
Independente do Cosmos🪐
Finalizada em: 17/05/2025
PRIMEIRO
— Don't mistake my nice for naive…
O coração de batia descompassado.
Não era a primeira vez em que estava no pit lane, onde milhares de pessoas passeavam e observavam os carros estacionados em suas posições pouco antes da corrida que aconteceria em Mônaco; algumas delas caminhavam despreocupadas e outras, como , corriam afobadas procurando por um lugar que desse uma vista boa para a reportagem que ia fazer.
Mas era a primeira vez que ela estava ali, de cara com seu ex-namorado e, infelizmente, também jornalista.
Semanas depois do término.
Em resumo, tudo o que ela não queria era ter que lidar com a arrogância e prepotência de Jake Stafford naquela altura, não depois dele ter jogado na sua cara que crescer na área em que estavam era muito mais importante do que ter que lidar com o drama de seu relacionamento com ela. E que seu objetivo, no final das contas, era conseguir a cobertura da e, de quebra, ainda pegar a vaga de jornalista setorial que ocupava.
Modesto, não?
Tudo isso para ser o melhor jornalista, o mais conhecido e entrevistar o piloto que Jake idolatrava; .
Era possível ouvir o som dos motores ecoando pelas arquibancadas ali na zona mista em que estava.
O clima era de pura tensão.
Ela segurava o gravador desligado em uma das mãos, repassando na mente alguns dados importantes da matéria que estava gravando há momentos atrás até ver Jake se aproximando apressado. Com o andar decidido demais para que fosse apenas trocar ideias com .
Ela sabia. Tinha alguma coisa. E, bem no fundo, não parecia algo bom só pela expressão séria no rosto do namorado.
— Precisamos conversar.
Disse assim que parou na frente da mulher. Direto, sem delongas. Como se já soubesse exatamente o que ia dizer. Jake tinha os olhos semicerrados, o boné apertando os cabelos pretos e a íris castanha sem um pingo de emoção.
Como ele havia se tornado aquele tipo de pessoa? Ela sequer se lembrava.
ergueu a sobrancelha, ainda mantendo a postura anterior.
— Essa sua expressão tá me assustando — brincou, fazendo uma careta. Ele permaneceu sério. — O que foi, Jake? Tenho material pra editar hoje ainda.
Ele balançou a cabeça, deixando uma risadinha seca escapar.
— Mas é claro. Sempre a jornalista exemplar. A queridinha da e a voz sensível do paddock, como te chamaram na coletiva da McLaren semana passada.
piscou algumas vezes, sem entender ao certo onde o namorado queria chegar. Se é que ainda podia chamá-lo assim, já que seus últimos encontros eram só para discutirem sobre algo ou até mesmo alfinetadas sobre suas profissões.
— Qual é o seu problema? — questionou, quase aumentando o tom de voz. Mas, para que ninguém notasse a possível briga dos dois, se segurou.
Sua vontade era a de esbofetear Jake ali mesmo.
— Meu problema, , é você. Tô cansado de fingir que estamos no mesmo nível — colocou as mãos na beirada da calça de alfaiataria e desviou o olhar, assim como fazia para verificar se alguém os observava. — Não estamos. Nunca estivemos.
Por mais que não quisesse admitir, a frase a atingiu como um raio. Como ele ousava?
Ela abriu a boca, mas não conseguiu formular nenhuma frase.
Jake continuou.
— Sou melhor que você e isso é fato. Tenho uma visão mais agressiva, mais técnica e muito mais relevante. E enquanto você tá atrás tentando humanizar piloto mimado como o , eu tô atrás de jornalística de verdade. E sabe o que é pior? — pressionou os lábios, com o mesmo tom de voz irritante de superioridade. — Você é um obstáculo.
— Obstáculo? — engasgou uma risada, ajeitando os materiais nos braços com mais força do que deveria. Sua garganta estava seca pela decepção que sentia ao ser tratada daquele jeito por ele. — Obstáculo, Jake? Eu sempre te ajudei. Sempre compartilhei pauta, contato, apoio…
— E foi aí que você errou — a cortou. — Isso não é corrida em equipe, . Não é mesmo. É um sprint e eu tô correndo sozinho — balançou a cabeça, respirando fundo. — E sinceramente? Quero muito a sua vaga na . Você sabe que a exclusividade devia ser só minha desde o começo.
— Jake…
— Eles só te escolheram porque você tem esse ar doce, essa merda de empatia.
Era possível ver os olhos de brilhando pela mágoa que sentia. Pelo ressentimento. Pelo rancor.
— Você tá me deixando porque quer a minha vaga? — murmurou, a voz quase falhando.
Ele deu um passo para trás, como se quase tivesse sido pego pelo baque da fragilidade da mulher.
Engoliu em seco e limpou as mãos.
— Tô te deixando porque não dá mais pra fingir que te admiro profissionalmente. Você sabe que sou melhor e agora vou provar.
mordeu a língua com força, enquanto sentia a pressão da própria mandíbula ao ser apertada. Sentiu seu estômago revirar. Sua garganta revirar em trezentos nós.
Mas não deixou uma lágrima sequer cair.
— É melhor sair da minha frente, Jake — foi a única coisa que conseguiu dizer. — Ou eu quebro a sua cara antes mesmo de ter a chance de provar alguma coisa.
E se virou, marchando para longe. Para qualquer lugar que Jake Stafford não fosse visto nunca mais.
🏁💙
Não era a primeira vez em que estava no pit lane, onde milhares de pessoas passeavam e observavam os carros estacionados em suas posições pouco antes da corrida que aconteceria em Mônaco; algumas delas caminhavam despreocupadas e outras, como , corriam afobadas procurando por um lugar que desse uma vista boa para a reportagem que ia fazer.
Mas era a primeira vez que ela estava ali, de cara com seu ex-namorado e, infelizmente, também jornalista.
Semanas depois do término.
Em resumo, tudo o que ela não queria era ter que lidar com a arrogância e prepotência de Jake Stafford naquela altura, não depois dele ter jogado na sua cara que crescer na área em que estavam era muito mais importante do que ter que lidar com o drama de seu relacionamento com ela. E que seu objetivo, no final das contas, era conseguir a cobertura da e, de quebra, ainda pegar a vaga de jornalista setorial que ocupava.
Modesto, não?
Tudo isso para ser o melhor jornalista, o mais conhecido e entrevistar o piloto que Jake idolatrava; .
Era possível ouvir o som dos motores ecoando pelas arquibancadas ali na zona mista em que estava.
O clima era de pura tensão.
Ela segurava o gravador desligado em uma das mãos, repassando na mente alguns dados importantes da matéria que estava gravando há momentos atrás até ver Jake se aproximando apressado. Com o andar decidido demais para que fosse apenas trocar ideias com .
Ela sabia. Tinha alguma coisa. E, bem no fundo, não parecia algo bom só pela expressão séria no rosto do namorado.
— Precisamos conversar.
Disse assim que parou na frente da mulher. Direto, sem delongas. Como se já soubesse exatamente o que ia dizer. Jake tinha os olhos semicerrados, o boné apertando os cabelos pretos e a íris castanha sem um pingo de emoção.
Como ele havia se tornado aquele tipo de pessoa? Ela sequer se lembrava.
ergueu a sobrancelha, ainda mantendo a postura anterior.
— Essa sua expressão tá me assustando — brincou, fazendo uma careta. Ele permaneceu sério. — O que foi, Jake? Tenho material pra editar hoje ainda.
Ele balançou a cabeça, deixando uma risadinha seca escapar.
— Mas é claro. Sempre a jornalista exemplar. A queridinha da e a voz sensível do paddock, como te chamaram na coletiva da McLaren semana passada.
piscou algumas vezes, sem entender ao certo onde o namorado queria chegar. Se é que ainda podia chamá-lo assim, já que seus últimos encontros eram só para discutirem sobre algo ou até mesmo alfinetadas sobre suas profissões.
— Qual é o seu problema? — questionou, quase aumentando o tom de voz. Mas, para que ninguém notasse a possível briga dos dois, se segurou.
Sua vontade era a de esbofetear Jake ali mesmo.
— Meu problema, , é você. Tô cansado de fingir que estamos no mesmo nível — colocou as mãos na beirada da calça de alfaiataria e desviou o olhar, assim como fazia para verificar se alguém os observava. — Não estamos. Nunca estivemos.
Por mais que não quisesse admitir, a frase a atingiu como um raio. Como ele ousava?
Ela abriu a boca, mas não conseguiu formular nenhuma frase.
Jake continuou.
— Sou melhor que você e isso é fato. Tenho uma visão mais agressiva, mais técnica e muito mais relevante. E enquanto você tá atrás tentando humanizar piloto mimado como o , eu tô atrás de jornalística de verdade. E sabe o que é pior? — pressionou os lábios, com o mesmo tom de voz irritante de superioridade. — Você é um obstáculo.
— Obstáculo? — engasgou uma risada, ajeitando os materiais nos braços com mais força do que deveria. Sua garganta estava seca pela decepção que sentia ao ser tratada daquele jeito por ele. — Obstáculo, Jake? Eu sempre te ajudei. Sempre compartilhei pauta, contato, apoio…
— E foi aí que você errou — a cortou. — Isso não é corrida em equipe, . Não é mesmo. É um sprint e eu tô correndo sozinho — balançou a cabeça, respirando fundo. — E sinceramente? Quero muito a sua vaga na . Você sabe que a exclusividade devia ser só minha desde o começo.
— Jake…
— Eles só te escolheram porque você tem esse ar doce, essa merda de empatia.
Era possível ver os olhos de brilhando pela mágoa que sentia. Pelo ressentimento. Pelo rancor.
— Você tá me deixando porque quer a minha vaga? — murmurou, a voz quase falhando.
Ele deu um passo para trás, como se quase tivesse sido pego pelo baque da fragilidade da mulher.
Engoliu em seco e limpou as mãos.
— Tô te deixando porque não dá mais pra fingir que te admiro profissionalmente. Você sabe que sou melhor e agora vou provar.
mordeu a língua com força, enquanto sentia a pressão da própria mandíbula ao ser apertada. Sentiu seu estômago revirar. Sua garganta revirar em trezentos nós.
Mas não deixou uma lágrima sequer cair.
— É melhor sair da minha frente, Jake — foi a única coisa que conseguiu dizer. — Ou eu quebro a sua cara antes mesmo de ter a chance de provar alguma coisa.
E se virou, marchando para longe. Para qualquer lugar que Jake Stafford não fosse visto nunca mais.
SEGUNDO
— So let me give you some advice…
O fim de tarde começava a pintar o céu de Mônaco, enquanto os boxes ainda continuavam sendo manuseados por suas equipes e as arquibancadas um pouco cheias.
Os equipamentos eram desmontados aos poucos e conseguia observar alguns mecânicos se divertindo entre eles, ainda que continuassem seus trabalhos; ou guardando rodas, ou ajeitando ferramentas em suas maletas depois daquele Treino Livre.
Só que, apesar de todo o alvoroço que era possível ser ouvido ali, só conseguia ouvir seu próprio coração batendo tão alto que ela podia jurar que sairia pela sua boca a qualquer instante.
Ela segurava o microfone com força, os dedos ainda trêmulos de raiva só por ter visto o vulto de Jake por ali. Ele era ridículo, um imprestável e imbecil. Mas não iria se deixar levar por aquilo.
Era ela quem tinha o crachá de acesso parcial nas mãos, era ela quem iria fazer aquela entrevista.
não iria recuar.
O treino havia terminado há pouco menos de meia hora, motivo pelo qual a multidão de repórteres, jornalistas e demais pessoas não deixavam nem que passasse ali direito. Todo mundo louco para conseguir uma entrevista de primeira mão, com os primeiros pensamentos e frustrações de cada piloto do grid.
Mas não queria qualquer piloto.
Ela queria .
Precisava dele.
Ainda com o microfone na mão e o gravador no bolso, mergulhou entre as câmeras e pessoas apressadas, vasculhando com os olhos cada minucioso cantinho por onde passava.
E foi aí que ela o viu. Há poucos metros, com o semblante um tanto tenso.
estava com o macacão parcialmente aberto, coberto por uma blusa preta colada no corpo. Os cabelos castanhos estavam suados e desalinhados pelo capacete recém tirado.
Ele cumprimentava uma equipe de TV alemã, com o mesmo sorriso simpático no rosto, mas visivelmente querendo sumir dali.
Ela esperou. Posição estratégica. Não o sufocaria.
Quando a equipe se afastou, se aproximou minimamente, se posicionando bem à frente de .
— , tem um minuto?
Ele a observou. Seus olhos azuis se estreitaram levemente, como se tentasse reconhecê-la.
— , do SportLine — completou, dando um sorrisinho profissional como estava acostumada a fazer e ergueu o queixo.
Foi possível notar uma mudança sutil no semblante de assim que ouviu seu nome. Um pequeno sorriso no canto da boca apareceu.
Era como se tivesse acabado de ficar aliviado por não ter mais uma câmera enfiada no seu rosto.
— Já ouvi falar de você — comentou, passando uma das mãos nos cabelos. — Finalmente alguém que não vai me perguntar o que deu errado na largada.
Ela riu fraquinho.
— Prometo que tenho perguntas melhores do que essa.
Ele assentiu, sinalizando com a cabeça para que começasse. Ela levantou o microfone, clicou no botão do gravador e iniciou.
— , foi um treino intenso e cheio de variáveis. Você parecia frustrado quando saiu do carro, mas agora… Agora parece mais calmo. O que mudou nesses minutos?
respirou fundo, pensativo.
— Acho que o cansaço. Ou alívio por ter terminado. Tem dias que você dá tudo de si e mesmo assim não é o suficiente. E tudo bem. Só não dá pra fingir que não pesa — sorriu. — Pesa. Muito.
manteve seus olhos nos dele. Quase se perdendo no quão azuis estavam.
— E quando pesa, o que te segura?
Ela arqueou a sobrancelha. Precisava confessar que estava surpreso com aquela pergunta.
— Essa foi boa.
— Obrigada.
sentiu as bochechas queimarem.
— O que me segura? — repetiu, com um leve sorriso no rosto. Como se lembrasse de algo bom. — Acho que lembrar que isso aqui sempre foi um sonho. Que mesmo nos piores dias, eu tô sempre onde quis estar. E essas coisas, como o que você viu mais cedo — apontou para o carro estacionado e sorriu. — É só o preço de estar entre os melhores. Ainda dói, sim… Mas tem orgulho nisso também.
Ela assentiu, devagar.
— E você se sente visto?
piscou, desprevenido.
— Como assim?
— Você dá tudo de si, corre no limite, lida com críticas, com a pressão… E mesmo assim ainda tem gente que só olha o resultado final. Sente que alguém realmente vê seu esforço?
Ele demorou um pouco mais de tempo para responder. Dessa vez, sua expressão mudou e ficou um pouco mais séria.
— Nem sempre. Pra muita gente só o pódio importa. Mas, em alguns momentos, alguém aparece e faz uma pergunta como essa. E aí eu lembro que, sim, alguém vê. Isso muda meu dia.
sentiu um calorzinho estranho no peito, e esquentou ainda mais quando os olhos de não redirecionaram para nenhum outro lugar além dos olhos dela.
Como se tivesse interessado demais no que acontecia ali.
— Fico feliz por ter mudado um pouco seu dia — disse, quase em um sussurro. Ele sorriu.
tirou o fone de ouvido e a olhou com mais atenção. automaticamente pausou o gravador.
— Você parece mais preparada que metade do pessoal aqui.
deu um sorrisinho de canto.
— E você parece menos cansado do que deveria — retrucou, arqueando uma das sobrancelhas, ainda que de forma profissional.
Falar com parecia fácil demais naquele momento.
Ele soltou uma risadinha discreta, balançando a cabeça. O mesmo ar tranquilo de sempre, mesmo depois de um treino intenso.
— Pode acreditar, por dentro eu tô exausto. Sempre dá pra disfarçar.
— Nós também — sorriu. voltou a pressionar o botão no gravador. — Agora, se não se importa, preciso perguntar… Como foi o feeling do carro hoje?
E continuaram a conversar um pouco mais sobre os acontecimentos daquele dia. respondia com tamanha simpatia e clareza que quase se perdia em meio a suas explicações, de tão leve que estava sendo. E, uma coisa que deixava seu coração ainda mais balançado, era que mesmo explicando sobre o desgaste dos pneus e o comportamento do carro nas curvas, os olhos azuis do rapaz não se desgrudavam dos dela.
respirou fundo, avaliando se deveria encerrar ali ou arriscar mais uma pergunta.
— Prometo que agora é a última pergunta e vou embora — pressionou os lábios. Ele sorriu. — Você se sente confiante pra domingo? Depois do treino de hoje?
Ele hesitou por meio segundo.
— Não sei. Acho que tô mais curioso. O carro tá se comportando melhor que o esperado, mas… Acho que agora, eu tô mais interessado no que acontece depois daqui.
arqueou a sobrancelha, tentando entender o que ele queria dizer. Um sorriso escapou de seus lábios.
— Depois daqui… Tipo, da pista?
inclinou a cabeça levemente.
— Da pista, da entrevista… De tudo — sorriu, os olhos ainda fixos no dela. — Quem sabe o que pode acontecer?
O calor subindo pelo corpo da mulher foi instantâneo, mas ainda manteve a postura.
Ainda era uma entrevista.
Ainda era trabalho.
— Bom — pigarreou, endireitando a postura. achou ainda mais graça. — Obrigada por falar com a gente, . Boa sorte no domingo.
Ela abaixou o gravador, mas não se moveu. Ele podia simplesmente pegar seu capacete e adentrar o paddock de uma vez, mas continuou ali, parado. A olhando com atenção.
— Você vai estar aqui? — perguntou, sem qualquer pressa. — No domingo.
— Claro. Faz parte do trabalho.
Riu.
— Que bom — ele sorriu outra vez. Dessa vez mais devagar, como se a analisasse. — Espero te ver outra vez.
— Vai depender do seu resultado. Só os bons costumam dar entrevistas depois.
soltou uma risadinha e a acompanhou.
— Então vou tentar garantir minha vaga no pódio — brincou. Segundos depois, se inclinou levemente, o suficiente para que só pudesse ouvir. — Mas ainda que eu não ganhe, vou querer falar com você.
congelou por alguns segundos. E suas bochechas tomaram um tom diferente.
estava..?
— Vou considerar como um elogio profissional — respondeu. Estava mais tímida do que de costume.
Seu coração agora batia aceleradíssimo. Seria coisa de sua cabeça? Um piloto como dando em cima dela?
Ela podia estar delirando.
— Ou algo além disso. Você escolhe.
Deu uma piscadela, pegando seu capacete por fim e se distanciando brevemente.
faltou pouco desmontar ali mesmo.
Talvez não estivesse delirando tanto assim.
🏁💙
Os equipamentos eram desmontados aos poucos e conseguia observar alguns mecânicos se divertindo entre eles, ainda que continuassem seus trabalhos; ou guardando rodas, ou ajeitando ferramentas em suas maletas depois daquele Treino Livre.
Só que, apesar de todo o alvoroço que era possível ser ouvido ali, só conseguia ouvir seu próprio coração batendo tão alto que ela podia jurar que sairia pela sua boca a qualquer instante.
Ela segurava o microfone com força, os dedos ainda trêmulos de raiva só por ter visto o vulto de Jake por ali. Ele era ridículo, um imprestável e imbecil. Mas não iria se deixar levar por aquilo.
Era ela quem tinha o crachá de acesso parcial nas mãos, era ela quem iria fazer aquela entrevista.
não iria recuar.
O treino havia terminado há pouco menos de meia hora, motivo pelo qual a multidão de repórteres, jornalistas e demais pessoas não deixavam nem que passasse ali direito. Todo mundo louco para conseguir uma entrevista de primeira mão, com os primeiros pensamentos e frustrações de cada piloto do grid.
Mas não queria qualquer piloto.
Ela queria .
Precisava dele.
Ainda com o microfone na mão e o gravador no bolso, mergulhou entre as câmeras e pessoas apressadas, vasculhando com os olhos cada minucioso cantinho por onde passava.
E foi aí que ela o viu. Há poucos metros, com o semblante um tanto tenso.
estava com o macacão parcialmente aberto, coberto por uma blusa preta colada no corpo. Os cabelos castanhos estavam suados e desalinhados pelo capacete recém tirado.
Ele cumprimentava uma equipe de TV alemã, com o mesmo sorriso simpático no rosto, mas visivelmente querendo sumir dali.
Ela esperou. Posição estratégica. Não o sufocaria.
Quando a equipe se afastou, se aproximou minimamente, se posicionando bem à frente de .
— , tem um minuto?
Ele a observou. Seus olhos azuis se estreitaram levemente, como se tentasse reconhecê-la.
— , do SportLine — completou, dando um sorrisinho profissional como estava acostumada a fazer e ergueu o queixo.
Foi possível notar uma mudança sutil no semblante de assim que ouviu seu nome. Um pequeno sorriso no canto da boca apareceu.
Era como se tivesse acabado de ficar aliviado por não ter mais uma câmera enfiada no seu rosto.
— Já ouvi falar de você — comentou, passando uma das mãos nos cabelos. — Finalmente alguém que não vai me perguntar o que deu errado na largada.
Ela riu fraquinho.
— Prometo que tenho perguntas melhores do que essa.
Ele assentiu, sinalizando com a cabeça para que começasse. Ela levantou o microfone, clicou no botão do gravador e iniciou.
— , foi um treino intenso e cheio de variáveis. Você parecia frustrado quando saiu do carro, mas agora… Agora parece mais calmo. O que mudou nesses minutos?
respirou fundo, pensativo.
— Acho que o cansaço. Ou alívio por ter terminado. Tem dias que você dá tudo de si e mesmo assim não é o suficiente. E tudo bem. Só não dá pra fingir que não pesa — sorriu. — Pesa. Muito.
manteve seus olhos nos dele. Quase se perdendo no quão azuis estavam.
— E quando pesa, o que te segura?
Ela arqueou a sobrancelha. Precisava confessar que estava surpreso com aquela pergunta.
— Essa foi boa.
— Obrigada.
sentiu as bochechas queimarem.
— O que me segura? — repetiu, com um leve sorriso no rosto. Como se lembrasse de algo bom. — Acho que lembrar que isso aqui sempre foi um sonho. Que mesmo nos piores dias, eu tô sempre onde quis estar. E essas coisas, como o que você viu mais cedo — apontou para o carro estacionado e sorriu. — É só o preço de estar entre os melhores. Ainda dói, sim… Mas tem orgulho nisso também.
Ela assentiu, devagar.
— E você se sente visto?
piscou, desprevenido.
— Como assim?
— Você dá tudo de si, corre no limite, lida com críticas, com a pressão… E mesmo assim ainda tem gente que só olha o resultado final. Sente que alguém realmente vê seu esforço?
Ele demorou um pouco mais de tempo para responder. Dessa vez, sua expressão mudou e ficou um pouco mais séria.
— Nem sempre. Pra muita gente só o pódio importa. Mas, em alguns momentos, alguém aparece e faz uma pergunta como essa. E aí eu lembro que, sim, alguém vê. Isso muda meu dia.
sentiu um calorzinho estranho no peito, e esquentou ainda mais quando os olhos de não redirecionaram para nenhum outro lugar além dos olhos dela.
Como se tivesse interessado demais no que acontecia ali.
— Fico feliz por ter mudado um pouco seu dia — disse, quase em um sussurro. Ele sorriu.
tirou o fone de ouvido e a olhou com mais atenção. automaticamente pausou o gravador.
— Você parece mais preparada que metade do pessoal aqui.
deu um sorrisinho de canto.
— E você parece menos cansado do que deveria — retrucou, arqueando uma das sobrancelhas, ainda que de forma profissional.
Falar com parecia fácil demais naquele momento.
Ele soltou uma risadinha discreta, balançando a cabeça. O mesmo ar tranquilo de sempre, mesmo depois de um treino intenso.
— Pode acreditar, por dentro eu tô exausto. Sempre dá pra disfarçar.
— Nós também — sorriu. voltou a pressionar o botão no gravador. — Agora, se não se importa, preciso perguntar… Como foi o feeling do carro hoje?
E continuaram a conversar um pouco mais sobre os acontecimentos daquele dia. respondia com tamanha simpatia e clareza que quase se perdia em meio a suas explicações, de tão leve que estava sendo. E, uma coisa que deixava seu coração ainda mais balançado, era que mesmo explicando sobre o desgaste dos pneus e o comportamento do carro nas curvas, os olhos azuis do rapaz não se desgrudavam dos dela.
respirou fundo, avaliando se deveria encerrar ali ou arriscar mais uma pergunta.
— Prometo que agora é a última pergunta e vou embora — pressionou os lábios. Ele sorriu. — Você se sente confiante pra domingo? Depois do treino de hoje?
Ele hesitou por meio segundo.
— Não sei. Acho que tô mais curioso. O carro tá se comportando melhor que o esperado, mas… Acho que agora, eu tô mais interessado no que acontece depois daqui.
arqueou a sobrancelha, tentando entender o que ele queria dizer. Um sorriso escapou de seus lábios.
— Depois daqui… Tipo, da pista?
inclinou a cabeça levemente.
— Da pista, da entrevista… De tudo — sorriu, os olhos ainda fixos no dela. — Quem sabe o que pode acontecer?
O calor subindo pelo corpo da mulher foi instantâneo, mas ainda manteve a postura.
Ainda era uma entrevista.
Ainda era trabalho.
— Bom — pigarreou, endireitando a postura. achou ainda mais graça. — Obrigada por falar com a gente, . Boa sorte no domingo.
Ela abaixou o gravador, mas não se moveu. Ele podia simplesmente pegar seu capacete e adentrar o paddock de uma vez, mas continuou ali, parado. A olhando com atenção.
— Você vai estar aqui? — perguntou, sem qualquer pressa. — No domingo.
— Claro. Faz parte do trabalho.
Riu.
— Que bom — ele sorriu outra vez. Dessa vez mais devagar, como se a analisasse. — Espero te ver outra vez.
— Vai depender do seu resultado. Só os bons costumam dar entrevistas depois.
soltou uma risadinha e a acompanhou.
— Então vou tentar garantir minha vaga no pódio — brincou. Segundos depois, se inclinou levemente, o suficiente para que só pudesse ouvir. — Mas ainda que eu não ganhe, vou querer falar com você.
congelou por alguns segundos. E suas bochechas tomaram um tom diferente.
estava..?
— Vou considerar como um elogio profissional — respondeu. Estava mais tímida do que de costume.
Seu coração agora batia aceleradíssimo. Seria coisa de sua cabeça? Um piloto como dando em cima dela?
Ela podia estar delirando.
— Ou algo além disso. Você escolhe.
Deu uma piscadela, pegando seu capacete por fim e se distanciando brevemente.
faltou pouco desmontar ali mesmo.
Talvez não estivesse delirando tanto assim.
TERCEIRO
— Break my heart and I swear I'm movin' on…
quase não reconheceu o próprio reflexo quando passou pelo espelho na entrada no rooftop.
Cass, sua melhor amiga e parceira de apartamento naquela temporada, havia insistido para que a mulher fosse ousada pelo menos uma vez na vida, colocando um vestido preto colado, saltos ao invés dos tênis surrados, os cabelos ondulados e soltos…
Totalmente diferente da jornalista apressada que se encontrava nos boxes no dia do primeiro treino livre.
Por uma noite, resolveu tentar.
Quando pisou no lado externo do rooftop, sentiu o corpo estremecer. Não só pelo pouco de frio que fazia pela maresia do mar, mas por ver toda a decoração que o lugar tinha.
Era coisa de outro mundo.
O Amber Lounge já estava lotado; pessoas de todas as equipes, incluindo todos os pilotos daquela temporada, além de seus convidados.
percorreu o lounge com calma, tentando não parecer tão deslocada. Queria encontrar alguém que conhecesse, fosse jornalista ou qualquer outra pessoa, só para não continuar sozinha ali, mas, por incrível que pudesse parecer, no fundo de sua mente, queria procurar por .
Inevitavelmente, mesmo que fosse quase impossível achá-lo no meio de tantas pessoas.
Mas, misturado a alguns rostos conhecidos da , observou conversando com Toto Wolff. Ele tinha um copo na mão e parecia achar graça de algo que o chefe direto dizia.
Ela respirou fundo. Claro que não iria até ele. Não seria louca de fazer tal coisa, mas precisava confessar que queria muito fazer aquilo. Pelo menos para puxar alguma conversa.
Tinha gostado da personalidade de .
— Para de encarar, — murmurou para si mesma, desviando o olhar.
Se continuasse daquele jeito, o piloto provavelmente sentiria sua presença só de sentir o pescoço queimando pela olhada da mulher.
Se virou em direção ao bar, tentando ignorar o fato de que estava em uma festa luxuosa em Mônaco com pessoas importantes e pediu uma bebida qualquer. não era muito fã de álcool, para ser sincera.
Mas, quando bebericou o líquido e virou o rosto levemente, percebeu que não estava mais no mesmo lugar de antes. Agora, ele andava em sua direção.
Merda — se praguejou, sentindo o coração acelerar.
— Sabia que tinha alguém me encarando — brincou, parando ao lado dela. Ele tinha um sorriso contido enquanto queria abrir um buraco e se enfiar no chão.
— Eu não tava — rebateu. Deixou uma risadinha escapar. — Acho que você tá um pouco convencido, não?
— Um pouco. Mas tenho meus motivos.
— E quais seriam?
Ele apoiou o cotovelo na bancada e se virou de frente para ela.
— Você me olhou como quem queria conversar — deu de ombros, falando o mais naturalmente possível. — E, bom… Também queria conversar com você.
mordeu o lábio, tentando manter a pose. Ele sabia bem como desmontar alguém aos pouquinhos.
— Achei que você preferia ficar cercado de gente famosa, tirando fotos para o instagram da equipe e coisas assim.
riu baixinho, como se fosse mesmo uma ideia absurda.
— Definitivamente não é o meu tipo de programa preferido — tomou um gole do drink e olhou ao redor por alguns segundos. — Não vou mentir, é bonito, exuberante… Mas cansa. Enche o saco.
A mulher assentiu, não podendo concordar mais. Achava o mesmo que ele.
— Então quer dizer que é cansativo ser um piloto de fórmula 1 famoso? Caramba, que pena, — riu. Ele a acompanhou.
— Não foi isso o que eu quis dizer.
Ele se aproximou um pouco mais, inclinando o corpo minimamente. Como se não fosse perceber.
Mas ela percebeu. Percebeu tanto que o perfume suave do rapaz quase a fez arrepiar.
— Mas é que tem gente demais interessada no piloto — murmurou, ainda a olhando. — E pouquíssima gente querendo conhecer quem tá por trás do capacete da .
o encarou por alguns segundos, ponderando suas palavras. Não respondeu de imediato. Sabia exatamente o que ele queria dizer.
— E o que faz quando alguém demonstra interesse no sem uniforme e capacete?
— Depende da pessoa — sorriu, quase tímido. — Mas se essa pessoa fosse você, eu aceitaria continuar essa conversa por horas. Dias. Semanas, talvez?
abaixou o olhar sem saber o que responder. Sentiu as bochechas queimarem e o corpo começar a formigar, como se fosse uma adolescente recebendo a primeira paquera da vida. Céus, aquilo era loucura.
Claro que havia percebido o impacto do que havia dito na mulher. Mas não disse nada. Só continuou a olhando com toda a curiosidade do mundo.
— Você fala assim com todas as jornalistas? — arqueou uma das sobrancelhas, finalmente o olhando outra vez. inclinou a cabeça.
— Só com as que sabem fazer boas perguntas. E, de quebra, ainda me deixam curioso.
— Curioso? — indagou.
— É. Curioso com você. Com o jeito que você escuta. Como não tenta tirar uma manchete do que eu falo, mas uma conversa — continuou a olhando, agora, um pouco mais sério do que antes. — Seria clichê se eu dissesse que isso é diferente do que tô acostumado?
Ela riu fraquinho.
— Seria — ainda sorria. — Mas posso deixar passar. Tô achando interessante ouvir você falar assim.
O piloto relaxou os ombros, sorrindo assim como ela.
A música alta ainda tocava na parte interna do rooftop e muitas pessoas passavam por ali com bebidas, tirando fotos, além de dançando de forma desajeitada. Só então percebeu que, diferente de todas as outros eventos que havia participado daquele tipo, era a primeira vez que não se sentia tão deslocada como sempre costumava ficar.
se sentiu um pouquinho mais confortável.
E parecia notar aquilo. Seus olhos azuis pousaram nos dela com uma atenção diferente de antes, como se quisesse memorizar as expressões que fazia, os detalhes de seu rosto e até mesmo a forma com que sorria.
Era nítido que havia se interessado por . E esperava que ela também estivesse com o mesmo interesse nele.
se aproximou, para que só pudesse escutá-lo.
— Quer sair um pouco? — perguntou, baixo. Ela o olhou. — Sair um pouco dessa multidão, conversar melhor.
— Claro.
Sorriu. Ela parecia mais tímida que o normal. estava tendo aquele efeito sobre ela. Enquanto caminhavam para a parte externa, onde ainda que tendo algumas pessoas, não eram tantas como do lado de dentro, não parava de pensar que aquilo era loucura demais para estar acontecendo.
Ela era só uma jornalista, afinal de contas. Seu trabalho era fazer a cobertura da , entrevistar os pilotos se conseguisse e escrever uma matéria boa o suficiente para que fosse publicada.
Mas, estar ali, acompanhando para um lugar mais afastado na festa, só para que pudessem ficar mais à vontade um com o outro…. Isso ultrapassava o limite da loucura para ela.
Era quase como se fosse um sonho daqueles que não dá para entender muito bem quando se acorda.
quase riu com seus próprios pensamentos.
Os dois se afastaram minimamente, para que não fossem percebidos, e se aproximaram da área da piscina, perto das árvores espalhadas. Era um lugar mais reservado e longe de todo o alvoroço da festa.
— Pelo menos aqui consigo ouvir melhor sua voz — o piloto comentou.
— Achei que tava gostando de quase gritar enquanto Flo Rida cantava nos nossos ouvidos — riu fraquinho, o olhando. a acompanhou.
— Te ouvir falando é mil vezes melhor que escutar qualquer música dos anos 2000 — fez uma careta. desviou o olhar.
— Essa foi boa. Andou treinando, é?
— Saiu agora. Mas posso pensar em outra cantada, se quiser — piscou. Aquilo fez rir junto de .
— Você tem cara de quem sabe cantar Low inteirinha — comentou, fazendo gargalhar.
Ela continuou o olhando por alguns segundos, percebendo em como seus olhos estavam mais azulados naquela hora e em como aquilo o tornava incrivelmente mais bonito do que já era.
— Eu não, mas aposto que você sabe.
— Não! Meu Deus, isso seria um mico — colocou uma das mãos no rosto, tentando disfarçar a vergonha só de imaginar a cena. Ele riu e se aproximou um pouquinho mais.
bebeu o restante da bebida e depositou o corpo em uma mesinha ao lado deles.
não soube exatamente o que falar logo depois, mas não era como se o silêncio entre eles fosse desconfortável.
Eles só ficaram ali, aproveitando a presença um do outro enquanto o céu tinha aquele tom azul maravilhoso, cercado de estrelas. Parecia cena de filme.
passou uma das mãos pelos cabelos, pensativo. As risadinhas e piadas haviam se dissipado, deixando o ambiente entre os dois ainda mais tranquilo do que antes.
Olhou para por um momento, ponderando o que dizer.
— Posso te fazer uma pergunta?
Ela assentiu, virando o corpo minimamente para ele, curiosa.
— Por que escolheu isso? Ser jornalista, cobrir Fórmula 1… Ficar nesse mundo maluco com a gente?
piscou, um tanto surpresa. Não era o tipo de pergunta que esperava, para ser sincera.
ficou pensativa por meio segundo.
— Bom, sempre fui apaixonada por contar histórias, sabe? — iniciou, deixando um sorrisinho escapar. Ele a ouvia com atenção. — Quando comecei a entender o universo da Fórmula 1, vi que ia muito além de ser apenas corrida. Tem emoção, drama, pressão… Tem gente real por trás disso tudo. E eu queria mostrar esse lado.
Ele podia ver os olhos da mulher brilhando.
— E você consegue. De um jeito que ninguém jamais fez — afirmou. Ela ergueu o olhar. — É por isso que tanta gente lê o que você escreve.
— Você lê? — perguntou, surpresa. Ele sorriu sincero.
— Sempre que consigo. E sempre me surpreendi com o que você coloca nas matérias.
riu baixinho, ainda mais surpresa. E até meio sem jeito.
— Caramba. Agora fiquei nervosa.
— Por quê?
— Por quê?! Porque você é ! A gente costuma ficar nervoso com você por perto, não o contrário.
Ele riu de verdade, fechando os olhos brevemente. Como ela conseguia deixar tudo tão leve? Mesmo ambos mal se conhecendo?
— Não leve o título de piloto famoso tão a sério. Sou só um cara que não sabe dançar e que gostou de ter você me entrevistando no box — rebateu. virou o corpo para , ficando de frente para ela, assim como ela também estava.
Foi impossível que não sentisse o corpo esquentar.
Ela o olhou novamente. Dessa vez, demorou um pouco mais para desviar o olhar. O jeito com que dizia todas aquelas coisas, sem qualquer charme forçado, como se fosse natural… Aquilo a deixava balançada.
— Gostou?
— Gostei.
se aproximou um pouco mais. Devagar.
Como se estivesse testando os limites.
Aquilo travou o olhar de no rosto do rapaz de um jeito que mal conseguia desviar.
E então ele se inclinou, só o suficiente para que o rosto de ambos ficassem perto demais para ser perigoso demais o que quer que acontecesse segundos depois.
— Posso? — o piloto perguntou, em um sussurro.
hesitou por um segundo. Mas não era por qualquer dúvida, mas medo do que aquilo poderia significar. Ela não queria dar a entender que estava se aproveitando da situação e sabia que provavelmente pensava o mesmo, mas a tensão entre eles era tão grande e palpável que qualquer questionamento em sua mente era empurrado para longe.
Só pelo desejo de querer ele.
— Eu… — murmurou, deixando um sorrisinho leve escapar. — Sabe que isso pode virar manchete amanhã, né?
riu, tocando a mão de com delicadeza. Fez um carinho de leve em seu braço.
— Só se você escrever — brincou.
Os dois estavam há um suspiro de distância e seus corações batiam descompassados. Mas, antes de cruzar aquela linha de uma vez, respirou fundo, fechando os olhos brevemente.
— Se me beijar agora, não vai ter volta, …
— Eu sei.
Sussurrou.
— E ainda assim vai arriscar?
— Arriscaria tudo para beijar você agora, .
Ele sorriu, cortando a curta distância entre os dois.
O impacto dos lábios de contra os seus foi macio e ardente. Seu corpo formigou no mesmo instante quando ele a puxou para mais perto, levando os dedos de seus braços para sua nuca, intensificando um pouco mais o beijo.
Como se tivesse urgência.
Como se estivesse precisando daquilo há tempos.
E podia jurar que ela também precisava da mesma forma.
🏁💙
Cass, sua melhor amiga e parceira de apartamento naquela temporada, havia insistido para que a mulher fosse ousada pelo menos uma vez na vida, colocando um vestido preto colado, saltos ao invés dos tênis surrados, os cabelos ondulados e soltos…
Totalmente diferente da jornalista apressada que se encontrava nos boxes no dia do primeiro treino livre.
Por uma noite, resolveu tentar.
Quando pisou no lado externo do rooftop, sentiu o corpo estremecer. Não só pelo pouco de frio que fazia pela maresia do mar, mas por ver toda a decoração que o lugar tinha.
Era coisa de outro mundo.
O Amber Lounge já estava lotado; pessoas de todas as equipes, incluindo todos os pilotos daquela temporada, além de seus convidados.
percorreu o lounge com calma, tentando não parecer tão deslocada. Queria encontrar alguém que conhecesse, fosse jornalista ou qualquer outra pessoa, só para não continuar sozinha ali, mas, por incrível que pudesse parecer, no fundo de sua mente, queria procurar por .
Inevitavelmente, mesmo que fosse quase impossível achá-lo no meio de tantas pessoas.
Mas, misturado a alguns rostos conhecidos da , observou conversando com Toto Wolff. Ele tinha um copo na mão e parecia achar graça de algo que o chefe direto dizia.
Ela respirou fundo. Claro que não iria até ele. Não seria louca de fazer tal coisa, mas precisava confessar que queria muito fazer aquilo. Pelo menos para puxar alguma conversa.
Tinha gostado da personalidade de .
— Para de encarar, — murmurou para si mesma, desviando o olhar.
Se continuasse daquele jeito, o piloto provavelmente sentiria sua presença só de sentir o pescoço queimando pela olhada da mulher.
Se virou em direção ao bar, tentando ignorar o fato de que estava em uma festa luxuosa em Mônaco com pessoas importantes e pediu uma bebida qualquer. não era muito fã de álcool, para ser sincera.
Mas, quando bebericou o líquido e virou o rosto levemente, percebeu que não estava mais no mesmo lugar de antes. Agora, ele andava em sua direção.
Merda — se praguejou, sentindo o coração acelerar.
— Sabia que tinha alguém me encarando — brincou, parando ao lado dela. Ele tinha um sorriso contido enquanto queria abrir um buraco e se enfiar no chão.
— Eu não tava — rebateu. Deixou uma risadinha escapar. — Acho que você tá um pouco convencido, não?
— Um pouco. Mas tenho meus motivos.
— E quais seriam?
Ele apoiou o cotovelo na bancada e se virou de frente para ela.
— Você me olhou como quem queria conversar — deu de ombros, falando o mais naturalmente possível. — E, bom… Também queria conversar com você.
mordeu o lábio, tentando manter a pose. Ele sabia bem como desmontar alguém aos pouquinhos.
— Achei que você preferia ficar cercado de gente famosa, tirando fotos para o instagram da equipe e coisas assim.
riu baixinho, como se fosse mesmo uma ideia absurda.
— Definitivamente não é o meu tipo de programa preferido — tomou um gole do drink e olhou ao redor por alguns segundos. — Não vou mentir, é bonito, exuberante… Mas cansa. Enche o saco.
A mulher assentiu, não podendo concordar mais. Achava o mesmo que ele.
— Então quer dizer que é cansativo ser um piloto de fórmula 1 famoso? Caramba, que pena, — riu. Ele a acompanhou.
— Não foi isso o que eu quis dizer.
Ele se aproximou um pouco mais, inclinando o corpo minimamente. Como se não fosse perceber.
Mas ela percebeu. Percebeu tanto que o perfume suave do rapaz quase a fez arrepiar.
— Mas é que tem gente demais interessada no piloto — murmurou, ainda a olhando. — E pouquíssima gente querendo conhecer quem tá por trás do capacete da .
o encarou por alguns segundos, ponderando suas palavras. Não respondeu de imediato. Sabia exatamente o que ele queria dizer.
— E o que faz quando alguém demonstra interesse no sem uniforme e capacete?
— Depende da pessoa — sorriu, quase tímido. — Mas se essa pessoa fosse você, eu aceitaria continuar essa conversa por horas. Dias. Semanas, talvez?
abaixou o olhar sem saber o que responder. Sentiu as bochechas queimarem e o corpo começar a formigar, como se fosse uma adolescente recebendo a primeira paquera da vida. Céus, aquilo era loucura.
Claro que havia percebido o impacto do que havia dito na mulher. Mas não disse nada. Só continuou a olhando com toda a curiosidade do mundo.
— Você fala assim com todas as jornalistas? — arqueou uma das sobrancelhas, finalmente o olhando outra vez. inclinou a cabeça.
— Só com as que sabem fazer boas perguntas. E, de quebra, ainda me deixam curioso.
— Curioso? — indagou.
— É. Curioso com você. Com o jeito que você escuta. Como não tenta tirar uma manchete do que eu falo, mas uma conversa — continuou a olhando, agora, um pouco mais sério do que antes. — Seria clichê se eu dissesse que isso é diferente do que tô acostumado?
Ela riu fraquinho.
— Seria — ainda sorria. — Mas posso deixar passar. Tô achando interessante ouvir você falar assim.
O piloto relaxou os ombros, sorrindo assim como ela.
A música alta ainda tocava na parte interna do rooftop e muitas pessoas passavam por ali com bebidas, tirando fotos, além de dançando de forma desajeitada. Só então percebeu que, diferente de todas as outros eventos que havia participado daquele tipo, era a primeira vez que não se sentia tão deslocada como sempre costumava ficar.
se sentiu um pouquinho mais confortável.
E parecia notar aquilo. Seus olhos azuis pousaram nos dela com uma atenção diferente de antes, como se quisesse memorizar as expressões que fazia, os detalhes de seu rosto e até mesmo a forma com que sorria.
Era nítido que havia se interessado por . E esperava que ela também estivesse com o mesmo interesse nele.
se aproximou, para que só pudesse escutá-lo.
— Quer sair um pouco? — perguntou, baixo. Ela o olhou. — Sair um pouco dessa multidão, conversar melhor.
— Claro.
Sorriu. Ela parecia mais tímida que o normal. estava tendo aquele efeito sobre ela. Enquanto caminhavam para a parte externa, onde ainda que tendo algumas pessoas, não eram tantas como do lado de dentro, não parava de pensar que aquilo era loucura demais para estar acontecendo.
Ela era só uma jornalista, afinal de contas. Seu trabalho era fazer a cobertura da , entrevistar os pilotos se conseguisse e escrever uma matéria boa o suficiente para que fosse publicada.
Mas, estar ali, acompanhando para um lugar mais afastado na festa, só para que pudessem ficar mais à vontade um com o outro…. Isso ultrapassava o limite da loucura para ela.
Era quase como se fosse um sonho daqueles que não dá para entender muito bem quando se acorda.
quase riu com seus próprios pensamentos.
Os dois se afastaram minimamente, para que não fossem percebidos, e se aproximaram da área da piscina, perto das árvores espalhadas. Era um lugar mais reservado e longe de todo o alvoroço da festa.
— Pelo menos aqui consigo ouvir melhor sua voz — o piloto comentou.
— Achei que tava gostando de quase gritar enquanto Flo Rida cantava nos nossos ouvidos — riu fraquinho, o olhando. a acompanhou.
— Te ouvir falando é mil vezes melhor que escutar qualquer música dos anos 2000 — fez uma careta. desviou o olhar.
— Essa foi boa. Andou treinando, é?
— Saiu agora. Mas posso pensar em outra cantada, se quiser — piscou. Aquilo fez rir junto de .
— Você tem cara de quem sabe cantar Low inteirinha — comentou, fazendo gargalhar.
Ela continuou o olhando por alguns segundos, percebendo em como seus olhos estavam mais azulados naquela hora e em como aquilo o tornava incrivelmente mais bonito do que já era.
— Eu não, mas aposto que você sabe.
— Não! Meu Deus, isso seria um mico — colocou uma das mãos no rosto, tentando disfarçar a vergonha só de imaginar a cena. Ele riu e se aproximou um pouquinho mais.
bebeu o restante da bebida e depositou o corpo em uma mesinha ao lado deles.
não soube exatamente o que falar logo depois, mas não era como se o silêncio entre eles fosse desconfortável.
Eles só ficaram ali, aproveitando a presença um do outro enquanto o céu tinha aquele tom azul maravilhoso, cercado de estrelas. Parecia cena de filme.
passou uma das mãos pelos cabelos, pensativo. As risadinhas e piadas haviam se dissipado, deixando o ambiente entre os dois ainda mais tranquilo do que antes.
Olhou para por um momento, ponderando o que dizer.
— Posso te fazer uma pergunta?
Ela assentiu, virando o corpo minimamente para ele, curiosa.
— Por que escolheu isso? Ser jornalista, cobrir Fórmula 1… Ficar nesse mundo maluco com a gente?
piscou, um tanto surpresa. Não era o tipo de pergunta que esperava, para ser sincera.
ficou pensativa por meio segundo.
— Bom, sempre fui apaixonada por contar histórias, sabe? — iniciou, deixando um sorrisinho escapar. Ele a ouvia com atenção. — Quando comecei a entender o universo da Fórmula 1, vi que ia muito além de ser apenas corrida. Tem emoção, drama, pressão… Tem gente real por trás disso tudo. E eu queria mostrar esse lado.
Ele podia ver os olhos da mulher brilhando.
— E você consegue. De um jeito que ninguém jamais fez — afirmou. Ela ergueu o olhar. — É por isso que tanta gente lê o que você escreve.
— Você lê? — perguntou, surpresa. Ele sorriu sincero.
— Sempre que consigo. E sempre me surpreendi com o que você coloca nas matérias.
riu baixinho, ainda mais surpresa. E até meio sem jeito.
— Caramba. Agora fiquei nervosa.
— Por quê?
— Por quê?! Porque você é ! A gente costuma ficar nervoso com você por perto, não o contrário.
Ele riu de verdade, fechando os olhos brevemente. Como ela conseguia deixar tudo tão leve? Mesmo ambos mal se conhecendo?
— Não leve o título de piloto famoso tão a sério. Sou só um cara que não sabe dançar e que gostou de ter você me entrevistando no box — rebateu. virou o corpo para , ficando de frente para ela, assim como ela também estava.
Foi impossível que não sentisse o corpo esquentar.
Ela o olhou novamente. Dessa vez, demorou um pouco mais para desviar o olhar. O jeito com que dizia todas aquelas coisas, sem qualquer charme forçado, como se fosse natural… Aquilo a deixava balançada.
— Gostou?
— Gostei.
se aproximou um pouco mais. Devagar.
Como se estivesse testando os limites.
Aquilo travou o olhar de no rosto do rapaz de um jeito que mal conseguia desviar.
E então ele se inclinou, só o suficiente para que o rosto de ambos ficassem perto demais para ser perigoso demais o que quer que acontecesse segundos depois.
— Posso? — o piloto perguntou, em um sussurro.
hesitou por um segundo. Mas não era por qualquer dúvida, mas medo do que aquilo poderia significar. Ela não queria dar a entender que estava se aproveitando da situação e sabia que provavelmente pensava o mesmo, mas a tensão entre eles era tão grande e palpável que qualquer questionamento em sua mente era empurrado para longe.
Só pelo desejo de querer ele.
— Eu… — murmurou, deixando um sorrisinho leve escapar. — Sabe que isso pode virar manchete amanhã, né?
riu, tocando a mão de com delicadeza. Fez um carinho de leve em seu braço.
— Só se você escrever — brincou.
Os dois estavam há um suspiro de distância e seus corações batiam descompassados. Mas, antes de cruzar aquela linha de uma vez, respirou fundo, fechando os olhos brevemente.
— Se me beijar agora, não vai ter volta, …
— Eu sei.
Sussurrou.
— E ainda assim vai arriscar?
— Arriscaria tudo para beijar você agora, .
Ele sorriu, cortando a curta distância entre os dois.
O impacto dos lábios de contra os seus foi macio e ardente. Seu corpo formigou no mesmo instante quando ele a puxou para mais perto, levando os dedos de seus braços para sua nuca, intensificando um pouco mais o beijo.
Como se tivesse urgência.
Como se estivesse precisando daquilo há tempos.
E podia jurar que ela também precisava da mesma forma.
QUARTO
— Want you every second, don't need other guys…
O barulho dos carros era ensurdecedor. Mas era algo que já estava acostumada.
Era alguma coisa no meio daquele caos, em todo o barulho e a agitação que a mantinha sã, com os pés no chão.
Alerta.
O gravador estava ligado, preso no bolso do colete que usava e enquanto a corrida seguia, continuava fazendo anotações no bloquinho que insistia em carregar todas as vezes, mesmo sabendo que teria que digitar tudo depois.
A corrida já tinha passado da metade e estava indo bem. Muito bem, para ser sincera.
Ela acompanhava cada volta com o olhar atento, dividida entre a tela de cronometragem e a pista poucos metros à sua frente.
Continuou com as anotações e puxou o gravador para mais perto da sua boca.
— mantém um ritmo forte, especialmente no segundo setor… — murmurou, quase automática. Depois, rabiscou mais algumas coisas no bloquinho. — Tem gerenciado bem os pneus. Calmo. Quase cirúrgico.
parecia mais confortável do que de costume na pista. Parecia estar calmo, apesar de agressivo. Sabia bem o que estava fazendo.
Ela acompanhava em silêncio, só acompanhando. Seus olhos estavam colado no carro preto e azul turquesa, que naquela volta havia ganhado alguns décimos em cima do terceiro colocado.
— Se mantiver no mesmo ritmo, é pódio. E merecido — disse baixinho, mais para si mesma do que para o gravador.
Rabiscou mais uma anotação.
Stint limpo. Foco. Boa comunicação com a equipe.
Quase ia se esquecendo de comentar o desempenho de que estava um pouco mais atrás, mas que também ia fazendo uma boa corrida para um novato.
— segue consistente, sem riscos. claramente está mais à vontade e confiante hoje — registrou antes de fazer outra anotação.
Perguntar sobre a escolha estratégica no final.
até continuaria, mas uma freada forte puxou sua atenção para a pista. Seu coração acelerou de imediato. Odiava aquele barulho.
Mas era só fazendo mais uma curva. E com perfeição.
E foi aí que aconteceu.
Foi rápido. Como um flash. A lembrança lhe pegou em cheio.
apertava sua cintura, com ainda mais urgência.
As roupas estavam jogadas no chão, pisoteadas, largadas de qualquer jeito. Mas aquilo não importava. Seu foco era todo nos beijos que o piloto distribuía em seu corpo, em cada pedacinho da sua pele.
Os toques de eram firmes, precisos, mesmo que ainda cuidadosos. Ele parecia querer memorizar tudo, sentir tudo. Até mesmo cada reação de .
tinha sua respiração descompassada, inteiramente fora do ritmo e não sabia dizer se era pelas investidas que o piloto lhe dava ou se era pela forma com que ele a olhava.
Os olhos azuis e brilhantes.
Céus, ele era maravilhoso.
Seu coração quase parou.
Ela não podia se distrair. Não com o que havia acontecido na noite anterior.
Com .
Na cama de seu apartamento.
Ela balançou a cabeça, engolindo em seco. Precisava afastar aquele pensamento.
Tinha que focar toda a sua atenção na pista, ou pelo menos tentar.
Sua carreira dependia daquilo.
— Volta sessenta e dois — murmurou para o gravador, tentando manter a voz estável. — mantendo consistência no ritmo e ainda com pneus médios. A estratégia da parece sólida até agora.
piscou rápido, tentando recuperar a concentração, mesmo com o barulho dos motores ecoando pelas arquibancadas.
— vem logo atrás, mostrando agressividade. Mas parece confortável defendendo sua posição, como sempre — completou.
apertou o botão para parar a gravação e respirou fundo. Era impossível não se lembrar da forma com que o piloto a olhou na noite anterior.
De como a beijou.
De como a tocou.
iria enlouquecer.
Guardou o bloquinho no bolso lateral, assim como fez com o gravador. Pausaria suas anotações por enquanto.
Precisava descer para o box já que a corrida logo terminaria.
veria de perto o fim da corrida para documentar.
E, inevitavelmente, encararia outra vez.
Pouco tempo depois
O paddock fervilhava.
Equipes comemorando, repórteres tentando se encaixar no meio da multidão para conseguir uma entrevista de primeira, mecânicos se abraçando animado. O tipo de caos que conhecia muito bem.
E, mesmo no meio de toda aquela confusão, seus olhos não desgrudavam dele.
.
O piloto tinha o capacete nas mãos, o macacão meio aberto até a cintura — e que agora ela achava mais sexy do que nunca —, sorrindo enquanto dava uma entrevista para uma emissora britânica. Seu rosto ainda estava suado, os cabelos bagunçados por ter retirado a balaclava e o brilho nos olhos azuis de quem tinha dado tudo de si na corrida.
De quem havia conquistado algo importante.
Terceiro lugar.
Mais que merecido, pensava.
Ela estava parada há alguns metros de distância, com o gravador pronta na mão esperando sua vez. E por mais que tentasse parecer neutra com a situação, por dentro estava quase surtando de alegria.
Precisava confessar que estava feliz.
Ver ele ali, com a equipe ao redor batendo em suas costas, com repórteres fazendo perguntas apressadas… Era satisfatório.
E era até estranho pensar que horas atrás os dois estavam juntos, deitados lado a lado, só falando coisas sem sentido e ouvindo a risada um do outro.
Caramba!
Agora, ele era o piloto estrela da . E ela só a jornalista que faz a cobertura de sua equipe.
endireitou os ombros, ajeitando a postura. Esperou que a emissora terminasse para que pudesse se aproximar. Ela avançou assim que o repórter saiu de vista.
O crachá da SpotLine balançava em seu pescoço e o gravador continuava em suas mãos. colocou o mesmo sorriso ensaiado no rosto, o que estava acostumada a dar nas entrevistas.
a viu no mesmo segundo. Seu sorriso foi instantâneo. Aberto, genuíno.
— , do SportLine — anunciou, parando à sua frente. tentou ignorar a forma com que ele parecia mais agitado por vê-la. — Tenho só algumas perguntas antes de te liberarem pra comemoração, prometo.
— Pode perguntar o que quiser, — respondeu sem pensar muito, ainda com seus olhos azuis presos no dela. Quando percebeu, pigarreou tentando disfarçar. — Quer dizer, claro. Sem problemas.
Ela mordeu o canto da boca, tentando não rir. Ligou o gravador.
— Primeiro de tudo, parabéns — começou, com a voz um pouco mais baixa do que de costume. — Terceiro lugar em uma corrida tão disputada assim não é pouca coisa.
— Obrigado — respondeu.
continuava com seus olhos nela.
— Queria saber… Depois de algumas etapas difíceis, onde buscou forças pra voltar com consistência?
respirou fundo, ainda a olhando.
— A gente sempre encontra forças onde menos se espera. Uma conversa, uma noite bem dormida… Sempre dá pra encontrar.
sentiu o rosto esquentar com o que ele havia dito.
Uma noite bem dormida.
, …
Ela não desviou o olhar.
— E quando a pressão bate? Quando parece que ninguém tá vendo seu esforço. O que te faz continuar? — disse baixo, quase num sussurro. Não era uma pergunta profissional. Era pessoal. Sobre ele. E sobre ela também.
Ele deu um passo mínimo à frente. Nem parecia perceber as pessoas ao redor.
— Eu continuo porque tem alguém que tá vendo. Mesmo quando tenta esconder — respondeu, sorrindo de canto. — Alguém que apareceu e tem me feito lembrar o por que eu amo isso aqui.
não disse nada. Na verdade, não conseguia dizer nada.
havia a pego de surpresa. Não esperava uma resposta como aquela. Não em frente a várias pessoas e a uma gravação.
Seu coração batia frenético, descompassado.
E então, antes mesmo de formular qualquer resposta, aconteceu.
retirou o boné da , ignorou os flashes que começaram a disparar ao redor e, sem hesitar, segurou o rosto de com as duas mãos, a beijando sem pensar duas vezes.
Do jeito que queria desde o começo.
Era fato que ambos agora estavam focados no enorme telão do paddock. Que as notícias começariam a percorrer como um raio e que aquele seria o assunto do momento.
Mas aquilo não importava.
Não naquele momento.
🏁💙
Alerta.
O gravador estava ligado, preso no bolso do colete que usava e enquanto a corrida seguia, continuava fazendo anotações no bloquinho que insistia em carregar todas as vezes, mesmo sabendo que teria que digitar tudo depois.
A corrida já tinha passado da metade e estava indo bem. Muito bem, para ser sincera.
Ela acompanhava cada volta com o olhar atento, dividida entre a tela de cronometragem e a pista poucos metros à sua frente.
Continuou com as anotações e puxou o gravador para mais perto da sua boca.
— mantém um ritmo forte, especialmente no segundo setor… — murmurou, quase automática. Depois, rabiscou mais algumas coisas no bloquinho. — Tem gerenciado bem os pneus. Calmo. Quase cirúrgico.
parecia mais confortável do que de costume na pista. Parecia estar calmo, apesar de agressivo. Sabia bem o que estava fazendo.
Ela acompanhava em silêncio, só acompanhando. Seus olhos estavam colado no carro preto e azul turquesa, que naquela volta havia ganhado alguns décimos em cima do terceiro colocado.
— Se mantiver no mesmo ritmo, é pódio. E merecido — disse baixinho, mais para si mesma do que para o gravador.
Rabiscou mais uma anotação.
Stint limpo. Foco. Boa comunicação com a equipe.
Quase ia se esquecendo de comentar o desempenho de que estava um pouco mais atrás, mas que também ia fazendo uma boa corrida para um novato.
— segue consistente, sem riscos. claramente está mais à vontade e confiante hoje — registrou antes de fazer outra anotação.
Perguntar sobre a escolha estratégica no final.
até continuaria, mas uma freada forte puxou sua atenção para a pista. Seu coração acelerou de imediato. Odiava aquele barulho.
Mas era só fazendo mais uma curva. E com perfeição.
E foi aí que aconteceu.
Foi rápido. Como um flash. A lembrança lhe pegou em cheio.
apertava sua cintura, com ainda mais urgência.
As roupas estavam jogadas no chão, pisoteadas, largadas de qualquer jeito. Mas aquilo não importava. Seu foco era todo nos beijos que o piloto distribuía em seu corpo, em cada pedacinho da sua pele.
Os toques de eram firmes, precisos, mesmo que ainda cuidadosos. Ele parecia querer memorizar tudo, sentir tudo. Até mesmo cada reação de .
tinha sua respiração descompassada, inteiramente fora do ritmo e não sabia dizer se era pelas investidas que o piloto lhe dava ou se era pela forma com que ele a olhava.
Os olhos azuis e brilhantes.
Céus, ele era maravilhoso.
Seu coração quase parou.
Ela não podia se distrair. Não com o que havia acontecido na noite anterior.
Com .
Na cama de seu apartamento.
Ela balançou a cabeça, engolindo em seco. Precisava afastar aquele pensamento.
Tinha que focar toda a sua atenção na pista, ou pelo menos tentar.
Sua carreira dependia daquilo.
— Volta sessenta e dois — murmurou para o gravador, tentando manter a voz estável. — mantendo consistência no ritmo e ainda com pneus médios. A estratégia da parece sólida até agora.
piscou rápido, tentando recuperar a concentração, mesmo com o barulho dos motores ecoando pelas arquibancadas.
— vem logo atrás, mostrando agressividade. Mas parece confortável defendendo sua posição, como sempre — completou.
apertou o botão para parar a gravação e respirou fundo. Era impossível não se lembrar da forma com que o piloto a olhou na noite anterior.
De como a beijou.
De como a tocou.
iria enlouquecer.
Guardou o bloquinho no bolso lateral, assim como fez com o gravador. Pausaria suas anotações por enquanto.
Precisava descer para o box já que a corrida logo terminaria.
veria de perto o fim da corrida para documentar.
E, inevitavelmente, encararia outra vez.
Pouco tempo depois
O paddock fervilhava.
Equipes comemorando, repórteres tentando se encaixar no meio da multidão para conseguir uma entrevista de primeira, mecânicos se abraçando animado. O tipo de caos que conhecia muito bem.
E, mesmo no meio de toda aquela confusão, seus olhos não desgrudavam dele.
.
O piloto tinha o capacete nas mãos, o macacão meio aberto até a cintura — e que agora ela achava mais sexy do que nunca —, sorrindo enquanto dava uma entrevista para uma emissora britânica. Seu rosto ainda estava suado, os cabelos bagunçados por ter retirado a balaclava e o brilho nos olhos azuis de quem tinha dado tudo de si na corrida.
De quem havia conquistado algo importante.
Terceiro lugar.
Mais que merecido, pensava.
Ela estava parada há alguns metros de distância, com o gravador pronta na mão esperando sua vez. E por mais que tentasse parecer neutra com a situação, por dentro estava quase surtando de alegria.
Precisava confessar que estava feliz.
Ver ele ali, com a equipe ao redor batendo em suas costas, com repórteres fazendo perguntas apressadas… Era satisfatório.
E era até estranho pensar que horas atrás os dois estavam juntos, deitados lado a lado, só falando coisas sem sentido e ouvindo a risada um do outro.
Caramba!
Agora, ele era o piloto estrela da . E ela só a jornalista que faz a cobertura de sua equipe.
endireitou os ombros, ajeitando a postura. Esperou que a emissora terminasse para que pudesse se aproximar. Ela avançou assim que o repórter saiu de vista.
O crachá da SpotLine balançava em seu pescoço e o gravador continuava em suas mãos. colocou o mesmo sorriso ensaiado no rosto, o que estava acostumada a dar nas entrevistas.
a viu no mesmo segundo. Seu sorriso foi instantâneo. Aberto, genuíno.
— , do SportLine — anunciou, parando à sua frente. tentou ignorar a forma com que ele parecia mais agitado por vê-la. — Tenho só algumas perguntas antes de te liberarem pra comemoração, prometo.
— Pode perguntar o que quiser, — respondeu sem pensar muito, ainda com seus olhos azuis presos no dela. Quando percebeu, pigarreou tentando disfarçar. — Quer dizer, claro. Sem problemas.
Ela mordeu o canto da boca, tentando não rir. Ligou o gravador.
— Primeiro de tudo, parabéns — começou, com a voz um pouco mais baixa do que de costume. — Terceiro lugar em uma corrida tão disputada assim não é pouca coisa.
— Obrigado — respondeu.
continuava com seus olhos nela.
— Queria saber… Depois de algumas etapas difíceis, onde buscou forças pra voltar com consistência?
respirou fundo, ainda a olhando.
— A gente sempre encontra forças onde menos se espera. Uma conversa, uma noite bem dormida… Sempre dá pra encontrar.
sentiu o rosto esquentar com o que ele havia dito.
Uma noite bem dormida.
, …
Ela não desviou o olhar.
— E quando a pressão bate? Quando parece que ninguém tá vendo seu esforço. O que te faz continuar? — disse baixo, quase num sussurro. Não era uma pergunta profissional. Era pessoal. Sobre ele. E sobre ela também.
Ele deu um passo mínimo à frente. Nem parecia perceber as pessoas ao redor.
— Eu continuo porque tem alguém que tá vendo. Mesmo quando tenta esconder — respondeu, sorrindo de canto. — Alguém que apareceu e tem me feito lembrar o por que eu amo isso aqui.
não disse nada. Na verdade, não conseguia dizer nada.
havia a pego de surpresa. Não esperava uma resposta como aquela. Não em frente a várias pessoas e a uma gravação.
Seu coração batia frenético, descompassado.
E então, antes mesmo de formular qualquer resposta, aconteceu.
retirou o boné da , ignorou os flashes que começaram a disparar ao redor e, sem hesitar, segurou o rosto de com as duas mãos, a beijando sem pensar duas vezes.
Do jeito que queria desde o começo.
Era fato que ambos agora estavam focados no enorme telão do paddock. Que as notícias começariam a percorrer como um raio e que aquele seria o assunto do momento.
Mas aquilo não importava.
Não naquele momento.
QUINTO
— Break my heart and I swear I'm movin' on with your favorite athlete…
Era uma manhã preguiçosa.
Mas para , era a manhã mais satisfatória que poderia ter na vida.
Tinha vencido o pódio, mesmo em terceiro lugar. Estava em seu apartamento em Mônaco. E, bem do seu lado, estava vestindo uma de suas camisetas, onde estampava um 63 minimalista. Ela tinha os cabelos bagunçados do jeito mais bonito que havia visto.
Ele apoiou o cotovelo no travesseiro e ficou ali observando. Como se quisesse memorizar o que acontecia.
respirava devagar, franzindo o nariz levemente com o calorzinho do sol que a fresta da janela deixava de encontro à sua pele.
sorriu. Seu coração aqueceu. Era loucura o que acontecia ali naquele exato instante. Nunca iria imaginar que se interessaria por alguém de sua equipe e que começaria a se encantar em tão pouco tempo. Havia sido repentino, sim. Mas estava gostando de .
Gostava de sua personalidade. De sua companhia. De suas piadas.
Gostava dela.
— Você tá me encarando faz tempo — murmurou, sem abrir os olhos.
Ele continuava a olhando.
— Tô só garantindo que isso aqui tá acontecendo.
riu fraquinho, com a voz ainda rouca.
— Não era eu quem deveria estar dizendo isso?
— Talvez. Só é bom. Só sei disso — afirmou.
Ela abriu os olhos por fim, o observando com um sorriso preguiçoso. tinha os cabelos castanhos bagunçados e os olhos azuis brilhando como costumavam estar.
Lindo.
— É estranho — confessou, sincera. Ele inclinou o rosto. — A gente se conhece há tão pouco tempo e isso tudo foi muito rápido, mas… Sei lá. Parece natural.
Ele assentiu.
— Sei exatamente o que quer dizer.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, só aproveitando a companhia um do outro, mas não durou muito tempo.
O celular de vibrou em algum lugar da cama, seguido pelo som de algumas notificações no telefone de .
Ele esticou o braço com mais preguiça que o normal e o pegou, ligando o display.
Fez uma careta e riu.
— “ comemora pódio com beijo em jornalista da SportLine”.
Disse, em voz alta. arregalou os olhos. Não pensou duas vezes em enterrar o rosto no travesseiro.
— Ah, meu Deus…
— Tem outra aqui — continuou, rindo baixinho. — “Novo casal do paddock? Piloto da e jornalista trocam beijos após o GP”.
virou de barriga para cima, jogando os braços sobre os olhos.
— A gente tá em todo site?
— Sim. Incluindo um fã site que colocou “ : aprovada pela torcida”.
gargalhou, balançando a cabeça. Aquilo era loucura.
— Jura?
— Juro. Além dos comentários não tão legais de sempre.
— Ótimo. Eu adoro ser chamada de oportunista antes do café da manhã.
Resmungou. se aproximou, a observando.
— Tá preocupada com isso?
hesitou por um instante. Seu sorriso diminuiu minimamente.
— Um pouco. Você sabe como esse meio é. E eu gosto do meu trabalho — respirou fundo. fez um carinho leve em seu braço e assentiu devagar.
— Também gosto do meu trabalho. E sei que tô gostando de você. Não acho que uma coisa precisa excluir a outra.
mordiscou o lábio, gostando de ouvir aquilo.
— Só vamos tentar não virar só mais um escândalo no paddock.
O piloto se inclinou, beijando a ponta do nariz de . Ela sorriu.
— Então a gente faz o possível pra não virar. Um passo de cada vez, certo?
o olhou, sentindo o coração esquentar. transmitia tanta segurança que a fazia querer acreditar que tudo daria certo. E ela seria feliz outra vez.
Sorriu.
— Certo. Mas você se esqueceu de uma coisa.
— O que?
perguntou, curioso.
— Vai ter que dividir os holofotes comigo agora.
Ele gargalhou. balançou a cabeça e aproximou o corpo do de .
Ela sentiu a mão morna do piloto em sua barriga e um beijo leve em seus lábios logo depois.
— Se for com você, eu divido até o pódio, .
🏁💙
Mas para , era a manhã mais satisfatória que poderia ter na vida.
Tinha vencido o pódio, mesmo em terceiro lugar. Estava em seu apartamento em Mônaco. E, bem do seu lado, estava vestindo uma de suas camisetas, onde estampava um 63 minimalista. Ela tinha os cabelos bagunçados do jeito mais bonito que havia visto.
Ele apoiou o cotovelo no travesseiro e ficou ali observando. Como se quisesse memorizar o que acontecia.
respirava devagar, franzindo o nariz levemente com o calorzinho do sol que a fresta da janela deixava de encontro à sua pele.
sorriu. Seu coração aqueceu. Era loucura o que acontecia ali naquele exato instante. Nunca iria imaginar que se interessaria por alguém de sua equipe e que começaria a se encantar em tão pouco tempo. Havia sido repentino, sim. Mas estava gostando de .
Gostava de sua personalidade. De sua companhia. De suas piadas.
Gostava dela.
— Você tá me encarando faz tempo — murmurou, sem abrir os olhos.
Ele continuava a olhando.
— Tô só garantindo que isso aqui tá acontecendo.
riu fraquinho, com a voz ainda rouca.
— Não era eu quem deveria estar dizendo isso?
— Talvez. Só é bom. Só sei disso — afirmou.
Ela abriu os olhos por fim, o observando com um sorriso preguiçoso. tinha os cabelos castanhos bagunçados e os olhos azuis brilhando como costumavam estar.
Lindo.
— É estranho — confessou, sincera. Ele inclinou o rosto. — A gente se conhece há tão pouco tempo e isso tudo foi muito rápido, mas… Sei lá. Parece natural.
Ele assentiu.
— Sei exatamente o que quer dizer.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, só aproveitando a companhia um do outro, mas não durou muito tempo.
O celular de vibrou em algum lugar da cama, seguido pelo som de algumas notificações no telefone de .
Ele esticou o braço com mais preguiça que o normal e o pegou, ligando o display.
Fez uma careta e riu.
— “ comemora pódio com beijo em jornalista da SportLine”.
Disse, em voz alta. arregalou os olhos. Não pensou duas vezes em enterrar o rosto no travesseiro.
— Ah, meu Deus…
— Tem outra aqui — continuou, rindo baixinho. — “Novo casal do paddock? Piloto da e jornalista trocam beijos após o GP”.
virou de barriga para cima, jogando os braços sobre os olhos.
— A gente tá em todo site?
— Sim. Incluindo um fã site que colocou “ : aprovada pela torcida”.
gargalhou, balançando a cabeça. Aquilo era loucura.
— Jura?
— Juro. Além dos comentários não tão legais de sempre.
— Ótimo. Eu adoro ser chamada de oportunista antes do café da manhã.
Resmungou. se aproximou, a observando.
— Tá preocupada com isso?
hesitou por um instante. Seu sorriso diminuiu minimamente.
— Um pouco. Você sabe como esse meio é. E eu gosto do meu trabalho — respirou fundo. fez um carinho leve em seu braço e assentiu devagar.
— Também gosto do meu trabalho. E sei que tô gostando de você. Não acho que uma coisa precisa excluir a outra.
mordiscou o lábio, gostando de ouvir aquilo.
— Só vamos tentar não virar só mais um escândalo no paddock.
O piloto se inclinou, beijando a ponta do nariz de . Ela sorriu.
— Então a gente faz o possível pra não virar. Um passo de cada vez, certo?
o olhou, sentindo o coração esquentar. transmitia tanta segurança que a fazia querer acreditar que tudo daria certo. E ela seria feliz outra vez.
Sorriu.
— Certo. Mas você se esqueceu de uma coisa.
— O que?
perguntou, curioso.
— Vai ter que dividir os holofotes comigo agora.
Ele gargalhou. balançou a cabeça e aproximou o corpo do de .
Ela sentiu a mão morna do piloto em sua barriga e um beijo leve em seus lábios logo depois.
— Se for com você, eu divido até o pódio, .
EPÍLOGO
— I won't give a fuck about you…
O escritório da SpotLine estava abafado naquela tarde. Ou talvez fosse só Jake sentindo o calor subir pela nuca.
Seu chefe queria vê-lo com urgência, fora isso o que a recepcionista havia informado quando ligou pela manhã. Claro que Stafford achou estranho. O que seria tão urgente logo após o GP de Mônaco? Será que ele havia enviado alguma manchete errado? Ou…
Ou havia conseguido o cargo de na ?
Era melhor pensar positivo.
Saiu do elevador, deixando um sorrisinho convencido surgir no canto dos lábios. Cumprimentou alguns funcionários e se aproximou da sala de Muniz, seu chefe. Entrou sem bater, ainda mantendo a mesma postura superior que costumava ter.
O diretor de jornalismo, Finn Muniz, ao menos pediu para que Jake sentasse. Estava de pé, os braços cruzados, com a expressão séria de sempre.
— Chefe, fico feliz que tenha ligado — sorriu cínico, se aproximando. — Será que é por conta daquela vaga na ? Fiquei curioso.
Muniz não retribuiu o sorriso. Nem mesmo fez menção de esboçar alguma reação.
— Senta, Jake.
Seu tom era autoritário. Como uma ordem. Mas, ainda assim, Jake continuou em pé.
— Então? — insistiu, ajeitando o blazer que provavelmente havia custado mais que o seu salário. — A vaga é minha, né? Finalmente reconheceram que eu merecia o posto desde o começo.
Finn cravou a mandíbula antes de caminhar até sua cadeira, do outro lado da mesa. Se sentou sem pressa e sem tirar os olhos de Jake.
— Você não foi chamado para assumir a vaga da , Jake. Aliás, não foi chamado aqui para nenhuma promoção.
Stafford deixou escapar uma risada debochada.
— Ah, tá. Vão mandar alguém da equipe base? Pensa bem, chefe, é a . Conheço aquela equipe como ninguém.
— Justamente por isso estamos encerrando seu contrato na SportLine — Muniz disse, direto e reto.
Jake arqueou uma das sobrancelhas.
— Como é que é?
— Você ouviu. A partir de hoje, não representa mais a emissora.
— Espera aí — deu um passo à frente, com os olhos arregalados. — Você tá me demitindo? É isso? Depois de tudo o que eu fiz pela empresa?
Finn respirou fundo.
— Você não fez pela empresa, Jake. Fez por você. Pisou em colegas, tentou sabotar e eu perdi as contas de quantas vezes foram. Deixou sua ambição falar mais alto do que sua ética. Isso sem comentar os comentários internos — completou, abrindo uma pasta na mesa. — E, por fim, tentou se promover às custas de uma matéria que um de nossos internos escreveu.
— Isso é um absurdo! — Jake balançava a cabeça, sem acreditar. — Tá mesmo defendendo a ? Depois de ela ter saído em uma manchete com o ? Aos beijos?!
Muniz ergueu o olhar lentamente, já perdendo a paciência.
— Estou defendendo profissionalismo, Jake. Coisa que você perdeu faz tempo.
Stafford soltou uma risada incrédula, nervosa.
— Claro, porque quando é a queridinha de vocês envolvida, tudo bem, né? Ela pode misturar trabalho com a vida pessoal, pode virar notícia e continuar na vaga que deveria ser minha?
Finn se levantou, apoiando as duas mãos na mesa de madeira. Sua voz era baixa, mas carregada e Jake podia sentir o corpo tremer só pela postura do chefe.
— foi manchete porque fez um trabalho impecável em Mônaco. Porque entregou uma das melhores coberturas até então, mesmo com tudo o que você fez para atrapalhar. E quanto ao beijo… — deu de ombros. — Foi consequência de algo que você nunca mais entender. Respeito mútuo. Você não perdeu para ela, Jake. Perdeu para você mesmo.
Jake sentiu o estômago revirar, mas tentou manter a postura.
— Então é isso? Me chutaram pra proteger a imagem dela?
— Não. A gente está te demitindo porque você não cabe mais aqui — Muniz rebateu. — E sabe o que é pior? Acha que perdeu espaço porque ela brilhou. Mas ela brilhou porque você apagou qualquer chance que ainda tinha de ser levado a sério, Stafford.
O silêncio foi pesado. Jake podia sentir sobre seus ombros.
Ele olhou para o envelope de desligamento em cima da mesa e o pegou com raiva.
— Vocês vão se arrepender.
Muniz sorriu, sem humor algum.
— Já nos arrependemos. Por ter demorado para fazer isso.
Jake bufou. Quase gritou. A raiva que sentia não dava para ser explicada.
Bateu a porta atrás de si e saiu marchando para fora do escritório.
Mas não antes de ver o beijo de com passando na TV.
Sua ex-namorada que tinha ficado com sua vaga na .
E, ainda pior, havia conquistado seu piloto favorito da temporada.
🏁💙
LEGENDA:
— Pit Lane: faixa ao lado da pista onde os carros entram para fazer paradas.
— Paddock: área nos bastidores da corrida onde ficam equipes, motorhomes e convidados.
— Box: garagem da equipe onde os carros são ajustados e fazem paradas.
— Sprint: corrida curta que acontece no sábado e vale pontos extras.
— Stint: período em que o piloto permanece na pista com o mesmo jogo de pneus.
Seu chefe queria vê-lo com urgência, fora isso o que a recepcionista havia informado quando ligou pela manhã. Claro que Stafford achou estranho. O que seria tão urgente logo após o GP de Mônaco? Será que ele havia enviado alguma manchete errado? Ou…
Ou havia conseguido o cargo de na ?
Era melhor pensar positivo.
Saiu do elevador, deixando um sorrisinho convencido surgir no canto dos lábios. Cumprimentou alguns funcionários e se aproximou da sala de Muniz, seu chefe. Entrou sem bater, ainda mantendo a mesma postura superior que costumava ter.
O diretor de jornalismo, Finn Muniz, ao menos pediu para que Jake sentasse. Estava de pé, os braços cruzados, com a expressão séria de sempre.
— Chefe, fico feliz que tenha ligado — sorriu cínico, se aproximando. — Será que é por conta daquela vaga na ? Fiquei curioso.
Muniz não retribuiu o sorriso. Nem mesmo fez menção de esboçar alguma reação.
— Senta, Jake.
Seu tom era autoritário. Como uma ordem. Mas, ainda assim, Jake continuou em pé.
— Então? — insistiu, ajeitando o blazer que provavelmente havia custado mais que o seu salário. — A vaga é minha, né? Finalmente reconheceram que eu merecia o posto desde o começo.
Finn cravou a mandíbula antes de caminhar até sua cadeira, do outro lado da mesa. Se sentou sem pressa e sem tirar os olhos de Jake.
— Você não foi chamado para assumir a vaga da , Jake. Aliás, não foi chamado aqui para nenhuma promoção.
Stafford deixou escapar uma risada debochada.
— Ah, tá. Vão mandar alguém da equipe base? Pensa bem, chefe, é a . Conheço aquela equipe como ninguém.
— Justamente por isso estamos encerrando seu contrato na SportLine — Muniz disse, direto e reto.
Jake arqueou uma das sobrancelhas.
— Como é que é?
— Você ouviu. A partir de hoje, não representa mais a emissora.
— Espera aí — deu um passo à frente, com os olhos arregalados. — Você tá me demitindo? É isso? Depois de tudo o que eu fiz pela empresa?
Finn respirou fundo.
— Você não fez pela empresa, Jake. Fez por você. Pisou em colegas, tentou sabotar e eu perdi as contas de quantas vezes foram. Deixou sua ambição falar mais alto do que sua ética. Isso sem comentar os comentários internos — completou, abrindo uma pasta na mesa. — E, por fim, tentou se promover às custas de uma matéria que um de nossos internos escreveu.
— Isso é um absurdo! — Jake balançava a cabeça, sem acreditar. — Tá mesmo defendendo a ? Depois de ela ter saído em uma manchete com o ? Aos beijos?!
Muniz ergueu o olhar lentamente, já perdendo a paciência.
— Estou defendendo profissionalismo, Jake. Coisa que você perdeu faz tempo.
Stafford soltou uma risada incrédula, nervosa.
— Claro, porque quando é a queridinha de vocês envolvida, tudo bem, né? Ela pode misturar trabalho com a vida pessoal, pode virar notícia e continuar na vaga que deveria ser minha?
Finn se levantou, apoiando as duas mãos na mesa de madeira. Sua voz era baixa, mas carregada e Jake podia sentir o corpo tremer só pela postura do chefe.
— foi manchete porque fez um trabalho impecável em Mônaco. Porque entregou uma das melhores coberturas até então, mesmo com tudo o que você fez para atrapalhar. E quanto ao beijo… — deu de ombros. — Foi consequência de algo que você nunca mais entender. Respeito mútuo. Você não perdeu para ela, Jake. Perdeu para você mesmo.
Jake sentiu o estômago revirar, mas tentou manter a postura.
— Então é isso? Me chutaram pra proteger a imagem dela?
— Não. A gente está te demitindo porque você não cabe mais aqui — Muniz rebateu. — E sabe o que é pior? Acha que perdeu espaço porque ela brilhou. Mas ela brilhou porque você apagou qualquer chance que ainda tinha de ser levado a sério, Stafford.
O silêncio foi pesado. Jake podia sentir sobre seus ombros.
Ele olhou para o envelope de desligamento em cima da mesa e o pegou com raiva.
— Vocês vão se arrepender.
Muniz sorriu, sem humor algum.
— Já nos arrependemos. Por ter demorado para fazer isso.
Jake bufou. Quase gritou. A raiva que sentia não dava para ser explicada.
Bateu a porta atrás de si e saiu marchando para fora do escritório.
Mas não antes de ver o beijo de com passando na TV.
Sua ex-namorada que tinha ficado com sua vaga na .
E, ainda pior, havia conquistado seu piloto favorito da temporada.
LEGENDA:
— Pit Lane: faixa ao lado da pista onde os carros entram para fazer paradas.
— Paddock: área nos bastidores da corrida onde ficam equipes, motorhomes e convidados.
— Box: garagem da equipe onde os carros são ajustados e fazem paradas.
— Sprint: corrida curta que acontece no sábado e vale pontos extras.
— Stint: período em que o piloto permanece na pista com o mesmo jogo de pneus.
FIM!
Nota da autora: Oi, pessoal! Espero que tenham gostado desse versefic! Confesso que amei demais esse final hahah Não deixe de comentar o que achou <3