Revisada por: Sagitário
Última Atualização: 22/12/24Ele não foi simpático, como sempre, obrigada. Por sorte, eu já tinha o costume de ir naquela cafeteria antes dele começar a trabalhar lá.
Seu rosto estava sempre retorcido de uma maneira triste, vazia, como se sua cabeça estivesse constantemente voando para algum lugar distante e não ali conosco no presente.
E mesmo assim, eu acabava ficando estupidamente feliz quando era atendida por ele, por que ele era meu vizinho rabugento e eu gostava de mostrar que o seu mau humor rotineiro não me abalava.
As pessoas que não o conheciam direito podiam achar que ele estava infeliz porque o seu chefe o fez usar uma touca verde de ajudante de Papai Noel, mas eu sabia que era mais do que aquilo.
Sendo sua vizinha que compartilhava uma parede, eu sabia que aquele cara era quebrado por dentro, mas ele não queria ser ajudado e eu não podia fazer nada, a não ser acompanhá-lo de longe, me perguntando o que havia acontecido em sua vida que tinha o deixado tão machucado.
— Um frapuccino grande, um donut de morango com granulado e um biscoito de gengibre para viagem.
— Vai ficar dezoito dólares.
Retirei o dinheiro contado do bolso da calça e entreguei a ele que assentiu e me deu as costas para separar meu pedido.
Seu crachá dizia “”, porém sempre achei que aquele nome não combinava com ele.
Peguei meu pedido dando um sorriso a ele, que examinou meu rosto com cautela antes de se afastar. Não seria fácil fazer amizade com ele, mas eu não iria desistir tão fácil. Eu era professora do ensino fundamental, uma cara feia ou um temperamento difícil não iriam me assustar.
Em casa, a neve que caía era tão espessa que os degraus para a entrada da varanda estavam fofos. Guardei minhas coisas e fui na lavanderia pegar minhas botas de neve, meu sobretudo impermeável, a pá e a vassoura para retirar um pouco daquela neve da varanda e dos trilhos de concreto que iam até a calçada. Era um serviço que tinha que ser feito todos os dias, se não a casa ficaria soterrada até o fim do ano, como era o exemplo da varanda de meu vizinho .
Mesmo assim, eu adorava fazer aquilo. Eu era uma grande entusiasta do Natal — em meu pequeno jardim, haviam dois bonecos de neve que tinham que ser escovados todos os dias para retirar a neve que acumulava e fazia eles perderem a forma, o banco na varanda estava decorado com festão dourado e vermelho e, na porta de casa, uma guirlanda grande o bastante para fazer o prego que a segurava pedir socorro.
Enquanto eu terminava de varrer e retirar a neve da calçada, meu vizinho simpático chegou, estacionou seu carro na garagem e veio entrar pela porta da frente. Imaginei que a sua porta de entrada pela garagem estivsse quebrada, já que eu sempre o via entrando pela porta da frente quando estava ajeitando meu jardim. Ele me ignorou, como de costume, subiu as escadas amaldiçoando a neve que se acumulou em seus tênis.
Durante o tempo em que ele abria sua porta para entrar em casa, pisei em falso em um degrau e escorreguei, soltando a pá de metal que fez um barulhão, caindo escada abaixo. Caí de bunda na neve fofa, soltando uma risada logo em seguida, e quando apoiei as mãos no chão para me levantar, vi que ele estava ao meu lado.
— Você está bem?! — perguntou com seus olhos azuis próximos demais de mim. Esticou o braço para que eu o segurasse para me levantar. Aceitei, impulsionando-me para cima.
— Estou — respondi rindo, enquanto ele me olhava com as sobrancelhas unidas.
Bati as mãos em minhas pernas para retirar o excesso de neve que grudou em mim, ao mesmo tempo em que ele deu algumas batidinhas em meus ombros para fazer o mesmo.
Isso sim eu chamo de progresso!
Seus olhos eram tão claros que me deixavam intimidada, suas sobrancelhas continuavam franzidas e ele tinha uma postura esquisita de bad boy que me deixava ligeiramente sem ar. É, eu tinha uma certa tendência a gostar dos caras errados, mas fazer o que se Deus colocou um deles para morar bem ao meu lado?
— Tem certeza de que está bem? Parece meio sem ar... — perguntou novamente, sua voz era rouca e baixa.
— Estou sim, obrigada — falei, sorrindo sem graça. Ele assentiu com a cabeça, juntou a pá do chão e me entregou.
— Você sabe que essa neve vai estar toda aí amanhã de novo, né? — perguntou se afastando, indo na direção da sua porta de entrada.
— Sei, mas se eu não tirar, as chances de você ter que vir aqui de hora em hora me levantar do chão são muito maiores — brinquei para testar seu nível de comédia e ele deu um sorrisinho leve, apenas curvando os lábios para cima, quase imperceptível.
Ele não respondeu nada, abriu a sua porta de casa, deu uma última olhadinha para mim e entrou. Essa foi a primeira interação, fora da cafeteria, com meu vizinho que me ignorava.
No Natal, eu costumava ir na casa dos meus pais. Meu irmão mais velho e minha irmã mais nova também iam, e era sempre uma noite muito agradável, regada de gemada, doces, um jantar maravilhoso com meus sobrinhos brigando pelos presentes debaixo da árvore e chocolate quente em volta da lareira.
Natal, para mim, tinha cheiro de cookies e M&M’s de amendoim. Era a melhor época do ano e eu amava tudo relacionado à essa época. Era o único momento em que eu via minha família e estava ansiosa para aquilo. As aulas já tinha entrado em recesso, então minhas idas frequentes ao café em que
trabalhava já não eram mais recorrentes. Tinha a impressão de que ele estava bem com isso, eu o via apenas quando estava limpando a calçada.
No dia 24 de dezembro, eu estava de malas prontas. Meu voo estava marcado para as cinco horas da manhã — um voo rápido de 40 minutos até o aeroporto da capital e depois um de 9 horas até Nova Iorque. Então, eu passaria praticamente a tarde inteira com minha família e voltaria apenas no dia primeiro de janeiro. Eu tinha comprado um voo uns dias mais cedo, mas ele tinha sido adiado pelo mau tempo...
Liguei a televisão enquanto tomava café da manhã e uma notícia me chamou a atenção.
“Tempestade de neve fecha aeroportos durante época mais movimentada do ano”
Aeroportos fechados? Não pode ser!
Liguei para minha companhia aérea e fiquei mais de meia hora na fila de espera ouvindo uma versão de Garota de Ipanema em piano. Porém, a confirmação veio mesmo assim: todos os voos de hoje estavam cancelados.
Aquilo era surreal.
Liguei para meus pais avisando o imprevisto. Eu chorava feito uma criança explicando a situação, e meu pai disse que ia guardar os biscoitos de gengibre para mim em um pote hermético. Dei risada ainda chorando.
Meu Deus, o que eu vou fazer sozinha nesse Natal?
Fui dar uma olhada na rua para ver se a tempestade tinha alcançado minha cidade e notei pela janela da frente que a rua inteira estava soterrada de neve. Minha varanda estava soterrada, meu banco tinha o formato de um banco, mas não aparecia nenhuma parte da madeira ou dos festões decorativos.
Abri a porta e a neve estava na altura dos meus joelhos — ela ficou estagnada no mesmo lugar, com o desenho perfeito da minha porta. Mesmo assim, me enfiei nela, indo até a rua com raiva.
Meu feriado de fim de ano estava arruinado por causa dessa tempestade idiota!
Fui até um boneco de neve e soquei a cabeça dele com força, mas a neve estava tão densa que machucou minha mão. Então, apelei para os pés e chutei a parte de baixo com o ódio que me consumia.
Minha família me esperava, meu irmão, minha irmã e meus sobrinhos provavelmente já estavam lá, tomando chocolate quente com marshmallows e eu estava trancada nesse lugar sem ninguém para compartilhar esse momento!
Ok, eu tinha amigos, mas o Natal era um evento familiar, íntimo e especial. Não dava para simplesmente se convidar para algo assim na casa de alguém, seria rude.
Voltei para dentro de casa ainda irritada, limpei a neve que entrou junto comigo na porta e fui para a cozinha.
Peguei meu livro de receitas natalinas e comecei a trabalhar (na base do ódio). Fiz massa de cookies com gotas de chocolate, fiz biscoitos de gengibre, uma torta de frango, lentilhas com bacon e carne assada. Coloquei todos os presentes que já estavam dentro da minha mala embaixo da árvore de Natal, liguei o pisca-pisca e abri uma garrafa de vinho.
Já passava do meio-dia quando terminei tudo. A tempestade havia piorado e eu nem estava com fome, então apenas deixei tudo pronto e me sentei no sofá para aproveitar o clima aconchegante em que a minha casa estava.
Já estava anoitecendo quando a luz caiu. Eu estava pondo as panelas sobre o fogão para jantar sozinha e corri para o armário para pôr velas em lugares estratégicos. Por sorte, além das velas que eu havia comprado para emergências, eu tinha velas aromáticas por toda a casa. O cheiro ficaria uma bagunça, mas era melhor do que ficar no escuro.
Deus, meu Natal poderia ser mais deplorável? Jantar sozinha ao embalo de músicas natalinas já era humilhação o suficiente, agora jantar à luz de velas sozinha e em silêncio era deplorável e deprimente.
Ouvi um barulho de batida na casa do meu vizinho, seguido de um xingamento.
Espera, ele estava em casa? Achei que até mesmo ele iria visitar sua família, morávamos em um condado afastado no Alasca era comum a cidade ficar abandonada em épocas festivas... E então uma luz se acendeu em minha cabeça. Será que ele aceitaria jantar comigo? Afinal não era Natal ainda, era só a véspera, não é? E eu tinha feito comida o suficiente para duas pessoas, eu tinha vinho e... A quem eu estava querendo enganar? Eu só não queria ficar sozinha.
Vesti minhas galochas, meu sobretudo impermeável e um gorro vermelho com desenhos de flocos de neve e saí pela garagem, já que a porta de lá não estava coberta de neve.
Andei com dificuldade até a porta de entrada dele. Bati.
Aquela tempestade estava realmente forte.
Bati mais uma vez. Talvez ele estivesse se perguntando quem em sã consciência estaria batendo à sua porta em uma véspera de natal no meio de uma tempestade.
— Quem é? — Ouvi sua voz por trás da porta.
— Oi, é a sua. Quero dizer, é a , sua vizinha — gaguejei e dei um tapa em minha testa me achando a pessoa mais idiota do mundo.
— Por que você está na rua no meio de uma tempestade? — perguntou ele ainda através da porta, que estava exatamente como a minha, com muita neve acumulada.
— Eu gostaria de te convidar para jantar comigo. Fiz muita comida e, para falar a verdade, estou com medo de ficar sozinha. — Fui sincera e ele ficou em silêncio por alguns segundos.
— Ahm, acho melhor não. — Ouvi sua voz dizer.
— Ah, por favor, ! Eu sou uma pessoa legal. Prometo — respondi me mexendo para esquentar, eu estava com duas meias, minha galocha era forrada com pelo sintético e mesmo assim meus pés estavam congelando.
— Ok, me dê cinco minutos.
— Perfeito! Vou voltar para casa. Entra pela garagem, tá bem? — perguntei dando um sorriso.
— Ok — ele respondeu sem entusiasmo.
Dei meia volta ainda sorrindo.
bateu na porta da garagem quase vinte minutos depois — eu já estava achando que ele tinha desistido — usando um casaco grande cinza, calça jeans, uma touca na cabeça e botas nos pés. Estendi a mão para pegar seu casaco e, por baixo, ele usava um moletom branco que era pelo menos dois números maior do que ele.
— Seja bem-vindo e sinta-se à vontade — falei sorrindo, e ele analisou meu rosto novamente antes de assentir com a cabeça.
— Obrigado.
— Olha só, desculpa te fazer sair de casa no meio de uma tempestade. É só que meu voo foi cancelado, e quando eu tinha finalmente aceitado que ia passar o Natal sozinha, a luz acabou. E eu pensei que poderia ser menos patético se eu convidasse alguém... — falei sem graça, enquanto ele me acompanhava até a cozinha.
— Não tem problema.
— Você também não conseguiu ir visitar seus familiares? — perguntei abrindo o armário e pegando duas taças.
— Na verdade, não tenho ninguém para visitar. — Aquilo me deixou triste, e fez um pouco de sentido toda aquela cara de bravo o tempo inteiro. É meio difícil ser sozinho o tempo todo, ainda mais ele que era novo na cidade. Eu sabia que ele era novo porque quando ele chegou, foi notícia por quase um mês inteiro. O cara misterioso que apareceu do nada.
— Ah, que pena. Posso te servir algo para beber? Um vinho? — perguntei querendo ser educada, mas já estava com as taças em mãos.
— Eu não... bebo. Teria uma água ou suco? — Ele disse se apoiando na bancada que separava a cozinha da sala.
— Claro, tenho suco de uva, pode ser? — Me surpreendeu o fato dele não beber. Aquilo era, com certeza, algo que eu não esperava.
— Uhum — ele murmurou silencioso. Seria difícil manter uma conversa com ele, e eu já estava me perguntando se aquilo seria uma boa ideia.
Servi sua taça com suco e brindamos.
se afastou e começou a andar pela sala, observando a decoração. Viu as meias penduradas sobre a lareira, a árvore de Natal com os presentes no chão e ficou algum tempo olhando a coleção de globos de neve na estante.
O forno apitou e eu retirei algumas torradinhas de tomate com queijo e manjericão, colocando sobre a bancada.
— Você gosta mesmo do Natal, não é? — perguntou ele, sacodindo um globo de neve.
— Eu adoro, é minha época favorita do ano — falei, servindo as torradinhas em um prato decorado com o rosto do Papai Noel e colocando uma colherzinha de geleia de pimenta caseira em cima de cada folhinha de manjericão.
— E o que foi que o boneco de neve te fez hoje de manhã, para ser nocauteado daquele jeito? — perguntou ele em um tom ligeiramente divertido, seus olhos ainda estavam vidrados nos globos de neve. Senti meu rosto esquentar, pensando na ideia de ter me visto pela janela da sua casa.
— Foi um momento de fraqueza. Foi quando eu descobri que os voos tinham sido cancelados — expliquei, levando o prato com as torradinhas até ele, que pegou uma e enfiou na boca. Ele levou a pontinha dos dedos aos lábios para retirar os resquícios de farelo e meus olhos não desgrudaram do movimento em nenhum momento. Porque sim, meu vizinho rabugento chamado — que eu nem sabia o sobrenome — era um cara gostoso. Isso nunca foi uma pauta discutível, era apenas um fato verídico que eu havia esquecido de mencionar.
— Entendi. O pobre ficou deformado — fez questão de informar, me fazendo sorrir sem graça.
— Ele quase deformou a minha mão, isso sim! — repliquei indignada e eu quase consegui ver um sorriso escapar em seus lábios.
— É, eu percebi.
— E você, por acaso, estava olhando na janela exatamente naquele momento?
— Eu tinha acabado de acordar. Liguei o noticiário e vi que teve tempestade de neve durante a noite e fui olhar na janela quando vi aquela cena assustadora — ele disse novamente em um tom divertido. — Entenda, eu nunca tinha visto uma tempestade de neve antes, estava preocupado.
— É sério? Aqui é bem normal, é bom se acostumar... — Percebi uma brecha ali. — De onde você é?
— Florida. Lá não neva... — ele adicionou a informação como se fosse uma resposta automática.
— E o que você veio fazer nesse fim de mundo? — perguntei genuinamente curiosa, oferecendo mais uma torradinha, que ele aceitou. Coloquei o prato sobre a mesa de jantar.
— Eu vim... Começar uma vida nova. — Eu percebi a sinceridade e a exaustão em sua voz.
Resolvi que não iria insistir nesse assunto porque parecia muito pessoal, e aquele homem ali já estava me fazendo um favor, não iria incomodá-lo mais do que o necessário.
— Isso é legal, sinto muito que tenha que fazer isso morando ao lado de uma pessoa que não gosta — falei sorrindo sincera, vendo-o unir as sobrancelhas em dúvida.
— Quem disse que eu não gosto de você?
— Ah, eu concluí isso sozinha — falei erguendo os ombros, ao mesmo tempo em que ele cruzava os braços indignado.
— O que fez você pensar isso? — perguntou ele, com os olhos brilhando em minha direção. Ele se apoiou nas costas do sofá e eu, em uma cadeira.
Pensei por um momento.
— Bom, os olhares rabugentos, as sobrancelhas sempre franzidas, a indiferença... Acho que é um conjunto de coisas.
E, pela primeira vez, vi fazendo uma expressão que eu não tinha visto ainda: sua boca estava aberta e os olhos ligeiramente arregalados, uma expressão de pura surpresa.
— Eu não... Eu não faço isso! — tentou se defender, as sobrancelhas voltando a se franzir.
Aquilo me fez rir, suas sobrancelhas pareciam magnetizadas, unidas de forma automática.
— Você está fazendo agora mesmo! — Apontei o dedo para o seu rosto e ele abriu a boca algumas vezes sem saber o que dizer.
— Não é por querer, acredite — admitiu ele rindo. Seu sorriso era de outro mundo, aqueceu a sala com um calor que me aconchegou, seu rosto combinava com um sorriso, eu tinha que fazê-lo sorrir mais.
— Tudo bem, vou acreditar nisso, e vou fingir que acredito que você “por acaso” olhou pela janela e me viu agredindo um boneco de neve.
— Pobre boneco, jamais vai entender o que foi aquilo — ele brincou ainda sorrindo. — Você mora aqui há muito tempo?
Eu estava feliz de ver que ele estava se acostumando com o ambiente e estava tentando manter uma conversa agradável. Dava para ver que ele estava se esforçando... que a sua habilidade de conversar não era algo rotineiro.
— Me mudei para esta casa há poucos meses, mas moro em Haines há mais de dez anos. — respondi, puxando a cadeira para me sentar.
— E a sua família é daqui também? — perguntou ele me acompanhando, sentando-se na cadeira de frente para mim, bebeu um gole do seu suco e roubou mais uma torradinha do prato de Papai Noel. — Digo, do Alasca.
— Não, minha família é de Nova Iorque.
— É sério?!
— Sim, eu me mudei para cá com um ex-namorado e acabei me apaixonando pela cidade. Por mais gelado que seja, as pessoas são aconchegantes, quentes e calorosas. Imediatamente me senti acolhida e nunca mais pensei em voltar, nunca gostei da bagunça que é aquela cidade.
— E o seu ex-namorado?
— Se mudou para cá por causa do trabalho e voltou para Nova Iorque por causa do trabalho, e eu fiquei — expliquei e ele concordou com a cabeça. — E você, está gostando daqui?
— É diferente, ainda estou tentando me adaptar ao frio e à neve constante.
— Dê tempo ao tempo, é um lugar maravilhoso.
— É o que a minha psicóloga mais diz... — ele disse brincando com a taça sobre a mesa. — Que eu preciso dar tempo ao tempo e que preciso interagir mais com as pessoas.
— Ela estaria muito orgulhosa do de hoje — falei sorrindo, e seus olhos pousaram sobre os meus.
— É, provavelmente.
— Algum motivo especifico para você não querer interagir com as pessoas? — Meu pensamento intrusivo falou mais alto e a pergunta fugiu de meus lábios. — Desculpe, não precisa responder.
— Está tudo bem, eu... As pessoas que ficam próximas de mim acabam se machucando.
Sua cabeça baixa indicava uma vergonha implícita em sua voz, mas ele continuou:
— Eu sou um imã de problemas, não sei exatamente como funciona, mas... Acontece, as pessoas se machucam.
Engoli a seco, observando-o. Estaria meu dedo pobre funcionando mais uma vez?
levantou o olhar das suas mãos para meus olhos, os olhos azuis intensos me fazendo tremer novamente. Será que eu tinha feito uma péssima escolha em convidá-lo para cá? Talvez. Mas seu semblante era pacífico,
me transmitia uma energia doce.
— Você... — Tentei pensar em algo para dizer, mas ele me interrompeu.
— Eu não sou perigoso, acredite, só fiz... Escolhas ruins — explicou-se, me fazendo sorrir.
— E resolveu viajar para o outro canto do mundo para conseguir fazer escolhas melhores?
— É, foi ideia da minha ex-namorada. Nós íamos fugir para cá juntos. — Ele baixou o olhar para as mãos novamente. Era nítido que era difícil para ele falar sobre aquilo, e eu estava lisonjeada de ser a pessoa escolhida para este momento.
— Ela desistiu? — Perguntei querendo ser compreensiva, eu sabia como era o medo de largar sua vida para ir morar em outro lugar com seu namorado. Não era uma escolha fácil.
— Ela morreu.
— Meu Deus, , me desculpe! — Minhas mãos se levantaram e foram até a minha boca aberta.
Quando seus olhos voltaram a me encarar, estavam marejados.
Aquilo partiu meu coração. Vê-lo tão entregue ao assunto, tão vulnerável, tão verdadeiro... Nunca imaginei que o homem ranzinza que me servia café quase todos os dias tinha a vida tão difícil.
— Está tudo bem, foi há bastante tempo. — Ele tentou sorrir, mas uma careta triste surgiu em seu rosto. — Ela... Ela se afogou no próprio vômito, eu estava dormindo ao lado dela. Estávamos chapados de heroína.
Como eu lidaria com aquela informação?
estava ali realmente tentando construir uma nova vida, queria esquecer o passado e tentar viver o presente, quem era eu para julgá-lo de uma vida que havia deixado para trás? Agora eu entendi o que ele quis dizer com “as pessoas que se aproximam de mim acabam se machucando”.
Me levantei e fui até ele lhe dar um abraço.
— Eu sinto muito por isso, .
— Está tudo bem, eu estou aqui para esquecer.
Ele tinha cheiro de ervas, camomila, sândalo e erva doce. Suas mãos pousaram em minhas costas e o abraço foi torto, já que ele estava sentado quando me aproximei, mas serviu com o seu propósito.
— Talvez esquecer não seja o ideal, apenas superar, encerrar o ciclo. — Acariciei seu ombro quando soltamos o abraço. Me afastei um pouco.
— É, acho que era isso que ela iria querer. — Ele tentou sorrir novamente e nada saiu.
Tentei mudar de assunto.
— Você está com fome?
Ele limpou a garganta, notei que era o que ele queria e se levantou também.
— Eu jantaria agora — ele disse de maneira leve.
— Ok, vou esquentar as comidas.
— Eu te ajudo.
— Você é meu convidado, não precisa — falei sorrindo e notei seus olhos presos em minha boca por alguns segundos. Certeza que eu estava com alguma comida presa em meus dentes, uma casquinha de tomate... Ou algo assim.
— Me deixa ajudar, por favor — ele, insistiu me seguindo até a bancada que dividia a cozinha e a sala, me fazendo segurar o sorriso.
— Você pode colocar a mesa — falei me abaixando para acender o forno a gás com o fósforo. — Os itens natalinos estão nesse armário. — Apontei.
Ele abriu o armário e deu uma risadinha.
— Você tem talheres do Papai Noel?
— É claro! Quem não tem?! — perguntei, fechando o forno e checando meus dentes rapidamente no reflexo espelhado. Estavam limpos.
— Ninguém tem!
— Todo mundo que ama o Natal tem. — Ergui os ombros, me encostando na pia.
— É, não posso discutir com isso, não conheço ninguém que ame tanto o Natal assim.
— O Natal é uma época mágica, como você não ama?
— Eu nunca fui muito próximo da minha família, sabe? Eles não eram os melhores pais do mundo e eu definitivamente não era o melhor filho do mundo, então o Natal acabava sempre sendo um feriado normal.
— Isso é meio triste, sinto muito.
— Está tudo bem. Agora tenho um Natal legal para riscar da minha lista. — Ele disse soltando um sorrisinho de boca fechada que fez meu coração derreter.
— Você está se referindo a hoje? — perguntei e ele concordou com a cabeça. — Céus, estamos presos em casa na pior tempestade de neve dos últimos anos, sem luz, sem música e você ainda acha que é um Natal legal?
Ele deu de ombros pegando os itens do armário para pôr na mesa.
— Você está sendo injusta comigo — ele disse empilhando várias coisas umas sobre as outras nos braços e fechando a porta do armário com o cotovelo.
— Tudo bem, você está certo, é um Natal legal, mas você tem que concordar que a falta de luz foi um pouco de exagero do destino, certo? Ficarmos presos em casa já era o suficiente — falei, acendendo a boca do fogão para esquentar as lentilhas.
— É — ele concordou da sala de estar. Ouvi o barulho de todos os itens sendo colocados com pouca delicadeza em cima da mesa, mas aquilo não me incomodou. — Mas se a luz não tivesse acabado, você não teria me chamado aqui.
— Ok, você tem um ponto... Se bem que, me conhecendo como sou, talvez eu tivesse me convencido a ir te chamar de qualquer maneira, com ou sem luz.
O cheiro de comida boa adentrou o ambiente, coloquei mais um pouco de vinho em minha taça, merda, será que aquilo podia ser um gatilho para ele? Nem passou pela minha cabeça.
— , eu estar bebendo vinho é um problema para você? Desculpe, eu nem me dei ao trabalho de perguntar! — Virei meu rosto na sua direção, ele estava concentrado em separar tudo que havia levado sobre a mesa.
pôs uma touca vermelha de Papai Noel em sua cabeça e sorriu adoravelmente sem mostrar os dentes.
— Não se preocupe com isso, sou da N.A.¹, não do A.A.², bebidas alcoólicas não me dão gatilhos — ele disse demorando os olhos em mim, e voltou ao assunto — Você teria me chamado mesmo com luz?
— Talvez. — Eu sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem um pouco e voltei minha atenção ao fogão. — Na verdade eu lembrei de te chamar porque ouvi um barulho vindo da sua casa, eu achava que você tinha viajado.
— Eu bati o pé na mesinha de centro quando a luz apagou — ele explicou.
— Bom, foi por isso que eu te chamei.
— Sorte a minha, então.
Engoli seco, sentindo minhas bochechas queimarem. Eu não sabia dizer se ele estava flertando ou se aquele era o jeito dele de ser, mas estava mexendo comigo de uma maneira esquisitamente gostosa.
— Yo, isso aqui tá bom pra caralho! — disse ele, apontando o garfo para o prato.
era aquele tipo de pessoa engraçada sem querer — eu não conseguia conter meus dentes dentro da minha boca, sempre estava despejando um sorriso em sua direção.
— Obrigada, o ingrediente especial foi ódio — brinquei, fazendo-o sorrir também, porque sim, eu havia desbloqueado uma nova skin do meu vizinho de sobrancelhas franzidas, a de sorridente.
— Você precisa cozinhar sempre que estiver com raiva. Nunca comi um rango tão bom na vida.
O linguajar menos coloquial veio junto com o leve e menos introvertido que eu conhecia como meu vizinho, agora que tínhamos um pouco mais de intimidade ele estava se soltando mais, fazendo algumas piadinhas e dando mais sorrisos do que eu estava realmente acostumada.
Depois do jantar, ele se ofereceu para lavar a louça enquanto eu secava e guardava. Ele jogou água em mim olhando com o canto dos olhos segurando uma risada e nos divertimos como em um filme de romance fofinho. À essa altura, eu já imaginava os créditos subindo e um “The End” com uma fonte engraçadinha enrolada com pisca-piscas, no mesmo tempo em que a tela ficava escura aos poucos e uma música da Taylor Swift tocava ao fundo.
Quando a louça estava devidamente guardada, seguimos para o sofá com um bowl cheio de cookies e M&M’s de amendoim e começamos a conversar. Ele me perguntou da minha família, como eram meus pais, meus irmãos e meus sobrinhos, perguntou como foi a minha infância, se eu tive animais de estimação e o porquê de eu não ter um agora. Perguntou sobre meus antigos relacionamentos, das minhas preferências musicais e meus filmes preferidos. Conversamos sobre tudo. O assunto não acabava e o negócio simplesmente fluía.
Era algo próximo das dez horas da noite quando ele se arrumou para ir embora.
— Eu... Caramba, , muito obrigado — disse ele vestindo seu casaco enorme. — Foi o melhor Natal que eu já tive.
Senti minhas bochechas esquentarem e sorri.
era um doce. Era nítido que era alguém quebrado por dentro que estava tentando superar os demônios do seu passado, mas ele era sim uma pessoa do bem. Era fácil de ler isso nele agora, sem aquela carranca diária.
— Fico feliz em ter ajudado, e obrigada pela companhia. Foi muito bom não passar esse dia sozinha, é muito importante para mim.
Ele vestiu as galochas que estavam ao lado da porta que dava acesso à garagem, e uniu as mãos na frente do corpo, como se algo estivesse segurando-o ali.
— . — Eu gostava do meu nome na sua voz. Percebi com isso que meu coração estava disparado, seus olhos azuis me encaravam com tanta intensidade que era difícil de respirar. — Eu preciso que você saiba que eu nunca te odiei, se eu dei alguma impressão disso, não foi de propósito.
Analisando a noite de hoje em um todo, aquilo era bem óbvio... Em nenhum momento ele me deu a impressão de que não gostasse de mim ou de minha companhia, aquilo tinha sido apenas uma ideia tosca em minha mente vendo-o sempre de cara fechada. Agora, conhecendo-o um pouco melhor, era bem aceitável que tivesse a mente em outro lugar a todo momento.
já havia sofrido o suficiente e eu nem o conhecia tão bem assim para saber. E eu não saberia se ele escolhesse não me contar e estava tudo bem.
— Eu sei disso, . — Dei um sorriso vendo-o vestir uma touca preta escondendo seus cabelos. Ele abriu os braços para que eu o abraçasse, já que ele estava tão encapuzado que parecia Joey naquele episódio de Friends em que ele veste todas as roupas de Chandler.
“Could I BE wearing any more clothes?”
Eu usava um suéter vermelho com desenhos de rena, uma legging preta peluciada por dentro e botas Ugg, uma roupa confortável de ficar em casa.
Abri os braços indo na sua direção, durante o tempo em que minha cabeça decidia se eu devia ou não o beijar. Eu queria beijá-lo, meu corpo correspondia ao seu, minha boca implorava por qualquer tipo de toque e seria o modo perfeito de encerrar o filme de Natal imaginário em minha cabeça, mas... Ele queria?
Seu corpo entrou em contato com o meu e, mesmo com oitenta camadas de roupas entre nós eu podia sentir os arrepios elétricos de uma química digna de qualquer filme natalino da Netflix que eu já tenha assistido. Nossos braços se encaixaram e apertamos o abraço que não foi curto e nem longo demais.
Meu coração batia no peito em um ritmo incontrolável e quando nos afastamos, depositei um beijinho em sua bochecha que o fez piscar errado, como se tivesse desprogramado algo em seu sistema. Isso fez ele balançar a cabeça em negativa e levar uma de suas mãos em minha nuca.
— Me desculpe, mas eu provavelmente vou estragar a sua vida também. — Sua voz saiu fraca, era como se ele estivesse me pedindo permissão.
— Eu sempre tive um dedo meio podre mesmo.
Essa foi a deixa para ele unir nossas bocas. O primeiro contato foi leve e simples, lábios se encostando e sentindo a presença um do outro. Separei nossas bocas, olhando seus olhos da cor do céu ensolarado e percebi que aquilo era certo. Retirei a touca da sua cabeça e abri os botões do seu grande casaco, deixando-o mais livre e durante todo o processo seus olhos me queimavam com uma pitada de desejo. Eu sentia o calor do seu olhar e aquilo me deixava nervosa. Eu conseguia notar que ele também estava nervoso e percebi que talvez eu fosse a primeira mulher que ele se aproximava em sua nova cidade.
Quando ele estava livre do casaco e da touca, não pude evitar me conter mais e o beijei de verdade, mergulhando minhas duas mãos nos cabelos da sua nuca enquanto ele levava suas mãos em minha cintura na altura das minhas costelas.
O beijo foi incrível, as línguas se misturavam famintas e cheias de desejo, cheias de vontade de explorar tudo o que aquela noite havia proporcionado. O seu cheiro de ervas me abraçava junto com o perfume das velas aromáticas que ainda estavam acesas pela sala.
Quando separamos nossas bocas pela primeira vez, notei que estávamos no meio da sala,
havia me empurrado e eu sentia estar flutuando durante todo o percurso, e meus pés saíram do chão novamente quando seus lábios percorreram a pele sensível do meu pescoço arrancando-me um gemido baixo que me deixou envergonhada, mas pareceu dar mais entusiasmo para ele continuar.
— Você precisa me fazer parar, —
sussurrou quando voltava seus beijos na direção do meu rosto novamente. — Eu não consigo sozinho.
Eu estava tão entorpecida que não consegui assimilar direito o que ele tinha dito.
— Eu não... — suspirei, abrindo os olhos. Notei que suas mãos estavam segurando meu rosto e minhas mãos seguravam seu moletom. — Eu não quero que você pare.
Ele soltou um muxoxo de reclamação, como se a sua última esperança fosse a minha força de vontade de resistir àquilo. Eu não queria resistir. Queria ir até o fim com ele, queria vê-lo sucumbir ao meu corpo. Ergui a barra do seu moletom, fazendo-o me soltar para erguer os braços para que eu retirasse a peça de roupa.
Unimos nossas bocas novamente, suas mãos me empurraram para o sofá e senti seu peso cair sobre mim, ele encaixou seu corpo entre minhas pernas e deslizou suas mãos para minhas costas, às vezes escapando até minha bunda.
O que eu sentia ali era diferente de tudo que eu já havia sentido porque
estava calmo, suave, paciente como se tivéssemos todo o tempo do mundo e tínhamos, não é mesmo?
Retirou meu suéter, beijou minhas mãos, meus dedos, meu antebraço e a curva do meu cotovelo.
— Desculpe a demora, eu... Estou levando minha terapia a sério. — Subiu os beijos para meu ombro e a curva do meu pescoço fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem. — Aproveitar as pequenas coisas, sabe?
Murmurei algo sem nexo sentindo sua mão deslizar por baixo de meu sutiã.
Era oficial, meu vizinho era um gostoso.
Eu estava completamente entregue àquilo, todas as sensações que meu corpo sentia, cada toque, cada aperto, tudo era lento e delicioso, tudo me fazia ficar formigando.
Agarrei o tecido da sua camisa larga puxando-a para cima, eu precisava sentir a sua pele, precisava revidar aquelas sensações, precisava que ele entendesse que eu estava adorando tudo. Sua camisa foi ao chão e minhas unhas curtas arranharam suas costas fazendo-o soltar um grunhido baixo.
— , eu... — ele disse, depositando beijos em meu colo e suas mãos iam de encontro ao fecho do sutiã. — Eu sou um problema.
— Eu adoro problemas. — Respondi rápido, arqueando as costas para facilitar.
— Não sou do tipo... Problemático de filmes de romance. — Ele parou quando abriu o fecho, mas não retirou a peça do lugar. — Eu sou um problema sério, com um passado que não pode ser apagado. Você tem certeza?
— Eu quero você, . — O desejo em minha voz era quase um pornô pronto.
Ele sorriu, aquele sorriso que iluminou a casa, talvez o quarteirão inteiro.
— — disse ele. — Meu nome é .
— — repeti sorrindo. — Você combina comn .
Então puxei sua cabeça para mais um beijo.
As peças de roupa foram saindo, uma a uma, com olhares, sorrisos e mãos em todos os cantos.
— Merda, você está muito gostosa — ele disse, esfregando o rosto com as mãos como se não acreditasse no que estava vendo: eu, voltando do banheiro, com sua camisa grande cobrindo meu corpo inteiro e uma camisinha na mão.
Pus a camisinha em seu membro com a mesma calma que ele estava me tratando até agora.
Ele estava sentado no sofá, aproveitei para sentar em seu colo com meus joelhos ao lado de cada perna sua. Suas mãos agarraram minha bunda como se estivessem magnetizadas ali e posicionei seu membro em minha entrada.
A descida foi lenta e torturante com ambos segurando a respiração.
Fiquei parada por alguns segundos, apenas sentindo-o dentro de mim, com respiração pesada e ofegante. Iniciei os movimentos, para cima e para baixo, devagar como tudo o que fizemos até o momento.
— esse nome era perfeito para ele — mantinha os olhos abertos e focados em mim, observando cada detalhe, brilhando como quando uma criança vê um pirulito gigante perto do caixa da padaria. Eu tinha quase certeza de que ele não queria perder um segundo, sabendo que ele já tinha perdido muito durante seus momentos com as drogas e aquilo me deixava incrivelmente excitada: saber que ele me admirava, não querendo perder um segundo da nossa interação.
Ele ergueu a camisa que eu usava e jogou em algum canto, vendo-o abocanhar um de meus seios enquanto senti meu corpo aumentar a velocidade dar estocadas involuntariamente. O calor no ambiente aumentou e eu não ouvia mais meus gemidos quando um formigamento conhecido surgiu em minha virilha e espalhou-se pelo meu corpo com ondas de eletricidade.
Minhas pernas estavam bambas quando cheguei ao meu ápice e ele me deitou delicadamente no sofá e, sem sair de dentro de mim, iniciou estocadas mais fortes e ritmadas. Meu corpo inteiro foi a delírio e quando o observei lambendo o dedão, levando até meu clitóris inchado, minha visão ficou turva e meu interior se contorceu em um prazer inebriante que fazia bastante tempo que eu não sentia. gozou junto comigo, e recuperamos o fôlego rindo.
— Feliz Natal, — disse ele, a respiração pesada denunciando o cansaço.
Soltei uma risada alta.
— Feliz Natal, — respondi. — Você vai me contar mais sobre esse nome?
— Vou, mas não hoje. — Ele passou a mão pelo meu rosto, com as sobrancelhas sérias unidas. — Hoje eu quero absorver o melhor Natal que eu já tive.
¹ Narcóticos Anônimos.
² Alcoólicos Anônimos.