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Codificada por: Lua ☾
Finalizada em: 17/05/25


CAPÍTULO ÚNICO

— Oh, I leave quite an impression
As ruas ocupadas da cidade que nunca dormia eram tão barulhentas quanto shows em estádios lotados. Os ruídos das vidas apressadas se emaranhavam com a melodia de passos afinados e motores arrancando em uma sintonia única de Nova Iorque. O nome não poderia ser mais certeiro nem se tentasse: tudo naquele lugar estava em constante mudança, era novo, maior; nem sempre melhor, mas indiscutivelmente inédito.

Pelo olhar atento de , parecia que algo sempre estava acontecendo. Se ela parece no meio da estrada, conseguiria ouvir várias histórias se desenrolando ao mesmo tempo: o chiado das portas fechando e abrindo com possibilidades, alguém gritando terminando um relacionamento pelo telefone, uma mulher impecável correndo em saltos que deviam custar um rim, estagiários que pareciam saídos de comédias românticas com seus cafés, artistas em ascensão encontrando inspiração em todos os cantos da Manhattan, crianças tropeçando entre os adultos e rindo das suas reclamações sem sentido.

Ela conseguiu distinguir isso tudo em dez segundos, logo antes de alguém empurrá-la e dizer gentilmente olha por onde anda, porra.

Qual é? Era Nova Yorque.

Ainda assim, gostava disso. Em um lugar que probabilidades de vivência até a última gota, era difícil se sentir sozinha. E talvez ela estivesse um pouco maravilhada por todo o contexto, por que quem não estaria?

É tão fácil pintar as bandeiras vermelhas e dizer que a maré sempre esteve boa, que o maremoto não foi premeditado. E mesmo se fosse, havia algo que pudesse ser feito para mudar isso?

O caos nova-iorquino era como um cobertor quentinho na ser naturalmente acelerado de . As luzes pareciam guiar ela para uma aventura, todos pareciam ter um senso de propósito, uma urgência de estar em algum lugar.

Aquela sensação fazia ela querer pular de excitação, mesmo que aquele sentimento estivesse manchado por inquietação. No final das contas, acreditava que todo mundo na grande maçã mantia sua ansiedade como um bichinho no porão das suas mentes, o contrário parecia impossível.

Entretanto, isso a inspirou ainda mais. Passar pela Times Square e ver aquelas pessoas transbordando sonhos que estavam estampadas em quilowatts brilhantes nos prédios a banhava com uma esperança imprescindível. Essa gente tinha vindo do chão e conseguiram escalar até o topo. O querer arranhou suas estranhas, enquanto seus olhos buscavam pela propaganda do novo trabalho do seu artista preferido em meio ao espetáculo quase cegante.

Mais um ponto positivo para a cidade de concreto: no meio do cheiro de xixi e dos ratos desavergonhados, as chances de esbarrar em uma celebridade eram enormes. Quantas noites não havia passado no Tumblr aos 14 anos, morrendo de inveja e sonhando acordada quando lia um post sobre alguém que encontrou um ídolo por acaso durante uma ida ao mercado?

sentia que essa era a sua vez. A chance de conseguir transformar um devaneio esperançoso em algo tátil, algo dela. De pertencer a esse lugar tanto quanto ele pertenceu aos seus pensamentos. Ou, pelo menos, criar memórias que durassem décadas antes de desbotarem sob a luz da realidade, como um devaneio que se esvaia.

continuou andando até suas pernas doerem, respirando aliviada ao levantar a cabeça e ver o letreiro The Black Dog Bar. Ela carregou seus ossos cansados para dentro do estabelecimento, sentindo seu corpo aliviar só de pensar em uma boa dose de álcool. Quem sabe alguns petiscos? Será que eles eram muito diferentes dos quitutes do Brasil?

Sua linha de raciocínio mudou de rota ao entrar naquele pub — se é que ela podia chamar o estabelecimento disso. Parecia um nome frívolo demais para o que estava diante dos seus olhos.

O lugar era revistado em madeira e parecia saído diretamente de uma revista — exceto o piso, que era revistado por algum ladrilho verde escuro. As paredes eram felpudas, como se tivessem sido projetadas para um conforto que ninguém utilizaria. Parecia exacerbadamente luxuoso.

Mas nada disso se comparava ao bar: o balcão de mármore parecia manchado com respingos de ouro, dando um toque de originalidade à madeira. O símbolo de um cachorro grande e magro estampava o centro da bancada, do mesmo jeito que o nome de um designer famoso estaria desenhado em uma bolsa cara. As garrafas caras, com nomes que não ousaria tentar pronunciar, ornavam uma parede de vidro reluzente atrás da barwoman, que se vestia com um terno feminino cor vinho, uma gravata marrom escura e uma blusa de cetim branca.

A funcionária ergueu a sobrancelha, seu sorriso acompanhado por um olhar de quem sabe mais do que diz. deu uma rápida olhada ao redor, percebendo que as poucas mesas espalhadas pelo estabelecimento pareciam mais distantes uma das outras do que nos bares que ela costumava frequentar. A brasileira optou se dirigir até o balcão compartilhado, sentando em um dos bancos que a faziam sentir como se tivesse dois metros de altura. Ela colocou a sua tiracolo em cima do balcão, o barulho das pedrinhas que incrustavam objeto ressoando acima da música ambiente por um segundo, causando um leve rubor em suas bochechas, por sorte, a pela bronzeada e a luz difusa se encarregaram de dificultar a exposição do seu embaraço.

Sem dizer uma palavra, a barwoman — seu nome era Sally, ao menos, era isso que seu crachá dizia — deslizou um cardápio. Sem QRCode? Já ganhou pontos comigo, pensou.

não conseguiu evitar franzir o cenho ao ver os preços das bebidas. Claro, haviam algumas escolhas expansivas, dom pérignon que o diga. Entretanto, a tabela de custo geral parecia normal para qualquer pub metido a besta em uma metrópole dos Estados Unidos.

Ela havia entrado em um pega-trouxa? Bufou, virando o cardápio para checar a parte de trás. Não era possível que ela tivesse saído do Brasil para ser enrolada por gringos?

Sentido uma movimentação ao seu lado, respirou fundo antes de empurrar o pedaço de papel encapado para frente. Estava aqui, iria aproveitar.

— Eu quero uma dose de tequila. — pediu, recebendo um aceno de Sally em resposta. Suspirou para si mesma. — Certo, New York. Me surpreenda.

— Eu não pediria isso se fosse você. — Uma voz gostosa e familiar soou do seu lado, chamando a atenção da latina. virou o rosto para a direita, dando de cara com um homem de sorriso fácil, olhos escuros, cabelos castanhos longos e perfeitamente bagunçados. O estranho conhecido pareceu entender o olhar dela como um convite para se explicar: — Da última vez que essa cidade me surpreendeu, ela me mostrou ratos treinados por um morador de rua no metrô.

O que era mais inacreditável: ratos bem treinados, tropeçar no único cara simpático de Nove Iorque ou ele ser a porra do seu artista favorito?

poderia ter dito muitas coisas. Ela podia ter colocado aquele diploma de comunicação em prática, ela devia ter dito algo inteligente e sagaz, qualquer coisa para manter aquela conversa.

Mas ela era apenas humana. E aquele homem era a porra do .

A brasileira não seria hipócrita de dizer que não havia fantasiado sobre esse momento diversas vezes em seu quarto, ou no avião, ou enquanto conhecia Manhattan. Era provável que toda estrangeira pensasse que talvez, só talvez, se tivesse sido uma boa menina e o destino estivesse de bom humor, ela conseguiria um vislumbre do seu ídolo durante uma viagem internacional.

— Qual é. — disse, certa de que estava frustrando ao menos 15 adolescentes por responder daquele jeito. E um pouco a si mesma também. era a vida da festa, ela conseguia flertar e brincar com qualquer um, por que era tão difícil manter um diálogo normal com ele? Ela se sentia como uma garota de no ensino médio com uma queda por um veterano. — Está me zoando.

— O quê? Não confia no potencial do metrô de New York? — Ele fez uma expressão de choque, brincando com a estranha bonita.
Seu sotaque carregado já deixava claro que ela não era de lá, arriscaria que talvez nem do hemisfério norte. Bom, os terrores metropolitanos seriam disseminados. — É sério! Eles seguiam o que o cara dizia por pedaços de cachorro-quente.

riu, de maneira alta e aberta, sem se importar com o espaço que ela tomava. não conseguiu evitar se sentir estupefato com aquela liberdade natural, a maioria das pessoas que estavam em seu ciclo pareciam de plástico. Certamente, essa era uma escolha que ele fez anos atrás, quando dedicou sua vida à atuação e à música. Um sacrifício sem fim, mas do qual ele não tinha noção na época.

havia conseguido tudo que um homem poderia querer. No auge dos seus 32 anos, uma carreira consolidada em um ramo que mastigavam e cuspia talentos todos os dias. Ainda em seus vinte e poucos, o astro conseguiu decolar em um papel da Netflix. A partir de então, juntou tantos dólares que pôde se dar ao luxo de escolher seus roteiros a dedo, se preocupando mais com a história e seus gostos do que com o pagamento no final do mês. Por conta disso, ele não havia embarcado em grandes franquias, desinteressado em ser algo além de telespectador em blockbusters. Esse detalhe fez com que ele fosse conhecido, entretanto, não tão famoso a ponto de não conseguir sair na rua — claro, certas vezes, os paparazzis estavam lá para alguns clicks, especialmente se estivesse perto do lançamento de algum trabalho. Entretanto, mesmo com esse pequeno alívio, ele ainda estava cercado de gente básica que não admitia que era isso, o tipo de companhia que você só consegue sob a luz dos holofotes.

Havia piorado desde que a sua carreira musical estourou, igual um mágico puxando o pano vermelho e revelando um coelho que, na verdade, sempre esteve lá. tocava e cantava desde os tempos da faculdade de teatro, havia feito parte de uma banda enquanto esperava pela sua big break e participava de incontáveis testes. 2.000 tentativas depois, o seu lado ator conseguiu uma chance, mas seu músico interior continua lançando faixas sobre experiências pessoais com um pseudônimo para deixar a música ter sua própria vida, independente de quem a cantava — apesar dele ainda usar a sua imagem. O estilo indie estava resguardado à alguns fãs mais intensos e pessoas que não se importavam em pesquisar sobre o artista para ouvir a obra, até que uma das suas músicas estourou.

Meses se passaram, as coisas pareciam estar voltando ao normal gradativamente. A última vez que fotografaram ele saindo de um restaurante havia sido no mês passado, no mesmo dia que havia terminado (lê-se: levado um pé na bunda) da sua ex-namorada, uma atriz de porte menor.

assistiu enquanto ela o encarou confusa, parecendo tentar se lembrar de algo, porém incapaz de juntar o nome a um rosto. Alívio percorreu suas veias quando a confusão deu lugar a um sorriso sem resquícios de reconhecimento. Era legal conversar com alguém que só o via como um cara no bar, principalmente com uma mulher bonita.

Sua pele se assemelhava a cor de amêndoa, provavelmente mais bronzeada do que metade das mulheres de Manhattan. Os seus lábios eram finos, cobertos por algum tipo de batom brilhante. Os seus olhos pareciam de cartoon, grandes e expressivos, exibindo uma cor marrom escura, igual aos seus cabelos, tão longos que chegavam até o quadril.

Seu corpo dispensava apresentações. Os peitos eram a atração principal em seu decote, providenciado por uma blusa prata de alcinha. Sem sutiã, e sem preocupação sobre isso. Uma saia vermelha colocada como uma segunda pele moldava a sua bunda, deixando pouco para imaginação.

Ainda assim, isso não parou de imaginar a cada segundo.

— Não consigo acreditar nisso. — balançou a cabeça, voltando seus olhos castanhos para a barwoman ao receber um copinho com líquido âmbar. — E eu achava que iria só trombar em famosos e ver um crime ou dois.

— Nunca subestime a estranheza do metrô.

— Anotado.

virou a tequila como se fosse água, contorcendo o rosto enquanto examinava o vidro vazio. arqueou a sobrancelha, estudando a desconhecida cativante.

— O álcool de vocês é sempre tão fraco?

O ator soltou uma risada anasalada, embasbacado. Aquela mulher havia acabado de virar um shot e seu desconforto era porque achava a bebida leve?

— Você acha isso fraco?

— Não, eu acho a bebida de vocês americanos fraca. — sorriu descarada, se inclinando na bancada e chamando por Sally.

— Pode me ver uma dose de algo mais forte? — a funcionária assentiu, virando-se para atender ao pedido. O olhar afiado de retornou para , a sombra de desafio refletida em suas orbes escuras. — E você, gringo, não vai beber?

A voz dela beirava o sarcasmo, um claro desafio presente em casa sílaba. não era um grande patriota, não ligava para representar o seu país em uma competição de bebedeira, mas queria beijar aqueles lábios com gosto de tequila e deixar as pernas dela bambas. E vencer dela, é claro.

A barwoman, com quem ele já havia tirado fotos em uma visita anterior, ergueu a sobrancelha enfeitada por um piercing novo, aguardando a resposta dele.

assentiu, movendo a mão para sinalizar mais uma dose.

— Quero o que ela estiver bebendo. — anunciou, e seu foco estava em de novo, que batia palma com um sorriso vitorioso. Ele balançou a cabeça em negação, apesar do sorriso de canto de boca deixar claro que o ator estava gostando daquele jogo. — Algum gringo tem que acompanhar ela no coma alcoólico.

Ela estava conseguindo agir como se não soubesse quem ele era, obrigada, álcool, e o ele parecia animado com aquilo.

— É preciso bem mais que isso para me colocar de cama. — ela revirou os olhos, e ignorou o arrepio no fundo da sua mente com aquela escolha dos termos. — Você está na cidade há muito tempo?

— Como sabe que eu não sou daqui? — arqueou a sobrancelha. Não achava que seu jeito de falar fizesse diferença após tantos treinos vocais.

— Você é simpático.

Touché. — riu, lembrando da má reputação dos nova-iorquinos. — Me mudei há alguns anos, sou de Minnesota. Me chamo .

A sua saia havia subido um pouco por conta da posição e dos movimentos distraídos dela, mostrando as suas coxas torneadas. teve que usar todo o seu autocontrole para não ficar duro naquele momento. Como conseguia provocá-lo sem nem se esforçar?

. — repetiu como se experimentasse a palavra, a voz carregada de sotaque. nunca tinha ouvido o seu nome ser dito assim antes, e ele gostou mais do que queria admitir. A estrangeira o atraia cada vez mais, o seu jeitinho era a chama e ele era uma mariposa implorando para morrer queimada.

— E você, qual o seu nome? — perguntou, quietamente desesperado para saber mais sobre ela. Normalmente, quem ele conhecia atirava informações nele assim que o viam. — E de onde você vem?

. — sorriu. Aquele nome existia na língua inglesa, todavia, era pronunciado de maneira diferente em português. Uma peculiaridade que decidiu manter. — Vim do Brasil.

Isso explicava o sotaque carregado e o corpo bonito, pensou . Deus o perdoe por deslizar em estereótipos, mas era ela linda.

Antes que pudessem continuar, Sally apareceu e sumiu com a rapidez de um gato; somente os dois copos transbordando uma bebida transparente eram evidência de que ela sequer esteve lá.

Ou ele só estava distraído demais pela sua companhia tropical.

— Brasil. — ele já havia visitado o país, apenas uma única vez durante a promoção do seu trabalho. — E o que veio procurar aqui?

Quis se bater ao dizer aquilo, remendo soar rude ou algo do tipo. Todavia, apenas chacoalhou a cabeça, ignorando seu olhar ansioso e pedindo mais uma dose de algo diferente e forte para funcionária.

conseguia entender o pedido.

— Os ratos super dotados. — piscou para ele, segurando o copo ainda cheio entre os dedos, seu anel tocando no objeto. Ele não conseguia ouvir o ruído por conta da música ambiente e da distância, se ao menos eles estivessem mais perto. Porra, há quanto tempo ele não se sentia atraído por alguém assim? Ela parecia ser magnética. — Um, dois, três..

Ele segurou a sua dose, virando ao sinal dela. O líquido desceu rasgando a garganta, vodka pura. Não importava quantas festas ou quantos bares, aquilo sempre ardia como o demônio.

Porra.

— Certo, a vodka é das boas. — ela admitiu, passando o dedo anelar pelas bordas do copo. — Mas ainda não é como a do Brasil.

a encarou incrédulo. Como ela estava tão desafetada depois de duas doses? Tá, ele não estava bêbado, nem perto disso, porém parecia estar bebendo água.

Quão forte era a vodka do Brasil? Ele queria provar até estar embriagado com tantas doses.

— Respondendo a sua pergunta, — recomeçou, sorrindo gentil quando Sally recolheu os vidros usados. — Era uma vontade antiga, especialmente Nova York. Demorou mais do que eu queria, você sabe, com o idiota que vocês tem na presidência caçando latinos como se fosse um esporte.

Apesar da voz irritada denunciar que ela odiava o pedaço de merda que estava na Casa Branca, a insistência em olhar para qualquer lugar menos ele demonstrava que não tinha certeza se ele concordava com os xingamentos.

Seria um banho de água gelada se ele começasse a recitar o slogan Make America Great Again.

— O Trump é um babaca. — ela suspirou aliviada. Sabia que alguém como não seria pró-autoritarismo, contudo, era bom tirar isso a limpo já que ele não havia citado seu posicionamento político há anos.

— Eu vou brindar a isso. — brincou. Os dois levantaram os copos e brincarem antes de engolir a dose que Sally havia escolhido.

Absinto. Pela primeira vez acostumado com um dos shots, lambeu os lábios e tentou ignorar o calor no meio das pernas ao pensar nos outros lugares que ela queria aquela boca.

Dessa vez, o cantor foi quem pediu outra dose com um gesto de mão.

— Que bom que você conseguiu. — disse, seu olhos demorando um pouco demais na figura dela. Ah, aquela adrenalina da primeira vez que tem o que quer quer. — Procurando algo especial por aqui?

— Essa é uma grande pergunta, .

Ele entendia aquilo. Lembrava de si mesmo aos 24, recém saído da faculdade de artes cênicas, sem um tostão no bolso e se mudando para Chicago.

New York era conhecido por seus sonhadores.

— Eu só sei o que quero hoje a noite.

— É? E o que é isso?

Ela se inclinou, sentindo-se destemida ao colocar a mão na coxa dele.

— Vamos ver se você descobre, gringo.

Makes paintings with his tongue


Algumas doses e conversas depois, ambos dividiam o ápice da embriaguez. Na parte divertida, eles estavam despreocupados, distribuindo toques sutis no braço e na perna um do outro em meio a risadas, doses e provocações.

Não demorou muito para ele morder mais do que conseguia mastigar.

— Sabe, eu moro aqui perto. — falou como quem não queria nada, apesar da sua inclinação na direção dela e os olhos de cachorro pidão eram tudo menos desprendidos.

não queria nada além de sentir o toque dele em cada parte do seu corpo. Entretanto, uma garota precisa de cuidar.

— Acha mesmo que eu vou para casa com você? — riu, balançando a cabeça. Ele era conhecido por ter relacionamentos longos, entretanto, não era ingênua o suficiente para acreditar que um cara de Hollywood não dispunha várias mulheres aos seus pés. Queria fazer ele trabalhar um pouco mais por ela. — Quem me diz que você não é um maluco?

O seu olhar pareceu brilhar com o desafio.

— Nós, malucos, preferimos o termo diferentes.

O humor esgueirava a sua presente, mas as entrelinhas eram encharcadas com segundas intenções. a queria, ele queria . Aquela era a maior preliminar que ela já teve.

Sem contar com a imagem dele. Porra, aquele homem era gostoso. A camisa desabotoada, os cabelos, ainda mais bagunçados de tanto dele passar a mão, que residia na coxa dela como um visitante bem-vindo, acariciando o local com uma ternura descabida. Ela queria esfregar sua buceta na mão dele, queria ouvir o jeito que ele gemia, sentir o seu pau duro por ela.

— Que tal a gente se encontrar amanhã, então? — propôs. teria que passar a noite se aliviando no banheiro com a imaginação do que queria fazer com ela, mas isso não importava. Ele queria vê-la o mais rápido possível. Se não hoje a noite, amanhã de manhã.

O ator respirou fundo, tentando acalmar seu pau semi-ereto. Ele sabia que devia afastar sua mão da coxa de , mas sua pele era tão convidativa, e ela parecia confortável sobre o sua palma.

O que mais ela deixaria ele?

A resposta veio mais cedo do que achou que seria possível. abriu as pernas, apenas um pouco, apenas para deixá-lo mais bêbado de vontade dela. Inferno de garota.

— Gostei da ideia. Ou.. — colocou o dedo anelar embaixo do queixo dele, erguendo-se para encarar seus olhos. — Você poderia vir para a minha casa.

— E como eu sei que você não é uma maluca?

— Ah, eu sou. Totalmente. se inclinou na direção dele. O perfume tropical invadiu os sentidos de , e ele podia sentir seu membro se contorcer dentro da calça. — Mas acho que vai valer a pena.

Ela se inclinou e pressionou os lábios nos dele. estava rendido antes mesmo de se proteger.

Era bom estar com alguém que não parecia saber quem ele era. E se soubesse, não se importava com isso. A cada palavra, aquela garota misteriosa parecia se abrir mais. Ela ficava mais solta, mais humana. A brasileira ria alto quando achava engraçado, franzia o cenho e ficava com ruguinhas que negavam o botox, revirava os olhos quando ele dizia algum absurdo corriqueiro e gesticulava sem medo de parecer expansiva demais. Há quanto tempo não tinha um papo com gente de verdade? Uma pessoa que não espiava as janelas à procura de câmeras, que não enfiava o nome de algum designer famoso no meio de cada conversa, que não parecia estar posando para uma platéia.

parecia real. Até mesmo a sua beleza remetia ele a isso. A pele de avelã, o cabelo rebelde que parecia ter saído direto da praia e, mesmo assim, encaixava nela sem esforço. Os olhos de boneca, que colocavam toda atenção nele, apenas para desviar e pedir outra bebida para Sally, verificar os arredores com desinteresse e voltar para ele — como ela conseguia deixá-lo ansioso por mais quando se afastava por meros segundos? Aquela mulher era viciante e ele queria provar ela mais do que qualquer coisa.

O jeito que ela era irreverente pra caralho. Empurrando ele para o limite apenas para puxá-lo de volta. Ele só queria se enterrar dentro dela, ter o corpo dela enrolado nele e pedindo por mais. Era a porra de uma atração instantânea, uma adrenalina melhor do que qualquer droga podia proporcionar.

Ele estava completamente inebriado por ela.

A viagem de táxi havia sido uma prova para a sua sanidade. não conseguia manter as mãos longe dela, e parecia querer ele ainda mais perto de si. A troca de beijos desesperados que com certeza estava enchendo o saco do taxista não era o suficiente para estagná-los: a morena tirou o próprio cinto, movendo-se para o colo de em um movimento rápido.

Ele tentou reprimir um gemido, apertando a cintura de como se pudesse se agarrar ao seu autocontrole, mas esse pensamento logo foi jogado pela janela quando ela rebolou em seu colo, pressionando a sua intimidade vestida contra o sua ereção descaradamente.

Puta que pariu. Quem era aquela mulher?

— Você está tão duro para mim. — sussurrou manhosa, mordendo o lóbulo da sua orelha em seguida.

Ele grunhiu. era descarada, impulsiva. Isso era algo com o qual ele não estaca acostumado. Em sua linha de trabalho, aparência era tudo, cada passo era calculado.

E agora, ele tinha uma brasileira gostosa sentada em seu colo, se esfregando em seu pau e sussurrando obscenidades em seu ouvido.

— Quero tanto te foder.

Ela riu, uma risada cheia de malícia enquanto afastava seus lábios do seu ouvido, apenas o suficiente para que ele pudesse ver o seu rosto. colocou a mão na bochecha dela, acariciando sua pele macia.

— Bom, não podemos fazer isso agora, mas podemos brincar.

Antes que ele pudesse perguntar, começou a mover seus quadris, pressionando a pélvis contra a ereção vestida de . A fricção era deliciosa, deixando-o ainda mais duro e louco de desejo por aquela mulher.

Ela descansou a testa na dele, sua própria respiração descompassada. grunhiu e agarrou a sua cintura, tentando se movimentar para ter mais de . A brasileira choramingou, fincando as unhas nos ombros dele enquanto pressionava a sua intimidade no pau duro de .

Sua saia já havia subido até mais da metade das coxas, nada além de uma calcinha molhada no caminho de e sua buceta. O jeans do ator com certeza cheiraria a ela e teria uma mancha na manhã seguinte, pensou enquanto se esfregava no seu volume descaradamente. Era tão gostoso, ele queria mais.

— Mal posso esperar para estar dentro de você, .

O taxista apenas resmungou mal-humorado e fechou a portinha que dava para o banco de trás.

Às vezes, a indiferença novaiorquina é uma dádiva.

You’re wondering why half of his clothes went missing


Ela estava deitada, vestindo sua camisa como um pijama improvisado enquanto o sol beijava a parte exposta do seu corpo. Ele queria se inclinar e competir com o astro, colocando seus lábios em cada canto dela.

A vida parecia mansa. A cidade rugia, o seu emaranhado de vidas fazendo barulho do lado de fora da janela. Naquele momento, não importava. Ela estava no apartamento de .

O lugar era aconchegante. Pelo pouco que ela se lembrava das horas anteriores, o espaço era amplo, cheio de janelas enormes e com uma vista maravilhosa. Você é a melhor vista, ele havia sussurrado antes de deitá-la no carpete e chupá-la. sentiu um arrepio ao lembrar daquilo.

— Bom dia. — perguntou, sentando ao lado dela na cama. quase esperava que ela a colocasse para fora como um caso de uma noite, mas sorriu e a encarou com aqueles olhos castanhos gentis. — Quer café?

— Mm. Talvez mais tarde. — A morena alcançou a xícara dele, recebendo um olhar curioso em troca. Ela colocou o café na escrivaninha ao lado da cama, puxando-o pela camisa para si. — Espero que não tenha problema em tomar café frio.

— Acho que você vai me esquentar o suficiente.

Esse era o problema com intensidade. Ela vinha rápido, como a adrenalina de uma ida na montanha-russa. A ansiedade da subida, do quase lá e os ecos de não acredito que vou fazer isso, preciso disso aumentavam a emoção da descida. Eletrizante, tocava todas as partes do seu corpo e girava a sua cabeça até as suas ideias coerentes não ficarem mais lá. Não havia surpresa nenhuma as pessoas saírem de pernas bambas do parque de diversões. Então, elas caminhavam de volta para casa, entravam nas suas rotinas e se esqueciam que sequer já estiveram a um pulo de tocar o céu.

— Sabe, a gente podia sair essa semana. — sugeriu, tentando parecer casual enquanto colocava as suas roupas. Ele estava de costas para dar alguma privacidade. — Eu conheço um restaurante bem legal.

— É? O tipo de restaurante que eu tenho que conhecer em Nova Iorque? — brincou, terminando de colocar a blusa. — Pode virar.

Mesmo ele tendo tirado aquela roupa, ainda a achava a garota mais gostosa com aquela sainha colada.

— Prometo que não é atração de turista. — disse, andando até ela e colocando as mãos em sua cintura. — Tem música ao vivo.

Antes que pudesse responder, o telefone zuniu. suspirou, murmurando um desculpa antes de sacar o aparelho do bolso e ler a mensagem. Sua expressão era de total choque, um curvar quase imperceptível surgindo em seus lábios.

— Terra para ? — ele ergueu o queixo, encarado-a. — Eu disse que sim. Só me dizer o dia. Mas se a banda for ruim, você me deve um sorvete.

— Sim, claro. — Ele sorriu, todavia, não pareceu alcançar os olhos. — Eu entro em contato.

não enviou uma mensagem com os detalhes do encontro ou qualquer outra. Entretanto, dias depois, ele estampou a capa de uma revista com sua ex-namorada, Lay Tate, enquanto os dois saiam de um restaurante. Havia sido a mesma revista que publicou uma foto de entrando no táxi com — e o repórter, se é que podia ser chamado disso, escreveu que aparentemente a morena misteriosa era a ex-namorada do ator. Eles estavam cegos?

bufou, através da sua raiva, ela teria que admitir que era impossível perceber era outra pessoa na edição de dois dias atrás, já que estava cobrindo-a por conta da sua altura. A única coisa que dava para ver era o cabelo castanho que, claro, Tate também tinha. estava sendo apagada da vida dele, até as notas de rodapé não recordavam o seu nome.

Ela achava que uma noite seria suficiente. Que sua paixonite obsessiva iria escapar pelos seus dedos enquanto ela deslizava nos dele, do jeito que a vacina leva um pouco da doença na fórmula. Entretanto, aquelas horas gastas na cama de só serviram para aumentar sua vontade por ele — agora sabia que poderia tê-lo, que poderia fazer ele gemer e fodê-la e querê-la do jeito que ela o quis por tanto tempo. Uma carícia em sua megalomania, mas ela não se importava. O que importava, como sempre, era ele.

Tentou combater os conflitos de si, agarrada ao fato de que ele escolheu , uma flor bonita se esgueirando pelo concreto de Nova Iorque. Que eles dividiram algo intenso e só deles. A camisa do ator perdida ainda em seu corpo, a chance da sua namoradinha perguntar onde a roupa de tinha desaparecido e ela estando em seu corpo como uma cena de crime. Quando ele beijasse a antiga-nova, ela teria que sentir o gosto de . Devia ser o suficiente.

Ainda assim, sua mente insistia em montar a imagem lúdica de Lay deitada na cama de , do lado de , apenas um grau separando as duas. Parecia uma memória desbotada em suas pálpebras, quase tão real que ela poderia tocá-la.

Isso estava deixando ela maluca.

As lembranças se tornaram fantasmas em sua cabeça de casa mal-assombrada. O rosto dele, o seu toque. não podia ser a única a sentir aquilo, a atração instantânea, o modo que eles pareciam ansiosos para saber mais um sobre o outro, o jeito que ele gozou nela, o café da manhã. era um cara legal, ela sabia. Só tinha mais do que apenas gentilezas, certo?

Por que uma partezinha dos seus receios mastigava seu cérebro, sussurrando que ela era só mais uma diversão? Que talvez a revista de fofoca barata estivesse certa, de algum jeito ela era só um degrau para ele chegar em quem realmente queria. balançou a cabeça, não. Ele havia gostado dela, de verdade. Por que o homem daria o número para ela? Ou a chamaria para um encontro mais tarde? Aquilo não era casual, pelo menos, eles não queriam que fosse. A capa da revista era pretensiosa. Uma manchete de tablóide para vender mais. Enterrando a sua intuição, a brasileira escolheu colocar um lenço em seus olhos e acreditar no amor.

A sua sanidade dava lugar a um desejo desenfreado ao passar do tempo.

Quando o telefone não tocou no dia seguinte, não se preocupou. Afinal, ele devia estar ocupado. No segundo dia, ela pensou em mandar uma mensagem, mas se segurou. No terceiro dia, ela se preocupou se algo poderia ter acontecido, todavia, se esse fosse o caso, certamente já estaria na internet. Prestes a completar uma semana, ela entendeu que se quisesse algo bem feito, teria que usar as próprias mãos — e alguns dólares. Eles só precisavam passar um tempo juntos e entenderia.

A vergonha em admitir que se enganou é maior do que a vontade de dar um passo para trás, então, você se joga de cabeça sabendo que vai se machucar.

sabia que ela não estava doida, ele com certeza sentiu aquilo também. Só estava confuso demais com a volta dos que não foram. Ele chamou-a para um encontro! Isso significava algo. Tinha que significar.

Ela tirou seu celular do bolso, enviando uma mensagem para a única pessoa que poderia ajudá-la.

Quer me ajudar em algo?

A resposta veio rapidamente.

Quanto vale esse algo?

My body is where they are at


Quando acordou, ele foi recebido com mais escuridão. Sua espinha gelou, esse era um dos piores sentimentos do mundo, abrir os olhos e parecer que eles ainda estavam fechados no breu.

virou o rosto em uma tentativa de se situar, apesar de sentir que sua mente chacoalhando. As mãos dele estavam amarradas atrás das costas com uma corda que ardia em seu punho, já as suas pernas estavam livres. Ele puxou os braços o máximo que podia, entretanto, logo algo impediu que continuasse o movimento: sua algema de fibras estava ligada à parede.

O ator imaginou que poderia puxar ela até que pocasse, mas provavelmente perderia os pulsos no processo. E se roesse nylon? Assim conseguiria desatar o nó ou engasgar tentando.

Antes que ele pudesse continuar listando suas opções, uma tosse chamou sua atenção. Na penumbra, avistou uma silhueta mesclada entre a escuridão, apenas o branco das suas orbes e o adorno do seu corpo se destacando.

O que porra estava acontecendo?

— Você está bem?

? — perguntou, reconhecendo a voz. Como não poderia? O sotaque mais bonito que ele já havia escutado. não conseguiu evitar suspirar aliviado por não estar sozinho e ter alguém conhecido lá, mas logo a culpa por celebrar a situação em que estava rastejou sobre os ossos. — Eu estou bem, só um pouco zonzo. E você?

— Eu estou bem. Acordei um pouco antes de você.

assentiu, apesar de ela não poder distinguir o movimento. O lugar não cheirava mal, nem parecia sujo pelo pouco que dava para ver com os olhos já acostumados ao escuro. Que lugar era aquele?

— Você está..

— Acorrentada? Sim. — suspirou, ajustando o corpo. Ela estava sentada no chão, assim como seu companheiro involuntário, e residia há alguns metros dele. — , você lembra de alguma coisa?

— Não muito. — admitiu frustrado. — Eu estava andando pela quinta avenida com a 74, senti algo furar as minhas costas e acordei aqui.

— O quê?

— Uma agulha, eu acho. — virou a cabeça na direção da voz dela, um acalento em meio ao caos. — E você?

— Eu estava saindo do meu apartamento e aconteceu a mesma coisa.

— Alguma chance de ter câmeras na rua do seu apartamento?

Ela franziu o cenho. — Acho que sim. Por quê?

— Não têm câmeras onde eu estava. — suspirou, apoiando as costas na parede e esticando a perna. Apesar de estar com medo, não poderia surtar. precisava dele, especialmente se estivessem aqui por sua culpa. — Teve um assalto semana passada e ninguém conseguiu recuperar as imagens. Aparentemente, as câmeras de segurança de alguns bairros estão com defeito.

O silêncio tomou conta do local. conseguia sentir seu corpo inquieto, aquela velha vontade de batucar no chão incontáveis vezes voltando, a respiração entrecortada. O que iriam fazer com eles? Quem estava no comando disso? Por que eles? Por que ? Isso era por causa dele?

A brasileira parecia sentir o cheiro do seu pânico, cuspindo as suas perguntas.

— Por que alguém iria querer sequestrar a gente? — ela fungou, e o peito de pesou com isso. Essa figura pequena e frágil de era tão diferente da mulher determinada e solta que ela havia conhecido dias atrás. — Não.. Não conhecemos ninguém em comum.

..

— A gente saiu depois de se conhecer em um bar, pelo amor de Deus!

..

— E se alguém tiver visto a gente lá?— seu olhar ricocheteou de um canto para o outro pela sala, parecendo tentar raciocinar o motivo daquele tudo como uma criança tentando encontrar a mãe no supermercado. — E se.. Tiver sido a barista?

Um barulho ressoou, fazendo com que ele se encolhesse e sua parceira encarasse a porta, o branco do seu olhar sumindo por um instante como se ele tivesse fechado os olhos.

, eu não acho que a Sally esteja envolvida nisso. — disse, com uma voz mais calma do que esperava ter.

— Você..

O tom desconfiado de fez seu corpo acelerar. Ele não podia deixá-la achar que estava envolvido com o que quer que fosse aquilo.

— Não! Não tenho nada a ver com isso. Eu nunca faria isso com você — se defendeu, — e nem com ninguém, ok?

A quietude sentou com eles lá por um momento até começar outra conversa, seu tom mais leve, mais parecido com a garota que o atraiu desde o primeiro sorriso no bar.

— Nunca se sabe quando alguém é um maluco.

riu, encarando o dedo. Ele empurrou a parte de dentro da bochecha com a ponta da língua, uma mania de quando estava nervoso.

— Nós, malucos, preferimos o termo diferentes. — completou, a mesma coisa que haviam dito um ao outro antes de engatarem em uma sessão de amassos como dois adolescentes.

Ele nunca se perdoaria se algo acontecesse com ela. Mas teria que sair de lá vivo para ter algum senso de autopiedade

— Então, o que você acha que é?

— Acho que tem a ver comigo. — admitiu, soltando um riso sem humor. — Eu não te contei isso porque.. Bom, é um motivo egoísta. Eu só gostei de conversar com alguém que não ligava para eu ser o e só queria estar comigo.

— Quem é ?

— Eu sou .

— Isso deveria explicar como acabamos aqui ou..? — questionou, como se perguntasse do que porra ele falava.

Um tiro em seu ego. De um jeito bom.. E um pouco indignante, ainda assim, haviam problemas maiores.

— Eu sou um ator. E músico. — Ele fez uma careta, parecia que estava se gabando ou listando um currículo. Era ambígua a maneira com que ele podia se sentir estupefato e, ao mesmo tempo, aliviado quando alguém não o reconhecia. Ainda assim, não trocaria sua carreira por nada.. Bom, talvez naquelas circunstâncias ele pudesse fazer algumas concessões. — Podem ter trazido a gente aqui porque, sei lá. Dinheiro?

gargalhou. Alta e desavergonhada, sem se preocupar com quem escutava.

se perguntou se ela havia perdido a cabeça de vez ou se ele estava ainda mais atraído por aquela mulher.

— Você é rico e estava bebendo em um bar com promoção de duas doses pelo preço de uma.

Ele bufou, não acredito que essa foi a parte que ela focou. — Eu gosto daquele bar. Conheci você lá.

— É, eu também.

E não era por isso que se encontravam ali?

— Desculpe de novo. Por te meter nessa bagunça. — pediu, sinceridade pingando a cada palavra. A sua mente, estagnada na culpa para evitar o horror, só queria que ela não o odiasse por isso.

— Não foi culpa sua. Você só estava confuso. — ela respondeu, compreensiva. — Eu também estou confusa com tudo isso.

— Vai ficar tudo bem.

não sabia se aquilo era verdade. Mas ele prometeu mesmo assim. E, se dependesse dele, faria tudo para manter a sua palavra.

— Eu sei que vai. — assentiu, mais calma do que ele já pensou em vê-la. Depois de alguns minutos, ela adicionou: — Sabe, eu notei que você não disse a sua profissão com orgulho.

— Como assim?

— Já vi secretários que se vangloriam mais por seguirem o chefinho influente do que você por ser um ator de sucesso. — deu de ombros. Ela achava que tinha desvendado complemente, até ele dizer algo, ou deixar de dizer, e parecer uma pessoa completamente nova.

Conhecer alguém era como ser uma criança experimentando todos os brinquedos do parque. Quando você acha que acabou, eles chamam uma nova atração e você está com aquele frio na barriga e querendo embarcar mais uma vez.

— Tive uma oportunidade única, um ano depois da faculdade de artes cênicas. — contou, um sorriso em seu rosto ao lembrar dos vinte anos. — E tem sido incrível desde então. Eu não posso reclamar.

— Mas se pudesse… — deu margem para que ele se abrisse, deixando claro que não iria julgá-lo. E pensar que essa era a garota que disse que ele bebia como um canadense.

Ele riu. — Ah, eu diria que realizar o seu maior sonho não resolve tudo.

— Sério?

— É. — assentiu, sabendo que aquela não era uma perspectiva comum. — Não me entenda errado, eu amo o meu trabalho, sei que nem todo mundo é pago para fazer o que ama, ainda assim.. Quando eu tinha vinte anos, tudo parecia mais fácil, como se eu tivesse que alcançar o objetivo e pronto, tudo estaria ótimo. — balançou a cabeça. Ele era tão ingênuo quanto destemido na época, sentia falta disso. — E minha vida é ótima, mas tem seus problemas, essa carreira vem com sacrifícios. — Ele bufou com diversão, gesticulando ao redor. — que eu não tinha ideia que estava fazendo quando comecei.

— Parece difícil. — concordou, adicionando em um tom brincalhão: — Tirando o dinheiro, a fama e tudo mais.

Ela tentava entender plenamente as reclamações dele, só que era difícil quando a maior parte da sua vida seria resolvida se, bom, ela estivesse no patamar de alguém como .

Já para o ator, era um grito no vazio. Nem ele compreendia totalmente o motivo de se sentir assim; tantos fatores, e a maioria soava fútil até para os seus próprios ouvidos. Pessoas mal intencionadas, os relacionamentos líquidos, o jeito que quase todos na indústria acreditavam no dinheiro como um deus. Ninguém para ligar no domingo de manhã, mas mil convites para festas aos sábados à noite. E ainda assim, ele não trocaria a sua vida por nada.

Não mudava o peso em seus ombros. Ou a dor em seu peito quando pareceu entender.

— Eu sinto que devia estar mais feliz às vezes. — confessou, puxando as pernas até o peito. — Só me sinto tão exausto.

— Tipo entrar em um relacionamento e achar que isso vai fazer a vida ser perfeita e perceber que não é tão simples assim. — falou com uma voz mansa e ele assentiu.

— Essa é uma das partes mais difíceis.

— Foi por essa parte que você não ligou? — perguntou e agradeceu, pela primeira vez desde que acordou naquele canto, pelas luzes estarem apagadas.

Ele estava envergonhado. Um romântico incurável, sentimental até demais, como diriam as suas ex-namoradas e alguns amigos da onça. Quando recebeu uma mensagem de Lay, que havia terminado com ele há poucos meses, sabia que era bom demais para ser verdade. Uma parte dele, pelo menos, tinha certeza de que não daria certo, engatar em mais um relacionamento vai e volta, perder um pouco do seu valor a cada súplica. Entretanto, também havia uma chance de mudança, de melhora dos dois lados.

Então, ele saiu com ela. Um encontro no primeiro restaurante em que foram fotografados juntos. não se incomodava muito com os paparazzis, já Lay amava a presença deles. Tudo parecia bem, por uma semana, até ele receber uma mensagem dela terminando tudo mais uma vez.

havia evitado ligar para por conta do turbilhão de emoções com sua ex, até mesmo apagando o número seu quando ela pediu - ao que parecia, ela viu a capa da revista com a foto dela e de uma morena misteriosa. Ele quis se bater ao lembrar que imaginou que isso aconteceria, que havia se animado com a possibilidade.

Pensar que ele ia em direção ao The Black Dog para tentar encontrar e agora ambos estavam sequestrados. Esse com certeza não era o primeiro encontro que ele tinha pensado.

— Sim, e isso foi um erro. — riu sem humor. — Desculpa não ter te ligado. Tinham coisas pendentes que eu precisava resolver.

— Deve ser uma merda ser sequestrado com a garota com quem você transou e não ligou na manhã seguinte. — a acusação em sua voz era óbvia, e sabia que merecia aquilo. Ele suspirou, aceitando o golpe antes de revidar:

— Eu não escolheria nenhuma outra para estar em cativeiro comigo, .

E por um momento, era verdadeiro. Como tudo relacionado a brasileira.

Não demorou muito para as luzes acenderem, causando um misto de surpresa e medo em ambos. segurou a respiração, encarando a porta trancada como se algum maníaco pudesse passar por ela a qualquer momento. Quando isso não aconteceu, ele pousou os olhar nela.

permanecia como sempre, a sua beleza um direito de nascença que ela esbanjava sem nem perceber. O cabelo preso em um coque, apenas a franja longa descia pelo seu rosto. Os lábios vermelhos e seu rosto parecia suado. Ela vestia uma calça jeans larga e uma cropped preta com um único botão, que deixava um decote generoso, especialmente por conta das suas mãos para trás, que evidenciaram esse detalhe ainda mais. Como ela podia ser atraente até assim?

não estava muito diferente. Seu rosto suado, braços unidos por um nó atrás do corpo, tênis, uma calça jeans, um cinto de couro e uma camisa regata.

Com a claridade, ele conseguiu observar o ambiente ao seu redor. A sala parecia um porão comum em quase todas as casas suburbanas dos Estados Unidos — não tão normais assim em um lugar entupido de prédios como esse. Eles ainda estavam em New York?

Sem janelas, apenas a porta de madeira e duas refeições na mesinha de centro. Esticando o pescoço, conseguiu identificar um prato com arroz, feijão e algum tipo de carne; o outro tinha uma massa de macarrão, tagliatelle, com pedaços de alguma coisa. Provavelmente a comida estava fria, já que o cheiro não impregnava o ambiente.

O lugar era limpo, um ar-condicionado velho havia sido ligado junto a lâmpada e soprava um vento gelado. Haviam duas cadeiras na mesa e um colchão no chão, no qual encontrava-se sentada; diferente dele, não havia uma corda ligada à ela. Era provável que estivesse com uma algema ou, blindados pela burrice, os sequestradores tivessem assumido que ela seria mais fraca e tivessem amarrado ela com a corda sem estar firmada. Aquilo poderia ajudar eles a escaparem.

se aproximou dela, movendo seu corpo até o canto da sala. A corda em seus pulsos protestou somente quando ele se posicionou a alguns centímetros dela. suspirou, oferecendo um sorriso meigo antes de descansar a testa no ombro dele.

Pela primeira vez desde que acordou, se sentiu em paz. Ele não estava sozinho.

Eles permaneceram em silêncio, encarando a parede, esqueceram da fome, satisfeitos por estarem perto de alguém.

Depois de um tempo, comentou: — Minha irmã deve estar tão preocupada.

— Qual das?

— A Sheron. Eu ia almoçar com ela hoje e.. — ele franziu o cenho. — Eu nunca te contei que tinha irmãs.

— Claro que contou, no bar.

— Não contei. — insistiu. Não costumava ter lapsos de memória quando bebia, ele teria se lembrado disso. — Eu te disse que vinha de uma família grande, não mencionei irmãs.

, eu não sou burra. — retrucou irritada, tirando a cabeça do ombro dele. — É só juntar um e dois. Quem tem família grande tem irmãos.

— Irmãos ou irmãs. Ou muitos primos. — ele desviou o olhar de , sua mente corria a mil por hora. — Eu também não mencionei que não era de Nove Iorque naquele dia no bar.

Ela grunhiu. — Você está sendo paranóico.

— E isso.. — ele percebeu, apontando para a mesa a poucos metros de distância. — Essa é minha comida preferida.

— Parece que sua sequestradora é uma fã, então. — deu de ombros, como se não entendesse a conexão. — O que eu tenho a ver com isso?

— E quem disse que era um sequestradora?

I heard you’re back together and if that’s true


Tudo aconteceu rápido demais depois disso. se virou, pronto para enfrentar , mas logo a mulher trouxe os braços para frente do corpo. Ele não teve tempo de reagir, só conseguiu ver que os pulsos de não exibiam marcas avermelhadas, ela nunca esteve presa. Antes que pudesse dizer ou pensar em fazer algo, a brasileira tirou uma seringa debaixo do colchão e aplicou em seu braço.

— Sabe, é legal que aqui vocês confiem tanto assim. — A voz dela parecia distante. A visão dele se tornava turva à medida que a sua cabeça pesava. acariciou a sua nuca com uma ternura descabida para as circunstâncias. — As casas sem muro, o pagamento da conta deixado na mesa, mas, de onde eu vim, não é assim que as coisas são. A gente sempre tem que ter um plano de contingência.

— Por quê? — conseguiu cuspir a palavra, seu cérebro embaralhado em si mesmo. Parecia ter tomado dez porres seguidos.

— Desculpe por isso, . — A voz dela se assemelhava a um ruído de televisão, a música que você não entende as palavras cantadas através da batida. O crânio de pendeu para o lado, caindo no ombro de . — Tudo vai fazer sentido, eu prometo.

Foi a última coisa que ele ouviu antes de ser engolido pela escuridão de novo.

Quando voltou a si, a sensação da sua garganta seca como se tivesse engolido areia o atingiu. O cérebro balançava mais do que a última vez e sua visão demorou mais para focar. Tinha sido drogado com mais potência dessa vez? Ele se sentia grogue, recém-acordado de um sono que não sabia se havia durado horas ou dias.

Há quanto tempo ele estava lá? Por que ele estava lá? ..

Ele sentiu uma ânsia de vômito ao lembrar do que havia acontecido. , a mulher com quem ele passou a noite, era a porra de uma sequestradora. Ela havia pego ele e ainda tinha mentido, brincando de teatrinho como uma espécie de masoquista.

Como alguém podia ser tão dissimulada assim?

E como ele não conseguiu notar?

— Bom dia, bela adormecida.

sentiu um frio na espinha ao ouvir aquela voz gentil. Ele levantou o queixo, encarando a mulher na sua frente: uma saia longa, uma blusa apertada e brincos de argolas. Seu cabelo longo solto, seus lábios pintados de carmesim e ela estava linda de uma maneira tão sútil que parecia quase desavisada do poder de sua própria aparência.

Tudo nela era convidativo, igual um predador animal que queria a presa próxima antes de dar o bote. Não era surpresa que ele tivesse caído nessa.

— Por que você está fazendo isso?

— Você me forçou a isso com essa mania idiota de sempre voltar para suas exs.— ela bufou, a situação era irritante para si mesma também.

— Sempre? — piscou, atônito. — Há quanto tempo você tem me seguido?

franziu o cenho. Quem ele achava que ela era? Uma doida desesperada?

— Você acha que isso foi premeditado? — o silêncio de respondeu por ele e grunhiu. Inacreditável. — Meu Deus, não. Eu não sou uma stalker maluca. Eu só pesquisei um pouco sobre onde você ia, vi a placa da rua do The Black Dog em uma foto com uma fã, conversei com algumas baristas e conheci a Sally. — explicou normalmente, aquilo não era algo de outro mundo, era? Quase toda a sua geração era letrada em encontrar lugares online. — Ela ficou bem feliz em me dizer quando você ia no bar por alguns dólares.

— Você já sabia que eu estaria lá? — perguntou, tentando raciocinar o que dizia.

. A mulher que fez ele rir e ficar duro. A mulher por quem ele teve uma atração imediata. A mulher que ele tentava encontrar quando foi raptado.

A porra da sua sequestradora.

— Você é uma figura pública, . — revirou os órbitas, irritada. — Isso vem com o trabalho. Não era esse um dos sacrifícios que você estava falando?

— Por que você está fazendo isso? — A raiva borbulhava, todavia, a pior parte era sentimento de traição, atingido por fogo amigo. — Eu gostei de você, eu confiei em você.

— É, até a sua ex ver uma foto nossa em uma revista de merda e você rastejar de volta para ela igual um cachorrinho perdido. — pontuou, cruzando os braços ao assistir arregalar os olhos. Na maioria das entrevistas dele, ele parecia tão sem energia. Com certeza estava bem expressivo agora. — Qual é, você acha que eu não notei a mensagem no seu celular?

— Você olhou o meu celular?

— Não. Mas para um ator, você é um péssimo mentiroso.

sufocou no próprio ar, seu coração parecia estar escalando pela sua garganta até pular da sua boca. Quem era essa mulher? O que aconteceria com ele?

— O que é isso? — perguntou, tentando entender a razão de estar lá. Um não telefona depois de uma noite era motivo suficiente para cometer um crime? — Vingança?

— Não. Eu já te disse, isso não foi premeditado. — uniu as sobrancelhas, considerando antes de continuar. — Bom, só a parte de te encontrar no bar. Não é muito diferente de ver a localização de alguém no instagram e ir lá ver a pessoa.

— Ninguém faz isso! — exclamou em frustração.

— Você nem imagina. — suspirou dramaticamente, puxando uma cadeira e se sentando. — Por que acha que sempre dizem para postar foto depois que sair do lugar? É um mundo perigoso.

queria chorar. Ele queria gritar. Todos os seus sentimentos pareciam estar comendo-o vivo. O que ela queria? Por que ele? Ele fechou as pálpebras, sentindo os mesmos marejados, e tentou se acalmar antes de encará-la de novo.

As orbes castanhas pareciam as mesmas que o observavam sobre o sol tímido do início da manhã no seu apartamento. Como isso era possível?

— Você vai me matar?

engoliu em seco, sem saber se estava pronto para ouvir aquela resposta.

— É claro que não! — negou de prontidão, a ideia de que ela poderia machucá-lo parecia inconcebível. — Eu só queria te encontrar no bar e te conhecer. Só isso.

— Então, por que estamos aqui? — ele franziu o cenho em confusão.

— Eu não gosto de falar de sentimentos, mas sempre senti que a gente se daria muito bem se nos conhecêssemos. — havia um leve rubor nas bochechas dela. nunca havia visto envergonhada, seria fofo em melhores circunstâncias. — E olha só, eu estava certa. Achei que uma noite ia ser suficiente e então..

— Você é minha fã, . — a interrompeu. Era disso que se tratava, não era? Uma fã. Acima do medo e da raiva, ele se sentiu traído mais uma vez. Tudo tinha sido uma mentira. Ela não queria conhecer ele, apenas o . Era nojento como aquilo doeu mais do que metade das coisas que havia feito. — Assim como eu sou fã de outras pessoas. Achamos que sabemos tudo sobre elas e admiramos elas, mas é só.. Platônico. Não conhecemos essa gente o suficiente para amarmos elas.

— Mas eu te conheço. E você me conhece. — retrucou, tão certa quanto um político em uma mentira deslavada.

— Não o bastante.

— Só o suficiente para ficar maluco e quase me foder dentro de um táxi, não é? — As suas palavras pareciam cortar a pele de . — Não se preocupe, . Eu não sou uma adolescente apaixonada. Gosto do seu trabalho, escuto algumas músicas e só.

O rosto dele se contorceu em uma careta confusa.

— Só isso? — Ela havia sequestrado ele e nem mesmo havia escutado o álbum todo?!

— É. — deu de ombros, não afetada pela expressão quase indignada do ator. — Eu não sigo páginas sobre você e muito menos consigo cantar a sua discografia toda. Admito que tento assistir todo programa que você atua, é isso. Eu não sou uma fã obcecada. Eu só acho que a gente daria certo.

balançou a cabeça, um riso histérico deixando seu corpo.

— Você é maluca.

crispou os lábios, um olhar semicerrado.

— Agora, isso foi bem sexista da sua parte.

Ela se levantou da cadeira, andando em direção a porta.

— Aonde você vai? — sem resposta, a brasileira girou a maçaneta. Aquele barulho instalou pânico por todo corpo de , sua mente em alerta vermelho. — ! , o que você vai fazer comigo?

A resposta dela foi o ruído da porta sendo trancada.

Now I’m gone, but you’re still laying


— Bom dia. Você acorda tarde. — ofereceu um copo de café para o ator, que encarou a caneca e depois o rosto dela, arqueando a sobrancelha. Ela revirou os olhos. — Eu não vou te envenenar, .

— Você não parecia o tipo que ia me sequestrar também.

— Que tipo eu parecia? O estrangeira facinha? — bufou, bebericando o líquido antes de colocar na frente dele. Uma das duas mãos ainda amarrada com a corda, já a outra estava livre a maior parte do tempo. Um presente de pelo bom comportamento.

Ele havia tentando arrancar o nó, mordê-lo, qualquer coisa. Porém só conseguiu rasgar a boca e inflamar o seu pulso. esperava que ela esquecesse algum talher, mas , como ele havia aprendido, era meticulosa demais para isso.

As garrafas d'água eram a única coisa que ela deixava no porão sem a sua supervisão. Entretanto, se ela esquecesse a xícara.. Ele podia quebrá-la e usar os cacos para cortar a porra da corda.

Por aquele momento, se contentou com café quentinho, mais forte do que ele estava acostumado. Ao menos ajudaria ele a expulsar o sono.

— Você diz que não é minha fã, mas parece muito com isso. — tentou começar uma conversa.

era a única pessoa que mantinha a sua companhia. E nunca foi muito bom em ficar sozinho.

— Uma noite. Eu só queria uma noite. Não é minha culpa se seu pau é bom. — ela provocou, com aquele tom de brincadeira que age como uma cortina de verdade. Ele devia ser um doente, porque sentiu um frio na barriga com aquilo. — Isso te deixou excitado, não foi?

ignorou o calor em suas bochechas e em outras partes do seu corpo. Ele ainda estava assustado, ainda estava raivoso. Um refém dos próprios sentimentos, afogada em muitas coisas de uma vez.

Especialmente por ela.

Exausto de si mesmo e daquela situação, perguntou: — , o que você quer de mim?

— Nada! — afirmou, logo abrindo um sorriso. — E tudo.

— O quê..

— Toma o seu café. — cessou as perguntas antes de começarem, recebendo um olhar repreendedor do mesmo. — Qual é, não me faça provar de novo. Eu odeio café.

Ele tomou maia um gole.

— Vão começar a procurar por mim.

— Está certo. — ela concordou. Não era burra: havia um limite para o tempo que um ator podia ficar longe da mídia. Ela tirou o celular dela do bolso, mostrando-o. — Mas você mandou uma mensagem para a sua irmã remarcando o almoço e para o seu agente dizendo para adiar a reunião porque estava precisando espairecer a cabeça.. E aí ele perguntou se a mulher misteriosa já tinha assinado o acordo de confidencialidade. Essa sou eu?

— Sim. — ele assentiu, o amargo do café piorando em sua língua.

— Por que não pediu para eu assinar isso?

Ela realmente achava que ele era esse tipo de cara?

— Porque é nojento, . — afirmou sem rodeios. — Eu vi você em um bar, gostei de você, você gostou de mim e fomos para a minha casa. Precisamos mesmo de um contrato para isso? — ele bufou. — Não é assim que relacionamentos normais funcionam.

permaneceu quieta, encarando o celular antes de voltar seu olhar para ele.

— Você.. Você realmente gostou de mim?

A sua voz era frágil, vulnerável. O peito de doeu com aquilo. Era assustadoramente fácil enxergar a si mesmo naquela insegurança quebradiça.

— Sim. — ele disse porque era verdade. — Você era diferente do tipo de pessoa que eu estou acostumado. — arqueou as sobrancelhas, olhando ao redor. — Bastante.

— Isso não parece um elogio. — entortou a boca, impaciente.

Em outro lugar, ele teria achado a birra adorável.

— Na época era. — disse antes de continuar. — O pessoal com quem eu saio, nem só em namoro, no geral.. Bem, eles são falsos. Como plástico. Eles falam sobre coisas vazias e se importam com assuntos que ninguém liga. Como quem está de volta na Vogue, qual melhor método de plástica para parecer natural, ou qualquer merda sem sentido que você possa imaginar.

deu uma risada seca. Tudo em seu meio era tão raso, cercado de gente que nem parecia gente. Ele não queria que seu maior feito fosse se encaixar naquele molde. Ele queria mais, queria amigos de verdade e um propósito.

— Parece bem hollywoodiano.

— E é. — assentiu. O show business não era isso? Um jogo de fingir de alta sociedade. — Às vezes, sinto que não pertenço. Ou que pertenço até demais e que estou me importando cada vez mais com esse tipo de besteira.

— Eu concordo.

piscou, incrédulo. Como assim ela concordava? Que tipo de fã era essa?

— Como é?

— Sabe por que as suas relações parecem tão rasas? Porque elas são, . — disse, como se estivesse explicando algo para uma criança. — Você só sai com gente do meio, você só namora gente do meio. Qual a última conversa que você teve com alguém normal antes de mim?

Normal?! — elevou a voz. Aquilo não podia ser sério. — Você me perseguiu e me sequestrou.

— E ainda assim… — deu de ombros, um sorriso presunçoso no rosto. Ela era mais real do que eles, mas a realidade podia ser assustadora para caralho.

— O que você vai fazer comigo? — sem saber o que mais perguntar, cada vez mais confuso com o rumo das conversas de , ele tentou mais uma vez.

— Sabe, . O seu problema é que você é muito centrado em si mesmo. Você acha que só porque é famoso nos Estados Unidos, vai ser assim no resto do mundo. Se viajasse para um país tropical, veria que vai ser tratado como qualquer outra pessoa. — sorriu com escárnio, e ele se sentiu estranhamente visto, de uma maneira que rendeu calafrios e uma ira latente, tudo escondendo uma vergonha atrás das cortinas. — Talvez parte sua saiba e você só não queira isso.

— É isso que você vai fazer? Me levar para um país tropical? — Questionou, ignorando todo o resto que ela havia dito.

— Não. Isso foi só um conselho. — gesticulou com a mão, indiferente. Ela o mantinha em cárcere privado e parecia nem achar ele grande coisa. Talvez eu estivesse errado e ela seja uma hater, pensou. — Talvez você saiba que poderia encontrar gente de verdade por aí, mas esteja acostumado demais com a falsidade ao seu redor. Talvez você seja mais parecido com os idiotas que sabem o nome da diretoria toda da Vogue do que pensa.

Next to me, one degree of separation


Algum tempo depois, se espanta com uma batida. nunca bate, ela só entra como se fosse a dona do lugar, confiante.

A porta se abre, mostrando Sally com um sanduíche natural embrulhado em plástico. A barwoman simpática que sempre lembrava do seu drink. Ele sempre a dava gorjetas recheadas e agora assistia ela pegar um turno em alimentá-lo no cativeiro da sua fã maluca.

— Almoço, estrela. — disse, com um sorriso simpático. Ela adicionou mais um piercing em seu rosto ou ele já estava alucinando?

— Sally, você tem que me ajudar. — É a primeira coisa que ele pede, mesmo achando que é inútil. Ele tinha que tentar. Ainda não havia quebrado a xícara de café por medo de ouvir e amarrar suas duas mãos de novo. — Por favor.

A barwoman suspirou, andando até a mesa e colocando o prato lá. O cheiro da comida invade os sentidos de , e ele pode ouvir sua barriga roncando.

— Você sabe que eu não posso. — Ela resmungou, virando-se para o ator com um olhar apologético.

Ele já sabia que Sally era uma das envolvidas, mas não conseguia entender o motivo. Duvidava que ele fosse o único famoso que ela conhecia e, se esse fosse o caso, poderia só ter dado a informação do freguês VIP do bar e ter seguido com a sua vida.

— Por que você está nessa? — tentou mais uma vez.

— Coma, . Está muito bom. — tentou desviar do assunto, entretanto, não iria deixar.

— Ela está te pagando?

Sally suspirou. Se ele não ia largar do seu pé, ela podia fazer isso rápido. É só tirar o band-aid.

— Meu irmãozinho tem câncer de estágio 2. — disse de uma vez, abraçando a si mesma. Até falar sobre aquilo doía. — Eu tive que largar a faculdade para tomar conta dele.

a encarou atônito, sua boca escancarada em surpresa. De todas as justificativas possíveis, ele nunca esperaria essa.

— Eu.. — gaguejou, sem saber ao certo o que dizer. — Eu sinto muito, Sally.

— É, eu também. — deu um sorriso triste. — Mesmo com os turnos extras no bar, a conta não estava fechando no final do mês. Se você não é rico, o programa de saúde é uma piada. A .. Ela me ajudou.

— Como?

— Com dinheiro, no começo. — assentiu. — Ainda assim, não importa o quanto ela pague, ou o quanto qualquer um pague. As contas continuam aumentando. Os exames, os remédios..

— É uma droga. — concordou. Ele não teve esse tipo de problema enquanto crescia: seus pais provinham de uma renda estável, uma casa grande legal que comportava os 4 filhos e alguns cachorros. Todavia, ele participou de um filme sobre o sistema de saúde injusto do país, e gostava de acreditar que aprendeu uma coisa ou duas. — Os planos de saúde só querem sugar mais. Não é justo.

— Não temos um sistema público de saúde, mas o Brasil tem. — explicou, seu rosto parecia implorar para que ele entendesse. Sally não era ruim, ela nunca poderia ser. E ali, escutando aquela história, não conseguia acreditar que era completamente malvada também. — Ela me ajudou a transferi-lo para lá, deixou que ele ficasse na casa dos pais dela. — A barwoman riu através dos olhos chorosos. — Eu sei que parece um crime federal..

— Acho que esse é o menor dos crimes nesse caso.

Os dois trocaram um sorriso cúmplice.

— Lá o sistema público de saúde atende até imigrantes. — continuou. — Não é perfeito, nem de perto, mas é um grande auxílio e salva vidas. Está salvando a vida do meu irmão.

— O seu irmão está melhorando? — perguntou depois de um tempo. Ao menos, isso deveria ter valido a pena para alguém.

— Está, graças a . — ela pressionou os lábios juntos, estudando o homem à sua frente. Era irônico estar elogiando quem havia o colocado. — Eu sei que isso tudo parece loucura, e é, só que ela não é uma pessoa ruim.. E também me prometeu dez mil dólares para ajudar nisso.

riu. Ele poderia pagar bem mais de dez mil dólares, porém duvidava que Sally aceitaria. A dívida que ela tinha com ia além do valor monetário, ela salvou a vida do seu irmão. Se fosse uma das irmãs dele.. balançou a cabeça, afastando aquele sofrimento inventado.

Já haviam terrores reais demais para morrer pelos hipotéticos.

— O que vai acontecer comigo? — a pergunta apareceu mais uma vez, sua voz baixa como quem tem medo da resposta.

— Ela não vai te machucar. — assegurou, gesticulando em direção ao prato. — Coma, vai precisar.

— Que bom que seu irmão está melhor.

Ela recolheu a xícara de café, deu um sorriso em sua direção e se foi pela mesma porta que havia entrado.

Everytime you close your eyes


— Você me disse que vir para New York era um sonho antigo seu.

— Não se ache tanto. — revirou os olhos, sabendo onde ele queria chegar. Homens sempre se acham o centro de tudo. — Eu realmente sempre quis vir para cá e para a Califórnia.

— Dois lugares bem diferentes.

— Eu sei, os californianos acham os nova-iorquinos estressados e babacas. E os nova-iorquinos acham os californianos esnobes e drogados.

— Você sabe mesmo.. — arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Eu te disse, um sonho. E não tem nada a ver com você.

Ela sorriu para ele daquele jeito que batia em seu ego e acariciava algo dentro dele. Daquele jeito que já era um sinal de alerta antes e, nessa situação, era um perigo iminente.

— Então por que isso? Por que não me deixa ir?

suspirou, cansada das mesmas perguntas de sempre. Era isso que acontecia com pessoas? Se você tirasse a internet e o mundo exterior, elas repetiriam a si mesmas até o tédio?

— Eu não sinto que terminamos ainda. — contou uma meia verdade. Ela realmente acreditava nisso, todavia, também não tinha ideia do que fazer com ele. Nunca machucaria , contudo, não queria ser detida na fronteira ou algo do tipo. Como iria deixar ele livre e conseguir escapar?

Uma vozinha em seu cérebro ainda sussurrava que ele podia entender e se apaixonar por ela. Já haviam se passado dois dias, e não era conhecida pela sua paciência.

— Eu não aguento mais ficar aqui. — O ator disse com exaustão

, eu não vou fazer nada com você.

— Você já está fazendo. — E foi um soco no estômago de . Ela estava machucando ele, não era? — O que você queria fazer?

— Como assim?— perguntou, tentando voltar ao controle dos seus pensamentos.

— Se seu sonho é vir para cá, com certeza tem um objetivo.

parecia interessado, como no dia que se conheceram no bar. Ela não conseguiu evitar um sorriso sincero.

— Eu queria ser uma atriz. — Esperou ouvir risadas ou descrença. Quando nada veio, ela encolheu os ombros, pronta para o seu segundo segredo. — Nunca contei isso a ninguém.

— Sério?

— Sonhos de crianças brasileiras e crianças americanas são bem diferentes. Vocês têm mais permissão para sonhar do que a gente.

não esperava que entendesse, até que seu olhar castanho suavizou, recheado de compreensão. Aquilo doeu no âmago dela. Que alma quebradiça.

— Vem cá. — Ele a chamou com uma voz mansa, abraçando ela de lado de maneira desajeitada. Ambos acomodados no colchão, e ele se sentiu quase seguro ao inalar o cheiro de do shampoo dela. — Eu acho que você seria uma ótima atriz.

— Você acha?

— Tenho certeza. — assentiu. Ela havia mentido como uma profissional, e ele comprou o ato dela como um bobo. — Você tem um campo magnético que atrai todo mundo para perto.

— Eu te atraí?

— Mais do que eu gostaria de admitir.

Ela se aninhou em seu pescoço e, pela primeira vez em dias, se sentiu confortado. As meias verdades eram acolhedoras e a pele dela também. As suas emoções estavam em guerra constante quando se tratava de , porém, naquele instante, quem venceu sua batalha foi a vontade de ser livre.

Ele puxou o braço com toda força que pôde, sentindo os fios da corda arranhando seu pulso até tirar sangue. Com seu braço livre, ele tentou alcançar a faca que guardava em seu bolso, recém-colhida da refeição. Ela gritou, tentando empurrá-lo.

Mas era mais forte. Ele agarrou o braço dela, impedindo a mulher de se afastar. conseguiu, com a outra mão, jogar a faca para longe. Quando saiu de cima dela para tentar agarrar o objeto, empurrou ele para o lado, que caiu pela surpresa. Ela se levantou, empurrando a faca com a ponta do pé.

— Eu não acredito que você tentou.. — Ela puxou o próprio cabelo, andando de um lado para o outro antes de se voltar para . — VOCÊ É UM BABACA DO CARALHO!

— E VOCÊ É UMA PSICOPATA MALUCA! — gritou de volta, erguendo-se.

— POBREZINHO DO . — suas palavras pareciam ricochetear como rosnados de um cão raivoso. Ele não podia acreditar no que escutou. realmente achava que ela tinha o direito de surtar?! — CHORAMINGANDO PORQUE QUER ALGUÉM QUE AME ELE E FICA IGUAL UM COVARDE QUANDO CONSEGUE!

agarrou a faca e andou até a porta. De repente, todo aquele medo ansioso e a ira se dissipou na necessidade de ter alguém por perto.

— ESPERA, NÃO ME DEIXA AQUI SOZINHO! — gritou, tentando alcançar a porta e a corda revidou mordendo o seu pulso já machucado. Ele gemeu de dor, encostando na parede. — , VOLTA AQUI. — soluçou. — ..

And feel his lips, you’re feeling mine


— Porra, . — Uma voz conhecida choramingava do outro lado da porta. — Isso.. Me fode.

Ele conhecia aquele tom. As palavras ofegantes, os barulhos.

? — chamou, tão baixinho que duvidava que alguém além de si mesmo teria ouvido.

Ele estava alucinando? Perdendo a sua mente para a maluquice que o forçaram?

— Me fode. — Um pedido que mais parecia uma ordem.

Aquilo não era um sonho.

A porta se mexeu como se alguém, , estivesse batendo nela. fechou as pálpebras, deixando que sua imaginação pintasse no fundo da sua mente: sentada, com as costas na porta e dois dedos enfiados na sua buceta, pensando nele.

— Porra. — Suspirou, sentindo seu membro endurecer. O ódio da situação, o temor que ia além da dúvida em não saber o que ela iria fazer com ele, mas de estar só. Ele estava tão sozinho e estava tão perto. — Queria você aqui.

— É? — perguntou com zombeteira, provocando-o. — E o que você faria se eu estivesse aí?

— Eu sentiria o seu gosto na minha boca. Estou sonhando em cair de boca em você de novo desde aquela noite. — A admissão veio de maneira natural, como qualquer verdade impensada. Já tinha muito tempo desde que ele havia tocado alguém, desde que haviam lhe dado carinho, aconchego. As memórias da noite com eram um acalento nas noites de solidão causadas por ela. De um jeito estranho, era como sentir saudades de alguém que havia quebrado seu coração. — Pensando em você sentada na minha cara. Em provar você de novo, sentir o seu gozo na minha língua.

. — ela gemeu, e a poeta começou a se mover mais.

. Por favor, eu preciso tocar em você. — ele pediu, doente com a vontade de ter alguém perto. O seu pau doía, seu corpo doía, tudo doía. E só ela podia ajudar. — Por favor.

— Você não se comportou. — disse, tentando soar impassível, apesar do toque de dúvida que conhecia bem. — Como eu sei que..

— Eu só quero te foder. Eu não vou tentar sair. — prometeu, sem se importar com o quão carente ele soava. Porra, ele assinaria um contrato se ela quisesse. desceu as mãos até a calça, libertando o seu membro ereto e segurando-o. Um grunhido de prazer deixou seus lábios com a fricção. A algema de metal havia substituído a corda, fazendo com que seus movimentos estivessem limitados, mas ele podia trabalhar com isso. — Eu só preciso te tocar. Eu só preciso sentir o seu toque em mim.

O silêncio, preenchido com respirações ofegantes e o tilintar do metal, durou pouco.

— Não vou tirar a algema.

— Eu não me importo. — ele disse, movendo a mão para cima e para baixo no próprio pau, imaginando os dedos de ao redor do seu comprimento. estava tão distraído com isso que não percebeu que ela entrou no porão até a brasileira trancar a porta. Ele ergueu o rosto, se deliciando com a visão dela em nada além de uma camisa dele. — Você é gostosa para caralho.

Ela sentou ao lado dele no colchão, deslizando um dedo dentro da sua própria buceta e levando-o até os lábios dele.

— Olha, deveria provar, já que você que causou isso. — De imediato, abriu a boca, enrolando os lábios ao redor dos dedos de . O gosto dela era melhor do que ele se lembrava. — Demorou mais para acordar do que eu imaginava.

Através das palavras duras, houve um choramingo quando ele terminou de limpar os dedos dela.

— Estou bem acordado agora. — garantiu.

Porra, o gosto dela havia ficado em sua mente por dias. Lay tinha provado ela quando ele a beijou? Ele reprimiu a ideia.

..— disse manhosa, enviando um arrepio pelo corpo dele. O ator se inclinou, despejando beijos e mordidas no pescoço da morena, que gemeu. — Eu preciso de você.

— Precisa de mim para que?

— Preciso que você me foda.

Foda-se o bom senso.

— É claro que precisa. — ele grunhiu, deitando-a no colchão. colocou um dedo dentro dela, esfregando a sua palma contra o seu clitóris. Os ruídos que fez deixaram seu membro ainda mais duro. — Você é uma puta pelo meu pau, não é? Olha até onde você iria para me ter enterrado dentro da sua buceta.

..

Shh. Tudo bem. — ele disse, colocando mais um dedo dentro dela. Os dois sabiam que aquilo não era o suficiente. — Eu vou te dar o que você quer. — se inclinou, pressionando sua boca nos lábios dela.

Não havia nada romântico naquilo: era bruto, áspero, necessidade pura. Os dois estavam, eram, desesperados um pelo outro, de maneira mais crua possível. A angústia se dissipou em acalento febril, a língua dele invadiu a sua boca, pressionando a dela, compartilhando o seu gosto no beijo desajeitado e cheio de querer.

Ele tirou os dedos da intimidade da mulher, sorrindo com orgulho ao escutar o gemido frustrado de . Antes que ela pudesse reclamar, ele deslizou dentro dela, murmurando de prazer.

— Porra, você é tão apertada. — gemeu, movendo os quadris para conseguir mais dela. Queria possuí-la, ter ela chorando no seu pau enquanto a sua buceta apertava ao redor dele.

Sentir o pau dele fodendo-a, batendo naquele ponto dentro dela e voltando para mais a cada movimento fazia arfar e implorar por mais. Ainda assim, o fantasma de amores passados estava impregnado nela como um perfume ruim. Para quem ele já tinha dito isso antes? Com quem mais ela estava naquela cama?

Mas afastou aquilo. Mesmo se ele escolhesse deixá-la, se confortou com a ideia de que toda vez que alguém fechasse os olhos e sentisse os lábios dele, ela estaria lá.

— Só para você. — choramingou, guiando uma mão até seu clitóris. Por conta das algemas, não poderia fazer o trabalho completo. Ele sabia que, a cada segundo cedido, ela estava se impregnando dele, tirando a solidão e colocando algo torturante em volta, mas que era quente e bom naquele instante.

E toda vez que alguém respirasse o ar dele, ela já teria estado ali.

— Só para mim. Essa buceta é minha. — Aquelas palavras fizeram ela estremecer. As estocadas dele aceleraram, parecendo ainda mais profundas. Ela gritou quando ele atingiu seu ponto G repetidamente, peeseguindo o ritmo dele com seus próprios movimentos. — Você é do meu pau, porra.

— Eu sou do seu pau. — concordou imediatamente.

Aquilo foi o suficiente para que ele gozasse dentro dela. não ficou atrás, algumas estocadas depois, ela havia atingido o ápice com dentro dela.

Depois de alguns minutos, a mulher se desvencilhou dele, abaixando a blusa para cobrir mais. Estava prestes a levantar quando o ator a interrompeu:

— Você.. Pode ficar aqui? — ele pediu, algo que caras não pediam depois de uma rapidinha. Algo que ela não imaginou que iria querer.

— Tem certeza?

assentiu, parecendo envergonhado consigo mesmo. Qualquer relutância saiu do seu corpo quando o abraçou, deixando ele descansar a cabeça em seu peito.

And everytime you breathe his air


— Eu trouxe um filme! — ela disse, entrando no porão como se fossem colegas de quarto. — Você é ator, devia conhecer boas obras.

— Eu conheço. — bufou, ainda sem acreditar que ela não achava Psicose um bom filme. — O que é isso?

A morena segurava uma pipoca em um braço e um aparelho branco nas mãos, andou até a mesa e conectou o mesmo na tomada, mexendo em alguns botões. mexeu as mãos, franzindo o cenho para o barulho das amarras.

— Um slideshow. — levantou o olhar para ele. — Não sei como vocês chamam aqui.

Assim que o aparelho foi ligado, ele refletiu uma imagem na parede. Ah, então era aquilo.

— Um projetor. — disse o nome. Era adorável como ela se enrolava com inglês às vezes.

— Isso mesmo! Confia em mim, você vai gostar. — ela andou até , colocando o balde ao seu lado. — Pipoca com pimenta como você gosta.

Ele arqueou a sobrancelha. — E não é uma fã..

— Cala a boca e assiste! — riu, daquele jeito desavergonhado.

A obra se desenrolou diante deles, alheia ao momento em que era disposta. Era um bom filme, sobre a ditadura no Brasil e como ela era varrida para debaixo dos panos. A história era pesada, triste e real.

permanecia vidrado, mas também prestava atenção na contagem de minutos na tela. Ao menos, daquela vez, conseguia ter uma noção do tempo.

— Você vai me deixar sair daqui um dia? — perguntou durante uma das cenas sem diálogo, virando o rosto para .

— Vou, em breve. — ela disse, não parecia ter mentiras em sua voz. Com um suspiro cansado, continuou: — Tenho que voltar para casa e você para a sua vida.

— Simples assim?

— Simples assim.

ficou em silêncio. Era estranho pensar que, a qualquer momento, aquela situação iria acabar. O alívio em seu peito conflituoso com o medo de enfrentar o mundo, de não ter uma companhia.

Dela não estar mais lá.

— Podíamos só ter ido em encontros como gente normal. — disse, mais se lamentando.

Ele só podia ser maluco mesmo.

— Nenhum de nós dois é muito normal. — ela riu sem humor. — Mas eu tentei.

Uma pontada de culpa atingiu ele como um golpe.

— Me desculpa. Eu prometo que não vou contar para ninguém sobre isso. Você pode ir embora. Eu compro a passagem de avião! — não sabia se estava desesperado para se livrar disso ou se queria ser perdoado de algum jeito. — Eu nunca vou te procurar e nem denunciar nada disso. Eu prometo.

balançou a cabeça, voltando a olhar para a imagem projetada.

— Você quer mesmo se livrar de mim, ein?

— Não é isso que eu..

— Assiste ao filme, . — interrompeu, sem olhar para ele. — Você vai voltar para casa.

JUST KNOW I WAS ALREADY THERE!


— Conseguiu escrever algo?

— Só alguns rabiscos. — admitiu. Aquela era a primeira visita desde que havia entregado um computador sem conexão à internet para ele compor suas músicas. — Escrevo sobre experiências pessoais e essa.. É provavelmente a mais intensa que eu já tive. — Ele não disse que sua mão tremia demais quando ele pegava o lápis, ou a maneira que sua cabeça embaralhava tentava colocar no papel o que estava acontecendo. — Pode me dizer uma coisa?

— O quê? — perguntou distraidamente, recolhendo os restos de comida.

— Por que você mentiu?

— Porque eu queria que você me conhecesse por mim mesma e não me desse um autógrafo como se eu fosse uma fã qualquer. — a resposta veio em um só golpe, como um tiro em uma briga de faca. — Acho que você é a última pessoa que pode me julgar por isso, não é?

E então, o que ele se perguntava toda hora: — Por que eu?

— Já disse, atração imediata.

Parecia pouco.

— Você quer fama?

— Não através de você. — respondeu, andando até ele. — Você sempre diz que não liga para fama e o dinheiro, mas resolve seus problemas com as duas coisa.

— Eu não faço isso. — bufou.

riu. Uma risada cheia de escárnio, como se ele fosse mais um babaca que ela deixou escorregar na sua vida sem querer.

— Está mais parecido com as bonecas de Los Angeles do que pensa.

Com isso, caminhou até a porta. arregalou os olhos, apavorado. tinha acabado de chegar! Ela não iria embora, certo?

— Espera, onde você vai? — ele chamou, tropeçando nas próprias pernas ao tentar levantar. — !

— O quê? — Ela se virou para encará-lo, a mão descansando na maçaneta.

tentou pensar em qualquer assunto para mantê-la lá. Ele não queria ficar a sós com a solidão, essa era a pior parte do porão.

— Se você não é minha fã, de quem é?

Daquela vez, ela riu de verdade. A risada que ele tanto gostava.

— Eu gosto da Mia Goth.

— Ela é ótima.

— Quem sabe um dia vocês não trabalham juntos? — brincou.

— Seus maiores ídolos reunidos. — se exibiu, sorrindo com ironia. soltou um bufo divertido, ele parecia mais engraçado do que antes, aprendendo com o humor afiado dela.

— Vai sonhando. — piscou para o mais alto. — Eu vou sentir a sua falta.

— Você.. — não sabia o que responder para aquilo. As palavras pareciam escapar pelos seus dedos toda vez que tentava formular uma frase. Ainda bem que não pareceu se importar.

— Foi real para você?

— Foi. — disse sem hesitar. — Tudo em você é real.

Ela deu um sorriso triste para ele.

-— Bom, vai voltar para o seu apartamento de luxo e festas chatas com muito material para novos papéis, então.

— Espera, você.. — ela abriu a porta, sumindo ao passar pela mesma. — ? !

Been there, done that once or twice


— Remédio para ansiedade. — anunciou, colocando o pacote com a pílulas em cima da mesa. — Você toma isso no dia a dia?

— Sim. — respondeu direto, não queria adentrar no assunto. —Obrigado.

— De nada. — Ela esperou alguns momentos, o ator estava quieto demais. — Está calado hoje.

— Eu quero ir para casa.

— Eu sei. E você vai.

Ele suspirou, passando a mão pelo rosto. O metal gelado contra a sua pele não o deixava esquecer de onde estava.

— A cachorra..

— Ela está bem. Eu pedi para colocarem comida para ela e passearem. — o acalmou. — Eu já te disse que não sou um monstro.

— Não é um monstro.. — Essa era uma afirmação que não conseguia confirmar e nem negar. era uma caixinha de surpresas, tantas coisas nela eram boas, e tantas outras eram assustadoras para caralho. Ele ficou em silêncio, lembrando de todos os passos que deu para chegar até aqui. — Eu te pedi desculpa quando acordamos, quando eu acordei, aqui. E você disse que tudo bem porque eu só estava confuso. Ela o encarou, esperando que continuasse. Você fez alguma coisa com a Lay?

Ele engoliu em seco, aguardando a resposta. Suas palmas suavam frio, todo aquele medo voltando ao seu corpo como um choque térmico.

— É com ela que você está preocupado?!

Como uma avalanche não premeditada, a fúria de apareceu forte, destruidora, engolindo qualquer obstáculo que via pela frente.

— Você fez alguma coisa com ela? — insistiu, encarando a brasileira e dando um passo em sua direção. Seu coração palpitando em seu peito. — ME RESPONDE!

— EU NÃO FIZ NADA COM ELA! — gritou de volta, tirando um canivete do bolso direito para se proteger caso algo saísse do controle, fazendo com que ele recuasse. Os dois permaneceram ofegantes, calados em seus próprios pensamentos ensurdecedores até tirar algo de dentro da calça. O celular dela. uniu as sobrancelhas, o que ela tramou? — Olha, eu não queria te mostrar isso porque eu não queria te machucar. — Deslocou o dedo sobre a tela, clicando algumas vezes antes de uma gravação de voz começar.

— O que você..

— Escuta!

Você pode ter com ele se quiser, eu não ligo.

Era a voz de Lay. O coração de apertou com aquilo e seus olhos encheram de lágrimas. o encarou com rigidez, como se não entendesse o motivo de dar tanta importância àquilo.

Ele não conseguia parar de pensar que Lay podia estar morta por culpa dele.

— Por que voltou com ele?

— Porque eu vi ele na revista com você.

O som ambiente parecia o de uma cafeteria. conseguia vislumbrar Lay, em algum vestido de verão e saltos enormes, revirando os olhos ao ser confrontada assim.

— Você só mandou a mensagem depois de ver ele com outra garota? — A voz de perguntou, recebendo um bufo em resposta.

— Sim. E? Isso não quer dizer que eu me importo.

— Você é uma idiota.

— E você é burra se acha que ele vai gostar de você. — A voz de Lay cortava, uma lembrança das brigas que eles tinham mais do que dias de paz. — O parece bonzinho, mas é como qualquer cara em hollywood: tem o ego enorme mesmo sem admitir, se droga, é depressivo e, de verdade, só quer o que não vem de mão beijada.

— Como você pode tratar ele assim?

— Como eu disse, pode ficar com ele. Já estive lá uma ou duas vezes. — O barulho de uma cadeira empurrando o chão ressoou, provavelmente Lay se levantando. — Mas saiba, se você quer o para sempre, e eu aposto que quer, você vai estar sentindo o meu gosto quando estiver com ele. Assim como eu tive que provar você quando voltei com ele.

fechou os olhos quando a gravação acabou, lágrimas silenciosas descendo pelas suas bochechas. Lay não parecia assustada, ela estava no controle, como em qualquer outra parte do seu relacionamento.

A esperança frágil de que havia mandado a mensagem terminando com ele pelo telefone da ex se esvaiu como fumaça. O modo que ela havia falado dele, como se fosse apenas mais um cara.

havia se enganado com a namorada antes dela, descobrindo que ela era conhecida por compartilhar ao ver conversas da mesma com um homem. Aparentemente, também tinha conseguido errar com a outra, que via ele como um objeto brilhante que a entediou depois de ser usado muitas vezes.

Sua carreira estava a todo vapor. Mas, no meio da noite, quando as coisas não eram preto e branco, o que ele tinha além de ouro de tolo?

If you want forever, and I bet you do
Just know you’ll taste me


era fascinado pelo amor. Com pais casados há décadas e suas irmãs felizes com companheiros que não demoraram a aparecer em suas vidas, não poderia ser de outro jeito. Para ele, ter alguém que o amaria e ficaria ao seu lado até a pele começar a desbotar e seus olhos começarem a ver o mundo de maneira acostumada era um desejo corriqueiro que se esgueirava pela sua mente em noites solitárias e dias cercados de amigos.

Ele queria o amor do jeito que só quem nunca foi amado queria; desesperado, enlouqueceu pela falta de braços ao seu redor. Ele não pararia de procurar o mundo até achar alguém que o quisesse, como dizia a sua música.

também almeja o amor como uma criança quer colo. Diferente de , ela sacrificou a sua mente por isso. A mulher já havia provado o romance e era divertido, todavia, morria rápido como diversão de festa. Ela nunca tinha colocado as mãos em algo durável, algo que a fizesse querer voltar para mais. Os vigaristas que vendiam esquemas fajutos de amor rápidos sempre ganharam mais da sua juventude desenfreada. Ninguém prendia o seu interesse por muito tempo, mais animada com a estrada do que com o destino.

Até conhecer ele. era a epítome dos seus anseios, como se tivesse sido desenhado por um pintor apenas para ela. Os cabelos, o rosto. A indisponibilidade que beirava o impossível, mas que, se ela se esforçasse um pouco, ela poderia cair no precipício dele. O desafio, o jeito que ele brilhava na televisão, a maneira como aquele homem sorria, as letras das suas músicas, seu jeito que parecia tão tímido e ansioso pelo mundo ao mesmo tempo. Até as suas hipocrisias eram atraentes.

Eles terem se encontrado era como um acidente de trem. O desespero encontra um buraco arejado e decide fazer a sua casa lá. Coisas boas não saem de anseios assim. E seria ótimo não culpar ninguém, só que sempre procuraram um mártir, sempre precisariam ocupar o crucifixo.

É estranho dizer que parte dele não mudaria o que aconteceu?

— Eu odiei ela. Eu odiei ela pra caralho. — deu uma risada oca, vazia de qualquer felicidade genuína. Era tão diferente dos risos que ela havia atirado em sua direção quando se conheceram, de maneira que seu rosto se contorcia em expressões meigas. Naquele momento, ele notou, toda aquela complacência, aquele ar de ingenuidade, eram ensaiados. Cada sorriso, cada gargalhada exagerada, ela era uma atriz e era a sua plateia de um homem só. E acreditou em cada linha do seu roteiro.

Como não poderia? Havia sido escrito apenas para ele.

..

— Até que eu percebi que não era culpa dela. Você sabe, — suspirou, dando de ombros enquanto encarava o mais velho, a cabeça inclinada para o lado. — mulheres são criadas para se verem como competição. Essa merda é fodida. Desde crianças, vocês tem os seus amigos e a gente é programada para tentar sempre ser melhor uma que a outra, para sempre desconfiar que a outra quer algo nosso. Mas não é verdade, não é?

franziu o cenho, o medo e a confusão batalhavam dentro dele como um leão e sua presa. Durante a explicação sobre as mazelas do patriarcal estrutural no meio do seu sequestro por uma fã alucinada. Ele não sabia qual sentimento era prevalente: o seu terror pelo que poderia fazer com aquele canivete, pelo que provavelmente havia feito, ou as dúvidas sobre onde aquela história terminaria? Se aquilo fosse um filme, essa certamente seria a cena final.

..

— O problema não é ela. O problema não sou eu. — ela se inclinou em direção ao ator, pressionando a dedo contra a ponta do objeto metálico distraidamente. O seu olhar adotou o vazio, quase parecia embaçado para a cena que se desenrolava através da sua direção, como se estivesse perdida em sua própria mente. — O problema é você.

O leão fincou os dentes na sua presa. O horror sobressaiu a confusão inicial e, por um momento, não se importou com quem ele era. Ele não ligava se era um cara legal ou um babaca distraído. Ele só se importava com o que ele iria ser: um sobrevivente ou um corpo jogado na calçada da rua mais próxima?

não sabia o que dizer. Não sabia como rezar para um deus que deixou com que chegasse àquele ponto. Ele não sabia para onde fugir. Não sabe como se proteger. O seu saco de ossos estava afogado no medo, cru e simples, suas mãos tremiam e o suor escorria pelo seu rosto pálido de olhos arregalados. conseguia ouvir o próprio coração batendo contra a caixa torácica, tentando escapar até que a tentativa doesse mais que o cárcere.

Ele se perguntou se era assim que alguém consegue um coração partido.

Então, fez a única coisa que podia.

Ele clamou pelo nome dela.

. — disse, o desespero saboreando as suas entranhas a cada minuto. Ela não olhou para ele, focada em nada em particular, com aquele olhar vaga que o fez sofrer mais do que a arma branca em suas mãos. sentia saudades da garota que conheceu no bar, daquela mulher magnética que roubou a sua atenção na primeira troca de palavras, escondida debaixo da pele do lobo como uma fantasia de halloween. E isso não era doentio do seu próprio jeito discreto? — , por favor.

Algo no modo que ele dizia o seu nome chamou a atenção da sua raptora. o encarou, os olhos suavizando ao enxergá-lo.

No contraste daquela ternura sútil, viu que a única pessoa que conseguiria ajudá-lo era ela. A mesma que poderia matá-lo em segundos se quisesse. A ironia não passou despercebida e quase o fez rir. Quase.

— Por favor. — ele disse como em uma reza, como um fiel de joelhos pedindo algo para um deus bondoso. A sua deusa, entretanto, não era adepta à benevolência. Ela aceitava atos de sacrifício como oferendas de fé, e ele sentia como se estivesse declamando o seu nome ao querer a vida. — Por favor.

— Por favor. — ele pediu, como uma criança que irrita os pais para dormir na casa do melhor amigo ou ir para uma festa. Daquele ângulo, era maior que ele, ela possuía uma autoridade roubada das mãos dele e não pode fazer nada além de obedecer.

— Por favor. — Ele clamou, como um cachorro de rua que queria um petisco para não morrer de fome. Dane-se isso, aceitaria um pedaço de comida, o resto do que poderia querer dar a ele.

— Por favor. — ele implorou, como um cervo que já foi mordido e esperava o golpe de misericórdia. estava cansado, tão cansado. A fome se aquietava pela adrenalina, mas a sede secava até o seu sangue depois de dias. Ele tentou pensar em como chegou aqui, recontando seus passos para entender em qual esquina ele virou a direita quando devia ter ido pela esquerda. Quantos erros trouxeram-o até seu próprio crucifixo?

Ela olhou para ele como se o homem tivesse cometido um sacrílego. E acreditou. Por um momento, ele acreditou. As palavras dela ricocheteiam nos cantos mais obscuros da sua mente. Quando fechou os olhos, era que ele via dançando em suas pálpebras — às vezes, como um filme mal-assombrado, onde ela gritava ou segurava uma faca, parecido com aquele momento. Às vezes, debaixo de luzes quentes, igual a noite em que se conheceram, em que cada olhar roubado era como beber da fonte da inspiração.

Nenhuma música boa é feita com artistas felizes. A tristeza é parte do trabalho.

O conselho da sua agente reverberou em seus tímpanos, e quase se sentiu mal por pensar em outra mulher senão , um medo estranho de que ela pudesse se enfiar nas camadas dos seus pensamentos e chamar aquilo de traição silenciosa.

Entretanto, havia outra epifania. A tristeza é parte do trabalho. E existia algo mais triste do que descobrir que alguém não era quem dizia ser?

Que alguém que você amava não é quem você achava que era?

A realização veio como uma avalanche. A ex-namorada dele jogando quatro anos no lixo por um cara que conheceu na internet, porque era isso que ele valia: menos que um follow novo de um cara mais interessante. Os inúmeros testes que deram errado para e certo para pessoas mais bonitas, mais talentosas, melhores. As várias demos que não atingiam os números que a gravadora, escondida sob o manto de independente e pela música, almejava a cada lançamento. Os comentários maldosos sobre que pareciam um pouco reais demais no meio da noite. A sensação de que ele não merecia ter chegado onde estava, de que ele era só um impostor bom para caralho. Por que, realmente, se nem conseguia alguém para amá-lo, como ele podia ser tão bom assim? Ele só era descartável.

O seu coração era descartável. Não importava o quanto os holofotes brilhassem, o show sempre terminava e a plateia animada voltava para casa. Tudo era só uma lembrança.

Mas não com . Ela havia feito dele o seu templo, a pessoa que ela venerava. Mesmo quando se encontrou no meio do furacão, ela não se importou de pular junto com ele ou de fazer os ventos soprarem ainda mais. A atenção dela estava nele. Completamente, devotadamente. E não era isso que queria por tanto tempo? Ser amado? Ser a prioridade de alguém? Sentir que ele poderia contar com uma parceira? Ser inspirado por cada coisa que ela fazia?

— Me desculpa. Por tudo.

entendia, agora, que relacionamentos eram como estar em tofete, um lugar perto da terra prometida, mas que não tem nada de beatitude. Têm chamas, dor e adrenalina, te fazia sentir vivo. E que, ainda assim, você conseguia espiar Jerusalém, respirar o ar sagrado da calmaria.

Ser amado era viver no meio termo. já havia experimentado um amor comum, e ele não durou. Eles nunca duraram. Mas parecia durar. Ela se assemelhava à visão de alguém que nunca iria embora.

Aquilo assustava tanto quanto o confortava. Quem mais ele tinha que o amaria tanto assim? Todas as que prometeram haviam ido embora. O homem estava cansado de procurar pelo mundo por alguém como ela.

Ele já a tinha. E ela o tinha também.

Mesmo que parte dele odiasse isso, outra só queria se render.

— Eu te perdoo. — determinou, parecendo tão aliviada quanto surpresa. — E eu sinto muito também.

Ela jogou o canivete de lado, perto demais dele. sacou a chave do seu bolso, se inclinando para abrir as amarras que o prendiam; mas, assim que elas saíram, ele ainda se sentia preso. Quando ela colocou as mãos em seu pulso avermelhado, em um toque tão singelo e cuidado, suspirou.

A porta permaneceu aberta. A arma perto e tentadora. ainda era mais fraca fisicamente. As mãos dele estavam livres — sua cabeça, no entanto, era um mural para uma só mulher. Ela havia incrustado seu nome em cada pedaço da mente dele. Parecia injusto, parecia um passarinho na gaiola de ouro. Mas a mão ainda o alimentava. Ele realmente merecia isso?

A escolha era simples. Correr ou ficar.

Ser amado ou ser deixado.

colocou as mãos na nuca dela. Naquele momento, algum lugar irracional da sua mente escolheu por ele, já não havia mais o que fazer além daquilo.

Certo ou errado; não importava mais. Esses conceitos haviam deixado a sua moral dias atrás.

E com um único gesto, o desespero havia ganhado.

FIM!

Nota da autora: Eu não acredito que consegui terminar essa short! Estou super animada com ela. Assim que peguei a música, esse plot não convencional me veio à mente (podemos culpar o clipe). Deixei algumas pistas de qual ator era e também me inspirei em outras canções, é divertido demais escrever algo que te desafia!
Percebi que essa é a segunda história com famoso e terror que escrevo.. A outra tem a pp como final girl, e nesta temos esse ator/cantor como vítima. Quase um multiverso de gente doente.
E sobre o final.. eu tinha um planejado. Ele ia vir logo depois dessa cena em uma manchete de revista, mas preferi deixar na imaginação. O que vocês acham que aconteceu? A vulnerabilidade e co-dependência da Síndrome de Estocolmo ganhou ou o pp conseguiu escapar sujando as mãos?
Não importa. Em qualquer opção, ele terá que sentir o gosto dela para sempre.
Espero que tenham gostado e comentem!