Independente do Cosmos🪐
Finalizada em: 26/02/2025.E, para falar a verdade, era um de seus preferidos.
Ele sempre gostou de conhecer novos lugares e a melhor parte era aproveitar cada momento entre as gargalhadas altas e bebidas para todo lado, especialmente nas noites quentes de verão. Exatamente como acontecia em todas as viagens que faziam juntos.
Dessa vez, o destino escolhido foi Maragogi. Só que, o único problema era que era o único solteiro do grupo.
Não que fosse um problema de fato. nunca se importou se seus amigos estavam acompanhados ou em relacionamento sério com alguém. Sempre foi mais o seu tipo ser o solteirão que enchia a cara e se divertia com quem quer que fosse na multidão.
Isso nunca o incomodou. Nunca mesmo.
Mas, naquele verão, algo parecia diferente. Talvez fosse porque, de tempos em tempos, seus amigos mencionavam suas respectivas companheiras. Ou, talvez fosse porque ele estava mais perceptivo que o normal — o que, convenhamos, não era muito normal também.
Por fim, balançou a cabeça, tentando afastar alguns pensamentos chatos como aquele e, quando voltou sua atenção para a realidade, o som do lugar ficou um pouco mais evidente, deixando claro que tudo naquele local era suficiente para que ficasse marcado em sua mente.
— Que cara é essa? Parece até que não tá gostando de alguma coisa.
ouviu a voz de um de seus amigos se aproximando e, logo em seguida, sentiu uma mão pousar em seu ombro. Ao virar o rosto, deu de cara com , que tinha um sorriso sacana no canto dos lábios.
Ele sabia bem que ali tinha outra piada.
— Ou será que é porque não tem ninguém e tá se sentindo sozinho?
— Ah, cala a boca, cara — rolou os olhos, mas não conseguiu deixar de sorrir. — Tem certeza que sou eu quem devia estar desanimado aqui?
Ele arqueou uma sobrancelha, deixando o amigo pensativo por um instante.
— De qualquer forma, estamos esperando o quê? — continuou, mudando de assunto. — Vamos deixar essas coisas no quarto que eu tô doido pra conhecer esse paraíso!
deixou um sorriso enorme crescer nos lábios enquanto se abaixava para pegar a mala no chão. Seus amigos resmungavam, já animados em saber que aproveitaram o máximo no resort que ficariam.
nunca foi de ter muitas amizades e seu ciclo contava com apenas quatro delas.
Começando por , que namorava há dois anos e estava convencido de que Anny era o amor da sua vida. concordava e torcia para que ela fosse mesmo — alguém precisava colocar juízo na cabeça avoada do amigo.
Depois vinha , casado desde o ano anterior com Lisa, sua namorada do ensino médio. O tipo de cara completamente arreado pela esposa e admirava isso. Aqueles dois tinham história para contar.
Por fim, tinha , que recentemente havia começado a namorar Nikki, uma das amigas de . E, se existia um casal que representava uma verdadeira aventura, eram os dois. E não tinha como não achar fascinante.
Não só achava maneiro por cada um ter achado seu par e ter se dado incrivelmente bem, mas também por ver como se encaixavam mesmo com suas diferenças e pequenas discussões — que convenhamos, volta e meia tinha que intervir e aconselhar.
Por um pequeno momento, quase se pegou pensando se um dia encontraria alguém que o completasse do mesmo jeito.
Ele deu uma risadinha e respirou fundo.
Era melhor focar nos dias que passaria ali. Ele abriu a porta do quarto em que estava hospedado, deixou as bagagens de qualquer jeito e deu uma última olhada no espelho encostado à parede.
Satisfeito com o que viu, assentiu para si mesmo, pronto para começar a noite exatamente como havia planejado.
contou até três.
E contou de novo, até revirar os olhos pela milésima vez e bufar lentamente.
não era o tipo que gostava de esperar, nem mesmo gostava de deixar alguém esperando. E só de saber que seus próprios amigos estavam fazendo isso só deixava tudo ainda mais irritante.
Olhou para o relógio no pulso. Já passava das nove. Mas, que diferença fazia? Ele não tinha a menor intenção de voltar para o quarto tão cedo.
Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo a brisa suave do restaurante aberto de encontro a sua pele. De onde estava sentado, tinha uma visão privilegiada. A noite já tinha tomado conta do céu da cidade, deixando as estrelas brilhando ainda mais espalhadas por ele, e logo mais embaixo no horizonte, a lua refletia no mar.
Não tinha vista mais incrível que aquela.
soltou um suspiro e se acomodou melhor no banco encostado ao balcão. Sem pensar muito, pediu mais uma bebida, ainda esperando que os amigos aparecessem.
deixou o olhar focado no reflexo da lua que batia no mar bem ao fundo, depois do resort e até continuaria, não fosse por uma melodia calma invadindo não só seus ouvidos, mas cada centímetro do seu corpo também.
Um arrepio subiu por sua espinha. O que era aquilo?
Deixou os olhos observarem a enorme varanda, iluminada por luzes amareladas e decorada com algumas plantas. Procurou de onde vinha a voz que havia puxado sua atenção de volta para a realidade, analisando cada rosto próximo dele, e os mais distantes também.
Nada.
A música continuava e a voz feminina que cantava era simplesmente de outro mundo.
O coração de esquentava vagarosamente, como se estivesse sendo acariciado por ela.
Céus, que sensação gostosa. Nunca havia visto algo do tipo.
Por fim, quando deixou os olhos caírem perto do pequeno palco montado — e improvisado, sentiu como se tivesse levado um sopro leve em seu corpo e um suspiro fraco escapou de seus lábios.
Ela estava sentada em uma banqueta de madeira, com a perna apoiada no sobressalto do assento enquanto o violão estava apoiado na sua coxa. O vestido mediano marcava seu corpo e os cabelos escuros, ondulados, destoavam ainda mais sua beleza.
nunca havia visto ninguém como ela.
Parecia uma pintura, uma obra de arte pronta para ser admirada. E ele queria fazer exatamente isso; focar toda a sua atenção nela e em nada mais.
Não percebeu quando o garçom deixou o copo de cerveja no balcão. Só percebeu quando uma voz conhecida interrompeu sua hipnose.
— Você deixou a cerveja esquentar? Eita — arqueou as sobrancelhas, exagerado e dramático antes de encostar o corpo do lado do amigo.
— O que aconteceu? Você tá doente?
, mais uma vez, não perdeu a chance de provocar o amigo.
piscou algumas vezes, ainda tentando assimilar o que havia acontecido. Quando voltou à realidade, percebeu que os dois continuavam o encarando, esperando uma resposta.
— Por que demoraram tanto?! Tô aqui desde cedo — tentou mudar de assunto.
revirou os olhos antes de passar um braço ao redor dos ombros do amigo.
— Para de surtar. Cadê o ? Achei que ele já tinha descido — comentou. deu de ombros.
— Sei lá. Deve ter se perdido como sempre.
Suspirou, sem dar muita importância.
e engatavam em uma conversa qualquer e tentava, discretamente, recuperar sua visão da garota.
, parado bem à sua frente, atrapalhava sua visão, o que o obrigou a se inclinar ligeiramente para enxergá-la melhor.
— Vocês vão ficar aqui por enquanto? — perguntou, ainda sem desviar o olhar.
— Acho que sim. Por quê? Já vai sumir? — arqueou uma sobrancelha antes de seguir o olhar do amigo. Deu um sorrisinho malicioso. — Quem é a garota? Você não perde tempo mesmo.
— Olha pra minha cara de quem faz isso — apontou para si mesmo. Os amigos riram. — Vou dar uma volta. O lugar é bonito pra caramba. Não querem ir pra praia?
— Agora não. Vai lá aproveitar o frescor igual a um idoso. Combina bem com você.
o empurrou de leve pelo ombro.
— Vai à merda.
gargalhou, balançando a cabeça antes de se afastar aos poucos. Pôde ouvir e resmungando algo, mas não se deu ao trabalho de entender.
Sua mente estava em outro lugar. Ou melhor, em outra pessoa.
Ele conseguia ouvir as ondas quebrando ao fundo, enquanto o cheiro da maresia impregnava suas narinas e o sol ia se pondo devagar.
sempre gostou do mar, da praia e da paz que tinha sempre que visitava algum lugar como aquele. Sabia que Maragogi com certeza iria trazer experiências incríveis, talvez até uma aventura insana, mas não conseguia entender o porquê de não conseguir focar seus pensamentos nisso e a única coisa que brilhava em sua mente era a garota que cantava como se não houvesse amanhã no restaurante do resort.
Desde que a viu com o violão, cantando tão leve e descontraída, com aquele bendito sorriso nos lábios e os cabelos ondulados caindo em seus ombros, tinha certeza de apenas uma coisa: precisava vê-la outra vez.
Ele procurou nos corredores do resort, na parte externa entre os bares e piscinas, pelo centro da cidade…
Nada. Era como se ela tivesse sido uma miragem.
só não conseguia entender porque aquilo frustrava tanto. E, por conta disso, achou que tirar um tempo e pensar em tudo o que acontecia poderia ser uma grande ideia.
Seus pés estavam descalços e já sujos de areia. caminhava pela faixa de areia branquíssima enquanto volta e meia uma onda pequena molhava sua pele. Conseguia ver em detalhes toda a extensão do resort que estava hospedado, sendo iluminado por luzes amareladas e uma música leve que tocava vez ou outra.
Ele gostava daquela sensação; estar em um lugar diferente era sempre incrível.
Respirou fundo, voltando a olhar o mar bem pertinho dele.
— O fim de tarde aqui costuma tirar nosso fôlego, né?
quase se assustou, não fosse por reconhecer, bem no fundo, o tom daquela voz.
Se virou rapidamente e seu coração derreteu aos pouquinhos, só de olhar a íris escura e brilhante da mulher na sua frente. Demorou alguns segundos para que ele se desse conta de que era ela quem estava ali.
Finalmente.
— Pode ter certeza que sim — deixou um sorrisinho de canto surgir, e ela fez o mesmo.
Deixou seus olhos admirarem o rosto da garota, sem muita pressa. E a verdade era que se sentia como um adolescente fazendo aquilo.
— Você veio espairecer um pouquinho também?
Ela perguntou, cruzando os braços de leve. A maresia bagunçava seus cabelos, mas a garota não parecia se importar.
— Não exatamente, mas gosto de como me sinto quando estou aqui, perto do mar — desviou o olhar para o mar brevemente, mas voltou a olhá-la. — Hm, você vem sempre aqui?
— Isso é algum tipo de cantada?
Ela sorriu. arqueou uma sobrancelha e sorriu também.
— Pra ser sincero, não. Mas, funcionaria?
Dessa vez, a garota que arqueou a sobrancelha, como se estivesse incrédula com tamanha ousadia. Mas, no fundo, até que tinha gostado.
— Acho que você vai ter que se esforçar um pouco mais.
Eles riram baixinho.
— Justo.
balançou a cabeça, respirando fundo. Tentou vasculhar em sua mente qualquer outro assunto para que a conversa não acabasse. Queria descobrir muito mais sobre ela.
— E você? Veio mesmo pensar ou só precisava de uma desculpa pra fugir dos seus amigos?
Aquilo o pegou de surpresa. Só deixou evidente que não era só que havia se interessado por ela.
Parecia que ela também.
Ele deu de ombros.
— Talvez um pouco dos dois. Mas eu tô gostando daqui. O resort é incrível, a praia é de tirar o fôlego também — ele deixou os olhos caírem sobre a garota e sorriu de leve. — Tem alguma coisa diferente aqui em Maragogi.
Ele queria muito dizer que era ela. Que era tão linda quanto a cidade.
A garota sentiu as bochechas queimarem um pouquinho só de sentir o olhar do rapaz queimando sobre si. Desviou o olhar levemente.
— Você não é daqui, né?
notou a pontinha de timidez que surgiu no rosto da garota e achou aquilo ainda mais bonito.
— Não — respondeu, balançando a cabeça. — Sou de Londres.
Ela voltou a encará-lo.
— Londres, uau. Então você veio de bem longe.
— Pois é — soltou uma risadinha leve, enfiando as mãos nos bolsos. Os dois caminhavam devagar. — Mas não me importo de viajar tanto quando o lugar vale a pena.
Ela sorriu.
— E Maragogi vale?
virou o rosto, ponderando sua resposta. Seu coração batia acelerado e a verdade era que ele já sabia muito bem o que responder.
Seus olhos traçaram cada detalhe do rosto da garota; os cabelos ondulados, os olhos brilhantes, as bochechas coradas e a boca avermelhada.
Se Maragogi valia a pena?
— Eu diria que sim.
Ela apertou os lábios em um sorriso contido, fingindo não perceber o interesse explícito do rapaz. Ficaram em silêncio por alguns segundos.
— E você? — quebrou o silêncio, se inclinando um pouco mais para ela. — Você é daqui?
— Meio que sim, meio que não — respondeu, girando um anel no dedo distraidamente. — Minha família é daqui, mas passei boa parte da minha vida em Recife. Agora fico indo e voltando.
— E quando não tá aqui, você sente falta?
Ela soltou um suspiro suave, olhando o mar por alguns segundos.
— Sempre.
— Acho que dá pra entender — comentou. — Esse lugar é diferente.
A garota sorriu de canto, voltando a encará-lo.
— Você fala como se já tivesse rodado o mundo.
deu de ombros. Ele tinha um sorriso brincando nos lábios.
Estar em uma banda lhe dava alguns privilégios como aquilo, conhecer mais da metade do mundo inteiro.
— Talvez já tenha rodado um pouquinho.
Ela estreitou os olhos, desconfiada.
— Tipo… Uma viagem internacional ou algo assim?
— Algumas.
— Algumas? — ela franziu a testa. — Quantas, exatamente?
Ele fingiu contar nos dedos e então soltou uma risada.
— Mais de vinte países, acho.
Piscou algumas vezes, tentando processar a informação.
— Tá brincando.
— Juro que não tô — gargalhou.
— Você é tipo um mochileiro profissional ou o quê? — por mais um pouquinho a garota tinha sua boca escancarada. Ela amava conhecer pessoas que tinham experiências para contar.
riu.
— Nada tão radical. É que meu trabalho me leva a muitos lugares. Não posso reclamar.
— Ótimo, agora além de misterioso, você também é um viajante experiente. Tá difícil competir.
Os dois riram. Eles continuavam a caminhar sem muita pressa.
— Então isso é uma competição?
Ele arqueou a sobrancelha, a provocando.
— Quem sabe? — sorriu de lado. — Mas preciso saber com quem tô competindo antes.
a olhou.
— Justo — estendeu a mão para ela. — .
A garota estreitou os olhos levemente, como se o analisasse antes de aceitar o aperto de mão.
— .
A pequena troca de nomes pareceu ter importância demais para os dois. Nenhum deles soltou a mão de imediato e, por alguns segundos, só se olharam, como se tivessem tentando memorizar suas feições.
— Agora sim — ela disse, sorrindo de leve. — Muito prazer, .
— O prazer é todo meu, .
— Então, me conta — inclinou a cabeça, cruzando os braços. Ambos resolveram se sentar na faixa de areia. — Se você passa tanto tempo entre Maragogi e Recife, quer dizer que tem uma vida dupla?
Ela soltou uma risadinha baixa.
— Se por vida dupla você quer dizer trabalhar o dobro pra poder aproveitar os dois lugares, então… Sim.
— Hmm… — fingiu refletir, estreitando os olhos para ela. — Você canta aqui por amor ou por necessidade?
mordeu o lábio, pensando.
— Os dois? Eu amo cantar, mas também preciso pagar boletos.
Ele riu, assentindo. Era como se a conversa fluísse naturalmente entre eles e mal parecia que haviam acabado de se conhecer.
— É um bom ponto.
— E o que você faz além de viajar por aí e deixar pessoas aleatórias de boca aberta com suas histórias?
Ele deixou um sorrisinho transparecer e deu de ombros.
— Bom, tecnicamente, a parte de viajar faz parte do meu trabalho.
— Ah, pronto. — jogou a cabeça para trás, indignada. — É claro que faz.
— Ei! — riu, levantando as mãos como se estivesse se rendendo. Ela riu fraquinho; estava o achando uma comédia. — Não me olha assim, juro que não é tão glamouroso quanto parece.
— Sei… — apertou os olhos, desconfiada. — O que você faz exatamente?
hesitou por um segundo, como se pensasse se realmente revelaria o que faria.
Claro que poderia colocar em risco muitas coisas, mas não parecia ser o tipo de pessoa que o colocaria em perigo. Muito menos parecia saber quem ele era.
Sorriu.
— Eu sou músico.
Os olhos da garota brilharam.
— Sério?
— Sério.
— Isso quer dizer que você também canta? — ela perguntou, ainda mais interessada. deu um meio sorriso.
— Um pouquinho.
— Um pouquinho? — ela cruzou os braços outra vez. — E eu achando que era modesta…
— Tá me chamando de mentiroso?
Eles se olharam.
— Longe de mim!
sorriu, gostando daquele jogo entre eles. Gostando ainda mais dela.
— Então se eu sou músico e você também… — ele começou, se inclinando um pouco para frente, o que fez com que ficassem um pouco mais próximos. — Quer dizer que somos concorrentes?
arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo.
— Depende. Você toca violão tão bem quanto eu?
— Acho que só tem um jeito de descobrir — mordiscou os lábios, tentando conter o sorriso que muito provavelmente surgiria só de ver o charme que o rapaz tinha.
— Você quer mesmo competir, ?
— Talvez. Ou talvez só esteja procurando mais uma desculpa pra passar mais tempo com você.
Ela sentiu as bochechas esquentarem. Mas, permaneceu com seu olhar firme no dele, sabendo exatamente onde aquilo provavelmente iria chegar.
— Nesse caso… — inclinou a cabeça. ainda a olhava. — Talvez eu aceite o desafio.
— Mais rápido, !
A gargalhada de se misturava junto do barulho do vento e das ondas quebrando na praia, enquanto o buggy avançava pela areia fofa de Barra Grande. O sol torrava sobre eles, deixando a pele de ambos ainda mais bronzeada. Os cabelos soltos da garota balançavam na medida que a velocidade do veículo aumentava e ela não se lembrava da última vez que havia se sentido tão leve, tão viva.
dirigia, sentindo seu coração bater ainda mais acelerado — e não era só pela velocidade do carro. O sorriso espontâneo de , o brilho travesso nos seus olhos, a forma como ela segurava firme na lateral do veículo, como se estivesse pronta para qualquer aventura maluca.
Tudo nela parecia hipnotizá-lo.
— Você é doidinha, sabia?!
Ele soltou uma risada rouca, balançando a cabeça.
Suas bochechas e ombros já estavam vermelhos do sol forte, um claro resultado de negligenciar um protetor solar. Mas ele não se importava.
Nada poderia ser mais divertido do que aquilo.
O buggy levantava algumas nuvens de poeira na areia enquanto ia se aproximando do outro lado da praia.
— Eu sei! Você também! — respondeu rindo ainda mais.
Ele sorriu um pouco mais, voltando os olhos para a estrada improvisada à frente.
Talvez até que ela estivesse certa. Mas, se isso significava poder aproveitar ainda mais aquele verão do lado dela, não se importava nem um pouco.
Já tinha se passado mais de uma semana desde que os dois estavam se divertindo daquele jeito — com muitas risadas, conversas despreocupadas e alguns olhares significativos.
se surpreendeu ao perceber que todo aquele tempo havia passado e ele ainda não tinha a beijado.
E, curiosamente, isso não era algo que o incomodava. Claro, óbvio que ele queria beijá-la, queria sentir o gosto dos seus lábios mais do que tudo. Mas algo na garota fazia com que ele quisesse esperar, respeitar seu tempo, caso fosse isso o que ela quisesse também.
Achava também um tanto engraçado quando seus amigos o zoaram por estar daquele jeito, já que de acordo com eles, nunca tinham visto daquele jeito, exatamente como ele julgava estar pela esposa — completamente arreado por . E não dava para negar.
estava virando seu mundo de ponta cabeça e aquilo só fazia com que se perguntasse o que seria da sua vida depois que a viagem acabasse.
Para ser sincero, ele odiaria nunca mais vê-la.
— Vamos no mar!
A voz da garota o trouxe para a realidade.
disse mais alto, colocando as mãos nos ombros de e ele, sem pensar muito, manobrou o buggy para parar um pouco mais afastado, onde estivessem mais privados das outras pessoas.
Quando o veículo parou, ela não hesitou em pular do banco, já empolgada para cair no mar. não conseguiu segurar a gargalhada ao ver a cena; era pura energia e isso só o deixava ainda mais encantado.
Ele a observou dando um mergulho fundo e, logo em seguida fez o mesmo, pulando atrás dela.
Emergiu logo depois, rindo junto dela.
— Isso é loucura demais! Como vamos pagar aquele buggy?
perguntou, gargalhando enquanto se espremia para se apoiar em uma das pedras próximas à água.
riu, se virando para ela com um sorrisinho na boca.
— É isso o que te preocupa? É só a gente sumir antes que alguém perceba — deu de ombros, recebendo um splash de água de , que não acreditava no que ele havia acabado de falar. Eles riram. — Tô brincando. Eu dou um jeito.
— Sério que você acha que só sumir vai resolver tudo? — ela riu, sem conseguir se conter. — Você é doido, sabia?
Ele levou uma das mãos nos cabelos molhados, os bagunçando.
— Ok! Talvez desaparecer não seja a melhor solução... — se aproximou dela, ainda rindo. — Mas eu dou um jeito, prometo.
o encarou, ainda com um sorriso no rosto. Balançou a cabeça.
— Não sei se posso confiar em você — deu um leve empurrão nele. — Você tem umas ideias meio malucas.
— Eu? A ideia de pegar um buggy foi sua, linda.
arqueou a sobrancelha, sentindo as bochechas queimarem pela forma que havia acabado de lhe chamar.
Seu coração parecia querer saltar do peito.
percebeu a reação da garota, o leve rubor nas bochechas e o jeito como ela desviou o olhar por alguns segundos.
Não pôde deixar de sorrir.
— O que foi?
— Não foi nada — respondeu, sua voz mais suave do que o normal. — Só... Não esperava.
Ele se aproximou um pouco mais, sem pressa, como se quisesse ver até onde ela iria com aquela reação.
— Não esperava o quê? — perguntou, a voz um pouco mais baixa.
olhou para ele.
— Sei lá... Só achei que você fosse... Mais sério.
Deu de ombros, tentando disfarçar a timidez com uma risadinha nervosa.
— Mais sério? — repetiu, fingindo estar ofendido. — Eu tenho cara de cara sério?
Ela riu, cruzando os braços enquanto o olhava de cima a baixo, como se estivesse analisando. estava adorando.
— Um pouco — provocou. — Mas acho que só te julguei errado.
Ele colocou a mão no peito, como se tivesse levado um golpe.
— Isso machucou.
— Você supera.
A garota deu uma piscadela, ambos rindo juntos. O clima entre os dois estava sendo leve como a primeira vez que haviam se conhecido e aquilo era suficiente para que tanto ela quanto ele quisessem que o encontro durasse por horas.
— Tá vendo? Você tem esse jeitinho todo fofo, mas no fundo é cruel!
Ela gargalhou.
— Dá pra ver que te magoei de verdade — brincou. Ela mordiscou os lábios, prendendo outro sozinho. — Será que você me perdoa algum dia?
— Depende. Qual vai ser nossa próxima parada?
o olhou brevemente, fingindo estar pensativa. Ela amaria mostrar os quatro cantos da cidade para o rapaz, sem qualquer pressa. Só os dois, descobrindo coisas novas.
— Bom, ainda temos muitos lugares pra visitar — levou o indicador ao queixo. achou aquilo extremamente tentador. — Mas tem um restaurante incrível no centro da cidade e tenho certeza que você vai gostar.
Ele inclinou levemente a cabeça, a analisando com um sorriso divertido.
— Seu desejo é uma ordem, senhorita. E o que mais quer fazer?
deu de ombros enquanto caminhava devagar pela água rasa, deixando as pequenas ondas baterem contra sua cintura.
Seu coração batia acelerado por uma pequena coisinha que se passava em sua mente.
— Ainda tô decidindo… Mas, acho que vou ter que te convencer antes.
arqueou uma das sobrancelhas, abaixando um pouco mais o corpo. O sol ainda queimava suas costas.
— Ah, é? E como pretende fazer isso?
A pergunta de deu uma chacoalhada em todos os sentimentos dentro da garota. Até mesmo em seus próprios pensamentos.
A primeira coisa era que ela queria visitar vários lugares ainda com , e a segunda, bom… Era a que não via a hora de grudar sua boca na dele.
Ele queria muito fazer aquilo.
Mordiscou os lábios, pensando um pouco mais. E, em um ato impulsivo e rápido, jogou seu corpo contra ele, enlaçando seu pescoço e colando os lábios nos de .
, de primeira, sentiu o impacto do corpo dela contra o seu, suas mãos instintivamente segurando a cintura da garota para evitar que os dois caíssem na água. Mas, no segundo seguinte, nada pareceu importante demais que não fosse o beijo.
Quando o ar começou a faltar, afastou o rosto só o suficiente para observá-lo, com seus olhos brilhantes como sempre.
— Convencido agora?
riu, ainda a mantendo perto. Deixou sua testa grudar na dela.
— Você joga sujo.
— Eu jogo pra ganhar, bobinho — sussurrou.
Ele balançou a cabeça, mordendo o próprio lábio enquanto a observava.
— E agora?
— Agora… — deslizou os dedos pelo cabelo úmido dele, ainda sorrindo travessa. — Acho que finalmente podemos ir pro restaurante.
soltou uma risadinha rouca.
— Se toda decisão for resolvida assim, eu topo qualquer coisa.
— Vocês pegaram tudo?
— Acho que sim. Espera! Acho que meu carregador ficou lá no quarto…
— Faltou o meu boné!
O saguão do resort estava uma bagunça, com as vozes dos amigos em um falatório que inundava o corredor. só conseguia revirar os olhos, mas algo no fundo do estômago dava aquele friozinho que ele não queria admitir. E ele sabia bem o que aquilo significava.
De uma forma ou de outra, suas férias estavam chegando ao fim e teria que deixar para trás. Talvez fosse mesmo só um romance de verão, mas não conseguia se convencer de que era apenas aquilo.
Sentia que havia algo mais.
Pela primeira vez em muito tempo, queria mais do que tudo transformar uma ficada qualquer em algo mais sério.
Deixou o corpo encostar na poltrona acolchoada da recepção, soltando um suspiro pesado. Para ser sincero, estava tentando disfarçar que estava emburrado também.
Não queria seus amigos lhe zoando.
E muito menos queria ir embora dali.
Seus olhos foram até o display do celular, indeciso ao mandar uma mensagem para . Queria dizer algo simples, mas sincero, algo como "vou sentir sua falta". Era engraçado, já que ele sabia que nunca teria dito algo assim tão cedo a alguém.
Era o tipo de coisa que guardaria para si por muito tempo.
— Vai ficar aí? A gente tem que ir, cara. O voo sai em cinco horas. Pegou tudo?
interrompeu seus pensamentos, olhando rapidamente para o relógio no pulso.
ergueu o olhar, pronto para responder e ajeitar suas coisas, quando algo chamou sua atenção.
Do lado de fora, na varanda, viu se aproximar, com o mesmo sorriso leve que ela costumava lhe dar quase sempre. A visão da garota tão simples e bonita do outro lado do vidro fez seu coração descompassar, de uma forma que ele não esperava.
Ela realmente parecia uma obra prima.
sentia que não tinha como terminar daquele jeito, cada um para seu lado, sem qualquer resquício em saber quando se veriam outra vez. Ele queria aproveitar ainda mais a viagem ao lado da garota e queria conhecê-la mais do que já conhecia.
Precisava daquilo.
Então, se levantou, decidido. E, antes de ir em direção ao lado externo, se virou para os amigos.
— Não se preocupem comigo. Não vou pegar o voo de hoje — deixou um sorriso tímido crescer nos lábios. — Preciso conhecer Maragogi um pouco mais.
— Maragogi? Sei — comentou, fazendo piadinha.
Ele balançou a cabeça, caminhando até a varanda onde estava. Quando a garota olhou há poucos centímetros de si, seus olhos se arregalaram minimamente.
parou diante dela. O vento ainda brincava com seus cabelos castanhos e os raios de sol iluminavam seus traços de maneira quase surreal.
Ele sorriu.
— Você não ia embora? — questionou. Sua voz ia sumindo aos pouquinhos.
— Decidi ficar um pouco mais — deu um passo à frente. Ela sorriu. — Não tinha como ir embora assim.
olhou para ele, sem saber o que responder. Seus olhos brilhavam mais do que antes, suas bochechas queimavam e o coração disparava sem o menor controle.
— Tá falando sério?
— Mais sério do que tudo — deixou uma risadinha escapar.
levantou a sobrancelha, incrédula com tamanha loucura de . Ela ficou ali, por um segundo, apenas observando o jeito como estava ali, tão decidido e feliz.
— Meu Deus. Você é maluco, sabia?
Ele balançou a cabeça.
— Maluco não. Só tô fazendo o que meu coração tá mandando — se aproximou o suficiente para colocar uma mecha de cabelo teimosa de que insistia em acariciar seu rosto. — E aí? Vai me deixar ficar ou vai me mandar embora?
soltou uma risadinha fraca, ainda sem acreditar. Sentiu o toque suave de em seu rosto e, por um momento, o tempo pareceu desacelerar. Ela queria muito dizer o quão impulsivo ele estava sendo, mas não era aquilo o que seu coração dizia.
Ela fingiu pensar por um instante, mas no fundo já sabia a resposta.
— Bom... Acho que você ainda tem muito o que conhecer por aqui — arqueou a sobrancelha. — Talvez eu consiga arranjar um tempinho pra te mostrar.
O sorriso dele cresceu ainda mais.
— Promete ser uma guia paciente?
— Ah, nem tanto — ela riu. Não pensou duas vezes em puxar pela camisa. — Mas se você aguentar o desafio…
Sussurrou.
E não esperou um segundo mais para ter em seus braços, outra vez.