Codificada por Lua ☾
Última Atualização: 28/02/2025
O rastro de sangue brilhava e ofuscava a grama que outrora era tão viçosa, tão verde e bem aparada, o que aumentava a sensação de pânico de quem ainda tentava se salvar.
Com o passar dos segundos, a destruição se fazia presente em cada canto daquele lugar, e, quanto mais o cheiro podre de enxofre se espalhava pelo ar, maior se tornava a quantidade de corpos largados a esmo, tornando a cena mais aterrorizante.
Então, em meio aos cadáveres, surgiu uma garota a caminhar trôpega, enquanto olhava ao redor e segurava a barriga ensanguentada. Um acesso de tosse se misturou aos soluços e à sensação de sufocamento que o nó na garganta lhe trazia. O gosto de sangue se fez presente desde o início daquele tormento e não quis abandoná-la de forma alguma. O instinto de sobrevivência lhe fez tentar gritar, mas aquilo fora em vão.
Sem forças, tudo o que saiu de seus lábios foi um grunhido sofrido, enquanto a dor que sentia parecia triplicar e paralisava seus movimentos, a fazendo travar também uma luta para se arrastar pelo local, iluminado apenas pelo brilho fraco da lua.
Demorou alguns segundos para que ela sentisse a sombra que se aproximava dela sorrateira, mas quando a percebeu, se virou bruscamente e gemeu de dor. O pânico lhe deixou mole ao encarar diante de si o maior de seus pesadelos.
— Você. — Sua boca se moveu e a voz saiu fraquinha. Ela sentia tanta dor que seus olhos brigavam contra a sua vontade de mantê-los abertos. Era um misto do tormento psicológico com o físico e, por fugazes instantes, a garota cogitou desistir de lutar.
— Olá, amor. Você também vai tentar correr? — O sorriso sarcástico fez a raiva borbulhar em meio ao medo, e ali estava sua humanidade, gritando para que fizesse alguma coisa, para que não fraquejasse mesmo que todos os seus músculos implorassem por isso, mesmo que o frio que percorria sua espinha deixasse evidente que seu fim estava ali, diante de seus olhos.
— Por favor... — O riso de deboche ecoou macabramente e apagou completamente a fala ainda fraca da garota.
— Está claro que não vai, mas me diga então: está preparada para a sua condenação?
O brilho diabólico naqueles olhos era o suficiente para que ela tivesse certeza de que, realmente, lutar seria em vão. Aquele era mesmo o seu fim.
Abriu seus braços em sinal de rendição, fechou os olhos e os apertou ao trazer aos seus pensamentos memórias que levassem para bem longe o quanto a morte ria de seu desespero.
Sua boca se entreabriu e a lamúria de pavor foi o último som que ecoou de sua garganta, antes que seu corpo desfalecesse e ela então mergulhasse na mais profunda escuridão.
— Algum problema, Camille? — Ela o encarou com uma expressão de quem se desculpava, mas ao mesmo tempo queria esganar o homem à sua frente por insistir em perguntas como aquela no papel. Só ver a sombra daquele tal ciclo de Krebs fazia seu estômago se revirar de desgosto e seu cérebro dar um nó completo.
Bioquímica realmente não lhe causava nenhuma simpatia, por mais que fosse um mal necessário à sua futura profissão.
— Não, professor — respondeu, abrindo um sorriso amarelo. — Nenhum que você se dará ao trabalho de resolver — resmungou baixinho a última parte e escreveu rapidamente a última resposta que conseguiu. Ainda restavam duas questões para que concluísse a prova, mas sabia bem que aquele era seu limite e por mais que tivesse estudado, no fim das contas, aquela matéria não entrava em sua cabeça.
Levantou-se da carteira, recolheu seus materiais e as benditas três folhas de prova, então lançou um olhar rápido na direção de suas amigas, que se sentaram espalhadas na fileira dela e na do lado. Localizou apenas duas delas ali, o que queria dizer que pelo menos uma já havia acabado e esperava do lado de fora da sala. Entregou as folhas nas mãos do professor, evitando encará-lo porque não queria nem ver se ele espiava suas respostas, então deixou o local rapidamente.
— Nossa! Mal consigo acreditar que finalmente essas provas acabaram! — disse assim que avistou Kate sentada em uma das mesas do corredor com os pés apoiados em cima do banco e a amiga desviou sua atenção do celular para ela.
— Nem me fala. Se eu tiver que assinar meu nome em mais alguma folha, que seja na do meu pagamento. — Empurrou a bolsa para o lado e deu espaço para que Camille se sentasse ali.
— Pagamento de onde, Kate? Ser biscate não é emprego não, amiga — brincou com a cara da outra, que estreitou os olhos em sua direção.
— Você vai ver a biscate quando eu picotar todo esse seu cabelinho. — Apontou na direção dela, que riu.
— Ui, desse jeito eu até fiquei com medo de você. — Ergueu as mãos em sinal de rendição.
— Continua debochando. Logo você terá o que merece, Camille Devonne — resmungou e segurou o riso, mas não conseguiu porque a outra continuava a rir. — Pare, Camille! — Kate a estapeou.
— Pare você de me agredir, sua maluca! — Camille tentou se esquivar.
— Mas o que é que as duas já estão se amando e nem esperaram por mim? — Se surpreenderam ao ouvir a voz de , que se aproximava com Lorraine.
— Não fique com ciúmes não, . Meus beijos sempre serão só seus. — Kate olhou na direção das amigas, bem a tempo de notar a expressão indignada da garota ao lado.
— Então é assim? Você casa comigo e me trai com a Kate? Explique-se, ! — Fez cara emburrada.
— Claro que não! Sei é nada sobre esse negócio de beijos aí. — Já foi se sentando no banco e empurrou os pés de Kate. — Dá licença aí, folgada.
— Você tá muito abusada, garota — Kate resmungou, mas deu um espaço melhor para que e Lorraine se acomodassem por ali.
— Passaglia resolveu tirar o nosso coro hoje, ou foi só impressão minha? Ô provinha do inferno, uh? — Lorraine desviou o assunto, porque estava doida para saber como as amigas haviam se saído na prova.
— E quando é que ele não tira, amiga? Eu quis chorar quando ele entregou aquele monte de folhas. Por que fazer tantas perguntas? Por quê? — Camille já saiu comentando, como se estivesse só esperando a deixa para xingar seu professor menos querido.
— Se ele ao menos conseguisse ensinar alguma coisa direito, até daria para defender. O problema é que se fosse para ficar lendo slides, eu nem iria para a aula. O cara não tem um pingo de didática e isso é triste — se queixou, mas sabia que não adiantaria em nada reclamar. Tendo didática ou não, aquele professor comandava diversas pesquisas, ninguém tiraria suas aulas.
— A única coisa que eu sei é que mal vejo a hora de apresentar logo esse seminário de anatomia comparada na quinta. Férias, sua linda, tô com saudades! — Kate disse, enquanto encarava algum ponto fixo atrás das meninas, que riram do drama dela.
— Você é tão boba, Kate. — negou com a cabeça.
— E você me ama desse jeitinho mesmo. — Piscou para a amiga.
— Sinceramente, essas férias são mesmo muito bem-vindas. Não sei vocês, mas eu fiquei esgotada esse semestre — Lorraine comentou cansada.
— Mas você nunca vem, Lori! Tomei um susto quando te vi na sala hoje! — Camille brincou, fazendo as outras duas rirem.
— Nada a ver, Camille! — E bufou ao ver a expressão cética das três. — Tá bom, eu admito que falto um pouco, mas é que eu fico com preguiça de vir e o limite de faltas existe para ser usado, ué.
— Claro, Lori, nós sabemos. — tocou o ombro dela. — Mas um pouco é apelido, meu amor.
— Vai te catar, . — Tirou a mão da garota de si.
— Mas, mudando de assunto, nós vamos mesmo a essa viagem que o povo está inventando, ou vocês só vão fazer fogo? — Kate interrompeu o que seria mais uma sessão de amor gratuito. — E cadê Sophie e Lucinda que não deram as caras ainda?
— Elas tinham genética agora, não? — Camille respondeu, sem ter muita certeza.
— Era, sim. A Lucy não parava de falar na prova que elas tinham. Aposto que ela ficou por último na sala — Lori completou, e logo avistaram as duas que faltavam para completar o grupo se aproximando.
— Pelas caras de vocês, já estavam nos xingando pela demora. — Sophie parou diante das meninas com um meio sorriso, enquanto Lucy lia alguma coisa no celular.
— Que nada. Já xinguei o bastante quando vocês nos traíram e pegaram genética em vez de bioquímica. — Kate deu de ombros.
— Você sabe que nem foi de propósito, Kate. As vagas acabaram — Sophie se explicou, e a outra apenas moveu os ombros, como se estivesse emburrada de novo.
— Droga! Eu sabia que tinha que ter marcado a c, eu sempre faço isso! — Lucinda exclamou e fez uma careta desapontada, atraindo os olhares de todas.
— Oi para você também, Lucy — chamou atenção da amiga, que acabou rindo sem graça.
— Foi mal, meninas. Eu tô ficando louca porque preciso ir bem nessa prova, ou vou reprovar. Não quero fazer genética de novo — se queixou, deixando confusa.
— Ué, mas você não disse que gosta de genética? — questionou.
— Eu gosto, mas se vocês reclamam do Passaglia, esperem só até terem aula com o Blanchard. — Balançou a cabeça em negação, resolvendo deixar para lá o assunto aulas e provas. — Mas então, do que vocês falavam quando chegamos?
— Ah, sim! A viagem, amiga. Nós vamos ou não? — Kate retomou a pergunta.
— Por mim, não era fogo no rabo, não. Eu to doida para ir — confessou empolgada, e Katherine bateu palminhas, mas Lucinda permaneceu quieta e ficou pensativa.
— Ai, sim! Fiquei sabendo que o pessoal da oceanografia vai também — Sophie comentou e olhou maliciosa para as garotas.
— Jura? Agora que eu quero ir mesmo. — Lori até passou a língua pelos lábios.
— Sua safada! Já tá pensando em qual macho vai agarrar! — Camille disse, mas pensava em algo parecido.
— Como se você também não estivesse, Cami! — Kate soltou e fez rir. — Vai ser o máximo. O pessoal da oceano anima muito as festas.
— Isso é verdade. Fora que vai ser um alívio ter uns rostinhos diferentes dos da bio. Eu amo meu curso, mas variar é sempre bom — Sophie disse, e concordou com um aceno de cabeça.
— E você, dona Lucy? Não falou nada até agora. Você vai, não é? — chamou atenção da menina, que tinha voltado a mexer no celular.
— Ah, não sei, meninas. Eu ainda tenho que ver — falou, sem desgrudar os olhos do aparelho.
— Ah, Lucy — Sophie começou, mas foi interrompida por .
— Não tem essa, amiga. Você vai e pronto! Que graça tem se todas nós formos e você não? — Ela estava decidida a não receber não como resposta.
— Verdade, Lucinda. Nem pense nisso! — Kate reforçou, até estreitando os olhos para Lucy, que levantou seu olhar para as meninas e acabou dando um meio sorriso.
— Tudo bem, eu vou. Mas é só porque as bonitas não vivem sem mim. — Piscou para elas.
— Viver até vivemos, mas quem disse que nós queremos? — Camille retrucou em tom de brincadeira. — Agora precisamos procurar o bonitinho do centro acadêmico então. Parece que tão conseguindo um ônibus saindo daqui.
— Para onde que vai ser essa viagem mesmo? — Lori perguntou, porque não lembrava de ter visto. De início, só tinha bastado saber que o pessoal do curso estava organizando uma viagem e que as amigas iam.
— Rochester, se não me engano. Falaram em acampamento e depois que um pessoal aluga umas cabanas para quem gosta de ficar em contato com a natureza — Sophie respondeu, era quem estava mais bem informada sobre o assunto.
— Nossa, e tinha gente pensando em perder isso — Kate implicou com Lucy.
— Tenho certeza de que essa viagem será inesquecível — disse e sentiu um aperto gostosinho no peito, sabendo que era a ansiedade dando as caras. Tinha tudo para ser perfeito.
— Com certeza será! — Camille concordou. — Gente, vamos comer alguma coisa agora? Estou morrendo de fome e aí podemos passar no C.A. depois — propôs.
— Ótima ideia — Kate aceitou, e as outras concordaram, então pegaram suas coisas e seguiram animadas para uma das lanchonetes do campus.
— , se perdermos esse ônibus, eu juro que esgano você e a Lorraine! — foi o que Camille disse, assim que a amiga atendeu o celular, o que fez tremer de nervoso. Conhecia Cami bem até demais para não levar suas palavras em consideração.
— Eu sei, amiga, eu sei. Nós perdemos o primeiro ônibus, mas já estamos chegando — tratou de se explicar, sem conseguir disfarçar o sono em sua voz.
— Bem a cara das duas mesmo, tá louco — resmungou, encerrou a ligação e revirou os olhos.
— Gente, e a Lucy? — Sophie questionou, já que não havia visto nem sinal da garota também.
— O celular dela está caindo na caixa de mensagens — Camille respondeu e conteve a vontade de revirar os olhos novamente. Ela normalmente era bem humorada quando acordava, mas sua falta de paciência em ficar esperando pelas pessoas conseguia superar qualquer coisa.
— Quer apostar quanto que ela desistiu de ir? Aí depois vai dizer que ficou sem bateria e o despertador não tocou — Katherine disse, em um misto de tédio e uma certa irritação com Lucinda. Odiava quando marcavam alguma coisa com ela e desistiam de última hora. — Podem escrever que essa é a última vez que convido a Lucinda para qualquer coisa. Se quiserem que ela fure mais algo, fiquem por suas contas e riscos — soltou, decidida.
— Até parece, Kate. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi você dizer a mesma coisa — Camille disse, então riu e se esquivou de um tapa quando Katherine veio em sua direção. — Mas já está fazendo a agressiva?
— Eu não tomei café. Não exija amor de minha parte — resmungou, mas acabou sorrindo para Cami.
— Pelo amor de Cristo, ligue de novo para a . O ônibus acabou de chegar — Sophie disse agoniada e atrau os olhares das outras duas. — E lá se vão os lugares bons — queixou-se, ao ver vários colegas irem em direção ao veículo.
— Se eu tiver que me sentar no primeiro banco, aquelas duas vão sofrer até dizerem chega — dessa vez foi Katherine que ameaçou.
— Como vocês me amam, hein! Acalmem esses coraçõezinhos trevosos aí. Olhem só quem chegou. — apareceu sorridente até demais para alguém que odiava acordar cedo em pleno sábado e agindo como se não estivesse atrasada.
— Já te disseram o quanto você é péssima, ? — Kate resmungou mal humorada.
— Ainda serei péssima se disser que trouxe café? — Só então a outra notou o pacote nas mãos da garota e seus olhos se iluminaram.
— Abençoada seja. Nunca critiquei. — Aquilo fez com que risse com gosto.
— Lorraine, você veio mesmo. Isso que eu chamo de milagre, viu? Podia jurar que não conseguiria acordar nem por um decreto — Sophie zoou a amiga.
— E você acha que ela foi dormir lá em casa por quê? O atraso é todinho culpa da Lori — se intrometeu, ao aproveitar a situação.
— Ah, cai fora, ! Você se atrasa até pensando na resposta — Lorraine retrucou, fazendo com que até a própria acabasse rindo.
— Não mentiu. — Abriu um sorriso e olhou em volta das meninas. — E a Lucy?
Camille, que estava com o celular no ouvido, provavelmente tentando insistir em ligar para a garota, abriu a boca para responder, mas foi interrompida por um grito.
— Bem aqui! — Lucinda chegou, dando o seu melhor ao correr enquanto carregava a mochila pesada.
— Minha nossa, eu não acredito que ela veio mesmo. Melhor cancelar a viagem, porque ou vai chover, ou o mundo vai acabar mesmo — fingiu surpresa.
— Ha ha, como você é engraçada, . — Lucy deu língua para ela e riu ofegante.
— Vamos embarcar de uma vez nesse ônibus, já que estamos todas aqui? Daqui a pouco sai e ficamos para trás — Camille chamou a atenção das amigas e indicou que até o motor eles já tinham ligado.
— Faz sentido, vamos logo — concordou, e as seis finalmente entraram no veículo.
Exatamente como Sophie havia previsto, os bons lugares já estavam ocupados. Elas odiavam os primeiros bancos por ser um local silencioso demais. Já o fundão, era muito barulhento. O meio era perfeito, mas estava praticamente todo ocupado, e como não queriam viajar separadas, se contentaram com o intermediário entre o meio e o fundão.
Katherine e Camille foram para o lado direito do ônibus, assim como Lorraine e Sophie. Já e Lucinda ficaram do lado esquerdo, o que facilitou as conversas entre o grupo.
Assim que estavam acomodadas, engataram em conversas animadas até o momento em que foram interrompidas por um rapaz, ao mesmo tempo em que sentiam o veículo começar a andar.
— Galera, um minuto de atenção aí e vocês já voltam a fazer bagunça. — Ele soltou uma risadinha. Imediatamente, as garotas pararam de falar para prestar atenção nele e até abriu a boca, embasbacada porque aquele era bem o tipo dela.
— Socorro, de onde saiu essa coisinha linda? — soltou em um tom mais alto do que gostaria, o que acabou atraindo o olhar do rapaz em sua direção. Ele sorriu de canto e ela retribuiu sem jeito, enquanto sentia seu rosto esquentar.
— Quer um babador, ? — Camille riu.
— Acho que um babador não dá conta, Cami. Melhor arrumar logo um balde para ela — Kate ajudou a zoar.
— Eu mandaria as duas irem se foder, mas acho melhor aceitar o balde de uma vez. Eu to chorando com esse homem, não disse por onde — entrou na delas, e as amigas gargalharam.
— Você não presta, . — Lorraine negou com a cabeça.
— Mas será que vocês podem calar a boca? Quero ouvir o que ele tem para falar — Lucinda resmungou, e as garotas fizeram caretas indignadas.
— Ô loco! Calma aí, estressadinha — Kate soltou, como se tivesse sido estapeada na cara.
— Não estou estressada, Kate. Só quero ouvir o que o cara está falando! — ela retrucou.
— Te falar que eu nem me importo com o que ele tem a dizer. Me interessa muito mais com o que ele pode fazer, se é que vocês me entendem. Será que ele tem namorada? — disse maliciosa.
— ! — Lucy resmungou, ao lançar a ela um olhar assassino.
— Quero andar contigo no recreio, — Sophie disse e piscou para a amiga.
— Agora fiquem quietas mesmo. Vamos ouvir o que o moço tem para dizer. — se endireitou e deixou as amigas de lado, as fazendo a olharem indignadas, mas não deu a mínima para isso.
— A previsão de chegada a Rochester ficou por volta das duas da tarde e nós combinamos com o motorista de fazer uma parada para o almoço — o rapaz falava rapidamente, a fim de acabar com aquilo o quanto antes.
— Droga, quero fazer xixi — Lucy resmungou e fez uma careta. Duvidava ser capaz de tirar do transe em que estava naquele momento. Ela realmente tinha gostado do rapaz.
— Como vocês já devem saber, conseguimos alugar umas cabanas bacanas e mais além já vai rolar uma festa de abertura do acampamento. — Algumas pessoas gritaram em comemoração, e ele precisou fazer uma pausa. As meninas acompanharam o coro e, mais uma vez, o rapaz olhou na direção de . Katherine e Camille automaticamente se entreolharam maliciosas e trocaram sorrisos. — Tá todo mundo de férias, então não tem regra nenhuma e, se tiver, eu não faço nem ideia, mas tentem ficar vivos — complementou, por fim, e a maioria riu novamente. — Boa viagem, galera.
se sentiu um tantinho estranha com aquela história de tentar ficar vivo, mas com certeza era a ansiedade pelo acampamento falando mais alto. Fora que aquele homem lindo a desestabilizou inteira.
— Gente, que homem! — Piscou tolamente.
— Investe, amiga. Ele não usa aliança. — Camille arqueou uma sobrancelha sugestiva para , que sorriu de canto.
— Ah, é? Perfeito mesmo.
— Quero ser a madrinha do casamento, hein? — Sophie brincou com a amiga.
— Exagerada mesmo. Cala a boca, Sophie! — deu risada.
— , você pode me dar licença? — Lucy pediu, mas estava tão avoada que mal prestou atenção nas palavras dela.
— Oi? — soltou, com a maior cara de interrogação.
— Licença, amiga. Minha bexiga está gritando — repetiu, se segurando para não rir da cara de perdida que fez. Aquilo era perfeitamente normal quando se tratava da . Muitas vezes ela até entendia cada palavra que lhe diziam, mas ficava tão perdida em seus próprios pensamentos que, quando percebia, já havia respondido o “Oi?” habitual, acabando por fazer a pessoa repetir a pergunta.
— Ah, tá. Claro, Lucy. — se levantou rapidamente e deu passagem para ela.
voltou sua atenção para a tela do celular, ouvindo as conversas das amigas ao fundo, enquanto rolava as postagens no Instagram, então sentiu que alguém se aproximava dela e franziu o cenho ao achar que Lucy havia sido rápida até demais no banheiro.
— Com licença, moça. Tem alguém sentado aí com você? — Se assustou ao ouvir a voz masculina e ergueu seu olhar até o rapaz, sem conseguir conter o sorriso que se formou em seus lábios.
Ele sabia que havia alguém ao lado dela, tinha visto Lucinda com a garota.
— Na verdade... — pelo canto de olho, viu que Kate e Sophie lhe repreendiam com o olhar — não tem, não. Pode se sentar. — Pulou para o assento da janela, dando seu lugar a ele, e encarou o rapaz com interesse. Ainda tinha lugares vagos no ônibus, por que então ele tinha vindo até ela?
Mais um olhar na direção das meninas e ela as notou sorrirem maliciosas em sua direção, enquanto Lorraine batia palminhas animadas. Ignorou, voltando sua atenção completa para o rapaz.
— River Blackwood, mas você já deve saber disso — ele disse, ao estender a mão para a garota, e ela só conseguiu absorver o quanto o nome dele era sexy. Um arrepio passou por sua nuca só com aquilo.
— Pior que não. Minhas amigas não paravam de tagarelar enquanto você estava ali falando e eu não tinha ouvido o seu nome. — Tentou não parecer tão interessada assim. Ele que lutasse um pouco. — . — Segurou a mão do garoto, que a surpreendeu ao se aproximar e dar um beijo no rosto de .
— . Gostei do seu nome, faz jus a você — River elogiou, a fazendo voltar a sorrir.
— Pensei a mesma coisa quando me disse o seu. — Piscou para ele, que retribuiu o sorriso dela. — Mas, me diga, River, você é da oceano? Com certeza eu lembraria de você se fosse da biologia.
— Sim. Estou no último período, graças a Deus. — Ele soltou uma risada.
— Minha nossa, que sonho! Eu ainda estou no quarto período. — Fez uma careta.
— Mas o seu curso parece ser muito maneiro. Acho que, se eu tivesse que escolher de novo qual faculdade faria, seria biologia. — O comentário fez estreitar os olhos.
— Tem certeza de que não está dizendo isso só para ganhar pontos comigo? Porque eu não vou elogiar o seu curso, River Blackwood. Eu prefiro mil vezes o meu — retrucou, e ele soltou um muxoxo.
— Droga! Achei que estivesse funcionando. — acabou rindo. — Fiz você rir, isso já conta.
— Talvez conte. — Ela deu de ombros e desviou o olhar dele por uns segundos, se questionando se Lucy a esganaria naquele dia ou no seguinte por deixar roubarem o lugar dela. No entanto, encontrou a amiga sentada mais à frente, ao lado de uma garota de quem ela não lembrava o nome.
— Mas eu falei sério. Realmente acho biologia um curso maneiro — River voltou a afirmar e chamou a atenção de para si.
— Vou acreditar em você, então. — Encarou-o novamente e se perdeu um pouco no olhar que o garoto a lançava. Parecia que tudo naquele rapaz a puxava em sua direção, e, por alguns segundos, ela até fantasiou em como seriam os beijos dele.
Mal conhecia o cara e já pensava nos beijos. não prestava mesmo.
— Já tem ideia do que vai fazer depois que se formar? — Resolveu continuar puxando assunto, ou ia passar vergonha babando de verdade.
— Mais ou menos. Eu tô com um projeto na microbiologia marinha, mas ainda preciso decidir se vou continuar com essa área ou não. — precisou se segurar para não soltar uma exclamação de aprovação. — Imagino que para você seja mais complicado escolher. Meu curso é amplo, mas o seu é bem mais.
— Sim. Realmente é, mas eu já entrei para a biologia com a ideia formada. Quero a área forense. Sonho em ser investigadora, quem sabe até uma agente do FBI — disse toda sonhadora.
— Temos aqui uma fã de CSI? — River sorriu de canto.
— CSI, Sherlock Holmes e Hannibal. — assentiu, e o sorriso dele se alargou.
— Melhor eu tomar cuidado com você, então — brincou.
— É o que dizem. — não discordou, e os dois riram.
— Tá aí. Gostei de você, — ele disse, assim que o riso foi embora, e ela sentiu novamente seu rosto esquentar. Estava achando até meio engraçado ficar nervosa perto do rapaz.
— Que bom, River, porque eu também gostei de você. — No entanto, seu nervosismo jamais a impediria de flertar de volta.
Continuaram conversando durante toda a viagem e estava achando incrível a afinidade que surgia entre os dois. River escutava com atenção as coisas que ela dizia e ele tinha tantas coisas interessantes para contar que não conseguia se imaginar sentindo tédio ao lado do rapaz.
Durante a pausa para o almoço, os dois permaneceram juntos, e as garotas nem ousaram interromper. Estavam era comemorando a formação do casal.
— Eles são a coisa mais linda juntos! — Sophie disse, enquanto elas os observavam de outra mesa. Tinham parado em uma estação de ônibus com um restaurante meio caro, mas era o que tinha, e a fome falava mais alto em horas como aquela.
— Nossa, sim! Estou orgulhosa da — Lorraine mordeu seu hambúrguer em seguida.
— Nossa neném está crescendo! — Kate abraçou Camille pelos ombros e os olhos das duas brilhavam com certeza.
— Aposto que, se fosse eu, vocês estariam reclamando de eu tê-las abandonado. — Lucy negou com a cabeça.
— Não seja boba, Lucinda. É claro que não! — Camille jogou uma batata frita na garota.
— Ei! Não desperdice batatas! — Lori ralhou com ela.
— Queria ser uma formiguinha só para ouvir a conversa dos dois. — Sophie estava tão vidrada no “novo casal” que mal notou a quase guerra de comida.
— Nem precisa disso, Sophie. Tenho certeza de que vai contar tudo nos mínimos detalhes mais tarde — Kate lhe disse e Sophie acabou rindo, porque era verdade. não pouparia detalhes.
— Homem de Ferro maior e melhor, sem sombra de dúvidas, embora o Capitão seja um gostoso — disse, sem um pingo de vergonha. O rapaz à sua frente, além de ser bonito, inteligente, divertido e gostar de várias coisas que a garota também gostava, trazia uma sensação de familiaridade, como se perto dele as coisas sempre fossem mais leves e poderia falar sobre qualquer coisa.
Por alguns segundos, ela até questionou mentalmente se não estava delirando com alguém como River, porque era surreal demais o quanto parecia perfeito. E se ele era mesmo real, como ela nunca tinha o visto na faculdade antes? Ela via alunos da oceanografia o tempo todo e tinha até mesmo algumas aulas com alguns deles, com certeza o teria notado.
— Você acha? Eu já ouvi algumas pessoas dizerem que até na aparência ele é certinho demais. — sorriu ainda maior ao vê-lo continuar com o assunto, mas logo se deu conta do que River havia dito, então negou com a cabeça, indignada.
— Como assim? Como esse homem não é o tipo de todo mundo? — Seu tom era chocado. — Mas pelo menos sobra mais Steve pra mim. — Sorriu ladina.
River riu baixinho.
— Se eu fosse o seu namorado, ficaria ligado só pela forma como você fala de Steve Rogers. Acho que se ele batesse à sua porta agora e te pedisse em casamento, você aceitaria sem hesitar.
— Isso porque não falamos do Bucky ainda. Na verdade, ele que é o crush supremo. — Sentia as pernas ficarem bambas só de pensar no personagem. — E, vem cá, esse é o seu jeito de perguntar se eu tenho namorado, River Blackwood? — Estreitou seus olhos para o rapaz.
— Talvez. — Foi a vez de ele sorrir divertido. Não era como se estivesse escondendo que flertava com a moça.
— Então talvez eu não tenha namorado. — Piscou na direção dele, que umedeceu os lábios e se aproximou um pouco de .
— E será que eu tenho alguma chance quando o seu crush supremo é o soldado invernal? — sentia-se prestes a agarrá-lo só pelo tom de voz do rapaz. Era sedutor e meio rouco, e aquilo fez com que ela tremesse por dentro mais uma vez.
— Se eu fosse você, tentaria. Quem sabe essa chance já não esteja por aí — retrucou, doida para saber o que ele faria a seguir. — A não ser que você, River, tenha namorada. — Arqueou uma de suas sobrancelhas.
— Não, , eu não tenho namorada — ele respondeu de imediato, e a garota pôde jurar que mais um pouco River a beijaria.
E daí que haviam acabado de se conhecer? estava fazendo aquela viagem justamente para se divertir. Talvez ela mesma tomasse a iniciativa.
— River!
deveria ter previsto que alguém apareceria para atrapalhar aquele momento dos dois.
— Não pense que vai escapar de mim, . — O rapaz lhe lançou mais uma piscadela antes de se inclinar para trás e olhar quem o chamava. — Fala, Whitmore.
— Desculpa, cara, mas o motora ‘tá dizendo que se não sairmos agora, vamos chegar tarde demais pra fazer festa. — Com um certo alívio, reconheceu o rapaz, Tyler, o que significava que Blackwood era mesmo real, ela apenas não havia esbarrado nele mesmo.
— Ele não nos conhece — River soltou e trocou uma risada cúmplice com Whitmore.
— De qualquer forma, é melhor botar o pé na estrada mesmo. E aí, ? — cumprimentou a garota, ao reconhecê-la.
— Bom te ver por aqui, Tyler. Já falou com a Kate? — Ergueu uma sobrancelha, porque sabia bem que os dois tinham alguns lances de vez em quando.
— Acabei de falar com ela. — Sorriu abertamente.
— Espera aí, a é amiga da sua Kate? — River se intrometeu, questionando Whitmore, que coçou a nuca sem graça pela forma como o amigo havia falado.
— Sua Kate? — não deixou aquilo passar e ergueu uma sobrancelha para o rapaz.
— Te agradeceria se não falasse nada pra ela. — Mesmo duvidando que a garota fosse esconder aquilo da melhor amiga, Tyler arriscou pedir mesmo assim.
— Farei o meu melhor, mas tenho certeza de que Katherine adoraria te ouvir a chamando assim. — E provavelmente ela levaria uns tapas de Kate se soubesse que estava a expondo daquele jeito.
— A cada minuto, eu gosto mais dessa viagem. — Blackwood atraiu a atenção de e arrancou um sorriso da garota, então se levantou antes que o motorista do ônibus viesse arrancá-los de lá pelas orelhas, ou algo do tipo.
Enquanto o rapaz chamava a atenção de todos para que voltassem ao ônibus, encontrou as amigas a alguns metros deles, trocou um olhar cúmplice com Katherine e indicou Tyler discretamente.
Ele tinha razão sobre uma coisa: ela não esconderia nada de Kate.
Retornaram ao ônibus e, mais uma vez, River fez questão de se sentar ao lado de , o que a deixou um tanto eufórica, porque quem sabe eles poderiam retomar o assunto interrompido.
No entanto, pelo menos por hora, Blackwood lhe ofereceu um de seus fones apenas para que os dois ouvissem música juntos.
Nenhuma palavra foi trocada entre eles, e ela se sentiu um tanto incomodada, embora o gesto anterior permitisse que ambos ficassem muito próximos, com os ombros colados um ao outro.
— Tenho uma pergunta — ela disse subitamente e o viu se inclinar um pouco para encará-la como quem pedia para que prosseguisse. — Por que Rochester?
River ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando se deveria respondê-la ou não, o que a deixou um tanto intrigada.
Então, com um sorriso de canto, o rapaz aproximou seu rosto um pouco mais do dela.
— Ouvi dizer que é lá onde ficam os portões do inferno — segredou, em um tom sério.
arregalou os olhos, um tanto assustada com a informação, mas então a seriedade nas feições de River se desfez e ele caiu na risada.
— Você devia ter visto a sua cara, . — O rapaz ainda ria.
Indignada, ela não hesitou em lhe dar vários tapas nos ombros.
— Isso não teve graça, Blackwood. Você mal me conhece e já está me zoando? Seu ridículo! — Ficou um tanto irritada, mas não conseguiu deixar de rir com a situação toda.
— Outch! Alguém já te falou que você tem a mão pesada? Que tapas ardidos! — Fez careta, e, em vez de a moça parar, os tapas aumentaram.
— E ainda me chama de mão pesada! Você não tem medo de morrer pelo jeito, garoto!
Seguiram com aquilo até que o riso foi cessando e ele suspirou, mantendo um sorriso nos lábios.
— Falando sério agora… Eu já fui passar as férias com meus pais por ali. É um lugar super tranquilo e a vibe é muito gostosa. Acho que vocês vão curtir.
— Eu tenho certeza de que sim. — o retribuiu.
Depois disso, a viagem seguiu sem grandes novidades. Ambos continuaram conversando sobre todo tipo de coisa, e quanto mais descobria sobre o rapaz, mais se sentia atraída por ele.
Mesmo que não conhecesse Rochester, enquanto encarava a paisagem pela janela, notou que mudava de campos verdes e limpos para uma floresta densa e certamente apropriada para um acampamento. Sentiu que a empolgação aumentava, ao mesmo tempo em que um leve arrepio subiu por sua espinha, afinal, nunca se sabe o que podemos encontrar em uma floresta, certo? Era uma sensação de adrenalina gostosa para ela e exatamente o tipo de coisa que estava procurando.
Assim que o ônibus estacionou diante do local do acampamento, River precisou se despedir da garota para começar a organizar todo mundo.
— Nos falamos depois? — A encarou de perto, o que a fez se arrepiar novamente.
— Com certeza. — sorriu em sua direção, então se surpreendeu quando Blackwood se aproximou ainda mais dela e a deu um beijo no canto da boca.
— Então até mais tarde. — Piscou ao se afastar e a deixou completamente embasbacada até mesmo para sair do ônibus.
— Eu vi isso, . — Era Katherine um pouco atrás dela.
— É, eu também vi. — Camille pôs lenha na fogueira e fez com que risse.
— Vocês são muito fofoqueiras. — Riu e viu as duas lhe darem língua.
— Nossa, mas esse lugar é incrível — foi Sophie quem comentou, quando todas já estavam do lado de fora do veículo.
Ela tinha razão. Eles haviam escolhido um local com algumas cabanas de madeira muito bonitas e conservadas, tudo muito simples, porém visivelmente aconchegante. Também tinha um espaço para quem quisesse armar barracas, e já podia imaginar uma fogueira acesa por ali para que todos pudessem se sentar em volta dela e contar histórias ou até dançar mesmo. Ela lembrava de Tyler ter comentado algo sobre uma festa e mal podia esperar.
— Vocês estão de parabéns, hein? — Kate praticamente gritou para os rapazes e recebeu sorrisos como resposta.
— Espera só até ver o que preparamos para mais tarde, Pearson. — Tyler piscou na direção da garota.
— Sabia que ele não perderia tempo quando se trata da Kate dele — não se segurou e comentou em voz baixa.
— Do que você tá falando? — Katherine se virou para a amiga com uma sobrancelha arqueada.
— Eu te conto depois. — A lançou um olhar cúmplice e viu que a outra assentiu, mesmo contrariada.
— Galera, mesmas regras que falei lá no ônibus. Só tentem ficar vivos e, para quem escolheu ficar nas cabanas, tentem manter tudo inteiro, beleza?
achou ainda mais engraçado aquele comentário dele, principalmente depois da brincadeira de o lugar abrigar os portões do inferno.
Como estavam em seis, as meninas tinham optado por se hospedarem em uma das cabanas, e, após pegarem as chaves com os rapazes, elas seguiram para a de número cinco que, coincidentemente ou não, ficava ao lado daquela onde estavam River, Tyler e mais alguns amigos.
Blackwood demorou um tempo maior do que o normal para entregar as chaves a , seus dedos roçaram nos dela e ela mordeu o lábio discretamente, deixando sua imaginação ir bem longe, até ser chamada para a realidade por uma Lucinda impaciente.
— Pelo amor de Deus, andem logo com isso, porque eu preciso de um banho — resmungou, o que fez os dois rirem antes de se afastarem.
Ao adentrarem a cabana, ficaram positivamente surpresas com o quanto o lugar parecia agradável.
Havia uma sala pequena com um sofá azul marinho, duas poltronas grandes da mesma cor e uma mesinha preta de centro. O ambiente era interligado à cozinha, onde havia um balcão de mármore com bancos altos, uma pia com um armário em cima, geladeira e fogão prateados, e uma porta que dava para uma pequena área de serviço. A cabana tinha três suítes, o que significava que as garotas teriam que se dividir em duplas.
— Algo me diz que a não vai passar muito tempo no quarto daqui, então quero dividir com ela — Katherine soltou, antes mesmo que as outras pensassem em dizer algo.
— Como se você não fosse também, garota! Nada disso, eu fico no quarto com ela — Camille interveio e arrancou uma careta engraçada da outra.
— Nada disso digo eu. Só porque eu estou doida pra ficar fofocando com ela enquanto desfaço as malas — resmungou, ao cruzar os braços na altura do peito.
— Você tá parecendo uma criança birrenta, Kate. — Lucy deu risada. — Deixa elas duas, Cami. Se elas forem para outros lugares, a gente rearranja os quartos depois.
Camille revirou os olhos, mas deu de ombros por fim.
— Eu fico com a Lorraine então. — Enroscou o braço no da amiga.
— Boa sorte com a hibernação dela — Sophie zombou, fazendo as duas estreitarem os olhos em sua direção.
— Muito engraçadinha você, dona Sophie. Mas pelo menos não fiquei com a rainha do mau humor — Lorraine alfinetou.
— Rainha do mau humor é a minha mão na sua cara — Lucinda resmungou.
— Tá vendo só? Vai apanhar dela, hein? Se cuida!
— Vocês são tão bobas. — riu quando Lucy ameaçou se aproximar para dar uns tapas em Lorraine.
— Não somos, não. Aliás, você tem muitas coisas para nos contar, . — Katherine estreitou os olhos para a garota, que deu de ombros.
— Tenho, mas vocês só vão saber depois que eu desfazer minhas malas.
E saiu correndo para um dos quartos.
— Eu vou picar aquele cabelinho dela — Camille comentou com as outras, que trocaram olhares em concordância e seguiram atrás de .
— Até parece que você não nos conhece, garota — Sophie disse, assim que entrou no quarto.
— Pode desembuchar. — Kate até bateu o pé no chão com impaciência.
— Não tem nada para desembuchar. A gente só ficou conversando, Pearson. — Tentou se esquivar e colocou a mala em um canto, porque olhar para aquela cama lhe deu até preguiça.
— Só conversando? Eu o vi te beijar, não se faça desentendida.
As outras arregalaram os olhos.
— Vocês já se beijaram? Puta que pariu, , como você não nos conta uma coisa dessas? — Camille estava indignada.
— Eu não beijei ninguém. Parem de ser loucas! — deu risada do afobamento delas.
— Claro que beijou! Pareceu um selinho, o que eu achei um absurdo, mas beijou, sim! — Pearson acusou e até apontou o dedo para ela.
— Não beijei! Não beijei! — Negou, cantarolando sem nem saber o motivo. Talvez ela gostasse de ficar provocando as amigas.
— Se ela tá dizendo que não beijou, é porque não beijou, gente! — Lucy se meteu e encarou como se duvidasse daquilo de qualquer forma.
— Ele me beijou no canto da boca, Katherine. Isso não conta — comentou, por fim.
— Eu disse! — Kate exclamou triunfante, mas então suas feições se desfizeram em uma careta. — No canto da boca? , eu achei que tivesse te ensinado melhor.
— Me ensinado o quê? A ser biscate feito você? — arrancou um olhar indignado da amiga.
— Biscate? Com certeza, mas eu vou dar na sua cara só por essa audácia. — Tentou se aproximar de , que correu para o outro lado do quarto. — Volta aqui, sua atrevida!
Vendo que a outra não facilitaria, Katherine pegou um dos travesseiros da cama e atirou na direção de , acertando seu rosto em cheio.
— Sua vaca, eu vou acabar contigo! — gritou e atirou o travesseiro de volta, porém Pearson foi mais rápida e desviou bem a tempo.
Lorraine, no entanto, não foi tão sortuda, e soltou uma exclamação indignada quando o objeto a atingiu. Ela revidou e acabou acertando em Sophie, que devolveu em Camille e, em poucos segundos, todas se batiam e jogavam travesseiros e almofadas umas nas outras.
ria sem parar e sentia que logo precisaria parar para respirar, porque sua barriga estava doendo.
Ela se apoiou na janela do quarto, para tentar recuperar o fôlego enquanto nenhuma delas parecia estar prestando atenção em si, mas, de repente, algo atraiu seu olhar para o lado de fora. Uma sensação estranha, um comichão no pescoço, como se alguém estivesse a observando.
Imediatamente, ela direcionou seus olhos para a janela e esperou encontrar alguém parado ali do lado de fora, mas não havia nada, o que a fez franzir o cenho, principalmente porque seu corpo inteiro se arrepiou. De repente, se viu paralisada e em estado de alerta completo.
— O que foi, amiga? — Camille percebeu aquela reação da garota.
— Eu...
— O travesseiro deve ter afetado os neurônios que ela não tem — Sophie brincou, mas, de repente, aquilo não tinha mais graça. parecia realmente assustada. — Certo, agora você está me assustando, .
— ? — Lorraine se aproximou e tocou o ombro da jovem , que se virou para ela e sacudiu a cabeça, como se estivesse com os pensamentos distantes.
— Não foi nada. Achei que tinha visto algo, mas deve ser cansaço da viagem. — Sorriu sem graça.
— Acho bom todo mundo descansar um pouco antes dessa festa que vão fazer — Lucy disse, e as outras concordaram.
Elas foram se dispersando para os outros quartos, enquanto permaneceu ali. tratou de ir logo ajeitar o que precisava, porque seus olhos pesavam e dormir seria muito bem vindo, no entanto, vez ou outra, ela ainda lançava olhares para a janela, como se esperasse encontrar a qualquer momento alguém a encarando por ela.
— Tá tudo bem mesmo, ? — Kate ainda estava preocupada.
— Tá, sim. Fica tranquila.
Não queria dizer que, por mais que lutasse e repetisse que não havia ninguém a observando, ou tentasse agir normalmente, focando nas coisas que precisava fazer, a sensação estranha não ia embora.
Depois de arrumarem suas coisas no quarto, e Katherine concordaram que estavam eufóricas demais para dormir, mesmo com todas aquelas horas de viagem, então seguiram até a sala, onde descobriram que as outras meninas tiveram a mesma ideia.
Elas não tardaram a engatar em várias conversas aleatórias até chegarem a um assunto em especial.
— Vai encontrar o River na festa, ? — Lorraine abriu um sorriso malicioso e trocou um olhar rápido com Kate.
conteve a vontade de retribuir e se limitou a estreitar os olhos.
— Vocês duas são terríveis, alguém já disse isso?
— Me conta uma novidade, garota. — Katherine riu. — Mas nem vem tentar desviar do assunto. Aposto que já marcou de encontrar ele, né, sua safada?
— Cala a boca, Kate. Não marquei nada com ninguém. — Negou com a cabeça, sem conseguir evitar rir junto.
— Até parece que você dá ponto sem nó, dona . — Foi a vez de Camille estreitar os olhos.
— É sério! Não marcamos nada. Ele só disse para nos falarmos depois. — Deu de ombros, e aquilo fez Katherine bufar.
— Achei que eu tinha te ensinado melhor, hein? É lógico que ele estava falando da festa, !
— Estava? — A garota arqueou uma sobrancelha.
— Amiga, acorda! — Lorraine riu, e não conseguiu deixar de pensar no quão irônico era ela fazer um comentário como aquele.
até abriu a boca para falar sobre aquilo, porém, de repente, sua mente se iluminou e ela conseguiu enxergar o que as amigas estavam tentando tanto esclarecer.
— Nossa! Ele quer me encontrar na festa! — Arregalou os olhos e ficou ainda mais eufórica do que antes.
— Depois eu que sou lerda. — Sophie negou com a cabeça, fazendo todas as garotas rirem, até mesmo , que logo suspirou e fez um bico para as amigas.
— Parem de me julgar e me ajudem a pensar em uma roupa legal.
— Olha que safada! Já quer uma roupa pra seduzir o moço. — Camille deixou um sorriso ladino estampar seus lábios.
— Eu ia retrucar isso daí, mas pior que é verdade. — O comentário fez todas rirem mais uma vez.
— Agora sim estou te reconhecendo. — Kate lhe lançou uma piscadela.
— Ótimo. Me ajuda logo, Katherine. — deixou um tom manhoso escapar.
— Acho que com aquele seu vestido vermelho não tem erro, amiga. — Foi Lorraine quem opinou, e, mais uma vez, a expressão da se iluminou.
— Eu te amo, garota! — A garota sentia vontade de beijá-la, porque aquela era a roupa perfeita.
— Também te amo, mesmo você me trocando pela Kate.
— Aceita que eu sou maravilhosa, meu amor. — Katherine jogou um beijo e fez a maior cara de convencida.
— Todas vocês são, Kate — interviu, sem conseguir parar de sorrir.
Era sempre assim. Estar com as amigas trazia uma sensação de leveza e era impossível não rir pelo menos uma vez quando se reuniam. Por isso mesmo estava tão animada com aquela viagem.
— Mas e o Tyler, meu anjo? Não pense que vai escapar da gente, não. — Camille se voltou para Katherine, e todas as expressões maliciosas se direcionaram a ela.
— O que tem ele? — Pearson se fez de desentendida.
— Nem vem com essa. Ele está praticamente lambendo os seus pés. — logo entregou tudo, e Kate colocou uma mecha de seus cabelos para trás da orelha.
— Tá bom. Ele é uma graça, né? Vou dar uns beijos nele hoje.
— Depois eu que sou a safada, uh? — brincou.
— Nós somos. — Katherine piscou novamente.
— Você tá muito quietinha, Lucy. — O comentário de Lorraine chamou a atenção delas, que imediatamente desviaram seu olhar para a amiga.
De fato, Lucinda estava quieta até demais, e aquilo poderia ser perfeitamente normal se ela estivesse concentrada no próprio celular, mas não era o caso. O olhar de Lucy estava fixo em um ponto qualquer, e, por um instante, franziu o cenho, achando muito estranho aquele comportamento.
Ela sequer respondeu Lorraine.
— Lucy? — Dessa vez foi Sophie quem se pronunciou. — Lucy! — Seu tom de voz foi aumentado e dois segundos depois a garota dirigiu seu olhar para elas, trazendo um semblante um tanto perdido.
— Tá tudo bem, amiga? — Lorraine se aproximou um pouco mais, sem conseguir esconder a preocupação.
Lucinda sacudiu a cabeça rapidamente, então, pela primeira vez, seu olhar pareceu realmente focado nas amigas.
— Claro. Por que não estaria?
— Porque você estava até agora com a maior cara de perdida. Ficamos preocupadas. — Kate, por outro lado, não conseguia disfarçar a expressão de irritação.
— Ai, gente, desculpa. Eu estava completamente distraída aqui pensando numas coisas. — E parecia que ela estava mesmo sendo sincera.
— Umas coisas, é? — Camille estreitou os olhos com malícia. — Que coisas?
— É, Lucy, que coisas? — entrou na onda.
— Não é nada disso, suas bobas. — Lucinda soltou uma risada sem graça.
— O que é então, meu anjo? — Sophie insistiu, mas ainda assim a garota negou com a cabeça.
— Nada que mereça a atenção de vocês, meninas. É sério.
— Ui, a gata é misteriosa — Camille zoou e arrancou mais risadas.
— Bato na sua cara agora ou daqui cinco minutos? — encarou Lucinda como quem realmente faria aquilo a qualquer momento.
— Cuidado, hein? Vai que eu gosto de levar uns tapas. — Piscou para , que também não aguentou, rindo alto.
— Sua cachorra safada. Eu adoro! — Então se levantou e foi na direção de Lucy.
— Aí, antes que vocês comecem com a putaria, acho que devíamos começar a nos arrumar. Com seis mulheres dividindo banheiro, espelhos e estojos de maquiagens, duvido que vamos chegar cedo à festa nesse passo — Katherine implicou, e riu.
— Se você quiser, tomamos banho juntas, Pearson. — Lançou uma piscadela para ela. — Mas tem razão, precisamos começar a nos arrumar mesmo.
Quase três horas depois, a cabana se encontrava em um verdadeiro caos. Peças de roupas se espalharam pelos quartos, diversos tipos de maquiagens estavam dispostos sobre a mesa do dormitório dividido por Lorraine e Camille, e o barulho do secador de cabelo se misturava ao som das risadas das garotas.
Mesmo completamente atrasadas, a animação só aumentava a cada segundo.
— Tá bom, agora eu tenho certeza de que vocês estão querendo matar os bonitinhos do coração. Olha só esse arraso! — Cami elogiou, quando e Kate adentraram o quarto completamente prontas.
Foi inevitável que as outras também virassem para as amigas e suas expressões se transformaram em aprovação e malícia.
— Se eu conheço bem a dona Katherine, ela tá querendo matar o Tyler de tanto foder, isso sim — Sophie soltou, antes mesmo que qualquer uma das duas respondesse, arrancando risadas das demais, enquanto Pearson apenas abriu um sorriso ladino.
— Nem me esperem essa noite. Tyler Whitmont é delicioso. — Lambeu os lábios só de imaginá-lo.
— Caramba, você é muito safada, garota! — lhe deu um tapinha leve e negou com a cabeça. — Mas não nego que adoro.
— Não nega também que quer conhecer a cabana do River que eu sei. — Sophie piscou para a , e a jovem nem protestou porque realmente queria aquilo.
— Me digam que vocês estão prontas. A festa já começou faz uma hora. — Lucy surgiu no quarto, também completamente arrumada.
— Olá pra você também, gostosa. Acho que a nossa festa pode ser aqui mesmo. — a olhou de cima a baixo, e a amiga corou.
— Você é muito boba, . Mas falo sério, a festa já está bombando.
— Se fosse a Lorraine falando, eu ia desconfiar um pouco, mas já que é você — Cami zombou da amiga.
— Ei! Desde quando eu sou mentirosa? — A indignação estava estampada em seu rosto.
— Mentirosa, nunca. Mas exagerada… — Camille tornou a falar, e as outras tentaram disfarçar as expressões de concordância, no que falharam miseravelmente.
— Já salvei muito a pele de vocês sendo assim, tá bom? Ou vocês esqueceram que se não fosse por mim, tínhamos nos perdido na nossa última trilha?
— É verdade, drama queen que eu amo. — se aproximou da amiga e apertou suas bochechas.
— Ai, para com isso, garota! Desse jeito eu vou chegar à festa parecendo o Pennywise! — Afastou a mão de , que soltou uma gargalhada.
— Vamos de uma vez. Vocês estão precisando de álcool! — Katherine se meteu, ao perceber que Sophie havia finalmente terminado de se arrumar.
— Estamos mesmo. Quero beber, dançar e dar uns beijos. — Ela conferiu sua imagem no espelho uma última vez, então assentiu para as amigas.
— Até que enfim! — Lucy soltou, recebeu um sinal nada educado como resposta e mais risadas ecoaram.
Se não fosse pela insistência de Lucinda, as garotas teriam se distraído por no mínimo mais uma hora. Elas realmente se empolgavam nas conversas e aquilo só reforçava o quanto eram amigas.
Sophie não parava de implicar com e Kate, dizendo que River e Tyler tinham até postado nos stories do Instagram que estavam esperando por elas.
E foi no impulso de pegar o próprio aparelho para conferir se aquilo era verdade que a jovem se deu conta de que havia o deixado em cima da cama de Lorraine.
— Droga! — Parou no meio do caminho, mas as amigas não pareceram se dar conta daquilo, porque continuaram andando.
Ficar sem o celular não era o fim do mundo, mas tinha certeza de que acabaria sentindo falta uma hora ou outra, e a cabana era relativamente próxima do local da festa, as meninas nem notariam sua ausência.
Dando de ombros, deu meia volta e andou o mais rápido que pôde.
Agradeceu mentalmente o fato de que Lucinda sempre insistia em deixar uma luz acesa para quando as garotas voltassem. Ela odiaria ter que tatear no escuro.
não havia se dado conta do quanto elas tinham bagunçado o quarto ao se arrumarem e isso a fez rir enquanto seu olhar localizava o celular e se aproximava para pegá-lo.
Assim que a tela se acendeu, a garota viu que havia recebido uma mensagem de River pelo instagram e seu sorriso se alargou antes mesmo de ver seu conteúdo.
Quando ela o fez, no entanto, sua expressão mudou e não conseguiu conter uma mordida no lábio inferior.
O rapaz havia lhe mandado uma foto e não havia como negar o quanto ele estava gostoso.
River: Não me diga que vai me dar um bolo?
: Se eu ia, depois dessa foto, mudei de ideia.
River: Gostou mesmo? Acho que de perto a visão tá melhor, hein.
River: Bom saber que mudou de ideia. ;)
: Acho que vou deixar pra te responder depois que aceitar a sugestão de ver bem de perto. ;)
River: Estou vendo suas amigas aqui e nada de . Não me ilude, .
: Eu jamais faria isso, meu bem. Aguenta só mais um pouco que estou chegando.
: Tive que voltar até a cabana para buscar meu celular. :/
River: Voltou sozinha para a cabana?
: Voltei. Nem é tão longe assim.
River: Não é mesmo, mas tá tudo escuro. Espera que vou até aí.
: Não precisa, River. Eu já estou indo.
River: É sério, . Me espera.
franziu o cenho com toda aquela insistência do rapaz, então negou com a cabeça e se virou para sair do quarto. Quase na porta, a jovem tropeçou em alguma coisa no chão e deu um pequeno pulo que a ajudou a evitar a queda, sem nem se dar ao trabalho de verificar o que tinha causado aquilo, porque provavelmente era alguma peça de roupa atirada.
Rapidamente, chegou até a sala e não sabia se sentava no sofá para esperar por River, ou se ficava em pé mesmo. Dado a rapidez com que as amigas chegaram ao galpão onde seria a festa, imaginou que o rapaz de fato não demoraria muito, mas então ela se lembrou da sensação estranha de mais cedo e decidiu não ficar ali aguardando.
Encontraria River no meio do caminho.
Tendo o mesmo cuidado de deixar uma luz acesa — ou Lucinda a mataria —, seguiu para fora da cabana e assim que seus olhos foram de encontro ao caminho que precisava percorrer, seu corpo se sacudiu em um breve calafrio.
Como tudo podia ter ficado tão escuro?
Mordeu o lábio e ponderou ficar por ali na porta, até que seu olhar foi de encontro ao aparelho em suas mãos.
— A lanterna, — resmungou consigo mesma, então tratou de logo acender a luz que precisava, respirou fundo e saiu em direção ao local da festa.
Enquanto caminhava, a garota se sentia até boba por todo aquele receio. E com certeza a sensação que teve mais cedo era nada além de uma paranoia sem qualquer fundamento. Afinal de contas, quem é que ia perder tempo olhando para a janela de seis garotas?
Um psicopata talvez?
Mas não, aquilo não era um filme de terror. Era a vida real, e em poucos minutos ela aproveitaria uma ótima festa na companhia de suas amigas e do cara gato da Oceanografia.
Aquela viagem seria épica, disso estava certa.
No entanto, antes de chegar de fato ao seu destino, ou até mesmo de encontrar algum sinal de River, mais uma vez, a jovem paralisou.
Em uma proporção ainda maior, aquela sensação de que um arrepio percorria cada centímetro de sua espinha, gelando cada um de seus ossos, foi tomando conta. Um formigamento atrás de sua nuca a fez se virar imediatamente e seus olhos procuraram por alguma coisa, piscaram quando suas pupilas reclamaram da claridade da lanterna, atravessaram o limite onde a luz alcançava e procuraram por algo além dela.
Não havia nada.
respirou fundo. Os batimentos de seu coração aumentaram consideravelmente e por pouco o celular não escapou de seus dedos, subitamente tomados pelo suor frio que escorria de suas palmas.
— Não tem nada aqui, . Não tem nada aqui.
Tentou se convencer daquilo, mas nem assim seus músculos permitiram que suas pernas se movessem.
— Deixe de ser paranoica, . — Apertou o aparelho com mais firmeza, fechou os olhos e tentou regular sua respiração mais uma vez.
Contou um…
Dois…
Três.
Então abriu os olhos novamente.
Mais uma vez, o vazio a esperava.
Riu de si mesma.
E suas pernas finalmente a obedeceram.
Sem perder mais tempo, retomou o caminho até a festa. Deu dois passos… Quatro… E enquanto seu pé se erguia para o quinto, algo atraiu sua atenção em um ponto logo à sua direita. Algo que fez com que a jovem parasse mais uma vez. Algo que trouxe de volta aqueles mesmos arrepios gelando seus ossos. Algo que foi o suficiente para um grito ser sufocado em sua garganta.
A distância não importava muito, a visão seria muito nítida em qualquer ponto.
Ali, em meio à penumbra, brilhava um par de olhos vermelhos.
Olhos perversos, macabros, ansiosos por algo.
Por ela.
De repente, cada centímetro de seu corpo tremia em desespero.
Por um milésimo de segundo, cogitou o quanto aquilo era real.
Não podia ser. No mínimo, estava tendo pesadelos.
Sua nuca formigou mais uma vez e uma baforada quente resolveu seu impasse.
— Com medo? — Era impossível ela estar imaginando aquela voz. Uma voz distorcida e carregada por um tom de quem se saciava com o pavor.
Mas não podia simplesmente continuar parada ali, esperando pelo que lhe aconteceria. Precisava fugir.
Agradeceu mentalmente quando seu corpo não hesitou mais e se pôs a correr. Olhou para trás e tentou se certificar de que não estava sendo seguida.
O impacto de seu corpo esbarrando em outro só foi sentido quando foi lançada para trás e caiu sentada na grama.
Outro grito ficou preso. Era isso. Era assim que morreria.
— Moça, você está bem? — Uma segunda voz pôde ser ouvida.
Ela nem havia notado o momento no qual seus olhos tornaram a se fechar, mas arriscou abri-los e mirou o celular na direção da voz, temendo o que encontraria por mais que aquela tivesse soado completamente diferente da outra.
Assim que a luz o atingiu, os lábios de tremeram. Não era alguém conhecido e a desconfiança gritou um alerta em sua mente.
— Quem é você? — Não soube como foi capaz de encontrar a própria voz, mas esta soou firme e determinada.
O rapaz parado diante da jovem ergueu a sobrancelha levemente, sem conter a surpresa com a reação dela.
— Ei, relaxa. Só estou tentando te ajudar. Você surgiu do nada e está aí caída no chão, e eu…
— Eu perguntei quem é você! — insistiu, ao ignorar o falatório desenfreado.
— . Meu nome é . — Apressou-se em responder. — Sou do acampamento vizinho. Você está bem? — Foi a vez dele insistir na pergunta.
— Como assim acampamento vizinho? Não tem nenhum… — Olhou para a mão de quando ele mexeu seus dedos, indicando que já havia a estendido na direção dela já fazia algum tempo.
ainda assim hesitou e lançou um olhar por todo o rosto do rapaz, avaliando se de fato poderia confiar nele, principalmente depois do que havia acabado de acontecer.
E se ele fosse o psicopata a perseguindo?
— É sério isso? — usou um tom de indignação, o que fez a jovem bufar e por fim aceitar a mão dele, a segurar e permitir que o rapaz a ajudasse a se levantar.
passou a mão pelo vestido para limpar a grama e seu rosto esquentou ao se dar conta de que talvez o rapaz tivesse visto até o útero dela enquanto estava ali caída.
— Está tudo bem? — ele insistiu uma terceira vez.
assentiu, mesmo aquilo sendo uma mentira. percebeu e a careta em suas feições deixou bem claro.
— O que você faz sozinho por aqui a essa hora, ? — Ainda estava desconfiada.
— Ouvi dizer que tem uma festa rolando por aqui. — Deu de ombros.
precisou esconder um suspiro de alívio, então estreitou seus olhos.
— E você achou que seria uma boa ideia entrar de penetra?
Ele sorriu.
— Eu achei mesmo. — A resposta fez com que ela retribuísse.
— . Esse é o meu nome — rapidamente se explicou, ao notar as feições confusas do rapaz.
— É um prazer te conhecer, . Se eu fosse você, não andaria por aqui sozinha a essa hora.
abriu a boca, pronta para o retrucar, porque ele mesmo estava andando sozinho por ali.
— ! — De imediato, ela reconheceu a voz de River.
— River! — gritou para que o rapaz pudesse ir até onde ela estava e se virou de costas para , enquanto procurava à sua volta.
Então River finalmente entrou em seu campo de visão.
sentiu alívio quando o percebeu vir imediatamente em sua direção. Inclinou a cabeça para , prestes a convidá-lo para ir até a festa com ela e River, mas, para sua completa surpresa, não havia mais ninguém ali.
Num piscar de olhos, havia sumido.
Franziu o cenho em confusão, porque não tinha a menor possibilidade de ela ter simplesmente imaginado um cara aleatório, porém não sentiu arrepios dessa vez. Era como se algo dentro dela dissesse que estava tudo bem, mesmo aquilo tudo sendo muito suspeito.
— Tudo bem, ? — Só então percebeu River diante dela, tão próximo que, ao respirar, a jovem sentiu o cheiro gostoso de seu perfume.
Suspirou baixinho e assentiu, mordendo o canto do lábio de forma discreta.
— Sim. Por um segundo, achei que tinha me perdido, só isso. — Sorriu para disfarçar o desconforto que a mentira causava.
— Falei que te encontrava na cabana, mas você realmente é bem teimosa. Tô devendo dez dólares pra Kate.
ergueu uma sobrancelha.
— Vocês dois apostaram às minhas custas. É isso mesmo?
— Em minha defesa, eu jurava que ia ganhar. — Deu de ombros e arrancou uma risada baixa da garota.
— Que fique registrado que eu odeio vocês. — Apontou um dedo pra ele e começou a caminhar, percebendo que se sentia bem mais segura na companhia do rapaz.
Ela ouviu a risada de River antes de finalmente ser acompanhada por ele.
— Odeia nada.
— Até que enfim a donzela apareceu! — O grito de Kate chamou a atenção de algumas pessoas ao redor do grupo de amigas, mas ninguém se importou muito com aquilo.
— Quem vê até parece que fiquei um ano longe de você, Pearson. — riu quando a amiga se aproximou e a abraçou apertado.
— Parece que foi, tá? Você não voltava nunca! — Katherine fez um biquinho adorável.
— Isso porque ela foi teimosa, saiu no escuro e se perdeu no caminho — River se pronunciou.
— Ha-ha, eu disse! — Kate cantarolou, então estendeu uma mão para receber o dinheiro da aposta. — Foi um prazer fazer negócios com você, meu anjo.
— Não posso dizer o mesmo. — Aquela resposta fez gargalhar.
— Que isso, irmão, pra que tanta raiva nesse coração? — Tyler abraçou Katherine pela cintura, e a garota se virou para enlaçar seu pescoço.
— Ih, pode largar. Eu quero dançar com a minha amiga. — Lorraine, que até então só observava a cena, se aproximou e a segurou pelo braço. — Com as duas — completou, ao ver River olhar na direção de .
— Acho que fomos dispensados, cara. — Blackwood se juntou ao amigo e viu as garotas caminharem até um local onde teriam mais espaço para dançar.
— Não foram nada. Podem ir ali para o meio da roda. A gente adora ver homens gostosos dançando. — Kate passou a língua pelos lábios e piscou para Tyler, que retribuiu no mesmo instante.
Enquanto começava a se movimentar, prestou atenção à música do ambiente e percebeu que era Levitating da Dua Lipa.
Ela simplesmente amava aquela música.
Se entregou ao ritmo, cantou e dançou sem se importar com o que as pessoas poderiam estar pensando. Sophie chegou mais perto dela e as duas se movimentaram juntas, rindo apenas por estarem alegres.
River e Tyler realmente se juntaram a elas e notaram que um outro rapaz se aproximava para tentar falar com Camille e que Lucy se afastou minutos depois, apenas apontando que iria para algum lugar.
O ambiente era bem simples e não tinha nenhuma decoração em especial, mas aquilo não interferia em nada na festa, as pessoas estavam se divertindo bastante.
se pegou encarando ao seu redor de vez em quando, à procura de algum sinal do cara misterioso que havia encontrado mais cedo, porém não teve nenhum sucesso.
Talvez ele não tivesse achado o local da festa, mas aquilo era um tanto improvável.
A outra opção ainda não a agradava e parecia absurda até demais.
não podia ser fruto de sua imaginação.
Então lembrou dos olhos vermelhos.
Só podia estar louca.
— Um beijo pelos seus pensamentos. — A voz bem próxima do seu ouvido a fez se arrepiar instantaneamente.
Um sorriso de canto moldou seus lábios.
— Estava pensando quando é que você ia chegar mais perto. — Se manteve na mesma posição, porém continuou dançando e movimentou um pouco mais os quadris quando o corpo dele encostou no seu.
— Tava esperando o momento mais seguro, se é que me entende. — Indicou Lorraine com o olhar. A garota naquele momento dançava com Sophie, Camille e o cara que tinha se juntado a elas.
— Relaxa. As meninas não mordem, não. Pelo menos não sem consentimento. — Mordeu o canto da boca.
— E você, ? — o rapaz provocou, segurou a cintura de com uma mão e a apertou de leve, o que a fez conter um suspiro.
— O que tem eu? — Se fez de desentendida.
— Você morde?
— Quer que eu faça isso contigo, Blackwood? — Ergueu uma sobrancelha.
— Eu adoraria. — Sorriu ladino.
Aquilo foi o suficiente para que , por fim, virasse em sua direção, deixando o rapaz grudar seu corpo ao dela, então colocou uma perna no meio das coxas de River e rebolou lentamente.
— Bem melhor assim, não acha? — Soltou uma risadinha ao ver a expressão afetada dele.
— Muito melhor. Só que as consequências disso são todas sua culpa, . — Blackwood aproximou seu rosto dela, de forma que seus narizes se roçaram.
— Que consequências? — instigou, sem quebrar o contato visual.
— Suas amigas reclamarem que você mal ficou na festa, porque eu quero te arrastar lá pra minha cabana, por exemplo.
Foi inevitável que um arrepio gostoso percorresse cada centímetro do corpo da jovem.
— Ah, tenho certeza de que elas vão sobreviver a uma noite sem mim. — Piscou para ele.
River sorriu satisfeito e chegou ainda mais perto. Seus lábios estavam quase tocando os de , quando algo chamou a atenção dela.
não soube o motivo, mas seu olhar foi atraído para a mesa de bebidas. E lá, parado ao lado dela, a encarando fixamente, estava , o cara misterioso.
Um outro arrepio tomou conta de si com a forma como ele a encarava, então desviou do quase beijo de River, se afastou um pouco e sorriu sem graça.
— Desculpa, é que eu tô morrendo de sede. — Fez uma careta. Não era bem uma mentira, ela realmente queria beber algo. — Vou lá buscar.
— Não, que isso, . Eu pego pra você. Nem te ofereci nada quando chegamos. Que cabeça a minha! — River soltou um muxoxo, culpado.
— Relaxa. E pode deixar que eu pego. Quer que eu traga algo pra você? — ofereceu e já deu alguns passos na direção da mesa.
De canto de olho, ela tentava se certificar de que permanecia ali e não tinha evaporado novamente.
— Tem certeza? — Ela assentiu. — Tá legal. Uma cerveja seria ótimo.
assentiu e por fim se afastou sem nem olhar para trás. River a observou intrigado, mas logo Tyler chamou sua atenção.
Enquanto seguia até a mesa de bebidas, tentava não olhar para o rapaz parado ali perto. Mesmo ele tendo percebido que ela o notou, a jovem não queria dar o braço a torcer, e assim que estava perto o suficiente, fingiu que a caixa cheia de cervejas e gelo era bem mais interessante do que o tal .
O rapaz acompanhou seus movimentos, fazendo um formigamento tomar conta da lateral do rosto de , porém ela continuou o ignorando. Pegou a cerveja de River e ponderou um pouco antes de se servir com um copo de vodca, gelo e suco de cranberry.
Ao bebericar, a jovem percebeu ter colocado vodca demais, porém não se importou muito com aquilo.
— Aproveitando a festa? — estava prestes a se retirar, quando aquela voz, a qual agora ela sabia a quem pertencia, se pronunciou.
Resolveu tomar mais um gole de sua bebida e só então se virou na direção do rapaz.
— Muito. — Tentou não dar muita conversa, mas acabou não resistindo. — E você?
— Confesso que não tanto quanto gostaria. — Ele foi sincero.
— É mesmo? E por que não? — ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Eu poderia estar ali dançando, por exemplo. — Apontou para o local onde havia alguns grupos, incluindo aquele ao qual pertencia.
— Só não está porque não quer. — Ela deu de ombros e levou o copo aos lábios mais uma vez. Depois do terceiro gole, a quantidade de álcool não a incomodava mais tanto assim.
— E porque não conheço ninguém daqui. — soltou uma risada baixa, e conteve um sorriso por pura birra. O jeito que o homem sorria era um tanto desconcertante, ela não podia negar, mas também não queria que ele soubesse.
— Que eu saiba, essa é uma das consequências ao entrar de penetra nas festas alheias.
Aquele comentário o fez rir ainda mais.
— É, você tem um ponto. — Foi a vez de beber um pouco, e só então percebeu a garrafa de cerveja nas mãos dele.
— Bom, se você quiser se juntar a nós, eu apresento meus amigos pra você. — Ela não soube bem o motivo de fazer aquele convite, mas preferiu não pensar muito no assunto naquele momento.
— Tem certeza? Não sei se o seu namorado vai gostar muito da ideia. — Indicou River com um aceno de cabeça.
acompanhou o movimento rapidamente, então não conseguiu conter um sorriso de canto enquanto tornava a encarar o rapaz à sua frente.
— River não é meu namorado.
ergueu uma sobrancelha ao ouvir aquilo. Os dois pareciam muito próximos antes de avistá-lo.
— Então são amantes?
gargalhou, então seus olhos foram percorrendo o rosto do rapaz e, por Deus, como ela não havia reparado no quanto ele era bonito?
Era quase como se o rosto de fosse esculpido por anjos e, sendo honesta, de repente, ela mal conseguia parar de olhá-lo.
Será que o peitoral daquele homem era perfeito como seu rosto?
Mas o que você está pensando, ?
Era engraçado o fato de sua consciência muitas vezes ter a voz de Katherine.
— Não. Não somos amantes. Ele é apenas um cara gato com quem eu estou flertando. — Deu de ombros e foi completamente sincera.
apreciou a honestidade, isso ficou nítido quando ele voltou a sorrir e deu dois passos na direção de .
— Então ele não vai se importar por você estar aqui comigo e me levar até lá?
— A gente pode combinar algo nós três também se você quiser. — Foi a vez de brincar. Não estava ligando muito para o que pensariam dela. Havia topado fazer aquela viagem porque queria aproveitar tudo até o último segundo.
Afinal de contas, só se vive uma vez.
Se havia gostado daquela proposta ou não, no entanto, nunca soube, pois, no exato momento em que terminou de falar, um grito ecoou pelo galpão da festa.
Mas não era um grito de alegria, de susto, ou de raiva.
Não. Era um grito que imediatamente fez todos os ossos de se arrepiarem.
Era um grito de completo desespero.
A música cessou, todas as pessoas olharam na direção de onde aquele som apavorante havia saído, e a jovem percebeu que vinha de um dos banheiros.
Ninguém moveu um músculo. Todos pareciam paralisados, esperando de repente que o autor daquele grito irrompesse pela porta.
No entanto, aquilo não aconteceu.
Em vez disso, mais uma vez, a voz aguda ecoou, implorando por ajuda.
Então River Blackwood foi o primeiro a recuperar seus movimentos e sair em disparada até o banheiro.
Sem conseguir se refrear, mesmo sentindo que não deveria, fez o mesmo.
E desejou internamente ter ouvido seus instintos.
A primeira coisa que perceberam foram os respingos de sangue manchando as paredes.
A segunda foi a jovem de costas para a porta, enquanto se balançava e chorava convulsivamente.
River reconheceu a moça por conta das mechas acobreadas em seus cabelos.
— Anne, o que aconteceu?
De imediato, ela se virou para Blackwood, e foi aí que a atenção dele se voltou para o que estava no chão, a poucos metros dela.
Era um cadáver.
— A… A Julie — soluçou, enquanto tremia da cabeça aos pés. — Ela me disse que vinha ao banheiro e já voltava, mas demorou demais, então eu vim vê-la e… e… É tudo culpa minha. Eu devia ter vindo com ela.
As palavras da garota foram se perdendo diante do horror daquela cena.
Ambas as mãos de Julie estavam unidas e completamente esmagadas. O corpo de barriga para cima, com as pernas em um ângulo torto e exibindo um corte do tórax até o abdômen, que expunha os órgãos da garota. Seus olhos estavam bem abertos e em completo pavor.
Era como se ela tivesse sido atacada por algum animal, ou algo muito pior.
Mais pessoas foram chegando e exclamações de horror eram ouvidas.
— Tyler, chama a polícia. — A voz de River estava falha ao se direcionar ao amigo, assim que ele chegou ao lugar. — Pessoal, se afastem, por favor. Isso aqui é uma cena de crime.
queria fazer alguma coisa. Queria tentar consolar Anne, queria ajudar River a conter as pessoas, que pareciam ainda mais curiosas depois de ouvir o pedido dele, mas simplesmente não conseguia.
Seus olhos estavam vidrados, horrorizados por aquela cena grotesca. Seu estômago havia revirado tantas vezes que ela estava surpresa por não ter vomitado ali mesmo, e seu corpo inteiro estava mais uma vez dominado pelo pavor.
Quem havia feito aquilo?
Ou melhor, o que havia feito aquilo?
De repente, se lembrou dos olhos vermelhos.
— Por Deus, não… — Por mais que tentasse, sua voz não saía.
Era como se ela tivesse perdido a capacidade de comandar o próprio corpo.
Nem mesmo chorar conseguia.
— ? — uma voz conhecida chamou por , mas, ainda assim, ela não conseguiu se mover, não importava o quanto quisesse.
Era apenas impressão, ou as coisas estavam girando ao seu redor?
— ? — O rosto de Cami entrou em seu campo de visão, e uma parte dela notou uma conversa rápida entre a amiga e River.
Não soube como, mas, de repente, já não estava naquele banheiro e, sim, do lado de fora, rodeada mais uma vez por suas amigas.
Lorraine estendia alguma coisa para ela.
Água.
queria, sua garganta estava seca, então se forçou a erguer a mão para aceitar o copo.
E teria suspirado de alívio quando conseguiu, mas os outros sentimentos eram muito mais fortes e a consumiam naquele momento.
— Graças a Deus você apareceu, . Quando escutamos os gritos, ficamos apavoradas com a ideia de que pudesse ser você naquele banheiro. — Lorraine passou a mão pelos cabelos de , enquanto a observava.
Espera. O quê?
O cenho da jovem se franziu.
— Como assim? — Pigarreou, porque sua voz estava fraquíssima. — Como assim? Eu estava por aqui o tempo todo. D-dançei com River e depois fui buscar umas bebidas.
— Você não estava em lugar algum, amiga. A Lucy foi te procurar, eu fui te procurar, e nem sinal seu na festa — Sophie se pronunciou.
Como assim ela não estava na festa? Que loucura era aquela?
— Mas eu estava na festa, sim! Fiquei ali na mesa de bebidas com… Com ele! — Então seus olhos encontraram ali, como se o rapaz sequer tivesse saído daquele mesmo ponto.
— Ele quem, ? — Camille a indagou e ergueu uma sobrancelha.
— O rapaz ali na mesa de bebidas. — Apontou.
As meninas acompanharam o olhar da jovem, então a confusão se formou em cada uma de suas feições.
Elas se entreolharam, então voltaram a encarar .
Sophie parecia apavorada quando tornou a falar.
— , não tem ninguém ali.
Continua...
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Nota da autora: Nada melhor do que comemorar o Carnaval com um assassinato, uh? kkkkkk.
Brincadeiras à parte, espero que gostem do capítulo.
Beijos e até a próxima,
Ste a.k.a. Saturno. ♥
Brincadeiras à parte, espero que gostem do capítulo.
Beijos e até a próxima,
Ste a.k.a. Saturno. ♥
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