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━Autora Independente do Cosmos.
Encerrada ✔️

Ele apareceu depois de um ritual.
Não um de verdade, claro. Nada místico ou produto de invenções ilusionistas da sociedade, tipo a dança da chuva. Quer dizer, Sarah me disse que funcionava como a dança da chuva, mas não significa necessariamente que ela dançou mesmo de tanguinha em volta de uma fogueira. Eu nem sei onde ela conseguiria fazer uma no meio da avenida Paddington.
Mas, com certeza, meu querido novo vizinho estava preso em alguma terra das fadas e algum maluco o soltou para que ele pensasse que é normal ter um cavalo no quintal.
O animal em si não era um problema. Ele até que era bonitinho, com uma pelagem branca quase cinzenta, uma crina esvoaçante, um olhar perdido e ao mesmo tempo concentrado para além dos muros da propriedade, mesmo que, em tese, eu não fizesse ideia de como interpretar a expressão de um cavalo, mas ele não era o verdadeiro impasse. Afinal, eu duvido que ele tenha falado que queria estar ali. O problema era o dono, o irresponsável que trouxe aquela coisa imensa e um tanto perigosa para o meio da cidade grande, longe dos campos ao qual ele pertencia.
Ele pelo menos perguntou aos vizinhos se teria problema?
Tudo bem, a gente não tinha exatamente uma obrigação de saber. Nenhum dos vizinhos da redondeza tinham esse tipo de relação, o que eu particularmente ainda achava estranho mesmo depois de 5 anos morando no apartamento 501, e o lance é que o cara nem morava no prédio. Ele simplesmente tinha comprado a casa ao lado, um imóvel gigantesco muito bem preservado da era Joseon com um belo quintal que todos pensavam que seriam lotados cães e crianças, e em vez disso foi ocupado por um cavalo que observava a tudo e todos pelo muro de concreto.
Reafirmo que sim, ele poderia ter avisado. Ainda usamos cadernetas telefônicas, ele tinha esse acesso.
Porque agora, todas as benditas vezes que saía para a calçada nas manhãs normais e tranquilas da minha vida, era obrigada a ser esquadrinhada por aquela coisa, centímetro a centímetro, de muito perto, toscamente perto. A cabeça dele — ou dela — estava sempre para além dos limites da cerca, com aquele enorme pescoço grosso que me fazia pensar que o bicho seria capaz de me dar um coice sem mais nem menos, mesmo que suas patas traseiras estivessem seguramente do outro lado.
Na primeira semana, achei isso extremamente desconfortável. Intrigante, mas muito mais desconfortável. Mas não vi ninguém dizendo nada sobre isso, então cheguei a pensar que o problema era eu. Só eu via anormalidade em se ter um cavalo daqueles em uma área majoritariamente residencial, preso como em um estábulo a céu aberto?
Mas a senhora Channing, do 3º andar, me provou que não. Foi alto e evidente a voz esganiçada dela quando passei pela recepção naquele dia e a escutei ralhar com o porteiro: eu não sei que tipo de gente estão aceitando agora nesse bairro, mas se minha caixa de correio ou a grama que aparo forem prejudicadas, as consequências serão terríveis. Onde já se viu…
Dei uma risadinha disfarçada quando saí de novo naquela manhã, sabendo que nem precisava olhar para a cara do senhor Hoechlin para saber que ele preferia estar fazendo qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que não fosse ser envolvido em uma conversa com Carol Channing. Ela era a clássica vizinha insuportável, mas naquela questão eu precisava concordar com ela. Não tão agressivamente, mas concordava.
Aproveitei mais uma ocasião em que passaria pelos olhos agora sempre presentes na calçada e decidi parar um pouco e me virar para o rosto angulado do animal, soltando um suspiro longo e cansado.
— Não sei o que você está fazendo aqui, mas melhor ter cuidado com a caixa de correio e a grama aqui de fora. Ah, com as bikes também. Tem alguém que não vai tirar os olhos de você e já até colocou o número do centro de zoonose na emergência. — dei de ombros, me achando idiota por querer conversar com um cavalo às 7:30 da manhã. — Pisque duas vezes se estiver precisando de ajuda.
E eu esperei que ela/ele piscasse, porque cavalos deveriam estar tristes por estarem presos, não deveriam? Deveriam! Pisque, sua coisa imensa! Mostra pro mundo que você não é mais um reles meio de transporte!
Bem, o cavalo parecia ser bem mais decente do que esperei e não fez um único movimento fora do que já estava acostumado, que era basicamente mover os olhinhos. Desistindo, revirei os meus e segui adiante, começando a me acostumar com a ideia de que talvez eu não fosse atacada por um animal de 20 toneladas qualquer dia desses.

🐎🐎🐎


Coppola. Esse era o nome que eu tinha dado para o meu novo vizinho de quatro patas. Ainda não sabia exatamente o seu sexo, por isso optei por um nome neutro. Não é como se ele fosse me dizer se eu perguntasse, não é mesmo? Mesmo que, com 1 semana dessa convivência, eu já estava praticamente lhe dando bom dia e depois boa tarde diariamente, porque me considerava educada e generosa sem distinção de espécies.
Foi depois daquela semana que finalmente o vi. De fato. O homem, ou melhor, o humano por trás de toda aquela palhaçada.
No início, quase não acreditei que fosse mesmo ele. Alto, magro, músculos medianos porém evidentes na camisa de botões, um jeito de andar extremamente elegante, cabelos negros e lisos com fios pegando até atrás das orelhas. O nariz era de uma perfeição de passarelas e os lábios finos e ao mesmo tempo evidentes combinavam com os olhos semicerrados e focados ao que estava em frente, no caso, na pelagem branca do animal enquanto ele massageava seu companheiro sem soltar um mísero sorriso quando virava o rosto para o lado.
Precisei parar de lavar a minha xícara para olhar um pouco mais. Não dava pra acreditar no que estava vendo. Ele era bonito?! Como ele se atrevia a ser bonito? Agora me sentia ainda mais receosa em ligar para o controle de animais e deixar esse lindo homem triste por perder seu cavalo ilegal de um dia para o outro.
Talvez essa beleza toda fosse apenas uma casca. Eu gostava de pensar assim: se ele tinha se mudado para a casa mais antiga do bairro e ainda não estava trocando biscoitos com a senhora Zeta do outro lado da calçada, a dona da segunda casa mais antiga, então ele não fazia o tipo amistoso. E isso, somado ao cavalo branco passeando pelo quintal, só deixava claro um fato bem estampado: as pessoas o incomodavam. Ele preferia os animais. Devia achar que nós, seres humanos, tínhamos que nos preocupar mais com o mundo à nossa volta e as calamidades climáticas, sociais e políticas e como nossas ações afetariam o futuro de tudo isso do que pensar em relacionamentos, empregos estáveis e uma ou duas noitadas por mês.
Ou seja: devia ser um chato de galocha. Um homem determinado a ser o inconveniente da mesa e plantar climão onde quer que passe. Mas tinha belas mãos. Ah, isso tinha. Olhei pra elas por 2 minutos e já gostei muito dessa parte nele.
Besteira. Precisava esquecer dele e do cavalo e ir trabalhar em paz.

🐎🐎🐎


Eu não era dada a sermões, mas a senhora Channing amava distribuir um espetáculo deles, todos por motivos idiotas e despejados bem nos ouvidos inocentes do senhor Hoechlin.
Na volta do trabalho, parei na caixa de correios quando ouvi os dentes da mulher ralhando novamente com o funcionário. Eu não era de prestar atenção naquela novela repetitiva, mas a voz cansada e controlada de Hugh me deixou em estado de alerta daquela vez quando disse: Ele é assim mesmo, senhora Channing, não precisava ter ido arrumar confusão com o senhor Lee por causa disso. Ele é o novo dono da propriedade, não cabe a nós mandar ou desmandar em nada por trás daquele portão.
Mas estou errada em me preocupar com as pulgas? Ou com a febre aftosa? Raiva, estomatite vesicular? Já li relatos até da doença da vaca louca nesses animais, ninguém nunca lhe contou isso, rapaz?
Pelo suspiro do senhor Hoechlin, ele devia estar pensando “porque é que você precisa estar me contando isso?”
Senhora, ele respondeu quando perguntou da onde vinha o cavalo, mesmo que não tivesse obrigação nenhuma. Não sei mais o que…
Ele disse que veio do circo e começou a rir. Ele riu, senhor Hoechlin, com uma falta de educação indecente desse povo caipira quando vem pra cá achando que são mais espertos do que nós. O que eles vivem naquelas fazendas cheias de doenças e perigos, sem o mínimo de informação urbana e sem higiene decente? Como tem coragem de vir pra cá trazendo algo que pode proliferar novos vírus e bactérias tendenciosas a evoluírem em contato com o clima e a atmosfera nova? Como pode…
Fechei a portinha da minha caixa quando puxei o pequeno bolo de cartas de papelão e parti para o elevador, sem fazer nenhuma questão de virar o rosto e ver de fato a discussão porque tenho certeza que me sentiria extremamente incomodada ao ver a pressão inconstante dos lábios de Hugh um contra o outro, segurando-se mais do que nunca se segurou na vida para tentar engolir os sapos que já estavam se empilhando na sua garganta.
Apertei no botão do quinto andar e, ao invés de ler sobre mais uma revista de maquiagem por assinatura nas minhas mãos, foquei no nome que tinha ressoado por todo o saguão e que agora vinha até mim com certa curiosidade: Lee. Esse era o nome do sujeito? O sobrenome? Um apelido? Um pseudônimo falso apenas para dispersar a nossa chata vizinha? E por que eu queria saber disso? Eu não quero saber absolutamente nada sobre ele.
Deixei o elevador e entrei no 501, jogando a revista e a conta de internet em cima da ilha da cozinha e quase correndo em direção à máquina de café, que estava deixando ultimamente na pia, ao lado da janela. Onde Coppola estava sendo acariciado por Lee como um cachorrinho de estimação e tendo a atenção 100% plena de seu dono.

🐎🐎🐎


— Eu te odeio muito agora!
Sarah virou a cabeça com tanta força pra mim que quase desfez seu lenço cigano de cetim, arrumado perfeitamente no cabelo. Franzi o cenho, terminando de configurar o aspirador robô e colocá-lo no chão.
— Do que você está falando?
— Ele é um gato! — ela voltou a olhar para a janela, a boca se abrindo mais do que os olhos. — Ele é lindo e lembra muito o Deus Artemus da mitologia! Eu te disse, ! Te disse que seu príncipe chegaria e estaria bem do seu lado.
Ah. Claro. Aquele papo de novo.
Minha melhor amiga, Sarah, era uma agente de viagens e muito crente na energia mística que rodeava a terra — pelo menos era o que dizia para Deus e o mundo. Estudava por conta própria e acertava lindamente coisas óbvias e fúteis do meu dia a dia, como “supor” que eu gostaria muito de ver o quarto do carinha gato que servia mesas no Kira’s Coffee. Quero dizer, olá? Ele parecia uma cópia do Jude Law. Mesmo que ele tivesse uma penca de pôsteres de beisebol e mulheres nuas nas paredes, guardasse um esqueleto de verdade no armário e construísse para-raios para chamar ETs no terraço, eu não me importaria nem um pouco. Não precisamos de príncipes encantados quando o lance é só para aliviar a tensão.
Mas Sarah precisava. Digo… Nossa, ela acreditava muito nisso! Demais mesmo. Sempre dizia que não aconteceria com ela por enquanto porque tinha feito o processo de trancafiar o coração e os desejos pessoais para dedicar todos os seus sentidos sensoriais e extra-sensoriais para ajudar outras pessoas a encontrar seus propósitos e paz. Foi aí que eu entrei. Ou melhor, fui colocada. Sem pedir nenhuma opinião, ouvi Sarah arfar um dia na sala, arregalar os olhos e apontar o dedo esguio com as unhas enormes pintadas de preto e dizer:
O seu príncipe encantado está chegando. Ele vai vir com um cavalo branco. E vai estar por perto.
Aham. Claro.
Valeu, amiga. Que tal mais uma dose de gim?
Era tudo que eu podia dizer depois daquele absurdo.
Então, em mais uma visita rotineira no meu apartamento na quinzena da cerveja, Sarah foi até a janela avaliar meus vizinhos de espécies diferentes quando mencionei preguiçosamente que tinha um estábulo a céu aberto bem ao nosso lado.
Um protótipo de estábulo e um belo protótipo de fazendeiro gato e sexy. Ela ficaria mais maluca do que eu.
— Meu Deus! Isso está mesmo acontecendo. — ela arfou mais uma vez, balançando as mãos incansavelmente, saindo da janela com seus grandes olhos ainda arregalados. — Será que acertei a previsão? Será que-
— É só um cavalo, Sarah.
— É um cavalo branco, ! Por Deus, vamos nos ater aos fatos aqui. — ela bufou, um pouco aborrecida, e trotou para perto da ilha, agarrando uma das cervejas que eu diligentemente já deixava organizada. — Você já falou com ele?
— É claro que não.
— Por que não?
— O que eu falaria com ele?
— Sei lá, vocês são vizinhos, deve ter alguma coisa que possam compartilhar juntos. Tipo a frequência do carteiro? A falta de poda das árvores? Os postes mal colocados nas ruas? — Sarah verteu um enorme gole da Heineken. Eu semicerrei os olhos. — Por que será que ele foi embora da terra dele?
— Terra dele?
— É, da fazenda, do safari, seja lá de onde ele vem.
— Ele provavelmente é um cara qualquer de Oxford.
— Não seja tola, ele tem um cavalo branco, não um cavalo-robô branco.
Quase perguntei quando os universitários super renomados e babacas de Oxford tinham tido êxito verdadeiro em construir um robô, mas logo que abri a boca, Sarah andou até a janela de novo, esticando os olhos para a direção do quintal, batucando os dedos no queixo em expressão pensativa.
— Eu preciso vê-lo de perto.
— Quê? — segurei uma risada. Sarah virou o rosto de perfil.
— Preciso ver as mãos dele, . Preciso ler as linhas da vida dele e confirmar se é o seu cara ou não.
Ri na mesma hora, mesmo que, daquela vez, não vi nenhuma hesitação em Sarah. Ela parecia estar séria, determinada, focada demais naquela ideia tão… Tão maluca.
Fui diminuindo o sorriso.
— Você não tá falando sério.
— Claro que sim. Anda, vamos bater na porta dele.
E antes que eu piscasse, ela já estava saindo.
— Peraí, o quê? — me toquei com segundos de atraso, tendo que literalmente correr atrás dela. — Sarah, não! Espera!
Já era. Ela estava indo pelas escadas. E aquela ridícula era uma das maiores campeãs de atletismo da escola.
Nem pensei. Só apressei o passo e me lancei escada abaixo atrás dela.

🐎🐎🐎


É lógico que não cheguei a tempo.
Quando consegui agarrar o braço da minha amiga maluca e puxá-la para trás e começar a grasnar como a senhora Channing sabia fazer muito bem sobre o quão errada e maluca ela estava por querer fazer uma coisa dessas, já era tarde. A desgraçada já tinha tocado a campainha do sujeito. E, antes que o relógio completasse 2 minutos inteiros, ele já abria o portão até a metade e colocava o rosto para fora, olhando de cima a baixo para nós duas.
Fiquei parada, sem reação. Odiava esses momentos porque eu não era uma pessoa que ficava sem reações. De jeito nenhum. Era muito bem articulada e sabia improvisar como ninguém para me safar de situações constrangedoras. No entanto, daquela vez, não tive nem tempo pra isso porque Sarah já estava abrindo a boca em um sorriso e formulando a frase:
— Bom dia, senhor Lee! Me daria a honra de ler a sua mão?
Ai, que droga!
Isso não podia estar acontecendo.
Olhei pra Sarah pelo canto do olho, fervilhando em ódio, ao mesmo tempo em que olhei para o rosto belíssimo do vizinho, que encarou a mim e Sarah sem expressão aparente, um pouco congelado. Devagar, ele foi levantando as duas sobrancelhas, se chocando gradativamente pela pergunta direta demais.
— Você quer o quê? — disse ele, e odiei como prestei atenção demais no timbre daquela voz.
— Nada! Sarah…
— Gostaria de ler a sua mão, por gentileza. Eu estudo tarô e tenho uma teoria muito bem sólida sobre os motivos da sua mudança para cá e do seu amigo de branco ter sido colocado no meio da nossa selva de pedra nesse cenário muito improvável. — ela frisou a palavra com uma olhada rápida pra mim. Jesus, não sabe ser mais discreta? — Então, gostaria de fazer isso antes que você fosse embora ou algo do tipo, apesar de que não estava nas cartas que você iria embora ou não.
Eu não sabia mais o que fazer. Não sabia nem se deveria, de fato, fazer alguma coisa, mas ficar parada ali, presenciando a cara de pau da minha amiga em ação de novo, parecia um chamado para intervir antes que ele chamasse a polícia. Ou pior: gritar por ajuda até que a senhora Channing aparecesse. O circo estaria completo.
Contudo, por motivos que jamais, em hipótese alguma, algum dia entenderei, o estranho encarou Sarah de cima a baixo em tom de avaliação e logo depois estava com os olhos em mim, fazendo a mesma coisa, mas de uma forma mais sucinta, focada, natural. Não pesquei um pingo de estranhamento naquele olhar; parecia que não era a primeira vez que estava me vendo na vida, como imaginei que seria.
— Vocês gostam de kombucha? — disse ele, sem demonstrar por um segundo que chamaria os enfermeiros do sanatório para buscar Sarah – e me levar junto de brinde.
Não pude acreditar que ele tinha dito mesmo aquilo, mas pelo visto, Sarah sim. Tanto que logo confirmou e bateu uma palminha animada, e não soube o que fazer quando ele chegou para trás e abriu mais o portão, apontando para o espaço vago e dizendo:
— Entrem, por favor.

🐎🐎🐎


O casarão vitoriano que foi colocado à venda há mais de 10 anos atrás, era bem mais grandioso e inimaginável por dentro. Ou tinha ficado assim depois da posse de seu novo dono.
Antes que ele desaparecesse por um corredor que levava à cozinha inteira de vidro e inox, eu já tinha reparado em cada quina, móvel, tapete, centímetro quadrado de todos os detalhes da casa que meus olhos eram capazes de pegar. Nunca tinha visto nada igual, e olha que a minha chefe era uma mulher muito rica e prepotente a ponto de morar em um castelo por pura vontade de ostentar poder aquisitivo. Talvez ela nem conhecesse todos os cômodos da casa, mas quem se importa? O importante é a vitrine.
Mas aquela casa era mais do que luxuosa, ela era… Simples. Apenas uma casa, com cômodos normais e sem nenhuma informação que revelasse detalhes de seu dono, como a ausência de fotos nas prateleiras, pontos de cor que não fossem preto, branco e cinza, e sem nenhuma pantufa ou pôster que dissessem que ele gostava de algo.
Tinha nascido em berço de ouro, é óbvio. Mas ele era tão minimalista assim? Seguia a filosofia da Marie Kondo?
E o vidro. Tantos, mas tantos vidros. De onde eu estava, no meio do que parecia ser uma sala de estar, o quintal se abria como um papel de parede na minha frente, revelando todo o gramado baixo, os bancos de madeira espalhados e o cavalo branco ligeiro fazendo rondas pelo quadrado, ora correndo, ora relinchando ou ora olhando para dentro da casa como se quisesse prestar atenção na conversa.
Tanto faz. Estava prestes a puxar Sarah e dizer para irmos embora de novo quando ele surgiu novamente na sala, trazendo uma pequena bandeja de vidro contendo 3 xícaras de um líquido fumegante e cheiroso.
— Espero que gostem de castanha.
O cara caminhou lentamente até a mesinha de centro na frente do sofá reclinável que pegava quase metade do cômodo e depositou a bandeja gentilmente, com muito menos cuidado do que eu esperava que ele tivesse ao saber que oferecia um chá daquele requinte para convidadas que nunca viu.
Sim, requinte. Ele sabia bem disso. A mistura de folhas verdes e pretas não revelava muita coisa, mas o cheiro era inconfundível. Chá Tieguanyin, uma das mais caras variantes do Oolong. Coisa de gente rica. Estava fazendo de propósito? Querendo esfregar seu poder aquisitivo na nossa cara?
O que eu estava fazendo aqui?
Ao contrário de mim, Sarah abriu um enorme sorriso de surpresa agradável com a oferta, segurando-se para não bater uma palminha animada de novo.
— Bom, já que estamos aqui… — e pronto, ela já estava saltitando para perto da mesa e pegando uma xícara de cerâmica que também deve ter vindo de algum canto do Oriente por causa dos desenhos metódicos no fundo branco empoeirado. Sarah devia estar pensando a mesma coisa, mas eu tinha a vantagem de saber disfarçar. — Nossa, isso é mesmo uma delícia! O senhor é algum especialista em chá Oolong ou algo assim?
Num primeiro momento, achei que ele não responderia. Toda a postura daquele cara indicava que ele odiava responder coisas, quanto mais para pessoas. Porém, aquele sorrisinho estava ali de novo, nada tímido mas também nada explicitamente simpático.
— Ganhei todos eles do meu avô há 3 anos. Nunca tive vontade de consumir. Mas agora… — ele encarou a nós duas calmamente. — Me pareceu uma boa ideia servi-lo para as minhas primeiras visitas.
Arqueei uma sobrancelha, singelamente surpresa.
— Que coisa mais doce. — suspirou Sarah.
— É a primeira vez que mora sozinho? — perguntei de repente. E daí percebi que devia ser a primeira vez que falo diretamente com ele, olhando em seus olhos, como uma pessoa normal.
Lee me avaliou de novo, e vi seus olhos tomando uma certa relutância com a pergunta, mas durou pouquíssimos segundos. Acho que nem mesmo Sarah, com toda essa convicção de sensitiva, reparou nesse traço.
— É minha primeira vez, sim. Não posso dizer que está sendo o que eu sonhei, mas também não é tão ruim. A cada dia penso melhor e aprendo um pouco mais de Londres, me livrando de certos… estereótipos.
Acho que não entendi muito bem essa parte, mas não tive coragem o suficiente para perguntar o que ele queria dizer.
— E então… — ele se abaixou para pegar uma das xícaras ainda soltando fumaça. — Aceita um pouco de chá?
Só quando peguei a cerâmica nas mãos que a realidade explodiu na minha mente com tanta força que quase fiquei tonta. Olhei de soslaio para Sarah rapidamente, vendo-a se deliciar com o chá do meu vizinho estranho, esquecendo totalmente que ele era um estranho! E estávamos dentro daquela casa grande e extremamente luxuosa, que guardava um cavalo branco e nenhuma foto de família ou objetos pessoais que provavam que alguém de verdade morava aqui, e ainda por cima: estávamos aceitando coisas dele! Ingerindo! E o pior: tínhamos caído nessa por livre e espontânea vontade.
Só que me atentei ao outro fato, bem mais óbvio e factual: já fazia cinco minutos que Sarah estava entornando aquela bebida perfumada pela garganta e ainda estava ali, de pé e muito viva, o que significava que poderíamos não estar sendo envenenadas e não seríamos presa em um cativeiro de pedra no subterrâneo da mansão.
Um crime clichê, mas não deixava de ser um crime.
Olhei de volta para Lee, que pegava a última xícara e provei a bebida. Era mesmo maravilhosa e deliciosa, algo que se espera mesmo de ervas que custavam 13 mil libras, o que certamente devia ser o troco do pão para ele.
Ele bebeu um gole farto do próprio chá e fez uma expressão pensativa por alguns instantes enquanto olhava o líquido, como se estivesse tendo a mesma experiência que eu e Sarah e provando aquilo pela primeira vez, pensando se gostava ou não.
Não fiquei sabendo da resposta.
— Pois então. — Lee depositou o pires no tampo da mesinha, sentando-se calmamente no sofá em cor bege. — Podemos começar?
Ele estendeu a palma da mão para a frente. Eu estava achando que ele queria zombar de nós ou só estava sendo gentil com uma garota que logicamente vivia fora da casinha 80% do tempo como era o caso de Sarah, mas não. Era claro e límpido o quanto esse cara estava falando sério. Ele queria mesmo uma consulta com as unhas curtas pintadas de rosa da minha melhor amiga, e parecia até animado por isso.
Sarah ficou parada por um tempo longo demais, certamente também muito surpresa por estar sendo levada a sério. Eu nunca encontrei ninguém que fizesse questão de ouvir o que ela tinha a dizer, mesmo que acreditassem em mais do que os olhos podem ver. Eu era da parte cética da coisa e, ainda assim, sempre fazia questão de olhar nos seus olhos e escutar cada palavra.
Aquele cara parecia que não só escutaria, mas acreditaria.
Sarah se ajeitou ao lado dele no estofado, tomando sua mão direita com entusiasmo.
— Isso vai ser muito divertido. , sente-se. — ela guinchou para mim, que sentei imediatamente na poltrona próxima ao sofá. — A propósito, me chamo Sarah Woodward. Aquela é Kidman. E o senhor é…
— Lee . E senhor é um termo que não combina comigo.
— Tenho que concordar com isso. — Sarah suspirou, e logo em seguida balançou a cabeça, arrependida da reação de uma garota obviamente atraída pelo sujeito desconhecido. — Hum… Vejamos aqui.
Ela alisou os dedos sobre a pele de Lee. Olhando de onde eu estava, não se parecia com nada em especial, mas Sarah estava demorando muito, o que me trazia de novo aquela sensação constrangedora de que ela estava tirando uma casquinha, mas o meio de suas sobrancelhas começou a lentamente enrugar. Ela ergueu o queixo de novo na direção dele, agora com uma risadinha que não me parecia nada natural.
— Eu não tenho certeza sobre o dia que o senh- você nasceu. Mas me parece um pouco dramático. Houve um acidente ou coisa parecida?
— Sofri um acidente quando tinha 4 meses de idade.
Paralisei os músculos imediatamente. Lee me encarou ao mesmo tempo que Sarah, como se eu tivesse tido algum tipo de reação extremamente visível. Olhei para Sarah com os olhos cerrados, pedindo telepaticamente para que ela parasse com aquela brincadeira.
— Uau. — Sarah riu sem humor, do mesmo jeito que alguém faz quando escuta sobre uma notícia chocante e triste ao mesmo tempo. — Isso é incrível. Quer dizer, é incrível e trágico. Admiro muito pessoas que já passaram por isso.
Ela me olhou de novo. Descaradamente dessa vez. Mesmo que só tenha durado 1 segundo.
Lee seguiu seu olhar, claramente entendendo algo implícito ali, mas não perguntou nada. Ainda bem que não.
— Tá tudo bem, é bem incrível mesmo. Eu estava com os meus pais, e eles também ficaram bem. Pelo menos naquela época. Estávamos voltando de uma longa temporada de férias deles, onde aparentemente o objetivo final era eu ter nascido.
— Lua de mel prolongada?
— Basicamente.
Quase revirei os olhos. Quem tinha tanto dinheiro para sair em lua de mel e ficar tanto tempo a ponto de descobrir uma gravidez, esperar essa gravidez, conceber um bebê e ainda esperar por mais 4 meses até voltar para casa?
Aparentemente, o tal senhor Lee pai.
Sarah parecia severamente deslumbrada. Aposto que adoraria ficar presa no porão daquela mansão, caso o vizinho fosse mesmo um criminoso.
— Hmm… Mas alguma coisa mudou em você depois desse acidente, por mais simples que seja. Te fez ficar preso nesse dia de alguma forma inconsciente. Te fez querer ficar mais sozinho.
Finalmente, o resquício de sorriso estava abandonando o rosto do bom moço. Foi quase imperceptível, como aquela hesitação de postura que vi mais cedo, traços sutis o bastante para até mesmo Sarah perceber, mas ela continuava impassível.
apenas limpou a garganta e disse:
— Entendo.
Sarah balançou levemente a cabeça, sem tirar os dedos das linhas demarcadas.
— Você não teve muitos amigos, apesar de ser abordado constantemente pelas pessoas. Sempre gostou de animais, e em especial, cavalos. — ela olhou de soslaio para fora, diretamente para o grande monumento branco em forma de equino. — E gosta de conviver com eles porque são os únicos seres que não te fazem pensar o tempo todo que a culpa é sua…
A voz dela diminuiu bruscamente no fim da última frase, e Sarah afrouxou o aperto da mão do sujeito. A fisionomia dela revelava algo que eu já tinha visto: aquela situação em que as palavras saíram de sua boca antes que ela percebesse, como se nem tivesse sequer pensado nelas, cogitado, formado a frase. Como se tivesse sido dominada por algo de fora, que não a pertencia.
Eu tinha visto bem isso. Quando ela pegou na minha mão e também me disse: você acha que é culpa sua.
Novamente tive os músculos paralisados, mas sem reações extravagantes dessa vez. Agora, só consegui virar o corpo para olhar , que não fez movimentos discretos para parar de sorrir de vez e até empalidecer um pouco, talvez se sentindo muito tentado a puxar sua mão de volta. Mas ele não fez nada disso. Continuou ali, parado, demonstrando a cada minuto que passava que a conversa não estava sendo tão mais prazerosa.
— Ah, Deus… Me perdoe, senh… . — Sarah soltou de vez a mão do sujeito. — Eu não costumo ser tão direta, e as leituras às vezes são confusas, imprecisas…
— Não precisa se desculpar, você não disse nenhuma mentira. — respondeu ele, e o sorriso estava voltando de novo, bem devagar desta vez. — Acho que tem talento pra isso, senhorita Sarah.
Ele pareceu sincero, como ninguém jamais havia sido sobre as habilidades de minha amiga. Isso me fez olhá-lo com outros olhos temporariamente, tentando imaginar os motivos por trás do “você pensa que é culpa sua” e se eram parecidos com os meus.
Não seja ridícula, minha mente berrava comigo mesma, louca para dispersar a ideia. Coincidências existem, e nada no mundo me diria o contrário. Suposições eram coisa da Sarah, não minha. Trabalhava com fatos e probabilidades, muitos cálculos que explicavam a vida inteira.
Mas quando ele me olhou de novo, pude sentir o estômago derreter e se desfazer no vácuo da barriga. Como um buraco negro se abrindo dentro de mim. Por um momento, me esqueci de Sarah. Me esqueci do cavalo branco, da casa enorme e vazia, da estranheza impessoal do lar, do chá maravilhoso ainda fumegando na mesinha… só olhei para aqueles olhos e me senti outra pessoa de repente, e como essa outra pessoa queria abrir a boca e fazer perguntas ao sujeito, a começar com: como você vive com isso? Como vive com a culpa diária de algo que não tem mesmo como ser nossa culpa?
Me endireitei imediatamente ao ouvir a tosse de Sarah e me coloquei de pé num salto, sabendo que tinha atingido o limite.
— Precisamos ir. — anunciei para ninguém exatamente, tentando arrumar o cabelo que devia estar todo amassado de me deitar sobre ele desde a hora em que corri atrás de Sarah há alguns minutos. — Estamos atrasadas para… Visitar o bebê da senhora Wright. Isso. Ela e o marido estão nos esperando.
Minha invenção foi péssima, mas eu não voltaria atrás. Olhei para Sarah com toda a firmeza que consegui reunir: não vou voltar atrás. Confirme e se levante agora!
Olhei para , que ainda me esquadrinhava de um jeito sutil, o tipo de olhar que me atravessava por inteira.
Como alguma coisa poderia ser sua culpa?
Desviei os olhos. Chamei por Sarah de novo.
— Ah, é, é, isso mesmo. Aquele bebezinho lindo… Que estamos indo conhecer. — ela deu o sorriso mais sincero que conseguiu, e desta vez, pude ver que ele saiu sem muito entusiasmo. Ela estava ao lado de um cara bonito com quem tinha acabado de ter uma experiência espectral de verdade, então talvez seja por isso que estava tão fora do jeito fru-fru de ser. — Ele deve ser lindinho mesmo, então… Temos que ir, .
Ele também se levantou, assentindo levemente com a cabeça.
— Claro. Foi um prazer recebê-las aqui. Podem voltar sempre que quiserem. Afinal, sou seu vizinho, não sou?
Direcionou o sorriso pra mim. Um baita sorriso. Um sorriso que me fez ter vontade de ligar para a senhora Wright imaginária com seu bebê imaginário e avisar que não poderíamos mais ir ao momento do chá — também imaginário.
Mas eu não gostaria de entender aquele tipo de sentimento agora, então apenas assenti em confirmação para ele e comecei a dar passos minúsculos para a porta.
— Claro, somos vizinhos, talvez nos vejamos mais vezes. — dei ênfase no talvez, mas saiu mais fraco do que deveria. Vi Sarah se despedir de mais uma vez e correr para o meu lado, enquanto olhei para aquele rosto uma última vez e fiz questão de ir embora mais rápido que um piscar de olhos.
Quando finalmente ultrapassamos aquele portão enorme, senti que finalmente estava respirando de novo. Deixando o ar puro penetrar e atravessar com folga nos meus pulmões. Senti que eles estavam quase falecendo atrofiados por todo esse tempo. Minha nossa, que sentimento mais estranho!
— Me desculpe, . — a voz de Sarah pareceu cortar o vento, explodir um balão e fogo de artifício ao lado dos meus ouvidos, me acordando novamente para a vida real. — Eu não devia ter dito aquilo. Quero dizer, eu realmente vi isso nas mãos dele, eu vi mesmo, mas eu não quis dizer de forma chula, eu juro…
— Tá tudo bem, Sarah. — tranquilizei, andando um pouco mais rápido até a entrada do prédio, desejando que ele ficasse mais longe da casa grande com o cavalo branco do que realmente era. — Não é culpa sua.
— Claro que é. Eu que insisti para irmos na casa dele, eu que quis ler sua mão…
— E você leu as mãos dele, tá tudo bem, não quer dizer que passamos a conhecê-lo de verdade, o que significa que tudo isso ainda é uma bela coincidência. — arqueei as sobrancelhas ao chegar na caixa de correio, virando-me para ela. — Tudo uma coincidência.
Sarah abriu a boca e voltou a fechar, e balançar a cabeça também. Eu tinha certeza que ela estava se segurando o quanto podia para não dar sua devida opinião e afirmação de sempre: coincidências até podiam existir, mas não quando ela sentia aquilo que claramente sentiu ao tocar na mão de . Quando tinha uma experiência de verdade. Aí a coisa mudava de roteiro.
Pff. Não me importava. Não iria pensar nisso.
Peguei as revistas de viagem por assinatura e minha conta de água e voltei a andar para o elevador.
— Vocês são muito parecidos. — Sarah não se aguentou calada antes mesmo que as portas do elevador fechassem. — As coisas estão muito parecidas, .
Ela semicerrou os olhos quando a encarei. Claramente, estava pronta para uma bronca ou pronta para a minha cara feia, tanto faz. Nós duas não crescemos juntas, mas ela sabia me prever como ninguém.
Soltei um grande suspiro, tentando ignorar o bolo no estômago que parecia que não iria sumir pelo resto do dia.
— Por que dois bebês de 4 meses que sofreram acidentes terríveis têm que ser iguais? Por que, na sua cabeça, temos que estar ligados se nem lembramos disso?
— A memória não é apenas visual, . Vocês sofreram uma quase tragédia e não fazem ideia de como foi isso, mas ao longo dos anos, uma coisa acompanhou vocês, a culpa por…
— Por favor, não quero falar disso. Já vou precisar de um ou dois dias pra te perdoar por ter me feito entrar na casa de um estranho para tomar chá.
As portas duplas se abriram e disparei para o apartamento, abrindo minhas contas e arrumando coisas aqui e ali até conseguir o máximo de distração possível enquanto Sarah resmungava coisas baixinhas sobre “eu nunca querer falar sobre isso”.
Era uma questão óbvia: eu e tínhamos passados semelhantes, mas isso não provava nada. Carregar os mesmos sentimentos sobre determinado evento não nos tornaria amigos, não nos tornaria confidentes ou até mesmo parceiros de consultório terapêutico. Eu nem planejava mais fazer terapia. Não depois de todo o fiasco dos últimos anos, onde nunca consegui me livrar das bagagens mais pesadas. Elas estavam grudadas em mim, amarradas com cordas de ferro, inquebráveis, indestrutíveis, e só me restava aceitar. Nem mesmo Sarah, a quem eu considerava uma irmã de verdade, tinha conseguido me convencer do contrário.
Aquele cara era apenas outro que tinha uma historinha triste para contar, e uma história que nunca deve ter mexido ou colocado em jogo toda a sua reputação, então não éramos iguais. Eu jamais falaria com uma estranha que ainda sentia culpa. Que não sabia porque sentia. Que tudo aquilo era… Complicado demais. Pesado demais.
Não tínhamos nada igual! Ele não era parecido comigo, e com certeza ter um cavalo branco idiota não o transformava no meu príncipe encantado!
Isso não existia e jamais existiria na minha vida. Porque eu não precisava de um príncipe encantado.
Precisava apenas de alguém que apontasse o caminho da saída pra mim. A saída do casulo onde eu me escondia dentro de mim mesma.




FIM.


Nota da autora: oiê! nunca imaginei que algum dia iria mandar uma fic na seção atores, mas aqui estamos nós rsrsrsrs. o Sukinho é meu bias nessa categoria desde sempreee, sempre, mas eu nunca tinha arriscado nada com ele e agora, voilá! sei que o final tá mixuruca, mas se eu tiver energia, quem sabe arriscamos uma sequência (quem sabe...). de qualquer forma, obrigada por ter lido até aqui, e me segue no insta! (@sialversion)
beijos,
Sial ఌ︎


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