Independente do Cosmos🪐
Última Atualização: 24/04/2025Pessoas ruins não tinham solução. Essa tinha sido a maior e pior lição que eu havia aprendido. Ele não era diferente e por mais que antes eu tivesse certeza que sim, estar nessa cama de hospital me dizia exatamente o oposto de tudo que eu tentei me convencer por todo esse tempo.
Movimento a cabeça de forma suave, ainda sentindo a dor e a tontura dos analgésicos que havia tomado. Me deparo com os lençóis macios e brancos, tento entender porque o branco me incomodava tanto, mas percebo que era o contraste com todas as sombras que passavam por minha mente agora, por toda a dor que encobria meu coração, por todos os pensamentos que pareciam sussurrar promessas que eu sabia serem ilusórias.
Quando me mexi, senti o calor do seu corpo. Senti sua mão envolvendo o meu quadril de forma desajeitada e a sua cabeça deitada sobre o meu ventre. Mexo as mãos lentamente, sentindo a pele dele, suave sob meus dedos trêmulos.
A mesma pele que agora parecia ser feita de dor, mentiras, enganos e percas. Seu perfume já não mais me trazia conforto, mesmo ainda tendo o poder de me inebriar completamente.
Mesmo ainda mexendo comigo, eu não me sentia mais segura.
Mesmo ainda o amando, eu sentia que não podia mais amar.
"Você poderia ter morrido, ."
É a voz do meu pai que ecoa em minha mente, alta, estridente, ensurdecedora.
Me fazendo engolir todo o pouco ar que consegue sair da minha boca.
"Você o perdeu."
Eu me virei na cama, observando-o dormir serenamente. Seus traços familiares, tão familiares e ainda assim tão estranhos agora. Eu me perguntei se ele sabia o quanto estava quebrando meu coração, ou se era apenas mais um jogo para ele. Ele nunca largaria aquela vida por mim, ele nunca me escolheria. Ele me veria morrer, mas não mudaria quem ele é.
"Valeu a pena?"
Talvez eu nunca soubesse a resposta. Mas eu sabia que algo precisava mudar.
Sabia também que não podia salvá-lo. Tudo que eu faria era afundar com ele.
Caindo.
Caindo.
Caindo.
Fazia uma semana que tínhamos enterrado a minha mãe. Seis dias, vinte e duas horas e trinta e quatro minutos agora. Apenas esse tempo para me acostumar com a perda dela, apenas esse tempo para ter mais uma festa do meu pai para planejar, assumindo o lugar dela, cuidando das empresas dela.
Merda.
O luto estava me sufocando, estava preso em minha garganta, sendo amassado em meu colar de pérolas, sendo sufocado em minhas cordas vocais, sufocando.
Sufocando.
Sufocando.
Morrendo.
Matando.
Respiro fundo antes de sair da sala, já não me importava com quantas taças de champanhe haviam sido servidas e tampouco com quantos petiscos ainda estavam para vir, não ligava para o tempo que levaria ou para os falsos sorrisos que eu tinha que dar. Eu só precisava sair dali.
Desesperadamente.
Fugir.
Correr.
Sair.
Quando chego lá fora, consigo respirar melhor. Minha pele inteira se arrepia, mas meu peito não alivia a dor que sente. Eu tinha dezenove anos e em nenhum deles aprendi sobre como me sentiria quando uma parte minha já não estivesse mais aqui. Havia passado por várias festas beneficentes como essa, mas nenhuma me ajudou a lidar com o fato dela não estar mais aqui. Eu tinha muita saudade.
Saudade sufocante.
De repente sinto tudo de novo. O cheiro da gasolina, o barulho dos vidros sendo quebrados, o sangue quente escorrendo em meu rosto. Os gritos do meu pai que, primeiro são um zumbido e logo depois são altos e estridentes.
"Stella. Stella."
É o que ele grita. Olho para o carro, mas minha mãe não se mexe. Ela está lá, deitada, sangrando, sorrindo, com os olhos me olhando.
Merda.
Fechar os olhos.
Respirar fundo.
Sentir meu pulmão inchado.
Respirar fundo.
Deixar o ar ir.
Deixar ela ir.
— Quer um cigarro? — Abro os olhos bruscamente, esperando conseguir xingar quem quer que tenha interrompido os meus pensamentos, mas algo em mim morre quando olho para ele. Ou vive. Ele é alto, os cabelos são escuros, está perfeitamente bem alinhado em um terno que, provavelmente, custa muitos milhares de dólares. Ele não estava com o paletó, ao invés disso havia apenas uma blusa social branca, dobrada um pouco acima do punho, mostrando uma tatuagem de algo que parecia ser uma cobra. — Você sabe falar, né?
Tento ignorar o comentário, mas alguma coisa sufoca minhas lágrimas e traz um riso à tona. Ele me ofereceu o cigarro que estava nas mãos, não presto atenção ao conteúdo dele, mas o cheiro não é tão ruim.
Não quando meu cérebro insiste em me trazer o cheiro da maldita gasolina.
Eu pego e levo até a boca, mas me engasgo com a fumaça assim que puxo um pouco. O cheiro me desconcentra de tudo que eu estava sentindo até então. Parece melhor do que a minha lista mental de passos para não ter um ataque de pânico.
Ele ri.
É um sorriso tão bonito que não sei se ele é um anjo ou um demônio, ele parece os dois.
— Obrigada. — Sussurro, por mim. Ele toma o cigarro de minhas mãos, em seguida coloca na própria boca. Ele puxa, segura um pouco a fumaça na boca, depois solta lentamente. Não consigo ignorar o fato que ele parecia bonito demais fazendo isso.
— É assim que faz. Se puxar tudo vai engasgar e engolir a fumaça. — Sinto minhas bochechas corarem imediatamente. Eu sabia que soaria inexperiente, mas não imaginei que isso fosse me constranger tanto. — Tenta de novo. — Ele fala, colocando o cigarro em minha boca mais uma vez e me orientando a fazer igual a ele. Quando consigo, ele me olha orgulhoso. — Não é difícil, viu? Me chamo , aliás.
.
Angelicalmente bonito.
Diabolicamente perigoso.
Conhecia poucos homens como , mas conhecia o suficiente para saber que a forma que ele respirava era problema na certa. Minha mãe sempre me alertou sobre homens bonitos demais e todos os problemas que vinham com eles.
— . — Sussurro, em um tom rouco de voz.
— É um nome bonito, . — Ele me olha com um sorriso suave, mas a expressão logo fica um pouco mais séria. — ? A filha do senador? Puta que pariu, como eu posso ser tão azarado?! — Sinto uma pontada de desconforto ao ouvir o tom de frustração em sua voz, como se o fato de eu ser quem sou fosse um fardo. Ele parece perceber minha reação e tenta suavizar a tensão. — Não é nada pessoal. — Ele diz, balançando a cabeça, como se quisesse afastar o pensamento que acabara de expressar. — É só... bem, complicado.
A forma como ele fala me deixa intrigada. É evidente que há algo mais por trás de suas palavras, mas não estava com cabeça para nenhum mistério. dá uma última tragada no cigarro antes de apagá-lo no corrimão ao nosso lado. Ele se inclina um pouco mais perto, o que aumenta ainda mais o peso da sua presença e as reações do meu corpo.
— Não se preocupe. — Ele diz com uma voz baixa, quase um sussurro. — Eu não sou exatamente a pessoa que você deve temer.
Acho que ele tenta me tranquilizar pela sua reação, mas suas palavras tem o efeito contrário. Ele sorri novamente, mas seu sorriso parece esconder muito mais do que revela.
— E você? — Pergunto, tentando mudar o rumo da conversa. — O que está fazendo aqui?
— Acho que a vida tem uma maneira peculiar de me colocar em lugares onde eu não deveria estar. — Ele dá uma olhada ao redor, como se o ambiente fosse um cenário um pouco absurdo para ele, mas não há surpresa. Ele não está fascinado com todo o luxo, com os funcionários indo e vindo ou com as doações de milhões e milhões de dólares. Ele só está enojado.
Sua resposta é vaga, mas tem um tom de desdém que me faz pensar que ele está acostumado em estar fora do lugar. Seus olhos se fixam em mim novamente, desta vez me avaliando de forma tão íntima que minha pele parece queimar.
— O que você faz? — A pergunta é tola, mas parece a única que consigo pensar quando ele me encara tão firmemente.
— Eu sou um homem de muitos talentos, . — Ele diz, sua voz é carregada de um charme misterioso, ou sombrio. Já não sei mais a diferença. — Mas digamos que, no momento, estou mais interessado em conhecer você do que em explicar o que faço.
— Eu conto algo sobre mim, se você me contar algo sobre você.
Ele sorri com o desafio e se aproxima mais. Todo o ar parece voltar a ficar preso nos meus pulmões, mas não sinto que estou sufocada, apenas sinto que estou morrendo de calor afundada no mar frio dos olhos negros que ele tem.
E isso não faz o menor sentido.
A forma que eu me sentia não fazia o menor sentido.
— Pergunte.
— Já sentiu como se sua vida não tivesse mais sentido?
inclina a cabeça, observando-me com uma expressão que mistura curiosidade e interesse, mas ainda assim parece ser neutro.
— Já me perguntei sobre isso, sim. Às vezes, a vida pode parecer um jogo sem regras e é fácil se sentir perdido em meio ao caos.
A sua resposta ressoa com uma sinceridade inesperada, quase libertadora.
— E o que você faz quando se sente assim? — Pergunto, com uma impulsividade que me surpreende. — Como você encontra sentido quando parece que tudo está desmoronando?
sorri, mas há um toque de tristeza em seus olhos que antes não estava lá.
— Acho que eu me perco ainda mais, mergulho mais fundo em meus próprios demônios, até que eu não saiba mais quem são eles e quem sou eu. — Ele diz, seu olhar denuncia que ele passou por isso mais vezes do que queria.
— Funciona? — Ele tira os olhos de mim, pela primeira vez, e olha para a frente. Seu semblante parece ficar mais sério, mas ele apenas dá de ombros.
— Faz passar quando preciso que passe. A dor de um erro alivia outro, é uma merda, mas é uma merda que funciona. Às vezes, a única forma de lidar com a dor é se afundar ainda mais nela. — Sua voz carrega um peso que me faz sentir que ele fala a partir de uma experiência profundamente pessoal. — O que você mais teme perder?
Sua pergunta me pega de surpresa. Sinto um frio na barriga, e por um momento, o ar parece ficar mais gelado e ainda mais pesado também. Eu hesito, minhas palavras parecem fugir de mim. Olho para o chão, tentando reunir os pensamentos que estão turvos pela surpresa e pela vulnerabilidade. Nunca me dei o trabalho de considerar a resposta a essa pergunta de forma tão direta.
Acho que você nunca pensa sobre tudo que tem a perder, até que perde algo.
— Eu... — Começo, minha voz trêmula. — Eu tenho medo de perder o que minha mãe representava para mim. Ela morreu há poucos dias, e eu ainda estou lutando para lidar com isso. Às vezes, eu ainda ouço a sua voz ecoando pela casa, ainda sinto o seu cheiro em alguns cômodos. É como se uma parte de mim tivesse sido arrancada e eu não soubesse como seguir em frente sem ela. Tudo o que restam são migalhas pequenas e preciosas da sua existência, mas que parecem cada vez mais distantes. Eu não quero perder isso, tenho medo de esquecer.
— Sinto muito pela sua perda.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, mas não é desconfortável. Na verdade, há algo assustadoramente familiar em sua presença.
— Quais tatuagens você tem? — Tento fugir do assunto e da melancolia que nos envolve, ele sorri, subindo ainda mais a manga da blusa social.
— O braço inteiro, na verdade. — Ele diz, com um toque de orgulho em sua voz. — Tenho um raio que atravessa os ombros, uma cobra que enrola o pulso, uma aranha no antebraço… E algumas outras. E você? Alguma marca misteriosa no corpo, princesinha?
Ignoro os intensos arrepios que percorrem pela minha pele quando ele me chama daquela forma.
— Digamos que se eu contar a você, não vai ser mais um segredo. E eu prefiro não me comprometer com os segredos que tenho, apesar de você ser uma pessoa… — Faço uma pausa, tentando encontrar as palavras certas, mas acabo sorrindo sem conseguir escondê-la. — Interessante.
inclina a cabeça, seu olhar é tanto curioso quanto provocador.
— Interessante? — Ele repete, dando um passo mais perto de mim. A proximidade faz o ambiente ao nosso redor parecer ainda mais íntimo, como se a festa inteira estivesse acabado e agora só estávamos nós dois, isolados de todo o mundo. De toda a dor. De toda a sensação sufocante de minutos atrás.
— É, você definitivamente se encaixa na descrição. — Digo, murmurando com um tom de divertimento, embora não fosse esse o sentimento que subia pelo meu estômago. — Então, além das tatuagens e do seu lado misterioso, o que mais você pode me contar sobre si mesmo?
— Bem, não sei se você vai querer saber muito sobre mim. — Ele responde, seus olhos deslizam pelas linhas do meu rosto com uma intensidade que me faz sentir nua diante dele. — Mas se eu te contar, talvez você acabe sabendo demais sobre mim também.
Sinto meu coração acelerar ao sentir a profundidade de seu olhar. Cada movimento seu parece carregado de uma elegância descontraída, desde os cabelos escuros bem alinhados até a maneira como o terno cai perfeitamente sobre seu corpo, revelando, de vez em quando, uma tatuagem sinuosa que serpenteia ao longo de seus braços. A forma como ele se aproxima de mim é quase magnética e eu sou irresistivelmente atraída para mais perto dele.
Ele sorri, e o efeito é hipnótico.
Seus lábios se curvam de uma maneira que ilumina seu rosto, e os olhos negros que me encaram parecem brilhar mais do que as próprias estrelas.
Não preciso perguntar para ter certeza, acabaria com minha vida facilmente.
Ou me faria voltar a viver.
Com um movimento lento e deliberado, ele dá um passo em minha direção, o espaço entre nós diminui, e eu posso sentir o calor do seu corpo e o seu perfume sutil, uma mistura amadeirada e especiada que é ao mesmo tempo sedutora, misteriosa e perigosa.
Eu sinto um calor subir pelas minhas bochechas enquanto me perco no olhar dele.
Há algo em seu jeito de se aproximar, na forma como seus olhos se fixam nos meus com um brilho desafiador, que faz com que eu me sinta completamente absorvida por ele. Cada movimento seu, desde a forma como seu terno se ajusta ao seu corpo até as tatuagens visíveis sob a manga levantada, adicionam um tom de desespero em meu rosto.
É desesperador a forma que, de uma hora para outra, eu o quero.
Seu corpo está tão perto do meu que sinto o calor da sua pele, e sua respiração quente contra meu rosto me faz tremer. Seus olhos são profundos e intensos, e o sorriso nos lábios dele promete algo que eu não consigo definir, mas que me faz sentir como se estivesse à beira de algo grandioso.
Sinto meu coração acelerar, batendo forte e irregular, como se quisesse escapar do meu peito. Cada vez que ele se move, o terno ajustado ao corpo dele destaca suas tatuagens, e eu me perco nos detalhes: o traço da cobra, a aranha intrigante. Meus lábios se partem ligeiramente, e a sensação de calor sobe pelo meu rosto, tornando minhas bochechas rubras. O desejo de me aproximar mais, de tocar aqueles lábios que estão tão perto dos meus, é quase incontrolável. O espaço entre nós é apenas um suspiro, e eu me sinto atraída pela promessa silenciosa que ele representa.
Mas o momento é interrompido abruptamente pela voz firme do meu pai.
— ! — A autoridade na voz dele é inconfundível, e imediatamente, meu corpo reage, virando-me para encarar a fonte do som. O calor e a intimidade que compartilhava com desaparecem instantaneamente, substituídos por um frio súbito e constrangedor.
Caminho em direção ao meu pai.
Olho para trás uma última vez, e ainda está lá, seu olhar está fixo em mim de uma forma que me faz queimar.
Só consigo pensar em .
Em como ele se move, em como ele sorri, em como, por um breve instante, ele fez o mundo parecer menor, mais intenso e cheio de possibilidades. E, no fundo, uma parte de mim não consegue evitar pensar que ele vai ser o meu maior arrependimento.
Ou talvez, a melhor coisa que já me aconteceu.
— , você não pode simplesmente desaparecer assim. — A voz do meu pai é firme, mas não é cruel. Ele para na frente da porta principal e me encara com um olhar que mistura frustração e preocupação. — Eu não sei o que está acontecendo com você, mas isso não é aceitável.
Eu baixo os olhos, tentando esconder a confusão e as diversas emoções que sinto. Meu pai não é um homem absurdamente protetor, mas nunca o vi tão sério antes.
— Desculpe, pai. Eu só... precisava de um momento para respirar. — Minha voz sai mais fraca do que eu gostaria, e eu sinto um leve tremor nas minhas mãos.
Ele solta um suspiro profundo e parece suavizar um pouco.
— Olha, eu entendo que você esteja passando por uma fase difícil depois da morte da sua mãe. Mas sumir desse jeito e ficar com aquele homem... — Ele hesita, como se não soubesse exatamente o que dizer. — é... complicado. E eu não quero que você se envolva com ele.
A menção de faz meu coração bater um pouco mais rápido. Mesmo depois de todo o confronto interno, a imagem dele ainda está viva em minha mente. Eu me viro para o meu pai, tentando manter a voz firme.
— Eu sou uma adulta, pai. Eu posso tomar minhas próprias decisões.
— Você tem dezoito anos recém-completos, ainda não é uma adulta. — Ele responde, a frustração está claramente visível em seu rosto. — Há um mundo de diferença entre a idade que você tem e a maturidade que você pensa que possui. E eu sei que isso pode parecer algo idiota dito por um pai, mas minha preocupação é com o seu bem-estar. não é uma boa pessoa, . Não quero você pagando pelo pecado de outras pessoas. — Ele percebe o meu silêncio, principalmente quando cruzo os braços. Não gosto de desobedecer o meu pai. Ele suspira, se aproximando mais de mim e me abraça, beijando a minha testa de forma suave e carinhosa. — Eu só quero que você esteja segura. Não quero que você sofra por causa de escolhas erradas. O mundo é mais complicado do que parece, e algumas pessoas têm a capacidade de mudar o curso de nossas vidas de maneiras que não podemos prever.
— Eu vou tomar cuidado, pai.
Ele me encara por um momento, como se estivesse tentando avaliar se pode confiar em mim ou não. Finalmente, ele dá um pequeno aceno de cabeça, como se estivesse aceitando, ainda que relutante, minha decisão.
— Tudo bem, . — Ele diz, a voz cheia de resignação. — Apenas lembre-se de que eu estou aqui se precisar de ajuda. Não importa o que aconteça, você sempre pode contar comigo.
Com essas palavras, ele se afasta, me permitindo finalmente respirar um pouco mais livremente. Eu volto para a festa, tentando me distrair com as conversas e risos ao meu redor, mas a verdade é que nada parece tão interessante quanto .
É como se ele fosse uma droga, algum tipo de feitiço feito por meio de bruxaria. Ele nunca esteve em minha mente e, agora, do nada, mesmo quando fecho os olhos, a imagem dele me persegue. A maneira como ele me olhou, o jeito como seu corpo se movia, e a sensação avassaladora de estar tão perto dele.
O som de passos me faz voltar à realidade, olho para trás e vejo Alyssa, que está se aproximando com um olhar curioso e preocupado. Éramos amigas de longa data, sua mãe era amiga da minha e, assim, a amizade foi se construindo com o passar das gerações também.
— Seu pai parecia preocupado. Está tudo bem? — Ela pergunta, sorrio com a preocupação evidente em sua voz.
— Sim, foi só… Uma conversa difícil.
— Algo me diz que não foi só isso. — Ela inclina a cabeça, observando-me com um olhar perspicaz. — Você parece distraída.
Nós duas ficamos em silêncio por um momento, apenas apreciando a tranquilidade do jardim em contraste com a agitação da festa.
Finalmente, Alyssa quebra o silêncio.
— Você parecia muito envolvida com alguém antes. Eu vi o olhar que você tinha. Não é algo que eu costumo ver em você.
— Touché. — Murmuro, com um sorriso. Esse era o lado bom e ruim de melhores amigas, você não conseguia esconder nada delas. Eu dou um leve suspiro, tentando encontrar as palavras certas. — Ele estava preocupado com esse cara que eu conheci na festa. .
Alyssa franze a testa, seu olhar se torna mais sério. E é muito raro vê-la com o olhar ou qualquer outra expressão que passe seriedade.
— ? Ele é... bem, complicado. — Ela pausa, como se estivesse ponderando o que dizer a seguir. — Eu não quero te assustar, mas seu pai tem razão em estar preocupado. não é alguém com quem você deve se envolver.
Sinto um desconforto crescente ao ouvir isso. As palavras dela só servem para aumentar a sensação de dúvida que já está me consumindo. Eu me viro, tentando ler suas intenções.
— Você o conhece bem?
Alyssa hesita antes de responder.
— Não tão bem quanto eu gostaria. Mas sei o suficiente para te dizer que ele não é exatamente o tipo de pessoa com boas intenções.
— Você é minha amiga, Aly. Se quer me incentivar a não fazer algo, é melhor vir com os detalhes completos.
— Tudo bem, tudo bem. — Ela se senta ao meu lado. — Lembra quando o Carter teve uma overdose e foi parar no hospital? Foi quem vendeu as drogas. E, pelo que eu sei, esse é só um dos vários vínculos dele com o crime que eu conheço. Dizem que ele entrou no esquema do Falcone e, bom, você pode não sair muito da sua casa, mas com certeza sabe do que estou falando.
E eu sabia.
Falcone era considerado um dos piores e mais doentes chefes criminosos. Ele era caçado pela polícia há anos e sempre estava em alguma notícia importante. Drogas, assassinatos, roubos milionários, esquemas dos mais altos níveis.
— Por que você não me contou isso antes? Sobre Carter.
Alyssa suspira, mas o olhar dela rapidamente é suavizado.
— Porque eu não queria te assustar sem necessidade. Mas agora, eu sinto que precisa saber. pode ter um charme irresistível, mas é uma armadilha. Eu vi o que ele fez com o Carter, e não quero que você seja a próxima vítima. — Minha mente pesa com a informação e engulo a seco por alguns momentos. Alyssa me dá um olhar compreensivo, mas também um pouco frustrado. — Só quero que você entenda sobre o tipo de jogo que você está se metendo.
— Eu acho que eu gostei dele. — Admito, por fim. Na verdade eu não achava que tinha gostado, eu tinha. Era a única certeza na minha cabeça agora. — O primeiro cara que gosto, é um tipo de traficante. Que ótimo bom gosto para homens eu tenho, huh?
— Bom, acho que é normal. Ele é incrivelmente lindo. — Ela sorri, eu sorrio junto. — Apenas saiba até onde você vai. Eu perdi uma tia, não quero perder uma amiga.
— Você fala como se ele fosse me matar.
— Existe mais de uma forma de morrer.
Alyssa tem razão. A forma como ela expressa suas preocupações pode parecer exagerada, mas há uma verdade gritante que não posso ignorar.
A ideia de me envolver com alguém como pode significar mais do que apenas um coração partido, pode significar um caminho perigoso e destrutivo.
Alyssa me olha com uma mistura de simpatia e determinação.
— Bebita, eu não quero te pressionar, mas você precisa pensar bem. Eu já passei por coisas difíceis, e não quero que você passe pelo mesmo. Às vezes, o que parece atraente pode ser a maior armadilha.
Eu me recosto no banco.
— Eu sei. Eu realmente sei. É só que... eu não esperava me sentir assim. Eu acabei de conhecer ele, nem devia estar pensando tanto assim, mas não posso controlar.
Ela se levanta, logo depois de me dar um abraço rápido.
— Não fique pensando no garoto problema. Apenas vá em frente e aproveite a festa. Só lembre-se do que conversamos, ok? E ignore o problema, não importa o quão bonito ele é.
— Vou tentar. Obrigada, Aly.
— Agradeça não ficando com o drogado, por favor.