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✮⋆˙Autora Independente do Cosmos✮⋆˙

Última Atualização: 31/10/2024



A completa escuridão me desnorteava, cegando-me momentaneamente enquanto meus olhos tentavam, em vão, enxergar algo além daquele véu opressor de sombras. Mas, para onde quer que eu olhasse, tudo que via era um mar negro, incapaz de distinguir onde terminavam as paredes e começava o chão.
Uma dor aguda, como o pontada de uma agulha, latejou em meu pescoço, intensificando meu nervosismo e fazendo meu coração bater tão alto que o tum-tum-tum ecoava em meus ouvidos. Eu não fazia ideia de onde estava, mas meu sexto sentido gritava que eu não deveria estar ali.
Observei o lugar mais uma vez, a escuridão parecia ainda mais densa e opressiva. Um arrepio percorreu meu corpo quando meus olhos se fixaram em algo que parecia uma parede, embora eu não tivesse certeza — as sombras que abraçavam a estrutura ondulavam e escorriam até o chão. Um cheiro pungente e metálico dominou o ar, embrulhando meu estômago enquanto mais sombras se espalhavam. O cheiro se tornou mais presente…
Não eram sombras. Era sangue.
Sangue escuro e denso, que parecia misturar-se à escuridão. Saquei a faca presa à minha coxa, assumindo uma postura defensiva, esperando que criaturas da noite emergissem de seus esconderijos sombrios para me atacar.
Uma risada grave ecoou na escuridão, tensionando todos os meus músculos e me enchendo de pavor.
— Finalmente nos encontramos, criança. — A voz, antiga como o próprio tempo, parecia ecoar de todas as direções. — Você não precisa me temer... ainda.
Apertei a faca em minha mão, ignorando o suor que se acumulava em minha palma.
— Quem é você? O que quer de mim? — O medo e o nervosismo estavam claros no meu tom de voz, mas não me importei em escondê-los. Seria inútil. Se esse ser era tão antigo quanto sua voz denunciava, certamente podia sentir o terror que me fazia tremer levemente. Se fosse uma das criaturas infernais, conseguiria até mesmo sentir o cheiro do meu medo.
Esperei por sua resposta, observando o sangue escorrer pela parede e se acumular no chão, parando a poucos centímetros de meus pés.
— Eu sou o seu destino.



O cheiro de cerveja barata me envolve completamente assim que cruzo a porta de madeira, atraindo os olhares atentos de todos os homens espalhados pela taverna. A visão de uma mulher desacompanhada entrando ali, tarde da noite, não é comum. Evito contato visual com qualquer um deles e sigo para a mesa mais afastada, mantendo o olhar fixo no chão, embora sinta o peso dos olhares curiosos sobre mim.
A capa negra encobre meu rosto, mas o contraste entre o tecido escuro e o tom avermelhado do meu cabelo, que escapa dos capuzes, chama a atenção. Partes de minha pele pálida, ainda que quase ocultas, parecem ainda mais expostas sob as luzes fracas do ambiente.
Me acomodo cuidadosamente na cadeira bamba, ainda sentindo dor pelo meu corpo sempre que mudo de posição.
— Boa noite, senhorita. Como posso servi-la? — A voz suave e feminina soou após alguns minutos, desviando minha atenção para a jovem à minha frente, que aparentava ser alguns anos mais nova que eu.
O peso da faca em minha coxa se fez presente enquanto eu encarava a jovem que não devia estar fora de casa tão tarde. Eu sabia que ela estava trabalhando, mas as criaturas da noite não se importavam com isso.
Qualquer um que cruzasse seus caminhos encontraria uma morte brutal, e aquela garota não duraria cinco segundos.
Meu estômago roncou, me despertando dos devaneios sombrios que começavam a dominar minha mente.
— Qual o prato mais barato do dia? — questionei, minhas mãos alcançando o gasto e leve saco de moedas.
— Ovos cozidos com queijo de ovelha derretido e pão fresco.
Contentei-me em concordar com um aceno de cabeça, não seria a minha primeira escolha e nem acabaria completamente com a minha fome, mas eu não podia gastar o resto das minhas moedas hoje.
— Duas moedas de cobre. — O olhar da jovem desceu até as minhas mãos, arregalando os olhos ao focar a atenção no pano encardido que agora se encontrava quase inteiramente vermelho após conter o fluxo de sangue da minha mão direita.
Catei rapidamente as duas moedas, criando a noção que agora eu possuía menos de dez, e as depositei na mesa. Deixei meus olhos vagarem pela pequena taverna enquanto minha mente buscava maneiras de conseguir mais moedas; uma única refeição por dia já não era suficiente. Após mais alguns dias me alimentando precariamente, eu mal conseguiria me proteger. Contudo, a fome não era minha única inimiga, as noites passadas ao relento, dormindo no chão, também estavam cobrando seu preço.
A jovem retornou em um movimento ágil, colocando o prato à minha frente com uma leveza quase automática. Seu sorriso, embora cordial, não alcançava os olhos, que me encaravam de forma desconfiada. Em um instante, ela desapareceu, tão rápido quanto havia aparecido, deixando-me apenas com o aroma reconfortante da comida.
Os dois ovos no prato eram tão pequenos que eu duvidava que realmente eram de galinha, e o pão parecia tão duro quanto uma pedra, quase impossível de cortar. No entanto, aquela refeição ainda era melhor do que passar fome.
Peguei o talher de madeira e comecei a comer. O sabor não era dos melhores, mas, com a fome que me consumia, eu teria coragem de devorar até uma pedra mergulhada em ensopado de pombo.
Um burburinho próximo à entrada chamou minha atenção. Um velho corpulento, que eu imaginava ser o dono da taverna, estava parado à porta, numa tentativa tola de impedir que o homem do lado de fora entrasse. O desconhecido era maior em todos os sentidos: tinha vários centímetros a mais que o velho e exibia músculos definidos, enquanto o outro era completamente arredondado.
— Saia d-da minha frente, Radu, ou se-serei obrigado a tirá-lo à força. — Sua voz grossa e rouca combinava perfeitamente com seu porte físico e com a cicatriz que cortava o olho esquerdo, estendendo-se quase até o canto da boca.
— Acredito que o senhor já tenha bebido bastante.
— Eu dis… — A frase foi cortada por um soluço. — Discordo.
Arregalei os olhos, antecipando uma cena em que o velho tentaria expulsá-lo à força, mas o desfecho foi outro. O menor apenas encolheu os ombros, derrotado, e se afastou, abrindo passagem enquanto murmurava algo inaudível.
Observei o desconhecido entrar com passos pesados e trôpegos, mal conseguindo se manter em pé. Seus olhos semicerrados e o jeito vacilante deixavam claro que ele tinha bebido além da conta. A cada passo cambaleante, ele parecia desafiar o próprio equilíbrio, até que finalmente avistou uma cadeira vaga e se deixou cair nela, como se cada músculo de seu corpo tivesse cedido ao mesmo tempo. O ranger da madeira sob seu peso ecoou pela taverna junto com a sua voz:
— Um copo de cerveja.
A mão trêmula do desconhecido jogou um punhado de moedas na mesa — mais de cinco — e xinguei baixinho, indignado. Eu ali, catando cada moeda para garantir uma mísera refeição por dia, enquanto aquele desgraçado esbanjava o próprio dinheiro em cervejas sem nem contar o troco. O copo valia apenas três moedas, mas ele estava tão bêbado que pagava a mais sem sequer perceber, ou se importar. As moedas rolavam na madeira da mesa, e ele nem parecia notar, os olhos já perdidos e as mãos desajeitadas.
. — A voz grossa ressoou por toda a taverna enquanto a jovem de antes encarava o bêbado.
Aquela não era a sua voz, ela tinha falado comigo mais cedo. Algo estava errado.
A pontada na minha nuca despertando o meu sexto sentido... Demônios.
— Porra! — O bêbado pronunciou de forma arrastada, pondo-se de pé com dificuldade e falhando ao adotar uma posição defensiva.
Antes que eu pudesse piscar, a pele da jovem foi rasgada ao meio, e um grito gutural ecoou pela taverna, paralisando todos ali. Um silêncio tenso tomou conta do lugar, quebrado apenas pelo som úmido e nauseante de carne se retorcendo enquanto a criatura destroçava a pele humana.
Era descomunal, quase o dobro do tamanho do bêbado. Sua pele, escura como a noite sem lua, brilhava de forma sinistra, destacando suas presas pontiagudas, maiores que as de qualquer lobo, de onde pingava um líquido viscoso que caía no chão, queimando a madeira. Os olhos, vermelhos e flamejantes, transbordavam ódio puro, cravados no bêbado como se ele fosse o alvo de uma vingança que vinha de eras.
O ar ao redor parecia pesar, carregado de um cheiro metálico e azedo que fez meu estômago se revirar. A tensão era tão densa que nenhum dos poucos presentes ousava se mexer, como se até mesmo o menor ruído pudesse ser interpretado como uma provocação fatal.
Eu já tinha encontrado algumas criaturas da noite antes, mas nenhuma se comparava aquela.
— Podemos acabar logo com isso para eu tomar minha cerveja? — A pergunta saiu em um tom quase entediado, provocando um silvo de puro ódio do demônio, que, no instante seguinte, o demônio avançou como uma sombra densa e cruel, um borrão de força e ódio.
A luta se desenrolava diante de mim, e o desconhecido enfrentava a criatura com uma bravura que eu não esperava de um bêbado. Antes que a criatura o abocanhar, ele moveu-se rápido e precariamente para o lado, sacando o mais belo chicote que eu já tinha visto.
A lâmina do chicote silvou no ar, cortando a escuridão em movimentos rápidos e certeiros. Ele o estalava como se dançasse em meio à fúria da criatura, desviando de suas garras afiadas com uma velocidade impressionante, mas cada golpe parecia apenas irritá-la mais. As presas do demônio brilhavam sob a luz das velas da taverna, e a cada ataque bloqueado, ele ficava mais frenético, mais imprevisível.
O demônio pulou para o lado, o chicote cortou o ar, estalando como um trovão, e a ponta metálica brilhou de forma ameaçadora. Mas a criatura se esquivou, abrindo a boca em um estranho sorriso assustador.
— Você se cansa rápido. — Zombou o demônio, os olhos vermelhos brilhando de malícia. — Já foi mais forte, não foi? Lembra de como lutou até o fim para tentar salvar a Sypha? E falhou?
O golpe atingiu o desconhecido como uma lâmina, e eu pude ver seu olhar escurecer, a bravura se desvanecendo em um instante. O rosto do homem mudou, endurecendo, mas o brilho feroz de antes se apagou. Ele hesitou, e nesse pequeno instante, o demônio avançou, esmagando-o contra a parede com um riso sádico. O chicote caiu de sua mão, e meu coração disparou.
O cheiro metálico do sangue inundou o ar, e percebi que ele estava vulnerável. Ele morreria. Minhas mãos se fecharam ao redor do cabo do chicote, e eu me levantei, o coração acelerado.
Sem pensar duas vezes, lancei o chicote. O metal cortou o ar, e a ponta atingiu o demônio com precisão, cravando-se em sua carne escura. O efeito foi instantâneo. Ele se contorceu, um grito agonizante escapando de seus lábios, enquanto eu puxava com força, sentindo o poder do chicote agindo. A criatura se debatia, sua força desaparecendo enquanto o metal absorvia sua essência.
Com um último esforço, arrastei-o para baixo, e o demônio desmoronou no chão, os olhos ardendo de ódio se apagando lentamente. O silêncio caiu sobre a taverna, interrompido apenas pelo som de seu corpo pesado atingindo o chão. Eu respirei fundo, o coração ainda acelerado, mas minha atenção logo se voltou para o desconhecido. Ele estava caído, ofegante e ensanguentado, uma expressão de dor misturada com incredulidade em seu rosto. Nossos olhares se cruzaram, e, por um instante, tudo ao nosso redor desapareceu. Ele tentou se levantar, mas a fraqueza dominava seu corpo.
— Você... — murmurou ele, sua voz trêmula, a raiva misturando-se com gratidão. — Quem é você?
Me aproximei dele, ajoelhando ao seu lado e ignorando a poça de sangue que começava a manchar minhas roupas. Depositei o chicote no chão, próximo a seu corpo, depositando toda a minha atenção no enorme rasgo em forma de garras que ele exibia na barriga.
— respondi, simplesmente.
Desamarrei minha capa, sentindo a leve brisa eriçar meus pelos, e saquei a faca da coxa. Com um movimento ágil, cortei o tecido preto em várias tiras, criando bandagens improvisadas para envolver o torso do desconhecido. A ideia de arruinar a única peça de roupa boa que possuía em um homem cuja identidade era um mistério parecia absurda, mas não havia tempo para hesitação.
— Eu salvei sua vida, acho que mereço saber seu nome — falei, enquanto tentava estancar o sangue, pressionando as tiras de pano contra os cortes.
— Eu não precisava de ajuda.
Uma risada descrente escapuliu dos meus lábios. Ele só podia estar brincando.
— Claro, se você realmente quisesse acabar morto — retruquei, desafiando sua aparente bravata.
— Talvez seja isso que eu mereça — ele respondeu, sua voz tão fraca que eu me perguntei se realmente tinha escutado sua resposta depreciativa. — Sou , .
Uma tosse rasgada acompanhou o final de sua frase. A cada tremor de sua barriga, mais sangue jorrava, e gemia de dor. Precisávamos agir rapidamente ou ele não sobreviveria.
— Isso não está nada bem, hm? — comentou, tentando suavizar a situação.
— Tem algum lugar para onde eu possa te levar? — perguntei, ignorando a sua falha tentativa de amenizar o clima.
Ele hesitou, seus olhos revelando desconfiança. Era evidente que não confiava em mim, mesmo que eu tivesse acabado de lhe salvar. Outra pontada de dor o acometeu, forçando-o a se concentrar em suas duas únicas escolhas: confiar em mim ou morrer ali.
— A mansão da minha família, perto de Gresit. Tenho um velho amigo lá.
— Qual é o nome do seu amigo? Duvido que você consiga se manter são até lá. — A desconfiança voltou a brilhar em seu olhar, mas a urgência me forçava a perguntar. — Vamos lá, , preciso saber quem procurar quando a febre roubar a sua sanidade.

O nome cortou o ar entre nós, provocando arrepios ao longo da minha espinha. Iríamos ao encontro do filho do maldito Conde Drácula. E a pior parte? Eu não estava assustada, pelo contrário, havia uma estranha eletricidade no ar que me deixava alerta e intrigada.


Continua...


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Nota da autora: Essa fic nasceu de um surto após eu assistir Castlevania com o meu namorado e jurar que Trevor, Sypha e Alucard eram um trisal, mas a Netflix não realizou meu sonho, então coube a mim criar uma fanfic onde Trevor e Alucard fariam parte de um trisal, mas a liberdade artística me fez matar a Sypha e criar uma personagem original haha

***Bound by Darkness se passa após o final da segunda temporada de Castlevania. Estão os acontecimentos citados aqui são uma completa criação e não se baseiam em nada da terceira temporada.***


Confira minhas outras fanfics:
A Week In Bali [Liam Payne — Restritas — Shortfic]
Are You The One? [Originais — Restritas — Longfic]
Endless Winter [Mitologia — Restritas — Longfic]
Flames of Redemption [Mitologia — Restritas — Longfic]
Heavenly Flames [Mitologia — Restritas — Longfic]
I'll Never Let You Fall [Originais — Restritas — Shortfic]
Stone Eyes [Mitologia — Restritas — Longfic]
When Love's Around [Originais — Romance de Época — Shortfic]


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