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Revisada por: Calisto

Última Atualização: 08/09/2024

A vista era admirável.
As nuvens deslizavam rápida e graciosamente além da janela. O azul abrangente do céu a tranquilizava, quase a fazendo esquecer que estava em um avião. tinha medo de altura, não tanto dos aviões em si. E era irônico, pois quanto mais alto o avião voava, mais ela apreciava a beleza da paisagem e mais ainda desejava contemplá-la.
Respirou profundamente, recostando a cabeça na janela redonda. Seus dedos tamborilavam na coxa, numa tentativa falha de controlar a ansiedade. A morena não conseguia identificar exatamente o que sentia: nervosismo, ansiedade, medo… Se encontrava sozinha, sem sua mãe e sua irmã. E não tinha ideia do que o futuro poderia reservar a partir do momento em que pisasse fora daquele avião. Tudo o que tinha consigo era uma mochila com algumas roupas, um celular quase sem bateria e algumas barrinhas de cereais que havia separado para petiscar durante a viagem.
Enquanto o avião atravessava algumas nuvens novamente, parou para refletir. Não tinha parentes em Londres para ficar, e as poucas libras na carteira só dariam para cobrir despesas básicas. Logo, precisaria encontrar uma forma de se sustentar.
Balançou a cabeça com firmeza, tentando não pensar no grande desafio que a aguardava. Com isso, se virou para a paisagem e seus olhos se arregalaram diante da imensidão da cidade abaixo.
Havia chegado a Londres!
Seus olhos percorreram cada local, cada bairro visível à distância. Avistou o London Eye, os carros parecendo miniaturas nas ruas, e as árvores pintando o Hyde Park com cores vivas. Olhou adiante e franziu os olhos.
Reconheceu o lugar imediatamente. Claro! O Big Ben.
Um sorriso iluminou seu rosto diante daquela vista magnífica. O lugar era incrível, e a morena só conseguia se lembrar de todas as vezes que sonhara estar ali, e da felicidade ao finalmente juntar dinheiro suficiente para comprar a passagem.
Agora, após tanto tempo de espera e horas na mesma poltrona, ela se preparava para o pouso do avião, sentindo seu coração palpitar forte no peito.
— Certo. Respire fundo, — sussurrou para si mesma.
Sentiu o avião balançar ao tocar o solo e fechou os olhos por um instante, os abrindo logo em seguida. Observou as pessoas ao redor soltando seus cintos e fez o mesmo, mas com cuidado devido às suas mãos trêmulas.
Ouviu a voz da aeromoça anunciando o fim do voo e se levantou, pegando sua volumosa mochila do compartimento superior. Uma pequena fila se formava em direção à escada. Ao ver alguns passageiros começarem a descer, sentiu a ansiedade revirar seu estômago.
Seu desejo ardente de explorar a cidade era evidente, e percebia que as pessoas ao redor começavam a notar.
Quando chegou sua vez, olhou para baixo da escada e sorriu de leve.
Ali começava sua nova jornada.
Desceu lentamente, sentindo o peso da mochila em suas costas. Ansiava por encontrar um lugar confortável para sentar e descansar adequadamente.
Quando tocou o solo londrino, percebeu a diferença até no ar.
Ao passar por uma das aeromoças presentes, foi recebida com um sorriso caloroso, o que só a animou ainda mais.
Dirigiu-se para o interior do aeroporto e suspirou profundamente. Uma sensação de arrepio percorreu seu corpo, causando calafrios. Não tinha ideia do que fazer a seguir, nem por onde começar. E, enquanto observava outras pessoas sendo recebidas com abraços calorosos, se sentia cada vez mais sozinha.
estava completamente sozinha.
Olhou ao redor e viu um jovem vendendo mapas da cidade.
Sem hesitar, foi até ele e comprou um. Entre todas as opções, o trem era a escolha mais próxima e rápida para chegar ao centro.
Dobrou o mapa com cuidado e o guardou no bolso da calça jeans, pronta para seguir rumo ao terminal. Vários táxis estavam alinhados, aguardando passageiros, então decidiu caminhar até a estação do aeroporto para economizar um pouco mais.
Havia deixado o aeroporto pouco mais de meia hora e, ainda sentada perto da janela do metrô, não conseguia deixar de sentir o êxtase tomando conta de todo seu corpo, só pela animação e ansiedade. não queria perder nenhum momento do seu primeiro dia.
Seus olhos vagavam pelas casas e bairros que passavam do outro lado.
Era uma vista deslumbrante.
Levantou o olhar para o céu, agora cinza após o azul anterior, notando, através da janela embaçada do metrô, o quão gelado deveria estar do lado de fora.
Colocou sua mochila na cadeira ao lado e tirou sua touca preta, a ajeitando na cabeça para se aquecer.
Ao recostar nas almofadas confortáveis da poltrona do metrô, viu a cidade se aproximando lentamente, e um sorriso começou a se formar em seu rosto.
Era final de tarde em Londres, e a paisagem parecia saída de um filme. Rapidamente, pegou seu celular de um dos bolsos e apontou para o céu e a cidade, mas a pouca bateria restante só permitiu um clique antes de o aparelho desligar.
Que sorte! Pensou ela, jogando o celular na mochila de qualquer jeito e cruzando os braços com um ar emburrado.
Balançou a cabeça e sorriu; aquilo não a desanimaria. Não naquele lugar!

✈️🎡

O metrô parando fez despertar de seus devaneios.
Ela ajustou a mochila nas costas, pronta para desembarcar e seguiu para a porta de saída. E, ao pisar de degraus que a levavam para cima, olhou ao redor e percebeu que já estava no centro de Londres.
Caminhou quase correndo até a rua mais próxima e se deparou com a movimentação de carros, ônibus, motos e até bicicletas.
Tudo parecia tão palpável para ela.
Na calçada onde estava, mal conseguia ficar quieta.
As pessoas passavam por ela como o vento, algumas esbarrando sem pedir desculpas. Logo recuou até encostar o corpo na parede de uma das lojas do centro.
Respirou fundo e, apesar do nervosismo, decidiu se situar primeiro. Sua fome era urgente.
Olhou para o outro lado da avenida e atravessou até uma lanchonete, ignorando o tráfego intenso, embora soubesse que era arriscado. Alguns carros buzinaram e outros passaram resmungando algo incompreensível.
Ela fez uma careta e entrou no lugar, ouvindo o sininho característico tocar quando abriu a porta. Um sorriso escapou de seus lábios; era como uma cena de filme, clichê demais até.
Observou várias pessoas saboreando suas refeições nas mesas coloridas ao redor e procurou por um lugar para se sentar. Como só havia espaço no balcão, se aproximou e sentou-se em um dos bancos, avistando a garçonete loira se aproximando com um sorriso no rosto.
— Ei, boa tarde. O que gostaria de pedir? — disse a garçonete, tirando um bloco branco e uma caneta do bolso do avental, seu sorriso radiante iluminando o ambiente.
, do outro lado, parecia um pouco mais à vontade.
— Um sanduíche e um suco, por favor. — sorriu timidamente ao fazer o pedido, arranhando o sotaque britânico que havia tanto treinado, e se permitiu observar o ambiente ao redor.
O lugar era charmoso e acolhedor, e as pessoas pareciam estar desfrutando do momento ali.
Olhou para a janela ao seu lado e observou a agitação lá fora, pessoas apressadas indo para o trabalho ou para casa, especialmente agora que o dia começava a escurecer. Sentiu uma leve pontada de saudade ao abaixar o olhar, pensando na sua casa e na sua família no Michigan.
Estar ali sozinha a fez perceber o quanto sentia falta da sua vida lá. Mal conseguia imaginar como estariam sua mãe e sua irmã naquele momento.
Sacudiu a cabeça com firmeza e notou um pequeno mural do outro lado do balcão. Com um pouco de esforço, estreitou os olhos para ler um anúncio preso ali.
Esticou o corpo para conseguir uma melhor visão e quase derrubou os copos ao ouvir a voz feminina ao seu lado.
— É um anúncio sobre aluguel de quartos. — Ouviu a garçonete loira comentar, enquanto depositava o prato e o copo de suco no balcão. Observou-a seguir até o mural, arrancar o papel e entregá-la. — Parece que estão alugando por um preço bom. Quer dar uma olhada?
— Sim, por favor — respondeu a morena, pegando o papel um pouco amassado da garçonete e lendo-o.
Era um preço ótimo e ela conseguiria pagar pelo menos alguns dias.
Sorriu agradecida; pelo menos teria um lugar para ficar.
Dobrou o papel e o guardou. Assim que saísse, procuraria o local mencionado.
Permaneceu ali por algum tempo, saboreando seu suco e mordendo o sanduíche com tranquilidade enquanto observava a cidade através da janela de vidro.
Absorta em seus pensamentos, nem percebeu quando a mulher do outro lado do balcão a observava com um sorriso divertido.
— Você não é daqui, certo? — perguntou.
— Não, sou de Michigan. — Deu mais um gole no suco. — Por quê?
— Bem, você é educada e tem uma mochila grande. — Apontou para a mochila próxima aos seus pés. — O que a traz à Londres? Desculpe a intromissão, mas parece um pouco perdida.
A mulher soltou uma risadinha e riu junto, desviando o olhar.
— Para ser sincera, nem eu sei ao certo. Sempre foi um sonho conhecer a cidade. Então, arrumei minhas coisas e tomei coragem para vir até aqui.
— Ah, entendi — a loira disse, se levantando para atender outro cliente. — Um momento.
A morena balançou a cabeça, concordando, e terminou seu lanche, sentindo sua energia retornar gradualmente.
Antes de se despedir da atendente simpática, ela pegou novamente o anúncio e tentou ler o endereço, mas não tinha ideia de onde ficava.
Levantou-se do banco, organizando suas coisas.
— Já vai embora? — perguntou a garçonete, fazendo levantar o olhar. Ela assentiu com um pequeno sorriso. — Saio em cinco minutos. Se quiser esperar, posso te levar até o apartamento.
— Claro, eu espero.
olhou ao redor e, decidindo esperar pela mulher, se sentou discretamente em uma mesa ao fundo, deixando espaço para novos clientes que pudessem chegar. Enquanto estava lá, procurou por uma tomada próxima, mas não encontrou nenhuma. Seu celular continuaria sem bateria por um tempo.
Retirou a touca para ajeitar os cabelos e notou a garçonete saindo enquanto ajustava sua bolsa no ombro.
Olhou para e indicou com a cabeça a saída do local.
Na calçada, onde a agitação das pessoas diminuíra, as duas seguiram em direção à praça mais próxima e continuaram caminhando. não tinha ideia de onde estava, apenas confiava que estava seguindo uma garota que não parava de falar um segundo sequer. Achou engraçado, pois, se não fosse por ela, ainda estaria se organizando em qualquer calçada.
— Então, estou ajudando uma garota que mal sei o nome — disse a loira, com um sorriso amigável no rosto.
respondeu com um sorriso.
— Bom, eu que deveria dizer isso, não é? Estou seguindo uma garota que também não sei o nome — a imitou, abraçando o próprio corpo para se aquecer do frio e apertando o casaco. — Pode me chamar de .
— Certo, — repetiu o nome da garota e riu consigo mesma. acompanhou sua risada, achando a achando bastante divertida. — Sou . E é aqui que você vai ficar.
parou diante do pequeno prédio e observou os andares, notando algumas luzes acesas. Respirou fundo e curvou os lábios em um meio sorriso, se voltando para ao seu lado.
Naquele momento, se sentiu um pouco desanimada ao perceber que estaria sozinha novamente.
Acabara de conhecer e ela parecia ser uma ótima pessoa.
— Nem sei como te agradecer. — relaxou os ombros. — Obrigada mesmo. Se não fosse por você, nem sei o que estaria fazendo agora.
— Não precisa agradecer. Sério. — balançou as mãos. — Vamos combinar assim: se precisar de alguma coisa, é só me ligar. Tenho meu número anotado aqui, pode pegar.
puxou sua pequena bolsa, a vasculhando até encontrar o pequeno pedaço de papel branco. Estendeu-o a e sorriu em despedida, se virando para ir embora.
Ela encarou os números escritos, guardando o papel no bolso do jeans surrado antes de entrar no prédio.
Na recepção, um senhor de idade estava sentado com um jornal nas mãos, aparentemente concentrado.
— Em que posso te ajudar, minha jovem? — Ergueu os olhos cansados e sorriu reconfortante. Por um momento, sentiu seu coração se aquecer com aquele gesto familiar.
— Preciso de um quarto. Se não for pedir muito, o mais barato que tiver, por favor.
Deu um minucioso sorriso amarelo e se aproximou do balcão. Odiava estar naquela situação, sentia que a qualquer momento estaria dependendo de alguém, e isso era o cúmulo para ela.
Era triste demais.
— É nova na cidade, não é? — comentou, dirigindo-se ao mural repleto de chaves. Ele retirou um par delas, com uma etiqueta preta, e estendeu para — Não é nada luxuoso, mas você pode ficar à noite, ou quantos dias precisar.
— Está perfeito. Muito obrigada. — sorriu amplamente e tirou a mochila das costas para pagar pela estadia.
Ela começou a contar suas libras, mas parou ao ver o senhor estendendo as mãos, recusando o pagamento.
Estreitou os olhos.
— Não, querida. Não se preocupe com isso agora. Vá descansar e, quando estiver de saída, poderá acertar comigo. — Ele piscou e apontou para a escada que levava aos quartos disponíveis.
suspirou aliviada, balançando a cabeça em concordância, e seguiu para descansar. Não sabia o nome daquele senhor, mas sua gentileza e educação a deixaram com vontade de abraçá-lo pela generosidade.
No corredor, inseriu a chave na fechadura e entrou no quarto.
Ao trancá-lo, se permitiu encostar na porta e escorregar até se sentar no chão.
Se sentia exausta. Cansada, com sono e, principalmente, sentindo saudades de casa.
Se sentia perdida, sem rumo, e começava a questionar se havia tomado a decisão certa ao deixar tudo para trás e embarcar nessa viagem. Seria difícil se reerguer ali, em um lugar desconhecido, sozinha.
Ao estar ali, sentada, observou atentamente o quarto em que estava. Era pequeno, mas aconchegante e bem organizado. Havia uma cama com um criado-mudo no canto, uma janela com um móvel embaixo onde uma televisão estava posicionada, e uma portinha em frente à cama, provavelmente levando ao banheiro.
Com um impulso dos braços, se levantou e caminhou em direção à cama, onde depositou sua mochila pesada. Pegou uma toalha de banho e uma muda de roupa leve, pronta para um banho revigorante.
Respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos.
precisava planejar cuidadosamente como começaria a se estabelecer para não acabar nas ruas. Com poucas mudas de roupa na mochila e poucas libras, estava incerta sobre como tudo se desenrolaria.
— Será que foi mesmo uma boa ideia? — lamentou, num sussurro para si mesma.
Com o ânimo enfraquecido, se deixou cair sobre a cama arrumada e sentiu algumas lágrimas aquecendo suas bochechas geladas pelo frio da noite. Estava assustada, muito assustada. Receava a incerteza do que viria, o medo de passar fome, frio, sem um lugar para dormir. Tinha medo de que tudo desse errado e acabasse voltando frustrada para Michigan, seus planos arruinados.
Agora, só desejava o abraço reconfortante de sua mãe, Lenna. E se ao menos aquilo fosse um pesadelo, ansiava por acordar.
Fungou algumas vezes e enxugou as lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto. Não podia se permitir continuar naquela linha de pensamento. Tinha ido para Londres com um propósito claro: além de explorar a cidade, iria se reinventar ali. Planejava crescer e construir um futuro melhor para sua família.
Decidida, balançou a cabeça para afastar os pensamentos negativos.
Pegou suas roupas e dirigiu-se ao banheiro, ansiosa por um bom banho e um merecido descanso.
Afinal, aquilo era só o começo e estava determinada a fazer as melhores lembranças na cidade da Rainha.




O dia seguinte após ter chegado à Londres havia passado rápido.
havia aproveitado para descansar e preparar seu roteiro, anotando todos os lugares que visitaria e apreciaria. Também havia arrumado suas coisas para tentar deixar sua mochila mais leve, mas não conseguiu.
Como logo deixaria o hotel, não poderia deixar suas coisas naquele quartinho.
Se revirou na cama macia e desarrumada, reunindo coragem para se levantar.
Enquanto permanecia ali, observou um raio de sol sobre sua mão, que entrava pela fresta entre a janela e a cortina fina. Esse pequeno momento a fez sorrir amplamente, só de pensar que agora era oficial e ela realmente estava em Londres.
era uma sonhadora. Desde pequena, sempre gostou de imaginar o que faria quando conseguisse sair de Michigan. Vindo de uma família humilde, não tinha o luxo de ter um notebook ou um celular bom para pesquisar sobre os países encantados de que tanto ouvia falar na infância. Se lembrava bem do globo em sua escola, que costumava girar com os dedos como se isso a aproximasse de cada cantinho do mundo. Rodopiava o globo, decorando alguns nomes e lugares que imaginava serem bonitos. Mas bastou ter acesso a algo melhor para se apaixonar perdidamente.
se encantou assim que descobriu Londres.
Ao entrar no Maps e explorar detalhadamente as ruas, os bairros e as atrações, soube que aquele seria seu primeiro destino, e talvez, o único.
Fechou os olhos por um breve momento e suspirou. As lembranças nostálgicas a faziam pensar em sua casa e na família novamente. Deixar sua mãe e irmã para trás era o que mais apertava seu peito, mesmo sabendo que Lena havia sido sua maior motivação. Sua mãe sempre desejou o melhor para ela e para Madison, sua irmã.
não estaria ali se não fosse pelas duas.
Espreguiçou-se uma última vez e decidiu levantar. Era seu último dia hospedada no hotel e, para ser sincera, não sabia como faria a partir de então. Tinha gastado suas poucas libras em um pouco de conforto, e agora o que lhe restava era insuficiente para continuar pagando o aluguel de um quarto.
Resolveu não pensar em seus problemas naquele momento. Estava determinada a conhecer toda Londres, e era isso que faria.
Mas por onde começar? London Eye? Palácio de Kensington? As opções eram tantas…
Decidiu tomar um rápido banho e, ao parar em frente ao espelho, notou sua aparência: o rosto delicado e a pele ainda bronzeada pelo sol de sua cidade natal. Caminhou enrolada na toalha até o centro do quarto e pegou uma roupa confortável: calça jeans e tênis, como de costume. Era o que ela mais gostava.
Com suas coisas arrumadas e pronta para sair, deu uma última olhada no quartinho e o trancou. Em seguida, dirigiu-se para a escada e foi em direção ao balcão. No hall, viu o senhor da noite anterior.
— Oh! Você está aí — disse ao ver a garota parada, esperando. — Como dormiu? Espero que bem, apesar de nossos aposentos não serem dos melhores.
A morena soltou um pequeno riso e balançou a cabeça ao ouvir o comentário. — Dormi muito bem, obrigada por tudo. — Sorriu. — Gostaria de acertar com o senhor os dias em que fiquei, por favor.
agradeceu ao senhor antes de deixar o local. Ele lhe deu algumas dicas sobre onde ir e como chegar, o que a fez agradecê-lo ainda mais. Então, não demorou para ajustar a alça da mochila, logo pisando na calçada.
Naquele momento, teve uma visão ampla da avenida. Começou a caminhar, tentando observar ao máximo a arquitetura ao seu redor. Os ônibus e carros passavam a todo vapor, enquanto as pessoas transitavam apressadas, imersas em seus telefones, e outras passeavam sem muita preocupação. Ela não sabia nem por onde começar, tamanha era a quantidade de informações e coisas para observar ao mesmo tempo.
Ao se aproximar do centro da cidade, conforme indicavam seu mapa e GPS, conseguia apreciar melhor a beleza do local. Havia lojas das marcas mais famosas e algumas das icônicas cabines telefônicas, aquelas que costumavam aparecer em postagens no Pinterest.
Deu um pequeno sorriso ao lembrar das fotos que havia pesquisado e ergueu seu celular para fotografar.
Depois de andar um pouco mais, virou em uma das esquinas movimentadas e parou, entorpecida. Não conseguia acreditar, mas estava ali, diante do Big Ben.
ficou alguns minutos admirando o enorme relógio, até perceber que estava bloqueando o caminho. Assim, decidiu se aproximar lentamente, ainda sem acreditar.
Observava cada detalhe, cada cantinho, maravilhada por estar vivendo aquilo.
No mesmo local, havia uma pequena fila onde um guia turístico estava explicando mais sobre a área. Queria muito poder pagar para participar daquilo, mas não iria desanimar.
seria sua própria guia.
À sua esquerda, podia avistar o London Eye do outro lado do rio Tâmisa. Não pensou duas vezes para pegar o celular do bolso e começou a fotografar, mais uma vez, tudo o que conseguia ver à sua frente.
Enquanto andava lentamente, sem se preocupar com o tempo, observava cada banca, cada loja e cada pessoa ao seu redor. Só quando sua barriga roncou alto foi que se deu conta de que ainda não tinha comido nada.
Olhou ao redor em busca de uma lanchonete e avistou uma pequena loja de condimentos, entrando imediatamente.
O lugar era bonito, com decoração colorida e um aroma convidativo. escolheu o que precisava para matar a fome e ficou na fila, esperando a sua vez. E, enquanto isso, não pôde deixar de ouvir um burburinho alto e animado.
No corredor ao lado, um grupo de garotas conversavam animadamente.
De onde estava, conseguiu escutar um pouco do que falavam e se encontrou um pouquinho curiosa.
— Ficou sabendo que vão estar na cidade hoje?
Não brinca! Preciso muito ver isso. Será que conseguimos uma foto? Ou talvez…
Notou que as garotas gesticulavam e falavam como se tratasse de alguma coisa muito importante.
ficou se perguntando; precisava admitir que quem quer que fosse, estava fazendo sucesso por ali.

✈️🎡


Com um pedaço de biscoito nos lábios, observava seu mapa enquanto caminhava lentamente entre as pessoas na calçada. Na direção em que estava, poderia seguir um pouco mais e visitar o local do London Eye, só ao atravessar a ponte. Ou, se desse meia-volta, poderia visitar a Abadia de Westminster.
Uma dúvida e tanto.
Depois de sair da loja de conveniência, encheu a galeria do celular com fotos de cada lugar que visitava e selfies em frente a eles. Não queria deixar passar a oportunidade de registrar o fato de realmente estar ali. Talvez postasse alguma coisa em suas redes sociais mais tarde.
Decidiu seguir em direção ao St. James Park. Se lembrou que era um dos parques que sempre quis conhecer e, estando ali, poderia visitá-lo quantas vezes quisesse.
Caminhou um pouco mais, com o vento bagunçando seus cabelos e suas mãos apertando o casaco pesado no corpo.
E, discretamente, com um sorriso sincero nos lábios.
A sensação era maravilhosa.
O parque era imenso e extenso, maior do que havia imaginado. As entradas e as árvores exuberantes eram exatamente como tinha visto no aplicativo. Muitas pessoas estavam ali praticando esportes, como caminhadas, corridas e yoga sobre o gramado.
Assim que se aproximou de uma das entradas, desceu pelo gramado levemente molhado pela garoa que provavelmente havia caído mais cedo.
Cada folha que caía ao chão era memorável. O verde vibrante se misturava com as folhas secas que caíam com a chegada do outono. Além das folhas e árvores, havia flores e pássaros por toda parte, criando uma cena digna de filme americano.
Isso a fez apontar a câmera e tirar mais algumas fotos.
A cada passo que dava, notava uma nova entrada levando a diferentes áreas do parque. Havia caminhos que conduziam a lanchonetes ou a pequenas mesas onde alguns idosos jogavam xadrez e conversavam. Se continuasse andando, poderia optar por seguir para um monumento importante ou para a saída mais próxima.
Incrível.
O lugar parecia ter sido projetado com uma minuciosidade impressionante, com cada detalhe meticulosamente pensado. Sabia que não conseguiria explorar tudo em apenas uma única tarde.
Depois de mais uma olhada, seguiu em direção à saída mais próxima. Ao parar ali, percebeu que estava em uma avenida bastante movimentada. A maioria das pessoas que passavam estava vestida de forma elegante: ternos, gravatas, vestidos e saltos altos.
E ali, destacava-se um dos maiores e mais impressionantes edifícios, digno de fazer qualquer um suspirar; o Palácio de Buckingham.
Absorvida em seus pensamentos, viu um banco próximo e decidiu se sentar.
Retirou a touca de sua mochila, já que, naquele final de manhã, havia uma brisa fria que a fazia arrepiar. Era melhor se manter aquecida com o que tinha ali.
Sentada ali, encostada ao banco, uma única preocupação dominava seus pensamentos.
Como seria daqui para frente? Como se sustentaria?
Inicialmente, planejava encontrar um emprego decente para cobrir sua estadia e o que precisasse até o final do mês. Era assim que pretendia começar.
Agora, tudo parecia estranho. Incerto demais.
E se não desse certo? E se nada saísse como planejou?
Será que foi a decisão certa?
estava assustada e sentia aquele conhecido aperto no peito.
Sua maior vontade, sendo bem sincera, era voltar para casa. Lá, teria sua cama, alimentação e a companhia da família.
nunca havia se sentido tão sozinha.
Ergueu o rosto e observou o céu através dos galhos das árvores ao redor. Estava cinzento, com algumas nuvens espalhadas.
— Eu posso fazer isso — murmurou.
Respirou fundo e se levantou, tentando se animar.
Decidiu que procuraria uma lanchonete para se alimentar, já que se aproximava do horário do almoço. Não poderia pagar um almoço completo, mas pretendia comer alguma coisa.
Cruzou a avenida e, ao chegar à calçada do outro lado, notou a calçada lotada, a fazendo pedir licença para as pessoas ao redor.
Caminhou pela área, observando o comércio local. Tudo era muito bonito e bem organizado, com uma grande quantidade de lojas de roupas. E em uma delas, havia um pequeno cartaz na parede de vidro.
A garota decidiu se aproximar, curiosa para descobrir do que se tratava.

“Estamos contratando. Por favor, entre em contato conosco pelo número...”


Mal conseguiu terminar de ler, já estava anotando o número e o nome do local para entrar em contato rapidamente. Talvez, quem sabe, as coisas estivessem começando a dar certo e aquilo fosse um sinal?
Esperava que sim.
Antes de começar a caminhar novamente, notou um aglomerado de pessoas mais adiante, perto da próxima esquina. A maioria parecia agitada, conversando animadamente.
À frente daquele grupo, havia uma van preta estacionada.
Se aproximou, movida pela curiosidade. Será que havia acontecido algo por ali?
Notou que entre as meninas que ali estavam, havia quatro rapazes.
Eles conversavam animados, sorridentes, parecendo bastante interessados no assunto. Quando comentavam algo, as meninas riam e gesticulavam de forma exagerada. Pelo que conseguia ver, pareciam ser um grupo de amigos bem íntimos.
Para não ser notada, se escondeu perto de uma das bancas na calçada. Precisava admitir que estava bem curiosa.
Encostou seu corpo na lateral da banca e continuou a observá-los.
Eles tiravam fotos, mostravam algo no celular e, toda vez que os rapazes comentavam algo, as meninas pareciam se derreter ao trocarem olhares.
Se lembrou de sua cidade natal. Nunca teve muitos amigos, sempre foi bastante seletiva. Sua única amiga na adolescência havia se mudado para longe e o único contato que mantinham era, ocasionalmente, pelo Skype. Sentia falta dela.
E, principalmente: sentia falta de ter uma amiga presente ao seu lado.
Notou que, com a movimentação, um dos rapazes se virou, permitindo que ela o visse melhor. tinha a impressão de que ele não parecia estranho, mas também não o conhecia de fato.
O rapaz tinha cabelos castanhos ondulados, com algumas mechas caindo sobre a testa. Seus óculos escuros impediam que ela visse seus olhos. O sorriso em seu rosto era cativante; quanto mais olhava, mais sentia vontade de sorrir também.
Precisava admitir que ele era bonito; uma beleza única.
Desviou o olhar para não parecer que estava encarando demais. Vagarosamente, como quem não queria nada, voltou a observá-los. Pareciam estar se despedindo agora.
ajustou a touca na cabeça e sentiu um pingo de chuva cair em sua mão, percebendo que começava a chover. Seu coração acelerou de preocupação, pensando onde ficaria ao fim daquele dia, com aquele tempo.
Deu alguns passos para trás, sem notar a máquina de doces redonda a poucos centímetros de si. A máquina quase caiu, mas a segurou rapidamente, com o desespero se tornando presente, e logo a colocou de volta no lugar.
Se desculpou com o responsável pela banca, já sentindo seu rosto queimar pela vergonha e fechou os olhos por um breve instante.
O que estava pensando, afinal de contas? Quase causou um acidente, o que certamente chamaria a atenção do rapaz que estava observando antes e aquela não era mesmo sua intenção.
Antes de sair do lugar, lançou um último olhar ao grupo de amigos e ao rapaz.
Agora ele estava encostado à van, com as mãos no bolso do jeans e os óculos virados em direção a .
Desta vez, não tinha o sorriso que havia aquecido seu coração.
Ele estava sério, com a expressão de curiosidade, como se perguntasse a si mesmo quem era a mulher que o observava.
sentiu a vergonha tomar conta de todo seu corpo outra vez.
Engoliu em seco, apertando a alça da mochila e saiu dali o mais rápido possível.
Mesmo sabendo que provavelmente nunca mais o veria, estava envergonhada por ter olhado tanto ao que nem era da sua conta.
Contornou a esquina com tanta pressa que não notou.
Sequer percebeu.
O rapaz estava prestes a ir em sua direção.

✈️🎡


O final da tarde estava se encerrando, dando lugar ao céu escuro e pontilhado por poucas estrelas de Londres.
havia colocado seu casaco e suas luvas, tentando aquecer seu rosto de forma ineficaz. Era uma daquelas noites em que o frio parecia envolvê-la por completo e como se nada no mundo fosse suficiente para esquentá-la. Contou e recontou suas libras, percebendo que não teria como pagar mais um quarto naquela noite.
Poderia até conseguir, mas e os outros dias? Não teria nada, pelo menos até conseguir um emprego.
Sentia que estava começando a ficar desesperada, com sono e fome.
No meio da Great George St., movimentada e iluminada, desejava sentir um pouquinho de esperança.
Queria se convencer de que tudo acabaria bem a ponto de poder ligar para sua família e dizer que havia conseguido. Que havia se estabilizado e tudo estava bem.
Só queria estar feliz.
Mas, só conseguia sentir medo, desespero. Tristeza.
Sabia que teria que fazer algo que nunca havia imaginado antes.
Com o corpo cansado e a mente em um turbilhão de pensamentos, sem nenhuma solução à vista, continuou a caminhar.
Uma pequena viela, um beco mal iluminado pelo horário, a fez encará-lo.
Se aproximou para adentrá-lo, mas parou, virando-se novamente para a avenida.
piscou algumas vezes, achando loucura o que havia pensado.
Rapidamente pegou seu celular, deixando cair o papel amassado que estava em seu rosto. Havia um número anotado e se lembrou que pertencia à garçonete que a havia ajudado outro dia.
E se ligasse para ela?
Não.
Mal conhecia a garota e não queria incomodá-la, ainda mais para pedir que a deixasse passar a noite.
Não tinha esse direito.
Mordiscou seus lábios, já um pouco ressecados pelo frio, e guardou o aparelho, desistindo da ideia. Não poderia fazer aquilo. Não deveria nem considerar o que estava pensando, mas percebeu que, pelo menos naquele momento, seria a única solução.
Claro que não dormiria ali. Mas, talvez, se pudesse descansar um pouco…
Olhou ao redor para verificar se alguém estava observando e adentrou.
Não havia ninguém.
observou uma grande lixeira, junto de alguns papéis espalhados pelo chão.
Observou o local e viu um canto relativamente limpo. Ali se sentou, deixando um suspiro alto lhe percorrer os pulmões.
Colocou as mãos no rosto e o pressionou, sentindo o quentinho de suas luvas.
sabia que não ia aguentar. E se seu sonho acabasse em pesadelo?
Parecia que tudo estava prestes a desmoronar.
— Não posso fazer isso — murmurou, para si mesma.
O nó estava se formando em sua garganta. E, agora, o choro alto vinha à tona.
Sentiu as lágrimas mornas descendo pelo rosto, enquanto toda sua coragem se esvaía. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Como havia deixado aquilo acontecer?
Fungou algumas vezes, com o rosto ainda molhado, tentando se acalmar.
Não conseguia pensar no que fazer; o frio e a fome a atormentavam. Nem mesmo sabia por onde começar e seus pensamentos não se organizavam de forma alguma.
respirou fundo.
E, com toda aquela preocupação, dor e saudade de casa, sentiu seus olhos pesarem de vez.



Seu corpo doía.
Sua mente parecia à beira do colapso, mas o único sentimento que conseguia perceber naquele momento era o peso que sua nuca carregava, resultado de uma noite mal dormida, praticamente sentada, encostada na parede úmida e suja do beco.
relutava em abrir os olhos, temendo enfrentar a realidade que a aguardava. Desde que teve que dormir sem qualquer tipo de acomodação, ela havia alimentado a esperança de que tudo não passaria de um pesadelo do qual logo acordaria. Não suportava mais a situação e não imaginava que tudo se desenrolaria dessa maneira.
Se questionava se realmente havia cometido um erro ao decidir ir para Londres.
Havia planejado sua viagem com cuidado e antecedência, então por que estava enfrentando tanta coisa? Por que parecia que seu sonho estava desmoronando? Não podia ser que tudo estivesse tão errado assim.
Com um suspiro profundo e lento, levou as mãos ao rosto e as manteve ali por alguns segundos, enquanto tentava decidir o que fazer. Não queria desistir, nem mesmo queria voltar para casa e admitir que seu sonho havia se mostrado apenas isso — um sonho. E que sua experiência não havia sido memorável a ponto de corresponder às suas expectativas.
Se sentia frustrada, decepcionada… Triste.
Não sabia até quando conseguiria suportar.
Ainda com as mãos pressionadas contra o rosto, ela alisou-o como se isso ajudasse a acordá-la por completo. Com os olhos ainda sonolentos, os abriu e avistou algo que nunca imaginara ver em Londres. Havia lixeiras comunitárias, sacos de lixo espalhados e caixotes; a paisagem não era nada agradável.
Deixou escapar um resmungo frustrado e, com um gesto rápido, prendeu os cabelos, antes desarrumados, em um rabo de cavalo, se preparando para sair dali o mais rápido possível. Observou suas roupas, já não tão limpas, e ponderou sobre o que poderia fazer para se limpar um pouco. Talvez comprar algo para comer e parar em uma das lanchonetes que ofereciam um banheiro, como fizera da última vez. Isso poderia ajudar um pouco.
Sim, talvez pudesse encontrar um jeito de sair daquela situação. Estava decidida a tentar.
Olhou ao redor, notando a ausência de pessoas no local e retirou o celular do bolso da mochila para verificar seu reflexo. Observou na tela que, apesar de cansada, sua expressão ainda não estava tão ruim e que, mesmo não estando tão limpa quanto desejava, talvez passasse uma impressão razoável.
A verdade era que sentia um impulso quase incontrolável de gritar pela situação em que se encontrava. Queria ligar para sua mãe e contar tudo o que estava passando, mas sabia que não seria o certo. Não podia simplesmente pedir socorro quando as coisas estavam tão ruins, especialmente sabendo o quanto sua mãe poderia ficar preocupada e querer pegar o primeiro voo para encontrá-la.
Além disso, não podia aceitar mais ajuda financeira; sua mãe já havia contribuído muito para a realização de seu sonho de ir para Londres.
Balançou a cabeça, como se isso pudesse espantar todos os pensamentos negativos que a atormentavam, e ajustou a alça da mochila nas costas, decidida a sair daquele lugar e retomar sua tour pela cidade da rainha. A simples ideia de voltar ao passeio fez um frio conhecido percorrer seu estômago, confundido com a fome que sentia.
fez uma pequena careta, levando a mão à barriga, e seus lábios se entortaram, quase como se estivessem prestes a sorrir. Sim, sorrir. Mesmo enfrentando um dos maiores desafios de sua vida, estava determinada a extrair algo positivo da situação. Faria com que mesmo os piores momentos em Londres se tornassem boas lembranças para seu aprendizado.
Não se deixaria abater.
Ao sair do beco e pisar na calçada, sentiu como se tivesse sido transportada para outro mundo. Observou as pessoas passando apressadas, enquanto outras caminhavam devagar, examinando cada detalhe ao redor — turistas, como ela. já havia notado isso desde o primeiro dia na cidade, mas a cada vez que via a cena, era como se fosse a primeira.
E ela achava isso fascinante.
Com um pouco de insegurança quanto às suas roupas, ela começou a caminhar devagar, passando por algumas lojas. Só então percebeu que ainda estava perto do centro da cidade, quando viu uma placa indicando a proximidade da Tottenham Court Road.
Olhou admirada para a estrutura ao seu redor. Os prédios antigos ainda assim aparentavam ter um charme irresistível e a forma que o céu azul contrastava com o colorido deles era fascinante. E, enquanto observava, notou os icônicos ônibus vermelhos de dois andares circulando pela rua, exibindo anúncios de novos lugares ou shows de bandas que se apresentariam em Londres.
Assim como os ônibus, havia muitos táxis e uma infinidade de carros. Para , tudo parecia surreal. Era difícil acreditar que realmente estava ali, e, por um momento, se esqueceu de tudo o que havia passado até então. A única coisa que lhe vinha à mente era o quanto aquela cidade era diferente de sua pequena Ann Arbor. Embora Ann Arbor não pudesse ser comparada a Londres em termos de grandiosidade, sua estrutura acolhedora e o ar familiar faziam falta a mulher.
Agora, com passos mais animados, olhava para as lojas ao redor enquanto repetia para si mesma que tudo iria se resolver.
Ela conseguiria encontrar um emprego, pagaria por um lugar para morar e, aos poucos, se ergueria em Londres, como sempre sonhou.
caminhou por mais um tempo, aproveitando a oportunidade para entrar em algumas lojas que estavam contratando. Em cada uma delas, se apresentou, na esperança de encontrar um novo emprego. De cara, recebeu um não, e nas outras duas tentativas, disseram que entrariam em contato. A rejeição foi imediata, especialmente por saber que suas roupas e seu estado faziam com que todos a olhassem de maneira desconfiada ao entrar em qualquer lugar, especialmente ao falar sobre trabalho.
Sabia que não seria fácil ser aceita.
Ela soltou um suspiro cansado, pressionando os lábios enquanto erguia a cabeça. Não deixaria isso abatê-la, não naquele momento em que havia decidido tentar algo diferente. Pelo menos naquele dia, se esforçaria para pensar e sentir algo diferente das emoções que a haviam dominado até então.
Olhou ao redor, observando as pessoas que passavam e todo o cenário que um dia sonhou em conhecer. Ela estudava cada detalhe, tentando gravar tudo na memória, como se soubesse que seu retorno à cidade natal não estivesse distante.
Chegar até ali já era uma grande conquista para , mas, no fundo, sentia que parte do que sonhou não estava se realizando como havia imaginado, como havia planejado.
Ela sentiu o peito se apertar aos poucos ao se lembrar das noites passadas à luz do abajur, com o pequeno caderno de anotações em mãos, planejando cada detalhe do que faria ao chegar em Londres. Não pôde evitar um sorriso no canto dos lábios, quase como se aquela antiga esperança estivesse invadindo seu coração mais uma vez. Era reconfortante lembrar de como se sentia como uma adolescente entusiasmada, passando horas admirando as fotos dos pontos turísticos que agora, finalmente, podia ver de perto.
Apesar de tudo, se sentia grata por ter conseguido chegar até ali.
segurou firmemente as alças da enorme mochila que pesava em suas costas e ergueu o rosto novamente, contemplando o céu azul, salpicado por poucas nuvens. O clima estava ameno e agradável, e o leve vento que soprava não fazia falta, mesmo que o friozinho do outono ainda se fizesse presente.
O outono ali tinha uma beleza própria, quase encantadora.
Com a mesma determinação de antes, continuou a caminhar pelas ruas movimentadas, mas, ao virar a esquina da Regent Street, foi surpreendida por uma movimentação ainda maior e pelo som de música ecoando no ar. Naquele instante, sentiu seu corpo inteiro se arrepiar. Tudo parecia tão surreal. Será que ainda estava sonhando em seu pequeno quarto?
Não conseguia definir exatamente como estava reagindo, mas sabia que seus olhos estavam arregalados e marejados enquanto contemplava a arquitetura e a decoração da avenida. Parecia que estava vivendo dentro de um filme clichê, rodeada por uma paisagem que qualquer pessoa poderia sonhar, mas com a diferença de que, nos filmes, tudo costuma ser bem mais fácil.
Mas ela não iria pensar nisso.
Com os olhos fixos nos prédios ao redor, se concentrava em gravar cada pequeno detalhe da rua onde estava. Admirava cada janela e detalhe arquitetônico antigo dos prédios alinhados dos dois lados, percebendo como a cidade era fiel às fotos e ao Street View que tanto estudara. Sempre teve a dúvida de que talvez Londres não fosse tudo aquilo que imaginava ou que poderia se decepcionar ao chegar, mas estava completamente enganada.
Londres era tão magnífica tanto quanto havia sonhado.

✈️🎡

Quando viu os raios de sol se escondendo entre as nuvens, sinalizando o fim de mais uma tarde, decidiu se entregar aos bons sentimentos que sentia, deixando de lado as lembranças amargas que a atormentavam desde sua chegada a Londres. Enquanto contemplava a arborização do Queen Mary’s Rose Gardens, parecia que todas as dificuldades que havia enfrentado não passavam de um sonho ruim. Por alguns momentos, era como se nada daquilo tivesse realmente acontecido, como se todo o sofrimento tivesse sido apenas um pesadelo, e ela desejava, do fundo do coração, que fosse mesmo.
queria tanto que todos os momentos difíceis — especialmente os de fome e as noites frias e solitárias nas ruas da cidade — fossem apenas um pesadelo. Desejava poder abrir os olhos de uma vez e perceber que estava bem, saudável e feliz, finalmente realizando o grande sonho de visitar a cidade que tanto amava.
Esboçou um sorriso fraco, embora triste, enquanto seus pensamentos vagavam. Se sentia tão ingênua por tudo o que estava acontecendo que, à medida que os minutos passavam, a vontade de contemplar tudo pela última vez e voltar para casa crescia em seu peito. Queria se acolher nos braços reconfortantes de sua mãe e sentir o carinho atencioso de Madison novamente.
A saudade começava a invadi-la por completo.
Fechou os olhos por alguns instantes, se lembrando vagamente do sorriso encorajador de sua mãe ao vê-la embarcar e do aceno breve de despedida de sua irmã.
Como sentia falta da sua família…
passou a mão pelo rosto, tentando afastar as lembranças que apertavam ainda mais seu coração. Terminou o lanche que segurava e descartou o pacote enquanto se aproximava de um banco livre, ainda observando a mesma paisagem. O céu estava ficando mais escuro, indicando que a noite se aproximava.
Sentiu o corpo estremecer ao pensar que precisaria encontrar um lugar para passar mais uma noite, mas decidiu não focar nisso naquele momento.
Ela precisava se concentrar em outra coisa.
Com alguma dificuldade, tirou a enorme mochila de suas costas, apoiando-a no banco ao lado. A abriu e começou a procurar o celular. Sabia que provavelmente a bateria estava baixa e, mesmo o desligando para economizar energia, não havia durado muito. Mas, ela queria, de alguma forma, ouvir a voz de sua família, em vez de apenas ler e responder mensagens com a típica frase de que estava tudo bem.
Tudo bem.
Suspirou, consciente de que essa era a maior mentira que poderia contar.
Ao sentir o aparelho gelado em suas mãos, apertou o botão para ligá-lo. Quando o símbolo da marca apareceu na tela, sentiu um leve alívio por saber que ainda poderia usá-lo por mais algum tempo. Enquanto o celular terminava de ligar, olhou ao redor, observando as pessoas caminhando, algumas conversando entre si, e outras, provavelmente, voltando para casa, já que era o horário de saída para muitos. Seus olhos captaram as roupas que vestiam, o modo como andavam e se comportavam.
Ela assentiu para si mesma, confirmando mais uma vez que os londrinos tinham um estilo único e marcante — não havia dúvida disso.
notou que alguns grupos de amigos também passavam por ali, mas foram dois rapazes, que pareciam vigiar os arredores, que chamaram sua atenção. Eles olhavam constantemente para os lados, como se estivessem procurando por algo. os observou até que um deles finalmente cruzou o olhar com o dela, o que a fez se sentir extremamente desconfortável.
Não era um olhar comum; algo nele a fez estremecer.
Desviando o olhar, balançou a cabeça e tentou ignorá-los, voltando sua atenção para o celular, que agora exibia o display aceso. Com um sorriso tímido surgindo em seus lábios, rapidamente pressionou o número de sua mãe, e logo ouviu os primeiros toques de chamada.
Em poucos instantes, a voz suave de Lenna invadiu seus ouvidos, e, no mesmo momento, os olhos de se encheram de lágrimas. Quase deixou escapar um soluço, segurando o choro que tentava transbordar.
— Mamãe… — murmurou quase em um sussurro.
— Meu amor, eu estava tão preocupada com você! — Lenna respondeu em um tom ameno, mas carregado de apreensão. — Como estão as coisas? Como você está? E como é Londres, querida? É exatamente do jeito que você sonhava?
fechou os olhos, sentindo uma lágrima escorrer ao ouvir as perguntas de sua mãe. Queria tanto dizer que tudo estava perfeitamente bem, que estava feliz e que Londres era tão encantadora quanto imaginava. Mas não. Era tudo o oposto do que sonhara.
Nunca imaginou que esses sentimentos fariam parte de sua vida.
Se sentia magoada, decepcionada e arrependida. Tudo isso e um pouco mais. Ouvir a voz esperançosa de sua mãe, ainda tentando incentivá-la, apenas reforçou o que já sabia; queria voltar para casa o mais rápido possível.
Ah, mãe… Londres é tão linda, tão mágica… Você e Mad iriam adorar, tenho certeza. Toda a arquitetura, a iluminação e principalmente todo o ar daqui é diferente. Sabe, como as fotos que te mostrei antes de vir — dizia, ainda com os olhos sob o céu escuro, e admirava de forma nostálgica as estrelas que iam surgindo. Sua garganta doía, o nó só ia crescendo. — Eu estou bem, tem sido um pouco corrido. Tenho procurado emprego sempre que posso
Omitiu algumas partes e assentiu consigo mesma ao ouvir a voz surpresa de sua mãe.
— É mesmo? E como tem sido? Sei que é difícil, conversamos sobre isso. Mas, confio muito em você, minha filha. — Suas últimas palavras fizeram levar uma das mãos à boca, como se isso segurasse o choro apertado que insistia em sair. Pressionou os olhos novamente, levando um tempo antes de responder. — Você conseguiu um lugar bom para ficar? Tem se alimentado direitinho? Não se esqueça do café da manhã, é a alimentação essencial para o começo do seu dia — ralhou, soltando um suspiro ao final por saber que não conseguiria chamar a atenção da filha.
— Consegui um lugar, não é um dos melhores, mas gosto, e não é sempre que consigo me lembrar de comer pela manhã, mas faço um esforcinho — inventou qualquer desculpa rapidamente para não deixar Lenna preocupada e a ouviu concordar do outro lado. — Não precisa se preocupar assim… — disse, deixando sua mente vagar para sua cidade natal.
Por um lado, queria muito contar à sua mãe o que realmente estava acontecendo, queria lhe dizer a verdade e queria saber a opinião dela, mas, por outro… Sabia que talvez só fosse piorar toda a situação.
Lenna faria o impossível para trazer de volta a Ann Arbor ou até mesmo daria um jeito de fazê-la continuar ali. Isso era uma das coisas que a garota não queria, tinha prometido à sua mãe que tudo daria certo e ficaria bem.
Ou pelo menos achou que seria assim.
Nos minutos seguintes, ouviu sua mãe comentar sobre como ela e sua irmã estavam, em como estavam se esforçando para continuar fazendo o restaurante da família continuar funcionando e que Mad fazia seus horários na maior parte do tempo, não por ser obrigada, mas porque queria, e de certa forma aquilo fazia um pouco da saudade de se dissipar minimamente. Ouvir aquilo de sua mãe fez chorar um pouco mais, sentindo que mais do que nunca precisava voltar para sua família, mesmo sua mãe lhe apoiando o contrário.
Suspirou mais uma vez, demonstrando a tristeza que invadia seu peito e fazendo assim com que sua mãe percebesse.
— Querida, você está chorando? — perguntou, aflita. murmurou em resposta. — Oh, meu amor… Não fique assim. Você está realizando um sonho, mesmo longe de nós duas. É tão corajosa e valente, . Eu e sua irmã estamos muito orgulhosas de você. Sabe disso, não é?
balançou a cabeça, assentindo como se sua mãe estivesse vendo aquilo.
— Mamãe… — murmurou mais uma vez, limpando o rosto molhado. — Sinto tanta falta de vocês. Às vezes, até penso em desistir de tudo e voltar para casa.
— Você sabe minha opinião quanto a isso. Sempre te receberei de braços abertos, mas, minha filha… — Pausou, suspirando. — Não desista de seu sonho tão facilmente assim. Você tem tanto para ir longe, tanto para conhecer e viver em Londres. Sempre soubemos que não seria fácil, a vida não é fácil, meu amor. Precisamos passar por tormentos para chegarmos ao momento de paz — disse, calma, fazendo com que sentisse todo o sentimento tomar conta de si. Amava tanto sua família e sua mãe parecia saber exatamente pelo que estava passando, mesmo sem dizer. — Eu amo você, , e também sentimos muito a sua falta, mas saiba que você ainda pode, e eu sei que vai, conhecer Londres do jeitinho que sempre sonhou.
— Você não faz ideia de como eu precisava te ouvir — disse, baixinho, se dando por vencida e deixando todo o choro que segurava vir à tona, fazendo-a suspirar e soluçar por alguns minutos. Sabia que falar com sua mãe não seria fácil, sabia desde o primeiro momento, mas havia sido tão importante para sua jornada ali. Ela precisava.
— Eu amo você, meu amor, e oro todas as noites para que fique bem e que não passe por nada ruim. Sempre te carrego em meu coração — disse, e soube que ela sorria do outro lado da chamada. — Nos ligue mais vezes, tudo bem? Sei que talvez você não consiga pelo fuso horário e pelos afazeres, mas isso não importa. Eu e Mad vamos sempre te atender. Você tem certeza de que está bem, filha?
concordou mais uma vez, passando as mãos pelo rosto de forma rápida.
— Estou bem, sim, mãe. Não se preocupe. Só senti muita saudade, foi isso — respondeu, pressionando os lábios e deixando um sorriso mínimo transparecer. — Tudo vai ficar bem, como você disse. Vou ser forte e continuar — afirmou mais para si mesma do que para sua mãe. — Eu amo vocês, mamãe. E sempre carrego as duas em meu coração também.
— Ah, meu orgulho! Fique bem, minha querida. E se precisar de qualquer coisa, inclusive na questão financeira, eu dou um jeitinho, tudo bem? E eu estou falando sério, — disse firme, soltando uma risadinha ao final. — Agora tenho que ir. O restaurante já abriu. Fique bem, filha.
— Vou ficar, mãe. Até logo, amo vocês!
Pôde ouvir a mesma resposta de sua mãe em despedida e só conseguiu ouvir o toque final anunciando que havia desligado.
permaneceu na mesma posição por breves segundos, digerindo tudo o que havia acontecido e se sentiu tão acolhida novamente, como se realmente tivesse recebido um abraço de sua mãe.
Quando percebeu, já estava chorando outra vez. Não só por ter omitido tudo o que realmente estava acontecendo, mas por ver que sua mãe ainda a incentivava de forma terna, tentando lhe ajudar mesmo não podendo.
Não sabia como agradecer.
Continuou sentada no banco do jardim, notando que já estava de noite e o frio do dia se tornava mais evidente, a fazendo desligar e guardar o celular mais uma vez, tirando a touca de dentro da mochila e aquecendo sua cabeça assim que a colocou.
soltou um suspiro enquanto encaixava suas luvas nas mãos, voltando a olhar ao seu redor, percebendo que não havia tantas pessoas como antes, e aquilo a alertou por alguns instantes, notando que havia ficado praticamente sozinha no lugar.
Olhou para o lado, observando as luzes que iluminavam o caminho calçado do lugar, no centro do jardim cheio de flores coloridas e árvores as quais suas folhas caíam pelo chão. Com isso, resolveu ajustar sua mochila novamente nas costas e partir para um lugar mais
movimentando para pensar o que faria naquela noite para poder descansar.
Aquele sentimento de impotência, de desilusão, começava a tomar conta de si novamente, mais uma vez, em mais uma noite.
O que faria? Todos os seus dias seriam assim ao final?
Não podia continuar daquela forma, não poderia continuar descansando todas as noites em um beco qualquer. Não era o que tinha planejado.
Respirou fundo, pressionando os lábios, como se aquilo pudesse conter seu choro, mas não teve muito tempo para pensar mais sobre o assunto, já que alguns passos começavam a ficar evidentes no local, bem atrás dela.
olhou para os lados, não conseguindo ver ninguém, mas ao olhar para trás, conseguiu avistar os dois rapazes de mais cedo caminhando até ela, com os dois pares de olhos focados na mulher.
Sentiu o coração descompassar.
Será que estava imaginando coisas e talvez fossem apenas duas pessoas quaisquer caminhando por ali àquela hora? Não sabia, mas sentia seu peito comprimir ao notar que eles a seguiam e não faziam questão de passar por ela.
Apressou o passo. andava de forma tão rápida que sentia sua garganta secando na medida em que seus passos eram largos e apressados, evidenciando seu espanto pelo que estava acontecendo.
Pôde ouvir risadinhas e duas vozes invadindo sua mente.
Não. Aquilo não podia estar acontecendo.
— É melhor não correr — um deles falou e percebeu que estavam mais perto do que imaginava. só conseguia ver as árvores que decoravam o caminho até o final do jardim, mas não conseguia ver com nitidez a rua em si, indicando o final da calçada.
Queria gritar, chorar, pedir por ajuda, mas sua voz não saía, estava desesperada demais para aquilo.
Uma lágrima caiu, sendo seguida por outras inundando seu rosto e fazendo com
que sua visão começasse a ficar turva, impedindo que conseguisse ver com
clareza.
nunca, em toda sua vida, achou que passaria por aquilo algum dia.
Não imaginou que acabaria em Londres daquela forma, sem dinheiro, sem um
teto para dormir e sendo perseguida no meio da noite.
Inevitavelmente, sentiu o choro alto vindo à tona, fazendo com que soltasse um murmúrio alto pelo soluço engasgado. Continuava ouvindo os passos, eles zombando e dizendo como a pegariam assim que se aproximassem ainda mais.
Ela só queria encontrar a saída.
Observou a pouca luz no final do corredor de flores e árvores, e conseguiu avistar de forma embaçada as luzes amareladas e coloridas das lojas ainda abertas naquele horário. Praticamente correu em direção à rua, sentindo o corpo tremer de forma tão agitada,
apavorada e, sem olhar, virou à direita, podendo sentir seu corpo bater em outro
de forma violenta.
A outra pessoa soltou um gritinho, fazendo com que caísse ao chão, sentindo o corpo doer pela queda.
Se sentia fraca, debilitada.
Não poderia continuar ali daquele jeito. Depois de tudo aquilo, havia decidido.
Voltaria para Ann Arbor na primeira oportunidade que tivesse.
Ainda no chão, deixou que suas lágrimas continuassem caindo, e como se sua
ficha tivesse caído por completo, o choro alto e desesperado se alastrou, a
fazendo colocar as mãos ao redor dos joelhos, os abraçando e afundando o rosto
entre seu colo e as pernas.
Não aguentava mais, era demais para suportar.
Não era forte como sua mãe havia dito e nem mesmo conseguiria continuar.
sentiu o corpo ceder aos poucos, não sabendo ao certo o que estava acontecendo. Mas estava completamente fraca e a queda só evidenciou o quanto estava mesmo debilitada.
? — Ouviu a voz ao longe, sentindo os olhos pesarem por todo o cansaço e esforço feito. Ela ainda chorava. — , é você?
A garota ergueu o rosto, passando uma das mãos em uma tentativa de limpar as lágrimas molhadas. Aos poucos, conseguiu avistar um rosto feminino ficando nítido à sua frente. Conseguiu ver as mechas loiras caindo sob seus ombros, o casaco pesado abraçando seu corpo e o olhar aflito em seu rosto. Aquela não era…
? — perguntou em um sussurro. — O que… Eu… Me desculpe — continuou murmurando até avistar a garota ajustar suas sacolas de compra nos braços e abaixar em direção a , colocando as mãos em seu braço, a ajudando a se levantar.
— Ei, fique calma. O que houve? Por que está chorando? — perguntou aparentemente preocupada e deu uma olhada geral em , como se realmente já a conhecesse há tempos. — Você está bem?
— Eu… — A morena não sabia nem por onde começar. Estava tão atordoada, tão perdida… Só queria entrar no primeiro avião disponível para sua cidade. — Sinto
muito ter esbarrado em você. Não foi minha intenção, eu só…
Fungou. Uma, duas, três vezes. E aí, voltou a chorar desesperadamente, abraçando seu próprio corpo.
a olhou, engolindo em seco e fez o que sequer esperava de alguém tão cedo por ali.
A abraçou.
ficou parada por um tempo, sentindo o corpo amolecer pelo contato e isso fez com que todos os sentimentos guardados a sete chaves, que insistia em manter para não a tirarem do chão, viessem à tona de uma vez por todas.
Isso fez seu choro ficar ainda mais alto.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem, de verdade — disse abafado por
ainda estar abraçada à garota. — Não sei o que aconteceu, nem mesmo precisa me contar se não quiser, mas pode colocar para fora. Vai te fazer melhor — continuou dizendo e deu pequenas batidinhas nas costas de . Isso fez a garota se sentir reconfortada aos poucos, com seu choro amenizando. — Tudo bem agora?
balançou a cabeça, tentando demonstrar que estava ficando melhor.
Nos segundos em que se recompunha aos poucos, deixou os olhos caírem na garota ao se afastar e observou que provavelmente havia acontecido algo não tão bom com ela, já que de fato não parecia igual como a tinha encontrado da última vez. parecia cansada, exausta e perdida.
Completamente perdida.
— Você está com frio — murmurou para si mesma ao observar tremer aos
poucos. tirou seu cachecol, esticando em direção da garota.
a olhou surpresa e continuou a observando, antes de pegá-lo e enrolar em seu pescoço rapidamente. a observou.
— Não sei o que está acontecendo e, como disse, não precisa me falar se não
quiser, mas… Por que chorava desse jeito? Confesso que fiquei preocupada.
permaneceu com os olhos em cima dela e, ao ouvir sua pergunta, abaixou o olhar, começando a mexer nervosamente nas pontas soltas de seu mais novo cachecol.
, eu… — Tentou começar, sentindo as palavras se perdendo ali mesmo.
A loira balançou a cabeça com sua reação e sorriu mais uma vez, mostrando que não havia problema. Com isso, colocou uma das mãos sobre as de .
— Olha, está tudo bem, mesmo. Só fique mais calma, ok? — disse, ainda
sorrindo. — Estou indo para casa agora e adoraria companhia. O que você me
diz? Sei fazer um chocolate quente incrível, ainda mais nesse frio.
Soltou uma risadinha, como se aquilo fosse animar a outra de alguma forma.
engoliu em seco, se sentindo estranha com o convite por estar tão
mal vestida e suja.
Sorriu sem graça.
— Eu adoraria, mas…
— Por favor, podemos conversar melhor e olha… Não vou conseguir comer essa
torta de maçã inteira sozinha. Vou precisar de companhia. — Piscou, levantando
uma das sacolas para mostrar a , que instantaneamente sentiu sua barriga
roncar.
Pressionou os lábios ao ver ainda sorrindo para ela.
— Não quero dar trabalho, . Obrigada, de verd...
— Não, não. Não aceito um não como resposta — disse, cortando e se
posicionou ao seu lado, entrelaçando seu braço livre com o dela. Isso fez
tomar um pequeno susto. Não esperava que mulher a recepcionasse daquela
forma, ainda mais por ela estar mesmo suja. — Vamos! Eu nem moro tão longe
assim.
Observou o olhar da garota sobre si, tão amigável e acolhedor que sentiu seu
coração se aquecendo aos poucos por perceber que ainda havia pessoas boas e
Verdadeiras por ali.
havia salvado sua noite naquele momento.
balançou a cabeça, assentindo ao pedido da garota e caminhou com ela de volta pela Regent Street, enquanto fazia questão de contar cada mísero detalhe da avenida em si, ainda mostrando novamente tudo o que havia visto mais cedo, quando o sol ainda estampava boa parte do lugar.
Naquela pequena conversa que tiveram, percebeu que tudo o que havia sentido anteriormente em meio ao seu choro desesperado havia se dissipado, e que agora uma sensação de ansiedade por tudo o que estava ouvindo tomava conta de si.
Caminharam um pouco depois da Regent, pegando a Grosvenor St. em direção à Bayswater Rd., onde, de acordo com , era um dos caminhos mais fáceis e rápidos de chegar ao seu querido e aconchegante bairro, Shepherd’s Bush, que não era tão afastado assim do centro de Londres.
percebeu todas as luzes que iluminavam aquela fria noite e todo o trânsito pelo horário que provavelmente todos saíam de seus trabalhos.
comentava que o caminho andando até seu bairro era um pouquinho longe, mas as duas não notaram que havia passado tão rápido pela forma que conversavam. Na verdade, a única que falava o suficiente pelas duas ainda era , já que se sentia um pouco retraída por estar sendo recebida tão bem.
A garota ao seu lado parecia um raio de sol, de tão animada e receptiva que era
e isso só ajudava ainda mais a se esquecer de todas as suas preocupações e
problemas que a atormentavam.
E aquilo havia sido suficiente para que a vontade de ir embora de Londres sumisse aos pouquinhos, sem que percebesse.

✈️🎡

Quando parou com em frente a uma pequena rua, a Hopgood St., as duas caminharam por uma vielazinha pouco movimentada, e logo na entrada a garota percebeu que estavam em direção ao apartamento da outra, onde havia uma fachada clara e com algumas árvores pequenas dando um toque especial e nostálgico ao lugar.
A calçada estava com várias folhas secas espalhadas.
brevemente se sentiu dentro de um filme ao ver o apartamento de dois andares à sua frente, com a pequena escadinha logo na entrada.
, observando a feição agraciada da garota, sorriu consigo mesma.
— Só vou pedir para não reparar a bagunça. Não sou uma das pessoas mais organizadas. — Soltou uma risadinha fraca, encolhendo os ombros enquanto tirava de sua bolsa a chave do lugar e sua pequena escadinha branca. continuou no mesmo lugar, ainda observando. — Você não vem?
Isso a fez despertar de todos os seus pensamentos, concordando com e seguindo em direção a ela. Quando adentrou, fechando a porta atrás de si, observou o corredor estreito, dando para uma outra escada ao final, indicando a ida para outros andares. O lugar não era extravagante, nem mesmo espaçoso, mas era organizado e inteiramente limpo. estava encantada.
Subiu as escadas com cuidado e, no segundo andar, parou em direção à porta branca logo atrás de , que a abriu com um pouco de dificuldade por conta das sacolas. Quando logo reparou nisso, foi em direção a ela.
— Deixa que eu te ajudo.
Pegou algumas sacolas em suas mãos, segurando-as, quase às abraçando, e esperou que a indicasse um lugar para colocar. A garota deixou sua bolsa pendurada logo ao lado da porta e retirou o casaco, sorrindo ao ver parada, um tanto tímida.
— Pode colocar as sacolas em cima da bancada, por favor. — Apontou para a bancada de mármore da cozinha, que fazia divisa com a minuciosa sala. Observou atentamente que o apartamento não era grande e era bem estreito, mas toda a arrumação minimalista e colorida dava um toque especial, e não fazia parecer que era mesmo pequeno. — Você quer tomar alguma coisa antes do chocolate? Vou só arrumar as coisas da despensa.
— Eu gostaria de um pouco de água, por favor — disse baixo, mas o suficiente
para que a ouvisse e logo trouxesse um copo de água em temperatura
ambiente. tomou de forma tão rápida que nem percebeu que a garota ao
menos havia se retirado. sorriu mais uma vez e seguiu para arrumar as
coisas de forma rápida para logo fazer o chocolate que tanto havia dito para .
Queria deixar a mulher o mais confortável possível.
Quando voltou com as duas xícaras cheias do líquido, ainda saía uma pequena fumaça. Chegando ao centro da sala, conseguiu observar que se mantinha encostada no sofá, como se seu corpo estivesse sendo consumido pela maciez do móvel.
Notou que ela parecia realmente cansada e se perguntou o que havia acontecido para que chegasse àquele ponto.
— Você parece cansada — mencionou, depositando sua xícara em cima da mesinha de centro e estendeu a outra para .
A morena a olhou, pegando o objeto.
— Obrigada — agradeceu, sorrindo fraco, e deu uma leve soprada no líquido para esfriar. Com isso, olhou da xícara para . — Eu… Eu tenho estado bem exausta, na verdade.
— Você quer falar sobre?
ponderou por alguns instantes e respirou fundo, depositando o chocolate em cima da mesinha de centro. Colocou as mãos na abertura de seu casaco, o ajeitando em seu corpo e se sentou de forma correta, se preparando para falar um pouco do que havia lhe acontecido.
— Eu vim para Londres conhecer a cidade, sempre foi meu sonho. Mas, parece que as coisas não saíram exatamente como planejei — mencionou, olhando para suas mãos, que se remexiam de forma nervosa. — Sabe, achei que realmente tinha visto tudo da forma correta, que não havia esquecido nada. A verdade é que tudo saiu de controle e eu tenho passado pelo pior… — Sentiu a voz embargar e os olhos arderem com todas as lembranças. — Tenho me sentido tão perdida… Sinto que fiz tudo errado e a única coisa que consigo sentir é o arrependimento de ter saído de casa, mesmo com o apoio da minha família. Eu deixei... — Não conseguiu continuar já que sentiu as lágrimas ressurgindo em seu rosto.
olhava a cena de forma atenta e, na medida em que ia falando, sentia seu coração se apertar, já fazendo ideia do que poderia ter acontecido com a garota. Realmente deveria ser muito complicado.
— Desculpe, . Você não merece ouvir nada disso.
— Está tudo bem. Não precisa se desculpar — repetiu, sorrindo de canto. Esperou alguns segundos e se levantou, se sentando ao lado de no sofá, que a olhou enquanto enxugava o rosto. — Pode falar no seu tempo, se acalme. Olhe, tome um pouco, vai esfriar.
Apontou para a xícara em cima da mesinha e a pegou, bebericando um pouco do chocolate. Com isso, sentiu seu estômago se aquecer gradativamente e agradeceu aos céus naquele momento por se alimentar, mesmo que só com algo líquido.
Fechou os olhos brevemente e os abriu.
Notou que ainda a olhava, como se esperasse o restante de sua história, mas ver o olhar de pena sobre si causou um novo sentimento. não queria ser vista daquela forma, não mesmo.
Respirou fundo, terminando de beber.
— Obrigada pelo chocolate, . Acho que já te atrapalhei demais. Agradeço novamente por ter me ajudado essa noite — mencionou, limpando o rosto com as mãos e se preparou para se levantar, ficando de pé ao lado da garota, que a olhava curiosa.
não entendia ao certo a reação de , mas sentia que algo estava errado. Na verdade, ela sentia que poderia ajudá-la de alguma forma. Não sabia exatamente o que era aquilo, mas no fundo viu um pouco de si em .
Um pouco do sonho que sempre teve de viajar o mundo e nunca teve coragem para realizá-lo.
— Espere um pouco. — Ergueu o indicador para que esperasse no mesmo lugar e seguiu até o armário ao lado do banheiro, o cantinho em que guardava coisas que usava raramente quando precisava. — Sei que não é muito e sei que, por enquanto, não vai ser tão confortável, mas… — dizia alto por estar longe e aos poucos sua voz foi ficando mais presente, misturada ao barulho de algo sendo arrastado. retornou à sala com um colchão fino, porém aparentemente novo e voltou ao quartinho novamente, trazendo um travesseiro e algumas mantas.
olhava toda a cena paralisada, sem entender o que acontecia.
— O que é isso? — perguntou, sua voz começando a ficar falha.
— Você me contou por alto, mas consegui captar algumas coisas — começou, enquanto caminhava de um lado para o outro, retirando a mesinha de centro do meio da sala e arrastando o colchão até ali, arrumando para . — Quando nos esbarramos, você tinha estampado em seus olhos que estava mais do que perdida, e quando te vi chorando daquele jeito, percebi que tinha algo fora do lugar. Você tem olheiras debaixo dos olhos, sua expressão é mais do que só cansaço, … — mencionou, se aproximando da mulher. — Sei que isso tudo parece estranho, e tudo bem se não quiser dormir. Sou uma desconhecida para você, certo? Mas, sinto que preciso te ajudar de alguma forma. Se você quiser, claro — dizia, sorrindo de forma reconfortante para a garota. sentia um nó se formar em sua garganta. — Sabe, nunca fui de fazer amizade fácil e nunca tive muito apoio também, mas pelo que você me contou, tem alguém torcendo por você, não é? — mencionou, fazendo a outra pressionar os lábios ao sentir o peito comprimir com o comentário. — Se você não se sentir confortável, tudo bem ir embora amanhã, mas se não quiser, acho que podemos ser boas amigas. O que me diz? Não precisa dizer nada agora, claro. Só descanse, ouviu? O banheiro fica naquela direção no corredor e tem
algumas toalhas na prateleira. Ah! Vou deixar uma muda de roupa para você também, tá? Descanse. — Apontou na direção do banheiro e voltou seu olhar para , sorrindo abertamente, demonstrando a simpatia que vinha percebendo todo o caminho até o apartamento de .
Notou que a garota era muito verdadeira e parecia realmente querer ajudá-la de alguma forma.
não respondeu. Balançou a cabeça, assentindo e observou indo até a cozinha, cortando um pedaço da torta e depositando em um prato, logo levando em seguida para a morena.
Ela colocou em cima da mesinha de centro, que agora estava em um canto junto à outra xícara de chocolate. também não falou nada, apenas deu outro sorriso para ,
tentando demonstrar que tudo ficaria bem e seguiu em direção ao seu quarto, fechando a porta depois de ir até o banheiro ao deixar a muda de roupa.
ficou parada no mesmo lugar por um tempo, digerindo tudo o que havia lhe acontecido nas poucas horas e que, pelo menos naquela noite, teria um lugar seguro para dormir. Deixou seus olhos pousarem no colchão próximo aos seus pés, nas mantas dobradas e no travesseiro que lhe aguardavam.
Sentiu os olhos arderem.
Não sabia nem o que dizer, muito menos como agradecer. havia sido tão humana que a única coisa que conseguia sentir era seu coração se enchendo, e as lágrimas transbordando em seus olhos, em um choro fraco e emocionado.
Ela, naquela noite, teria o que comer e onde dormir, e toda a situação havia sido o suficiente para que algo tilintasse em sua mente antes de dormir.
Será que, pela primeira vez, tudo aquilo era o destino querendo lhe dizer algo?


Continua...


Nota da autora: Olha só quem veio participar da inauguração do FFVERSE! Isso mesmo, leitores, agora minhas fics se encontrarão aqui e, caso tenha reparado, estamos passando por algumas mudanças. Aproveitei a troca de ares para reescrever boa parte de minhas fics, com isso, espero muito que estejam gostando, viu?
Até breve!

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