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Torci as mãos, nervosa e sem saber direito o que esperar. nunca tinha me dito muito sobre a cerimônia de nomeação dos cavaleiros, tudo o que sabia era que o rei e o príncipe herdeiro estariam lá. Iida – o cavaleiro que estava organizando a gente – disse que receberíamos nossas tarefas depois disso, mas todos seríamos parte da Guarda Real e provavelmente ficaríamos posicionados no palácio. Os ataques ao reino tinham aumentado nos últimos anos, então éramos reforço. Todos nós iríamos treinar aqui por seis luas antes de sermos posicionados oficialmente em qualquer lugar, mas também teríamos a maioria das funções de guardas do palácio nesse período, com a diferença que nossas rotinas incluiriam mais treinamentos do que os que já estavam aqui antes.
Eu não particularmente precisava trabalhar aqui, eu tinha meu chalé e podia trocar plantas por qualquer coisa que eu precisasse, mas a oportunidade apareceu quando eu mais precisava de uma distração do meu luto. Tudo no chalé me lembrava da minha alma gêmea e do fato de que eu não conseguia mais senti-lo pela nossa ligação. Eu tinha esperado, tinha tentado me convencer de que ele ainda estava vivo, mas eu não podia me enganar daquele jeito pra sempre. Receber a oferta de uma posição de cavaleira ao lado do meu irmão e do meu cunhado era a forma perfeita de manter minha mente longe do assunto.
Fomos todos chamados à sala do trono, onde o rei, a princesa e o príncipe estavam aguardando. Nenhum deles parecia muito animado de estar ali, pra ser honesta. Fomos chamados um por um para nos ajoelhar perante o Rei Enji, que então nos nomeava cavaleiros. De perto, o homem não parecia nem um pouco menos intimidador do que as histórias o faziam soar, ou mais amigável do que e tinham dito que ele era. A princesa era tão bonita quanto eu havia ouvido, e o príncipe parecia tão distante quanto Faísca tinha feito ele soar.
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Dei um passo à frente, surpresa de encontrar Príncipe me olhando. Ele não tinha olhado pra nenhum dos outros cavaleiros, não de maneira tão… intensa, pelo menos. Sua expressão, que antes era vazia, se contorceu no que quase pareceu descrença antes do que com certeza era raiva tomar as belas feições. Mas que porra? Por que ele estaria bravo? Além de mim, ninguém pareceu notar a mudança, e voltei à minha posição na ponta da fila.
Então, a princesa veio para frente, entregando a cada um de nós um pequeno broche com o brasão da família , a fênix que simbolizava seus poderes de fogo com as asas abertas sobre a coroa. Em seguida, o príncipe entregou uma espada a cada cavaleiro, representando que lutaríamos ao seu lado para defender o reino. Todos assistimos em choque ele dar as costas e ir embora quando chegou a minha vez, deixando minha espada com a irmã.
Raiva encheu as minhas veias. Então era pessoal. Eu nunca tinha nem trocado uma palavra com o cara e ele já me odiava.
— Lady — chamou a princesa, me estendendo a espada. Ela parecia ter entendido tanto quanto eu o motivo daquele chiliquinho. Bufei, mas peguei a arma mesmo assim.
Se o Babaca Real queria distância de mim, eu com certeza não tinha problemas em lhe dar isso.


Alguns dias se passaram e a atitude do príncipe apenas se manteve. Ele fazia de tudo para me evitar e, nas poucas ocasiões em que não conseguia, era extremamente grosso ou estúpido. O apelido de Babaca Real não demorou a se tornar uma das únicas formas como eu me referia a ele, e meu irmão também adotou.
— Acha que hoje vai conseguir não apanhar, Espinho? — cutucou enquanto íamos até o treinamento.
Empurrei seu ombro com o meu.
— Até parece que eu apanhei alguma vez.
Ele e estavam sendo um presente dos deuses, me mantendo funcional e impedindo que eu me afundasse no luto. A rotina cheia de treinamento estava me ajudando a manter a cabeça ocupada, mas ainda era muito difícil. Tudo me lembrava o vazio, a falta de do outro lado da ligação, e eu me pegava várias vezes por dia lutando contra as lágrimas.
— Tá precisando de alguém pra te colocar no lugar de novo, pirralha? — perguntou ele, o tom de desafio óbvio.
— Vou adorar chutar a sua bunda, Faísca. Faz muito tempo que não faço isso, você tá perdendo a noção do perigo.
Rindo, nos posicionamos em fila para aguardar as ordens do treinamento do dia. Íamos praticar combate com nossa magia, o que só fez meu sorriso aumentar mais. podia dizer o que quisesse, suas explosões podiam ser o quão fortes fossem… nunca tinham sido páreo para as minhas plantas. Nos separaram em dois “exércitos”, os cavaleiros mais antigos contra os novatos, para nos enfrentarmos, sob a supervisão do príncipe com aquela cara de bocó entediado que ele tinha. Ofereci um sorrisinho para meu irmão e cunhado, já vendo rolar a cabeça em preparação para virar dragão.
O apito soou e, antes que eles pudessem fazer qualquer coisa, havia raízes crescendo ao redor de , prendendo seu corpo e dificultando sua transformação.
— Porra, Espinho, já vai apelar?! — gritou , deixando as raízes de lado e vindo na minha direção com a espada erguida. Eu vi a surpresa de alguns dos outros cavaleiros, assim como a do príncipe.
— Eu disse que você tava perdendo a noção do perigo, Faísca! — respondi, correndo ao seu encontro mesmo com a velocidade superior dele, por conta das explosões.
No último segundo, me esquivei para o chão, escorregando ao bloquear sua espada com a minha, e puxei seu pé com uma pequena raiz ao redor do tornozelo, fazendo-o quase cair de cara. Seu rosnado se misturou à minha risada, mas não durou muito e fui interrompida pelas garras de puxando a minha perna. Grunhi e finquei a espada no chão, usando as raízes agora para me segurar no lugar, e tirei a adaga do cinto para fincar nas costas da mão de , entre as escamas. Ele urrou e me soltou, e terminei de me enterrar em raízes bem a tempo de me proteger das explosões que lançou em minha direção.
Eu tinha a vaga noção de que estávamos sendo assistidos com um tanto de choque pelo resto dos presentes, afinal, todos sabiam que éramos uma família, mas isso não era nada demais. Eles não iam me machucar de verdade, não mais do que eu os machucaria, e e eu tínhamos crescido fazendo isso, sabíamos exatamente até que ponto podíamos empurrar o outro sem causar dano real.
quebrou a madeira em volta de mim para me agarrar outra vez, mas eu estava esperando. Me deixei ser erguida apenas um pouco, mas logo ele me soltou no chão outra vez com um rugido.
— Já devia ter aprendido que eu gosto dos meus venenos. — Ri outra vez, vendo-o balançar as mãos para tentar se livrar da ardência (nada que não fosse passar assim que ele lavasse). Logo ele estaria tonto também, o que o tirava da luta. Senti o impacto da espada no meu ombro esquerdo e xinguei entredentes, girando e me levantando em seguida. estava no meio de outro golpe, e ergui a minha espada no último segundo para barrar a dele, o braço pesando com a colisão.
— Filho da puta.
— Vou contar pra ela, Espinho.
O som de metal contra metal preencheu meus ouvidos, mas não deixei que me distraísse. Calculando rápido, fiz subir raízes só um pouco acima do chão, parando os golpes de enquanto nos movíamos pelo pátio, até ele tropeçar em uma delas. Um único momento de desequilíbrio foi o bastante e o empurrei, prendendo suas pernas para que não pudesse se levantar, e cobrindo suas mãos com raízes.
— Ei!
Suas explosões continuaram soando, mas as faíscas não eram o bastante para libertá-lo e levei a ponta da minha espada até sua garganta, sorrindo triunfante com a vitória.
— Eu disse que ia chutar sua bunda, Faísca.
Ele revirou os olhos e estalou a língua, mas deitou a cabeça no chão, se rendendo. — Precisava envenenar o ?
Dei de ombros, divertida, e recolhi as raízes, estendo a mão para ajudá-lo a levantar.
— Não tem como eu derrubar um dragão sem apelar um pouco. O efeito passa em alguns minutos, é só lavar.
Todos os outros estavam nos encarando em choque. Até o príncipe parecia impressionado, uma de suas mãos no ombro esquerdo. Não é como se eles nunca tivessem nos visto lutar, mas acho que não esperavam que fossemos lutar pra valer um contra o outro, e isso realmente era a primeira vez que viam.
— De novo? — perguntei, arqueando uma sobrancelha em desafio e erguendo a espada outra vez. abriu um sorriso largo, deu três passos para trás e ergueu a própria espada.
— Não vou pegar leve dessa vez, pirralha.
— Algum dia pegou?

***

Dois meses depois

Respirei fundo, tentando acalmar as batidas do meu coração. Eu tinha acordado com um susto, como se tivesse tido um pesadelo, mas não conseguia me lembrar de nada e tinha a forte sensação de que eu não estava tendo pesadelo nenhum. Girei na cama, franzindo o cenho para a leve dor nas minhas costas que vinha me atormentando há alguns dias e encarei o teto. Não demorou para que as lágrimas embaçassem minha visão, o vazio no meu peito se espalhando por todo o meu ser até que o som dos soluços tomasse o pequeno quarto.
Como em vários dias desde a minha chegada, eu só queria chorar até desidratar, me deixar afundar na tristeza e no luto, até sumir, até o vazio me consumir por completo e fazer parar de doer.
Mas eu não podia. A minha vida não podia parar, não importavam os sonhos que tinham sido destruídos, porque eu precisava continuar. Limpei o rosto com as mãos e me levantei para me preparar para o dia.
Cheguei no salão das refeições com um humor péssimo. Faísca nem sequer me desejou bom dia, com um único olhar ele percebeu que eu não queria papo e só colocou um pão doce na minha frente. Há muitos anos tínhamos aprendido a lidar com o humor ruim um do outro, e nesses momentos eu era extremamente grata por isso. Saber que hoje eu ia acompanhar Vossa Rudeza Real com certeza não estava ajudando.
Depois de comer, fui encontrá-lo.
— Vossa Majestade — resmunguei, curvando a cabeça.
Ele estreitou os olhos minimamente ao me ver.
— O que está fazendo aqui?
Revirei os olhos. Grosso, como sempre.
— Sou sua guarda-costas hoje.
Ele normalmente não era a pessoa mais expressiva do mundo, mas seu rosto deixava claro o quão incomodado ele estava, assim como o longo suspiro que soltou.
— Seus serviços serão melhor aproveitados nos muros externos — murmurou, baixando os olhos de volta para o livro que ele estava lendo, um volume grosso e empoeirado sobre economia, pelo que eu podia ver.
— Você não pode ficar sem proteção, ainda mais com a saída que terá mais tarde para a cidade — argumentei, me segurando para não dar uma resposta torta.
Uma cortesia que ele, do alto da sua arrogância real, não devolveu.
— Não preciso da sua proteção, .
O príncipe nem se dignou a olhar pra mim ao dizer aquilo. Bufei, ignorando qualquer protocolo.
— Bom, se você prefere que os rebeldes te matem, fique à vontade, mas meu trabalho é te proteger e infelizmente não posso contrariar minhas ordens, . — Eu não tinha direito nenhum de usar o nome dele, estava arriscando a minha cabeça, mas não estava com cabeça hoje para as palhaçadas dele. — Então goste ou não, está preso comigo pelo resto do dia. Mas pode fazer um enorme favor a nós dois e fingir que eu não estou aqui, já que minha presença o desagrada tanto assim.
Lhe ofereci um sorriso sarcástico e me encostei ao lado da porta, me preparando para o longo dia que viria.

***

Dois meses depois

— Gostaria de pedir para ser afastada — falei, séria. Midoriya ergueu os olhos para mim, surpreso. — Recebi uma carta dos meus tios recentemente. Minha tia não está bem de saúde, eles precisam de mim.
— Lady … está pedindo para sair da guarda?
Balancei a cabeça.
— Não. Pretendo retornar assim que me certificar que meus tios estão bem — afirmei, deixando meu tom suavizar em seguida. — Eles e o são a única família que eu tenho. Já perdi meus pais para uma doença. O Faísca vai fazer mais falta aqui no palácio do que eu, sem falar que ele não é a melhor pessoa pra bancar o curandeiro. Por favor, eu preciso ir vê-los.
Sua expressão se tornou preocupada e compreensiva.
— É claro. Vou registrar seu afastamento a partir do seu próximo dia de folga, pode ser? — Assenti, aliviada. — Fala com a Ochaco-chan. Ela pode fazer um portal pra você não perder os dias de viagem até lá.
— Obrigada. De verdade.
Curvei a cabeça por um instante, então me virei para ir embora. Conseguir o afastamento tinha sido a parte fácil de lidar com essa situação. A parte dolorida viria quando eu chegasse em casa.

***


Cinco meses depois

Respirei fundo ao passar novamente pelos portões do palácio. Parecia que eu tinha saído por eles para ir para casa em outra vida. Bom, meio que era isso mesmo.
Acenei para Yassuda, outra cavaleira, e fui atrás de Midoriya para avisar que tinha chegado.
— …preocupado, faz muito tempo-
Midoriya pigarreou, interrompendo o príncipe.
— Lady . Que bom que está de volta.
— Vossa Alteza. — Fiz uma pequena reverência, revirando os olhos para a expressão besta com a qual ele estava me encarando, como se nunca tivesse me visto na vida.
— Você voltou.
A voz dele era parte chocada, parte… aliviada? Não, aquilo não podia estar certo.
— É, não foi dessa vez que você se livrou de mim, Majestade. — Ofereci um sorriso sarcástico, que foi respondido com uma careta. Me voltei para o conselheiro. — Enfim, vim apenas avisar que pode me colocar na próxima troca de turno.
— Tem certeza, Lady ? Não prefere descansar por hoje?
O príncipe seguia me encarando, me estudando, e estava me dando nos nervos.
— Sua tia melhorou? — interrompeu , antes que eu pudesse responder.
Dessa vez, revirei os olhos. Por que ele estava fingindo se importar de repente?
— Sim, melhorou. Eu não teria voltado se ela ainda estivesse mal. E também não estou cansada, consegui um portal até a cidade, estou pronta para voltar ao trabalho.
— Talvez fosse melhor se tivesse ficado lá — ouvi o príncipe sussurrar e cerrei as mãos em punhos.
— Se não me quer aqui, Vossa Alteza, se minha presença te incomoda tanto assim, me dispense da guarda ou me mande para outra parte do reino. Você não é obrigado a me aguentar, não sei por que reclama tanto.
Ok, eu realmente não devia falar daquele jeito com ele. Mas eu simplesmente não ia abaixar a cabeça, e por qualquer motivo que fosse, o príncipe nunca realmente fazia com que eu sofresse as consequências que qualquer outra pessoa — salvo, talvez, pelo meu irmão — sofreria pelo desrespeito.
Como eu imaginava, ele só suspirou, exasperado, e desviou o olhar.
— Nos falamos mais tarde, Midoriya — resmungou apenas, antes de disparar porta afora.
Maravilha.




Continua...


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Nota da autora: um bilhão de anos depois, mas EU VOLTEI! Eu JURO que o próximo demora bem menos, ele ta praticamente pronto. E agora chegamos na metade da parte dois. Muita coisa aconteceu nesses meses com a nossa querida rosa, muita coisa ainda vai acontecer. E o que dizer do nosso príncipe e desse comportamento dele? Não esqueçam o comentário! Bjs


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