Independente do Cosmos🪐
Última Atualização: 31/10/2024 🎃
30 de outubro
3:33 am
3:33 am
A ventania fora da casa poderia arrastar qualquer ser humano, mas, para o clima estava mais do que perfeito. A madrugada estava fria, a lua no alto do céu, as estrelas alinhadas exatamente no ponto em que as poucas nuvens não as cobriam e o Cometa Lovejoy rasgava a escura atmosfera do planeta.
Estava na hora.
O feitiço que lançaria em questão de segundos, era o mais poderoso desde então, e para isso, sua mágica sozinha não era capaz de conjurá-lo, por isso, ela usaria os poderes místicos de uma força da natureza.
A jovem bruxa carregou o livro de feitiços abraçado aos braços caminhando até o quintal de sua casa. O vento forte e frio cortava sua pele, arrepiando seus pelos e bagunçando os cabelos, mas ela não poderia se importar menos. Estava determinada em seguir com aquele plano maluco e completamente perigoso.
Afinal, conjurar um feitiço para não só revelar sua alma gêmea, como também encontrá-la trazia riscos ao mundo da magia. Desde nova, enquanto sua mãe lhe ensinava tudo sobre bruxaria, feitiços e a magia que corria em suas veias, sempre ouvia que haviam coisas que, não importa o quão desesperada uma bruxa estivesse, ela nunca, jamais, deveria usar magia para isso.
Enganar a morte, trazer alguém de volta a vida e bom… Tentar encontrar o amor verdadeiro.
Este último, ironicamente, era exatamente o que se preparava para fazer ao recitar um feitiço simples que criou um círculo branco ao seu redor que se iluminou.
— Desculpe mamãe, eu realmente estou desesperada aqui… — Ela murmurou para si mesma e também para o além, desejando que onde quer que Kassandra estivesse, ela pudesse desculpar a filha por estar quebrando uma das maiores regras do mundo da mágica.
tirou da mochila que tinha pendurada nos ombros algumas velas brancas, dois cristais de quartzo rosa — um para ela e outro para seu amado — , um espelho e água. A jovem bruxa posicionou o espelho no chão e os cristais de quartzo rosa sob seu reflexo, despejando a água de sua garrafinha por cima deles, as velas brancas ficaram dispostas ao redor dos dois objetos e, ao olhar para o céu uma última vez, viu Lovejoy cortar os céus e se aproximar da lua, no ponto mais alto de sua beleza e poder.
fechou os olhos se concentrando na imagem de fogo em sua mente.
— Incendia. — Seu latim perfeito pronunciou a palavra e assim, como num passe de mágica, todas as grossas velas se acenderam em um fogo que nem mesmo a forte ventania proveniente do evento cósmico poderia apagar.
Seu peito subia e descia meio ofegante, o lanche rápido que fez dava voltas em seu estômago ao mesmo tempo em que um frio se apossava na mesma região. Com as mãos meio trêmulas e as palmas suadas, abriu o livro de feitiços na página que já estava marcada tão previamente.
Sob a luz do cometa, quando, ao passar pela lua todo o ambiente se iluminou como em um eclipse lunar, começou a recitar o feitiço que ela acreditava que mudaria sua vida.
Mais tarde, no entanto, ela descobriria que nem sempre as mudanças são da forma como queremos.
— Brilho do amor que cruza os céus, pelo rastro de luz que o cometa traz, que o destino revele quem ao meu coração pertence. Na cauda de Lovejoy, que o amor me alcance. Astros antigos, escutem meu chamado, que a alma certa seja agora guiada, pela magia das estrelas e pela luz do luar, que meu amor verdadeiro venha me encontrar.
Ao finalizar as palavras, tendo canalizado toda aura mágica do cometa, as chamas das velas se apagaram repentinamente e então o espelho e os quartzos explodiram em uma única chama intensa e vivaz.
— O q-quê…?
Os olhos de se sobressaíram e ela voltou a atenção para o livro de feitiços, nervosa.
Em tese, aquilo não deveria ter acontecido.
O feitiço tinha dado errado.
Desesperada e com o fogo passando a se alastrar para além dos objetos do feitiço original, a jovem bruxa saiu do círculo branco em um pulo, fechando o livro de feitiços e o apoiando abaixo do braço.
— Motus! — titubeou em latim, balançando o braço livre em direção a chama ardente. O fogo foi extinguido assim que a palavra chegou ao fim, deixando a mulher orgulhosa de si mesma por um breve momento.
Podia não estar acostumada a lançar feitiços tão complexos como aquele — ou qualquer outro em que precisasse de elementos para canalização de mais magia —, mas conseguia controlar, manusear e manipular a pirocinese como nenhuma outra bruxa conseguia.
Com as chamas completamente apagadas, não conteve o suspiro derrotado ao se aproximar das velas, espelho e dos dois quartzos. Além deste último citado, o fogo tinha sido tão intenso que tudo havia sido reduzido para nada mais do que cinzas.
Um grunhido frustrado saiu do final da garganta da mulher, deixando claro a decepção em não só perceber que o feitiço tinha dado errado, como também ao olhar para o céu, constatar que Lovejoy já tinha passado do ponto alto da lua.
Não havia mais evento cósmico para canalizar tanto poder da natureza e, sozinha, sabia que não tinha a magia necessária para reproduzir o feitiço novamente.
Ela voltou para o interior da sua casa sem se preocupar em pegar as pedras de quartzos que ainda estavam inteiras, afinal, olhar para aquelas duas pedras era um lembrete de seu fracasso para um feitiço que parecia ser tão simples.
O esperado, tal qual como o livro de feitiços deixava claro, era que após finalizar a conjuração, o cometa respondesse enviando uma estrela cadente para selar o feitiço, assim como uma luz suave e prateada envolvesse a pedra de quartzo rosa.
Se tivesse esperado mais um pouco, se a sensação de derrota e reprovação não tivesse a feito entrar correndo para casa, ela teria visto que os cristais de quartzos começaram a brilhar sob as cinzas que as envolviam.
Assim como duas estrelas cadentes cortavam os céus.
Continua...
Nota da autora: Esta autora ainda se encontra sem palavras para esse surto coletivo. Porém, peguem leve, Polaris aqui nunca escreveu nada parecido com isso antes.
Se você encontrou algum erro de codificação/revisão, entre em contato por aqui.
0%