
Revisada por:
Aurora Boreal 💫
Finalizada em: Maio/2025
Capítulo Único
era impossível de ignorar. Desde o momento em que seu nome explodiu nas paradas, o Brasil inteiro se curvou ao seu carisma. Voz marcante, presença magnética, personalidade afiada. Ela sabia o que causava, e adorava cada segundo disso. Entre capas de revista, turnês nacionais e manchetes recheadas de especulações, era o tipo de mulher que deixava um gosto na boca. Forte, quente, inesquecível. era seu completo oposto. Herdou a Estratégia aos 25 anos, quando o pai decidiu ‘passar o bastão’, mas ninguém duvidava que ele já comandava tudo nos bastidores havia muito tempo. Inteligente, ambicioso e reservado, construiu uma reputação impecável como um dos empresários mais influentes da nova geração. Visionário. Sério. Quase intocável.
Exceto por .
Eles se conheciam desde sempre. Suas famílias circulavam pelos mesmos eventos, os mesmos jantares de gala, os mesmos bastidores de um mundo onde influência valia mais do que afeto. E sempre soube como deixá-lo desconcertado. Bastava um comentário sussurrado, um olhar malicioso, uma provocação com um sorriso preguiçoso nos lábios. tentava manter a postura, mas era impossível negar que ela mexia com ele de um jeito que ninguém mais conseguia. Mesmo com suas namoradas perfeitamente entediantes, ele sempre acabava voltando, de um jeito ou de outro. E agora, o destino tinha decidido brincar com eles mais uma vez. seria o novo rosto da campanha nacional de uma marca de café premium. E a Estratégia, claro, ficaria responsável por toda a criação e execução do projeto. E quem lideraria a campanha?
.
Ela chegou à primeira reunião com vinte minutos de atraso, um vestido justo demais, salto alto e um par de óculos escuros que não escondiam o deboche em seu sorriso.
“Pronto pra mais uma dose, ?“ perguntou, sem tirar os óculos. “Ou ainda não superou a última?”
Ele não respondeu. Só a encarou por tempo demais para ser educado, mas a verdade era simples: a última dose ainda queimava na memória como café recém passado.
☕️ FLASHBACK ON - Alguns meses atrás… ☕️
O evento era uma daquelas noites de gala que costumava comparecer apenas por obrigação. Traje preto, discursos longos, taças de champanhe e sorrisos forçados. Só que, naquela noite, algo estava diferente — ou melhor, alguém. estava no palco, encerrando a cerimônia com uma apresentação surpresa. A luz dourada realçava o vestido justo, o batom vermelho e a forma como ela parecia cantar só pra ele. Os olhares se cruzaram algumas vezes, como sempre, mas havia algo a mais ali. Algo que o deixava inquieto. Talvez fosse o fato de que ele havia terminado um relacionamento poucos dias antes, ou talvez o incômodo fosse o quanto sentia falta daquela provocação irritante que só ela sabia fazer. Quando a música acabou, ela desceu do palco devagar, agradecendo os aplausos, até os olhos encontrarem os dele mais uma vez. Ela não sorriu. Apenas levantou uma sobrancelha, como quem dizia ‘vai continuar fingindo que não quer falar comigo?’
não resistiu.
Minutos depois, os dois estavam de frente no salão principal. Ela, com uma taça de espumante na mão e um olhar de quem estava no controle. Ele, com o maxilar tenso e as mãos no bolso, tentando manter a compostura.
“Vai me dar os parabéns ou vai continuar com essa cara de quem engoliu uma pedra de gelo?” provocou, com a voz baixa, íntima.
“Achei que estivesse ocupada demais cantando pra outro cara” ele rebateu, o tom mais áspero do que gostaria.
riu. Um som leve, quase doce, que contrastava com o veneno por trás das palavras:
“Engraçado… pareceu que era você quem estava me assistindo de boca aberta.”
“Você adora provocar, né?” Ele deu um passo mais perto.
“Só porque você adora ser provocado.”
Foi o suficiente. No fim do evento, sem pensar direito, ele a seguiu. O som dos saltos de ecoava no corredor enquanto ela caminhava até o camarim. Ela sabia que ele estava atrás, mas não se virou. Só abriu a porta e parou na entrada.
“Vai entrar ou vai continuar fingindo que não sente nada?” murmurou, sem olhar pra trás, e ele entrou como quem não devia, mas também como quem não conseguia evitar, fechando a porta logo em seguida. “Terminou com a loirinha já?”
“…”
“Não tô julgando. Acho bonitinho esse ciclo eterno de ‘vou fingir que você não existe’ e depois me seguir até o camarim.” Então ela se aproximou dele e continuou: “Você é patético…” sussurrou, mordendo o lábio. “Finge que me odeia, mas não consegue ficar longe.”
“Eu não te odeio…” ele respondeu, a voz tensa. “Eu só não consigo te ter.”
deu um passo. Depois outro. Agora estavam frente a frente.
“Isso nunca te impediu antes.”
Ele tentou resistir, mas quando ela encostou os dedos na gola da camisa dele, puxando-o para perto, tudo desabou.
O beijo foi urgente, cheio de raiva e desejo contido, os toques impacientes. Era como se tudo o que haviam reprimido por meses tivesse explodido ali, entre cabides, espelhos iluminados e o perfume dela impregnando o ar. segurou sua cintura como se quisesse manter o controle, mas riu contra sua boca.
“Não adianta tentar, . Comigo, você nunca vai ter o controle.”
Ele não respondeu. Estava ocupado demais perdendo completamente o juízo.
☕️ FLASHBACK OFF ☕️
piscou, como se a lembrança tivesse invadido o presente sem pedir permissão. O gosto daquela última noite ainda estava ali: o perfume dela, a risada no escuro, os sussurros entre beijos e provocações. E agora ela estava bem ali, sentada à mesa da sala de reuniões da Estratégia, cruzando as pernas lentamente e encarando-o com aquele mesmo olhar que precedia o caos.
“Vai continuar me olhando assim ou já esqueceu como se fala?” provocou, agora tirando os óculos escuros e apoiando o queixo nas mãos.
respirou fundo.
“Se eu soubesse que a estrela da campanha era você, teria reconsiderado o contrato.”
“Hum… mentira. Você teria assinado em dobro” ela rebateu, com um sorriso curto. “Sua equipe sabe que eu vendo. E você também sabe.”
apertou a mandíbula. Não podia negar isso. era a escolha perfeita para a campanha: carismática, desejada, impossível de ignorar. A marca de café queria algo ousado, sensual, moderno. Ela era tudo isso. Mas tê-la ali, naquele ambiente que sempre foi sob o controle dele, bagunçava tudo.
“Vamos ao que interessa” ele disse, tentando retomar o tom profissional. “A campanha precisa ser ousada, mas sofisticada. Nada vulgar.”
“Que pena…” disse, mordendo o lábio inferior, provocando de novo. “Achei que você gostasse de um pouco de vulgaridade… de vez em quando.”
Os olhares se cruzaram. Silêncio.
Um membro da equipe pigarreou, tentando quebrar a tensão palpável que enchia a sala. soltou o ar devagar, recostando-se na cadeira, de olhos ainda fixos nela.
Ela sabia o que estava fazendo. E pior: sabia que estava funcionando.
A reunião continuou entre propostas, apresentações de slides e sugestões de roteiro. participou pontualmente, lançando comentários certeiros quando necessário, mas sem nunca perder o ar debochado. tentava se concentrar nas ideias da equipe, mas era difícil. Ela estava ali, ao lado, com o corpo inclinado levemente para frente, o perfume invadindo o ar, e aquele sorriso que parecia saber demais. Quando, enfim, o último slide foi apresentado e os colaboradores começaram a se dispersar, levantou com firmeza e disse:
“, pode ficar mais um minuto?”
“Vai me dar uma bronca ou um convite indecente?” Ela arqueou uma sobrancelha, fingindo surpresa.
Ele não respondeu de imediato. Esperou todos saírem, a porta se fechar, e o silêncio se estabelecer entre eles antes de cruzar os braços e encará-la com seriedade.
“Você precisa agir de forma mais profissional. Isso aqui é trabalho.”
soltou uma risada leve, arrastada, como se aquilo fosse a coisa mais entediante que já ouvira.
“Uau. Direto ao ponto, fiquei até sem fôlego.”
“Não tô brincando” wle insistiu, agora mais sério. “Isso pode dar errado se você continuar misturando tudo.”
“Pensei que você curtia o meu humor distorcido…”
“Eu tô conhecendo alguém, e…”
“Ah, claro…” wla o interrompeu, já se levantando com calma, pegando a bolsa com exagero dramático. “Outra modelo perfeitinha?”
“Isso não é justo.”
“O que não é justo é você fingir que é imune a mim quando sabemos que não é.” deu dois passos em direção a ele, parando perto o suficiente para que ele sentisse a tensão no ar vibrar entre eles. “Você pode até tentar, . Pode colocar outra pessoa no seu carro, na sua cama, nas suas fotos bonitas de casal. Mas você sabe…” Ela inclinou o rosto levemente, com um sussurro quase cruel. “Só eu sei como te deixar louquinho. Só eu sei exatamente onde te tocar. E só eu sei que você fica…”
“Já chega” a interrompeu, olhando fixo nos olhos dela. Havia tanta raiva ali quanto desejo, e os dois sabiam disso.
, então, se afastou, virando-se para a porta. Mas antes de sair, olhou por cima do ombro, um sorriso enviesado no rosto.
“Boa sorte com a campanha, . Vai precisar manter o foco.”
Ela mal saiu da sala e já estava sorrindo.
Não aquele sorriso de palco, que encantava plateias e vendia milhões de álbuns. Era outro. Um sorriso pequeno, satisfeito, que nascia quando ela sentia que ainda tinha o controle. Porque, no fundo, sempre teve. podia tentar ser frio, manter aquela fachada de CEO centrado e inalcançável, mas bastava um olhar, um toque, um sussurro no tom certo, e ele derretia. Ela conhecia os sinais. O jeito como ele travava o maxilar quando estava tentando não olhar pra sua boca. O modo como a respiração dele acelerava quando ela se aproximava demais. O olhar (aquele olhar) que tentava ser impassível, mas escorria desejo. E, o mais importante: sabia que, mesmo que ele estivesse com outra, nada disso mudava. Ele podia desfilar com namoradas novas a cada temporada, posar sorridente para fotos em jantares chiques, alimentar os tabloides com aparências. Mas quando estavam a sós, quando o mundo se calava e sobravam só os dois, era dela que ele lembrava. Sempre. não era iludida. Nunca foi. Sabia que era teimoso, orgulhoso, previsível até. Mas ela também sabia de outra coisa: ele sempre acabava voltando. E ela… sempre acabava querendo. Era cíclico. Tóxico, talvez. Um vício silencioso. Como cafeína: amargo, quente, necessário. Ela passou a mão pelo cabelo e caminhou até o elevador com calma, ainda saboreando a expressão dele no momento em que ela o provocou com a pergunta: ‘outra modelo perfeitinha?’. não precisava que ele dissesse nada. Ela via tudo nos olhos dele. E por mais que ele tentasse negar, esconder, lutar, ela sabia.
desejava ela como ninguém.
E isso… isso a mantinha sempre por perto.
☕️☕️
O set estava montado em uma casa de arquitetura moderna, com janelas enormes, luz natural entrando em feixes suaves, e aquele aroma de café fresco que preenchia o ar como parte da experiência sensorial que a marca queria transmitir. chegou cedo, o que, para os padrões dela, já dizia muita coisa. Vestia um roupão preto sobre a lingerie de seda marrom que usaria em uma das primeiras cenas. O conceito era simples: intimidade. Café na cama. Manhãs preguiçosas e sensuais. Tudo cuidadosamente ensaiado para vender a ideia de desejo em goles lentos.
Mas foi difícil manter o foco quando entrou.
Camisa social branca, mangas dobradas, blazer jogado no ombro e celular na mão, falando com alguém da equipe de produção. Ela o observou de longe, escondida atrás de uma caneca cenográfica de café, enquanto os maquiadores faziam os últimos retoques. Ele nem precisava olhar para ela. sentia. O ambiente mudava quando ele chegava.
“Prontos para começar?” ele perguntou, passando os olhos pela equipe até parar nela.
“Sempre pronta.” sorriu, exageradamente doce. “E você, chefinho? Vai conseguir manter o profissionalismo?”
piscou lentamente, o maxilar já tenso.
“Estou aqui pelo trabalho, .”
“Que fofo.” Ela deu um gole no café frio. “Vamos ver até quando.”
A primeira cena era simples: ela deitada na cama, sorrindo para a câmera, enrolando-se nos lençóis enquanto o aroma do café parecia despertar mais do que só os sentidos. Voz em off, respiração leve, quase um sussurro. Mas estava atrás das câmeras, observando cada detalhe. E quando jogou o cabelo pro lado e lambeu lentamente o lábio inferior, ela viu os olhos dele tremerem. No intervalo entre takes, se aproximou com o tablet em mãos, fingindo revisar os trechos gravados.
“Você pode fazer com um pouco menos de… provocação?” ele disse, baixo, só para ela.
“Isso foi provocação?” se inclinou, os olhos presos nos dele. “Eu nem comecei ainda.” Ela passou os dedos levemente no braço dele, como se limpasse um fiapo inexistente, fazendo-o recuar um passo, e sorriu, vitoriosa, indo até a bancada do buffet.
“, posso te apresentar o Bernardo?” disse um dos produtores, pouco antes da próxima rodada de takes.
virou-se com um sorriso pronto, os olhos escondendo segundas intenções, e Bernardo estendeu a mão com segurança, o sorriso alinhado ao terno bem cortado. Ele era o representante da marca de café que estava financiando a campanha — um pouco mais velho, charmoso e, mais importante, completamente encantado por ela.
“É um prazer te conhecer, . Sou um grande fã do seu trabalho. Você trouxe exatamente a energia que a gente imaginava pra campanha.”
“Fico feliz em ouvir isso.” Ela apertou a mão dele, demorando um segundo a mais do que o necessário. “E eu adorei o conceito de vocês… quente, envolvente, um pouco atrevido. Bem a minha cara.”
“Exatamente.” Bernardo soltou uma risada baixa. “Se precisar de qualquer coisa durante os dias de gravação, é só falar comigo diretamente, tá?”
“Pode deixar, vou lembrar disso.”
E ela já sabia como. Porque, no canto do set, fingia estar concentrado nas anotações do roteiro da campanha, mas seu olhar escapava de vez em quando na direção dos dois. virou o rosto só o suficiente para encontrá-lo com o olhar e sorriu. Um sorriso doce, sutil, perigosamente inocente. E quando Bernardo lhe ofereceu um café, ela aceitou com charme, segurando a caneca com ambas as mãos como se fosse um presente precioso.
“Tá quente” ele avisou.
“Eu gosto assim.” Ela deu um gole, mantendo os olhos em , que desviou o olhar, apertando a mandíbula.
Eles continuaram conversando, com Bernardo comentando como a luz realçava os traços dela, fazendo piadas que só ele ria, e … sorria. Sempre sorria. Do jeito que conhecia bem demais. Era o mesmo sorriso que vinha antes de ela destruir alguém sem nem precisar levantar a voz.
“Então você pretende lançar álbum novo ainda esse semestre?” Bernardo perguntou, recostando-se na bancada do buffet enquanto observava mexer o café.
“Talvez. Tenho algumas músicas prontas… outras inacabadas. Mas acho que tudo flui melhor com boas inspirações.” Ela lançou um olhar breve a , que mantinha a cabeça baixa, fingindo revisar um cronograma que já sabia de cor.
Bernardo sorriu, claramente tomando isso como um sinal.
“Se precisar de um pouco mais de inspiração, me avisa. Posso ser surpreendentemente útil fora do ambiente de trabalho.”
“É mesmo? Gosto de surpresas.” sorriu, com um charme afiado.
ergueu os olhos com lentidão, encarando a dupla à distância. Aquele tipo de troca nunca lhe passava despercebido, ele sabia ler os olhos de como ninguém. E sabia que aquilo ali era uma jogada. Um teatro montado só pra ele.
E estava funcionando. Porque tudo dentro dele fervia.
Durante outra pausa na gravação, e se esbarraram sozinhos no corredor estreito do estúdio. Ele vinha saindo de uma ligação, ela voltava do camarim. A tensão entre eles era palpável.
“Nova amizade?” ele perguntou, sem olhá-la diretamente, e ergueu uma sobrancelha.
“Bernardo? Ele é um cavalheiro. Coisa rara hoje em dia.”
“Ele tem pelo menos dez anos a mais que você.”
“Se for isso que tá te incomodando, posso perguntar a idade de outros admiradores meus.”
“Você sabe o que ele quer.”
“E você sabe o que eu quero?” Ela se aproximou, o sorriso suave contrastando com o fogo nos olhos. “Porque se soubesse, não deixaria outro homem me trazer café enquanto você só me serve indiferença.”
engoliu em seco. Mas ela já tinha passado por ele, o cheiro doce e quente ficando no ar, como se a própria presença dela tivesse gosto de provocação. Ele não suportava aquilo. E ela sabia.
O set finalmente esvaziava. A equipe técnica começava a desmontar luzes e câmeras, enquanto os figurinos eram guardados às pressas. , ainda com maquiagem impecável, estava sentada no sofá do camarim, tirando os saltos com uma expressão cansada, mas satisfeita. Ela ouviu uma batida leve na porta entreaberta e entrou sem esperar convite, os olhos cruzando com os dela no espelho.
“Não tem mais ninguém aqui?” ele perguntou, já sabendo a resposta.
levantou os olhos lentamente, arqueando uma sobrancelha.
“Se estivesse cheio, você não teria entrado.”
fechou a porta atrás de si, recostando-se nela. Estava com as mangas dobradas até os cotovelos e a respiração mais lenta. Tentava parecer calmo. Mas ela via. Os olhos dele sempre entregavam.
“Só vim avisar que amanhã os horários vão ser os mesmos, mas vai ser no campo, então vamos ficar numa pousada local e um dos carros da empresa vai te buscar” disse ele, neutro demais.
“E precisava vir pessoalmente pra isso?” ela rebateu, a voz baixa, provocativa.
“Bernardo já foi?” Ele ignorou a pergunta dela, e ela sorriu, jogando os sapatos de lado.
“Foi. Mas não se preocupe… ele pediu meu número.”
“E você deu?”
“Por que você se importa, ? Vai me dar um sermão agora? Falar sobre ética profissional enquanto segura o ciúmes nos dentes?”
“Não é ciúmes” ele disse, rápido demais.
“Não? Então por que você veio até aqui?”
“Você tá fazendo isso de propósito” ele disse, firme.
fingiu não entender, levantando-se com calma e se aproximando.
“Fazer o meu trabalho? Nossa, , que crime.”
“Não. Você sabe o que tá fazendo comigo. Toda essa encenação, os sorrisos, as insinuações… Você tá me provocando.”
Ela parou a poucos passos dele, inclinando a cabeça como se analisasse a própria obra-prima.
“E tá funcionando?”
Ele riu, curto, amargo.
“Você adora brincar com isso, né?”
“Talvez.” Ela aproximou-se um pouco mais. Agora ele podia sentir o perfume dela, quente e doce como um café recém passado. “Ou talvez eu só esteja cansada de você fingir que não sente nada quando, claramente, sente.”
“Eu tô tentando seguir em frente, .”
“Então por que voltou aqui?” Ela sorriu de canto, sem desviar o olhar.
Silêncio.
fechou os olhos por um segundo, como se aquilo doesse. Como se lutar contra o que sentia por ela fosse exaustivo.
“Porque você me enlouquece.”
“Eu sei. É isso que me mantém acordada à noite.” passou por ele, pegando sua jaqueta pendurada na cadeira. “Boa noite, , dorme bem.” E antes de sair, virou-se com um sorriso preguiçoso no canto da boca. “Amanhã traga você o café. Quente, como eu gosto.”
ficou ali, parado, com o gosto dela ainda preso na garganta e o cheiro no ar. Sabia que aquela campanha seria um inferno.
Um prazeroso, provocante, inescapável inferno.
Ele entrou no carro e fechou a porta com força desnecessária. O silêncio ali dentro era quase sufocante, abafando o zunido da rua e o som do rádio que ele não se preocupou em desligar. A cabeça latejava. tinha o dom — ou a maldição — de se infiltrar em tudo. Na pele, na memória, nos pensamentos que ele jurava ter enterrado. E agora, com essa campanha, era como se ela estivesse em todos os lugares de novo. Ele apoiou os cotovelos no volante, fechando os olhos e respirou fundo.
☕️ FLASHBACK ON - Continuação… ☕️
“Você sempre tem que jogar sujo…” murmurou, com a voz grave e rouca, enquanto continuava a devorar a boca dela, e sorriu, sabendo que estava tirando o pouco autocontrole que ele se esforçava para manter.
“Você adora quando eu jogo sujo…” Ela se aproximou mais, enquanto suas mãos deslizavam pelo peito de de maneira provocante. “Eu já disse, não adianta se esforçar tanto para manter o controle, amor…” ela sussurrou perto de seu ouvido, o hálito quente contra a pele dele.
A palavra ‘amor’ saiu de sua boca com facilidade, quase de maneira irônica, embora houvesse um tom doce e leve, o deixando enlouquecido. Ele sabia que ela tinha o poder de desmontá-lo completamente, e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.
“Você sempre tem que conseguir o que quer, não é?” perguntou, com a voz rouca, enquanto suas mãos desciam pelo corpo dela, apertando seus quadris com força, e riu suavemente, sabendo que o tinha na palma da mão.
“Sim… e você adora me dar o que quero…”
se arqueou contra ele, gemendo baixinho quando seus lábios encontraram a pele macia de seu pescoço, depositando beijos quentes e abafados. Ela deslizou as mãos pelas costas dele, passando por baixo da camisa, e o arranhou levemente, fazendo-o perder o autocontrole que restava. a puxou mais para perto, seu corpo se moldando contra o dela, enquanto suas mãos tocavam cada centímetro de pele que conseguiam alcançar.
“Não acha que já está na hora de tirar esse vestido, não?” perguntou, a voz soando como um comando para , sendo a gota d'água, e ele assentiu, seus olhos fixos no corpo dela.
As mãos dele encontraram o zíper do vestido de , começando a abaixar a peça lentamente, revelando aos poucos sua pele. Cada toque era desesperado, como se ele precisasse tocá-la novamente, lembrar-se de como era ter seu corpo contra o dele. O vestido caiu aos pés de , e a segurou pelos quadris, a puxando para mais perto enquanto a encurralava contra a parede. Ele reparou no sutiã preto que ela estava usando, a maneira como sua pele era revelada, e não pôde conter um suspiro.
“Ficou sem palavras?” provocou, com um sorriso malicioso, e revirou os olhos.
“Você é irritante até quando tá sem roupa” soltou, enquanto suas mãos deslizavam pelas curvas do corpo dela, memorizando cada detalhe.
“Ainda assim você fica duro” ela murmurou, olhando para baixo ao perceber o volume na calça dele.
“Você sabe muito bem o que faz comigo” ele retrucou, com a voz rouca, enquanto as mãos a puxavam mais para perto, para que ela pudesse sentir o quão excitado ele estava.
“Na verdade, não sei, terá que ser mais claro” falou, com a voz inocente, fazendo-o revirar os olhos novamente, apesar de uma parte dele adorar essa provocação.
“Realmente quer que eu seja mais claro?” ele perguntou, sua voz baixa e rouca, enquanto aproximava ainda mais seus corpos, o desejo por ela cada vez mais evidente.
“Já tá na hora de tirar sua roupa também, garotão.” deslizou a mão desde o peito de até o volume dele, fazendo-o soltar um gemido abafado. Enquanto ele se livrava das roupas, a visão de seu corpo definido e marcado era o bastante para fazer perder o autocontrole. Cada músculo, cada linha e curva estavam presentes, e ele sabia o quanto isso afetava ela. Quando finalmente tirou a última peça de roupa, ele voltou a se aproximar dela, de forma que seu corpo encostasse no dela novamente. “Gostoso…” sussurrou em seu ouvido, fazendo seus joelhos quase se dobrarem, enquanto seu corpo arqueava contra ela.
“Acho que é a primeira vez que ouço você falando algo positivo sobre mim” brincou, um sorriso malicioso se formando em seu rosto.
“Ah, não fique tão animado… se quiser mais disso, vai ter que fazer por merecer.” Ela sorriu também, com uma expressão travessa.
“É assim, então? E o que exatamente eu tenho que fazer?”
sabia exatamente as palavras para deixá-lo à beira da loucura.
“Me foder… com força” ela sussurrou em seu ouvido, aquelas palavras entrando como uma corrente elétrica, acendendo o fogo dentro dele.
“Isso eu posso fazer” murmurou, enquanto suas mãos deslizaram pela cintura dela, segurando-a de forma possessiva, e a carregou até o sofá do camarim. Ele se colocou entre seus joelhos, suas mãos vagando por suas coxas, e a observou diante dele, pronto para se render completamente a ela.
☕️ FLASHBACK OFF ☕️
voltou ao presente com um suspiro pesado, encostando a cabeça no banco. Estava conhecendo alguém agora. Estava tentando ser o homem certo. Alguém estável, previsível. Que não fosse sugado por esse furacão chamado . Mas, toda vez que a via, era como se o chão desaparecesse debaixo dos pés. Ela era tudo que ele não conseguia controlar. E no fundo, talvez ele nem quisesse.
☕️☕️
O sol ainda estava subindo quando os primeiros carros começaram a estacionar no topo da montanha. O cenário era digno de um filme: céu aberto, uma brisa leve dançando por entre as árvores e uma vista ampla da natureza que se estendia até onde os olhos alcançavam. desceu do carro com óculos escuros, jaqueta de couro e um copo de café na mão — irônica, como sempre. Era impossível ignorá-la. chegou poucos minutos depois, de blazer escuro e olhar sério. Cumprimentou a equipe, conversou com o diretor de arte, mas seus olhos procuravam uma certa silhueta, mesmo que ele se recusasse a admitir. E claro, ela estava com Bernardo.
“Esse lugar é incrível” dizia o representante da marca, sorrindo ao ajudar a descer por uma pequena inclinação. “Você fica ainda mais fotogênica com essa luz natural. Difícil alguém competir.”
“Você tem um bom senso estético, Bernardo” ela respondeu, olhando diretamente para , que passava ao lado dos dois naquele exato momento. “Talvez até melhor que alguns diretores de criação por aí.” fingiu não ouvir, mas seus olhos endureceram, e mordeu o lábio inferior, satisfeita com o estrago.
Horas depois, estava posando com uma xícara de café nas mãos, sentada em uma pedra estrategicamente posicionada de frente para o vale. A produção pedia leveza, naturalidade — algo que ela sabia entregar de olhos fechados. Só que hoje, ela se esforçava mais do que o necessário. Durante uma pausa, ela olhou para , que observava tudo de longe com os braços cruzados, expressão indecifrável, e se aproximou devagar, com o mesmo figurino da cena: saia longa esvoaçante e camisa branca meio aberta, o cabelo preso de forma casual.
“Tá gostando da paisagem?” ela perguntou, encostando o copo de papel contra os lábios. “Ou é só da modelo mesmo?”
nem piscou.
“Eu vim trabalhar, .”
“Ah, então você ainda se lembra disso? Porque ontem parecia mais ocupado tentando não me olhar.”
Ele se aproximou um passo, mas parou ali mesmo.
“Eu já te disse… tô conhecendo alguém.”
deu um sorriso enviesado.
“Ah, é verdade. Esqueci.” Depois de uma pausa dramática, ela se inclinou um pouco, a voz baixa, como se dividisse um segredo: “Deixa eu adivinhar… um sorriso encantador, educada e absolutamente entediante?”
Ela se afastou com um giro leve, o vento levando consigo o perfume dela, enquanto ficou parado ali com as mãos nos bolsos, segurando um riso irônico. Porque, no fundo, ela estava certa. Era sempre o mesmo padrão: educada, com um sorriso de comercial de pasta de dente e absolutamente nenhuma ideia do que fazer quando ele abria um vinho tinto e colocava Foo Fighters pra tocar. Ele sabia disso. Mas também sabia que mulheres como vinham com um aviso de perigo pendurado no pescoço. Só que, de algum jeito, ele sempre acabava tropeçando na mesma curva.
Nela.
Ele respirou fundo, tentando se concentrar no horizonte, na brisa, em qualquer coisa que não fosse o rastro que ela deixava. Sim, aquele lugar era lindo. Mas o caos que trazia era muito mais intenso que qualquer paisagem.
estava sentado em um restaurante caro de São Paulo, olhando para a taça de vinho sem prestar atenção. À sua frente, Camila, a mulher que ele estava ‘conhecendo melhor’, que definitivamente encaixava em seu padrão, falava sobre uma viagem à Toscana. Ele não conseguia focar. Nem por um segundo. Disfarçadamente, pegou o celular e deslizou pelo Instagram, vendo curtidas, notificações… até seu dedo parar automaticamente em um perfil: @. Abriu os stories. O primeiro era um vídeo da paisagem no fim da gravação: o campo, o pôr do sol e a legenda: Isso sim é um bom dia de trabalho. O segundo mostrava parte do backstage: maquiadores rindo, alguém tirando fotos, ela fazendo graça com o figurino. Natural, linda, provocante até quando não estava tentando. rolou mais uma vez. E então parou. A última imagem era dela… na banheira da pousada. Apenas o topo dos joelhos à mostra, bolhas de espuma cobrindo o essencial, um copo de vinho numa das mãos e a legenda: Relaxando depois de um dia intenso.
Ele travou.
Nada explícito. Nada direto. Mas tudo naquela imagem era provocação. E o pior de tudo? Ele sabia que era pra ele. Engoliu seco e tentou voltar à conversa do jantar, mas a voz da mulher do outro lado da mesa soava distante, irrelevante. Ela fez isso de propósito. Foi então que ele abriu o story de novo. Não conseguiu evitar. E respondeu.
: Cuidado pra não escorregar nessa banheira…
: Ou alguém vai ter que ir aí resgatar você.
Dois minutos depois, a notificação surgiu.
: Acho que prefiro alguém que saiba exatamente como me tirar de lá.
leu a resposta. Três vezes. Ele fechou os olhos, apoiando o celular na testa. Droga. Ela estava ganhando. E, sinceramente, ele nem se importava mais.
: E como exatamente você acha que eu te tiraria de lá?
Demorou mais do que ele esperava para a resposta chegar.
: Depende…
: Você quer me salvar ou me afundar de vez?
Ele soltou um riso seco, baixo. Camila perguntou algo sobre a sobremesa e ele apenas balançou a cabeça, ainda olhando para a tela, como se ela não estivesse ali. recostou na cadeira, digitando com os dedos firmes.
: Você devia parar.
: E você devia ter saído correndo do meu camarim naquele dia…
: Mas, se bem me lembro, você demorou.
: Bastante.
Ele apertou a mandíbula, sentindo o calor subir pelas veias. Ela não estava apenas brincando. Estava instigando. Sabia o que fazia com ele. E se alimentava disso. largou o celular por um momento e respirou fundo, tentando ignorar o turbilhão que ela causava. Mas o mal já estava feito. Então, pegou o celular novamente.
: Você adora brincar com fogo.
: Você também…
: A diferença é que eu não corro quando começa a queimar.
encarou a tela por vários minutos, sem escrever nada. Ela também não escreveu de volta, como se soubesse que tinha chegado num limite perigoso. Ele tentou voltar a atenção para Camila, que seguia falando animadamente sobre alguma galeria de arte, ou talvez fosse sobre o vinho — honestamente, tinha parado de ouvir há muito tempo. Mas a tela piscou com uma nova mensagem, e ele pegou o celular com um gesto lento, quase discreto. Quase.
: Boa noite, .
: Sonha comigo… ou tenta não sonhar.
Embaixo, um story privado. Era uma foto nova da banheira iluminada por velas, o contorno do pescoço dela entre sombras e vapor. O cabelo molhado, uma taça de vinho equilibrada na mão.
Artístico. Discreto. Insuportavelmente sensual.
travou. A mulher do outro lado da mesa perguntou algo, mas ele nem ouviu. Mal piscava. Só encarava a tela como se tivesse levado um soco no estômago. Ela sabia o que estava fazendo. E ele… ele estava completamente à mercê. Empurrou o prato à frente, ajeitou a postura e respirou fundo, soltando uma risada abafada, incrédula, antes de resmungar:
“Ela vai acabar comigo…”
“Disse alguma coisa, querido?” Camila ergueu uma sobrancelha e ele deu um sorriso falso.
“Nada. Só lembrei de uma coisa.”
Mentira. estava pensando nela. Só nela. E ele sabia exatamente com quem iria sonhar naquela noite.
☕️☕️
No terceiro dia de gravações, eles precisaram voltar para o mesmo local do dia anterior, para gravar alguns takes novamente. havia dormido mal. Ou melhor, mal tinha dormido. A imagem de na banheira ainda dançava na memória como um feitiço inquebrável. A provocação final. O sorriso de canto nos lábios dele quando viu a mensagem. E o maldito fato de que ele ainda teve que terminar o jantar com uma mulher que parecia cada vez mais irrelevante diante de tudo que era. Agora, ele cruzava o set com a expressão controlada, os passos firmes, como se conseguisse ignorar o furacão que carregava no peito.
Mas então a viu.
estava de costas, rindo de algo que Bernardo dizia a ela, enquanto mexia na própria blusa, ajustando a gola, sem nem olhar para , mas ele sabia. Sabia que ela tinha sentido sua chegada. E ela sabia que ele estava observando. Quando finalmente se virou, o encarou com um sorriso doce, quase inocente.
“Dormiu bem, chefe?” perguntou, com a voz arrastada de quem conhecia cada camada da provocação.
“Perfeitamente.”
sorriu ainda mais.
“Que bom. Achei que pudesse ter tido… sonhos perturbadores.” Ele se aproximou com o olhar firme, mas foi mais rápida: passou por ele levemente, os dedos roçando de propósito no braço dele, a boca próxima ao ouvido: “A propósito… a espuma da banheira era de baunilha e café. Achei apropriado pro tema da campanha.”
fechou os olhos por um segundo, lutando contra a vontade insana de puxá-la de volta e lembrá-la de que ele também sabia brincar. Mas ele era profissional. Ou, pelo menos, estava tentando ser.
A sessão de fotos começou com sozinha, entre lavandas e luz natural. O vestido escolhido era de um tom quente, que contrastava com o verde do campo e fazia seus olhos brilharem. Ela era uma visão. Todos estavam hipnotizados, inclusive Bernardo, que não disfarçava. observava tudo do lado, braços cruzados, a mandíbula travada. Fingindo revisar o roteiro da campanha no tablet, mas não absorvendo uma única palavra. Os olhos presos nela, como sempre.
“Ela tem uma presença magnética, não tem?” A voz de Bernardo surgiu ao lado dele e ergueu uma sobrancelha sem virar o rosto.
“Ela é boa no que faz.”
“Boa seria um eufemismo…” Bernardo riu, aquele tipo de riso que odiava. “Se não fosse por essa diferença de idade… bom, digamos que eu já teria a convidado pra jantar.” apenas lançou um olhar lateral. Um frio, afiado, que fez Bernardo finalmente recuar com um sorriso sem graça. “Brincadeira, claro. Só admiração profissional.”
Claro.
pensou. Só faltava ele acreditar.
A sessão seguiu ao longo da manhã e manteve a postura firme de diretor da campanha. Estava sempre com o tablet em mãos, analisando os takes, alinhando decisões com a equipe criativa e mantendo tudo sob controle — exceto ela. estava absolutamente no centro de tudo. Radiante. Profissional. Provocadora. Como sempre. A cada pausa, ela conversava com Bernardo, que parecia cada vez mais encantado. tentava se convencer de que aquilo não o afetava, mas falhava miseravelmente. Do fundo da tenda de apoio, observava o fotógrafo sugerir posições mais descontraídas para os próximos cliques. se sentou sobre uma manta disposta entre as lavandas, o café estrategicamente posicionado em uma bandeja rústica. O cabelo preso de forma despretensiosa, alguns fios soltos moldando o rosto iluminado. Bernardo se aproximou com uma xícara e se abaixou ao lado dela, entregando o objeto como se fosse um presente. riu de algo que ele disse, jogando a cabeça para trás. O som da risada foi abafado pela distância, mas sentiu como se tivesse sido direcionada a ele. Uma das assistentes de produção se aproximou de com o celular na mão:
“Senhor , o pessoal da marca quer que você aprove a proposta final do roteiro do vídeo para o Reels da campanha. Quer vir até a van de edição?”
“Claro” respondeu, tentando manter o tom neutro, mas, enquanto caminhava, seus olhos voltaram uma última vez para . Bernardo havia tocado de leve em seu ombro. Um toque inofensivo, talvez. Mas que fez algo dentro dele explodir.
A noite caiu sobre a montanha com um frio agradável e o céu limpo, pontilhado de estrelas. O grupo da campanha decidiu jantar junto num restaurante rústico perto do local de gravação. A mesa principal, longa e de madeira maciça, já estava tomada por parte da equipe. chegou alguns minutos depois, acompanhada de Bernardo, que claramente parecia satisfeito por estar ao lado dela.
“A gente devia comemorar o sucesso do dia” Bernardo disse, sorrindo. “Um vinho, talvez?”
sorriu, mas ao passar por , que estava falando com o diretor de arte, lançou um olhar rápido, carregado de algo que ele não soube definir.
“Só se for dos bons” disse a Bernardo, mas ela se virou de novo, agora apenas para : “Vai ficar pra revisar as fotos, ? Ou vai se juntar ao jantar dos adultos?”
Ela sorriu e sentou-se à cabeceira da mesa, deixando uma cadeira vaga ao seu lado — e não por acaso. Bernardo foi se sentar ali, mas , com uma naturalidade afiada, puxou a cadeira antes.
“Por que não? Assim posso supervisionar a equipe de perto” ele disse, lançando um olhar breve a Bernardo, antes de se sentar ao lado de .
O desconforto do outro homem foi imediato, disfarçado por um gole apressado de vinho. cruzou as pernas sob a mesa e se inclinou um pouco mais em direção a , como se fosse um jogo antigo entre eles.
“Que honra ter você entre os meros mortais” ela provocou, em tom baixo. “Deve estar difícil manter o ar de profissionalismo o tempo todo, né?”
“Eu me viro bem com o autocontrole” ele respondeu, virando a taça de vinho devagar. “Você devia tentar, às vezes.”
“Ah, mas onde estaria a graça nisso?”
A conversa seguiu com a equipe toda animada, mas na ponta da mesa, o clima era outro. Bernardo tentava puxar assunto com , comentando sobre os planos de marketing para os próximos meses, elogiando sua performance na campanha, propondo até ideias para um possível feat musical com o branding da marca. Mas ela só ria, agradecia com charme e, vez ou outra, jogava uma farpa sutil em , que a cada provocação respondia com sarcasmo e um olhar que escondia muito mais do que dizia.
“Você sempre atrai homens muito… dedicados, né?” comentou, em voz baixa, quando Bernardo se levantou para atender uma ligação.
“E você sempre aparece pra lembrar disso” ela rebateu, rindo, mordendo levemente o lábio.
O jantar seguiu, mas o que começou como um jogo logo virou guerra fria: olhares prolongados, respostas afiadas, sorrisos que beiravam o deboche. sabia o que ela estava fazendo — se divertindo às custas dele. E o pior: funcionava. Cada palavra dela parecia minar sua paciência, seu controle, sua tentativa patética de manter distância. Quando Bernardo voltou e sugeriu uma rodada de sobremesas, passou a ponta do dedo pela borda da taça de vinho, distraída, antes de dizer:
“Adoro um final doce depois de um dia amargo. Ou… intenso.”
Ela olhou diretamente para , que segurou o riso. E naquela mesa, com o mundo ao redor rindo e conversando, os dois seguiam travando uma guerra particular, onde cada gesto dizia mais do que qualquer palavra. O jantar terminou em meio a risadas e despedidas preguiçosas. A noite já estava gelada e o ar úmido fazia com que a neblina começasse a subir pelas curvas da estrada próxima. se despediu rápido, alegando estar cansado. Mentira. Ele só precisava sair dali antes que Bernardo conseguisse o que ele temia desde o início da campanha. Do outro lado do estacionamento, ajeitava o casaco nos ombros quando o homem apareceu ao lado dela, sorridente.
“Posso te levar de volta? O carro da produção já foi” disse ele, com um charme ensaiado.
hesitou por um segundo, como se tivesse consciência de que alguém a observava. E tinha. , parado junto ao próprio carro, fingia mexer no celular, mas seus olhos estavam nela. Sempre nela. Ela lançou um último olhar rápido para , como se o desafiasse a impedi-la. Mas ele permaneceu imóvel, com o maxilar travado.
“Tá bom” ela cedeu, com um sorrisinho de canto, entrando no carro de Bernardo.
acompanhou o veículo se afastar até desaparecer pela estrada. Ele jogou o celular no banco do carona, irritado. Irritado com Bernardo, com , consigo mesmo. Será que ela era capaz de ir tão longe só para provocá-lo? Será que ela queria mesmo aquele cara ou só estava testando até onde aguentava fingir que não se importava? Ele demorou para voltar à pousada, temendo que quando chegasse, esbarrasse com os dois na recepção, ou pior, subindo para o quarto juntos. Quando ele chegou, tentou tomar um banho, ler alguns e-mails… mas nada adiantava. Até que, finalmente, pegou o celular, abrindo o Instagram quase como quem cometia um crime. @ havia postado. O primeiro story mostrava o quarto da pousada com algumas luzes indiretas acesas e uma xícara de café em cima da cômoda — uma óbvia referência à campanha. O segundo era um vídeo da paisagem da montanha à noite, com o som de grilos e o sussurrar do vento. O terceiro… era ela. Na banheira, novamente. Mas dessa vez não havia nem espuma demais, nem ângulo revelador. Era sutil. Apenas a silhueta dos joelhos dobrados, a pele molhada refletindo a luz quente do banheiro e o rosto dela de perfil, com um sorriso vago, como se risse de algo que só ela sabia. Como se dissesse “relaxa, ainda sou só sua obsessão”. soltou um palavrão baixo, levando a mão ao rosto. Era impossível que aquilo fosse coincidência. Impossível que ela postasse aquela foto logo depois de sair com Bernardo. Era quase uma mensagem direta. Um recado velado. E foi só então que ele viu: a música que tocava de fundo no story.
I can’t relate to desperation
My ‘give a fucks’ are on vacation…
ficou ali por mais alguns segundos, encarando a tela do celular como se pudesse arrancar dela alguma resposta. Como se ela fosse dizer, com todas as letras: não aconteceu nada. Mas nunca facilitava. Ele digitou uma resposta no story. Apagou. Digitou de novo.
: Você não cansa?
Simples, seco. Mas carregado demais. E, antes que pudesse repensar, apertou ‘enviar’. Não deu nem trinta segundos.
: De você? Jamais.
Ela respondeu, como se estivesse esperando. Como se soubesse que ele cairia, de novo. Ele soltou um riso amargo e passou a mão pelos cabelos. Era tortura. Era loucura. Era típico dela.
: Se queria me deixar maluco, conseguiu.
: Só queria te lembrar do que está perdendo…
: Ou do que ainda é meu?
Ela não respondeu. E isso foi ainda pior. largou o celular no sofá. Caminhou até a janela e encarou a vista escura do campo. Seus dedos tamborilavam no parapeito com impaciência. Ele podia simplesmente deitar e esquecer tudo aquilo. Mas então o celular vibrou. Era uma mensagem direta. E não era uma resposta. Era uma foto. A mesma da banheira. Mas sem filtros. Sem música. Apenas uma legenda: Sozinha, relaxa.
Foi a quebra da última barreira.
agarrou a chave do quarto antes mesmo de pensar duas vezes e saiu, subindo as escadas da pousada com passos rápidos, o coração acelerado e a mente fervendo. Não sabia o que diria. Nem o que faria. Só sabia que precisava ver . E ela sabia disso também. Ele parou diante da porta e respirou fundo. O corredor estava vazio, silencioso, exceto pelo som distante do vento lá fora. Ele hesitou. Levantou a mão para bater, mas antes que o fizesse, a porta se abriu. estava enrolada em um robe claro, os cabelos ainda úmidos caindo pelas costas e o rosto limpo, sem maquiagem. Mas era o olhar o que mais o desarmava: provocativo, como se dissesse ‘demorou’, mas com uma centelha de surpresa mal escondida.
“Que coincidência…” ela disse, encostando-se no batente da porta com um sorriso curto. “Vem sempre aqui?”
estreitou os olhos, os lábios se curvando num quase sorriso.
“Você me chamou, .”
Ela deu de ombros, fingindo inocência.
“Eu só estava tomando banho. O resto é paranoia sua.”
Ele se aproximou um passo e ela não se afastou.
“Você sabe o que está fazendo” murmurou, olhando para ela de cima a baixo. “Você sabe que esse joguinho… esse negócio de postar foto com legenda sugestiva, responder como se estivesse esperando… isso mexe comigo.”
“E você acha que eu posto pensando em você?” rebateu, baixando o tom da voz. “Não se ache tanto, .”
“Ah, por favor.” Ele riu, amargo. “Você respondeu na mesma hora que eu te mandei mensagem, como se já estivesse esperando. E eu te conheço o bastante pra saber que você adora me deixar no limite.”
o olhou por um instante, o sorriso sumindo. Ela se afastou do batente, deixando a porta entreaberta.
“Então entra” disse, simplesmente, e travou.
“Isso é um convite?”
“É um teste. Igual aos que você adora falhar.”
Os olhos dele brilharam. Parte dele queria ir embora, bater a porta e fingir que ainda tinha controle. A outra parte… já estava dentro do quarto. Ele entrou, fechando a porta atrás de si com um clique suave, e o silêncio caiu como um cobertor pesado. caminhou até a pequena mesa do quarto e pegou uma taça de vinho, tomando um gole com calma antes de se virar de novo.
“Você tá tenso” ela disse, provocando.
“E você faz isso de propósito.”
“Claro. Não é culpa minha se você fica assim só com um story.” Ela deu um passo mais perto. “Imagina se eu postasse a parte que você mais gosta.”
prendeu a respiração. Aquilo… aquilo era sacanagem.
“Cuidado, …” ele disse, a voz baixa, grave. “Você não sabe até onde consigo ir quando você me provoca desse jeito.”
“Acho que sei, sim” ela sussurrou e os olhos de a acompanharam enquanto ela ia em direção ao banheiro com passos lentos, como se o chão sob os pés dela estivesse prestes a ruir, apesar dela caminhar com uma confiança absurda. Como se o tivesse nas mãos. E, no fundo, tinha. Ela parou na porta do banheiro, a mão no batente, virando o rosto por cima do ombro. “Sabe qual o seu problema? Você precisa relaxar…” disse, com um sorriso enviesado. “Aqui é perfeito para isso… água quente, vista bonita, silêncio. Dá vontade de ficar horas ali dentro.”
“E você quer que eu acredite que isso tudo aqui não foi um convite?” Ele arqueou uma sobrancelha.
“Bom, eu vou terminar meu banho” respondeu, dando um passo dentro do banheiro. “Fique à vontade para me acompanhar, se quiser.”
A porta se fechou devagar, com aquele clique suave que parecia gritar no quarto silencioso, e soltou um palavrão baixo, passando as mãos pelo rosto. Era ela. Sempre foi. A maldita mania de brincar com ele como se tivesse todo o tempo do mundo, e ele, nenhuma resistência. Ele se sentou na poltrona perto da janela, tentando se recompor, mas a mente fervilhava. Os flashes da lembrança no camarim, as fotos, os olhares. E agora ela, há poucos metros, tomando banho sabendo que ele estava ali. Sabendo que ele não conseguiria sair. Não ainda. Do banheiro, o som da água caindo se misturava com a voz dela cantarolando alguma música, enquanto um aroma leve de alguma essência adocicada escapava pela fresta da porta. Aquilo invadiu sua mente. Era suave. Quente. Provocador. Ele fechou os olhos e se encostou na poltrona, os dedos batendo na perna num ritmo impaciente. Um tempo depois, levantou da poltrona devagar, o coração acelerado, caminhou até a porta do banheiro e apoiou a mão na madeira, hesitando por meio segundo. Então bateu.
“.” Nenhuma resposta. A água continuava caindo, ritmada, e ela ainda cantarolava. Ele apertou o maxilar. “Você faz isso de propósito” murmurou contra a porta e, após hesitar mais um segundo, girou a maçaneta.
A porta estava destrancada. Ela queria que ele entrasse. O vapor tomou conta do banheiro, embaçando o espelho, a luz suave refletindo nas paredes de azulejo. A fatídica banheira já estava vazia, apenas com pequenas poças de água no fundo, e do outro lado, no box de vidro embaçado, estava , de costas, os ombros nus, o cabelo colado à pele. Ela não se virou.
“Achei que você fosse embora…” disse, com aquela voz baixa, provocante. Quase um sussurro.
“Você não queria que eu fosse.” deu um passo para dentro. O chão frio contrastava com o calor do ambiente. Seus olhos estavam cravados nela. “Você sabe que isso não é justo…” ele continuou, a voz rouca. “Me provocar, me deixar à beira, e depois se esconder atrás da porra de uma porta como se não soubesse o que faz.”
virou ligeiramente o rosto, ainda de perfil.
“E quem disse que eu tô me escondendo?”
Ele se aproximou mais um passo, parando a centímetros do vidro.
“Abre a porta, .”
Ela hesitou, mas então esticou o braço e deslizou o box, revelando-se completamente. Ainda assim, a fumaça da água quente e o ângulo protegiam parte do corpo, mas não o suficiente pra ele manter qualquer resquício de controle. Os olhos de estavam escuros, intensos. O peito subindo e descendo.
“Vai só ficar aí?” ela provocou, com um meio sorriso nos lábios.
Ele deu um passo adiante, agora quase dentro do box. Um silêncio pesado caiu entre eles, como se até o som da água estivesse esperando o que viria a seguir.
“Se eu entrar, não vou mais conseguir fingir que é só um jogo.”
“Então pare de fingir.”
encarou-a por mais um segundo. E então entrou, a água escorrendo por suas roupas, colando o tecido à pele, mas ele não parecia se importar nem por um segundo. Seus olhos estavam fixos nos dela como se finalmente tivesse se permitido cruzar a linha — como se, naquele instante, nada mais importasse além de . Ela o observava com um sorriso de canto, os olhos brilhando com desafio e desejo.
“Você vai mesmo ficar todo molhado assim?” ela provocou, a voz baixa, quase rouca, estendendo a mão até o colarinho da camisa dele.
“Isso é culpa sua” respondeu, as mãos já encontrando sua cintura desnuda sob a água quente. “Sempre foi.”
O primeiro beijo veio rápido, urgente, como se todos os olhares, toques e provocações acumuladas finalmente explodissem. A mão de se enroscou no cabelo molhado dela, puxando-a com firmeza, enquanto a de deslizou por dentro da camisa ensopada, sentindo o calor da pele dele sob o tecido frio. O toque dos seios dela contra seu peito coberto pelo tecido molhado era quase torturante. Ele podia sentir o formato deles pressionando-o, cada movimento dela enviando um impulso de pura excitação por seu corpo. Ela puxou a camisa pela gola, impaciente.
“Tira” sussurrou contra os lábios dele, e ele obedeceu, puxando a peça por cima da cabeça, jogando-a no chão encharcado sem se importar. O beijo se intensificou, os corpos se colando ainda mais. percorreu com os dedos a linha do abdômen dele, descendo devagar até o cós da calça. “Isso também vai ter que sair” ela disse, com um sorriso provocante.
arfou, as mãos firmes na cintura dela, os olhos cravados nos seus.
“Você gosta de ter o controle, né?”
“Eu gosto de ver você perder o seu” respondeu, puxando a calça dele devagar.
E ele realmente havia perdido.
O resto das roupas caiu sem cerimônia. O vapor os envolvia como uma névoa quente, como se o mundo inteiro estivesse em suspensão, assistindo a dois corpos finalmente colidindo depois de muito tempo dançando em torno um do outro. Naquele momento, não havia plateia, não havia empresa, não havia jogo. Havia só eles. Molhados, ofegantes, insaciáveis. Entregues. E, no fundo, sabia que mesmo quando achava que estava no controle… no fim, era sempre ela quem vencia.
☕️☕️
O estúdio era diferente dos cenários anteriores: fechado, com iluminação mais suave, paredes escuras e detalhes em madeira, criando uma atmosfera intimista e sofisticada. Havia velas acesas em pontos estratégicos, como se a ideia fosse trazer não só aconchego, mas algo mais… pessoal. E era isso que precisava transmitir: proximidade. Ela já estava se maquiando quando entrou na sala de direção, do outro lado do vidro. Usava uma camisa preta de botões, as mangas dobradas até o antebraço, o cabelo ainda um pouco bagunçado. Não parecia ter dormido muito bem — suspeitava que era por causa dela. Ou por causa do que eles fizeram. O mais curioso? Ele tinha ido embora sem dizer uma palavra. Ela acordou sozinha, como se nada tivesse acontecido, como se tivesse sido só mais um jogo. Mas ela conhecia bem demais para acreditar nisso. Do outro lado do vidro, ele se sentou, tentando parecer focado, mas os olhos, inevitavelmente, sempre voltavam para ela. E ela sabia disso. ajeitou o microfone, respirou fundo e, com a equipe já posicionada, começou a cantar um trecho escolhido de última hora, mais suave, mais cru. Sua voz encheu o estúdio como uma confissão.
“You feel like a vacation, hit me like a shot of espresso…”
arregalou levemente os olhos, o queixo tenso. Ela não olhou diretamente para ele, mas sabia que ele estava ouvindo. A música não era apenas parte da campanha. Era um lembrete. Um recado. E quando terminou, o silêncio durou um segundo a mais do que deveria.
“Corta!” disse alguém da direção.
Ela tirou os fones devagar, o olhar finalmente cruzando com o dele através do vidro. Ele estava imóvel, quase sem piscar. E ela sorriu, aquele mesmo sorriso torto, como se dissesse ‘lembrou agora por que vai acabar voltando?’.
E como poderia esquecer?
desviou o olhar por um segundo, mas ela já sabia a resposta. E então Bernardo apareceu do lado dela com um copo de café da marca em mãos, elogiando sua performance, se aproximando demais. agradeceu, jogando o cabelo pro lado, mas os olhos, por um segundo, voltaram ao vidro. agora estava de pé. Sério. Tenso.
O resto do dia seguiu com uma calma forçada, quase ensaiada, como se todos estivessem participando de uma peça silenciosa, em que era o único tentando convencer a si mesmo de que nada havia mudado. Ele permaneceu a maior parte do tempo na sala de controle do estúdio, passando orientações pontuais, observando os takes, interagindo com os diretores de imagem e a equipe de criação. Profissional, frio, contido. Mas era só entrar em cena, com aquele olhar afiado e aquele sorriso provocante, que se traía. Um músculo da mandíbula saltava. Os dedos tamborilavam sobre a mesa. E às vezes, ele sequer percebia que havia prendido a respiração. Ela parecia ter acordado ainda mais confiante depois da noite anterior. Estava elétrica, leve, dona de si e de todo o ambiente. Durante um intervalo, enquanto Bernardo comentava algo ao pé do ouvido dela, soltou uma gargalhada exagerada, só para provocar. , do outro lado do estúdio, fingia estar entretido em uma conversa sobre paleta de cores. Fingia muito mal.
“Essa vibe intimista realmente destaca a artista” disse uma das coordenadoras, e ele apenas assentiu, o olhar focado em qualquer ponto que não fosse o jeito como cruzava as pernas enquanto ouvia Bernardo.
E então ela olhou para ele. Direto. Sem desviar. Sem medo.
Ele sustentou o olhar por alguns segundos, tentando não deixar transparecer o caos interno. A equipe voltou ao trabalho e, quando passou por ela mais tarde para revisar um ajuste no roteiro, ela se aproximou devagar, como se fosse só mais uma conversa casual.
“Dormiu bem, chefe?” perguntou, com um sorriso inocente.
Ele não a olhou, apenas respondeu, seco:
“Como uma pedra.”
“Sério? Porque eu jurei que tinha escutado você sair no meio da madrugada… quase tropeçando na porta.”
encarou o tablet em mãos, tentando ignorá-la.
“Foco no trabalho, .”
“Eu tô focada…” ela respondeu, dando um passo a mais, encostando levemente os dedos no braço dele. “Você que parece… distraído.”
não respondeu. Só a encarou por um momento longo demais. E então se afastou, como se fugir dela fosse sinônimo de controle. Mas sabia que, por mais que ele tentasse agir como se nada tivesse acontecido, ela era a única distração dele.
O estúdio se esvaziava aos poucos. A equipe recolhia os equipamentos, os assistentes ajustavam os últimos detalhes para o dia seguinte, e ainda estava no camarim, trocando de roupa e removendo a maquiagem leve que usara nas cenas mais íntimas. se manteve distante o máximo que pôde. Só que o problema de se manter longe de era que, quanto mais ele tentava, mais o corpo dele parecia buscar por ela. E agora, naquele silêncio estranho que se instalava quando o ambiente estava quase vazio, parecia que tudo conspirava para que se encontrassem de novo. Ele precisava pegar um último material esquecido na parte de figurino. Foi isso que disse a si mesmo. Um pretexto ridículo, ele sabia. Mas era o suficiente para levá-lo até onde ela estava. já havia se trocado, usando agora um moletom folgado demais para o padrão dela, e mesmo assim ele não conseguia tirar os olhos dela. Ela o viu pelo espelho e sorriu, sem se virar.
“Tá perdido ou só fingindo que veio fazer alguma coisa?”
parou na porta, os ombros tensos.
“Vim buscar uns arquivos da equipe de figurino.”
“Achei que ia continuar fingindo que nada aconteceu ontem.” Ela virou-se devagar, os braços cruzados, o olhar provocador.
“E o que exatamente você quer que eu diga, ?” Ele franziu a testa, forçando a postura fria, e ela deu um passo à frente, com a calma de quem sabia exatamente o efeito que causava.
“Nada. Mas achei que, depois de tudo, você ao menos conseguiria me olhar nos olhos sem parecer que vai fugir a qualquer segundo.”
“Não tô fugindo. Só… focando no trabalho.”
“Ah, claro. Porque ‘trabalho’ é o que você pensou quando me viu naquela banheira, né? Quando me viu tomando banho ontem…” Ela inclinou a cabeça, se aproximando ainda mais, até quase roçar o peito dele. “Você pensou em planilhas, briefings, café...”
“Para de brincar com isso, .” Ele cerrou os punhos, tentando manter a expressão neutra.
“Isso? Isso o quê, ? O que a gente tem? O que aconteceu no banheiro? Porque pra mim…” Ela se inclinou no ouvido dele, a voz baixa e arrastada. “Aquilo não parecia brincadeira.”
Ele não respondeu. Porque sabia que se abrisse a boca, diria o que não devia. o olhou nos olhos mais uma vez, como se quisesse imprimir nele uma verdade silenciosa, e depois voltou a encarar o espelho, como se não tivessem acabado de incendiar o ambiente com meia dúzia de palavras. saiu, mas a presença dela permaneceu com ele. Como sempre.
estava jogada na cama do hotel em que havia sido realocada pela equipe de , o celular em mãos, passando pelos stories dos amigos, atualizações aleatórias e memes de moda que sempre apareciam no seu feed. A gravação no estúdio tinha sido intensa, mas o que realmente a esgotava era a tensão constante com e o fato dele agir como se nada tivesse acontecido entre eles. Foi quando ela rolou mais um pouco a tela e se deparou com um post de uma página de fofocas.
, o CEO desejado por todas, foi visto com novo affair em restaurante conceituado de São Paulo. O empresário parecia à vontade com uma loira misteriosa, com quem dividiu taças de vinho e sorrisos discretos. Quem será a nova sortuda?
bufou. Um riso seco escapou pelos lábios enquanto ela clicava para ver a foto borrada de com a mulher da noite anterior. Ela estava com o celular em mãos, o sorriso perfeito, o cabelo arrumado na medida certa… o tipo exato que ele sempre escolhia. Impecável. Entediante.
“Claro… mais uma boneca Barbie na lista” murmurou, revirando os olhos.
Ela travou a tela e jogou o celular de lado, como se aquele simples gesto pudesse impedir o incômodo de crescer dentro dela. Ela não sentia ciúmes, mas achava… engraçado. Engraçado ver como ele ainda tentava manter essa ilusão de que mulheres como aquela eram o tipo certo. Como se repetir o padrão fosse ajudá-lo a esquecer o efeito que causava nele. Como se fingir que podia viver longe dela fosse apagar o jeito como ele tremia quando ela o tocava. O jeito como ele perdia o fôlego só de sentir o cheiro dela. sabia do poder que tinha sobre ele. Sabia que, por mais que ele corresse para os braços das ‘certinhas’, era nela que ele pensava quando as beijava. Era com ela que ele sonhava. Porque ninguém, absolutamente ninguém, conseguia fazer com que perdesse o controle como ela fazia. E o mais irônico de tudo? Ele sabia disso também.
voltou a pegar o celular, a curiosidade vencendo antes do orgulho, e clicou no perfil de . E claro, como se adivinhasse que ela estaria fuçando, ele tinha postado um story. Era uma foto no espelho. Clássica. Simples. Mas impecável. A camisa social escura perfeitamente ajustada ao corpo, a calça alinhada, o relógio caro refletindo discretamente a luz do banheiro luxuoso do apartamento que ela conhecia bem. O rosto sério, mandíbula travada, olhar direto na lente. E, claro, ele estava absolutamente (irritantemente) gostoso. Ela ficou olhando tempo demais. Tempo suficiente para se odiar um pouco por isso. sabia que era bonito. Sabia o efeito que causava. E ainda assim… ele sempre agia como se o controle estivesse do lado dele. Como se ela fosse só mais um nome na lista. bufou, jogando novamente o celular para o lado por um segundo antes de puxá-lo de volta com a mesma rapidez. Ela não ia dar aquele gosto pra ele. Ele era quem vivia correndo atrás. Quem aparecia quando ela menos esperava — e mais queria. Quem a seguia até o camarim. Quem arrumava desculpas para estar por perto, mesmo jurando que ‘estava conhecendo alguém novo’.
foi até a câmera. Cabelo molhado, ainda levemente ondulado, maquiagem propositalmente borrada ao redor dos olhos e uma camisa grande dos Foo Fighters, que deixava o ombro exposto e que iria reconhecer muito bem. Natural. Quase descuidada. Mas no ponto exato entre o despretensioso e o provocante. Então postou nos stories, sem legenda, e se jogou de volta na cama, o leve sorriso no canto dos lábios. Era sempre assim. Uma dança. Um jogo. E no jogo deles, ela sempre soube jogar a carta certa para lembrar a quem ele realmente pertencia. O celular vibrou sobre o travesseiro e uma notificação solitária iluminou a tela escura. nem precisou olhar o nome. Ela já sabia.
@ respondeu ao seu story.
Ela mordeu o canto do lábio, o coração acelerando com aquela mistura irritante de antecipação e triunfo. Deslizou o dedo na tela devagar, quase como se saboreasse o momento. A mensagem era curta:
: Bela blusa…
sorriu. Era a banda favorita dele. Ela sabia, e era exatamente por isso — e por ter saído da casa dele uma vez sem devolvê-la — que tinha escolhido aquela blusa. Digitou sem pensar:
: Gostou? Foi um presente de alguém com muito bom gosto.
A resposta dele veio quase instantaneamente:
: Presente? Não tenho tanta certeza disso…
: Tá querendo me enlouquecer, né?
Ela mordeu o lábio, o sorriso crescendo.
: Quem? Eu?
: Só tava me secando do banho😇
Mandou, como se fosse a coisa mais inocente do mundo. Aqueles segundos em que ele estava digitando pareceram eternos.
: Você é impossível.
: E você é previsível.
: Sempre aparece quando eu quero.
: E você sempre sabe quando me chamar, sem dizer uma palavra.
largou o celular por um momento e se encostou na cabeceira da cama. Aquele definitivamente era o jogo deles: insinuações, mensagens tardias, provocações e desejos nunca saciados o suficiente. Ela pegou o celular de novo, leu toda a conversa mais uma vez, e mandou:
: Dorme bem, .
Só pra ver se ele conseguiria. Porque ela sabia que ele estava do outro lado da tela com a mandíbula travada, tentando não imaginar a cena e falhando miseravelmente. Era sempre assim: ele resistia, ela provocava; ele tentava manter o controle, ela o puxava pra perto com meia frase. E o mais engraçado era que, por mais que ele jurasse que ela o deixava maluco, também se sentia assim. Só que nunca deixava transparecer. Não primeiro. Ela colocou o celular de lado, desligou a luz e se afundou no travesseiro. Mas o sorriso no rosto ainda estava ali, intacto.
☕️☕️
O salão estava impecável. Lustres pendiam do teto com cristais que refletiam as luzes quentes, criando um brilho dourado suave em cada canto. Mesas de madeira escura contrastavam com arranjos de flores em tons terrosos e xícaras ornamentadas com a logo da marca de café. No fundo, uma banda tocava alguns instrumentais de músicas famosas, criando uma atmosfera elegante e envolvente. chegou em grande estilo, como sempre. Um vestido preto de seda que abraçava suas curvas com perfeição, uma fenda que revelava parte da perna com cada passo e um batom vermelho que parecia ter sido escolhido a dedo para provocar. Ela caminhava com a confiança de quem sabia o efeito que causava. Foi recepcionada por um dos diretores da marca, tirou algumas fotos para a imprensa e, então, cruzou o salão com uma taça de espumante na mão, cumprimentando alguns convidados conhecidos. Ela estava ocupada demais observando a decoração para notar quando entrou. Mas, quando virou-se para olhar em direção à entrada principal, seus olhos o encontraram. E, como sempre, ele estava impecável: terno preto bem ajustado, camisa social aberta no colarinho, cabelo perfeitamente desalinhado e aquele olhar que misturava tédio e desejo. Ao lado dele, vinha uma mulher loira, alta, com um vestido simples e elegante. O tipo de mulher que qualquer mãe aprovaria — e que sempre achava sem graça. não a viu de imediato. Mas , com um sorriso de canto, virou-se para o garçom que passava:
“Me vê algo mais forte?” ela pediu, os olhos ainda fixos na entrada.
Ela sabia que aquela noite seria divertida. Principalmente porque sabia exatamente como provocar o único homem naquele lugar que jamais conseguiu esquecê-la. , por sua vez, circulava pelo salão com seu habitual charme contido. Ao seu lado, Camila sorria, gentil, educada, o tipo de companhia que agradava a investidores e repórteres. A cada novo aperto de mão ou elogio sobre a campanha, acenava com um sorriso polido, mas seus olhos varriam o ambiente, procurando algo, ou melhor, alguém.
E então, ele a viu.
estava encostada em um dos balcões, conversando com o representante da marca. Ela jogava a cabeça para trás ao rir, os lábios vermelhos brilhando sob a luz âmbar. Era impossível não notá-la. Impossível não se perder na imagem. pigarreou, ajeitou o colarinho da camisa e, como se fosse movido por impulso (ou provocação), guiou Camila na direção dela.
“…” ele disse, ao se aproximar, o tom perfeitamente neutro. Quase. “Que bom te ver.”
Ela virou-se com um sorriso afiado.
“…” respondeu, com um olhar que descia lentamente pelo terno dele, sem pressa. “Sempre um prazer… visual.”
Camila estendeu a mão, simpática.
“Oi! Sou a Camila. É um prazer finalmente conhecer você. fala bastante sobre o projeto.”
apertou a mão da mulher, mantendo o olhar em .
“Que fofo. Ele realmente sabe ser um homem de negócios.”
arqueou uma sobrancelha. Camila, ingênua, sorriu.
“A campanha está incrível. Sua performance nos teasers está maravilhosa, .”
“Ah, obrigada. Faço o possível pra causar um impacto” ela respondeu, com um sorriso sugestivo que fez limpar a garganta.
Nesse momento, um fotógrafo da imprensa se aproximou.
“! ! Vocês podem vir aqui um instante para algumas fotos da campanha?”
assentiu, e Camila se afastou, educadamente. caminhou ao lado dele, os saltos marcando presença com cada passo. Diante das câmeras, os dois se posicionaram. Primeiro, formais. Mas à medida que os flashes iam aumentando, a distância entre eles diminuía. Um toque leve no braço. Um sussurro quase inaudível.
“Sua acompanhante é encantadora…” disse, entre sorrisos. “Você tem mesmo um tipo.”
“E você ainda se diverte com isso, né?” sorriu para a câmera.
“Sempre” ela respondeu, inclinando-se levemente para que os ombros quase se tocassem. “Principalmente quando você finge que não liga.”
O fotógrafo capturou o momento exato em que os olhares deles se cruzaram, intensos e íntimos. Depois, sugeriu que eles se aproximassem mais, ‘para mostrar a química da campanha’. obedeceu sem hesitar, deslizando o braço pelo de até que seus corpos quase se tocassem. O perfume dela subiu de leve, doce e quente, o suficiente para confundir os sentidos dele.
“Você tá um pouco tenso…” ela sussurrou, o olhar ainda fixo nas câmeras. “Será que é o flash… ou a minha presença?”
sorriu sem mostrar os dentes, aquele sorriso que ele usava quando estava por um fio.
“Acho que é o café da campanha. Me deixa agitado.”
soltou uma risadinha baixa e provocante, virando levemente o rosto em direção ao dele, como se fosse beijar sua bochecha, mas parando milímetros antes.
“Jura que é só o café?”
não respondeu de imediato. Em vez disso, deixou os olhos passearem pelo rosto dela, depois pelos lábios, e finalmente encarou seus olhos.
“Você sabe exatamente o que está fazendo, né?”
“Sei. E adoro ver você tentando resistir.”
Ele mordeu levemente o interior da bochecha, desviando o olhar como quem precisava manter o controle a qualquer custo.
“Uma hora você vai passar do ponto. Vai cruzar a linha errada.”
“E aí? Vai fazer o quê? Me punir?” O clique da câmera os fez se afastar um pouco, mas não o suficiente. Apenas o bastante para disfarçar que havia algo ali queimando baixo, prestes a explodir. se recompôs, voltando à pose mais formal. continuava com o mesmo sorriso malicioso nos lábios. E então ela disse, com uma voz doce demais para ser inocente: “A propósito… adorei a Camila. Ela parece tão… calma. Equilibrada. Tudo que você precisa.”
“Você continua achando que sabe o que eu preciso.” a olhou de lado, a tensão no maxilar visível.
“Ah, … eu não acho. Eu sei.” O fotógrafo agradeceu e anunciou o fim das fotos. se virou para sair, mas antes de dar o primeiro passo, olhou por cima do ombro, os olhos faiscando. “E acho que você também sabe.”
ficou ali, parado por alguns segundos, os dedos cerrando-se discretamente ao lado do corpo. Nada nela era sutil. Mas o efeito que ela causava nele? Era quase cruel.
A música ambiente havia mudado para algo mais suave, um jazz moderno que preenchia o salão com uma aura de sofisticação. estava perto do balcão, bebericando o vinho em sua taça de vidro, enquanto conversava com uma das influenciadoras convidadas. Seus olhos, porém, desviavam de vez em quando para a pista de dança — e para , que agora conversava com um executivo da empresa, com Camila pendurada em seu braço como se fosse parte do figurino. Foi quando Bernardo surgiu ao lado dela, o sorriso confiante de sempre.
“Sabe que ainda não te vi dançar hoje?” ele disse, oferecendo a mão, e ergueu uma sobrancelha, sem esconder o tom irônico.
“E você acha inaceitável, é isso?”
“Inaceitável e trágico. A estrela da campanha precisa brilhar em todos os sentidos.”
Ela riu, jogando o cabelo para o lado e lançando um olhar rápido em direção a , que, como ela esperava, a observava discretamente.
“Tudo bem… mas só se você me acompanhar direito, senhor representante da marca.”
“Eu danço melhor do que pareço, prometo.”
Bernardo a guiou para o centro da pista, as luzes suaves lançando reflexos dourados no vestido dela. Ele segurava a cintura de com cuidado demais, como se ela fosse frágil, como se estivesse dançando com uma peça de porcelana. observava de longe, a mão fechada em um copo que ele já havia esvaziado fazia minutos. Tentava se manter no controle, ouvir a conversa ao seu redor, mas seus olhos não desgrudavam da maneira como sorria — especialmente quando ela lançava sorrisos que claramente não eram para Bernardo. Ela se movia com leveza, rindo de algo que ele sussurrava, mas por dentro, estava entediada. Sabia exatamente o que estava fazendo. A cada volta mais próxima do canto onde estava, ela virava um pouco o rosto, apenas o suficiente para que seus olhares se encontrassem. Um jogo antigo, que ela sabia jogar muito bem.
“Você dança bem, . Quase me convence de que está se divertindo de verdade” Bernardo comentou, os olhos colando nos dela.
“Quem disse que eu não estou?”
“Não sei… sua cabeça parece em outro lugar.”
Ela sorriu, se inclinando um pouco mais para perto, como se fosse contar um segredo.
“Talvez esteja mesmo.”
E então, antes da música acabar, ela fez questão de rodar e parar com o olhar fixo em . Sorriu de leve, quase imperceptível, mas ele percebeu. Porque tudo que ela fazia, percebia.
Mais tarde naquela noite, as luzes do salão se ajustaram, diminuindo aos poucos até que apenas o centro do palco fosse iluminado por um único feixe de luz suave. Um microfone elegante estava posicionado ali e a plateia se virou quase em uníssono quando o apresentador anunciou a atração principal da noite.
“Senhoras e senhores… com vocês, a estrela da campanha: .”
Os aplausos ecoaram pelo salão, mas nem percebeu estar batendo palmas. Seu olhar estava cravado na silhueta que surgia no palco, com um vestido preto de seda que parecia ter sido feito sob medida para ela, o cabelo solto e um sorriso que escondia mil intenções. se posicionou no centro, segurando o microfone com a familiaridade de quem nasceu para aquilo. A música que começou a tocar era suave, lenta, sensual. Ela não precisava se esforçar, sua voz preenchia o espaço com naturalidade e seu olhar vagava com calma, até pousar em por apenas um segundo. Camila, sentada ao lado dele, até tentou dizer algo sobre a decoração do palco, mas percebeu que ele não a escutava. Não havia espaço para mais nada nos olhos de , além dela. A primeira música terminou em aplausos calorosos, mas nem esperou muito antes de emendar com uma mais animada. O ritmo subiu, as luzes ficaram mais quentes e ela abandonou o microfone no pedestal, levando-o consigo enquanto começava a circular pelo salão. Ela cantava sorrindo, dançava com graça, os pés descalços, agora, deslizavam no chão de mármore como se não tocassem nele. Girava, estendia a mão para cumprimentar algumas pessoas, fazia brincadeiras com convidados aleatórios. Era como se cada verso da canção fizesse parte de um jogo silencioso entre ela e .
E ele estava perdendo feio.
A certa altura, ela passou por ele. Tão perto que o perfume doce e cafeinado dela invadiu os sentidos dele como uma lembrança — ou uma tentação. não olhou diretamente para ele. Não precisava. Sabia que ele estava ali, assistindo, se contorcendo por dentro. Camila finalmente pareceu notar. Ela o encarou de lado, franzindo o cenho.
“?”
Mas ele não respondeu. Os olhos fixos em , como se cada nota da música prendesse um pouco mais da sanidade dele. No último verso, voltou para o palco com um rodopio perfeito e jogou um beijo no ar. Para ninguém — ou para alguém específico, que não precisava ser nomeado. O salão explodiu em aplausos e recostou na cadeira, a mandíbula tensa, os dedos batendo contra o joelho com impaciência. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. E fazia com prazer. Assim que deixou o palco, os aplausos ainda enchendo o salão, ela foi recebida por alguns produtores da marca, que a parabenizaram pelo desempenho. Mas, entre cumprimentos e flashes, o olhar dela buscou, e encontrou, , parado mais ao fundo, com Camila ao lado, visivelmente desconfortável. sorriu, tranquila, como se não tivesse acabado de incendiar o ambiente com sua performance. Como se não soubesse o efeito que causava. Ela pegou uma taça de espumante de uma bandeja e caminhou entre os convidados, como se estivesse em casa. , por outro lado, estava lutando contra os próprios impulsos.
“Você tá bem?” Camila perguntou, forçando uma risada. “Tá bem distraído desde que ela apareceu.”
franziu o cenho, tentando parecer surpreso.
“O quê? Não, só estava pensando no cronograma da semana.”
Camila riu de forma seca, descrente, mas, antes que a conversa pudesse continuar, se aproximou.
“Camila!” ela disse, com um sorriso brilhante. “Amei seu vestido. Super delicado.”
“Obrigada, .” Camila forçou um sorriso de volta. “Sua apresentação foi… energética.”
“Ah, eu gosto de colocar o público pra sentir comigo.” virou-se para , o olhar fixo. “E aí, gostou da música?”
Foi escolhida exatamente pra você…
“A campanha é sobre café, não sobre… provocação.”
Ela soltou uma risada baixa, inclinando-se levemente para ele.
“Ué, mas café também é quente, intenso… vicia.”
Camila olhou de um para o outro e o silêncio que se instalou por um segundo disse tudo o que ela precisava ouvir. então pigarreou e tentou se recompor.
“, será que a gente pode conversar um minuto? A sós?”
“Claro, chefe” ela disse, com sarcasmo, e o seguiu até um canto mais reservado do salão.
Quando se afastaram o suficiente, ele se virou para ela com o maxilar travado.
“Você precisa parar com isso. Aqui não é o lugar pra esse tipo de coisa.”
“Que tipo de coisa, ? Cantar? Dançar? Ser adorável?”
“Provocar.” Ele rosnou, num tom baixo, tenso. “Você sabe muito bem o que está fazendo.”
Ela deu um passo mais perto, tão próxima que ele teve que controlar a respiração.
“E o que eu estou fazendo, exatamente?”
hesitou. O cheiro dela, a proximidade, a lembrança da noite anterior… tudo o que ele queria dizer desapareceu da mente.
“Isso não vai funcionar. Eu tô tentando…”
“Ser o cara certo? Ficar com a garota certa?” Ela arqueou uma sobrancelha. “Como é o nome dela mesmo? Camila? Parece uma boa pessoa.”
“Para com isso, .” a encarou, irritado, mas ela deu um sorriso quase carinhoso.
“Você quer que eu pare… ou só quer que eu pare na frente dela? Porque, quando estávamos nós dois no chuveiro e depois na minha cama, você não queria que eu parasse. Muito pelo contrário, você mandou eu rebolar mais rápido.” Ele não respondeu. E isso foi tudo o que ela precisava ouvir. “Vai voltar pra ela agora? Fingir que nada disso importa?” olhou nos olhos dela por um longo instante, o maxilar trincado de novo. Mas era inútil. Ela o conhecia bem demais. Sabia que ele estava se segurando por um fio. se aproximou mais, encostando os lábios perto do ouvido dele. “Mas eu sou boazinha, vou te dar um descanso, . Por agora.” E saiu, deixando-o ali, sozinho com a própria confusão, e com Camila, que agora o observava de longe com uma expressão de quem não precisava de muitas palavras para entender o que estava acontecendo.
O salão já estava mais vazio quando pegou sua bolsa no camarim. A música agora era mais baixa e os últimos convidados se despediam aos poucos. Ela estava prestes a sair quando Bernardo apareceu ao lado, sorrindo com aquele ar confiante que ele nunca perdia.
“Quer uma carona até o hotel?” ele perguntou, casual, como se não tivesse passado metade da noite tentando mais do que apenas levá-la pra casa.
hesitou por um segundo, os olhos varrendo o salão em busca de um certo alguém. ainda estava ali, encostado no bar com um copo na mão, a expressão carregada. Camila havia ido embora minutos antes, depois de uma série de pedidos de desculpas sussurrados que mal conseguiu completar. não tinha ouvido tudo, mas viu o jeito como Camila saiu. Sem graça. Insegura. Desconfiada. E ? Bom, agora estava a encarando como se cada escolha que ela fazia fosse uma afronta pessoal.
“Tudo bem, aceito.” Ela sorriu para Bernardo.
fechou os olhos por um segundo, frustrado.
Ótimo.
O problema era que nada sobre ela era simples. não era só bonita. Ela era magnetismo puro. Era presença. Era impossível não sentir quando ela estava por perto. Quando os dois passaram por ele, nem se deu ao trabalho de disfarçar o olhar. Ela estava sorrindo, dizendo alguma piadinha para Bernardo, mas seus olhos estavam nele. A porta se fechou atrás dos dois e ele ficou ali, parado, remoendo cada maldita emoção. A raiva latejava sob a pele. Raiva por sempre acabar naquele ponto. Raiva por nunca conseguir seguir em frente. Por desejar alguém que o tirava do eixo com um único olhar. Ela era exatamente como o maldito café daquela campanha: quente, viciante, perigosa. E por mais que ele soubesse que deveria parar, que precisava se afastar, ele não conseguia. Nunca conseguiu.
Já no carro, recostou a cabeça no vidro, o olhar perdido na paisagem noturna de São Paulo. Bernardo falava alguma coisa, mas ela nem prestava atenção. Pegou o celular e abriu o Instagram. havia visualizado todos os stories. E ela sorriu. Um daqueles sorrisos que ela tentava esconder, mas que sempre escapava quando o assunto era ele. Bernardo estacionou na frente do hotel e se virou para ela, mas, antes que pudesse falar algo, ela já estava abrindo a porta.
“Boa noite, Bernardo. E obrigada pela carona.”
“Vai dormir já?” Ele tentou, sorrindo de lado. “Podíamos subir e conversar mais um pouco.”
“Acho que já conversei bastante por hoje.” sorriu, gentil, e ele suspirou.
“Certo. Até depois, então.”
Ela acenou e entrou no hotel, os saltos ecoando pelo saguão. Assim que chegou no quarto, jogou a bolsa no sofá e pegou o celular de novo. Abriu a câmera, tirou uma foto no espelho, sexy, mas discreta — exatamente no tom que ela sabia que deixava maluco — e postou nos stories. Do outro lado da cidade, , que havia jurado ignorá-la pelo resto da noite, recebeu a notificação assim que entrou no carro. E, é claro, ele abriu. O carro seguia devagar pelas ruas da cidade, mas mal registrava o caminho. Seus olhos estavam fixos no celular, onde o story recém-postado de ainda brilhava na tela. Ele deslizou o dedo para o lado, assistindo de novo. E de novo.
Aquela foto.
Ela sabia exatamente como provocar, como se infiltrar nos pensamentos dele mesmo sem estar por perto. passou a mão no rosto, irritado com a própria reação. Ele estava exausto, tenso, ainda sentindo o peso do olhar de Camila quando percebeu que ele não conseguia tirar os olhos de . Porque não conseguia mesmo. Ela cantava e o mundo inteiro sumia. Ela o provocava com gestos, com sorrisos, com palavras que ninguém mais percebia serem dardos bem mirados. encarou o celular pela centésima vez naquele minuto. A foto de continuava ali, como um veneno doce que ele fazia questão de consumir de novo e de novo. Aquela expressão, aquele maldito jeito de se exibir sem realmente se expor. Ela era um enigma cruel, e ele era péssimo em resistir a enigmas assim. Por um segundo, ele considerou. Pensou seriamente em mandar o motorista mudar a rota até a casa dele e parar no hotel. Subir até o quarto dela. Dizer tudo o que estava preso na garganta. Ou talvez… nem dizer nada. Só entrar. E acabar com aquilo da única maneira que eles sabiam. Mas respirou fundo. Fechou os olhos por um instante. E jogou o celular no banco ao lado, tentando retomar o controle que sempre perdia quando se tratava dela.
Ele não ia. Claro que não ia. Talvez.
“Mude a rota” disse, de repente, para o motorista. A voz saiu seca, urgente.
“Senhor?” O homem olhou pelo retrovisor.
Ele não pensou, só agiu. O peito apertado, o maxilar travado e a mente martelando uma única possibilidade: Bernardo.
“Mude a rota para esse hotel aqui. Agora.” Ele mostrou a localização no celular e o motorista apenas assentiu, seguindo para fazer o retorno. Quando o carro virou a esquina e estacionou discretamente em frente ao hotel, o coração de disparou ao ver o carro de Bernardo parado ali. “Filho da puta.”
Saiu do carro antes mesmo que ele parasse completamente. Os passos apressados, quase uma corrida, o elevador que parecia demorar uma eternidade, e então o corredor silencioso do andar dela. Ele prendeu a respiração ao parar diante da porta. Bateu forte. De novo. E de novo. Mais desesperado do que gostaria. Ele estava prestes a bater novamente quando a porta se abriu. estava ali, os olhos ainda com o delineado intacto, o batom só um pouco apagado e o vestido perfeitamente no lugar, como se tivesse saído do evento há minutos — o que talvez fosse verdade. Ela o olhou com uma sobrancelha arqueada, como se não estivesse surpresa.
“Está tudo bem, ?”
Ele não respondeu de imediato. Os olhos correram por ela, depois pelo quarto. Nenhum sinal de Bernardo. Nenhum paletó jogado na cadeira, nenhum copo de uísque, nenhum sapato masculino no canto do quarto. Mas mesmo assim, ele não relaxou.
“Você tá sozinha?”
“Esperava outra coisa?” encostou o corpo na porta, cruzando os braços.
passou a língua pelos lábios, inquieto. Olhou para dentro de novo.
“O carro dele ainda tá lá embaixo.”
Ela sorriu, devagar, como se estivesse se divertindo com o caos interno que ele tentava esconder.
“Bernardo subiu só pra deixar o sobretudo que eu tinha esquecido no carro. Foi embora quase agora. Mas que gracinha, … você veio me salvar?” Ele não respondeu. Não ainda. Estava ocupado demais tentando não invadir o quarto de uma vez. “Você sempre se convence de que eu sou o problema, mas é você quem corre atrás de mim no meio da noite” ela provocou, abaixando um pouco a voz, mais macia, mais cortante. “Vai continuar parado aí?”
a olhou por mais um segundo. Ele odiava que ela tivesse esse poder. Odiava mais ainda que ela soubesse disso.
“Não sei…” ele murmurou, com a voz baixa e rouca. “Você vai me deixar entrar?”
“E o que você vai fazer se eu deixar?” inclinou levemente a cabeça, como se o analisasse, e os olhos dele se cravaram nos dela. Quentes. Incontroláveis.
“Tudo o que eu fiquei evitando desde que te vi nesse maldito vestido.”
Ela riu. Baixo, perigoso.
“Então entra.”
Assim que cruzou a porta, a fechou atrás dele com calma. O quarto estava envolto em uma penumbra quente, a luz suave do abajur destacando as curvas do corpo dela, que ainda usava o vestido preto colado ao corpo, tão provocante quanto horas antes. deu um passo à frente, depois outro. As palavras estavam todas entaladas na garganta, engasgadas por tudo que ele não conseguia mais conter. não recuou. Ela ficou ali, ereta, desafiadora, como se soubesse exatamente o que estava prestes a acontecer.
“Você tem ideia do que eu passei desde que te vi dançando com aquele babaca?” Ele rosnou, a voz mais baixa do que um sussurro.
“Foi só uma dança” ela provocou, erguendo o queixo. “Ou você achou que era mais?”
“Você sabe que era mais. Tudo com você é mais.”
Antes que ela pudesse responder, a puxou pela cintura com força, colando o corpo dela ao dele e a boca dele encontrou a dela sem qualquer hesitação. O beijo foi bruto, urgente, como se o mundo inteiro pudesse desabar e ele ainda assim preferisse morrer ali, afogado nela. correspondeu com a mesma intensidade, os dedos agarrando a gola da camisa impecável dele, desfazendo os botões com pressa, quase raiva. Ele gemeu baixo quando sentiu as unhas dela arranhando seu peito e empurrou o vestido pelos ombros dela até ele deslizar pelo corpo, caindo em silêncio aos pés dela.
“Você me deixa louco” ele murmurou contra a pele do pescoço dela, enquanto a encurralava contra a parede. “Você me destrói, .”
“Então me destrói de volta.”
Os corpos colidiram como se precisassem daquilo para respirar. a ergueu com facilidade, as costas dela batendo levemente contra a parede enquanto ele tomava posse dela mais uma vez, como se não tivesse escolha, como se ela fosse a única coisa que ele precisava.
“Eu preciso de você.” As palavras soavam mais como um pedido desesperado do que um comando, mas ela sabia que era verdade. Podia sentir pela maneira como ele a tocava.
Ele pressionou o corpo dela com mais força contra a parede, enquanto sua boca continuava a deslizar pelo pescoço dela, mordiscando, chupando e beijando. As mãos dele passearam pela pele sensível de suas coxas, levantando-a ainda mais para que ela pudesse apoiar as pernas em volta de sua cintura. Em um movimento suave, ele conseguiu pegar o fecho do sutiã dela, deslizando-o para baixo, deixando-a ainda mais exposta para ele.
“Gostosa…” ele murmurou entre os beijos no pescoço, descendo os lábios para o colo dela.
Enquanto ele explorava um dos seios com a boca, a mão deslizou pelo corpo dela, até encontrar o outro, acariciando com ternura a pele sensível. Ela podia sentir o quão necessitado ele estava, cada toque carregando uma urgência, uma necessidade que parecia incontrolável.
“… eu preciso de você… agora…” falou, com a voz abafada, e ele atendeu imediatamente o pedido, soltando-a e vasculhando os bolsos da calça.
Ele pegou com certa urgência uma camisinha em sua carteira e quando voltou a atenção para novamente, ela já estava deitada na cama, completamente despida, o que só aumentou ainda mais o desejo que já fervia dentro dele. Ele se desvencilhou das roupas restantes rapidamente, enquanto se movia para a cama, a encarando com um olhar selvagem. Em segundos, já estava em cima dela, com os olhos escuros pelo desejo.
“Eu nunca vou cansar de ter você” disse, enquanto colocava a camisinha. Ele voltou a distribuir beijos pelo corpo dela novamente e sua boca desceu pelo pescoço, parando para mordiscar o lóbulo de sua orelha antes de murmurar com a voz rouca: “Eu não vou ser devagar. Eu não consigo ser, quando se trata de você.”
“Eu não quero que seja…” respondeu, o olhar pegando fogo.
Depois de ouvir aquelas palavras, encaixou seu membro na intimidade dela, começando com movimentos constantes e profundos. Sem preliminares. A sensação de estar dentro dela era como se finalmente estivesse em casa. Ele enterrou o rosto no pescoço dela, mordendo e beijando a pele quente e o nome dela saiu de sua boca como se fosse uma reza, o único som que ele era capaz de formular naquele momento. estava extasiada. Só ele sabia como a deixar assim, entregue. A maneira como ele conhecia o seu corpo, como ele sabia exatamente o que fazer para provocar essas reações nela, era inebriante. Mas ela também conhecia o corpo dele como ninguém. E ela sabia que, por mais que ele amasse estar no controle, não resistia quando ela assumia. E assim ela o fez, invertendo as posições e ficando por cima de , ouvindo um grunhido dele como protesto — apesar dela ter percebido o sorriso de canto que se formou em seus lábios.
“Qual é…” ele reclamou, com a voz ofegante, mas claramente estava apreciando a vista. Ele sempre adorou a visão dela por cima dele. arqueou as costas e suas mãos foram até o quadril dela, acariciando suavemente a pele macia, enquanto ela assumia o ritmo e o controlava exatamente como queria, com tudo o que conhecia sobre o corpo dele. “Você sempre tem que estar no controle, não é?”
Chegava a ser irritante até, a maneira que ela era tão perita na arte de desarmá-lo com esse simples gesto. Mas, apesar das reclamações, ele não fazia nenhum esforço para retomar o controle. Pelo contrário, ele parecia adorar deixá-la comandar, ver o quão entregue ela ficava quando estava no controle. Por isso não protestou muito, apenas tentou manter a boca fechada, embora alguns gemidos escapassem de vez em quando. Suas mãos subiram pelo corpo dela com familiaridade, até chegarem aos seios, apertando-os com um gesto possessivo. Enquanto isso, continuava se movendo, as mãos apoiadas no tronco dele, guiando seu corpo com precisão, sabendo exatamente o que precisava para provocá-lo ainda mais e o deixar à beira do limite. Ela amava ter esse poder, a maneira como ele se entregava completamente à ela quando estavam assim, como se fosse a única coisa que queria, que precisava. Ela podia ver a adoração em seus olhos, a maneira que ele a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. E aquilo a fazia se sentir invencível. Ela diminuiu o ritmo por um momento, apenas para provocá-lo mais, vendo a maneira como ele apertou mais os dedos em sua cintura, como se quisesse que ela fosse mais rápida novamente. Mas, em vez disso, ela continuou o movimento ritmado, aumentando a pressão só o suficiente para mantê-lo próximo à beira, mas não chegando ao limite. Ela podia sentir ele estremecendo abaixo dela, era quase glorioso, ver como ele ficava vulnerável assim.
“Me diz… a Camila te faz ficar assim? Alguma delas já te fez ficar assim?” A provocação veio com a voz baixa, chegando aos ouvidos dele suavemente, enquanto ela se inclinava perto de seu ouvido. Suas palavras carregadas de possessividade o atingiram como um golpe e, por um momento, ele esqueceu como respirar.
apertou as mãos, os dedos afundando em sua cintura, como se quisesse mantê-la ainda mais próximo, como se ela fosse a única coisa que o fazia se sentir real.
“Nenhuma delas” ele respondeu, a voz rouca.
diminuiu mais os movimentos e ele grunhiu em protesto novamente, mas ela continuou provocando:
“Só eu te faço ficar assim… fala pra mim.”
O fato dela saber exatamente qual botão apertar era irritante, mas ele não podia negar que adorava isso. Ele apertou os olhos e respirou fundo, tentando manter a razão, ainda que ela o provocasse, mesmo que isso fosse uma disputa que ele sempre perdia.
“Só você…” ele murmurou, a voz rouca e trêmula.
lambeu o lóbulo de sua orelha e ele jurou que poderia gozar só com aquilo. Mas não, a tortura ainda não havia acabado.
“Você é meu, .”
A maneira como ela ronronou aquelas palavras contra seu ouvido foi o suficiente para enviar ondas de prazer pelo corpo do homem. Sua voz, o toque de sua língua, tudo estava o levando à beira do abismo.
“Sim… eu sou seu.” deu um sorriso satisfeito e voltou a aumentar o ritmo, fazendo sentir um alívio imediato. “Caralho” ele gemeu entre dentes, quase desesperadamente. “Você... vai me matar.” Suas mãos correram novamente para o quadril dela, apertando-o com um toque possessivo enquanto ele se entregava ao prazer que ela estava lhe proporcionando. Ele tentou conter os gemidos, mas a maneira como ela se movia com precisão, como se conhecesse cada ponto sensível dele, fazia-o esquecer qualquer tentativa. “…” ele murmurou com a voz rouca, quase como uma súplica.
“O quê?” ela perguntou, a voz surpreendentemente angelical em meio a tudo aquilo.
Ele olhou para ela, tentando reunir as palavras que pareciam fugir de seu alcance, como se estivesse tentando agarrar a névoa. Ela tinha esse poder de fazer sua mente ficar nublada, seus sentidos sobrecarregados, até o ponto de ele estar completamente vulnerável, entregue para ela.
“Eu vou…” ele começou, a voz carregada de desejo, antes de parar, como se não conseguisse formular o que queria. Mas foi o suficiente para ela entender.
Ela sorriu, satisfeita com o efeito que estava tendo sobre ele, e acelerou os movimentos, aumentando ainda mais a intensidade dos prazeres que o percorriam. Ela podia ver no rosto dele, em cada linha de sua expressão facial, quão próximo ele estava do limite.
“Está quase lá, amor?” ela perguntou, de forma doce, quase inocente, apesar de saber exatamente o que estava fazendo ao provocá-lo. Mas ela também estava chegando ao limite, a maneira como ele se entregava a ela, quão vulnerável ele estava… era quase insuportavelmente satisfatório.
assentiu, a voz ainda presa na garganta, enquanto a sensação se acumulava dentro dele. Ele quase chegava ao limite, mas era ela quem determinava a velocidade e o ritmo, ela controlava tudo. Isso só era ainda mais frustrante, mas, ainda assim, por algum motivo, ele amava essa sensação de vulnerabilidade, de depender completamente dela.
“Sim…” O jeito como ele a olhou com desejo, como se qualquer outra palavra que ele tentasse dizer fosse falhar, a fazia se sentir poderosa. Ela queria levá-lo a um ponto em que não conseguisse mais pensar, apenas sentir.
Ela aumentou o ritmo novamente, sabendo que não levaria muito para que ele chegasse ao limite e se inclinou mais próxima dele, murmurando em seu ouvido de forma provocante:
“Eu quero ver você perder o controle por minha causa.”
“Eu já perdi…” A maneira como ele admitiu, com a voz falha e trêmula, era música para seus ouvidos.
“Eu sei, mas eu vou fazer você perder mais ainda… eu quero ver você completamente descontrolado.”
“Você vai? Por favor…” ele rebateu, a voz quase desesperada.
não conseguia responder. Ela estava tão entregue quanto ele, não sendo capaz de controlar os gemidos que saíam de sua boca, o que despertou algo selvagem dentro de . Então, com um movimento súbito, ele a puxou para mais perto, invertendo suas posições novamente, colocando-a abaixo dele. Ela não protestou, não com a maneira como olhava para ele, os olhos escuros de desejo. A maneira como ela estava entregue, vulnerável e necessitada, foi quase demais, mas ele queria vê-la desmoronar completamente por causa dele. Ele se colocou entre as pernas dela, mantendo-a presa, sentindo como ela se contorcia embaixo dele, como se estivesse desejando por mais contato, por mais dele. Ele se inclinou mais próximo, seu corpo colado contra o dela.
“Você é minha” murmurou, sua voz rouca em seu ouvido.
“Eu sou… sou sua.” observou enquanto desmoronava abaixo dele, sentindo o corpo dela estremecer com o limite. Mas ele não parou, continuou se movendo, querendo prolongar aquele momento, levar ela além do extremo. “…” O som de seu nome saindo dos lábios dela e a maneira como ela gemia em sua orelha era extremamente sensual.
Ele podia sentir a maneira como seu corpo se apertava para ele, como se quisesse trazê-lo ainda mais para perto. O orgasmo o atingiu como uma onda de puro êxtase, fazendo seu corpo estremecer, enquanto ele se entregava a ela. Mas ele estava completamente dominado pelo desejo de prolongar aquele momento o máximo que pudesse.
“…” ele murmurou, a voz rouca, enquanto continuava se movendo contra ela. “Eu sou viciado em você…”
Depois de um tempo, os movimentos deles diminuíram, até que finalmente pararam. permaneceu ali, apoiado sobre ela, com a respiração ofegante enquanto sentia a exaustão tomar conta, e estava embaixo dele, com a pele avermelhada e os olhos brilhando de satisfação. Passaram-se alguns longos instantes, enquanto os dois se recuperavam nessa mesma posição, até finalmente se mover, rolando de lado, a respiração ainda descompassada. O quarto agora tinha um silêncio denso, daqueles que diziam mais do que qualquer palavra. estava deitada ao lado dele, os lençóis puxados até a cintura, o cabelo bagunçado e a pele ainda quente. estava com um braço por trás da cabeça, encarando o teto como se procurasse respostas que ele já sabia.
“Você vai sair correndo de novo?” ela perguntou, virando o rosto para ele, a voz arrastada, quase preguiçosa. Mas o olhar… o olhar era puro veneno.
soltou uma risada curta, cínica.
“Você quer que eu fique?”
deu de ombros, os dedos deslizando distraidamente pelo peito dele.
“Eu só quero ver até onde vai o seu autoengano. Você vive tentando me apagar… mas sempre volta. Igual agora.”
“Você não faz ideia do que é tentar esquecer você” ele murmurou, os olhos encontrando os dela. “Cada vez que eu tento seguir em frente, você aparece. Com alguma provocação, com algum olhar, com alguma porra de story deitada numa banheira.”
riu. Uma risada leve, quase satisfeita.
“A culpa não é minha se você tem zero autocontrole.”
“A culpa é sua por se aproveitar disso.” Silêncio de novo. O olhar dos dois presos, firme. Ele ergueu a mão e segurou o queixo dela com os dedos, o toque firme, mas delicado. “Você faz isso de propósito, né? Me deixa louco só pra depois fingir que não significa nada.”
“Talvez porque, no fundo, eu sei que pra você… sempre significa tudo.”
se inclinou, colando a testa na dela, os olhos se fechando por um segundo. Como se, por um momento, ele desejasse que aquilo fosse simples. Que ela fosse simples.
“Você é um vício desgraçado” ele sussurrou. “Igual ao café dessa campanha. Eu sei que não deveria, sei que vai me destruir… mas ainda assim, eu sempre volto.”
“Então volta…” ela disse, quase sem voz, os lábios a um milímetro dos dele. “Mas não reclama da ressaca.”
E ele a beijou de novo. Sem planos, sem garantias. Só a certeza do agora, da pele quente, do gosto dela ainda em sua boca.
Porque no fim das contas, era inevitável. sempre voltava para .
Sempre.
Exceto por .
Eles se conheciam desde sempre. Suas famílias circulavam pelos mesmos eventos, os mesmos jantares de gala, os mesmos bastidores de um mundo onde influência valia mais do que afeto. E sempre soube como deixá-lo desconcertado. Bastava um comentário sussurrado, um olhar malicioso, uma provocação com um sorriso preguiçoso nos lábios. tentava manter a postura, mas era impossível negar que ela mexia com ele de um jeito que ninguém mais conseguia. Mesmo com suas namoradas perfeitamente entediantes, ele sempre acabava voltando, de um jeito ou de outro. E agora, o destino tinha decidido brincar com eles mais uma vez. seria o novo rosto da campanha nacional de uma marca de café premium. E a Estratégia, claro, ficaria responsável por toda a criação e execução do projeto. E quem lideraria a campanha?
.
Ela chegou à primeira reunião com vinte minutos de atraso, um vestido justo demais, salto alto e um par de óculos escuros que não escondiam o deboche em seu sorriso.
“Pronto pra mais uma dose, ?“ perguntou, sem tirar os óculos. “Ou ainda não superou a última?”
Ele não respondeu. Só a encarou por tempo demais para ser educado, mas a verdade era simples: a última dose ainda queimava na memória como café recém passado.
☕️ FLASHBACK ON - Alguns meses atrás… ☕️
O evento era uma daquelas noites de gala que costumava comparecer apenas por obrigação. Traje preto, discursos longos, taças de champanhe e sorrisos forçados. Só que, naquela noite, algo estava diferente — ou melhor, alguém. estava no palco, encerrando a cerimônia com uma apresentação surpresa. A luz dourada realçava o vestido justo, o batom vermelho e a forma como ela parecia cantar só pra ele. Os olhares se cruzaram algumas vezes, como sempre, mas havia algo a mais ali. Algo que o deixava inquieto. Talvez fosse o fato de que ele havia terminado um relacionamento poucos dias antes, ou talvez o incômodo fosse o quanto sentia falta daquela provocação irritante que só ela sabia fazer. Quando a música acabou, ela desceu do palco devagar, agradecendo os aplausos, até os olhos encontrarem os dele mais uma vez. Ela não sorriu. Apenas levantou uma sobrancelha, como quem dizia ‘vai continuar fingindo que não quer falar comigo?’
não resistiu.
Minutos depois, os dois estavam de frente no salão principal. Ela, com uma taça de espumante na mão e um olhar de quem estava no controle. Ele, com o maxilar tenso e as mãos no bolso, tentando manter a compostura.
“Vai me dar os parabéns ou vai continuar com essa cara de quem engoliu uma pedra de gelo?” provocou, com a voz baixa, íntima.
“Achei que estivesse ocupada demais cantando pra outro cara” ele rebateu, o tom mais áspero do que gostaria.
riu. Um som leve, quase doce, que contrastava com o veneno por trás das palavras:
“Engraçado… pareceu que era você quem estava me assistindo de boca aberta.”
“Você adora provocar, né?” Ele deu um passo mais perto.
“Só porque você adora ser provocado.”
Foi o suficiente. No fim do evento, sem pensar direito, ele a seguiu. O som dos saltos de ecoava no corredor enquanto ela caminhava até o camarim. Ela sabia que ele estava atrás, mas não se virou. Só abriu a porta e parou na entrada.
“Vai entrar ou vai continuar fingindo que não sente nada?” murmurou, sem olhar pra trás, e ele entrou como quem não devia, mas também como quem não conseguia evitar, fechando a porta logo em seguida. “Terminou com a loirinha já?”
“…”
“Não tô julgando. Acho bonitinho esse ciclo eterno de ‘vou fingir que você não existe’ e depois me seguir até o camarim.” Então ela se aproximou dele e continuou: “Você é patético…” sussurrou, mordendo o lábio. “Finge que me odeia, mas não consegue ficar longe.”
“Eu não te odeio…” ele respondeu, a voz tensa. “Eu só não consigo te ter.”
deu um passo. Depois outro. Agora estavam frente a frente.
“Isso nunca te impediu antes.”
Ele tentou resistir, mas quando ela encostou os dedos na gola da camisa dele, puxando-o para perto, tudo desabou.
O beijo foi urgente, cheio de raiva e desejo contido, os toques impacientes. Era como se tudo o que haviam reprimido por meses tivesse explodido ali, entre cabides, espelhos iluminados e o perfume dela impregnando o ar. segurou sua cintura como se quisesse manter o controle, mas riu contra sua boca.
“Não adianta tentar, . Comigo, você nunca vai ter o controle.”
Ele não respondeu. Estava ocupado demais perdendo completamente o juízo.
☕️ FLASHBACK OFF ☕️
piscou, como se a lembrança tivesse invadido o presente sem pedir permissão. O gosto daquela última noite ainda estava ali: o perfume dela, a risada no escuro, os sussurros entre beijos e provocações. E agora ela estava bem ali, sentada à mesa da sala de reuniões da Estratégia, cruzando as pernas lentamente e encarando-o com aquele mesmo olhar que precedia o caos.
“Vai continuar me olhando assim ou já esqueceu como se fala?” provocou, agora tirando os óculos escuros e apoiando o queixo nas mãos.
respirou fundo.
“Se eu soubesse que a estrela da campanha era você, teria reconsiderado o contrato.”
“Hum… mentira. Você teria assinado em dobro” ela rebateu, com um sorriso curto. “Sua equipe sabe que eu vendo. E você também sabe.”
apertou a mandíbula. Não podia negar isso. era a escolha perfeita para a campanha: carismática, desejada, impossível de ignorar. A marca de café queria algo ousado, sensual, moderno. Ela era tudo isso. Mas tê-la ali, naquele ambiente que sempre foi sob o controle dele, bagunçava tudo.
“Vamos ao que interessa” ele disse, tentando retomar o tom profissional. “A campanha precisa ser ousada, mas sofisticada. Nada vulgar.”
“Que pena…” disse, mordendo o lábio inferior, provocando de novo. “Achei que você gostasse de um pouco de vulgaridade… de vez em quando.”
Os olhares se cruzaram. Silêncio.
Um membro da equipe pigarreou, tentando quebrar a tensão palpável que enchia a sala. soltou o ar devagar, recostando-se na cadeira, de olhos ainda fixos nela.
Ela sabia o que estava fazendo. E pior: sabia que estava funcionando.
A reunião continuou entre propostas, apresentações de slides e sugestões de roteiro. participou pontualmente, lançando comentários certeiros quando necessário, mas sem nunca perder o ar debochado. tentava se concentrar nas ideias da equipe, mas era difícil. Ela estava ali, ao lado, com o corpo inclinado levemente para frente, o perfume invadindo o ar, e aquele sorriso que parecia saber demais. Quando, enfim, o último slide foi apresentado e os colaboradores começaram a se dispersar, levantou com firmeza e disse:
“, pode ficar mais um minuto?”
“Vai me dar uma bronca ou um convite indecente?” Ela arqueou uma sobrancelha, fingindo surpresa.
Ele não respondeu de imediato. Esperou todos saírem, a porta se fechar, e o silêncio se estabelecer entre eles antes de cruzar os braços e encará-la com seriedade.
“Você precisa agir de forma mais profissional. Isso aqui é trabalho.”
soltou uma risada leve, arrastada, como se aquilo fosse a coisa mais entediante que já ouvira.
“Uau. Direto ao ponto, fiquei até sem fôlego.”
“Não tô brincando” wle insistiu, agora mais sério. “Isso pode dar errado se você continuar misturando tudo.”
“Pensei que você curtia o meu humor distorcido…”
“Eu tô conhecendo alguém, e…”
“Ah, claro…” wla o interrompeu, já se levantando com calma, pegando a bolsa com exagero dramático. “Outra modelo perfeitinha?”
“Isso não é justo.”
“O que não é justo é você fingir que é imune a mim quando sabemos que não é.” deu dois passos em direção a ele, parando perto o suficiente para que ele sentisse a tensão no ar vibrar entre eles. “Você pode até tentar, . Pode colocar outra pessoa no seu carro, na sua cama, nas suas fotos bonitas de casal. Mas você sabe…” Ela inclinou o rosto levemente, com um sussurro quase cruel. “Só eu sei como te deixar louquinho. Só eu sei exatamente onde te tocar. E só eu sei que você fica…”
“Já chega” a interrompeu, olhando fixo nos olhos dela. Havia tanta raiva ali quanto desejo, e os dois sabiam disso.
, então, se afastou, virando-se para a porta. Mas antes de sair, olhou por cima do ombro, um sorriso enviesado no rosto.
“Boa sorte com a campanha, . Vai precisar manter o foco.”
Ela mal saiu da sala e já estava sorrindo.
Não aquele sorriso de palco, que encantava plateias e vendia milhões de álbuns. Era outro. Um sorriso pequeno, satisfeito, que nascia quando ela sentia que ainda tinha o controle. Porque, no fundo, sempre teve. podia tentar ser frio, manter aquela fachada de CEO centrado e inalcançável, mas bastava um olhar, um toque, um sussurro no tom certo, e ele derretia. Ela conhecia os sinais. O jeito como ele travava o maxilar quando estava tentando não olhar pra sua boca. O modo como a respiração dele acelerava quando ela se aproximava demais. O olhar (aquele olhar) que tentava ser impassível, mas escorria desejo. E, o mais importante: sabia que, mesmo que ele estivesse com outra, nada disso mudava. Ele podia desfilar com namoradas novas a cada temporada, posar sorridente para fotos em jantares chiques, alimentar os tabloides com aparências. Mas quando estavam a sós, quando o mundo se calava e sobravam só os dois, era dela que ele lembrava. Sempre. não era iludida. Nunca foi. Sabia que era teimoso, orgulhoso, previsível até. Mas ela também sabia de outra coisa: ele sempre acabava voltando. E ela… sempre acabava querendo. Era cíclico. Tóxico, talvez. Um vício silencioso. Como cafeína: amargo, quente, necessário. Ela passou a mão pelo cabelo e caminhou até o elevador com calma, ainda saboreando a expressão dele no momento em que ela o provocou com a pergunta: ‘outra modelo perfeitinha?’. não precisava que ele dissesse nada. Ela via tudo nos olhos dele. E por mais que ele tentasse negar, esconder, lutar, ela sabia.
desejava ela como ninguém.
E isso… isso a mantinha sempre por perto.
O set estava montado em uma casa de arquitetura moderna, com janelas enormes, luz natural entrando em feixes suaves, e aquele aroma de café fresco que preenchia o ar como parte da experiência sensorial que a marca queria transmitir. chegou cedo, o que, para os padrões dela, já dizia muita coisa. Vestia um roupão preto sobre a lingerie de seda marrom que usaria em uma das primeiras cenas. O conceito era simples: intimidade. Café na cama. Manhãs preguiçosas e sensuais. Tudo cuidadosamente ensaiado para vender a ideia de desejo em goles lentos.
Mas foi difícil manter o foco quando entrou.
Camisa social branca, mangas dobradas, blazer jogado no ombro e celular na mão, falando com alguém da equipe de produção. Ela o observou de longe, escondida atrás de uma caneca cenográfica de café, enquanto os maquiadores faziam os últimos retoques. Ele nem precisava olhar para ela. sentia. O ambiente mudava quando ele chegava.
“Prontos para começar?” ele perguntou, passando os olhos pela equipe até parar nela.
“Sempre pronta.” sorriu, exageradamente doce. “E você, chefinho? Vai conseguir manter o profissionalismo?”
piscou lentamente, o maxilar já tenso.
“Estou aqui pelo trabalho, .”
“Que fofo.” Ela deu um gole no café frio. “Vamos ver até quando.”
A primeira cena era simples: ela deitada na cama, sorrindo para a câmera, enrolando-se nos lençóis enquanto o aroma do café parecia despertar mais do que só os sentidos. Voz em off, respiração leve, quase um sussurro. Mas estava atrás das câmeras, observando cada detalhe. E quando jogou o cabelo pro lado e lambeu lentamente o lábio inferior, ela viu os olhos dele tremerem. No intervalo entre takes, se aproximou com o tablet em mãos, fingindo revisar os trechos gravados.
“Você pode fazer com um pouco menos de… provocação?” ele disse, baixo, só para ela.
“Isso foi provocação?” se inclinou, os olhos presos nos dele. “Eu nem comecei ainda.” Ela passou os dedos levemente no braço dele, como se limpasse um fiapo inexistente, fazendo-o recuar um passo, e sorriu, vitoriosa, indo até a bancada do buffet.
“, posso te apresentar o Bernardo?” disse um dos produtores, pouco antes da próxima rodada de takes.
virou-se com um sorriso pronto, os olhos escondendo segundas intenções, e Bernardo estendeu a mão com segurança, o sorriso alinhado ao terno bem cortado. Ele era o representante da marca de café que estava financiando a campanha — um pouco mais velho, charmoso e, mais importante, completamente encantado por ela.
“É um prazer te conhecer, . Sou um grande fã do seu trabalho. Você trouxe exatamente a energia que a gente imaginava pra campanha.”
“Fico feliz em ouvir isso.” Ela apertou a mão dele, demorando um segundo a mais do que o necessário. “E eu adorei o conceito de vocês… quente, envolvente, um pouco atrevido. Bem a minha cara.”
“Exatamente.” Bernardo soltou uma risada baixa. “Se precisar de qualquer coisa durante os dias de gravação, é só falar comigo diretamente, tá?”
“Pode deixar, vou lembrar disso.”
E ela já sabia como. Porque, no canto do set, fingia estar concentrado nas anotações do roteiro da campanha, mas seu olhar escapava de vez em quando na direção dos dois. virou o rosto só o suficiente para encontrá-lo com o olhar e sorriu. Um sorriso doce, sutil, perigosamente inocente. E quando Bernardo lhe ofereceu um café, ela aceitou com charme, segurando a caneca com ambas as mãos como se fosse um presente precioso.
“Tá quente” ele avisou.
“Eu gosto assim.” Ela deu um gole, mantendo os olhos em , que desviou o olhar, apertando a mandíbula.
Eles continuaram conversando, com Bernardo comentando como a luz realçava os traços dela, fazendo piadas que só ele ria, e … sorria. Sempre sorria. Do jeito que conhecia bem demais. Era o mesmo sorriso que vinha antes de ela destruir alguém sem nem precisar levantar a voz.
“Então você pretende lançar álbum novo ainda esse semestre?” Bernardo perguntou, recostando-se na bancada do buffet enquanto observava mexer o café.
“Talvez. Tenho algumas músicas prontas… outras inacabadas. Mas acho que tudo flui melhor com boas inspirações.” Ela lançou um olhar breve a , que mantinha a cabeça baixa, fingindo revisar um cronograma que já sabia de cor.
Bernardo sorriu, claramente tomando isso como um sinal.
“Se precisar de um pouco mais de inspiração, me avisa. Posso ser surpreendentemente útil fora do ambiente de trabalho.”
“É mesmo? Gosto de surpresas.” sorriu, com um charme afiado.
ergueu os olhos com lentidão, encarando a dupla à distância. Aquele tipo de troca nunca lhe passava despercebido, ele sabia ler os olhos de como ninguém. E sabia que aquilo ali era uma jogada. Um teatro montado só pra ele.
E estava funcionando. Porque tudo dentro dele fervia.
Durante outra pausa na gravação, e se esbarraram sozinhos no corredor estreito do estúdio. Ele vinha saindo de uma ligação, ela voltava do camarim. A tensão entre eles era palpável.
“Nova amizade?” ele perguntou, sem olhá-la diretamente, e ergueu uma sobrancelha.
“Bernardo? Ele é um cavalheiro. Coisa rara hoje em dia.”
“Ele tem pelo menos dez anos a mais que você.”
“Se for isso que tá te incomodando, posso perguntar a idade de outros admiradores meus.”
“Você sabe o que ele quer.”
“E você sabe o que eu quero?” Ela se aproximou, o sorriso suave contrastando com o fogo nos olhos. “Porque se soubesse, não deixaria outro homem me trazer café enquanto você só me serve indiferença.”
engoliu em seco. Mas ela já tinha passado por ele, o cheiro doce e quente ficando no ar, como se a própria presença dela tivesse gosto de provocação. Ele não suportava aquilo. E ela sabia.
O set finalmente esvaziava. A equipe técnica começava a desmontar luzes e câmeras, enquanto os figurinos eram guardados às pressas. , ainda com maquiagem impecável, estava sentada no sofá do camarim, tirando os saltos com uma expressão cansada, mas satisfeita. Ela ouviu uma batida leve na porta entreaberta e entrou sem esperar convite, os olhos cruzando com os dela no espelho.
“Não tem mais ninguém aqui?” ele perguntou, já sabendo a resposta.
levantou os olhos lentamente, arqueando uma sobrancelha.
“Se estivesse cheio, você não teria entrado.”
fechou a porta atrás de si, recostando-se nela. Estava com as mangas dobradas até os cotovelos e a respiração mais lenta. Tentava parecer calmo. Mas ela via. Os olhos dele sempre entregavam.
“Só vim avisar que amanhã os horários vão ser os mesmos, mas vai ser no campo, então vamos ficar numa pousada local e um dos carros da empresa vai te buscar” disse ele, neutro demais.
“E precisava vir pessoalmente pra isso?” ela rebateu, a voz baixa, provocativa.
“Bernardo já foi?” Ele ignorou a pergunta dela, e ela sorriu, jogando os sapatos de lado.
“Foi. Mas não se preocupe… ele pediu meu número.”
“E você deu?”
“Por que você se importa, ? Vai me dar um sermão agora? Falar sobre ética profissional enquanto segura o ciúmes nos dentes?”
“Não é ciúmes” ele disse, rápido demais.
“Não? Então por que você veio até aqui?”
“Você tá fazendo isso de propósito” ele disse, firme.
fingiu não entender, levantando-se com calma e se aproximando.
“Fazer o meu trabalho? Nossa, , que crime.”
“Não. Você sabe o que tá fazendo comigo. Toda essa encenação, os sorrisos, as insinuações… Você tá me provocando.”
Ela parou a poucos passos dele, inclinando a cabeça como se analisasse a própria obra-prima.
“E tá funcionando?”
Ele riu, curto, amargo.
“Você adora brincar com isso, né?”
“Talvez.” Ela aproximou-se um pouco mais. Agora ele podia sentir o perfume dela, quente e doce como um café recém passado. “Ou talvez eu só esteja cansada de você fingir que não sente nada quando, claramente, sente.”
“Eu tô tentando seguir em frente, .”
“Então por que voltou aqui?” Ela sorriu de canto, sem desviar o olhar.
Silêncio.
fechou os olhos por um segundo, como se aquilo doesse. Como se lutar contra o que sentia por ela fosse exaustivo.
“Porque você me enlouquece.”
“Eu sei. É isso que me mantém acordada à noite.” passou por ele, pegando sua jaqueta pendurada na cadeira. “Boa noite, , dorme bem.” E antes de sair, virou-se com um sorriso preguiçoso no canto da boca. “Amanhã traga você o café. Quente, como eu gosto.”
ficou ali, parado, com o gosto dela ainda preso na garganta e o cheiro no ar. Sabia que aquela campanha seria um inferno.
Um prazeroso, provocante, inescapável inferno.
Ele entrou no carro e fechou a porta com força desnecessária. O silêncio ali dentro era quase sufocante, abafando o zunido da rua e o som do rádio que ele não se preocupou em desligar. A cabeça latejava. tinha o dom — ou a maldição — de se infiltrar em tudo. Na pele, na memória, nos pensamentos que ele jurava ter enterrado. E agora, com essa campanha, era como se ela estivesse em todos os lugares de novo. Ele apoiou os cotovelos no volante, fechando os olhos e respirou fundo.
☕️ FLASHBACK ON - Continuação… ☕️
“Você sempre tem que jogar sujo…” murmurou, com a voz grave e rouca, enquanto continuava a devorar a boca dela, e sorriu, sabendo que estava tirando o pouco autocontrole que ele se esforçava para manter.
“Você adora quando eu jogo sujo…” Ela se aproximou mais, enquanto suas mãos deslizavam pelo peito de de maneira provocante. “Eu já disse, não adianta se esforçar tanto para manter o controle, amor…” ela sussurrou perto de seu ouvido, o hálito quente contra a pele dele.
A palavra ‘amor’ saiu de sua boca com facilidade, quase de maneira irônica, embora houvesse um tom doce e leve, o deixando enlouquecido. Ele sabia que ela tinha o poder de desmontá-lo completamente, e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.
“Você sempre tem que conseguir o que quer, não é?” perguntou, com a voz rouca, enquanto suas mãos desciam pelo corpo dela, apertando seus quadris com força, e riu suavemente, sabendo que o tinha na palma da mão.
“Sim… e você adora me dar o que quero…”
se arqueou contra ele, gemendo baixinho quando seus lábios encontraram a pele macia de seu pescoço, depositando beijos quentes e abafados. Ela deslizou as mãos pelas costas dele, passando por baixo da camisa, e o arranhou levemente, fazendo-o perder o autocontrole que restava. a puxou mais para perto, seu corpo se moldando contra o dela, enquanto suas mãos tocavam cada centímetro de pele que conseguiam alcançar.
“Não acha que já está na hora de tirar esse vestido, não?” perguntou, a voz soando como um comando para , sendo a gota d'água, e ele assentiu, seus olhos fixos no corpo dela.
As mãos dele encontraram o zíper do vestido de , começando a abaixar a peça lentamente, revelando aos poucos sua pele. Cada toque era desesperado, como se ele precisasse tocá-la novamente, lembrar-se de como era ter seu corpo contra o dele. O vestido caiu aos pés de , e a segurou pelos quadris, a puxando para mais perto enquanto a encurralava contra a parede. Ele reparou no sutiã preto que ela estava usando, a maneira como sua pele era revelada, e não pôde conter um suspiro.
“Ficou sem palavras?” provocou, com um sorriso malicioso, e revirou os olhos.
“Você é irritante até quando tá sem roupa” soltou, enquanto suas mãos deslizavam pelas curvas do corpo dela, memorizando cada detalhe.
“Ainda assim você fica duro” ela murmurou, olhando para baixo ao perceber o volume na calça dele.
“Você sabe muito bem o que faz comigo” ele retrucou, com a voz rouca, enquanto as mãos a puxavam mais para perto, para que ela pudesse sentir o quão excitado ele estava.
“Na verdade, não sei, terá que ser mais claro” falou, com a voz inocente, fazendo-o revirar os olhos novamente, apesar de uma parte dele adorar essa provocação.
“Realmente quer que eu seja mais claro?” ele perguntou, sua voz baixa e rouca, enquanto aproximava ainda mais seus corpos, o desejo por ela cada vez mais evidente.
“Já tá na hora de tirar sua roupa também, garotão.” deslizou a mão desde o peito de até o volume dele, fazendo-o soltar um gemido abafado. Enquanto ele se livrava das roupas, a visão de seu corpo definido e marcado era o bastante para fazer perder o autocontrole. Cada músculo, cada linha e curva estavam presentes, e ele sabia o quanto isso afetava ela. Quando finalmente tirou a última peça de roupa, ele voltou a se aproximar dela, de forma que seu corpo encostasse no dela novamente. “Gostoso…” sussurrou em seu ouvido, fazendo seus joelhos quase se dobrarem, enquanto seu corpo arqueava contra ela.
“Acho que é a primeira vez que ouço você falando algo positivo sobre mim” brincou, um sorriso malicioso se formando em seu rosto.
“Ah, não fique tão animado… se quiser mais disso, vai ter que fazer por merecer.” Ela sorriu também, com uma expressão travessa.
“É assim, então? E o que exatamente eu tenho que fazer?”
sabia exatamente as palavras para deixá-lo à beira da loucura.
“Me foder… com força” ela sussurrou em seu ouvido, aquelas palavras entrando como uma corrente elétrica, acendendo o fogo dentro dele.
“Isso eu posso fazer” murmurou, enquanto suas mãos deslizaram pela cintura dela, segurando-a de forma possessiva, e a carregou até o sofá do camarim. Ele se colocou entre seus joelhos, suas mãos vagando por suas coxas, e a observou diante dele, pronto para se render completamente a ela.
☕️ FLASHBACK OFF ☕️
voltou ao presente com um suspiro pesado, encostando a cabeça no banco. Estava conhecendo alguém agora. Estava tentando ser o homem certo. Alguém estável, previsível. Que não fosse sugado por esse furacão chamado . Mas, toda vez que a via, era como se o chão desaparecesse debaixo dos pés. Ela era tudo que ele não conseguia controlar. E no fundo, talvez ele nem quisesse.
O sol ainda estava subindo quando os primeiros carros começaram a estacionar no topo da montanha. O cenário era digno de um filme: céu aberto, uma brisa leve dançando por entre as árvores e uma vista ampla da natureza que se estendia até onde os olhos alcançavam. desceu do carro com óculos escuros, jaqueta de couro e um copo de café na mão — irônica, como sempre. Era impossível ignorá-la. chegou poucos minutos depois, de blazer escuro e olhar sério. Cumprimentou a equipe, conversou com o diretor de arte, mas seus olhos procuravam uma certa silhueta, mesmo que ele se recusasse a admitir. E claro, ela estava com Bernardo.
“Esse lugar é incrível” dizia o representante da marca, sorrindo ao ajudar a descer por uma pequena inclinação. “Você fica ainda mais fotogênica com essa luz natural. Difícil alguém competir.”
“Você tem um bom senso estético, Bernardo” ela respondeu, olhando diretamente para , que passava ao lado dos dois naquele exato momento. “Talvez até melhor que alguns diretores de criação por aí.” fingiu não ouvir, mas seus olhos endureceram, e mordeu o lábio inferior, satisfeita com o estrago.
Horas depois, estava posando com uma xícara de café nas mãos, sentada em uma pedra estrategicamente posicionada de frente para o vale. A produção pedia leveza, naturalidade — algo que ela sabia entregar de olhos fechados. Só que hoje, ela se esforçava mais do que o necessário. Durante uma pausa, ela olhou para , que observava tudo de longe com os braços cruzados, expressão indecifrável, e se aproximou devagar, com o mesmo figurino da cena: saia longa esvoaçante e camisa branca meio aberta, o cabelo preso de forma casual.
“Tá gostando da paisagem?” ela perguntou, encostando o copo de papel contra os lábios. “Ou é só da modelo mesmo?”
nem piscou.
“Eu vim trabalhar, .”
“Ah, então você ainda se lembra disso? Porque ontem parecia mais ocupado tentando não me olhar.”
Ele se aproximou um passo, mas parou ali mesmo.
“Eu já te disse… tô conhecendo alguém.”
deu um sorriso enviesado.
“Ah, é verdade. Esqueci.” Depois de uma pausa dramática, ela se inclinou um pouco, a voz baixa, como se dividisse um segredo: “Deixa eu adivinhar… um sorriso encantador, educada e absolutamente entediante?”
Ela se afastou com um giro leve, o vento levando consigo o perfume dela, enquanto ficou parado ali com as mãos nos bolsos, segurando um riso irônico. Porque, no fundo, ela estava certa. Era sempre o mesmo padrão: educada, com um sorriso de comercial de pasta de dente e absolutamente nenhuma ideia do que fazer quando ele abria um vinho tinto e colocava Foo Fighters pra tocar. Ele sabia disso. Mas também sabia que mulheres como vinham com um aviso de perigo pendurado no pescoço. Só que, de algum jeito, ele sempre acabava tropeçando na mesma curva.
Nela.
Ele respirou fundo, tentando se concentrar no horizonte, na brisa, em qualquer coisa que não fosse o rastro que ela deixava. Sim, aquele lugar era lindo. Mas o caos que trazia era muito mais intenso que qualquer paisagem.
estava sentado em um restaurante caro de São Paulo, olhando para a taça de vinho sem prestar atenção. À sua frente, Camila, a mulher que ele estava ‘conhecendo melhor’, que definitivamente encaixava em seu padrão, falava sobre uma viagem à Toscana. Ele não conseguia focar. Nem por um segundo. Disfarçadamente, pegou o celular e deslizou pelo Instagram, vendo curtidas, notificações… até seu dedo parar automaticamente em um perfil: @. Abriu os stories. O primeiro era um vídeo da paisagem no fim da gravação: o campo, o pôr do sol e a legenda: Isso sim é um bom dia de trabalho. O segundo mostrava parte do backstage: maquiadores rindo, alguém tirando fotos, ela fazendo graça com o figurino. Natural, linda, provocante até quando não estava tentando. rolou mais uma vez. E então parou. A última imagem era dela… na banheira da pousada. Apenas o topo dos joelhos à mostra, bolhas de espuma cobrindo o essencial, um copo de vinho numa das mãos e a legenda: Relaxando depois de um dia intenso.
Ele travou.
Nada explícito. Nada direto. Mas tudo naquela imagem era provocação. E o pior de tudo? Ele sabia que era pra ele. Engoliu seco e tentou voltar à conversa do jantar, mas a voz da mulher do outro lado da mesa soava distante, irrelevante. Ela fez isso de propósito. Foi então que ele abriu o story de novo. Não conseguiu evitar. E respondeu.
: Cuidado pra não escorregar nessa banheira…
: Ou alguém vai ter que ir aí resgatar você.
Dois minutos depois, a notificação surgiu.
: Acho que prefiro alguém que saiba exatamente como me tirar de lá.
leu a resposta. Três vezes. Ele fechou os olhos, apoiando o celular na testa. Droga. Ela estava ganhando. E, sinceramente, ele nem se importava mais.
: E como exatamente você acha que eu te tiraria de lá?
Demorou mais do que ele esperava para a resposta chegar.
: Depende…
: Você quer me salvar ou me afundar de vez?
Ele soltou um riso seco, baixo. Camila perguntou algo sobre a sobremesa e ele apenas balançou a cabeça, ainda olhando para a tela, como se ela não estivesse ali. recostou na cadeira, digitando com os dedos firmes.
: Você devia parar.
: E você devia ter saído correndo do meu camarim naquele dia…
: Mas, se bem me lembro, você demorou.
: Bastante.
Ele apertou a mandíbula, sentindo o calor subir pelas veias. Ela não estava apenas brincando. Estava instigando. Sabia o que fazia com ele. E se alimentava disso. largou o celular por um momento e respirou fundo, tentando ignorar o turbilhão que ela causava. Mas o mal já estava feito. Então, pegou o celular novamente.
: Você adora brincar com fogo.
: Você também…
: A diferença é que eu não corro quando começa a queimar.
encarou a tela por vários minutos, sem escrever nada. Ela também não escreveu de volta, como se soubesse que tinha chegado num limite perigoso. Ele tentou voltar a atenção para Camila, que seguia falando animadamente sobre alguma galeria de arte, ou talvez fosse sobre o vinho — honestamente, tinha parado de ouvir há muito tempo. Mas a tela piscou com uma nova mensagem, e ele pegou o celular com um gesto lento, quase discreto. Quase.
: Boa noite, .
: Sonha comigo… ou tenta não sonhar.
Embaixo, um story privado. Era uma foto nova da banheira iluminada por velas, o contorno do pescoço dela entre sombras e vapor. O cabelo molhado, uma taça de vinho equilibrada na mão.
Artístico. Discreto. Insuportavelmente sensual.
travou. A mulher do outro lado da mesa perguntou algo, mas ele nem ouviu. Mal piscava. Só encarava a tela como se tivesse levado um soco no estômago. Ela sabia o que estava fazendo. E ele… ele estava completamente à mercê. Empurrou o prato à frente, ajeitou a postura e respirou fundo, soltando uma risada abafada, incrédula, antes de resmungar:
“Ela vai acabar comigo…”
“Disse alguma coisa, querido?” Camila ergueu uma sobrancelha e ele deu um sorriso falso.
“Nada. Só lembrei de uma coisa.”
Mentira. estava pensando nela. Só nela. E ele sabia exatamente com quem iria sonhar naquela noite.
No terceiro dia de gravações, eles precisaram voltar para o mesmo local do dia anterior, para gravar alguns takes novamente. havia dormido mal. Ou melhor, mal tinha dormido. A imagem de na banheira ainda dançava na memória como um feitiço inquebrável. A provocação final. O sorriso de canto nos lábios dele quando viu a mensagem. E o maldito fato de que ele ainda teve que terminar o jantar com uma mulher que parecia cada vez mais irrelevante diante de tudo que era. Agora, ele cruzava o set com a expressão controlada, os passos firmes, como se conseguisse ignorar o furacão que carregava no peito.
Mas então a viu.
estava de costas, rindo de algo que Bernardo dizia a ela, enquanto mexia na própria blusa, ajustando a gola, sem nem olhar para , mas ele sabia. Sabia que ela tinha sentido sua chegada. E ela sabia que ele estava observando. Quando finalmente se virou, o encarou com um sorriso doce, quase inocente.
“Dormiu bem, chefe?” perguntou, com a voz arrastada de quem conhecia cada camada da provocação.
“Perfeitamente.”
sorriu ainda mais.
“Que bom. Achei que pudesse ter tido… sonhos perturbadores.” Ele se aproximou com o olhar firme, mas foi mais rápida: passou por ele levemente, os dedos roçando de propósito no braço dele, a boca próxima ao ouvido: “A propósito… a espuma da banheira era de baunilha e café. Achei apropriado pro tema da campanha.”
fechou os olhos por um segundo, lutando contra a vontade insana de puxá-la de volta e lembrá-la de que ele também sabia brincar. Mas ele era profissional. Ou, pelo menos, estava tentando ser.
A sessão de fotos começou com sozinha, entre lavandas e luz natural. O vestido escolhido era de um tom quente, que contrastava com o verde do campo e fazia seus olhos brilharem. Ela era uma visão. Todos estavam hipnotizados, inclusive Bernardo, que não disfarçava. observava tudo do lado, braços cruzados, a mandíbula travada. Fingindo revisar o roteiro da campanha no tablet, mas não absorvendo uma única palavra. Os olhos presos nela, como sempre.
“Ela tem uma presença magnética, não tem?” A voz de Bernardo surgiu ao lado dele e ergueu uma sobrancelha sem virar o rosto.
“Ela é boa no que faz.”
“Boa seria um eufemismo…” Bernardo riu, aquele tipo de riso que odiava. “Se não fosse por essa diferença de idade… bom, digamos que eu já teria a convidado pra jantar.” apenas lançou um olhar lateral. Um frio, afiado, que fez Bernardo finalmente recuar com um sorriso sem graça. “Brincadeira, claro. Só admiração profissional.”
Claro.
pensou. Só faltava ele acreditar.
A sessão seguiu ao longo da manhã e manteve a postura firme de diretor da campanha. Estava sempre com o tablet em mãos, analisando os takes, alinhando decisões com a equipe criativa e mantendo tudo sob controle — exceto ela. estava absolutamente no centro de tudo. Radiante. Profissional. Provocadora. Como sempre. A cada pausa, ela conversava com Bernardo, que parecia cada vez mais encantado. tentava se convencer de que aquilo não o afetava, mas falhava miseravelmente. Do fundo da tenda de apoio, observava o fotógrafo sugerir posições mais descontraídas para os próximos cliques. se sentou sobre uma manta disposta entre as lavandas, o café estrategicamente posicionado em uma bandeja rústica. O cabelo preso de forma despretensiosa, alguns fios soltos moldando o rosto iluminado. Bernardo se aproximou com uma xícara e se abaixou ao lado dela, entregando o objeto como se fosse um presente. riu de algo que ele disse, jogando a cabeça para trás. O som da risada foi abafado pela distância, mas sentiu como se tivesse sido direcionada a ele. Uma das assistentes de produção se aproximou de com o celular na mão:
“Senhor , o pessoal da marca quer que você aprove a proposta final do roteiro do vídeo para o Reels da campanha. Quer vir até a van de edição?”
“Claro” respondeu, tentando manter o tom neutro, mas, enquanto caminhava, seus olhos voltaram uma última vez para . Bernardo havia tocado de leve em seu ombro. Um toque inofensivo, talvez. Mas que fez algo dentro dele explodir.
A noite caiu sobre a montanha com um frio agradável e o céu limpo, pontilhado de estrelas. O grupo da campanha decidiu jantar junto num restaurante rústico perto do local de gravação. A mesa principal, longa e de madeira maciça, já estava tomada por parte da equipe. chegou alguns minutos depois, acompanhada de Bernardo, que claramente parecia satisfeito por estar ao lado dela.
“A gente devia comemorar o sucesso do dia” Bernardo disse, sorrindo. “Um vinho, talvez?”
sorriu, mas ao passar por , que estava falando com o diretor de arte, lançou um olhar rápido, carregado de algo que ele não soube definir.
“Só se for dos bons” disse a Bernardo, mas ela se virou de novo, agora apenas para : “Vai ficar pra revisar as fotos, ? Ou vai se juntar ao jantar dos adultos?”
Ela sorriu e sentou-se à cabeceira da mesa, deixando uma cadeira vaga ao seu lado — e não por acaso. Bernardo foi se sentar ali, mas , com uma naturalidade afiada, puxou a cadeira antes.
“Por que não? Assim posso supervisionar a equipe de perto” ele disse, lançando um olhar breve a Bernardo, antes de se sentar ao lado de .
O desconforto do outro homem foi imediato, disfarçado por um gole apressado de vinho. cruzou as pernas sob a mesa e se inclinou um pouco mais em direção a , como se fosse um jogo antigo entre eles.
“Que honra ter você entre os meros mortais” ela provocou, em tom baixo. “Deve estar difícil manter o ar de profissionalismo o tempo todo, né?”
“Eu me viro bem com o autocontrole” ele respondeu, virando a taça de vinho devagar. “Você devia tentar, às vezes.”
“Ah, mas onde estaria a graça nisso?”
A conversa seguiu com a equipe toda animada, mas na ponta da mesa, o clima era outro. Bernardo tentava puxar assunto com , comentando sobre os planos de marketing para os próximos meses, elogiando sua performance na campanha, propondo até ideias para um possível feat musical com o branding da marca. Mas ela só ria, agradecia com charme e, vez ou outra, jogava uma farpa sutil em , que a cada provocação respondia com sarcasmo e um olhar que escondia muito mais do que dizia.
“Você sempre atrai homens muito… dedicados, né?” comentou, em voz baixa, quando Bernardo se levantou para atender uma ligação.
“E você sempre aparece pra lembrar disso” ela rebateu, rindo, mordendo levemente o lábio.
O jantar seguiu, mas o que começou como um jogo logo virou guerra fria: olhares prolongados, respostas afiadas, sorrisos que beiravam o deboche. sabia o que ela estava fazendo — se divertindo às custas dele. E o pior: funcionava. Cada palavra dela parecia minar sua paciência, seu controle, sua tentativa patética de manter distância. Quando Bernardo voltou e sugeriu uma rodada de sobremesas, passou a ponta do dedo pela borda da taça de vinho, distraída, antes de dizer:
“Adoro um final doce depois de um dia amargo. Ou… intenso.”
Ela olhou diretamente para , que segurou o riso. E naquela mesa, com o mundo ao redor rindo e conversando, os dois seguiam travando uma guerra particular, onde cada gesto dizia mais do que qualquer palavra. O jantar terminou em meio a risadas e despedidas preguiçosas. A noite já estava gelada e o ar úmido fazia com que a neblina começasse a subir pelas curvas da estrada próxima. se despediu rápido, alegando estar cansado. Mentira. Ele só precisava sair dali antes que Bernardo conseguisse o que ele temia desde o início da campanha. Do outro lado do estacionamento, ajeitava o casaco nos ombros quando o homem apareceu ao lado dela, sorridente.
“Posso te levar de volta? O carro da produção já foi” disse ele, com um charme ensaiado.
hesitou por um segundo, como se tivesse consciência de que alguém a observava. E tinha. , parado junto ao próprio carro, fingia mexer no celular, mas seus olhos estavam nela. Sempre nela. Ela lançou um último olhar rápido para , como se o desafiasse a impedi-la. Mas ele permaneceu imóvel, com o maxilar travado.
“Tá bom” ela cedeu, com um sorrisinho de canto, entrando no carro de Bernardo.
acompanhou o veículo se afastar até desaparecer pela estrada. Ele jogou o celular no banco do carona, irritado. Irritado com Bernardo, com , consigo mesmo. Será que ela era capaz de ir tão longe só para provocá-lo? Será que ela queria mesmo aquele cara ou só estava testando até onde aguentava fingir que não se importava? Ele demorou para voltar à pousada, temendo que quando chegasse, esbarrasse com os dois na recepção, ou pior, subindo para o quarto juntos. Quando ele chegou, tentou tomar um banho, ler alguns e-mails… mas nada adiantava. Até que, finalmente, pegou o celular, abrindo o Instagram quase como quem cometia um crime. @ havia postado. O primeiro story mostrava o quarto da pousada com algumas luzes indiretas acesas e uma xícara de café em cima da cômoda — uma óbvia referência à campanha. O segundo era um vídeo da paisagem da montanha à noite, com o som de grilos e o sussurrar do vento. O terceiro… era ela. Na banheira, novamente. Mas dessa vez não havia nem espuma demais, nem ângulo revelador. Era sutil. Apenas a silhueta dos joelhos dobrados, a pele molhada refletindo a luz quente do banheiro e o rosto dela de perfil, com um sorriso vago, como se risse de algo que só ela sabia. Como se dissesse “relaxa, ainda sou só sua obsessão”. soltou um palavrão baixo, levando a mão ao rosto. Era impossível que aquilo fosse coincidência. Impossível que ela postasse aquela foto logo depois de sair com Bernardo. Era quase uma mensagem direta. Um recado velado. E foi só então que ele viu: a música que tocava de fundo no story.
I can’t relate to desperation
My ‘give a fucks’ are on vacation…
ficou ali por mais alguns segundos, encarando a tela do celular como se pudesse arrancar dela alguma resposta. Como se ela fosse dizer, com todas as letras: não aconteceu nada. Mas nunca facilitava. Ele digitou uma resposta no story. Apagou. Digitou de novo.
: Você não cansa?
Simples, seco. Mas carregado demais. E, antes que pudesse repensar, apertou ‘enviar’. Não deu nem trinta segundos.
: De você? Jamais.
Ela respondeu, como se estivesse esperando. Como se soubesse que ele cairia, de novo. Ele soltou um riso amargo e passou a mão pelos cabelos. Era tortura. Era loucura. Era típico dela.
: Se queria me deixar maluco, conseguiu.
: Só queria te lembrar do que está perdendo…
: Ou do que ainda é meu?
Ela não respondeu. E isso foi ainda pior. largou o celular no sofá. Caminhou até a janela e encarou a vista escura do campo. Seus dedos tamborilavam no parapeito com impaciência. Ele podia simplesmente deitar e esquecer tudo aquilo. Mas então o celular vibrou. Era uma mensagem direta. E não era uma resposta. Era uma foto. A mesma da banheira. Mas sem filtros. Sem música. Apenas uma legenda: Sozinha, relaxa.
Foi a quebra da última barreira.
agarrou a chave do quarto antes mesmo de pensar duas vezes e saiu, subindo as escadas da pousada com passos rápidos, o coração acelerado e a mente fervendo. Não sabia o que diria. Nem o que faria. Só sabia que precisava ver . E ela sabia disso também. Ele parou diante da porta e respirou fundo. O corredor estava vazio, silencioso, exceto pelo som distante do vento lá fora. Ele hesitou. Levantou a mão para bater, mas antes que o fizesse, a porta se abriu. estava enrolada em um robe claro, os cabelos ainda úmidos caindo pelas costas e o rosto limpo, sem maquiagem. Mas era o olhar o que mais o desarmava: provocativo, como se dissesse ‘demorou’, mas com uma centelha de surpresa mal escondida.
“Que coincidência…” ela disse, encostando-se no batente da porta com um sorriso curto. “Vem sempre aqui?”
estreitou os olhos, os lábios se curvando num quase sorriso.
“Você me chamou, .”
Ela deu de ombros, fingindo inocência.
“Eu só estava tomando banho. O resto é paranoia sua.”
Ele se aproximou um passo e ela não se afastou.
“Você sabe o que está fazendo” murmurou, olhando para ela de cima a baixo. “Você sabe que esse joguinho… esse negócio de postar foto com legenda sugestiva, responder como se estivesse esperando… isso mexe comigo.”
“E você acha que eu posto pensando em você?” rebateu, baixando o tom da voz. “Não se ache tanto, .”
“Ah, por favor.” Ele riu, amargo. “Você respondeu na mesma hora que eu te mandei mensagem, como se já estivesse esperando. E eu te conheço o bastante pra saber que você adora me deixar no limite.”
o olhou por um instante, o sorriso sumindo. Ela se afastou do batente, deixando a porta entreaberta.
“Então entra” disse, simplesmente, e travou.
“Isso é um convite?”
“É um teste. Igual aos que você adora falhar.”
Os olhos dele brilharam. Parte dele queria ir embora, bater a porta e fingir que ainda tinha controle. A outra parte… já estava dentro do quarto. Ele entrou, fechando a porta atrás de si com um clique suave, e o silêncio caiu como um cobertor pesado. caminhou até a pequena mesa do quarto e pegou uma taça de vinho, tomando um gole com calma antes de se virar de novo.
“Você tá tenso” ela disse, provocando.
“E você faz isso de propósito.”
“Claro. Não é culpa minha se você fica assim só com um story.” Ela deu um passo mais perto. “Imagina se eu postasse a parte que você mais gosta.”
prendeu a respiração. Aquilo… aquilo era sacanagem.
“Cuidado, …” ele disse, a voz baixa, grave. “Você não sabe até onde consigo ir quando você me provoca desse jeito.”
“Acho que sei, sim” ela sussurrou e os olhos de a acompanharam enquanto ela ia em direção ao banheiro com passos lentos, como se o chão sob os pés dela estivesse prestes a ruir, apesar dela caminhar com uma confiança absurda. Como se o tivesse nas mãos. E, no fundo, tinha. Ela parou na porta do banheiro, a mão no batente, virando o rosto por cima do ombro. “Sabe qual o seu problema? Você precisa relaxar…” disse, com um sorriso enviesado. “Aqui é perfeito para isso… água quente, vista bonita, silêncio. Dá vontade de ficar horas ali dentro.”
“E você quer que eu acredite que isso tudo aqui não foi um convite?” Ele arqueou uma sobrancelha.
“Bom, eu vou terminar meu banho” respondeu, dando um passo dentro do banheiro. “Fique à vontade para me acompanhar, se quiser.”
A porta se fechou devagar, com aquele clique suave que parecia gritar no quarto silencioso, e soltou um palavrão baixo, passando as mãos pelo rosto. Era ela. Sempre foi. A maldita mania de brincar com ele como se tivesse todo o tempo do mundo, e ele, nenhuma resistência. Ele se sentou na poltrona perto da janela, tentando se recompor, mas a mente fervilhava. Os flashes da lembrança no camarim, as fotos, os olhares. E agora ela, há poucos metros, tomando banho sabendo que ele estava ali. Sabendo que ele não conseguiria sair. Não ainda. Do banheiro, o som da água caindo se misturava com a voz dela cantarolando alguma música, enquanto um aroma leve de alguma essência adocicada escapava pela fresta da porta. Aquilo invadiu sua mente. Era suave. Quente. Provocador. Ele fechou os olhos e se encostou na poltrona, os dedos batendo na perna num ritmo impaciente. Um tempo depois, levantou da poltrona devagar, o coração acelerado, caminhou até a porta do banheiro e apoiou a mão na madeira, hesitando por meio segundo. Então bateu.
“.” Nenhuma resposta. A água continuava caindo, ritmada, e ela ainda cantarolava. Ele apertou o maxilar. “Você faz isso de propósito” murmurou contra a porta e, após hesitar mais um segundo, girou a maçaneta.
A porta estava destrancada. Ela queria que ele entrasse. O vapor tomou conta do banheiro, embaçando o espelho, a luz suave refletindo nas paredes de azulejo. A fatídica banheira já estava vazia, apenas com pequenas poças de água no fundo, e do outro lado, no box de vidro embaçado, estava , de costas, os ombros nus, o cabelo colado à pele. Ela não se virou.
“Achei que você fosse embora…” disse, com aquela voz baixa, provocante. Quase um sussurro.
“Você não queria que eu fosse.” deu um passo para dentro. O chão frio contrastava com o calor do ambiente. Seus olhos estavam cravados nela. “Você sabe que isso não é justo…” ele continuou, a voz rouca. “Me provocar, me deixar à beira, e depois se esconder atrás da porra de uma porta como se não soubesse o que faz.”
virou ligeiramente o rosto, ainda de perfil.
“E quem disse que eu tô me escondendo?”
Ele se aproximou mais um passo, parando a centímetros do vidro.
“Abre a porta, .”
Ela hesitou, mas então esticou o braço e deslizou o box, revelando-se completamente. Ainda assim, a fumaça da água quente e o ângulo protegiam parte do corpo, mas não o suficiente pra ele manter qualquer resquício de controle. Os olhos de estavam escuros, intensos. O peito subindo e descendo.
“Vai só ficar aí?” ela provocou, com um meio sorriso nos lábios.
Ele deu um passo adiante, agora quase dentro do box. Um silêncio pesado caiu entre eles, como se até o som da água estivesse esperando o que viria a seguir.
“Se eu entrar, não vou mais conseguir fingir que é só um jogo.”
“Então pare de fingir.”
encarou-a por mais um segundo. E então entrou, a água escorrendo por suas roupas, colando o tecido à pele, mas ele não parecia se importar nem por um segundo. Seus olhos estavam fixos nos dela como se finalmente tivesse se permitido cruzar a linha — como se, naquele instante, nada mais importasse além de . Ela o observava com um sorriso de canto, os olhos brilhando com desafio e desejo.
“Você vai mesmo ficar todo molhado assim?” ela provocou, a voz baixa, quase rouca, estendendo a mão até o colarinho da camisa dele.
“Isso é culpa sua” respondeu, as mãos já encontrando sua cintura desnuda sob a água quente. “Sempre foi.”
O primeiro beijo veio rápido, urgente, como se todos os olhares, toques e provocações acumuladas finalmente explodissem. A mão de se enroscou no cabelo molhado dela, puxando-a com firmeza, enquanto a de deslizou por dentro da camisa ensopada, sentindo o calor da pele dele sob o tecido frio. O toque dos seios dela contra seu peito coberto pelo tecido molhado era quase torturante. Ele podia sentir o formato deles pressionando-o, cada movimento dela enviando um impulso de pura excitação por seu corpo. Ela puxou a camisa pela gola, impaciente.
“Tira” sussurrou contra os lábios dele, e ele obedeceu, puxando a peça por cima da cabeça, jogando-a no chão encharcado sem se importar. O beijo se intensificou, os corpos se colando ainda mais. percorreu com os dedos a linha do abdômen dele, descendo devagar até o cós da calça. “Isso também vai ter que sair” ela disse, com um sorriso provocante.
arfou, as mãos firmes na cintura dela, os olhos cravados nos seus.
“Você gosta de ter o controle, né?”
“Eu gosto de ver você perder o seu” respondeu, puxando a calça dele devagar.
E ele realmente havia perdido.
O resto das roupas caiu sem cerimônia. O vapor os envolvia como uma névoa quente, como se o mundo inteiro estivesse em suspensão, assistindo a dois corpos finalmente colidindo depois de muito tempo dançando em torno um do outro. Naquele momento, não havia plateia, não havia empresa, não havia jogo. Havia só eles. Molhados, ofegantes, insaciáveis. Entregues. E, no fundo, sabia que mesmo quando achava que estava no controle… no fim, era sempre ela quem vencia.
O estúdio era diferente dos cenários anteriores: fechado, com iluminação mais suave, paredes escuras e detalhes em madeira, criando uma atmosfera intimista e sofisticada. Havia velas acesas em pontos estratégicos, como se a ideia fosse trazer não só aconchego, mas algo mais… pessoal. E era isso que precisava transmitir: proximidade. Ela já estava se maquiando quando entrou na sala de direção, do outro lado do vidro. Usava uma camisa preta de botões, as mangas dobradas até o antebraço, o cabelo ainda um pouco bagunçado. Não parecia ter dormido muito bem — suspeitava que era por causa dela. Ou por causa do que eles fizeram. O mais curioso? Ele tinha ido embora sem dizer uma palavra. Ela acordou sozinha, como se nada tivesse acontecido, como se tivesse sido só mais um jogo. Mas ela conhecia bem demais para acreditar nisso. Do outro lado do vidro, ele se sentou, tentando parecer focado, mas os olhos, inevitavelmente, sempre voltavam para ela. E ela sabia disso. ajeitou o microfone, respirou fundo e, com a equipe já posicionada, começou a cantar um trecho escolhido de última hora, mais suave, mais cru. Sua voz encheu o estúdio como uma confissão.
“You feel like a vacation, hit me like a shot of espresso…”
arregalou levemente os olhos, o queixo tenso. Ela não olhou diretamente para ele, mas sabia que ele estava ouvindo. A música não era apenas parte da campanha. Era um lembrete. Um recado. E quando terminou, o silêncio durou um segundo a mais do que deveria.
“Corta!” disse alguém da direção.
Ela tirou os fones devagar, o olhar finalmente cruzando com o dele através do vidro. Ele estava imóvel, quase sem piscar. E ela sorriu, aquele mesmo sorriso torto, como se dissesse ‘lembrou agora por que vai acabar voltando?’.
E como poderia esquecer?
desviou o olhar por um segundo, mas ela já sabia a resposta. E então Bernardo apareceu do lado dela com um copo de café da marca em mãos, elogiando sua performance, se aproximando demais. agradeceu, jogando o cabelo pro lado, mas os olhos, por um segundo, voltaram ao vidro. agora estava de pé. Sério. Tenso.
O resto do dia seguiu com uma calma forçada, quase ensaiada, como se todos estivessem participando de uma peça silenciosa, em que era o único tentando convencer a si mesmo de que nada havia mudado. Ele permaneceu a maior parte do tempo na sala de controle do estúdio, passando orientações pontuais, observando os takes, interagindo com os diretores de imagem e a equipe de criação. Profissional, frio, contido. Mas era só entrar em cena, com aquele olhar afiado e aquele sorriso provocante, que se traía. Um músculo da mandíbula saltava. Os dedos tamborilavam sobre a mesa. E às vezes, ele sequer percebia que havia prendido a respiração. Ela parecia ter acordado ainda mais confiante depois da noite anterior. Estava elétrica, leve, dona de si e de todo o ambiente. Durante um intervalo, enquanto Bernardo comentava algo ao pé do ouvido dela, soltou uma gargalhada exagerada, só para provocar. , do outro lado do estúdio, fingia estar entretido em uma conversa sobre paleta de cores. Fingia muito mal.
“Essa vibe intimista realmente destaca a artista” disse uma das coordenadoras, e ele apenas assentiu, o olhar focado em qualquer ponto que não fosse o jeito como cruzava as pernas enquanto ouvia Bernardo.
E então ela olhou para ele. Direto. Sem desviar. Sem medo.
Ele sustentou o olhar por alguns segundos, tentando não deixar transparecer o caos interno. A equipe voltou ao trabalho e, quando passou por ela mais tarde para revisar um ajuste no roteiro, ela se aproximou devagar, como se fosse só mais uma conversa casual.
“Dormiu bem, chefe?” perguntou, com um sorriso inocente.
Ele não a olhou, apenas respondeu, seco:
“Como uma pedra.”
“Sério? Porque eu jurei que tinha escutado você sair no meio da madrugada… quase tropeçando na porta.”
encarou o tablet em mãos, tentando ignorá-la.
“Foco no trabalho, .”
“Eu tô focada…” ela respondeu, dando um passo a mais, encostando levemente os dedos no braço dele. “Você que parece… distraído.”
não respondeu. Só a encarou por um momento longo demais. E então se afastou, como se fugir dela fosse sinônimo de controle. Mas sabia que, por mais que ele tentasse agir como se nada tivesse acontecido, ela era a única distração dele.
O estúdio se esvaziava aos poucos. A equipe recolhia os equipamentos, os assistentes ajustavam os últimos detalhes para o dia seguinte, e ainda estava no camarim, trocando de roupa e removendo a maquiagem leve que usara nas cenas mais íntimas. se manteve distante o máximo que pôde. Só que o problema de se manter longe de era que, quanto mais ele tentava, mais o corpo dele parecia buscar por ela. E agora, naquele silêncio estranho que se instalava quando o ambiente estava quase vazio, parecia que tudo conspirava para que se encontrassem de novo. Ele precisava pegar um último material esquecido na parte de figurino. Foi isso que disse a si mesmo. Um pretexto ridículo, ele sabia. Mas era o suficiente para levá-lo até onde ela estava. já havia se trocado, usando agora um moletom folgado demais para o padrão dela, e mesmo assim ele não conseguia tirar os olhos dela. Ela o viu pelo espelho e sorriu, sem se virar.
“Tá perdido ou só fingindo que veio fazer alguma coisa?”
parou na porta, os ombros tensos.
“Vim buscar uns arquivos da equipe de figurino.”
“Achei que ia continuar fingindo que nada aconteceu ontem.” Ela virou-se devagar, os braços cruzados, o olhar provocador.
“E o que exatamente você quer que eu diga, ?” Ele franziu a testa, forçando a postura fria, e ela deu um passo à frente, com a calma de quem sabia exatamente o efeito que causava.
“Nada. Mas achei que, depois de tudo, você ao menos conseguiria me olhar nos olhos sem parecer que vai fugir a qualquer segundo.”
“Não tô fugindo. Só… focando no trabalho.”
“Ah, claro. Porque ‘trabalho’ é o que você pensou quando me viu naquela banheira, né? Quando me viu tomando banho ontem…” Ela inclinou a cabeça, se aproximando ainda mais, até quase roçar o peito dele. “Você pensou em planilhas, briefings, café...”
“Para de brincar com isso, .” Ele cerrou os punhos, tentando manter a expressão neutra.
“Isso? Isso o quê, ? O que a gente tem? O que aconteceu no banheiro? Porque pra mim…” Ela se inclinou no ouvido dele, a voz baixa e arrastada. “Aquilo não parecia brincadeira.”
Ele não respondeu. Porque sabia que se abrisse a boca, diria o que não devia. o olhou nos olhos mais uma vez, como se quisesse imprimir nele uma verdade silenciosa, e depois voltou a encarar o espelho, como se não tivessem acabado de incendiar o ambiente com meia dúzia de palavras. saiu, mas a presença dela permaneceu com ele. Como sempre.
estava jogada na cama do hotel em que havia sido realocada pela equipe de , o celular em mãos, passando pelos stories dos amigos, atualizações aleatórias e memes de moda que sempre apareciam no seu feed. A gravação no estúdio tinha sido intensa, mas o que realmente a esgotava era a tensão constante com e o fato dele agir como se nada tivesse acontecido entre eles. Foi quando ela rolou mais um pouco a tela e se deparou com um post de uma página de fofocas.
, o CEO desejado por todas, foi visto com novo affair em restaurante conceituado de São Paulo. O empresário parecia à vontade com uma loira misteriosa, com quem dividiu taças de vinho e sorrisos discretos. Quem será a nova sortuda?
bufou. Um riso seco escapou pelos lábios enquanto ela clicava para ver a foto borrada de com a mulher da noite anterior. Ela estava com o celular em mãos, o sorriso perfeito, o cabelo arrumado na medida certa… o tipo exato que ele sempre escolhia. Impecável. Entediante.
“Claro… mais uma boneca Barbie na lista” murmurou, revirando os olhos.
Ela travou a tela e jogou o celular de lado, como se aquele simples gesto pudesse impedir o incômodo de crescer dentro dela. Ela não sentia ciúmes, mas achava… engraçado. Engraçado ver como ele ainda tentava manter essa ilusão de que mulheres como aquela eram o tipo certo. Como se repetir o padrão fosse ajudá-lo a esquecer o efeito que causava nele. Como se fingir que podia viver longe dela fosse apagar o jeito como ele tremia quando ela o tocava. O jeito como ele perdia o fôlego só de sentir o cheiro dela. sabia do poder que tinha sobre ele. Sabia que, por mais que ele corresse para os braços das ‘certinhas’, era nela que ele pensava quando as beijava. Era com ela que ele sonhava. Porque ninguém, absolutamente ninguém, conseguia fazer com que perdesse o controle como ela fazia. E o mais irônico de tudo? Ele sabia disso também.
voltou a pegar o celular, a curiosidade vencendo antes do orgulho, e clicou no perfil de . E claro, como se adivinhasse que ela estaria fuçando, ele tinha postado um story. Era uma foto no espelho. Clássica. Simples. Mas impecável. A camisa social escura perfeitamente ajustada ao corpo, a calça alinhada, o relógio caro refletindo discretamente a luz do banheiro luxuoso do apartamento que ela conhecia bem. O rosto sério, mandíbula travada, olhar direto na lente. E, claro, ele estava absolutamente (irritantemente) gostoso. Ela ficou olhando tempo demais. Tempo suficiente para se odiar um pouco por isso. sabia que era bonito. Sabia o efeito que causava. E ainda assim… ele sempre agia como se o controle estivesse do lado dele. Como se ela fosse só mais um nome na lista. bufou, jogando novamente o celular para o lado por um segundo antes de puxá-lo de volta com a mesma rapidez. Ela não ia dar aquele gosto pra ele. Ele era quem vivia correndo atrás. Quem aparecia quando ela menos esperava — e mais queria. Quem a seguia até o camarim. Quem arrumava desculpas para estar por perto, mesmo jurando que ‘estava conhecendo alguém novo’.
foi até a câmera. Cabelo molhado, ainda levemente ondulado, maquiagem propositalmente borrada ao redor dos olhos e uma camisa grande dos Foo Fighters, que deixava o ombro exposto e que iria reconhecer muito bem. Natural. Quase descuidada. Mas no ponto exato entre o despretensioso e o provocante. Então postou nos stories, sem legenda, e se jogou de volta na cama, o leve sorriso no canto dos lábios. Era sempre assim. Uma dança. Um jogo. E no jogo deles, ela sempre soube jogar a carta certa para lembrar a quem ele realmente pertencia. O celular vibrou sobre o travesseiro e uma notificação solitária iluminou a tela escura. nem precisou olhar o nome. Ela já sabia.
@ respondeu ao seu story.
Ela mordeu o canto do lábio, o coração acelerando com aquela mistura irritante de antecipação e triunfo. Deslizou o dedo na tela devagar, quase como se saboreasse o momento. A mensagem era curta:
: Bela blusa…
sorriu. Era a banda favorita dele. Ela sabia, e era exatamente por isso — e por ter saído da casa dele uma vez sem devolvê-la — que tinha escolhido aquela blusa. Digitou sem pensar:
: Gostou? Foi um presente de alguém com muito bom gosto.
A resposta dele veio quase instantaneamente:
: Presente? Não tenho tanta certeza disso…
: Tá querendo me enlouquecer, né?
Ela mordeu o lábio, o sorriso crescendo.
: Quem? Eu?
: Só tava me secando do banho😇
Mandou, como se fosse a coisa mais inocente do mundo. Aqueles segundos em que ele estava digitando pareceram eternos.
: Você é impossível.
: E você é previsível.
: Sempre aparece quando eu quero.
: E você sempre sabe quando me chamar, sem dizer uma palavra.
largou o celular por um momento e se encostou na cabeceira da cama. Aquele definitivamente era o jogo deles: insinuações, mensagens tardias, provocações e desejos nunca saciados o suficiente. Ela pegou o celular de novo, leu toda a conversa mais uma vez, e mandou:
: Dorme bem, .
Só pra ver se ele conseguiria. Porque ela sabia que ele estava do outro lado da tela com a mandíbula travada, tentando não imaginar a cena e falhando miseravelmente. Era sempre assim: ele resistia, ela provocava; ele tentava manter o controle, ela o puxava pra perto com meia frase. E o mais engraçado era que, por mais que ele jurasse que ela o deixava maluco, também se sentia assim. Só que nunca deixava transparecer. Não primeiro. Ela colocou o celular de lado, desligou a luz e se afundou no travesseiro. Mas o sorriso no rosto ainda estava ali, intacto.
O salão estava impecável. Lustres pendiam do teto com cristais que refletiam as luzes quentes, criando um brilho dourado suave em cada canto. Mesas de madeira escura contrastavam com arranjos de flores em tons terrosos e xícaras ornamentadas com a logo da marca de café. No fundo, uma banda tocava alguns instrumentais de músicas famosas, criando uma atmosfera elegante e envolvente. chegou em grande estilo, como sempre. Um vestido preto de seda que abraçava suas curvas com perfeição, uma fenda que revelava parte da perna com cada passo e um batom vermelho que parecia ter sido escolhido a dedo para provocar. Ela caminhava com a confiança de quem sabia o efeito que causava. Foi recepcionada por um dos diretores da marca, tirou algumas fotos para a imprensa e, então, cruzou o salão com uma taça de espumante na mão, cumprimentando alguns convidados conhecidos. Ela estava ocupada demais observando a decoração para notar quando entrou. Mas, quando virou-se para olhar em direção à entrada principal, seus olhos o encontraram. E, como sempre, ele estava impecável: terno preto bem ajustado, camisa social aberta no colarinho, cabelo perfeitamente desalinhado e aquele olhar que misturava tédio e desejo. Ao lado dele, vinha uma mulher loira, alta, com um vestido simples e elegante. O tipo de mulher que qualquer mãe aprovaria — e que sempre achava sem graça. não a viu de imediato. Mas , com um sorriso de canto, virou-se para o garçom que passava:
“Me vê algo mais forte?” ela pediu, os olhos ainda fixos na entrada.
Ela sabia que aquela noite seria divertida. Principalmente porque sabia exatamente como provocar o único homem naquele lugar que jamais conseguiu esquecê-la. , por sua vez, circulava pelo salão com seu habitual charme contido. Ao seu lado, Camila sorria, gentil, educada, o tipo de companhia que agradava a investidores e repórteres. A cada novo aperto de mão ou elogio sobre a campanha, acenava com um sorriso polido, mas seus olhos varriam o ambiente, procurando algo, ou melhor, alguém.
E então, ele a viu.
estava encostada em um dos balcões, conversando com o representante da marca. Ela jogava a cabeça para trás ao rir, os lábios vermelhos brilhando sob a luz âmbar. Era impossível não notá-la. Impossível não se perder na imagem. pigarreou, ajeitou o colarinho da camisa e, como se fosse movido por impulso (ou provocação), guiou Camila na direção dela.
“…” ele disse, ao se aproximar, o tom perfeitamente neutro. Quase. “Que bom te ver.”
Ela virou-se com um sorriso afiado.
“…” respondeu, com um olhar que descia lentamente pelo terno dele, sem pressa. “Sempre um prazer… visual.”
Camila estendeu a mão, simpática.
“Oi! Sou a Camila. É um prazer finalmente conhecer você. fala bastante sobre o projeto.”
apertou a mão da mulher, mantendo o olhar em .
“Que fofo. Ele realmente sabe ser um homem de negócios.”
arqueou uma sobrancelha. Camila, ingênua, sorriu.
“A campanha está incrível. Sua performance nos teasers está maravilhosa, .”
“Ah, obrigada. Faço o possível pra causar um impacto” ela respondeu, com um sorriso sugestivo que fez limpar a garganta.
Nesse momento, um fotógrafo da imprensa se aproximou.
“! ! Vocês podem vir aqui um instante para algumas fotos da campanha?”
assentiu, e Camila se afastou, educadamente. caminhou ao lado dele, os saltos marcando presença com cada passo. Diante das câmeras, os dois se posicionaram. Primeiro, formais. Mas à medida que os flashes iam aumentando, a distância entre eles diminuía. Um toque leve no braço. Um sussurro quase inaudível.
“Sua acompanhante é encantadora…” disse, entre sorrisos. “Você tem mesmo um tipo.”
“E você ainda se diverte com isso, né?” sorriu para a câmera.
“Sempre” ela respondeu, inclinando-se levemente para que os ombros quase se tocassem. “Principalmente quando você finge que não liga.”
O fotógrafo capturou o momento exato em que os olhares deles se cruzaram, intensos e íntimos. Depois, sugeriu que eles se aproximassem mais, ‘para mostrar a química da campanha’. obedeceu sem hesitar, deslizando o braço pelo de até que seus corpos quase se tocassem. O perfume dela subiu de leve, doce e quente, o suficiente para confundir os sentidos dele.
“Você tá um pouco tenso…” ela sussurrou, o olhar ainda fixo nas câmeras. “Será que é o flash… ou a minha presença?”
sorriu sem mostrar os dentes, aquele sorriso que ele usava quando estava por um fio.
“Acho que é o café da campanha. Me deixa agitado.”
soltou uma risadinha baixa e provocante, virando levemente o rosto em direção ao dele, como se fosse beijar sua bochecha, mas parando milímetros antes.
“Jura que é só o café?”
não respondeu de imediato. Em vez disso, deixou os olhos passearem pelo rosto dela, depois pelos lábios, e finalmente encarou seus olhos.
“Você sabe exatamente o que está fazendo, né?”
“Sei. E adoro ver você tentando resistir.”
Ele mordeu levemente o interior da bochecha, desviando o olhar como quem precisava manter o controle a qualquer custo.
“Uma hora você vai passar do ponto. Vai cruzar a linha errada.”
“E aí? Vai fazer o quê? Me punir?” O clique da câmera os fez se afastar um pouco, mas não o suficiente. Apenas o bastante para disfarçar que havia algo ali queimando baixo, prestes a explodir. se recompôs, voltando à pose mais formal. continuava com o mesmo sorriso malicioso nos lábios. E então ela disse, com uma voz doce demais para ser inocente: “A propósito… adorei a Camila. Ela parece tão… calma. Equilibrada. Tudo que você precisa.”
“Você continua achando que sabe o que eu preciso.” a olhou de lado, a tensão no maxilar visível.
“Ah, … eu não acho. Eu sei.” O fotógrafo agradeceu e anunciou o fim das fotos. se virou para sair, mas antes de dar o primeiro passo, olhou por cima do ombro, os olhos faiscando. “E acho que você também sabe.”
ficou ali, parado por alguns segundos, os dedos cerrando-se discretamente ao lado do corpo. Nada nela era sutil. Mas o efeito que ela causava nele? Era quase cruel.
A música ambiente havia mudado para algo mais suave, um jazz moderno que preenchia o salão com uma aura de sofisticação. estava perto do balcão, bebericando o vinho em sua taça de vidro, enquanto conversava com uma das influenciadoras convidadas. Seus olhos, porém, desviavam de vez em quando para a pista de dança — e para , que agora conversava com um executivo da empresa, com Camila pendurada em seu braço como se fosse parte do figurino. Foi quando Bernardo surgiu ao lado dela, o sorriso confiante de sempre.
“Sabe que ainda não te vi dançar hoje?” ele disse, oferecendo a mão, e ergueu uma sobrancelha, sem esconder o tom irônico.
“E você acha inaceitável, é isso?”
“Inaceitável e trágico. A estrela da campanha precisa brilhar em todos os sentidos.”
Ela riu, jogando o cabelo para o lado e lançando um olhar rápido em direção a , que, como ela esperava, a observava discretamente.
“Tudo bem… mas só se você me acompanhar direito, senhor representante da marca.”
“Eu danço melhor do que pareço, prometo.”
Bernardo a guiou para o centro da pista, as luzes suaves lançando reflexos dourados no vestido dela. Ele segurava a cintura de com cuidado demais, como se ela fosse frágil, como se estivesse dançando com uma peça de porcelana. observava de longe, a mão fechada em um copo que ele já havia esvaziado fazia minutos. Tentava se manter no controle, ouvir a conversa ao seu redor, mas seus olhos não desgrudavam da maneira como sorria — especialmente quando ela lançava sorrisos que claramente não eram para Bernardo. Ela se movia com leveza, rindo de algo que ele sussurrava, mas por dentro, estava entediada. Sabia exatamente o que estava fazendo. A cada volta mais próxima do canto onde estava, ela virava um pouco o rosto, apenas o suficiente para que seus olhares se encontrassem. Um jogo antigo, que ela sabia jogar muito bem.
“Você dança bem, . Quase me convence de que está se divertindo de verdade” Bernardo comentou, os olhos colando nos dela.
“Quem disse que eu não estou?”
“Não sei… sua cabeça parece em outro lugar.”
Ela sorriu, se inclinando um pouco mais para perto, como se fosse contar um segredo.
“Talvez esteja mesmo.”
E então, antes da música acabar, ela fez questão de rodar e parar com o olhar fixo em . Sorriu de leve, quase imperceptível, mas ele percebeu. Porque tudo que ela fazia, percebia.
Mais tarde naquela noite, as luzes do salão se ajustaram, diminuindo aos poucos até que apenas o centro do palco fosse iluminado por um único feixe de luz suave. Um microfone elegante estava posicionado ali e a plateia se virou quase em uníssono quando o apresentador anunciou a atração principal da noite.
“Senhoras e senhores… com vocês, a estrela da campanha: .”
Os aplausos ecoaram pelo salão, mas nem percebeu estar batendo palmas. Seu olhar estava cravado na silhueta que surgia no palco, com um vestido preto de seda que parecia ter sido feito sob medida para ela, o cabelo solto e um sorriso que escondia mil intenções. se posicionou no centro, segurando o microfone com a familiaridade de quem nasceu para aquilo. A música que começou a tocar era suave, lenta, sensual. Ela não precisava se esforçar, sua voz preenchia o espaço com naturalidade e seu olhar vagava com calma, até pousar em por apenas um segundo. Camila, sentada ao lado dele, até tentou dizer algo sobre a decoração do palco, mas percebeu que ele não a escutava. Não havia espaço para mais nada nos olhos de , além dela. A primeira música terminou em aplausos calorosos, mas nem esperou muito antes de emendar com uma mais animada. O ritmo subiu, as luzes ficaram mais quentes e ela abandonou o microfone no pedestal, levando-o consigo enquanto começava a circular pelo salão. Ela cantava sorrindo, dançava com graça, os pés descalços, agora, deslizavam no chão de mármore como se não tocassem nele. Girava, estendia a mão para cumprimentar algumas pessoas, fazia brincadeiras com convidados aleatórios. Era como se cada verso da canção fizesse parte de um jogo silencioso entre ela e .
E ele estava perdendo feio.
A certa altura, ela passou por ele. Tão perto que o perfume doce e cafeinado dela invadiu os sentidos dele como uma lembrança — ou uma tentação. não olhou diretamente para ele. Não precisava. Sabia que ele estava ali, assistindo, se contorcendo por dentro. Camila finalmente pareceu notar. Ela o encarou de lado, franzindo o cenho.
“?”
Mas ele não respondeu. Os olhos fixos em , como se cada nota da música prendesse um pouco mais da sanidade dele. No último verso, voltou para o palco com um rodopio perfeito e jogou um beijo no ar. Para ninguém — ou para alguém específico, que não precisava ser nomeado. O salão explodiu em aplausos e recostou na cadeira, a mandíbula tensa, os dedos batendo contra o joelho com impaciência. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. E fazia com prazer. Assim que deixou o palco, os aplausos ainda enchendo o salão, ela foi recebida por alguns produtores da marca, que a parabenizaram pelo desempenho. Mas, entre cumprimentos e flashes, o olhar dela buscou, e encontrou, , parado mais ao fundo, com Camila ao lado, visivelmente desconfortável. sorriu, tranquila, como se não tivesse acabado de incendiar o ambiente com sua performance. Como se não soubesse o efeito que causava. Ela pegou uma taça de espumante de uma bandeja e caminhou entre os convidados, como se estivesse em casa. , por outro lado, estava lutando contra os próprios impulsos.
“Você tá bem?” Camila perguntou, forçando uma risada. “Tá bem distraído desde que ela apareceu.”
franziu o cenho, tentando parecer surpreso.
“O quê? Não, só estava pensando no cronograma da semana.”
Camila riu de forma seca, descrente, mas, antes que a conversa pudesse continuar, se aproximou.
“Camila!” ela disse, com um sorriso brilhante. “Amei seu vestido. Super delicado.”
“Obrigada, .” Camila forçou um sorriso de volta. “Sua apresentação foi… energética.”
“Ah, eu gosto de colocar o público pra sentir comigo.” virou-se para , o olhar fixo. “E aí, gostou da música?”
Foi escolhida exatamente pra você…
“A campanha é sobre café, não sobre… provocação.”
Ela soltou uma risada baixa, inclinando-se levemente para ele.
“Ué, mas café também é quente, intenso… vicia.”
Camila olhou de um para o outro e o silêncio que se instalou por um segundo disse tudo o que ela precisava ouvir. então pigarreou e tentou se recompor.
“, será que a gente pode conversar um minuto? A sós?”
“Claro, chefe” ela disse, com sarcasmo, e o seguiu até um canto mais reservado do salão.
Quando se afastaram o suficiente, ele se virou para ela com o maxilar travado.
“Você precisa parar com isso. Aqui não é o lugar pra esse tipo de coisa.”
“Que tipo de coisa, ? Cantar? Dançar? Ser adorável?”
“Provocar.” Ele rosnou, num tom baixo, tenso. “Você sabe muito bem o que está fazendo.”
Ela deu um passo mais perto, tão próxima que ele teve que controlar a respiração.
“E o que eu estou fazendo, exatamente?”
hesitou. O cheiro dela, a proximidade, a lembrança da noite anterior… tudo o que ele queria dizer desapareceu da mente.
“Isso não vai funcionar. Eu tô tentando…”
“Ser o cara certo? Ficar com a garota certa?” Ela arqueou uma sobrancelha. “Como é o nome dela mesmo? Camila? Parece uma boa pessoa.”
“Para com isso, .” a encarou, irritado, mas ela deu um sorriso quase carinhoso.
“Você quer que eu pare… ou só quer que eu pare na frente dela? Porque, quando estávamos nós dois no chuveiro e depois na minha cama, você não queria que eu parasse. Muito pelo contrário, você mandou eu rebolar mais rápido.” Ele não respondeu. E isso foi tudo o que ela precisava ouvir. “Vai voltar pra ela agora? Fingir que nada disso importa?” olhou nos olhos dela por um longo instante, o maxilar trincado de novo. Mas era inútil. Ela o conhecia bem demais. Sabia que ele estava se segurando por um fio. se aproximou mais, encostando os lábios perto do ouvido dele. “Mas eu sou boazinha, vou te dar um descanso, . Por agora.” E saiu, deixando-o ali, sozinho com a própria confusão, e com Camila, que agora o observava de longe com uma expressão de quem não precisava de muitas palavras para entender o que estava acontecendo.
O salão já estava mais vazio quando pegou sua bolsa no camarim. A música agora era mais baixa e os últimos convidados se despediam aos poucos. Ela estava prestes a sair quando Bernardo apareceu ao lado, sorrindo com aquele ar confiante que ele nunca perdia.
“Quer uma carona até o hotel?” ele perguntou, casual, como se não tivesse passado metade da noite tentando mais do que apenas levá-la pra casa.
hesitou por um segundo, os olhos varrendo o salão em busca de um certo alguém. ainda estava ali, encostado no bar com um copo na mão, a expressão carregada. Camila havia ido embora minutos antes, depois de uma série de pedidos de desculpas sussurrados que mal conseguiu completar. não tinha ouvido tudo, mas viu o jeito como Camila saiu. Sem graça. Insegura. Desconfiada. E ? Bom, agora estava a encarando como se cada escolha que ela fazia fosse uma afronta pessoal.
“Tudo bem, aceito.” Ela sorriu para Bernardo.
fechou os olhos por um segundo, frustrado.
Ótimo.
O problema era que nada sobre ela era simples. não era só bonita. Ela era magnetismo puro. Era presença. Era impossível não sentir quando ela estava por perto. Quando os dois passaram por ele, nem se deu ao trabalho de disfarçar o olhar. Ela estava sorrindo, dizendo alguma piadinha para Bernardo, mas seus olhos estavam nele. A porta se fechou atrás dos dois e ele ficou ali, parado, remoendo cada maldita emoção. A raiva latejava sob a pele. Raiva por sempre acabar naquele ponto. Raiva por nunca conseguir seguir em frente. Por desejar alguém que o tirava do eixo com um único olhar. Ela era exatamente como o maldito café daquela campanha: quente, viciante, perigosa. E por mais que ele soubesse que deveria parar, que precisava se afastar, ele não conseguia. Nunca conseguiu.
Já no carro, recostou a cabeça no vidro, o olhar perdido na paisagem noturna de São Paulo. Bernardo falava alguma coisa, mas ela nem prestava atenção. Pegou o celular e abriu o Instagram. havia visualizado todos os stories. E ela sorriu. Um daqueles sorrisos que ela tentava esconder, mas que sempre escapava quando o assunto era ele. Bernardo estacionou na frente do hotel e se virou para ela, mas, antes que pudesse falar algo, ela já estava abrindo a porta.
“Boa noite, Bernardo. E obrigada pela carona.”
“Vai dormir já?” Ele tentou, sorrindo de lado. “Podíamos subir e conversar mais um pouco.”
“Acho que já conversei bastante por hoje.” sorriu, gentil, e ele suspirou.
“Certo. Até depois, então.”
Ela acenou e entrou no hotel, os saltos ecoando pelo saguão. Assim que chegou no quarto, jogou a bolsa no sofá e pegou o celular de novo. Abriu a câmera, tirou uma foto no espelho, sexy, mas discreta — exatamente no tom que ela sabia que deixava maluco — e postou nos stories. Do outro lado da cidade, , que havia jurado ignorá-la pelo resto da noite, recebeu a notificação assim que entrou no carro. E, é claro, ele abriu. O carro seguia devagar pelas ruas da cidade, mas mal registrava o caminho. Seus olhos estavam fixos no celular, onde o story recém-postado de ainda brilhava na tela. Ele deslizou o dedo para o lado, assistindo de novo. E de novo.
Aquela foto.
Ela sabia exatamente como provocar, como se infiltrar nos pensamentos dele mesmo sem estar por perto. passou a mão no rosto, irritado com a própria reação. Ele estava exausto, tenso, ainda sentindo o peso do olhar de Camila quando percebeu que ele não conseguia tirar os olhos de . Porque não conseguia mesmo. Ela cantava e o mundo inteiro sumia. Ela o provocava com gestos, com sorrisos, com palavras que ninguém mais percebia serem dardos bem mirados. encarou o celular pela centésima vez naquele minuto. A foto de continuava ali, como um veneno doce que ele fazia questão de consumir de novo e de novo. Aquela expressão, aquele maldito jeito de se exibir sem realmente se expor. Ela era um enigma cruel, e ele era péssimo em resistir a enigmas assim. Por um segundo, ele considerou. Pensou seriamente em mandar o motorista mudar a rota até a casa dele e parar no hotel. Subir até o quarto dela. Dizer tudo o que estava preso na garganta. Ou talvez… nem dizer nada. Só entrar. E acabar com aquilo da única maneira que eles sabiam. Mas respirou fundo. Fechou os olhos por um instante. E jogou o celular no banco ao lado, tentando retomar o controle que sempre perdia quando se tratava dela.
Ele não ia. Claro que não ia. Talvez.
“Mude a rota” disse, de repente, para o motorista. A voz saiu seca, urgente.
“Senhor?” O homem olhou pelo retrovisor.
Ele não pensou, só agiu. O peito apertado, o maxilar travado e a mente martelando uma única possibilidade: Bernardo.
“Mude a rota para esse hotel aqui. Agora.” Ele mostrou a localização no celular e o motorista apenas assentiu, seguindo para fazer o retorno. Quando o carro virou a esquina e estacionou discretamente em frente ao hotel, o coração de disparou ao ver o carro de Bernardo parado ali. “Filho da puta.”
Saiu do carro antes mesmo que ele parasse completamente. Os passos apressados, quase uma corrida, o elevador que parecia demorar uma eternidade, e então o corredor silencioso do andar dela. Ele prendeu a respiração ao parar diante da porta. Bateu forte. De novo. E de novo. Mais desesperado do que gostaria. Ele estava prestes a bater novamente quando a porta se abriu. estava ali, os olhos ainda com o delineado intacto, o batom só um pouco apagado e o vestido perfeitamente no lugar, como se tivesse saído do evento há minutos — o que talvez fosse verdade. Ela o olhou com uma sobrancelha arqueada, como se não estivesse surpresa.
“Está tudo bem, ?”
Ele não respondeu de imediato. Os olhos correram por ela, depois pelo quarto. Nenhum sinal de Bernardo. Nenhum paletó jogado na cadeira, nenhum copo de uísque, nenhum sapato masculino no canto do quarto. Mas mesmo assim, ele não relaxou.
“Você tá sozinha?”
“Esperava outra coisa?” encostou o corpo na porta, cruzando os braços.
passou a língua pelos lábios, inquieto. Olhou para dentro de novo.
“O carro dele ainda tá lá embaixo.”
Ela sorriu, devagar, como se estivesse se divertindo com o caos interno que ele tentava esconder.
“Bernardo subiu só pra deixar o sobretudo que eu tinha esquecido no carro. Foi embora quase agora. Mas que gracinha, … você veio me salvar?” Ele não respondeu. Não ainda. Estava ocupado demais tentando não invadir o quarto de uma vez. “Você sempre se convence de que eu sou o problema, mas é você quem corre atrás de mim no meio da noite” ela provocou, abaixando um pouco a voz, mais macia, mais cortante. “Vai continuar parado aí?”
a olhou por mais um segundo. Ele odiava que ela tivesse esse poder. Odiava mais ainda que ela soubesse disso.
“Não sei…” ele murmurou, com a voz baixa e rouca. “Você vai me deixar entrar?”
“E o que você vai fazer se eu deixar?” inclinou levemente a cabeça, como se o analisasse, e os olhos dele se cravaram nos dela. Quentes. Incontroláveis.
“Tudo o que eu fiquei evitando desde que te vi nesse maldito vestido.”
Ela riu. Baixo, perigoso.
“Então entra.”
Assim que cruzou a porta, a fechou atrás dele com calma. O quarto estava envolto em uma penumbra quente, a luz suave do abajur destacando as curvas do corpo dela, que ainda usava o vestido preto colado ao corpo, tão provocante quanto horas antes. deu um passo à frente, depois outro. As palavras estavam todas entaladas na garganta, engasgadas por tudo que ele não conseguia mais conter. não recuou. Ela ficou ali, ereta, desafiadora, como se soubesse exatamente o que estava prestes a acontecer.
“Você tem ideia do que eu passei desde que te vi dançando com aquele babaca?” Ele rosnou, a voz mais baixa do que um sussurro.
“Foi só uma dança” ela provocou, erguendo o queixo. “Ou você achou que era mais?”
“Você sabe que era mais. Tudo com você é mais.”
Antes que ela pudesse responder, a puxou pela cintura com força, colando o corpo dela ao dele e a boca dele encontrou a dela sem qualquer hesitação. O beijo foi bruto, urgente, como se o mundo inteiro pudesse desabar e ele ainda assim preferisse morrer ali, afogado nela. correspondeu com a mesma intensidade, os dedos agarrando a gola da camisa impecável dele, desfazendo os botões com pressa, quase raiva. Ele gemeu baixo quando sentiu as unhas dela arranhando seu peito e empurrou o vestido pelos ombros dela até ele deslizar pelo corpo, caindo em silêncio aos pés dela.
“Você me deixa louco” ele murmurou contra a pele do pescoço dela, enquanto a encurralava contra a parede. “Você me destrói, .”
“Então me destrói de volta.”
Os corpos colidiram como se precisassem daquilo para respirar. a ergueu com facilidade, as costas dela batendo levemente contra a parede enquanto ele tomava posse dela mais uma vez, como se não tivesse escolha, como se ela fosse a única coisa que ele precisava.
“Eu preciso de você.” As palavras soavam mais como um pedido desesperado do que um comando, mas ela sabia que era verdade. Podia sentir pela maneira como ele a tocava.
Ele pressionou o corpo dela com mais força contra a parede, enquanto sua boca continuava a deslizar pelo pescoço dela, mordiscando, chupando e beijando. As mãos dele passearam pela pele sensível de suas coxas, levantando-a ainda mais para que ela pudesse apoiar as pernas em volta de sua cintura. Em um movimento suave, ele conseguiu pegar o fecho do sutiã dela, deslizando-o para baixo, deixando-a ainda mais exposta para ele.
“Gostosa…” ele murmurou entre os beijos no pescoço, descendo os lábios para o colo dela.
Enquanto ele explorava um dos seios com a boca, a mão deslizou pelo corpo dela, até encontrar o outro, acariciando com ternura a pele sensível. Ela podia sentir o quão necessitado ele estava, cada toque carregando uma urgência, uma necessidade que parecia incontrolável.
“… eu preciso de você… agora…” falou, com a voz abafada, e ele atendeu imediatamente o pedido, soltando-a e vasculhando os bolsos da calça.
Ele pegou com certa urgência uma camisinha em sua carteira e quando voltou a atenção para novamente, ela já estava deitada na cama, completamente despida, o que só aumentou ainda mais o desejo que já fervia dentro dele. Ele se desvencilhou das roupas restantes rapidamente, enquanto se movia para a cama, a encarando com um olhar selvagem. Em segundos, já estava em cima dela, com os olhos escuros pelo desejo.
“Eu nunca vou cansar de ter você” disse, enquanto colocava a camisinha. Ele voltou a distribuir beijos pelo corpo dela novamente e sua boca desceu pelo pescoço, parando para mordiscar o lóbulo de sua orelha antes de murmurar com a voz rouca: “Eu não vou ser devagar. Eu não consigo ser, quando se trata de você.”
“Eu não quero que seja…” respondeu, o olhar pegando fogo.
Depois de ouvir aquelas palavras, encaixou seu membro na intimidade dela, começando com movimentos constantes e profundos. Sem preliminares. A sensação de estar dentro dela era como se finalmente estivesse em casa. Ele enterrou o rosto no pescoço dela, mordendo e beijando a pele quente e o nome dela saiu de sua boca como se fosse uma reza, o único som que ele era capaz de formular naquele momento. estava extasiada. Só ele sabia como a deixar assim, entregue. A maneira como ele conhecia o seu corpo, como ele sabia exatamente o que fazer para provocar essas reações nela, era inebriante. Mas ela também conhecia o corpo dele como ninguém. E ela sabia que, por mais que ele amasse estar no controle, não resistia quando ela assumia. E assim ela o fez, invertendo as posições e ficando por cima de , ouvindo um grunhido dele como protesto — apesar dela ter percebido o sorriso de canto que se formou em seus lábios.
“Qual é…” ele reclamou, com a voz ofegante, mas claramente estava apreciando a vista. Ele sempre adorou a visão dela por cima dele. arqueou as costas e suas mãos foram até o quadril dela, acariciando suavemente a pele macia, enquanto ela assumia o ritmo e o controlava exatamente como queria, com tudo o que conhecia sobre o corpo dele. “Você sempre tem que estar no controle, não é?”
Chegava a ser irritante até, a maneira que ela era tão perita na arte de desarmá-lo com esse simples gesto. Mas, apesar das reclamações, ele não fazia nenhum esforço para retomar o controle. Pelo contrário, ele parecia adorar deixá-la comandar, ver o quão entregue ela ficava quando estava no controle. Por isso não protestou muito, apenas tentou manter a boca fechada, embora alguns gemidos escapassem de vez em quando. Suas mãos subiram pelo corpo dela com familiaridade, até chegarem aos seios, apertando-os com um gesto possessivo. Enquanto isso, continuava se movendo, as mãos apoiadas no tronco dele, guiando seu corpo com precisão, sabendo exatamente o que precisava para provocá-lo ainda mais e o deixar à beira do limite. Ela amava ter esse poder, a maneira como ele se entregava completamente à ela quando estavam assim, como se fosse a única coisa que queria, que precisava. Ela podia ver a adoração em seus olhos, a maneira que ele a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. E aquilo a fazia se sentir invencível. Ela diminuiu o ritmo por um momento, apenas para provocá-lo mais, vendo a maneira como ele apertou mais os dedos em sua cintura, como se quisesse que ela fosse mais rápida novamente. Mas, em vez disso, ela continuou o movimento ritmado, aumentando a pressão só o suficiente para mantê-lo próximo à beira, mas não chegando ao limite. Ela podia sentir ele estremecendo abaixo dela, era quase glorioso, ver como ele ficava vulnerável assim.
“Me diz… a Camila te faz ficar assim? Alguma delas já te fez ficar assim?” A provocação veio com a voz baixa, chegando aos ouvidos dele suavemente, enquanto ela se inclinava perto de seu ouvido. Suas palavras carregadas de possessividade o atingiram como um golpe e, por um momento, ele esqueceu como respirar.
apertou as mãos, os dedos afundando em sua cintura, como se quisesse mantê-la ainda mais próximo, como se ela fosse a única coisa que o fazia se sentir real.
“Nenhuma delas” ele respondeu, a voz rouca.
diminuiu mais os movimentos e ele grunhiu em protesto novamente, mas ela continuou provocando:
“Só eu te faço ficar assim… fala pra mim.”
O fato dela saber exatamente qual botão apertar era irritante, mas ele não podia negar que adorava isso. Ele apertou os olhos e respirou fundo, tentando manter a razão, ainda que ela o provocasse, mesmo que isso fosse uma disputa que ele sempre perdia.
“Só você…” ele murmurou, a voz rouca e trêmula.
lambeu o lóbulo de sua orelha e ele jurou que poderia gozar só com aquilo. Mas não, a tortura ainda não havia acabado.
“Você é meu, .”
A maneira como ela ronronou aquelas palavras contra seu ouvido foi o suficiente para enviar ondas de prazer pelo corpo do homem. Sua voz, o toque de sua língua, tudo estava o levando à beira do abismo.
“Sim… eu sou seu.” deu um sorriso satisfeito e voltou a aumentar o ritmo, fazendo sentir um alívio imediato. “Caralho” ele gemeu entre dentes, quase desesperadamente. “Você... vai me matar.” Suas mãos correram novamente para o quadril dela, apertando-o com um toque possessivo enquanto ele se entregava ao prazer que ela estava lhe proporcionando. Ele tentou conter os gemidos, mas a maneira como ela se movia com precisão, como se conhecesse cada ponto sensível dele, fazia-o esquecer qualquer tentativa. “…” ele murmurou com a voz rouca, quase como uma súplica.
“O quê?” ela perguntou, a voz surpreendentemente angelical em meio a tudo aquilo.
Ele olhou para ela, tentando reunir as palavras que pareciam fugir de seu alcance, como se estivesse tentando agarrar a névoa. Ela tinha esse poder de fazer sua mente ficar nublada, seus sentidos sobrecarregados, até o ponto de ele estar completamente vulnerável, entregue para ela.
“Eu vou…” ele começou, a voz carregada de desejo, antes de parar, como se não conseguisse formular o que queria. Mas foi o suficiente para ela entender.
Ela sorriu, satisfeita com o efeito que estava tendo sobre ele, e acelerou os movimentos, aumentando ainda mais a intensidade dos prazeres que o percorriam. Ela podia ver no rosto dele, em cada linha de sua expressão facial, quão próximo ele estava do limite.
“Está quase lá, amor?” ela perguntou, de forma doce, quase inocente, apesar de saber exatamente o que estava fazendo ao provocá-lo. Mas ela também estava chegando ao limite, a maneira como ele se entregava a ela, quão vulnerável ele estava… era quase insuportavelmente satisfatório.
assentiu, a voz ainda presa na garganta, enquanto a sensação se acumulava dentro dele. Ele quase chegava ao limite, mas era ela quem determinava a velocidade e o ritmo, ela controlava tudo. Isso só era ainda mais frustrante, mas, ainda assim, por algum motivo, ele amava essa sensação de vulnerabilidade, de depender completamente dela.
“Sim…” O jeito como ele a olhou com desejo, como se qualquer outra palavra que ele tentasse dizer fosse falhar, a fazia se sentir poderosa. Ela queria levá-lo a um ponto em que não conseguisse mais pensar, apenas sentir.
Ela aumentou o ritmo novamente, sabendo que não levaria muito para que ele chegasse ao limite e se inclinou mais próxima dele, murmurando em seu ouvido de forma provocante:
“Eu quero ver você perder o controle por minha causa.”
“Eu já perdi…” A maneira como ele admitiu, com a voz falha e trêmula, era música para seus ouvidos.
“Eu sei, mas eu vou fazer você perder mais ainda… eu quero ver você completamente descontrolado.”
“Você vai? Por favor…” ele rebateu, a voz quase desesperada.
não conseguia responder. Ela estava tão entregue quanto ele, não sendo capaz de controlar os gemidos que saíam de sua boca, o que despertou algo selvagem dentro de . Então, com um movimento súbito, ele a puxou para mais perto, invertendo suas posições novamente, colocando-a abaixo dele. Ela não protestou, não com a maneira como olhava para ele, os olhos escuros de desejo. A maneira como ela estava entregue, vulnerável e necessitada, foi quase demais, mas ele queria vê-la desmoronar completamente por causa dele. Ele se colocou entre as pernas dela, mantendo-a presa, sentindo como ela se contorcia embaixo dele, como se estivesse desejando por mais contato, por mais dele. Ele se inclinou mais próximo, seu corpo colado contra o dela.
“Você é minha” murmurou, sua voz rouca em seu ouvido.
“Eu sou… sou sua.” observou enquanto desmoronava abaixo dele, sentindo o corpo dela estremecer com o limite. Mas ele não parou, continuou se movendo, querendo prolongar aquele momento, levar ela além do extremo. “…” O som de seu nome saindo dos lábios dela e a maneira como ela gemia em sua orelha era extremamente sensual.
Ele podia sentir a maneira como seu corpo se apertava para ele, como se quisesse trazê-lo ainda mais para perto. O orgasmo o atingiu como uma onda de puro êxtase, fazendo seu corpo estremecer, enquanto ele se entregava a ela. Mas ele estava completamente dominado pelo desejo de prolongar aquele momento o máximo que pudesse.
“…” ele murmurou, a voz rouca, enquanto continuava se movendo contra ela. “Eu sou viciado em você…”
Depois de um tempo, os movimentos deles diminuíram, até que finalmente pararam. permaneceu ali, apoiado sobre ela, com a respiração ofegante enquanto sentia a exaustão tomar conta, e estava embaixo dele, com a pele avermelhada e os olhos brilhando de satisfação. Passaram-se alguns longos instantes, enquanto os dois se recuperavam nessa mesma posição, até finalmente se mover, rolando de lado, a respiração ainda descompassada. O quarto agora tinha um silêncio denso, daqueles que diziam mais do que qualquer palavra. estava deitada ao lado dele, os lençóis puxados até a cintura, o cabelo bagunçado e a pele ainda quente. estava com um braço por trás da cabeça, encarando o teto como se procurasse respostas que ele já sabia.
“Você vai sair correndo de novo?” ela perguntou, virando o rosto para ele, a voz arrastada, quase preguiçosa. Mas o olhar… o olhar era puro veneno.
soltou uma risada curta, cínica.
“Você quer que eu fique?”
deu de ombros, os dedos deslizando distraidamente pelo peito dele.
“Eu só quero ver até onde vai o seu autoengano. Você vive tentando me apagar… mas sempre volta. Igual agora.”
“Você não faz ideia do que é tentar esquecer você” ele murmurou, os olhos encontrando os dela. “Cada vez que eu tento seguir em frente, você aparece. Com alguma provocação, com algum olhar, com alguma porra de story deitada numa banheira.”
riu. Uma risada leve, quase satisfeita.
“A culpa não é minha se você tem zero autocontrole.”
“A culpa é sua por se aproveitar disso.” Silêncio de novo. O olhar dos dois presos, firme. Ele ergueu a mão e segurou o queixo dela com os dedos, o toque firme, mas delicado. “Você faz isso de propósito, né? Me deixa louco só pra depois fingir que não significa nada.”
“Talvez porque, no fundo, eu sei que pra você… sempre significa tudo.”
se inclinou, colando a testa na dela, os olhos se fechando por um segundo. Como se, por um momento, ele desejasse que aquilo fosse simples. Que ela fosse simples.
“Você é um vício desgraçado” ele sussurrou. “Igual ao café dessa campanha. Eu sei que não deveria, sei que vai me destruir… mas ainda assim, eu sempre volto.”
“Então volta…” ela disse, quase sem voz, os lábios a um milímetro dos dele. “Mas não reclama da ressaca.”
E ele a beijou de novo. Sem planos, sem garantias. Só a certeza do agora, da pele quente, do gosto dela ainda em sua boca.
Porque no fim das contas, era inevitável. sempre voltava para .
Sempre.
FIM!
Nota da autora: Quando eu peguei essa música não fazia ideia do que fazer. Mas, depois de pensar (MUITO), consegui criar o plot e o casal perfeito. Espero que vocês concordem comigo e gostem da dinâmica dos dois, porque com certeza vai ter mais coisa deles futuramente. Só uma palavra: aguardem!