
Revisada por:
Aurora Boreal 💫
Finalizada em: Maio/2025
Capítulo Único
“SEEMS LIKE OVERNIGHT, I'M JUST THE BITCH YOU HATE NOW…”
Momentos como aquele faziam com que o velho James Barnes se lembrasse de como era ser jovem.
Do terraço do prédio onde ele morava, observou a festa organizada por Elton, seu vizinho carismático e viciado em socializar. As pessoas se espalhavam entre cadeiras e toalhas, conversando, rindo, tomando sol e cerveja como se o tempo não importasse.
Ele, por outro lado, mantinha-se encostado na parede, uma garrafa de cerveja na mão, e observava a cena com o olhar de quem não pertencia completamente àquele ambiente.
Ok, a música não era Nat King Cole, as roupas não lembravam os anos 40 e até o jeito de falar era claramente pertencente à outra era. Ainda assim, o brilho quente do sol, tingindo tudo de laranja, evocava memórias de encontros com a antiga turma. Havia algo de familiar na atmosfera leve, no riso solto entre amigos, na forma como as conversas se espalhavam de um grupo para outro, como se, apesar das diferenças, o tempo não tivesse passado completamente.
Por um momento, ele era só mais um cara aproveitando a juventude, falando trivialidades, rindo de fofocas que não faziam a menor diferença em sua vida, mas que, de alguma forma, ainda o divertiam. Preso em uma conversa absurda sobre submarinos com Sam e Elton, percebeu que estava genuinamente confortável. Quase contente. Contente por se sentir jovem outra vez.
O que, convenhamos, era pedir muito para alguém com mais de cem anos.
Um pequeno escárnio curvou seus lábios quando viu atravessar a porta de ferro, trazendo consigo um brilho quase irritante, o tipo de luz que parecia em falta naquela tarde de domingo.
Droga. É claro que estaria ali.
— Ótimo — murmurou para si mesmo. Ele tomou outro gole de cerveja e desviou o olhar, temendo que os olhos dela encontrassem os seus.
— Oi, oi. Estou aqui. Desculpe pela demora. Trânsito — justificou, sorrindo e entregando a cerveja para Elton, o anfitrião, dando-lhe um abraço rápido. — Sam! — sorriu animada ao ver Sam ao lado dele e ergueu os braços, sendo rapidamente acolhida em um abraço amistoso de Sam.
— E aí... — Ele se afastou, analisando o cabelo dela. — Ruiva? Pintou o cabelo de novo? — Sam apontou, rindo.
— Pois é, toda vez que alguém quebra meu coração, eu pinto de uma cor diferente. — Sem sequer se virar completamente em sua direção, e, para deixar ainda mais claro que o estava ignorando, falou secamente por sobre o ombro antes de se afastar, sem esperar sua resposta: — James.
Ele revirou os olhos, irritado com o comportamento mal-educado dela que o forçava a ser mal-educado também.
— Eu amo como ela te odeia e não faz questão de esconder isso. — Sam gargalhou, divertindo-se com a expressão irritada em seu rosto.
— não se importa com o soldado invernal, hein? O que diabos você fez para ela? — Elton também riu, irritando-o ainda mais.
— Eu não fiz nada.
Sam e Elton sorriram para a sua resposta e riram, evidentemente divertindo-se com a sua reação. Ele revirou os olhos e tomou outro gole de cerveja, tentando ignorá-los, mas, por mais que tentasse, era impossível. Aquele tipo de provocação era como um gatilho para ele, algo que não conseguia controlar, mesmo sabendo que estava sendo patético.
— Ei, ela está bonita, cara. — Elton assobiou com exagero, sua expressão completamente ridícula.
Ele deu um tapa nas costas de Bucky, um pouco mais forte do que o necessário, e aquilo foi o suficiente para fazer a paciência dele se esgotar. A garrafa de cerveja na mão de Bucky se apertou, e, por um segundo, ele pensou em dar uma resposta sarcástica ou, no mínimo, afastá-lo dele. Mas, em vez disso, lançou um olhar de desprezo, tentando se manter calmo.
Antes que ele pudesse responder, Sam se juntou a Elton, aquele sorriso provocador no rosto, e James não pôde deixar de se perguntar como era que, de alguma forma, eles sempre conseguiam fazer isso: tirá-lo do sério com tão pouco.
— Está. Está mesmo. — Sam sorriu novamente, esse sorriso que James já tinha decorado. Ele parecia se divertir enormemente com a irritação dele. Sam riu, provavelmente esperando que James fizesse algum comentário ou entrasse na brincadeira, mas, sinceramente, James já tinha aprendido a não dar munição para eles.
— Cale a boca — murmurou ele, quase para si mesmo, sem querer prolongar aquela conversa ridícula. Mas a tentativa de interromper o assunto foi inútil. Sam e Elton explodiram em risadas, como se Bucky fosse a piada mais engraçada do mundo.
Sam e Elton estavam em seu próprio mundo agora, e, por mais que ele tentasse, sabia que não conseguiria fazer com que parassem. O pior de tudo era que, em algum lugar no fundo da mente dele, sabia que estava alimentando tudo aquilo. Era só o que eles queriam.
— Talvez ela goste de você e só não saiba como agir. — Sam cutucou o braço dele.
— Cale a boca, Sam.
James não queria lidar com aquilo. Não queria pensar em .
— Viu? Ele está todo vermelho! — Elton não perdeu a oportunidade e deu outro tapa nas costas de James, mais forte do que o anterior.
— Você deveria chamá-la para um encontro, amigo — Sam continuou com a provocação, e ele soltou um gemido abafado, exasperado.
e “encontro” na mesma frase era algo que James queria evitar a todo custo.
Ele esfregou a testa, seu corpo tenso e sua respiração um pouco mais pesada. As bochechas ainda queimavam e ele estava definitivamente irritado. Ainda assim, ele não conseguia deixar de olhar para . Ele tentava disfarçar. Era irritante, era frustrante, mas ele não conseguia evitar.
E, por mais que tentasse se afastar daquela ideia, parte dele não conseguia deixar de perceber como ela estava bonita.
Como sempre.
— Ok, vamos resolver isso. Por que você não a convida para sair? Se você fizer isso, eu pago o jantar de vocês. Que tal? — Sam sugeriu, a voz cheia de uma confiança tão típica dele, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
— Você está brincando, certo? — James olhou para ele, incrédulo.
— Vamos lá, cara. Não é tão difícil. Você deveria namorar mais vezes. Que tal começar com ?
— Vamos, não tenha medo. — Elton entrou na conversa com um sorriso travesso e soltou uma proposta ainda mais absurda. — Vamos fazer um acordo, então. Se você convidar a para sair, a gente compra uma mesa de jantar nova pra você.
— Uma mesa de jantar? — James piscou, sem entender direito.
— Ah, é uma boa! — Sam concordou, assentindo, levando aquilo tudo muito mais a sério do que James gostaria. — Já estava ficando vergonhoso você jantando no chão do seu apartamento. Mas, Elton... Uma mesa de segunda mão, de plástico, nada muito chique, não é?
— Tá, tá... de segunda mão, então. Mas vai ser uma boa mesa!
— Vocês são loucos — murmurou James, sentindo uma onda de frustração invadi-lo. Ele não conseguia acreditar que estava tendo esse tipo de conversa.
— ! Ei! — Elton chamou, já se levantando e acenando para chamar a atenção dela.
O estômago de Bucky virou de uma vez.
Esse era o problema com . Depois de cem anos, ele não sabia que era possível que seu estômago ainda revirasse perto de uma mulher bonita.
Ele sabia que a situação estava prestes a sair do controle. James tentou se manter calmo, mas o que veio a seguir não ajudou. Ela virou a cabeça e, por um segundo, o mundo pareceu desacelerar. Quando os olhos dela encontraram a direção de onde estavam, o batimento cardíaco de James disparou.
Ele sabia o que aquilo significava. Ele estava prestes a passar por mais uma daquelas situações absurdas que não sabia como lidar.
se aproximou, segurando uma cerveja na mão e, por caminhar contra o vento, o tecido do seu vestido chicoteava contra as pernas que ela fazia questão de exibir por aí. O olhar de James seguia cada passo dela, enquanto seus pensamentos estavam uma bagunça, e, por mais que ele tentasse disfarçar, era impossível manter a compostura.
Sam e Elton trocavam olhares cúmplices entre si, como se estivessem assistindo ao desconforto de James e se divertindo com isso. O que, honestamente, não era surpresa nenhuma.
— Ei, ! Estamos falando de você! — Elton disse, com uma empolgação exagerada.
olhou para ele, surpresa. James tentou manter o olhar no chão, tentando evitar o contato visual. Mas ele sabia que, em algum momento, ela chegaria perto o suficiente para que ele não tivesse escolha, a não ser reagir.
— O que está acontecendo? — A voz de soou próxima, firme, carregada de desconfiança.
Ela havia parado ao lado do grupo, com os olhos ligeiramente estreitados, analisando Sam e Elton como se já soubesse que estavam tramando algo. Sua postura era relaxada, mas a forma como cruzava os braços e inclinava a cabeça para o lado sugeria que não compraria nenhuma desculpa facilmente. Como sempre, ela não dirigiu nenhum olhar a James.
— Estávamos apenas pensando se você tem planos para mais tarde — Sam perguntou com uma casualidade ensaiada, com um sorriso discreto brincando nos lábios. James lançou um olhar furioso para ele, tentando, inutilmente, comunicar-se telepaticamente para que ele ficasse quieto, só desta vez. Mas, é claro, Sam ignorou completamente.
— Eu… eu não… Por quê? — piscou algumas vezes, hesitante.
— Ah, só curiosidade — Elton interveio, com um tom exageradamente despreocupado. Ele pegou uma garrafa de cerveja cheia e a estendeu para ela, como se estivesse apenas sendo cavalheiro. — Estávamos nos perguntando se você teria algo para fazer hoje à noite. Tipo um encontro ou algo assim.
Desde que Elton apareceu na porta de Bucky no segundo dia após a mudança para o novo edifício residencial, apresentando-se de maneira extrovertida e animada, Bucky nunca teve dúvidas de que aquele era o jeito natural dele. Ele deveria estar acostumado com as besteiras que ele falava. Mas não estava.
O gole de cerveja que ele havia acabado de tomar desceu pelo caminho errado e Bucky começou a tossir descontroladamente, sentindo o líquido queimar sua garganta.
virou a cabeça para ele, e, por um breve segundo, ele sentiu o olhar dela cravar em seu rosto. Foi rápido, mas aconteceu. E, tão rápido quanto veio, o olhar dela se afastou, como se Bucky fosse nada além de um detalhe insignificante na conversa. A mão dele ainda cobria a boca enquanto ele tentava recuperar o ar, tossindo de forma miserável.
— Por que sinto que devo fugir dessa conversa o mais rápido possível? — cruzou os braços com mais firmeza, com os olhos passando desconfiados por cada um do grupo. — Vocês estão tramando algo?
— Nada, só queremos saber se você está livre esta noite — Sam insistiu, sorrindo como quem realmente achava que poderia enganá-la.
— Só isso? — Ela ergueu uma sobrancelha.
— Só isso... — Elton confirmou. O silêncio pairou por um segundo. Um segundo longo demais. E então veio a isca. — Não está curioso, Bucky?
O corpo de James Barnes travou.
Ele sentiu todos os olhares se voltarem para ele ao mesmo tempo. , agora, o olhava diretamente, esperando uma reação. O ar ficou mais pesado, e, de repente, a cerveja na mão de James se tornou absurdamente interessante.
Sam e Elton trocaram um olhar rápido, como se tivessem ensaiado aquilo. Era o tipo de comunicação silenciosa que só dois idiotas conspirando conseguem ter.
Bucky suspirou pesadamente, esfregando a testa enquanto evitava o olhar dela. Seus amigos, por outro lado, estavam adorando aquilo. Sam até se inclinou um pouco para frente, claramente esperando a resposta dele, com um sorriso de quem estava prestes a assistir um desastre acontecer.
— Eles querem que eu chame você para sair. — As palavras saíram mais rápido do que ele pretendia, emboladas, como se ele quisesse se livrar delas antes que pudessem causar mais estrago.
— Como é que é? — O tom dela veio carregado de incredulidade. — Isso é ridículo. — Aquilo o atingiu como um soco no estômago. Ao lado dele, Sam e Elton ficaram tão surpresos quanto ele. O silêncio que se seguiu foi constrangedor, um daqueles momentos em que ninguém sabe exatamente como reagir. Ela desviou o olhar dele para os dois, com os olhos estreitados, analisando a situação como se tentasse entender se aquilo era algum tipo de pegadinha. — E você… está só cumprindo ordens? — A voz dela carregava um misto de ceticismo e irritação, com os braços cruzados, como se estivesse se protegendo daquela conversa absurda.
Antes que James pudesse responder, Sam entrou no meio, com sua habitual habilidade de contornar situações embaraçosas.
— Na verdade… íamos comprar uma mesa nova para ele, caso... você aceitasse.
— O que aconteceu com a sua mesa?
Dessa vez, a pergunta foi diretamente para Bucky e ele teve que olhar para o rosto dela. Ele sabia que estava tentando parecer séria, mas também sabia que, por dentro, ela devia estar se segurando para não rir.
— Eu… acabei caindo em cima dela e…
Então, ela soltou um pequeno riso nasalado, curto. Claramente, ela estava tentando prender o riso e quase não conseguia.
— Você quebrou a sua mesa… caindo nela? — Ela cruzou os braços, deixando bem claro que estava totalmente descrente com a desculpa esfarrapada de James.
— Tem meses que esse cara está jantando no chão, apoiando o prato nas pernas. — Elton assentiu, fingindo pesar. — Trágico, na verdade, .
Ela mordeu o lábio, provavelmente lutando contra a vontade de rir, e James, naquele momento, queria sumir da face da Terra.
E levá-la junto com ele.
balançou a cabeça devagar, como se estivesse ponderando se ainda valia a pena continuar naquela conversa absurda. Ela estreitou os olhos, e, por um breve instante, sua expressão se tornou ilegível. Mas James conhecia aquele olhar. estava medindo a situação.
Ela lançou um olhar demorado para ele antes de voltar a encarar Sam e Elton. Depois de alguns segundos de silêncio, finalmente falou: — Quero 10% do valor da mesa. E você paga o jantar.
— Dez por cento e eu pago o jantar? — Os olhos de James se estreitaram.
— É pegar ou largar. — Ela deu de ombros, com um ar desinteressado, como se a resposta fosse óbvia.
O instinto de James gritava para que ele recusasse. Ele podia muito bem dar meia-volta e sair dali sem dar nenhuma satisfação. Mas o olhar dela o segurou no lugar. Não era só um desafio. Era uma provocação silenciosa, um lembrete de que ela estava se colocando no controle da situação.
— Ok — murmurou ele, quase se arrependendo no mesmo instante.
— Ótimo. Hoje à noite, às oito. Você me pega.
E então, sem esperar resposta, se virou e saiu andando, deixando para trás apenas o rastro do perfume que James reconhecia.
Droga.
Passou a mão pelos cabelos, soltando um xingamento baixo para si mesmo. Como diabos aquilo tinha acontecido? Como, depois de meses evitando , ele tinha acabado exatamente onde mais temia estar?
Ele passou tanto tempo fugindo dela.
Fugindo dos seus olhares demorados, dos olhos que o estudavam com um interesse que ele fingia não perceber. Fugindo das suas pernas que apareciam sempre demais, dos vestidos que pareciam sempre curtos demais. Fugindo daquele jeito irritantemente sedutor, como se cada gesto, cada palavra, cada provocação fosse calculada para tirá-lo do eixo.
e seu sorriso deliciosamente provocante.
— Eu nunca vi um cara se ferrar tão rápido. — Elton mal conseguia falar entre as gargalhadas.
— Se ferrar? — Sam deu uma tapinha no ombro de James. — Ele acabou de marcar um encontro! Com uma mulher que, cinco minutos atrás, disse que achava isso "ridículo".
— Inacreditável. — Elton balançou a cabeça, fingindo estar impressionado. — Quem diria, Barnes.
— Vocês dois, calem a boca.
— Oh, vamos lá, Buck, não seja tão mal-humorado. — Sam riu e colocou um braço em volta dos ombros dele. — Você tem um encontro, cara!
“LYING TO YOURSELF IF YOU THINK WE'RE FINE. YOU'RE CONFUSED AND I'M UPSET. BUT WE NEVER TALK ABOUT IT…”
Às 20h em ponto, James deu uma leve batida no punho na porta do apartamento de . Ele inspirou profundamente, desconfortável com o nervosismo que o tomava. Passou a mão sobre o tecido da sua camisa cinza de botões, tentando se acalmar. O som de um leve movimento ecoou de dentro do apartamento, seguido pelo giro da maçaneta. Quando a porta se abriu, lá estava ela, , com um gesto casual.
— Oh. Você veio mesmo. — Por um instante, ela pareceu um pouco surpresa, como se não esperasse que ele realmente aparecesse.
— Eu disse que viria. — Sua voz saiu mais baixa do que ele esperava.
James ficou ali, parado por um instante a mais do que deveria, tentando processar o que via. Ela estava linda. O vestido florido em tons de azul-marinho caía de um jeito leve, dando-lhe um ar despreocupado, quase casual, mas com um charme inegável. As botas de cano curto eram um detalhe inesperado, assim como o cabelo, agora tomado por um tom avermelhado. Em vez de cair solto pelos ombros, ela o havia prendido em um coque baixo, um penteado que parecia tão delicado que lhe dava a estranha impressão de que, se ele o tocasse por mais de dois segundos, ele se desfaria entre seus dedos.
Descenderam em silêncio pelo corredor do elevador, com o som suave da porta se fechando e de suas respirações preenchendo o vazio. Quando saíram, começaram a caminhar em direção ao carro de James. Mas, de repente, ela parou.
— Espera… são Sam e Elton? — Ela estreitou os olhos, encarando um carro estacionado do outro lado da rua.
Do outro lado, dentro de um carro estacionado, James viu os dois idiotas tentando se esconder. Sam estava no banco do passageiro, inclinado contra o vidro, enquanto Elton estava no volante, ambos claramente espiando a interação do grupo.
— É… são eles, sim.
No mesmo instante, Sam inclinou-se e acenou exageradamente, como se quisesse se certificar de que eles percebessem sua presença. Elton, por sua vez, fez uma saudação falsa, com um sorriso divertido no rosto.
— Eles são sempre assim? — cruzou os braços e observou a cena como quem analisava um circo.
— Bom… — James suspirou e encarou os dois idiotas no carro. Sam, agora, fingia que estava penteando o cabelo. Elton mexia no rádio, como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo. — Não sou exatamente um cara com muitas opções para amizade, você sabe.
— Divirta-se! — Elton colocou a cabeça para fora da janela com um sorriso presunçoso.
James revirou os olhos e soltou um riso nasalado. Quando se virou para , sentiu uma pontada de constrangimento pelo comportamento de seus amigos.
— Desculpe por eles. Sam costuma ser mais tranquilo, mas quando Elton está por perto, eles se tornam um pouco... entusiasmados.
— Não se preocupe. Eu entendo. Eles têm boas intenções... eu acho.
— Vamos? — perguntou, tentando ignorá-los. Não pôde evitar dar mais uma olhada nela. — Você está... bonita.
— Só isso? — Ela ergueu uma sobrancelha e inclinou a cabeça levemente para o lado. — Melhore seus elogios, James. — O tom dela era brincalhão, mas os olhos desafiavam.
— Tudo bem, tudo bem. Você está... deslumbrante. Feliz?
— Encantada. Obrigada.
Em poucos minutos, depois de uma silenciosa viagem, eles chegaram ao restaurante, um lugar italiano aconchegante e sofisticado. A iluminação suave lançava um brilho quente sobre a sala, enquanto o cheiro de pão fresco e de massas caseiras flutuava no ar.
— Italiano? — perguntou, olhando para o estabelecimento com um sorriso meio preso e um olhar surpreso.
— Sim. É seu preferido, não é? — respondeu James, simplesmente.
— É... É sim.
O restaurante era um lugar italiano aconchegante e pouco sofisticado, mas era o único que ele sabia que gostava e, assim, não precisaria fazer reserva. Ele a levou até uma mesa isolada nos fundos, onde poderiam conversar sem interrupções. Puxou a cadeira para ela antes de se sentar de frente para ela.
— Você veio preparado, hein? — Ela ergueu uma sobrancelha, brincando.
— Bem, queria impressioná-la de alguma forma. — Ele a observou enquanto ela apreciava o ambiente ao redor.
Por um momento, ela ficou em silêncio, apenas o observando.
— É. Conseguiu.
James podia ver os olhos dela passeando por seu rosto, analisando cada detalhe. Segurou o olhar dela por um instante, sentindo uma estranha satisfação ao perceber que ela parecia tão intrigada por ele quanto ele estava por ela. Ele limpou a garganta, quebrando o silêncio.
— Quer pedir? — Rapidamente, ele recuperou a compostura e fez o pedido para os dois. Quando o garçom se afastou, ela cruzou os braços e o observou, claramente com algo na cabeça.
— Então, Sam e Elton... Eles sabem?
Bucky sabia exatamente sobre o que ela estava perguntando, mesmo assim, tentou ganhar tempo.
— Sabem sobre o quê? — Sua voz saiu mais neutra do que ele esperava, mas, por dentro, já sentia um incômodo se instalando.
Ela não respondeu de imediato. Apenas ergueu os olhos do copo e o encarou. O olhar dela era intenso, quase impaciente. James sabia que não acreditava nem por um segundo que ele realmente não soubesse do que se tratava. Ela cruzou os braços e inclinou a cabeça de leve, como se esperasse que ele confessasse algo.
— Ah… não. Eles não sabem. — A voz de James saiu mais baixa do que ele pretendia.
piscou devagar, absorvendo a resposta dele. Ele quase podia ver a roda girando na cabeça dela, analisando cada palavra, cada hesitação.
— Então… — ela inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa —, você está me dizendo que seus amigos acham que nós simplesmente não nos damos bem?
Havia uma pitada de provocação na voz dela, mas James também percebeu outra coisa: curiosidade. Talvez até mágoa.
— Mais ou menos. — Suspirou, passando a mão pelos cabelos. Evitou o olhar dela por um instante, sentindo uma onda de irritação subir pela espinha. Não com ela. Consigo mesmo. — Eu disse a eles que era porque… porque eu achava você irritante.
O sorriso dela sumiu na mesma hora. Ela piscou algumas vezes, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito. Então, sem qualquer aviso, pegou um guardanapo e o lançou na direção de James. Ele o pegou no ar, sem muito esforço.
— Eu sou irritante?!
— Só era mais fácil dizer que você era irritante — tentou explicar.
— Uau. — Ela riu, balançando a cabeça. — Então você me transformou na vilã da história para facilitar sua vida?
— Evita perguntas, . — Suspirou, tentando explicar como sua mente estava funcionando em relação àquela situação. Mas, honestamente, quanto mais ele falava, mais irritado ficava consigo mesmo.
Ela o olhou por um longo momento, como se tentasse decidir se valia a pena continuar aquela conversa. Por fim, soltou um suspiro curto e desviou o olhar.
— Vamos apenas… jantar, ok? — A voz dela tinha um tom suave, quase resignado, como se o peso da conversa já tivesse sido demais. Ele apenas acenou com a cabeça, sem saber o que mais dizer.
O silêncio entre eles parecia se esticar, como se o peso das palavras não ditas estivesse constantemente à beira de ser quebrado, mas, ao mesmo tempo, ambos se continham.
James sentiu-se irritado, mas também frustrado, com uma leve sensação de culpa que não conseguia identificar com clareza. Por que ele se sentia culpado? Ele se perguntava, tentando entender, mas a resposta não vinha. Não deveria sentir culpa. O passado já estava atrás deles, ou deveria estar.
Ele a observava, tentando ler suas expressões, buscando um vestígio de algum sentimento, qualquer coisa que indicasse o que ela estava pensando.
Será que ela ainda se importava? Será que ela sentia alguma coisa por ele? Ou será que toda aquela tensão era apenas imaginação, uma projeção da própria culpa e arrependimento dele? Ele já a conhecia bem o suficiente para perceber quando ela estava incomodada, mas havia algo em seu comportamento que o confundia. Não era só a mágoa da antiga animosidade.
A verdade é que, diferente do que Sam e Elton pensavam, aquele não era o primeiro encontro de Bucky com . Pelo contrário, ele sequer sabia o número de vezes que já haviam feito uma refeição juntos.
A refeição terminou mais rápido do que ele imaginava. Quando a conta foi paga, James levantou-se, instintivamente oferecendo a mão a ela. Não sabia bem o que esperava com aquele gesto, mas foi automático, algo que fizera muitas vezes no passado. Ele puxou a mão de volta, mas não quis que pensasse que ele havia se arrependido. Bom, ele se arrependia, mas não o suficiente para não estender a mão novamente e esperar pelo tão familiar entrelaçar de dedos.
Ela hesitou por um momento, os olhos fixos na mão estendida por Bucky. Por fim, pegou a mão dele e a sensação de seus dedos se entrelaçarem foi familiar, mas de uma forma nova. Não era a mesma conexão de antes, não com a mesma confiança, mas ainda assim, havia algo ali, algo que fez James sentir um calor estranho se espalhar por dentro.
Ele percebia que ela estava refletindo sobre algo, mas não conseguia identificar o que exatamente. E, na verdade, nem tinha certeza se queria saber. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam: distantes, sem resolução.
Saíram do restaurante em silêncio. ainda segurava a mão dele, mas ele sentia que ela estava em algum lugar distante, pensando em algo que ele não podia alcançar.
— Então... E agora? — perguntou, desviando o olhar. Falou a primeira coisa que passou em sua mente. — Quer dar uma volta? — James a observou, esperando uma resposta, mas ela não hesitou.
— Eu... Não. Acho que não.
Ele ficou surpreso com a resposta dela. Não era o que esperava, e, por mais que tentasse disfarçar, não conseguiu esconder a decepção que se espalhou por ele.
— Certo. Bem, vou levá-la para casa. Ok? — Ele tentou soar tranquilo, mas a frustração estava lá, à espreita.
James sentia o peso das observações silenciosas dela, como se o silêncio estivesse carregado de algo não dito. Não era só o olhar dela, era a maneira como ela se postava, como o ritmo da respiração dela parecia hesitante, como se estivesse tentando perceber se ainda havia algo entre eles, algo além do que haviam sido e do que eram agora.
Ele a observava de vez em quando, tentando entender o que passava por trás daquele olhar, mas ela parecia imersa em seus próprios pensamentos, distante de tudo ao seu redor.
O tempo parecia ter desacelerado, e depois de alguns minutos que se estenderam como se fossem horas, James não aguentou mais a tensão e murmurou de forma ríspida: "Chegamos". Subiram no elevador em silêncio, os passos de ambos ecoando suavemente enquanto se aproximavam da porta dela. Quando chegaram à porta, ele a abriu sem pensar, em um gesto automático.
Agora, estavam cara a cara mais uma vez. James a observou por mais um momento, seu olhar buscando entender o que estava acontecendo entre eles. A proximidade era quase íntima e ele não pôde evitar notar como ela parecia bonita sob o brilho suave das luzes do corredor.
— Então, está ficando tarde e eu...
Antes que ela pudesse terminar a frase, a porta se abriu com um estrondo e Eugene saiu disparado, assustando os dois. O beagle atravessou o corredor em disparada, as patas escorregando no chão liso, a língua pendurada para fora, movido por uma excitação incontrolável.
— Eugene, amigão! — Bucky se abaixou rapidamente, estendendo as mãos. Tentou manter a compostura, mas não conseguiu evitar o sorriso largo que se formava no rosto. Ajoelhou-se, deixando que o cachorro se aproximasse, pulando desajeitadamente em volta dele, como se não o visse há anos. — Eu sei, eu sei. Calma, cara...
Ele massageou entre as sobrancelhas do cãozinho enquanto Eugene arfava alto, deixando escapar pequenos espirros de alegria, como se ambos estivessem revisitando um ritual antigo que os dois conheciam de cor.
permaneceu parada alguns passos atrás, observando. Algo dentro dela apertou. Era para ser uma conversa breve, clara. Um encerramento, talvez. Mas ali estava ele, rindo baixinho, sendo gentil com um cachorro que nem era seu. E aquilo a desarmava de um jeito que ela odiava admitir. Ela cruzou os braços, desviando o olhar por um momento, como se pudesse se proteger de si mesma. Negou com a cabeça, frustrada.
Estúpida, sussurrou para si em pensamento.
— Eugene, entra. — Tentou soar casual, mas a voz saiu mais baixa do que pretendia.
Bucky ergueu os olhos para ela ainda agachado, os dedos ainda coçando a orelha de Eugene, que se encostava nele como se fosse parte de casa. Por um instante, ele não respondeu. Só a olhou, mas suspirou e obedeceu, empurrando o cachorro suavemente porta adentro.
Em um impulso, enquanto Bucky acariciava Eugene e tentava convencê-lo a ficar do lado de dentro antes de fechar a porta, falou algo que o pegou completamente desprevenido.
— Estou apaixonada por você. — James ficou congelado por um momento, surpreso com a confissão repentina. Ele esperava qualquer coisa, menos aquilo. Ela o olhou por um momento, com a sinceridade visível em seus olhos, antes de continuar. — Mas não posso fingir que você não me fez de idiota.
— ... — Ele tentou falar, mas foi interrompido pelo tom decidido da mulher.
— Eu não sei o que aconteceu. Nós estávamos bem, Bucky, você sabe que sim. Mas você... você sumiu. Você é meu vizinho e, ainda assim, desapareceu. Eu liguei, eu batia na sua porta e, sim, eu sabia que você estava lá, só não queria me atender!
As palavras dela o atingiram com força e ele não conseguiu evitar sentir uma mistura de culpa e dor atravessando o peito. Ela estava certa. James desviou o olhar, incapaz de encará-la, envergonhado.
— Eu não estava preparado para isso... algo assim. — Ele respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas, mas parecia que todas as tentativas de explicar o que se passava dentro dele soavam vazias. E talvez fosse. — Você, . Eu não estava preparado para algo como você. Não sei se um dia estarei — confessou, em um murmúrio.
As palavras saíram sem que ele pudesse impedir, uma confissão que ele não sabia que precisava fazer, mas que de alguma forma parecia necessária. Ele se afastou um pouco, o olhar direcionado ao chão, enquanto sentia o peso da própria vulnerabilidade.
Ele não queria ser esse cara. Não queria ser aquele babaca que desaparece ou se afasta sem dar explicações. Mas, no fim das contas, havia feito exatamente isso.
— De qualquer forma, eu não aceitei esse encontro hoje para falar sobre isso, eu juro — ela disse, com a voz carregando um toque de exaustão. — Eu só queria um jantar... te ver de novo. Mas acho que já está tarde, eu deveria... — Ela indicou a própria casa com um leve movimento da cabeça, como se estivesse se despedindo.
— Espera.
A voz de James saiu mais baixa do que ele pretendia, quase um sussurro, mas ela ouviu. Ele engoliu em seco, tentando organizar seus pensamentos. O peito dele apertou com a frustração de não conseguir expressar o que queria.
— Espere por mim. Só mais um pouco. — Ela não respondeu de imediato. Apenas o olhou, absorvendo aquelas palavras. E ele soube, mesmo sem uma resposta clara, que ela entendeu. — Eu... eu acho que só preciso de mais um tempo. — Suspirou profundamente, buscando um pouco de coragem.
Ele viu a luta interna no olhar dela, o medo de se agarrar a uma promessa vazia. Mas também viu outra coisa: ela queria acreditar nele. A voz dele saiu carregada de uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. Ele não gostava de implorar, mas por ela...
— Eu não vou esperar para sempre, Barnes.
— Eu sei.
James levantou a mão com calma, quase como se quisesse garantir que o gesto fosse natural, e envolveu o pulso dela com delicadeza. Guiou a mão dela até sua própria bochecha, sentindo o calor da palma dela se espalhar na pele dele, um contraste suave contra a aspereza da barba por fazer. O toque dela não vacilou nem por um segundo, e, para sua surpresa, ela deslizou os dedos pela lateral de seu rosto, traçando um caminho suave até a linha do maxilar.
Pela primeira vez em muito tempo, ele não queria fugir. Queria ficar ali, com ela, naquele instante que parecia suspenso no tempo. Mas, ao mesmo tempo, havia algo dentro dele que o fazia hesitar, uma sensação de que talvez não tivesse mais controle sobre a situação.
Sentia que tinha perdido o momento, que a conexão que havia entre eles estava prestes a se desintegrar por algo que ele não soubera entender ou aproveitar. E, de alguma forma, a dúvida crescia: talvez ele tivesse se tornado um idiota aos olhos dela, talvez tivesse deixado escapar uma oportunidade única.
— Bucky? — Ela se afastou levemente, o olhando nos olhos.
— Hm?
Ela parecia pensativa por um momento, como se estivesse juntando as palavras antes de falar.
— Diga ao Sam e ao Elton que eu não sou irritante.
— Claro — ele respondeu, um sorriso involuntário surgindo em seus lábios.
As palavras seguintes dela o pegaram de surpresa, e ele não conseguiu segurar a risada que escapou.
— E, pelo amor de Deus, compre uma mesa de jantar nova!
“IF THAT WAS CASUAL, THEN I'M AN IDIOT”.
ALGUNS MESES ANTES...
Quando Bucky finalmente se mudou — deixando para trás o lugar precário onde vivia — percebeu o quão insalubre sua rotina tinha se tornado. Se não fosse por Sam, que insistia em encontrar uma nova moradia cada vez que o visitava, ele provavelmente ainda estaria naquele lugar.
O novo prédio, embora simples, era muito mais acolhedor. Apenas três andares, fachada neutra e vizinhança tranquila. E, como bônus inesperado, havia uma pequena lanchonete bem ao lado do edifício.
Bucky estava sentado, segurando uma garrafa de cerveja já pela metade, o olhar perdido em um ponto qualquer do balcão. Carregava no rosto a expressão fechada de sempre. Levou a garrafa aos lábios e tomou mais um gole, provavelmente o quinto da noite, antes de soltá-la com um suspiro silencioso. O gosto amargo da cerveja não trazia consolo, tampouco conseguia sentir o torpor do álcool. É, ele sentia falta disso.
Estava prestes a tomar outro gole quando sentiu uma presença ao seu lado. Sem se mover de imediato, desviou os olhos para a figura que acabara de se sentar. Só então virou levemente o corpo, erguendo uma sobrancelha com lentidão. Seu olhar sério e contido percorreu a mulher de cima a baixo, atento à sua linguagem corporal, tentando entender quem ela era — e, mais importante, por que havia escolhido sentar-se justamente ao lado dele.
Bucky tomou mais um gole da cerveja, sem dizer uma palavra. Seus olhos, no entanto, permaneciam fixos nela. Observou enquanto a mulher puxava um pedaço de papel rasgado, que servia como o improvisado cardápio da lanchonete. Continuou observando-a sem disfarçar, atento à sua postura, ao modo como se sentava, ao jeito como mantinha os ombros relaxados, como se não estivesse tentando se esconder de nada.
Ela não parecia representar ameaça alguma. Não havia tensão nos músculos dela, nem inquietação nas mãos. Apenas uma presença inesperada, tranquila e silenciosa, que, por algum motivo, ele não conseguia ignorar.
— Posso ajudá-lo com alguma coisa? — A pergunta o pegou desprevenido. Bucky piscou, como se precisasse de um segundo para entender se ela havia realmente falado com ele. Sem insistir, ela desviou o olhar e pediu uma bebida ao barman, como se aquela interação tivesse sido apenas uma formalidade. Mas quando a resposta não veio, ela girou levemente o corpo na direção dele e repetiu, com a mesma calma de antes: — Posso ajudar com alguma coisa?
Dessa vez, o olhar dela o encontrou, direto e firme, mas não invasivo. Não havia ironia em sua expressão, nem impaciência. Era uma pergunta sincera. E, por alguma razão que ele não compreendia completamente, isso o desarmou um pouco.
Bucky a observou por mais um segundo, avaliando-a como se tentasse decifrar alguma coisa escondida em sua postura tranquila. Finalmente, ele decidiu romper o silêncio, o tom casual, mas ainda carregado de sua habitual seriedade.
— Eu conheço você? — A pergunta saiu quase sem querer, mas com uma curiosidade contida. Sem esperar muito mais, ele quebrou o silêncio novamente, dessa vez com uma dúvida mais precisa, ainda com aquele toque de seriedade, mas agora sem o tom áspero de antes. — Você é vizinha do Elton?
— Cara loiro, adora sorrir e comer biscoitos? — Ela sorriu de lado, a pergunta saindo quase como uma brincadeira. — Sim, eu sou. Você o conhece?
Bucky levantou uma sobrancelha, surpreso com a resposta indiferente. Não esperava que ela fosse tão direta. Mas, ao que parecia, ela realmente não parecia se importar com a intensidade da pergunta.
— Sim. Eu conheço.
— E como você sabe que eu sou vizinha dele? — Ela inclinou a cabeça, aparentemente intrigada.
— Eu só sei.
— Um cara que eu não conheço me diz que ele apenas, casualmente, sabe onde eu moro. Ótimo — ela comentou, o tom sarcástico, mas com uma leveza que contrastava com o clima tenso que ele costumava gerar.
— Isso é um problema? — As sobrancelhas de Bucky franziram quando ela respondeu sarcasticamente.
— Não, toda mulher gosta de saber que um homem desconhecido sabe seu endereço, até mesmo seus vizinhos — ela disse, com sarcasmo, enquanto nitidamente procurava outra cadeira para se sentar.
A expressão de Bucky suavizou por um instante. Ele não conseguiu evitar um pequeno sorriso, o humor dela realmente o pegando de surpresa.
— Senta aí. Eu não sou um pervertido. — Ela o encarou com um olhar cético, mas, ainda assim, escolheu se sentar novamente. — Me mudei para o prédio essa semana e conheci o Elton. Te vi no elevador ontem de manhã. Só isso — explicou, com tranquilidade.
— Ah, então você é o novo vizinho? — A voz dela soou mais suave, embora ainda carregasse um toque de curiosidade.
— Me mudei há alguns dias.
— E como está indo a mudança?
Bucky hesitou por um momento antes de responder, como se precisasse organizar os pensamentos. Não estava acostumado a falar de si mesmo, muito menos com estranhos.
— Está tudo bem. O lugar é legal — respondeu, por fim, num tom mais neutro. — Você mora com alguém lá?
A pergunta escapou antes que ele pudesse pensar melhor. Conversa fiada não era o seu forte e ele nem tinha certeza se aquilo era apropriado. Mas, de alguma forma, as palavras já estavam no ar, pendendo entre eles. Ele sentiu um leve desconforto, como se tivesse ultrapassado um limite, mas agora não havia como voltar atrás.
— Eu tenho um cachorro.
Ele sorriu, um daqueles sorrisos involuntários que escapam quando se é pego de surpresa. Esperava uma resposta sarcástica, talvez até defensiva, mas ela respondeu com naturalidade, quase com leveza.
— Um cachorro? Que raça? — Havia um leve embaraço no tom, mas, no fundo, a curiosidade era genuína.
— Um beagle.
Sem pensar duas vezes, ela puxou o celular do bolso e, com uma agilidade quase instintiva, abriu a galeria. Começou a rolar pelas fotos rapidamente. Bucky se inclinou um pouco sobre o balcão, surpreso com o gesto, mas totalmente interessado nas imagens. Seus olhos seguiram o movimento na tela e um leve sorriso se formou em seu rosto quando viu o cachorro.
— Um beagle… — murmurou, como se estivesse processando uma informação inesperadamente interessante. — Fofo — comentou, tentando parecer indiferente, mas o brilho em seus olhos traía o quanto realmente achava aquilo adorável. — Qual é o nome dele?
— Eugene Fitzherbert.
Bucky virou o rosto para encará-la, uma sobrancelha arqueada de forma quase cômica, surpreso e, pela primeira vez naquela noite, visivelmente divertido com a resposta. Ele não esperava por aquilo. Soltou uma risada baixa, quase inaudível, mas que suavizou os traços tensos de seu rosto.
— Espera... sério? — A pergunta saiu com uma mistura de espanto e diversão. O nome parecia absurdo demais para um cachorro, o que apenas tornava tudo ainda mais engraçado.
— É do filme Enrolados — ela respondeu, observando seu rosto como se avaliasse se ele reconheceria. — Flynn Rider? Rapunzel? Disney? A princesa...
A verdade era que animações nunca fizeram parte de sua vida, muito menos as da Disney, mas ela parecia tão entusiasmada ao explicar que ele não quis cortar o assunto. Tomou mais um gole da cerveja, virou-se para encará-la de frente e deixou os olhos repousarem nela por mais tempo do que o necessário.
— Você é fã da Disney, então?
— Não muito. Eu gosto de princesas. Mas meu cachorro é menino e eu não acho que ele gostaria de ser chamado de Rapunzel — respondeu, com um encolher de ombros casual, como se fosse óbvio.
Bucky soltou outra risada, mais sincera dessa vez. O som era quase estranho vindo dele, mas não de um jeito ruim.
— Eugene é definitivamente um nome melhor do que Rapunzel para um beagle — comentou, ainda rindo suavemente. Depois, inclinou levemente a cabeça, os olhos ainda nela. Ele assentiu, levando a garrafa de volta aos lábios. O barman apareceu logo em seguida com outra cerveja, entregando-a sem que Bucky precisasse pedir.
— Por que você está ganhando cerveja grátis?
— O barman me conhece — ele explicou, percebendo a expressão dela, curiosa e firme, esperando uma resposta sem pressa de se desfazer enquanto ele não falasse. — Exército. Bartenders costumam oferecer bebidas grátis para veteranos.
Ela assentiu, os olhos fixos no rosto dele, como se tentasse puxar uma lembrança esquecida. Bucky percebeu o olhar atento e soube exatamente o que aquilo significava.
Tentou agir com indiferença, tomando outro gole da cerveja. Ela estava tentando descobrir quem ele era, e, honestamente, não era tão difícil.
— O que foi?
— Você é James Barnes, não é? Meu sobrinho gosta de super-heróis — explicou.
Por um instante, ele congelou, e os olhos se arregalaram levemente. Não era o tipo de reconhecimento que ele buscava. Na verdade, evitava a qualquer custo. Mas o modo como ela dissera que não soava invasivo. Era só uma constatação, sem idolatria, sem medo.
— Seu sobrinho me conhece?
— Ele era completamente obcecado pelo Capitão América. E por todos os “amigos” dele, como costumava dizer. — sorriu, divertindo-se com a lembrança que parecia fresca em sua mente. — Demorei alguns minutos para ligar os pontos. Acho que foi o corte de cabelo... Você cortou, não foi?
Bucky soltou uma risadinha baixa, descontraída, diante da observação dela. Algo na maneira leve e sem julgamento como ela falou de seu passado, como se ele fosse apenas mais uma pessoa normal em sua vida, fez com que ele se sentisse à vontade de uma forma que não estava acostumado.
Involuntariamente, sua mão subiu até o cabelo, os dedos passando pelos fios mais curtos, agora bem diferentes do estilo antigo. Ele fez isso de forma quase automática, como se o toque lhe trouxesse um pouco de conforto.
— Eu sou , aliás — ela disse, com um sorriso pequeno e um leve aceno de cabeça.
— Eu sou... bom, você sabe... — respondeu ele, a voz saindo suave, meio hesitante, enquanto tomava mais um gole da cerveja. — Bucky. — Ele tentou disfarçar o rubor discreto que começou a subir em seu rosto, mas a leveza da situação estava fazendo com que ele ficasse mais confortável do que o normal.
O silêncio caiu sobre os dois, mas não era um silêncio desconfortável. Bucky se pegou observando de canto de olho enquanto ela se concentrava no copo em suas mãos, um toque de distração que parecia intencional, mas ao mesmo tempo natural.
— Bem... — ela murmurou, quebrando o silêncio, seus olhos focados no fundo do copo. — Acho que está na minha hora.
— Toque de recolher?
— Algo assim. O nome certo é trabalho proletário. Coisa de gente mundana. Você, super-herói, provavelmente não entenderia — ela provocou, com uma expressão travessa nos olhos, como se estivesse se divertindo com a ideia de brincar com ele.
Bucky soltou uma risada baixa, divertida, por algum motivo achando graça na forma como ela zombava de sua identidade.
— Pessoas mundanas? Acho que salvar o mundo também se encaixa como “trabalho proletário” — ele brincou de volta, um sorriso aparecendo nos lábios.
— Vejo você por aí, vizinho. — A voz dela foi suave, mas cheia de uma leveza que ele não sabia de onde vinha.
Bucky assentiu, um sorriso suave e quase involuntário curvando seus lábios.
— Vejo você por aí, vizinha. — A resposta foi dita com um tom suave.
Seus olhos permaneceram nela, mesmo enquanto ela se afastava, os movimentos dela graciosos e rápidos, como uma presença fugaz que, no entanto, ele não queria deixar ir. Ela se afastou, e Bucky ficou ali, sentado por mais alguns momentos. Ele observou a figura dela se perder entre as pessoas.
Ele poderia ter dito mais, poderia ter feito mais perguntas, esticado a conversa até o ponto em que ela ficasse mais tempo ali, mas no fundo sabia que, talvez, aquele momento fosse o suficiente.
⁂
Depois de algumas semanas, Bucky estava na entrada do prédio, folheando distraidamente a correspondência. Estava tão absorvido nas contas e panfletos que quase não percebeu as vozes vindo da escada lateral. Ele franziu o cenho, curioso, e ao se virar, se deparou com um cachorro parado no meio do hall.
— De onde você veio, amigo? — Bucky disse, em voz baixa, enquanto enfiava a correspondência de qualquer jeito no bolso e se agachava devagar.
O cachorro, com um choramingo alegre, sentou-se e balançou o rabo, a língua pendurada para fora como se estivesse prestes a sorrir. Não usava coleira, e isso fez Bucky se preocupar por um segundo. Ele estendeu a mão, coçando atrás das orelhas do animal.
— Espera um minuto... — Bucky murmurou, tocando as orelhas com mais atenção. Um sorriso surgiu em seus lábios ao notar que era um beagle. — Você é o Eugene? — Ele riu baixinho, coçando o topo da cabeça do cachorro.
O cachorro respondeu com um gemido satisfeito e se deitou, rolando de lado, pedindo carinho com um ar de total descaramento. Bucky não resistiu e riu mais uma vez, abaixando-se para continuar o afago. Passos apressados ecoaram pelas escadas próximas. Ele se virou, reconhecendo o som do tênis batendo forte contra o concreto.
Em segundos, apareceu, ofegante. O cachorro se levantou num pulo, correndo até ela com o rabo abanando furiosamente. Bucky se levantou devagar, os olhos fixos nela. Um calor conhecido cresceu em seu peito, junto com uma pontada inesperada de alegria.
— Ele tem ótimas habilidades de fuga — Bucky comentou, com um sorriso de canto.
— Pode apostar. Tenho ele há só um mês e já é a terceira vez que ele escapa — respondeu, bufando, enquanto tentava ajustar a coleira e prendia a guia com firmeza.
— Calma aí, Eugene — disse Bucky, a voz tingida de diversão.
— Você se lembrou do nome dele. — ergueu o rosto, sorrindo ao perceber. — Oi, Bucky.
— Oi, . Difícil esquecer um nome como Eugene. Além disso... — Apontou com o queixo. — Ele tem aquelas orelhas clássicas de beagle. Impossível não reconhecer.
soltou uma risadinha quando Eugene tentou dar mais um puxão, e ela bufou, frustrada com a energia do cachorro. Bucky a observava com um sorriso discreto. Havia algo genuinamente encantador na forma como ela franzia o nariz com leve irritação, na maneira como Eugene se contorcia como um peixinho fora d’água, determinado a fugir de qualquer tentativa de controle.
— Parece que Eugene não é fã de acessórios de moda — disse, divertido, enquanto via o cão torcer o corpo para os lados, dificultando ainda mais a tarefa de . Então, num gesto natural, ele descruzou os braços e se abaixou ao lado dela. — Aqui, me dá ele.
hesitou por um segundo, depois cedeu, entregando Eugene a ele. As mãos dos dois se roçaram brevemente quando ela passou a guia. Bucky segurou o cão com firmeza, mas sem agressividade, seus movimentos seguros, acostumados.
Eugene ainda tentou lutar, mas Bucky já tinha encaixado a coleira em seu pescoço antes mesmo que ele percebesse o que estava acontecendo. Ele estendeu Eugene de volta para , mais uma vez seus dedos tocando os dela por um breve instante. Seus olhos se encontraram.
— Obrigada. Ele gosta de você. Isso é fofo. — sorriu, levantando-se. — Mas não se empolga demais. Ele gosta de qualquer um — provocou, travessa.
— Típico Beagle. Amigável com todos, leal a ninguém. — Bucky soltou uma risada verdadeira, balançando a cabeça.
gargalhou, enquanto caminhava em direção à porta de saída, a risada leve ainda flutuando no ar. Bucky a seguiu, uma sobrancelha arqueada, sua confiança habitual suavizada pela curiosidade que ela despertava nele. Institivamente, ele a acompanhou pela calçada, onde o sol começava a se firmar no céu, aquecendo suavemente a manhã.
Eles caminharam lado a lado pela calçada tranquila do bairro, e Eugene, o beagle, trotava à frente, farejando o mundo com a curiosidade de quem acreditava que cada centímetro do chão escondia um segredo por descobrir. A cena tinha um ritmo calmo, como se o tempo tivesse diminuído sua velocidade para acomodar aquele momento simples, mas carregado de algo que Bucky não sabia nomear.
Alguns minutos depois, chegaram a um pequeno parque, um refúgio de árvores antigas e um lago discreto, cercado por bancos de madeira desgastada e trilhas estreitas que serpenteavam por entre a vegetação. se adiantou com Eugene até um espaço sombreado sob um velho carvalho, e começou a recolher alguns gravetos espalhados no chão.
Bucky permaneceu um pouco mais atrás, encostado ao tronco da árvore, com os braços cruzados sobre o peito. Seu olhar estava tranquilo, mas atento, observando a cena à sua frente. Havia algo de hipnótico na simplicidade daquilo: ela, o cachorro, o som suave das folhas movendo-se com a brisa, o sol filtrado pelos galhos altos, criando sombras que dançavam no chão.
O mundo parecia em paz ali, e, por mais que fosse uma paz silenciosa, Bucky não conseguia desviar os olhos, como se fosse algo raro e precioso demais para deixar escapar.
E ele não conseguia parar de observá-la. Os movimentos dela eram suaves, naturais. A calça justa. O cabelo preso de forma meio displicente balançava quando ela ria das palhaçadas de Eugene. Havia algo cativante na despreocupação dela, como se o mundo ao redor estivesse em paz só por vê-la sorrir.
— Ele tem bastante energia, não é? — comentou, quando voltou para o seu lado, com Eugene correndo atrás do graveto mais uma vez.
Ele deu uma risada baixa, se aproximando devagar dos dois, quase com receio de interromper aquele pequeno universo tranquilo que parecia criar só com sua presença. A imagem dela ali, com o cachorro e o sol filtrado pelas árvores, era algo que ele não queria perturbar.
— Sim, às vezes até demais — respondeu ela, respirando fundo enquanto Eugene voltava com o graveto, ainda ofegante, a língua de fora e a cauda abanando em um ritmo animado. Bucky se abaixou quando Eugene largou o graveto aos seus pés, ofegante e satisfeito.
— Sério, Eugene? Um cara bonito é legal com você e você me substitui assim? — provocou, e a risada que escapou de Bucky foi involuntária, uma pequena explosão de diversão que não conseguiu controlar.
Ele tentou disfarçar, ciente de que não poderia deixar ela perceber o impacto das palavras dela nele. Bucky se recompôs o mais rápido possível, tentando manter o tom leve.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que você ainda é a número um no coração dele.
— Traidor.
— Acho que ele está apenas apreciando a companhia masculina. Não posso culpá-lo por isso. — Bucky brincou com Eugene, dando-lhe um carinho atrás das orelhas antes de se levantar, olhando para com um sorriso ainda mais largo. — Mas você tem que admitir, é meio difícil ficar bravo com um cachorrinho fazendo coisas de cachorrinho, certo? — Inclinou-se um pouco em direção a ela, como se estivesse compartilhando um segredo.
— Homens... tsc, tsc. Sempre se defendendo. — estreitou os olhos, um sorriso brincando em seus lábios.
Ele se agachou novamente, acariciando Eugene com carinho enquanto o cachorro se sentava satisfeito ao seu lado.
— Você é fofo demais para o seu próprio bem, hein? — murmurou para o cachorro, antes de levantar os olhos para .
Ela sorriu de volta para ele, mas algo em sua expressão mudou de repente. soltou uma exclamação, e Bucky imediatamente levantou a cabeça, sentindo a preocupação invadir seus pensamentos.
— O que foi? — perguntou, a testa franzida enquanto seus olhos disparavam pela área, tentando detectar qualquer ameaça.
— Caras gostosos com um cachorrinho fofo. — suspirou, balançando a cabeça, e se afastou. — Droga.
Bucky ficou parado por um momento, um calor subindo pela sua garganta. Ele a observou se afastar, um sorriso tímido aparecendo nas bochechas dele, um pouco surpreso com o flerte sutil que ela havia feito. Era como se ela o tivesse pego desprevenido, e a leve vergonha que sentiu o fez se sentir mais humano do que gostaria de admitir.
Ele a observava com os olhos fixos nela enquanto ela se afastava, e então seu olhar caiu de volta em Eugene, que estava ali, tão tranquilo quanto possível. Seu coração estava acelerado e ele não conseguia parar de repetir as palavras dela em sua mente, como se ainda estivessem ecoando. Ele balançou a cabeça levemente, tentando se concentrar, mas era difícil não se deixar levar pelo momento. Então, deu um tapinha na cabeça de Eugene e limpou a garganta, como se se preparasse para algo que ainda não sabia como dizer.
— Ela é uma coisa, hein? — falou, olhando para o cachorro, quase como se buscasse alguma confirmação do beagle.
De repente, Eugene levantou as orelhas, avistou e disparou em sua direção, latindo de brincadeira enquanto corria. riu e se agachou para acariciá-lo, seu riso preenchendo o ar de forma tão natural que fez Bucky sorrir suavemente. Bucky observou a cena com um sorriso tranquilo, um sentimento caloroso começando a se espalhar por seu peito enquanto assistia à interação entre e Eugene.
Ele balançou a cabeça, rindo baixinho para si mesmo.
— Olha só isso... — murmurou, ainda sorrindo, absorvendo a cena diante dele, como se ela estivesse se gravando em sua memória.
Bucky observou com um sorriso divertido, ela se aproximou de Eugene, que olhava para ela com a mesma expressão alegre e despreocupada, e começou a falar com o cachorro de uma forma que era ao mesmo tempo carinhosa e divertida.
— Sabe, acho que Eugene pode estar tentando me arranjar alguém — disse, com um sorriso travesso, enquanto afagava o cachorro. — Mas também estou começando a sentir algumas vibrações gays nele. — Ela se abaixou mais, falando com Eugene de uma forma suave, como se fosse um segredo entre os dois. — Você gosta de meninos, Eugene? Mamãe vai te amar de qualquer jeito, sabia?
A risada leve de preencheu o ar, e Bucky não conseguiu evitar um sorriso, embora não soubesse se ela estava sendo séria ou apenas brincando.
— Então, você acha que Eugene tem algum tipo de plano para mim, hein? — Bucky brincou, a voz suavemente carregada de curiosidade.
— Vai por mim, ele sabe o que está fazendo. — lançou um olhar divertido para ele antes de dar um último afago em Eugene.
Por uma fração de segundo, seus olhos se encontraram, e, de repente, a atmosfera ao redor deles pareceu mudar. O clima ficou mais carregado, como se algo mais estivesse no ar. A risada de ainda era clara e calorosa, mas havia algo diferente na forma como ela o olhava, quase como se estivesse brincando com os limites daquela interação descontraída.
Bucky deu um sorriso travesso, a provocação agora clara em sua mente, como se estivesse, de algum modo, flertando com ela.
— Oh, então vocês dois têm um gosto por meninos bonitos, é isso? — Ele riu, seu tom leve, mas uma pequena sensação de desconforto crescia em seu peito.
Havia algo na maneira como ela estava falando, o tom e a forma como olhava para ele, que fazia sua postura mudar sutilmente. Ele se lembrou de como, anos atrás, esse tipo de conversa acontecia naturalmente.
Bucky ficou parado, com um sorriso mais largo nos lábios, enquanto refletia sobre o que acabara de dizer. Uma parte dele se sentia confortável, como se estivesse em terreno conhecido, mas ao mesmo tempo, uma sensação de distanciamento o fazia perceber que talvez houvesse mais a ser entendido.
Ele percebeu que o flerte e a brincadeira estavam retornando com uma facilidade que ele não sentia há muito tempo. Quando se aproximou mais, a sensação de flerte se intensificou, e Bucky percebeu, quase surpreso, que a interação se tornara mais do que uma simples troca de piadas.
Ele parou, limpando a garganta com suavidade, sentindo uma hesitação. Uma leve pausa antes de continuar.
— Sabe, ... — Bucky começou, sua voz agora um pouco mais baixa, com uma leve hesitação. Ele deu um passo para trás, fazendo uma pausa momentânea antes de continuar. — Eu tenho que ir... Eu tenho algumas...
— Coisas de super-herói? — sugeriu com um sorriso gentil, suavizando a transição.
Bucky a observou, um pouco surpreso pela maneira como ela soubera exatamente como tornar a situação mais confortável para ele. Ele sorriu levemente, passando a mão pelo cabelo enquanto dava uma risada baixa.
— É, coisas de super-herói — ele concordou, agora mais aliviado. Se abaixou para acariciar Eugene suavemente atrás das orelhas, puxando a mão rapidamente para trás, tentando manter a calma em meio à leve tensão que agora preenchia o ar entre eles. — Eu... vejo você por aí?
Ela o observou por um momento e Bucky notou a leve vergonha em sua expressão.
— Sim. Espero que sim — respondeu, e Bucky sentiu uma onda de alívio passar por ele.
Bucky se afastou lentamente, sentindo a pressão em seu peito diminuir, mas ao mesmo tempo, uma leveza se instalou. Ele não sabia onde aquilo os levaria, mas por um momento, estava bem com a incerteza.
⁂
Naquela semana, a rotina de Bucky foi interrompida por uma visita inesperada de Elton, o vizinho, que parecia ter a mania de aparecer sem aviso prévio. O rapaz apareceu inesperadamente na porta de Bucky para convidá-lo para uma festa no telhado organizada pelos vizinhos. Embora Bucky fosse um pouco relutante em socializar, a ideia de ver , que traria seus famosos biscoitos, despertou sua curiosidade.
Quando a noite chegou, ele se arrumou com uma sensação estranha de antecipação e, ao chegar no telhado, logo avistou , o que lhe causou uma sensação de nervosismo.
A risada de ainda ecoava em seus ouvidos, e ele se pegou sorrindo involuntariamente, absorvendo o ambiente descontraído da festa no telhado. A senhora do 3º andar estava contando outra história engraçada, mas Bucky estava mais focado nela — na maneira como ela parecia tão à vontade, tão natural.
— Você deveria experimentar os biscoitos, Bucky. Sério. Eles são incríveis! — Elton pontuou, com a boca cheia.
— Os biscoitos de são uma lenda por aqui. — Linda, que ainda estava no centro da conversa, riu e olhou para os dois. — Elton sempre pede para ela trazer um prato enorme para as festas. Nunca vi alguém não gostar.
— Parece que preciso dar uma chance a essa lenda, então — disse, olhando para com um brilho de curiosidade nos olhos.
A festa seguiu com risadas e descontração, e Bucky, inicialmente mais isolado, logo se viu se divertindo. Quando a festa foi diminuindo, restaram apenas Bucky, e Elton, e a atmosfera ficou mais íntima. No final da noite, Bucky foi para seu apartamento, mas não conseguia parar de pensar em .
A presença dela, as risadas, e o toque inesperado de sua cabeça no braço dele ficaram gravados em sua mente. Refletindo sobre o que acontecera, Bucky sentiu uma confusão crescente. Ele não estava acostumado com essa proximidade e, ao mesmo tempo, se viu atraído por ela de uma maneira difícil de entender.
Bucky ouviu uma batida na porta. Sua cabeça se virou rapidamente em direção ao som repentino. Ele não estava esperando nenhuma visita e o som o pegou de surpresa. Hesitou por um momento, mas logo se levantou e caminhou até a porta. Ele a abriu devagar, revelando do outro lado.
— Oi, — disse, tentando esconder o nervosismo com um sorriso. Ela levantou duas garrafas de cerveja — saideira?
Quando entrou, Bucky fechou a porta atrás dela e a trancou com um movimento automático. Ele se aproximou, pegou a garrafa de cerveja que ela segurava e, com um gesto rápido, girou a tampa, bebendo um longo gole. Limpou a boca com o dorso da mão e acenou com a cabeça, indicando o sofá.
Enquanto se virava ligeiramente para olhá-la, descansou o braço no encosto, como se se preparasse para uma conversa mais íntima.
— Então, Eugene tem mantido você acordada até tarde? — perguntou, com um tom descontraído, mas curioso.
— Nah, Eugene está dormindo profundamente. — Ela soltou uma risadinha suave e balançou a cabeça. Deu um pequeno gole e, com um olhar direto para ele, seu sorriso se transformou em algo mais tímido. — Não tivemos a chance de conversar hoje à noite. Não sozinhos, pelo menos.
Bucky levantou uma sobrancelha, surpreso pela mudança na dinâmica e, ao mesmo tempo, intrigado.
— É, acho que não — respondeu, tomando outro gole de cerveja enquanto seus olhos permaneciam fixos nela. Colocando a garrafa na mesa de centro, ele se recostou no sofá, buscando um conforto mais tranquilo. — Você tem uma boa vida aqui, . Cachorro, seu próprio lugar, amigos que aparentemente não se cansam da sua comida...
o encarou com um sorriso suave, quase refletindo sobre as palavras dele antes de responder, com uma serenidade que parecia natural para ela.
— Eu gosto dessa minha vidinha — disse, com um brilho de satisfação no olhar, fazendo-o sorrir também. Ela olhou em volta rapidamente, buscando algum tópico de conversa. — Vi você no noticiário hoje... Você e o Capitão América.
— É, eu estava com o Sam. Nada de especial. Só... — Ele fez uma pausa, com a expressão tornando-se mais dura. — Só trabalho, sabe? — Tomou um gole da cerveja, tentando ganhar tempo antes de responder. — O mundo precisa de heróis e o Sam tem sido ótimo nisso. — Ele fez uma pausa antes de continuar, agora mais suavemente. — Às vezes, eu me pergunto se algum dia vou conseguir deixar tudo isso para trás.
— Você quer deixar tudo isso para trás? — o olhou, curiosa.
Bucky parecia hesitar por um momento, sua mente analisando as palavras que queria dizer antes de finalmente falar. Colocou a garrafa de cerveja no chão com um pouco mais de força do que o necessário, seus dedos estalando enquanto ele a apertava com firmeza. Nesse exato momento, Eugene entrou na sala, farejando o ar antes de se jogar entre os dois no sofá. o viu e exclamou, surpresa:
— Eugene! Você está aqui! Como...? Oh, meu Deus.
— Ele pulou suas janelas? — olhou ao redor, surpresa.
— Nah, ele é esperto. Ele provavelmente esperou até eu destrancar a porta da sacada e entrou por lá.
Seus olhares se encontraram, e ele percebeu como parecia genuinamente encantada enquanto acariciava Eugene. Algo naquele momento, tão simples e natural, aqueceu o coração de Bucky, que se pegou sorrindo mais uma vez do que imaginava.
— Ele te segue por aí? — Bucky perguntou, ainda com curiosidade e um sorriso no rosto.
— Ah, não — respondeu, rindo. — Na verdade, não. Ele deve ter ficado preocupado ao me ver na casa de um cara — ela explicou, com um sorriso divertido.
— Parece que ele é um cachorro bem protetor. — Bucky manteve o tom leve enquanto acariciava Eugene, o olhar ainda preso àquela cena inusitada. — Você acha que ele estava te vigiando?
se inclinou na direção de Eugene, falando com ele numa voz doce e brincalhona: — Você estava, bebê?
— Ele deve ter vindo garantir que eu estava sendo um cavalheiro com você. — Bucky soltou uma risada, achando engraçado como falava com o cachorro.
— Não sei como Eugene reagiria se você não estivesse. — riu junto, enquanto passava a mão na barriga de Eugene.
Sentados lado a lado, eles continuaram acariciando Eugene, os ombros relaxados, os sorrisos surgindo com facilidade. Havia algo de leve naquela troca silenciosa, um tipo raro de intimidade que não pedia nada além da presença. O ambiente estava envolto numa tranquilidade quase inusitada, como se o tempo houvesse desacelerado para permitir que ambos simplesmente existissem ali, juntos.
Bucky olhou para e percebeu que estava, de fato, gostando daquele momento. Ao estender a mão de vibranium para coçar atrás da orelha de Eugene, seus dedos tocaram os dela por acidente. Foi um gesto sutil, quase imperceptível, mas suficiente para fazê-lo parar. Ele observou as mãos lado a lado, sentindo ainda o calor do toque, e notou que ela também havia percebido, mas não recuou.
A conversa fluiu com uma naturalidade surpreendente. Bucky falou mais do que imaginava ser capaz. Compartilhou memórias da infância, mencionou as cicatrizes invisíveis que ainda carregava desde seus dias como Soldado Invernal, e falou de Sam — cuja amizade havia se tornado uma âncora inesperada em sua nova vida.
contou que trabalhava como secretária em uma empresa de móveis. Em um tom calmo, quase casual, mencionou que já fora casada. Disse que se casou aos vinte e quatro anos e se divorciou aos vinte e nove. Bucky achou a idade baixa para uma decisão tão definitiva, mas ela explicou, com um sorriso sereno, que na época acreditava estar apaixonada.
Quando ele perguntou como havia superado tudo aquilo, respondeu com tranquilidade. Admitiu que, por um tempo, ficou devastada, mas que hoje estava em paz com a própria história. era muito mais do que aparentava. Mais forte, mais complexa, mais real. E, sem perceber, ele se viu desejando saber mais. Querendo ficar. Querendo, pela primeira vez em muito tempo, conhecer alguém de verdade.
Ele a observou se levantar, recolher as garrafas vazias e deixá-las no balcão com um movimento despreocupado. Havia algo na naturalidade de que o cativava. Ela se movia como se aquele espaço já lhe fosse familiar, e Bucky se deu conta de que gostava disso. Gostava muito.
— Ei! — virou-se para ele, curiosa. Bucky hesitou por um segundo, os olhos fixos nela com uma seriedade que contrastava com o tom leve de sua ideia. — Já que Eugene parece ter me reivindicado como o novo humano favorito dele... Quer que eu o leve para passear amanhã?
— Sério? — pareceu surpresa, mas logo um sorriso suave iluminou seu rosto. — Você faria isso? — Ela riu, balançando a cabeça como se aquilo fizesse todo o sentido. — Bem, se você quiser, tenho certeza de que ele vai adorar. Mas cuidado, ele já é o epítome do mimado.
— Quem sabe? Pode ser que ele acabe gostando mais de mim do que de você até o fim do dia.
— Ele não faria isso com a mamãe. — Depois fez uma pausa e completou, com um olhar resignado: — Quem estou enganando? Ele me trocaria em um segundo.
A sinceridade brincalhona arrancou uma gargalhada de Bucky, que balançou a cabeça em descrença. A ideia de Eugene abandonando a dona por ele era absurda e engraçada, mas também surpreendentemente doce.
olhou para a mesa, então apontou para as garrafas vazias com um meio sorriso. Ele seguiu seu olhar, observando as seis garrafas ali. Voltou a encará-la com um sorriso calmo, sentindo aquela estranha vontade de prolongar a noite, ainda que não houvesse motivo concreto.
Quando fez menção de se levantar, Bucky a acompanhou. Levantou-se com cuidado, os movimentos controlados e contidos. Um nervosismo leve se instalou em seu peito, mas não era o tipo de ansiedade comum.
— Você tá bem pra dirigir? — perguntou com um tom leve, mesmo sabendo que ela morava no mesmo prédio.
— Não se preocupe. Vou pegar o elevador. — riu, os olhos brilhando de diversão. Ele assentiu, e uma risada suave escapou de seus próprios lábios, enchendo o ambiente com uma tranquilidade rara.
— Boa noite, então. — Ele a acompanhou até o elevador em silêncio, os passos lentos, como se cada segundo ali tivesse peso.
— Boa noite — respondeu, com um sorriso leve.
Ela não se mexeu. E isso, mais do que qualquer palavra, o fez perceber que talvez ela também estivesse sentindo o mesmo. Havia algo suspenso no ar entre os dois, algo indefinido, mas carregado de intenção.
O elevador demorava a chegar, como se o universo também quisesse dar mais tempo a eles. Ele queria dizer algo, qualquer coisa, mas sua boca secou, e os pensamentos se atropelaram uns sobre os outros. Tudo o que sabia, de forma clara, era que queria beijá-la. Mais do que qualquer coisa naquela noite.
Tentando escapar da tensão, ele limpou a garganta e se agachou levemente, estalando os dedos:
— Aqui, garoto. — Eugene ergueu a cabeça, preguiçoso, depois a largou novamente no tapete com um suspiro sonoro, completamente desinteressado. — Eugene. Venha aqui, garoto.
— Você pode deixá-lo no elevador e apertar no meu andar mais tarde. Ele sabe o caminho de volta. — riu baixo.
Ela virou-se para encará-lo, e a maneira como seus olhos encontraram os dele fez o coração de Bucky bater mais forte. Havia algo em seu olhar... algo que parecia um convite.
Ele sabia o que queria fazer, mas não sabia se devia. Ainda assim, as portas do elevador se abriram — e ele, sem pensar duas vezes, esticou o braço e apertou o botão de “fechar”.
Suspirando, ele se voltou para ela e encontrou um sorriso satisfeito em seus lábios. Sem que precisasse dizer qualquer coisa, ela se virou com naturalidade e começou a caminhar de volta para o apartamento dele. Bucky a seguiu em silêncio, cada passo seu carregado por uma mistura de nervosismo e antecipação.
Quando a porta se fechou atrás deles, o ambiente pareceu prender a respiração. E, naquele silêncio íntimo, cada detalhe se intensificou. O som suave da respiração dela, o tilintar discreto do metal do braço dele, o leve ranger do piso sob os pés.
Tudo parecia gritar que algo estava prestes a acontecer.
— , eu... — ele começou, a voz rouca, carregada de hesitação. — Você provavelmente conhece a minha história. Estou tentando... tentando viver uma vida normal. Mas não é exatamente uma vida normal. — Ele fez um gesto vago, indicando o braço de metal e tudo o que ele simbolizava. — Estou tentando seguir em frente, de verdade... mas é difícil.
Passou a mão pelos cabelos em um gesto automático, revelando o nervosismo que se escondia por trás de sua postura contida. Foi então que ela deu um passo à frente. Os olhos dela percorreram o rosto dele com calma, como se buscassem algo. Ele parou de falar, em suspenso.
— James — ela disse, com um tom que o fez prestar atenção. — Vou te beijar agora, ok? — disse, com a voz baixa, mas firme. — Dê um passo para trás se quiser que eu vá embora.
Ela respirou fundo e deu mais um passo. Ele não se mexeu. Porque tudo nele gritava para que ela ficasse.
Seu corpo congelou diante das palavras dela. Cada nervo parecia à flor da pele, cada músculo tenso com a antecipação. Ele sabia o que ela estava prestes a fazer. Bucky engoliu em seco, o coração acelerado, a mente girando. Ele podia recuar. Encerrar tudo antes mesmo de começar. Mas seus pés continuaram firmes no chão, os olhos presos aos dela.
Ele fechou os olhos no exato momento em que os lábios dela tocaram os seus. O beijo foi leve, sem pressa, como se testasse as águas. E então, ela se afastou, deixando no ar apenas o eco de seu toque.
Um sorriso involuntário se formou em sua boca — suave, quase tímido. Surpreendeu até a si mesmo com a leveza que tomou conta de seu peito. Deu um pequeno passo à frente, testando os limites. Os olhos dele voltaram aos lábios dela, como se quisesse memorizar a sensação. Deu mais um passo.
— Você é um problema, sabia disso? — murmurou. Ele se inclinou, depositando um beijo rápido e estalado em seus lábios.
— Tenha uma boa noite, James.
Então se afastou com naturalidade, estalando os dedos para Eugene, que a seguiu obedientemente.
Ele não se mexeu. Ficou parado, os olhos fixos na porta fechada. O coração ainda acelerado, a respiração descompassada. Soltou um suspiro profundo, percebendo só então o quanto estivera tenso.
— Merda — murmurou para si mesmo.
O apartamento mergulhou no silêncio, quebrado apenas pelo som da própria respiração. Ele passou a mão pela testa, sentindo o início de uma dor incômoda, mas o que mais o perturbava era o turbilhão dentro do peito — emoções que ele mal conseguia nomear, muito menos controlar.
⁂
Os encontros não eram planejados. Às vezes, ele a encontrava esperando no elevador com um café extra na mão. Outras, ela apenas aparecia no parque com uma desculpa qualquer, tipo "Eugene quis sair de novo", mesmo que o cachorro ainda estivesse meio sonolento. Os beijos continuavam do mesmo jeito: rápidos, escondidos, como se fossem contrabandeados. Um toque breve no elevador, um roçar de lábios no corredor antes que alguma porta se abrisse.
Bucky se pegava esperando por esses momentos como quem espera por ar depois de muito tempo debaixo d’água.
Bucky apareceu à porta de com Eugene na coleira, o cheiro fresco da noite ainda grudado nas roupas. A caminhada tinha sido longa e silenciosa, exatamente como ele gostava. Quando ela abriu, um sorriso natural — quase automático, mas cheio de ternura — iluminou seu rosto ao vê-los.
Ela não disse nada de imediato. Apenas se virou com naturalidade e voltou para a cozinha, como se a presença dele ali fosse parte da rotina.
— Biscoitos? — perguntou enquanto a observava organizar as forminhas sobre a forma.
— Elton deixou um bilhete fofo pedindo — respondeu, sem tirar os olhos da massa. — Embora eu ache que ele esteja tentando usar meus biscoitos como arma de sedução. De novo.
— Como naquela vez em que ele disse que tinha feito tudo sozinho? — Ela assentiu, rindo. — Elton sendo Elton — ironizou, soltando a guia do cachorro, que trotou livremente pelo apartamento, farejando o chão com familiaridade. Depois, sentou-se com a calma de quem sabia que não precisava ir embora tão cedo. — Quanto tempo até esses biscoitos ficarem prontos?
— Uma hora e meia. Como foi a caminhada?
— Foi boa. Silenciosa. Eugene se comportou.
— Ele correu atrás dos esquilos?
— De todos. Nenhum escapou.
Ela sorriu, distraída, e coçou o nariz com o dorso da mão, sem perceber o traço branco de farinha que ficou para trás. Bucky franziu um sorriso, deu um passo em sua direção e ergueu a mão. Ela ergueu os olhos devagar, encontrando os dele.
— Obrigada. — Revirou os olhos com um meio sorriso, como se voltasse a si, e então, num gesto rápido, ficou na ponta dos pés, depositou um beijo breve e inesperado na bochecha dele e voltou à rotina.
Eugene deu uma fungada alta, como se estivesse impaciente com o silêncio, e Bucky, meio rindo, coçou a orelha do cachorro, tentando recuperar o fôlego que nem tinha percebido que perdera. Ela fechou o forno com um leve estalo metálico e se virou para ele, limpando as mãos num pano de prato pendurado à cintura.
— Vai querer chá?
— Se for aquele de camomila que você disse que combate guerras interiores, eu aceito.
Ela sorriu, pegou a chaleira e se virou para enchê-la de água. Ele a observava em silêncio enquanto ela se movia pela cozinha. Era um espaço simples, mas aconchegante — e ela parecia fazer tudo ali ter vida.
— Você sempre observa tudo assim? — colocou a chaleira no fogo e se apoiou na bancada, lançando-o um olhar por cima do ombro.
— Assim como? — Ela o olhou com a cabeça levemente inclinada, um sorriso contido brincando nos lábios, como se estivesse provocando sem dizer uma palavra. Ele soltou um meio suspiro, deu de ombros com naturalidade, e um sorriso suave surgiu no canto da boca. — Gosto disso aqui — Bucky disse, com a voz mais baixa, carregada de uma sinceridade tranquila que não precisava de esforço para ser sentida.
— Do quê?
— Dessa sensação. De... paz. De normalidade. — A cozinha quente. O cheiro de biscoitos começando a preencher o ar. O som da chaleira se acalmando. E ela ali, rindo de coisas pequenas e oferecendo chá como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Boa companhia, boa comida... e às vezes, uns bons beijos — completou, dando de ombros com fingida despreocupação, embora o calor do sorriso que se espalhou pelo rosto o traísse completamente.
— Eu amo como você diz “boa companhia” olhando para o Eugene e não pra mim — retrucou, entre risos, antes de beliscar de leve o braço dele.
— Ai! Ei! — protestou, fazendo uma careta dramática enquanto levava a mão ao lugar, como se tivesse levado um golpe sério. — Mas, para constar nos registros oficiais, beijar você é bem mais agradável do que beijar um cachorro.
— Oh, obrigada. — Ela soltou uma risada curta, com uma expressão que misturava diversão e falsa indignação. — Que elogio encantador. Realmente o que toda garota quer ouvir. Cuidado, soldado!
— Ou o quê? Vai me empurrar de novo? Me dar um soco? Trocar meus biscoitos por petiscos de cachorro?
— Muito engraçado. — deu uma risada, balançando a cabeça. Depois, tirou o avental e se aproximou devagar. — Ei, James... — Ele se endireitou um pouco, o nome dito daquele jeito fazendo o peito dele se aquecer. — Eu quero te levar para um encontro.
Por um segundo, ele piscou, surpreso — não pelo convite em si, mas pela forma como ela dissera, tão simples e direta, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E foi assim que Bucky Barnes foi, pela primeira vez, a um encontro com .
Ele achou curioso que ela tenha sugerido uma terça-feira. Um dia comum, no meio de uma semana qualquer. Tinha imaginado que ela preferiria o fim de semana. Quando a noite chegou e ele estava prestes a sair de casa para descer até o andar dela, foi surpreendido por uma batida suave na porta.
— Ei... Eu estava prestes a descer. — Bucky abriu a porta, parecendo surpreso ao vê-la ali.
— Está tudo bem. Me arrumei cedo. Estava animada — respondeu com simplicidade, sem esconder o entusiasmo, como quem não via problema em parecer um pouco ansiosa. — Podemos ir?
Bucky observou o reflexo dela nas paredes espelhadas do elevador e, por um segundo, perdeu o foco em tudo ao redor. Havia algo na maneira como ela brincava com uma mecha de cabelo, como respirava fundo, como seus olhos evitavam os dele. E então ele percebeu.
— Nervosa? — Seus olhos estavam fixos nela, observando o modo como ela evitava o olhar dele por um momento, como se estivesse tentando esconder a leveza de seus sentimentos.
— Por que eu estaria? — Ela soltou uma risada, rápida e um pouco nervosa. — Só convidei o infame Soldado Invernal para um encontro. E, acredite ou não, ele disse sim.
A leveza na forma como ela disse isso fez com que Bucky soltasse uma risada baixa, que se espalhou pela cabine do elevador, aquecendo o ambiente. Ele a observou com uma expressão brincalhona, um sorriso travesso tomando forma em seus lábios.
— Eu sei que sou uma celebridade, mas não acho que meu status de "infame" seja tão merecido. — Ele falou com um tom de brincadeira.
O elevador finalmente chegou ao andar desejado, e antes de sair, Bucky lhe deu um sorriso suave, mais profundo do que qualquer palavra poderia expressar. Eles saíram e caminharam lado a lado por algumas quadras até chegarem a um cinema de bairro, afastado do centro. Era simples, com uma fachada iluminada por luzes antigas e cartazes nas vitrines. Ela parou e olhou para ele, um pouco tímida agora.
— Eu pensei... talvez você fosse do tipo que gosta de coisas mais simples, mais calmas. — Ela deu de ombros, sem fazer muito alarde sobre o esforço que havia colocado no planejamento da noite. — E você também não parece gostar de lugares cheios. Quando você fala de sair, geralmente fala sobre fugir das multidões. Então pensei que um filme em uma terça-feira à noite fosse o melhor, as sessões de terça quase nunca lotam..
— Você presta atenção — murmurou. — Não gosto mesmo de multidões. Muita gente, muita variável... e eu preferiria não ter um ataque de pânico na sua frente no nosso primeiro encontro.
Ela sorriu, um pouco surpresa pela sinceridade dele, mas seus olhos permaneceram fixos nos dele, como se não quisesse perder nem um segundo daquela troca. Ele, por sua vez, não conseguiu deixar de sorrir também, sentindo uma sensação de tranquilidade que o surpreendia.
Algo simples, como um encontro, que ele sempre imaginara cheio de nervosismo e incertezas, se transformava em algo confortável, quase natural.
Eles se acomodaram na fileira de trás do cinema, sentando-se lado a lado, os assentos acolhedores criando um pequeno espaço só para eles. As luzes da tela iluminavam seus rostos de maneira suave, quase mágica, criando uma atmosfera de intimidade.
No meio disso tudo, ele se virou um pouco para ela, a voz baixa, como se ponderasse suas palavras antes de pronunciá-las: — Posso te perguntar uma coisa estranha? — Ele se mexeu um pouco no assento, aproximando-se levemente. — Você pode mudar para a minha direita? Eu... Eu queria segurar sua mão, mas...
Ela sorriu ao entender o que ele estava pedindo, e a sinceridade dele a fez se sentir à vontade. Sem hesitar, ela respondeu, a voz suave e reconfortante.
— Eu não me importo com isso, Bucky. — Ele seguiu o olhar dela, que foi direto ao seu braço de vibranium, ainda coberto pela jaqueta.
— Sim, eu sei, mas... — murmurou, a voz hesitante. — Mas... É metal frio, e eu não quero que você fique desconfortável.
Ela o observou, uma suavidade na maneira como a olhava, e então, com um sorriso suave, disse, com um tom leve, quase divertido:
— Só porque você disse que queria segurar minha mão.
As palavras dela, cheias de leveza, tiraram qualquer peso que restava no ar. Ele soltou uma risada suave, mais solta, pegando um punhado de pipoca e lançando algumas em direção a ela. Ela se esquivou, rindo também.
O filme começou, mas o silêncio entre eles persistiu. Ele olhou para ela de soslaio, sentindo uma paz tranquila emanando de sua presença. O único som era o projetor, suave e constante, quebrando a quietude. Mas aquele silêncio, de alguma forma, se tornou confortável, como uma companhia silenciosa.
Quando as prévias começaram, ele não resistiu. Virou a cabeça em direção a ela, seus olhos agora fixos no rosto dela, suavemente iluminado pela tela. Sem pensar muito, deixou o polegar deslizar pela parte de trás da mão dela, um gesto leve, como se quisesse garantir que aquele momento fosse real.
— Eu não faço isso há... uma eternidade.
Ela olhou para ele, o sorriso sereno, como se soubesse exatamente o que ele queria dizer, sem pressa de responder.
— Espero que você tenha uma boa noite, então.
Durante uma cena silenciosa, ele esfregou suavemente o polegar nos nós dos dedos dela, um gesto tão natural que ele nem percebeu fazer. O filme se perdeu em um fundo distante e ele se viu completamente absorvido por aquele simples toque. Ela percebeu o foco dele e, sussurrando suavemente em seu ouvido, quebrou o silêncio:
— Ei... você está perdendo o filme.
— Certo... O filme... — murmurou, olhando para a tela, mas seus olhos estavam dispersos, ainda absorvendo o que acontecia ali, mas principalmente o que acontecia entre eles.
Ele tentou se concentrar nas imagens que passavam na tela, mas a proximidade dela tornou isso cada vez mais difícil. O aroma suave do perfume dela, misturado com a pipoca e o refrigerante, preencheu seus sentidos, criando uma atmosfera nostálgica. Ele se viu transportado para um tempo em que ia a encontros com garotas, sem se preocupar se era mais de uma por semana. Havia uma leveza naquele período, uma liberdade despreocupada, onde os encontros eram simples e sem compromisso, apenas momentos para se perder no tempo.
Mas agora, com ao seu lado, a memória daqueles dias se misturava com algo novo. A proximidade dela, o calor de sua presença, eram diferentes de qualquer outro encontro que ele tenha tido.
Os ecos do passado começaram a se dissipar, substituídos pela intensidade do agora.
Ele a observou, distraído, enquanto ela virou o rosto para ele. Seus olhares se encontraram por longos segundos, como se o mundo ao redor tivesse simplesmente desaparecido. Ela manteve os olhos fixos nos dele, e havia algo no brilho do olhar dela que o fez se sentir vulnerável, exposto de uma maneira que ele nunca imaginou ser possível.
— Vou beijar você de novo, James Barnes.
Ele sorriu, um sorriso tímido, que mal pode esconder o turbilhão de emoções que agora tomava conta dele.
— Já era hora.
Não havia mais espaço para palavras. Ele se inclinou para ela, não mais com pressa, mas com a calma de quem sabe que este momento é único. Seus lábios se encontraram com suavidade, um beijo lento, como se o tempo tivesse desacelerado para que eles pudessem saborear cada segundo.
Ela se derreteu contra ele, sem esforço. Seus lábios se ajustando com uma naturalidade desconcertante. Ele segurou o rosto dela com sua mão de vibranium, o polegar acariciando sua bochecha enquanto se inclinava, aprofundando o beijo com delicadeza.
Quando o filme terminou, eles retornaram ao prédio em silêncio. O som do elevador preenchia o espaço, mas, de alguma forma, a quietude entre eles parecia natural, confortável. Até que, ao ver ela apertando o botão para o andar dele, e não o dela, ele franziu a testa, surpreso. Seus olhos se estreitaram e um toque de confusão se espalhou por seu rosto, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.
Ele se virou para ela, cruzando os braços sobre o peito, um gesto descontraído, mas que indicava que algo estava fora de lugar. Ele a observou por um momento, sem conseguir disfarçar a surpresa.
— O seu é dois andares abaixo.
Ela apenas riu suavemente, sem nem um pingo de constrangimento, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Ela saiu do elevador, estendendo a mão para ele com um sorriso maroto no rosto.
— Eu te convidei para um encontro, te peguei na porta e vou te deixar na porta, como um verdadeiro cavalheiro — disse ela, com um tom travesso, quase desafiador.
— Uma mulher bonita me deixa na minha porta como um cavalheiro? De jeito nenhum. — Ele deu uma leve risada, como se estivesse cético diante da ideia.
Ela o olhou com um brilho nos olhos e uma expressão divertida, como se soubesse exatamente o que queria causar.
— Se você quiser fazer o oposto, então me convide para um encontro na próxima vez.
⁂
Alguns dias depois, Bucky finalmente se sentiu pronto para convidá-la para o encontro que ela merecia. Ele aguardou o momento certo e, quando chegou, se viu diante do espelho às 19h em ponto, ajustando a gravata preta com cuidado. Um sorriso satisfeito apareceu em seus lábios enquanto dava os últimos retoques, sentindo-se bem-preparado. Porém, por dentro, uma mistura de expectativa e nervosismo crescia, difícil de controlar. Ao chegar à porta de , ele respirou fundo, tentando se acalmar. Ajustou sua postura, mantendo a expressão séria antes de bater suavemente. Quando a porta se abriu, ele se surpreendeu ao vê-la.
estava deslumbrante, como ele ainda não a tinha visto. Usava maquiagem, saltos e um sorriso que iluminava seu rosto.
O restaurante italiano, que havia sussurrado no ouvido dele ser sua comida preferida, tinha um ambiente intimista. A luz suave das velas criava uma atmosfera acolhedora, enquanto a música jazz, suave e envolvente, preenchia o ar, tornando o cenário ainda mais perfeito para aquele momento. À medida que a noite avançava, a sensação de intimidade aumentava. As conversas baixas ao redor pareciam se dissolver, como se o resto do mundo estivesse em pausa.
Ao saírem do restaurante, a brisa fresca da noite acariciava seus rostos. A cada passo, Bucky sentia o peso das incertezas do mundo, mas, ao caminhar ao lado de , com a mão apoiada suavemente na lombar dela, todas as dúvidas pareciam desaparecer. Estar com ela ali, naquele momento, trazia uma paz silenciosa, como se o caos ao redor não importasse, e ele estivesse exatamente onde deveria estar.
No caminho para o prédio, já dentro do elevador, o silêncio entre eles se tornava confortável, mas ele não conseguiu evitar o impulso de falar. Olhou para ela, tentando esconder a ansiedade que começava a tomar conta dele.
— Seria totalmente inapropriado se eu convidasse você para entrar? — A pergunta saiu com um toque de vulnerabilidade, e ele percebeu que, pela primeira vez naquela noite, estava se permitindo sentir inseguro. — Não que eu não queira que você...
— Poderíamos ficar no corredor, Bucky, eu não me importaria — ela disse, com uma tranquilidade que só ela tinha, enquanto o elevador se aproximava de seu andar.
Ele respirou fundo e se endireitou, tomando um momento para se recompor antes de se virar para destrancar a porta. Abriu a porta, segurando-a com um sorriso discreto. entrou, se abaixando para tirar os saltos, onde ele, com um gesto delicado, se aproximou para ajudá-la.
Dentro do apartamento, a luz baixa criava uma atmosfera serena. Ele fechou a porta atrás dela e trancou, o som do fecho ecoando levemente no silêncio entre eles. Quando se virou para encará-la, ainda apoiado na porta, a distância entre os dois parecia não ser mais do que um simples detalhe.
— Então... — ele começou, a voz suave, como se buscasse as palavras certas. Ele não estava mais tão seguro quanto antes, mas algo no jeito dela fazia com que ele sentisse que poderia ser vulnerável ali. — Obrigada pelo encontro. Foi... perfeito.
— Obrigada por me convidar.
Ele deu um passo mais perto e, com um sorriso leve, falou mais baixo, quase como um sussurro: — Você me faz sentir... normal. Não, melhor que normal. — A última frase saiu com um tom de vulnerabilidade. — Como um homem, em vez de... o que quer que eu tenha sido antes.
Eles ficaram ali, em pé, um na frente do outro, as palavras flutuando no ar, mas a conexão entre eles mais forte do que qualquer coisa dita. Então, ela voltou o olhar diretamente para ele, os olhos fixos nos dele. Um sorriso sutil despontou nos lábios dela, inclinou levemente a cabeça, observando cada nuance da expressão dele.
— A maneira como você me olha... — disse, com um sorriso sutil. — É impressionante, Sr. Barnes.
Bucky não respondeu de imediato. Em vez disso, manteve os olhos nela, absorvendo cada segundo daquela troca. Sua mão se moveu suavemente para pegar uma mecha do cabelo dela, observando seu rosto. Ele não conseguiu evitar sussurrar: — Linda.
— Só quando tento impressionar um cara.
Com um gesto quase imperceptível, ele se aproximou ainda mais, até sentir o calor da respiração dela, e com uma mão firme, mas suave, ele segurou o queixo dela, inclinando sua cabeça para que seus olhares se encontrassem com mais intensidade.
— Missão cumprida.
Com um gesto delicado, ele pegou outra mecha de cabelo dela e a colocou atrás da orelha, os dedos demorando em sua bochecha, como se o toque fosse um gesto de carinho que não queria terminar.
— Bucky? — Ele pausou ao ouvir o som do seu nome e um arrepio percorreu sua espinha ao perceber como ele soava nos lábios dela. — Se você não estiver... pronto para isso, se não estiver confortável, eu posso ir para casa. Está tudo bem, eu prometo.
— Eu não estou... Eu estou... nervoso, talvez. — Suas mãos ficaram desajeitadas, pairando ao lado do corpo, antes de se enfiar nos bolsos. — Não é que eu não queira. É só que... Eu nem tenho mais certeza do que é normal ou não. Não tem nem um ano que encontrei um guaxinim que veio do espaço e tentou roubar meu braço enquanto eu dormia. — Eles dois riram suavemente com a recordação. — Eu não... — Bucky fechou os olhos, envergonhado. — Faz anos desde a última vez que estive com uma mulher, . Eu não quero estragar isso. E agora, eu sou apenas uma bagunça. Não sou o tipo de homem que você deveria olhar como se eu fosse digno de alguma coisa.
Ela ficou parada diante dele, absorvendo suas palavras. Sua expressão não revelava julgamento, apenas compreensão. Ela se aproximou, gentilmente puxando suas mãos dos bolsos, entrelaçando os dedos com os dele.
— Bem... — Ela deu um passo mais perto, o sorriso suave, quase como se quisesse deixar claro que ele estava prestes a ouvir algo importante. — Eu gosto desse cara, bonito, doce, tímido e meio fofo. — Ela riu baixinho, se divertindo com a maneira como ele ficava um pouco sem jeito. — Estou aqui, caindo por esse cara que passeia com meu cachorro, que me leva para encontros sem nem perceber que um simples esbarrão no corredor é um encontro para mim. — Ela suspirou, tocando o botão da camisa dele, fazendo o movimento parecer casual, mas, ao mesmo tempo, carregado de significado. — Para mim, você é apenas um cara, Bucky Barnes.
— Só um cara...
— Só um cara — confirmou.
Os olhos dele seguiram o movimento do dedo dela, traçando o botão de sua camisa e depois subiram novamente para o rosto dela. Ele queria argumentar, queria dizer que ela estava errada. Bucky respirou fundo e, com uma suavidade que surpreendeu até a si mesmo, estendeu a mão, cobrindo a dela com a sua.
— Estou tentando, . — A voz dele saiu rouca, como se a confissão fosse difícil, como se ele tivesse acabado de abrir uma parte de si que temia há muito tempo. Ele levantou a outra mão e segurou o rosto dela, os polegares roçando suavemente suas bochechas, como se fosse um gesto de carinho, mas também de reverência. — Estou tentando ser só um cara.
— Não leva isso tão a sério, James. — Ela se aproximou, o sorriso dela agora mais provocador. — Só estou tentando curtir nosso encontro. Você não está? Se sim, o que está esperando para me beijar?
Bucky olhou para os lábios dela, e de repente, a leveza do momento desapareceu, substituída por algo mais intenso. Seu sorriso sumiu, e um olhar carregado de desejo tomou conta de seu rosto.
— Isso é um convite? — Sua mão de metal se ajustou levemente na cintura dela, e ele observou com atenção, como se esperasse por um sinal. Ela se apoiou contra a parede, os olhos dela fixos nos dele com uma intensidade que fazia o coração de Bucky bater mais rápido.
— Por que você não descobre? — ela provocou, o sorriso travesso brincando em seus lábios. — Pode ser uma ordem, Sargento.
O beijo começou lento, quase tímido, como se ambos estivessem explorando com cuidado o que já sabiam que era inevitável, mas logo se intensificou, como se o desejo que haviam contido por tanto tempo tivesse finalmente encontrado uma saída. A mão de metal dele deslizou pelas costas dela com firmeza, mantendo-a colada ao seu corpo, enquanto a outra se fixava na cintura dela. Quando ele finalmente se afastou, a respiração ofegante de ambos preenchia o silêncio.
— Acho que acabei de quebrar todas as regras do livro sobre encontros. — Ele passou a mão pelos cabelos, sorrindo de maneira tímida, mas com satisfação evidente. Seus olhos, no entanto, não deixavam transparecer nenhum arrependimento.
— Que regras são essas? — deu beijos contínuos em seu maxilar, com um sorriso travesso.
Ele não conseguiu conter uma risada baixa, fechando os olhos por um momento para saborear a sensação do toque dela.
— Coisas básicas, como ir devagar, evitar beijar logo no primeiro encontro...
— Ah, então, nós ferramos tudo.
— Especialmente porque, no nosso primeiro encontro, no cinema... Bem, você... eu...
— Então eu tentei te assediar um pouco? Grande coisa — brincou, segurando a gola da camisa dele. Bucky jogou a cabeça para trás, rindo baixinho. Ele adorava como conseguia manter o tom leve e brincalhão em momentos que poderiam ser de tensão.
— Sim, você só tentou me apalpar, não foi nada demais!
— Sabe que... — Ela esfregou o nariz no dele, empurrando-o gentilmente em direção à parede mais próxima. — Você poderia ter feito o mesmo comigo naquele dia, mas estava ocupado sendo um cavalheiro.
Bucky a puxou para mais perto e capturou seus lábios em um beijo intenso, carregado de tudo o que haviam segurado até ali. Suas mãos deslizaram pelo corpo dela com uma mistura de urgência e cuidado. Quando o fôlego começou a faltar, ele afastou os lábios dos dela, mas não se distanciou. respirou fundo e tombou levemente a cabeça para o lado, um gesto sutil, porém, de entrega. Ele entendeu o convite sem que nenhuma palavra fosse dita. Deslizou o nariz pelo pescoço delicado antes de pressionar os lábios ali. O toque foi quente, lento, como se ele quisesse explorar cada centímetro com reverência.
— Você... — ele murmurou contra seus lábios quando o puxou pelo quadril, para ainda mais perto. Bucky deslizou a mão do rosto dela para baixo, mantendo a mão perto do seio dela antes de deslizar lentamente para cima, tocando-a através do tecido — é, realmente, um problema, .
O silêncio entre eles se prolongou por alguns segundos, denso. deu um passo à frente, as mãos dele ainda repousavam sobre o corpo dela.
— Vamos fazer isso de novo? Ou é apenas algo... casual? — Os olhos de Bucky buscavam os dela, intensos. Ele era um homem acostumado a não ceder, entretanto, ali, diante dela, esperava. Vulnerável, embora disfarçasse sob a intensidade do olhar.
respirou fundo, sem desviar. Levou a mão até a dele, pousada ainda sobre seu seio, e entrelaçou os dedos dele com os seus num gesto lento, íntimo, quase sereno.
— Podemos fingir que é casual... — murmurou, como quem planta uma ideia para o futuro, sua voz carregava ironia e doçura em partes iguais. — Até o dia em que você aparecer para levar o Eugene para passear... e eu estiver lá, inesperadamente, usando apenas calcinha.
Ela terminou com um sorriso enviesado, quase inocente, como se não tivesse acabado de incendiar o ar entre eles. Sem pensar duas vezes, abalado com o toque dela e suas palavras, Bucky a beijou intensamente. Eles caminharam pela sala pequena, ainda imersos no beijo, sem pressa alguma de se separarem. As mãos dele exploravam a pele de e ela correspondia com a mesma intensidade, as respirações se misturando no ar.
sentiu o quadril encontrar a beirada da pequena mesa de jantar, o leve impacto rompendo por um instante o ritmo do beijo. Bucky, com os olhos focados nela, apoiou as mãos na mesa, bem ao lado de seu quadril, como se estivesse se preparando para um novo movimento. Mas foi ela quem assumiu o controle. Com as mãos, segurou o rosto dele, suavemente, trazendo uma pausa cheia de expectativa entre eles. Seus olhos se encontraram por um breve segundo e com um sorriso pequeno nos lábios, ela se inclinou, descendo a boca pelo pescoço dele em um beijo quente e deliberado.
Bucky estremeceu, engolindo em seco, os ombros se retesando. A pele formigou sob o toque dos lábios dela, e uma onda de calor percorreu sua espinha, tão rápida quanto impossível de ignorar. A respiração dele ficou mais pesada. Sem conseguir controlar, ele se apoiou ainda mais contra a mesa, e, no movimento brusco, o móvel balançou com força. No reflexo, Bucky a agarrou pela cintura com firmeza, puxando-a para mais perto. , tomada pela surpresa e pela intensidade do momento, arfou assustada, apertando-se contra ele, seus dedos se enrolando em sua camisa.
O som do impacto foi inevitável: a mesa desabou com um estrondo pesado, suas pernas quebradas cedendo com um barulho alto que ecoou pela sala. O que poderia ser um desastre se transformou em uma cena rápida demais para ambos pensarem. Apenas o calor entre eles, o toque constante, e a sensação do corpo de ainda colado ao dele, permaneciam.
e Bucky ficaram em silêncio por alguns segundos, observando a mesa partida no chão, as pernas quebradas e o impacto da situação ainda pairando no ar. Foi um momento bizarro, mas também engraçado, e a tensão no ar parecia derreter.
foi a primeira a quebrar o silêncio, com um sorriso travesso que se espalhou pelo rosto dela, iluminando seus olhos de uma maneira irresistível: — Acho que você vai precisar de uma mesa nova.
Bucky, ainda em choque pela queda repentina, não pôde evitar uma risada involuntária. Sua risada saiu fácil, sem resistência, como se aquele momento único fosse simplesmente inevitável. A proximidade deles, o toque de em sua cintura, tudo o que ele mais queria no momento, fez sua risada ainda mais leve, mais verdadeira.
— É, acho que sim.
Ele olhou para a mesa caída no chão, depois para ela, e não conseguiu conter o riso. A risada dela se misturou a dele, criando uma cumplicidade inesperada, como se aquele desastre doméstico tivesse selado um pacto silencioso entre os dois. A leveza do momento dissolveu qualquer tensão, e por alguns segundos, riram como se o mundo ao redor tivesse parado ali, entre cacos de madeira e respirações entrecortadas.
Ainda tentando recuperar o fôlego, com os olhos brilhando de diversão e uma fagulha de desejo mal resolvido, Bucky a observou. Por um instante, a leveza no olhar dela deu lugar a algo mais intenso. A brincadeira se desfez em silêncio e o que restou foi uma verdade crua e desarmada.
Nos olhos dela, Bucky enxergou sinceridade, gentileza e um calor que parecia aquecer até as partes dele que há muito tempo acreditava frias demais para sentir qualquer coisa. Ali, tão perto, viu tudo o que sempre desejou.
E talvez até mais do que achava merecer.
Isso o assustou, pois, naquele exato momento, ele soube que estava se aproximando demais. Já não era apenas atração, nem apenas companhia. Havia algo ali crescendo de forma silenciosa e constante, que ele não conseguia nomear. Ele não sabia exatamente o que era e talvez não estivesse pronto para descobrir.
Porque dar nome àquilo significava admitir que importava. Que ela importava. E isso era um passo grande demais para Bucky Barnes naquele momento.
Momentos como aquele faziam com que o velho James Barnes se lembrasse de como era ser jovem.
Do terraço do prédio onde ele morava, observou a festa organizada por Elton, seu vizinho carismático e viciado em socializar. As pessoas se espalhavam entre cadeiras e toalhas, conversando, rindo, tomando sol e cerveja como se o tempo não importasse.
Ele, por outro lado, mantinha-se encostado na parede, uma garrafa de cerveja na mão, e observava a cena com o olhar de quem não pertencia completamente àquele ambiente.
Ok, a música não era Nat King Cole, as roupas não lembravam os anos 40 e até o jeito de falar era claramente pertencente à outra era. Ainda assim, o brilho quente do sol, tingindo tudo de laranja, evocava memórias de encontros com a antiga turma. Havia algo de familiar na atmosfera leve, no riso solto entre amigos, na forma como as conversas se espalhavam de um grupo para outro, como se, apesar das diferenças, o tempo não tivesse passado completamente.
Por um momento, ele era só mais um cara aproveitando a juventude, falando trivialidades, rindo de fofocas que não faziam a menor diferença em sua vida, mas que, de alguma forma, ainda o divertiam. Preso em uma conversa absurda sobre submarinos com Sam e Elton, percebeu que estava genuinamente confortável. Quase contente. Contente por se sentir jovem outra vez.
O que, convenhamos, era pedir muito para alguém com mais de cem anos.
Um pequeno escárnio curvou seus lábios quando viu atravessar a porta de ferro, trazendo consigo um brilho quase irritante, o tipo de luz que parecia em falta naquela tarde de domingo.
Droga. É claro que estaria ali.
— Ótimo — murmurou para si mesmo. Ele tomou outro gole de cerveja e desviou o olhar, temendo que os olhos dela encontrassem os seus.
— Oi, oi. Estou aqui. Desculpe pela demora. Trânsito — justificou, sorrindo e entregando a cerveja para Elton, o anfitrião, dando-lhe um abraço rápido. — Sam! — sorriu animada ao ver Sam ao lado dele e ergueu os braços, sendo rapidamente acolhida em um abraço amistoso de Sam.
— E aí... — Ele se afastou, analisando o cabelo dela. — Ruiva? Pintou o cabelo de novo? — Sam apontou, rindo.
— Pois é, toda vez que alguém quebra meu coração, eu pinto de uma cor diferente. — Sem sequer se virar completamente em sua direção, e, para deixar ainda mais claro que o estava ignorando, falou secamente por sobre o ombro antes de se afastar, sem esperar sua resposta: — James.
Ele revirou os olhos, irritado com o comportamento mal-educado dela que o forçava a ser mal-educado também.
— Eu amo como ela te odeia e não faz questão de esconder isso. — Sam gargalhou, divertindo-se com a expressão irritada em seu rosto.
— não se importa com o soldado invernal, hein? O que diabos você fez para ela? — Elton também riu, irritando-o ainda mais.
— Eu não fiz nada.
Sam e Elton sorriram para a sua resposta e riram, evidentemente divertindo-se com a sua reação. Ele revirou os olhos e tomou outro gole de cerveja, tentando ignorá-los, mas, por mais que tentasse, era impossível. Aquele tipo de provocação era como um gatilho para ele, algo que não conseguia controlar, mesmo sabendo que estava sendo patético.
— Ei, ela está bonita, cara. — Elton assobiou com exagero, sua expressão completamente ridícula.
Ele deu um tapa nas costas de Bucky, um pouco mais forte do que o necessário, e aquilo foi o suficiente para fazer a paciência dele se esgotar. A garrafa de cerveja na mão de Bucky se apertou, e, por um segundo, ele pensou em dar uma resposta sarcástica ou, no mínimo, afastá-lo dele. Mas, em vez disso, lançou um olhar de desprezo, tentando se manter calmo.
Antes que ele pudesse responder, Sam se juntou a Elton, aquele sorriso provocador no rosto, e James não pôde deixar de se perguntar como era que, de alguma forma, eles sempre conseguiam fazer isso: tirá-lo do sério com tão pouco.
— Está. Está mesmo. — Sam sorriu novamente, esse sorriso que James já tinha decorado. Ele parecia se divertir enormemente com a irritação dele. Sam riu, provavelmente esperando que James fizesse algum comentário ou entrasse na brincadeira, mas, sinceramente, James já tinha aprendido a não dar munição para eles.
— Cale a boca — murmurou ele, quase para si mesmo, sem querer prolongar aquela conversa ridícula. Mas a tentativa de interromper o assunto foi inútil. Sam e Elton explodiram em risadas, como se Bucky fosse a piada mais engraçada do mundo.
Sam e Elton estavam em seu próprio mundo agora, e, por mais que ele tentasse, sabia que não conseguiria fazer com que parassem. O pior de tudo era que, em algum lugar no fundo da mente dele, sabia que estava alimentando tudo aquilo. Era só o que eles queriam.
— Talvez ela goste de você e só não saiba como agir. — Sam cutucou o braço dele.
— Cale a boca, Sam.
James não queria lidar com aquilo. Não queria pensar em .
— Viu? Ele está todo vermelho! — Elton não perdeu a oportunidade e deu outro tapa nas costas de James, mais forte do que o anterior.
— Você deveria chamá-la para um encontro, amigo — Sam continuou com a provocação, e ele soltou um gemido abafado, exasperado.
e “encontro” na mesma frase era algo que James queria evitar a todo custo.
Ele esfregou a testa, seu corpo tenso e sua respiração um pouco mais pesada. As bochechas ainda queimavam e ele estava definitivamente irritado. Ainda assim, ele não conseguia deixar de olhar para . Ele tentava disfarçar. Era irritante, era frustrante, mas ele não conseguia evitar.
E, por mais que tentasse se afastar daquela ideia, parte dele não conseguia deixar de perceber como ela estava bonita.
Como sempre.
— Ok, vamos resolver isso. Por que você não a convida para sair? Se você fizer isso, eu pago o jantar de vocês. Que tal? — Sam sugeriu, a voz cheia de uma confiança tão típica dele, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
— Você está brincando, certo? — James olhou para ele, incrédulo.
— Vamos lá, cara. Não é tão difícil. Você deveria namorar mais vezes. Que tal começar com ?
— Vamos, não tenha medo. — Elton entrou na conversa com um sorriso travesso e soltou uma proposta ainda mais absurda. — Vamos fazer um acordo, então. Se você convidar a para sair, a gente compra uma mesa de jantar nova pra você.
— Uma mesa de jantar? — James piscou, sem entender direito.
— Ah, é uma boa! — Sam concordou, assentindo, levando aquilo tudo muito mais a sério do que James gostaria. — Já estava ficando vergonhoso você jantando no chão do seu apartamento. Mas, Elton... Uma mesa de segunda mão, de plástico, nada muito chique, não é?
— Tá, tá... de segunda mão, então. Mas vai ser uma boa mesa!
— Vocês são loucos — murmurou James, sentindo uma onda de frustração invadi-lo. Ele não conseguia acreditar que estava tendo esse tipo de conversa.
— ! Ei! — Elton chamou, já se levantando e acenando para chamar a atenção dela.
O estômago de Bucky virou de uma vez.
Esse era o problema com . Depois de cem anos, ele não sabia que era possível que seu estômago ainda revirasse perto de uma mulher bonita.
Ele sabia que a situação estava prestes a sair do controle. James tentou se manter calmo, mas o que veio a seguir não ajudou. Ela virou a cabeça e, por um segundo, o mundo pareceu desacelerar. Quando os olhos dela encontraram a direção de onde estavam, o batimento cardíaco de James disparou.
Ele sabia o que aquilo significava. Ele estava prestes a passar por mais uma daquelas situações absurdas que não sabia como lidar.
se aproximou, segurando uma cerveja na mão e, por caminhar contra o vento, o tecido do seu vestido chicoteava contra as pernas que ela fazia questão de exibir por aí. O olhar de James seguia cada passo dela, enquanto seus pensamentos estavam uma bagunça, e, por mais que ele tentasse disfarçar, era impossível manter a compostura.
Sam e Elton trocavam olhares cúmplices entre si, como se estivessem assistindo ao desconforto de James e se divertindo com isso. O que, honestamente, não era surpresa nenhuma.
— Ei, ! Estamos falando de você! — Elton disse, com uma empolgação exagerada.
olhou para ele, surpresa. James tentou manter o olhar no chão, tentando evitar o contato visual. Mas ele sabia que, em algum momento, ela chegaria perto o suficiente para que ele não tivesse escolha, a não ser reagir.
— O que está acontecendo? — A voz de soou próxima, firme, carregada de desconfiança.
Ela havia parado ao lado do grupo, com os olhos ligeiramente estreitados, analisando Sam e Elton como se já soubesse que estavam tramando algo. Sua postura era relaxada, mas a forma como cruzava os braços e inclinava a cabeça para o lado sugeria que não compraria nenhuma desculpa facilmente. Como sempre, ela não dirigiu nenhum olhar a James.
— Estávamos apenas pensando se você tem planos para mais tarde — Sam perguntou com uma casualidade ensaiada, com um sorriso discreto brincando nos lábios. James lançou um olhar furioso para ele, tentando, inutilmente, comunicar-se telepaticamente para que ele ficasse quieto, só desta vez. Mas, é claro, Sam ignorou completamente.
— Eu… eu não… Por quê? — piscou algumas vezes, hesitante.
— Ah, só curiosidade — Elton interveio, com um tom exageradamente despreocupado. Ele pegou uma garrafa de cerveja cheia e a estendeu para ela, como se estivesse apenas sendo cavalheiro. — Estávamos nos perguntando se você teria algo para fazer hoje à noite. Tipo um encontro ou algo assim.
Desde que Elton apareceu na porta de Bucky no segundo dia após a mudança para o novo edifício residencial, apresentando-se de maneira extrovertida e animada, Bucky nunca teve dúvidas de que aquele era o jeito natural dele. Ele deveria estar acostumado com as besteiras que ele falava. Mas não estava.
O gole de cerveja que ele havia acabado de tomar desceu pelo caminho errado e Bucky começou a tossir descontroladamente, sentindo o líquido queimar sua garganta.
virou a cabeça para ele, e, por um breve segundo, ele sentiu o olhar dela cravar em seu rosto. Foi rápido, mas aconteceu. E, tão rápido quanto veio, o olhar dela se afastou, como se Bucky fosse nada além de um detalhe insignificante na conversa. A mão dele ainda cobria a boca enquanto ele tentava recuperar o ar, tossindo de forma miserável.
— Por que sinto que devo fugir dessa conversa o mais rápido possível? — cruzou os braços com mais firmeza, com os olhos passando desconfiados por cada um do grupo. — Vocês estão tramando algo?
— Nada, só queremos saber se você está livre esta noite — Sam insistiu, sorrindo como quem realmente achava que poderia enganá-la.
— Só isso? — Ela ergueu uma sobrancelha.
— Só isso... — Elton confirmou. O silêncio pairou por um segundo. Um segundo longo demais. E então veio a isca. — Não está curioso, Bucky?
O corpo de James Barnes travou.
Ele sentiu todos os olhares se voltarem para ele ao mesmo tempo. , agora, o olhava diretamente, esperando uma reação. O ar ficou mais pesado, e, de repente, a cerveja na mão de James se tornou absurdamente interessante.
Sam e Elton trocaram um olhar rápido, como se tivessem ensaiado aquilo. Era o tipo de comunicação silenciosa que só dois idiotas conspirando conseguem ter.
Bucky suspirou pesadamente, esfregando a testa enquanto evitava o olhar dela. Seus amigos, por outro lado, estavam adorando aquilo. Sam até se inclinou um pouco para frente, claramente esperando a resposta dele, com um sorriso de quem estava prestes a assistir um desastre acontecer.
— Eles querem que eu chame você para sair. — As palavras saíram mais rápido do que ele pretendia, emboladas, como se ele quisesse se livrar delas antes que pudessem causar mais estrago.
— Como é que é? — O tom dela veio carregado de incredulidade. — Isso é ridículo. — Aquilo o atingiu como um soco no estômago. Ao lado dele, Sam e Elton ficaram tão surpresos quanto ele. O silêncio que se seguiu foi constrangedor, um daqueles momentos em que ninguém sabe exatamente como reagir. Ela desviou o olhar dele para os dois, com os olhos estreitados, analisando a situação como se tentasse entender se aquilo era algum tipo de pegadinha. — E você… está só cumprindo ordens? — A voz dela carregava um misto de ceticismo e irritação, com os braços cruzados, como se estivesse se protegendo daquela conversa absurda.
Antes que James pudesse responder, Sam entrou no meio, com sua habitual habilidade de contornar situações embaraçosas.
— Na verdade… íamos comprar uma mesa nova para ele, caso... você aceitasse.
— O que aconteceu com a sua mesa?
Dessa vez, a pergunta foi diretamente para Bucky e ele teve que olhar para o rosto dela. Ele sabia que estava tentando parecer séria, mas também sabia que, por dentro, ela devia estar se segurando para não rir.
— Eu… acabei caindo em cima dela e…
Então, ela soltou um pequeno riso nasalado, curto. Claramente, ela estava tentando prender o riso e quase não conseguia.
— Você quebrou a sua mesa… caindo nela? — Ela cruzou os braços, deixando bem claro que estava totalmente descrente com a desculpa esfarrapada de James.
— Tem meses que esse cara está jantando no chão, apoiando o prato nas pernas. — Elton assentiu, fingindo pesar. — Trágico, na verdade, .
Ela mordeu o lábio, provavelmente lutando contra a vontade de rir, e James, naquele momento, queria sumir da face da Terra.
E levá-la junto com ele.
balançou a cabeça devagar, como se estivesse ponderando se ainda valia a pena continuar naquela conversa absurda. Ela estreitou os olhos, e, por um breve instante, sua expressão se tornou ilegível. Mas James conhecia aquele olhar. estava medindo a situação.
Ela lançou um olhar demorado para ele antes de voltar a encarar Sam e Elton. Depois de alguns segundos de silêncio, finalmente falou: — Quero 10% do valor da mesa. E você paga o jantar.
— Dez por cento e eu pago o jantar? — Os olhos de James se estreitaram.
— É pegar ou largar. — Ela deu de ombros, com um ar desinteressado, como se a resposta fosse óbvia.
O instinto de James gritava para que ele recusasse. Ele podia muito bem dar meia-volta e sair dali sem dar nenhuma satisfação. Mas o olhar dela o segurou no lugar. Não era só um desafio. Era uma provocação silenciosa, um lembrete de que ela estava se colocando no controle da situação.
— Ok — murmurou ele, quase se arrependendo no mesmo instante.
— Ótimo. Hoje à noite, às oito. Você me pega.
E então, sem esperar resposta, se virou e saiu andando, deixando para trás apenas o rastro do perfume que James reconhecia.
Droga.
Passou a mão pelos cabelos, soltando um xingamento baixo para si mesmo. Como diabos aquilo tinha acontecido? Como, depois de meses evitando , ele tinha acabado exatamente onde mais temia estar?
Ele passou tanto tempo fugindo dela.
Fugindo dos seus olhares demorados, dos olhos que o estudavam com um interesse que ele fingia não perceber. Fugindo das suas pernas que apareciam sempre demais, dos vestidos que pareciam sempre curtos demais. Fugindo daquele jeito irritantemente sedutor, como se cada gesto, cada palavra, cada provocação fosse calculada para tirá-lo do eixo.
e seu sorriso deliciosamente provocante.
— Eu nunca vi um cara se ferrar tão rápido. — Elton mal conseguia falar entre as gargalhadas.
— Se ferrar? — Sam deu uma tapinha no ombro de James. — Ele acabou de marcar um encontro! Com uma mulher que, cinco minutos atrás, disse que achava isso "ridículo".
— Inacreditável. — Elton balançou a cabeça, fingindo estar impressionado. — Quem diria, Barnes.
— Vocês dois, calem a boca.
— Oh, vamos lá, Buck, não seja tão mal-humorado. — Sam riu e colocou um braço em volta dos ombros dele. — Você tem um encontro, cara!
“LYING TO YOURSELF IF YOU THINK WE'RE FINE. YOU'RE CONFUSED AND I'M UPSET. BUT WE NEVER TALK ABOUT IT…”
Às 20h em ponto, James deu uma leve batida no punho na porta do apartamento de . Ele inspirou profundamente, desconfortável com o nervosismo que o tomava. Passou a mão sobre o tecido da sua camisa cinza de botões, tentando se acalmar. O som de um leve movimento ecoou de dentro do apartamento, seguido pelo giro da maçaneta. Quando a porta se abriu, lá estava ela, , com um gesto casual.
— Oh. Você veio mesmo. — Por um instante, ela pareceu um pouco surpresa, como se não esperasse que ele realmente aparecesse.
— Eu disse que viria. — Sua voz saiu mais baixa do que ele esperava.
James ficou ali, parado por um instante a mais do que deveria, tentando processar o que via. Ela estava linda. O vestido florido em tons de azul-marinho caía de um jeito leve, dando-lhe um ar despreocupado, quase casual, mas com um charme inegável. As botas de cano curto eram um detalhe inesperado, assim como o cabelo, agora tomado por um tom avermelhado. Em vez de cair solto pelos ombros, ela o havia prendido em um coque baixo, um penteado que parecia tão delicado que lhe dava a estranha impressão de que, se ele o tocasse por mais de dois segundos, ele se desfaria entre seus dedos.
Descenderam em silêncio pelo corredor do elevador, com o som suave da porta se fechando e de suas respirações preenchendo o vazio. Quando saíram, começaram a caminhar em direção ao carro de James. Mas, de repente, ela parou.
— Espera… são Sam e Elton? — Ela estreitou os olhos, encarando um carro estacionado do outro lado da rua.
Do outro lado, dentro de um carro estacionado, James viu os dois idiotas tentando se esconder. Sam estava no banco do passageiro, inclinado contra o vidro, enquanto Elton estava no volante, ambos claramente espiando a interação do grupo.
— É… são eles, sim.
No mesmo instante, Sam inclinou-se e acenou exageradamente, como se quisesse se certificar de que eles percebessem sua presença. Elton, por sua vez, fez uma saudação falsa, com um sorriso divertido no rosto.
— Eles são sempre assim? — cruzou os braços e observou a cena como quem analisava um circo.
— Bom… — James suspirou e encarou os dois idiotas no carro. Sam, agora, fingia que estava penteando o cabelo. Elton mexia no rádio, como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo. — Não sou exatamente um cara com muitas opções para amizade, você sabe.
— Divirta-se! — Elton colocou a cabeça para fora da janela com um sorriso presunçoso.
James revirou os olhos e soltou um riso nasalado. Quando se virou para , sentiu uma pontada de constrangimento pelo comportamento de seus amigos.
— Desculpe por eles. Sam costuma ser mais tranquilo, mas quando Elton está por perto, eles se tornam um pouco... entusiasmados.
— Não se preocupe. Eu entendo. Eles têm boas intenções... eu acho.
— Vamos? — perguntou, tentando ignorá-los. Não pôde evitar dar mais uma olhada nela. — Você está... bonita.
— Só isso? — Ela ergueu uma sobrancelha e inclinou a cabeça levemente para o lado. — Melhore seus elogios, James. — O tom dela era brincalhão, mas os olhos desafiavam.
— Tudo bem, tudo bem. Você está... deslumbrante. Feliz?
— Encantada. Obrigada.
Em poucos minutos, depois de uma silenciosa viagem, eles chegaram ao restaurante, um lugar italiano aconchegante e sofisticado. A iluminação suave lançava um brilho quente sobre a sala, enquanto o cheiro de pão fresco e de massas caseiras flutuava no ar.
— Italiano? — perguntou, olhando para o estabelecimento com um sorriso meio preso e um olhar surpreso.
— Sim. É seu preferido, não é? — respondeu James, simplesmente.
— É... É sim.
O restaurante era um lugar italiano aconchegante e pouco sofisticado, mas era o único que ele sabia que gostava e, assim, não precisaria fazer reserva. Ele a levou até uma mesa isolada nos fundos, onde poderiam conversar sem interrupções. Puxou a cadeira para ela antes de se sentar de frente para ela.
— Você veio preparado, hein? — Ela ergueu uma sobrancelha, brincando.
— Bem, queria impressioná-la de alguma forma. — Ele a observou enquanto ela apreciava o ambiente ao redor.
Por um momento, ela ficou em silêncio, apenas o observando.
— É. Conseguiu.
James podia ver os olhos dela passeando por seu rosto, analisando cada detalhe. Segurou o olhar dela por um instante, sentindo uma estranha satisfação ao perceber que ela parecia tão intrigada por ele quanto ele estava por ela. Ele limpou a garganta, quebrando o silêncio.
— Quer pedir? — Rapidamente, ele recuperou a compostura e fez o pedido para os dois. Quando o garçom se afastou, ela cruzou os braços e o observou, claramente com algo na cabeça.
— Então, Sam e Elton... Eles sabem?
Bucky sabia exatamente sobre o que ela estava perguntando, mesmo assim, tentou ganhar tempo.
— Sabem sobre o quê? — Sua voz saiu mais neutra do que ele esperava, mas, por dentro, já sentia um incômodo se instalando.
Ela não respondeu de imediato. Apenas ergueu os olhos do copo e o encarou. O olhar dela era intenso, quase impaciente. James sabia que não acreditava nem por um segundo que ele realmente não soubesse do que se tratava. Ela cruzou os braços e inclinou a cabeça de leve, como se esperasse que ele confessasse algo.
— Ah… não. Eles não sabem. — A voz de James saiu mais baixa do que ele pretendia.
piscou devagar, absorvendo a resposta dele. Ele quase podia ver a roda girando na cabeça dela, analisando cada palavra, cada hesitação.
— Então… — ela inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos na mesa —, você está me dizendo que seus amigos acham que nós simplesmente não nos damos bem?
Havia uma pitada de provocação na voz dela, mas James também percebeu outra coisa: curiosidade. Talvez até mágoa.
— Mais ou menos. — Suspirou, passando a mão pelos cabelos. Evitou o olhar dela por um instante, sentindo uma onda de irritação subir pela espinha. Não com ela. Consigo mesmo. — Eu disse a eles que era porque… porque eu achava você irritante.
O sorriso dela sumiu na mesma hora. Ela piscou algumas vezes, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito. Então, sem qualquer aviso, pegou um guardanapo e o lançou na direção de James. Ele o pegou no ar, sem muito esforço.
— Eu sou irritante?!
— Só era mais fácil dizer que você era irritante — tentou explicar.
— Uau. — Ela riu, balançando a cabeça. — Então você me transformou na vilã da história para facilitar sua vida?
— Evita perguntas, . — Suspirou, tentando explicar como sua mente estava funcionando em relação àquela situação. Mas, honestamente, quanto mais ele falava, mais irritado ficava consigo mesmo.
Ela o olhou por um longo momento, como se tentasse decidir se valia a pena continuar aquela conversa. Por fim, soltou um suspiro curto e desviou o olhar.
— Vamos apenas… jantar, ok? — A voz dela tinha um tom suave, quase resignado, como se o peso da conversa já tivesse sido demais. Ele apenas acenou com a cabeça, sem saber o que mais dizer.
O silêncio entre eles parecia se esticar, como se o peso das palavras não ditas estivesse constantemente à beira de ser quebrado, mas, ao mesmo tempo, ambos se continham.
James sentiu-se irritado, mas também frustrado, com uma leve sensação de culpa que não conseguia identificar com clareza. Por que ele se sentia culpado? Ele se perguntava, tentando entender, mas a resposta não vinha. Não deveria sentir culpa. O passado já estava atrás deles, ou deveria estar.
Ele a observava, tentando ler suas expressões, buscando um vestígio de algum sentimento, qualquer coisa que indicasse o que ela estava pensando.
Será que ela ainda se importava? Será que ela sentia alguma coisa por ele? Ou será que toda aquela tensão era apenas imaginação, uma projeção da própria culpa e arrependimento dele? Ele já a conhecia bem o suficiente para perceber quando ela estava incomodada, mas havia algo em seu comportamento que o confundia. Não era só a mágoa da antiga animosidade.
A verdade é que, diferente do que Sam e Elton pensavam, aquele não era o primeiro encontro de Bucky com . Pelo contrário, ele sequer sabia o número de vezes que já haviam feito uma refeição juntos.
A refeição terminou mais rápido do que ele imaginava. Quando a conta foi paga, James levantou-se, instintivamente oferecendo a mão a ela. Não sabia bem o que esperava com aquele gesto, mas foi automático, algo que fizera muitas vezes no passado. Ele puxou a mão de volta, mas não quis que pensasse que ele havia se arrependido. Bom, ele se arrependia, mas não o suficiente para não estender a mão novamente e esperar pelo tão familiar entrelaçar de dedos.
Ela hesitou por um momento, os olhos fixos na mão estendida por Bucky. Por fim, pegou a mão dele e a sensação de seus dedos se entrelaçarem foi familiar, mas de uma forma nova. Não era a mesma conexão de antes, não com a mesma confiança, mas ainda assim, havia algo ali, algo que fez James sentir um calor estranho se espalhar por dentro.
Ele percebia que ela estava refletindo sobre algo, mas não conseguia identificar o que exatamente. E, na verdade, nem tinha certeza se queria saber. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam: distantes, sem resolução.
Saíram do restaurante em silêncio. ainda segurava a mão dele, mas ele sentia que ela estava em algum lugar distante, pensando em algo que ele não podia alcançar.
— Então... E agora? — perguntou, desviando o olhar. Falou a primeira coisa que passou em sua mente. — Quer dar uma volta? — James a observou, esperando uma resposta, mas ela não hesitou.
— Eu... Não. Acho que não.
Ele ficou surpreso com a resposta dela. Não era o que esperava, e, por mais que tentasse disfarçar, não conseguiu esconder a decepção que se espalhou por ele.
— Certo. Bem, vou levá-la para casa. Ok? — Ele tentou soar tranquilo, mas a frustração estava lá, à espreita.
James sentia o peso das observações silenciosas dela, como se o silêncio estivesse carregado de algo não dito. Não era só o olhar dela, era a maneira como ela se postava, como o ritmo da respiração dela parecia hesitante, como se estivesse tentando perceber se ainda havia algo entre eles, algo além do que haviam sido e do que eram agora.
Ele a observava de vez em quando, tentando entender o que passava por trás daquele olhar, mas ela parecia imersa em seus próprios pensamentos, distante de tudo ao seu redor.
O tempo parecia ter desacelerado, e depois de alguns minutos que se estenderam como se fossem horas, James não aguentou mais a tensão e murmurou de forma ríspida: "Chegamos". Subiram no elevador em silêncio, os passos de ambos ecoando suavemente enquanto se aproximavam da porta dela. Quando chegaram à porta, ele a abriu sem pensar, em um gesto automático.
Agora, estavam cara a cara mais uma vez. James a observou por mais um momento, seu olhar buscando entender o que estava acontecendo entre eles. A proximidade era quase íntima e ele não pôde evitar notar como ela parecia bonita sob o brilho suave das luzes do corredor.
— Então, está ficando tarde e eu...
Antes que ela pudesse terminar a frase, a porta se abriu com um estrondo e Eugene saiu disparado, assustando os dois. O beagle atravessou o corredor em disparada, as patas escorregando no chão liso, a língua pendurada para fora, movido por uma excitação incontrolável.
— Eugene, amigão! — Bucky se abaixou rapidamente, estendendo as mãos. Tentou manter a compostura, mas não conseguiu evitar o sorriso largo que se formava no rosto. Ajoelhou-se, deixando que o cachorro se aproximasse, pulando desajeitadamente em volta dele, como se não o visse há anos. — Eu sei, eu sei. Calma, cara...
Ele massageou entre as sobrancelhas do cãozinho enquanto Eugene arfava alto, deixando escapar pequenos espirros de alegria, como se ambos estivessem revisitando um ritual antigo que os dois conheciam de cor.
permaneceu parada alguns passos atrás, observando. Algo dentro dela apertou. Era para ser uma conversa breve, clara. Um encerramento, talvez. Mas ali estava ele, rindo baixinho, sendo gentil com um cachorro que nem era seu. E aquilo a desarmava de um jeito que ela odiava admitir. Ela cruzou os braços, desviando o olhar por um momento, como se pudesse se proteger de si mesma. Negou com a cabeça, frustrada.
Estúpida, sussurrou para si em pensamento.
— Eugene, entra. — Tentou soar casual, mas a voz saiu mais baixa do que pretendia.
Bucky ergueu os olhos para ela ainda agachado, os dedos ainda coçando a orelha de Eugene, que se encostava nele como se fosse parte de casa. Por um instante, ele não respondeu. Só a olhou, mas suspirou e obedeceu, empurrando o cachorro suavemente porta adentro.
Em um impulso, enquanto Bucky acariciava Eugene e tentava convencê-lo a ficar do lado de dentro antes de fechar a porta, falou algo que o pegou completamente desprevenido.
— Estou apaixonada por você. — James ficou congelado por um momento, surpreso com a confissão repentina. Ele esperava qualquer coisa, menos aquilo. Ela o olhou por um momento, com a sinceridade visível em seus olhos, antes de continuar. — Mas não posso fingir que você não me fez de idiota.
— ... — Ele tentou falar, mas foi interrompido pelo tom decidido da mulher.
— Eu não sei o que aconteceu. Nós estávamos bem, Bucky, você sabe que sim. Mas você... você sumiu. Você é meu vizinho e, ainda assim, desapareceu. Eu liguei, eu batia na sua porta e, sim, eu sabia que você estava lá, só não queria me atender!
As palavras dela o atingiram com força e ele não conseguiu evitar sentir uma mistura de culpa e dor atravessando o peito. Ela estava certa. James desviou o olhar, incapaz de encará-la, envergonhado.
— Eu não estava preparado para isso... algo assim. — Ele respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas, mas parecia que todas as tentativas de explicar o que se passava dentro dele soavam vazias. E talvez fosse. — Você, . Eu não estava preparado para algo como você. Não sei se um dia estarei — confessou, em um murmúrio.
As palavras saíram sem que ele pudesse impedir, uma confissão que ele não sabia que precisava fazer, mas que de alguma forma parecia necessária. Ele se afastou um pouco, o olhar direcionado ao chão, enquanto sentia o peso da própria vulnerabilidade.
Ele não queria ser esse cara. Não queria ser aquele babaca que desaparece ou se afasta sem dar explicações. Mas, no fim das contas, havia feito exatamente isso.
— De qualquer forma, eu não aceitei esse encontro hoje para falar sobre isso, eu juro — ela disse, com a voz carregando um toque de exaustão. — Eu só queria um jantar... te ver de novo. Mas acho que já está tarde, eu deveria... — Ela indicou a própria casa com um leve movimento da cabeça, como se estivesse se despedindo.
— Espera.
A voz de James saiu mais baixa do que ele pretendia, quase um sussurro, mas ela ouviu. Ele engoliu em seco, tentando organizar seus pensamentos. O peito dele apertou com a frustração de não conseguir expressar o que queria.
— Espere por mim. Só mais um pouco. — Ela não respondeu de imediato. Apenas o olhou, absorvendo aquelas palavras. E ele soube, mesmo sem uma resposta clara, que ela entendeu. — Eu... eu acho que só preciso de mais um tempo. — Suspirou profundamente, buscando um pouco de coragem.
Ele viu a luta interna no olhar dela, o medo de se agarrar a uma promessa vazia. Mas também viu outra coisa: ela queria acreditar nele. A voz dele saiu carregada de uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. Ele não gostava de implorar, mas por ela...
— Eu não vou esperar para sempre, Barnes.
— Eu sei.
James levantou a mão com calma, quase como se quisesse garantir que o gesto fosse natural, e envolveu o pulso dela com delicadeza. Guiou a mão dela até sua própria bochecha, sentindo o calor da palma dela se espalhar na pele dele, um contraste suave contra a aspereza da barba por fazer. O toque dela não vacilou nem por um segundo, e, para sua surpresa, ela deslizou os dedos pela lateral de seu rosto, traçando um caminho suave até a linha do maxilar.
Pela primeira vez em muito tempo, ele não queria fugir. Queria ficar ali, com ela, naquele instante que parecia suspenso no tempo. Mas, ao mesmo tempo, havia algo dentro dele que o fazia hesitar, uma sensação de que talvez não tivesse mais controle sobre a situação.
Sentia que tinha perdido o momento, que a conexão que havia entre eles estava prestes a se desintegrar por algo que ele não soubera entender ou aproveitar. E, de alguma forma, a dúvida crescia: talvez ele tivesse se tornado um idiota aos olhos dela, talvez tivesse deixado escapar uma oportunidade única.
— Bucky? — Ela se afastou levemente, o olhando nos olhos.
— Hm?
Ela parecia pensativa por um momento, como se estivesse juntando as palavras antes de falar.
— Diga ao Sam e ao Elton que eu não sou irritante.
— Claro — ele respondeu, um sorriso involuntário surgindo em seus lábios.
As palavras seguintes dela o pegaram de surpresa, e ele não conseguiu segurar a risada que escapou.
— E, pelo amor de Deus, compre uma mesa de jantar nova!
“IF THAT WAS CASUAL, THEN I'M AN IDIOT”.
ALGUNS MESES ANTES...
Quando Bucky finalmente se mudou — deixando para trás o lugar precário onde vivia — percebeu o quão insalubre sua rotina tinha se tornado. Se não fosse por Sam, que insistia em encontrar uma nova moradia cada vez que o visitava, ele provavelmente ainda estaria naquele lugar.
O novo prédio, embora simples, era muito mais acolhedor. Apenas três andares, fachada neutra e vizinhança tranquila. E, como bônus inesperado, havia uma pequena lanchonete bem ao lado do edifício.
Bucky estava sentado, segurando uma garrafa de cerveja já pela metade, o olhar perdido em um ponto qualquer do balcão. Carregava no rosto a expressão fechada de sempre. Levou a garrafa aos lábios e tomou mais um gole, provavelmente o quinto da noite, antes de soltá-la com um suspiro silencioso. O gosto amargo da cerveja não trazia consolo, tampouco conseguia sentir o torpor do álcool. É, ele sentia falta disso.
Estava prestes a tomar outro gole quando sentiu uma presença ao seu lado. Sem se mover de imediato, desviou os olhos para a figura que acabara de se sentar. Só então virou levemente o corpo, erguendo uma sobrancelha com lentidão. Seu olhar sério e contido percorreu a mulher de cima a baixo, atento à sua linguagem corporal, tentando entender quem ela era — e, mais importante, por que havia escolhido sentar-se justamente ao lado dele.
Bucky tomou mais um gole da cerveja, sem dizer uma palavra. Seus olhos, no entanto, permaneciam fixos nela. Observou enquanto a mulher puxava um pedaço de papel rasgado, que servia como o improvisado cardápio da lanchonete. Continuou observando-a sem disfarçar, atento à sua postura, ao modo como se sentava, ao jeito como mantinha os ombros relaxados, como se não estivesse tentando se esconder de nada.
Ela não parecia representar ameaça alguma. Não havia tensão nos músculos dela, nem inquietação nas mãos. Apenas uma presença inesperada, tranquila e silenciosa, que, por algum motivo, ele não conseguia ignorar.
— Posso ajudá-lo com alguma coisa? — A pergunta o pegou desprevenido. Bucky piscou, como se precisasse de um segundo para entender se ela havia realmente falado com ele. Sem insistir, ela desviou o olhar e pediu uma bebida ao barman, como se aquela interação tivesse sido apenas uma formalidade. Mas quando a resposta não veio, ela girou levemente o corpo na direção dele e repetiu, com a mesma calma de antes: — Posso ajudar com alguma coisa?
Dessa vez, o olhar dela o encontrou, direto e firme, mas não invasivo. Não havia ironia em sua expressão, nem impaciência. Era uma pergunta sincera. E, por alguma razão que ele não compreendia completamente, isso o desarmou um pouco.
Bucky a observou por mais um segundo, avaliando-a como se tentasse decifrar alguma coisa escondida em sua postura tranquila. Finalmente, ele decidiu romper o silêncio, o tom casual, mas ainda carregado de sua habitual seriedade.
— Eu conheço você? — A pergunta saiu quase sem querer, mas com uma curiosidade contida. Sem esperar muito mais, ele quebrou o silêncio novamente, dessa vez com uma dúvida mais precisa, ainda com aquele toque de seriedade, mas agora sem o tom áspero de antes. — Você é vizinha do Elton?
— Cara loiro, adora sorrir e comer biscoitos? — Ela sorriu de lado, a pergunta saindo quase como uma brincadeira. — Sim, eu sou. Você o conhece?
Bucky levantou uma sobrancelha, surpreso com a resposta indiferente. Não esperava que ela fosse tão direta. Mas, ao que parecia, ela realmente não parecia se importar com a intensidade da pergunta.
— Sim. Eu conheço.
— E como você sabe que eu sou vizinha dele? — Ela inclinou a cabeça, aparentemente intrigada.
— Eu só sei.
— Um cara que eu não conheço me diz que ele apenas, casualmente, sabe onde eu moro. Ótimo — ela comentou, o tom sarcástico, mas com uma leveza que contrastava com o clima tenso que ele costumava gerar.
— Isso é um problema? — As sobrancelhas de Bucky franziram quando ela respondeu sarcasticamente.
— Não, toda mulher gosta de saber que um homem desconhecido sabe seu endereço, até mesmo seus vizinhos — ela disse, com sarcasmo, enquanto nitidamente procurava outra cadeira para se sentar.
A expressão de Bucky suavizou por um instante. Ele não conseguiu evitar um pequeno sorriso, o humor dela realmente o pegando de surpresa.
— Senta aí. Eu não sou um pervertido. — Ela o encarou com um olhar cético, mas, ainda assim, escolheu se sentar novamente. — Me mudei para o prédio essa semana e conheci o Elton. Te vi no elevador ontem de manhã. Só isso — explicou, com tranquilidade.
— Ah, então você é o novo vizinho? — A voz dela soou mais suave, embora ainda carregasse um toque de curiosidade.
— Me mudei há alguns dias.
— E como está indo a mudança?
Bucky hesitou por um momento antes de responder, como se precisasse organizar os pensamentos. Não estava acostumado a falar de si mesmo, muito menos com estranhos.
— Está tudo bem. O lugar é legal — respondeu, por fim, num tom mais neutro. — Você mora com alguém lá?
A pergunta escapou antes que ele pudesse pensar melhor. Conversa fiada não era o seu forte e ele nem tinha certeza se aquilo era apropriado. Mas, de alguma forma, as palavras já estavam no ar, pendendo entre eles. Ele sentiu um leve desconforto, como se tivesse ultrapassado um limite, mas agora não havia como voltar atrás.
— Eu tenho um cachorro.
Ele sorriu, um daqueles sorrisos involuntários que escapam quando se é pego de surpresa. Esperava uma resposta sarcástica, talvez até defensiva, mas ela respondeu com naturalidade, quase com leveza.
— Um cachorro? Que raça? — Havia um leve embaraço no tom, mas, no fundo, a curiosidade era genuína.
— Um beagle.
Sem pensar duas vezes, ela puxou o celular do bolso e, com uma agilidade quase instintiva, abriu a galeria. Começou a rolar pelas fotos rapidamente. Bucky se inclinou um pouco sobre o balcão, surpreso com o gesto, mas totalmente interessado nas imagens. Seus olhos seguiram o movimento na tela e um leve sorriso se formou em seu rosto quando viu o cachorro.
— Um beagle… — murmurou, como se estivesse processando uma informação inesperadamente interessante. — Fofo — comentou, tentando parecer indiferente, mas o brilho em seus olhos traía o quanto realmente achava aquilo adorável. — Qual é o nome dele?
— Eugene Fitzherbert.
Bucky virou o rosto para encará-la, uma sobrancelha arqueada de forma quase cômica, surpreso e, pela primeira vez naquela noite, visivelmente divertido com a resposta. Ele não esperava por aquilo. Soltou uma risada baixa, quase inaudível, mas que suavizou os traços tensos de seu rosto.
— Espera... sério? — A pergunta saiu com uma mistura de espanto e diversão. O nome parecia absurdo demais para um cachorro, o que apenas tornava tudo ainda mais engraçado.
— É do filme Enrolados — ela respondeu, observando seu rosto como se avaliasse se ele reconheceria. — Flynn Rider? Rapunzel? Disney? A princesa...
A verdade era que animações nunca fizeram parte de sua vida, muito menos as da Disney, mas ela parecia tão entusiasmada ao explicar que ele não quis cortar o assunto. Tomou mais um gole da cerveja, virou-se para encará-la de frente e deixou os olhos repousarem nela por mais tempo do que o necessário.
— Você é fã da Disney, então?
— Não muito. Eu gosto de princesas. Mas meu cachorro é menino e eu não acho que ele gostaria de ser chamado de Rapunzel — respondeu, com um encolher de ombros casual, como se fosse óbvio.
Bucky soltou outra risada, mais sincera dessa vez. O som era quase estranho vindo dele, mas não de um jeito ruim.
— Eugene é definitivamente um nome melhor do que Rapunzel para um beagle — comentou, ainda rindo suavemente. Depois, inclinou levemente a cabeça, os olhos ainda nela. Ele assentiu, levando a garrafa de volta aos lábios. O barman apareceu logo em seguida com outra cerveja, entregando-a sem que Bucky precisasse pedir.
— Por que você está ganhando cerveja grátis?
— O barman me conhece — ele explicou, percebendo a expressão dela, curiosa e firme, esperando uma resposta sem pressa de se desfazer enquanto ele não falasse. — Exército. Bartenders costumam oferecer bebidas grátis para veteranos.
Ela assentiu, os olhos fixos no rosto dele, como se tentasse puxar uma lembrança esquecida. Bucky percebeu o olhar atento e soube exatamente o que aquilo significava.
Tentou agir com indiferença, tomando outro gole da cerveja. Ela estava tentando descobrir quem ele era, e, honestamente, não era tão difícil.
— O que foi?
— Você é James Barnes, não é? Meu sobrinho gosta de super-heróis — explicou.
Por um instante, ele congelou, e os olhos se arregalaram levemente. Não era o tipo de reconhecimento que ele buscava. Na verdade, evitava a qualquer custo. Mas o modo como ela dissera que não soava invasivo. Era só uma constatação, sem idolatria, sem medo.
— Seu sobrinho me conhece?
— Ele era completamente obcecado pelo Capitão América. E por todos os “amigos” dele, como costumava dizer. — sorriu, divertindo-se com a lembrança que parecia fresca em sua mente. — Demorei alguns minutos para ligar os pontos. Acho que foi o corte de cabelo... Você cortou, não foi?
Bucky soltou uma risadinha baixa, descontraída, diante da observação dela. Algo na maneira leve e sem julgamento como ela falou de seu passado, como se ele fosse apenas mais uma pessoa normal em sua vida, fez com que ele se sentisse à vontade de uma forma que não estava acostumado.
Involuntariamente, sua mão subiu até o cabelo, os dedos passando pelos fios mais curtos, agora bem diferentes do estilo antigo. Ele fez isso de forma quase automática, como se o toque lhe trouxesse um pouco de conforto.
— Eu sou , aliás — ela disse, com um sorriso pequeno e um leve aceno de cabeça.
— Eu sou... bom, você sabe... — respondeu ele, a voz saindo suave, meio hesitante, enquanto tomava mais um gole da cerveja. — Bucky. — Ele tentou disfarçar o rubor discreto que começou a subir em seu rosto, mas a leveza da situação estava fazendo com que ele ficasse mais confortável do que o normal.
O silêncio caiu sobre os dois, mas não era um silêncio desconfortável. Bucky se pegou observando de canto de olho enquanto ela se concentrava no copo em suas mãos, um toque de distração que parecia intencional, mas ao mesmo tempo natural.
— Bem... — ela murmurou, quebrando o silêncio, seus olhos focados no fundo do copo. — Acho que está na minha hora.
— Toque de recolher?
— Algo assim. O nome certo é trabalho proletário. Coisa de gente mundana. Você, super-herói, provavelmente não entenderia — ela provocou, com uma expressão travessa nos olhos, como se estivesse se divertindo com a ideia de brincar com ele.
Bucky soltou uma risada baixa, divertida, por algum motivo achando graça na forma como ela zombava de sua identidade.
— Pessoas mundanas? Acho que salvar o mundo também se encaixa como “trabalho proletário” — ele brincou de volta, um sorriso aparecendo nos lábios.
— Vejo você por aí, vizinho. — A voz dela foi suave, mas cheia de uma leveza que ele não sabia de onde vinha.
Bucky assentiu, um sorriso suave e quase involuntário curvando seus lábios.
— Vejo você por aí, vizinha. — A resposta foi dita com um tom suave.
Seus olhos permaneceram nela, mesmo enquanto ela se afastava, os movimentos dela graciosos e rápidos, como uma presença fugaz que, no entanto, ele não queria deixar ir. Ela se afastou, e Bucky ficou ali, sentado por mais alguns momentos. Ele observou a figura dela se perder entre as pessoas.
Ele poderia ter dito mais, poderia ter feito mais perguntas, esticado a conversa até o ponto em que ela ficasse mais tempo ali, mas no fundo sabia que, talvez, aquele momento fosse o suficiente.
Depois de algumas semanas, Bucky estava na entrada do prédio, folheando distraidamente a correspondência. Estava tão absorvido nas contas e panfletos que quase não percebeu as vozes vindo da escada lateral. Ele franziu o cenho, curioso, e ao se virar, se deparou com um cachorro parado no meio do hall.
— De onde você veio, amigo? — Bucky disse, em voz baixa, enquanto enfiava a correspondência de qualquer jeito no bolso e se agachava devagar.
O cachorro, com um choramingo alegre, sentou-se e balançou o rabo, a língua pendurada para fora como se estivesse prestes a sorrir. Não usava coleira, e isso fez Bucky se preocupar por um segundo. Ele estendeu a mão, coçando atrás das orelhas do animal.
— Espera um minuto... — Bucky murmurou, tocando as orelhas com mais atenção. Um sorriso surgiu em seus lábios ao notar que era um beagle. — Você é o Eugene? — Ele riu baixinho, coçando o topo da cabeça do cachorro.
O cachorro respondeu com um gemido satisfeito e se deitou, rolando de lado, pedindo carinho com um ar de total descaramento. Bucky não resistiu e riu mais uma vez, abaixando-se para continuar o afago. Passos apressados ecoaram pelas escadas próximas. Ele se virou, reconhecendo o som do tênis batendo forte contra o concreto.
Em segundos, apareceu, ofegante. O cachorro se levantou num pulo, correndo até ela com o rabo abanando furiosamente. Bucky se levantou devagar, os olhos fixos nela. Um calor conhecido cresceu em seu peito, junto com uma pontada inesperada de alegria.
— Ele tem ótimas habilidades de fuga — Bucky comentou, com um sorriso de canto.
— Pode apostar. Tenho ele há só um mês e já é a terceira vez que ele escapa — respondeu, bufando, enquanto tentava ajustar a coleira e prendia a guia com firmeza.
— Calma aí, Eugene — disse Bucky, a voz tingida de diversão.
— Você se lembrou do nome dele. — ergueu o rosto, sorrindo ao perceber. — Oi, Bucky.
— Oi, . Difícil esquecer um nome como Eugene. Além disso... — Apontou com o queixo. — Ele tem aquelas orelhas clássicas de beagle. Impossível não reconhecer.
soltou uma risadinha quando Eugene tentou dar mais um puxão, e ela bufou, frustrada com a energia do cachorro. Bucky a observava com um sorriso discreto. Havia algo genuinamente encantador na forma como ela franzia o nariz com leve irritação, na maneira como Eugene se contorcia como um peixinho fora d’água, determinado a fugir de qualquer tentativa de controle.
— Parece que Eugene não é fã de acessórios de moda — disse, divertido, enquanto via o cão torcer o corpo para os lados, dificultando ainda mais a tarefa de . Então, num gesto natural, ele descruzou os braços e se abaixou ao lado dela. — Aqui, me dá ele.
hesitou por um segundo, depois cedeu, entregando Eugene a ele. As mãos dos dois se roçaram brevemente quando ela passou a guia. Bucky segurou o cão com firmeza, mas sem agressividade, seus movimentos seguros, acostumados.
Eugene ainda tentou lutar, mas Bucky já tinha encaixado a coleira em seu pescoço antes mesmo que ele percebesse o que estava acontecendo. Ele estendeu Eugene de volta para , mais uma vez seus dedos tocando os dela por um breve instante. Seus olhos se encontraram.
— Obrigada. Ele gosta de você. Isso é fofo. — sorriu, levantando-se. — Mas não se empolga demais. Ele gosta de qualquer um — provocou, travessa.
— Típico Beagle. Amigável com todos, leal a ninguém. — Bucky soltou uma risada verdadeira, balançando a cabeça.
gargalhou, enquanto caminhava em direção à porta de saída, a risada leve ainda flutuando no ar. Bucky a seguiu, uma sobrancelha arqueada, sua confiança habitual suavizada pela curiosidade que ela despertava nele. Institivamente, ele a acompanhou pela calçada, onde o sol começava a se firmar no céu, aquecendo suavemente a manhã.
Eles caminharam lado a lado pela calçada tranquila do bairro, e Eugene, o beagle, trotava à frente, farejando o mundo com a curiosidade de quem acreditava que cada centímetro do chão escondia um segredo por descobrir. A cena tinha um ritmo calmo, como se o tempo tivesse diminuído sua velocidade para acomodar aquele momento simples, mas carregado de algo que Bucky não sabia nomear.
Alguns minutos depois, chegaram a um pequeno parque, um refúgio de árvores antigas e um lago discreto, cercado por bancos de madeira desgastada e trilhas estreitas que serpenteavam por entre a vegetação. se adiantou com Eugene até um espaço sombreado sob um velho carvalho, e começou a recolher alguns gravetos espalhados no chão.
Bucky permaneceu um pouco mais atrás, encostado ao tronco da árvore, com os braços cruzados sobre o peito. Seu olhar estava tranquilo, mas atento, observando a cena à sua frente. Havia algo de hipnótico na simplicidade daquilo: ela, o cachorro, o som suave das folhas movendo-se com a brisa, o sol filtrado pelos galhos altos, criando sombras que dançavam no chão.
O mundo parecia em paz ali, e, por mais que fosse uma paz silenciosa, Bucky não conseguia desviar os olhos, como se fosse algo raro e precioso demais para deixar escapar.
E ele não conseguia parar de observá-la. Os movimentos dela eram suaves, naturais. A calça justa. O cabelo preso de forma meio displicente balançava quando ela ria das palhaçadas de Eugene. Havia algo cativante na despreocupação dela, como se o mundo ao redor estivesse em paz só por vê-la sorrir.
— Ele tem bastante energia, não é? — comentou, quando voltou para o seu lado, com Eugene correndo atrás do graveto mais uma vez.
Ele deu uma risada baixa, se aproximando devagar dos dois, quase com receio de interromper aquele pequeno universo tranquilo que parecia criar só com sua presença. A imagem dela ali, com o cachorro e o sol filtrado pelas árvores, era algo que ele não queria perturbar.
— Sim, às vezes até demais — respondeu ela, respirando fundo enquanto Eugene voltava com o graveto, ainda ofegante, a língua de fora e a cauda abanando em um ritmo animado. Bucky se abaixou quando Eugene largou o graveto aos seus pés, ofegante e satisfeito.
— Sério, Eugene? Um cara bonito é legal com você e você me substitui assim? — provocou, e a risada que escapou de Bucky foi involuntária, uma pequena explosão de diversão que não conseguiu controlar.
Ele tentou disfarçar, ciente de que não poderia deixar ela perceber o impacto das palavras dela nele. Bucky se recompôs o mais rápido possível, tentando manter o tom leve.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que você ainda é a número um no coração dele.
— Traidor.
— Acho que ele está apenas apreciando a companhia masculina. Não posso culpá-lo por isso. — Bucky brincou com Eugene, dando-lhe um carinho atrás das orelhas antes de se levantar, olhando para com um sorriso ainda mais largo. — Mas você tem que admitir, é meio difícil ficar bravo com um cachorrinho fazendo coisas de cachorrinho, certo? — Inclinou-se um pouco em direção a ela, como se estivesse compartilhando um segredo.
— Homens... tsc, tsc. Sempre se defendendo. — estreitou os olhos, um sorriso brincando em seus lábios.
Ele se agachou novamente, acariciando Eugene com carinho enquanto o cachorro se sentava satisfeito ao seu lado.
— Você é fofo demais para o seu próprio bem, hein? — murmurou para o cachorro, antes de levantar os olhos para .
Ela sorriu de volta para ele, mas algo em sua expressão mudou de repente. soltou uma exclamação, e Bucky imediatamente levantou a cabeça, sentindo a preocupação invadir seus pensamentos.
— O que foi? — perguntou, a testa franzida enquanto seus olhos disparavam pela área, tentando detectar qualquer ameaça.
— Caras gostosos com um cachorrinho fofo. — suspirou, balançando a cabeça, e se afastou. — Droga.
Bucky ficou parado por um momento, um calor subindo pela sua garganta. Ele a observou se afastar, um sorriso tímido aparecendo nas bochechas dele, um pouco surpreso com o flerte sutil que ela havia feito. Era como se ela o tivesse pego desprevenido, e a leve vergonha que sentiu o fez se sentir mais humano do que gostaria de admitir.
Ele a observava com os olhos fixos nela enquanto ela se afastava, e então seu olhar caiu de volta em Eugene, que estava ali, tão tranquilo quanto possível. Seu coração estava acelerado e ele não conseguia parar de repetir as palavras dela em sua mente, como se ainda estivessem ecoando. Ele balançou a cabeça levemente, tentando se concentrar, mas era difícil não se deixar levar pelo momento. Então, deu um tapinha na cabeça de Eugene e limpou a garganta, como se se preparasse para algo que ainda não sabia como dizer.
— Ela é uma coisa, hein? — falou, olhando para o cachorro, quase como se buscasse alguma confirmação do beagle.
De repente, Eugene levantou as orelhas, avistou e disparou em sua direção, latindo de brincadeira enquanto corria. riu e se agachou para acariciá-lo, seu riso preenchendo o ar de forma tão natural que fez Bucky sorrir suavemente. Bucky observou a cena com um sorriso tranquilo, um sentimento caloroso começando a se espalhar por seu peito enquanto assistia à interação entre e Eugene.
Ele balançou a cabeça, rindo baixinho para si mesmo.
— Olha só isso... — murmurou, ainda sorrindo, absorvendo a cena diante dele, como se ela estivesse se gravando em sua memória.
Bucky observou com um sorriso divertido, ela se aproximou de Eugene, que olhava para ela com a mesma expressão alegre e despreocupada, e começou a falar com o cachorro de uma forma que era ao mesmo tempo carinhosa e divertida.
— Sabe, acho que Eugene pode estar tentando me arranjar alguém — disse, com um sorriso travesso, enquanto afagava o cachorro. — Mas também estou começando a sentir algumas vibrações gays nele. — Ela se abaixou mais, falando com Eugene de uma forma suave, como se fosse um segredo entre os dois. — Você gosta de meninos, Eugene? Mamãe vai te amar de qualquer jeito, sabia?
A risada leve de preencheu o ar, e Bucky não conseguiu evitar um sorriso, embora não soubesse se ela estava sendo séria ou apenas brincando.
— Então, você acha que Eugene tem algum tipo de plano para mim, hein? — Bucky brincou, a voz suavemente carregada de curiosidade.
— Vai por mim, ele sabe o que está fazendo. — lançou um olhar divertido para ele antes de dar um último afago em Eugene.
Por uma fração de segundo, seus olhos se encontraram, e, de repente, a atmosfera ao redor deles pareceu mudar. O clima ficou mais carregado, como se algo mais estivesse no ar. A risada de ainda era clara e calorosa, mas havia algo diferente na forma como ela o olhava, quase como se estivesse brincando com os limites daquela interação descontraída.
Bucky deu um sorriso travesso, a provocação agora clara em sua mente, como se estivesse, de algum modo, flertando com ela.
— Oh, então vocês dois têm um gosto por meninos bonitos, é isso? — Ele riu, seu tom leve, mas uma pequena sensação de desconforto crescia em seu peito.
Havia algo na maneira como ela estava falando, o tom e a forma como olhava para ele, que fazia sua postura mudar sutilmente. Ele se lembrou de como, anos atrás, esse tipo de conversa acontecia naturalmente.
Bucky ficou parado, com um sorriso mais largo nos lábios, enquanto refletia sobre o que acabara de dizer. Uma parte dele se sentia confortável, como se estivesse em terreno conhecido, mas ao mesmo tempo, uma sensação de distanciamento o fazia perceber que talvez houvesse mais a ser entendido.
Ele percebeu que o flerte e a brincadeira estavam retornando com uma facilidade que ele não sentia há muito tempo. Quando se aproximou mais, a sensação de flerte se intensificou, e Bucky percebeu, quase surpreso, que a interação se tornara mais do que uma simples troca de piadas.
Ele parou, limpando a garganta com suavidade, sentindo uma hesitação. Uma leve pausa antes de continuar.
— Sabe, ... — Bucky começou, sua voz agora um pouco mais baixa, com uma leve hesitação. Ele deu um passo para trás, fazendo uma pausa momentânea antes de continuar. — Eu tenho que ir... Eu tenho algumas...
— Coisas de super-herói? — sugeriu com um sorriso gentil, suavizando a transição.
Bucky a observou, um pouco surpreso pela maneira como ela soubera exatamente como tornar a situação mais confortável para ele. Ele sorriu levemente, passando a mão pelo cabelo enquanto dava uma risada baixa.
— É, coisas de super-herói — ele concordou, agora mais aliviado. Se abaixou para acariciar Eugene suavemente atrás das orelhas, puxando a mão rapidamente para trás, tentando manter a calma em meio à leve tensão que agora preenchia o ar entre eles. — Eu... vejo você por aí?
Ela o observou por um momento e Bucky notou a leve vergonha em sua expressão.
— Sim. Espero que sim — respondeu, e Bucky sentiu uma onda de alívio passar por ele.
Bucky se afastou lentamente, sentindo a pressão em seu peito diminuir, mas ao mesmo tempo, uma leveza se instalou. Ele não sabia onde aquilo os levaria, mas por um momento, estava bem com a incerteza.
Naquela semana, a rotina de Bucky foi interrompida por uma visita inesperada de Elton, o vizinho, que parecia ter a mania de aparecer sem aviso prévio. O rapaz apareceu inesperadamente na porta de Bucky para convidá-lo para uma festa no telhado organizada pelos vizinhos. Embora Bucky fosse um pouco relutante em socializar, a ideia de ver , que traria seus famosos biscoitos, despertou sua curiosidade.
Quando a noite chegou, ele se arrumou com uma sensação estranha de antecipação e, ao chegar no telhado, logo avistou , o que lhe causou uma sensação de nervosismo.
A risada de ainda ecoava em seus ouvidos, e ele se pegou sorrindo involuntariamente, absorvendo o ambiente descontraído da festa no telhado. A senhora do 3º andar estava contando outra história engraçada, mas Bucky estava mais focado nela — na maneira como ela parecia tão à vontade, tão natural.
— Você deveria experimentar os biscoitos, Bucky. Sério. Eles são incríveis! — Elton pontuou, com a boca cheia.
— Os biscoitos de são uma lenda por aqui. — Linda, que ainda estava no centro da conversa, riu e olhou para os dois. — Elton sempre pede para ela trazer um prato enorme para as festas. Nunca vi alguém não gostar.
— Parece que preciso dar uma chance a essa lenda, então — disse, olhando para com um brilho de curiosidade nos olhos.
A festa seguiu com risadas e descontração, e Bucky, inicialmente mais isolado, logo se viu se divertindo. Quando a festa foi diminuindo, restaram apenas Bucky, e Elton, e a atmosfera ficou mais íntima. No final da noite, Bucky foi para seu apartamento, mas não conseguia parar de pensar em .
A presença dela, as risadas, e o toque inesperado de sua cabeça no braço dele ficaram gravados em sua mente. Refletindo sobre o que acontecera, Bucky sentiu uma confusão crescente. Ele não estava acostumado com essa proximidade e, ao mesmo tempo, se viu atraído por ela de uma maneira difícil de entender.
Bucky ouviu uma batida na porta. Sua cabeça se virou rapidamente em direção ao som repentino. Ele não estava esperando nenhuma visita e o som o pegou de surpresa. Hesitou por um momento, mas logo se levantou e caminhou até a porta. Ele a abriu devagar, revelando do outro lado.
— Oi, — disse, tentando esconder o nervosismo com um sorriso. Ela levantou duas garrafas de cerveja — saideira?
Quando entrou, Bucky fechou a porta atrás dela e a trancou com um movimento automático. Ele se aproximou, pegou a garrafa de cerveja que ela segurava e, com um gesto rápido, girou a tampa, bebendo um longo gole. Limpou a boca com o dorso da mão e acenou com a cabeça, indicando o sofá.
Enquanto se virava ligeiramente para olhá-la, descansou o braço no encosto, como se se preparasse para uma conversa mais íntima.
— Então, Eugene tem mantido você acordada até tarde? — perguntou, com um tom descontraído, mas curioso.
— Nah, Eugene está dormindo profundamente. — Ela soltou uma risadinha suave e balançou a cabeça. Deu um pequeno gole e, com um olhar direto para ele, seu sorriso se transformou em algo mais tímido. — Não tivemos a chance de conversar hoje à noite. Não sozinhos, pelo menos.
Bucky levantou uma sobrancelha, surpreso pela mudança na dinâmica e, ao mesmo tempo, intrigado.
— É, acho que não — respondeu, tomando outro gole de cerveja enquanto seus olhos permaneciam fixos nela. Colocando a garrafa na mesa de centro, ele se recostou no sofá, buscando um conforto mais tranquilo. — Você tem uma boa vida aqui, . Cachorro, seu próprio lugar, amigos que aparentemente não se cansam da sua comida...
o encarou com um sorriso suave, quase refletindo sobre as palavras dele antes de responder, com uma serenidade que parecia natural para ela.
— Eu gosto dessa minha vidinha — disse, com um brilho de satisfação no olhar, fazendo-o sorrir também. Ela olhou em volta rapidamente, buscando algum tópico de conversa. — Vi você no noticiário hoje... Você e o Capitão América.
— É, eu estava com o Sam. Nada de especial. Só... — Ele fez uma pausa, com a expressão tornando-se mais dura. — Só trabalho, sabe? — Tomou um gole da cerveja, tentando ganhar tempo antes de responder. — O mundo precisa de heróis e o Sam tem sido ótimo nisso. — Ele fez uma pausa antes de continuar, agora mais suavemente. — Às vezes, eu me pergunto se algum dia vou conseguir deixar tudo isso para trás.
— Você quer deixar tudo isso para trás? — o olhou, curiosa.
Bucky parecia hesitar por um momento, sua mente analisando as palavras que queria dizer antes de finalmente falar. Colocou a garrafa de cerveja no chão com um pouco mais de força do que o necessário, seus dedos estalando enquanto ele a apertava com firmeza. Nesse exato momento, Eugene entrou na sala, farejando o ar antes de se jogar entre os dois no sofá. o viu e exclamou, surpresa:
— Eugene! Você está aqui! Como...? Oh, meu Deus.
— Ele pulou suas janelas? — olhou ao redor, surpresa.
— Nah, ele é esperto. Ele provavelmente esperou até eu destrancar a porta da sacada e entrou por lá.
Seus olhares se encontraram, e ele percebeu como parecia genuinamente encantada enquanto acariciava Eugene. Algo naquele momento, tão simples e natural, aqueceu o coração de Bucky, que se pegou sorrindo mais uma vez do que imaginava.
— Ele te segue por aí? — Bucky perguntou, ainda com curiosidade e um sorriso no rosto.
— Ah, não — respondeu, rindo. — Na verdade, não. Ele deve ter ficado preocupado ao me ver na casa de um cara — ela explicou, com um sorriso divertido.
— Parece que ele é um cachorro bem protetor. — Bucky manteve o tom leve enquanto acariciava Eugene, o olhar ainda preso àquela cena inusitada. — Você acha que ele estava te vigiando?
se inclinou na direção de Eugene, falando com ele numa voz doce e brincalhona: — Você estava, bebê?
— Ele deve ter vindo garantir que eu estava sendo um cavalheiro com você. — Bucky soltou uma risada, achando engraçado como falava com o cachorro.
— Não sei como Eugene reagiria se você não estivesse. — riu junto, enquanto passava a mão na barriga de Eugene.
Sentados lado a lado, eles continuaram acariciando Eugene, os ombros relaxados, os sorrisos surgindo com facilidade. Havia algo de leve naquela troca silenciosa, um tipo raro de intimidade que não pedia nada além da presença. O ambiente estava envolto numa tranquilidade quase inusitada, como se o tempo houvesse desacelerado para permitir que ambos simplesmente existissem ali, juntos.
Bucky olhou para e percebeu que estava, de fato, gostando daquele momento. Ao estender a mão de vibranium para coçar atrás da orelha de Eugene, seus dedos tocaram os dela por acidente. Foi um gesto sutil, quase imperceptível, mas suficiente para fazê-lo parar. Ele observou as mãos lado a lado, sentindo ainda o calor do toque, e notou que ela também havia percebido, mas não recuou.
A conversa fluiu com uma naturalidade surpreendente. Bucky falou mais do que imaginava ser capaz. Compartilhou memórias da infância, mencionou as cicatrizes invisíveis que ainda carregava desde seus dias como Soldado Invernal, e falou de Sam — cuja amizade havia se tornado uma âncora inesperada em sua nova vida.
contou que trabalhava como secretária em uma empresa de móveis. Em um tom calmo, quase casual, mencionou que já fora casada. Disse que se casou aos vinte e quatro anos e se divorciou aos vinte e nove. Bucky achou a idade baixa para uma decisão tão definitiva, mas ela explicou, com um sorriso sereno, que na época acreditava estar apaixonada.
Quando ele perguntou como havia superado tudo aquilo, respondeu com tranquilidade. Admitiu que, por um tempo, ficou devastada, mas que hoje estava em paz com a própria história. era muito mais do que aparentava. Mais forte, mais complexa, mais real. E, sem perceber, ele se viu desejando saber mais. Querendo ficar. Querendo, pela primeira vez em muito tempo, conhecer alguém de verdade.
Ele a observou se levantar, recolher as garrafas vazias e deixá-las no balcão com um movimento despreocupado. Havia algo na naturalidade de que o cativava. Ela se movia como se aquele espaço já lhe fosse familiar, e Bucky se deu conta de que gostava disso. Gostava muito.
— Ei! — virou-se para ele, curiosa. Bucky hesitou por um segundo, os olhos fixos nela com uma seriedade que contrastava com o tom leve de sua ideia. — Já que Eugene parece ter me reivindicado como o novo humano favorito dele... Quer que eu o leve para passear amanhã?
— Sério? — pareceu surpresa, mas logo um sorriso suave iluminou seu rosto. — Você faria isso? — Ela riu, balançando a cabeça como se aquilo fizesse todo o sentido. — Bem, se você quiser, tenho certeza de que ele vai adorar. Mas cuidado, ele já é o epítome do mimado.
— Quem sabe? Pode ser que ele acabe gostando mais de mim do que de você até o fim do dia.
— Ele não faria isso com a mamãe. — Depois fez uma pausa e completou, com um olhar resignado: — Quem estou enganando? Ele me trocaria em um segundo.
A sinceridade brincalhona arrancou uma gargalhada de Bucky, que balançou a cabeça em descrença. A ideia de Eugene abandonando a dona por ele era absurda e engraçada, mas também surpreendentemente doce.
olhou para a mesa, então apontou para as garrafas vazias com um meio sorriso. Ele seguiu seu olhar, observando as seis garrafas ali. Voltou a encará-la com um sorriso calmo, sentindo aquela estranha vontade de prolongar a noite, ainda que não houvesse motivo concreto.
Quando fez menção de se levantar, Bucky a acompanhou. Levantou-se com cuidado, os movimentos controlados e contidos. Um nervosismo leve se instalou em seu peito, mas não era o tipo de ansiedade comum.
— Você tá bem pra dirigir? — perguntou com um tom leve, mesmo sabendo que ela morava no mesmo prédio.
— Não se preocupe. Vou pegar o elevador. — riu, os olhos brilhando de diversão. Ele assentiu, e uma risada suave escapou de seus próprios lábios, enchendo o ambiente com uma tranquilidade rara.
— Boa noite, então. — Ele a acompanhou até o elevador em silêncio, os passos lentos, como se cada segundo ali tivesse peso.
— Boa noite — respondeu, com um sorriso leve.
Ela não se mexeu. E isso, mais do que qualquer palavra, o fez perceber que talvez ela também estivesse sentindo o mesmo. Havia algo suspenso no ar entre os dois, algo indefinido, mas carregado de intenção.
O elevador demorava a chegar, como se o universo também quisesse dar mais tempo a eles. Ele queria dizer algo, qualquer coisa, mas sua boca secou, e os pensamentos se atropelaram uns sobre os outros. Tudo o que sabia, de forma clara, era que queria beijá-la. Mais do que qualquer coisa naquela noite.
Tentando escapar da tensão, ele limpou a garganta e se agachou levemente, estalando os dedos:
— Aqui, garoto. — Eugene ergueu a cabeça, preguiçoso, depois a largou novamente no tapete com um suspiro sonoro, completamente desinteressado. — Eugene. Venha aqui, garoto.
— Você pode deixá-lo no elevador e apertar no meu andar mais tarde. Ele sabe o caminho de volta. — riu baixo.
Ela virou-se para encará-lo, e a maneira como seus olhos encontraram os dele fez o coração de Bucky bater mais forte. Havia algo em seu olhar... algo que parecia um convite.
Ele sabia o que queria fazer, mas não sabia se devia. Ainda assim, as portas do elevador se abriram — e ele, sem pensar duas vezes, esticou o braço e apertou o botão de “fechar”.
Suspirando, ele se voltou para ela e encontrou um sorriso satisfeito em seus lábios. Sem que precisasse dizer qualquer coisa, ela se virou com naturalidade e começou a caminhar de volta para o apartamento dele. Bucky a seguiu em silêncio, cada passo seu carregado por uma mistura de nervosismo e antecipação.
Quando a porta se fechou atrás deles, o ambiente pareceu prender a respiração. E, naquele silêncio íntimo, cada detalhe se intensificou. O som suave da respiração dela, o tilintar discreto do metal do braço dele, o leve ranger do piso sob os pés.
Tudo parecia gritar que algo estava prestes a acontecer.
— , eu... — ele começou, a voz rouca, carregada de hesitação. — Você provavelmente conhece a minha história. Estou tentando... tentando viver uma vida normal. Mas não é exatamente uma vida normal. — Ele fez um gesto vago, indicando o braço de metal e tudo o que ele simbolizava. — Estou tentando seguir em frente, de verdade... mas é difícil.
Passou a mão pelos cabelos em um gesto automático, revelando o nervosismo que se escondia por trás de sua postura contida. Foi então que ela deu um passo à frente. Os olhos dela percorreram o rosto dele com calma, como se buscassem algo. Ele parou de falar, em suspenso.
— James — ela disse, com um tom que o fez prestar atenção. — Vou te beijar agora, ok? — disse, com a voz baixa, mas firme. — Dê um passo para trás se quiser que eu vá embora.
Ela respirou fundo e deu mais um passo. Ele não se mexeu. Porque tudo nele gritava para que ela ficasse.
Seu corpo congelou diante das palavras dela. Cada nervo parecia à flor da pele, cada músculo tenso com a antecipação. Ele sabia o que ela estava prestes a fazer. Bucky engoliu em seco, o coração acelerado, a mente girando. Ele podia recuar. Encerrar tudo antes mesmo de começar. Mas seus pés continuaram firmes no chão, os olhos presos aos dela.
Ele fechou os olhos no exato momento em que os lábios dela tocaram os seus. O beijo foi leve, sem pressa, como se testasse as águas. E então, ela se afastou, deixando no ar apenas o eco de seu toque.
Um sorriso involuntário se formou em sua boca — suave, quase tímido. Surpreendeu até a si mesmo com a leveza que tomou conta de seu peito. Deu um pequeno passo à frente, testando os limites. Os olhos dele voltaram aos lábios dela, como se quisesse memorizar a sensação. Deu mais um passo.
— Você é um problema, sabia disso? — murmurou. Ele se inclinou, depositando um beijo rápido e estalado em seus lábios.
— Tenha uma boa noite, James.
Então se afastou com naturalidade, estalando os dedos para Eugene, que a seguiu obedientemente.
Ele não se mexeu. Ficou parado, os olhos fixos na porta fechada. O coração ainda acelerado, a respiração descompassada. Soltou um suspiro profundo, percebendo só então o quanto estivera tenso.
— Merda — murmurou para si mesmo.
O apartamento mergulhou no silêncio, quebrado apenas pelo som da própria respiração. Ele passou a mão pela testa, sentindo o início de uma dor incômoda, mas o que mais o perturbava era o turbilhão dentro do peito — emoções que ele mal conseguia nomear, muito menos controlar.
Os encontros não eram planejados. Às vezes, ele a encontrava esperando no elevador com um café extra na mão. Outras, ela apenas aparecia no parque com uma desculpa qualquer, tipo "Eugene quis sair de novo", mesmo que o cachorro ainda estivesse meio sonolento. Os beijos continuavam do mesmo jeito: rápidos, escondidos, como se fossem contrabandeados. Um toque breve no elevador, um roçar de lábios no corredor antes que alguma porta se abrisse.
Bucky se pegava esperando por esses momentos como quem espera por ar depois de muito tempo debaixo d’água.
Bucky apareceu à porta de com Eugene na coleira, o cheiro fresco da noite ainda grudado nas roupas. A caminhada tinha sido longa e silenciosa, exatamente como ele gostava. Quando ela abriu, um sorriso natural — quase automático, mas cheio de ternura — iluminou seu rosto ao vê-los.
Ela não disse nada de imediato. Apenas se virou com naturalidade e voltou para a cozinha, como se a presença dele ali fosse parte da rotina.
— Biscoitos? — perguntou enquanto a observava organizar as forminhas sobre a forma.
— Elton deixou um bilhete fofo pedindo — respondeu, sem tirar os olhos da massa. — Embora eu ache que ele esteja tentando usar meus biscoitos como arma de sedução. De novo.
— Como naquela vez em que ele disse que tinha feito tudo sozinho? — Ela assentiu, rindo. — Elton sendo Elton — ironizou, soltando a guia do cachorro, que trotou livremente pelo apartamento, farejando o chão com familiaridade. Depois, sentou-se com a calma de quem sabia que não precisava ir embora tão cedo. — Quanto tempo até esses biscoitos ficarem prontos?
— Uma hora e meia. Como foi a caminhada?
— Foi boa. Silenciosa. Eugene se comportou.
— Ele correu atrás dos esquilos?
— De todos. Nenhum escapou.
Ela sorriu, distraída, e coçou o nariz com o dorso da mão, sem perceber o traço branco de farinha que ficou para trás. Bucky franziu um sorriso, deu um passo em sua direção e ergueu a mão. Ela ergueu os olhos devagar, encontrando os dele.
— Obrigada. — Revirou os olhos com um meio sorriso, como se voltasse a si, e então, num gesto rápido, ficou na ponta dos pés, depositou um beijo breve e inesperado na bochecha dele e voltou à rotina.
Eugene deu uma fungada alta, como se estivesse impaciente com o silêncio, e Bucky, meio rindo, coçou a orelha do cachorro, tentando recuperar o fôlego que nem tinha percebido que perdera. Ela fechou o forno com um leve estalo metálico e se virou para ele, limpando as mãos num pano de prato pendurado à cintura.
— Vai querer chá?
— Se for aquele de camomila que você disse que combate guerras interiores, eu aceito.
Ela sorriu, pegou a chaleira e se virou para enchê-la de água. Ele a observava em silêncio enquanto ela se movia pela cozinha. Era um espaço simples, mas aconchegante — e ela parecia fazer tudo ali ter vida.
— Você sempre observa tudo assim? — colocou a chaleira no fogo e se apoiou na bancada, lançando-o um olhar por cima do ombro.
— Assim como? — Ela o olhou com a cabeça levemente inclinada, um sorriso contido brincando nos lábios, como se estivesse provocando sem dizer uma palavra. Ele soltou um meio suspiro, deu de ombros com naturalidade, e um sorriso suave surgiu no canto da boca. — Gosto disso aqui — Bucky disse, com a voz mais baixa, carregada de uma sinceridade tranquila que não precisava de esforço para ser sentida.
— Do quê?
— Dessa sensação. De... paz. De normalidade. — A cozinha quente. O cheiro de biscoitos começando a preencher o ar. O som da chaleira se acalmando. E ela ali, rindo de coisas pequenas e oferecendo chá como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Boa companhia, boa comida... e às vezes, uns bons beijos — completou, dando de ombros com fingida despreocupação, embora o calor do sorriso que se espalhou pelo rosto o traísse completamente.
— Eu amo como você diz “boa companhia” olhando para o Eugene e não pra mim — retrucou, entre risos, antes de beliscar de leve o braço dele.
— Ai! Ei! — protestou, fazendo uma careta dramática enquanto levava a mão ao lugar, como se tivesse levado um golpe sério. — Mas, para constar nos registros oficiais, beijar você é bem mais agradável do que beijar um cachorro.
— Oh, obrigada. — Ela soltou uma risada curta, com uma expressão que misturava diversão e falsa indignação. — Que elogio encantador. Realmente o que toda garota quer ouvir. Cuidado, soldado!
— Ou o quê? Vai me empurrar de novo? Me dar um soco? Trocar meus biscoitos por petiscos de cachorro?
— Muito engraçado. — deu uma risada, balançando a cabeça. Depois, tirou o avental e se aproximou devagar. — Ei, James... — Ele se endireitou um pouco, o nome dito daquele jeito fazendo o peito dele se aquecer. — Eu quero te levar para um encontro.
Por um segundo, ele piscou, surpreso — não pelo convite em si, mas pela forma como ela dissera, tão simples e direta, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E foi assim que Bucky Barnes foi, pela primeira vez, a um encontro com .
Ele achou curioso que ela tenha sugerido uma terça-feira. Um dia comum, no meio de uma semana qualquer. Tinha imaginado que ela preferiria o fim de semana. Quando a noite chegou e ele estava prestes a sair de casa para descer até o andar dela, foi surpreendido por uma batida suave na porta.
— Ei... Eu estava prestes a descer. — Bucky abriu a porta, parecendo surpreso ao vê-la ali.
— Está tudo bem. Me arrumei cedo. Estava animada — respondeu com simplicidade, sem esconder o entusiasmo, como quem não via problema em parecer um pouco ansiosa. — Podemos ir?
Bucky observou o reflexo dela nas paredes espelhadas do elevador e, por um segundo, perdeu o foco em tudo ao redor. Havia algo na maneira como ela brincava com uma mecha de cabelo, como respirava fundo, como seus olhos evitavam os dele. E então ele percebeu.
— Nervosa? — Seus olhos estavam fixos nela, observando o modo como ela evitava o olhar dele por um momento, como se estivesse tentando esconder a leveza de seus sentimentos.
— Por que eu estaria? — Ela soltou uma risada, rápida e um pouco nervosa. — Só convidei o infame Soldado Invernal para um encontro. E, acredite ou não, ele disse sim.
A leveza na forma como ela disse isso fez com que Bucky soltasse uma risada baixa, que se espalhou pela cabine do elevador, aquecendo o ambiente. Ele a observou com uma expressão brincalhona, um sorriso travesso tomando forma em seus lábios.
— Eu sei que sou uma celebridade, mas não acho que meu status de "infame" seja tão merecido. — Ele falou com um tom de brincadeira.
O elevador finalmente chegou ao andar desejado, e antes de sair, Bucky lhe deu um sorriso suave, mais profundo do que qualquer palavra poderia expressar. Eles saíram e caminharam lado a lado por algumas quadras até chegarem a um cinema de bairro, afastado do centro. Era simples, com uma fachada iluminada por luzes antigas e cartazes nas vitrines. Ela parou e olhou para ele, um pouco tímida agora.
— Eu pensei... talvez você fosse do tipo que gosta de coisas mais simples, mais calmas. — Ela deu de ombros, sem fazer muito alarde sobre o esforço que havia colocado no planejamento da noite. — E você também não parece gostar de lugares cheios. Quando você fala de sair, geralmente fala sobre fugir das multidões. Então pensei que um filme em uma terça-feira à noite fosse o melhor, as sessões de terça quase nunca lotam..
— Você presta atenção — murmurou. — Não gosto mesmo de multidões. Muita gente, muita variável... e eu preferiria não ter um ataque de pânico na sua frente no nosso primeiro encontro.
Ela sorriu, um pouco surpresa pela sinceridade dele, mas seus olhos permaneceram fixos nos dele, como se não quisesse perder nem um segundo daquela troca. Ele, por sua vez, não conseguiu deixar de sorrir também, sentindo uma sensação de tranquilidade que o surpreendia.
Algo simples, como um encontro, que ele sempre imaginara cheio de nervosismo e incertezas, se transformava em algo confortável, quase natural.
Eles se acomodaram na fileira de trás do cinema, sentando-se lado a lado, os assentos acolhedores criando um pequeno espaço só para eles. As luzes da tela iluminavam seus rostos de maneira suave, quase mágica, criando uma atmosfera de intimidade.
No meio disso tudo, ele se virou um pouco para ela, a voz baixa, como se ponderasse suas palavras antes de pronunciá-las: — Posso te perguntar uma coisa estranha? — Ele se mexeu um pouco no assento, aproximando-se levemente. — Você pode mudar para a minha direita? Eu... Eu queria segurar sua mão, mas...
Ela sorriu ao entender o que ele estava pedindo, e a sinceridade dele a fez se sentir à vontade. Sem hesitar, ela respondeu, a voz suave e reconfortante.
— Eu não me importo com isso, Bucky. — Ele seguiu o olhar dela, que foi direto ao seu braço de vibranium, ainda coberto pela jaqueta.
— Sim, eu sei, mas... — murmurou, a voz hesitante. — Mas... É metal frio, e eu não quero que você fique desconfortável.
Ela o observou, uma suavidade na maneira como a olhava, e então, com um sorriso suave, disse, com um tom leve, quase divertido:
— Só porque você disse que queria segurar minha mão.
As palavras dela, cheias de leveza, tiraram qualquer peso que restava no ar. Ele soltou uma risada suave, mais solta, pegando um punhado de pipoca e lançando algumas em direção a ela. Ela se esquivou, rindo também.
O filme começou, mas o silêncio entre eles persistiu. Ele olhou para ela de soslaio, sentindo uma paz tranquila emanando de sua presença. O único som era o projetor, suave e constante, quebrando a quietude. Mas aquele silêncio, de alguma forma, se tornou confortável, como uma companhia silenciosa.
Quando as prévias começaram, ele não resistiu. Virou a cabeça em direção a ela, seus olhos agora fixos no rosto dela, suavemente iluminado pela tela. Sem pensar muito, deixou o polegar deslizar pela parte de trás da mão dela, um gesto leve, como se quisesse garantir que aquele momento fosse real.
— Eu não faço isso há... uma eternidade.
Ela olhou para ele, o sorriso sereno, como se soubesse exatamente o que ele queria dizer, sem pressa de responder.
— Espero que você tenha uma boa noite, então.
Durante uma cena silenciosa, ele esfregou suavemente o polegar nos nós dos dedos dela, um gesto tão natural que ele nem percebeu fazer. O filme se perdeu em um fundo distante e ele se viu completamente absorvido por aquele simples toque. Ela percebeu o foco dele e, sussurrando suavemente em seu ouvido, quebrou o silêncio:
— Ei... você está perdendo o filme.
— Certo... O filme... — murmurou, olhando para a tela, mas seus olhos estavam dispersos, ainda absorvendo o que acontecia ali, mas principalmente o que acontecia entre eles.
Ele tentou se concentrar nas imagens que passavam na tela, mas a proximidade dela tornou isso cada vez mais difícil. O aroma suave do perfume dela, misturado com a pipoca e o refrigerante, preencheu seus sentidos, criando uma atmosfera nostálgica. Ele se viu transportado para um tempo em que ia a encontros com garotas, sem se preocupar se era mais de uma por semana. Havia uma leveza naquele período, uma liberdade despreocupada, onde os encontros eram simples e sem compromisso, apenas momentos para se perder no tempo.
Mas agora, com ao seu lado, a memória daqueles dias se misturava com algo novo. A proximidade dela, o calor de sua presença, eram diferentes de qualquer outro encontro que ele tenha tido.
Os ecos do passado começaram a se dissipar, substituídos pela intensidade do agora.
Ele a observou, distraído, enquanto ela virou o rosto para ele. Seus olhares se encontraram por longos segundos, como se o mundo ao redor tivesse simplesmente desaparecido. Ela manteve os olhos fixos nos dele, e havia algo no brilho do olhar dela que o fez se sentir vulnerável, exposto de uma maneira que ele nunca imaginou ser possível.
— Vou beijar você de novo, James Barnes.
Ele sorriu, um sorriso tímido, que mal pode esconder o turbilhão de emoções que agora tomava conta dele.
— Já era hora.
Não havia mais espaço para palavras. Ele se inclinou para ela, não mais com pressa, mas com a calma de quem sabe que este momento é único. Seus lábios se encontraram com suavidade, um beijo lento, como se o tempo tivesse desacelerado para que eles pudessem saborear cada segundo.
Ela se derreteu contra ele, sem esforço. Seus lábios se ajustando com uma naturalidade desconcertante. Ele segurou o rosto dela com sua mão de vibranium, o polegar acariciando sua bochecha enquanto se inclinava, aprofundando o beijo com delicadeza.
Quando o filme terminou, eles retornaram ao prédio em silêncio. O som do elevador preenchia o espaço, mas, de alguma forma, a quietude entre eles parecia natural, confortável. Até que, ao ver ela apertando o botão para o andar dele, e não o dela, ele franziu a testa, surpreso. Seus olhos se estreitaram e um toque de confusão se espalhou por seu rosto, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.
Ele se virou para ela, cruzando os braços sobre o peito, um gesto descontraído, mas que indicava que algo estava fora de lugar. Ele a observou por um momento, sem conseguir disfarçar a surpresa.
— O seu é dois andares abaixo.
Ela apenas riu suavemente, sem nem um pingo de constrangimento, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Ela saiu do elevador, estendendo a mão para ele com um sorriso maroto no rosto.
— Eu te convidei para um encontro, te peguei na porta e vou te deixar na porta, como um verdadeiro cavalheiro — disse ela, com um tom travesso, quase desafiador.
— Uma mulher bonita me deixa na minha porta como um cavalheiro? De jeito nenhum. — Ele deu uma leve risada, como se estivesse cético diante da ideia.
Ela o olhou com um brilho nos olhos e uma expressão divertida, como se soubesse exatamente o que queria causar.
— Se você quiser fazer o oposto, então me convide para um encontro na próxima vez.
Alguns dias depois, Bucky finalmente se sentiu pronto para convidá-la para o encontro que ela merecia. Ele aguardou o momento certo e, quando chegou, se viu diante do espelho às 19h em ponto, ajustando a gravata preta com cuidado. Um sorriso satisfeito apareceu em seus lábios enquanto dava os últimos retoques, sentindo-se bem-preparado. Porém, por dentro, uma mistura de expectativa e nervosismo crescia, difícil de controlar. Ao chegar à porta de , ele respirou fundo, tentando se acalmar. Ajustou sua postura, mantendo a expressão séria antes de bater suavemente. Quando a porta se abriu, ele se surpreendeu ao vê-la.
estava deslumbrante, como ele ainda não a tinha visto. Usava maquiagem, saltos e um sorriso que iluminava seu rosto.
O restaurante italiano, que havia sussurrado no ouvido dele ser sua comida preferida, tinha um ambiente intimista. A luz suave das velas criava uma atmosfera acolhedora, enquanto a música jazz, suave e envolvente, preenchia o ar, tornando o cenário ainda mais perfeito para aquele momento. À medida que a noite avançava, a sensação de intimidade aumentava. As conversas baixas ao redor pareciam se dissolver, como se o resto do mundo estivesse em pausa.
Ao saírem do restaurante, a brisa fresca da noite acariciava seus rostos. A cada passo, Bucky sentia o peso das incertezas do mundo, mas, ao caminhar ao lado de , com a mão apoiada suavemente na lombar dela, todas as dúvidas pareciam desaparecer. Estar com ela ali, naquele momento, trazia uma paz silenciosa, como se o caos ao redor não importasse, e ele estivesse exatamente onde deveria estar.
No caminho para o prédio, já dentro do elevador, o silêncio entre eles se tornava confortável, mas ele não conseguiu evitar o impulso de falar. Olhou para ela, tentando esconder a ansiedade que começava a tomar conta dele.
— Seria totalmente inapropriado se eu convidasse você para entrar? — A pergunta saiu com um toque de vulnerabilidade, e ele percebeu que, pela primeira vez naquela noite, estava se permitindo sentir inseguro. — Não que eu não queira que você...
— Poderíamos ficar no corredor, Bucky, eu não me importaria — ela disse, com uma tranquilidade que só ela tinha, enquanto o elevador se aproximava de seu andar.
Ele respirou fundo e se endireitou, tomando um momento para se recompor antes de se virar para destrancar a porta. Abriu a porta, segurando-a com um sorriso discreto. entrou, se abaixando para tirar os saltos, onde ele, com um gesto delicado, se aproximou para ajudá-la.
Dentro do apartamento, a luz baixa criava uma atmosfera serena. Ele fechou a porta atrás dela e trancou, o som do fecho ecoando levemente no silêncio entre eles. Quando se virou para encará-la, ainda apoiado na porta, a distância entre os dois parecia não ser mais do que um simples detalhe.
— Então... — ele começou, a voz suave, como se buscasse as palavras certas. Ele não estava mais tão seguro quanto antes, mas algo no jeito dela fazia com que ele sentisse que poderia ser vulnerável ali. — Obrigada pelo encontro. Foi... perfeito.
— Obrigada por me convidar.
Ele deu um passo mais perto e, com um sorriso leve, falou mais baixo, quase como um sussurro: — Você me faz sentir... normal. Não, melhor que normal. — A última frase saiu com um tom de vulnerabilidade. — Como um homem, em vez de... o que quer que eu tenha sido antes.
Eles ficaram ali, em pé, um na frente do outro, as palavras flutuando no ar, mas a conexão entre eles mais forte do que qualquer coisa dita. Então, ela voltou o olhar diretamente para ele, os olhos fixos nos dele. Um sorriso sutil despontou nos lábios dela, inclinou levemente a cabeça, observando cada nuance da expressão dele.
— A maneira como você me olha... — disse, com um sorriso sutil. — É impressionante, Sr. Barnes.
Bucky não respondeu de imediato. Em vez disso, manteve os olhos nela, absorvendo cada segundo daquela troca. Sua mão se moveu suavemente para pegar uma mecha do cabelo dela, observando seu rosto. Ele não conseguiu evitar sussurrar: — Linda.
— Só quando tento impressionar um cara.
Com um gesto quase imperceptível, ele se aproximou ainda mais, até sentir o calor da respiração dela, e com uma mão firme, mas suave, ele segurou o queixo dela, inclinando sua cabeça para que seus olhares se encontrassem com mais intensidade.
— Missão cumprida.
Com um gesto delicado, ele pegou outra mecha de cabelo dela e a colocou atrás da orelha, os dedos demorando em sua bochecha, como se o toque fosse um gesto de carinho que não queria terminar.
— Bucky? — Ele pausou ao ouvir o som do seu nome e um arrepio percorreu sua espinha ao perceber como ele soava nos lábios dela. — Se você não estiver... pronto para isso, se não estiver confortável, eu posso ir para casa. Está tudo bem, eu prometo.
— Eu não estou... Eu estou... nervoso, talvez. — Suas mãos ficaram desajeitadas, pairando ao lado do corpo, antes de se enfiar nos bolsos. — Não é que eu não queira. É só que... Eu nem tenho mais certeza do que é normal ou não. Não tem nem um ano que encontrei um guaxinim que veio do espaço e tentou roubar meu braço enquanto eu dormia. — Eles dois riram suavemente com a recordação. — Eu não... — Bucky fechou os olhos, envergonhado. — Faz anos desde a última vez que estive com uma mulher, . Eu não quero estragar isso. E agora, eu sou apenas uma bagunça. Não sou o tipo de homem que você deveria olhar como se eu fosse digno de alguma coisa.
Ela ficou parada diante dele, absorvendo suas palavras. Sua expressão não revelava julgamento, apenas compreensão. Ela se aproximou, gentilmente puxando suas mãos dos bolsos, entrelaçando os dedos com os dele.
— Bem... — Ela deu um passo mais perto, o sorriso suave, quase como se quisesse deixar claro que ele estava prestes a ouvir algo importante. — Eu gosto desse cara, bonito, doce, tímido e meio fofo. — Ela riu baixinho, se divertindo com a maneira como ele ficava um pouco sem jeito. — Estou aqui, caindo por esse cara que passeia com meu cachorro, que me leva para encontros sem nem perceber que um simples esbarrão no corredor é um encontro para mim. — Ela suspirou, tocando o botão da camisa dele, fazendo o movimento parecer casual, mas, ao mesmo tempo, carregado de significado. — Para mim, você é apenas um cara, Bucky Barnes.
— Só um cara...
— Só um cara — confirmou.
Os olhos dele seguiram o movimento do dedo dela, traçando o botão de sua camisa e depois subiram novamente para o rosto dela. Ele queria argumentar, queria dizer que ela estava errada. Bucky respirou fundo e, com uma suavidade que surpreendeu até a si mesmo, estendeu a mão, cobrindo a dela com a sua.
— Estou tentando, . — A voz dele saiu rouca, como se a confissão fosse difícil, como se ele tivesse acabado de abrir uma parte de si que temia há muito tempo. Ele levantou a outra mão e segurou o rosto dela, os polegares roçando suavemente suas bochechas, como se fosse um gesto de carinho, mas também de reverência. — Estou tentando ser só um cara.
— Não leva isso tão a sério, James. — Ela se aproximou, o sorriso dela agora mais provocador. — Só estou tentando curtir nosso encontro. Você não está? Se sim, o que está esperando para me beijar?
Bucky olhou para os lábios dela, e de repente, a leveza do momento desapareceu, substituída por algo mais intenso. Seu sorriso sumiu, e um olhar carregado de desejo tomou conta de seu rosto.
— Isso é um convite? — Sua mão de metal se ajustou levemente na cintura dela, e ele observou com atenção, como se esperasse por um sinal. Ela se apoiou contra a parede, os olhos dela fixos nos dele com uma intensidade que fazia o coração de Bucky bater mais rápido.
— Por que você não descobre? — ela provocou, o sorriso travesso brincando em seus lábios. — Pode ser uma ordem, Sargento.
O beijo começou lento, quase tímido, como se ambos estivessem explorando com cuidado o que já sabiam que era inevitável, mas logo se intensificou, como se o desejo que haviam contido por tanto tempo tivesse finalmente encontrado uma saída. A mão de metal dele deslizou pelas costas dela com firmeza, mantendo-a colada ao seu corpo, enquanto a outra se fixava na cintura dela. Quando ele finalmente se afastou, a respiração ofegante de ambos preenchia o silêncio.
— Acho que acabei de quebrar todas as regras do livro sobre encontros. — Ele passou a mão pelos cabelos, sorrindo de maneira tímida, mas com satisfação evidente. Seus olhos, no entanto, não deixavam transparecer nenhum arrependimento.
— Que regras são essas? — deu beijos contínuos em seu maxilar, com um sorriso travesso.
Ele não conseguiu conter uma risada baixa, fechando os olhos por um momento para saborear a sensação do toque dela.
— Coisas básicas, como ir devagar, evitar beijar logo no primeiro encontro...
— Ah, então, nós ferramos tudo.
— Especialmente porque, no nosso primeiro encontro, no cinema... Bem, você... eu...
— Então eu tentei te assediar um pouco? Grande coisa — brincou, segurando a gola da camisa dele. Bucky jogou a cabeça para trás, rindo baixinho. Ele adorava como conseguia manter o tom leve e brincalhão em momentos que poderiam ser de tensão.
— Sim, você só tentou me apalpar, não foi nada demais!
— Sabe que... — Ela esfregou o nariz no dele, empurrando-o gentilmente em direção à parede mais próxima. — Você poderia ter feito o mesmo comigo naquele dia, mas estava ocupado sendo um cavalheiro.
Bucky a puxou para mais perto e capturou seus lábios em um beijo intenso, carregado de tudo o que haviam segurado até ali. Suas mãos deslizaram pelo corpo dela com uma mistura de urgência e cuidado. Quando o fôlego começou a faltar, ele afastou os lábios dos dela, mas não se distanciou. respirou fundo e tombou levemente a cabeça para o lado, um gesto sutil, porém, de entrega. Ele entendeu o convite sem que nenhuma palavra fosse dita. Deslizou o nariz pelo pescoço delicado antes de pressionar os lábios ali. O toque foi quente, lento, como se ele quisesse explorar cada centímetro com reverência.
— Você... — ele murmurou contra seus lábios quando o puxou pelo quadril, para ainda mais perto. Bucky deslizou a mão do rosto dela para baixo, mantendo a mão perto do seio dela antes de deslizar lentamente para cima, tocando-a através do tecido — é, realmente, um problema, .
O silêncio entre eles se prolongou por alguns segundos, denso. deu um passo à frente, as mãos dele ainda repousavam sobre o corpo dela.
— Vamos fazer isso de novo? Ou é apenas algo... casual? — Os olhos de Bucky buscavam os dela, intensos. Ele era um homem acostumado a não ceder, entretanto, ali, diante dela, esperava. Vulnerável, embora disfarçasse sob a intensidade do olhar.
respirou fundo, sem desviar. Levou a mão até a dele, pousada ainda sobre seu seio, e entrelaçou os dedos dele com os seus num gesto lento, íntimo, quase sereno.
— Podemos fingir que é casual... — murmurou, como quem planta uma ideia para o futuro, sua voz carregava ironia e doçura em partes iguais. — Até o dia em que você aparecer para levar o Eugene para passear... e eu estiver lá, inesperadamente, usando apenas calcinha.
Ela terminou com um sorriso enviesado, quase inocente, como se não tivesse acabado de incendiar o ar entre eles. Sem pensar duas vezes, abalado com o toque dela e suas palavras, Bucky a beijou intensamente. Eles caminharam pela sala pequena, ainda imersos no beijo, sem pressa alguma de se separarem. As mãos dele exploravam a pele de e ela correspondia com a mesma intensidade, as respirações se misturando no ar.
sentiu o quadril encontrar a beirada da pequena mesa de jantar, o leve impacto rompendo por um instante o ritmo do beijo. Bucky, com os olhos focados nela, apoiou as mãos na mesa, bem ao lado de seu quadril, como se estivesse se preparando para um novo movimento. Mas foi ela quem assumiu o controle. Com as mãos, segurou o rosto dele, suavemente, trazendo uma pausa cheia de expectativa entre eles. Seus olhos se encontraram por um breve segundo e com um sorriso pequeno nos lábios, ela se inclinou, descendo a boca pelo pescoço dele em um beijo quente e deliberado.
Bucky estremeceu, engolindo em seco, os ombros se retesando. A pele formigou sob o toque dos lábios dela, e uma onda de calor percorreu sua espinha, tão rápida quanto impossível de ignorar. A respiração dele ficou mais pesada. Sem conseguir controlar, ele se apoiou ainda mais contra a mesa, e, no movimento brusco, o móvel balançou com força. No reflexo, Bucky a agarrou pela cintura com firmeza, puxando-a para mais perto. , tomada pela surpresa e pela intensidade do momento, arfou assustada, apertando-se contra ele, seus dedos se enrolando em sua camisa.
O som do impacto foi inevitável: a mesa desabou com um estrondo pesado, suas pernas quebradas cedendo com um barulho alto que ecoou pela sala. O que poderia ser um desastre se transformou em uma cena rápida demais para ambos pensarem. Apenas o calor entre eles, o toque constante, e a sensação do corpo de ainda colado ao dele, permaneciam.
e Bucky ficaram em silêncio por alguns segundos, observando a mesa partida no chão, as pernas quebradas e o impacto da situação ainda pairando no ar. Foi um momento bizarro, mas também engraçado, e a tensão no ar parecia derreter.
foi a primeira a quebrar o silêncio, com um sorriso travesso que se espalhou pelo rosto dela, iluminando seus olhos de uma maneira irresistível: — Acho que você vai precisar de uma mesa nova.
Bucky, ainda em choque pela queda repentina, não pôde evitar uma risada involuntária. Sua risada saiu fácil, sem resistência, como se aquele momento único fosse simplesmente inevitável. A proximidade deles, o toque de em sua cintura, tudo o que ele mais queria no momento, fez sua risada ainda mais leve, mais verdadeira.
— É, acho que sim.
Ele olhou para a mesa caída no chão, depois para ela, e não conseguiu conter o riso. A risada dela se misturou a dele, criando uma cumplicidade inesperada, como se aquele desastre doméstico tivesse selado um pacto silencioso entre os dois. A leveza do momento dissolveu qualquer tensão, e por alguns segundos, riram como se o mundo ao redor tivesse parado ali, entre cacos de madeira e respirações entrecortadas.
Ainda tentando recuperar o fôlego, com os olhos brilhando de diversão e uma fagulha de desejo mal resolvido, Bucky a observou. Por um instante, a leveza no olhar dela deu lugar a algo mais intenso. A brincadeira se desfez em silêncio e o que restou foi uma verdade crua e desarmada.
Nos olhos dela, Bucky enxergou sinceridade, gentileza e um calor que parecia aquecer até as partes dele que há muito tempo acreditava frias demais para sentir qualquer coisa. Ali, tão perto, viu tudo o que sempre desejou.
E talvez até mais do que achava merecer.
Isso o assustou, pois, naquele exato momento, ele soube que estava se aproximando demais. Já não era apenas atração, nem apenas companhia. Havia algo ali crescendo de forma silenciosa e constante, que ele não conseguia nomear. Ele não sabia exatamente o que era e talvez não estivesse pronto para descobrir.
Porque dar nome àquilo significava admitir que importava. Que ela importava. E isso era um passo grande demais para Bucky Barnes naquele momento.
FIM!
Nota da autora: Pois é, James Barnes, sobrou pra ti. Eu também não sei pq escolhi o Bucky, mas falando sério, quem melhor pra se adequar a Sharpest Tool do que um meio dodói da cabeça que se desespera quando vê que a mulher já é dona da vida dele sem ele nem perceber???