Codificada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 08/04/2025.— Eu não acredito que você vai fazer isso comigo, Pontas! — exclamei, furioso. — Depois de dois anos com você e sua família, você está me pedindo para não passar o feriado de natal no lugar onde eu moro?! — Praticamente rugi aquelas palavras, indignado.
— Almofadinhas, eu não queria que fosse assim — James começou, parecendo realmente preocupado. — Mas... — os seus olhos brilharam —, Lily aceitou passar o natal lá em casa. Dá pra acreditar? Depois de todos esses anos, ela finalmen...
— O ASSUNTO NÃO É ESSE! — berrei, assustando alguns alunos que passavam por nós no caminho. — Que foi, hein?! — falei alto para um terceiranista que parou para nos encarar, mas logo saiu correndo.
— Olha, eu só queria ter um pouco de privacidade com minha namorada — ele falou, parecendo não acreditar nas próprias palavras. — Achei que você mesmo pudesse ficar meio desconfortável...
— Só não quer que eu esteja no seu quarto à noite caso ela faça alguma fuga noturna para lá, né? — bufei, cruzando os braços.
— Exatamente! Que bom que você me entende! — James sorriu abertamente.
— NÃO ENTENDO PORRA NENHUMA! Como você pode trocar seu melhor amigo por uma... por uma... por uma garota?
— Não é uma garota, é a Lily! E achei que você gostasse dela, Almofadinhas.
— E eu gosto! Mas não gosto de passar o Natal em Hogwarts sozinho enquanto você fica pegando sua namorada!
— Quando você coloca assim, quase me comove. — Pontas então suspirou, desfazendo o sorriso travesso. — Olha, eu sei que não é como você esperava, mas entenda o meu lado também! Eu to há 7 anos atrás dessa garota e ela finalmente tá comigo! Caramba, Sirius, quantas vezes você não me viu irritado só porque eu não conseguia a atenção dela?
— Enquanto isso, você sempre teve a minha. — Bufei.
— Ora, Almofadinhas, não me diga que tá com ciúmes! — Potter começou a rir.
— Estou com ciúmes da ceia de natal que ela vai receber. E do tempo que vai passar com o meu melhor amigo.
— Que vai continuar sendo seu melhor amigo quando voltarmos para Hogwarts.
— Quando não estiver ocupado com ela — repliquei.
— Ora, Sirius, ninguém prega uma peça como você. Não daria pra fazer isso com Lily, né?
— Certo... — Comecei a me acalmar um pouco.
— E, além disso, você não disse que recebeu uma carta de Andrômeda te convidando para o Natal? Não parece que vai ter um grande evento ou algo assim?
— Pontas, como você ousa, depois de me expulsar da sua casa, insinuar que eu passe o natal com as pessoas que eu mais odeio no mundo? — indaguei, voltando a ficar nervoso, e dando um soco em seu ombro.
— Era só uma sugestão! Você não disse que ela implorou para que você fosse?
— Só porque eu sou o único parente incrível daquela família.
— Mas pense nisso como uma oportunidade de importuná-los!
— Ou de cometer suicídio — repliquei.
— Vamos combinar assim. Se estiver um inferno na casa...
— O que com certeza vai estar — repliquei.
— Você me escreve e nós dois voltamos para Hogwarts mais cedo, combinado?
— Escrever a qualquer momento? — perguntei, sondando os termos daquele acordo.
— Dois dias. Tente ficar dois dias lá e, se for um inferno, despache Pulguento — ele falou, se referindo a minha coruja.
— E você volta imediatamente?
— Imediatamente.
— E se a sua resposta não chegar em dois dias, eu posso aparatar no meio do seu quarto para tirar de Lily qualquer insanidade que bateu nela quando decidiu namorar você?
— Combinadíssimo. Mas acho que isso faria ela odiar muito mais você do que eu.
— Acho que ela já não gosta muito de mim por causa do Ranhoso — repliquei, dando de ombros.
— Não é verdade. Ela gosta de você. E você sabe que ela parou de falar com o Seboso desde aquela vez quando ele a ofendeu e começou a ficar amiguinho dos comensais. — Os punhos de James se fecharam com força.
— Melhor decisão da vida.
— Mas, então… O que você acha? — Pontas falou, de repente nervoso.
Eu sabia que ele se preocupava comigo. Cacete, não se é melhor amigo de alguém há sete anos sem se importar com o outro. Na verdade, era melhor dizermos irmãos, depois que Fleamont e Euphemia Potter me adotaram como um filho. Eu sabia que ele não me pediria isso se não estivesse realmente querendo ficar com Evans. Eu sabia que ele faria o mesmo por mim, embora essa situação nunca fosse acontecer já que, diferente de James, eu não conseguia ficar com alguém por mais de uma semana. A sorte é que a escola tinha tantas garotas quanto semanas.
Eu respirei fundo. Sabia o que era certo.
— Tá bem. Mas — acrescentei rapidamente quando o vi comemorando —, você tá me devendo essa. E to falando sério sobre aparatar no seu quarto. Espero que aproveite o seu natal de três dias porque não vai passar disso.
— Obrigada, Almofadinhas! — ele disse, me abraçando.
— Calma aí, não precisa ficar tão emocionado!
— E eu sei que to te devendo essa. Posso começar te ajudando em como estragar o Natal Black. Acho que sua presença já é um bom começo. — Ele riu, passando a mão e arrepiando os cabelos, sempre exibido.
Naquele momento, uma garota de cabelos ruivos passou perto de nós e foi em direção à Torre da Grifinória, deixando para trás um leve perfume floral.
De repente, tive um estalo.
— Eu tenho a ideia perfeita — falei para James, que me acompanhou em um sorriso travesso.
P.O.V.
No meu primeiro ano em Hogwarts, depois de ser colocada na Grifinória, eu me senti bem deslocada, pois a única outra menina da casa do meu ano, Lily Evans, já tinha um melhor amigo na Sonserina e só andava com ele. A salvação da minha vida foi quando conheci Dana Smith, uma grifinória um ano mais velha. E minha melhor amiga. Também acabei amiga das outras meninas mais velhas. Não é que eu não falava com Lily, afinal, ela meio que falava com todo mundo, mas não éramos tão amigas. E, quando ela se afastou do melhor amigo e Dana se formou em Hogwarts, uma suposta chance de começar a nossa amizade, Lily começou a namorar James Potter, um dos garotos problemas da escola. E, assim, eu acabei meio isolada — de novo.
Eu continuava falando com Dana por cartas e eu conhecia algumas pessoas do meu ano, mas não sei se poderia considerar ninguém ali meu amigo.
E para melhorar a situação, meu único parente vivo, meu pai, era um trouxa que se casara novamente e tinha uma nova família, então tudo que ele não queria era uma filha anormal por perto. Minha mãe, também trouxa, havia falecido quando eu tinha dois anos e meu pai se casou pela segunda vez quando eu tinha cinco. Mas, depois que eu, ele e minha madrasta descobrimos a verdade quando um professor de Hogwarts nos visitou e me disse que eu era bruxa, eles nunca mais falaram comigo. Pareciam me achar uma ameaça para seus filhos lindos e completamente normais. Eu voltava para casa apenas nas férias e eles sempre conseguiam me largar com algum vizinho.
Por isso, eu sempre passava as férias de Natal na casa de Dana. Mas, agora que ela estava viajando para os Estados Unidos, pesquisando sobre as profissões bruxas no país, não podia passar o Natal lá. Então, estaria completamente sozinha em Hogwarts naquele ano.
Ou pelo menos eu pensava.
— EI! ! — Ouvi alguém gritar quando eu estava quase chegando na sala comunal e, ao me virar, encontrei a pessoa que menos esperava: Sirius Black.
Observei enquanto ele se aproximava, parecendo muito tranquilo.
— O que foi, Black? — perguntei, desconfiada.
Quando estávamos no quarto ano, ele me chamou para ir a Hogsmeade com ele, mas, uma semana e meia depois, já estava ficando com Emily Bloom, uma lufana com uma risadinha irritante. E, logo depois, Pamela Abbott, do quinto ano. E assim por diante. Porque esse era Sirius Black.
— Eu queria saber: você vai passar o Natal em Hogwarts, certo? Vi você se inscrever com a McGonagall.
— Então é óbvio que eu vou — retruquei, irritada. O que ele queria?
— Calma, lindinha. Só estou confirmando. — E ele sorriu quando revirei os olhos diante do apelido. Se eu fosse chutar, só naquela semana, ele teria chamado três garotas diferentes assim.
— É isso? — questionei, impaciente, como se ele fosse um lembrete de que ia passar o Natal sozinha.
— Não, espera! É que... — Ele abriu um sorriso galanteador. — Eu gostaria de saber se você quer passar o Natal comigo e com minha família. — E piscou para mim, como se, jogando um pouco de charme, ele pudesse ter tudo na mão.
Na verdade, era o que sempre acontecia. Mas eu não cedi aos seus encantos. Não completamente.
— Por quê? — questionei, agora menos irritada e mais confusa.
— Porque... porque... — O sorriso vacilou por um momento, mas ele compensou com um duas vezes maior quando pensou em uma resposta. — Porque você é a garota mais legal da escola.
— Tão legal que quase não tem amigos?
— Ora, eu tenho três e me acho o cara mais legal do mundo.
— Isso está bem óbvio. Mas não colou. Quais os seus verdadeiros motivos, Black?
— Eu... eu... — Ele vacilou de novo, então suspirou e falou. — Olha, eu normalmente passo o natal com Potter, mas ele vai estar... han... ocupado esse ano e, bom, digamos que minha família não reconhece o filho maravilhoso que eles têm.
— Então por que vai passar o Natal com eles e não aqui?
— Porque uma prima minha pediu para eu ir, a única outra familiar decente, entende? Eu quero ajudá-la, porque ela ainda é obrigada a ir. Mas eu não queria passar por isso sozinho e, bom, o tempo que passamos juntos foi realmente divertido…
— O nosso tempo juntos foi há três anos atrás. Isso se a gente considerar isso um tempo juntos — repliquei.
— E mesmo assim nunca mais eu me esqueci. — Ele sorriu. — De verdade, . Eu preciso de um amigo, e diria que você é a mais próxima que eu teria disso nesse cenário.
Ele parecia tão sincero que meu coração acelerou um pouco. Não, , mantenha o foco!
— Por que eu tenho a impressão de que você está me chamando por ser a única idiota que vai passar o Natal em Hogwarts?
— Não seja boba. Tiffany Bones também vai e não é ela que eu estou chamando.
Aquilo mexeu comigo. Tiffany era uma sextanista da Corvinal, considerada a garota mais bonita da escola, e eu sabia que ela já tinha saído com Black mais de uma vez. Ela era louquinha por ele. Sabia que, mesmo que ela não fosse passar o Natal em Hogwarts, se ele pedisse, era bem capaz de largar todos os seus planos para acompanhá-lo.
E, mesmo assim, ele estava me chamando. O garoto mais popular da escola estava me preferindo.
Tive que conter o sorriso bobo que surgiu, pois o meu ego estava bem inflado no momento.
— Além disso — ele continuou —, eu te garanto uma caneca de chocolate quente com mel todo dia?
Me sobressaltei, meio surpresa.
— Como você sabe que eu gosto disso?
— Foi seu pedido no nosso encontro. E você continua pedindo toda vez que vai no Três Vassouras.
Aquele comentário me amoleceu. Quantas vezes ele teria me observado com Dana em Hogsmeade?
Respirei fundo, tentando disfarçar o embaraço.
— Eu vou pensar no seu caso.
Ele pareceu aliviado.
— Me dá a resposta até amanhã? — ele pediu, novamente jogando charme.
Revirei os olhos.
— Se ela for positiva, você vai recebê-la.
E saí, antes que ele pudesse me ver agindo como uma completa idiota.
O meu plano estava quase certo. Eu vi que estava corada quando a deixei e sabia que não custaria muito para ela aceitar. E o melhor era que eu mal havia me esforçado.
No dia seguinte, me despedi de Aluado, Pontas e Rabicho cedo, já que todos foram para suas casas. Sem dúvidas, Potter era o mais feliz, que ficava olhando para Evans a cada três segundos, como se não pudesse imaginar a sua sorte.
Antes de partir, nos abraçamos e desejamos feliz natal. Cumprimentei Lily também e, pouco antes de saírem da sala comunal, Pontas se virou e gritou para mim:
— Boa sorte com tudo, Almofadinhas!
— Espero que tenha mudado o endereço do meu presente, Potter! — gritei de volta, zombando dele.
A manhã se arrastou enquanto eu arrumava meu malão, fazendo hora e esperando . Tive que reorganizar três vezes, acrescentando algumas bombinhas de bosta extras que poderiam ser bem úteis. Minha confiança começou a vacilar.
Depois do almoço, percebi que não podia mais adiar. não vinha. E quanto mais tarde eu saísse de Hogwarts, maior seria a chance de eu abandonar Drômeda e ir para a casa dos Potter.
Desci, então, com minhas coisas e já estava saindo do terreno da escola, quando escutei.
— Ei! Não vai me esperar?
Virei para trás, completamente surpreso ao encontrar ali. Ela vinha caminhando lentamente com um malão e um gato preto. Usava roupas de trouxa e estava com os cabelos ruivos soltos. Perfeita para o plano.
— Achei que tinha levado um bolo — falei, sorrindo, quando ela se aproximou, tentando disfarçar o meu alívio.
— E você quase levou — ela disse sorrindo e dando de ombros. — Mas não se engane: eu vim só pelo chocolate quente com mel.
— Então, vamos andando — falei, antes que ela mudasse de ideia.
Seguimos até Hogsmeade sem nos falar muito. As ruas estavam cheias e decoradas por ser véspera de natal.
— Ah! — ela exclamou, parando de repente. — Meu Deus, acabei de lembrar de algo muito importante. Me dá só um segundo?
E antes que eu respondesse, saiu correndo rua acima.
— Garotas — resmunguei. Ela poderia ter sido mais inconveniente ou vaga do que aquilo? Acho que não.
Aproveitando que estava por ali, entrei na Dedos de Mel e dei uma olhada geral. Aquilo estava me dando fome.
Peguei um sapo de chocolate e, quando estava quase pagando, passei por uma caixa de bombons. Refleti um pouco e acabei pegando para comprar. Se ia arrastar aquela menina pro meu plano, pareceria menos ruim acompanhado de um presente.
Comprei as coisas e guardei o bombom no malão bem rápido antes de sair. Pulguento não parava de piar, então o soltei para voar durante o caminho.
Mal saí da loja, quando voltou correndo, carregando alguns pacotes extras.
— Desculpa — ela falou, ainda ofegante. — Lembrei que não tinha comprado nada de Natal para Dana, me enrolei toda estudando para os N.I.E.M.s. Pera... você tá comendo? Não acabou de almoçar?
— E daí? — comentei, mordendo mais um pedaço do sapo de chocolate.
Ela encarou e depois deu de ombros.
— Podia pelo menos dividir.
Andamos até o final do vilarejo, onde já tinha pouca gente e parei, fazendo-a parar atrás.
— Acho que aqui é um bom lugar — falei.
— Bom lugar pra quê? — Mas, sem respondê-la, apenas ergui o braço com a varinha.
Imediatamente, um ônibus roxo de três andares se materializou e freou bruscamente na nossa frente. deu um pulo, mas eu já estava acostumado.
Um garoto de uns 20 anos pulou do transporte e começou a falar, entediado, olhando pro teto, a fala decorada:
— Bem vindos ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxos perdidas. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e podemos levá-lo aonde quiser. Meu nome é Barnafred Dumpsin e serei seu condutor essa noite.
— Abre logo espaço, Barney — eu disse.
Ele parou de encarar o teto e me olhou surpreso.
— Quem diria! Sirius Black! Como vai?
— Bem, bem. E você?
— Na mesma de sempre. Então, para onde dessa vez?
— Largo Grimmauld, Londres. — Não pude evitar o desgosto ao falar isso. — Quanto fica?
— 17 sicles cada, mas pagando 20, vocês ganham um chocolate quente.
Paguei a viagem de nós dois sem chocolate quente, pois tinha experiência própria para saber como aquilo derramava fácil. ficou olhando tudo, encantada, e com um olhar desejoso para o chocolate.
— Nunca andou de Nôitibus? — Barney indagou.
— Nunca... — ela respondeu, meio aérea.
— Podem ficar com a cama mais da frente, enjoa menos. Temos uma parada na frente e depois deixamos vocês em Londres. PODE MANDAR VER, ERNESTO!
O motorista começou a andar e ainda não havia sentado, fazendo-a tombar para frente. Segurei-a antes que desse de cara no chão.
— Muito bem, vamos aproveitar a viagem para eu te esclarecer certas coisas — comecei. — Pra começar, os meus familiares. Mãe: Walburga. Pai: Orion. Irmão: você tem o desprazer de conhecer o Regulus. Tia: Druella. Tio: Cygnus. Primas: Bellatrix, Andrômeda e Narcisa. A única que vale a pena é Drômeda. Talvez tio Alphard também esteja lá. Ele até que gosta de mim, mesmo mamãe provavelmente tendo me deserdado. Rodolpho Lestrange e Lucius Malfoy podem estar lá também.
Olhei para para ver se ela estava me acompanhando, mas seu olhar estava muito fixo no fundo da cabine. Lá, uma bruxa vomitava em um balde.
— Você por acaso não enjoa fácil não, né?
O seu rosto pálido e a falta de resposta entregaram tudo.
— Ok, continuando. Alguma coisa está acontecendo para todos se reunirem na casa. Eu chutaria algo relacionado às primas. Temos um elfo doméstico, Monstro, que ama muito mamãe. Ah, provavelmente devem te xingar de vários nomes porque você está comigo e tem a enorme chance de sermos expulsos da casa antes de sequer entrarmos lá. Nada mau, certo?
O ônibus parou e a velha que estava vomitando foi praticamente arrastada por Barney para fora do veículo. Então, Ernesto novamente deu a partida, agora em direção a Londres.
— Também é bom você saber que mamãe é meio louca com isso de puro sangue. A família no geral. Mas tem uns que não se importam, como Drômeda, mesmo ela tendo sido da Sonserina, um grande erro. Se tudo der certo, poderemos ficar de fora dos momentos “família". Podemos até passear pelo parque se você topar.
O Nôitibus então parou em frente ao Largo Grimmauld e eu respirei fundo. Há dois anos que eu não pisava ali e era assim que eu preferia permanecer. Esperava que fosse a última vez definitiva.
foi meio arrastada por Barney para fora do transporte e, em terra firme, não se mostrou muito diferente do que estava antes.
— Nos vemos por aí, Barney — me despedi.
— Tchau, Sirius. Tchau... qual o seu nome mesmo?
Mas não respondeu e logo o Nôitibus Andante seguiu seu rumo.
— Bem-vinda à mui antiga residência dos Black — apresentei, completamente sarcástico e rancoroso. — Vamos entrar?
Toquei a campainha e a porta se abriu, revelando Monstro. O elfo rabugento ficou com os olhos arregalados quando me encarou e começou a guinchar, com uma raiva que eu nunca tinha visto antes.
— Traidor de sangue! O traidor de sangue está na casa de minha senhora! O traidor de sangue não pode pisar aqui! Monstro não vai deixar!
— Sempre ótimo ver você também, Monstro — falei, chutando a criatura no caminho. veio atrás, parecendo completamente aérea.
— Monstro, o que está havendo? — Ouvi a voz da mãe vindo da sala de jantar. O elfo doméstico passou correndo em direção à sala, onde várias pessoas pareciam conversar.
— Minha senhora, o traidor de sangue está aqui. O traidor de Sangue. Monstro tentou impedi-lo, mas Sirius Black entrou na casa!
À menção de meu nome, adentrei a sala de jantar, sorrindo falsamente para todos. Realmente, a família toda estava ali reunida. E todos os olhos estavam voltados para mim.
— Olá, irmãozinho — me dirigi a Regulus, carregando cada palavra de falso prazer. — Acabei decidindo te acompanhar no Natal. Não é incrível?
Aquilo foi a gota d'água para mamãe.
— COMO OUSA? SEU TRAIDOR DO PRÓPRIO SANGUE, TRAIDOR DA PRÓPRIA FAMÍLIA, COMO OUSA PISAR NESSA CASA SEM CONVITE?!
— Ah, por maior surpresa que pareça, eu não vim por estar morrendo de saudades. Na verdade, eu fui convidado.
Um gritinho de Drômeda a entregou.
— Filha, o que você fez? — Tia Druella ralhou, beliscando seu braço.
— Eu... eu só achei... que todos deveriam estar presentes. É Natal e... ai... temos boas notícias — ela choramingou. — Não seria bom ele ter um bom exemplo de como ele deveria estar se portando? — Ela tentou inventar uma desculpa, sem sucesso.
— Basta, tudo será resolvido. Ele irá se retirar agora — Walburga falou.
— Ora, Burguie — tio Alphard, irmão de mamãe, que sempre gostou de mim, comentou. — Não é pra tanto. O garoto já veio aqui. E ainda trouxe visitas. Não vamos estragar as coisas para Ciça justo no natal.
— Não são visitas — Regulus ralhou. — Ele trouxe uma sujeitinha sangue ruim!
E aí as coisas realmente desandaram.
— UMA SANGUE RUIM PISANDO NA CASA BLACK?! — mamãe trovejou e meu pai teve que segurá-la para não avançar para cima de , que continuava imóvel. Agora, a maioria a encarava com nojo.
— Ora, creio que não fiz as apresentações. Família, essa é , uma amiga de Hogwarts que eu trouxe para o Natal. — E lhe dei um tapinha nas costas, tentando apoiá-la a avançar.
Mas, naquele momento, ela vomitou tudo o que estava guardando desde o Nôitibus Andante.
Todos gritaram. Tia Druella desmaiou. Monstro saiu correndo para limpar o chão. Mamãe berrava insultos e palavrões. Eu apenas sorri.
Tudo estava correndo muito, mas muito melhor do que eu havia planejado.
P.O.V.
— Pronto, pronto, melhor? — Sirius perguntou.
Logo depois da minha cena, Sirius nos tirou do meio da confusão e me trouxe ao banheiro da casa para eu poder me limpar e me recuperar.
Eu estava completamente envergonhada. Tudo bem que todos ali tinham me tratado muito mal, mas certamente essa não era a impressão que eu queria causar. Especialmente na frente de Sirius. Mas ele não pareceu nem um pouco irritado ou decepcionado. Pelo contrário, ele parecia elétrico.
— Me desculpa — eu disse. — De novo...
— Ah, não se preocupe, eles mereceram — ele falou, afastando algo invisível com as mãos. — O enjoo passou? Quero te apresentar a casa, vamos passar pelo meu quarto e lá eu não quero vômitos, embora seja provável que tenham feito coisas muito piores — ele disse, pensativo.
— Eu já estou bem. — Fisicamente, era verdade. Mas eu realmente queria nunca mais encarar aquelas pessoas lá embaixo.
— Então, vamos!
Não tinha ideia de em que andar estávamos. Abstraí tudo depois da situação constrangedora.
— Bom, nesse andar, temos um banheiro e três quartos. O de Regulus. — Ele apontou para uma porta fechada com um aviso muito metido a besta escrito “Não entre sem a expressa permissão de Regulus Arturo Black" e nós dois reviramos os olhos. — Um quarto de visitas. — Ele apontou para outra porta fechada sem avisos. — Não entre caso não queira ter que levar insultos do quadro do meu tataravô. E — ele apontou dramaticamente para a última porta com uma plaquinha escrita “Sirius" — esse é o meu quarto.
Ele abriu a porta devagar, como se esperasse algo terrível, mas logo depois suspirou aliviado e abriu um sorriso orgulhoso, me deixando entrar.
Eu não sei o que eu deveria esperar. Certamente, não era isso, mas depois de ver o quarto, não pude imaginar nada diferente. Era completamente decorado com as cores da Grifinória. Todas as paredes tinham fotos de motos trouxas e garotas de biquíni trouxas. Eu não sabia o que comentar.
— Então o Feitiço Adesivo Permanente funciona mesmo. — Ele sorriu, orgulhoso. — E aí? — falou, se virando para mim. — O que achou?
— Eu realmente tenho que opinar? — disse, sem saber exatamente como descrever aquilo.
— Ah, qual é, , falar o que pensa não vai te matar. — Ele pensou por um segundo. — Só se você se dirigir a minha mãe. Mas aqui é só pra mim.
— Bom — eu tentei começar —, é bem... você.
— Muito obrigada. — Ele sorriu e piscou, como se eu estivesse elogiando ele.
— Eu não disse que isso era necessariamente bom.
Antes que ele pudesse falar algo, a porta se abriu e revelou uma mulher trazendo nossos malões, meu gato Eclipse e a gaiola da coruja de Sirius. Parecia ter uns 20 e poucos anos, tinha cabelos castanhos claros e enrolados, pele pálida e olhos escuros. Tinha o orgulho dos Black em sua postura, mas seus olhos eram gentis. Reconheci-a lá de baixo. Era a prima favorita de Sirius, Andrômeda.
— Olá, tudo bem? Como está se sentindo? — Ela foi gentil, mas parecia receosa de falar comigo, como se eu pudesse vomitar nela.
— Estou ótima, muito obrigada. — Eu sorri e ela relaxou um pouco.
— Então, Drômeda, seremos expulsos que horas? — Sirius perguntou com muita casualidade.
— Por incrível que pareça, tia Walburga deixou vocês ficarem. Ah, claro, a menina não pode ficar se misturando com a gente e você só será bem vindo no jantar de Natal.
— Passo — ele disse, se jogando na cama empoeirada. — Monstro realmente não toca nesse quarto desde que eu saí, não é?
Com um gesto da varinha, ele retirou boa parte da poeira. Sirius podia ser um metido, orgulhoso, irritante e bobo, mas não podia negar que ele era muito inteligente e talentoso. Junto com James Potter, eram os melhores alunos da escola.
— Mamãe encarou muito melhor do que eu achei — ele comentou, como se estivesse discutindo o tempo. — Quanto tempo ela ficou gritando?
— Cinco minutos — Andrômeda falou, no mesmo tom leviano. — Depois que minha mãe voltou a si do desmaio, tia Walburga parou de gritar para dar ordens a Monstro e, antes que voltasse a gritar, ela comentou subitamente que Narcisa não merecia uma grande cena em uma noite tão especial. Sabe, ela vai anunciar o noivado, todos já sabem, mas fingem muito mal que não. Enfim, aí ela decidiu que, desde que vocês não se metessem no caminho, tudo estaria bem.
— Tô achando isso muito diferente do que achei que iria acontecer — Sirius replicou, pensativo.
— Olha — sua prima continuou, agora quase sussurrando —, eu tenho a teoria de que seu tio Alphard lançou a Maldição Imperius nela.
Meu queixo caiu.
— Ah, claro! — ele comentou, como se seu tio não estivesse cometendo um ato que poderia levá-lo a Azkaban. — Ela nunca iria ceder. Ele deve ter feito a Maldição de modo imperceptível e colocando na cabeça dela de que isso era o melhor para a família Black. Só ele para me manter aqui dentro mesmo.
— Inclusive, nem te agradeci! — Drômeda disse, ainda de seu jeito elegante e superior, mas parecendo genuinamente feliz. — Obrigada por vir. A cada ano, esses jantares estão sendo cada vez mais sufocantes. Só você poderia me salvar. O almoço estava com uma sentença de morte até vocês aparecerem
— Você está me devendo essa, prima — ele retrucou. — Bom, vou na cozinha perturbar Monstro e ver o que temos de sobra. Por sorte, consigo um pedaço de bolo junto com ele esperneando.
E saiu, se esquecendo de que tinha alguém completamente perdida naquela casa. Me senti extremamente desconfortável naquele quarto que não era meu, a casa que conhecia e onde eu não era nem um pouco bem vinda.
— Então, você aceitou vir com Sirius para essa loucura — Drômeda começou, educada.
— Sim, ainda não sei como ele me convenceu. Acho que quis tentar algo novo que não fosse passar o Natal em Hogwarts solitária. — Soltei a verdade antes que pudesse me conter. Desde quando eu era uma tagarela sentimental?
— Faz sentido. , certo? Então, vocês estão juntos há quanto tempo?
Demorei alguns segundos para processar o que ela queria dizer e não pude conter o riso.
— Sirius e eu? Juntos? Ah, não — respondi, ainda rindo. — Quer dizer, saímos uma vez há 3 anos atrás, mas nunca deu em nada. Eu só vim porque ele me ofereceu chocolate quente com mel. Na verdade, eu nem sei porque ele me convidou.
Porque ele preferia você, uma voz disse na minha cabeça, você quer que ele te queira e te prefira. Você nunca superou os encantos de Sirius Black.
Cala a boca, respondi à voz insistente.
Andrômeda me encarava muito surpresa.
— Nossa, para ele te trazer aqui... Achei que... — Algo passou por sua mente e ela fechou a cara, mas eu não soube o porquê. — Bom, você deve querer arrumar suas coisas. Vou ver se consigo trazer um colchão extra para o quarto para você ficar mais à vontade. Sinta-se em casa. — Ela já estava saindo quando retornou. — Mas não tão em casa. Eu não sei se a Maldição Imperius é tão forte a ponto de te salvar de alguns feitiços se te encontrarem perambulando pela casa.
E logo depois saiu, me deixando sozinha naquele quarto. Fiquei levemente desnorteada, andando até a janela e vendo a vista da rua e dos prédios trouxas. Não parecia ser um local muito comum para moradias bruxas. Depois, me sentei um pouco na cama, ainda um pouco fraca depois de tudo que havia acontecido. Eclipse miava e eu o peguei no colo, fazendo carinho nele.
Naquele momento, Sirius voltou para o quarto.
— Bolo de nozes, o meu preferido, até que não ta sendo um pesadelo completo isso aqui. — Ele segurava uma fatia generosa com uma mão e na outra… — E aqui está minha primeira promessa.
Ele parou com o chocolate quente na mão e me olhou sentada na cama com Eclipse.
— E quem deixou você colocar um gato na minha cama?! — ele ralhou, quase me jogando para fora.
— Eu. Eu deixei. Eu vou dormir aqui também. E depois de tudo que eu estou ouvindo, acho que eu mereço, certo?
— Você vomitou no tapete preferido do meu pai.
— Eles já tavam me maltratando antes. — Mudei de assunto rapidamente.
— Té, não importa — ele disse, se sentando do outro lado. — Já que, quanto menos tempo passarmos aqui, melhor, pensei em darmos uma saída.
— Para onde? — questionei, enquanto pegava o chocolate quente da mão dele. O cheiro de mel me relaxou. Delícia.
Ele sorriu largamente.
— Vamos para o parque.
— ... e aí quando o Filch finalmente percebeu, já estávamos fora da sala e ele estava lá preso com todos os diabretes — terminei a história.
Ela tentou inutilmente segurar a risada, e eu sorri, vitorioso. Custou três histórias de pegadinhas para fazê-la deixar a moral de lado e apreciar os feitos dos marotos.
— Isso foi cruel — ela repreendeu, ainda rindo.
— É, mas o Filch é um pé no saco, ele mereceu.
— Certamente. — E ela riu mais.
Estávamos andando por um parque que ficava a uns 10 minutos da casa. Quando ainda morava ali, sempre que possível, eu vinha para o parque para ficar longe de todos os meus parentes insuportáveis. As árvores estavam agora cobertas de neve e o lago congelado me despertou diversas memórias de infância.
ficava soltando fumaça pela boca, rindo estupidamente disso depois. Era extremamente irritante e adorável ao mesmo tempo. Não eram nem cinco horas e já estava escurecendo. Eclipse, seu gato, ficava passando entre as nossas pernas.
— Então, Black... — ela começou a puxar um assunto.
— Sirius — a interrompi. — Pode me chamar de Sirius.
Ela me encarou por um tempo, mas depois sorriu.
— Tudo bem. Então, pode me chamar de . Ou .
— Ok, — eu disse, percebendo que gostava de tratá-la com maior intimidade. Seria estranho tratá-la apenas como Hayles por todo o feriado.
— Então... Sirius — ela enfatizou o meu nome, sorrindo. — O que o fez sair de casa?
Eu a encarei e levantei uma sobrancelha. Ela tinha visto tudo aquilo e ainda não sabia?
— Ok, talvez seja um pouco óbvio — ela continuou, envergonhada. — Mas eu queria ouvir sua versão.
— Não há muito o que ouvir — comentei. — Meus parentes são insuportáveis e obcecados pela pureza de sangue, o que eu acho ridículo já que muitos bruxos brilhantes não tem necessariamente sangue bruxo.
— Como Lily Evans — ela acrescentou, pensativa.
— Como você. — Antes que eu pudesse me segurar, soltei aquelas palavras. Ela se virou para mim, impressionada, e corou. — Mas, enfim — continuei rapidamente —, eles não apoiavam muito as minhas amizades e, caso não tenha reparado, são todos sonserinos. Imagina a vergonha de ter um grifinório na família.
— Acho que são motivos válidos. — Ela riu.
— E você? Por que não passa o natal com sua família?
Pela reação dela, achei que tinha feito a pergunta errada. Ela pareceu refletir se devia responder ou não. Chutou algumas folhas no chão enquanto caminhava e eu entendi que ela não responderia. O silêncio estava meio constrangedor.
— Meu pai e minha madrasta preferem não misturar os filhos normais com a filha aberração — ela comentou do nada.
Eu olhei para ela, entendendo o que ela sentia. Sorri e tentei animá-la.
— Então somos os dois esquisitos da família que os outros parentes tentam fingir que não existem!
— Isso era para me fazer sentir melhor? — ela indagou, com uma sobrancelha levantada.
— Pelo menos seu pai não deve precisar de uma maldição imperdoável só para te deixar dormir sob o mesmo teto.
— Se for por mais de uma noite, é bem capaz dele precisar. — Ela sorriu meio amarelo.
Dei de ombros.
— Eles que estão perdendo a parente mais legal. — Percebi que era uma batalha meio perdida. — Então... o que você pretende fazer depois que acabar esse ano?
Seus olhos ganharam um pouco mais de brilho.
— Bom, eu já sou maior de idade no mundo bruxo, mas meu pai não entende e acha que pareceria descaso me largar por aí com dezessete anos. Como se ele já não fizesse isso. — Ela suspirou e continuou. — Enfim, combinamos que, assim que eu fizesse 18 anos, ele iria me deixar a poupança que eu tenho no meu nome. Então, vou reverter esse dinheiro trouxa para o nosso dinheiro e, bom, seria interessante conseguir uma casa. — Ela riu. — E depois, quem sabe, entrar no Ministério no Departamento de Cooperação Internacional de Magia. Praticamente uma diplomata bruxa! Seria legal, não? E eu já sei falar francês e alemão também, mas ainda tenho um longo caminho de línguas para aprender. Quero muito aprender sereiano um dia! — No final, tive que me esforçar para acompanhar porque ela estava muito empolgada e falando rápido.
— Parece um ótimo plano. — Eu sorri pra ela, e ela pareceu voltar a si.
— Ah... e você? — Ela parecia levemente constrangida por ter falado tanto de si.
— Pra ser bem sincero? Eu não tenho a menor ideia.
Ela franziu a sobrancelha, confusa.
— Como assim?
— Não sei o que vou fazer. — Dei de ombros, simplesmente.
— Você não quer trabalhar no Ministério? Ser um auror? Você é tão talentoso, achei que você... — ela corou ao perceber o quanto estava falando — ... ia fazer alguma dessas carreiras que exigem isso — ela completou, baixinho.
— Bom, agradeço o elogio, realmente, eu sou demais, as pessoas esperam grandes feitos meus — falei, e ela deixou de ficar constrangida, revirando os olhos. — Mas esse tipo de trabalho envolve muitas regras e disciplina e, bem: eu não gosto desse tipo de coisa. Ser um auror seria legal se eles não colocassem tantas provas no caminho e só pulassem pra parte de combater a arte das trevas! Por que eles têm que colocar uma parte chata em tudo?
— Porque, Sirius, não são todos que balançam a varinha e facilmente têm tudo na mão como você. É preciso realizar testes e ver talento e — ela me olhou demoradamente, sarcástica — disciplina.
— E aí eles me perderam. Mas eu ainda sou novo. Tenho tempo para decidir o que farei. Na pior das hipóteses, eu consigo alguns N.I.E.M.s esse ano que me garantem algo para mais tarde.
— Você é tão convencido!
— Ora, eu só não minto para mim mesmo. — Sorri para ela, piscando.
Ela bufou e continuamos andando pelo lago em um silêncio confortável.
— Desculpa te arrastar pra essa loucura — eu soltei, de repente.
Ela parou e olhou pra mim, sorrindo em seguida.
— Tudo bem. Eu ia estar sozinha agora. Os insultos me fazem querer voltar, mas até que o parque valeu a pena. — E ela sorriu para mim.
— Queria poder dizer pra gente ficar mais, mas já ta escuro, é melhor voltar. — Tive que resistir à vontade de voltar quando todos já estivessem dormindo. Afinal, a ideia era ser um pé no saco deles, certo?
— Tá bom. — Ela suspirou. Se ela continuasse parecendo infeliz, iria arruinar o plano, porque eu não sabia se conseguiria forçá-la a ficar mais.
Cerca de quinze minutos depois, estávamos de volta à porta com a maçaneta de serpente. Tentei usar o feitiço que sempre usávamos para destrancar a porta e fiquei surpreso ao ver que meu pai não o alterara desde que eu saí de casa.
Quando íamos subir as escadas, encontramos Bellatrix descendo para o térreo.
— Vejam, se não é a ralé — ela disse. Era muito parecida com Drômeda, mas muito, muito mais cruel e repugnante.
— Achei que você não iria se dirigir a escória. Embora, eu preferisse não ser tão digno de ouvir sua voz. Sabe, ela pode ser bem irritante — eu disse, e Bella sorriu maldosamente.
— Pobre garoto Sirius, se achando tão espertinho. Mas seus dias estão contados. — Seus olhos brilharam de um jeito maligno. — O mundo logo será livre de sujeitos traidores de sangue e sangues ruins. Os dias de glória estão chegando.
Bellatrix sacou a varinha e, com um gesto, nos fez voar até a porta de entrada novamente, caindo bruscamente no chão, enquanto ela passava elegantemente até a sala de jantar, dando uma risadinha muito irritante.
— Você tá bem, ? — falei com ela.
— Tô... ai — ela falou, tentando se levantar. — Acho que só devo ficar com um roxo nas costas. Vem, Eclipse, vamos subir.
Levantei, a ajudei a se levantar e depois seguimos para o meu quarto. Alguém havia deixado um pacote ali que, quando toquei, se transformou em um colchão de solteiro, provavelmente deixado por Drômeda.
Ouvi algumas batidinhas na janela e vi Pulguento ali fora.
— Estava me perguntando quando você ia chegar — disse, passando a mão em suas penas malhadas. — Estava caçando?
Ele piou alegremente e eu tomei aquilo como um sim. Deixei a janela e a gaiola abertas, para ele ficar à vontade. O gato de se acomodou em uma almofada que ela trouxe.
— Acho que vou escrever uma carta para Dana — ela disse. — E mandar o seu presente também.
Peguei mais um dos sapos de chocolate que comprei para comer e fiquei jogado na cama, a observando escrever e pensando no que mais eu poderia fazer durante aquele feriado. Alguns minutos depois, ouvi algumas batinhas na porta. Saquei a varinha, desconfiado, e observou receosa, mas era apenas Drômeda.
— Sirius, eu queria ver se você vai descer para o jantar. Seu tio Alphard disse que sente sua falta.
— Não sei se me interessa.
— Você devia ir — falou, ainda escrevendo. — Sabe, pelo seu tio e Andrômeda.
— Só se você quiser, claro — Drômeda acrescentou, mas percebi que ela ansiava por isso.
Então, a minha próxima ideia surgiu.
— Então eu vou — falei, vendo Andrômeda sorrir. — Eu e .
A garota virou a cabeça bruscamente.
— Mas... mas sua mãe não convidou ela — minha prima disse, um pouco apreensiva e nada discreta.
— Não convidou. Um ultraje, não? — eu disse, fingindo irritação. — A minha própria convidada foi retirada do jantar. Mas eu quero que ela vá.
— Sirius, acho que pode dar problema... — começou a falar.
— Não importa. — “Porque é exatamente o que eu quero", completei mentalmente, me segurando para não dizer isso. — Você é minha convidada e eu quero você comigo.
Eu percebi que ela voltou a escrever para esconder o rosto corado. Andrômeda suspirou.
— Está bem. Então vocês precisam se arrumar. , você tem algum traje de festa?
Ela desviou os olhos da carta, confusa.
— Não serve o que eu estou vestindo? — Ela apontou para o moletom e a calça jeans. Drômeda balançou a cabeça.
— Ai, ai... venha comigo. E você — ela apontou para mim —, se arrume logo. Quero falar com você mais tarde.
— Tá bom, senhora — eu disse, levantando os braços em gesto de rendição.
Depois que elas saíram, fui tomar um banho e colocar as roupas que mamãe mais odiava. Pouco depois, Drômeda entrou no quarto.
— Aproveitei que todos já estão lá embaixo e deixei tomar banho no banheiro de cima — ela falou, logo depois se sentando na cama. — Eu sei o que você está fazendo. — Ela me olhou, séria.
— Descobriu das minhas bombas de bosta na cozinha? — brinquei, tentando fugir do assunto.
— Eu sei o porquê você convidou . Eu sei que você é egoísta e orgulhoso, está no nosso sangue, mas isso foi muito baixo.
— Não sei o que está falando. — Desviei de seus olhos para os botões da minha blusa, fingindo ajeitá-la. — Eu convidei pela companhia.
— Não faça isso, Sirius — ela disse, suspirando. — Fale com ela. Deixe-a aqui essa noite. Poupe de tudo isso. E voltem para Hogwarts assim que possível.
— Que horror, priminha, você quer que ela tenha um feriado solitário?
— Se quer tanto ficar com ela, pode ficar com ela em Hogwarts.
— Mas eu saí de Hogwarts justamente por você. Vai me expulsar agora? — Fiz cara de triste e eu soube que ela não estava comprando nada.
— Eu vou embora amanhã. Se você se importa com essa menina como diz, deixe-a fora dessa bagunça.
Ficamos nos encarando, até que ela se retirou.
É claro que não queria magoar , pelo menos não muito, mas Andrômeda não podia entender que eu precisava fazer isso? Simplesmente... precisava.
Fiquei resmungando comigo mesmo até Andrômeda aparecer na porta novamente, fingindo completamente que nada havia acontecido.
— Bom, não se esqueça de devolver depois. Ficou lindo em você! Mas... é meio especial. — E ela corou. Drômeda corando?
E, então, entrou. Ela usava um vestido trouxa preto de mangas compridas e justo que ia até os joelhos e combinava com seus cabelos ruivos. Ela estava deslumbrante. E completamente inapropriada para um jantar de apenas vestes bruxas. Eu sorri.
— Está perfeita! Vamos?
corou e sorriu, descendo as escadas.
P.O.V.
Drômeda me emprestou um vestido da moda trouxa que ela disse que a família nunca a vira usar e nem sabia que tinha.
— Foi um presente — ela falou, de maneira carinhosa. — Mas eu nunca usei, então eles não saberão que é meu. Eles iriam surtar se achassem que você está com algo meu. Iriam achar que eu.... han... estava sendo contaminada.
As crenças da família Black poderiam ser até cômicas se não fossem assustadoras.
Descemos para o segundo andar e Andrômeda bateu no quarto de Sirius, falando comigo logo depois, pedindo para devolver-lhe o vestido depois de usá-lo.
Então, entrei no quarto e vi Sirius com vestes vinho que não pareciam muito formais. Usava, por cima, uma jaqueta de couro que deixava tudo muito engraçado, mas não podia negar que ele estava lindo.
— Está perfeita! Vamos? — ele disse, me fazendo corar. Ele estava começando a ganhar minha confiança, mas eu tinha medo que ele ganhasse além.
— Eu vou esperar um pouco — Andrômeda disse. — Sabe... acho que não seria muito bom... entrar com vocês... — Ela ficou um pouco envergonhada, mas não desviou o olhar.
— Relaxa, Drômeda. A gente entende. Somos a ralé — Sirius disse, sem parecer chateado com a prima.
Descemos dois lances de escada até chegarmos à sala de jantar. Um déjà vu do almoço daquele mesmo dia me passou a mente.
Quando entramos na sala barulhenta, todos os olhares se voltaram para a gente, com puro desgosto.
— O QUE A ESCÓRIA ESTÁ FAZENDO NA MINHA SALA DE JANTAR?! O COMBINADO NÃO FOI ESSE. TIREM ESSE ANIMAL DA MINHA FRENTE! — a Sra. Black exclamou e Sirius sorriu com puro desgosto, a mão instintivamente indo em direção à varinha. Eu analisava todos aqueles que anteriormente eu estava muito nauseada para reparar.
A prima de Sirius, Bellatrix, que encontramos na escada, lembrava muito a irmã, mas era muito mais cruel. Estava sentada do lado de um homem com idade próxima a sua e supus que era seu marido, Lestrange. Narcisa e Lucius Malfoy não foram difíceis de reconhecer. Ainda lembrava deles em Hogwarts, mesmo que tenham saído poucos anos depois de nós entrarmos. Os tios de Sirius estavam opostos a eles, seu pai estava próximo da ponta e sua mãe sentava na cabeceira, como uma matrona poderosa.
Para todos ali, eu era um animal irracional e impuro.
Voltei a mim quando percebi Sirius mandando eu me sentar.
— O que houve? — sussurrei para ele. — Fiquei um pouco aérea.
— Acho que tio Alphard está agindo novamente. — E ele indicou o único parente que sorria para nós.
— Monstro, o jantar! — a Sra. Black falou.
O elfo doméstico pequeno e esquisito entrou, trazendo um caldeirão e várias conchas enfeitiçadas, que iam elegantemente servindo o caldo que tinha um cheiro delicioso. Meu estômago roncou e eu esperei ansiosamente a minha vez. No entanto, justamente quando aquele caldo maravilhoso passou por mim, a concha me ignorou completamente. Na vez de Sirius, derramou uma porção mínima comparada aos outros.
Sirius emitiu um som que parecia um rosnado. A sua impulsividade era famosa em Hogwarts. Tentei segurar sua mão antes que ele pegasse a varinha, mas foi tarde demais.
— Accio Sopa! — ele exclamou e o caldeirão voou de Monstro para o ar, erguendo-se e nos servindo, porém, derramando muitas gotas quentes em todos, até mesmo em nós.
— CHEGA! — a Sra. Black exclamou. — Você dorme sob o meu teto, come da minha comida e AINDA POR CIMA ESTRAGA O NATAL! VOCÊ E A ESCÓRIA NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI! NÃO VOU TOLERAR MAIS ISSO. CRUCIO!
Ela apontou a varinha para Sirius, que caiu da cadeira e se contorceu, mas logo depois a abaixou, fazendo as convulsões pararem. Eu vi uma mudança sutil nos olhos da velha mulher.
— Você já fez o suficiente por uma noite — ela rosnou, observando ele voltar ao seu lugar com uma carranca. — Coma e me faça esquecer que você está aqui. Se não fosse por Narcisa...
— Walburga, você não pode deixar isso acontecer em nosso teto...
— Chega! — a mulher brandou, autoritária.
Todos continuaram a comer e eu recebi vários olhares feios, embora ninguém tenha me atacado, provavelmente por serem visitas ou obedecerem a Sra. Black. Em algum momento, Drômeda se juntou ao jantar. Quando a sobremesa foi servida (menos para nós, mas dessa vez eu consegui conter Sirius), Walburga virou-se para a sobrinha, sorrindo.
— Então, Ciça, você estava nos dando boas notícias.
A mulher loira sorriu, como uma boneca com traços cruéis e belos.
— Acho que Lucius seria o melhor para contar a todos. — Ela sorriu timidamente para o namorado.
O homem se levantou, sorrindo da mesma maneira venenosa, que eu interpretei como o máximo de felicidade que eles podiam expressar.
— É uma honra poder formalizar na frente de todos que Narcisa e eu iremos nos casar.
Várias exclamações felizes se estenderam pela cozinha. Rodolpho dava tapinhas nas costas de Lucius e Bellatrix abraçava a irmã. Walburga, que sorria largamente pela primeira vez, pegou sua taça e bateu de leve com uma colherzinha, enquanto abraçava de lado o marido.
— Gostaríamos de propor um brinde. A Narcisa e Lucius. A um casamento próspero com muitos herdeiros com o que há de melhor no mundo: a pureza de sangue!
Todos brindaram e beberam, enquanto eu observava em choque e Sirius parecia quase rosnar baixo. Ninguém parecia lembrar de nós dois agora.
— Ao Lorde das Trevas! — Lucius Malfoy completou. — Que ele nos leve à grandeza e destrua tudo de impuro no caminho!
Todos esbravejaram, contentes com aqueles dizerem, e eu permaneci ali, fora do mundo. Não podia ser sério. Simplesmente não podia.
A família toda se levantou, começou a se abraçar e servir cada vez mais hidromel. E eu não conseguia me mexer. Senti alguém me cutucar delicadamente.
— Vamos — disse Sirius. — Acho que por hoje já foi suficiente.
Ele foi muito gentil ao me levar lá para cima, pois eu ainda não podia digerir aquilo. Meu estômago estava embrulhado. Não conseguia engolir direito minha própria saliva.
— Vamos, sente aqui. — Ele me sentou na cama.
— Eles brindaram... Eles brindaram Você-Sabe-Quem. Como se fosse um herói. Em um assunto de casamento.
— Eu sei que é meio chocante, embora não seja surpresa. Pense em Malfoy e Regulus na escola.
Aquilo me despertou um pouco.
— O comportamento deles na escola é idiota. Sempre fingiram essas conexões pra assustar os alunos e azaravam algum mestiço ou nascido trouxa que encontravam no caminho. Por mais que falassem essas coisas, eram adolescentes. Idiotas, irresponsáveis... Quer dizer, Bellatrix também nos ameaçou na escada, mas sabe, na hora eu não entendi... — Eu tive que respirar fundo antes de continuar, meu coração muito acelerado ainda. — Aquilo... Eles estavam louvando o extermínio... o extermínio da minha família, o meu extermínio. E não foram adolescentes. Foi uma família inteira. Pais, mães, adultos. Isso... isso...
Eu não consegui terminar, tomada pelo pânico. Tentei mais uma vez continuar.
— Eu não estou em uma casa com gente que me odeia e só não me querem aqui. Eu estou em uma casa de gente que acha que o mundo seria melhor sem mim. E faria de tudo para livrá-lo disso. Não estou cercada de gente que não me tolera. Estou cercada de gente que iria me... — engoli em seco — me matar.
Um silêncio desesperador se instalou, em que eu imaginava cenas horríveis na minha cabeça. Então, inesperadamente, ele me abraçou e, sem eu perceber, me deixei chorar um pouco. Eu me senti levemente melhor, amparada e protegida, mas ainda assustada.
— Me desculpa — ele disse pra mim, enquanto afagava minhas costas. O bolo na minha garganta foi aos poucos se desfazendo com as lágrimas caindo.
— Não — eu falei, tocada por sua preocupação. — Não foi sua culpa. Você não me trouxe no intuito de me causar alguma confusão. A culpa... Me desculpa falar isso, mas a culpa é da sua família.
— Eu sei — ele disse, mas parecia se sentir cada vez pior. — Mas saiba que ninguém vai te ferir. Tia Druella e todos os outros irão embora amanhã. Só tio Alphard ficará até o dia 27. E, enquanto ele estiver aqui, estamos seguros. Podemos partir junto com ele. Voltar para Hogwarts se você preferir.
A lembrança do tio me trouxe um novo medo e respirar se tornou difícil de novo.
— Sirius... e se a maldição do seu tio não for forte o suficiente? E se... e se sua mãe se recuperar e mandar Monstro me matar? Ou até ela mesma?
— Acho que ela não te consideraria digna de ser morta por ela.
— Isso era pra me fazer melhor? — A pergunta saiu mais esganiçada do que eu queria.
— Não, não... Olha, , se você quiser, podemos ir logo. Desculpa te colocar nessa bagunça. Acho que estava tão furioso com James que me tirou do Natal dele que não pensei direito...
— Não duvido, você é bem impulsivo — eu disse, entre um riso e um soluço.
Ele sorriu ao olhar para mim e limpou delicadamente uma lágrima do meu rosto.
Eu suspirei. Poderíamos voltar para Hogwarts. Onde talvez ele encontrasse mais uma menina e já esquecesse de mim. Ou encontrasse um dos velhos amigos. Aquilo poderia ser um adeus para Sirius Black.
Não que eu me importasse. Não é?
E ele ainda disse que eu estava segura. A casa era bonita. Tinha comida (mesmo que tivéssemos que roubá-la). Não precisaríamos mais descer e enfrentar ninguém.
E eu ficaria com ele.
— Acho que não é necessário — eu me vi dizendo. — Você tem certeza que eu estou segura aqui?
— Sim. Você está comigo. — Ele sorriu, travesso, e piscou. Em meio a tanto desespero, revirei os olhos. — Calma, calma. Ninguém vai te atacar. E só tava te mostrando que você tem proteção extra.
— Então tudo bem — eu disse, mas as imagens do jantar ainda estavam na minha cabeça. Eu tremi um pouco sem nem perceber. E foi quando percebi que Sirius ainda me abraçava. Aquilo, por algum motivo, me deixou constrangida, mas ao mesmo tempo não tive coragem de soltá-lo. Em meio a tanta insegurança, ele, por mais estranho que fosse, em apenas um dia, estava ganhando minha confiança e desafiado a própria família por mim.
Aos poucos, fui relaxando em seu abraço e as lágrimas foram diminuindo. Comecei a respirar um pouco melhor e senti um grande cansaço e muita dor de cabeça. Antes que desse por mim, já estava adormecendo.
Quando acordei, levantei do colchão para observar e fiquei feliz ao ver que ela dormia, ainda com o vestido preto da noite anterior, os cabelos ruivos embolados e a boca levemente aberta. Eu parei e observei o quanto ela estava bonita mesmo daquele jeito.
É claro que eu a achava bonita, afinal, a gente saiu no quarto ano e eu não teria chamado para sair se não a achasse atraente. Mas eu nunca reparava tanto nas meninas. Principalmente no detalhe de realmente conhecer a pessoa.
A culpa ainda pesava em mim. Eu havia arrastado aquela garota até o pior lugar para alguém como ela. E de propósito. Só pra irritar minha família. Claro que foi um excelente plano e valeu a pena ver aquele tapete horrível manchado. Mas ver se sentir tão ameaçada, tão frágil...
Aquilo me fez decidir que eu ia agir sozinho para irritar minha família... a não ser que uma oportunidade muito boa surgisse. Juro, só uma indispensável.
Ela começou a se mexer e eu me sentei na cama, olhando para a janela, para que ela pudesse ver que eu estava acordado, mas não achar que eu a observava.
— Sirius? — Eu a ouvi chamar e olhei em sua direção, fingindo surpresa.
— , que bom, você acordou!
— Bom dia — ela disse ainda sonolenta, se sentando lentamente na cama e se espreguiçando, soltando um grande bocejo.
— Bom dia, lindinha. Dormiu bem?
Ela abriu um sorriso irônico para o elogio.
— Dormi, obrigada e... — Ela corou um pouco. — Desculpa. Eu nem me lembro de dormir ou sequer chegar nessa cama.
— Sem problemas. Minhas habilidades mágicas vão além da varinha. — Pisquei para ela.
— Você sempre tem que ser tão exibido!
— É meu dom. E isso sempre faz você se descontrair. — Sorri para .
— Obrigada? — ela disse, rindo, então olhou para o chão. — Olhe, seus presentes! Você ainda não abriu?
Me inclinei um pouco e vi os pacotes que ela olhava, encantada. Percebi que ela devia adorar abrir presentes.
— Quer me ajudar? — perguntei para ela.
Não precisei repetir, pois ela já havia transportado a pilha para minha cama e agora sentava nela. Ri um pouco de sua animação e peguei um dos pacotes.
Abri a primeira sacola e encontrei uma caixa com o símbolo da Zonko's. Dentro, pequenos chumbinhos fedorentos. Nem precisei ler o nome de James para saber que era ele. Eu estava falando há séculos que precisava renovar meu estoque.
— Valeu, Pontas... — sussurrei.
— Olha, você ganhou peças de xadrez bruxo de um tal de Aluado! — me mostrou. Não pareciam muito novas, mas eu não me importava. Sabia que Remus não tinha condição para comprar presentes, e aquele gesto já significava muito.
— É o Remus Lupin. Nossa, estava mesmo precisando. Briguei com as minhas desde que eu decidi testar uma jogada nova que elas cismaram que ia dar errado. Deu mesmo e eu gritei com elas por me desencorajarem. Elas pararam de me obedecer e começaram a tentar me atacar.
— Nunca fui muito boa em xadrez bruxo, acho que fui acostumada com um jogo silencioso e acabo muito pressionada.
— Sim, muito mais divertido, né?
Nós dois rimos.
— Ah, tio Alphard me deu mais dinheiro, não precisava mesmo. Ah, olha, o Sr. e a Sra. Potter me mandaram um kit de manutenção de vassoura. A minha Shooting Star tá precisando de mais cuidados mesmo.
— Aquele Peter Pettigrew te mandou uma camiseta. Que gracinha.
— Deve ser pela outra que ele roeu... quer dizer, rasgou sem querer.
— Ei, alguém te mandou um pacote de biscoitos para cachorro.
Olhei o que ela segurava e deitei na cama para tomar ar depois de tanto rir. Era obviamente uma piadinha de James. Queria ver qual seria a surpresa dele para o lustrador que eu comprara para sua galhada.
— Você tem um cachorro, Sirius? — perguntou, confusa.
— Ah, sim, — eu disse, tentando fingir seriedade. — E ele é sempre faminto.
— Que engraçado, nunca o vi. Ele fica na casa dos Potter?
— Ele mora lá — eu falei, sem mentir. Eu realmente morava lá.
— Olha, Lily te mandou um presente também. Algumas penas novas com um recado. "Para te ajudar a focar nas provas e nos deveres, e não no tormento alheio”. Que simpática! — Ela riu da minha careta.
— Drômeda me deu um relógio. Maneiro. É mais moderno que o meu antigo — eu disse, já colocando o novo modelo e tirando o velho. — Acho que acabou. Não, espera — eu disse, avistando mais um embrulho —, faltou um.
Peguei um pequeno embrulho e tirei de lá um bisbilhoscópio.
— Que curioso. — E logo depois eu vi o nome no embrulho. “ ". — Uau, muito obrigado — eu disse, um tanto embasbacado.
— No dia que eu comprei o presente da Dana, achei que seria bom comprar algo para você também — ela disse, corada. — Afinal, me trouxe até aqui.
— E deve ter se arrependido desde que pisou nessa casa — eu brinquei.
— Bom, acho que nos torna quites pelo tapete. Mas você ainda está me devendo.
— E eu vou pagar — eu disse, piscando.
— Bom, os presentes de Dana e de seus pais devem estar esperando em Hogwarts. E talvez meu pai tenha me mandado novamente alguma roupa de um tamanho que claramente não é o meu.
— Ei, mas você tem presentes — eu disse apontando para dois pequenos embrulhos perto de sua cama.
Ela olhou, confusa, mas maravilhada, e correu para lá.
— Olha, Drômeda me mandou um presente! Eu não dei nada para ela! — Ela soltou um gritinho quando abriu o presente. — Por Merlin, é uma joia! Uma joia de verdade. Isso deve ter sido caríssimo.
Eu sabia que devia ser algo antigo de Andrômeda que, para ela, já não tinha mais tanto valor, mas não comentei nada. Fiquei feliz de ver contente.
— E tem outro. AH! Sirius, seu malandro, você me deu um presente!
— É mais uma lembrança. Quando você me abandonou em Hogsmeade, também tive um certo tempo. — Dei de ombros.
— Ah, bombons! Eu amo chocolate! E eu nunca recebi uma caixa de bombons da Dedos de Mel, mas sempre pensei em comprar! Obrigada! — Ela correu e me abraçou. Eu ri um pouco da reação dela e retribuí o gesto. Seu corpo era quente, firme, mas também delicado contra o meu. Era uma sensação boa.
— Então, dívida quitada com você? — perguntei, soltando-a.
Ela se afastou e me olhou, como se estivesse analisando algo muito importante.
— Diminuiu um pouco. E talvez possa diminuir ainda mais se você me conseguir café da manhã sem que eu tenha que descer. Acho que já deu da sua família por um tempo.
— Qualquer pessoa normal se sentiria ofendida, mas eu me sinto honrado de saber que odeia minha família. — eu disse. — Já volto.
— Sirius! — ela gritou, antes que eu abrisse a porta.
— Eu?
— Pode me trazer chocolate quente também?
O sorriso maroto dela fez meu coração amolecer.
— Vou ver o que eu consigo. — Claro que eu ia arrumar aquele maldito chocolate quente.
Na cozinha, percebi que Monstro devia estar na sala de jantar servindo a todos. Uma sorte, eu não precisava de mais encontros com aquele ser detestável. Mas vi que a comida estava fresquinha, peguei vários pães recém assados, biscoitos macios, um pote de manteiga e pedaços de bolo de nozes e coloquei dentro de uma bacia. Acrescentei dois copos e uma garrafa de chocolate quente. Achei melhor aparatar para o quarto antes que desse de cara com Black ou qualquer familiar indesejável. O mundo ficou preto e o ar não parecia entrar nos meus pulmões. Frações de segundos depois, tudo voltou ao normal e eu estava no meu quarto. Um grito abafado chamou a minha atenção e olhei para trás.
estava perto da porta, usando uma calça jeans, estendendo uma blusa na frente do corpo para tentar se esconder.
— Você não pode fazer isso! Eu preciso de privacidade! — Sua voz estava mais aguda que o normal.
— Desculpa se eu trouxe um café da manhã quentinho para você! — eu exclamei, irritado. E a culpa era minha que ela não fora ao banheiro. Eu tinha inclusive atendido ao pedido dela!
— Você pode, por Merlin, se virar? — Ela me olhou, irritada e constrangida.
— Ok, ok, desculpa! — Eu virei, colocando a bacia com as comidas em cima da cama.
— Pronto — ela disse pouco tempo depois. — Hm, o cheiro está delicioso. Mas, por favor, da próxima vez, aparate do outro lado da porta.
— Ta bom, mal, tô acostumado a ter um quarto só meu em que não tenho risco de presenciar cenas... bom.... comprometedoras a qualquer momento — eu disse, rindo, vendo-a ficar constrangida.
— Você é impossível.
— Impossivelmente irresistível, eu sei.
Ela revirou os olhos, e eu sorri. Parecia um passatempo irritá-la, pois ela ficava adorável daquele jeito.
Ela finalmente se sentou na cama e eu lhe ofereci um copo com suco de abóbora.
— Bom, um brinde — eu disse. — Um brinde a quem inventou os bolos de nozes e os presentes de natal. Aliás, feliz Natal!
— Feliz Natal!
P.O.V.
Quando finalmente acabamos o piquenique de Natal, nos deitamos um pouco na cama, atordoados com tanta comida no estômago.
Sirius pegou um último pão e devorou rapidamente.
— Não é possível que você ainda esteja com fome! — exclamei, apavorada.
— Entenda, linda, eu estou sempre com fome. — Ele piscou, e eu revirei os olhos. Ele era tão irritante. E lindo. Mas eu preferia focar no irritante.
— Então, como é normalmente o seu Natal? — perguntei.
Ele me encarou por alguns segundos antes de responder, seus olhos cinzas maliciosos demonstrando também gentileza.
— Normalmente James e eu abrimos nossos presentes, tomamos café e vamos direto rodar Godric's Hollow. Tem um campo afastado da cidade em que nós, às vezes, voamos de vassoura, mas ele é sempre um exibido e temos que parar. Gostamos de assustar alguns trouxas implicantes e, bom, sempre é legal olhar as meninas bonitinhas. — Ele ergueu as sobrancelhas e abriu um sorriso de lado. — Sempre passamos para tomar chá com a Sra. Batilda. Embora ela seja meio chata e viva falando de seus livros e sobrinhos e netos, nós ganhamos alguns presentes extras. É bom — ele concluiu, rindo, parecendo meio melancólico.
— Você queria ter passado o Natal lá, não é mesmo?
— Não! Quer dizer, sim, mas não leve para o lado pessoal, eu só... Me acostumei.
— E se sente traído por ser trocado?
— Não... Tá bom, sim, mas eu sei que isso é importante para ele. Mas da próxima vez eu farei questão de perturbá-lo e de mostrar o quanto fiquei chateado para a Sra. Potter. Ele vai levar é uma boa vassourada naquela bunda mole.
— Já entendi, Sirius — eu disse, rápido, tentando controlar o riso.
— Ah, vamos, você quer rir, não mente, pode rir pra mim.
— Não vou rir de algo tão idiota!
— Vai sim!
— Não vou!
— Vai sim, nem que seja a última coisa que eu faça!
Sirius começou a me fazer cócegas e a risada que eu estava segurando virou uma enorme gargalhada boba.
— P... para! Eu... não... cons... consigo respirar! — Eu tentava dizer, completamente rendida.
— Tudo bem, eu vou parar, mas eu venci! — ele exclamou.
— Venceu nada!
— Eu disse que você ia rir!
— Você disse que eu ia rir das suas besteiras, eu ri das suas cócegas!
— Concorde comigo ou eu vou te atacar de novo!
— Não se eu atacar primeiro!
Rapidamente, me desvencilhei dele e comecei a atacá-lo, mas logo tive um choque terrível: ele não sentia cócegas.
— Você já era, — ele disse, sorrindo vitorioso, e logo suas mãos já estavam vindo em minha direção.
Sem pensar, agarrei minha varinha e aparatei para o hall da casa, de cara com a porta da frente. Recuperei o fôlego, ainda rindo, e percebi que ele logo estaria atrás de mim, então abri a porta da frente e saí.
Já do lado de fora, percebi que o mundo estava extremamente branco de neve e brilhante com as luzes de natal. A visão era linda, mas também muito fria, já que eu estava apenas com uma blusa de manga comprida que era até quente, mas não para a neve.
Não tive tempo de sentir frio, pois logo ouvi a porta se abrir e eu só tive tempo de correr, ouvindo a voz dele atrás de mim.
— Isso foi trapaça!
— Foi genialidade! — eu respondi, correndo o mais rápido que a neve deixava, o que não era muito.
Antes que eu pudesse desviar, uma bola de neve fria me atingiu nas costas.
— Ei!
— Você mereceu!
— Mereci nada! — respondi, jogando outra bola de neve, da qual ele facilmente desviou.
— Precisa se esforçar mais, linda.
— Você vai ver eu me esforçar! — eu disse e, logo, uma guerra de bolas de neve começou.
Eu estava extremamente frustrada. Após 15 minutos, eu estava encharcada e ele com apenas uma pequena mancha úmida da única bola de neve que eu conseguira acertar. Ele gargalhava dos meus esforços.
— Você está perdendo feio, , é melhor se render.
— Nunca!
— Uma grifinória que não foge da batalha mesmo derrotada? Típico demais. — Ele me acertou mais uma bola, me deixando corada de fúria.
— Eu odeio perder.
— Quer que eu te deixe ganhar?
— Não! Isso seria pior. Seria pena.
— Que bom, eu não ia deixar mesmo. — Mais uma bola de neve. — Renda-se e você pode voltar e tomar um banho quente. Você tá congelando!
— Eu não me renderei! — disse, jogando uma bola de neve para distraí-lo, enquanto finalmente o acertava do outro lado com uma segunda.
— Tudo bem! Mas vai enfrentar as consequências! — Devo admitir que o frio que eu senti no rosto por ter sido acertada quase fez eu me render. — Olha, se você se render, eu pago o almoço!
Hm, não podia negar que a proposta estava interessante. Pesei minha competitividade com minha vontade de economizar dinheiro.
— Paga meu almoço de hoje e dos próximos dois dias?
Agora ele que estava pensando.
— Fechado.
— Então me tira logo daqui que eu estou congelando!
Ele riu, correu até onde eu estava e me estendeu a mão.
— Vem logo antes que eu mude de ideia.
Peguei a mão dele para dar impulso.
— Cacete, , você tá congelando!
— Eu acabei de dizer isso! Acontece quando se está na neve sem roupa para a neve — eu acrescentei, sentindo a adrenalina passar e o frio se instalar.
— Vamos logo.
Rapidamente entramos na casa e aparatamos para o quarto, com medo de encontros inconvenientes.
— É melhor você tomar logo um banho quente — ele disse, parecendo ligeiramente preocupado.
Peguei minhas roupas e fui logo para o banheiro daquele andar, deixando Sirius no quarto. Rapidamente, liguei a água da banheira enquanto tirava as roupas. Diferente dos chuveiros e banheiras trouxas, não havia aquecedores, a água só assumia a temperatura que a pessoa, sem nem saber, queria que assumisse. Naquele momento, a água estava fervendo.
Entrei na banheira que, para a minha pessoa que não parava de tremer de frio, parecia o paraíso. Fiquei uns 5 minutos deitada na água quente, antes de começar a me mexer de verdade e lavar meu cabelo. Eu adorava aqueles fios ruivos, uma das poucas coisas em mim que eu achava bonita. Coloquei a cabeça para trás para tirar o shampoo e percebi que a banheira estava cheia de espuma.
De repente, eu ouvi um estalo que me acordou daquele transe delicioso. Quando olhei na direção do barulho, tomei um susto enorme e só consegui gritar involuntariamente.
— MONSTRO!
— Monstro não vai deixar a sangue ruim contaminar o banheiro com suas impurezas. A senhora de Monstro nunca gostaria disso. Monstro não vai deixar!
Ele começou a puxar meu braço para fora da banheira e, apesar de eu ser bem mais forte, estava começando a doer. Ele enfiou as unhas afiadas no meu braço e eu urrei de dor e de raiva.
— ME LARGA!
— Saia daqui!
Então, eu ouvi alguém tentar abrir a porta trancada.
— Alohomora!
A porta se abriu e Monstro se fincou ainda mais no meu braço, resistindo a quem o estava puxando. Eu gritei de novo e puxei meu braço também. Logo, o elfo doméstico estava voando em direção a porta.
— OLHA O QUE VOCÊ FEZ! — Sirius berrava para a criatura.
— A sangue ruim não pode estar aqui!
— A sua senhora deixou ela estar aqui. Você está desobedecendo a sua senhora.
— É mentira! — o elfo dizia, mas já se atirava no chão, batendo sua cabeça.
— O que ele está fazendo?! — falei pela primeira vez, horrorizada.
— Se punindo! – Sirius disse, mas sem remorso. Apenas o jogou para fora e trancou a porta, para depois se virar para mim, a fúria suavizando. — Como está?
— Molhada — eu disse, tentando fazer uma piada para me distrair do ferimento que ardia e do choque da situação.
— É mesmo? — Sirius disse, erguendo uma sobrancelha e sorrindo maliciosamente.
— Não desse jeito, seu idiota! De água! E não... ai, ta doendo! — me apressei a dizer.
A distração funcionou, porque ele logo foi analisar os cortes que Monstro fez, ficando visivelmente irritado.
— Eu vou matar aquele filho da p...
— Calma — eu falei, rápida. — Você pode só me ajudar? Tá ardendo bastante.
Ele respirou fundo e focou no ferimento.
— Vem, vamos botar isso na água.
Devagar, ele foi abaixando meu braço para dentro da banheira, até que o ferimento afundou. Pela quarta vez, eu gritei.
— Tira! TIRA!
— Fica quieta, .
Eu tentei tirar o braço, mas Sirius não deixou. A espuma começou a ficar vermelha de sangue.
Depois de alguns minutos, a ardência foi passando e eu me acalmei. Aos poucos, Sirius retirou meu braço da água, mostrando quatro ferimentos pequenos, mas profundos.
— Que que aquele elfo tem? Garras? — indaguei, tentando esquecer a ardência.
— Espera aqui.
Sirius me largou na banheira vermelha com um machucado no braço ainda aberto e sangrando para revirar os armários e gavetas do banheiro.
— Tem que estar por aqui...
— O que você está procurando?
— Achei!
Ele voltou apressado com um vidrinho.
— Vai doer.
— De novo, não — eu disse, quase em um gemido de lamentação. — O que é?
— Ditamno.
Eu conhecia a substância, mas não queria dizer que eu gostava. Ele pingou um pouco da substância e minha visão ficou turva de mais dor. Eu só percebi que estava gritando de novo quando outra pessoa gritou do corredor:
— ALGUÉM QUER CALAR A BOCA DESSA GAROTA?!
Eu engoli as reclamações junto com as lágrimas e silenciosamente senti toda aquela dor. Logo depois, as feridas estavam fechadas, a dor cessou e eu comecei a enxergar melhor, ainda nervosa.
— Devo admitir que não era assim que eu imaginava que era estar no banho com uma garota nua gritando e gemendo — ele provocou, mas seu sorriso demonstrava uma gentileza incomum.
— Cala a boca! — Mas então me dei conta. Eu realmente estava nua numa banheira. Eu fiquei completamente corada.
— Devo dizer que não sei quais são suas intenções, , já tentou me atrair para duas situações de poucas roupas.
— Você invadiu as duas.
— Preferia que eu tivesse te deixado aqui? Posso chamar Monstro de novo.
— Você não faria isso.
Ele me olhou desafiador.
— Duvida?
Eu o encarei de volta e eu soube que ele realmente faria.
— Não. Pronto. Agora pode me deixar em paz?
— Não, percebi que você pode ser um alvo. Tenho que te proteger.
Eu respirei fundo, tentando manter a calma.
— Sirius, você pode, por favor, sair daqui?
Ele botou a mão no rosto pensativo.
— Não.
Eu tentei acertar um tapa nele, mas ele desviou. Eu continuei tentando e ele continuou desviando.
— Olha, linda, você não vai conseguir me bater, mas o que com certeza você vai conseguir é acabar com toda essa espuma. Não que eu vá reclamar. Mas, se eu fosse você, só terminava seu banho rápido.
Olhei para baixo e percebi que boa parte da espuma já tinha sumido e, se mais um pouco sumisse, eu estaria muito ferrada e a visão do meu corpo estaria bem destacada.
— Tá, pode ficar, mas, por Merlin, vire de costas!
— Não precisa se descontrolar, madame, eu já estava virando mesmo.
Terminei o banho correndo e rapidamente peguei uma toalha para me secar. Enquanto colocava as roupas numa velocidade fora do normal, eu percebi que, com Sirius Black, eu sempre acabava em uma furada.
Era o meu segundo dia com essa garota e ela estava conseguindo me tirar do sério. Primeiro, ela me fizera agir igual uma criança. Segundo, ela me fez ficar preocupado. Terceiro... bom, aquela espuma se desfazendo deixava pouco para a imaginação e não saía da minha cabeça.
Passamos o resto da manhã no quarto, terminando a carta para a melhor amiga dela, Dana, e eu lendo uma revista trouxa de motos. Eu realmente era fascinado com aqueles motores. Mais tarde, quando chegou a fome, eu a levei em um restaurante que ficava do outro lado do parque. Um lugar pequeno, mas agradável, ainda decorado com as luzes de Natal. Várias músicas trouxas comemorativas tocavam.
— Essas músicas trouxas de Natal são esquisitas — comentei.
— Eu acho bem bonitas — ela retrucou.
— Não gosto do jeito que eles pegaram um feriado tradicionalmente pagão e bruxo e transformaram... nisso.
Ela riu.
— Não seja bobo, o feriado pode ser de todo mundo.
— Se você diz.
Depois de comer, saímos de lá e fomos caminhar no parque. Eu realmente gostava muito daquele lugar. Eu pensei em como seria legal estar ali com meus amigos e cada um na sua forma animada — ou lupina. Eu já estava com saudades deles, mas logo iríamos nos ver.
— Sabe — eu comecei, tentando puxar um assunto —, você me perguntou o que eu faço no meu Natal, mas não respondeu sobre o seu.
Ela sorriu para mim e aquilo fez um pequeno frio se instalar na minha barriga.
— Bom, eu e Dana amamos abrir nossos presentes de Natal. Depois, nós gostamos de assar biscoitos junto com a irmã mais nova de Dana, Lola. Ela está no segundo ano de Hogwarts, é da Lufa-Lufa. É uma fofa, mas às vezes sabe ser uma peste. A casa de Dana fica perto de um morro e lá sempre neva, então a gente anda de trenó por lá. Dana é ótima, mas eu sou péssima. Nos dois primeiros natais lá, eu passei o resto do dia na cama. — Eu ri da cara de assombro que ela fez. — Mas, quando eu consigo sobreviver, nós brincamos na neve e, de noite, jogamos algum jogo que ela tem.
— Hm.
— Hm o que? — indagou, me encarando.
— Agora eu quero biscoitos.
— Você é impossível! Deve ter algum feitiço no seu estômago.
— Se tem ou não, eu não sei, mas a fome é bem real.
Nós rimos e eu percebi que passar mais tempo com ela estava cada vez mais fácil. E ela já não estava mais constrangida com o incidente da banheira.
Droga, lá estava eu pensando nisso de novo. Respirei fundo e afastei aquelas imagens da minha cabeça.
Um gritinho me distraiu e, quando olhei, havia sumido. Um leve pânico se instalou em mim, mas tentei ignorar.
— ?
Um segundo de silêncio. Dois. Três.
— Aqui!
Um grande alívio se instalou quando eu a vi novamente. Ela estava perto de dois grandes bonecos de neve com um grande sorriso infantil no rosto.
— , da próxima vez que decidir sumir, seria bom me avisar. Se acontecer de novo, eu vou te largar no parque, mesmo que seja meia noite e você esteja sob um ataque de morcegos ou vampiros.
— Ora, os morcegos são frutíferos e não temos vampiros pela região. Para de ser tão dramático e idiota, olha isso! — ela continuou apontando alegremente para os bonecos.
— Você tem alguma coisa com neve, né? — perguntei, dividido entre a falta de paciência e um lado meu que achava tudo adorável.
— Ah, vai, é divertido — ela disse, mas eu vi que ela estava ficando cada vez mais envergonhada. — Ou não.
Eu balancei a cabeça, incrédulo com aquela garota que podia ser tão infantil, mas ao mesmo tempo séria, tão risonha e preocupada ao mesmo tempo. E aqueles contrastes eram bem cativantes. Respirei fundo e sorri para ela.
— Se quer realmente brincar disso, temos que fazer direito — eu falei, me agachando para começar a montar a base. Não deu um segundo e ela já estava ao meu lado, me ajudando, toda sorridente.
— Então, você sabe montar bonecos de neve?
— Ah, lindinha, e o que eu não sei fazer?
O sorriso infantil foi substituído por uma careta e um revirar de olhos, que fez nós dois rirmos.
Eu nunca iria admitir aquilo para ninguém, mas montar aquele boneco estúpido foi uma das coisas mais divertidas que eu já fiz. Todos os problemas sumiram para concentrar em quanta neve colocar e se estávamos moldando direito. E, de vez em quando, competíamos para ver quem ia mais rápido (e eu, claro sempre ganhava). E, às vezes, até nas partes mais monótonas tudo acabava divertido quando ficava estabanada ou apenas sorria verdadeiramente.
— O que você ta fazendo? — ela perguntou.
— Montando um boneco de neve melhor que o seu, e você?
— Ei, o meu tá bem melhor! Mas eu quis dizer... por que você tá me encarando?
Bosta de dragão. E lá estava eu a encarando sem nem perceber. De novo. Não fiquei envergonhado, apenas com raiva de mim mesmo, então tentei desconversar com outras coisas:
— Estava analisando seus movimentos para ver como os meus são melhores.
— Você não estava olhando para minhas mãos — ela constatou, levantando uma sobrancelha e cruzando os braços.
— Tá bom, eu tava vendo se você tava murmurando algum feitiço e trapaceando. Sei como pode ser frustrante perder para mim.
— Você sabe que eu sei fazer feitiços não-verbais tão bem quanto você. — Ela estava com uma cara cada vez mais convencida e curiosa.
— Bom, devo ter me distraído, mas uma coisa eu posso dizer.
— O quê? — ela perguntou, atenta.
— Essa sua pausa não fez nada bem pro seu boneco de neve, perdedora!
Comemorei no ar a minha vitória, enquanto ela reclamava.
— Injustiça! Eu quero revanche! Não valeu! Eu nem tava tentando muito mesmo! Você é um amador, eu deixei isso acontecer! Não tava valendo!
— , linda, aprenda uma coisa: Sirius Black sempre é o melhor. — Eu pisquei para ela e vi o seu rosto ficar vermelho, mas dessa vez de raiva.
— Quero revanche — ela repetiu.
— Você realmente quer revanche em bonecos de neve? — eu perguntei para ela. — Não tem nada mais interessante ou maduro para querer jogar?
O seu rubor intensificou e eu vi que poderia estar ofendendo ela.
— Olha, , já, já vai escurecer, ficamos muito tempo aqui. Daqui a pouco a gente vai estar faminto! — eu falei, e ela riu. — Esqueceu que eu tenho que abastecer esse estômago a cada três horas?
— A cada três minutos, você quis dizer.
Fiz uma cara de pensativo.
— Eu diria cinco minutos.
Ela riu e concordou em voltar, conversando comigo durante todo o caminho de volta. Era muito fácil conversar com e havia algo especial em provocá-la. Eu sabia que, pelo menos para mim, ela estava se tornando uma amiga. No mínimo. E isso era muito ruim para o meu plano, já que ela basicamente me fazia querer desistir de tudo para não acabar magoando-a mais.
Quando chegamos na casa, entramos e aparatamos direto para o quarto. O melhor hábito que decidi adquirir, porque eu não confiava em nenhum outro espaço da casa. E muito menos nas pessoas que poderiam estar lá.
Aproveitei para tomar meu banho e, quando voltei para o quarto, encontrei não só lá.
— Drômeda!
Minha prima olhou para mim e sorriu.
— Olá, Sirius.
— Andrômeda estava se despedindo — acrescentou, ao seu lado, como se tivessem acabado de se abraçar.
— Verdade, você disse que ia embora hoje!
— Sim, todos nós vamos — Drômeda acrescentou. — Eu vou voltar para minha casa. Desde o ano passado, me mudei daqui e consegui uma estadia própria. Papai e mamãe dizem não haver necessidade. Bela vai voltar para sua vida de casada e Ciça deve acompanhar Lucio para a casa da família dele para também anunciar as novidades. Mamãe e papai decidiram fazer uma viagem também, dizem que é como no início do casamento, sem filhos. — Ela revirou os olhos, rindo.
— Apesar de tudo, você não parece que odeia eles — disse, logo depois se sobressaltando. — Não que você devesse odiá-los! Quer dizer, bom, eles devem ter suas qualidades, mas... ér... também....
— Não se preocupe. — Drômeda sorriu. — Eu não me sinto ofendida. E não, eu não os odeio. Eu os amo porque são minha família antes de serem lunáticos. Nem sempre foi assim. Eu, Bela e Ciça éramos bem amigas. Sempre nos adoramos e nos apoiamos. Bela sempre nos defendeu e se colocava a nossa frente, e Ciça sempre foi nossa protegida. Tudo mudou quando Lestrange chegou, e depois Malfoy... Eu não sei o que houve com Bela...
— Ela sempre foi assim — não pude me conter e falei. — Sempre acreditou nesses ideias. Só não tinha a chance de as expor de forma tão ampla.
— Não é só isso — Drômeda continuou. — Bela não só colocou os ideias à frente da família. Ela os colocou como único propósito de vida e apagou todo o resto. Bela se desprendeu de tudo e de todos e ligou todas essas partes agora soltas ao Lorde das Trevas. E eu temo... — Ela perdeu o ar momentaneamente. — Temo que Ciça seja a próxima. E eu não posso fazer nada.
— Você pode sim — eu disse. — Você pode só não ser igual a eles.
— Ah, Sirius, isso talvez apenas nos condene mais. — Ela sorriu, complacente.
— Sabe, suas irmãs ainda te amam — falou, de repente. — Isso não some assim. É como você mesma disse. Você ainda os ama mesmo assim. E eles amam você. Um dia, verão que isso apenas separa a todos, ao invés de unir. Eles te escutarão pelo fato de que eles te amam. Pode demorar anos, mas um dia eles verão.
Andrômeda sorriu para nós e, se eu não a conhecesse por dezoito anos, não seria capaz de dizer que estava emocionada. Uma Black completa.
— Obrigada aos dois. Por tudo. Obrigada por virem ao Natal. Certamente foi o mais... inusitado. — Todos nós rimos. — Sinto sua falta, Sirius. Você pode me visitar. Eu não tenho nenhuma tapeçaria queimada onde você estava.
— Não tem? Droga. Seria uma ótima decoração — eu comentei, complemente sarcástico. Se eu pudesse, faria com que a tapeçaria inteira ficasse como meu rosto: queimada. — Brincadeiras à parte, quem sabe um dia eu tento.
— E você, . Foi um prazer te conhecer. Entendo por que Sirius gosta de você. Você é uma pessoa ótima. Espero te encontrar mais vezes.
— Obrigada você, Drômeda, não sei como agradecer o presente, o vestido, a companhia... Simplesmente obrigada. — As duas se abraçaram, mas ainda sim eu consegui ver Drômeda, me encarando, falar sem emitir nenhum som: “vá embora com ela o quanto antes". Suspirei e fingi não entender. Não ia discutir de novo. Quanto mais ela me repreendia, mais eu me tentava a ficar, por menor sentido que fizesse. Era apenas como minha natureza agia ao receber ordens. Tinha que desobedecê-las.
Andrômeda me abraçou rapidamente e pegou as suas coisas, saindo do quarto e garantindo que ninguém havia a visto ali. Eu sabia que minha missão estava cumprida. Sabia que eu já havia ajudado minha prima. Já havia incomodado minha família.
Mas então por que eu não me sentia afim de ir embora?
— Ei, sabe uma coisa que eu lembrei? — Escutei falar, de repente.
— O quê? — perguntei, interessado na sua ideia.
— Você comentou que tinha alguns jogos, certo?
— Sim, se meu irmão não tiver roubado. Mas será divertido se eu tiver que roubar de volta. — Minha mente já arquitetava várias oportunidades de usar minhas últimas bombas de bosta. — Por quê?
Ela me olhou, sorridente e confiante.
— Por acaso você tem Gringoly?
P.O.V.
Por ser nascida no mundo trouxa, eu sempre me senti meio para trás nos costumes bruxos. Eu não conhecia coisas básicas como expressões, histórias, famosos e sempre levava susto com quadros e fotos, entre outros. Às vezes, sentia que não pertencia completamente a nenhum dos dois mundos.
Por isso, quando Dana, no Natal em que eu estava no segundo ano, já destruída da tentativa de andar de trenó (ainda mais um que era mágico e acelerava de maneira nada natural), me chamou para jogar Gringoly, eu já sentia que ia ser a deslocada de novo. Mas foi simplesmente maravilhoso quando eu descobri que era muito parecido com Monopoly, um jogo trouxa que eu era muito boa já que, antes de toda essa história de ser bruxa, eu jogava toda semana com meu pai e minha madrasta.
Peguei as táticas e diferenças do novo jogo, que só o tornava mais divertido, diferente do xadrez bruxo, que era só gritaria e briga, e logo fiz Dana se irritar com o jogo, já que comecei a ganhar todas.
Justamente por esse motivo, escolhi esse jogo para abaixar um pouco a bola de Sirius Black. Para um jovem tão bonito e talentoso, não estava exatamente acostumado a não ser o melhor.
E, por isso, eu não podia negar que foi muito satisfatório ver sua cara de descrença ao perder a primeira partida.
E a segunda.
E a terceira.
— Não vale! Você amaldiçoou isso aí!
— Como eu amaldiçoei se o jogo é seu? — perguntei, tentando conter todo o meu orgulho e exibição.
— Você deu algum jeito. Ta trapaceando, só pode! — ele resmungou.
— Ah, pobre Sirius, ele não sabe perder. — Eu fiz uma falsa cara de triste, que logo se tornou plena satisfação.
— Foi roubado!
— Aceita, Black, eu acabei com você! Você perdeu! E sabe por quê? Porque eu sou melhor! — eu exclamei, me levantando quase saltitando, sem conseguir conter minha satisfação.
— Meus parabéns, então você é boa num jogo infantil idiota.
— E você é bom no quê? Bonecos de neve? — provoquei, irritada com seu comentário.
— , é melhor você calar a boca.
— Isso é outra coisa que você não sabe fazer — retruquei.
— Eu sou ótimo em tudo!
— Pelo jeito, não tudo.
— Ah, me expressei mal — ele disse, também se levantando. — Eu quis dizer tudo que importa.
Agora eu o encarei bem ofendida. Aquilo era meio infantil, mas, por ser uma das poucas coisas em que eu era boa, eu realmente valorizava aquela habilidade.
— Você está me chamando de inútil?
— Sim! — ele exclamou. Depois, pareceu pensar melhor e fez uma cara de arrependido. — Quero dizer, não inútil.
— Boba? Infantil? Desprovida de talentos? — Agora eu estava furiosa. Era meu momento. Minha diversão. Minha vitória. — Não vamos lembrar que sou eu a pessoa que fala 3 línguas nessa sala.
— E quem se importa com línguas? Eu sou o mais poderoso.
— Ah, é? — Eu olhei bem nos seus olhos e falei as palavras mais poderosas de qualquer desafio: — Eu duvido.
Deu mais certo do que eu esperava. Ele sacou a varinha na hora.
— Não vai me chamar para um duelo, né, Sirius? Eu? Sua convidada? — eu reforcei. Eu podia ser boa em feitiços, mas até eu devia admitir que não se brincava com um Black.
— Por quê? Está com medo?
— De quê? Ter que cuidar de você o resto da noite inconsciente? Talvez. — Minha maldita língua. Eu que ia acabar inconsciente naquele ritmo.
Eu vi seus olhos se apertarem e ganharem seriedade.
— Você não tem ideia de quem você está desafiando.
— Ah, mas eu tenho. O rei. O rei dos egos inflados.
— Devo dizer que você sofre do mesmo mal. Mas pelo menos eu me vanglorio de coisas que valem a pena.
Estávamos circundando o espaço, o jogo esparramado no meio, algumas peças murmurando, varinhas apontadas um para o outro, olhos fixos, enquanto travávamos nosso duelo verbal. Se eu não fizesse nada, logo acabaria num duelo de verdade: e provavelmente perdendo feio.
— Olha, talvez em duelos você possa se sair melhor — eu admiti. — Mas isso não te prova como poderoso. Você se promove por toda a escola, mas só sabe implicar com alguns alunos mais fracos.
— Eu não implico com os mais fracos. Eu implico com os babacas. A culpa não é minha se, ainda por cima, são todos mais fracos que eu.
— E essa é sua grande conquista? Implicar com umas crianças? Esse é o grande currículo do famoso Sirius Black?
Eu o vi ficando vermelho, cada vez mais.
— Você acha que eu passo meu tempo só perseguindo moleques?
— Não disse isso, tem também o tempo que você dedica pra se vangloriar disso.
Eu estava passando dos limites. Eu sabia. O que tinha dado em mim? Eu estava furiosa por ele me tomar como inferior, mas onde eu estava me metendo?
E, então, de repente, Sirius não estava mais na minha frente. E sim um enorme cão preto. E eu quis gritar.
Mas, antes que eu conseguisse, o cão pulou em cima de mim, me derrubando no chão. E, logo, era Sirius Black quem estava por cima de mim, tapando a minha boca com a mão.
— Você tá maluca?! — ele sussurrava rapidamente.
Ficamos alguns segundos ali, ele com a mão na minha boca, por cima do meu corpo, tão próximos que sua respiração batia em minha bochecha, até eu me acalmar. Bom, pelo menos me acalmar sobre a parte do cão que surgira do nada.
Quando eu finalmente voltei a respirar normalmente, ele saiu de cima de mim e me ajudou a levantar.
— Agora tá provado pra você?
— Você... — Eu ainda estava em choque. — O que é você?
— Pense, você já viu isso antes.
Eu não estava entendendo o que ele queria dizer, mas então, uma imagem de um gato com marcas quadradas nos olhos se transformando em uma professora com óculos do mesmo formato me veio a cabeça.
— Você... Você é um animag...!
Antes que eu pudesse concluir, ele tapou minha boca.
— Quer ficar quieta? Eu sou um animago que pretende que a família não saiba disso! — Ele continuava sussurrando. Pouco depois, ele liberou minha boca novamente.
— Mas... então quer dizer... você fez isso? Sozinho? — Podia não ter me dado conta de primeira que ele era um animago, porém eu conhecia essa magia. Era complicadíssima e poucos bruxos a executavam por isso. E aquele garoto de dezoito anos na minha frente conseguira. Sirius Black não parava de me surpreender. Ainda bem que eu fugira do duelo. — Pera... Como assim sua família não saber? Se bem que acho que ninguém de Hogwarts sabe. Isso quer dizer que você é ilegal? Não é registrado?
Seu rosto vermelho foi ficando cada vez mais pálido.
— Eu não acredito que te contei isso.
Quando eu me dei conta da situação, não pude deixar de rir.
— Então quer dizer que você é tão influenciável que revelou um grande segredo só pra se provar? Por que isso não me surpreende?
Ele me olhou duro e eu percebi que a hora das brincadeiras acabara.
— Acho que o melhor é lançar um Obliviate. Você não pode saber disso. Poria muita gente em risco. — Ele estava pensativo, já alcançando a varinha.
— Tá maluco?! Você não vai mexer na minha cabeça, muito menos nas minhas memórias!
— E como eu vou saber que você não vai contar para ninguém?
Eu parei para pensar. Por que eu não contaria? Nem para Dana numa conversa de revelações ou descontraída? Ou num estudo de animagos, eu não escaparia que conhecia mais de um? Para encrencá-lo caso me irritasse?
Contudo, por algum motivo, saber algo sobre Sirius Black que ninguém sabia me fez sentir... especial. Eu queria que aquilo fosse só entre nós dois. Mesmo que isso me fizesse sentir idiota.
Eu não iria contar. Agora, precisava de uma justificativa plausível para convencê-lo.
Mas eu não tinha nenhuma.
— Olha — eu comecei, olhando para ele. — Eu não tenho muitos motivos para guardar esse segredo. Não somos próximos. Não te devo nada e nem você a mim. Eu entendo sua desconfiança. Você nem sabe se eu sou fofoqueira. Mas... — Respirei fundo e o olhei mais intensamente, tentando passar minha sinceridade. — Por um motivo que eu não sei explicar, eu não quero contar nada e, por isso, eu sei que eu não vou. Sei que te peço muito ao confiar isso pra mim, mas também não me culpe por um erro seu. Não me puna pelo seu deslize. E eu prometo que não contarei. Minha palavra pode não servir de nada para você — dei de ombros —, mas ela é tudo o que eu tenho.
Ficamos nos encarando por longos minutos. Meu coração batia acelerado, com medo de ter falado algo errado que me custasse aquilo. Com medo de não ter sua confiança. E na expectativa de ganhá-la. Parte da rapidez com que meu coração batia, eu tinha que admitir, também era pela intensidade daqueles olhares cinzas. Sirius era apaixonante. E estar por perto dele 24 horas por dia não estava ajudando muito minha resistência.
Mas, naquele momento, minha principal preocupação não eram minhas barreiras sentimentais, e sim minha pobre memória com um precioso segredo.
Ele soltou um longo suspiro e eu prendi minha respiração.
— Por enquanto, você tem minha confiança. Não me faça me arrepender disso.
Soltei minha respiração junto com uma risada baixinha de alívio.
— Obrigada.
Ele me olhou, me analisando por alguns segundos e, logo em seguida, sorriu.
— De nada.
Ficamos em silêncio e eu me abaixei para começar a guardar o jogo, as peças agora quietas interessadas na conversa. Tentei tomar coragem para perguntar o que realmente passava pela minha cabeça.
— Então... Como isso aconteceu?
Ele me encarou, se agachando logo em seguida para me ajudar a organizar as coisas.
— É uma longa história. E não só minha. É delicado.
Naquele momento, porém, meu estômago roncou bem alto, quebrando o clima de tensão e expectativa.
— Bom, e que tal você buscar uma boa janta pra gente e me contar o que for possível de estômago cheio?
Ele riu de leve.
— Certamente, não posso deixar minha convidada curiosa e faminta.