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Revisada por: Hydra

Última Atualização: 21.05.2025 ⚝
“Esses prazeres violentos têm fins violentos,
E morrem em seu triunfo, como o fogo e a pólvora,
Que, ao se beijarem, se consomem.”
Romeu e Julieta, Ato II, Cena VI
William Shakespeare




Não finja que você alguma vez
Já se esqueceu de mim
Nós não jogamos limpo

“The Take Over, The Breaks Over”
Fall Out Boy



Uma tragédia perfeita e cheia de contradições nem sempre começava quando o caminho de duas pessoas se cruzavam. Nessa, os dois já se conheciam desde pequenos, brincavam juntos, se divertiam, brigavam, faziam as pazes… O tipo de coisa que toda criança fazia. Ela o apoiava quando o irmão dele e os irmãos dela se juntavam para fazer troça dele. E assim, eles foram se descobrindo e acabaram por descobrir um ao outro de um jeito que poucas pessoas seriam capazes. Os dois se uniram, tornando-se melhores amigos, mesmo quando sua grande e confusa família e todos ao redor lhes diziam para fazer o contrário.
Velaryon pertencia aos Pretos, o séquito da princesa, afinal era a filha mais velha de Rhaenyra Targaryen com Sor Laenor Velaryon — ou, ao menos, essa era a história oficial, já que as más línguas discursavam que, apesar dos cabelos louro-prateados típicos dos valirianos, ela era uma bastarda, filha de Sor Harwin Strong. Enquanto Aemond Targaryen… Bem, o príncipe sempre fora o mais afetado pelas tramas da mãe na hora de destilar ódio contra os Pretos. Deste modo, acabara por se tornar o mais obstinado defensor dos Verdes — suas vestes escuras não enganavam a ninguém. Ainda assim, sempre tivera um fraco por sua bela princesinha . Sua melhor amiga. Só sua.
Em Derivamarca, seis anos atrás, a hora do lobo chegara como a troca de estações, mudando todo o cenário. E um frio e aterrador inverno fora lançado sobre a relação dos dois como um terrível feitiço. Lucerys Velaryon, um dos irmãos da princesa, seu favorito, arrancara um dos olhos de Aemond para defender os seus em uma briga que jamais deveria ter acontecido. O coração do príncipe caolho se endurecera como a fortaleza de Rochedo Casterly desde então. Sua princesinha estava com o irmão dele quando a confusão começara. Ela chegara no salão quando todos discutiam sobre o acontecido, com Aegon ao seu encalço, tentando manter-se de pé. O olhar embriagado da princesa se arregalara ao ver o estado de Aemond, contudo dera apenas um passo em sua direção e congelara tanto quanto a Muralha no longínquo Norte. E, assim, a barreira estava posta, o ódio e ressentimento dançando entre os dois.
Agora, seis anos mais tarde, príncipe e princesa dividiam o mesmo cômodo outra vez, juntos de muitos outros príncipes e princesas. A tensão aumentava a cada segundo em uma guerra real que jamais era admitida em voz alta por seus combatentes.
Aemond Targaryen mantinha suas mãos atrás das costas, empertigado, nunca querendo mostrar fraqueza na frente de ninguém desde aquela noite em Derivamarca. Ele perdera um olho e a amiga por quem nutria um sentimento insólito e conflituoso, porém domara a poderosa Vhagar, o maior dragão existente. Seus olhos vagaram por aquele mundaréu de rostos familiares, demorando-se em Rhaenyra e seus filhos. Aquela audiência era coisa de Vaemond Velaryon e dizia respeito à ideia de ele substituir Lucerys como herdeiro de Corlys e de toda Derivamarca. Ele cerrou o punho escondido atrás de suas costas. Seu ódio mortal por Lucerys apenas crescia. O garoto um dia pagará pelo olho que me roubara, Aemond pensou. Ass palavras eram uma promessa para si mesmo. Então seus olhos vagaram um pouco mais além, para trás dos garotos Velaryon, de Daemon e de Rhaenyra. Sua atenção foi capturada pela mais importante figura de seu passado.
Velaryon fora uma menina encantadora que crescera para se transformar em uma bela mulher. Para a infelicidade de Alicent Hightower, nascera com traços valirianos, então a odiosa rainha tivera que esperar o nascimento de Jacaerys para começar a espalhar por aí que Sor Laenor não tinha parte na paternidade dos filhos de Rhaenyra. Mas já era grandinha o suficiente para entender quem de fato fora o seu pai, aquele a quem o Estranho levara em um infeliz incêndio em Harrenhal. Às vezes sentia falta tanto dele quanto de Laenor, seus dois pais. No entanto, agora tinha outro: seu padrasto Daemon, que a ensinara a se defender.
As intrigas políticas continuavam a performar enquanto Aemond sentia-se enfeitiçado pelo sútil rubor das bochechas da princesa e ela fingia não ter percebido aquele olhar. A garota insistia para si mesma que não poderia se deixar ser levada pela força de uma antiga conexão. Ainda assim, as memórias compartilhadas pelos dois retumbavam em seus corações, conflitantes em meio à tempestade de orgulho e exasperação. Ela, enfim, devolveu-lhe o olhar e seu coração quase perdeu o ritmo, como em uma canção performada por um bardo bêbado. Uma parte dos dois os dizia para atravessarem a Sala do Trono e falarem um com o outro, não dando importância a como aquilo era errado.
Após manter um longo e angustiante contato visual, escapuliu do recinto sem tomar a atenção de ninguém; exceto de Aemond, que permanecia capturado por seus movimentos. Ela respirou fundo e seguiu em passos disformes pelos corredores da Fortaleza Vermelha. não se chocou ao ver que seus pés a levaram para o coração do Bosque Sagrado. Não eram os seus deuses, claro que não. Mas seus pensamentos estiveram tão emaranhados com o príncipe Aemond que só podia ter acabado em um lugar de consolo e segredos como este. Sem contar que eles haviam passado grande parte de sua infância ali… juntos. A culpa que o Deus de Sete Faces impõe sobre mim não tem espaço aqui, refletiu ela, observando a estranha árvore-coração.
Aemond tinha um pensamento parecido, mas não era nada relacionado aos deuses, apenas à culpa. No Bosque Sagrado não havia lugar para o culparem por ser juntar por um breve momento à inimiga por quem nutria sentimentos conflituosos. Por isso fora até lá. Ele não havia seguido . Nem precisaria. Era óbvio que a princesa recorreria àquele lugar, ainda mais se quisesse, de fato, falar com ele.
O barulho leve nas folhas caídas fez ela se virar.
— Você veio — ela suspirou baixinho.
— Talvez eu não tenha conseguido resistir à tentação. — Os lábios de Aemond se contraíram em um sorriso quase irônico conforme se aproximava dela. — Parece que ainda temos uma atração magnética. — O violeta de seu olho brilhou, refletindo uma mistura de emoções conflitantes. — Mesmo depois de todos esse tempo.
— Nem me fale! — soltou ela, sem pensar. — Todos esses anos eu tenho rezado para os Sete, implorando para que me fizessem te odiar com mais força.
— Não acho que os deuses apreciem tanto louvor por ódio — comentou ele, divertindo-se um pouco com aquilo.
— Acho que o meu desespero lhes apetece, isso sim! Eu juro que desejava te odiar com cada pedacinho da minha alma, mas eu só não conseguia. Não mais do que o nível normal. Eu só… Até as violetas na janela dos meus aposentos me lembravam você e seus olhos leais… olho, sinto muito — corrigiu rapidamente. Nos tempos em que passara com ele no passado, Luke ainda não havia arrancado um de seus olhos. encolheu os ombros e fez um biquinho. — Se eu dissesse que te odeio tanto quanto gostaria nesse exato momento, seria a maior mentira já contada na história de Westeros. Quando eu te vi lá, olhando para mim no meio de todas aquelas pessoas, todo o ódio se quebrou como ondas distantes.
Apesar do comentário sobre o olho tê-lo feito relembrar de coisas que não gostaria, a expressão do príncipe suavizou-se com as palavras da princesa sobre as flores e todo o resto. Ele entendia essa luta interna muito bem. Lutara contra seus próprios sentimentos, enterrando-os sob camadas de raiva e orgulho. No entanto, parado ali, diante da sensibilidade da garota com quem ele costumava se importar, suas defesas começaram a ruir.
— Eu poderia dizer o mesmo. Eu queria te detestar, deixá-la de lado como se fosse uma parte insignificante do meu passado… mas você não é. — Um lampejo de vulnerabilidade cruzou suas feições. — Vê-la novamente, princesa, me lembrou de tudo o que compartilhamos, tudo aquilo que eu pensava ter perdido.
— De algum jeito, isso só torna a situação ainda mais difícil, certo? Eu… — Ela segurou a mão de Aemond, e ele apertou-a de volta em um movimento instintivo. — Queria que as coisas fossem mais fáceis.
— Então somos dois — sussurrou em uma honestidade crua, fixando um olhar incerto nela. — Mas nada sobre nós jamais foi fácil, não é?
— Não, até mesmo a nossa amizade era meio que proibida, mas existia mesmo assim. Até… — hesitou, mas ambos sabiam que ela se referia àquela noite em Derivamarca. — Eu te odeio por odiar o Lucerys, não se esqueça disso. — O aperto de Aemond em sua mão aumentou muito, só relaxando quando ela completou: — Mas eu queria, do fundo do meu coração, que pudéssemos, de algum jeito, ficar… juntos.
Aquela era uma confissão que até a própria garota Velaryon se surpreendera por revelar. Sempre fora claro como um dia de verão após um longo inverno sombrio que inimigos não deveriam se acumpliciar.
— Como pode falar sobre estarmos juntos quando sabe que eu ainda me apego ao meu ódio aos seus parentes? — questionou-a, sua voz tensa como a corda de uma harpa. — Há emoções conflitantes em sua voz e sua fala, e eu sinto os mesmos desejos conflituosos. Mas os meus são como um fogo furioso aqui dentro. — Apontou para o próprio peito. — Sempre queimando, consumindo.
— E o fogo aquece, mas também acaba com tudo ao redor. Se quer mesmo saber, Aemond, eu não entendo nada, nada mesmo, sobre esses sentimentos conflitantes que queimam dentro de mim. Às vezes eu quero matar você — confidenciou, agarrando o pescoço do príncipe com sua mão delicada. — E ao mesmo tempo, eu quero te beijar. — Sua mão subiu até os lábios dele. — Te tocar… Te sentir.
O calor do toque da princesa enviou um arrepio pela espinha dele.
— É enlouquecedor — murmurou ele, seus olhos fixos nos pequenos lábios dela. — Esse vai e volta, essa guerra dentro de mim… É tudo como uma tempestade na qual eu não consigo encontrar paz.
— Eu posso ser sua paz em meio à tempestade, meu príncipe. — Ela umedeceu os lábios. — Pelo menos por um breve momento.
A respiração do príncipe prendeu-se em seu peito. A oferta da garota era como uma última tábua de salvação na tormenta caótica de suas emoções.
— Se ao menos fosse assim tão simples. — Aemond estendeu a mão e traçou os dedos ao longo do contorno do rosto dela em um gesto carregado de uma gentileza que ele evitava mostrar. — Um breve momento de paz, escondidos do mundo no Bosque Sagrado. Mas o que acontece quando o amanhecer surge e nós devemos retornar para os nossos respectivos lados?
— Sei que está certo, mas ao mesmo tempo eu só quero calar a sua maldita boca. Sete infernos, Aemond, você me deixa louca de um jeito que nem sou capaz de colocar em palavras. — Ela tirou a mão dele de seu rosto e a levou até seu peito, permitindo que ele sentisse seu coração batendo com uma fúria incansável. — Podemos pensar sobre amanhã quando o amanhecer chegar.
Aemond percebeu que o coração da princesa, com sua batida errática, se assemelhava ao seu.
— Você me enlouquece também. E o jeito como sempre exerceu tanto poder sobre mim me enfurece tanto quanto me excita — confessou em um rosnado baixo, o calor da pele dela despertando uma inegável pulsação de desejo. — Talvez esteja certa, princesa, nos preocuparemos com o amanhã quando este chegar. — Inclinou-se mais para perto, seus lábios pairando sobre os dela. — Você é como um veneno em minhas veias, e tudo o que eu posso fazer é me deixar ser consumido.
não aguentou mais e, assim, eles se beijaram, mostrando ao silêncio do Bosque Sagrado e da árvore-coração que as pessoas, de fato, não mudavam — ao menos não muito. A surpresa em seu olho por ela ter tomado a iniciativa logo morreu quando o paixão explodiu e sua pálpebra se fechou. Eles aprofundaram o beijo, ansiando um pelo outro como nunca antes. Ela tocou os cabelos dele com todo o carinho do mundo enquanto mordia seu lábio, entre beijos. As mãos de Aemond serpentearam em volta da cintura da garota, puxando-a mais para perto, moldando seus corpos de modo que se encaixassem perfeitamente, como se os deuses os tivessem criado para aquele momento.
O que obviamente não poderia ser verdade. De outro modo, os Sete não teriam permitido que um arfar alto os interrompesse.
— Não, não, não, não, não! — A voz da rainha Alicent os atingiu como um trovão, fazendo com que se afastassem como se o outro fosse uma praga. — Deuses, Aemond, logo você? Pensei que fosse o último a me trazer esse tipo de problema. — A mãe dele se aproximou, desapontada.
— É bom saber que sou um problema para você, vossa graça. — se curvou, mas o veneno em seu tom continha tudo menos respeito.
O olhar da rainha passou pela princesa conforme seus lábios se curvavam em um sorriso escarnecedor.
— E olhe quem você escolheu para se deliciar em sua depravação — disse, com desgosto na voz. — Este não é um bom presságio para a estabilidade desta família.
— Então o transforme em um — retorquiu o príncipe, seu único olho brilhando com uma ideia que a princesa não entendeu de primeira, mas Alicent sim.
— Ah, deuses, isso é loucura, mas… — A rainha massageou as têmporas, considerando as palavras. Talvez fosse mesmo uma ideia aceitável e, assim, me pouparia um problema maior, pensou ela. — Seu pai quer um jantar com toda a família hoje à noite, enquanto a princesa Rhaenyra ainda está presente — relatou, então virou-se para : — E você, filha, prepare-se para o anúncio.
Ela não pode estar falando sobre casamento, certo?, a princesa refletiu, já sabendo a resposta, temendo-a. De algum modo, tinha certeza que parte de sua querida família não gostaria dessa ideia. Sua mãe, quem sabe, veria pontos positivos, mas seu padrasto… Nem todos os sete infernos seriam capazes de fazer Daemon gostar daquilo. De qualquer modo, se Rhaenyra permitisse, não havia quem mudasse sua opinião.
O olhar de Aemond mantinha-se sobre a princesa e a confusão mental estampada no rosto dela, um apelo silencioso para que entendesse a gravidade da situação, principalmente para ela, que era mulher.
— Não pode estar falando sério — gritou para a rainha, esquecendo-se de toda a sua educação de princesa.
— Vocês dois deveriam ter pensado nisso antes de mergulhar nessa depravação — falou a palavra como se fosse o maior pecado de Westeros e de todo o mundo conhecido. — Deveria me agradecer pela saída que estou lhe oferecendo, princesa, por salvar a sua honra. — cerrou o maxilar, mas não pronunciou uma palavra, sabendo que a rainha tinha certa razão. — Uma donzela não pode ser vista fazendo esse tipo de coisa antes do casamento.
E, com aquelas palavras, a rainha Alicent se afastou, deixando príncipe e princesa — agora prometidos — desfrutando apenas da companhia um do outro.




Não consigo resistir a você Sei que tenho meus problemas
Alguns eu não vou admitir
Ninguém tem as respostas
“Hate the Way”
G-Eazy feat. blackbear


procurava uma resolução no tapete de folhas escurecidas esparramadas sobre a terra do Bosque Sagrado. Aemond, por outro lado, buscava respostas na princesa A descrença da garota espelhava o alvoroço que serpeava na mente dele.
— Deuses! — exclamou ela de repente, cortando o silêncio da noite como um punhal de aço valiriano. — O que deveríamos fazer agora?
Ela voltou-se a Aemond, que apenas balançou a cabeça devagar.
— Temos pouca escolha, não? — disse ele, sem jamais desviar o olhar. — Devemos fingir que concordamos com esta farsa… ao menos por enquanto.
parou para refletir. Percebera o olhar do príncipe e, por isso, concluiu que ele havia se chateado com sua reação. Ela havia começado a noite dizendo que queria estar com ele e, agora que a rainha a jogara direto para os seus braços, sua vida, sua cama, ela hesitava.
— Não desejo que me entenda mal, Aemond — começou a garota, em tom de desculpas. — Não é que eu não queira me casar com você ou algo assim. Isso tudo é sobre como essa coisa vai me afetar. Minha vida vai virar de cabeça para baixo e… e… — Ela olhou para o príncipe e sua voz se desvaneceu como a névoa em uma manhã ensolarada.
Estou falando demais, pensou ela enquanto Aemond observava de perto a guerra que a garota travava consigo mesma para articular seus sentimentos, a ansiedade temerosa agitando-se em seu olhar. Ele deu um passo na direção dela, forçando-se a afrouxar o punho que cerrara ao ouvir ela se referir ao noivado como “essa coisa”.
— Eu entendo, princesa. — Sua voz saiu suave como as melhores sedas ao passo que gentilmente estendia sua mão para envolver a dela. — Compreendo seus medos e dúvidas. Não é assim que nenhum de nós imaginava que as coisas seriam. No entanto, às vezes a vida nos joga em situações que não podemos controlar.
— É sábio de sua parte dizer isso. — Um sorriso cruzou o rosto triste da princesa. — Está tudo bem. Acho que também posso fingir.
Ao concordar com as palavras anteriores do príncipe, a princesa meditava sobre ser ou não capaz de manter uma “farsa”, como Aemond chamara. Seu interior turbulento se agitava ainda mais cada vez que se dava conta do seu desejo pelo príncipe e por seu toque, e em como esse desejo não a fazia esquecer de toda a turbulência entre ele e seu precioso irmãozinho.
— Temos um jantar para comparecer agora — ele lembrou e soltou a mão da garota.
Eles deixaram o Bosque Sagrado para trás com quereres e preocupações diferentes das que tinham ao entrarem naquele lugar de silêncio e reflexão. Caminharam lado a lado pelos corredores da Fortaleza Vermelha, seus passos síncronos ecoando a batida do coração do príncipe, pesado com o conhecimento da situação que se desenrolaria logo mais.
— Acha que a rainha vai contar à minha mãe e ao Daemon sobre o que viu? — O sussurro da princesa quebrou o silêncio entre eles. — Ou será que vai fingir que foi apenas uma ótima ideia que ela mesma teve para fingir que estamos tentando forjar uma impossível paz em nossa família?
Aemond ponderou por um longo momento.
— Alicent é astuta. Creio que ela vai distorcer tudo da forma que lhe agrade mais… E a nossa situação atual não deve ser uma exceção — respondeu, sua voz baixa. — É tudo parte do jogo, suponho.
— Então sua mãe fingirá que uma luz divina lhe clareou a visão com essa abençoada ideia, vinda diretamente dos deuses. E assim ela sempre me terá nas mãos por causa do nosso segredinho. — Apertou os lábios em uma tentativa falha de controlar sua raiva. — Assim como você, evidentemente, exceto que terá mais do que ela, não é? Você terá tudo de mim, sempre lá, disponível para você fazer o que quiser de sua princesinha particular.
A princesa suspirou. As palavras deixaram um gosto amargo em sua boca. Um amargor que o príncipe percebeu. Ele respirou fundo, uma mistura de culpa com uma pitadinha de um sentimento protetor o dominando ao perceber a resignação dela.
— Não será assim — protestou. Sua raiva o invadiu ao pensar naquele noivado como uma união sem nenhum amor e consumida por manipulação. — Jamais te forçarei a nada. — Ele parou e envolveu a mão dela em um aperto firme, porém terno. — E eu nunca vou te ver como uma mera posse. É mais para mim do que isso, princesa, sempre foi.
— Mas eu serei sua, e sei bem como gosta de suas posses — suspirou. — Não se esqueça que te conheço muito bem, Aemond.
… — A mandíbula do príncipe se contraiu.
Aemond não conseguira encontrar palavras para contrapor, afinal, sabia melhor do que ninguém o quão possessivo poderia ser. Ele facilmente a reivindicaria como dele e nunca a deixaria ir. No entanto, também nutria outros tipos de profundos sentimentos pela princesa e, por isso, se considerava capaz de ir longe para protegê-la, talvez até de si mesmo, se fosse necessário.
— Não deveríamos chegar juntos no jantar, certo? — Ela desvencilhou sua mão da dele com delicadeza. — Se os deuses ainda me reservaram alguma sorte, Alicent não declarará minha depravação para os Sete Reinos ouvirem.
— Está certa, não deveríamos chegar juntos. Isso só colocaria mais lenha na fogueira — admitiu, sua voz tensa. — Vá em frente, eu irei depois.
O príncipe cruzou as mãos atrás das costas e fixou seu olho na princesa Velaryon até que ela dobrasse em outro corredor. Ao fim daquele jantar, ela seria sua noiva. Fora de amiga de infância a inimiga mortal e, em pouco tempo, se tornaria sua esposa.
Quando chegou ao jantar, notou os presentes: os Verdes, os Pretos e o rei Viserys I, ainda em estado deplorável.
— Ah, , querida… Está tão crescida. — Viserys sorriu para ela, sua primeira neta, a primeira filha de Rhaenyra, a única dos primeiros filhos com os cabelos prateados dos Targaryen.
— Crescida e forte — disse o príncipe Aegon, sua zombaria quase disfarçada de elogio.
Nesse caso, o garoto era exatamente como Aemond. Gostava de provocar , Jacaerys, Lucerys e Joffrey, insinuando que eram bastardos — na maioria das vezes de maneira sutil. O cabelo prateado da princesa a protegia ao menos um pouquinho desses insultos; seus três irmãos Velaryon, por outro lado, tinham cabelos negros como a noite.
— Tão forte que eu poderia socar a sua cara agora mesmo como já fiz uma vez, querido tio. — Ela fez uma reverência visivelmente exagerada, fazendo seu irmão Lucerys rir.
— Sempre feroz, sobrinha. — Aegon fez uma garra com a mão. — Eu gosto disso.
— Então o problema é todo seu. — revirou os olhos.
— Deixa ele. — Jacaerys Velaryon a pegou pelo braço e eles passaram a andar lado a lado, afastando-se do príncipe e de seus flertes zombeteiros. — Deu tudo certo na audiência, nosso avô interviu em nosso favor. Luke continua sendo o herdeiro de Lorde Corlys.
— Essas são ótimas notícias, irmão! Sor Vaemond deve ter ficado tão, mas tão chateado. — Aquele pensamento trouxe um sorriso aos lábios da princesa.
— Ah, é mesmo. Esqueci que perdeu o espetáculo — constatou. — Ele enlouqueceu e questionou nossa legitimidade. Nosso avô disse que cortaria a língua dele, mas Daemon foi lá e cortou sua cabeça ao meio.
— Uh! — Ela levou a mão à frente da boca e soltou uma risadinha. — É por isso que eu amo o príncipe Daemon de todo o meu coração.
— Teria mesmo gostado de ver — garantiu Jace. — Mas agora me diga: por onde esteve todo esse tempo, irmã?
— No Bosque Sagrado — respondeu-lhe a verdade.
— Fazendo o quê? — perguntou de novo.
— Hm… — ela hesitou enquanto assistia seu futuro noivo adentrando a sala sem chamar muita atenção. — Estava rezando.
Jacaerys estreitou seus olhos escuros e seguiu o olhar da irmã até o príncipe Aemond.
— Sabe que rezar para os Sete no Bosque Sagrado não faz o mínimo sentido, não é? — Ele sacudiu a cabeça. — Terá de melhorar suas desculpas, irmã.
apenas pressionou os lábios em resposta. Jace a conhecia bem e, além do mais, conhecia a história entre os jovens príncipe Aemond e princesa .
— Estava apenas visitando os lugares que costumava gostar — explicou. — Foi só a nostalgia.
— Sabe que ele é nosso inimigo, — reforçou o que dissera a ela quando embarcaram em Pedra do Dragão para virem até King’s Landing. — Você sabe disso.
— É claro que sei, Jace. Ou acha que sou estúpida? — Ela desvencilhou seu braço do dele e segurou seus ombros. — Sou mais velha que você, irmão, não precisa ser a voz da razão.
Então abriu um sorriso caloroso para o irmão e foi se sentar — longe de Aemond e próxima àqueles que considerava sua verdadeira família. Jace logo se juntou a eles, mas era para Lucerys que ela olhava, o irmão por quem sempre tivera o maior apreço. O garotinho conseguia ser tão precioso mesmo sentado ali, sorrindo para Rhaena. A princesa não pôde evitar se questionar como Luke se sentiria ao descobrir que ela se casaria com Aemond. Logo, quando Alicent fizer o anúncio, terei de fingir que odeio a ideia de me tornar esposa de Aemond, pensou ela, suspirando baixinho.
— Jace te contou as maiores novidades do dia? — Lady Baela Targaryen esticou a mão por cima da mesa para chamar a atenção da princesa .
— Só sobre toda aquela coisa do seu pai com Sor Vaemond — disse , passando o dedo de leve sobre o pescoço, como se estivesse cortando a garganta.
— Ah, é claro que o meu príncipe se empolgou mais com a parte violenta. — Baela sorriu para Jace e revirou os olhos. — Iremos nos casar.
— Jace e você? Deuses, isso é incrível! — fez cara feia para Jace. — Como pode ter se esquecido de contar a melhor parte!?
— E não somos só nós — continuou ela, mas demorou para entender até que Rhaena levantou sua mão, meio acanhada, e sorriu para Lucerys.
— Uau, parece que eu perdi o melhor dia do século por ter sentido falta de visitar o Bosque Sagrado da Fortaleza Vermelha. — ria, realmente feliz por saber daquelas uniões.
Do outro lado do recinto, o príncipe Aemond a assistia. Cercada por sua família, ficava radiante. Cerrou os dentes ao vê-la bagunçar os cabelos de Lucerys Velaryon com um carinho que era raro demonstrar a qualquer outra pessoa. Uma pontada de ciúmes o atingiu. É tudo um fingimento, uma brincadeirinha para fingir que estamos acalmando as relações tumultuadas entre as famílias, pensou ele, esforçando-se para empurrar aquela maldita pontadinha para longe. Sabia que não tinha nenhum sentido, mas tudo com Lucerys o tirava do sério desde que o garoto arrancara o seu olho.
Conforme o jantar continuava, a mente do príncipe acelerava-se com mil e um pensamentos. A todo instante, lançava olhares para , tentando avaliar como ela lidava com a situação que teriam de enfrentar a qualquer momento, quando Alicent decidisse que era hora de agitar a noite. Ansiava por estar ao lado dela para estender a mão e acalmar as preocupações que sabia que ela possuía.
O conflito nos olhos de espelhavam o que se passava em sua cabeça. A garota não conseguia acreditar que havia sido pega no flagra, ainda mais por Alicent Hightower. Detestava a situação principalmente por ter se tornado um plano da rainha. Sabia que, como mulher, não podia ser vista em situações indecentes como aquela e, sim, o casamento com Aemond limparia a mancha em sua honra perante a sociedade. Ela queria tanto sentir o toque dele e, no fim das contas, fora agraciada com um casamento. Agraciada ou amaldiçoada?, ponderava consigo mesma. Tornar-se a esposa do garoto que mais odiava o seu irmão favorito não seria fácil. Ela desejava compreender como equilibraria o amor e o ódio que nutria por Aemond.
Enquanto a tempestade de pensamentos rugia dentro dos futuros noivos, outro tipo de tormenta irrompeu no recinto. Aegon e Jace começaram a se provocar, até Helaena dissera algo que soara como uma provocação indireta para Aegon, seu irmão-esposo. Jacaerys, então, chamara Helaena para dançar, um ato para afrontar Aegon, que não deu a mínima. Aemond encarou seu irmão com uma fúria estampada em seu rosto. A falta de coragem de Aegon fazia a frustração ferver dentro dele. Perceber a expressão do príncipe irritou , mas a princesa logo se deixou levar pela imagem feliz de Helaena e Jacaerys dançando e, por um breve instante, desejou experimentar a mesma calma.
— Se Jace pode dançar, por que não poderíamos? — comentou com Luke, um claro convite.
— É claro, irmã. — Ele se levantou e estendeu a mão graciosamente. — Ficaria honrado em dançar com você.
— Ah, deuses, olha como ele é fofo! — A princesa pegou em sua mão e se levantou. — Não precisa ficar envergonhado, maninho. Você é mesmo fofo. Rhaena, minha querida, você tirou a sorte grande.
, para com isso — murmurou ele, seu rosto ainda corado enquanto a sua noiva sorria.
— Pode me perdoar por roubar o seu futuro marido nesse instante, irmãzinha? — Sorriu para Rhaena. Havia começado a tratar ela e Baela como suas irmãs quando Daemon se casara com Rhaenyra. — Só quero dançar com meu irmão favorito por um momentinho e fingir que serei feliz para sempre.
— Ah, querida irmã! — Lady Rhaena fingiu um suspiro dramático. — E como eu poderia negar a você tal felicidade?
sorriu em agradecimento e puxou Lucerys com ela, juntando-se a Jace e Helaena na pista improvisada. Os olhos de Aemond dardejaram-na, seus pensamentos mais uma vez consumidos pela tentação de fazê-la sua. Seu olho acompanhava cada movimento da dança de e Luke, a inveja e a irritação borbulhando sob a superfície, prontas para entrar em ebulição. A visão da princesa tão despreocupada, aproveitando o momento nos braços de seu irmão, despertava emoções conflitantes dentro do príncipe. Aemond desejava que fosse ele lá, dançando com sua futura noiva sem se importar com o que os outros diriam. Queria que estivesse em seus braços. Sorrindo para ele. Só para ele.




Eu nunca mostro exatamente
O que você faz comigo
Acho que eu sempre estive errado
“All Signs Points to Lauderdale”
A Day to Remember


Velaryon girava pela sala com o seu irmãozinho Lucerys em seus braços. O momento a enchera de uma plenitude que beirava a perfeição de tal modo que até permitira se esquecer de que estava no jantar.
— Podemos, por favor, retornar à mesa? — pediu a rainha Alicent, arrancando , Lucerys, Jacaerys e Helaena de uma felicidade paralela a toda aquela família complicada.
— Como desejar, vossa graça — entoou Helaena à sua mãe.
Ela fez uma reverência engraçada que despertou risos baixos nos outros três enquanto eles seguiam para a mesa. Pela primeira vez em muito tempo, Alicent sorriu. Não durou muito, no entanto. Assim que estavam todos de volta à mesa, ela se levantou.
— Sei que já fizemos alguns brindes esta noite, mas tenho algo novo a anunciar. Bem, na verdade, algo a propor — disse a rainha. prendeu a respiração, odiando cada partezinha da sensação que a inundava, principalmente porque grande parte dela era expectativa. — Princesa Rhaenyra, eu tive uma ideia interessante mais cedo após todos os… infortúnios do dia, e acredito que agora, depois de tudo o que já passamos, você concordará comigo. — Ela olhou para Rhaenyra, que já tinha sua atenção capturada. — Eu desejo que a sua filha se case com o meu filho Aemond.
Jacaerys Velaryon irrompeu em um ataque de tosse após quase se engasgar com sua bebida.
— Jace! — Baela o repreendeu baixinho.
Rhaenyra Targaryen alternou seu olhar entre o príncipe Aemond e sua única filha mulher com certo espanto. O príncipe Daemon, por outro lado, encarou a princesa e arqueou as sobrancelhas, não tão surpreso quanto os outros na sala — talvez apenas um tantinho desapontado com as inclinações da enteada.
Preciso reagir, pensou , sou uma Velaryon de Derivamarca, não importa o que o meu sangue diga. Ela respirou fundo, buscando coragem no lema da Casa Velaryon que se repetia em sua mente: O Antigo, o Verdadeiro, o Valente. Ela precisava reagir o mais rápido possível, então apoiou ambas as mãos na mesa com um estrondo e se levantou de ímpeto.
— De jeito nenhum! — gritou ela. — Isso não pode acontecer. Você enlouqueceu?
! — Rhaenyra a repreendeu. — Não pode falar com a rainha Alicent desse jeito. Onde estão seus modos?
— Eu sei, mãe — admitiu e voltou-se à Alicent. — Sinto muito, vossa graça, mas… — hesitou por um instante, mas sabia que deveria continuar com aquela cena. — Deuses, é uma ideia terrível.
, controle-se! — ordenou Rhaenyra, com uma pitadinha de raiva no meio do choque pelas palavras de sua amada filha. — Talvez não seja uma ideia tão terrível quanto pensa.
Um silêncio tenso inundou a sala e todos os olhos se voltaram para a princesa . Aemond travou a mandíbula, seu olho bom procurou por qualquer indício de resposta no rosto da princesa. O príncipe Daemon parecia ser o único a se divertir com o comportamento da enteada.
— Eu… Eu… — suspirou. Sabia bem que sua reação fora exagerada, assim como tinha consciência de que parte daquilo era verdade, afinal, Aemond era de fato um inimigo declarado. — Eu…
A garota não conseguia formular qualquer outra frase. Então fitou Aemond Targaryen pela primeira vez desde o anúncio. O olhar do garoto era intenso, carregado de uma mistura de emoções conflitantes: preocupação, um tantinho de confusão e uma outra coisa remexendo-se nas profundezas; algo que ele não desejava identificar. A contradição dançava entre os dois, que permaneciam em silêncio, se olhando.
só conseguia mergulhar na sensação de que estaria traindo Lucerys, seu irmãozinho favorito, se simplesmente aceitasse o arranjo. Aemond o odiava até a morte, e ela o amava até a morte. Como isso poderia acabar se tornando uma coisa boa?, perguntou-se ao fechar os olhos para esperar que alguém dissesse algo. Qualquer um.
Mas o silêncio opressor continuava, mesclando-se à tensão palpável enquanto todos aguardavam uma resposta dos dois. Os olhos de Rhaenyra dardejaram entre sua querida filha e o futuro prometido dela, sem saber se deveria se sentir preocupada ou apenas confusa.
, minha querida… Acalme-se, por favor. — O rei Viserys quebrou a silêncio. — É só um arranjo de casamento. Encontrarão um jeito de serem felizes.
— Sinto muitíssimo pelos meus maus modos, vossa graça — disse, sua voz suave como uma pluma, e voltou a se sentar. — Farei o que minha mãe desejar.
Os olhos da rainha se estreitaram em um claro alerta. Se Rhaenyra não concordasse com o arranjo, Alicent contaria o que flagrara entre Aemond e mais cedo e, assim, envergonharia a menina, que teria sua honra manchada exposta a todos os presentes. sabia bem disso e também de como sua mãe concordaria com a proposta depois da revelação da rainha. Era um caminho pior, mas agora que começara a cena, não havia muito o que fazer além de ficar calada e aguardar.
Aemond se levantou abruptamente, arrastando sua cadeira para trás em um som cortante. Todos os olhos se voltaram para ele, mas o seu fixava-se apenas na princesa . Uma mistura de frustração e algo mais relampejou em seu olhar penetrante, queimando forte como fogo de dragão.
— Por quê? — perguntou apenas. Duas palavrinhas que implicavam uma infinidade de significados. O príncipe precisava de uma resposta, desejava entender a relutância de , as razões ocultas por trás de sua explosão inicial e o motivo de não ter simplesmente aceitado o que lhes fora imposto.
— O que quer dizer com “por quê”, irmão? — Aegon revirou os olhos, a taça de vinho pendendo em sua mão, quase vazia. — Ela é sua inimiga. Você, entre todos, deveria saber.
Em seguida, bebeu o último gole e serviu de mais vinho pela milésima vez na noite. Sua última frase carregava tanto significado que até fora capaz de captar. Aemond deveria, de fato, entender a situação complicada, afinal, era o defensor mais ferrenho dos Verdes. E , sua futura prometida, era uma princesa dos Pretos, a primogênita da verdadeira herdeira do Trono de Ferro. E eles, os Verdes, eram vistos pela princesa apenas como usurpadores por estarem, possivelmente, planejando coroar Aegon como o novo Rei dos Sete Reinos assim que seu avô Viserys sucumbisse.
— Jamais pensei que diria qualquer coisa desse tipo, mas… — fez uma careta. — Aegon disse tudo.
Aegon ergueu a taça em sinal de brinde para ela. Rhaenyra, por outro lado, arregalou seus belos olhos em descrença.
— Não há inimigos aqui, minha querida filha — insistiu.
As coisas entre eles eram assim. As mães fingiam e fingiam que não existia essa rivalidade mortal entre Pretos e Verdes, mas seus filhos sabiam. Eles lutavam essa guerra não declarada mais do que ninguém. olhou para Aemond, ainda parado ali, de pé, e então encarou Lucerys, que mantinha uma expressão confusa em seu jovem rosto.
— Eu já disse, minha mãe — reforçou . — Se tiver que ser feito, eu o farei.
A frustração de Aemond se alimentou daquelas palavras, crescendo mais e mais. Ele odiara o jeito com que a garota resignara-se como se aquele fosse o maior sacríficio do mundo, sendo que não muito tempo antes buscara por seus lábios com avidez. Cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos se embranqueceram.
— Não pode estar falando sério — reclamou, entredentes. — Esta proposta não é apenas uma aliança política, é uma zombaria, uma farsa!
Aegon riu das palavras do irmão, divertindo-se com a situação. Rhaenyra, porém, permaneceu em silêncio, observando com seus olhos cautelosos o desenrolar da contenda.
— Uma zombaria? — levantou-se, quase derrubando sua cadeira, tamanha era a raiva que inundava cada parte do seu corpo. — Como pode dizer algo assim? Deuses, eu sabia que você jamais iria querer essa união! — Cerrou os punhos, pressionando-os contra a mesa. Era óbvio que ela desejava estar com ele, mas o conflito se intensificava em seu interior quando lembrava-se de que o ódio do príncipe por seu irmão crescera muito desde que Lucerys cortara o seu olho. — Eu vou me casar com você, seu garoto estúpido.
— Garoto estúpido, você diz? — Aemond estreitou o olho, a raiva da princesa apenas alimentando a sua. — Vai se casar comigo, mas não precisa sequer gostar disso porque você obviamente é apenas uma boa princesinha obediente, não é?
Entre todos, Aegon era o que mais se divertia com aquela troca incomum entre príncipe e princesa. Ele bebericava o seu vinho e soltava risadinhas a todo momento que achava pertinente. Aquele era o melhor espetáculo que assistia em dias.
— Ah, por favor, pare de rir feito um idiota! — gritou para Aegon, então voltou-se a Aemond, do outro lado da mesa: — E se eu for, meu principezinho? Você terá de se contentar em desposar uma porra de uma princesinha obediente, então.
Alicent arfou, em completo choque com o linguajar da princesa, enquanto Aegon escondia sua risada com mais um gole de vinho.
, já chega! — Rhaenyra levantou a voz ao repreender a própria filha por sua falta de modos.
Aemond ainda a fitava, seu rosto endurecido desde o momento que a princesa o chamara de “meu principezinho”. A atitude desafiadora de trazia à tona algo que ele preferiria deixar escondido. Por isso, teve de lutar contra a vontade de dar uma resposta sarcástica.
— Uma princesinha obediente… — repetiu entredentes. — E que par obediente fazemos, não?
— O par mais perfeito de todos! — Ela fingiu um sorriso exagerado e se sentou.
O príncipe Aemond era capaz de mexer com a princesa de modo que ela jamais saberia explicar. E era isso que a incomodava mais. Fechou os olhos por alguns segundos e roçou as coxas uma contra a outra debaixo da mesa, odiando-o pelo que ele causava nela, mesmo de tão longe. só queria ir até ele, socá-lo na cara, estapeá-lo, apertar o seu pescoço… Qualquer coisa para tocá-lo e estar perto dele. Aemond, por outro lado, continuava frustrado com a reação completamente descomedida daquela que seria sua esposa. Seu olhar queimava sobre , seus pensamentos emaranhando-se em uma tormenta de raiva e desejo.
— Está mais para o desastre perfeito — murmurou Aegon em tom jocoso.
— Cale a boca, irmão — Aemond lhe xingou, porém se mantinha fitando , que agora mordia o lábio e lhe devolvia um olhar enigmático.
— Então está decidido — Rhaenyra declarou. — O casamento, de fato, acontecerá.
Daemon retorceu os lábios e fez um som baixinho, ininteligível. Jamais gostara de Aemond e, apesar de não ser sua filha, era parte da família. Ele nunca acharia uma boa ideia jogar sua enteada, a herdeira de Rhaenyra, direto nas mãos dos Verdes, bem na cama de Aemond.
deveria ficar aqui, por perto, enquanto preparamos as coisas — anunciou a rainha Alicent. — E assim os dois têm mais tempo para se acertar e aprenderem a se comportar melhor em situações como esta.
A repreensão da rainha quase passou batido para todos. A parte importante era que, em vez de Velaryon retornar a Pedra do Dragão com sua família, ela permaneceria em Porto Real, na Fortaleza Vermelha. Parecia o mais certo a fazer, por isso todos apenas assentiram. Todos menos a própria e o príncipe Daemon. O silêncio e a expressão cautelosa dele deixavam bem claro que não estava nada satisfeito com o desenrolar dos fatos. No entanto, não questionaria a princesa Rhaenyra — não ali, na frente dos Verdes.
Enquanto isso, Aemond não desviava o olhar da única pessoa que ele se importava em ver alguma reação, qualquer reação. O príncipe cerrou o punho e respirou devagar, uma mistura de raiva e frustração pela princesa se manter estática se remexia dentro dele. Mas o que queimava mais forte era uma necessidade subjacente. Ao menos a princesa estaria ali, perto dele. Isso bastava. Por enquanto.



Me diga a sua verdade
Vocês são peões em cena?
Onde está sua voz? Você consegue gritar?
“Alive”
I Killed the Symphony


Após todos os arranjos terem sido feitos, o rei Viserys I se sentiu mal e foi carregado para fora do salão. Apesar de aquele grupo de pessoas só estarem reunidos por vontade dele, o jantar continuou mesmo sem a sua presença. O tempo, então, passou rápido como um trovão. Ou ao menos era essa a percepção da princesa Velaryon. Ela se mantinha em silêncio tanto quanto conseguia. O pensamento de que estava se vendendo para os Verdes era como o som do aço sendo martelado pelo ferreiro. A garota só foi acordada de sua torturazinha mental particular quando o príncipe Aemond socou a mesa de ímpeto e se levantou. Algo fora da visão dela havia o irritado. E muito.
— Um tributo final! — Aemond ergueu sua taça. — À saúde dos meus sobrinhos e, agora, futuros cunhados: Jace… Luke… e Joffrey. — Alicent o fitou, preocupada com a provocação que sabia que estava por vir. E ela não era a única. se levantou de seu lugar para dar a volta ao redor da longa mesa. — São rapazes bonitos, inteligentes… e fortes.
A princesa arfou alto, congelando no meio do caminho.
— Aemond — implorou, balançando a cabeça, mas ele não ouviu nem sequer uma palavra, tamanha era sua raiva.
— Vamos beber em homenagem a estes três… — Aemond fez uma pausa dramática e Aegon levantou seu copo bem alto para o acompanhar. — … garotos fortes.
cerrou os punhos. A palavra “forte” pairava no ar como uma assombração, chamando outra vez seus irmãos de bastardos — e a ela própria.
— Repita o que disse — Jacaerys o desafiou.
fechou os olhos. Sabia que tudo aquilo estava fadado ao fracasso, a uma tragédia das grandes. E agora ela jazia bem no meio disso. Mesmo quando as provocações entre eles continuaram e Jace a puxou para fora do caminho, ela ainda se sentia emaranhada nas correntes do que o seu noivado significava. Jamais seria capaz de sair no meio daquelas brigas espinhentas que, assim que seu avô morresse, passariam a envolver fogo e sangue. Foi trazida de volta a si quando seu irmão desferiu um soco na cara de Aemond, e Aegon e Lucerys começaram uma briga paralela.
— Sete infernos, essa família é um caos. — se interpôs entre Jace e Aemond, temendo como aquilo poderia acabar. — Parem com isso!
Aemond, no entanto, usou seu braço esquerdo para envolver a cintura de sua noiva e a tirar do caminho. Então, com o braço livre, empurrou Jacaerys para o chão. Os guardas finalmente conseguiram parar aquela desordem sem tamanho, e Alicent apressou-se em tentar colocar algo na cabeça de Aemond, qualquer coisa. Mas o príncipe não queria saber da mãe, ele estava consumido por ódio e ressentimento. Não queria saber da princesa também, afinal, soltou-a, deixando-a para trás, e andou na direção do sobrinho.
— Aemond, para com isso, por favor — insistiu ela, a ouvidos moucos.
Jace desviou dos guardas para retornar à briga, mas Daemon se interpôs entre eles ao mesmo tempo em que o fizera. Rhaenyra, então, mandou as garotas Targaryen e os garotos Velaryon para seus respectivos aposentos. assistia aos irmãos se retirarem, seu rosto banhado em lágrimas. O príncipe Daemon encarou Aemond em desafio, e ele o fitou de volta. Deuses, esses dois vão acabar se matando algum dia desses, pensou a princesa. Mas nada fizeram naquele momento, graças aos deuses.
— Esses não são modos para quem vai se casar com a minha enteada — rosnou Daemon.
Suas palavras arrancaram um leve sorriso da princesa no meio de todo aquele pandemônio. O olho de Aemond brilhou, furioso, e ele abriu a boca para responder algo insolente, mas balançou a cabeça e seu apelo silencioso abrandou um pouco de sua raiva. Ele cerrou a mandíbula e engoliu o que diria, sabendo que uma discussão com Daemon só pioraria as coisas. agradeceu aos céus por seu noivo ter atendido a sua súplica. Aquele era o príncipe Daemon Targaryen, afinal de contas, Aemond jamais teria chances. E apesar do ódio que o seu príncipe lhe despertara naquele momento, ela ainda nutria os sentimentos conflitantes que a faziam não desejar a sua morte.
Aemond deixou mais um de seus sonos “hmm” escapar antes de sair da sala, de queixo erguido, como sempre. Velaryon respirou fundo, esfregando o rosto ainda úmido. Buscou, então, o olhar de Daemon, da mãe e até o de Alicent… Balançou a cabeça. Não permitiria que ninguém a mandasse para os seus aposentos antes que falasse com o seu agora noivo. Deu as costas a eles e correu atrás de Aemond, encontrando-o no corredor, um pouco distante da entrada do salão. Ele parou ao ouvir os passos e virou-se, erguendo a cabeça para fixar seu olhar na garota. Raiva, frustração e uma pitadinha de vulnerabilidade reviravam-se em seu interior. Era o efeito que todas aquelas coisas tinham quando somadas à Veleryon e os sentimentos caóticos que sustentava por ela.
— Sete infernos, Aemond! Por que fez tudo isso? — Os olhos da princesa se encheram d’água outra vez. — As coisas já não são difíceis o suficiente?
Os ombros do príncipe visivilmente se tensionaram, as emoções à flor da pele. Ele cerrou o maxilar e respirou fundo em uma tentativa falha de controlar a raiva.
— Por que eu fiz isso? — repetiu, seu tom baixo transbordava frustração em cada sílaba pronunciada. — Espera que eu simplesmente aceite o insulto deles, ? Que fique sentado, em silêncio, enquanto Lucerys zomba de mim?
— E você precisa ficar chamando meus irmãos de “fortes”? — retorquiu ela.
— Poderia muito bem ser um elogio — falou, seu olho brilhava em uma fúria incandescente.
— Que os Outros carreguem os seus elogios distorcidos! — Ela cerrou o punho. — Todo mundo sabe que está fazendo alusão à Casa Strong e ao falecido Sor Harwin, que foi uma ótima pessoa, por sinal.
Aemond estreitou o olho. Sabia o que a defesa da garota a Sor Harwin Strong implicava. Todo mundo sabia, mas ele preferia ignorar. Ao menos quando dizia respeito a ela. não era ameaça alguma.
— Eles são bastardos. Sabe disso tão bem quanto eu — cuspiu, sua voz fria. — Realmente espera que eu finja que eles são algo que não são? Que eu ignore a verdade para que todos possamos brincar de faz de conta?
— Deuses, Aemond, você vai se casar comigo: da Casa Velaryon. — Ela envolveu a mão dele e a trouxe até seu peito. — Se meus irmãos são bastardos, o que pensa que eu sou? Eu vim primeiro, meu príncipe, sou a primeira. Meus cabelos louro-prateados não mudam isso.
Sua mão tremeu levemente enquanto descansava sobre o coração da princesa. A batida compassada era um constraste gritante com a turbulência em seu próprio interior. O príncipe cerrou os dentes, a raiva cedendo devagar à confusão.
— Eu… sei disso — sibilou, seu timbre mais suave. — Mas isso não muda o fato de que eles ainda são bastardos, minha princesa. Bastardos cuja própria existência é uma mancha na honra e reputação desta família.
cerrou o punho e respirou para se controlar antes que berrasse a plenos pulmões: “você é uma mancha nessa família”. Não adiantaria nada.
— Então, meu príncipe… — Ela pegou a mão dele que repousava sobre o seu peito e ergueu-a até que abarcasse seu rosto. — Saiba que você vai se casar com uma forte mancha na honra e reputação dessa droga de família
A princesa havia referido-se a ela mesma com a palavra “forte” para enfatizar a ironia da situação do príncipe. Aemond respirou com dificuldade, um senso de resignação o preenchendo. Seu olhar buscou o rosto da garota. A compreensão pesava cada vez mais.
— Você… é diferente, minha princesa — confidenciou. — Não é apenas uma mancha, você é… É minha prometida. — As palavras deixaram a sua boca com relutância, afinal, sabia que aquilo não mudava a origem da garota.
— Eu sou exatamente igual a eles. — Ela fechou os olhos, apreciando o leve toque dos dedos que agora acariciavam sua bochecha. — A única diferença é que você gosta de mim.
A verdade na fala da garota Velaryon o atingiu como um soco no estômago. Sete infernos, está certa, pensou, o conhecimento contorcendo-se em seu coração. Ele engoliu em seco. Uma mistura mais do que complexa de emoções o invadiu junto de um sentimento que esforçou-se para suprimir.
— Maldita seja, princesa — deixou escapar em um suspiro baixo e umedeceu os lábios.
— Nem pensar. — Daemon fez-se ouvir no corredor, acordando príncipe e princesa do transe momentâneo.
— Daemon. — deu um passo apressado para trás, para longe de Aemond.
— Alguém tinha que vir. — Daemon deu de ombros, parando ao lado da enteada. — Nós vamos embora agora e, já que você vai ficar, está na hora de dizer adeus à família.
— Como assim? Nós não…? — Ela parou, dando-se conta de que não estava mais incluída na equação. — Vocês não iriam embora pela manhã?
— Houve uma mudança de planos, ao que parece — disse simplesmente. Seus olhos não deixavam o príncipe Aemond.
— Suponho que começo as minhas despedidas com você, então. — A princesa jogou os braços ao redor do padrasto, pegando os dois príncipes de surpresa.
— É, parece que sim. E eu tenho um presente para você, princesa, já que permanecerá por aqui. — Daemon afastou a garota de si e pegou um lindo punhal. Não pôde evitar dar uma boa encarada no príncipe Aemond antes de colocar o objeto na mão de . — Durma com esta adaga debaixo do travesseiro, só por precaução.
Aemond cerrou o maxilar e estreitou o olhos. Não gostou nem um pouco da maneira como o tio o observava. Esforçou-se para se manter em silêncio, porém empertigou-se ainda mais. riu do alerta de Daemon e abraçou-o novamente, um gesto tão natural que esfregava na cara de Aemond a proximidade que aqueles dois compartilhavam. Isso mexeu com algo dentro do príncipe. Por um momento pensou que fosse ciúmes, mas depois compreendeu que era algo maior e quase indecifrável. Não havia esse tipo de proximidade no seu lado da família. Talvez fosse isso.
— Agora vá, riña. — Daemon usou a palavra alto valiriana para “menina”. — Diga adeus à sua mãe.
— E você? — rebateu quando ele não fez menção de se mover. — Não vou deixar vocês dois sozinhos aqui. — Seu olhar oscilou entre seu noivo e o padrasto. — De jeito nenhum.
A princesa conhecia os dois bem demais, e temia o que podia acontecer com o seu prometido. Apesar de, por vezes, odiar ferozmente a Aemond, não queria que ele morresse antes que enfim se casassem. Daemon já ter percebido que tem algo rolando entre Aemond e eu não é o bastante para fazê-lo mudar de ideia quanto a Aemond, pensou ela e, por isso mesmo, não se moveu.
— Você realmente acha que eu não poderia resistir a cinco minutos sem matar o seu príncipe? — Daemon arqueou uma sobrancelha.
O rosto de Aemond escureceu como um céu tempestuoso, o incômodo relampejando em seu único olho. A mão da princesa envolveu seu braço com firmeza. Sabia que ele se sentiria tentado a responder a provocação. O príncipe ficou tenso com o toque, a raiva fervendo sob a superfície. Lançou um olhar nada amigável ao príncipe Daemon, porém segurou-se à sensação do toque da garota para resistir à vontade que o consumia.
— Sete infernos! — A garota bufou. — Por que vocês, homens, têm que ser todos assim, hein?
Daemon riu da pergunta, mas seus olhos vagaram para a mão da princesa envolvendo o braço do esguio príncipe. notou o olhar, mas não soltou nem sequer afrouxou o aperto.
— Por que somos todos assim? — Um sorriso malicioso brincou nos lábios de Daemon. — A resposta reside na sua pergunta. Porque somos homens, princesa. Somos construídos assim.
— Que grande bobagem. — Sacudiu a cabeça devagar e então olhou para Aemond, reconhecendo concordância em seu olhar. — Você concorda com ele! Que os Sete me ajudem! Não sei por que estou surpresa.
— Vamos, , me obedeça — insistiu Daemon. — Vá até sua mãe. É hora de dizer adeus.
— Ouça o seu padrasto, , podemos conversar amanhã — falou Aemond. — Amanhã e pelo resto das nossas vidas, ao que parece.
— Vocês dois estão loucos se realmente acham que podem mandar em mim — reforçou a princesa. — Agora venha comigo, Daemon. Sou apenas uma jovem e tola mulher que poderia se perder no meu caminho até a porta. — Sua voz transbordava sarcasmo enquanto libertava o braço de Aemond de seu toque para segurar no de Daemon. Era a única maneira de terminar essa possível discussão. Ela olhou por cima do ombro. — Vejo você amanhã, meu príncipe.
Aemond queria mantê-la por perto, protestar a sua partida, mas seria inútil. Portanto, conteve a tormenta de irritação, confusão e aquele algo a mais dentro de si. Seu olho manteve-se fixo na garota enquanto ela se afastava.
— Amanhã, então — murmurou, tenso e frustrado.
E assim, seguiu seu caminho. Esperou que a princesa Rhaenyra se afastasse de Alicent para, então, se despedir dela e do bebê em sua barriga. Era a primeira vez que ficaria longe da mãe, mas era uma menina feita que logo iria se casar. Teria de ser madura e, por isso, segurou o choro. Ao menos até ir aos aposentos das garotas Targaryen e, em seguida, aos de seus irmãos Velaryon.
Lá, após dar um beijo no adormecido Joffrey, chorou até não poder mais enquanto dava aquele doloroso adeus a Jacaerys e Lucerys. Em sua cabeça jovem, era como se aquela fosse a última vez que os veria. Podia ser uma menina verde como a grama do verão, mas não era boba. Passara anos tendo Daemon como seu padrasto para entender suficientemente bem que, assim que o rei Viserys I fosse reivindicado pelo Estranho, uma guerra se sucederia, por mais que sua doce mãe e a maldita rainha fingissem que não.
— Cuide-se bem, caro irmão — disse a Lucerys quando o abraçara forte. — Não se meta em problemas, ouviu bem? Não sei o que faria se te perdesse.
— Também sentirei saudades suas, irmã — falou em meio a um sorriso, a voz abafada pelo aperto de . — Se não pretende apressar o meu fim, seria bom me soltar. Estou ficando sem ar.
— Ah, deuses! Me desculpa, Luke. Eu… — Os olhos dela lacrimejaram outra vez. — Não acredito que ficarei longe de vocês.
— E eu não acredito que se casará com Aemond. — Jacaerys fez uma careta que mesclava tristeza e preocupação. — E que não está desgostando disso tanto quanto deveria.
— E você acha que eu acredito, irmão? — Forçou uma risadinha. — Venham cá! — Puxou os dois para um abraço final. — Cuidem um do outro, está bem? E de Joffrey. Nossa mãe precisa de vocês e, ainda que distante, eu também preciso.
— É por isso mesmo que estou preocupado com essa coisa do casamento — Jace murmurou.
— Deixem a preocupação de lado, meus queridos. Sim, vou permanecer em território inimigo, isso é um fato. Mas também não quer dizer nada. — Ela hesitou por um instante, pensando se deveria ir tão longe em sua fala. No fim, concluiu que Jacaerys e Lucerys mereciam o alerta. — Eu preciso implorar uma coisa a vocês: se, no futuro, os Verdes me usarem como refém para alguma chantagem, não aceitem. Não deixem mamãe aceitar. Jamais.
… — eles disseram juntos, sintonizados na repreensão.
— Não me venham com essa, eu sou a mais velha aqui — reclamou, soando quase infantil. — Se chegarem a me usar para mexer com a cabeça de vocês, não permitam!
— Mas o Aemond… — Ela fez sinal negativo com a mão, fazendo com que Lucerys fechasse a boca, apreensivo.
— Aemond não vai me fazer mal. Os deuses sabem que ele faria mal à minha família inteira se tivesse a chance, sim — admitiu a contragosto. — Mas vocês não o conhecem como eu. O que ele tem comigo é… diferente, não sei. Ele jamais me machucaria fisicamente.
Luke estava incerto quanto àquilo e Jace, um pouco mais velho, não engoliu sequer uma palavra. Nem tinha absoluta certeza daquilo, porém acreditava que era verdade. Tinha que acreditar. Ao menos era isso que o príncipe a fazia pensar.
— Eu não sei, … — Jacaerys suspirou.
— Se ele me fizer mal, eu posso muito bem arrancar o olho que lhe restou — disse a eles de modo divertido, arrancando risadinhas dos dois. — Viu só? Não é tão ruim.
Ela sorriu para os irmãos mais novos. E caso seja, posso muito bem acabar comigo, com ele e com tudo o que for preciso, pensou ferozmente. Eu sou da Casa Velaryon. O Antigo, O Verdadeiro, O Valente. E valentia, de fato, era algo que não faltava à princesa.






Continua...


Nota da autora: Oiie! Fazia muito tempo que eu tinha escrito esse capítulo. Tipo, meses e tal… e, cara, foi mt bom revisitar hahaah gosto desse feeling da (literalmente) vendo no meio do que ela tá metida, ainda mais agora que é oficialmente noiva do cara que mais odeia o irmão que ela mais ama. tá complexo pra bichinha, coitada kkkkkkkkk mas eu confio nela pra lidar (ou tentar), e vocês?


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Tia Fran ama vcs <3

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