda é um não! — ele balançou a cabeça negativamente.
— ... — avisou, num tom entre ameaça e charme.
— Você deveria me agradecer ou vai me dizer que não foi a melhor reunião da sua vida? — mordeu o lábio, safado.
suspirou fundo, segurando o riso que ameaçava escapar. Não porque achasse graça, mas porque era isso ou ceder completamente ao caos que era . Ele era um furacão com um terno bem cortado e uma língua perigosa demais para o bem dela.
— A melhor reunião da minha vida seria com você do outro lado do país e o Wi-Fi caindo. — rebateu, firme, mesmo que seu corpo ainda implorasse por mais dele.
— Já esqueceu da regra número três? — sussurrou. — Não pode mais mentir para mim.
estreitou os olhos, mantendo a expressão impassível. Mas seus ombros levemente tensos, a forma como segurava o tablet com força e os olhos que fugiam dos dele, tudo nela desmentia as próprias palavras.
percebeu. Sempre percebia.
— Você não facilita, . — ele disse com um meio sorriso. — Mas eu gosto assim.
— Vai trabalhar ou vai continuar me analisando como um experimento? — murmurou, tentando retomar o controle, mas a voz falhou sutilmente no fim.
— sustentou o olhar por um momento. Um momento longo demais. O suficiente para que o ar entre eles voltasse a carregar eletricidade. Mas, dessa vez, ele não avançou. Apenas sorriu de lado — um daqueles sorrisos que dizem "isso não acabou, só foi pausado".
— Vou trabalhar. — respondeu, enfiando as mãos nos bolsos. — Mas, a calcinha continua comigo.
bufou, mas havia um traço de sorriso em sua boca, quase imperceptível, o tipo de reação que ela odiava ter perto dele, justamente porque o encorajava.
— Isso é apropriação indevida de propriedade alheia, sabia? — disse, já caminhando em direção à porta da sala de reuniões.
— Então me denuncia. — ele retrucou, com um tom preguiçoso e perigosamente sexy.
Ela girou nos calcanhares e o encarou de novo.
— Não se empolga. Só vou deixar você ficar com ela porque quero evitar a fadiga de explicar isso para polícia. — rebateu com sarcasmo.
— Ah, então é caridade? — levou a mão ao peito outra vez, em falsa emoção. — Você realmente tem um coração, . Estou comovido.
Ela apenas revirou os olhos e saiu da sala antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa que fizesse sua vontade de jogar tudo para o alto e se atirar nele de novo crescer. Já bastava o corpo dela traindo cada comando racional da mente, não podia se dar esse luxo.
a acompanhou, mas, ambos seguiram para suas respectivas salas.
fechou a porta da sala e sentiu as costas tocarem a madeira. Fechou os olhos por um instante. O silêncio era absoluto, mas dentro dela, tudo gritava. O corpo ainda pulsava — quente, sensível, inquieto — como se ele ainda estivesse ali, ajoelhado entre suas pernas.
Ela passou as mãos pelos braços, tentando se recompor. Queria voltar a ser a mulher que entrou naquela agência meses atrás. Firme, focada, inabalável. Mas estava desmontando essa versão dela, pedaço por pedaço, sem pedir licença.
E o pior? Ela deixava.
Enquanto isso, permanecia sentado em sua própria sala, fitando a tela do notebook sem realmente enxergá-la. Tinha vontade de rir, mas não conseguia. Havia algo nela, naquela honestidade breve e tremendo controle, que o tirava do eixo.
Ela queria regras. Ele aceitava. Mas havia algo por trás disso. Algo que ele ainda não conseguia nomear, mas que sentia toda vez que ela desviava os olhos. Medo, talvez. Medo de sentir.
Ele conhecia isso.
E, por isso mesmo, não iria forçar nada.
Mas também não iria recuar.
O resto do dia se arrastou com a precisão torturante de um relógio quebrado para os dois.
mergulhou nos relatórios, tentando se esconder entre dados, gráficos e planilhas, como se o photoshop fosse uma espécie de escudo contra as memórias recentes que teimavam em reaparecer com intensidade sensorial. O problema é que cada clique no teclado parecia ecoar no mesmo ritmo das batidas do coração que ainda não encontrava sossego.
Ela trocou três vezes de aba no computador sem lembrar por que tinha aberto a primeira. Tentou tomar café, mas ele estava frio. E mesmo assim, não teve coragem de sair da sala para buscar outro. Qualquer movimento na agência poderia colocá-la cara a cara com ele. De novo. E ela precisava de pelo menos algumas horas para recuperar o controle que havia sido sugado para dentro daquela sala de reuniões junto com a calcinha que agora tratava como um troféu pessoal.
Do outro lado do corredor, se levantou da cadeira pela quarta vez em dez minutos. Circulou a sala, olhou a rua pela janela e acabou parando diante de um dos quadros modernos pendurados ali, como se o caos de formas e cores abstratas tivesse a resposta para o que ele sentia agora.
Porque a verdade é que ele não costumava se importar.
Com ninguém.
Era ótimo em se envolver e sumir, criar química e desaparecer, encantar e depois não ligar de volta. Mas ... era outra coisa. Ela tinha essa habilidade irritante de se manter fria por fora enquanto queimava por dentro. E isso deixava ele louco.
Quando o relógio finalmente marcou seis da tarde, ou cinco e cinquenta e nove, como havia estipulado, ela ainda estava diante da mesma planilha, com o mesmo cursor piscando na tela como se zombasse da sua tentativa de produtividade. O dia havia sido um desastre. Tudo por causa de um homem com olhos intensos demais, boca afiada demais e uma memória tátil do corpo dela que ainda vibrava sob a pele.
Respirou fundo, se levantou, ajeitou o blazer e deu dois passos rumo à porta antes de parar.
Você vai até ele? — a voz da razão sussurrou.
Não. Claro que não.
Mas seus pés continuaram em direção ao corredor mesmo assim.
Quando menos se deu conta, já estava batendo na porta do escritório dele.
Do outro lado, o som suave dos nós dos dedos de foi como um trovão para . Ele virou o rosto devagar, como se precisasse de um segundo extra para confirmar que era real. Depois, sem dizer nada, cruzou a sala e abriu a porta.
Ela estava ali. De pé. Séria, como sempre tentava estar, mas os olhos a denunciavam, estavam mais escuros, talvez pela exaustão, talvez pela decisão difícil que parecia ter tomado.
— . — ele disse, quase em um sussurro, sem esconder a surpresa.
Ela não entrou. Manteve-se ali, na soleira, como se atravessar a linha da porta significasse cruzar uma fronteira da qual não haveria volta.
— Quer sair comigo? — perguntou, finalmente rompendo o silêncio.