Independente do Cosmos 🪐
Última Atualização: 25/09/2024o pegava desde que havia começado a trabalhar na Kyobo e como sua casa era um pouco longe do local, a única forma de chegar mais rápido era pegando o metrô.
Não era algo que se importasse muito em fazer. E, apesar de todo o tumulto a seu redor, e mesmo sabendo que nem todas as pessoas eram tão pacientes como ela, Lisa gostava de ver como cada uma tinha um jeito diferente.
Era engraçado como tanta gente, em um único lugar, se misturava de diversa e unicamente. Gostava de observar.
Gostava ainda mais de observar um ponto específico dentro do metrô.
Desde que havia entrado no vagão pela primeira vez, notou um rapaz com a mente imersa em um livro grosso. Parecia não ter outro mundo para ele se não aquele que estava lendo.
Ela achava engraçado o fato de sua expressão não mudar na medida em que ia lendo, mesmo quase sempre sendo um livro diferente. Observou que, nem mesmo a sobrancelha do rapaz arqueava ou um sorriso ladino se expressava em seus lábios a cada página que virava.
Parecia ser bem sério, mas a mulher adorava observá-lo.
Os cabelos negros, já em um ponto quase grande e ondulado sobre seus olhos, a pele clara e suave, os olhos fixos no livro em suas mãos.
Suspirou.
Ele era muito bonito.
Adorava observá-lo todas as manhãs, mesmo sabendo que os olhos do rapaz não se redirecionariam em sua direção. Não parecia querer olhar outra coisa, mas não se importava. Pelo menos conseguia vê-lo antes de sair e seguir para seu trabalho.
E, antes que o embalo do vagão parasse de vez, o notou pela última vez antes de seguir para longe.
Talvez, algum dia, teria a oportunidade de cumprimentá-lo.
A mulher acordou cansada naquela manhã.
O dia anterior havia sido exaustivo, principalmente por ser fim de ano e ser uma das épocas em que a Kyobo mais tinha movimento. Claro que não podia reclamar. Sabia que o lugar estando assim, melhoraria muito em sua comissão e assim também, poderia comprar o material de que tanto precisava.
adorava desenhar. Era uma de suas paixões, junto com o fascínio que tinha pela escrita e leitura. Se não estava desenhando, fazendo seus esboços e pinturas, estava lendo algo diferente e até inventando alguma história dentro de sua mente sonhadora.
Era o que mais gostava de fazer em seu tempo livre.
Tirou sua bolsa do cabideiro e arrumou suas vestimentas rapidamente, pronta para seguir até a estação. Observou que o dia estava claro, o céu azul e com poucas nuvens, a deixando ainda mais fascinada. Gostava de observar os detalhes matinais.
Com um pouco mais de pressa, desceu as escadarias do metrô de Gwanghwamun e observou que o local já se encontrava agitado, com todas as pessoas à espera de seu determinado vagão.
Passou os olhos por cada uma delas e pediu licença a outras que estavam em sua frente, seguindo até o seu que já se encontrava parado na plataforma, prestes a sair.
Assim que o adentrou, procurou um lugar vago para sentar.
O trajeto da estação até o ponto mais próximo de seu trabalho levava de quarenta a cinquenta minutos. Não era tão demorado, mas ainda assim, era.
E não podia se atrasar.
Então, com o tempo livre que tinha até lá, decidiu retirar algo de sua bolsa que faria seu tempo passar. Puxou o sketchbook e pegou um dos lápis em seu estojo.
Não sabia ao certo sobre o que desenhar e nem se estaria com inspiração para tal coisa. A verdade era que normalmente não precisava de alguma inspiração, a imagem só vinha em sua cabeça e ela começava.
Mas daquela vez algo estava diferente.
Ergueu seus olhos, observando que um pouco mais a frente, ele estava sentado. Da mesma forma dos outros dias. Os cabelos pouco bagunçados, o rosto centrado no livro em sua mão. Percebeu que naquele dia, o livro era diferente.
Um pouco mais fino, a capa mais clara. Uma pena não conseguir saber do que se tratava.
Com um pouco de pressa, começou a traçar o esboço em seu caderno. Desenhou os fios bagunçados e escuros do rapaz, o rosto desenhado, a feição séria.
Precisava admitir que a beleza dele era muito singular. De forma que poderia passar horas olhando e não enjoaria. E era engraçado, já que não o conhecia, apenas de vista.
Como será que ele era? Sobre o que pensava?
Como será que era seu sorriso?
Fechou os olhos brevemente com aqueles pensamentos e balançou a cabeça vagamente, focando o olhar no desenho em suas mãos. Não havia ficado perfeito pela rapidez, mas ainda assim estava bonito.
Notou que o metrô começava a parar em uma estação e ergueu seu olhar novamente, olhando ao redor. Assim que algumas pessoas começaram a seguir seus caminhos, observou que o rapaz também havia se levantado e por breves segundos, se sentiu murcha.
Desejava continuar o observando um pouquinho mais.
O homem aguardou sua vez, ainda com o livro aberto em mãos e assim que estava se preparando para sair, o fechou. Não percebendo que o marca-página havia caído ao chão.
olhou a cena e aguardou alguns segundos para ver se ele havia percebido. Nem deu por falta.
Rapidamente se levantou, pegando o pequeno pedaço de papel para entregá-lo. Mas já era tarde demais.
As portas haviam se fechado e o vagão já estava partindo.
A mulher pôde vê-lo caminhar para longe pelas janelas e respirou fundo, encarando o marca-página em suas mãos. Seria uma ótima oportunidade para entregá-lo, quem sabe poderia saber mais sobre o rapaz que a havia deixado curiosa.
Antes de descer na estação e seguir para seu trabalho, encarou mais uma vez o marca-página antes de guardá-lo. Era delicado, simples e parecia ser novo.
O virou em sua mão e percebeu que do outro lado havia uma caligrafia desenhada, onde continha uma frase e uma inicial.
.
sentiu seu coração palpitar.
E sentiu que, mais do que antes, precisava conhecê-lo de verdade.
Aquilo havia sido o cúmulo para aflorar sua curiosidade.
Sentou no banco apertado, agitada. Suas mãos quase amassavam o marca-página em suas mãos e sentia como se o rapaz fosse entrar a qualquer momento por ali outra vez.
Queria muito encontrá-lo. E precisava admitir que estava ansiosa, que se sentia uma boba por agir de tal forma.
Abaixou seu olhar, relendo a frase novamente e sentindo o coração acelerar vagarosamente.
A frase havia despertado tamanha curiosidade na mulher.
Queria saber o que ele pensava, como agia, como era. Qual será que era seu nome?
No que será que trabalhava?
Deixou os dedos irem em direção à sua testa, tirando os fios teimosos que insistiam em cair em seus olhos e ouviu o vagão anunciar a próxima parada, observando todas as pessoas entrando quando a porta se abriu.
Com um pouco de dificuldade no meio de todas elas, conseguiu captar o olhar curioso do rapaz, procurando por algum lugar para se sentar.
Ele estava diferente naquele dia. Parecia mais alerta, curioso.
A mulher se ajeitou, deixando o corpo ereto e o observou caminhar até próximo a ela, se sentando em frente à . Pôde sentir seu corpo parar ao notar que ele tinha o livro em mãos, mas ainda não o folheava. Os olhos do rapaz pareciam observar ao redor.
Observou o marca-página em suas mãos mais uma vez e respirou fundo.
O que deveria fazer naquele momento? Não fazia a menor ideia.
Com certa incerteza, mordiscou o lábio inferior e levantou seu olhar, engolindo em seco logo após.
Ele a observava.
Parecia estudar cada milímetro da mulher à sua frente. não sabia o que fazer, muito menos como agir. Sentiu o corpo enrijecer mais uma vez e piscou freneticamente, até notar um pequeno sorriso surgir nos lábios do rapaz à sua frente.
Ah, não.
Seu sorriso era de matar.
sentia seu coração quase explodir.
Não soube o que fazer, apenas devolveu o sorriso de canto e continuou com seus olhos nos dele. O que mais havia a deixado confusa não foi o olhar que ele mantinha, mas sim a conexão que sentiu naquele momento.
Era estranho e sentia como se algo a puxasse para ele.
— Oi.
Observou os lábios do rapaz se moverem lentamente e por segundos, sentiu como se aquilo não fosse real.
Depois de todo aquele tempo, realmente estavam tendo a primeira interação?
Ela levantou uma das mãos, acenando levemente para o rapaz e só então notou que a mão que havia levantado era a que segurava o marca-página.
O homem a olhou e em seguida para o objeto em sua mão.
Não podia negar que sentia suas bochechas queimarem com aquele gesto tão pequeno e o rapaz notando sua feição, deixou uma pequena risadinha escapar.
Então ela havia guardado o marca-página que achava ter perdido.
Não podia achar mais adorável.
Queria o responder e talvez até puxar o assunto, mas quando ouviu o barulho do vagão anunciando a próxima parada e percebeu que era a dele, murchou.
Será que nunca conseguiriam se conhecer?
O observou por mais algum tempo e assim que ele se levantou, lançou um olhar rápido para a mulher que ainda tinha seus olhos nos dele.
Com isso, deixou um sorriso escapar e seguiu seu caminho para fora do vagão.
Seria interessante encontrá-la outra vez.
sentiu o corpo agitado com toda aquela correria em seu turno.
A livraria estava com muita movimentação e pelo que se recordava, só havia parado para comer algo rápido, já que dependia daquela comissão.
Não podia reclamar. O trabalho havia chegado no momento certo.
Quando terminou de ajudar o último cliente, deixou o corpo recostar em uma das bancadas mais próximas e respirar fundo, descansando um pouco pela primeira vez naquele dia tão corrido.
Observou o lugar atentamente, se lembrando de como gostava de trabalhar com o que lhe fazia feliz. Era quase como se não fosse um trabalho. Se divertia ali.
Caminhou pelos corredores ao notar que o movimento havia se dispersado minimamente e passou um dos dedos entre os livros limpos e novinhos.
Amava o cheiro que aquele lugar emanava. Era como estar no céu.
Aos poucos, o fim de tarde ia aparecendo pelas janelas de vidro da Kyobo, mostrando as nuvens acinzentadas e o céu alaranjado. De onde estava, observou como a paisagem era maravilhosa e aproveitou que tinha um pequeno horário de folga antes do final do expediente, para desenhar um pouco o que estava vendo.
E, enquanto o relógio mudava de horário gradativamente, não parecia notar que já estava quase na hora de se despedir de seus colegas de trabalho. Era fato de que toda vez que desenhava, se esquecia do mundo ao redor e o único que importava para ela, era aquele que tinha em suas mãos, seu caderno.
Folheou uma das páginas antes de fechar e seus olhos focaram no esboço do rapaz que havia desenhado no dia anterior.
O desenho havia ficado tão detalhado, tão único... achou incrível, principalmente de tê-lo feito às pressas, e por mais que faltasse alguns detalhes, não a incomodava.
Tinha ficado bom. E com toda certeza ela o guardaria.
Se pegou pensando nele brevemente e sentiu o peito apertar, em um sentimento confuso. Ela queria tanto conhecê-lo melhor e era estranho ter essa vontade já que ao menos o conhecia. Se lembrou do sorriso no canto dos lábios e dos olhos focados em si.
Pelos céus, quem era aquele homem?
Olhou para o relógio e notou que seu expediente havia acabado, então aproveitou para se arrumar e pegar suas coisas para ir embora.
Tinha que admitir que estava cansada e que o dia tinha sido corrido, mas sentia uma sensação prazerosa tomar conta de si.
colocou a bolsa nos ombros, se despedindo de seus colegas e segurou o caderninho com força entre os dedos antes de sair do local, mas antes mesmo de colocar os pés para fora, sentiu o corpo ser levado para trás com o impacto de outro batendo em si.
O caderninho que segurava havia caído ao chão fazendo com que começasse a se desculpar imediatamente.
— Mil desculpas. Realmente não estava olhando para frente — comentou, se abaixando para pegar o objeto.
— Não precisa se desculpar. Eu que devo fazer isso, já que estava apressado.
Ouviu a voz masculina dizer e ergueu o olhar para ver com quem falava.
E aquilo havia sido como se toda a cena do metrô voltasse em sua mente ao ver o sorriso estampado nos lábios do rapaz que a olhava.
Era o rapaz que tanto observava no vagão ao ir trabalhar.
Sentiu seu coração aquecer, e a única coisa que conseguiu fazer foi sorrir de volta.
Como se sua mente tivesse bloqueada qualquer palavra que pudesse dizer.
— Não tem problema. De verdade.
Sussurrou, notando que ele ainda a observava.
— Me lembro de você — ele comentou, quebrando o silêncio que havia se instalado entre os dois. — Tenho a vaga lembrança de ter te visto no metrô ontem pela manhã.
— Sim, sou eu — balançou a cabeça, ainda com o sorriso no rosto. Teve um estalo na mente no segundo seguinte. — Ah… Sei que vai parecer estranho, mas... Você deixou isso cair em um dia desses. Fiquei de te entregar, e…
Ele balançou a cabeça enquanto ela estendia o marca-página em sua direção.
conseguia sentir o quão leve era a presença do rapaz e mesmo o vendo tão séria em quase todas as vezes, aquilo parecia ser um detalhe mínimo.
Puro charme do rapaz. E era encantador.
— Eu sei. Vi que estava com você hoje — deu de ombros, observando o objeto em suas mãos. — Por mais que tenha ficado intrigado de tê-lo perdido, fiquei satisfeito em ver que estava com você.
— Ah...
Sentiu suas bochechas corarem com o comentário. Nunca imaginaria que aquilo aconteceria.
— Você trabalha na Kyobo? Estava aqui por perto e resolvi por comprar um livro novo.
— Trabalho sim. Inclusive, se ainda quiser aproveitar, a livraria está aberta. Uma pena que eu esteja de saída.
Apontou para o local atrás de si e sorriu, apertando sua bolsa e o caderninho em mãos.
nunca havia sentido o coração palpitar tanto.
— E você tem algum compromisso agora?
Franziu o cenho, o olhando. Sua pergunta a pegou de surpresa.
— Não tenho.
— Bom... Adoraria companhia para escolher algo novo e tenho certeza que você seria a pessoa certa para isso — pisco
u para ela, deixando o sorriso de canto aparecer mais uma vez.
desviou o olhar brevemente, sentindo as bochechas queimarem.
Seria ótimo conhecê-lo melhor. Não precisava pensar duas vezes.
— Claro. Eu te acompanho, sim.
— E, se você quiser, também pode me contar melhor sobre o esboço que vi em seu caderno. Parece muito com alguém que conheço.
Deixou uma risadinha escapar, notando a expressão surpresa da mulher à sua frente.
Ela não fazia ideia de que ele havia visto e aquilo fez seu coração tamborilar dentro do peito, ainda que a deixasse aliviada por notar a expressão divertida no rosto do rapaz.
Ele parecia mesmo interessado no que havia desenhado.
— Eu te conto, sim. Se me acompanhar para um café depois.
Ele piscou e se pôs ao lado da mulher, a vendo se virar e se ajeitar brevemente. Os dois se olharam por alguns segundos, sorrindo um para o outro.
Parecia loucura demais, os dois pensavam.
E, de certa forma, o destino parecia ter dado seu jeitinho para encaixar os caminhos tão distintos que os dois tinham.
— Achei que não convidaria. A propósito, me chamo — disse, ouvindo a risadinha leve da mulher próximo a ele. se apresentou da mesma forma. E, com isso, estendeu seu braço, para que ela o pegasse. — Me acompanha?