━Autora Independente do Cosmos.
Finalizada ✅️
Mas não naquele ano. Aquele ano era para ter sido diferente. Claro, se dependesse apenas dela.
O Hotel WaterButter, especialmente frio nessa temporada, contava com visitas ilustres e chocantes, segundo Nina ao telefone. A promessa de grandes gorjetas — e também a recente traição e pé na bunda daquele idiota Richard Hopkins — a fizeram pegar o primeiro trem de Oslo, enfrentando a viagem de 20 horas mais tarde naquele ano.
Um pedaço de gelo escorreu do teto do táxi assim que bateu a porta. Um vento forte e anormal soprava ao leste, empapando seu cabelo de neve, mas ela nem se deu ao trabalho de tentar prever o que estava por vir.
Ela atravessou a porta dupla, encontrando Nina de cabelos mais curtos e rugas salientes desde o último ano.
— Garota, achei que não fosse chegar nunca. Uma nevasca está prestes a nos atingir a qualquer momento.
Ela envolveu em um abraço enquanto dava o alerta. Não havia mais ninguém no hall, e uma grande quantidade de malas estavam espalhadas ao redor.
— O que está acontecendo? — perguntou ela.
— Os hóspedes estavam indo embora, mas a nevasca fez todos os voos serem cancelados. Eles ficarão mais um tempo. — respondeu Nina simplesmente, enquanto tomava seu lugar novamente no balcão.
— E quem são os responsáveis pela sua euforia de mais cedo?
O senhor Lloyd entrou no lugar antes que Nina pudesse responder. Junto com ele, surgiram pelo menos mais três pessoas que conversavam energicamente entre si, sem se preocuparem com cumprimentos básicos, e começaram a mover as malas em direção ao elevador.
— , você chegou! Eu já estava ficando preocupado, Nina disse que você estava vindo de última hora. — ele deu um abraço breve na garota. — Não vou dizer que é ruim, estamos com bastante trabalho por aqui, temos hóspedes importantes. — ele disse em um sussurro.
— Bom, estou aqui. — ela deu um sorriso simpático, porém robotizado. Mostrar-se solícita já fazia parte de seu trabalho. — E onde estão os visitantes?
— Voltaram aos quartos, mas não sei bem até quando. Parece que vamos ter uma nevasca daquelas este ano.
— Você deveria descansar, . Passou mais de 20 horas no trem, deve estar exausta. — Nina meteu-se na conversa antes que Emmett começasse a destilar tarefas.
— Claro, claro, , vá descansar. Ainda faltam algumas horas pro jantar, então não se preocupe.
Nina olhou feio pra ele. Era o mínimo que ele a livrasse de qualquer atividade pelo restante do dia, mas não iria opinar. Não depois que lançou-lhe um olhar feroz de esguelha.
O cômodo minúsculo onde ela dormiria ficava no térreo, próximo a cozinha. Uma cama de solteiro ao canto e um armário estreito era tudo que preenchia o lugar. Nada havia mudado desde o último ano. Talvez a pintura estivesse menos lascada, o que a lembrava dos tais convidados importantes.
Tinha uma máquina de salgadinhos ao lado do quiosque de café no segundo andar. Mesmo cansada, se permitiu ir comer alguma coisa para que o jantar mais tarde não parecesse tão convidativo. O senhor Emmett era bem rígido em relação ao lugar de cada um. Deixou as malas ao lado da porta e subiu.
Colocou a moeda na abertura da máquina, selecionando um pacote verde. O baque pareceu causar um eco ao longo do corredor, deixando claro o silêncio e o vazio, estranhos àquela hora do dia.
A não ser por um cara esperando atendimento no quiosque.
Ela conhecia Tyler e de que normalmente essa era sua função anual no resort no Natal: preparar cafés lindos e deliciosos. Ou ela tinha chegado cedo demais ou ele realmente achara alguma outra coisa mais interessante naquele ano — ou simplesmente tinha decidido não voltar. Não dava pra confiar muito na última opção pois conhecia a obsessão por controle do Emmett, e se ele visse aquele lugar vazio por um minuto sequer, uma avalanche de sermão recairia sobre todos os funcionários.
Ela se aproximou rápido e cruzou o balcão, pegando o rapaz parado ali de surpresa.
— Posso te ajudar? — ela perguntou simpática.
— Eu achei que não estava aberto. — ele comentou, olhando rapidamente para os lados. Tinha um inglês arrastado e devagar. — Aquele ali… Parece bonito. É bom? — apontou para um dos cartazes em cima da máquina, ainda receoso. Ele falava baixo, mesmo estando claro que só havia os dois ali.
olhou para o café organizado em três camadas com o detalhe em chantilly, salpicado de flocos de chocolate.
— Para ser bem sincera, não sei. — ela deu de ombros, descontraída, dando uma risada leve. — Quer descobrir?
— Tenho alguma garantia?
— Nenhuma, eu nunca o preparei. — ela respondeu, fazendo o rapaz rir. — Mas posso prometer que ele sai de graça caso você não goste.
Ele deu um sorriso engraçado ao ouvir isso, balançando a cabeça.
— Depois dessa não posso recusar.
Ela virou-se e começou a preparar o café, com delicadeza. Sua função no tempo livre era basicamente observar Tyler trabalhar, então aquilo não poderia ser assim tão difícil. Enquanto isso, o cara a observou com atenção: em nenhum momento, ela pareceu reconhecê-lo. Logo, apostou que fosse as regras do resort, mas ela as cumpria bem demais; não tinha nem aquele jeito estabanado de piscar os olhos, os mínimos sinais de gesticulação, nada.
— Você trabalha aqui mesmo? — perguntou ele, depois de um tempo, ao notar a falta de uniforme na garota.
— Digamos que isso aqui é meu bico anual de Natal. — respondeu ela, finalizando a bebida. — Apesar de que, nesse ano, eu pretendia dar uma escapada. Qual é o seu nome?
Ela cobriu o chantilly com o chocolate, de costas para o balcão, ainda esperando a resposta. Ele, por outro lado, abriu e fechou a boca várias vezes.
— E então? — ela virou-se, com a caneta esferográfica na mão. — Pode inventar um nome se quiser, o café não se importa.
Levou quase um minuto inteiro para que ele respondesse:
— Ah… Jim…!
— Ótima resposta. — ela riu enquanto escrevia as duas palavras no copo, desenhando uma carinha sorridente ao lado.
Ao entregar o café, uma sensação de familiaridade tomou seu inconsciente por um momento. Ela não sabia dizer o que era, mas aquele rosto não era estranho.
Ele cutucou os bolsos à procura da carteira, sem sucesso.
— Ei, você precisa experimentá-lo primeiro. — ela ergueu as mãos em falsa autoridade, com um brilho divertido nos olhos. — Preciso merecer o seu dinheiro de cobaia, esqueceu?
Ele riu da piada antes de bebericar o café. Uma expressão agradável atravessou seu rosto, e sorriu diante da aprovação do cliente.
— Não está tão ruim assim. — ele murmurou e ela levou a mão ao peito, teatralmente ofendida. Mais risadas vindas dele. — Quer dizer, você me chamou de cobaia. É a sua primeira vez aqui?
— Atrás desse balcão? Sim. Se não fosse por isso, você estaria sendo atendido por um cara bem bonitão a essa hora.
Você também é bem bonita, pensou ele, mas a frase ficou apenas em sua mente. Aquilo ainda parecia uma pegadinha.
— E o que mais você costuma fazer por aqui? — perguntou ele ao vê-la começar a limpar o que havia sujado.
— Quer saber o que eu faço sempre ou só da primeira vez?
— Eu gosto das primeiras vezes.
Ela virou-se para ele, que sorria enquanto tomava o café até a metade. Não sabia o que pensar desse cara: ele era bonito, estranhamente familiar, e engraçado. Ela até se esqueceu da situação de merda de Richard e Annie Leigh aos beijos na sala de estar dele.
— Não tem muito o que fazer por aqui. — ela deu de ombros. — Tem o trabalho burocrático da recepção, que é uma série interminável de mesmíssimas tarefas. Quase pedi para fazerem um teste de Turing comigo ano passado, precisava me certificar de que não tinha virado um robô. — ela riu enquanto desligava a máquina de café. — Se bem que uma vez, uma mulher ligou aos berros querendo saber se o marido estava hospedado aqui com a amante. Isso no Natal! Foi a primeira vez que tive de acalmar alguém histérico enquanto buscava nomes nos registros de entrada. Foi uma loucura.
— Tá falando sério? — ele riu alto, jogando as costas contra o encosto da banqueta.
— Tão sério quanto o fato de a amante ter escolhido o lugar para dizer que estava grávida.
Por um momento, ficou preocupada de suas risadas poderem ser ouvidas no andar de baixo, mas não se importou o suficiente para parar.
— Mas e você? Primeira vez despencando nessa imensidão gelada para passar o Natal? — ela perguntou depois de se recuperarem de mais uma torrente de risadas após ela ter contado sobre o episódio das roupas de cama encolhidas na máquina de lavar há 2 anos.
— Sim, é minha primeira vez aqui. Apesar que passar o Natal não fazia bem parte dos meus planos, ainda mais na companhia de uma nevasca.
— E quem está te acompanhando esse ano além da nevasca?
Ele piscou os olhos novamente, claramente pensando na melhor resposta.
— Estou com uns amigos. — respondeu.
— Uau. Que bela forma de passar o Natal entre amigos. — ela sorriu, solidária.
— A maioria deles está muito bem acompanhada, ou logo vai estar, então a nevasca acaba até ajudando nesse quesito.
— É mesmo? E você, está bem acompanhado?
Ela só percebeu o verdadeiro teor de sua pergunta depois que ela já tinha saído. Muito diferente dele, que pareceu enrijecer no banco depois de ouvi-la. Não, não, ela não tinha intenção de flertar com um cara desconhecido, mesmo que o término com Richard tivesse sido sob circunstâncias tão desagradáveis.
Mas ele pretendia responder. E ia, se a interrupção que sofreram não fosse tão abrupta.
— Jimin! — uma voz ecoou do corredor, vinda de um cara alto que se aproximava rapidamente do quiosque. — Estou te procurando há quase meia hora, queria conversar com você sobre aquela mús-
Jimin fez um sinal furioso com os olhos para Namjoon, que deixou tanto ele quanto confusos. Namjoon freou os passos ao ver a garota por trás do balcão, tentando entender o recado.
— Ah… Você… — o líder olhou de um para outro, e a garota fez o mesmo, soltando uma risada pela atitude cômica dos dois.
— Posso te oferecer um café também? — perguntou, no intuito de compreender os sinais que aqueles dois se comunicavam.
Namjoon abriu a boca para responder, mas Jimin foi mais rápido:
— Estamos de saída! — ele levantou-se em um rompante, tateando os bolsos mais uma vez, largando umas notas no balcão. — O café estava ótimo, devia fazer isso mais vezes. Pode ficar com o troco, até mais.
Ele agarrou os cotovelos de Namjoon, conduzindo-os pelo corredor enquanto cochichava palavras inaudíveis no ouvido do líder, claramente reclamando de deixar o local assim. , ainda um pouco surpresa pelo que se passou, pegou as notas no balcão e teve de cobrir a boca para não gritar: ele tinha largado nada menos do que 200 dólares na sua frente. Por um café.
Ela quis prontamente correr atrás do cliente desvairado, mas uma voz e um abraço repentino não a deixaram se mover.
— ! — Tyler imprensou a cabeça da garota contra seu peito, como sempre fazia. — O que você está fazendo aqui?! Nina tinha me dito que você não pretendia vir esse ano. Já estava planejando a maquiagem gótica que eu iria fazer para extravasar meu estado de espírito por aguentar Emmett sozinho nesse Natal.
— Eu realmente não pretendia vir, mas também não pretendia ser traída por um cafajeste. Enfim, a magia do Natal. — suspirou, dando de ombros.
Tyler colocou a mão no ombro da garota, fazendo um breve carinho.
— Eu sei bem como é isso.
— Não sabe, não. Você traiu o Alan, não o contrário.
— Fica quieta que não foi bem assim que aconteceu, já conversamos sobre isso, nós tínhamos terminado.
— Você deixou uma mensagem na caixa postal que ele só foi ver 2 dias depois, então eu considero-
— Vamos falar de mim? Tem certeza? — ele levantou as palmas das mãos, em protesto. — Deveríamos estar falando de você. Ou não, isso também estragaria o clima de Natal. Deveríamos estar é falando dos nossos hóspedes especiais! — ele deu um gritinho de excitação.
— Você está igual ou pior do que a Nina. — bufou, ainda encarando as notas em sua mão. — Ela até agora não me informou quem são esses hósp-
— O quê?! — a voz de Tyler subiu três oitavas a mais. — Você é maluca? O BTS está hospedado aqui! No andar de cima! Estamos a um andar de diferença de 7 caras gatos e gostosos!
Um vinco se formou na testa de mas, antes que ela pudesse dizer algo, Tyler já abria algo no celular e enfiava uma foto bem na sua frente.
Eram, de fato, 7 caras muito bem apessoados. Mas não foi isso que chamou sua atenção.
Ela encarou diretamente o rosto de um deles, fazendo-a abrir a boca de surpresa. Em seguida, encarou a quantia em sua mão. E pensou sobre as piadas sem graça e inconvenientes que tinha feito. E encarou a quantia de novo. E lembrou-se porque o rosto lhe era tão familiar. E se perguntou porque não se informava um pouco mais sobre o mundo pop, nem que fosse um pouquinho, só para não ter de passar por aquele tipo de constrangimento.
Pela última vez, encarou a quantia.
— Merda… — murmurou, com essas e outras coisas rondando sua mente.
— O que foi? — Tyler perguntou, percebendo que havia ficado um tanto… petrificada?
— Você acreditaria se eu dissesse que acabei de servir um café pro Jimin?
— Café? Você nem sabe fazer café!
— É por isso mesmo. — ela revirou os olhos, começando a andar de volta para seu quarto, torcendo para que quaisquer reclamações de um idol não chegassem aos ouvidos de Emmett.
Era quase hora do jantar quando Nina bateu à porta de , dizendo que tinha convencido Emmett a deixá-la fazer menos horas naquele dia. Só ela para conseguir esse feito com alguém tão inflexível.
Ela nem sabia como tinha conseguido dormir. Fora todo o constrangimento pela conversa com Jimin no quiosque, a frustração por estar terminando em mais um Natal ali, naquele mesmo lugar, como em todos os outros, a deixavam desanimada e irritada com as luzes e decorações. Esse ano não estavam tão lindas como sempre foram; esse ano ela queria apreciá-las com alguém, em outro lugar.
Vestiu o uniforme e seguiu para o que pareceram horas adentro para substituir Nina na recepção. Nada de novo acontecia: ninguém faria check-in há poucas horas do Natal, ainda mais com o clima grotesco que acontecia lá afora, deixando o clima de Natal ainda mais pesado para ela.
Ao ver Nina se aproximar, ela pensou em finalmente se ver livre de todas aquelas obrigações e finalmente poder deitar e se lamentar a noite inteira. As únicas ordens expressas que recebera da superior era de que fosse jantar imediatamente, e prontamente obedeceu.
O restaurante estava praticamente vazio, assim como a cozinha, que estava sendo limpa e organizada para a conclusão de mais um expediente. Ela deu um breve cumprimento para todos que conhecia dali antes de seguir para os fundos, ao lado da dispensa, onde não esperava encontrar mais pessoas para acompanharem sua refeição enquanto se perguntavam o que ela fazia ali este ano.
E não havia viva alma no cômodo. Parece que a nevasca havia afastado grande parte do trabalho naquele ano, e só agora ela percebia o quanto as luzes tremeluziam brevemente em constantes espaços de tempo, como se lutassem contra uma queda de energia.
Ali, sozinha, ela comeu um pouco até perceber que não era isso que precisava naquela noite. Tampouco precisava pousar a cabeça no travesseiro e se lembrar constantemente da cena miserável de Richard. Ela precisava esquecer daquilo tudo.
Não era o mais adequado, mas ela sabia que Emmett guardava os vinhos mais baratos na dispensa, junto com os espumantes. pegou a chave, guardada sempre no mesmo lugar, pendurada sobre o chifre de um cervo de porcelana grudado na parede e abriu a porta, mantendo-a de lado, sem fechá-la. A complexidade daquela porta não a deixava ter o mínimo de privacidade.
Mesmo acendendo a luz, as fileiras de prateleiras limitavam sua visão. Ele deveria guardá-los no fundo da sala, e foi para onde ela seguiu. Observou o amontoado de garrafas verdes e abaixou-se, não demorando a achar qualquer vinho, seja tinto ou suave; ela já estava abrindo a primeira garrafa.
Já devia ter esvaziado a terceira taça quando uma voz familiar entrou na sala:
— Com licença? — Jimin chamou, sondando o ambiente iluminado, não recebendo resposta.
arregalou os olhos, ainda sentada ao chão, apoiada na parede. Se Emmett a pegasse naquele estado, já com as bochechas coradas, ela teria de voltar mais cedo para casa.
— Olá?
Ele estava se aproximando. A garota pensou em se levantar e correr, assim ele não a veria direito. Ou poderia jogar o restante do vinho em sua roupa, que, conhecendo ele, seria a distração perfeita que nem uma nevasca o impediria de procurar uma lavagem a seco.
Mas quando se pôs de pé, não foi Emmett que a encontrou.
— Ah… Você? — ele perguntou, confuso, perguntando-se porque a garota da cafeteria estava escondida entre as prateleiras com uma garrafa de vinho. — Está tudo bem?
— Sim… Sim? — ela murmurou, olhando para os lados. — Você precisa de alguma ajuda? Como veio parar aqui?
— Eu acho que perdi a hora do jantar, e quando desci estava tudo apagado, mas aqui estava aceso, então imaginei que alguém pudesse me socorrer. — ele deu uma risada desanimada. — Mas pelo visto não sou só eu que precisava de algo daqui.
Ele olhou dela para a garrafa, o que fez suas bochechas corarem ainda mais.
Uma risada engasgada e nervosa escapou de sua garganta.
— Primeira vez flagrando uma garota roubando vinho na véspera de Natal, não é? — ela tentou rir, mas um soluço saiu no lugar.
— Para ser bem sincero, não. — ele disse, forçando decepção na voz.
Ela repuxou os lábios.
— Mas aposto que elas não estavam chorando.
Ele se preparou para abrir um sorriso, mas um estrondo fez com que os dois pulassem de susto e desviassem os olhos para a entrada. Não, aquilo não podia ser o que estava pensando.
Mas quando deu com a cara na porta fechada, ela constatou que era possível sim seu Natal ser imprevisível de todas as formas admissíveis naquele ano.
— Ah, merda! — ela bufou, largando a garrafa em qualquer canto da sala.
— Qual o problema? — Jimin perguntou enquanto tentava abrir a porta, sem sucesso. Ela não tinha fechadura para o lado de dentro. — Tá brincando…
— Ótimo, era tudo que eu precisava. — disse em voz baixa, mas não havia outro som naquela sala se não o vento que soprava do lado de fora. Uma leve sensação sufocante começou a tomar conta dela. — Nina. Ela pode ajudar. Ela…
procurou o celular nos bolsos da saia, e fechou os olhos com força ao notar que não tinha tirado aquela coisa da bolsa ainda. Na verdade, ele estava desligado desde que saltou do trem. Era uma defesa natural contra qualquer pedido de desculpas de Richard.
— Eu trouxe o telefone. — Jimin sacou o celular do bolso rapidamente, dando na mão da garota, que digitou o número de Nina. Nada. O telefone nem tocou. Tentou o número de Tyler, mas deu na mesma. Tentou até o número de Emmett, tendo o mesmo resultado. Os números não chamavam; o mal tempo pareceu ter derrubado alguma torre telefônica por aí.
— Eles não atendem. — ela entregou o telefone para ele, bufando, frustrada. Sem perceber, começou a andar de um lado a outro, tentando não pensar que estava presa em um local fechado.
— Calma, , eu vou tentar ligar par-
— Vai tentar ligar para os outros caras do BTS? — ela perguntou repentinamente, parando na frente dele, em seguida arregalando os olhos. — Espera, como sabe o meu nome?
— Você usa um crachá. — ele respondeu no tom mais óbvio e educado possível. Ela soltou um “ah” envergonhado, baixando os olhos. Ela realmente pensava que ninguém lia aquele pedaço de metal grudado na roupa.
— E como sabe que eu… — ele começou a perguntar, mas desviou os olhos. — Esquece.
Discou o número de todos os amigos, um a um: Jin recusou a chamada, Yoongi, sem nenhuma novidade, também; Namjoon caiu na caixa postal, assim como Taehyung e Jungkook. Quando finalmente Hoseok atendeu, ele foi surpreendido por uma série de gritos raivosos do outro lado da linha, tão altos que era capaz de ouvi-los.
— Espera, você não entendeu, eu preciso de ajud-
Mais uma sequência de gritos e silêncio. Mais um desligou.
Jimin chegou a pensar que, se ele atendeu uma, poderia muito bem atender duas. Mas não foi bem o que aconteceu. Hobi parecia ter jogado o telefone bem longe.
Ele bufou e olhou para , como que pedindo desculpas. Ela respirou fundo, encostando-se na porta.
— Véspera de Natal fantástica. — disse, olhando para o teto. — O que faremos agora?
— Você já terminou todo o vinho ou precisa de ajuda? — ela o encarou, surpresa. Ele apenas deu de ombros. — E talvez você possa dizer porque estava chorando.
Ela não respondeu enquanto ele pegava uma taça qualquer na prateleira de louças e se servia do vinho deixado ao canto.
— Não sei se é… prudente — ela deu ênfase na palavra. — compartilhar minha vida pessoal com um cliente.
— Você não vai esconder sua simpatia de mais cedo só porque descobriu quem eu sou, não é? — ele deu um grande gole no vinho, fazendo uma careta. — Achava que isso fosse bem mais fraco.
— Não é isso, é só… — ela travou, e ele levantou as sobrancelhas. — Não é nada demais. Eu só peguei meu namorado com outra quando fui fazer uma surpresa na casa dele. Sabe como é, não devo ter me comportado esse ano, essa foi a reação imediata do Papai Noel.
Jimin não soube como responder. Ao menor sinal de pena em sua expressão, se apressou em pegar outra taça e a garrafa da mão dele, enchendo-a até o topo, e a garrafa ia secando ainda mais.
— Esse cara é um completo idiota. — quando disse, finalmente, ele sentou-se no chão, colocando o celular ao seu lado, a postos para caso alguém ligasse. — Vocês estavam juntos há muito tempo?
— Não muito, mas digamos que eu estava empolgada. — ela respondeu depois de um tempo, sentando-se ao lado dele. — Tão empolgada que fiz questão de deixar Nina avisada de que não apareceria por aqui nesse Natal. Esperava passar com ele. Ela avisou para todo mundo, então imagine a cara deles quando me viram chegar hoje.
— Não é algo com que você deva se preocupar. — ele a encarou, com sinceridade. — Se te consola, eu também não pretendia passar o Natal aqui, dessa forma.
— É difícil ficar entediado na companhia de mais 6 caras.
Jimin riu, apoiando a cabeça na prateleira.
— Não é bem assim. Todos os outros têm seus próprios problemas. Eles tinham os próprios planos, que estão tendo que ser reorganizados para darem certo nesse momento. É pedido de namoro cancelado, shows que não vão mais acontecer, mas no fim… Todos têm sua garota, uma companhia pro Natal.
— E onde está a sua garota? — a pergunta saiu antes que ela pudesse se segurar, e seu rosto ficou corado mais uma vez. — Foi mal, não precisa-
— Acho que está claro que não tenho nenhuma. — ele deu um sorriso torto. — E não, isso não me faz mal como pode parecer, é que especialmente hoje isso parece estar muito mais nítido do que nos outros dias.
Ela balançou a cabeça.
— Mas por que nenhuma garota? Digo, você é famoso, talentoso, dá gorjetas gentis até demais, é um gato… — ela deu uma leve engasgada na última frase.
— Se uma garota se aproximar de mim apenas por isso, acho que teremos um problema. — ele riu. — Você pareceu saber só do fato das gorjetas gentis hoje mais cedo.
— Ah… É. — ela sorriu, sem graça. — Me desculpa, eu realmente sou horrível com o mundo moderno, sou brega demais pra isso. Minha melhor amiga tem 47 anos e acabamos de descobrir os Black Eyed Peas.
Ele soltou uma gargalhada, tomando o restante do vinho.
— O fato de você achar que eu me importo com isso, torna tudo ainda mais engraçado.
— Bom, pelo menos fico feliz em não ser uma companhia tediosa, no final das contas.
— Você definitivamente não tem nada de tediosa.
Os dois se olharam ao mesmo tempo. culpou imediatamente o vinho por causar aquela sensação estranha no estômago.
E, mesmo com essa constatação, ainda disse:
— Precisamos de mais vinho!
Ela se levantou, voltando para os fundos, seguida por ele, que começou a vasculhar as prateleiras em busca de algo que pudesse comer de imediato.
— Eles guardam alguns pacotes de salgadinhos baratos para repôr a máquina bem ali. — ela apontou para a esquerda, vendo-o observar o ambiente. — É a única coisa instantânea que consigo te servir agora.
Depois de alguns minutos, os dois estavam sentados novamente no chão, com vários pacotes de salgadinhos variando em tamanho e cores, secando a segunda garrafa de vinho. O tempo ali dentro passava de forma aleatória, desde que Jimin havia esquecido — ou até mesmo decidido — a não olhar mais o telefone, que deveria estar jogado na porta.
— Mas você disse que isso era apenas um bico! — ele comentou, já com a voz aumentada, enquanto deixava o riso solto. Os dois riam de qualquer coisa àquela altura. — Como assim você vem desde os 16 anos? Por que não te contratam de uma vez?
— Eles bem que quiseram, mas eu não estava muito afim. Precisava de mais dinheiro.
— E o que você faz da vida? — ela juntou as sobrancelhas. — Quer dizer, não precisa responder, se não quiser.
— Se você fala de emprego de verdade, sinto não ter nenhum. — ela deu de ombros, rindo. — Quer dizer, faço estágio em um escritório de contabilidade em Oslo, mas já tive vários outros empregos. E aceito qualquer bico que aparecer. Tenho sorte de ter esse lugar como parada fixa no final do ano para ganhar um pouco mais.
Ele assentiu, bebendo mais um gole do vinho.
— E tudo isso tem alguma finalidade? Você está economizando para comprar uma casa ou coisa assim?
Ela olhou para ele, pensativa, e demorou mais do que esperava nesse gesto.
— Está interessado na minha vida, Jim? — ela perguntou com ironia. Ele corou, mas também riu.
— Acho que no momento, sim, estou.
— Posso ser legal, mas tenho receio das pessoas me acharem um pouco… idiota.
— Isso não vai rolar comigo.
— Beleza. Eu quero viajar pelo mundo.
Ela encarou-o fixamente, esperando uma risada ou, mais uma vez, a expressão de pena. Mas ela só enxergou um sorrisinho de canto, e um brilho estranho nos olhos dele.
— Que cara é essa? — ela disse quase imediatamente.
— Como assim? — ele disse, confuso. — É só que eu nunca… Não sei, é patético, e ao mesmo tempo fascin-
— Patético?! — ela estava ansiosa, o rapaz gesticulava bastante.
— É patético as pessoas te acharem idiota por isso! — ele disse, mais uma vez em seu tom de lógica. — Quer dizer, isso é fascinante. Ainda mais com tudo que você faz pra alcançar isso sem se importar com besteiras. É sério, , isso é demais. — ele sorriu, e algo esquisito fez o ar sofrer dificuldades para sair dos pulmões dela. — E também-
Antes de mais nada, pensou: é culpa do vinho. Mesmo se não fosse realmente verdade, poderia usá-lo como desculpa para o beijo repentino que ela deu em Jimin. Não havia uma explicação plausível: ele estava ali, fazendo-a rir por um tempo incalculável e compreendendo uma das coisas mais importantes da vida dela. Um beijinho não faria mal a ninguém.
Ele parou de falar e olhou com certa surpresa quando ela se afastou.
— Não deveria elogiar garotas desse jeito, Jimin. — ela disse em voz baixa, ainda mantendo a distância mínima entre eles.
Ele olhou bem dentro de seus olhos, e para todos os detalhes em seu rosto, alargando ainda mais o sorriso.
— Caramba, você é bem bonita. — ele murmurou, fazendo-a soltar uma risada debochada. — É sério, sou incapaz de mentir nessas condições, você é muito, muito bonita!
Ela ainda ria, agora se afastando um pouco mais, com as bochechas coradas, perguntando-se como um elogio frívolo como “você é bem bonita” tinha mexido tanto com ela.
— Você também é. Não que você não saiba disso. — ela deu de ombros, largando a taça ao seu lado.
Do mesmo jeito, ele ficou vermelho, sorrindo envergonhado.
— Não sou acostumado a receber elogios de garotas bonitas presencialmente. — ele frisou a palavra. — Elas também não costumam me beijar. Aliás, aquilo foi um beijo? Foi tão rápido que não consegui identificar.
Ela riu com a cabeça entre as mãos, e dessa forma não notou quando ele se aproximou com a mão sorrateira na nuca dela, aproximando-se devagar.
— Você sabe o que estamos fazendo, não é? — ela sussurrou, já com o nariz encontrando o dele.
— Ainda bem que eu sei.
O tempo era uma incógnita. O beijo era tão intenso que fez esquecer-se de onde estava por alguns momentos. E, de quebra, se esquecer também de todo e qualquer pudor que estava mantendo até agora, pois nem se tocou de quando suas pernas foram parar em cada lado da cintura dele, e ela se contorcia em seu colo de forma ansiosa. Nada daquilo parecia real — nada mesmo. Mas os beijos dele em seu pescoço, e a respiração quente misturada com a sua provavam exatamente o contrário. Ela sabia que tinha que parar; só precisava manter esse alerta constante em sua mente para poder cumpri-lo.
Um barulho alto, vindo da porta, despertou os dois da bolha particular antes que acontecesse algo. Eles se olharam, um pouco assustados, até notarem que vinha do telefone de Jimin, que tocava de forma alarmante. Ele levantou e pegou o objeto que vibrava no chão.
continuou parada onde estava por alguns momentos, vendo-o falar no telefone com alguém, e se tocou de que tudo tinha acabado. Seja lá o que foi aquilo. Ainda com o coração esmurrando seu peito, ela começou a juntar toda a bagunça que haviam feito.
Depois de alguns minutos, ele voltou para onde ela estava, guardando o celular.
— Parece que vamos ser resgatados.
Ela guardava a última garrafa de vinho quando assentiu, virando-se para ele. Não disseram nada por um tempo, mesmo que o silêncio pesasse sobre eles. Quando estava pronta para pedir desculpas e que esquecessem toda aquela loucura, Jimin foi mais rápido:
— Você… Gosta de filmes de ação? — perguntou, cauteloso.
Ela não entendeu a pergunta de imediato, mas ainda assim respondeu.
— Sim… acho que gosto.
— Gosta a ponto de assistir um comigo? — ele deu de ombros, um pouco mais tranquilo. — Ou eu poderia usar a minha lista interminável de filmes ruins para ter uma desculpa de continuar o que estávamos fazendo aqui.
Ela abriu a boca para responder, um pouco em choque, mas só conseguiu rir de nervoso, assim como ele.
— É, acho que isso pode funcionar.
— Já que você aceitou tão fácil, acho que também pode dizer sim ao meu convite para ir ao bondinho amanhã. Sabe como é, você é a funcionária e tudo mais, não tenho certeza se aquilo precisa de uma manutenção. — ele sorriu enquanto caminhava devagar até ela.
— Meu Deus! — ela riu, aceitando o aperto em sua cintura que ele já repetia. — Vai ser a primeira vez que vou andar naquilo.
— É a primeira vez que fico preso com uma garota atraente na véspera de Natal, e sigo repetindo: não subestime as primeiras vezes. — ela a puxou para mais perto, dando-lhe um beijo rápido, e suspirando logo em seguida. — Droga…
— O que foi?
— Acho que vou ter que te apresentar para os meus amigos.
— Isso significa alguma coisa? — ela levantou as sobrancelhas.
— Talvez sim, talvez não. — ele levantou os ombros, em deboche, levando um empurrãozinho de leve por ela. — Espero que você não se importe.
olhou bem para ele. Mal sabia o que estava acontecendo, quanto mais o que ia acontecer. Ela só sabia de uma coisa: aquele Natal poderia ser bem melhor do que estava esperando.
— Não, eu não me importo.
FIM.
NOTA DA AUTORA > Olá! Felizzz Natal! (mesmo que você esteja lendo isso bem depois dessa data.)
Essa história não nasceu inicialmente pro querido Chimmy, mas bem que combinou, né? Queria agradecer por você ter clicado aqui e dedicado umas horinhas no seu dia pra se distrair com romancezinho clichê e mais um final aberto pra alugar sala na imaginação de vocês. Obrigada mesmo, é super importante sua presença aqui.
Se quiser, me segue no insta (@sialversion) que eu tô sempre falando de outras fanfics – algumas com um final bem fechadinho e até feliz.
Te vejo na próxima! Beijos,
Sial ఌ︎.
Essa história não nasceu inicialmente pro querido Chimmy, mas bem que combinou, né? Queria agradecer por você ter clicado aqui e dedicado umas horinhas no seu dia pra se distrair com romancezinho clichê e mais um final aberto pra alugar sala na imaginação de vocês. Obrigada mesmo, é super importante sua presença aqui.
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Te vejo na próxima! Beijos,
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