Tamanho da fonte: |


Codificada por vênus. 🛰️
Atualizada em: 04.10.2024

se assustou quando percebeu que acordou antes das 7 da manhã sem despertador. Ela havia chegado tarde na noite passada – pouco tempo depois da meia noite, mas sua manager não ficou nem um pouco feliz de ir embora do apartamento das meninas depois das uma da manhã por ter ficado esperando por ela.
Mesmo assim, estava radiante. Na noite passada, saíra com Jose, sua melhor amiga da Inglaterra, e havia cumprido sua promessa de não comprometer sua imagem. Apesar de ter ficado extremamente tentada em tomar um drink, se segurou e não ingeriu nem uma gota de álcool qualquer. Diferente de Joselin que precisou da ajuda da amiga para chegar em seu apartamento.
Essa ajudinha custou o horário de chegada de ao seu dormitório, mas ela se esforçou para explicar o que acontecera para a manager. Não que a mais velha tivesse gostado da notícia de que a garota estava andando pelas ruas de Seul acompanhada de outra garota bêbada, porém, relevou naquele momento por estar cansada.
Decidida em aproveitar seu bom humor, levantou da cama e fez suas higienes rotineiras, antes de voltar para a cama e deitar outra vez, mexendo no celular. Luna, sua colega de quarto, não estava no cômodo.
— Depois preciso conferir os comentários no Weverse. — falou consigo mesma, ainda rolando o feed no Instagram. Mas antes que pudesse trocar o aplicativo, recebeu uma mensagem de Siara, sua líder de grupo.
Abriu a notificação rapidamente, vendo que era apenas um simples aviso de encontro. Respondeu, logo se preparando para fechar o aplicativo e voltar para o Insta, mas a mensagem de Luna apareceu mais rápido em seu visor.
La Luna:
La Luna: *print de site de fofoca*
La Luna: TRAIDORA NÃO ME CONTOU PQ?
As sobrancelhas de se curvaram. Ela tinha desabilitado a função de baixar imagens automaticamente, então estava se sentindo meio perdida enquanto todas as outras meninas respondiam a mensagem. Clicou na imagem.
Antes mesmo que ela pudesse processar o que tinha lido, Luna entrou no quarto batendo a porta, e gritando:
— VOCÊ COMEÇA A NAMORAR E NEM ME FALA?
A fofoca era objetiva, mas não conseguia processar nada do anúncio. Parecia uma realidade paralela, um pesadelo.
Jay do Enhypen aparece jantando em casal com , do ION.
Só podia ser uma pegadinha de mau gosto.
? — Luna se aproximou da amiga, mas a garota parecia completamente estática.
A primeira coisa que sentiu foi confusão. Estava perdida, completamente alheia ao que estava acontecendo. Depois, ficou triste. O único pedido de sua manager fora de que ela não se metesse em nenhuma controvérsia, mas sabia que não tinha culpa alguma naquela fofoca inundada.
Mas, logo depois de concluir sua inocência mentalmente, uma inconformação misturada com raiva correu por todo seu corpo.
De todas as pessoas do mundo, precisava ser justo o JAY?
— Eu não consigo acreditar no que estou vendo. — concluiu tentando manter a calma.
— Você sabe que podia ter falado comigo antes, né? — Luna se sentou ao lado da amiga, afagando-a com uma das mãos. — Eu poderia ter te ajudado a disfarçar, sei lá…
— Quê? — acabou virando tão bruscamente que assustou a outra. — Você realmente acha que eu saí com o Jay ontem?
— Ué. — Luna piscou algumas vezes com a boca aberta. — E não saiu?
— Não??
não conseguiu mais apenas ficar sentada, precisava caminhar pelo quarto para descarregar um pouco da ansiedade que começara a dar seus indícios. Aquilo não podia estar acontecendo.
Seus olhos se enchiam de lágrimas a cada segundo que passava. Queria chorar de tristeza, de preocupação, de raiva… Tudo estava cada vez mais confuso e nem ao menos conseguia entender porque aquilo estava acontecendo.
Ela tinha tacado pedra na cruz, certeza.
— Espera, me explica essa história então. — Luna falou depois de passar um tempo com os olhos fechados. Ela também não estava entendendo nada, mas o desespero nítido no olhar de a fizeram puxar o freio e tentar raciocinar um pouco. — Então você não viu o Jay ontem, muito menos saiu com ele?
— Exatamente.
— Então todos os fansites estão divulgando uma mentira?
— Aparentemente. — não conseguia formular nenhuma frase que tivesse mais de uma palavra. Jurou que sua cabeça estava girando sem parar. Precisou sentar novamente.
— Mas isso não faz sentido, eles devem ter encontrado alguma coisa. — Luna concluiu sozinha, mas percebeu que a amiga estava perdida demais para poder contribuir com sua linha de raciocínio.
Ficou apenas parada, encarando a outra. estava sentada na cama, com as costas encostadas na parede e as pernas juntinhas, como em um casulo. Luna nunca fora boa em acalmar e acolher as pessoas, diferente de , então pensou em alguma solução para aquela situação.
Uma ideia apareceu, mas ela se sentiu um tanto insegura de executá-la.
— Duas cabeças pensam melhor do que uma. — concluiu em voz audível, mas nem conseguiu escutar direito por estar completamente mergulhada em seus próprios devaneios. — Eu vou pegar uma água para você, já volto.
Apressou-se em sair do quarto, determinada a ligar para aquela pessoa e tentar pensar em alguma coisa.
— Dohee, ei. — chamou a mais nova que saía da cozinha. — Leva um copo de água para a no quarto, mas só deixa lá e já sai.
— Mas você não estava lá com ela?
— Estava, mas preciso fazer uma ligação. — disse por fim, já pegando o celular e entrando na lista de contatos.
Dohee apenas fez um bico, mas pegou o copo de água e se retirou, deixando Luna sozinha na cozinha, com o celular iniciando uma chamada.
Estava quase desistindo, mas o rapaz do outro lado atendeu no último toque, pegando Luna de surpresa.
— Oi, Sunoo, deixa eu te perguntar…

— O JAY E A ? — não conseguiu segurar o tom de voz, logo tapando a boca com a mão. Além de Sunoo, apenas Jungwon estava acordado naquela hora.
E o último não demorou para correr até a sala, onde o mais velho estava com a expressão espantada. Cruzaram os olhares, e Sunoo percebeu que Won gesticulava alguma pergunta, mas não conseguiu entender o que era.
— Ok, Luna, eu vou falar com o pessoal aqui e te mando mensagem, tchau. — mal conseguiu desligar o telefone e Won se aproximou com pressa.
— O que aconteceu?
— Aparentemente os fãs acharam evidências de que o Jay em um encontro ontem. — Jungwon arregalou os olhos, prevendo a merda que iria dar. Sunoo respirou fundo antes de jogar a bomba final. — Com a .
Won não processou inicialmente. Suas pálpebras se mexeram repetidas vezes antes da sua boca proferir outro som:
, a nossa ?
Sunoo apenas concordou com a cabeça. A mão de Jungwon subiu até a direção de sua boca com tanta velocidade que, quando tampou-a, fez barulho.
— Nem ferrando.
O mais velho também parecia não acreditar, então voltou sua atenção ao celular para pesquisar. Porém, assim que entrou no Twitter, foi a primeira postagem que apareceu.
Ele ergueu o celular para que Won pudesse ler, logo salvando a imagem da notícia e mandando no grupo dos garotos. O líder já estava enviando mensagem para o manager naquele meio tempo.
De repente, os outros membros começaram a responder no grupo.
— NOR WAY. — Jake chegou correndo na sala com o celular em mãos. Ele tinha um sorriso enorme no rosto, como se aquela fosse uma boa notícia.
— Não é engraçado, Jaeyun. — Jungwon disse sério assim que viu a expressão no rosto do amigo.
— Relaxa aí, Won, daqui a pouco a empresa desmente isso. — sentou-se no sofá ao lado de Sunoo.
Won revirou os olhos. Uma parte de si queria rir e zombar da situação, mas seu espírito de líder do grupo não permitia que ele fizesse aquilo. Estava preocupado, sim. O Enhypen estava perto de voltar para a turnê mundial e ele sabia muito bem como os staffs ficariam com uma fofoca daquele nível correndo.
Além do mais, ele também se importava com , mesmo que não fossem tão próximos.
— Pelo visto os fãs começaram essa especulação por causa dos posts no Weverse. — Sunoo voltou a falar, mostrando o celular aos amigos novamente.
Nesse intervalo, Sunghoon e Heeseung apareceram na sala, também já cientes do que estava acontecendo.
— Eles estão encrencados. — Hoon deu risada.
— Vai ficar tudo bem. — Jungwon disse engolindo seco. Sua cabeça estava a mil. — O Jay já está sabendo?
— Acho que não. — foi a vez de Heesung falar. — Eu conversei com ele ontem antes de dormir e ele passou a noite no hotel com os pais.
— Com os pais? — Sunghoon arqueou uma das sobrancelhas.
— Foi o que ele disse.
Jake estava em silêncio até então, mas ainda tinha o sorriso em seus lábios. Ele sabia que a situação era preocupante e que não deveria estar rindo com o clima que estava na sala, mas não conseguia não achar aquele cenário um tanto interessante.
Precisava ligar para mais tarde.
— Ele não atende. — Won resmungou assim que a chamada com Jay deu na caixa postal. Decidiu mandar algumas mensagens para que o amigo acordasse logo.
— Não sei porque você está tão preocupado. — Sunoo fez um bico, olhando para o amigo no celular. Won levantou o olhar brevemente. — Com certeza a Belift vai se pronunciar rapidinho e negar os rumores, relaxa.
— Eu sei disso. — revirou os olhos, ainda com a tela do celular acesa esperando qualquer sinal de vida de Jay. — Estou preocupado com ela também.
— Eu falei que alguma coisa ruim ia acontecer, eu avisei. — Sunghoon deu de ombros.
— Irônico pensar que você acreditava que eu me meteria em problemas só porque não estava respondendo. — Jake soltou uma risada, tentando mudar um pouco de assunto para que o clima amenizasse um pouco.
Jungwon começou a receber uma ligação de Jay, se afastando.
— Era só você ter avisado que ia ao cinema que nada teria acontecido.
— Sunghoon virou sensitivo agora. — Sunoo riu alto, sendo acompanhado pelos outros.
Um pouco mais afastado dali, Jungwon escutava os gritos de um rapaz extremamente mal humorado.
— Eu não acredito nessa merda.
— Jay, eu já mandei mensagem para o manager, vai ficar tudo bem. — agora era Jungwon quem tentava falar palavras de apoio para que o amigo relaxasse. Nem parecia o líder irritado e preocupado de segundos atrás.
— Tinha que ser justo com aquela garota, cara. — escutou Jay bufando do outro lado da linha. — De todas as pessoas do mundo.
— A é super gente boa, não entendo sua implicância com ela.
— Ela é uma insuportável — o garoto interrompeu o amigo. — E não vem defender a pra cima de mim não, ela precisa se policiar mais. Já tem um ano de debut e fica cometendo essas gafe.
— Jay… — Jungwon respirou fundo. Sabia que o amigo estava irritado, mas o tom de voz que ele estava usando começara a irritá-lo. — Não é como se ela tivesse como saber que vocês iam comer no mesmo lugar no mesmo dia. Você muito bem sabe da recomendação de postar fotos dos lugares que vamos só depois de alguns dias.
— Não me dá lição de moral agora não, faz o favor.
Jungwon fechou os olhos com força. É o Jay, ele é irritado por natureza, só relevar por agora, repetia para si mesmo.
— Só volta logo para o dormitório, vamos conversar em grupo — disse por fim, sem mais paciência.
— ‘Tô saindo do hotel.
— Certo, estamos te esperando. O manager está vindo para cá também — nem ao menos esperou o mais velho responder, apenas desligando de uma vez. Ele já estava irritado o suficiente para se estressar com o mau humor do Jay.
Se aproximou da sala novamente, percebendo que agora Niki estava com eles.
— Do que estão rindo? — perguntou tentando relevar a exaustão que fora a ligação de pouco tempo atrás.
— Jake está tentando convencer o Hee para juntar o Jay com a oficialmente — Niki respondeu rindo. Won soltou uma risadinha pelo nariz.
— Isso é tão impossível que parece até piada.
— Won, pensa comigo — Jake se virou em sua direção. — O Jay nunca soube explicar a raiva que sente pela e vice-versa. Tem que ser amor isso tudo, ninguém odeia o outro por nada assim.
— O Jay não aguenta nem respirar o mesmo ar que ela, Jake — Sunghoon comentou rindo. — É mais fácil eles acabarem se matando se precisarem se suportar por mais de dez minutos.
— Só acho que daria um casal legal — deu de ombros, desistindo de persuadir os amigos a compactuarem com seu plano de cupido.
— Desiste dessa, oficializar um casal entre os grupos da Hybe é estritamente proibido — Sunoo afagou o ombro do australiano.
— Desencana, Jake.
— Vocês duvidam muito da minha capacidade de juntar casais.
— Você já juntou algum? — Jungwon perguntou já rindo. Nem se lembrava mais que tinha acabado de discutir com Jay.
— Teve aquela vez do Heeseung com a…
— Algum que tenha dado certo no final? — foi a vez do próprio Heeseung interromper.
Jake ficou em silêncio por um tempo, causando uma outra onda de risadas entre os amigos.
— Eu vou provar que estou certo — Jake disse baixo, mas os membros apenas aumentaram a risada.


Você pode ter o que quiser, mas nada é de graça
Talvez as coisas mais preciosas sejam as que você precisa abrir mão

▶︎ •၊၊||၊|။|||၊၊||၊|၊၊၊|• 1:12


Algumas horas antes…
não havia percebido que tinha passado horas demais em frente ao seu computador até virar o rosto em direção a sua janela e notar os leves raios de Sol começando a entrar. Mesmo com a leve tontura por ter ficado encarando a tela por muito tempo, levantou-se de sua cadeira e foi ajeitar o blackout, tomando cuidado para não despertar uma Luna que dormia profundamente em sua cama, próxima da janela.
Era uma manhã um pouco gelada, diferente do esperado para o mês de agosto. clicou rapidamente na tela de seu celular: 05h49. Murmurou baixo, percebendo que tinha extrapolado no horário e que, em algumas horas, seu corpo estaria cansado e ela precisaria repor seu sono perdido de algum jeito, mesmo com a agenda apertada.
Apesar de uma pequena parte do seu subconsciente estar se martirizando por causa do seu vacilo, voltou a encarar o calendário em cima da mesa, abrindo um leve sorriso. A página com o mês de setembro estava virada em sua direção, e seus olhos focaram no último final de semana do mês — que já estava devidamente circulado com caneta vermelha, destacando a data do feriado de Chuseok.
Pensar no feriado de Chuseok era como reviver um dos melhores momentos da sua vida: a época do anúncio do seu debut.
Para a maioria das famílias, aquele 10 de setembro de 2022 havia sido apenas mais uma comemoração do querido dia de Ação de Graças coreano. Porém, para , aquele havia sido o pontapé inicial da nova fase da vida.
Sua rotina já era puxada há mais de dois anos, quando começou a treinar para se tornar uma idol no imenso mundo do K-pop. O processo, por si só, já era complicado, mas tudo parecia ainda pior quando se era uma estrangeira.
— Por que está acordada? — escutou a voz sonolenta de Luna, tirando-a de seus devaneios.
— Perdi o sono. — deu uma desculpa qualquer, observando os olhinhos da garota lutarem para permanecerem semi-abertos. — Volte a dormir, não temos hora para acordar hoje.
— Eu sei, então vai dormir você também. — resmungou baixo, virando na cama e adormecendo mais uma vez, sem ter a chance de garantir que iria dormir.
Sorriu. A de 365 dias atrás odiaria a ideia de dividir o quarto com alguém, mas estava feliz por ter Luna ali — mesmo que adormecida. Parecia menos solitário.
Depois de alguns segundos refletindo, sua atenção voltou para a tela do computador à sua frente. O fone de ouvido estava largado sobre a mesa, mas leu pela notificação que a música já havia trocado e, agora, tocava sua música de debut: Boyfriend.
As memórias da época de seu debut vieram como uma cachoeira em sua mente. O dia do anúncio, os treinos intensificados para aprender a coreografia e, o pior de seus pesadelos, o aumento das aulas de coreano.
Mesmo que na época ela já estivesse vivendo na Coreia do Sul e encarando a vida de trainee há dois anos, sempre apresentou muita dificuldade para aprender a nova língua. Era minimamente hipócrita tamanho desajuste, uma vez que a garota cresceu em uma casa onde era obrigada a falar dois idiomas, inglês e japonês, e teoricamente isso a ajudaria a aprender línguas mais facilmente, mas não foi o que aconteceu.
Mesmo depois de um ano, ela ainda se sentia enferrujada em seu coreano, mas, pelo menos, conseguia dar continuidade em uma conversa qualquer e responder a maior parte das perguntas nas entrevistas.
Será que vou conseguir ficar fluente algum dia?, pensou. Inevitavelmente, seus ombros caíram. Aquele era uma das suas maiores inseguranças dentro de sua profissão.
Balançou a cabeça e voltou a se concentrar na tela, colocando os fones de ouvido e passando para a próxima música da playlist – qualquer uma que não fosse do seu grupo para evitar reflexões indesejadas.
A playlist seguiu com Le Sserafim e trocou de aba, abrindo em seu instagram privado, que a empresa claramente não tinha acesso, e voltando a rolar o feed. Ela não seguia muitas pessoas na rede, apenas alguns de seus familiares, seus artistas preferidos e páginas de fofoca.
Ah, e sua melhor amiga da Inglaterra, Joselin Young.
Jose foi quem apresentou o Kpop à e foi a responsável por ajudar a garota a alimentar seu sonho de se tornar uma idol. Apesar de ter nascido no Japão, foi morar com seus pais nas terras britânicas quando tinha apenas um ano de idade. Cresceu em uma casa com costumes asiáticos, mas toda a cultura que consumia era ocidental, principalmente os gostos musicais.
Até Joselin aparecer com uma nova paixonite por um grupo de Kpop graças a um evento que ela foi nos Estados Unidos durante as férias de verão de 2015. Desde então, todo seu amor por atores loiros e de olhos claros mudou para olhos puxados e cabelos escuros e lisos, como os seus.
O sonho de se tornar idol apareceu muito tempo depois, mas Joselin estava presente em todos esses momentos.
E quando um post de Joselin apareceu em sua timeline, parou para analisar a foto.
— Espera um pouco, eu conheço essa fachada… — se aproximou da tela do computador e ajeitou a armação no rosto. Como se uma lâmpada acendesse em sua mente, os olhos de se arregalaram no mesmo segundo que ela reconheceu a vaga paisagem da foto. Jose estava na Coreia do Sul.
E o pior: não havia lhe contado.
A velocidade que atingiu quando se lançou na direção de sua cama, buscando pegar o celular o mais rápido possível, foi impressionante até para ela mesma. Clicou no contato da amiga apressada, ficando em pé mais uma vez e pisando com a ponta dos dedos para sair do quarto em silêncio e ir para a sala.
O telefone emetia o som de chamada sendo realizada, deixando ainda mais nervosa. Como assim Jose estava respirando o mesmo ar que ela e não tinha lhe avisado?
Oi…? — escutou o resmungo da amiga, constatando que ela deveria estar dormindo.
Mas quem liga? precisava confirmar suas suspeitas – que na verdade já haviam virado certezas.
— Como assim você está na Coreia do Sul e nem me fala nada? — segurou sua vontade de falar alto, em tom de bronca, para não acordar as colegas do grupo.
Ah, , é você… — a voz permaneceu sonolenta. — Eu queria fazer uma surpresa.
— E como você pretendia me fazer uma surpresa postando foto no seu feed?
Não achei que você fosse ter tempo para reparar até no cenário. — falou divertida. escutou um barulho do outro lado da linha, imaginando ser Jose se ajeitando na cama. — Me dei ao trabalho de editar bonitinho para que você não visse nada coreano.
— Eu reconheci a fachada… — respondeu com certa timidez. Pensando por aquele lado, poderia parecer uma stalker fanática.
Esqueci do seu vício preocupante em cafeterias.
— Mas então, o que veio fazer aqui? — ela perguntou depois de alguns segundos em silêncio. Queria ter certeza de que Jose estava desperta.
Tenho um projeto de pesquisa da faculdade. — disse como se fosse algo extremamente comum.
— E eles te mandaram da Inglaterra até a Coreia para fazer uma pesquisa que você poderia ter feito no Google? — arqueou uma das sobrancelhas e fez uma careta, mesmo sabendo que a amiga não estava vendo suas expressões.
Na verdade, vou ficar aqui por onze meses.
Se estivesse bebendo sua água, ela com certeza teria cuspido tudo em seu computador.
— Como é?! — perguntou quando conseguiu se recompor. Ela nunca tinha sequer cogitado a possibilidade de morar perto de sua melhor amiga outra vez.
É, vai ser por dois semestres. — disse por fim. — Quero te contar sobre isso pessoalmente, pois eu precisarei da sua ajuda.
— Isso vai ser meio complicado… — coçou a nuca, pensando. conseguia imaginar perfeitamente a cara da sua manager quando ela pedisse para sair com uma amiga.
Você não tem tempo nem para me ajudar?
— Não é isso, é só que minha manager é bem chatinha com esse lance de ficar saindo sozinha.
Ah, a sua babá? revirou os olhos, com muita vontade de soltar uma risada. Jose sempre usava seu relacionamento complicado com a manager. — Vamos lá, mime ela um pouco. Eu vim do outro lado do mundo, esse é o mínimo que você deveria fazer para me ver.
— Eu vou tentar, ok? — se rendeu, pensando nas armas que tinha.
Precisaria organizar tudo na cozinha, levantar cedo e dar um jeito de garantir que nenhuma das meninas se atrasasse para o ensaio daquele dia para conseguir alguns créditos com a senhorita Gwan.
Começou a cogitar se era melhor tirar uma soneca até as 8, ou se devia ir arrumar a pia cheia de embalagens de comida chinesa que ela e as garotas haviam pedido no jantar.
Bom mesmo. teve certeza que Jose sorria apenas pelo tom de voz. — Olha, eu ainda estou mega cansada e sofrendo de jet lag, então vou voltar ao meu soninho.
— Tudo bem amiga, eu também preciso dar uma dormida.
Certinho, bom descanso , ‘tô com saudades.
— Bom sono Jose, também ‘tô com saudades.
Assim que desligaram, colocou o celular no bolso do pijama. A senhorita Gwan era bem rígida, principalmente em época de organização de comeback, quando as meninas precisavam evitar todo e qualquer tipo de confusão o máximo possível.
Mas daria um jeito para dar uma escapada do dormitório, nem que fosse por apenas algumas poucas horas. Por Joselin.

♫⋆。♪₊˚♬゚


Jay odiava perder.
Na verdade, qualquer pessoa competitiva odiava perder. Mas perder um jogo de Pedra, Papel e Tesoura contra os membros mais novos era um absurdo.
Principalmente quando era contra Sunoo.
— Obrigado pelo jantar, senhor. — o mais novo deu um sorriso aberto, se curvando e saindo dando risada logo em seguida, deixando Jay com a mão em formato de tesoura sozinho na sala.
Jungwon gargalhava da cena, encarando o amigo.
— Sunoo sempre perde, mas dessa vez você me surpreendeu. — não conseguiu diminuir a risada, sendo fuzilado por Jay com o olhar.
— Cala a boca.
Os três haviam desistido de sair com os outros membros para aproveitar os últimos dias de folga no dormitório. Jungwon e Sunoo achavam que já tinham ido a todos os lugares que queriam, por isso resolveram permanecer em casa mesmo.
Já Jay estava um pouco arrependido de não ter ido fazer compras com Jake.
— Eu poderia estar comprando uma calça nova. — reclamou enquanto ia em direção a cozinha, organizando os potes de comida e indo lavá-los. — Mas não, preferi ficar jogando com aquelas pestes e ainda vou ter que pagar o jantar.
— Você reclama demais. — escutou a voz de Won mais uma vez. Park virou para trás brevemente apenas para constatar que o mais novo estava entrando na cozinha e se apoiando na mesa. — Era só um jogo.
— Mas eu odeio perder.
— É só ganhar, então. — soltou uma gargalhada alta, mas se recompôs rapidamente, antes que Jay pensasse em jogar a esponja ensaboada em sua cabeça. — E sobre o jantar, precisa ser hoje à noite, hein?
— ‘Pra quê essa pressa?
— Se sairmos para comer amanhã, vamos precisar ir com todos os membros. — Jungwon caminhou para perto da pia, se apoiando ali e ficando de braços cruzados ao assistir seu hyung[1] lavando a louça. — Só se você quiser pagar para todo mundo.
— Você fala como se dinheiro nascesse em árvore.
— Você já é rico, hyung!
Jay revirou os olhos, era sempre essa mesma carta na manga que os garotos jogavam.
— Vamos hoje, então. — desviou o olhar da louça para o amigo. — Daqui a pouco vocês já começam a se arrumar então.
— Sim, senhor! — Won bateu em continência enquanto sorria, fazendo Jay soltar uma risada mínima. O mais novo se ajeitou e juntou as mãos na frente do corpo, se curvando 90º. — Comerei muito bem, obrigado.
Jay não observou o rapaz sair apressado da cozinha, mas sabia que Jungwon deveria estar sorrindo à toa por saber que estava com o jantar garantido. O mais velho apenas torcia para que nenhum dos garotos escolhesse beber naquela noite, pois eles não podiam nem sonhar em sair em qualquer site de fofocas.
Em poucos dias, eles estariam embarcando para o Japão para continuar a turnê mundial e promover o seu novo single. Felizmente, depois de ensaiarem arduamente durante os últimos meses, a empresa decidiu ceder uma semaninha de folga para todos os sete rapazes. A maioria apenas dormiu no primeiro dia, deixando para fazer as coisas fora do dormitório quando sentissem vontade, e por isso a casa parecia vazia naquele momento.
Enquanto terminava de lavar a louça, Jay sentiu seus olhos começarem a pesar. De fato, passar uma madrugada toda em claro jogando com Heeseung teria suas consequências. Mas, o mais engraçado, era que provavelmente o mais velho ainda estava no pique para passar o resto do dia fora de casa, mesmo sem ter pregado os olhos nem por cinco minutos nas últimas 24h.
Seu corpo todo doía. A dor rotineira no joelho parecia se alastrar por toda sua perna, ainda mais sensível, o maior sinal que seu corpo enviava quando estava cansado.
Jay definitivamente precisava descansar para o restante da turnê.
E era isso que ele pretendia fazer naquele restante de tarde, se não fosse o seu celular tocando incansavelmente sobre a cômoda, fazendo-o se revirar na cama que ele havia acabado de deitar.
— Não é possível. — resmungou enquanto se levantava contra gosto, imaginando quem deveria ser àquela hora da tarde. — Se for alguma sasaeng[2], eu vou me preparar para cometer um crime.
Inicialmente, sentiu um alívio ao notar que não era um número desconhecido, e muito menos um número restrito. A surpresa veio quando Jay leu o nome indicado no visor: mãe. O alívio que outrora percorreu seu corpo, agora parecia ter desaparecido outra vez.
— Alô? — perguntou assim que atendeu a ligação, questionando-se se algo ruim tinha acontecido para sua mãe telefonar.
— Oi, filho, como você está? Nunca mais ligou para a mamãe…
Um pequeno sorriso se formou no canto de seus lábios. Pelo tom de voz que a mulher usava, parecia que tudo estava bem.
— Estou bem, desculpa não ter te ligado antes.
— Eu sei que sua agenda é super lotada, mas estou com saudades.
— Também estou com saudades. — respondeu baixo, encarando a ponta dos dedos da outra mão que descansava sobre a cômoda.
— Olha, filho, o seu pai precisou viajar para resolver algumas coisas da empresa e estamos aqui em Seul esse fim de semana. — ela voltou a falar logo em seguida. Jay não respondeu nada. — Você está livre hoje?
— Eu… — ia dizer que tinha prometido aos garotos que iria levá-los para jantar, mas repensou. Ele podia apenas trazer um lanche a eles, certo? — Estou sim.
Ai, que bom! — a mulher choramingou, fazendo-o lacrimejar minimamente. Fazia muito tempo desde a última vez que ele se encontrou com seus pais por causa de sua agenda lotada. — Onde você quer ir?
— Pode ser no Gordon Ramsay? — sorriu. Trazer dois hambúrgueres seria muito mais fácil do que um prato chique para Jungwon e outro para Sunoo. — Estava conversando com os garotos esses dias sobre irmos lá antes de irmos para o Japão.
Claro que pode. — Jay teve certeza que a mãe sorria. — Nos encontramos lá então.
— Certo, às sete?
Combinado! — a mulher respondeu ainda mais animada. O garoto sentia seu coração saltando no peito. — Estou tão feliz que poderei te ver, meu filho.
Era uma sensação estranha, algo que ele não sentia há anos. A mansidão que exalava em cada palavra dita pela mulher fazia cada centímetro da pele de Jay se arrepiar. Escutar a voz de sua mãe era como um mix de conforto com uma dor aguda no final.
— Eu também, mãe. — ele fungou assim que sentiu os olhos marejarem outra vez.
Tudo bem, então vou ajudar seu pai aqui com a papelada para podermos ir sem preocupações essa noite.
— Ok, tchau, mãe.
Eu te amo, Jongseong. — ele a escutou dizer antes que finalizasse a ligação. Um frio percorreu sua espinha.
— Eu também te amo, mãe. — respondeu em um sussurro, com apenas um fio de voz saindo por sua garganta.
Assim que o rapaz desligou a chamada, uma única lágrima escorreu por sua bochecha. Era óbvio que ele sentia saudades dos pais como qualquer pessoa, mas preferia ficar com as boas lembranças das conversas com seus pais.
Porém, seu lado mais fechado sempre deixava-o sem fazer nada. Raramente ele ligava, ou mandava mensagem falando que estava com saudades, pois optava por essa solidão à enxurrada de sentimentos de sempre.
Antes de voltar ao aconchego de sua cama e largar o celular onde já estava anteriormente, decidiu enviar uma mensagem para o privado de Jungwon avisando sobre a mudança de planos.
Won leria em breve, ele tinha certeza.
Desligou a tela assim que o tick de mensagem enviada apareceu, sorrindo ao constatar que, agora, ele poderia dormir.
E Jay havia se prevenido e colocado o celular no silencioso. A última chamada poderia ter sido importante, mas nada garantiria que a próxima não seria de uma sasaeng maluca.
Não demorou para que seu corpo todo relaxasse sobre o colchão e sua mente divagasse para seu mundo recluso, desligando-se do que acontecia mundo afora.

♫⋆。♪₊˚♬゚


— Você pode sair, mas nada de chegar tarde e se meter em encrenca. — foram as palavras que a manager Gwan dissera para .
A mais nova piscou algumas vezes antes de realmente processar o que havia escutado. Pela primeira vez, sua manager — ou babá, como Jose a chamaria, deu um voto de confiança e permitiu que saísse com uma amiga. Sozinha. Sem supervisão.
Sentiu seus pés quase se levantarem em um salto eufórico, mas se forçou a permanecer quieta e enrijeceu os braços, se segurando para não comemorar ali mesmo.
— Ha-ham… Ok! Eu voltarei cedo, pode deixar. — se curvou ainda chocada com o que estava acontecendo. jurou que precisaria fazer o impossível para conquistar sua manager para que ela pudesse sair com Jose naquela noite.
Mas ela só precisou pedir uma vez e prometer que não iria causar nenhum escândalo. Foi fácil. E simples.
Rapidamente, pegou o celular, abrindo sua conversa com Jose.

: DEU CERTO
: meu Deus, deu certo?????
: não tô acreditando
jose soul 🤞: EU FALEEEEEI QUE IA DAR CERTO!
jose soul 🤞: te vejo mais tarde <3

estava extasiada apenas por saber que, em poucas horas, encontraria-se com sua melhor amiga depois de tantos anos sem vê-la. Sua animação com esse reencontro parecia tão alta quanto suas expectativas com o seu álbum que sairia na próxima semana.
Era a primeira vez que uma música que ela havia participado da composição saía do papel e ia pros estúdios. nunca tinha colocado muita fé em suas letras, mas estava extremamente orgulhosa com Insomnia.
Agora, sonhava com o momento em que escreveria uma canção completa.
— Unnie[3], você pode me trazer um lanche? — escutou a voz de Dohee, a maknae do grupo, assim que ela atravessou o corredor encarando a tela do celular. levantou o olhar minimamente, dando atenção à garota.
Assentiu com um sorriso.
— Eu ainda não sei para onde vou, mas prometo trazer alguma coisa para você.
A menina sorriu, levantando-se de sua cama e indo até o corredor abraçar a mais velha. aceitou o carinho brevemente, logo se esquivando e seguindo para seu quarto, a fim de se arrumar. Não era a maior fã de abraços — ou qualquer tipo de toque, mas não costumava rejeitar qualquer afeto das garotas.
Seu descostume com gestos de carinho veio de nascença. Seus pais sempre foram muito afetivos, mas sem muito toque. Sem beijinhos no rosto, muito menos abraços que pareciam durar uma eternidade. Apenas o básico: um carinho aqui e ali, um afago na cabeça e dois tapinhas no ombro.
Apesar dessa relutância ter crescido muito mais nos últimos anos, Jose era a única que não se importava tanto. A loira sempre fazia questão de cruzar os braços ou dar as mãos quando andavam na rua. E era obrigatório sempre dar um abraço longo na hora de se despedir.
Abriu o guarda-roupas, encarando as diversas roupas escuras. Bem, de fato não teremos problemas com roupas de cores muito chamativas.
Escolheu uma simples calça estilo jeans reta azul escura com uma tank top azul. A sua vontade era de usar uma blusa preta canelada de gola alta, mas tinha certeza que morreria de calor com o tecido em seu pescoço — e, no fundo, ela sabia que, caso fosse de blusa preta, Jose a mataria. Deixou para escolher uma terceira peça caso achasse necessário na hora de sair.
amava roupas e moda. Essa era uma das características de que mais se orgulhava: ser lembrada por suas vestimentas. Não por causa das cores extravagantes — ela evitava ao máximo usar muito colorido — mas porque queria deixar registrado um estilo próprio. Ela se importava mais com seu estilo do que com qualquer outra coisa, e isso incluía roupas, calçados, maquiagens e penteados.
Mas principalmente roupas.
Save me, save me, still you bite me. — começou a cantarolar uma de suas músicas enquanto organizava as coisas para o seu banho. — Next me, next me, when you save me.
A água gelada começou a cair sobre suas costas, dando-lhe leves tremeliques, mas deixou a água correr na mesma temperatura. Ficou apenas cantarolando de boca fechada, subindo e descendo nas notas enquanto aproveitava momentaneamente a leve massagem que a água forte fazia em seus ombros.
Era cômico pensar que sua ambição para se tornar idol havia começado quando Jose a inscrevera secretamente em uma audição global on-line. não estava preparada e muito menos se imaginava vivendo aquele nervosismo.
Mas quando o “reprovada” apareceu na resposta do email, seu orgulho falou mais alto e, depois, se tornar uma idol virou uma obsessão. E ela conseguiu, como sempre conseguia.
Não apenas conseguiu como, de quebra, ainda debutou em uma das maiores corporações da atualidade: Hybe.
Aquele não tinha vindo no momento certo, por fim.
— Por favor, me diga que vocês vão comer hambúrguer hoje. — se assustou quando a voz de Luna soou assim que ela abriu a porta do banheiro. A garota deu um leve pulo para trás.
— Por Deus, para quê fazer isso? — esbravejou, colocando a mão na altura do peito. odiava quando a assustavam.
— Desculpa. — a outra colocou os dedos sobre a boca, mostrando arrependimento pelo olhar. apenas abanou com a mão, como se pedisse para esquecer o que tinha acabado de acontecer, voltando a andar na direção do armário.
Felizmente havia se vestido dentro do banheiro.
— Se você for comer hambúrguer, eu vou querer.
— Mas todo mundo agora vai me pedir comida? — se virou na direção da amiga, rindo. Recebeu apenas uma mexida de cabeça de resposta. — Quando eu decidir para onde for, eu aviso e mando o cardápio para vocês todas escolherem algo, pode ser?
— Você nunca nos decepciona, ! — Luna piscou um dos olhos, causando uma onda de risadas na outra, contagiando o quarto. — Mas eu pago o meu.
— Tranquilo. — deu de ombros, não é como se elas não vivessem comprando comida umas para as outras. — Vai ficar aqui enquanto me arrumo?
— Se estiver tudo bem para você…
— O quarto também é seu, Luna. — riu outra vez, agora empenhado em secar seu cabelo antes de colocar a blusa que iria usar naquela noite.
Luna apenas se levantou para encostar a porta antes de correr de volta para sua cama e deitar-se.
— Você deveria aproveitar a noite.
— Mas eu irei. — encarou Luna pelo reflexo do espelho. A menina apenas levantou um pouco a cabeça.
— Estou falando de aproveitar… — arrastou mais a voz enquanto seus olhos se arregalaram mais e sua cabeça subia e descia devagar. Esperava que aquele gesto fosse mais que o suficiente para fazer entender o que ela queria dizer.
Se encararam pelo espelho. até mesmo desligou o secador para responder.
— Você enlouqueceu? — Luna sorriu ao perceber que ela havia entendido. — A manager me deu um voto de confiança, não vou avacalhar.
— Só tomar cuidado. — revirou os olhos, sentando-se na cama para poder encarar a amiga. — Você não quis sair comigo da última vez sendo que você tinha passe livre.
— Luna, você queria sair para beber e beijar, especificamente.
— Coisa que você deveria fazer também.
— Estou de boas, obrigada. — desviou o olhar, agora ajeitando os fios e pensando se prendia com alguma piranha ou se o deixava completamente solto.
Luna bateu na própria perna, chamado a atenção de mais uma vez, que agora se virará completamente para encarar os olhos da amiga.
— Eu só queria minha parceira de balada de volta!
— Nem dá ‘pra dizer que eu era uma parceira de balada. — entortou a boca enquanto olhava para cima, lembrando-se dos míseros dois finais de semana nos quais tentou ser mais festeira. — Eu chegava às onze da noite e ia embora antes da uma.
— Mas…
— E você só faz essas coisas para tentar esquecer seu crush no Jaeyun.
— Cala a boca. — ameaçou jogar o travesseiro na direção da amiga, mas desistiu da ideia quando percebeu que poderia acabar acertando as coisas em cima da penteadeira. — Se a manager escutar isso, eu ‘tô ferrada.
— Olha, todo mundo tem uma queda pelo Sin, é completamente compreensível. — começou a se defender, mas Luna não a encarava mais. Estava muito envergonhada para isso. — Mas você não vai conquistá-lo se nem ao menos falar com ele.
— Eu não penso em conquistá-lo, ‘tá maluca? — Luna riu em descrença. Era apenas um crush, nada demais. Não era como se ela cogitasse ficar com o rapaz algum dia. — Namorar alguém do Enhypen a essa altura do campeonato? Não, obrigada.
Talvez ela cogitasse, mas só uma bitoquinha de nada. Um beijinho.
Talvez dois.
— Fala isso da boca para fora, porque se o Jake te chamasse para sair…
— Uma utopia muito distante da realidade, relaxa aí. — cortou-a antes que a imaginação de saísse da curva. — Quem vive fanficando é você.
— Só crio uma realidade paralela onde você e o Jaeyun são casados e têm dois filhos. — riu, deixando Luna ainda mais constrangida.
— Quando eu descobrir qualquer crush seu, você vai estar tão ferrada… — disse entre dentes, fazendo a amiga rir mais uma vez.
Se eu tivesse um crush, eu saberia disfarçar muito melhor que você, obrigada.
Luna revirou os olhos de novo. nunca falava sobre garotos. Nunca. Só uma vez, quando elas ainda estavam se conhecendo e Siara perguntou se alguma delas já tinha namorado, disse que sim. Mas era só isso.
De repente, uma lâmpada acendeu em sua mente. Luna deu um mini sorriso apenas ao pensar sobre o assunto que colocaria na conversa:
— Falando em Enhypen…
— Lá vem. — começou a rir antes mesmo da amiga começar seu doraminha de sempre.
— Ai, , eu tenho tantos shipps de você com algum deles que nem sei qual é o melhor!
não respondeu. A garota agora se preocupava com a maquiagem que faria para aquela noite, mas estava inclinada a fazer o mesmo de sempre com algum batom amarronzado.
— Você e o próprio Jake fariam um friends to lovers muito fofo. — Luna voltou a falar quando percebeu que não receberia nenhuma resposta. — Uma nipo-inglesa com um coreano-australiano, com os sotaques diferentes se completando! — os olhos da garota brilhavam.
apenas ria quando notava as expressões que a amiga fazia pelo espelho.
— Eu sentiria um ciuminho no começo, mas por essa fic, eu dou a vida!
— Desencana, Luna. — a japonesa riu. — Ele é meu melhor amigo.
— Mas também tem o Niki, que também é japonês e vocês ficam conversando sozinhos sem que quase ninguém mais consiga entender. — Luna ignorou, voltando a sua linha de raciocínio.
— Niki é mais novo que eu.
— E? — Luna a encarou pelo espelho outra vez, com as sobrancelhas arqueadas. — Como se isso te impedisse de alguma coisa.
A outra apenas revirou os olhos, tendo a convicção que nada que ela falasse faria Luna parar de imaginar tantas histórias de amor em sua vida. nem ao menos almejava se relacionar com outra pessoa do meio artístico, ela tinha pavor do que os fãs poderiam dizer.
Não, não, não. Melhor ficar solteira por bastante tempo, até se esquecerem um pouco dela e ela poder viver sua vida com uma família anônima em paz.
— Também tem o Sunghoon… — Luna entrou outra vez em seus devaneios, mas nem ao mesmo prestava atenção. Estava concentrada demais em acertar aquele delineado. — Vocês dois sabem patinar no gelo, não tem como não pensar nesse casal! Até os fãs fazem edits de vocês juntinhos.
— E você fica assistindo isso? — deu uma risada alta. Agora ela entendia porque a amiga passava tanto tempo assistindo TikTok.
— Ei, eu gosto de ver os edits que os Chargers[4] fazem da gente, não tenho culpa se aparecem edits seus com o Hoon. — ela deu de ombros, mas logo olhou para o teto como se pensasse em quais membros faltavam. — Ah, com o Heeseung também daria um casal icônico.
Ironicamente, o coração de deu uma leve tropeçada, mas ela manteve a expressão neutra.
— Vocês gostam de ficar flertando com os fãs, são iguaizinhos! — Luna voltou a encarar as expressões da amiga pelo espelho, e precisou atuar para disfarçar o sorrisinho besta que surgiu involuntariamente em seus lábios.
Luna não pareceu perceber nada.
continuou em silêncio, pensando que quatro casais diferentes com o mesmo grupo já tinham extrapolado a cota e que a amiga finalmente pararia de falar absurdos.
Mas Luna sempre tinha uma boa carta na manga.
— Tem o Jay também.
Foram quatro palavras. Quatro palavras que fizeram parar exatamente tudo o que estava fazendo e virar para trás, com uma escova de cabelo em mãos, e tacar o objeto na direção da amiga.
— Você está delirando muito.
— Por que? — Luna se levantou, aproximando-se da penteadeira onde terminava de passar o batom com gloss.
— Ele nem mesmo aguenta ficar na mesma sala que eu por mais de cinco minutos. — deu de ombros.
Enemies to lovers! — Luna deu pequenos pulinhos, animada.
— Tecnicamente, não somos inimigos. — se virou para a amiga. — Estamos mais para fã e ídola.
Os pulinhos de Luna pararam e sua careta pareceu ser a coisa mais engraçada que vira naquele dia.
— Ele me odeia e eu não dou a mínima para ele. — se levantou depois de se olhar uma última vez, pegando o celular e enviando uma mensagem para Jose, confirmando se ela estava pronta.
— Não ligo, ainda assim fariam um casalzão.
se limitou a balançar a cabeça e assistir os ombros de Luna subirem e descerem repetidas vezes, gesto que ela sempre fazia quando queria mostrar que não estava nem aí.
A notificação no celular chamou sua atenção, e deu a oportunidade perfeita para finalizar aquela conversa tenebrosa.
— Bem, estou chamando o táxi para ir, se cuide e pensa com carinho no que eu te disse.
As sobrancelhas de Luna se juntaram.
— Mas você não me disse nada demais.
já estava com a mão na maçaneta quando se virou minimamente com um sorriso sapeca no rosto.
— Pensa em você e no Jake casados com dois filhos.
E saiu, deixando uma Luna extremamente vermelha parada no quarto.

♫⋆。♪₊˚♬゚


Jay saiu do banho quente com os ombros muito mais relaxados. Sua soneca da tarde, que se estendeu por quatro horas, havia renovado completamente a sua energia. Ele se sentia muito mais tranquilo e são.
Como ele já esperava, tanto Sunoo quanto Jungwon foram compreensivos e aceitaram a proposta de ir outro dia, mesmo que aquilo provavelmente significaria que Jay teria que pagar para os outros membros também.
Pelo menos estaria livre para aproveitar a saída com seus pais e jantar com eles.
— Eu vou querer um lanche também, Jay-hyung. — escutou a voz de Sunghoon e começou a rir, olhando para ele logo em seguida.
— Nesses momentos eu viro seu hyung, né?
— Mas é óbvio. — acompanhou o amigo na risada, entrando no quarto e sentando na cadeira. — Achei que Jake estaria aqui.
— Acho que ele ainda não chegou. — não encarou Hoon daquela vez, concentrado no espelho enquanto avaliava suas possibilidades de roupa para a noite. — Ou pelo menos não apareceu aqui no quarto enquanto eu estava.
Sunghoon murmurou antes de começar a mexer no celular. Conhecia bem o amigo para saber que ele estava extremamente empenhado em montar seu look, mesmo que ele estivesse apenas indo para uma mera hamburgueria.
Jay e seu vício em moda.
— Enfim, eu quero um lanche, por favor.
— Larga de ser folgado. — Jongseong riu outra vez. Ele já estava certo que usaria uma calça jeans branca e uma camisa azulada. Só precisava escolher o cinto. — Preto ou azul escuro?
Hoon levantou o olhar quando percebeu que sua opinião era solicitada, encarando as opções nas mãos de Jay, que estendia os braços em sua direção para que ele pudesse avaliar.
— Preto.
— Então vou de azul escuro, obrigado. — deu um sorriso sapeca, fazendo Sunghoon rir e fechar os olhos, desacreditado.
— Bem, vou indo, então. — disse depois de algum tempo. O mais velho já estava arrumado e apenas ajeitava o cabelo no espelho. — Traz um para mim.
— Vai sonhando.
— Eu sou seu melhor amigo, eu mereço! — Hoon colocou uma das mãos sobre o peito, como se estivesse se sentindo traído. Jay apenas revirou os olhos, como sempre.
— Eu não vou trazer lanche nenhum hoje, mas quando eu for levar Jungwon e Sunoo no Gordon, você pode ir junto.
— Obrigado, hyung, você é o melhor! — fez um joinha com ambas as mãos, se virando logo em seguida e saindo do quarto do amigo.
Jay só precisava esperar por qualquer sinal de seus pais para que saísse de casa. Ele estava bem tranquilo sobre sua saída, e nem ao menos disse ao seu manager para onde exatamente pretendia ir.
“Estou saindo com meus pais’’ foi a única mensagem que enviara, e que nem mesmo tinha sido visualizada ainda.
Depois de três anos de debut, seu manager já sabia que podia confiar nos rapazes tranquilamente. Ele nunca foi de ficar em cima de algum deles e muito menos de proibi-los de sair. Felizmente, todos se cuidavam muito para que nenhum rumor surgisse. Menos os que os fãs inventavam do nada, mas eles já não tinham controle algum sobre isso.
Decidido a esperar por uma mensagem dos pais enquanto aguardava com os garotos na sala, Jay conferiu se estava tudo em ordem no quarto antes de sair e fechar a porta. Jake não tinha mandado nenhum sinal de vida, e ele não fazia ideia de onde o amigo poderia estar àquela hora.
E pelo visto, Hoon ainda procurava por ele:
— Jaeyun ainda não respondeu? — perguntou assim que Jay se aproximou do sofá da sala, encarando-o.
— Ele deve estar fazendo alguma coisa legal. — Heeseung, que estava concentrado demais no filme que passava na televisão, levantou os ombros minimamente.
— Você está preocupado à toa. — Jay falou enquanto se sentava no braço do estofado, largando o celular sobre a mesa de centro.
— Sei lá, estou com um mau pressentimento.
— Sobre? — Jongseong se mostrou curioso.
— Não sei, é só uma sensação ruim de que algo vai acontecer. — agora foi a vez de Hoon dar de ombros. Jay revirou os olhos.
Ele não gostava quando os garotos começavam a falar sobre pressentimento ruim e coisas do gênero. Jay achava que a maioria dessas falácias eram apenas… Falácias. Que nunca agregavam em nada e só traziam uma preocupação à toa. Mas talvez esse seu preconceito era puro fruto de frustrações passadas, e ele sabia bem.
Sunghoon deixou uma última mensagem enviada a Jake e descansou o celular na mesinha ao lado do telefone de Jay. Heeseung parecia completamente alheio a toda aquela última conversa.
Os três continuaram a encarar a tela, mas Jay não assimilava nada. Sua mente estava ocupada demais pensando em tudo que poderia acontecer naquela noite, desde os papos mais ordinários até as conversas mais profundas que potencialmente o magoariam.
Não era à toa que tinha ficado tanto tempo sem encontrar seus pais.
— Seu celular está tocando. — escutou o resmungo de Heeseung ao seu lado, fazendo o americano despertar de seu devaneio. Ele estava realmente pensando naquela conversa ainda?
Chacoalhou a cabeça como se pudesse afastar os pensamentos, pegando o celular e vendo o contato de sua mãe no visor. Engoliu em seco.
— Alô? — se levantou para ir até a cozinha, que estava vazia, para conseguir escutar a mulher.
Oi, filho, estamos chegando. — ouviu a mulher e sentiu os ombros relaxarem. Ele nem mesmo havia percebido que os tinha tencionado tanto.
— Oi, mãe, ainda preciso sair do dormitório. — sua voz soava aliviada. — Devo chegar em uns 15 minutos, tudo bem?
Sem problemas, Jay. Te esperamos aqui, então!
Assim que desligou o telefone, Jay jurou que sentiu o alívio correndo por toda a extensão do seu corpo. Estava tudo bem. Aquela seria uma noite tranquila, sem imprevistos e conversas constrangedoras.
Estou com um mau pressentimento, as palavras de Hoon soaram em sua mente outra vez, deixando-o arrepiado. Era uma simples baboseira, ele não podia levar o sexto sentido do amigo muito a sério.
Jongseong correu e ligou rapidamente ao staff que iria levá-lo. Já estava atrasado, então precisaria sair o quanto antes.
— Falou galera, ‘tô indo. — disse simplesmente enquanto confirmava que estava com a carteira no bolso e as chaves do dormitório. Sunghoon e Heeseung estavam concentrados demais no filme, então apenas murmuraram alguma coisa que Jay não foi capaz de compreender. — Me avisem quando o Jake voltar.

♫⋆。♪₊˚♬゚


— Acabei de entrar, estou te esperando em uma mesa no cantinho esquerdo. — falava com Jose no telefone, que parecia extremamente perdida. — Só procurar uma garota de cabelo preto e blusa azul.
Como se preto fosse um tom muito inédito para cor de cabelo. — Jose reclamou, fazendo a amiga rir no telefone. — Estou descendo do táxi, vou entrar!
— Ok!
Ambas continuaram na ligação, mas em silêncio. escutava a amiga tentando falar em inglês com algum atendente e sentia ainda mais vontade de rir do perrengue de Joselin. Ela com certeza estava a ponto de surtar.
Quando uma loira de rabo de cavalo alto, pele branca e olhos visivelmente perdidos apareceu no campo de visão da japonesa, uma felicidade explodiu em seu peito. Era Jose, sua melhor amiga. A mesma que tinha ficado a mais de 8.800km de distância quando decidiu seguir a carreira de idol.
E que, pelos próximos meses, ela poderia encontrar facilmente em uma cafeteria qualquer.
esticou um dos braços, começando a abaná-lo para chamar sua atenção. Não demorou muito para Joselin notar um movimento esquisito no canto da hamburgueria e sorrir na direção da amiga.
— Você está cada dia mais linda. — disse enquanto se levantava para receber a garota que se aproximava. Ainda não conseguia acreditar que Jose estava realmente ali na Coreia do Sul.
Ambas se abraçaram com força, tentando matar a saudade uma da outra naquele mero contato. sentia os olhos marejando cada vez mais. Tinha certeza de que choraria em algum momento.
Mas não seria a única, visto que naquele meio tempo, Joselin já derramava lágrimas de felicidade.
— Não acredito que estou te vendo depois de dois anos.
— Nem eu! — se afastaram minimamente para se encararem, mas logo engataram em outro abraço apertado. — Vamos, precisamos colocar o papo em dia!
Assim que as garotas se sentaram, um garçom apareceu para anotar os pedidos. Joselin e pediram os mesmos hambúrgueres:
— E uma Coca, por favor.
— E eu vou querer uma água com gás.
No momento que o garçom se movimentou para sair, a inglesa virou na direção da amiga com uma careta.
— Quem come hambúrguer com água com gás? — ela parecia confusa por alguns segundos. — Você sempre foi viciada em refrigerante.
— E justamente por isso eu não posso mais beber. — deu de ombros, mas Joselin pareceu ainda mais inconformada.
— Como é?
— Ah, você sabe, Jose. — apontou para o próprio corpo, como se fosse óbvio. — Refrigerante dá muita celulite, e eu não posso engordar nadinha.
— 2023 e eles continuam assim? — os ombros da inglesa murcharam, principalmente quando a cabeça de confirmou. — Então você não bebe mais nada?
— Muito raramente, mas hoje em dia eu não sinto mais falta. E, quando eu bebo, é uma coca zero.
— E seu cappuccino com marshmallows quando está triste, parou também?
assentiu.
— Esse faz mais de anos que não bebo, desde a época de trainee.
— Meu Deus, que vida desgraçada, com todo o respeito.
A idol apenas deu de ombros, já conformada com sua nova realidade. Era óbvio que ela sentia falta das coisinhas que ela gostava de comer, mas, no fim, quem escolheu viver aquilo fora ela, então apenas aprendeu a se contentar com sua nova vida.
Mesmo que fosse uma vida longe de refrigerantes e cappuccinos com marshmallow.
— Mas vamos mudar de assunto, me conta da sua faculdade! — deu um jeito de desviar o rumo da conversa, mesmo sabendo que em breve a amiga iria querer saber mais sobre os bastidores da vida de idol.
Jose não enrolou para engatar no novo assunto, falando sobre como a faculdade de cinema era realmente o que ela amava fazer e que esse intercâmbio para a Coreia iria abrir demais todo seu repertório e experiência.
As garotas estavam engajadas na conversa sobre a vida de Joselin quando seus pedidos chegaram. Mudaram brevemente o rumo do papo para apreciar os hambúrgueres.
— Antes de comer! — chamou antes mesmo de Jose encostar em seu lanche. — Tira uma foto minha? Quero postar no Weverse!
Joselin apenas puxou o celular do bolso, pedindo para a amiga fazer a pose que quisesse. Foram apenas três fotos, e Jose nem ao menos deixou a amiga conferir, já guardando o aparelho e pegando seu hambúrguer.
— Que divino. — Jose murmurou e precisou segurar a risada. Não podia cometer o erro de rir de boca cheia e algum fansite a fotografar.
— Está uma delícia. — disse depois de engolir a comida e limpar os lábios. Joselin curvou uma das sobrancelhas.
— Fez aulas de etiqueta mesmo.
— Fiz. — encolheu os ombros. Ela tinha consciência de que, antes das aulas obrigatórias da era de trainee, ela era meio sem modos na mesa. — Hoje eu me policio muito mais, preciso tomar cuidado sempre.
Joselin apenas concordou com a cabeça, tampando a boca com uma das mãos para falar:
— Pegam muito no seu pé?
— Em qual sentido? — agora foi a vez de arquear as sobrancelhas.
— No fato de você ser estrangeira.
— Ah… Sim, bastante. — deu um sorriso sem graça, encarando o hambúrguer para não precisar encarar os olhos da amiga. — Na verdade, parece que, por eu não ser coreana, se eu faço algo, vira um escarcéu.
— Por isso você mudou toda sua dieta e modos, para não dar motivos para a galera não gostar de você.
— Também, mas principalmente porque tenho muita dificuldade com o coreano, então algumas pessoas não me curtem por isso.
Joselin ficou tão chocada que precisou soltar o hambúrguer sobre o prato.
— Te odeiam porque você tem dificuldade, é sério?
— Amiga, eu tenho quase certeza que já comentei sobre isso com você.
— Eu me lembraria se você me contasse um absurdo desses. — a voz da garota soou levemente grossa, sinal de que Jose estava irritada. Os coreanos eram desgraçados em alguns momentos mesmo. — Imagina se algum dia você aparece namorando? Que caos.
— Nem fala. — riu, lembrando-se da conversa que tivera mais cedo com Luna. Sua reação pareceu interessante para Joselin, que tombou a cabeça para o lado enquanto terminava de mastigar.
— Que risadinha foi essa? — animou-se repentinamente. — ‘Tá me escondendo o que?
— O quê? — ficou meio confusa. — De onde você tirou isso?
— Essa sua risadinha sapeca, parece até que você está conversando com alguém por aí…
precisou piscar algumas vezes até juntar as pecinhas. Jose realmente estava achando que ela, , estava de conversinha com alguém?
Coitada, mal sabia ela.
— Eu não consegui me interessar por ninguém por enquanto. — resmungou ignorando o nome de um serzinho que apareceu em sua mente.
— Mentira, impossível, com aquele tanto de idol que você se esbarra por aí e você não deu nem uns beijinhos? — Joselin se impressionava cada vez mais, mas de uma forma ruim.
— Pera aí, eu disse que não me interessei por ninguém no sentido de criar vontade de manter uma conversa séria, mas já beijei alguns idols sim.
— MEU DEUS E NÃO ME FALOU ANTES POR QUÊ?
A japonesa soltou uma risada alta. Estava realmente com saudades das reações extremamente exageradas de Jose.
— Eu não posso falar sobre essas coisas pelo celular, imagina se vaza?
— Por Deus, você precisa me contar cada detalhezinho!
— Pode ser em outro lugar? — olhou o relógio do celular, percebendo que ficava cada vez mais tarde e a hamburgueria começava a lotar.
Quanto mais gente em um lugar, mais alto o barulho, ou seja, mais alto que ela precisaria falar e mais chances de alguém escutar sobre aquele assunto.
E havia garantido que não se meteria em fofocas naquela noite.
— Pode ser, onde você quer ir? — Joselin disse assim que terminou de beber sua coca.
— Karaokê! Como nos velhos tempos.
Jose riu alto.
— Tudo bem, vamos só pagar e já iremos para o melhor karaokê dessa Seul!

♫⋆。♪₊˚♬゚


Jay sentia suas mãos suando frio. Era um nervosismo levemente parecido com a ansiedade antes de uma apresentação grande, como a agonia após fazer alguma coisa errada na escola e ser chamado para a sala da diretora. Precisou fechar os olhos e respirar fundo duas vezes antes de passar pela porta de entrada do Gordon Ramsay.
Percorreu os olhos por todo o lugar, vendo inúmeros rostos desconhecidos. Ajeitou o cabelo enquanto começava a caminhar e procurar seus pais. Fazia mais de um ano desde a última vez que se viram — e Jay sabia que tinha a maior parte da culpa por todos os seus desencontros.
— Jay! — escutou seu nome ao longe, mas ignorou. Podia ser alguma fã aleatória o chamando. — Filho! Aqui!
Parou. Aos poucos, seu corpo foi girando sobre o eixo de seus pés, encontrando uma senhora de roupa roxa escuro com uma das mãos levantadas, acenando de um lado para o outro. Começou a ir em sua direção devagar, sentindo seus lábios se curvando em um sorriso a cada passo que dava.
— Oi, mãe. — as palavras saíram com carinho enquanto se curvava para abraçar a mais velha. A mulher apertou-o com força. — Boa noite, pai.
O senhor sorriu, aguardando a esposa soltar-se do abraço do filho para cumprimentá-lo.
— Há quanto tempo não nos vemos, não?
— Você é impossível, sabia? — a mulher comentou antes de Jay responder seu pai. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e a voz falava com a voz embargada. — Parece que esqueceu que tem mãe.
— Que horror. — Jay riu sem graça.
— Sente-se, filho.
O rapaz obedeceu as palavras do pai, sentando-se de frente para o casal. Fazia muito tempo desde a última vez que Jay tinha ido em um dos restaurantes do Gordon Ramsay. Se lembrava de ter ido em uma das unidades de Washington na última vez que foi visitar sua família, em 2021. Porém, suas memórias mais fortes eram da sua infância, quando ia nas confraternizações da empresa de seu pai.
Apertou os lábios quando as recordações pulsaram em seu cérebro.
— Como estão as coisas na empresa? — começou a puxar assunto com o chefe da família, que quase nunca falava nada, mesmo que fosse sua maior inspiração.
— A empresa está indo cada vez melhor, felizmente. — o mais velho disse com um sorriso simples nos lábios, encarando o filho. — Estamos conseguindo expandi-la e, aos poucos, dando passos para abrir filiais em outros países.
— Fico feliz. — acompanhou o sorriso do pai. Ele gostava de como seu pai era dedicado em seu negócio e como aquilo sustentou toda sua família desde sempre. Era uma inspiração de vida.
Jongseong imaginava que, algum dia, num futuro ainda distante, ele seria um pai de família e cuidaria de seus filhos com o mesmo amor que fora criado por seu pai. Mesmo que algumas coisas na vida de herdeiro não lhe agradassem, ele tinha plena ciência de que tudo o que viveu foi graças a empresa, então queria poder passar esse conhecimento aos filhos também.
Isso se algum dia ele conseguisse se apaixonar por alguém novamente.
— Já querem pedir? — Jay perguntou enquanto encarava os dois, recebendo apenas um aceno. Esperou um garçom passar perto da mesa para chamá-lo. — Mãe, o que a senhora vai querer?
— Apenas uma salada caesar, por favor. — sorriu para o atendente, que anotou seu pedido prontamente. Abaixou o cardápio em suas mãos, voltando a prestar atenção no filho.
— Quero um 1966.
— E eu vou querer um Truffle Burger, e dois chopps, por favor. — Jay devolveu o cardápio para o garçom, que saiu assim que anotou todos os pedidos.
— Como estão sendo os ensaios? — a senhora Park apoiou a cabeça em uma das mãos. Seus olhos estavam vidrados em seu filho, observando cada pequeno movimento.
Esforçava-se para segurar a vontade imensa de chorar. Sentia saudade de quando conseguia falar com o filho todos os dias, mas entendia que, atualmente, sua agenda jamais permitiria que ele parasse e ficasse conversando no telefone sobre qualquer coisa.
Mas, o pior de tudo, era saber que ele também não queria tanto assim entrar em contato todos os dias.
— Puxados. — respondeu em um suspiro, abaixando os ombros. — Em breve, estaremos indo para o Japão promover nosso próximo single e começar a turnê, então todos os dias estão sendo corridos e cheios de compromisso.
Pelas suas lembranças, o distanciamento do filho havia começado há pouco mais de um ano atrás. A mais velha sempre se pegava pensando no que teria gatilhado esse isolamento de Jay, mas nunca conseguia engatar em uma conversa profunda com o filho sobre isso.
— Sente saudades da vida na escola, né? Quando morávamos em Seattle e a sua única obrigação era ir para a escola.
— Gosto da minha vida atual, foi o que sempre desejei. — deu um meio sorriso, ajeitando-se no banco.
Ele sempre a cortava quando a conversa chegava no outro continente.
— Podemos mudar de assunto? Queria te contar um pouco sobre uma coisa que vai acontecer no show da turnê nova.
Sempre.
— Claro, meu amor. — contribuiu o sorriso, juntando as mãos e tombando a cabeça para o lado. Se Jay ainda não queria compartilhar seus pensamentos sobre o que causara seu isolamento, ela esperaria. Podia fazer isso pelo filho, certo? — Me conte tudo.
Jay abriu o sorriso, como se o mundo tivesse saído de seus ombros. Era o sentimento de silêncio mútuo. Apenas os olhares conversavam. Não quero falar sobre Seattle, ainda não quero falar sobre isso, repetia para si mesmo todas as vezes, mas nunca conseguia pronunciar as palavras.
Preferia manter tudo em segredo, ignorando todos seus sentimentos e torcendo para que ninguém a sua volta percebesse o quanto aquele assunto poderia fragilizá-lo.
Algum dia ele conseguiria se abrir, acreditava muito nisso.
Mas esse dia ainda não tinha chegado.
— Então… — jogou o seu corpo levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa para chegar mais perto da mãe. — Eu comecei a pegar mais firme na guitarra, então nós planejamos um solo para eu fazer em uma das músicas.
O mesmo instrumento que sempre me falaram para tocar em Seattle, pensou brevemente, mas tratou de calar aquela voz no fundo de seu subconsciente o quanto antes.
Continuou contando sobre os planejamentos e surpresas que estavam programando para todos os shows, não precisando se esforçar tanto para manter o sorriso aberto no rosto. Era nítida a falta que ele sentia de conversar daquele jeito com seus pais.
Contudo, assim como sentia saudades de estar presente com sua família, também era óbvio o quanto estar ali o fazia divagar nas memórias até chegar em Seattle. Automaticamente, sua mente o levava para as lembranças mais ordinárias na cidade estadunidense. Lembrava da época em que sua mãe ia buscá-lo de guarda-chuva na escola, mesmo que ela odiasse molhar suas roupas caras e pudesse apenas mandar uma secretária ir buscá-lo em seu lugar. Quando ela penteava seu cabelo enquanto ele contava sobre tudo o que tinha aprendido na escola, mesmo que ela tivesse outras mil coisas para fazer em casa. Quando ela fazia de tudo para preparar um jantar em família para que ninguém comesse sozinho, mesmo que isso custasse alguns cabelos brancos e horas em pé na cozinha da casa.
Lembrava-se com carinho de qualquer momento antes da sua última visita a Seattle.
Não percebeu quando o garçom chegou com os hambúrgueres, então apenas se afastou, tirando uma foto do prato e postando no Weverse para conversar um pouco com as Engenes.
Jay só se sentia confortável para falar sobre Seattle com elas, afinal.
[1]pronome de tratamento que garotos usam para chamar/se referir a garotos mais velhos;
[2]fã obcecada que invade a privacidade dos idols;
[3]pronome de tratamento que garotas usam para chamar/se referir a garotas mais velhas;
[4]fandom fictício do grupo das meninas, ION;


Eu me tornei o personagem principal sem nem mesmo saber
Por causa dessas fofocas
▶︎ •၊၊||၊|။|||၊၊||၊|၊၊၊|• 1:12


— E se a gente saísse para tomar um café? — Luna disse sorridente, parada de frente a uma cabisbaixa.
— A manager me proibiu de sair, lembra? — a garota resmungou.
— Quer jogar cartas com a gente?
— Não vou conseguir me concentrar.
— E se assistíssemos algum dorama?
— Assistir coisas românticas agora vai me dar enjoo, Dohee.
— Então um filme de terror?
— A minha vida já está um terror — choramingou, sentindo uma ardência no nariz imediata. Enfiou o rosto no travesseiro antes de alguma lágrima escorresse. As outras membros do quarto se entreolharam.
sabia que, inconscientemente, suas respostas curtas e voz embargada soavam como um poço de drama, mas ela não conseguia evitar.
Naquele momento, ela só queria desaparecer.
Haviam se passado algumas horas desde que a manager Gwan saíra do dormitório das garotas para ir a empresa resolver a situação. A mulher passou pouco mais de uma hora no apartamento, e foi o suficiente para deixar de olhos inchados e um semblante de derrota completo pelo resto do dia – ou talvez pelo resto da semana.
Luna e Dohee foram obrigadas a ficar trancadas dentro do quarto da mais nova enquanto a Gwan e “conversavam” no quarto, mas apenas os berros da mais velha foram audíveis durante todo o tempo de discussão. Siara até conseguiu chegar a tempo de intervir na briga e tentar proteger a amiga de grupo, porém, a manager estava com os olhos fervendo de raiva.
— Você precisa comer alguma coisa… — Dohee tentou colocar um prato de donuts nas mãos de , que ela também recusou.
— Sinto muito, meninas — foi a única coisa que ela disse, encarando as três amigas à sua volta. — Eu deveria ter conferido se alguém tinha postado algo naquele dia no Weverse.
As três estavam em volta da cama de , que permanecia de ombros caídos e olhos avermelhados. Já faziam alguns minutos que elas se esforçavam para conversar com a garota, a fim de distraí-la um pouco, mas não obtinham nenhum resultado promissor.
Parecia até mesmo que queria continuar desanimada.
— Você poderia ter sido mais cuidadosa.
— Siara-unnie! — Luna chamou sua atenção, olhando desacreditada para a líder.
— Todas nós sabemos que devemos postar fotos de algum restaurante pelo menos três dias depois de irmos, é uma regra — ela levantou os ombros, encarando Luna de volta brevemente. — Mas se serve de consolo, Jay também errou por ter postado no mesmo dia.
Jay.
ainda não havia processado o fato de que ela estava encrencada em um escândalo de namoro com Park Jongseong, o cara que mais a odiava na face da Terra. Aquilo era obra da Lei de Murphy ou de qualquer espírito traiçoeiro, pois era irônico demais para ser verdade.
Pensar em Jay fazia se lembrar do seu melhor amigo, Jake, que havia mandado diversas mensagens desde que a fofoca saíra pela manhã, e que ela ainda não tinha conseguido ler.
Se ela encostasse em seu celular enquanto a manager Gwan brigava consigo, ela possivelmente perderia o direito de ter o aparelho. E depois já estava ocupada demais chorando sem parar para sequer pensar em responder ao amigo.
, vamos pensar positivo — Siara voltou a falar, tirando de suas reflexões sobre a amizade dela com Jake. — A Belift nunca vai deixar um escândalo desses correr por muito tempo, isso seria péssimo para a imagem do Jay também.
— Isso aí! Logo, logo, eles vão postar uma nota negando o namoro e vão falar que foi uma mera coincidência — Dohee continuou com um sorriso, causando uma resposta involuntária imediata em . A maknae era sua serotonina diária que funcionava em momentos de nervoso.
— Eu espero mesmo — suspirou, jogando a cabeça para trás.
A verdade é que estava frustrada consigo mesma por ter cometido aquele erro. Era uma das regras básicas da vida de idol: nunca postar uma foto na mesma hora que tirou, principalmente se for expor a sua localização.
A lição veio, ainda que da pior forma possível. Contudo, ela gostava de acreditar que a Belift realmente negaria o rumor com rapidez e ela poderia seguir sua vida normalmente depois de tanto nervoso. Se isso significasse que ela teria que se afastar de todos os garotos do Enhypen, o faria mesmo assim. Ela lidaria com as consequências de suas ações.
Apenas a ideia de se afastar de Jake fazia seu peito doer, porém, ela estava determinada a seguir com o que quer que a empresa lhe passasse. Ela já estaria sendo poupada de muito estresse e onda de hate com o rumor.
— Vou fazer um fondue de chocolate e frutas que eu sei que você ama — Luna disse com empolgação ao ver o sorrisinho da amiga.
apenas assentiu, se permitindo ser cuidada pelas amigas. Siara, Luna e Dohee eram as únicas pessoas que poderiam apoiá-la fisicamente naquele momento, então ela sabia que precisava deixar que as meninas a ajudassem. As três ficaram animadas com a mudança de humor de – mesmo que mínima.
Luna saiu do quarto rapidamente para preparar o fondue para as quatro, enquanto Dohee se levantava dizendo que iria arranjar alguma comédia romântica para elas assistirem juntas na sala.
Apenas Siara permaneceu ali ao lado de , encarando-a.
— Me desculpa de verdade, unnie — a garota suspirou, sentindo a derrota sobre seus ombros.
, vai ficar tudo bem — a mais velha se sentou no colchão ao lado da garota e a abraçou. — Se isso aconteceu, é porque você vai aprender alguma coisa com isso.
— Já aprendi que devo repassar as regras todos os dias antes de fazer qualquer coisa — respondeu com a voz divertida, fazendo Siara soltar uma risada nasalada, desvencilhando-se do abraço.
— Nem falo sobre essa lição, mas pode ser uma oportunidade.
— Fala sério, que tipo de oportunidade essa situação poderia me dar? — soltou outra risada, agora irônica. — A chance de eu e Jay virarmos amigos?
havia perguntado de forma sarcástica, como se aquilo fosse um absurdo escancarado. Porém, o silêncio de Siara a incomodou.
— Você não pode estar falando sério.
— Eu só acho que essas coisas sempre acontecem por um bom motivo.
— Unnie, isso é simplesmente impossível — começou a tentar justificar sua ideia de quão absurda era a possibilidade dela e Jay se tornarem amigos algum dia. — Ele me odeia! A gente se mataria em menos de uma semana.
— Mas você nem ao menos sabe o motivo dele te odiar.
— Exatamente, isso só mostra o quão pirado aquele cara é.
Siara riu da forma que falava de Jay. Era sempre assim. Quando o nome do rapaz era citado, já fechava a cara e reclamava do quão infantil ele era por odiá-la sem qualquer motivo válido.
— Sei lá, só tenta encarar essa situação de uma forma mais… leve — a líder disse por fim. — Vai te fazer muito bem.
A garota apenas concordou com a cabeça, absorvendo as palavras de Siara. A mais velha levantou, batendo as mãos e estendendo o braço direito na direção da amiga, ajudando-a a se levantar também.
— Agora vamos antes que a Dohee coloque algum dorama meloso que vai nos deixar diabéticas — riram juntas.

🎤📝❤️‍🔥


O clima no dormitório estava esquisito, e Jay sabia que era sua culpa o fato dos garotos estarem em silêncio na sala, apenas encarando os rostos um dos outros. A ansiedade para falar sobre o assunto da vez era nítida nos olhos curiosos dos garotos, e todos aguardavam um alguém específico começar a falar sobre o tópico sensível.
Então Jay suspirou, tentando tomar coragem – e paciência – para começar a falar sobre o escândalo que tinha saído poucas horas antes daquela pequena reunião no dormitório.
— Se vocês quiserem perg–
— Desde quando?
— Você ‘tá me zoando que nunca me contou nada sobre você e a ?
— O que porras aconteceu ontem?
— Você estava com a mesmo?
As quatro perguntas foram feitas de uma vez, sem que Jay conseguisse completar sua fala inicial. Ele nem mesmo conseguiu diferenciar quem estava perguntando o que. Os corpos de Jake, Heeseung, Sunghoon, Sunoo e Niki estavam projetados em sua direção, com os olhos arregalados e atentos para o que quer que ele falasse a partir daquele momento.
Apenas Jungwon permanecera com as costas encostadas no sofá, de braços cruzados e uma expressão séria, apenas encarando a cena toda.
— Eu e a não temos nada, foi uma maldita coincidência — suspirou outra vez, sentindo toda sua paciência se esvair em menos de dois minutos de conversa. — Eu saí ontem com meus pais para ir ao Gordon e aparentemente ela teve a mesma ideia de ir lá.
— Chega a ser engraçado — Sunoo desfez sua postura e jogou as costas para trás. Ele estava com um sorriso divertido nos lábios.
— Mas vocês chegaram a se encontrar ou algo assim? — a pergunta veio de Heeseung. Jay estava com uma das pernas sobre a outra e de dedos cruzados sobre o joelho esquerdo quando parou para encarar o amigo.
— Não sabia que ela estava lá, se soubesse, não teria postado a foto do hambúrguer.
— Você já errou postando enquanto estava no restaurante — a voz séria de Jungwon assustou Sunoo que estava ao seu lado. Ele sabia que o amigo incorporava a skin de líder em momentos sérios, mas não achava que Won levaria aquela conversa no dormitório tão a sério.
— Eu sei — Jay abaixou a cabeça, coçando a nuca antes de voltar a encarar Yang. — Se eu pudesse voltar no tempo, não teria postado nada.
— Mas agora já foi — Heeseung, que estava do outro lado de Jungwon, apertou a coxa do líder com calma, tentando deixá-lo mais relaxado ao toque. — Deixa que a Belift vai se pronunciar e tudo ficará bem, você só precisa se policiar mais.
— Pode deixar, nunca mais vou me permitir cometer um erro desses — Jay assegurou os amigos, mas ninguém se pronunciou.
Jake e Sunghoon se encararam, conversando pelo olhar. Ambos já haviam preparado uma coletânea de piadas e zoações que fariam com Jay assim que ele chegasse no dormitório, mas não conseguiam garantir se já estava liberado fazer piada com a situação.
O clima da sala parecia ter caído assim que a voz séria de Jungwon soara pela primeira vez naquela conversa. Todos haviam percebido, até mesmo Niki que parecia um pouco alheio à conversa. Jake apenas negou com a cabeça, constatando que ainda não era hora brincar.
— O manager disse que precisou ir direto para a empresa, então mais tarde ele passa aqui para ter uma conversa séria com você — Won disse por fim com o olhar fixo em Jay, a voz baixa e soltando um suspiro no final.
Ele ainda estava chateado pela forma que Jay o tratara mais cedo pelo telefone. Jungwon tinha a convicção de que quando chamasse Jay para conversar particularmente sobre a conversa no celular, eles se resolveriam. Porém, naquele momento, ele não estava a fim de conversar.
A atmosfera permaneceu tensa, principalmente com o silêncio que reinava por ali.
— A gente vai simplesmente ignorar o fato que o Jay está em um escândalo de namoro com a garota que ele mais odeia da empresa mesmo ou… — a voz de Niki soou baixa, mas todos conseguiram escutar.
Assim que escutaram aquilo, Jake e Sunghoon não conseguiram mais segurar a risada que estava presa em suas gargantas. Os outros garotos os acompanharam.
— Céus, finalmente — Sunghoon gemeu ainda rindo. — Achei que ficaria aquele clima de merda ‘pra sempre.
— Em algum momento alguém iria rir, era óbvio — Heeseung respondeu mais controlado.
A troca de risadas já fora o suficiente para amenizar a atmosfera. Os sete não gostavam de ficar com o clima estranho entre eles por muito tempo, mesmo quando acabavam brigando e caindo no soco entre si – como já tinha acontecido algumas boas vezes.
— Eu tenho tanta coisa para falar que nem sei por onde começar — os olhos de Jaeyun brilharam.
— Por favor, não diga nada — os ombros de Jay murcharam assim que ele percebeu que aquele seria o assunto de perturbação por alguns dias. — Eu não processei a informação ainda.
— Hoje cedo, quando a Luna me ligou para avisar, eu não acreditei — Sunoo levantou os ombros ainda com o sorriso divertido em seus lábios.
Jay olhou diretamente em sua direção, arqueando uma das sobrancelhas antes de perguntar:
— Espera, vocês não descobriram pelos fansites?
— Na verdade, o Sunoo entrou em ligação hoje cedo e gritou pela casa, então acabei escutando — Jungwon entrou na conversa, um pouco mais leve. — Depois ele mandou no grupo e o resto você já sabe.
— Isso quer dizer que a também já deve saber — Jay concluiu seus pensamentos em voz alta, olhando para um ponto fixo na mesa.
Os garotos se entreolharam antes de fixarem seus olhares em um Jay pensativo, com a boca torta e a testa enrugada olhando para um ponto aleatório. Não precisavam pensar muito para entender que o americano já deveria estar xingando toda a existência da garota em sua mente.
— Já conseguiu falar com a , Jake? — a voz de Heeseung surgiu depois de um período em silêncio.
— Pior que não — o garoto murchou a postura. — Ela está me ignorando, mas aparentemente é porque a manager brigou muito feio com ela.
— Bem feito — Jay resmungou baixo, mas Jake conseguiu escutar.
Olhou-o com desgosto.
— Cala a boca, vocês fizeram a mesma cagada.
— Ei!
— Relaxa aí vocês dois — Jungwon estendeu os braços na direção de cada um, com as palmas viradas na direção de seus rostos.
Os olhos de Jay reviraram no mesmo instante. Não aguentava quando era defendida pelos garotos, principalmente por Jake. Ele sabia que todos ali eram amigos das meninas do ION e que apenas ele não gostava de , mas, de qualquer forma, odiava quando não concordavam com ele.
Só ele que conseguia enxergar o quanto ela era falsa e não confiável?
— Sei que pode parecer meio chato da minha parte pedir isso, mas será que a gente poderia mudar de assunto pelo menos por agora? — Jay tentou suavizar a voz o máximo que conseguia.
Ele estava um poço de estresse e mau humor. Não que ele fosse uma pessoa naturalmente calma, mas naquele dia em especial, suas frustrações estavam crescendo exponencialmente. E falar de , ou o simples ato de mencionar o seu nome, já fazia todo seu sangue borbulhar.
Suspirou. Quando Jay apoiou a cabeça no travesseiro na noite anterior, repetiu para si mesmo que o jantar com seus pais seria seu pico de estresse da semana, mas agora ele estava vivendo um verdadeiro pesadelo. Desejou voltar na noite anterior e mudar toda sua trajetória, mesmo que tivesse de escutar sua mãe perguntando de Seattle outra vez em menos de 24 horas.
Aquilo era, sem sombra de dúvidas, menos torturador que um escândalo de namoro com .
— Só porque você ainda parece estar digerindo isso tudo — Heeseung respondeu pelos amigos do grupo, encerrando aquele papo por ali. O que eles mais teriam eram oportunidades para zoar com Jay e seu cômico destino.
— Valeu.
Os garotos começaram a conversar sobre outros assuntos, a maioria envolvendo a turnê no Japão que eles iriam começar em alguns dias, mas Jay não estava mais escutando nada.
Sua cabeça estava revivendo a noite anterior.
Você precisa desencanar do que aconteceu em Seattle, a voz de sua mãe ecoava em suas lembranças.
Tremeu os ombros. Ele odiava pensar em Seattle e nos assuntos que deixou por lá, mas ele sentia que, em algum momento, precisaria encarar seu passado para, enfim, se curar.
E Jay contava com a possibilidade de estar dopado de remédios controlados quando esse dia chegasse.

🎤📝❤️‍🔥


estava uma pilha de nervos.
— Se você continuar andando assim, vai cavar um buraco nesse chão — Luna falou enquanto assistia a amiga andar em círculos pela sala de treino.
— Cala a boca — respondeu sem olhar em sua direção enquanto mordiscava a ponta de seus dedos, quase roendo a unha.
Já haviam passado alguns dias desde a confusão com a fofoca de namoro entre ela e Jay e, até naquele momento, a Belift não tinha se pronunciado sobre a fofoca, tampouco negado o relacionamento, o que não era convencional para a equipe da empresa.
E isso deixava ainda mais angustiada.
— Tente se acalmar pelo menos um pouco — Luna se levantou e foi até , encostando em seu ombro e fazendo a garota parar de andar por um instante.
Dessa vez, a encarou.
— Estou desesperada.
— Eu sei, mas continuar agindo desse jeito não vai te levar a lugar nenhum — deu um meio sorriso, acariciando levemente o seu ombro.
Estavam apenas as duas na sala de ensaio. Dohee havia saído apressada assim que dançaram a última música para gravar alguma OST em alguma das salas de gravação e Siara estava cumprindo seu papel de líder e conversando com os managers e diretores da Belift sobre a situação de .
Joselin não se encontrava com desde o dia da hamburgueria, quando a fofoca de namoro entre ela e Jay estourou. Apesar de elas conversarem diariamente e Jose se esforçar para tranquilizar a amiga por ligação, a falta de contato físico era uma ruína certeira. Se ao menos conseguisse se acostumar com o toque das colegas de grupo…
Mas não. O único toque que a tranquilizava era o de Jose, e infelizmente elas não podiam se encontrar por causa da ordem da manager Gwan.
— Olha, vamos tentar pensar em coisas boas, pode ser? — Luna chamou sua atenção outra vez. — Q&A está indo super bem nos charts e nossos nomes continuam em alta.
Apesar do primeiro full album das meninas, Q&A, estar com uma classificação muito boa naquela primeira semana de promoção, o suposto clima feliz de conquista estava sendo ofuscado pelo mau humor e preocupação de sobre o escândalo de namoro.
Mesmo assim, ela tentou sorrir um pouco.
— Love Thing, que é sua primeira música creditada, pegou um chart individual muito bom mesmo sendo uma b-side[5] — Luna continuou citando e acabou soltando um sorriso mínimo. Saber que uma composição que ela participou estava tendo um bom desempenho a animava verdadeiramente. — Isso! É disso que eu estou falando!
Não evitou dar uma revirada de olhos. Luna sabia como distrair mesmo que por apenas alguns segundos.
No entanto, mesmo com todos os esforços de Luna, não conseguia e nem ao menos queria pensar em outra coisa se não na crítica situação em que sua carreira se encontrava. Uma batalha mental era travada em seu subconsciente: de um lado, ela queria parar de relembrar um pouco do escândalo e se poupar; de outro, porém, o sentimento de culpa era regado com a falácia de que, se ela se esquivasse do assunto, ela estaria negligenciando sua responsabilidade como idol.
sentia que, em breve, começaria a delirar com as vozes discutindo em sua cabeça.
— Obrigada por tentar me ajudar a desviar meus pensamentos, Luna — foi sincera, encolhendo os ombros. — Não sei se consigo por agora, mas obrigada por tentar mesmo assim. Sei também que você vai me falar que a culpa não é minha e que eu não posso fazer nada mais, mas mesmo assim, essa situação toda me incomoda, sabe? — jogou a cabeça para trás e bagunçou os cabelos, fechando os olhos. Respirou fundo algumas vezes antes de voltar a encarar os olhos da amiga.
De canto de olho, Luna viu alguém aparecer na porta, mas se esforçou para não reagir, ficando em silêncio ao prever o que estava prestes a acontecer.
— E eu também não aguento mais ter que fugir sempre que a gente esbarra com alguém do Enhy–
Duas mãos geladas encostaram com força nos ombros de .
— AAAAAH! — ela deu um pulo, assustada, fazendo Luna e o dono das mãos se jogarem no chão de tanto rir.
Era Jake, como deveria já ter suspeitado.
— Meu Deus, você viu a cara dela? — ele tentava falar enquanto rolava de rir, sendo acompanhado de Luna, que nem ao menos conseguia falar.
Nesse meio tempo, já tinha fechado a cara e passado a encarar os dois rindo sem parar, se segurando para não rir junto. Ela não podia acreditar que Jake aparecera naquele exato momento.
— Desculpe, , mas não pude perder a oportunidade — ele levantou os ombros assim que conseguiu respirar fundo. Luna se levantou ainda rindo.
— Eu deveria ter gravado a sua reação, foi maravilhosa.
Ver seus amigos rindo acabou contagiando-a, e acabou soltando uma risada leve pelo nariz. Desde a confusão, ela não teve nenhum momento de qualidade com seu melhor amigo e sentia falta daquilo.
— Então você está realmente fugindo de mim? — Jake puxou o assunto que temia, mas ela apenas deu de ombros. Ele já deveria ter escutado o que ela estava conversando com Luna pouco tempo antes.
— Não de você especificamente…
— Você nem respondeu às minhas mensagens de dias atrás! — reclamou apontando o dedo na direção da amiga, com uma expressão desacreditada. — Yah, eu achava que éramos melhores amigos!
— Eu só estava desconcertada demais para encarar qualquer um de vocês — tentou se defender enquanto remexia todo o corpo. Ela estava nervosa, mesmo que um sorriso leve permanecesse em seus lábios por estar na companhia do amigo.
Nem mesmo ela sabia porque não tinha respondido Jake desde o dia do incidente, apenas não conseguia. Seus sentimentos pareciam em uma constante montanha-russa, revezando entre vergonha e raiva, quando seus pensamentos iam de encontro ao outro ser envolvido no escândalo.
E, querendo ou não, o simples fato de Jake existir já fazia lembrar sobre Jay.
ia dormir pensando no escândalo e acordava pensando nele. Ela queria poder descansar a mente por pelo menos uma noite, mas sua preocupação e incerteza sobre tudo o que poderia acontecer a partir do estouro da fofoca a consumia por completo.
— Mas então, por que veio aqui? — a garota mudou o assunto encarando o amigo.
— Pelo visto só eu estava com saudades — fez uma voz de sofrência forçada enquanto se aproximava da amiga, abraçando-a de lado. — Eu e os garotos estamos ensaiando os últimos detalhes para a turnê no Japão, e agora é nosso momento de pausa.
— Ah, então é a nova música de vocês que ‘tá tocando pelo andar — ela assentiu enquanto refletia. — Eu gostei, achei a letra linda.
— Blossom, né? — Jake ergueu os ombros, convencido. — Nossas letras sempre são ótimas.
Querendo provocar o melhor amigo, pressionou os lábios e arqueou as sobrancelhas, entortando a cabeça para o lado, fingindo não concordar totalmente, mas Jake apenas riu da expressão da garota.
— Luna concorda comigo, né? Ela tem cara de quem tem bom gosto musical, diferente de você — mostrou a língua para a amiga.
Luna apenas mexeu a cabeça em um sim animado.
— Mas e vocês? Onde estão as outras? — Jake mudou de assunto, olhando confuso para os lados.
— Nós já terminamos o ensaio — voltou a falar. — Então Dohee foi correndo porque precisava gravar alguma OST, e Siara está conversando com os managers.
Antes que Jake pudesse perguntar se mais alguma coisa havia acontecido, Luna se pronunciou:
— Ela foi perguntar por que a Belift ainda não se pronunciou sobre a fofoca.
— Ah… — suspirou, observando as expressões mudarem no rosto de . Ele conseguia entender tamanho incômodo. — Sei que não serve de consolo, mas o Jungwon e o Jay tentaram conversar com a liderança ontem e não receberam nenhuma resposta.
— Eu acho que vou enlouquecer até o final dessa semana.
— Não desanime — Jake acariciou os ombros da amiga, fazendo uma massagem rápida. — Vai ficar tudo bem.
— O Jay ficou nervoso assim também? — Luna encarou o rapaz.
Jaeyun encarou o teto, pensativo. Suas mãos logo foram para sua cintura.
— No dia, ele ficou bem estressado — falou depois de alguns segundos. — Mas, agora ele está focado nos ensaios da turnê, então não tem muito tempo para se irritar com essa história.
— Deve ser bom ser um idol masculino — resmungou enquanto encarava seus tênis encardidos. Ela precisava lavá-los o mais rápido possível.
— Como assim?
— Ah, Jake, você sabe… — a garota deu uma embolada para falar, tentando pensar nas palavras mais corretas. — Quando um escândalo de namoro desses sai, não é em cima do cara que o público cai em cima.
Luna apenas concordou com a cabeça mais uma vez.
— Então o Jay pode sim ficar preocupado e tal, mas ele não vai ser esculachado na internet por isso — ergueu os ombros, pressionando os lábios em seguida. Jake mexeu a cabeça minimamente, como se compreendesse um pouco daquilo que a amiga dizia.
— Ainda não tinha parado para pensar por esse lado.
— Relaxa — ela deu um meio sorriso, revezando seu olhar entre o amigo e Luna, que não parava de encarar Jake. sorriu mais. — Só tentei explicar mais ou menos porque eu ‘tô mais nervosa com esse escândalo do que o Jay deve estar.
— O mínimo né, porque quem fez merda foi você.
Assim que aquela voz se fez presente, o sorriso de se desmanchou. Não podia ser. Ela tinha evitado todos os corredores possíveis da Hybe para que não tivesse que vê-lo.
Mas, mesmo com todas suas esquivas, quase ao mesmo tempo que a sua voz soou na sala, Jay atravessou a porta e a fechou atrás de si. E ele parecia furioso, como sempre.
— Vai começar — Luna murmurou, se afastando. Ela odiava estar no mesmo ambiente que Jay e .
— Olha, não é como se você tivesse feito algo muito diferente de mim — a garota manteve o mesmo tom de voz, cruzando os braços lentamente. O autocontrole de deixava Jay ainda mais irritado.
Bufou.
— Um ano de debut já e você ainda não aprendeu a respeitar os mais velhos? — Jay se aproximou com as mãos fechadas.
— Bro, relaxa — Jake entrou na frente de com as mãos estendidas, protegendo-a. Ele sabia que Jay não faria nada contra nenhuma garota, mas quando se tratava deles dois, todo cuidado era pouco.
— Vai me bater mesmo? — levantou a voz e avançou para frente, desafiando-o. Jake e Luna apenas pressionaram os lábios, mas ele não saiu da frente da amiga.
— Diferente de você, eu recebi muita educação em casa e aprendi que não se deve bater em mulher — apesar do maxilar de Jay já estar enrijecido, o rapaz tinha um sorriso ladino no rosto, e sua voz soava sarcástica.
Luna e Jake se entreolharam.
— O mínimo, né? — a garota imitou a forma que ele havia falado poucos minutos antes.
— Pode ficar tranquilo, Jake, ninguém aqui vai avançar em ninguém — ele ignorou o que dissera, olhando na direção do colega de grupo. Deu outro sorriso de lado, dessa vez desviando o olhar para a garota. — Acho que todos já estão bem grandinhos para não estapear os outros no rosto, não é mesmo, ?
Agora, quem tinha fechado os punhos era .
Na última vez que ela e Jay discutiram, em um pub durante o aniversário de Sunoo, a garota havia erguido a mão e bateu em seu rosto. Ela estava bêbada, então não se lembrava das coisas com clareza. Todas as suas “lembranças” daquela noite vieram do que Luna lhe contara.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu estava bêbada aquele dia? — sua voz soou em um mix de cansaço e raiva.
Além do mais, odiava quando a chamavam de . E Jay logicamente sabia e a chamava assim de propósito.
Ela só nunca soube o porquê.
— Como se isso fosse justificativa…
e Jay viviam em uma briga de cão e gato desde a primeira vez que se esbarraram, quando ela era trainee[6]. Desde então, sempre que se encontravam pelos corredores da empresa ou em comemorações mais privadas, eles se alfinetavam.
E, mesmo que a garota dissesse que apenas não se importava com as discussões contínuas, sabia que, no fundo, aquela guerra sem fim a cansava e ela já estava exausta daquilo.
Ela apenas nunca assumiria em voz alta, pois isso soaria como uma redenção na guerra.
E odiava perder tanto quanto Jay.
— Vocês nunca vão conseguir ficar em um mesmo lugar sem brigar por pelo menos dez minutos? — a voz de Jake saiu arrastada.
O australiano abaixou as mãos e encarou o amigo à sua frente, logo saindo de entre os dois. Revezou o olhar entre os amigos. Luna continuou em silêncio.
Na verdade, depois da súplica implícita de Jake para que eles parassem de discutir, os quatro permaneceram em silêncio, apenas trocando olhares.
A mente de já estava viajando de volta ao passado, quando ela e Jay se esbarraram em um corredor da Hybe pela primeira vez, e refletindo sobre as mesmas perguntas sem resposta. Por que Jay implicava tanto com ela? Qual a verdadeira razão por trás das alfinetadas? E por que a guerra entre eles parecia ser tão importante para ambos?
Em seguida, flashes de uma das vezes em que ela decidira desabafar com Luna sobre essa guerra instaurada entre ela e Jay vieram a tona em suas lembranças. Lembrou-se das garrafas de soju[7] sobre a mesa, as risadas e as lágrimas que derramou. Não se recordava do motivo das lágrimas terem participado daquela rodada de soju – e muito menos Luna –, mas sabia que elas estiveram presentes em algum ápice daquela conversa.
Perguntas e mais perguntas iam se formando em sua mente, todas sobre a mesma pessoa:
Jay.
? — uma voz longínqua pareceu despertá-la de seu tormento. Era Siara deixando a porta aberta atrás de si. — Você pode vir comigo?
A voz da mulher soava doce, como se ela sentisse receio de falar mais alto. Não que a voz de Siara já não fosse delicada por natureza, mas aquele tom não era habitual. estranhou na mesma hora.
Mas, antes de conseguir perguntar qualquer coisa, outra pessoa entrou na sala. Um alguém de cabeça baixa, expressão de derrota e um desânimo nítido em sua linguagem corporal.
Era Jungwon.
Ele encarou todas as pessoas na sala com os olhos cansados. Seu olhar viajou de Jake para Luna, depois para , Siara, até chegar em Jay.
Engoliu em seco, mas trocou olhares com Siara antes da mais velha falar:
— Eles querem falar com vocês sobre o escândalo de namoro.

🎤📝❤️‍🔥


achava que já estava em seu pico de nervosismo, mas, naquele momento, ela jurava que todos à sua volta poderiam escutar o seu coração batendo forte e descompassado em seu peito.
O clima estava nebuloso. Não tinha como ele estar leve de forma alguma. Estavam ela, Jay, Jungwon e Siara caminhando em completo silêncio pelos corredores da Hybe há cerca de dez minutos, entrando e saindo de elevadores e cruzando corredores para chegar na torre principal, onde ficava a sala do diretor Bang.
nunca precisou ir até a sala do diretor muitas vezes. Na verdade, ela se recordava de apenas dois momentos nos quais ela precisou se dirigir até aquela sala: no dia do contrato de debut e quando ela foi chamada para conversar sobre a possibilidade de ela começar a atuar em algum momento futuro.
— Irei avisar ao senhor diretor sobre a chegada de vocês, só um momento — a secretária se curvou antes de sair e ir em direção a sala do chefe.
O diretor Bang era um senhor sério, coisa que era esperada visto toda a decoração do corredor do andar de sua sala e o interior de seu escritório. Todos os móveis, cores de parede e chão revezavam entre tons acinzentados e preto.
Jay imediatamente seguiu na direção de uma das poltronas que ficavam na recepção e se sentou, mexendo no celular despreocupadamente. Jungwon permaneceu em pé, próximo das meninas, mas quieto, encarando o chão.
Siara se virou para a amiga, pegando em seus dois ombros e apertando com força.
, eu sei que você está nervosa, mas olha para mim e presta muita atenção — sua voz era mais séria e rígida, mesmo que em um volume reduzido. A garota apenas concordou com os olhos arregalados, sentindo a garganta ficar cada vez mais seca. — Você e Jay vão precisar entrar naquela sala sozinhos, eu e Won ficaremos aqui fora esperando por vocês.
— O que? — interrompeu-a, chamando a atenção do garoto ao lado. — Por quê?
— O diretor Bang disse que precisava conversar com vocês dois a sós, então nem eu, nem Jungwon estaremos lá para amenizar as discussões entre você e Jay.
— Mas–
— Ou seja, — Siara falou por cima de , sem dar a chance dela reclamar de algo. — Eu peço para você, por favor, não ceder a nenhuma indireta ou provocação que ele possa fazer durante a conversa naquela sala. Apenas fique quieta e concorde com o que o diretor disse, ‘tá me entendendo?
Ela assentiu devagar.
— Eu conheço muito bem o seu senso de justiça, e sei que você sabe defender a sua imagem quando é necessário — continuou ainda olhando fixamente nos olhos da mais nova. — Porém, dessa vez, eu realmente preciso que você apenas responda positivamente para qualquer pergunta e proposta do diretor. Considere que a sua vida de idol está em jogo agora.
piscou algumas vezes, atordoada. Ela sabia que a situação estava ruim, lógico. O diretor Bang não chamaria ela e Jay para irem conversar na sala dele por qualquer coisa. A garota pensava já ter imaginado todos os cenários possíveis para o que poderia acontecer após o escândalo de namoro. Suas teorias mais fortes, no entanto, eram apenas duas:
Ou ela e Jay escutariam uma bela bronca do diretor Bang, ou a Hybe decidiria colocar em hiatus até que a fofoca fosse abafada com o tempo.
Contudo, quando ela percebeu que tinha sido chamada para ir junto do rapaz, por mais irônico que soasse, ficou aliviada. Durante aquela fração de tempo, acreditou que, como eles estavam indo juntos, a segunda opção não estaria mais em discussão.
E, com os avisos de Siara, ela sentiu que qualquer coisa poderia acontecer assim que ela pisasse dentro daquela sala.
— Vai ficar tudo bem, — a voz de Jungwon chamou sua atenção, e o pequeno sorriso nos lábios do garoto transmitiram paz, mesmo que momentânea.
Sorriu de volta.
— Jay? ? — a secretária apareceu outra vez, carregando uma pasta entre os braços e sorrindo abertamente. Jay parou de prestar atenção em seu celular. — Sigam-me, por favor.
A ânsia no estômago de pareceu se intensificar a cada passo que ela dava na direção da sala do diretor Bang. Sua garganta estava seca e ela podia jurar que toda sua nuca estaria encharcada de suor. Já Jay, que mantinha uma distância de pelo menos dois pés de , apenas caminhava com as mãos ao lado do corpo, com a mesma expressão de tédio.
Esse cara não fica ansioso?, se perguntou enquanto observava a fisionomia do rapaz pelo canto do olho.
A secretária parou do lado da porta, batendo três vezes na madeira e logo em seguida escutando um “entre” de dentro do escritório. A mulher, que deveria estar na casa dos 30 anos, se virou para ambos com um sorriso mediano.
— Podem entrar.
dirigiu seu olhar para Jay em um pedido de socorro. Ele a encarou brevemente antes de revirar os olhos e jogar o tronco de leve para frente, rodeando o corpo da garota com o braço e esticando a mão até a maçaneta. Jay virou a manivela e abriu a porta devagar, girando a cabeça para encarar a garota e deixando seus rostos próximos.
— Damas primeiro — disse baixo com a voz cheia de sarcasmo.
Ele sabia que estava extremamente nervosa, e não podia perder a oportunidade de provocá-la e deixá-la ainda mais desconfortável com a situação. Não que ele estivesse ileso à ansiedade de estar ali, mas nada que pudesse comparar à aflição nítida da garota.
A garota pressionou os lábios e fechou os olhos com força, imaginando que o diretor Bang poderia ter assistido toda aquela cena e imaginado o pior: que o escândalo era verdadeiro.
Ela olhou para frente, respirando fundo antes de começar a andar para o interior da sala com o peito estufado, tentando transmitir confiança. Jay a seguiu em silêncio, escutando a porta ser fechada pela secretaria do lado de fora da sala.
O diretor Bang, que outrora parecia concentrado em uma papelada em suas mãos, levantou o olhar assim que escutou o bater da porta. Sua expressão era séria.
— Park Jay, , — encarou cada um enquanto dizia seus nomes. — sentem-se.
Ambos obedeceram conforme foi-lhes aconselhado por seus líderes de grupo. sentia o coração batendo cada vez mais forte contra o peito, e agradeceu mentalmente quando sentou-se, pois acreditava que poderia desmaiar a qualquer momento.
O mais velho soltou um suspiro antes de começar seu discurso:
— Vocês fizeram uma bela bagunça, não? — a sentença parecia leve, mas o tom de voz que o diretor Bang usava era baixo e assustadoramente calmo.
— Perdão por isso, diretor — Jay se pronunciou, cruzando as mãos sobre o colo e girando os dedos em nervosismo. apenas concordou com a cabeça.
Outro suspiro.
— O erro que vocês cometeram é clássico de novatos — o senhor descansou as costas no encosto da cadeira. — Eu até poderia esperar isso de , pois ela debutou há menos de um ano. Mas você, Jay, é inadmissível falhar dessa forma com quase três anos de indústria.
— Me perdoe, senhor diretor — o rapaz se curvou, quase encostando a cabeça na mesa. Seus lábios estavam pressionados e sua testa começava a suar frio.
apenas acompanhou seu movimento de forma mais leve, observando a feição de Jay endurecer cada vez mais.
— Eu deveria continuar brigando com vocês, mas acredito que essa chamada de atenção já foi o bastante — o diretor continuou, mas nenhum dos idols reagiu. Ele deu mais um suspiro antes de continuar. — O nome de ambos ficou em alta desde o escândalo, vocês viram?
Concordaram com um aceno.
— Vocês chegaram a ter curiosidade de ver o que estavam falando sobre vocês?
Jay e se entreolharam, confusos. Óbvio que eles tinham ficado curiosos, mas se respondessem aquilo, poderia soar como se eles tivessem realmente ficado no Twitter apenas lendo o que o público estava comentando.
— Não cheguei a ler os comentários, senhor… — respondeu com a voz um pouco mais baixa do que o desejado, e a garota se martirizou por aquilo.
O diretor concordou com a cabeça antes de se levantar e ir até a televisão pendurada em uma das paredes. Ele mexeu com o controle até abrir em uma seleção de slides. sentiu o nervoso correndo por toda a extremidade de seu corpo.
Em silêncio, o diretor foi passando slide por slide, mostrando alguns prints de tweets com muitas curtidas. Todos falando sobre Jay e .
Porém, algo estava estranho.
Todos pareciam estar… Apoiando. Apoiando Jay e .
E não apoiando-os individualmente, como idols.
Mas como casal.
Casal.
Jay e .
— Como puderam ver, vários fãs gostaram da notícia — o diretor Bang desligou a televisão, voltando para seu lugar. — Foram muitas postagens apoiando o suposto namoro de vocês dois, e esse assunto está em alta até agora.
Os dois estavam de boca aberta. Jay piscava repetidas vezes, encarando o diretor com uma expressão confusa. E não estava muito diferente.
— Tudo já foi conversado com ambos os managers e com toda as equipes de Marketing e Planejamento, tanto do Enhypen quanto do ION — o mais velho continuou, tossindo rapidamente antes de parar com os dedos cruzados sobre a mesa, revezando o olhar entre e Jay.
Um último suspiro.
O diretor descruzou os dedos, pegando a papelada que anteriormente estava em suas mãos, e estendeu uma folha na frente de Jay e outra na frente de .
A garota desceu o olhar para ler o que dizia no papel.
Contrato de Sigilo e Compromisso - Park Jay e
— Durante os próximos 5 meses, no mínimo, vocês, Jay e , precisarão manter um namoro público.
[5]música que não é a título de algum álbum;
[6]idol em treinamento antes de estrear;
[7]bebida tradicional coreana com alto teor alcoólico;




continua...




Nota da autora: Espero que você tenha amado esse capítulo tanto quanto eu. Para saber mais do meu mundinho de fics, me siga no insta!
.xo

Barra de Progresso de Leitura
0%



Se você encontrou algum erro de codificação, entre em contato por aqui.