Independente do Cosmos 🪐
Última Atualização: 01/10/2024Olhou de canto para a situação de seu quarto e ao ver parte dos objetos junto da cama quebrada, só conseguiu chorar ainda mais.
Não soube lembrar ao certo quando tudo havia começado. Quando Irwin se enfureceu ao saber da gravidez, quando a empurrou de encontro à parede e quando começou a jogar qualquer que fosse a coisa em cima dela.
Nunca imaginou que ele seria capaz de uma atitude como aquela. Logo ele.
Seu namorado.
A mulher tinha o corpo encolhido no canto escuro e úmido do cômodo, pelo tempo frio. O rapaz estava de pé, do outro lado, passando as mãos pelos cabelos desgrenhados enquanto, provavelmente, pensava qual seria sua próxima destruição.
Ela não conseguia olhar. Mesmo à espreita, podia ver o display de seu celular piscando bem longe de si, já que aquele havia sido outro objeto que Irwin também tinha feito questão de quase quebrar.
Seu corpo inteiro doía. Os braços provavelmente já estavam roxos e, assim como eles, sua barriga deveria estar do mesmo jeito, mesmo tentando protegê-la a todo custo.
— Você acha mesmo que eu vou querer isso? — apontou para a mulher, um pouco mais abaixo. Ela encolheu o corpo mais uma vez. — Não vou me responsabilizar por criança nenhuma e espero que você tire isso o mais rápido possível!
Ela sentia a lágrima escorrer teimosa por seu rosto, na medida em que ele gritava e se aproximava. não tinha forças para responder, muito menos debater com ele.
Irwin parou por um instante. Encarou a mulher sentada ao chão, encostada a parede e rolou os olhos.
Rapidamente caminhou até ela.
— Você não vai responder nada, infeliz? Devia pedir desculpas. Implorar para tirar essa criatura nojenta de dentro de você, mulher.
— Irwin…
Quando ousou responder, às mãos do rapaz foram de encontro aos cabelos ondulados da mesma, os puxando com força e brutalidade.
Um grito de dor escapou dos lábios da mulher. E ela só conseguia chorar ainda mais quando um tapa certeiro acertou seu rosto.
— Cale a boca. Você não vai soltar um pio.
— !
A voz no andar debaixo chamou a atenção dos dois.
O rapaz que segurava os cabelos da mulher parou por um instante, como se estivesse congelado no lugar.
Por um momento, quis gritar. Pedir por ajuda e sair dali o mais rápido possível, ainda mais reconhecendo a voz que gritava por seu nome.
Ela olhou mais uma vez para Irwin. Ele parecia pensar no que faria para escapar de algum jeito e aquilo só fazia a raiva que a mulher estava tendo dele, aumentar. Ela se sentia usada e se praguejava por ter deixado tudo chegar àquele ponto.
Como queria nunca tê-lo conhecido.
— , você está aí?
Sentiu o choro vir à tona outra vez. a procurava incessantemente e, no mesmo momento em que se sentia aliviada por seu amigo ter aparecido, também sentia o pavor do que Irwin poderia fazer com ele.
— Foi você quem chamou ele, sua imprestável? Você que ligou para ele?!
— Eu não…
E não demorou muito para que a porta fosse aberta em um baque alto, ecoando pelo quarto. de primeira não entendeu muito bem o que acontecia, seus olhos percorreram cada minucioso canto do lugar até parar no casal ao chão. Quando notou o que Irwin fazia à , sua expressão fechou.
Pôde sentir a ira tomar conta de seu corpo, o sangue subindo mais rápido do que deveria e antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, foi em direção ao homem, desferindo socos e mais socos sem ao menos pensar no que poderia lhe acontecer depois.
— ! — a mulher gritou, desesperada com o que acontecia ali. O seu, até então namorado, estava caído ao chão, tentando se defender dos golpes que o mais alto lhe desferia. Irwin havia conseguido rodar por cima de e agora batia nele também. — Solta ele, Irwin!
Enquanto os dois se debatiam no piso frio do quarto de , a mulher sentia as dores e pontadas irradiando parte de sua barriga e não tinha a menor força para conseguir levantar de onde estava. Ela só conseguia ver os dois e gritar para que parassem com aquilo o quanto antes.
Quando ouviu o baque alto e forte, junto do corpo de Irwin caindo ao chão, sentiu seus pelos eriçarem com a aflição tomando conta de si. encarava o namorado da garota e só quando se deu conta do que havia acontecido, pareceu cair em si.
Olhou uma última vez para o corpo de Irwin e pressionou os olhos, voltando sua atenção à , que chorava desconsoladamente.
— … — a chamou, andando depressa em sua direção e abaixando a seu lado. — Ei, eu estou aqui. Estou aqui por você. Está tudo bem agora.
— … Ele… O Irwin…
— Esqueça o Irwin. Eu te encontrei. Ele nunca mais vai encostar um dedo em você outra vez, — levou a mão de encontro ao queixo da mulher, o levantando para que pudesse olhá-lo nos olhos. — Não vou permitir.
Ela não respondeu. A única coisa que conseguiu fazer foi abraçá-lo com todo o resquício de forças que ainda lhe restava, mesmo enfraquecida, deixando a exaustão tomar conta de si.
— Nós vamos para casa, .
O vento soprava fraco ao lado de fora.
O barulho das risadas aquecia o coração de , a deixando curiosa para ver o que acontecia, sabendo exatamente o que poderia ser.
Andou um pouco mais e o sorriso em seu rosto enlargueceu ao ver a paisagem que preenchia o jardim de sua casa. Não pôde conter a felicidade em ver quem corria alegremente pelo lugar e involuntariamente encostou o corpo no batente da porta, ainda admirando.
Depois de tanto tempo, achou que nunca mais conseguiria ser feliz outra vez.
Não depois de tudo o que havia lhe acontecido.
Irwin nunca mais ousou aparecer em sua vida. Depois do ocorrido, a primeira coisa que fez ao se reerguer fora tomar as medidas cabíveis para que ele nunca mais pudesse se aproximar.
Nem dela, nem de seu bebê.
E agradecia mais do que tudo por ter funcionado e, principalmente, por ter contato com a ajuda de alguém mais do que especial.
havia sido seu anjo. Não mediu esforços para fazer qualquer que fosse a coisa para proteger e deixou bem claro isso em cada atitude que tomava. Não só em relação à Irwin, mas à Caroline também.
Caroline. Sua garotinha, seu maior tesouro. Não conseguia mais se ver sem a pequena que, naquele instante, corria alvoroçada pelo gramado e se divertia caindo ao chão.
— Mamãe, mamãe! — gritou, agitada. Sua gargalhada gostosa preencheu os ouvidos de e a mulher se agachou ao ver a menininha correr em sua direção.
Em um abraço apertado, lhe recebeu.
— Oi, meu docinho. O que é que vocês estão aprontando?
Observou a filha atentamente. Caroline tinha os cabelos, que antes estavam presos a um rabo de cavalo, bagunçados. Os fios finos e escuros caíam pelas laterais de seu rosto deixando evidente que ela brincava desde cedo e suas bochechas tinham uma tonalidade avermelhada.
— Não é nada, mamãe. A gente tá bincando de pega-pega.
não pôde deixar de soltar uma risada com a fala de sua filha. Ela parecia mais interessada em voltar à brincar do que falar com sua mãe, mas aquilo não a incomodava. Caroline parecia mais feliz do que nunca e o motivo de toda aquela diversão não era só por conta de .
Tinha uma outra pessoa.
A mulher observou sua pequena voltar para a brincadeira em que estava e ergueu o corpo, podendo notar o homem se aproximar. sorriu, deixando que seus olhos percorressem minuciosamente cada detalhe dele.
Ela se sentia agradecida. Se sentia imensamente feliz por tudo que havia lhe acontecido, mesmo as coisas ruins. Sentia que nada poderia lhe tirar o limbo maravilhoso que se encontrava.
Por que ela tinha Caroline.
E também tinha .
O rapaz sorriu para ela ternamente. Deixou que uma de suas mãos fosse até o rosto de , o acariciando.
— O que é que você tanto olha?
— Você. E a Caroline — deixou uma risadinha fraca escapar. Ele riu também. — Ela tem uma energia e tanto.
— Não ligo. Confesso que ela me diverte bastante também.
Ele se aproximou, a puxando para o abraço aconchegante. não disse mais nada, o tempo em silêncio com ele já era suficiente naquele momento. Há tempos havia se acostumado a ter junto de si em uma cena como aquela.
Eles dois e a pequena Caroline.
Com um carinho leve em seu braço e um beijo suave em seus lábios, se afastou ao ver a garotinha correndo em sua direção. Ele abriu um sorriso enorme, assim como ela.
— Papai, eu quelia um pouco de soveti agola.
A verdade era que e poderiam ter ouvido milhares de coisas chocantes no decorrer de suas vidas. E mais verdade ainda era saber que não faziam ideia que um serzinho daquele aquele poderia lhes proporcionar tamanha alegria e emoção como naquele instante.
O rapaz a pegou no colo, inteiramente derretido e comovido com o que Caroline havia acabado de lhe chamar. Ela podia não ser sua filha biológica, mas a tinha como uma e saber que ela conseguia sentir o mesmo por ele era inexplicável. Não precisou dizer mais nada. tinha os olhos marejados, tentando conter a emoção de ver sua família ali. a olhou, tão emocionado quanto ela.
Vendo aquela cena, não poderia ter mais certeza que tinha que ser daquela forma.
Ela, e Caroline. Sempre.