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Revisada/Codificada por: Pólux

Enviada em: 29/10/2024
— Pan, não me sinto confortável com isso. — A voz de Helen ecoou pelo que me pareceu a milésima vez em menos de cinco minutos.
— Eu sei. Não é como se você não fizesse questão de nos lembrar disso a cada segundo. — Trisha se intrometeu antes que eu pudesse dizer algo.
— Me diga uma coisa, Helen, por que você veio então? Só pra encher a porra do saco? — Willa revirou os olhos com impaciência e eu apenas suspirei. Retrucar qualquer coisa só ia piorar tudo, e desperdiçar o que me restava de fôlego naquele momento com discussões não me parecia muito inteligente.
Não era segredo algum que Helen costumava ser a mais sensível e medrosa do nosso quarteto, assim como Willa era a mais pavio curto. Eu não era muito diferente e normalmente perderia a paciência já na terceira reclamação de nossa amiga, no entanto, uma sensação engraçada me dizia que Helen dessa vez não estava sendo paranoica demais.
— Você não me deu muita escolha, deu, Willa? — Helen protestou indignada e Trisha soltou uma risadinha maliciosa.
— Robert estava morrendo por um beijo seu, meu anjo. Tenho certeza de que ele ficou devastado quando você escolheu entrar em uma mina escura e abandonada.
Não consegui evitar sorrir também com aquilo.
— Devíamos ter tirado uma foto da cara dele. Foi memorável — comentei, ao trocar um olhar cúmplice com ela.
— Memorável? Às vezes você fala como se fosse do século passado, Pandora — Willa debochou e me fez dar língua para ela.
— Mas olhe só Helen, ainda dá tempo de voltarmos, sabe? Robert até que é bonitinho — brinquei, sentindo que Helen me empurrava com os ombros.
— Ainda não achei minha boca no lixo, garota. Bonitinho ou não, ele ainda é um babaca. — Ela fez cara de nojo.
— Fada sensata faz assim. — Trisha piscou na direção de Helen.
— Medrosa, mas sensata — Willa retrucou e eu neguei com a cabeça.
— E lá vamos nós novamente… — murmurei e ouvi minha amiga bufar pronta para responder o comentário.
Desviei meu olhar para frente, não vendo nem sinal do final da trilha que precisávamos atravessar para chegar até as minas abandonadas de Death Valley. De repente, um frio atravessou minha espinha e pude jurar que ouvi um farfalhar entre as árvores que não parecia ter vindo de nenhuma de nós.
Parei de caminhar instantaneamente, engoli a seco e olhei ao meu redor de forma assustada, enquanto minhas amigas continuavam caminhando, tão entretidas em suas discussões que nem repararam em mim.
Minha consciência gritou que logo eu seria deixada para trás, e mesmo que eu conhecesse aquela trilha, ficar por ali sozinha não era somente perigoso, era uma tremenda burrice.
Suspirei, tentando me recompor e expulsar a ideia de que tinha algum outro ser à nossa espreita. Provavelmente era um esquilo ou algo do gênero, e eu realmente não precisava me preocupar.
A cabeleira loira e cacheada de Helen quase se perdia de vista quando consegui me mover novamente. Soltei uma risada nasalada porque eu estava agindo da mesma forma que ela, então caminhei em passadas largas, tomando cuidado para não cair ao mesmo tempo em que tentava alcançá-las o mais rápido possível.
Pandora? — Ouvi uma voz feminina chamar por mim e não consegui distinguir de imediato a qual das minhas amigas ela pertencia, mas tratei logo de apurar meus passos para descobrir.
— Atrás de vocês — berrei, na esperança de que elas parassem de caminhar para que eu pudesse alcançá-las mais rapidamente.
Eu podia jurar que não estávamos tão afastadas assim, mas alguns minutos se passaram enquanto eu permanecia na trilha e nada delas.
— Caramba, me esperem um pouco! — Acabei soltando com impaciência a uma certa altura.
No entanto, nem isso adiantou, e eu senti de repente as minhas mãos suarem.
Onde é que elas estavam?
Engoli a seco e me recusei a parar de caminhar enquanto lançava olhares à minha volta.
De repente, me questionei se não havia seguido o lado errado, por mais que eu tivesse certeza de que não tinha desviado do caminho em momento algum.
— Helen? Willa? Trisha? — chamei os nomes de cada uma delas separadamente, fiquei em silêncio e aguardei alguma resposta por parte delas, mas nada veio e, a cada segundo, eu me sentia mais agoniada.
Não era possível que elas tivessem sumido do nada. Eu havia ficado apenas uns poucos passos atrás delas e…
Pandora! — Dessa vez eu pude jurar que era a voz de Helen me chamando. No entanto, não havia soado como antes, havia um tom de desespero na voz de minha amiga e, sem pensar direito, eu simplesmente comecei a correr no meio da mata.
Que ideia havia sido aquela de nos afastarmos da festa que estava acontecendo na floresta para visitar uma mina proibida mesmo?
Eu não podia julgar qualquer pessoa que reprovasse aquilo.
Segui pela trilha desesperadamente, desviando de alguns galhos, enquanto outros arranhavam meus braços e pernas.
Pandora, cadê você?
Céus, eu estava bem ali! Como não podiam me ouvir empurrando tudo pelo meu caminho, saltando sobre as pedras e respirando descompassadamente quando o ar faltou aos meus pulmões, mas eu me recusei a parar para recuperá-lo?
— Aqui! Eu estou bem aqui! — gritei esganiçada, sentindo que ficava até tonta e, de repente, as coisas giravam à minha volta.
Minhas pernas começaram a protestar e a maldita mina nunca chegava, assim como eu nunca alcançava as três garotas.
Antes que eu pudesse me dar conta do que acontecia, meu corpo se lançou ao chão e acabei jogando meus braços para frente, em um reflexo falho, com o intuito de proteger meu rosto da queda. Senti uma dor insuportável no pulso esquerdo e, ainda que meus braços tivessem recebido boa parte do impacto, não consegui impedir que minha testa batesse com força contra o chão.
Choraminguei quando as lágrimas tomaram meus olhos, ergui a cabeça atordoada e, ao olhar para o pulso ferido, percebi um corte profundo logo abaixo da palma da minha mão. Como se não bastasse isso, ela ainda pendia molemente, numa indicação provável de que eu havia fraturado algum osso.
Mais uma vez, tentei chamar os nomes de minhas amigas, mas não obtive nenhuma resposta. As lágrimas escorriam sem controle pelas minhas bochechas e eu me levantei como pude, amparando o braço enquanto voltava a correr.
Uma claridade logo adiante anunciou que eu estava chegando finalmente à mina, mas já não sabia mais se era mesmo para aquele lugar que eu gostaria de ir. A sensação de pavor que sentia repetia que era muito melhor recuar e voltar, mas, ao mesmo tempo, não podia abandonar minhas amigas daquele jeito. Eu não sabia o que tinha acontecido com elas e as copas das árvores impediam que chegasse algum sinal de celular naquele local.
Um tremor subiu por toda a minha espinha quando finalmente enxerguei o meu destino e, atendendo a todos os clichês que eu assistia em filmes de terror, não hesitei em pegar a lanterna de meu bolso com a mão trêmula, a acender e adentrar aquela mina escura. Não tinha escolha, afinal, e eu não fazia ideia de como não havia perdido aquele objeto durante a queda.
— Willa? — Tentei mais uma vez, completamente sem esperanças.
Pandora! — Arregalei meus olhos ao ouvi-la me responder, mas, ao contrário do tom impaciente que eu sempre encontrava quando conversava com ela, dessa vez Willa estava estranha, quase como se estivesse segurando o choro e isso que eu nunca a havia visto chorar.
— Willa, pelo amor de Deus! Onde vocês estão? — questionei, enquanto controlava minha própria voz para não parecer tão chorosa. A dor no pulso estava me deixando completamente louca, porém eu precisava ser forte.
Me ajude, Pandora! Por favor, me ajude! — Era Helen.
Eu mal conseguia enxergar devido aos meus olhos embaçados, mas aquela súplica me fez voltar a correr como havia feito na floresta.
Não faço ideia de como não tropecei nos trilhos, ou até mesmo desviei do enorme carrinho ali no meio. Eu não pensei em nada que não fosse em minhas amigas e no fato de que elas estavam em perigo como suspeitava.
Correndo o risco de me perder naquele lugar e morrer, apenas segui os meus instintos, ouvindo um choro baixinho que eu podia jurar que pertencia a Trisha.
— Fale comigo, Helen. Fale comigo e eu vou encontrá-las — pedi.
Não há muito tempo, Pan. Não há muito tempo.
O que ela queria dizer com aquilo? Estavam feridas?
Meu estômago afundou.
— Por Deus, Helen. Se vocês estiverem zoando com a minha cara, matarei as três! — resmunguei com a voz chorosa, num fio de esperança de que aquilo realmente fosse uma brincadeira, mas, no fundo, eu sabia que não era.
Pan! — a voz de Helen lamentou, meus lábios tremeram violentamente e eu sabia que o pavor continuaria se alastrando por todo o meu corpo.
Vários minutos pareciam ter passado e quando eu finalmente alcancei o local de onde sentia que vinham as vozes, já era tarde demais.
Com horror e o desespero apertando minha garganta, eu abri minha boca e quis gritar, mas não consegui emitir som algum. Engasguei-me no choro e sacudi a cabeça ao ver os corpos de minhas três amigas completamente dilacerados, como se um animal tivesse as atacado.
Não me importei em me sujar com o sangue delas, muito menos com o fato de que eu estava machucada. Simplesmente me lancei sobre o corpo de Helen, que estava mais próximo, me debrucei sobre ela e solucei sem conseguir me controlar.
Os olhos de minha amiga ainda estavam abertos, os cabelos loiros empapados de sangue e um braço estendido na direção de Willa, como se tivesse tentado avisá-la de alguma coisa antes de ser atacada, ou tivesse visto ela ser morta primeiro, eu não saberia dizer.
Como não havia escutado gritos delas? Como aquela merda toda havia acontecido se eu estava a apenas poucos passos das três?
Então, de repente, me ocorreu que talvez eu tivesse passado mais tempo caída no chão do que tinha me dado conta. Tempo o suficiente para que minhas melhores amigas fossem assassinadas.
Uma nova onda de choro me fez sacudir, e dessa vez minha voz ecoou em um lamento de agonia.
Não podia ser verdade. Aquilo só podia ser um pesadelo e certamente, em breve, eu acordaria no conforto da minha cama, toda suada e com o coração acelerado.
O latejar no meu pulso, no entanto, deixou claro que aquilo não era uma ilusão. Eu estava sofrendo as consequências de uma decisão estúpida. As minas eram terminantemente proibidas, e a nossa teimosia havia sido nossa ruína.
Um calafrio soprou em minha nuca, alertou que eu devia me levantar e fugir dali enquanto ainda tinha essa chance, mas não conseguiria deixá-las ali, mesmo que já estivessem mortas.
Ergui meu olhar até Willa e meus lábios tremeram ainda mais enquanto eu desviava para Trisha.
Devíamos ter escutado Helen, afinal.
De repente, minha visão captou algo na penumbra e eu procurei a lanterna para iluminar melhor o local, só para ter certeza de que minha mente não me pregava peças.
Realmente, não era o caso, e o pavor voltou a tomar seu lugar, sobrepondo o desespero da perda.
Havia uma espécie de sarcófago ali e a sua tampa estava aberta.
Tremendo violentamente, em vez de fugir, eu me aproximei. Temia o que poderia encontrar, mas, ao mesmo tempo, precisava saber se aquela havia sido a causa da morte das minhas amigas.
Como suspeitava, nele não havia sequer um vestígio de que havia um corpo em seu interior, no entanto, respingos de sangue atingiam alguns pontos, e eu me perguntei se aquilo que atacou as garotas havia partido, ou ainda se encontrava ali apenas me espreitando.
Mal sabia eu que descobriria da pior forma.
Com uma brutalidade que me fez sufocar de imediato, senti meus cabelos serem puxados com força, a um ponto que era como se meu couro cabeludo se desprendesse por inteiro.
Tentei me debater e escapar, mas as mãos seguraram meu pescoço e o aperto era muito mais forte do que eu.
Por último, senti a dor agonizante atingir a minha jugular e lutei até sentir minhas forças se esvaírem completamente.

🧛


Permanecera naquele sarcófago por tempo demais. Cinquenta e seis anos de danação, mas finalmente poderia andar pela terra novamente.
E ele devia tudo àquelas quatro jovens teimosas demais para ouvirem os avisos de que não podiam se aproximar das minas.
Mesmo enfraquecido pelos anos sem se alimentar, ainda lhe restava o suficiente para fazer os jogos mentais que precisava para então atraí-las precisamente até onde ele estava.
A curiosidade do ser humano era a sua melhor aliada. Era óbvio que Willa, a mais corajosa delas, insistiria em abrir a tampa do sarcófago apenas para provar seu ponto de que não havia o que temer ali.
Ela foi sua primeira vítima e sua fome era tanta que poucos segundos foram necessários para que bebesse todo o líquido precioso de suas veias.
A nomeada Trisha havia sido a segunda, apavorada demais para conseguir se mexer diante daquela cena, e o medo sempre tornava tudo ainda mais palatável.
A pobre Helen tentou chamar pelo nome de Pandora, como se a outra garota fosse capaz de realmente salvá-las de alguma coisa, sem se dar conta de que atraía a amiga para completar o banquete.
O desespero desta última até teria lhe comovido, se sentisse pena ou remorso de qualquer coisa. Em vez disso, apreciou ainda mais o sabor de seu sangue, e o sentiu tão adocicado nos lábios que revirou os olhos de prazer.
O riso de satisfação tomou conta da criatura assim que a última gota de vida se esvaiu do corpo da jovem. Podia sentir toda a sua essência percorrer pelas veias e despertar cada célula adormecida.
Então, ao atirar o corpo inerte dela ao chão, a reunindo como desejava às suas melhores amigas, caminhou em direção à saída da mina.
Sua fome estava parcialmente saciada, mas a expectativa de que poderia conseguir muito mais em uma certa festa lhe deixava eufórico.
Depois de cinquenta e três anos em um sarcófago, ele foi trazido de volta à vida.
E depois de saciado, traria a vingança a todos que o haviam prendido naquele lugar.


Fim.


Qual o seu personagem favorito?
Helen: 0%
Willa: 0%
Trisha: 0%
Pandora: 0%


Nota da autora: Desculpa, mas escrever um vampiro sanguinário é muito mais forte do que eu. Espero que vocês tenham gostado. Happy Halloween! 🎃

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