━Autora Independente do Cosmos.
Atualizada em: 24.11.2024
Passou o braço pela cintura dela, a trazendo mais perto de seu corpo, ainda de olhos fechados. Deixou um beijo casto no final da nuca de , roçando a ponta de seu nariz ali por entre os fios, o suficiente para sentir ela se contrair em seu abraço.
— Bom dia — disse rouco, buscando o pé da orelha dela.
se remexeu preguiçosa, entrelaçando sua mão à dele, que estava em sua cintura, espalmando sua barriga nua. Seus olhos se abriram devagar, acostumando-se lentamente com a claridade que estava adentrando o quarto pelas janelas que ficaram abertas, cobertas apenas pela fina camada de cortina de seda cor creme. Estava muito claro e ela teve a certeza, antes de bater o olhar no relógio da mesinha de cabeceira, que já deveria estar perto do meio-dia.
E estava certa. Na tela digital marcava onze e meia da manhã, lhe fazendo sair dali em um sobressalto, assustada e assustando Kihyun por sua pressa.
— ? Está tudo bem? — Ele perguntou, vendo-a correr para o banheiro.
Com a falta de resposta, Kihyun foi atrás, encontrando-a do lado de fora do box de banho, escovando os dentes de frente com a pia. Poderia facilmente se perder na visão que tinha à sua frente, com totalmente nua e descabelada, pressionando a escova de dentes como se a força fosse capaz de amenizar seu atraso — fosse lá o motivo dela estar atrasada —, porém, conhecendo-a bem o suficiente, não entraria nesse mérito àquela hora.
Cruzou os braços, escorando-se no batente da porta enquanto a observava com os olhos brilhantes.
Quando ela enxaguou a boca e se reergueu, prendendo o cabelo, pareceu ter acordado de seu mundinho e o percebeu ali, vendo-o pelo reflexo do espelho. Sorriu de forma sutil.
— Bom dia… Me desculpa — franziu o nariz. — Estou atrasada para uma reunião. — Se dirigiu para o box, ligando o chuveiro.
O cenho de Kihyun se franziu, unindo suas sobrancelhas, mas ele não se moveu. De onde estava, ainda conseguia ver por completo, mesmo que o box transparente estivesse começando a ficar embaçado por causa do vapor da água quente que saía do chuveiro.
— Você tem tido muitas reuniões ultimamente… — comentou, usando um tom ameno. — Achei que sua relação com Shownu tivesse acabado.
A resposta demorou a vir e ele notou o descontentamento no tom dela.
— Mas isso não tem nada a ver com ele. — suspirou, passando a mão no vidro do box para eliminar o embaçado, e o chamou com o dedo.
Kihyun entrou, ligando o segundo chuveiro de frente com o que ela estava usando.
— Estou indo encontrar Matty Simons. É sobre aquele… — Ela contraiu a mandíbula e ele pôde sentir em seu interior o que estava por vir. Já tinha um pouco de conhecimento sobre o assunto. — Leilão.
Os lábios de Kihyun se afinaram em um sorriso fechado, reto, demonstrando sua incredulidade.
— Não pense em começar com o sermão sobre ele. — lhe apontou o dedo.
— Você só pode estar brincando comigo… — Ele soltou um riso nasalado, passando a mão pelo rosto; deu um passo para trás, se colocando embaixo da água gelada. Acreditou que esse processo poderia ter lhe feito acordar de um possível sonho, mas estava enganado. Com o olhar que ela estava direcionando a si, ele teve sua resposta para o comentário retórico. — Não, você não está brincando. E como quer que eu acredite que sua relação com Shownu acabou?
— Mas um não tem absolutamente nada a ver com o outro, Kihyun, para de ser idiota. — Desta vez foi ela quem se colocou embaixo da água, passando as mãos no rosto, apenas tomando cuidado para não molhar o cabelo, não tinha tempo para isso. — Shownu não sabe exatamente sobre meu envolvimento com Matty…
— Envolvimento? — Kihyun riu. — Isso está ficando melhor…
respirou fundo, desligando o chuveiro e interrompendo seu banho.
— O que eu faço ou não da minha vida, não lhe diz respeito algum, Kihyun. Você tem os seus negócios com a Odium e eu tenho os meus — apontou o dedo para ele, soando um pouco mais furiosa. — Goste você ou não da ideia, mas eu sou a melhor ladra de joias que esse mundo já teve, e pelo meu mérito as pessoas me procuram… Assim como procuram Shownu para fazerem negócios importantes e a você, quando querem uma vida boêmia.
— Não é sobre isso, . — Ele abaixou o dedo dela, murchando os ombros. — É pelo perigo. Matty é um zero à esquerda que acredita somente no poder do dinheiro. Ele não tem visão de horizonte.
— E nós somos melhores que ele em que? Sabe me dizer? — riu fraco. — Tudo gira em torno do dinheiro, Kihyun. Nós andamos em volta dele; matamos, roubamos, mentimos… Por luxo.
— No seu caso é por querer, você não precisa se submeter a isso para ter o luxo que quer e merece.
— Mas viver do seu dinheiro me faria uma criminosa por tabela, meu bem. Ou você está sugerindo que eu volte ao meu noivado com Shownu?
A sobrancelha arqueada de e sua feição desafiadora fez com que Kihyun respirasse fundo. Haviam alguns pontos para que ele considerasse aquela discussão.
Primeiramente: não, ele jamais apontaria que ela fosse em direção ao ex noivo, não depois de tantas idas e vindas para que finalmente ela só tivesse chegado em sua vida — pelo menos aparentemente até aquela manhã, pois ele sabia que se ela tinha uma reunião com Matty sobre o tal leilão, teria passagem marcada para qualquer lugar do mundo dali a pouco; o que, automaticamente, lhe guiava ao segundo ponto.
O leilão.
Era muito dinheiro envolvido em uma ideia genial de alguém que tinha tanto dinheiro, mas com gana de ter muito mais, embora fosse um planejamento para longo prazo, visto que as jóias — pedras preciosas em sua maioria — leiloadas seriam fruto de roubos que, pela vazão lógica, seria contratada a fazer. Matty queria e iria lucrar muito com a venda de todo esse roubo, sendo somente o ditador de movimentos, sem colocar um dedo para a prática.
Ele sabia que não era nenhuma donzela indefesa, mas não queria vê-la sendo usada para algo que iria beneficiar somente o americano magnata, nojento, que ele recebeu algumas vezes na Odium; porque aquele plano iria levá-lo a cifras incontáveis. O potencial que ela tinha não deveria ser usado de forma tão egoísta assim.
Ainda mais se fosse algo que iria levá-la para longe de si por muito tempo, afinal, em uma das conversas que haviam tido sobre tal assunto, lhe contou onde poderia encontrar os diversos itens valiosos pelo mundo inteiro. Em diversos países, outros continentes, longe de tudo.
Longe dele.
— Você não pretende voltar atrás nessa, não é mesmo? Quão avançado vocês dois estão? — perguntou a ela.
deu de ombros, saindo do box e pegando uma toalha para se secar.
— Acredito que hoje eu já pegue meu passaporte — disse.
— E não ia me contar? Ia sumir de novo pelo mundo e voltar depois de um tempo com um noivado público? — Kihyun disparou, ainda embaixo da água.
Ela se virou para ele.
— Quando eu voltei de Paris você estava saindo com aquelazinha que eu sequer faço questão de lembrar o nome — revirou os olhos, passando a toalha na nuca. — E não me faça de vilã nisso tudo, nossa relação só envolve sexo e um carinho aqui ou ali, nunca demos satisfações um ao outro. Se você acha que só porque eu tenho passado noites aqui vou me tornar uma submissa, está muito enganado. Eu também tenho minha forma de ganhar dinheiro e minha vida, Kihyun.
— Não é isso. Mas eu achei que estávamos juntos.
— E estávamos. Agora eu preciso ir trabalhar, como sempre fiz, ir e voltar. — parecia tranquila em suas palavras, enquanto terminava de se secar. Enrolou o pano no corpo e colocou as mãos na cintura.
— Você vai ficar quanto tempo fora? — Kihyun a perguntou de forma a entender que o assunto não iria se prolongar em discussão.
— Não sei. — Ela suspirou, soltando os braços. — Escuta, pode demorar mais do que das outras vezes. É algo que eu vou fazer em todos os continentes do mundo, é longo… Demorado. Entendo sua necessidade de não esperar por mim e está tudo bem.
— No fundo você sabe que sempre vou apostar na sua volta.
moveu os lábios minimamente, subindo uma das pontas em um sorriso ladino. Deu os curtos passos até Kihyun, passando a mão pela nuca dele e o puxando para lhe beijar, mas pausando o movimento para o encarar profundamente quando estiveram com os rostos tão próximos e os narizes se roçando, com ela fazendo o máximo para se manter na ponta dos dedos.
— Eu vou estar longe, gatinho, mas não se esqueça que knows best… Eu sempre vou saber sobre tudo — sussurrou, passando a língua pelos lábios. — E confia em mim, ninguém jamais vai tirar vantagem em cima de .
Kihyun abriu um enorme e brilhante sorriso, entendendo toda a referência que ela carregava em suas entrelinhas.
E se estivesse certo, toda a sua reconsideração sobre Matty Simons ser um babaca que iria sair na melhor, cairia por terra. As mesas poderiam virar. Ela com certeza tinha cacife para isso.
— Mande sinais de fumaça se for preciso — passou o braço pela cintura dela, colando-a mais contra seu corpo molhado, enquanto a outra mão se fechou à lateral de seu pescoço.
— Sabe que não deixo rastros. Mas irei ver o que posso fazer por você.
A sincronia nos sorrisos ladinos se perdeu somente por conta do beijo que se iniciou, fervoroso e ritmado como sempre.
E era uma lembrança de pouco mais de dois anos antes, mas que ainda assim fazia suspirar e sentir em algum lugar de seu corpo uma leviana saudade. Desde que havia caído na estrada, entrado em sua rota de roubos e tomado o foco de seu trabalho, algumas coisas tinham entrado em seu radar de forma diferente. Nunca fez tanto sentido com a realidade o fato de ela saber demais — e, às vezes, odiava isso.
Não demorou muito para Kihyun se vender aos encantos das amantes que a Odium poderia oferecer. Shownu, que antes era a personificação de um príncipe do maravilhoso mundo da Disney, agora tinha sua máscara caída, igual às cabeças que ele decapitava em nome da sua doentia visão de mundo; se sentiu idiota por achar que abandonar o noivado foi ridículo de sua parte, por perder um homem tão incrível como ele, mas agora ela sabia que era tão podre quanto qualquer outro. No fim, ela tinha um dedo podre. Matty, seu pseudo chefe, também era um idiota sem tamanho, valeria apenas o trabalho e o dinheiro final. Nada além disso.
— , precisamos ir. O carro carro chegou. — Chaeyeon, sua assistente que vinha lhe acompanhando desde o início do trabalho, tocou em seu ombro, acordando-a do profundo devaneio que havia entrado.
Estavam voltando para a Coreia do Sul. Isso não assustava , mas trazia a tona muitas ideias.
— Sim. Já destruíram todas as evidências? — respirou fundo, virando-se para Chaeyeon.
— Não há nenhum rastro. Todas as câmeras foram resetadas. Sem provas de que estivemos aqui.
— Perfeito.
— Você não vai tirar todo o disfarce? — Chae estranhou, olhando-a por inteiro.
— Não. A modelo está em um retiro espiritual há dois anos, ninguém pode me ver chegando em Incheon. — começou a andar para fora do escritório. A casa em que estavam instalados no mediterrâneo era de construção muito antiga, os saltos do par de botas faziam um barulho alto no assoalho, e conforme foram caminhando, as outras membros daquela equipe acenavam em despedida. — E eu também não quero que saibam que estou voltando.
— Nem o Matty?
— Infelizmente ainda preciso dele. Por pouco tempo. — suspirou. — Por enquanto só ele pode saber.
Ao saírem da casa e descerem a escadaria, se virou uma ultima vez antes de entrar no carro.
Uma etapa tinha finalizado, mas por mais longa que tivesse sido, ainda não era a mais difícil.
— Você sabe o que o amor e o dinheiro tem em comum, Chaeyeon? — chamou a atenção da assistente. Chae ajudava o motorista a colocar as coisas no carro.
— Não. O que eles têm em comum?
— Ambos são uma aposta. — soprou um riso. Chaeyeon não entendeu. — A gente sempre arrisca amor e dinheiro esperando receber mais. No final, nem toda aposta é garantida.
— E você prefere apostar no que?
— Dinheiro, Chae. No dinheiro eu nunca perdi.
Com dois tapinhas no ombro de Chaeyeon, entrou no carro, esperando para partir.
Continua...
Nota da autora: Olá! Espero que você tenha gostado, e obrigada pela sua leitura. Até a próxima!
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