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Revisada por: Nyx 🌙 (Até o capítulo 05 codificada por Lua ☾)
Última Atualização: 02/06/2025

A vida na Coreia do Sul definitivamente não era como nos dramas que ela assistia, mas já estava se acostumando com isso, afinal de contas ela já ia para seu terceiro ano vivendo no país. E sim, Seul era caótica, de dia e de noite.
No começo, tudo parecia como um sonho distante. O intercâmbio foi uma oportunidade única, mas quando o contrato estava prestes a terminar, se viu diante de uma decisão difícil. O que mais a atraía na Coreia era a energia vibrante da cidade, o ritmo acelerado que combinava perfeitamente com sua própria personalidade, mas também havia algo a mais: ela se sentia em casa aqui. O fato de que o idioma ainda era um desafio, que as diferenças culturais eram intensas e que o clima severo podia ser implacável, nunca a desanimaram completamente.
Foi durante o último semestre do seu intercâmbio que ela começou a ponderar sobre a possibilidade de ficar. Os dias se passavam e, aos poucos, foi construindo sua vida em Seul. Fez amizades que pareciam mais com famílias e encontrou um emprego temporário, o que a ajudou a perceber que a Coreia não era só um destino, mas uma parte importante de sua identidade.
Quando o fim do intercâmbio se aproximou, soubera que não estava pronta para partir. Por mais que os pais tivessem suas reservas sobre a decisão, ela sabia que precisava tentar. Então, começou a pesquisar formas de estender sua estadia. Entre muitas conversas com outros estrangeiros, ela descobriu que poderia solicitar um visto de trabalho ou estudo, dependendo do que decidisse fazer. Mas os caminhos não seriam fáceis.
Após semanas de planejamento, conversas com consultores de imigração e muita documentação, conseguiu um emprego em uma empresa local que estava disposta a patrociná-la para um visto de trabalho. Ela sabia que teria que se dedicar mais do que nunca, mas a ideia de continuar ali, em meio à correria de Seul, era o suficiente para motivá-la a dar esse passo. A parte mais difícil foi lidar com os trâmites burocráticos, mas, após longos meses de espera, o visto foi finalmente aprovado.
Agora, dois anos depois, ela sabia que sua vida não tinha mais um destino definido. Seul, com toda sua intensidade e caos, havia se tornado seu lar, e ela não pretendia deixar isso para trás tão cedo.

🌹🌹🌹

O metrô balançava levemente, mas não o suficiente para impedir que mantivesse o equilíbrio, mesmo espremida entre dezenas de pessoas que pareciam ter o mesmo destino que ela: qualquer lugar, contanto que fosse rápido. Segurando firme na barra metálica acima da cabeça, ela olhou discretamente para o relógio de pulso. Quinze minutos de atraso. Suspirou baixinho, sabendo que, em Seul, a pontualidade era quase uma obrigação.
A bolsa pendurada em seu ombro começou a vibrar. O celular. Pela terceira vez em menos de dez minutos. Ela fechou os olhos por um instante, tentando ignorar o incômodo, mas a vibração persistente parecia zombar de sua situação. Com a outra mão, tentou alcançar a bolsa, mas a quantidade de gente ao seu redor tornava impossível qualquer movimento brusco.
O homem ao seu lado segurava uma maleta que cutucava seu quadril a cada freada, enquanto uma jovem, aparentemente a caminho da escola, tinha os olhos grudados no celular, alheia ao mundo ao redor. Por um momento, pensou em pedir licença para tentar pegar o telefone, mas desistiu rapidamente. O espaço era tão apertado que qualquer tentativa só resultaria em olhares impacientes.
Ela bufou, resignada, enquanto o metrô fazia mais uma parada. A porta abriu e fechou em segundos, trazendo ainda mais passageiros para dentro. se espremia mais um pouco, mal conseguindo mexer os pés, mas já estava acostumada com essa rotina caótica. "Deve ser alguma mensagem do trabalho", pensou, embora a possibilidade de ser um amigo ou mesmo sua mãe preocupada também cruzasse sua mente.
A vibração parou por alguns segundos, apenas para recomeçar logo em seguida. revirou os olhos, mordendo o lábio para segurar a frustração. "Assim que eu sair daqui, vou responder," prometeu a si mesma. Por enquanto, tudo o que podia fazer era suportar o aperto e torcer para que o próximo aviso no alto-falante anunciasse sua estação.

🌹🌹🌹

O alto-falante anunciou a próxima estação, e sentiu uma pequena onda de alívio. Sua parada finalmente estava próxima. A vibração do celular continuava, agora intercalada com um silêncio irritante, como se até o aparelho tivesse perdido a paciência com sua falta de resposta.
Quando o metrô parou, houve um empurra-empurra generalizado. se esforçou para abrir caminho, desviando de cotovelos e mochilas até finalmente conseguir sair do vagão. Ao pisar na plataforma, soltou um suspiro profundo e ajustou a alça da bolsa no ombro.
Caminhou rapidamente até as escadas rolantes, aproveitando a oportunidade para abrir a bolsa e, finalmente, alcançar o celular. Assim que desbloqueou a tela, seu coração quase parou.
3 chamadas perdidas – Chefe Lim Jaebeom.
"Ah, não... Eu tô ferrada," pensou, sentindo o estômago revirar. Não era só o atraso. O fato de ele ter ligado tantas vezes já era um péssimo sinal. Ela sabia que Jaebeom não era exatamente a pessoa mais paciente do mundo.
Subiu as escadas em um ritmo apressado, já pensando em como explicar a situação. Chegando à rua, seus dedos rapidamente começaram a digitar uma mensagem.
"Bom dia, Sr. Lim. Mil desculpas pelo atraso! Estou a caminho do escritório e devo chegar em poucos minutos. Mais uma vez, peço desculpas pela demora."
hesitou antes de enviar, mordendo o lábio inferior. Poderia ter explicado o motivo, mas não havia muito tempo para justificativas. Afinal, o chefe provavelmente estava mais interessado em resultados do que em desculpas. Com um suspiro, ela enviou a mensagem e começou a caminhar em direção ao escritório.
O dia mal havia começado, e ela já sentia que precisaria de um café duplo para sobreviver às próximas horas.

🌹🌹🌹

Na enorme sala com paredes de vidro que ofereciam uma vista espetacular de Seul, Lim Jaebeom bufou levemente ao ler a mensagem no celular. Ele passou a mão pelos cabelos bem penteados, sentindo a pontada familiar de frustração.
“Estou a caminho do escritório e devo chegar em poucos minutos…" – Ele murmurou as palavras para si mesmo, tentando não se irritar mais do que o necessário.
Apesar do atraso, ele sabia que raramente cometia erros. Ainda assim, o hábito de depender tanto dela para coordenar reuniões, organizar documentos e, basicamente, manter sua agenda sob controle começava a pesar.
Jaebeom largou o celular sobre a mesa de madeira impecavelmente organizada e recostou-se na cadeira de couro. A enorme sala de reuniões ao lado, vazia, parecia um lembrete constante de sua rotina frenética. Às vezes, ele se perguntava quando havia perdido o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Mas então olhava para os números no relatório mais recente e lembrava por que havia se dedicado tanto à vida corporativa.
Apesar disso, não conseguia evitar a sensação de que estava exagerando. Ele suspirou, seus olhos caindo sobre a pequena pilha de documentos na mesa que provavelmente teria organizado antes de sair no dia anterior. Era um lembrete de por que ele a mantinha ali: era, de longe, uma das secretárias mais competentes que ele já havia contratado.
Imprevistos podiam acontecer. Ele sabia disso. Mas estava tão acostumado a ter tudo funcionando perfeitamente que qualquer deslize parecia maior do que realmente era. Ele fechou os olhos por um momento, forçando-se a relaxar.
"Preciso ser menos dependente dela para tudo," pensou, mas mesmo enquanto formulava a ideia, sabia que era mais fácil falar do que fazer. tinha um talento único para organizar o caos que era a vida dele, e, por mais que quisesse negar, ele sabia que ela era essencial.
Enquanto refletia, seu celular vibrou novamente, desta vez com uma notificação do calendário. Reunião em 15 minutos. Ele soltou mais um suspiro, olhando para o relógio na parede. "Espero que ela chegue a tempo."
Jaebeom se levantou, ajeitando a gravata, e caminhou até a janela. Lá fora, a cidade não parava, assim como sua rotina. Talvez fosse hora de reconsiderar como equilibrava as coisas – para ele e para quem trabalhava ao seu lado.

🌹🌹🌹

desceu apressada do táxi e parou por um instante para admirar a fachada imponente do edifício onde ficava a empresa de Jaebeom. Não era algo que ela fazia com frequência, mas naquele momento, entre a pressa e a preocupação, a visão do prédio lhe trouxe uma mistura de admiração e nervosismo.
Respirou fundo, ajustou a bolsa no ombro e caminhou apressadamente pelas portas automáticas. O ar-condicionado gelado contrastava com o calor abafado da rua, mas ela mal teve tempo de apreciar o alívio.
– Bom dia, ! cumprimentou o recepcionista com um sorriso educado.
– Bom dia, Sungjin, respondeu rapidamente, enquanto acenava também para a colega ao lado.
Sem diminuir o ritmo, se dirigiu ao hall dos elevadores. O painel eletrônico mostrava uma fila de números piscando, indicando que todos os elevadores estavam em uso e demorariam alguns minutos para chegar ao térreo.
Ela franziu a testa, olhando para o relógio. Não tinha tempo para esperar. Seus olhos se voltaram para a porta da escadaria. Com um suspiro resignado, tomou sua decisão.
– Vamos lá, isso também conta como exercício – murmurou para si mesma, empurrando a porta e começando a subir as escadas.
Os primeiros andares foram fáceis, mas ao chegar ao quinto, já sentia as pernas queimarem levemente. "Ótimo. Além de atrasada, vou chegar suada," pensou, apertando o passo mesmo assim. Não podia perder tempo se preocupando com detalhes agora.
A cada lance de escadas, repetia mentalmente o discurso que faria a Jaebeom. "Desculpe o atraso, foi um imprevisto... Não, isso soa muito genérico. Talvez: 'Prometo que não vai se repetir.' Isso parece sincero."
Antes que percebesse, estava empurrando a porta que dava acesso ao andar da empresa. Com a respiração levemente acelerada e tentando manter a compostura, ela caminhou até a recepção do escritório, pronta para encarar o chefe.
Assim que atravessou as portas de vidro da empresa, ajeitou os cabelos rapidamente com os dedos, tentando disfarçar os sinais de sua corrida. A recepcionista do andar, Jihyo, ergueu os olhos de um tablet e lançou-lhe um sorriso simpático, mas ligeiramente curioso.
– Bom dia, . Tudo bem?
– Bom dia, Jihyo – respondeu com um aceno rápido, tentando soar casual. – Estou ótima, só... um pouco atrasada.
Jihyo riu baixinho, mas não fez mais perguntas. seguiu em frente, caminhando pelo corredor impecável até chegar à porta da sala de Jaebeom. Parou por um instante, respirou fundo e ajustou a postura antes de bater levemente.
– Entre – a voz firme e controlada veio de dentro, fazendo seu coração acelerar um pouco mais.
Ela empurrou a porta, entrando com passos rápidos, mas não apressados, mantendo o máximo de profissionalismo que conseguia. Jaebeom estava de pé ao lado da mesa, analisando alguns papéis, mas ergueu os olhos na direção dela assim que ouviu o som da porta.
– Bom dia, Sr. Lim – disse , inclinando levemente a cabeça em respeito. – Peço desculpas pelo atraso. Foi um imprevisto, mas prometo que não vai se repetir.
Jaebeom a observou por alguns segundos, o rosto inexpressivo, antes de finalmente soltar um leve suspiro.
– Você está quinze minutos atrasada... – começou, a voz calma, mas carregada de autoridade. – E, normalmente, eu não toleraria isso. Mas reconheço sua eficiência, . Só não torne isso um hábito.
Ela assentiu rapidamente, aliviada por não ouvir um tom mais severo.
– Obrigada pela compreensão, Sr. Lim! – respondeu.
Ele fez um gesto para que ela se aproximasse, entregando-lhe uma pasta de documentos.
– Temos uma reunião importante em dez minutos com os representantes da Hanseong Corporation. Preciso que revise esses pontos rapidamente e garanta que todos os arquivos para a apresentação estejam prontos.
– Deixe comigo... – respondeu ela, segurando a pasta firmemente.
Antes de sair, Jaebeom a chamou novamente, dessa vez com um tom mais ameno.
– E, ... Tente não se sobrecarregar. Sei que você sempre faz mais do que o necessário, mas imprevistos acontecem.
Ela parou na porta por um instante, surpresa com a mudança de tom, antes de sorrir de leve.
– Vou lembrar disso, Sr. Lim.
Com isso, ela saiu da sala, já mergulhando mentalmente na lista de tarefas que tinha pela frente. A manhã não tinha começado da melhor forma, mas ainda havia muito tempo para colocar tudo nos eixos.

Enviou o arquivo para o e-mail do chefe e então clicou para imprimir as folhas e saiu em direção à impressora. Ajustou a saia cinza no corpo que havia subido um pouco por ela ter ficado muito tempo sentada, e esperou pacientemente que todas as folhas fossem impressas.
Logo em seguida pegou as mesmas e voltou para sua mesa, bateu as folhas na mesa fazendo-as ficarem todas do mesmo tamanho e então grampeou as mesmas, colocando-as dentro de um saquinho plástico e logo em seguida dentro de uma pasta.
respirou fundo, certificando-se de que tudo estava perfeitamente organizado dentro da pasta. Alisou discretamente a saia cinza, garantindo que estava alinhada, e pegou a pasta com firmeza. Seus saltos ecoaram suavemente pelo piso de mármore enquanto caminhava com passos decididos até a sala de Jaebeom.
Ao chegar à porta de vidro, bateu levemente duas vezes com os nós dos dedos.
— Entre — a voz grave e controlada de Jaebeom soou do outro lado.
girou a maçaneta e entrou, encontrando-o de pé ao lado da mesa, folheando alguns documentos. A luz suave que entrava pelas enormes janelas destacava o ambiente sofisticado da sala.
— Sr. Lim — ela chamou com um tom respeitoso, estendendo a pasta organizada. — Aqui está o relatório completo para a reunião com a Hanseong Corporation. Incluí os pontos de discussão atualizados e os dados financeiros do último trimestre, como o senhor solicitou.
Jaebeom levantou os olhos, analisando a pasta antes de pegá-la. Seus dedos deslizaram pela capa plástica, inspecionando a organização com um olhar atento.
— Ótimo trabalho. — Murmurou, folheando rapidamente as primeiras páginas. Ele percebeu como tudo estava meticulosamente separado, sem margem para erros.
permaneceu de pé, esperando por alguma instrução adicional.
— Prepare também uma cópia digital desses documentos para apresentar na tela da sala de reuniões. E garanta que a equipe de TI já fez a verificação no sistema de projeção.
Ela assentiu prontamente.
— Vou verificar isso agora mesmo, senhor.
Antes que ela pudesse se virar para sair, Jaebeom a observou por mais um instante.
— Ah, e … — chamou novamente, fazendo-a parar. — Avise o departamento de marketing que quero um breve resumo das últimas campanhas. Não mais que duas páginas.
— Pode deixar que já verifico com eles imediatamente.
Com um leve aceno de cabeça, ela girou nos calcanhares e saiu da sala, sentindo o peso da responsabilidade, mas também o alívio por estar voltando ao seu ritmo habitual.
O dia ainda prometia ser longo, mas estava pronta.
pegou a agenda de capa preta que repousava sobre sua mesa, conferiu rapidamente os compromissos do dia e a colocou debaixo do braço. Sem perder tempo, saiu da sala com passos firmes, já mentalizando a lista de tarefas que precisava cumprir. Cada minuto contava, e ela sabia disso.
Enquanto a porta se fechava suavemente atrás dela, Jaebeom permaneceu em silêncio por alguns segundos, os olhos fixos nos documentos que acabara de entregar. Ele virou algumas páginas, avaliando dados e análises com atenção, mas sua concentração foi interrompida pelo toque discreto de seu celular sobre a mesa.
Ele franziu levemente a testa ao ver o nome piscando na tela. Era o diretor financeiro da empresa, Sr. Park.
Atendeu com a voz firme e direta.
“Sim, Sr. Park?”
"Bom dia, Sr. Lim. Desculpe incomodar, mas surgiu uma situação urgente. Precisamos conversar pessoalmente. O senhor consegue me encaixar por quinze minutos ainda hoje?"
A voz do diretor carregava um tom de urgência incomum.
Jaebeom olhou de relance para o relógio no canto da mesa e pensou nos compromissos apertados antes da reunião com a Hanseong Corporation.
"Tenho uma brecha agora, antes da reunião. Suba para a minha sala em cinco minutos."
"Perfeito, estarei aí."
Jaebeom desligou a ligação com um leve suspiro. Não gostava de mudanças de última hora, mas sabia reconhecer quando algo exigia sua atenção imediata.
Fechou a pasta de documentos, organizou as folhas sobre a mesa com um gesto automático e ajeitou o relógio no pulso. Seja lá o que fosse, precisava ser resolvido rapidamente.

🌹🌹🌹

voltou apressada, equilibrando a agenda e alguns papeis em mãos. Parou diante da porta da sala de Jaebeom e bateu duas vezes, firme.
— Entre! — Ele autorizou, sem desviar o olhar dos documentos.
Ela entrou com passos cautelosos.
— Sr. Lim, aqui estão as informações que o senhor solicitou. O departamento de marketing já está preparando o resumo das campanhas e a equipe de TI confirmou que o sistema de projeção está pronto para a reunião.
Antes que Jaebeom pudesse responder, a porta se abriu novamente. O Sr. Park apareceu com expressão tensa, ajustando a gravata.
— Com licença, Sr. Lim. Estou aqui para conversarmos sobre aquele assunto urgente.
Jaebeom fez um leve gesto com a mão.
— Entre, Sr. Park. , fique. Quero que tome nota de tudo, caso precise registrar algo.
assentiu rapidamente e se sentou ao lado do Sr. Park, abrindo a agenda e pegando uma caneta.
Jaebeom cruzou os braços, impaciente.
— Então, o que aconteceu?
O Sr. Park umedeceu os lábios antes de falar, visivelmente desconfortável.
— É sobre a negociação com a Daehan Group. Eu... sinceramente, não acredito que vamos conseguir fechar o acordo.
Jaebeom franziu o cenho.
— E por quê?
— A Daehan é uma empresa extremamente conservadora, com fortes raízes cristãs. Eles exigem que as empresas parceiras compartilhem dos mesmos valores. Pediu-se discrição, mas essa exigência pesa muito para eles.
Jaebeom inclinou-se para frente, irritado.
— E o que isso tem a ver conosco? Disse a eles que também somos cristãos, mesmo que nós não sejamos? Às vezes precisamos entrar no jogo Sr. Park.
— Disse… — o Sr. Park respirou fundo. — Mas não adiantou. O problema é... o senhor.
Jaebeom arqueou a sobrancelha.
— Eu?
— Sim. Eles acharam estranho que o senhor, com mais de trinta anos, ainda não seja casado. Para eles, é um sinal de instabilidade ou falta de comprometimento. É um ponto que pesou muito na decisão deles.
Jaebeom soltou uma risada baixa, descrente.
— Então agora eu preciso ser casado para fechar um contrato?
O Sr. Park pigarreou, desviando o olhar.
— Para ser sincero, senhor, eu disse a eles que o senhor já está noivo. Que os preparativos para o casamento começariam ainda este ano.
O silêncio tomou conta da sala. arregalou os olhos, surpresa, mas rapidamente abaixou a cabeça para disfarçar.
Jaebeom o encarou, incrédulo.
— Você fez o quê?
— Eles querem marcar uma reunião com o senhor... e com a sua noiva.
A tensão pairou no ar. Jaebeom passou a mão pelo rosto, frustrado, enquanto tentava digerir a informação, já prevendo a confusão que isso causaria.
Jaebeom estreitou os olhos, sua expressão endurecendo.
— Você mentiu sobre um assunto sério desses sem falar comigo antes, Sr. Park? — Sua voz saiu firme, carregada de irritação.
O Sr. Park engoliu seco, visivelmente desconfortável, ajustando a gravata com nervosismo.
— Senhor, me desculpe, mas a situação estava saindo do controle. Se não apresentássemos uma solução imediata, a Daehan poderia recuar. E, com todo respeito, se desistirem, há grandes chances de começarem a manchar nossa reputação no mercado. Eles têm influência... e podem usar isso contra nós.
Jaebeom reclinou-se na cadeira, passando a mão pelo queixo, ponderando. Sabia que o Sr. Park não estava exagerando. A Daehan tinha o poder de fechar portas e dificultar futuras negociações.
— Para quando marcaram essa reunião? — perguntou, com a voz mais contida, mas ainda carregada de tensão.
— Sexta agora. Um jantar formal com o CEO da Daehan e a esposa dele. Eles querem conhecer o senhor... e sua noiva.
O silêncio se instalou por alguns segundos. Jaebeom respirou fundo, sentindo o peso da situação.
— Saia, Sr. Park. Preciso pensar.
O diretor apenas assentiu rapidamente, levantando-se com pressa.
— Mais uma vez, desculpe, senhor. — Ele fez uma breve reverência e saiu da sala, fechando a porta atrás de si.
Jaebeom ficou imóvel, encarando o vazio por alguns segundos. Depois, apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos diante do rosto.
permaneceu em silêncio, sentindo a tensão no ar.
Ele soltou um longo suspiro, a mente trabalhando a mil. Precisava encontrar uma solução rápida. E sexta-feira estava mais perto do que gostaria.
Jaebeom permaneceu em silêncio por alguns segundos, olhando fixamente para o nada. A tensão em seu semblante era evidente.
Sem desviar o olhar, ele falou com a voz baixa, porém firme:
, pode sair também.
Ela piscou algumas vezes, surpresa, mas logo se recompôs.
— Claro, senhor. — Respondeu rapidamente, levantando-se com cuidado.
Pegou a agenda e a caneta com movimentos suaves, evitando qualquer ruído que pudesse incomodá-lo. Antes de sair, lançou um breve olhar para ele, como se quisesse oferecer algum tipo de ajuda, mas pensou melhor.
Ao alcançar a porta, ela a abriu com cuidado e saiu, fechando-a atrás de si com discrição.
Agora, Jaebeom estava sozinho.
Ele recostou-se na cadeira, passando as mãos pelo rosto. A ideia de inventar uma noiva parecia absurda, mas pior ainda era perder a negociação. Precisava encontrar uma solução... e rápido.

🌹🌹🌹

O restante do dia passou de forma arrastada para Jaebeom. A reunião com os diretores aconteceu como o planejado, mas sua mente permanecia ocupada com a situação envolvendo a Daehan. Ele tentou focar nos relatórios e nos contratos acumulados sobre a mesa, mas as palavras pareciam embaralhadas. Nenhum documento conseguia prender sua atenção por muito tempo.
Depois de mais algumas tentativas frustradas, Jaebeom suspirou pesado e decidiu encerrar o expediente mais cedo. Não era algo que costumava fazer, mas naquele dia abriria uma exceção.
Ao sair de sua sala, caminhou em direção aos elevadores e percebeu que também estava se dirigindo para lá, segurando a bolsa e alguns papeis junto ao corpo.
Antes que o elevador chegasse, o celular dela vibrou dentro da bolsa. revirou os olhos discretamente e atendeu rapidamente.
“Alô? Sim, senhor Kang… eu sei, estou ciente…”— ela olhou de canto para Jaebeom, percebendo sua presença, mas virou-se levemente para o lado. — “Eu vou conseguir o dinheiro dos empréstimos o mais rápido possível, só preciso de mais alguns dias, por favor.”
Jaebeom, mesmo tentando não prestar atenção, não pôde deixar de ouvir.
O elevador chegou, e ambos entraram em silêncio. O ambiente ficou desconfortavelmente quieto por alguns segundos, até que Jaebeom, sem tirar os olhos do painel à frente, quebrou o silêncio:
— Problemas financeiros, senhorita ?
sentiu o rosto esquentar, surpresa pela pergunta direta. Apertou os lábios, ponderando se deveria responder ou não. Ela hesitou por um momento, antes de soltar a resposta, quase como se fosse uma confissão não planejada:.
— Alguns...
Jaebeom a observou em silêncio, sua expressão pensativa. Algo na maneira como ela havia respondido o fez começar a formular uma ideia, uma que ele não tinha considerado até aquele momento. Ele sabia que não deveria se meter nos problemas financeiros dos outros, mas o cenário estava começando a se encaixar de forma estranha na situação em que ele se encontrava.
A simples menção aos empréstimos e ao esforço dela para conseguir o dinheiro de volta o fez pensar em algo. Talvez, se ele pudesse fazer algum tipo de acordo, isso poderia resolver os dois problemas — o dele, com a Daehan, e o dela, com as dívidas que pareciam estar pesando.
O elevador chegou ao andar de baixo, interrompendo seus pensamentos.
deu um leve suspiro de alívio ao sair, mas Jaebeom permaneceu em seus passos, ainda com aquela ideia se formando na mente. Ela não percebeu, mas ele já estava calculando as possibilidades.
— Tenha um bom resto de noite, senhorita — foi o que ele disse, com um tom mais calmo, mas algo em seu olhar entregava que ele estava longe de terminar a conversa.
Jaebeom saiu do prédio com passos firmes, a mente ainda girando em torno da conversa no elevador. Ele caminhou até o estacionamento, onde sua moto estava estacionada, e a ligou, o ronco do motor quebrando o silêncio da noite.
Com o capacete na cabeça e as mãos firmemente segurando o guidão, ele começou a acelerar pelas ruas de Seul, mas sua mente estava longe da cidade movimentada. Ele revisitou a ideia que começava a tomar forma em sua cabeça, suas ideias se ajustando aos poucos. Havia algo intrigante em , algo que ele ainda não conseguia definir, mas que parecia oferecer uma solução prática — uma forma de resolver sua situação com a Daehan sem comprometer mais do que ele já havia se comprometido.
— Ela pode ser minha salvação… — Jaebeom murmurou para si mesmo, como se tivesse chegado a uma conclusão definitiva.
A noite fria batia em seu rosto enquanto ele acelerava, mas algo dentro dele se aquecia com a possibilidade. Ele sabia que estava prestes a entrar em um território desconhecido, mas também sentia que a decisão poderia mudar tudo.
O vento cortava seu rosto, mas ele estava decidido. O capítulo daquela noite estava prestes a se fechar, e um novo começava a se escrever em sua mente.

saiu do banco ainda mais derrotada do que havia entrado, a solução que ela havia pensado durante a noite toda acordada, não era viável e ela simplesmente não sabia o que fazer. Por ser extremamente correta com suas coisas, a frustração que sentia com aquela situação toda, era inexplicável.
Essa frustração que queimava em seu peito não vinha apenas das dificuldades financeiras que enfrentava, mas da origem delas. nunca havia sido do tipo irresponsável com dinheiro. Pelo contrário, sempre cuidou das próprias finanças com precisão. O problema era que suas dívidas na Coreia não tinham sido criadas por gastos supérfluos ou por escolhas impensadas, mas sim por uma decisão impulsionada pelo senso de dever que sentia em relação à família.
Quando seu pai se afundou em dívidas no Brasil, ela não conseguiu simplesmente ignorar a situação. Pegou empréstimos atrás de empréstimos para cobrir os problemas que ele havia acumulado ao longo dos anos, acreditando que poderia lidar com isso depois. O problema era que esse “depois” havia chegado e a estava esmagando com juros altos, cobranças insistentes e a constante sensação de que não conseguiria sair daquele buraco.
O que mais a consumia não era apenas a pressão financeira, mas o fato de que tudo aquilo havia sido causado pela irresponsabilidade de outra pessoa. Ela trabalhava duro, se desdobrava para cumprir suas funções e ainda assim se via naquela situação. Não importava o quanto fosse correta, dedicada e esforçada. No final das contas, sentia que estava pagando pelos erros de alguém que nunca havia pensado nas consequências de seus próprios atos.
E agora, ali estava ela, parada na calçada em frente ao banco, sentindo o peso de todas aquelas decisões erradas caindo sobre seus ombros.
Bufou alto enquanto esperava o carro de aplicativo que havia solicitado chegar, por sorte havia deixado a maioria de suas tarefas da parte da manhã ajeitadas com a recepcionista da empresa, que a cobriria até sua chegada e por sorte também o senhor Lim já estava sabendo de sua ausência pela manhã.
Os olhos marejaram ao pensar em como aquele emprego era importante para ela, não apenas pela garantia de sua estadia na Coreia, mas também pela grana que ganhava como assistente do senhor Lim. Ela não podia perder aquele emprego em hipótese nenhuma, ou estaria definitivamente arruinada.
engoliu o choro com força, piscando várias vezes para impedir que as lágrimas caíssem. Não tinha tempo para fraquejar, muito menos em plena luz do dia, na calçada de um banco. Inspirou fundo e olhou para o lado, tentando desviar a atenção da angústia que pesava em seu peito.
O carro de aplicativo encostou na frente dela, e ela ajeitou a postura antes de abrir a porta e entrar. O motorista confirmou seu destino e, com um breve aceno, ela indicou que sim. Encostou a cabeça no vidro da janela, observando as ruas movimentadas de Seul enquanto sua mente voltava, inevitavelmente, para suas dívidas.
O que diabos ela faria? O banco havia negado a renegociação que ela planejava, e suas opções estavam se esgotando. Pedir ajuda para o pai estava fora de questão—ele nem sequer sabia que ela havia assumido as dívidas dele. E, para ser sincera, mesmo que soubesse, duvidava que se importasse o suficiente para tentar ajudá-la.
Talvez pudesse buscar um segundo emprego, mas onde arrumaria tempo para isso? Sua carga horária como assistente de Jaebeom já era intensa, e ela não podia se dar ao luxo de perder o desempenho no trabalho. Não quando sua estabilidade na Coreia dependia disso.
Suspirou, fechando os olhos por um momento. Tinha que pensar em algo. Alguma saída existia, e ela precisava encontrá-la antes que tudo desmoronasse de vez.

🌹🌹🌹

Retirou o crachá de dentro da bolsa depois de cumprimentar os seguranças e recepcionistas do prédio e passou pela catraca, suspirando alto mais uma vez. Precisava se concentrar no longo dia de trabalho que ainda teria pela frente, e não podia deixar nada externo atrapalhar sua jornada de trabalho.
Dentro do elevador ela olhou as horas no relógio de pulso e por sorte havia ficado apenas uma hora ocupada, e conseguiria facilmente pagar aquela uma hora, quem sabe no dia de hoje mesmo. O elevador abriu, revelando o chefe esperando o mesmo do outro lado.
fez uma reverência e umedeceu os lábios antes de cumprimentar:
— Bom dia, senhor Lim!
— Bom dia, senhorita . Aproveitando, que tal tomarmos um café? Por minha conta…
Antes que as portas do elevador pudessem se fechar completamente, Jaebeom estendeu o braço, impedindo o movimento com a mão. Ele então entrou no elevador com passos firmes e apertou o botão para mantê-lo no andar por alguns segundos antes de selecionar o destino.
piscou algumas vezes, surpresa com a ação. O chefe raramente tomava café com ela, e o convite repentino a deixou desconcertada.
— Hã… café? — repetiu, ligeiramente hesitante.
Jaebeom cruzou os braços e a olhou com um leve arquejo de sobrancelha.
— Sim. Eu disse que é por minha conta. Então, aceita ou não?
Ela umedeceu os lábios, ainda sem entender exatamente aonde ele queria chegar. Mas recusar diretamente uma oferta do chefe também não parecia uma boa ideia.
— Claro, senhor Lim — respondeu por fim, tentando disfarçar a estranheza em sua voz.
Enquanto o elevador descia lentamente pelos andares até chegar na recepção, os dois ficaram em silêncio, Jaebeom porque não sabia que tipo de assunto puxar sem ir direto ao ponto e porque estava surpresa e agora com medo do tal convite.
E se fosse sua demissão o motivo do tal café? balançou a cabeça discretamente, tentando afastar aqueles pensamentos absurdos. Não, sua demissão não podia ser o motivo daquele café.
Ela estava paranoica, só podia ser. Jaebeom não chamaria alguém para um café antes de demitir essa pessoa… chamaria?
Mordeu o lábio inferior, cruzando os braços e desviando o olhar para o painel do elevador, vendo os números mudarem lentamente. Respirou fundo, tentando se acalmar.
Tinha que parar com isso. Se algo estivesse errado, ele já teria deixado claro de alguma forma. Além do mais, se fosse para mandá-la embora, ele provavelmente faria isso em sua sala, de forma mais formal, não com um convite para um café.
Jaebeom, por outro lado, manteve-se imóvel ao lado dela, as mãos nos bolsos da calça social e a expressão indecifrável. Se havia algo que ela tinha certeza, era que ele não fazia nada sem motivo.
Mas qual seria esse motivo?
A porta do elevador abriu outra vez, revelando as catracas que levavam até a recepção do prédio e Jaebeom segurou a porta do elevador num claro sinal de que deveria sair primeiro e assim ela o fez, sentindo o coração palpitar dentro do peito com o tal café se tornando cada vez mais real.
Lado a lado eles foram até a catraca e seus braços acabaram se encostando levemente ao levarem seus crachás ao leitor, o contato foi sutil, quase insignificante, mas ainda assim fez com que os dois subissem os olhares ao mesmo tempo, se encarando por um instante.
piscou algumas vezes, surpresa pelo contato repentino. Jaebeom, por sua vez, apenas arqueou uma sobrancelha, como se aquele instante não tivesse importância. Mas sabia que ele havia notado — podia ver isso no jeito como seus olhos permaneceram nela por um pouco mais de tempo do que o necessário.
O leitor apitou, liberando a passagem de ambos, e foi apenas então que eles quebraram o contato visual e seguiram para a cafeteria, sem trocar uma única palavra.

🌹🌹🌹

Haviam várias cafeterias próximas ao prédio da empresa, mas apenas seguiu o chefe para a escolhida por ele. Assim que entraram no local, os olhos de percorreram o ambiente, que era bem diferente das cafeterias modestas e simples que ela costumava frequentar, quando tinha tempo.
A cafeteria exalava luxo e sofisticação em cada detalhe. O piso de mármore reluzia sob a iluminação suave dos lustres modernos que pendiam do teto alto. As mesas eram feitas de madeira escura e brilhante, contrastando com as confortáveis poltronas de veludo em tons neutros.
Um aroma refinado de café gourmet pairava no ar, misturado com notas sutis de baunilha e canela. Atrás do balcão, uma vitrine de vidro exibia uma seleção impecável de doces artesanais, pães frescos e croissants dourados. O barista, vestido de forma impecável com um avental de couro, preparava bebidas com precisão, enquanto os atendentes circulavam com bandejas de porcelana finíssima.
As grandes janelas de vidro permitiam a entrada de luz natural, proporcionando uma vista panorâmica da cidade movimentada. O ambiente era silencioso, frequentado por executivos e empresários que conversavam em tons baixos, imersos em reuniões informais ou aproveitando um momento de pausa estratégica no dia.
Um homem elegantemente vestido, que provavelmente deveria ser o gerente do local, veio rapidamente na direção deles e estendeu a mão na direção de Jaebeom, que apertou a mão dele, cumprimentando-o:
— Senhor Lim! Como vai? Faz tempo que não o vejo tão bem acompanhado. — O olhar do homem pousou em que sentiu as bochechas esquentarem.
Jaebeom mudou o semblante quase automaticamente com o comentário, o olhar casual e o tom leve que ele havia usado ao cumprimentar o gerente desapareceram, dando lugar a uma expressão séria e ligeiramente impaciente. Seus lábios se contraíram por um breve instante, e seu olhar afiado deixou claro que ele não gostara da insinuação.
— Pode nos levar para uma mesa mais afastada, por favor? — Ele cortou o assunto de maneira direta, sem dar margem para mais comentários.
Ela sentiu o estômago revirar levemente enquanto seguia Jaebeom pelo ambiente refinado da cafeteria. A cada passo, sua mente se agitava com especulações. Uma mesa afastada… por quê? Queria privacidade para algo sério? Seria realmente sua demissão? Ou ele queria falar sobre algo errado no trabalho?
A ansiedade pulsava em seu peito, tornando sua respiração um pouco mais curta. Ela umedeceu os lábios, tentando afastar a inquietação, mas era impossível ignorar a tensão crescendo em seus ombros. As luzes suaves do local e o aroma agradável de café recém-passado contrastavam com o turbilhão de pensamentos que a assolava.
Quando se sentaram na mesa, ela voltou a observar o lugar, como se aquilo pudesse diminuir o nervosismo ou dissipar a tensão que havia surgido entre eles, de repente. A mesa onde se sentaram ficava em um canto mais reservado da cafeteria, afastada do fluxo principal de clientes e parcialmente escondida por um elegante biombo de madeira escura com entalhes delicados. O espaço era aconchegante, com uma iluminação mais suave vinda de pequenas luminárias penduradas no teto, criando um ambiente intimista.
A mesa em si era redonda, de mármore branco com veios dourados, e estava impecavelmente arrumada, com um pequeno vaso de vidro no centro contendo um arranjo discreto de flores frescas. As cadeiras eram confortáveis, revestidas em um tecido aveludado em tom creme, oferecendo um toque sofisticado sem parecer excessivamente formal.
deslizou os dedos pelo tampo frio da mesa, fingindo se distrair com os detalhes enquanto tentava acalmar os pensamentos inquietos. Depositou a bolsa sobre o assento vazio ao seu lado e o tal gerente entregou os cardápios para os dois. agradeceu com um aceno de cabeça e Jaebeom nem se deu ao trabalho, apenas começou a vagar os olhos pelo cardápio.
— Se precisarem é só nos chamar através do botão aqui sobre a mesa. Bom café da manhã. — E assim o homem se retirou, mas não sem antes lançar mais um olhar para .
— Ele não costuma ser inconveniente assim, não sei o que aconteceu.
— Tudo bem. — tentou disfarçar o incômodo ao olhar de volta para o cardápio em suas mãos.
Silêncio outra vez enquanto eles olhavam pelas opções da cafeteria e não pode deixar de reparar nos preços e era tudo absurdamente caro, muito além do que ela normalmente gastaria em uma simples xícara de café. Sentiu um leve desconforto, mas manteve a expressão neutra, tentando não demonstrar que aquele lugar não era para ela.
Jaebeom, por outro lado, parecia completamente à vontade. Seus olhos se moviam pelo cardápio com desinteresse, como se já soubesse o que pedir e estivesse apenas esperando que ela terminasse de escolher.
— Já se decidiu? — A voz dele interrompeu seus pensamentos. — Eu já escolhi.
ergueu os olhos e, mesmo ainda um pouco indecisa, assentiu levemente.
— Sim, já.
Jaebeom pressionou o botão de atendimento com um movimento preciso e relaxou contra o encosto da cadeira. Com a espera silenciosa que se instalou, seu olhar, antes disperso, fixou-se discretamente em .
Ele reparou na maneira como ela mantinha as mãos repousadas sobre o cardápio, os dedos levemente crispados, como se ainda tentasse se ambientar àquele lugar. Observou a forma como seus olhos vagavam pelo espaço, evitando encará-lo diretamente, e o jeito que ela umedecia os lábios, talvez por nervosismo.
Havia algo curioso nela. Algo que fazia com que ele quisesse continuar observando.
Assim que um garçom se aproximou da mesa dos dois, Jaebeom fez seu pedido e o fez logo em seguida, optando apenas por um café e uma água e Jaebeom se certificou se era realmente somente aquilo mesmo que ela pediria:
— Você não come? Nunca vejo você comendo…
ergueu os olhos para ele, ligeiramente surpresa com a observação.
— Eu como, claro — respondeu, sem saber muito bem como interpretar aquele comentário.
— Hm. Não parece — ele retrucou, inclinando-se levemente contra a mesa. — Sempre com um café na mão, no máximo uma água. Assim como agora…
Ela deu um sorriso curto, mas não havia humor nele.
— Tenho horários complicados. Às vezes, não dá tempo de parar para uma refeição.
Jaebeom arqueou uma sobrancelha, claramente não convencido. Ele já havia reparado em seu ritmo de trabalho intenso, mas agora começava a perceber que aquilo talvez fosse mais do que simples dedicação profissional.
— Somente isso então senhores? — O garçom interrompeu delicadamente a conversa.
— Sim, somente. — Jaebeom assentiu para ele, que se retirou em seguida.
Mais uma vez, silêncio. Jaebeom voltou a estudar o rosto dela. desviou o olhar para o vaso à sua frente, sentindo-se desconfortável sob o escrutínio silencioso de Jaebeom. Ele parecia analisá-la com uma atenção que a fazia se remexer ligeiramente no assento.
Ele inclinou a cabeça de lado, como se estivesse ponderando algo, antes de quebrar o silêncio:
— E então? Você resolveu seu problema no banco?
O tom de sua voz era neutro, mas havia um peso na pergunta, como se ele já soubesse a resposta antes mesmo dela falar.
— Não exatamente, mas hoje mesmo pretendo pagar as horas que devo, não se preocupe senhor Lim.
, eu tenho uma proposta para te fazer.
engoliu seco, sentindo a garganta repentinamente seca. A forma como Jaebeom a observava, tão sério e direto, fazia seu estômago revirar em antecipação.
— Que tipo de proposta? — Sua voz saiu mais hesitante do que gostaria.
Jaebeom se inclinou ligeiramente para frente, entrelaçando os dedos sobre a mesa.
— Preciso que você finja ser minha noiva.
O coração de quase parou.
— O quê?! — Ela piscou, certa de que havia ouvido errado.
— Você ouviu direito. — Ele manteve o tom calmo, mas firme. — Para fechar o contrato com a Daehan Group, estava lá na reunião com o senhor Park.
soltou uma risada nervosa, completamente sem acreditar no que estava acontecendo.
— O senhor está falando sério, senhor Lim? Existem empresas especializadas nesse tipo de serviço, eu mesma posso me responsabilizar pela procura.
Jaebeom balançou a cabeça em negativa, recostando-se na cadeira com um suspiro.
— Não. Eu quero alguém de confiança para esse papel. E ninguém melhor do que você.
arregalou os olhos, mas ele continuou antes que ela pudesse argumentar.
— Além do mais, não estou pedindo isso de graça. Se aceitar, eu cubro suas dívidas com o banco.
O coração dela bateu forte. Era exatamente a solução que precisava, mas... aquilo parecia surreal.
— Isso é loucura... — murmurou, desviando o olhar, tentando processar.
— Loucura maior seria deixar essa oportunidade passar. — Jaebeom entrelaçou os dedos sobre a mesa, mantendo o olhar fixo nela. — O que me diz, ?
desviou o olhar para os próprios pés, tentando organizar os pensamentos.
Era uma oferta tentadora. Sua situação financeira estava insustentável, e a dívida só crescia com os juros abusivos. Ela sabia que, sozinha, levaria anos para quitar tudo. Por outro lado, a proposta de Jaebeom era arriscada. Fingir ser sua noiva? Conviver com ele fora do ambiente de trabalho? Isso poderia complicar as coisas de um jeito que ela nem conseguia prever.
Mas e se dissesse não?
A resposta era óbvia: continuaria atolada em dívidas, sem perspectiva de sair do buraco.
Engolindo seco, ela ergueu os olhos para o chefe, encontrando seu olhar firme e inabalável. Jaebeom esperava pacientemente, como se já soubesse que ela não teria outra escolha.
soltou um suspiro, sentindo o peso da decisão recair sobre seus ombros.
— Eu aceito.

Jaebeom deixou um sorriso contido surgir nos lábios, discreto, quase imperceptível. Não mostrava os dentes, mas seus olhos denunciavam a certeza de que havia conquistado o que queria.
, por sua vez, fechou os olhos com força, tentando conter o turbilhão de sentimentos que ameaçava tomar conta de si. Antes que qualquer um deles pudesse quebrar o silêncio, o garçom retornou com os pedidos, colocando com delicadeza a bandeja sobre a mesa.
— Um cappuccino e uma água para a senhorita, e o brunch executivo para o senhor. Aproveitem.
Os dois agradeceram com acenos breves, e logo o garçom se afastou.
Durante os minutos seguintes, apenas o som suave da xícara tocando o pires e dos talheres de Jaebeom cortando a comida preenchiam o ambiente. tomava o café em pequenos goles, ainda digerindo tudo — o líquido quente ajudando pouco a acalmar a confusão em seu peito.
Foi só depois de alguns minutos que Jaebeom rompeu o silêncio:
— Já tenho o contrato pronto para você assinar.
arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Já?!
Ele assentiu calmamente, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— Sim. Não cogitei receber um “não” como resposta. Então, mandei prepararem tudo com antecedência.
Ela o encarou, entre surpresa e impressionada. Jaebeom era metódico, ela sabia, mas aquilo… Aquilo era planejamento em outro nível.
— Tudo vai estar no contrato ou o senhor pode me tirar algumas dúvidas agora?
Jaebeom limpou os cantos da boca com o guardanapo de linho antes de responder, a voz calma, porém firme:
— Pode me chamar só de Jaebeom.
piscou, surpresa com a informalidade repentina.
— Estamos prestes a fingir que somos noivos, senhorita . Acho que já passamos da fase dos formalidades, não acha?
Ela hesitou por um instante, ainda se acostumando com a ideia surreal daquele acordo, e então assentiu devagar.
— Tudo bem… Jaebeom.
Ele inclinou levemente a cabeça, satisfeito com a adaptação.
— Pode perguntar o que quiser. Prefiro esclarecer tudo agora do que lidar com mal-entendidos depois.
apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos, ainda processando cada detalhe da situação surreal em que estava se metendo.
— Ok… — começou, tentando manter a voz firme. — Qual exatamente é a minha parte nesse contrato? Meus direitos e deveres? Como vai ser tudo isso? Preciso de um norte, Jaeb— digo, senhor Lim… quer dizer, Jaebeom.
Ela bufou levemente, confusa até com a maneira de chamá-lo, o que arrancou um meio sorriso discreto dele.
— Você vai ser minha noiva — disse, com naturalidade quase desconcertante. — Precisaremos construir uma narrativa convincente: há quanto tempo estamos juntos, como nos conhecemos, detalhes do nosso relacionamento... tudo isso vai estar no contrato.
o encarava, atenta, absorvendo cada palavra.
— Em troca, além de eu quitar suas dívidas com o banco, você vai receber uma compensação mensal. Algo simbólico, claro, mas justo pelo papel que vai desempenhar.
— E os deveres? — ela perguntou com cautela. — Preciso... morar com você? Usar aliança? Sair com você em público?
Jaebeom inclinou-se para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa.
— Precisará me acompanhar em eventos sociais, jantares com possíveis investidores, reuniões mais informais como essa com a Daehan. Usaremos alianças, sim. Mas não, você não precisa morar comigo. A não ser que a situação peça, o que será discutido caso a caso.
engoliu seco. Parecia um roteiro de filme, mas ali estava ela, vivendo aquilo na vida real.
— E... isso tem um prazo?
— Se tudo correr bem, durará até o contrato com a Daehan ser assinado e a parceria solidificada. Depois disso, inventamos um fim amigável para o noivado.
Ela mordeu o lábio inferior, ponderando tudo em silêncio. Aquilo parecia arriscado, intenso… mas também era, ironicamente, sua salvação.

🌹🌹🌹

Após terminarem o café — ou melhor, após Jaebeom comer tranquilamente enquanto mal conseguia saborear seu capuccino de tanto pensar —, os dois deixaram a cafeteria em silêncio. O caminho de volta ao prédio da empresa foi curto, mas o peso do que havia sido decidido pairava no ar como uma nuvem carregada.
caminhava um pouco atrás de Jaebeom, ainda tentando absorver tudo. A cada passo, a realidade do acordo se tornava mais concreta. Estava prestes a assinar um contrato para fingir ser noiva do chefe. Aquilo não era só inusitado… era completamente fora de tudo o que ela imaginava para a vida.
Assim que entraram no saguão do prédio, passaram novamente pela catraca, desta vez sem esbarrões ou trocas de olhares. Jaebeom estava sério, como sempre, mas com um foco incomum em seu olhar.
Dentro do elevador, ele finalmente falou, sem olhá-la diretamente:
— Assim que voltarmos, vá até sua mesa e ligue para o setor jurídico. Quero dois advogados na minha sala em quinze minutos para servir de testemunhas na assinatura do contrato.
o olhou, engolindo em seco.
— Testemunhas?
— É um contrato legal, . Não podemos deixar brechas — respondeu, finalmente voltando o olhar para ela. — Preciso garantir que ambas as partes estejam protegidas.
Ela apenas assentiu, sem forças para questionar. Aquele não era mais um simples favor… Era um acordo real. E, agora, estava prestes a se tornar oficial.
Assim que o elevador chegou ao andar da empresa, Jaebeom saiu primeiro, seguido por , que segurava a bolsa com mais força do que o necessário. O silêncio entre os dois continuou, denso, como se ambos estivessem cientes do passo decisivo que estavam prestes a dar.
— Quinze minutos. — Jaebeom disse sem olhar para trás, já seguindo para sua sala.
assentiu, mesmo que ele não a visse, e seguiu para sua mesa com passos apressados. Sentou-se, pegou o telefone e discou diretamente para o setor jurídico, tentando soar mais firme do que se sentia.
— Aqui é , assistente do senhor Lim. Poderiam, por gentileza, enviar dois advogados à sala dele em quinze minutos? Ele solicitou testemunhas para assinatura de um contrato particular.
Do outro lado da linha, uma voz formal confirmou o envio imediato dos profissionais.
respirou fundo e desligou, sentindo o nervosismo voltar a subir como uma maré. Olhou em direção à sala de Jaebeom e se levantou, caminhando até a porta de vidro com a pasta de anotações em mãos, como se isso lhe desse alguma segurança.
Ela bateu levemente.
— Entre — veio a voz firme de dentro.
Ao empurrar a porta, Jaebeom estava em pé atrás da mesa, organizando um envelope pardo que, com certeza, continha o contrato. Ele levantou os olhos para ela, sério, mas sem parecer hostil.
— Já ligou?
— Sim. Eles estarão aqui em quinze minutos.
Ele assentiu, então puxou uma das cadeiras em frente à mesa.
— Sente-se. Vamos revisar as cláusulas antes que assine.
obedeceu em silêncio, o coração acelerado. Aquele momento estava prestes a selar uma virada na vida dela — e, pelo olhar concentrado de Jaebeom, na dele também.
se sentou com as mãos apoiadas no colo, os dedos entrelaçados com força para disfarçar a ansiedade. Jaebeom abriu o envelope pardo com calma e retirou duas vias do contrato, colocando uma diante dela e outra diante de si.
— Leia com atenção — disse, passando a ponta do dedo indicador pelas primeiras linhas do documento. — Mas fique tranquila. Tudo o que combinamos está aqui, e nada além disso.
Ela assentiu, pegando a caneta que ele deslizou em sua direção. Seus olhos percorreram as cláusulas uma a uma: a duração do acordo, as responsabilidades públicas como "noiva", a cláusula de confidencialidade, a compensação mensal e, claro, o compromisso de que ele quitasse integralmente suas dívidas com o banco após a assinatura.
— E se alguém descobrir? — ela perguntou, ainda com os olhos fixos nas páginas. — E se isso sair do controle?
Jaebeom a observou por alguns segundos antes de responder:
— Ninguém vai descobrir, a menos que um de nós quebre o contrato. — Ele cruzou os braços. — E, para isso, incluí uma cláusula de penalidade para ambas as partes.
suspirou, sentindo um peso em cada palavra. Era tudo tão real agora.
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, duas batidas suaves na porta interromperam o momento. Jaebeom olhou para ela rapidamente antes de dizer:
— Entre.
Dois advogados, um homem e uma mulher, ambos impecavelmente vestidos, entraram na sala com pastas em mãos e expressões neutras.
— Senhor Lim — cumprimentaram em uníssono, com uma leve reverência. — Fomos informados da necessidade de testemunhar um contrato.
Jaebeom assentiu e indicou as cadeiras ao lado da mesa.
— Exatamente. Por favor, acompanhem a leitura final. A senhorita vai assinar em breve.
sentiu a garganta secar. Olhou para os advogados, depois para Jaebeom, que agora a observava com uma calma quase desconcertante.
Com um último suspiro, pegou a caneta e apoiou a ponta no papel.
Era isso. Não havia mais volta.
Os advogados acompanharam a assinatura com olhares atentos e gestos profissionais. Após carimbarem e rubricarem os documentos, recolheram suas cópias e se despediram com formalidade.
— Qualquer outra necessidade jurídica, estaremos à disposição, senhor Lim, senhorita .
— Obrigado — respondeu Jaebeom, com um leve aceno de cabeça.
Assim que a porta se fechou atrás deles, o silêncio pairou no ar como uma nuvem densa. ainda segurava a caneta entre os dedos, encarando o contrato assinado como se ele fosse uma bomba prestes a explodir. Em seguida, ergueu os olhos para Jaebeom, atônita, a mente ainda longe, processando o que acabara de fazer.
— Eu… ainda não acredito que assinei isso — sussurrou, como se falasse para si mesma.
Jaebeom a observou com uma expressão mais branda agora, quase compreensiva.
— Você pode voltar às suas funções, .
Ela piscou algumas vezes, parecendo retomar o controle da respiração.
— Mais tarde, chamo você para conversarmos sobre os detalhes do pagamento das suas dívidas com o banco.
assentiu lentamente, como se estivesse tentando acompanhar o ritmo dos acontecimentos, mesmo já estando dois passos atrás.
— Certo…
Ela se levantou, ainda meio perdida, e caminhou até a porta. Antes de sair, lançou um último olhar para Jaebeom. Ele já estava recolhendo os papeis da mesa, como se tudo aquilo fosse apenas mais uma reunião entre tantas outras em sua rotina de executivo.
Mas para ela… aquilo mudava tudo.

🌹🌹🌹

voltou para sua mesa com passos calmos e postura ereta, determinada a manter a rotina da forma mais profissional possível, mesmo com o coração ainda batendo mais rápido que o normal. Sentou-se, ligou o computador, organizou sua mesa e mergulhou nos e-mails e tarefas do dia, como se nada tivesse acontecido naquela manhã.
Mas, por mais que tentasse se concentrar, as palavras do contrato, a presença firme de Jaebeom e a ideia absurda — porém agora muito real — de ser sua noiva pairavam em sua mente como um zumbido constante.
No horário do almoço, desceu até o refeitório da empresa, como fazia todos os dias. Pegou uma bandeja com o prato do dia e se sentou perto da janela, no canto de sempre. Tentou manter o foco no celular enquanto comia, mas percebeu rapidamente os olhares furtivos ao redor.
Pessoas que normalmente mal notavam sua presença agora cochichavam enquanto passavam por ela, outras sequer disfarçavam: encaravam por segundos longos demais antes de desviar os olhos com um sorrisinho nos lábios.
No café da tarde, na pequena copa do andar, a mesma coisa. Duas colegas de outro setor pararam de falar assim que ela entrou. Uma delas tentou dar um sorriso cordial, mas a outra nem se preocupou em disfarçar a curiosidade.
pegou sua xícara de café, manteve a postura firme e voltou para sua mesa, mas já tinha certeza do que estava acontecendo.
A fofoca já havia se espalhado.
Ela era, agora, oficialmente, a noiva do CEO.
🌹🌹🌹

Com o expediente já próximo do fim, digitava os últimos e-mails do dia quando ouviu a voz firme de Jaebeom através do interfone interno.
— Senhorita , por favor, venha até minha sala.
Ela respondeu de imediato, levantando-se e seguindo até a porta de vidro. Ao entrar, encontrou Jaebeom em pé, ao lado da mesa, com a expressão séria — a mesma que usava sempre que algo importante estava prestes a acontecer.
— Preciso que abra a maior sala de reuniões da empresa — disse, direto. — E entre em contato com os líderes de cada setor. Peça que levem todos os colaboradores até lá. Quero falar com todos os funcionários da empresa em dez minutos.
o encarou por um segundo, surpresa com o tom e a urgência, mas assentiu sem questionar.
— Sim, senhor.
Com passos rápidos, voltou para sua mesa e pegou o telefone. Ligou para a recepção e pediu para liberarem a Sala de Reuniões Principal imediatamente. Em seguida, contatou os líderes de cada setor — financeiro, marketing, jurídico, recursos humanos, tecnologia, administrativo.
— O senhor Lim pediu que todos os colaboradores se dirijam à maior sala de reuniões da empresa. Ele fará um comunicado geral em dez minutos.
A resposta de cada um veio com o mesmo tom de surpresa e agitação, mas ninguém ousaria questionar um pedido direto do CEO.
finalizou as ligações e, já de pé, ajeitou a saia e respirou fundo, sabendo que o próximo passo daquela história estava prestes a começar.

🌹🌹🌹

A sala de reuniões principal estava cheia. Todos os colaboradores da empresa ocupavam as cadeiras de forma organizada, ainda que um burburinho curioso pairasse no ar como uma neblina de especulações. Líderes de setor trocavam olhares confusos, e os funcionários cochichavam entre si, tentando entender o motivo daquela convocação de última hora.
estava de pé ao lado da porta, com a expressão séria e postura impecável, como se aquilo fosse apenas mais uma reunião comum — embora, por dentro, o coração estivesse acelerado.
Ela se aproximou do telefone fixo na parede da sala e discou o ramal direto da sala do CEO. Quando Jaebeom atendeu, ela apenas disse, com voz firme:
— Todos já estão na sala, senhor Lim.
— Ótimo. Estou a caminho.
Alguns minutos depois, a porta se abriu e Jaebeom entrou com a presença marcante de sempre — elegante, sóbrio, completamente no controle. No mesmo instante, todos os burburinhos cessaram, como se alguém tivesse apertado um botão de “mute”. O silêncio foi quase imediato.
Ele caminhou até a frente da sala com passos calmos, as mãos nos bolsos do paletó, e parou diante da longa mesa oval. Olhou ao redor, encarando seus funcionários com seriedade.
— Boa tarde a todos.
— Boa tarde — alguns responderam automaticamente, outros apenas assentiram em silêncio.
— Sei que estão surpresos com essa convocação. Prometo ser breve.
Fez uma pausa, permitindo que a atenção de todos se fixasse ainda mais nele.
— Chamei vocês aqui para evitar mal-entendidos, fofocas, ou qualquer ruído desnecessário no ambiente de trabalho. E também porque acredito que transparência é essencial numa empresa como a nossa.
Ele então olhou para , que se mantinha firme, mas sentia o olhar de todos começando a pesar sobre si.
— A senhorita — ele corrigiu, intencionalmente — é minha noiva.
Houve um leve suspiro coletivo, mas ninguém ousou interromper. Jaebeom seguiu:
— Estamos juntos há algum tempo. Sempre mantivemos discrição por razões óbvias, principalmente profissionais. nunca permitiu que nosso relacionamento interferisse em suas responsabilidades, e é por isso que muitos de vocês sequer desconfiaram.
Seus olhos varreram a sala, duros.
— Dito isso, quero deixar uma coisa muito clara: não vou tolerar comentários maldosos, risos disfarçados, olhares tortos ou qualquer tipo de julgamento dirigido à . Ela é uma profissional exemplar, e continuará sendo tratada como tal.
Mais uma pausa. O tom dele, firme e definitivo, preencheu o ambiente como uma ordem.
— Esse é um assunto encerrado. Assim que saírem por aquela porta, quero que volte tudo ao normal. Sem questionamentos, sem especulações.
Ele deu um leve passo para trás, sinalizando que havia terminado.
— Obrigado. Podem voltar às suas estações.
A tensão no ar era palpável, mas ninguém ousou contestar. Um a um, os funcionários começaram a sair da sala — silenciosos, cautelosos, respeitosos. Jaebeom permaneceu parado, observando, enquanto , ainda ao lado da porta, respirava fundo e mantinha a cabeça erguida.
O jogo estava oficialmente em campo.

🌹🌹🌹

Quando a última pessoa deixou a sala e a porta se fechou com um clique suave, o silêncio caiu como uma cortina pesada.
continuava perto da porta, os olhos acompanhando os últimos passos que se distanciavam pelo corredor. Assim que se certificou de que estavam sozinhos, virou-se lentamente para Jaebeom, ainda de pé à frente da sala.
— Tinha mesmo necessidade de tudo isso? — perguntou, cruzando os braços, o tom calmo, mas carregado de um toque de incredulidade. — Vai que metade da empresa já soubesse, ou pior… vai que já tenham descoberto que o noivado é falso.
Jaebeom ergueu uma sobrancelha, como se aquela possibilidade já tivesse passado por sua cabeça, mas não o preocupasse nem um pouco.
— E se soubessem? — retrucou, dando um passo em sua direção. — O que eu fiz aqui foi definir limites. Dar um recado. Mostrar que, mesmo que alguém desconfie, isso não é problema deles. E que, se alguém ultrapassar o limite, vai ter que lidar comigo.
arqueou as sobrancelhas, surpresa com a convicção nas palavras dele.
— Foi uma encenação muito convincente, preciso admitir — disse, num tom que misturava ironia e admiração.
— Não foi encenação. Foi proteção. — Jaebeom respondeu, firme. — Eu disse que você é minha noiva. Então agora, você é. E ninguém vai desrespeitar você por causa disso.
Ela o observou por alguns segundos, como se estivesse tentando decifrá-lo. Havia algo no olhar dele que ia além da frieza profissional. Não era exatamente gentileza… mas era cuidado. E aquilo a deixou ainda mais confusa.
— Tá bom… chefe. — disse, virando-se para a porta. — Ou devo dizer “noivo”?
Jaebeom soltou um leve sorriso, quase imperceptível.
— Melhor você treinar os dois. Vamos precisar dos dois papeis daqui pra frente.
E com isso, abriu a porta, sentindo que o jogo realmente tinha começado. Mas ela ainda não sabia exatamente quem estava jogando com quem.
Quando já estava prestes a sair da sala, a voz firme de Jaebeom a alcançou por trás, fazendo com que ela parasse no mesmo instante.
— Passa na minha sala antes de ir embora — ele disse, com o tom neutro, como se estivesse apenas lembrando um item qualquer da agenda. — Precisamos resolver a questão das suas dívidas. E…
Ele deu alguns passos em direção à porta, suas palavras seguintes mais suaves, mas ainda carregando o mesmo senso de urgência controlada.
— Eu tenho que te entregar o anel. Você precisa começar a usá-lo.
virou-se devagar, o olhar fixo nele, o coração acelerando só de ouvir aquilo.
— Certo… — respondeu, com um leve aceno de cabeça. — Estarei lá.
E então saiu da sala, sentindo o peso de tudo que ainda estava por vir. Porque agora não havia mais volta: o acordo estava oficializado, o teatro tinha começado, e ela prestes a vestir, literalmente, o papel de noiva.

Os passos ecoando pelo corredor chegaram aos ouvidos de Jaebeom, os saltos finos de sempre batiam daquele jeito contra o piso do corredor largo da empresa, e era incrível como ele sempre sabia que era ela. As duas batidas na porta, também características de foram ouvidas e ele gritou um “entra” e logo levou as mãos até a gaveta de sua mesa, procurando pela caixinha com os aneis.
entrou na sala com a postura impecável de sempre, os ombros retos, mas os dedos levemente entrelaçados diante do corpo — um gesto sutil que denunciava sua tensão. Parou próxima à porta, como se não tivesse certeza se deveria avançar mais ou esperar instruções.
Jaebeom levantou os olhos rapidamente ao vê-la entrar. Por um segundo, os olhares se encontraram, firmes, mas silenciosos. Havia algo não dito naquele instante — algo entre o peso do contrato e o desconforto da intimidade forçada.
Sem quebrar completamente o contato visual, ele voltou a atenção para a gaveta da mesa, remexendo por alguns segundos até encontrar a pequena caixinha preta de veludo. Fez uma pausa antes de abri-la, os dedos firmes, mas cuidadosos, como se o objeto ali dentro tivesse mais peso do que realmente tinha.
O silêncio entre eles parecia ter seu próprio ritmo. Um compasso carregado de expectativa.
— Sente-se ! — A voz firme de Jaebeom cortou o silêncio, enquanto ele estendia a pequena caixinha de veludo preto. — Dê uma olhada nos aneis, e me diga com sinceridade o que achou deles. Se for necessário, fazemos outro. É preciso saber se vai servir também…Eu chutei por alto, observando suas mãos.
Ela engoliu seco com a naturalidade com que ele falou aneis no plural, mesmo sabendo que só havia um ali. Cada palavra dele parecia empurrá-la um pouco mais para dentro daquela encenação — que parecia agora cada vez menos encenação, cada vez mais real.
Com os dedos um pouco trêmulos, pegou a caixinha das mãos dele e a abriu lentamente.
O brilho a cegou por um instante. O anel era absolutamente deslumbrante.
Uma fina aliança de ouro rosé, cravejada de pequenos diamantes ao longo de toda a haste, culminava em um grande diamante central, redondo, lapidado com perfeição. A pedra principal parecia capturar cada raio de luz da sala, devolvendo-os em feixes sutis e coloridos que dançavam no ar ao seu redor. Era sofisticado e moderno, mas com um toque clássico que o tornava impossível de ignorar.
— É... — ela sussurrou, ainda hipnotizada — lindo. É sério isso aqui?
Jaebeom apenas a observava, sem sorrir, mas com um brilho contido no olhar.
— É sério. Tudo precisa parecer perfeito. Inclusive o anel.
Ela assentiu, ainda em silêncio, os olhos presos àquela joia que agora simbolizava muito mais do que um falso noivado. Era o peso de um acordo. Uma promessa. E talvez, sem que ela percebesse ainda… o início de algo que mudaria tudo.
— Tá bom! Vamos ver se serve, não é? — ela riu, sem humor enquanto, ainda trêmula, levava o anel até o dedo anelar da mão esquerda.
Com cuidado, deslizou o anel pela articulação, esperando alguma resistência. Mas para sua surpresa, ele deslizou com facilidade — nem apertado, nem frouxo. Um encaixe perfeito.
Ela ergueu a mão diante dos olhos, observando o brilho intenso da joia contra sua pele. O diamante principal reluzia com imponência, e os pequenos ao redor cintilavam em um espetáculo silencioso.
— Parece que você tem um bom olho para medidas... — murmurou, ainda sem conseguir desviar os olhos do próprio dedo.
— Eu sou detalhista. — Jaebeom respondeu com naturalidade, mas havia um certo orgulho silencioso em sua voz.
Ela baixou lentamente a mão, e por fim ergueu o olhar para ele.
— E agora? O que acontece? Vamos sair por aí mostrando esse anel? Tirar fotos? Fazer anúncios públicos?
Jaebeom deu um leve passo para o lado, aproximando-se da janela ampla de sua sala. Cruzou os braços diante do peito, pensativo.
— Por enquanto, só o círculo interno da empresa precisa saber. A Daehan é o foco. A primeira aparição oficial será no jantar com eles... sexta-feira.
assentiu devagar, sentindo o estômago revirar com a confirmação. Estava oficialmente noiva. Mesmo que fosse mentira. Mesmo que fosse só um contrato.
E agora, usava a prova disso no dedo.
olhou mais uma vez para o anel em seu dedo antes de fechar delicadamente a caixinha de veludo vazia, como se aquilo ajudasse a manter sua realidade anterior em ordem — mesmo que já soubesse que nada voltaria a ser como antes.
Ela se levantou, ajeitando a bolsa no ombro e alisando a saia com as mãos.
— Então... acho que posso ir, certo? — perguntou, já se dirigindo à porta, o cansaço do dia finalmente pesando sobre os ombros.
Mas antes que pudesse girar a maçaneta, a voz de Jaebeom a alcançou, mais uma vez, firme e direta:
— Você não vai de metrô hoje.
Ela parou, franzindo o cenho, e se virou para encará-lo.
— Como assim?
— A partir de hoje — ele disse, pegando o celular para mandar uma mensagem rápida — você terá um motorista à sua disposição. Pelo menos até o fim do contrato.
— Um motorista? — repetiu, quase rindo de nervoso. — Jaebeom, isso é mesmo necessário?
Ele a olhou com a calma habitual, mas seu tom carregava um toque de autoridade inquestionável.
— Você está usando uma joia de alguns milhares de dólares no dedo. A última coisa que quero é você entrando em uma estação de metrô sozinha com esse anel brilhando como se estivesse implorando para ser assaltada.
bufou, mas sabia que, no fundo, ele tinha razão. Ainda assim, cruzou os braços com certa teimosia.
— Isso faz de mim uma "noiva protegida"?
— Isso faz de você uma parte importante do plano. E eu protejo o que é meu.
Ela abriu a boca para retrucar, mas não achou nada apropriado para dizer. Então apenas assentiu, com um suspiro resignado.
— Tudo bem. Que seja.
Jaebeom retornou o olhar para o celular.
— O motorista te espera na frente do prédio.
— Boa noite, Jaebeom.
— Boa noite, .
E com o anel brilhando sob a luz artificial da sala e o peso de um novo papel em sua vida, ela saiu. Cada passo rumo ao elevador soava como o início de algo que, no fundo, ela ainda não conseguia nomear.

🌹🌹🌹

Na manhã seguinte, chegou ao prédio da empresa alguns minutos mais cedo do que o habitual. Talvez fosse uma tentativa inconsciente de retomar o controle, de mostrar a si mesma que, apesar de tudo, sua rotina profissional seguiria como sempre. Mas bastou atravessar o saguão e sentir os olhares para saber que isso era uma ilusão.
O anel em seu dedo parecia pesar dez quilos. Brilhava sob a luz artificial como se tivesse vida própria, atraindo olhares mesmo quando ela tentava escondê-lo discretamente com a mão ou com a manga do blazer.
— Bom dia, senhorita . — disse um dos recepcionistas, com um sorriso que não era o de sempre. Havia algo exagerado demais, quase forçado, como se ele estivesse cumprimentando uma celebridade.
Ela agradeceu com um aceno contido e atravessou a catraca. O som dos saltos ecoando pelo corredor parecia mais alto, mais exposto, como se agora ela caminhasse por um palco.
Ao chegar no andar de seu setor, os olhares vieram antes das palavras. Colegas que antes mal a cumprimentavam agora a observavam com atenção: alguns com sorrisos enviesados, outros com sobrancelhas erguidas em julgamento silencioso.
— Bom dia, . — disse Sooyoung, do departamento de marketing, com um tom doce demais. — Amei seu anel. É… impressionante.
— Obrigada. — ela respondeu com um sorriso curto, tentando não corar, e seguiu para sua mesa.
No caminho, escutou sussurros abafados atrás de si. Um deles, vindo de duas funcionárias próximas ao bebedouro, fez seu estômago revirar:
— Claro que ela conseguiu o anel. Imagina o que mais ela deve ter feito...
respirou fundo e apertou o passo, ignorando.
Quando se sentou à sua mesa, abriu o notebook e tentou mergulhar nas tarefas do dia. Mas até os e-mails pareciam irrelevantes diante da tensão no ar. As mensagens que antes eram diretas e objetivas agora vinham com emojis, comentários “gentis”, ou, no extremo oposto, silêncio absoluto — especialmente de algumas colegas que antes dividiam até o horário do café com ela.
Ao sair para o almoço, sentiu novamente os olhares a segui-la no elevador. Um deles, mais ousado, disse em voz baixa:
— Virou noiva e agora tem motorista também, né? A gente aqui batalhando no metrô...
Ela não respondeu. Apenas se manteve de pé, cabeça erguida, como se as palavras não a alcançassem.
Mas a verdade era que cada uma delas a feria. Porque não importava o quanto ela tivesse se esforçado nos últimos anos. Agora, todos pareciam vê-la apenas como a noiva do CEO. Como se sua competência tivesse evaporado assim que o anel tocou sua pele.
E pela primeira vez desde que assinara o contrato, se perguntou se o preço daquela encenação não era alto demais…
O restante do dia de transcorreu em meio a um equilíbrio frágil entre o profissionalismo e o desconforto. Ela cumpriu suas tarefas com eficiência, mesmo que, por dentro, lutasse contra a sensação de estar sendo observada o tempo todo. Os cochichos diminuíram com o passar das horas, mas nunca cessaram completamente. As mensagens no chat interno da empresa variavam entre bajulações disfarçadas de simpatia e um silêncio gélido que denunciava o julgamento velado.
No meio da tarde, precisou entregar um relatório pessoalmente para Jaebeom. O encontro foi breve, quase impessoal — ele estava com três diretores discutindo o cronograma de uma nova parceria. Ainda assim, ao vê-la entrar, seus olhos imediatamente buscaram o anel em sua mão esquerda. Quando o encontrou ali, cintilando com discrição, apenas assentiu levemente antes de voltar ao assunto com os demais. Nenhuma palavra foi dita, mas o gesto silencioso não passou despercebido por ela.
Já Jaebeom teve um dia denso, de decisões e articulações. Desde cedo, revisava estratégias para a apresentação final que fariam à Daehan. Reuniões se acumularam, relatórios foram ajustados, contratos revisados. Ainda assim, em meio aos dados e prazos, o nome de cruzava seus pensamentos com frequência inesperada.
Não era apenas o contrato que o preocupava — ele começava a se dar conta do quanto a presença dela, agora marcada por algo íntimo e visível, afetava mais do que os corredores da empresa. Era como se tudo ao redor estivesse se transformando sutilmente.
Quando o expediente terminou, Jaebeom ainda estava em sua sala, analisando a planilha de riscos da fusão, mas com os olhos vagando por segundos a mais em qualquer espaço onde ela costumava estar. E , ao entrar no carro que a aguardava na saída, recostou-se no banco e fechou os olhos, tentando, em vão, esvaziar a mente.
Ambos estavam cumprindo suas funções. Seguindo o plano. Mas o dia, marcado por olhares e silêncios, havia deixado uma certeza incômoda no ar: a linha entre o que era real e o que era fingimento começava a se apagar.

🌹🌹🌹

Na manhã seguinte, chegou ao escritório determinada a ignorar os olhares e cochichos que ainda ecoavam pelos corredores. Havia decidido, silenciosamente, que não deixaria ninguém roubar dela a dignidade profissional que havia construído com tanto esforço. Porém, essa determinação foi rapidamente desafiada assim que ela se sentou à mesa e viu o envelope preto repousando cuidadosamente sobre o teclado do seu notebook.
Era elegante, discreto e perfeitamente alinhado — como tudo que vinha de Jaebeom.
Ela franziu o cenho e abriu o envelope com cuidado. Dentro, havia um arquivo encadernado com capa fosca. O título na primeira página, em letras serifadas e formais, a fez piscar duas vezes:
Dossiê Pessoal – & Lim Jaebeom (versão oficial do relacionamento para uso público)
O coração dela deu um leve salto. Deslizou os dedos pelas páginas e, à medida que avançava, o conteúdo deixava claro que aquilo não era uma brincadeira.
Havia tudo:
Onde teriam se conhecido (num evento empresarial beneficente, há oito meses);
Primeira conversa (ele se interessou pelo ponto de vista dela sobre um tema de sustentabilidade corporativa — nada romântico, mas convincente);
Primeira saída (um jantar discreto em um restaurante francês fora da cidade);
Data do pedido (um fim de semana em Busan, com direito a uma caminhada noturna à beira-mar — o anel veio com uma pergunta direta, ao estilo Jaebeom);
Detalhes íntimos que poderiam ser questionados: pratos favoritos um do outro, pequenas manias, como ela gosta do café, como ele prefere se vestir em casa, se já discutiram (resposta: sim, mas sempre com respeito mútuo), apelidos (nenhum. São formais até no namoro).
Ao final, havia um bilhete manuscrito, em caligrafia firme e precisa:
“Memorize tudo. Não quero deslizes. Você é inteligente, e isso não deve levar mais do que dois ou três dias. — Jaebeom.”
soltou um suspiro baixo, fechando a pasta com lentidão. Olhou ao redor, como se esperasse que alguém mais tivesse lido aquilo por cima do ombro — mas estava sozinha.
Então, endireitou a postura, empurrou o café de lado, e começou a ler tudo outra vez. Palavra por palavra.
Porque, a partir dali, a mentira precisava soar como verdade. E ela seria impecável.

🌹🌹🌹

A noite havia caído sobre Seul com elegância — luzes douradas refletiam nos vidros dos prédios, e o céu, ainda tingido de azul escuro, parecia emoldurar a cidade viva e pulsante. desceu do carro em frente ao edifício luxuoso onde Jaebeom morava, segurando a bolsa com mais força do que o necessário.
Respirou fundo diante do hall silencioso e minimalista, e, após se identificar, foi conduzida ao elevador privativo que a levou direto à cobertura. Seu reflexo no espelho do elevador mostrava uma mulher impecável, mas por dentro… era como se estivesse indo para um teste que ainda não sabia como passar.
A porta se abriu e revelou um apartamento espaçoso, moderno e absurdamente organizado. Tons de cinza, branco e preto predominavam, com linhas retas e móveis minimalistas. Cada detalhe exalava sofisticação contida — muito Jaebeom.
Ele já a esperava próximo à cozinha aberta, onde uma garrafa de vinho descansava sobre a bancada de mármore. Vestia uma camisa preta com as mangas dobradas até o antebraço e calça social escura, casual, mas ainda assim perfeitamente calculado.
— Bem-vinda. — disse, com um leve aceno de cabeça. — Espero que tenha vindo com apetite.
— Vou considerar isso um elogio — ela respondeu, com um sorriso contido.
— Foi. — ele respondeu de forma simples, mas seus olhos demoraram um segundo a mais sobre ela do que o necessário. Ela estava diferente — o cabelo solto, o vestido discreto, mas elegante, e aquele perfume... um traço floral com algo amadeirado no fundo. Quente, inesperado.
— Podemos jantar primeiro e depois revisar os detalhes? — ela sugeriu, ao perceber o silêncio se alongando.
— Claro.
Ele a conduziu até a mesa já posta, com dois pratos servidos, luz baixa e uma trilha instrumental suave ao fundo. O jantar tinha sido encomendado de um restaurante premiado, mas ainda assim, Jaebeom se ocupou em servi-la com naturalidade.
Durante os primeiros minutos, o diálogo girou em torno do dossiê. Repassaram datas, eventos marcantes, as versões do “primeiro encontro” e as preferências pessoais de cada um. Jaebeom fazia perguntas rápidas, testando-a como se estivesse treinando uma equipe para uma apresentação estratégica.
Mas, aos poucos, a formalidade começou a ceder lugar a um silêncio diferente. Não desconfortável — apenas... cheio.
o observava com olhos atentos. A forma como ele segurava os talheres com precisão, como cortava os legumes com movimentos metódicos, como raramente mastigava sem olhar para ela de relance. Em um dado momento, ela se pegou sorrindo discretamente por ter decorado que ele detestava cebola crua — e a havia retirado do prato sem que ele precisasse pedir.
— Está ficando convincente — ele disse, levantando uma sobrancelha.
— O quê?
— Isso. Você saber que eu tiraria a cebola.
— A gente está ensaiando, lembra? — ela rebateu, mas seu tom soava mais íntimo do que pretendia.
Depois do jantar, sentaram-se em uma área de estar mais baixa, com almofadas macias e uma mesa de centro com alguns documentos e taças de vinho.
— Precisamos treinar os toques também — ele disse, encarando-a com neutralidade profissional.
— Os toques? — ela repetiu, surpresa.
— Sim. Você é minha noiva. Natural que eu encoste em você. E você em mim. As pessoas percebem quando algo é forçado.
Ela hesitou, mas estendeu a mão até tocar o antebraço dele. Um gesto simples, leve, mas que provocou uma reação sutil: a respiração de Jaebeom prendeu-se por um segundo.
— Assim? — ela perguntou.
Ele assentiu.
— Agora me encare como se estivesse prestes a dizer que me ama.
riu, nervosa.
— Isso não estava no dossiê.
— Improviso faz parte da vida.
Ela o encarou, então. Mas o que começou como um exercício de atuação virou algo mais quieto. Os olhos dele nos dela, os dela nos dele. Nenhum dos dois sorriu. Nenhum dos dois fugiu.
A tensão naquele momento era palpável — o tipo de silêncio em que tudo podia acontecer.
Mas não aconteceu.
Jaebeom desviou o olhar primeiro e se levantou, recolhendo as taças com tranquilidade, como se o momento nem tivesse existido.
— Ensaio encerrado por hoje.
ficou alguns segundos ali, ainda sentada, com os dedos sobre o joelho e o coração batendo forte. Estava começando a perceber: entre os limites do contrato e os gestos que fingiam afeto… algo real estava nascendo. E talvez não houvesse ensaio suficiente no mundo para prepará-la para isso.

🌹🌹🌹

Assim que a porta se fechou atrás dela, Jaebeom permaneceu de pé no centro da sala, com a mão ainda apoiada na maçaneta, como se uma parte dele quisesse abrir de novo — e chamá-la de volta.
Mas não o fez.
Inspirou fundo, soltando o ar devagar, e caminhou até a cozinha em silêncio. Colocou as taças de vinho na pia, uma de cada vez, e depois ficou ali, encarando o nada, com os dedos apoiados na borda de mármore gelado. O silêncio do apartamento, sempre bem-vindo, parecia agora carregado demais.
Ele havia se preparado para esse acordo como se fosse apenas mais uma negociação. Como fazia com contratos, aquisições, fusões. Analisou riscos, antecipou reações, montou estratégias. Sabia que precisava de alguém confiável, discreta, competente — e era tudo isso. O plano era simples. Profissional. E funcional.
Mas a prática…
A prática estava sendo outra história.
O jantar tinha revelado detalhes que ele não previu. A forma como ela olhava nos olhos dele sem hesitar. O riso abafado e nervoso que escapava quando ele a provocava. O jeito como o perfume dela permanecia no ar mesmo depois que ela se afastava — e como ele não se incomodava com isso.
E o toque…
Aquele toque breve no antebraço, quase nada. Mas que o fez sentir algo que não vinha em contratos e cláusulas. Uma onda sutil, mas certeira, como se o corpo dele tivesse reconhecido algo antes da mente.
Jaebeom passou a mão pelo rosto, irritado com a própria distração. — Isso é só encenação. — disse em voz baixa, como se precisasse ouvir a frase para reafirmá-la. — Só encenação.
Mas o problema era que, mesmo sabendo disso, o olhar dela ainda estava ali, preso em algum lugar entre o peito e a garganta. O olhar que não piscou, que não fugiu.
Ele voltou para a sala de estar, onde a almofada que ela usou ainda guardava um leve afundado. Parou por um momento diante dela, depois apagou a luz e subiu as escadas para o andar superior.
O contrato dizia que aquele noivado tinha data para começar e data para acabar. Mas e o que ele começava a sentir? Não tinha cláusula que previsse.

Mais um ensaio deveria acontecer, só que dessa vez seria ainda pior que o primeiro: a primeira aparição dos dois em público em um jantar de negócios.
estava indo para casa, sentada confortavelmente no banco de trás da BMW que estava a levando todos esses dias desde que o anel havia sido colocado em seu dedo. levou o olhar até ele, encarando-o fixamente por alguns segundos, antes de desviar o olhar para a caixa com o vestido luxuoso que havia ganhado do “noivo”.
Ainda não tinha criado coragem para abrir a caixa e ver como era o vestido, mas tendo como ponto de partida o anel de noivado, ela presumiu que o vestido seria tão impecável quanto. Suspirou pesadamente ainda encarando a caixa.
— Cansada, senhorita ? — Perguntou o motorista cordialmente olhando-a pelo retrovisor.
levantou os olhos para ele, encarando-o de volta pelo mesmo espelho, tentou sorrir. Ele não tinha culpa de nada, e não sabia de nada. Então ela balançou a cabeça rapidamente, não seria grosseira com ele afinal de contas.
— Um pouco, senhor Kim. Mas nada que um banho quente não resolva. O senhor que vai vir me buscar às 19h?
O senhor de meia idade sorriu sem mostrar os dentes, os olhos se transformando em pequenos riscos de tão pequenos e alargou o sorriso, achando-o fofo.
— Não, senhora, o senhor Lim que vai vir com o motorista dele!
O sorriso de congelou por um instante.
Ela piscou devagar, o olhar se desviando lentamente do retrovisor para a caixa sobre seu colo, como se as palavras do senhor Kim tivessem adicionado mais peso ao objeto. Um arrepio sutil percorreu sua nuca, e ela precisou inspirar fundo para disfarçar o impacto inesperado da informação.
Jaebeom viria buscá-la pessoalmente.
O coração acelerou, traindo qualquer tentativa de manter a compostura. Por fora, ela permaneceu serena. Por dentro, o caos recomeçava.
— Ah sim, ele mesmo vem me buscar. Claro, que cabeça a minha! Ele sempre me busca para os jantares e tudo mais.
Os dois balançaram a cabeça um para o outro antes de desviar de novo o olhar. Para Seul passando rapidamente pela janela, escura, um pouco fria, acelerada e caótica como sempre.

🌹🌹🌹

Chegou em casa com a grande caixa nas mãos, e teve que equilibrá-la cuidadosamente sobre o quadril para conseguir girar a chave na fechadura. A largura exagerada dificultava a passagem pela porta — ela precisou inclinar o corpo de lado, empurrando a caixa com o ombro enquanto tentava não deixar a tampa escorregar. Um dos cantos bateu no batente, quase a fazendo tropeçar para trás. Com um suspiro impaciente e uma manobra desajeitada, conseguiu finalmente entrar, fechando a porta com o pé.
A caixa era, definitivamente, maior do que precisava ser para apenas um vestido. Mas, vindo de Jaebeom, ela já começava a entender que nada seria simples.
Acendeu as luzes da sala e do corredor enquanto caminhava por ele em direção ao seu quarto. Acomodou a grande caixa sobre sua cama de casal levemente bagunçada da noite de sono anterior e a encarou por momentos a fio.
Se perguntou se deveria abrir a caixa agora ou somente quando já estivesse de banho tomado e maquiada… fechou os olhos com força: A maquiagem!
Ela certamente precisaria ver o vestido antes de fazê-la, afinal de contas a maquiagem precisaria combinar com o estilo do vestido, não é mesmo? Levou a mão à testa e encarou de novo a caixa. Respirou fundo uma última vez e, com cuidado, começou a levantar a tampa da caixa. Um leve chiado do papel de seda preencheu o silêncio do quarto enquanto ela afastava as camadas delicadas que protegiam o conteúdo. E então, lá estava ele.
O vestido era simplesmente deslumbrante.
Em um tom preto profundo, elegante e atemporal, ele exalava sofisticação desde o primeiro olhar. O corpete era ajustado com perfeição e coberto por uma renda estruturada, recortada com um padrão sutilmente ousado, que deixava entrever a pele de forma refinada. A gola alta e sem mangas dava um ar de imponência e classe — um equilíbrio preciso entre força e feminilidade.
A cintura marcada caía em uma saia levemente rodada, com pregas impecáveis que criavam movimento e estrutura ao mesmo tempo. O tecido tinha um peso elegante, com um acabamento que parecia absorver e refletir a luz em pontos estratégicos.
Não era apenas um vestido. Era um statement.
ficou ali parada, olhando para ele como se fosse uma joia — uma armadura feita sob medida para um campo de batalha de luxo e aparências.
E por um instante, pensou: Se Jaebeom queria que ela se parecesse com uma noiva digna de um CEO... havia acertado em cheio.

🌹🌹🌹

A luz amarelada da penteadeira suavizava as sombras do quarto, criando um brilho cálido sobre sua pele. inclinou-se levemente para frente, apoiando as mãos na lateral da bancada enquanto observava sua imagem refletida no espelho com uma atenção silenciosa.
A maquiagem estava impecável — e diferente do que costumava usar. O delineado era preciso, firme, realçando seus olhos com intensidade. Os lábios, em um tom profundo de vinho fechado, conferiam maturidade e confiança. As maçãs do rosto marcadas de leve davam contorno à expressão que ela mal reconhecia.
Era como ver outra versão de si mesma. Uma que conhecia os códigos daquele mundo e sabia exatamente como caminhar por ele.
A do escritório jamais se maquiaria assim. Jamais se vestiria com aquele tipo de imponência silenciosa. Mas a que Jaebeom precisava — a noiva de Jaebeom — sim. Ela estava ali agora. E não podia falhar.
Desviou o olhar rapidamente para o anel em seu dedo, que parecia ainda mais brilhante àquela altura da produção. Depois, voltou os olhos para o reflexo. Respirou fundo, endireitou os ombros e soltou, baixinho, quase como uma oração:
— Vamos encarar isso.
E se levantou, com o coração acelerado, mas o rosto pronto para o papel da noite.
Às 19h em ponto, lá estava Jaebeom no endereço da casa dela, ele já a aguardava de fora do carro, parado perto da porta que os levaria para o banco de trás. Era uma SUV preta, imponente, alta, robusta, bem a cara do chefe — quer dizer, noivo.
Ele trajava um terno preto impecável, de corte moderno e elegante, transmitia poder com uma naturalidade quase ofensiva. O paletó estruturado moldava seus ombros largos com perfeição, e a camisa branca por baixo, abotoada até o colarinho, dava o contraste exato entre formalidade e charme.
Jaebeom usava brincos discretos, mas reluzentes. Um deles prateado com um leve toque de brilho — e, no pulso, uma corrente de metal que tilintava com elegância a cada pequeno movimento. O cabelo estava penteado para trás, com algumas mechas caindo despreocupadamente sobre a testa, conferindo-lhe um ar rebelde contido. O olhar, delineado por cílios escuros e marcantes, estava cravado na entrada do prédio dela, calmo... mas atento.
Quando surgiu, a respiração dela falhou por um segundo.
Não importava o quanto ela quisesse racionalizar tudo aquilo como uma encenação — havia algo na presença de Jaebeom que atravessava qualquer fachada. Ele parecia saído de uma campanha de moda de luxo, só que ao vivo, à sua espera, e de maneira inquietantemente real. O coração dela acelerou no peito, traindo toda a sua pose cuidadosamente construída.
Jaebeom a olhou dos pés à cabeça, e seu olhar demorou-se em silêncio quando a viu trajando o vestido preto.
Os olhos dele brilharam, mesmo que sua expressão permanecesse contida.
— Você está... — ele começou, mas não completou. Apenas abriu a porta para ela, como se o gesto falasse por si.
assentiu, quase sem palavras, e entrou no carro com o coração batendo alto demais para sua própria paz. O ensaio havia acabado.
A cena agora era real.

🌹🌹🌹

Jaebeom olhou para a porta do prédio com a expressão neutra que costumava usar em reuniões, mas por dentro... havia uma inquietação crescente. E então ela surgiu.
Por um instante, ele pensou que estivesse vendo uma miragem — e isso o irritou de imediato. Porque ele não era o tipo de homem que se deixava impactar por aparências. Mas ... ela não estava apenas bonita. Estava arrebatadora.
O vestido preto delineava o corpo dela com precisão elegante, e o tecido parecia responder à luz como se tivesse sido feito exclusivamente para os olhos dele. A gola alta, a renda estruturada, a forma como a cintura afunilava antes de se abrir em dobras discretas — tudo nela gritava sofisticação, poder, e um toque de provocação contida.
E, ainda assim, o que mais o afetou foi o olhar. Ela não sorria, não fingia encanto. Apenas o encarava com a postura firme de quem sabia o impacto que causava — e se recusava a pedir desculpas por isso.
Um calor estranho subiu pelo pescoço dele, e Jaebeom precisou desviar os olhos por um segundo para recuperar o controle. Sentiu a mandíbula tensionar. Seus dedos se fecharam brevemente ao lado da porta.
“Não é real. Não é sua. É só parte do acordo”, ele repetiu mentalmente. Mas o problema é que seu corpo não parecia ouvir.
Quando ela se aproximou, o perfume dela o atingiu antes mesmo da voz. Floral com um fundo amadeirado. Elegante. Quente. Jaebeom sentiu a ponta de um impulso atravessar o peito — um desejo primitivo de tocar, de sorrir, de dizer algo que não estava no roteiro. Mas engoliu tudo isso como quem engole um veneno: em silêncio.
— Você está... — ele tentou dizer. Mas a frase morreu no meio. Era arriscado demais colocá-la em palavras.
Abriu a porta para ela com um gesto contido, respirando fundo como se aquele simples movimento o ajudasse a manter o equilíbrio. Quando ela entrou, ele rodeou o carro e se sentou ao lado dela no banco de trás com uma expressão séria.
Mas dentro dele, a voz da razão lutava com a do instinto.
“Você construiu uma carreira inteira com base no controle. Não vai perder tudo por causa de um vestido. Ou de um olhar. Ela está fazendo o papel dela. Só isso.”
E então cruzou as pernas, ajeitou o paletó e olhou para frente. Silencioso. Imóvel. Como se pudesse calar o que sentia com disciplina.
Mas o olhar dele voltou para ela antes que percebesse. Só por um segundo. Só o bastante para saber que não seria fácil.

🌹🌹🌹

— Você quer repassar alguma coisa, Jaebeom? — virou o rosto na direção dele, que encarava a janela com o carro já em movimento.
Jaebeom voltou o olhar na direção dela também, e passeou os olhos pelo rosto sério de , a iluminação suave do carro destacava o contorno das maçãs do rosto dela, o delineado dos olhos marcados com precisão, e os lábios… aqueles lábios pintados em um tom profundo de vinho que pareciam tão certos naquele rosto, naquele vestido, naquela noite. Tão certos — e, ao mesmo tempo, perigosos.
“Droga.”
Seus olhos demoraram-se um segundo a mais do que deveriam ali. Não era intencional — ou talvez fosse. Talvez fosse uma forma silenciosa de se permitir fraquejar, mesmo que fosse só por um instante.
“Você não está aqui para notar os lábios dela. Você está aqui para fechar um contrato. Lembra do contrato, Jaebeom? O acordo frio, racional, prático?”
Mas como ser racional quando tudo nela gritava intensidade?
A forma como ela segurava o olhar dele, como se não tivesse medo da proximidade, como se estivesse pronta para o jogo — e para as consequências dele — mexia com algo que Jaebeom tentava trancar há anos: o desejo de ser visto. Não como CEO. Não como figura de poder. Mas como homem.
“Ela está apenas interpretando, Lim. Não se engane. E você não é adolescente pra se perder por um batom bem passado.”
Ele respirou fundo, ajeitou levemente o punho da camisa por baixo do paletó e forçou o olhar a subir dos lábios dela para os olhos.
— Só repassando mentalmente o que já decoramos — respondeu por fim, com a voz baixa e contida. — Mas acho que estamos prontos.
Prontos para o jantar. Para o teatro.
Ou, talvez, para o que nem mesmo ele estava mais conseguindo controlar.

🌹🌹🌹

Quando o carro parou a alguns metros do restaurante escolhido pelos parceiros de negócios de Jaebeom, se permitiu respirar fundo e fechar os olhos. A cabeça dela rodava e ela temeu que aquilo pudesse até desequilibrá-la, quando descesse do carro. As mãos dela apertaram a pequena clutch que ela carregava consigo como se aquilo pudesse de repente, fazê-la ganhar mais equilíbrio e força, ou como se a vida dependesse daquilo.
E de certa forma dependia, não é? Ela tinha um contrato para cumprir dentro e fora da SeongTech Holdings, como secretária de verdade e como falsa “noiva do CEO”, naquele jantar e especialmente no jantar com a Daehan, que era o objetivo daquela farsa toda.
Precisava focar no que realmente importava, precisava entregar uma atuação digna de Oscar, aquele contrato precisa ser cumprido com perfeição ou ela estaria ainda mais arruinada financeiramente. E querendo ou não, devia isso ao chefe, pela ajuda financeira.
Mas se já tinha tudo isso em mente, por que se sentia tão nervosa com aquela situação toda? Se havia topado, assinado o contrato, as dívidas estavam pagas, o emprego ainda era seu, havia sido exposta para toda a empresa, ganhado um anel de noivado, um motorista particular… por que aquela sensação arrebatadora que não havia nada sob seus pés para lhe apararem?
Jaebeom percebeu a hesitação na respiração profunda de , o peito subindo e descendo, os olhos fechados com força, os lábios comprimidos.
— Você não precisa ficar nervosa, . Tudo vai correr muito bem, tenho certeza. É só um jantar de negócios e eu tenho certeza que eles vão perguntar só o básico, o resto será direcionado a mim, estou aqui para negociar.
abriu os olhos, ainda segurando a bolsa com força e encarou Jaebeom. Ele estava sereno — como sempre. A postura composta, a voz segura, como se o mundo lá fora não tivesse o poder de desestabilizá-lo.
Mas o que a desarmava não era essa calma. Era o fato de que, mesmo tão racional, tão frio em suas decisões, ele parecia... perceber. Perceber mais do que ela deixava transparecer.
Ela umedeceu os lábios pintados de vinho, respirando com mais controle agora, e murmurou:
— Você fala como se tudo isso fosse simples.
Jaebeom inclinou a cabeça levemente para o lado, os olhos presos nos dela.
— Não é simples — respondeu. — Mas é necessário. E você está indo muito melhor do que pensa.
engoliu em seco, sentindo o elogio chegar com o peso de uma responsabilidade ainda maior. Parte dela queria agradecer. Outra parte queria fugir.
— É só que… — ela começou, apertando a clutch com mais força. — Isso tudo ainda parece surreal. E quando algo parece surreal, é fácil errar.
Jaebeom manteve o olhar nela por mais um momento. Depois, inclinou-se um pouco para frente, diminuindo a distância entre os dois no banco do carro. Sua voz veio mais baixa, quase como um segredo dividido apenas entre eles:
— Finja que é só mais um papel. Como você faz todos os dias, no trabalho. Você é boa nisso, . E eu confio em você.
Aquelas palavras — "eu confio em você" — atingiram algo mais fundo do que ela gostaria de admitir.
Ela assentiu devagar, com o coração ainda apertado, mas agora com algo novo brotando por dentro: determinação.
— Vamos, então. — disse, por fim, com a voz firme. — Está na hora de sermos perfeitos.
Jaebeom apenas a observou por mais um segundo. Depois abriu a porta do carro, saiu e rodeou até o lado dela.

🌹🌹🌹

Jaebeom estendeu o braço para assim que ela desceu do carro. O gesto foi automático, natural, elegante. Mas quando os dedos dela pousaram sobre o dele, ambos sentiram o impacto discreto daquele primeiro toque da noite. Não era a primeira vez que estavam próximos, mas havia algo diferente ali — talvez fosse o cenário, a tensão do momento, ou apenas o fato de que sabiam que, a partir dali, cada gesto seria observado.
O braço dele era firme sob a mão dela. pode sentir o músculo do braço dele se contrair pelo contato, como se também tivesse ficado afetado pelo toque. Por um instante, ambos prenderam a respiração. Não se olharam. Não disseram nada. Mas a eletricidade do toque silencioso os atravessou como uma linha invisível, esticada entre intenção e controle.
Foram guiados pelo maître até o interior do restaurante, um salão de luxo intimista, de iluminação baixa e sofisticação absoluta. O som ambiente era composto por vozes moderadas, talheres sobre porcelana fina e uma música instrumental elegante que preenchia o espaço sem dominá-lo.
Enquanto atravessavam o salão em direção à mesa reservada, Jaebeom manteve a expressão impecável de um CEO em plena negociação. , com o queixo levemente erguido e o olhar focado, caminhava ao lado dele como se tivesse nascido para aquele papel.
A mesa já os aguardava — três investidores coreanos influentes e suas respectivas esposas. Todos bem-vestidos, atentos, prontos para avaliar muito além dos números.
Foi então que sentiu.
Uma pressão estranha no tornozelo esquerdo. A tira fina de sua sandália havia se soltado discretamente, e ela sentia o pé instável dentro do salto. Um passo em falso e estaria tropeçando bem no meio do restaurante.
Sem parar de andar, ela se inclinou sutilmente em direção a Jaebeom, falando próximo ao ouvido dele com a voz quase inaudível:
— Minha sandália soltou...
Ele apenas assentiu. Não perguntou nada, não hesitou, não disfarçou. Parou ali mesmo, com elegância calculada, como se algo trivial tivesse chamado sua atenção.
Abaixou-se diante dela — o paletó se abrindo levemente com o movimento, ele afastou a saia dela o suficiente para que os tornozelos dela ficassem expostos. Os dedos firmes dele lhe seguraram o tornozelo esquerdo com cuidado — e Jaebeom abotoou a sandália com precisão.
prendeu a respiração quando a mão dele tocou sua pele exposta, o olhar baixo, focado no gesto delicado, os joelhos no chão do restaurante cinco estrelas... Era uma cena que ninguém esperava.
E claro, todos viram.
Os investidores, as esposas, os garçons.
Mas ninguém comentou.
Porque não havia como comentar algo tão silenciosamente íntimo e, ao mesmo tempo, absurdamente elegante.
Jaebeom levantou-se, recompôs o paletó com um puxão leve nos punhos e voltou a oferecer o braço para — agora com um toque mais demorado no olhar.
— Pronta? — perguntou, com a voz baixa, mas firme.
Ela apenas assentiu, sentindo o corpo inteiro aquecido pelo gesto inesperado. E, juntos, caminharam os últimos passos até a mesa. A atuação estava apenas começando. Mas, no fundo, talvez já houvesse algo real demais acontecendo nos bastidores.
Quando finalmente chegaram à mesa, o silêncio respeitoso dos presentes foi substituído por sorrisos polidos e leves levantadas de queixo, em sinal de cumprimento. Os três investidores — homens de presença marcante e olhar clínico — os observaram com interesse, mas foi nas esposas que percebeu o verdadeiro termômetro da situação.
Uma delas, de vestido azul marinho impecável e colar de pérolas, lançou um olhar breve para o braço de Jaebeom ao redor do dela. A segunda, com um coque alto e expressão refinada, mirou o anel no dedo de antes de sorrir gentilmente. A terceira, mais jovem, deu um leve suspiro, quase admirada, e comentou em voz baixa com o marido.
“Eles notaram”, pensou . “Notaram tudo.”
Jaebeom, como sempre, parecia no controle de cada milímetro da situação. Cumprimentou os investidores com reverências sutis e um aperto de mão firme, sem nunca soltar o braço de . Ela curvou-se com graciosidade ao ser apresentada, mantendo o sorriso no ponto exato entre a simpatia e a elegância.
— Esta é minha noiva, . — disse ele com naturalidade, mas também com certo orgulho que não soava ensaiado.
As mulheres cumprimentaram com palavras gentis, e os homens sorriram, aparentemente satisfeitos.
— Uma mulher muito elegante, senhor Lim. — comentou um dos investidores, ajeitando os óculos. — Discreta, mas marcante.
— Exatamente como eu gosto. — respondeu Jaebeom, olhando para por apenas meio segundo. Foi o suficiente para fazer o coração dela disparar.
Sentaram-se. A noite começava.
O maître se aproximou com os menus. Vinhos começaram a ser sugeridos. Mas mal ouvia. Ela mantinha a postura, sorria nos momentos certos, assentia com graça. Por fora, estava perfeita. Mas por dentro, ainda sentia o toque de Jaebeom em sua perna, a forma como ele se ajoelhou com tanta naturalidade, como se tivesse feito aquilo mil vezes — mas talvez, só com ela.
E o pior é que ela sabia: nada naquilo tinha sido apenas encenação.
E era isso que a deixava tão perigosamente vulnerável.

🌹🌹🌹

O jantar seguiu com uma sinfonia de formalidades — talheres repousando suavemente sobre pratos de porcelana, brindes ocasionais com taças de cristal, e sorrisos bem treinados entre frases em coreano polido e inglês técnico. Mas, para , cada minuto à mesa era uma dança delicada entre manter a compostura e controlar os pensamentos que a assombravam.
Ela respondia com segurança às perguntas direcionadas a ela — como haviam se conhecido, há quanto tempo estavam juntos, se já pensavam nos detalhes do casamento. Tudo conforme o dossiê. A cada resposta, sentia os olhos de Jaebeom sobre ela, como se estivesse testando sua precisão… ou talvez admirando o quanto ela vestia bem aquele papel.
E ela estava se saindo bem. Muito bem. Até demais.
A certa altura, um dos investidores mais experientes, o senhor Choi, ergueu sua taça com um sorriso sutil, os olhos passeando entre o casal:
— Senhor Lim, vou ser honesto. Não esperava que um homem tão reservado e direto como você fosse o tipo que se apaixonasse em silêncio. Ela é uma mulher encantadora… discreta, firme. Exatamente como o senhor.
sorriu, mas foi Jaebeom quem respondeu:
— Eu não sou de me apaixonar fácil. Mas quando acontece… é definitivo.
A frase caiu sobre a mesa como uma brisa inesperada. Não estava no script. E nem parecia.
Ela se virou devagar na direção dele, o coração martelando no peito. Jaebeom ainda olhava para o investidor, a expressão tranquila, mas os olhos… os olhos escaparam por um segundo e repousaram nos dela. Intencionalmente.
Ela prendeu a respiração.
Estava sentada ao lado de um homem com quem não tinha um relacionamento real. Mas o mundo acreditava.
E por um instante… ela também acreditou.
Os risos dos demais suavizaram a tensão, e o jantar seguiu, agora com uma camada a mais — algo silencioso, tenso, quase imperceptível.
Mas entre cada gole de vinho, cada toque sutil entre os cotovelos quando os dois se inclinavam ao mesmo tempo, cada vez que ela sentia os olhos dele encontrando os seus…
Ficava mais difícil lembrar que tudo aquilo era uma mentira.

🌹🌹🌹

Após o jantar e as cortinas de gentileza trocadas, o ambiente da mesa mudou de forma sutil, mas evidente. Os guardanapos repousaram nos colos com mais firmeza, os copos foram recostados na mesa com um ritmo menos descontraído, e os olhares — antes amenos e sociais — tornaram-se atentos, profissionais.
Jaebeom entendeu o sinal com perfeição.
Ele recostou-se apenas o suficiente para parecer relaxado, sem perder a postura firme que o acompanhava como sombra. O tom de voz dele, até então casual, assumiu a precisão de alguém que sabia exatamente o que queria e o que oferecia.
— Fico feliz que tenhamos esse momento mais informal para alinharmos expectativas. Acredito que seja a melhor forma de construir confiança antes de avançarmos com números e cláusulas contratuais.
O senhor Min, presidente da MNS Holdings, um dos potenciais parceiros de expansão da SeongTech no sudeste asiático, assentiu. Tinha os olhos estreitos e a mente afiada.
— Estamos ouvindo, senhor Lim.
Jaebeom sorriu levemente, sem pressa.
— A SeongTech está em plena fase de consolidação no setor de inteligência de dados e integração de processos empresariais. Nosso interesse é oferecer suporte tecnológico de ponta para o crescimento sustentável de empresas como a MNS, com uma estrutura enxuta, discreta e altamente adaptável.
Enquanto falava, o observava com uma leve inclinação de cabeça. Ele não precisava de anotações, nem apoio técnico. Jaebeom dominava os dados, os nomes, os objetivos estratégicos e as possíveis objeções com uma frieza que ela já havia testemunhado muitas vezes — mas que agora parecia ainda mais afiada.
— Sabemos que a MNS valoriza confiança e previsibilidade acima de tudo. É por isso que temos o interesse não em uma parceria de fornecimento, mas numa aliança de longo prazo — com total transparência, controle compartilhado e desenvolvimento conjunto de soluções.
Um dos executivos mais jovens pigarreou, cruzando os braços.
— E qual é o diferencial real da SeongTech? Temos dezenas de propostas em análise. A maioria delas oferece exatamente o que o senhor descreveu.
Jaebeom inclinou levemente a cabeça. Seus olhos brilharam, mas não com desafio — com clareza.
— Eles oferecem promessas. Eu ofereço acesso. À minha equipe. À minha estrutura. E à minha visão. Não trato parceiros apenas como clientes, senhor Lee. Trato como extensão daquilo que construí.
O silêncio que se seguiu foi quase respeitoso.
Então, senhor Min voltou-se brevemente para , como se estivesse avaliando não apenas o que Jaebeom dizia, mas também quem ele era fora da mesa de negociações.
— E a senhorita ? Trabalha na empresa há quanto tempo?
não hesitou.
— Há dois anos e oito meses. Comecei como assistente de logística, depois fui transferida para a presidência.
— E está noiva do presidente da companhia. — comentou o outro executivo, sem ironia, mas com aquele tom curioso de quem quer saber mais do que é dito.
— O que só reforça o quanto confio nela. — disse Jaebeom, cortando a linha de pensamento com elegância. — E é esse nível de confiança que ofereço aos parceiros da SeongTech.
Os homens assentiram lentamente. Não foi uma explosão de entusiasmo. Foi algo mais valioso: aceitação.
Quando a conversa retornou aos termos e prazos, percebeu — com clareza — que aquele jantar não era apenas mais um negócio. Era um ensaio real para a pressão que viriam a enfrentar na noite com a Daehan. E se ela e Jaebeom haviam conseguido manter tudo no lugar ali, talvez… só talvez… pudessem mesmo sustentar o teatro quando a cortina principal se abrisse.
E, dessa vez, não haveria margem para erro.

🌹🌹🌹

O jantar havia terminado há pouco. A despedida com os investidores fora cordial, marcada por promessas de reuniões futuras e o típico aperto de mãos firme. Mas quando Jaebeom e saíram do restaurante, o ar fresco da noite pareceu carregado demais para ser apenas alívio.
O motorista os aguardava, mas Jaebeom hesitou antes de levá-la direto até o carro. Com um leve toque no cotovelo dela, indicou um caminho lateral — mais silencioso, quase deserto, onde os fundos do restaurante davam vista para a cidade, cercado por uma balaustrada metálica e luzes fracas.
o acompanhou sem perguntar. Sabia que ele não fazia nada sem motivo.
Chegaram até o parapeito, e o silêncio caiu entre os dois como um véu. A brisa da noite bagunçava levemente os fios soltos do cabelo dela, e por um momento, os olhos de Jaebeom não a soltaram. Nenhum dos dois falou. O mundo parecia à parte.
virou-se para ele, apoiando-se levemente na grade metálica, e foi só então que notou o olhar. Havia algo contido, urgente e silencioso nele. Como se as palavras que ele tanto controlava tivessem perdido força — e só restasse o corpo para falar.
Jaebeom se inclinou devagar.
Não havia toque ainda. Nenhum gesto explícito. Mas o jeito como ele se aproximava, como o rosto dele se curvava na direção dela, deixava claro: havia tensão ali. Uma linha esticada até o limite entre o que era atuação… e o que era desejo.
Ela o olhou de baixo, os olhos fixos nos dele, como se pedisse uma resposta que nem ela mesma sabia formular. Os rostos tão próximos que ela podia sentir a respiração dele, quente, precisa.
— Acha… que fizemos bem? — ela murmurou, quase sem voz.
Jaebeom inclinou-se mais um pouco. As mãos dele repousaram no metal da grade, uma de cada lado do corpo dela, cercando-a sem encostar.
— Fizemos perfeitamente. — respondeu, rouca. Mas era claro que ele não falava apenas do jantar.
Houve um segundo de silêncio, onde a distância entre os rostos era milimétrica. O tipo de momento que, se alguém sussurrasse, o som seria sentido mais do que ouvido.
Ele não a beijou. Mas o olhar, o corpo, a respiração — tudo nele dizia que queria. E o que o impedia… talvez fosse o contrato. Talvez fosse o medo. Talvez fosse o fato de que, se quebrasse aquela linha, nada mais voltaria a ser apenas um papel.
Então, antes que a linha se rompesse, ele fechou os olhos por um instante, respirou fundo, e recuou ligeiramente.
— Vamos? — perguntou baixo, quase sem encará-la.
assentiu, sem conseguir responder. Mas enquanto o seguia de volta para o carro, algo dentro dela já sabia: o que havia entre eles não era mais só encenação.
Era perigo.
Era desejo.



Continua...


Nota da autora: Sem nota!

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