Revisada/Codificada por: Pólux
Última Atualização: 20/11/2024Ao chegar na casa dos pais, foi recebido por um abraço caloroso da mãe e encontrou alguns amigos de infância que também já haviam terminado o serviço militar. A cidade, com suas ruas tranquilas e casas de telhado vermelho, parecia tão graciosa e calma. Ele desejava passar todos os dias ali, longe da agitação de Seul.
— Você se alimentou bem lá? — perguntou sua mãe, enquanto entregava uma tigela com arroz.
— Todos os dias, como você pediu. Obrigado, mãe.
— Coma, coma tudo, não precisa se preocupar.
Ele sorriu, sentindo-se em casa.
— O pai vai demorar a chegar?
— Ele vem chegando mais ao anoitecer, como você estava no exército não estava se preocupando tanto em chegar cedo.
— Compreendo.
— Precisa de ajuda?
— Queria ver alguma casa por aqui.
— E a sua?
— Vendi meses antes de sair do serviço. Mas, vindo pra cá, mudei de ideia.
— Ah, dorme em casa hoje. — Ela colocou mais uma tigela de comida perto do filho. — Vou conversar com seu pai quando ele chegar, talvez ele consiga um tempinho.
— Não quero ser um incômodo.
— Não é incômodo. Agora você deve descansar da viagem. — Ela se levantou. — Não tive tempo de arrumar seu quarto, não imaginei que você viria para cá.
— Desculpa, mãe. Eu devia ter avisado; fiz algumas escolhas meio precipitadas.
— Não precisa se desculpar. Está do jeito que você deixou.
Seu quarto ainda tinha o ar de adolescência, com livros organizados na prateleira e desenhos que fazia em tempo livre. Ver que os pequenos carrinhos que ganhou de seu pai ainda estavam lá, afagou seu coração. Joo-Hyuk realmente estava em casa.
— Vou ao mercado, não espere por mim caso sinta fome.
— Tudo bem mãe, não quer que eu vá junto?
Perguntou para a matriarca colocando a cabeça pra fora do quarto.
— Não, fique aí, fique e espere seu pai chegar.
Praticamente ordenou e ele apenas obedeceu como um bom filho. Como agora não teria mais nada para fazer, ele apenas relaxaria, organizaria suas roupas no guarda-roupa e procuraria uma casa pelas ruas de Suwon.
Mais tarde, naquele mesmo dia, ele esperou seu pai chegar do trabalho; sua mãe não havia só ido ao mercado, ela tinha conversado com todas as suas amigas para falar que havia terminado seu serviço militar e com isso, chegou bem cansada em casa.
Uma conversa amigável e tranquila fluiu entre eles, e o senhor Nam aceitou ajudá-lo. O homem entraria mais tarde no trabalho no último dia da semana para ajudá-lo com a procura de uma nova casa.
Joo-Hyuk não queria uma casa muito grande, uma bem simples e aconchegante era o que ele desejava. Precisava, além disso, decidir sobre sua carreira para assim poder continuar mantendo suas despesas; mas isso não estava o deixando preocupado no momento.
O sol entrava pela fresta da cortina que ele deixou entreaberta. Fazia tempo que não acordava tão tarde; eram sete e meia. Estava deitado na cama todo torto com o cobertor cobrindo metade do seu corpo, o cheiro do omelete e miyeok-guk entrava em seu quarto. Um sorrisinho nasceu em seus lábios.
— Bom dia.
Cumprimentou seu pai, já estava pronto para sair com ele.
— Descansou bem?
— Sim, muito bem, obrigado.
— Imaginei que você iria querer dormir até um pouco mais tarde.
— Mas eu dormi.
— Deixa ele — deu um leve tapinha no braço do marido. — Fiz miyeok-guk para você, toma logo antes que esfrie.
— Você vai sair hoje?
— Sim, vamos fazer nossa corrida matinal, mas as garotas estão atrasadas.
— Vai se exercitar?
A senhora concordou com a cabeça.
— Eu a senhora Kwon e também outras garotas.
— Isso é bom, mãe.
— É, eu preciso ir, até mais tarde.
A senhora Nam viu o grupo de mulheres se aproximarem de sua casa. Se sentiu estranho, percebeu que muita coisa mudou depois que ele foi alistado para o exército, a rotina totalmente diferente de antes, o tempo que sua mãe conseguiu para cuidar de si e principalmente os momentos entre os dois passaram a serem mais frequentes. Uma pequena sensação de que era uma peça faltando voltou novamente.
Caminharam pelas redondezas da casa dos Nam, se afastando chegando próximo a um restaurante local. Memórias de sua infância foram aparecendo ao apreciar o aroma delicioso dos restaurantes.
Suwon era a nova moradia dos Nam quando o filho conseguiu uma melhoria financeira, ele comprou uma nova casa para seus pais, em um lugar bom e tranquilo para que eles pudessem desfrutar de uma vida melhor; além de ficar mais próximo de Seul. Joo-Hyuk ficou muito tempo afastado de sua casa.
Além do tempo que ficou afastado pelo serviço militar, ele passou um bom tempo enquanto trabalhava nas filmagens de dramas e também em photoshoot. Apenas fazia chamadas de vídeos para ver seus pais e voltava a trabalhar, a carreira de ator ocupava a maior parte do seu tempo além do mesmo priorizar o trabalho.
Suwon despertava algo que fazia um tempo que não sentia.
— O que acha daquela ali?
O senhor Nam apontou para a casa. Ficava a duas quadras do restaurante, a rua tranquila com movimento local era coberta por lindas copas das árvores. A fachada em tons azul e branco, a grande janela da sala permitia a luz entrar e aquecer o cômodo. Gostou ao vê-la e seria ela que tentaria adquirir.
— Vamos falar com o corretor, pedir um agendamento para analisar o valor.
— Boa escolha filho, sua mãe vai gostar de saber que é quinze minutos da nossa casa.
— E quase perto do mercado.
— Sim.
Os dois riram. conheciam tão bem a senhora Nam que sabia que ela ia querer que Joo-Hyuk passasse no mercado.
Aproveitaram que estavam por lá e almoçaram juntos no restaurante local. Lá mesmo entraram em contato com o corretor da casa para terem uma visita agendada, iriam os três. Ele fez essa questão.
— Filho, como ficará seu trabalho? Não falou dele desde que você chegou.
— Pai. — suspirou pesado, ele havia pensado tanto enquanto estava no exército. — Eu estive pensando muito nisso, foi um tempo que passei a refletir, eu gostei dos trabalhos que fiz, porém vou parar um pouco para ter a certeza que é esta carreira que quero.
— Hm — apenas emitiu o som, não gostou muito da resposta do filho. — Você não pode ficar parado, lembre-se, sim.
— Lembrarei.
Não havia intenção de aprofundar o assunto e dizer que talvez não voltaria a atuar, além do local ser inapropriado não era o momento certo. Retornaram para a casa no aguardo do corretor.
Joo-Hyuk conversou com seu manager e manteve a mesma decisão quando conversaram pela última vez.
O anoitecer chegou com uma suave chuva em Suwon, Joo-Hyuk estava deitado olhando a chuva bater em sua janela adormecendo com a melodia suave.
Abriu os olhos e estava deitado em um bonito jardim, a toalha embaixo de seu corpo protegia das gramas bem cuidadas. Ao longe podia-se ouvir sons de crianças brincando, adultos conversando e até mesmo alguns cavaleiros andando a cavalo. Não reconhecia o local, mas a sensação era como se vivesse ali todos os anos de sua vida.
Sentou-se para observar o local, mas uma silhueta encantadora chamou sua atenção. Não conseguia ver o rosto por completo havia uma mulher na frente dela, uma dama de companhia pelo o modo que tinham uma leve intimidade, mas os olhos claros e o canto da boca corado se destacavam entre os fios dançantes com o vento.
Como se fosse intocável, ele não conseguiu chegar até ela, os raios de sol pareciam impedir de chegar até lá, enquanto ela era coberta por uma sombra semelhante a da lua. Se sentia impedido, ficou a olhando por todos os minutos que ficou ali, sentado sob a árvore de copas grandes que não impedia o sol de chegar até ele.
Abriu os olhos novamente, respirando fundo e tomando o ar para si. Controlava sua respiração até compreender o que tinha acontecido. Nam estava sentado em sua cama tateando todo o cobertor torto, a chuva ainda caía lá fora, mas tinha a certeza que não estava em sua cama alguns minutos atrás.
Levantou para beber um copo de água e voltar para cama, foi só um sonho, um sonho muito real para ele. Virava-se em todas as posições mas não tinha uma que lhe trazia conforto, então o melhor naquela hora era sentar e desenhar; se recordava perfeitamente do sonho, do local e da mulher que lhe encantou.
Ela foi desenhada mais de uma vez até o momento que a chuva aumentou e decidiu que era hora de tentar dormir.
Os sonhos passaram a ser mais frequentes, ele estava desenhando todas as noites e em todos os tempos livres.
Completava duas semanas que estava hospedado na casa de seus pais, e naquele finalzinho de tarde eles iriam visitar a casa que chamou a atenção.
Já próximo a residência, a senhora Nam amou a localização, perto de bons restaurantes, mercado e principalmente da casa dela.
A casa estava vazia, os antigos donos já haviam se mudado. A fachada limpa e minimalista; ao entrar, o hall era bem arejado, o piso de madeira claro acompanhado de um cinza sutil, mostrava que o local já havia sido organizado para o próximo proprietário. A direita ficava a sala de estar, grande com uma janela deslumbrante, caberia sem muitos esforços uma prateleira para os livros de Joo-Hyuk.
O coração da casa, a cozinha. Era um conceito aberto e moderno assim como o restante da casa. A ilha central no mármore branco poderia combinar com lindos armários em madeira escura. E o quarto, decorado em tons suaves, dava ar de um bom cômodo para descanso e tranquilidade ficando ao lado do pequeno escritório que foi criado, estava tudo tão perfeito que poderia se mudar naquele instante.
— E então o que acharam?
O corretor estava numa alta expectativa. Fazia tempo que ninguém se interessava por aquela casa.
— Muito linda e moderna, dá um destaque na rua.
— Sim, os antigos donos resolveram mudar para assim chamar mais atenção, e funcionou — sorriu divertido.
— Como é o quintal?
Senhora Nam estava bem empolgada.
— Desculpe, eu deveria ter mostrado antes.
Com um deck de madeira, a área externa era perfeita, boa para momentos com a família ou até mesmo para um animalzinho brincar. Havia um pequeno jardim vertical dando mais vida ao local e o perfume das flores deixando mais marcante.
— Espetacular.
— Vocês vão amar morar aqui, mas só tem um quarto.
— Ah, não — movimentou as mãos. A senhora ficou um pouco ruborizada. — É nosso filho que vai se mudar.
— Explicado. E o que você achou?
— Realmente do jeito que eu procurava, quanto está o valor?
Ele olhou no tablet rapidamente.
— Seu valor é de um bilhão e quinhentos milhões de wons.
— Filho — a voz do patriarca soou pela casa vazia.
— Vou dar licença para vocês.
Se retirou do local.
— É muito alto o valor.
— Concordo com seu pai, vamos ver outra casa.
— Vai ser essa.
Andava por ela, sentiu uma pequena ligação com o local e as flores que estavam no jardim vertical remetiam ao perfume do campo que encontrava a mulher misteriosa.
— Tem as mobílias ainda.
— Tem mesmo mãe, mas não se preocupe — segurou a mão dela. — Te prometo que não vai acontecer nada — referiu-se às dívidas.
Joo-Hyuk tinha uma boa quantidade de wons guardados e sabia que isso não seria um problema.
Um singelo sorriso recebeu de seus pais.
Contrato assinado e ele se mudaria em breve, seus primeiros pertences seriam o básico. Uma cama, alguns móveis para cozinha e claramente uma boa televisão para passar o tempo.
Passou semanas arrumando sua residência, e aquele ar de tranquilidade era o que ele sempre quis. A primeira noite sua foi a mais revigorante, não teve sonhos com a garota do jardim muito menos qualquer outro sonho. Iria terminar de ajeitar seus pertences aquela dia, começaria com o escritório e depois veria qual seria o próximo.
Deixaria em seu escritório todos os desenhos que fez da garota, alguns manteria pendurado no painel que comprou e outros deixaria dentro da pasta. Também seria seu canto para estudar as cenas e fazer algumas reuniões com equipe que trabalhava consigo, e estava até ficando bom o local. Nam manteve uma disposição de móveis acolhedor na sala, até o momento deixaria os livros dentro da caixa e futuramente colocaria uma estante agradável. Agora a casa não ecoava mais como antes, os móveis em tons neutros com alguns toques de cor, realçavam o ambiente.
Ao olhar no relógio de pulso, os ponteiros marcaram o horário do almoço, passou tanto tempo ajeitando seu novo lar que não se deu conta. Trancou a porta e foi até o restaurante que sempre passava em frente, almoçou no local saboreando os pratos escolhidos e em seguida resolveu andar; espairecer a mente, reconhecer o lugar.
Logo a frente ele reconheceu uma senhorinha, seus cabelos grisalhos presos em um coque. Conhecida por todos, ela vendia suas especiarias caseiras. Ele acenou, lembrando-se de como ela sempre lhe oferecia um pedaço de doce quando era jovem — começando a fazer sucesso. Virando à esquerda, Joo-Hyuk viu uma loja de antiguidades. Muito bonito e organizado, ele entrou, olhava os objetos a venda e algumas coisas até que úteis; mais a frente havia uma pequena mesa com itens aparentemente muito antigos expostos à venda, uns pareciam ser prata outros eram em prata legítima e aquela caneta tinteira chamou a atenção de Joo-Hyuk.
Com leves ornamentos desenhados, não sabia ao certo o ano que pertencia, mas ficou intrigado com a caneta. Além de pegar ela, pegou também o estojo que nitidamente foi criado anos depois para apenas proteger a prata.
— Hm, alguém se interessou pela caneta.
— Só estou olhando.
— Estranho, tive a certeza que você iria comprar.
O senhor era mais baixo que Joo-Hyuk, usava um chapéu que escondia uma parte de seu rosto, o mesmo que só dava para ver quando ele levantava a cabeça.
— Não vai levar?
Pegou a caneta tinteiro das mãos. Ela era muito bonita pra ficar ali, muito delicada e merecia um dono que ao menos deixasse como um lindo enfeite.
— Tudo bem, vou guardá-la em outro lugar — andava com uma certa dificuldade.
— Não, senhor — estava caminhando atrás dele. — Eu vou levar — jurou ver que ele esboçou um sorriso.
— Hm, se vai leva-la, também leve esse tinteiro.
— Não vai ser preciso, eu só quero mesmo para guardá-la.
— Ela é boa para desenhos também — colocou tudo dentro da sacola e passou o valor. — Faça um bom proveito.
Podia estar ficando maluco, mas aquele senhor parecia saber mais do que aparentava, como deduzir que Joo-Hyuk desenhava tão bem assim. Ficou analisando a caneta pelo percurso todo, iria limpá-la e ver se estava funcionando ainda, o objetivo era deixar no escrito decorando a mesa.
Revirava na cama mais de cem vezes, mexeu no travesseiro, cobertor, colocou suas coisas no chão e mesmo assim não conseguia dormir, a chuva estava tão forte que seu som não soava como canção de ninar. Exausto por tentar dormir, ele se levantou e foi até o escritório, colocou o copo de leite morno ao lado na mesinha e ficou olhando os desenhos pendurados no painel; seus olhos passearam por todos os cantos até que chegaram na caneta. Molhou ela na tinta e pegou um pedaço de papel e desenhou pequenas flores do jardim que sempre visitava. Um risinho seco soou quando percebeu que o senhor que lhe vendeu estava correto.
Em outra folha, Joo-Hyuk desenhou a garota dos seus sonhos, a cada traço, ele sentia seus olhos pensarem, o corpo se cansar, entre os traços que fazia da garota, ele via as linhas se movimentarem, levemente piscou os olhos algumas vezes, mas deduziu que fosse o sono. O mesmo que havia chegado de uma maneira misteriosa. Debruçou-se na mesa e, ainda segurando a caneta em mãos, ele apenas pensou em fechar os olhos para ver se diminuía o sono, pois ele não queria ir para a cama naquela hora, desejava terminar o desenho dela.
“Pequenos fragmentos de amor flutuavam no ar, como folhas ao vento, enquanto ela observava intrigada. Não exatamente como poderia ajudar, mas achou curioso que, mesmo em meio ao esquecimento, o amor permanecia, tecendo laços invisíveis entre eles.”
O sol estava tão quente que não dava para ficar mais de dois minutos perante a janela de seu quarto, tão quanto desenhar sob a mesa que ali ficava — de costas. Olhou para suas mãos como se estivesse acabado de ver uma assombração, a batida de leve na porta do quarto e a voz familiar do outro lado, alegava que ele estava atrasado para algo que não se recordava.
A casa era estranha, tão perfeita e tão rica em detalhes. As duas línguas faladas ao lado de fora chamou sua atenção, em que ano estava? Apalpou sua roupa toda torta em procura do celular, mas só encontrou o relógio de bolso que, deduziu, que carregava consigo em todos os cantos.
— Nam Joo-Hyuk, é a última vez que vou bater nessa porta, ande preciso que você esteja na sala daqui dois minutos.
Tentou falar algo, mas estava tão perplexo que só se vestiu, ou tentou se vestir da melhor forma possível. O corredor imenso o deixou confuso para onde ir, esquerda ou direita? Do corredor dava para escutar as vozes de seus pais, confirmando a presença deles, e também duas vozes femininas que não reconhecia.
— Joo-Hyuk, por favor, desça logo — o patriarca apontou na escada. A figura paterna lhe trouxe um alívio instantâneo. — Sua mãe daqui a pouco vai ficar desesperada e não terei como acalmá-la mais.
— Pai.
O abraçou calorosamente, como se não tivessem visto a anos.
— Está tudo bem?
— Achei que o senhor não estava aqui.
— Nós voltamos de uma viagem faz poucas horas — estranhou a atitude do filho. — Você está se sentindo bem?
— Claro — ele agora não entendia mais ainda. — Estou logo atrás do senhor.
Desceu as escadas conhecendo o local. A sensação acolhedora e familiar não condizia com o que estava acostumado a antigamente. No fim das escadas, uma mesa redonda ficava no centro com um vaso de flores avermelhadas, na parede ficava um quadro de seus pais pintado a mão. As vestes demonstravam que eles eram uma família rica e importante.
— Até que enfim, não aguento mais a mamãe andando de um lado pro outro.
Pelo tamanho, deduziu ser caçula das duas garotas na sala. A voz de sua mãe saia rápido dos lábios, explicando sobre o baile que teria na noite seguinte, explicando todas as informações, e que esse ano ele precisaria casar.
— Casar?
Espantou mais ainda.
— Você precisa de uma mulher a sua altura, você já ficou muitos anos fora e sem uma mulher, já está na hora de ter uma família.
— Mas…
— Não quero seus novos argumentos. Na sua idade eu e seu pai já estávamos casados, cuidando de você e esperando a sua irmã.
Aceitou o que a mulher falava e só escutou suas irmãs rirem.
— Esse ano sua irmã vai ser apresentada à sociedade, espero que você esteja lá Joo-Hyuk.
— Claro — engoliu a seco. — Lá onde? — cochichou com a mais nova.
— Se eu bem entendo ela, a mamãe quer que você esteja no primeiro baile após a nossa irmã debutar, igual foi com a Katie, você estava junto, eu acho, eu não tinha idade para ir.
Balançou a cabeça compreendendo, o que era um total zero de entendimentos. Sentiu-se mais perdido ainda quando sua mãe abriu um sorriso e, olhando por cima de seus ombros. Uma linda mulher entrava na casa junto de um homem alto e bem arrumado, em seus braços carregava um pequeno garotinho. Pelo abraço caloroso de sua mãe deduziu que ela seria a Katie, sua irmã.
— Joo-Hyuk, achei que desta vez estaria em outro lugar.
— Claro que não.
— Mamãe falou que você foi viajar com o pai, como foi? Gostou de lá?
— Agradável até.
— É verdade, você não me disse, como foi como conhecer o cultivo?
Olhava para a mãe e sua, suposta, irmã. Estava desesperado, não tinha o que falar, não se recordava de nada da viagem só do momento que acordou com aquele sol quentíssimo nele.
— Foi bem curioso — pensou em uma estratégia. — Sempre foi fácil saber que o pai consegue tomar conta do seu negócio daqui, mas só de chegar lá e ver que está exatamente como ele conta, é incrível, não tem como descrever.
Respirou aliviado, ele tinha se saído bem na estratégia, e nitidamente sua explicação foi aceita por todos.
— Joo-Hyuk, ficou admirado com a administração, próximo mês, as nossas vendas vão aumentar, um aumento muito significativo!
— Perfeito, podemos manter o dote das meninas melhor do que eu havia planejado.
Então era isso, era este tipo de negócio que eles tinham. Se ficasse lá por mais alguns minutos, ele teria que tentar saber mais dessa família.
— Senhora, o almoço já está aposto.
— Obrigada Margaret. Vamos todos — movimentou a mão educadamente chamando sua família. — Eu pedi para deixar um cantinho para o pequeno John.
— Obrigada mãe.
— Não precisa agradecer, eu sei como é cuidar de um filho, principalmente quando é um mocinho.
Joo-Hyuk esperou todos se a acomodarem nos lugares para saber onde seria o seu. Tentaria parecer o mais tranquilo possível, e aceitar que agora estaria ali entre aquela nova família, todos eram muitos amáveis e a caçula era um amor de se conversar. Sua mãe parecia estar tão acostumada com as atitudes dela que apenas a olhava e ela parava ineditamente.
Isso passou a soar tão estranho e agradável, aquela mesa bem farta que as culinárias se alternavam, suas irmãs que não paravam de conversar um segundo e ele seguiu seu pai que tinha o mesmo hábito que o outro pai — se é que isso poderia ser compreensivo. Apenas fazia a refeição e depois conversava com que estivesse à mesa junto.
— Você acha que um dia o papai me leva com ele antes de me apresentar à sociedade?
Sua atenção estava toda na garotinha ao seu lado. Jae-hee era a filha mais nova do casal, em outros termos, a caçula. Desde que ela se entende por gente o tinha como o seu melhor amigo, e com isso percebeu que ele estava estranho, do seu jeito mais calado e nem se quer ter tocado no almoço em seu prato.
— Levaria.
— Só isso?
— Como? — Estranhou.
— Você não vai falar algo do tipo: “Qualquer coisa vamos juntos e explico tudo” ou sei lá, outra coisa.
— Mas eu levo você, vamos juntos quando você completar seus...
Ele não sabia a idade dela, como poderia dar uma confirmação?
— Tenho quatorze anos, vamos no meu aniversário de dezesseis anos.
— Mesmo se eu estiver casado?
— Sim, podemos levar a minha futura irmã.
Tirou uma risada sincera de Joo-Hyuk. Com o tempo, ele foi se adaptando à dinâmica da família e ao temperamento de cada um, especialmente do jovem Kellan, que havia retornado para casa. Com apenas quinze anos, Kellan era uma versão mais rebelde de Joo-Hyuk. Seus cabelos castanhos escuros, sempre um pouco desgrenhados e os olhos claros brilhantes, refletiam sua natureza inquieta e curiosa. Kellan era, sem dúvida, o verdadeiro terror da senhora Nam, sempre pronto para desafiar regras e provocar risadas, mas também possuía um coração generoso que o tornava irresistivelmente cativante.
No meio da tarde, a família se reuniu no coração da casa. As paredes revestidas de papel de parede floral, os móveis dispostos de um jeito convidativo. No centro da sala uma lareira revestida com uma das pedras mais caras, era o ponto focal, onde, no frio, ela trazia aquele calor acolhedor junto de uma xícara de chá e conversas agradáveis da família. Mais ao fundo ficava o piano onde era usado por quase todos.
Depois da aula de harpa, Jae-hee quis mostrar a nova música que aprendeu. Fazia apenas algumas semanas que ela havia pedido para seus pais deixarem fazer a aula de harpa, pois o piano já havia perdido a graça para ela.
Com uma partitura mais simples — pois era iniciante, ela tocou a bela melodia para todos, Joo-Hyuk, estava sentado perto da lareira, virado para a caçula e admirando as belas notas, e um pouquinho desafinada, que ela tocava. Na mesinha ao seu lado, havia um lápis sobre uma caderneta e com isso aproveitou para desenhá-la.
Como aquele lugar podia trazer paz a ele. Conhecer um pouquinho dos seus quatro irmãos era um sentimento surpreendente. Tirou o desenho de Jae-hee da caderneta e levou consigo para o seu quarto, precisou se recordar qual era.
Duas batidinhas na porta e a espera da autorização para entrar, desta vez era Katie, seu cabelo já estava solto e usava um dos vestidos mais folgadinhos.
— Oi.
Ela entrou. Seria o primeiro contato com sua irmã, o jeito meigo e protetor, lhe trazia recordações borradas de seu... passado? Ele poderia considerar como passado?
— Mamãe pediu para conversar com você — pegou a cadeira e colocou perto da cama. Ela segurava o castiçal. — Sobre o casamento, ela me disse que quer achar uma esposa para você.
— É — sentou-se na cama e encostou na cabeceira. — Como Jucelyn vai ser apresentada à sociedade, ela quer aproveitar e encontrar alguém, duvido que isso seja funcional.
— Não se sente preparado? É algo tranquilo, mesmo tendo que tocar os negócios da família.
Apenas mantinha sua atenção na irmã mais velha. Katie era mais centrada e calma, tinha um ar maternal, sempre se dispôs em ajudar sua mãe com os irmãos mais novos e aceitou calmamente sua vida na sociedade. Seus interesses nas artes, além de ser uma brilhante pianista, foram as principais qualidades que despertaram o interesse em Theo.
— Há quanto tempo você está casada mesmo?
— O suficiente para saber sobre isso.
Deu um leve tapinha no braço do irmão.
— Katie, querida irmã.
— Apressado, não terminei — tirou um singelo sorriso do irmão. — Deixe a mãe procurar uma moça para você, mas também procure, às vezes pode ser melhor, digo por experiência própria.
— Quanto tempo mesmo?
— Quatros anos, o suficiente para poder te ajudar.
— Você poderia tentar ajudar a mãe, achar alguém que você ache que combine comigo.
— Mas é claro, porque não ajudaria você e a mamãe? Só não tente fazer as coisas como antes.
— Antes?
— E ainda se faz de desentendido. Não fale que você vai casar e sair para viajar por meses, eu precisei aguentar a mãe gritando no meu ouvido.
— Não vou repetir, tem a minha palavra.
Joo-Hyuk, ali naquele momento, percebeu a maior besteira que ele fez na vida, dar sua palavra para sua irmã a anos atrás. Com carinho ela depositou um beijo no topo da cabeça dele e se retirou do quarto do irmão mais velho. Não sabia se ao se ajeitar na cama voltaria para dois mil e vinte quatro, mas tudo bem, aquela sua nova família começou a fazê-lo feliz.
•
Abriu os olhos e reconheceu o lugar. Foi a coisa mais maluca que aconteceu com ele, já tinha visto isso em doramas, filmes e até mesmo em lendas, e poderia parecer besteira, mas estava deitado no chão do escritório a caneta tinteiro ao lado de seu corpo e o desenho estava na mesa como se nenhum vento havia soprado.
— É loucura, isso é impossível, eu sonhei, foi nitidamente um sonho.
E com essa certeza que ele saiu do escritório e procurou algo para comer. Digerir tudo o que aconteceu naquele sonho e o quanto parecia real, principalmente aquele momento aleatório que viu os traços de seu desenho se movimentarem.
No horário do almoço, ele iria para a casa de seus pais. Senhora Nam iria preparar alguns pratos favoritos de Joo-Hyuk, eles passaram a fazer a refeição juntos com mais frequência, o que era prazeroso para a senhora Nam, ter a visita de seu filho.
— A chuva de ontem estava muito forte, não consegui dormir direito.
Joo-Hyuk puxou o assunto, agora que estavam sentados na mesa.
— Chuva?
— Sim — confirmou sem olhar para sua mãe. — Eu me revirei na cama a noite toda, preciso ver se tem algo que está causando muito barulho.
— Filho, acho que você sonhou — riu dele, não que estava debochando, mas por perceber que ele estava tão cansado que não conseguiu separar o sonho da realidade. — Ontem não choveu, estava uma noite bem fresquinha.
— Pode ser.
Ficou quieto por um tempo, então ele sonhou tudo de uma vez só.
— Acho que o tempo que você serviu no exército te deixou mais tenso, e agora na sua própria casa você consegue ter uma paz.
— Pensando assim, e também aqui é bem calmo.
— Se acostumou com a agitação.
— E como — um meio sorriso apareceu. — Não só lá, mas em Seul também.
— Por falar em Seul, seu pai comentou comigo sobre seu trabalho — a senhora se levantava da mesa, estava retirando a louça. — Você já tem certeza sobre sua decisão?
Sempre era mais tranquilo conversar com sua mãe, ela sabia usar as palavras e nunca colocava um tom negativo. Ele se prontificou em ajudá-la na tarefa, como sempre fazia.
— Eu não sei exatamente — estava sendo honesto. — Eu queria dizer que consigo ver um caminho, mas... mesmo tendo todos os projetos realizados, acaba sendo complicado.
— Você viu a vida de outra forma, é compreensivo, você é muito inteligente e não digo isso por ser meu filho, mas por eu saber isso através das suas atitudes.
Os olhos da senhora estavam marejados, sua emoção podia ser sentida através das doces palavras.
— Obrigado mãe — ficou sem palavras. — Quando eu me entender, pode ter certeza eu contarei para você.
Deixou a entender que não aconteceria do seu pai contar a ela, claro que os dois saberiam ao mesmo tempo, entretanto, não teria ninguém para mediar o assunto.
— Não se preocupe com isso, só mantenha o foco no seu futuro.
Ele concordou com a cabeça e continuou a lavar a louça, nesse meio tempo sua mãe se afastou para realizar outras tarefas. A frase até soou estranha depois de vivenciar ele com seus pais em um ano que ainda não sabia. Balançou a cabeça e sorriu, já tinha ouvido que as pessoas mudavam ao sair do serviço militar, mas nunca ter alucinações em forma de sonho.
A cozinha estava envolta em um silêncio confortável, interrompido apenas pelo som da água corrente e o ocasional tilintar de talheres. Joo-Hyuk enxugou as mãos na toalha de prato, tentando afastar os pensamentos que o atormentavam. Ele olhou pela janela, onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, uma paleta que parecia tão distante de suas preocupações.
— Mudar é parte da vida — murmurou para si mesmo, lembrando-se das palavras de sua mãe. Mas como ele poderia mudar sem entender o que realmente estava acontecendo?
Após um longo dia, Joo-Hyuk decidiu que era hora de sair e espairecer um pouco. Ele precisava de um tempo para organizar seus pensamentos e, talvez, fazer algumas compras no mercado local. Colocou um casaco leve e saiu de casa, sentindo a brisa fresca da noite.
As ruas de Suwon estavam movimentadas, com luzes brilhantes e o cheiro tentador de comida de rua no ar. Ele passeou pelo Mercado de Suwon, observando as barracas repletas de frutas frescas, vegetais coloridos e petiscos tradicionais. Joo-Hyuk escolheu algumas maçãs crocantes e um punhado de tteok, pensando em como seriam ótimos para um lanche.
Ao voltar para casa, Joo-Hyuk preparou um jantar simples, mas saboroso: arroz, kimchi e um pouco de frango grelhado. Enquanto comia, ele ligou a televisão, mas sua mente estava longe, perdida em pensamentos sobre os sonhos que o conectavam a uma época distante.
Depois do jantar, ele se sentou à mesa do seu escritório, cercado por seus livros e anotações. Precisava manter seus estudos atualizados, mas a concentração era difícil de encontrar. As imagens dos sonhos ainda dançavam em sua mente, como sombras fugidas.
À medida que a noite avançava, Joo-Hyuk finalmente conseguiu mergulhar nos estudos. As palavras começaram a fazer sentido, e a familiaridade do material o acalmou. Quando a exaustão começou a se instalar, ele decidiu que era hora de descansar. Mas era tentador não desenhá-la, mesmo que em um pequeno pedaço de papel. Aquele sorriso permanecia em seus devaneios, enquanto o vento brincava com os cabelos levemente soltos e o sol aquecia sua pele. Ele começou a desenhá-la e, mais uma vez, percebeu que os traços pareciam suavemente se mover no papel. O peso do sono era maior agora, como na noite passada. Ele respirou fundo, apoiou a mão na cabeça e seus olhos foram se fechando lentamente, até que finalmente ele se entregou ao sono.
•
“Aquela noite estava reluzente. Era fascinante imaginar que no meio de tanto verde, uma sublime Mugunghwa seria o destaque da noite, entretanto um destaque diferente.”
— Filho?
Seu pai entrava no quarto cauteloso, o chamava baixinho pois sabia que o jovem estava dormindo.
— Ah, você já acordou.
— Sim, vocês precisam de alguma coisa?
— Não, mas vim avisar que sua mãe já está começando a se arrumar para o baile que os Hawthorne vão dar.
— O baile, não me esqueci já ia começar a me arrumar.
— Muito bem, qualquer coisa estarei no meu escritório — saía do quarto, mas parou, deu meia volta com corpo e olhou para o filho. — Entretanto, se você quiser chegar um pouco mais tarde, não tem problema.
— É o baile da minha irmã, não acho justo fazer isso com ela.
Seu pai sorriu, um sorriso singelo de aprovação da atitude do primogênito.
Ao ter a licença de seu pai, Joo-Hyuk começou uma batalha com as roupas de época. Não sabia por onde começar, muito menos como algumas peças eram abotoadas ou laçadas.
— Eu poderia ter acordado já pronto, me pouparia tempo e entendimento — olhava o guarda roupa.
Muitas opções se apresentavam a Joo-Hyuk, algumas não tão familiares, enquanto outras não precisavam de muito para saber como usar. Ele sabia muito bem como se vestir, e o que mais chamava sua atenção eram os tecidos finos e luxuosos, refletindo a classe social de sua família.
Para a noite, escolheu um traje em tons de vinho. A calça justa, feita de um tecido macio e confortável, combinava perfeitamente com a camisa branca de linho, cujas mangas estavam bem ajustadas ao punho, conferindo um ar de elegância. O colete, ajustado ao corpo, proporcionava conforto, enquanto os botões decorativos acrescentavam um toque sutil de sofisticação.
O casaco de gala, em veludo vinho, destacava-se com suas lapelas largas adornadas com ornamentos delicados. Joo-Hyuk optou por uma gravata que complementava o restante do traje, enquanto as luvas descansavam em seu bolso, uma lembrança de como seu pai também as usava assim.
Para completar o visual, seus sapatos de couro bem cuidados reluziam sob a luz suave do quarto. E, claro, não se esqueceu de seu relógio, que ele ajustou de maneira que o brasão familiar ficasse bem visível. O mostrador do relógio era em um tom prateado, mas a pulseira era adornada com detalhes em vermelho, evocando o orgulho de sua herança e simbolizando a força e a paixão da família de Nam.
Pronto, ele saiu do seu quarto carregando as luvas, dava para perceber que todos já estavam no andar de baixo apenas aguardando Joo-Hyuk.
— Graças a Deus, achei que você iria demorar mais.
Sua mãe comentou em alto e bom som para todos ouvirem. Ela estava deslumbrante, com um vestido em nuances de champanhe, e os lindos ornamentos combinavam perfeitamente com o singelo grampo de cabelo que representava o brasão da família.
— Desculpe o atraso, mãe — pediu ao terminar de descer as escadas. A senhora sorriu mostrando que estava tudo bem e era um atraso razoável.
— Vamos todos, as carruagens já estão à nossa espera — senhor Nam avisou.
— Joo-Hyuk, você vai com o Kellan e a Jae-hee — apontou para a carruagem de trás. Grandes e bem detalhadas, as carruagens levavam o brasão da família na porta, por dentro, os bancos bem acolchoados, davam conforto para a viagem. — Irei com seu pai e a Jucelyn.
Ele concordou com a cabeça.
Jae-hee subiu na carruagem, ajudada por Joo-Hyuk, enquanto Kellan se acomodava ao lado dela, o mais velho sentou na frente dele. O som das rodas rangendo e o cheiro do couro novo preenchiam o ar.
— Mamãe parece nunca ter ido a um baile da Katie — Kellan comentou, ajustando a gravata. — Fez-me trocar de roupa mais de três vezes!
Joo-Hyuk riu, olhando para o irmão mais novo.
— E você? — perguntou, lançando um olhar divertido para Jae-hee. — A mãe pediu para você se vestir adequadamente também?
— Ela já deixou tudo escolhido — respondeu Jae-hee, cruzando os braços. — Disse que só posso escolher quando me debutar.
Kellan fez uma careta.
— Mas o que vai adiantar a mãe ajudar você? Nenhum homem vai escolher você — Kellan falou em um tom provocador.
— Kellan, você é tão desnecessário! — Jae-hee retrucou, revirando os olhos. — Um dia, uma mulher vai deixar bem claro o quão grotesco você é.
— Grotesco? — Kellan fez uma expressão de indignação. — Eu terei muitas garotas me querendo, você vai ver!
Joo-Hyuk não conseguiu conter o riso.
— Muitas querendo ficar longe de você, com toda a certeza! E quanto a mim...
— Você acabará sendo aquela tia rica que cuida das crianças dos Nam! — Kellan interrompeu, rindo.
— Eu serei uma futura princesa, e você não entrará no meu castelo, apenas Joo-Hyuk! — Jae-hee declarou, com um sorriso travesso.
— Por favor, parem! — Joo-Hyuk pediu, tentando conter a risada. — Se nossa mãe descobrir que vocês estão fazendo isso aqui, ela me arruma uma noiva hoje e me casa com ela amanhã!
— Tudo bem, eu paro — disse Kellan, levantando as mãos em rendição.
— Mas você está de prova: Kellan começou tudo! — Jae-hee deu uma risadinha.
— Bem, pelo menos temos um baile para nos distrair. Espero que haja um bom banquete! — Kellan sorriu, olhando pela janela da carruagem.
— E que você não faça papel de bobo na pista de dança! — Jae-hee provocou, piscando para ele.
A carruagem permanecia a se mover, levando-os para a festa, enquanto as risadas e as alfinetadas continuavam, preenchendo o ar com a leveza da juventude.
Enfim chegaram, os três irmãos desceram da carruagem gargalhando. Joo-Hyuk já havia se esquecido que não fazia parte daquele ano — que ainda não fazia a menor ideia de qual era. Seu pai fez um gesto suave para chamá-lo e deixá-los ao lado dele, entraram juntos para poderem fazerem a entrada da família como tinham de costume.
— Mamãe — Katie a recebeu com uma taça de licor. — Obrigada por virem, Jucelyn Jae-hee, vocês estão tão formidáveis — cumprimentou cada mulher.
— Obrigada pelo convite filha, e a festa, decoração e música está maravilhoso.
— A mãe escolheu minha roupa, se bem que eu queria está com outra cor — Jae-hee revirou os olhos discretamente, ali no baile manteria as etiquetas.
— Logo isso acaba, aconteceu o mesmo comigo — Katie cochichou. — E você, Juy?
— Confesso que queria estar no meu dia mais calmo em casa, aguardando o tão esperado dia, porém eu estou amando a decoração.
— Obrigada.
Conhecia a irmã. Ela gostava de bailes, sempre gostou de ajudar Katie a preparar tudo e a festa de casamento dela não foi diferente, Jucelyn a ajudou do começo ao fim, contudo, ela estava tão nervosa para debutar, que só queria ficar no seu quarto ensaiando para seu dia.
— Gostei mesmo, no início da primavera, né? — Juy questionou só para ter a certeza.
— Sim, esse é o propósito da ideia, é mesmo para deixar as futuras debutantes mais tranquilas — discretamente deu uma piscadela para a irmã.
— Não deixe ela mal acostumada Katie, você sabe como ela é.
— Mam...
— Senhora duquesa Nam — Conde Hawthorne se aproximou de sua esposa e querida sogra. — Obrigado por vir, Katie já estava angustiada. — Parou ao lado da esposa. — Sinta-se à vontade e espero que o baile seja do seu agrado.
— Conde Hawthorne, muito obrigada. Consigo imaginar, ela sempre foi assim.
Riram.
Após alguns segundos de conversa, o duque se aproximou com os mais novos, e Joo-Hyuk estava entre eles. Eles conversaram por um tempo com os anfitriões do baile e, em seguida, se dispersaram para interagir com outros convidados. Jae-hee e Kellan decidiram se juntar ao primo, John, na sala ao lado do salão principal, enquanto Joo-Hyuk não se afastava de Jucelyn por nenhum instante. Ele sempre se interpunha entre ela e os futuros pretendentes, conversando com ela para deixá-la mais calma.
Nam Joo-Hyuk, aquele que estava ao lado dela, se sentia perdido. Não sabia como agir, muito menos como se comunicar. Sua realidade era diferente, marcada por tradições e costumes distintos. Ele observava os outros irmãos, tentando imitar seus gestos — a forma de andar, os cumprimentos aos pretendentes que sorriam para sua irmã, sempre lembrando de cumprimentá-lo também.
— Que lindo! — Juy falou mais alto trazendo a atenção do irmão para si.
Ela ficou encantada com o gazebo, que foi erguido majestoso no centro do jardim, suas pedras bem cuidadas refletindo a luz suave da lua. A estrutura redonda, adornada com detalhes esculpidos, emanava um charme atemporal, prometendo ser o cenário perfeito para a pequena orquestra que animaria a propriedade do Conde Hawthorne. Ao redor, as Mugunghwa floresciam com exuberância, suas pétalas vibrantes trazendo um toque de beleza exótica que homenageava a herança da esposa do Conde, uma descendente de coreanos.
— Ela pediu para ele as Mugunghwa — Juy ainda estava admirando. — Não achei que desse para fazer isso.
— Dá sim, só o cuidado que precisa ser mais redobrado, acho que algum dia Katie não vai se incomodar de você vir aqui e apreciar o cuidado delas — deu a ideia.
— Farei isso. Eu vou pegar um suco, volto logo, não precisa vir comigo — queria um pouco de espaço. Olhou para o irmão firme e mostrando que caso acontecesse alguma coisa, ela o chamaria imediatamente.
— Tudo bem, estarei te esperando.
O gazebo realmente estava lindo, era de se admirar. Enquanto a pequena orquestra começava adentrar no jardim, Joo-huyk avistou duas mulheres se aproximando do local, quando a mulher que acompanhava a outra deu alguns passos para a direita, ele viu o doce semblante da garota. Era ela, a moça dona de seus sonhos.
O vestido longo exibia uma sobreposição majestosa de tecidos, com uma base de seda suave e musline leve, em um tom de rosa claro que emanava uma aura de delicadeza. Essa combinação criava um contraste sutil e encantador aos olhos dos pretendentes. A cintura alta, acentuava sua silhueta, enquanto as camadas de renda delicada e chiffon fluíam graciosamente a cada movimento.
Seu cabelo estava elegantemente preso em um coque baixo, adornado com pequenas flores brancas e rosa, que se entrelaçavam delicadamente entre os fios, trazendo um toque de frescor ao visual. Algumas mechas soltas emolduravam seu rosto, suavizando sua aparência e conferindo leveza ao penteado, que refletia tanto a sofisticação quanto a jovialidade.
As joias eram um verdadeiro destaque: belos pares de pérolas delicadas pendiam de suas orelhas, capturando a luz de maneira sutil e realçando a elegância de seu pescoço. Um colar de pérolas finas completava o conjunto, adicionando um toque de opulência sem exageros.
As luvas justas, confeccionadas em seda suave, subiam até os cotovelos, conferindo um ar de sofisticação e mistério. Cada movimento que fazia revelava um toque de elegância e sedução, fazendo com que todos ao seu redor se sentissem atraídos por sua presença encantadora.
Era ela, ele tinha todas as certezas que era a garota dos seus sonhos. Seus olhos passearam por todos os traços dela.
— Daqui, você é daqui — sussurrou.
Seu pequeno coração disparou com o singelo sorriso que ela deu para a dama de companhia. A mulher sempre ficava na frente dela e mesmo com o som baixo da música que ia para fora, ele não conseguia ouvir a voz das duas.
— Aqui, demorei muito? — entregou a taça para o irmão.
— Não, nem senti sua falta — brincou com ela.
— Ótimo irmão, as vezes acho que Kellan gosta mais de mim — ela entrou na brincadeira. — Ele podia ter nascido no seu lugar, e vocês só inverterem.
Eles dois riram, Joo-Hyuk revirou os olhos fingindo indignação.
— Em falar em Kellan, em que ano ele nasceu mesmo?
— Mas já? Achei que isso acontecia quando vocês estão com cabelos brancos.
— Por favor... — segurou o riso. — Não é fácil cuidar da sua irmã que logo será apresentada para a sociedade e se lembrar desses mínimos detalhes, esses futuros maridos seus são bem... exagerados.
— Ah claro — riu. — Terá mais trabalho logo, seu casamento, desculpe — se conteve. — Respondendo sua pergunta, ele nasceu em mil oitocentos e cinco.
De cabeça ele fez os cálculos e teve o período que estava, mil oitocentos e vinte, isso era muitos anos atrás do que estava. Se fosse realmente um sonho, ele teria um propósito de estar lá, mas não fazia sentido ele estar tomando rumos que continuasse sua história naquela época, só se tudo aquilo fosse real.
— Está tudo bem? Eu fiz uma brincadeira que não gostou? Foi o casamento?
— Não — sorriu para acalmá-la. — Não tem nada haver com isso, eu só estava pensando, o tempo passou bem rápido — blefou.
— Ser o primeiro filho, impactou né? Achei que você já tinha pensado em algo assim.
— Eu percebi só agora.
A irmã só riu.
— Eu estava conversando com a Esme, ela me falou que vai debutar esse ano comigo, eu estranhei, ela disse que faria isso aos dezessete também.
— Você conversou com ela?
— Não tive tempo, eu nem sei se ela veio hoje — olhou para dentro do salão. — Queria ver se consigo falar com ela depois, tudo bem você me levar?
— Sem nenhum problema, só me avisa antes, pode ser?
Mais uma promessa.
— Claro, farei isso — deu um beijo de agradecimento no rosto de seu irmão. — Joo-Hyuk, eu já venho, a mãe aparentemente está me chamando.
Não a respondeu, ele até ficou feliz, diga-se de passagem. Queria admirá-la um pouco mais, decorar com exatidão todas as expressões delicadas de seu rosto e a forma que seus cabelos caiam sobre seu rosto.
— Joo-Hyuk, vão dar início a primeira dança, vamos, por favor — o duque, seu pai, o chamou. — Estava pensando em algo?
— Só aproveitando meus últimos momentos de solteiro — tirou uma gargalhada sincera do patriarca. — Ela já está procurando, não é?
— Desde o momento que você começou a acompanhar sua irmã, ela já falou de todas, das que já foram apresentadas à sociedade e das que ainda serão, se não fosse pelo o Senhor Moore para ajudar... — respirou aliviado. — eu teria pedido para ela dançar comigo, mesmo não sendo o momento.
Por um lado, as personalidades eram mais diferentes dos seus pais em dois mil e vinte quatro; eram mais soltos e esbanjavam a felicidade, dentro ou fora da casa dos Nam.
— Boa noite. Eu queria agradecer a todos por comparecerem ao nosso baile, minha querida e adorável esposa, Condessa Hawthorne, tem todos os méritos por esse lindo baile, meu amor, gostaria de dizer algumas palavras?
— Obrigada meu amor — respondeu em tom suave. — Boa noite senhoras e senhores — sorriu com a resposta vindo em um lindo couro. — Agradeço a todos. Este baile é especialmente significativo para mim e, além disso, celebramos o início da nossa encantadora primavera — seu olhar parou em sua irmã. — Sintam-se à vontade, aproveitem cada momento desta noite. Obrigada!
— Músicos, por favor.
A música repercutia no jardim, onde os irmãos Nam estavam minutos antes. Todos os convidados seguiram os anfitriões para o jardim, tão bem delicado com sua decoração. As pétalas rosa e branco das Mugunghwa, que desabrocharam, carregavam consigo o visual encantador junto ao tom verde.
Com carinho, o Conde Hawthorne optou em dar um toque sutil na decoração com lanternas de papel coloridas. A surpresa foi tão linda para Katie, que não resistiu e depositou um beijo suave nos lábios dele. As mesas estavam adornadas com toalhas de linho finas e arranjos de flores que misturavam as tradicionais flores britânicas com as Mugunghwa, criando uma fusão única de culturas.
Esta área do jardim tinha uma linda visão do gazebo, onde o grupo de músicos estava apostos tocando a primeira música da noite.
Quando a primeira dança foi anunciada, todos voltaram seu olhar para o casal. A esposa do Conde, radiante com seu vestido com adornos bordados que recordava as lindas Mugunghwa, foi a primeira convidada para dançar; ao seu lado, o Conde sustentava um sorriso de orgulho, amor e admiração, em seus braços, ele a conduzia com graça por quase toda a área da dança. O amor era transmitido pelo olhar, enquanto as delicadas notas da orquestra harmonizavam com a atmosfera mágica da noite.
Aos poucos os convidados se aproximaram e começaram a dançar junto a eles. Joo-Hyuk procurou a garota apenas com os olhos, mas não a encontrou; queria que ela fosse a primeira com quem dançaria naquela noite.
— Vamos? Ou está à procura de uma pretendente? — Jucelyn parou ao seu lado.
— Podemos — esticou a mão para ela ignorando a pergunta.
Como se dançasse há tempos, ele se saiu melhor do que esperava. Seus passos foram de acordo como todos os cavaleiros, e conduziu sua irmã da melhor maneira. Pequenos sorrisos escapavam dos lábios dos dois, era muito bom dançar com seu irmão, ele não julgava se ela pisava sem querer no pé dele.
— Obrigada — ela agradeceu. Fez a reverência. — Espero que não esteja doendo tanto.
— Por favor, eu terei que ficar com o pé para cima por duas semanas.
— Com licença — um rapaz alto, vestido com um elegante traje de veludo preto, se aproximou dos irmãos, sua postura confiante e um sorriso cortês no rosto. — Gostaria de saber se posso ter uma dança com a senhorita Nam.
A expressão de Jucelyn mudou sutilmente ao ouvir o pedido. Seu olhar rapidamente se voltou para seu irmão, e entre eles ocorreu uma conversa silenciosa, cheia de gestos sutis que apenas irmãos compreendem. As sobrancelhas de Joo-Hyuk se ergueram levemente, um sinal de aprovação, enquanto um pequeno sorriso se formava em seus lábios.
— Sim, por que não? — respondeu Jucelyn, sua voz saiu suave, mas com um toque de determinação.
— Assim que eles estiverem prontos para a próxima música — o rapaz fez uma leve reverência, e Jucelyn observou enquanto ele se afastava, seu olhar fixo nele por um momento, um misto de curiosidade e expectativa.
— Estarei esperando — viu o homem se retirar. — Mamãe, ela vai achar... — seu timbre transparecia a ansiedade.
— Não vai, Juy, não vai. E outra, eu não saí do seu lado por quase nenhum segundo — trazia segurança em seu olhar, queria tranquilizá-la.
— E é só uma dança — começou a se convencer que estava tudo certo.
— Sim.
— Não estou sendo pedida em casamento — insistiu para si, mesmo com uma dúvida pairando no ar.
— Não — respondeu com um sorriso tranquilizador.
— Mas e se eu for? — ela questionou, a ansiedade transparecendo em seu tom, enquanto olhava para ele, buscando segurança.
— Muito cedo, vocês vão só dançar — sorriu. — Depois vão voltar para suas respectivas famílias e manter a noite com uma agradável dança.
— Você está certo — começou a se acalmar. — Ele está vindo, obrigada irmão.
— Não precisa agradecer.
Senhoria Nam segurava a mão do rapaz até chegarem no centro do salão ao ar livre. As mãos dele estavam bem intencionadas e a conduzia com calma.
Aproveitou este momento e foi procurar a garota que estava a admirar a dias. A garota estava ao lado de uma garota da mesma estatura que ela. Sorria olhando para os casais ao dançar; ajeitou o colete e o casaco e caminhou até ela. Sua postura ereta e um sublime sorriso refletiam a certeza que tinha naquele momento.
Quase no meio do caminho, Joo-Hyuk sentiu uma mão tocando com educação nele; ao se virar para o lado esquerdo, seus olhos pararam em sua mãe com um sorriso contagiante.
— Filho, poderia me acompanhar por favor.
Olhou novamente na direção da garota e depois voltou para sua mãe. O suspirou de desânimo que escapou de seus lábios não passou despercebido, principalmente pela senhora Nam, que ignorou totalmente a ação.
— Claro, mãe.
Seguiu em passos rápidos, decorando todos os traços da garota mais linda do baile.
— Filho, esses são os senhor e a senhora Moore, os marqueses Moore — ressaltou o título da família. — E esta adorável senhorita é a Clementine Moore.
— Prazer em conhecê-lo, Lord Nam — disse Clementine, fazendo uma reverência graciosa.
— Marqueses, senhorita Clementine — Joo-Hyuk, cumprimentou todos com um sorriso harmônico e educado, embora uma leve inquietação o acompanhasse
— Estávamos conversando sobre as propriedades. Poderia explicar a plantação de tabaco da nossa família? — pediu sua mãe, e a expectativa brilhava em seus olhos, queria que construísse um bom relacionamento com os marqueses.
— O duque estava aqui e comentou que não é apenas de tabaco; vocês também tem alguns vinhedos.
— Não — por sorte, seus conhecimentos eram agradáveis para poder conversar sobre o assunto. — Isso, nosso vinhedo vem sendo bem elogiado.
Linda mentira da parte dele, não fazia conhecimento que era tabaco e vinho, ficou surpreso também.
— Confesso que criei uma curiosidade sobre a plantação de tabaco — a marquesa assumiu.
— Acredite, muitos acreditam que o tabaco serve apenas para o fumo — disse Joo-Hyuk, observando os marqueses concordarem com a cabeça. Clementine o observava atentamente, como se estivesse admirando cada palavra que saía de sua boca. — Fico impressionado que muitos médicos conseguem extrair a essência do tabaco para usos medicinais — ele umedeceu os lábios, sentindo a tensão no ar. — Nesta última viagem que fiz com meu pai, verificamos como está o cultivo. Se tudo correr bem, teremos um grande lucro ainda este ano.
— Isso é ótimo — Senhor Moore já tinha conhecimento disto. Eles já haviam trocado algumas palavras. — Viu filha? O conhecimento dele é abrangente.
— Oi, com licença — Jucelyn apareceu ao lado do irmão com um sorriso meigo.
O senhor Nam também se aproximou deles.
— Essa é a minha terceira filha, Jucelyn — a duquesa apresentou.
— Prazer em conhecê-la — a marquesa respondeu com um sorriso.
— Joo-Hyuk, de quem foi a ideia? — a garota cochichou para o irmão, olhando para trás fingindo estar procurando um refresco.
— Acredite, nem eu sei — respondeu da mesma forma.
— Eles vão tocar a próxima música — em tom animado e sutis indiretas, a duquesa de Valência comentou. — O repertório está tão lindo para uma dança.
— Eu concordo, vi seus filhos dançando, ele é um ótimo dançarino.
— Agradeço à marquesa. — Joo-Hyuk respirou fundo. Compreendeu tão bem onde sua mãe queria chegar. — Clementine, você me daria a honra desta dança?
A garota olhou para o pai, que fez um gesto de consentimento. Com a música prestes a começar, eles se posicionaram um na frente do outro, prontos para iniciar a dança.
Assim que os primeiros acordes ecoaram pelo salão, Joo-Hyuk e Clementine se moveram em perfeita sincronia. Os passos eram elegantes e fluidos, enquanto eles giravam suavemente, como se estivessem flutuando sobre o piso polido. As saias de Clementine rodopiavam ao seu redor, criando um efeito encantador, enquanto Joo-Hyuk a guiava com firmeza, mas com delicadeza. O ambiente ao redor se dissolvia, e a dança se tornava um momento de pura expressão, onde a música e o movimento se entrelaçavam de forma harmoniosa.
Foi uma dança adorável, ela agradeceu e retornou para o lado de seus pais. Já Joo-Hyuk voltou a ficar ao lado de sua irmã que também estava com seus pais.
— Foi ideia da mãe — disparou Jucelyn. — Ela se recordou que a única filha dos Moore vai ser apresentada para a sociedade também, então fez toda a movimentação.
— Que animação.
— Pelo menos ela é bonita, agraciada, e sabe tocar piano muito bem. Deve ter outras qualidades, é claro.
— Eu concordo.
— Só isso?
— No momento, só isso.
Juy respirou fundo, como seu irmão era complicado; realmente, interagir com Kellan era muito mais agradável em todas as circunstâncias.
O baile foi excepcional. Os Hawthorne foram os anfitriões mais notáveis daquela temporada, e não seria a última.
Katie transbordava de felicidade; ter encontrado Theo como seu marido lhe deu todo o conforto que uma mulher poderia desejar, principalmente naquela noite. O casal não tinha esses planos mas tudo correu tão cordialmente bem que um mais novo Hawthorne estava prestes a ser anunciado.
A cabeça apoiada na janela da carroça, acompanhava o som das rodas passando nas ruas. Joo-Hyuk só conseguia imaginar como seria dançar com ela, sentir ele a conduzindo e o perfume que desejava gravar em suas memórias mais profundas, perto dele.
Jae-hee e Kellan estavam dormindo na carruagem. John e eles passaram todo o tempo juntos e brincando, o que foi ótimo. Por sorte, a babá que estava com John pode ter umas leves pausas, já que Jae-hee gostava de cuidar bastante do seu sobrinho.
Ao chegarem em casa, Joo-Hyuk afrouxou a gravata e ajudou seu pai abrindo a porta. O homem carregava a mais nova em seus braços. Aquele momento, todos haviam subido para seus quartos.
— Joo-Hyuk! — chamou sua mãe. — Amanhã é o grande dia de sua irmã — ele concordou com a cabeça. — Tudo bem se eu pedir para você ir? Katie também vai.
— Não se preocupe — segurou a mão de sua mãe. — Vai acontecer tudo muito bem. Você vem cuidando disso há tempos e tem uma boa especialidade com isso — se referiu com Katie. — E desta vez o papai está aqui com você.
— Verdade — respirou mais aliviada.
— E eu estarei lá. Que horas mesmo?
— As sete horas da noite. Mas é só o começo do baile. Às dez horas da noite haverá a apresentação das garotas, é nesse momento que preciso que você esteja lá.
— As dez em ponto estarei lá, se não, pode me casar no dia seguinte mesmo.
Brincou com a senhora Nam, ela precisou conter a risada para não ecoar na casa silenciosa e acordar sua pequena no quarto.
Despediram com um boa noite afetuosa e seguiram-se para seus respectivos quartos.
Joo-Hyuk colocou suas roupas penduradas na cadeira, vestiu uma estranha calça de dormir e deitou-se em sua cama, queria acordar o quanto antes, vê-la novamente e poder convidá-la para dançar.
•
Respirou fundo e esticou sua mão procurando o relógio de bolso que sempre carregava, mas estranhou que estava no mesmo nível que sua cama. Abriu os olhos e não enxergava nada, estava tão escuro o cômodo. Ao elevar o corpo para se levantar da cama ele bateu a cabeça na cama, o barulho e a dor foi um só. Jurou que naquele momento viu todo o universo à sua frente.
Devagar se rastejou para fora da cama e foi se dar conta que adormeceu com a cabeça de baixo da cama. Massageava o local aquilo lhe daria um galo.
— Não — olhou em volta. — Não, não, está errado isso — levantou rapidamente.
Andou até a janela e abriu a cortina, ele estava de volta a Suwon.
— Como isso acontece? O que me faz sonhar com eles, me sentir parte da família? — estava parado na frente da janela. Os perfumes das flores entram no quarto perfumado e o anestesiando de lembranças. — Como pode ter continuidade lá... definitivamente não é um sonho isso.
Queria compreender mais.
O relógio do celular marcava com exatidão oito horas da manhã.
A luz natural iluminava a cozinha, depois de um banho revigorante ele preparava seu café da manhã. Os cabelos ainda estavam úmidos favorecendo aquele pequeno calor que se instalava no interior da cozinha.
Começou lavando um pouco de arroz e deixando na panela elétrica. Em uma outra panela preparou sua melhor receita: miyeok-guk. O aroma passeava pela casa o deixando com mais fome. Deixou a sopa cozinhando e voltou-se para a geladeira, abriu e ficou alguns minutos pensando no que mais prepararia para acompanhar o arroz e a sopa; tirou ovos e alguns ingredientes para preparar um gyeran-jjim e por último separou um pouco do kimchi que tinha recebido de sua mãe.
A verdade é que estava com muita fome, e aquele sabor da limonada em sua boca estava o torturando ainda. Parecia que as bebidas do baile...
— Não, estou definitivamente maluco.
Quis afastar mais uma vez a ideia que ele conseguia ir para o ano que enfim descobriu, mil oitocentos e vinte.
Finalmente, Joo-Hyuk montou sua mesa: uma tigela de arroz quente, a sopa de algas fumegante e a omelete fofa, tudo disposto com cuidado. Para completar, ele serviu um pequeno prato com kimchi ao lado.
Juntou as mãos em forma de gratidão e com um sorriso no rosto agradeceu a refeição.
O celular tocou em cima da mesa, esperou mais um toque para ter a certeza que era ligação; enxugou as mãos e atendeu a ligação, fazia um tempinho que não conversava com seu manager — desde que ele se mudou.
— Oi.
— Oi, Joo-Hyuk, como está a estadia na casa nova?
— Bem, melhor do que eu imaginei.
— Bom, bom. Eu estou com alguns personagens para dois doramas aqui, pediram para passar para você.
— Já sabem que eu voltei, então.
Mesmo do outro lado da ligação dava para perceber o desânimo em sua voz.
— Sim, eu tentei manter até onde consegui.
— Não tem problema. Para ser sincero, eu vou dar uma olhada pode passar para mim via e-mail.
— Claro — dava para ouvir ele digitando do outro lado. — Pronto, só ler.
— Vou dar uma olhada como falei, mas não posso te dar a certeza que aceitarei.
— Joo-Hyuk, sei que você quer se reconectar, mas não podemos deixar isso prolongar mais, preciso de uma resposta o quanto antes.
— Compreendo, até o final desta semana — estavam numa quarta-feira. — Você receberá a resposta.
— Me retorne sobre os papéis ainda hoje?
— Uma mensagem chegará a você.
— Até mais.
— Até.
Foi um ultimato, sua decisão iria vir agora mesmo se ele quisesse prolongar mais tempo do seu hiato. Sentou-se na frente de seu notebook e acessou o e-mail, eram personagens bem escritos e desafiadores para ele, entretanto, nenhum aguçou sua vontade de atuar. Encostou-se na cadeira e respirou fundo, relaxando todos seus músculos, quando foi que as coisas passaram a ser complicadas de se decidir? Não que antes fosse mais fácil, porém agora parecia mais desafiador.
“Oi filho!”
O celular vibrou, o pop-up apareceu no visor do celular.
“Você ainda tem Kimchi?”
“Oi mãe.”
“Sim, ainda tenho sim. Mais tarde passo aí, quero conversar com você, hoje é o dia de folga do pai, certo?”
“Isso, ele já está aqui, voltou do mercado agora pouco.”
“Legal, logo eu estou ai, aviso quando sair daqui.”
“Até mais mãe.”
“Até mais, meu filho.”
Joo-Hyuk se arrumou para ir até a casa de seus pais. A temperatura estava bem reconfortante, e apenas a blusa de manga comprida seria ideal para o caminho.
Cumprimentou todos que reconhecia, virou a rua e avistou a casa de seus pais. Gostava de como algumas ruas mantinham a arquitetura antiga e como as duas arquiteturas se misturavam delicadamente; deixou seu tênis no hall e pegou a pantufa que ficava separada para ele.
— Mãe, pai, cheguei.
Anunciou-se ao entrar. Aquele aroma gostoso de fritura, conseguia até sentir o sabor do hobak jeon; a senhora tinha acabado de levar uma tigelinha para a sala e sentar ao lado do marido.
— Oi filho! Chegou bem na hora! Sua mãe acabou de preparar hobak jeon — o pai sorriu, os olhos brilharam de satisfação.
— Oi pai! então essa foi sua compra no mercado hoje.
Brincou com o homem.
— Ele não via hora, parecia uma criança quando chegou com todos os ingredientes que faltava — a mãe riu suavemente, e a alegria preencheu a sala.
— Eu vim conversar com vocês — sentou-se no chão. — Estão ocupados?
— De jeito nenhum! — a mulher desligou a televisão. — Conte para nós.
— Eu estava conversando hoje mais cedo com o meu manager, ele me passou dois papéis para interpretar.
— Interessante — o pai ergueu as sobrancelhas, estava interessado.
— Concordo, seriam personagens que não cheguei a experimentar a interpretar, entretanto — respirou fundo, hesitando — eu decidi não aceitar. Quero seguir por outros caminhos e apoiar novos jovens que desejam seguir essa carreira, mas que, no fundo, não têm condições para isso.
O tempo que ele passou em casa lendo as características dos dois personagens e tendo ao fundo o desenho da garota como uma memória desejada, deixou seus devaneios mais alinhados.
No entanto, um aperto no peito o acompanhava ao considerar sua decisão de continuar a carreira de ator. O ano de dois mil e vinte quatro estava sendo incrível, repleto de momentos que traziam toques de felicidade. Entretanto, havia algo sedutor no ano de mil oitocentos e vinte, uma aura que o tocava profundamente e o fazia desejar permanecer naquele tempo.
— É exatamente isso que você quer? — o pai questionou.
— É exatamente isso.
— Vamos te apoiar — a mãe tocou em seu ombro, mostrando todo apoio e orgulho que tinham de seu filho.
— Eu sei que pode parecer besteira, mas é esse o caminho que quero seguir. Talvez eu faça alguns projetos intercalados, mas, no fundo, não sinto mais vontade de atuar.
— O importante, filho — começou sua mãe — é que você precisa se sentir bem para fazer as coisas da melhor forma. Quando seu coração está em paz, tudo flui melhor, e você pode construir uma vida plena e feliz.
— Vou lembrar dessas palavras para sempre.
Os olhos de Joo-Hyuk estavam marejados, ele sabia que sua família iria apoiá-lo, mas aquelas palavras tão singelas de sua mãe aqueceram seu coração, trazendo a última peça para a sua decisão.
— O que acham de pedirmos uma pizza? — passou a mão nos olhos para enxugar as lágrimas.
— Acho uma boa ideia.
— Vou terminar de comer os hobak jeon.
— Tudo bem pai, pode comer, só não fala que está muito cheio para a pizza — riu.
Por algumas horas, eles passaram o tempo juntos, foi como uma pequena celebração indireta da nova carreira de Joo-Hyuk. A pizza chegou, eles pegaram suas fatias e o senhor Nam ficou contando alguns acontecimentos engraçados que aconteceram com ele em seu trabalho. Aquele momento em família seria lembrado para sempre por eles.
Em sua residência, Nam Joo-Hyuk se acomodou no sofá de sua sala, deitando-se e colocando um braço atrás da cabeça. A ligação com o manager não durou muito; na verdade, o homem realmente ficou desanimado. Joo-Hyuk era um ótimo ator, ele se entrega ao personagem de uma maneira cativante, o que ficou evidente em seu último dorama.
O que foi um pequeno alívio para o homem é que Nam não quebraria o contrato com ele, que ele ainda poderia continuar cuidado como sempre foi.
Lá em Seul, o senhor Seo estava realmente incrédulo. Ele tinha um dos melhores atores sob seus cuidados e gostava muito de trabalhar com Joo-Hyuk.
— Você ainda está assim? — sua esposa chegou na sala. O homem estava apenas com o e-mail aberto no notebook sobre a mesinha.
— Ele realmente está mudado — em seu timbre saia admiração. — A escolha dele de amparar os adolescentes é digna de respeito.
— Concordo. E uma pequena atitude dele que eu gostei foi manter você junto ao novo trabalho dele, isso mostra o quão maravilhoso você é.
— Você acha? — olhou para ela. — Se eu realmente fosse, teria convencido ele.
— Você é sim! Não duvide de seu potencial. Ele mudou pois era a hora dele — ajeitou-se no ombro do marido. — E talvez para você também.
E ela estava certa, senhor Seo passou a refletir diferente deste novo caminho que a vida lhe mostrava.
A felicidade era contagiante, faltava bom tempo para começar o momento que mais queria. Nam Joo-Hyuk tinha aproveitado que naquele sonho estranho andava de carroça, viu a bandeira do país que estava em uma das casas. Reino Unido. Pesquisou o fuso horário e também fez os cálculos da diferença de horário, sua adorável Suwon estava à frente de Londres, em relação ao horário; com isso olhou o relógio do celular que marcava dois minutos para oito horas — da noite.
Se levantou, trancou as portas e fechou bem as janelas, certificou que as luzes estavam apagadas e voltou para seu escritório. Usando uma roupa confortável, ele sentou-se na cadeira, decidido em desenhar a garota que tanto o fascinava. Veria se voltaria até mil oitocentos e vinte, já que estava sem sono e bem disposto.
Os traços firmes e delicados começavam dar vida ao gazebo daquela noite. As flores nas mesmas posições que ele havia visto; seu desenho estava lindo, revelando toda a perfeição dela, os fios de cabelo desenhados no papel estavam como ele recordava. O meigo e suave sorriso esbanjava tanta vida, que ele teve a impressão de que as linhas dos lábios se mexiam, como em seus outros desenhos.
Fechou os olhos e demorou um pouco para abri-los novamente, ele passou a criar tantos sentimentos por ela que achava que até em seus desenhos ela ganhava vida.