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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 12/06/2025

A testa franzida do produtor chefe encarava o celular, enquanto as mãos trêmulas de Jack e Kira se juntavam em uma só, como a perfeita sintonia que os jovens haviam descoberto desde o momento em que se conheceram naquela escola. Jack encarava a garota de cabelos castanhos de forma tímida. Como todo pré-adolescente, não entendia o sentimento que crescia em seu peito e saía em forma de implicância, tudo que Kira fazia era motivo de piada de sua parte, enquanto sua mente gritava o quanto a aspirante a atriz mirim era maravilhosa. Contudo, o destino quis que seus destinos se cruzassem de forma ainda mais intensa, e o universo pregou essa peça na forma de um teste de elenco. Uma nova série de super heróis à procura de um casal de pré-adolescentes para interpretariam os gêmeos protagonistas. Kira conseguiu o papel por seu talento, por ser o único garoto que teve coragem de lutar com ela, mesmo que suas pernas estivessem tremendo.
Logo, os dois passavam as manhãs juntos na escola e as tardes no estúdio de gravação, juntos. O tempo passou, e a implicância se transformou em uma bela amizade, esta que, por sua vez, não demorou para evoluir para algo mais. Tudo começou em um voo milésimo que pegaram juntos, mas, naquela ocasião, a viagem duraria mais de doze horas. Kira sentia seu estômago doer, parecia que iria vomitar, porém Jack venceu sua timidez e passou o tempo todo de mãos dadas com a garota e mandando respirar fundo. Mesmo passando tanto tempo na companhia um do outro, os dois jovens raramente se davam ao luxo do toque físico, mas bastou uma única vez…
Bilhetes carinhosos nos camarins se tornaram frequentes, e logo o produtor chefe do programa percebeu que a química de seus atores ia além das telas.
Era tarde da noite quando chamou os dois para uma conversa séria.
— Eu sei que estão juntos. — Seu tom era frio.
Kira foi a primeira a sentir as bochechas corarem. Jack, no entanto, não ficou para trás.
— Tudo bem, não há por que mentirmos. Nós gostamos um do outro, quer dizer, a Kira é meu porto seguro, minha melhor amiga… Se derreteu.
— Isso é muito fofo, mas precisa acabar! — O produtor chefe decretou que os dois adolescentes arregalaram os olhos.
— Como assim? — Kira colocou as mãos na cintura como se tivesse pedindo satisfação aos próprios pais.
— Eu sinto muito, mas vocês dois não podem ser um casal. — O produtor chefe colocou os óculos que se encontravam em cima de sua mesa de tirania.
— E por que não? — Foi a vez de Jack se impor.
— Eu não deveria ter que explicar isto, mas vou dar um desconto por serem adolescentes que, mesmo estando neste mercado há alguns anos, parece que ainda não entenderam nada. É o seguinte: vocês dois interpretam gêmeos na série, e irmãos gêmeos não podem ter um relacionamento romântico, isso é óbvio.
— Sim, mas nossos personagens são irmãos, não nós.
O produtor chefe suspirou como se estivesse reunindo toda a sua paciência.
— Eu sei disso, você sabe disso, mas os seus espectadores principais, as crianças, não. Na mente deles, vocês, mesmo com os seus nomes verdadeiros, são Phoebe e Max. Não há dissociação completa. Então imagina se um menino de nove anos decide procurar imagens de vocês na internet e encontra uma foto de beijo? Seria uma confusão na cabeça inocente deles, provavelmente esta criança em questão provavelmente perguntaria aos pais se irmãos podem namorar, os pais ficariam chocados, proibiram o filho de assistir a série e aconselhariam todos os outros a fazerem o mesmo. Assim, em um mês, o programa seria cancelado por falta de audiência. É isso que vocês dois querem?
O casal engoliu seco e, ao mesmo tempo, fizeram que não com a cabeça.
— Ótimo, então estamos entendendo. E, além do mais, vocês são jovens, com certeza isso é só uma paixonite boba, porque passam muito tempo juntos. Logo vai passar, acredite em mim, tenho muito mais experiência.
Jack lutou contra seu desejo intenso de socar a cara do produtor chefe ali mesmo. Como ele ousava duvidar de seus sentimentos por Kira, os chamando de "paixonite"? O que ele sentia pela colega de elenco era muito mais do que isso, era amor. Muitos diriam que o ator mirim era muito novo para entender este sentimento, mas ele sabia muito bem o que se passava em seu coração, sabia que depois de conhecer Kira ele simplesmente nunca mais havia sido o mesmo. Tudo de bom que acontecia era para ela a primeira pessoa que ele pensava em contar. Nos momentos tristes, era o abraço da garota de cabelos castanhos que seu corpo pedia. Ela o entendia como ninguém, ele fazia o fardo de ser uma estrela mirim muito menos pesado, e ele tinha certeza de que Kira sentia o mesmo. Se isso não era amor, o que mais poderia ser? Era um amor tão forte que não podia simplesmente ser silenciado, mesmo que precisasse permanecer em segredo.
Dessa forma, os coprotagonistas precisavam ser cautelosos. Obviamente, não era fácil controlar o desejo de andarem de mãos dados em público e mostrarem seu afeto.
Jack havia perdido a conta de em quantas entrevistas seu coração gritava para que ele gritasse ao mundo o quanto amava sua colega de elenco, mas sempre que algum repórter entrava no assunto de namoro, ambos eram obrigados a dar a mesma resposta que já estava na ponta da língua:
“Nós? Um casal? Imagina. Somos como irmãos e irmãs na vida real”. Nenhuma aula de atuação os havia preparado para tamanha performance. Tudo ficou pior à medida que o sucesso da série só crescia. Logo era a mais assistida do canal, renovada para uma terceira, quarta e quinta temporada. Era cada vez mais difícil esconder o quanto se amavam para o público. Agora com vinte anos, já interpretando seus personagens em um spin off, eles tentavam abafar ao máximo os rumos que só cresciam, contudo, os fãs crescidos que continuaram os acompanhando não eram bobos e percebiam a química inegável que era cada vez maior. Assim a cautela também precisou ser redobrada. Alguns anos antes, para conseguirem ter a tão sonhada primeira noite de amor sem serem descobertos por um colega de elenco, ou pior, por um paparazzi, o casal teve que dar a desculpa de que ambos ficariam no estúdio até mais tarde, ensaiando algumas falas, contudo isso não impediu que o momento fosse igualmente especial.
— Eu sei que não foi onde, ou como sonhamos… — Começou o garoto, enquanto brincava com os dedos da amada.
Kira, por sua vez, colocou as mãos em seu rosto de forma carinhosa.
— Ei, nós dois estando aqui é tudo que eu preciso!
O casal se encarou por alguns segundos, antes de se beijar de forma apaixonada.
Por sorte, naquela vez, ninguém ficou sabendo de nada. Quer dizer, Kira até ouviu alguns comentários inofensivos no dia seguinte sobre como parecia estar mais bonita e radiante, porém nada que pudesse comprometer o segredo em questão. Apesar de terem que se controlar o tempo todo para não demonstrarem afeto quando não estivéssemos sozinhos sob quatro paredes, Kira e Jack conseguiam contornar bem a situação.
Todavia, as mentiras realmente têm pernas curtas, e uma hora elas aparecem. Era dia dos namorados, não havia mais cenas para serem gravadas naquele dia, então Kira foi para seu camarim, onde um dos tradicionais bilhetes fofos do namorado a esperava.
“Feliz dia, meu amor, me encontre no galpão, pois tenho uma surpresa. Milhões de beijos”
Assim que possível, a garota de cabelos marrons correu ao encontro do amado. Ao chegar ao galpão, se deparou com um jantar à luz de velas para dois.
— Surpresa! — Jack colocou as mãos no bolso de forma tímida.
— Meu amor, como conseguiu isso? Quer dizer, esse galpão…
— Eu tenho os meus contatos. Quer dizer, eu não aguentava mais. Estamos juntos há tanto tempo que não achei justo passarmos mais um ano sem podermos comemorar essa data especial do jeito que merecemos.
— Ah, Jack. — Ela se aproximou. — Não precisava ter tido todo esse trabalho. Eu não ligo para isso. Não precisamos de um dia para comemorar, você me faz feliz a todo o instante. — Ela beijou a bochecha no namorado, antes de se aconchegar em seus braços
— Eu amo quando você fala assim, mas eu faço questão, então posso?
— Claro!
Como um bom cavalheiro, o garoto puxou a cadeira para a companheira de elenco, dona de seu coração.
Ele poderia olhar para ela durante um dia inteiro e, ainda assim, não seria o suficiente, pois era apaixonado por cada detalhe sobre Kira. Seus olhos simétricos, suas covinhas que se avermelhavam toda vez que ele chegava perto, mesmo depois de tanto tempo. Deus, como ele amava aquela garota e queria passar o resto da vida com ela, gritar para o mundo se casar, construir uma família, tudo a que tinha direito. Em um mundo ideal, ele se ajoelharia e trocaria alianças com a jovem ali mesmo, contudo, as circunstâncias ainda não permitiam. Mesmo assim, ele queria pelo imenso ter essa sensação.
— Meu amor, antes de comermos, eu queria te dar o seu presente. Fecha os olhos e estica a mão.
Ela obedeceu sem resistência, afinal, confiava em Jack com sua vida.
Segundos depois, além do toque mágico do amado, ela sentiu um metal entrar em seu dedo e sorriu ao imaginar o que era.
— Pode abrir!
Seu olhar se deparou com um anel prateado, com beiradas rosa, sua cor favorita.
— Meu amor, é lindo, porém, mesmo que eu queira exibi-lo para Deus e o mundo, não podemos usar anel de compromisso, quer dizer? Acha mesmo que os fãs e os paparazzi não repararam?
— Por isso mesmo que o seu está na mão e o meu aqui!
Ele apontou para o mesmo artefato que decorava o dedo indicador de seu pé direito.
Kira caiu na risada, as trapalhadas de Jack e suas ideias malucas eram apenas algumas das razões que a faziam amá-lo tanto.
— Ai, você não existe. Mas não é justo só você usar no pé. Tive uma ideia
A garota no mesmo instante tirou as sandálias e copiou a ideia do namorado. Foi a vez de Jack rir.
— Nunca mais poderemos usar sapatos abertos.
— Ah, que sacrifico gigante! — A voz de Kira saiu sarcástica, enquanto ela se jogava nos braços do amado antes de beijá-lo.
— Espera, eu preciso mandar isso para a minha mãe, só um minuto. — Ela pegou o celular para tirar uma foto dos dois juntos, se beijando, enquanto exibiam os pés.
A mãe de Kira era uma mulher discreta, que conhecia a filha muito bem para não descobrir sobre o namoro secreto. Obviamente ela achava arriscado, porém queria ver Kira feliz, além de ter Jack quase como um filho, então nunca se opôs.
— Ai, não, olha só logo abaixo da minha mãe, aquela repórter chata está me cobrando as respostas para aquela entrevista de novo. Ai, eu não aguento.
— Ah, meu amor, depois você pensa nisso. Agora vem aqui.
— Espera, deixa eu apenas mandar para a minha mãe.
Jack começou a beijar o pescoço da amada de uma forma que não percebeu o erro na hora de enviar a foto…
Horas depois, o casal apaixonado caminhou de mãos dadas até a porta do estúdio.
— Bom, daqui para fora, acaba a nossa liberdade.
— Sim, esse lugar é ao mesmo tempo nosso refúgio e a nossa prisão, não é engraçado?
O celular de Kira apitou.
— Ah, deve ser a minha mãe, vamos ver o que ela achou do seu presente… — Kira sorriu pela última vez, antes de descobrir que o mundo havia desabado sobre suas cabeças.
Em vez de uma mensagem fofa, ela se deparou com milhares de prints histéricos, vindos da repórter chata, todos com os mesmos tipos de mensagem.
“Ah… eu sabia, sempre os shippei desde a infância.”
“Meu casal mais vivo do que nunca”.
“Que criativo estarem usando as alianças nos pés. A cara deles!”
Com o coração disparado, ela abriu as mensagens da repórter e descobriu o que estava acontecendo, ela havia mandado as fotos dos anéis para ela em vez de para sua mãe.
— Não, não, não. Eu não posso ter feito isso.
Sua cabeça começou a girar.
— O que foi, meu amor?
— Por minha culpa, nós estamos encrencados.
Ela mostrou a tela do aparelho para Jack, que no mesmo instante entendeu a gravidade da situação. Era o fim.
Kira discou o número da repórter, já preparada para o pior.
— Alô? — A voz irônica atendeu como se não soubesse quem era.
— Você arruinou a minha vida.
— Ah, Kira, querida. Se você não queria que eu publicasse sobre o seu namoro, por que me mandou a foto?
A indagação fez a garota de cabelos castanhos querer atravessar o celular para esganá-la.
— Foi um acidente, não era para você.
— Bom, que pena. Quanto a isso, não posso fazer nada. O furo parou em minhas mãos… e, como boa repórter, não pude deixar passar…
Kira sentiu seus dedos se enrijecerem, enquanto ouvia a risada do outro lado que mais a lembrava a risada de uma super vilã.
— Ah, relaxa, Kira. Os fãs adoraram a novidade!
Ela queria acreditar, porém nem todos os comentários eram em tom de elogio. Na verdade, a maioria deles dizia frases do tipo.
“Eles são irmãos, isso é nojento.”
“Que mal exemplo esses atores que interpretam gêmeos em uma série infantil estão dando para os espectadores mirins. Meu filho não vai mais assistir a esse programa.”
E daí para pior… assim como o produtor chefe previu…
Anos atrás, quando aceitaram o fardo de se tornarem estrelas mirins, estavam cientes de que esta vida exigiria sacrifícios, todavia nenhum dos dois estava preparado para o estrago que amar alguém poderia causar. Era como se eles fossem bonecos, bonecos estes que as pessoas estavam sempre controlando.
Agora, lá estavam, encarando o produtor chefe de sobrancelhas zangadas e olhos fulminantes como se estivesse diante de duas crianças mal criadas e não de dois adultos independentes.
Jack segurava a mão da amada, dizendo com seu toque que tudo ficaria bem, porque mesmo se eles perdessem tudo, ainda tinham o mais importante: um ao outro.
— Eu avisei. Pedi tanto para vocês encaram esse caso inconsequente. Mas vocês me desobedeceram, me ignoraram e agora o caldo entornou. Estão felizes? Olha aí? O chefe do canal já me ligou querendo marcar uma conversa. Com certeza, são más notícias para mim, para vocês, para todos que dependem deste programa. Eu espero que estejam felizes. Achei que estava lidando com profissionais, mas, pelo visto são dois adolescentes mimados, inconsequentes e egoístas. Kira, o que você estava pensando quando mandou aquela maldita foto para aquela repórter?
A jovem cabisbaixa teve até que reunir todas as suas forças para responder:
— Foi um acidente, claro que eu não faria isso de propósito.
— Pior ainda. Sua distraída tola. Será que estava com a cabeça tão nas nuvens até não usou a inteligência. Custava demais pra você ter prestado o mínimo de atenção?
Jack sentiu o sangue ferver ao escutar aquele homem Grossi falar daquele jeito com sua amada. Assim, sem pensar nas consequências, cerrou o pulso e, quando deu por si, seus dedos estavam no rosto do produtor chefe em forma de um soco. Obviamente, o casal foi expulso do estúdio.
— Eu podia brigar com você por ter sido tão cabeça de vento. Quer dizer, dar um soco bem no rosto do produtor chefe? No que estava pensando, seu idiota? Mas o que eu quero mesmo é te dar um beijo por ter me defendido.
— Meu amor, quando ouvi aquele idiota falando daquele jeito com você, não me aguentei.
— E eu achei fofo, mas agora provavelmente estamos desempregados.
A fala fez ambos caírem na risada pura. Mesmo que amassem o programa, pela primeira vez em anos, se sentiam livres e, de fato, estavam livres para finalmente viverem seu amor da forma que bem entendessem,.
Com essa constatação em mente, Jack tirou o anel que enfeitava um dos dedos de seu pé e o colocou na mão, o exibindo. Kira fez o mesmo antes de os dois darem as mãos pela primeira vez sem medo de serem vistos ou fotografados . Era uma sensação nova e incrível.
Em perfeita sintonia, eles começaram a caminhar para fora daquele lugar que, por tanto tempo, havia sido como uma prisão. Para onde iriam daqui para frente. Não sabiam, mas estavam juntos e nada mais importava.


FIM


Nota da autora: Sem nota.

🪐



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