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Revisada por: Hydra

Última Atualização: 12.05.2025
É um longo caminho
Quando você está perdido, mas não quebrado
É um longo caminho do fundo até o topo
“Almost Forgot”
Mest


Velaryon desfrutava o décimo nono dia de seu nome na estrada com alguns poucos guardas para protegê-la. Retornava para casa depois de uma quinzena com os Blackwood no Solar de Corvarbor. O melhor seria ter ido e voltado de barco, mas cavalgar em Bonita, sua amada égua, com um pequeno grupo chamava menos atenção, afinal, ela poderia ser tomada por uma qualquer. Seu padrasto Daemon a incumbira de parar em algumas casas para aumentar a proximidade e fortalecer os laços entre os Pretos e eles. Dissera à garota que seria bom se precave, pois, ainda que sua mãe acreditasse haver um jeito de ela suceder ao Trono de Ferro em paz, uma guerra iria acontecer. Então cumpriu seu dever, como a boa princesa que era.
Primeira filha de Rhaenyra Targaryen e Laenor Velaryon, os Verdes a chamavam de bastarda, alegando que o verdadeiro pai da garota era Sor Harwin Strong. E talvez fosse, afinal, era isso que seus cabelos castanhos e seus olhos escuros indicavam. Porém isso não fazia diferença alguma para ela. Era oficialmente da Casa Velaryon, e isso bastava. Como seu avô Lorde Corlys costumava reforçar: o nome era tudo o que importava.
jamais dera muita atenção ao que os outros pensavam. Sempre fora uma boa lady, sim, mas também uma menininha selvagem que gostava de lutar com espadas e amava, mais do que tudo, usar arco e flecha. Aprendera tudo isso quando se mudaram para Pedra do Dragão, onde não havia os olhos julgadores da corte real sobre ela e, é claro, havia o apoio do príncipe Daemon Targaryen.
E justamente por ter aprendido a se defender — ao menos um pouco —, fazia viagens com poucos guardas e montada em sua égua caramelo. Chegar aos castelos daquele jeito não causava a melhor das impressões a um possível pretendente à sua mão, mas ela era uma princesa da coroa, a filha da Princesa de Pedra do Dragão, então eles tinham de aceitá-la sob seus tetos. Com os Blackwood, contudo, fora diferente. Eles gostaram de vê-la vestida com roupa de montaria na chegada e, em seguida, sendo a perfeita lady que se esperava que fosse. E fora assim que a garota conseguira um acordo de casamento. Porém o garoto era um pouco jovem demais e, assim, teriam de esperar dois anos antes de realizarem a união.
E agora a princesa estava finalmente perto de casa. No entanto, muito mais perto de Porto Real do que de sua verdadeira morada. Olhou para cima e acompanhou um dragão que sobrevoava os arredores. Vhagar, com certeza. Era grande demais para ser qualquer outro. No início, não ligaram, mas então a dragão se aproximou com um movimento que se assemelhava a uma investida. gritou para seus companheiros correrem, e foi o que eles fizeram. Ela disparou na frente, então não assistiu enquanto os outros queimavam. Mas jamais se esqueceria dos seus gritos estarrecedores que invadiram os seus ouvidos.
— Maldito Aemond! — praguejou ao conseguir entrar no bosque.
Sabia que não teria muita chance se o príncipe descesse do dragão e viesse atrás dela, porém, se tivesse sorte, ele só sobrevoaria o local e iria embora. Mas aquele era Aemond Targaryen, afinal de contas; nunca desistiria de capturar a princesa. Ele pousou com Vhagar fora do bosque e foi atrás da garota, de espada em punho. Quando ela o viu chegando, desceu da égua e bateu no traseiro do animal para que galopasse para longe e se salvasse. Poderia ter ido com ela, mas assim que ficasse a céu aberto, Aemond a encontraria com Vhagar e o fogo de dragão lhe lamberia a pele. E a princesa não desejava morrer pelo fogo. Portanto, desembainhou sua espada também.
Aemond a observou com atenção, já que não se viam desde a fatídica noite em que Lucerys arrancara o seu olho em Derivamarca. Uma pobre criatura solitária, pensou. Seus guardas, seus cavalos, todos haviam se ido. Ainda assim, a garota permanecia ali, empertigada e de queixo erguido para enfrentá-lo… como se tivesse alguma chance. Ele quase sorriu.
— Está sozinha aqui, princesa. — Sua afirmação soou como um questionamento.
— Queria eu estar! — resmungou ela. — Mas parece que você vai me forçar a desfrutar de sua companhia, não permitindo que eu fique verdadeiramente sozinha.
Aquilo arrancou uma risada dele. Impressionara-se em como crescera para se tornar uma garota de vontade implacável mesmo em uma batalha perdida como essa. Ainda assim, permanecia o enfrentando com uma atitude feroz. Como um verdadeiro dragão, pensou consigo mesmo, ainda que seja uma bastardinha.
— Acha mesmo que é capaz de me derrotar? — Deu passos lentos em direção a ela.
— Claro que não. — revirou os olhos de maneira petulante. — Mas não é como se eu tivesse outra escolha a não ser lutar.
— Ah, mas que honra — foi sarcástico. — Você tem outra escolha, sabia? Sempre pode se submeter.
— Jamais — rosnou entredentes. — Pensei que nós, Pretos e Verdes, ainda estivéssemos vivendo em nossa paz fingida. Mas parece que os corvos não me alcançaram na estrada com as novas notícias. — Observou, atenta, Aemond parar perto dela. — Seu ataque só pode significar uma coisa: vocês deram um golpe para colocar Aegon no Trono de Ferro. Roubaram o trono da minha mãe.
— Você é esperta. — Aemond estreitou o olho como que para ver melhor, tentando entender o modo como ela agia. Ele nunca pensou que tal coisa fosse possível. Esperava medo ou até lágrimas, mas essa garota era… excêntrica. — Você nos culpa e outros culparão sua mãe, que não aceitou a norma do filho homem mais velho suceder ao trono, sua arrogância selando o destino dela e o seu.
— Cale a boca, seu garotinho estúpido! — Ela o golpeou com a espada, mas ele usou sua própria para aparar o golpe. — A maldita da sua mãe tinha planos para isso por anos, até mesmo antes mesmo de você nascer. Sete infernos, aposto que Sor Criston Cole, aquele filho de uma puta, teve um grande papel nesse golpe. — Bufou. Ela ainda era assombrada pelo modo como Sor Criston tratara seus irmãos Jace e Luke no pátio de treino quando eram mais novos, priorizando os príncipes Aegon e Aemond, que tinham os cabelos prateados dos Targaryen. — Tanto faz! Saiba que você não vai me levar sem uma luta.
— Uma luta, você disse? — Riu, zombando. — Eu dificilmente chamaria assim.
— Eu cairei, sei disso, mas você terá que me fazer cair, porque não me jogarei no chão por vontade própria. Jamais dobrarei meus joelhos para vocês. — Cuspiu as palavras. — Sabe de uma coisa, meu príncipe? Você fala demais. Termine isso de uma vez por todas.
Atacou de novo, fazendo Aemond se defender mais uma vez. Ele riu outra vez, não conseguindo evitar. A garota era uma coisinha atrevida que, de fato, tinha um espírito desafiador. Ele não podia negar.
— Você pediu por isso — disse antes de, enfim, dispor-se a lutar.
A luta não durou muito. Logo depois de começar, ele já agarrava a trança da princesa e a forçava contra o chão, colocando o joelho sobre suas costas.
— Está feliz agora? — provocou, mesmo com a cara na terra.
— Não exatamente — respondeu em tom arrogante, inclinando-se para perto.
— E então, o que vai fazer? — perguntou ela. — Me matar ou me levar como refém?
— É um tanto tentador esperar um pouquinho antes de te entregar para o meu irmão. — Ele aumentou o aperto em sua trança. Sua voz escarnecedora assombraria os sonhos de por um bom tempo. — Mas estará segura sob meus cuidados.
— Segura — debochou ela. — Presumo que esteja pensando em me arrastar pelos cabelos até Porto Real. Estou certa?
A princesa não estava em uma situação boa para fazer zombarias, ainda assim, não conseguia evitar. Aemond deixou uma risadinha escapar.
— Por que, nos sete infernos, eu precisaria arrastar você pelos cabelos, princesa? — Ele a levantou, ainda com os cabelos castanhos da garota apertados sob seus dedos.
— Ora, para se certificar de que eu não vou fazer nada estúpido, tipo fugir para longe antes de chegarmos até Vhagar.
— É uma princesinha muito esperta — comentou ao arrastá-la com ele pelo caminho, uma mão presa em seus cabelos, a outra agarrando seu braço.
— Um dia, quando você menos esperar, eu irei te matar, caro tio — decidiu-se. — Guarde minhas palavras.
— Ah, é? — Aemond riu do rompante de ousadia. — Gostaria de ver você tentar, princesa.
— E verá — prometeu baixinho quando pararam perto de Vhagar. olhou para a criatura gigantesca com desconfiança. — Ela não vai me queimar ou me jogar no chão? — perguntou ao príncipe. — Apesar de toda essa porcaria, eu valorizo muito a minha vida.
— Vhagar não fará nada disso. Ela me escuta, afinal. — Ele estufou o peito, levando a princesa para ainda mais perto do animal, que se agitou um pouco com a presença estranha. — Lykiri, Vhagar — usou a palavra alto valiriana para mandar que ela se acalmasse. Então pegou a mão de e fez a garota tocá-la, senti-la, e repetiu: — Lykiri. — Desta vez, seu tom fora mais suave, e Vhagar começou a ceder. — Viu, princesa? Não há nada a temer.
Com um sorrisinho indecifrável, envolveu a cintura da garota e a colocou em cima do dragão.
— Nada além de você, é claro — comentou quando ele se juntou a ela.
Aemond falou para Vhagar voar e foi o que ela fez. Correu, bateu suas enormes e antigas asas e alçou voo. Era a primeira vez que subia em um dragão. Apesar de ter o sangue quente dos Targaryen, jamais tivera coragem de clamar um dragão para si mesma. Olhou para as terras abaixo, um nó se formando em seu estômago. Ela quis rir. Tinha medo de cair, de morrer. Seu destino era se tornar uma refém, ficar presa para sempre sob os olhos dos Verdes em Porto Real. Ainda assim, não pensava em pular e acabar com tudo. Apenas desejava que o voo acabasse e ela ficasse segura.
Detestava altura tanto quanto detestava os Verdes.
— Não se preocupe, princesa — Aemond sussurrou em seu ouvido. — Não vou te derrubar.
— Talvez eu queira que você me derrube — retorquiu ela.
— Não é bom ser suicida agora, . — Divertiu-se com aquilo e, como sabia de seu medo, completou com: — Ainda mais na altura em que estamos.
— Bem… — hesitou, fechando os olhos para não olhar ao redor. — Como eu disse antes: valorizo muito a minha vida.
— Bom — disse ele, deixando um sonoro “hmm” escapar logo depois. — Não gostaria que você pulasse e acabasse como nada além de uma mancha no chão.
— Não? — Abriu bem os olhos, surpresa. — Pensei que esse fosse o seu sonho.
— Não, princesa — respondeu à zombaria com seriedade. — Eu prefiro ter você viva e sob o meu controle.
E ali estava, a lembrança clara do que Targaryen era para o príncipe Aemond: um espólio de guerra. Quando pousaram, desceram de cima do dragão e cavalgam para Porto Real, ambos no mesmo cavalo. A princesa ponderava em silêncio se talvez não deveria mesmo ter pulado. Decidiu que não, que não poderia. Prometera a si mesma e ao príncipe que um dia tiraria a vida dele. Tinha que se manter viva se de fato quisesse tentar a proeza.
Ao finalmente chegarem na Fortaleza Vermelha, Aemond empurrou-a pelos corredores como se ela fosse apenas mais uma prisioneira qualquer. Ao entrarem na Sala do Trono, o aperto do príncipe no braço da garota ficou ainda mais forte. ergueu os olhos do chão e a primeira pessoa que viu foi Criston Cole, que usava sua armadura branca, limpa e polida como sempre. O homem tinha as mãos cruzadas atrás das costas e um olhar frio e impassível no rosto, que suavizou-se assim que virou-se para encarar a cena pomposa. Ele levantou as sobrancelhas, reconhecendo-a de imediato: a filha da princesa Rhaenyra, a garota Strong.
Mas não era mais uma menina. Ela conseguia expor sua beleza mesmo em uma roupa de montaria completamente desalinhada e suja do confronto anterior. A trança bagunçada em sua cabeça trazia um charme a mais. Era agora uma mulher-feita.
A princesa olhou ao redor. Havia pouca gente no recinto, talvez por um milagre dos deuses. De qualquer modo, a fúria da princesa aumentou com a presença de Criston e, ainda mais, por ver Aegon Targaryen sentado no Trono de Ferro, um trono que agora deveria pertencer à mãe dela. Era isso que o seu avô desejava. Mas Daemon estava certo, afinal de contas, uma guerra viria.
— Conseguimos uma refém valiosa — declarou Aemond, orgulhoso de seu feito. Ele arrastava a princesa com ele através da sala enquanto ela se debatia para tentar se soltar. — Encontrei a garota selvagem no bosque, que é quase tão selvagem quanto ela.
— Princesa — Aegon soou surpreso, o que arrancou uma risadinha de escárnio dela.
Uma expressão estranha perpassou seu rosto e ele não soube como proceder. A Mão do Rei estava resolvendo outros assuntos, então os olhos perdidos do rei buscaram o Senhor Comandante da Guarda Real, que tomou a frente do assunto.
— Uma refém valiosa, de fato — concordou Sor Criston, a voz fria e firme. Seus olhos vagaram para a princesa altiva e ele acrescentou: — Observe-a de perto.
— Sor Criston — cumprimentou-o e então cuspiu no chão.
Aegon arregalou os olhos com a ousadia de sua sobrinha. Criston, por outro lado, franziu o cenho, deixando toda a sua antipatia pela garota transparecer em seu rosto bonito.
— Deveria mostrar respeito, princesa — disse ele. — Ainda mais que é uma refém aqui, não uma convidada.
— Assim como você, então, Senhor Comandante — zombou ela. — Sempre um manto branco, nunca fazendo qualquer coisa além disso.
— Cuidado com a língua. — Seus olhos escureceram em um claro alerta. — Não fale de coisas das quais você não tem o mínimo conhecimento.
— E o que vai fazer se eu não tomar cuidado? — o desafiou, sabendo que não poderiam a ferir, ao menos não muito, porque ainda era uma princesa, e isso sempre seria uma vantagem naquele joguinho político. — Vai cortar a minha língua?
— Temo que não chegaremos a isso. — Ele deu um passo na direção dela, sua mão descansando no punho da espada, uma sutil ameaça. — Seria sensato se lembrar do seu lugar aqui.
— Certo, eu mantenho minha língua. E então o quê? — enfureceu-se, fazendo com que o rosto do cavaleiro se contraísse, irritando-se com a arrogância da garota. — Vão me levar para as masmorras?
— Não, princesa — disse entredentes. — Será mantida em aposentos só seus por causa de quem você é, mas não confunda isso com liberdade. Você ainda é uma refém, e cada movimento seu será vigiado.
— Por você, eu presumo — suspirou teatralmente, como se aquela fosse a pior coisa que poderia acontecer na vida dela. Talvez seja a pior coisa, pensou ela, ou talvez eu possa me aproveitar disso.
— Sim, por mim — assentiu ele, seu olhar inabalável. — Eu guardarei sua porta, princesa. Então nem pense em tentar nada tolo. — Deu mais um passo para perto, de olhos fixos nela. — É uma refém valiosa, e garantirei que continue desse jeito.
— Então está decidido — declarou Aegon, como se tivesse tomado qualquer parte no assunto.
Aemond resmungou um “hmm” antes de soltar a garota, empurrando-a com força para fazê-la estatelar-se no chão da Sala do Trono. Um ato de clara humilhação. Criston cerrou o maxilar, mas não disse nada. Tinha algo na garota que o tirava do sério, ainda assim, não era certo tratá-la daquele jeito. No entanto, não podia disciplinar o príncipe ali, na frente dos outros. Além do mais, não era como se Aemond fosse deixar de fazer o que o deliciava por causa das palavras de Sor Criston Cole.
— Está decidido — ecoou as palavras do novo rei, voltando-se para ele. — A princesa será mantida em seus aposentos e eu guardarei a porta. Ninguém entrará ou sairá sem a minha autorização.
Aegon assentiu, novamente sem saber muito bem o que dizer. Era novo nisso e jamais desejara a posição. Agora tentaria dar o seu melhor, mesmo que não fosse grande coisa. Mas Velaryon ainda não havia acabado a sua pantomima. Podia estar no chão, esfarrapada e humilhada, mas nunca manteria sua cabeça baixa. E Sor Criston era o escolhido da vez. Ela virou o rosto para ele, encarando-o lá de baixo.
— E agora começa a sua vigia — debochou, fazendo alusão aos votos da Patrulha da Noite.
— E não terminará até a minha morte, né? — Seus lábios se curvaram em um sorriso de escárnio. — Muito engraçado, princesa — retrucou, sua voz pingando sarcasmo. — Deveria guardar suas forças para tentar escapar em vez de fazer piadas. — Olhou, então, para os guardas que estavam perto e ordenou com rispidez: — Levem-na para seus novos aposentos. Logo a seguirei.
Os guardas a levantaram do chão em movimentos não tão zelosos assim, mas ela nem percebeu. Ainda permanecia focada em Sor Criston.
— Você é mais traidor do que todos eles, Senhor Comandante — gritou. — Está servindo no lado errado da história.
Os olhos do cavaleiro nublaram-se como o céu antes de uma dura tempestade. Ainda que fosse verdade, a acusação doía.
— Cuidado, princesa — alertou em um tom baixo e perigoso. — Você não sabe nada do que me levou a esse caminho.
Ele pensou em Rhaenyra, a mãe da garota. O adeus deles. Ele revelando seu segredo à então rainha dos Sete Reinos, implorando por uma execução rápida que nunca viera. Os guardas puxaram através da sala, mas o olhar de Criston se manteve sobre a garota, seus nervos tensos e sua mente conflituosa.
Quando estavam quase na saída, a rainha-viúva entrou.
— Princesa !? — Alicent olhou bem para ela, em choque não apenas por ela estar ali sem a rainha-viúva saber, mas também por seu estado. Ela ergueu os olhos para além da princesa. — Posso saber o que está acontecendo aqui?
— Capturamos Velaryon, Vossa Graça. — Criston foi se aproximando delas e dos guardas, sua voz firme e formal. — A princesa será mantida em aposentos próprios como o seu título pede. Eu guardarei sua porta e, nos momentos em que eu não puder ocupar o posto, meus cavaleiros o farão.
— Chame pelo que é, Senhor Comandante — reclamou . — Eu sou uma porra de uma refém.
— Tenha modos, criança — disse a rainha-viúva, antes de voltar-se para Criston Cole: — Deve mantê-la aqui, sim, mas também deve mantê-la segura. Ela é uma princesa, afinal de contas. Jamais se esqueça disso.
— Garantirei a segurança dela, Vossa Graça — assentiu ele. — Tratarei ela com o respeito que seu status de princesa exige, mas ela precisa entender que é uma refém e, por isso, não é livre para sair quando quiser.
Alicent assentiu e seguiu seu caminho.
— Deuses! — resmungou . — Não vão me deixar nem andar pelo castelo?
— Não, princesa. Não terá liberdade de andar pelo castelo. — Balançou a cabeça firmemente. — Ficará confinada em seus aposentos e, caso se comporte bem, pode vir a ter permissão para ir ao Bosque Sagrado, ao septo para fazer suas orações e talvez até para se exercitar do lado de fora. Mas tudo isso sob forte supervisão. — Olhou bem para a garota, anos mais nova que ele. — É para a sua própria proteção, assim como para a segurança dos outros.
— Minha proteção. — Ela forçou uma risada. — É claro.
— Sim, princesa, sua proteção — respondeu de maneira severa. A princesa o irritava com sua teimosia. Era obstinada de um jeito que mexia com algo dentro dele. — É uma refém valiosa e, por isso, será protegida de perto o tempo todo, quer goste ou não.
— E então a minha vigia começa — fez troça. — E não terminará até a minha morte.
— Poupe-me, princesa . — Franziu a testa, cansado das brincadeirinhas afrontosas dela. — Seu sarcasmo não vai mudar nada. Continuará sendo tratada como uma refém.
— Eu mal posso esperar para passar o resto da minha vida com você por perto. — Revirou os olhos de modo teatral. Criston cerrou o maxilar em resposta. O jeito que a garota era sarcástica o tempo todo aborrecia-o mais do que deveria.
— Confie em mim, princesa, o sentimento é mútuo — grunhiu. — Também não tenho o mínimo desejo de passar meus dias sendo sua babá.
— Parece que estamos no mesmo barco, então, Senhor Comandante. Nenhum de nós teve escolha. — A garota suspirou e olhou para os guardas. — Vão me mostrar o caminho ou terei de esperar para sempre?
Os guardas trocaram olhares, incertos sobre como lidar com o tom exigente da garota que era uma princesa, sim, mas também uma refém. Um deles deu um passo à frente.
— Sim, princesa. — Ele gesticulou para que ela os acompanhasse e, assim, não precisassem arrastá-la a contragosto pelos corredores. — Vamos levá-la aos seus novos aposentos.
olhou para Sor Criston e sorriu, vitoriosa por ter mostrado àquele maldito Senhor Comandante que ela tinha poder sobre os empregados da realeza mesmo sendo uma refém. Era um tipo de poder que ele jamais teria. Ela seguiu os guardas como uma boa refém deveria fazer. Sor Criston logo se juntará a mim, pensou, resignada, sem saber se aquilo poderia ser bom de algum jeito ou não.
Criston observou enquanto ela se afastava com os guardas, a expressão presunçosa em seu rosto era uma lâmina cortando o ar. Soltou um grunhido baixo que era quase uma risada escarnecedora. Maldita seja, princesinha, pensou, um tanto exasperado. A garota se considerava intocável, uma princesa com poder sobre todos, até mesmo sobre seus captores — o que incluía ele. Mas Criston sabia bem que esse poder era uma ilusão, especialmente na situação dela. De qualquer modo, teria que aguentar sua arrogância e sua atitude por um longo tempo.
— Tsk — murmurou baixinho, quase rindo ao se recordar dos trocadilhos da princesa com os votos da Patrulha da Noite. — Esta vai ser uma longa vigia.



Minhas duas mãos estão atadas
E sou empurrado para o fundo do poço
Eu escuto você falar, mas falar é fácil
“No It Isn’t”
+44

Quando o sol dava o seu adeus mais uma vez, Sor Criston Cole enfim seguiu seu caminho para enfrentar o maior desafio do dia: a princesa Velaryon. Por que tão teimosa e impertinente?, refletiu ele, sacudindo a cabeça. O cavaleiro dispensou os guardas que haviam permanecido na porta dos aposentos desde que a trouxeram. As noites seriam suas; era o momento mais provável de a garota tentar uma fuga. Outro de seus homens ocuparia o posto pela manhã enquanto ele descansava, e à tarde, quando ele resolvia seja lá o que precisasse ser resolvido no dia. Sua nova rotina, graças a uma princesinha petulante de cabelos negros, brilhantes olhos escuros e uma língua afiada demais, seria essa. Respirou devagar, inquieto, então bateu na porta antes de tomar seu posto.
— Não está trancada — a voz dela veio abafada através da grossa e pesada porta de carvalho. — A única coisa trancada aqui sou eu.
Aquele comentário o fez revirar os olhos, e ele quase riu. Quase. Conseguiu se conter antes de abrir a porta com sua melhor expressão estoica. Assim que entrou, fechou-a; não daria chance para a princesa fugir dele tão fácil assim. A garota se ocupava em acender as candeias para iluminar o ambiente, então nem sequer despendeu tempo para encarar o cavaleiro. Criston observou os aposentos para ver se encontrava algum objeto que poderia ser usado como arma, mas não havia muita coisa.
— Estamos sozinhos agora. — Ele olhou para a princesa. — Precisa de alguma coisa?
— É como um casamento, né? — Riu, ignorando a pergunta, enquanto brincava com o fogo de uma vela. — Eu e você, entrelaçados, presos juntos, jamais autorizados a estar com outra pessoa.
Ela balançou a cabeça e soltou um suspiro, ainda sem olhar para o homem próximo à porta. Criston manteve sua expressão, sem mostrar nenhum sinal de diversão com aquele comentário debochado.
— Não é como um casamento, princesa. Você é uma refém, e eu sou seu carcereiro. Não estamos “entrelaçados”. Só estou cumprindo o meu dever, protegendo você e garantindo que não tente nada tolo nem contra si mesma nem contra os outros. — Encostou-se na porta, mantendo distância. — E eu tenho permissão para ficar com quem eu escolher.
Ela riu ao ouvir a irritação presente na voz do cavaleiro.
— Não, você não tem — lembrou-lhe. — É um manto branco, Senhor Comandante. Você proferiu seus votos.
Ela finalmente parou de brincar com o fogo e olhou para Sor Criston Cole. Era a primeira vez que fazia isso desde que ele entrara nos aposentos. Deuses, por vezes me esqueço do quanto ele é bonito, pensou. Tentou deixar aqueles pensamentos de lado para focar no assunto do momento. Ela duvidava muito que ele mantivesse seus votos. Ao menos não o de celibato. Além do mais, já ouvira rumores… e um deles envolvia a própria mãe dela, a princesa Rhaenyra — rainha agora, já que o rei Viserys falecera… a rainha por direito.
— Meus votos são apenas da minha conta, princesa — foi ríspido, seu olhar de aço quase a cortando em pedacinhos. — Não os proferi para você jogá-los na minha cara.
Seu maxilar apertou-se, a irritação crescendo, e não pôde evitar sorrir. Ver aquele sorriso vitorioso apenas piorou as coisas para Criston, que era invadido por uma sensação estranha pelo fato de uma jovem como ela mexer tanto com ele.
— Sim, Sor Criston, eu preciso de algumas coisas — enfim respondeu à pergunta inicial, sua voz suave como as sedas que deveria estar usando no lugar daquela roupa de montaria. — Um banho quente seria uma boa coisa. A menos que você queira continuar me vendo suja desse jeito.
A irritação diminuiu com a mudança de tom dela. A garota tinha o poder de causar esses diferentes efeitos nas pessoas, e Criston achava que ela sabia muito bem disso. Banho era um pedido razoável, e não era como se fosse ele quem daria banho nela. Franziu o cenho, perguntando-se por que diabos esse tipo de pensamento passava pela cabeça dele.
— Muito bem, princesa — forçou-se a dizer. — Providenciarei um banho para você, mas não pense que não será supervisionada! Sem truques ou tentativas de fuga.
— Está tentando dizer que você vai supervisionar o meu banho? — provocou. — Espero que do lado de fora da porta, e com a porta fechada.
Criston sentiu seus músculos tensionarem. Sabia que ela estava tentando entrar na sua mente e, até certo ponto, estava funcionando. Ele cruzou os braços sobre o peito e vestiu um olhar severo.
— Do lado de fora, sim, é claro. Mas serei eu. Não confio em mais ninguém para ficar de olho em você, principalmente quando a noite cai. Me lembro bem de como gostava de fugir e fazer suas travessuras na época em que ainda morava aqui. — Olhou bem para ela. — Fique grata por não ser eu quem dará banho em você.
— Ah, eu preferiria ficar suja pelo resto da minha vida do que ter suas mãos sujas me banhando — retorquiu ela.
Ele cerrou os punhos, agradecendo aos deuses por ainda estar de braços cruzados e a garota não poder ver. Suas palavras mordazes atingiram-no como facas, cravando-se nele e testando sua paciência. Ele deu alguns passos na direção dela.
— Cuidado com a língua, princesa — avisou, sua voz baixa. — Posso estar te protegendo, mas isso não significa que tenha que aturar seus insultos e desrespeito.
— E o que vai fazer a respeito? — Ela parou bem na frente dele. — Vai me ensinar uma lição, sor?
— Pelos sete infernos, princesa! — resmungou ele. — O que eu fiz para ter que te aturar?
— Provavelmente muita coisa ruim. — Ela expôs uma tristeza claramente fingida e pousou sua mão sobre o ombro dele. — Ah, meu pobre cavaleiro.
Aquilo testava os limites dele mais do que qualquer coisa que a garota já fizera desde que Aemond a trouxera sobre Vhagar. Criston agarrou-se à sua determinação de manter-se impassível, mas isso não foi o suficiente. Seu corpo o traiu e ele se viu reagindo ao toque dela. Mas depois de seu coração pular uma, duas, três batidas, ele se recompôs.
— Não me toque, princesa — ordenou e deu um passo para trás. — Estou aqui para protegê-la, não para ser sua companhia.
— Tá bom, então — resignou-se. — Mande criadas para me banhar, por favor. — soltou um longo e sincero suspiro, a verdadeira tristeza a invadindo. Estava sozinha, longe da família e cativa com aquele a quem aprendera a odiar. Isso não vai acabar bem, pensou, mas o que murmurou baixinho foi: — Um belo jeito de passar o resto do meu décimo nono dia do nome.
Criston a observou enquanto falava consigo mesma. Apesar de ter uma língua muito bem afiada e uma atitude desafiadora, ele podia ver a solidão e a vulnerabilidade por baixo.
— Providenciarei criadas para darem um banho em você, princesa — disse, sem a presença de autoridade alguma em seu tom. — Ficarei do lado de fora o tempo todo, certificando-se de você não esteja em perigo e…
— E nem levando perigo a ninguém — ela completou antes que ele pudesse. — Há sempre uma pequena chance de uma das criadas me afogar na banheira, sabia?
Uma risada baixa escapou dos lábios do cavaleiro. Ele não conseguiu evitar. Apesar da garota ter o poder desagradável de irritá-lo, ele precisava admitir que o senso de humor dela era um tanto divertido.
— Não brinque com o destino princesa — devolveu-lhe o sarcasmo. — Duvido que as criadas sejam assassinas treinadas ou algo assim. Mas se fossem, não ousariam fazer nada comigo lá fora.
— Acho que devo lhe agradecer por ficar do lado de fora enquanto eu me banho, e não aqui dentro — falou apenas para provocá-lo um pouquinho mais. Ela gostava daquilo. — Ainda que você seja bonitão, é um pouco velho para mim.
— Quantas vezes terei de alertá-la para ter cuidado com a sua língua, princesa? — foi severo. Tinha se ferido com o comentário sobre a diferença de idade. — Não estou aqui para ser sua companhia e nem objeto de afeição. Apenas para protegê-la e mantê-la aqui, nada mais.
Ele abriu a porta em uma clara tentativa de fuga daquela situação, mas não podia deixá-la e simplesmente ir embora para a Torre da Espada Branca. Teria que passar a noite inteira ali, guardando àqueles aposentos e à princesa que agora residia neles. Deu graças aos deuses que um serviçal passava por ali e pediu que mandasse duas criadas para banhar a princesa. Quando se virou de novo para o lado de dentro dos aposentos, ainda o olhava. E para o azar do cavaleiro da Guarda Real, ela não tinha esquecido a troca de provocações.
— Nada mais, você diz. Ótimo, era tudo o que eu queria ouvir. — Ela não baixou o tom de voz, então Criston obrigou-se a fechar a porta outra vez. — Porque eu nunca deixaria você colocar as suas mãos em mim.
— De qualquer maneira, não é como se eu fosse querer tocar em você, princesa — retrucou. — Não tenho interesse em suas… afeições. Como disse antes: sou seu carcereiro, nada mais.
— Sim, sim, eu ouvi da primeira vez. — Revirou os olhos. — E eu não tenho nenhuma afeição guardada para você, Senhor Comandante. Eu já te odiava antes, sabia? Agora que você é um traidor, te odeio ainda mais.
tinha escutado, através dos guardas, que Criston Cole fora aquele que colocara a coroa de Aegon, o Conquistador, na cabeça de Aegon. Muitos agora o chamavam de Fazedor de Reis. A verdade por trás daquelas palavras afiadas corroeu o cavaleiro, porém ele se recusou a deixar suas emoções transparecerem. Não para ela.
— Seu ódio é insignificante para mim, princesa — respondeu, frio como o inverno nas terras nortenhas. — Fiz o que pensei ser o certo para o reino. Mas não estou aqui para justificar minhas ações para você.
O que pensou ser o certo? — Cuspiu as palavras. — Pois eu acho que só fez isso porque odeia a minha mãe.
A princesa queria provocar, sim, mas também estava farta de tudo aquilo. Estava presa e sem poder fazer qualquer coisa a respeito. Eles poderiam continuar falando e falando e falando e, ainda assim, a sensação de que afundava em um poço sem fundo não abandonava Velaryon. Criston, por outro lado, pensava a respeito de seu profundo desdém por Rhaenyra; no entanto, sua mente sempre voltava à filha dela. Ele tinha que reconhecer que a garota era perceptiva. Mais do que ele gostaria que fosse.
— Não presuma que entende meus motivos, princesa — rosnou entredentes. — É mais complicado do que apenas “odiar a sua mãe”.
— Ah, certo. Então talvez você esteja apenas fodendo a rainha-viúva. — retorceu os lábios, enojada com o pensamento. — Isso poderia ser um motivo.
Uma escuridão repentina cruzou os olhos do cavaleiro por causa da linguagem grosseira e da implicação por trás das palavras. Por mais que ele tentasse ignorar fofocas sobre seu possível relacionamento com Alicent, não podia negar que a rainha-viúva era uma fonte potencial de seus motivos.
— Você fala sem saber a verdade, princesa. — Ele deu um passo em direção a ela, destilando raiva. — A minha… lealdade à rainha-viúva não tem nada a ver com as minhas ações.
— É lealdade que se chama agora? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Posso ser apenas uma princesinha jovem e tola, mas acho que a palavra é outra. — Aproximou-se bem dele para sussurrar em um tom suave como veludo: — Ouvi dizer que chamam de foda.
Os olhos dele se abriram mais e seu rosto contorceu-se em uma mistura de choque e irritação. E como se não bastasse, seu rosto esquentou. Tudo por causa das palavras grosseiras da princesa. E o modo como ela se aproximara. E o jeito como o olhava. E… Criston Cole deu um passo para trás, fugindo para recuperar a compostura.
— Cuidado com o linguajar — falou muito mais baixo do que pretendia. — Essa palavra é… inapropriada para a sua boca.
— Ah, minhas desculpas, Senhor Comandante. Às vezes olho para o seu rosto e me esqueço que é mais velho e que essas coisas são um tanto inapropriadas para estarmos conversando com tamanha diferença de idade — suspirou teatralmente. — Ainda mais que sou apenas uma pobre garotinha que nunca foi para a cama com nenhum homem.
Criston cerrou o maxilar com força diante do pedido de desculpas sarcástico de . As palavras da garota eram como um chicote, açoitando seu orgulho e despertando sentimentos que não deveriam surgir. A diferença de idade entre eles era, de fato, significativa, e os lembretes constantes só faziam a irritação fervilhar com mais força em seu interior.
— Você não é tão ingênua quanto finge ser. — Ele cruzou os braços. — Essas provocações podem funcionar com os outros, mas não funcionarão comigo.
— Você está certo, eu não sou ingênua, nem um pouco — começou ela, mas foi interrompida por batidas na porta. Sor Criston abriu para que as criadas entrassem. Quando elas começaram a preparar o banho, a princesa se aproximou do cavaleiro para sussurrar em seu ouvido sem que ninguém mais ouvisse: — Mas eu não estava mentindo sobre não ter dormido com nenhum homem.
A respiração dele perdeu o ritmo, assim como seus pensamentos. A proximidade de e seu tom sugestivo lhe causaram um arrepio. Ele tentou ignorar o modo como seu corpo o traía, as bochechas quentes denunciando-o através da fachada estoica. Ele manteve os braços cruzados, apertados sobre o peito.
— Isso… não é da minha conta, princesa — respondeu baixinho, a voz mais rouca devido às imagens que inundaram sua cabeça; imagens estas que deveriam permanecer longe, mas não permaneciam.
— Sei que não. — Afastou-se um pouquinho, e então sorriu.
sabia que obtivera algum tipo de vitória naquela conversa. Quanto mais conseguisse desconcertá-lo, mais fácil poderia se tornar sua estadia na Fortaleza Vermelha. Sor Criston era, de fato, o carcereiro dela. Ela era uma refém dos verdes. Ou melhor, uma refém de Criston Cole, já que era ele quem a mantinha em sua confortável prisão. E enquanto ela pensava sobre desconcertá-lo e trazê-lo mais para perto, ele refletia sobre como aquela coisinha petulante testava tanto a sua força de vontade. Olhou para a garota mais uma vez antes de finalmente mudar sua postura.
— Entre no banho, princesa — mandou, esforçando-se para soar indiferente. — As criadas estão aguardando.
Então ele saiu e fechou a porta, antes que demonstrasse qualquer outra coisa que desejava esconder. poderia ter deixado cair a pesada tranca, mas não o fez. Ela apenas se apresentou às criadas para que estas a despissem das roupas de montaria, e então entrou na banheira, sentindo a água morna a envolver como o abraço de um amante — um tipo de abraço que ela ainda não tivera a chance de sentir.
Do lado de fora, Criston escorou as costas na porta fria. Ele fechou os olhos e respirou fundo. Ainda assim, seus pensamentos continuavam acelerados. Sua imaginação trabalhava sem parar com uma imagem da princesa se despindo, que se repetia em sua mente junto com o sussurro sensual que dera. Ele cerrou os punhos com força até os nós dos dedos ficarem brancos. Isso é ridículo, pensou consigo mesmo, ficar excitado como um maldito garoto por causa de uma princesa com metade da minha idade.
Do lado de dentro, as criadas limpavam a princesa da sujeira de dias e mais dias na estrada enquanto ela não conseguia parar de pensar em sua situação. A garota se perguntava quando os Verdes informariam sua mãe e Daemon que a tinham como refém. Ela certamente era uma boa garantia para os Pretos não caírem sobre Porto Real com seus dragões. Dragões… Se eu tivesse reivindicado um, não estaria nessa posição agora, culpou-se mentalmente, mas não, eu tinha que me contentar com a minha égua, uma espada e um arco.
Respirou fundo para se livrar da autopiedade e olhou para a porta fechada, sabendo que Sor Criston estava do outro lado. Pior ainda, ele seria como uma sombra, jamais a deixando. Ele era da Marca, mas seus traços possivelmente dorneses o deixavam ainda mais bonito, refletiu ela, mas eu não quero isso, não posso querer. Mas mesmo que o odiasse e soubesse que ele nunca trocaria de lado, tinha que trazê-lo para perto. Tinha a absoluta certeza de que aquilo tornaria a estadia dela um pouco menos pior.
Enquanto isso, os sons das criadas andando de um lado para o outro e das ondulações da água atravessavam a porta fechada. Criston Cole recostou a cabeça contra a madeira, lutando para afastar os pensamentos que atormentavam sua mente sem parar. Ele falhou miseravelmente. A imagem da princesa na banheira, as curvas suaves de seu corpo logo abaixo da espuma… Sugou o ar com dificuldade e balançou a cabeça violentamente. Então respirou fundo uma, duas, três vezes, mas seu coração continuava acelerado. Sou um homem adulto, pensou consigo mesmo, tenho que ser mais forte que isso.



Eu sei que é difícil para você
Entender pelo que eu estou passando

“Dressed To Kill”
New Found Glory


Após a esfregarem até a pele arder, as criadas tiraram Velaryon da banheira e a enxugaram ferozmente. Em seguida, vestiram-na com um robe, grosso apenas o suficiente para cobrir suas vergonhas. Ela mesma fez um laço justo na frente.
— Amanhã lhe traremos um bom vestido, princesa — disse uma das criadas.
Elas se retiraram dos aposentos e a porta voltou a ser fechada, mas não antes de Sor Criston Cole notar a princesa por um mísero segundo. Ele encostou suas costas na madeira novamente, esperando que qualquer coisa acontecesse para o tirar do tédio ou, melhor ainda, desviar sua mente de pensamentos lascivos. O tecido macio do robe ainda grudado na pele úmida da princesa o deixava louco. Tentar se distrair daquilo parecia a batalha mais difícil na qual já lutara. E sabia que era uma batalha perdida. No entanto, sons de passos chamaram sua atenção e ele ajeitou sua postura. Outros servos surgiram no corredor, vindo na direção dele com diversas bandejas nas mãos.
— A rainha-viúva envia um jantar com seus cumprimentos à princesa — disse um deles.
Sor Criston assentiu e bateu na porta antes de abri-la. Ver de novo daquele jeito — e por mais de um segundo desta vez — inflamou ainda mais sua mente condenável. Esforçou-se, então, para manter-se focado, mas seu olhar sempre permanecia no corpo da garota por mais tempo do que o necessário antes de voltar-se para outro ponto qualquer. nem sequer notou, estava preocupada demais retorcendo seu rosto em uma careta ao ouvir que o jantar vinha com “os cumprimentos da rainha-viúva”. Seu único desejo em relação à rainha dizia respeito à morte dela. Isso jamais mudaria. mandou os serviçais embora com aceno carregado de um tédio fingido.
Ela nem está olhando para mim, pensou Criston, incapaz de evitar a pontada de aborrecimento que o envolvia. Todos os seus pensamentos do lado de fora daquela porta haviam sido relacionados a ela, que agora não despendera nem um segundo de seu tempo para dar uma olhadela na direção dele. Em um impulso, deu mais um passo para dentro do quarto e fechou a porta atrás de si. Aquilo fez com que ela, enfim, o olhasse.
— Deve se alimentar, princesa — forçou-se a dizer, seu olhar ainda oscilando entre ela e qualquer outra coisa insignificante.
— Você vai me vigiar deste lado da porta — concluiu ela, ajustando o robe, um tanto desconfortável. O olhar dele acompanhou o movimento da garota e suas bochechas esquentaram levemente. Isso é ridículo, pensou consigo mesmo pela milésima vez naquela noite.
— Sim, a vigiarei daqui. — Cruzou os braços em um gesto defensivo, escorando-se na porta. — Para garantir a sua segurança.
— O mesmo papo de sempre, já sei. — Ela sentou-se. — Se vai ficar aqui dentro, ao menos deveria sentar-se e comer comigo.
Ele olhou para a mesa farta e depois para Velaryon. Seu estômago roncou. Não comia desde o café da manhã. Pesou as palavras da princesa. Não havia nenhum sarcasmo presente. Sua voz apenas soara… cansada.
— Eu… — Descruzou os braços e deu alguns passos hesitantes à frente. A ideia de comer com ela parecia estranhamente íntima. — Eu não deveria. — Ele parou. A garota o encarou, revirou os olhos e então apontou com mais veemência para a cadeira vaga do outro lado da mesa. O homem suspirou e, ainda relutante, puxou a cadeira e, por fim, sentou-se.
— Viu só? Não foi assim tão difícil, foi? — disse sem olhar para ele, o sarcasmo pingando de sua voz como veneno. — Há comida o suficiente para nós dois.
Criston deixou seu olhar navegar da princesa até a porta. Ela estava certa. Não havia sido dificultoso. Deveria ter sido difícil, pensou, tentando se convencer daquilo. Espiou a princesa mais uma vez. Sentar-se e jantar com ela definitivamente não era o que ele tinha em mente quando pegou o trabalho de vigiar a princesa refém. O cavaleiro se inclinou ligeiramente para frente e pegou um pãozinho de uma das bandejas.
— Não somos amigos, sabe? — disse, arrancando um pedaço de pão e colocando-o na boca.
— Você acha que eu sou uma garotinha estúpida, não é? — balançou a cabeça, também pegando um pedaço de pão para iniciar sua refeição. — Jamais seria amiga de alguém que eu odeio desde que era pequena.
Criston refletiu sobre o assunto. Ele de fato costumava vê-la como uma princesinha mimada, mas era impossível negar a maturidade que demonstrava agora, mesmo nessa situação. Ele deu uma mordida no queijo, seus olhos dardejando o rosto da garota antes de voltarem para a sua comida.
— Não acho que seja estúpida — viu-se dizendo. — Apenas ingênua.
— Então agora eu sou ingênua para você, o todo-poderoso Senhor Comandante? — destilou sarcasmo em suas palavras. — Pensei tê-lo ouvido dizer mais cedo que eu não sou tão ingênua quanto finjo ser.
Criston tensionou o maxilar diante do comentário mordaz. Não que ela estivesse errada. Ele realmente dissera aquilo no calor de uma discussão anterior. O cavaleiro congelou, sua mão pairando sobre a mesa sem saber que alimento pegar enquanto ele tentava formar uma réplica. Mas então desistiu, afinal, não tinha uma.
— Tem uma língua afiada, princesa — resmungou ele.
— Tão afiada quanto aço valiriano — acrescentou ela, com um leve sorriso no rosto. — Eu a mantenho assim para cortar meus inimigos em pedacinhos.
umedeceu o lábio inferior para enfatizar sua fala. O olhar de Criston foi atraído para o movimento da língua dela, o coração acelerando-se em seu peito. Amaldiçoou-se por não ser capaz de conter o calor que se acumulava na boca do estômago. Engoliu em seco e forçou-se a olhá-la nos olhos.
— Essa língua pode te colocar em apuros um dia, princesa — alertou.
Mesmo que Criston tenha se esforçado para manter a rouquidão longe de sua voz, o comentário atingiu a princesa. Ela respirou devagar na tentativa de tornar a estranheza em seu corpo e mente menor.
— Bem, isso já me aconteceu. — Apressou-se em pegar um pedaço de carne e mordiscar. — Muitas vezes, na verdade. E tenho certeza de que uma delas envolveu você, onde eu fiquei de castigo por dias por ter gastado todo o meu vocabulário de palavras obscenas para te xingar.
— Aquilo foi… um mal-entendido — falou ele. — Não devia ter se descontrolado tanto, eu só estava cumprindo o meu dever.
— O seu dever? Você tem sorte por eu estar faminta, sabia? De outro modo, jogaria todo o conteúdo dessas bandejas na sua cara — grunhiu ela. — Eu era uma garotinha naquela época, mas me recordo muito bem.
Suspirou alto ao recordar-se do modo como Sor Criston favorecera Aegon e Aemond no pátio em vez de Jace e Luke. E não fora apenas isso. Quando Sor Harwin Strong intervira e defendera os irmãos da princesa, Criston Cole insinuara que Harwin fazia aquilo porque era pai dos garotos Velaryon. tinha testemunhado a cena toda. E, sim, sabia que provavelmente carregava em si o sangue de Harwin, mas jamais se importara. A briga de Cole e Strong, provocada pelo primeiro, resultara no Rei Viserys I expulsando Sor Harwin, que fora embora para Harrenhal. Antes de partirem para Pedra do Dragão no intuito de se afastar dos rumores e de todo o caos que estava sendo morarem ali com os Verdes, enfrentara Sor Criston Cole com a fúria que apenas uma garotinha machucada poderia expor.
… — começou, mas parou ao perceber que a chamara pelo primeiro nome. Idiota, xingou-se, reconhecendo que era íntimo demais.
— Se quer saber, eu ainda te culpo pela morte dele — cuspiu as palavras.
Sabia que o incêndio em Harrenhal que tirara a vida de Sor Harwin não fora culpa dele. No entanto, ele jamais estaria lá se não fosse por aquela briga estúpida que Cole causara. As lembranças do fatídico dia queimavam em sua mente, marcadas a ferro. Ele ainda podia ver o rosto jovem da garota, brava e magoada demais, mergulhada em raiva enquanto o xingava sem parar, usando palavras que talvez ela nem entendesse. Ele havia, de fato, ultrapassado os limites ao provocar o amante de Rhaenyra apenas por diversão e, claro, por seu ódio a ela.
— Acha que não sei disso? — questionou suavemente. — Ou que eu mesmo não sinto um pouco de culpa?
— Eu não acho nada, Cole. Eu sei que não se sente culpado. Sei que odeia a minha mãe e posso ver isso em seus olhos. Todo mundo na Fortaleza Vermelha costumava ficar fofocando sobre Sor Harwin Strong e minha mãe terem… uma coisa… tanto que você mesmo chama a nós, os filhos Velaryon da princesa Rhaenyra, de bastardos, de fortes, Strong… — A princesa colocou uma mecha do cabelo castanho para trás da orelha. — O significado daquilo tudo? Até hoje não sei, na verdade. Mas tudo envolveu o ódio que nutre pela minha mãe por causa de algo no passado de vocês. E quer saber? Não me importo. Eu só sei que você não se sente culpado por causar a partida de Harwin porque era isso o que desejava.
pegou uma taça de peltre e serviu-se de um bom e doce dourado da Árvore, seu vinho favorito. O Senhor Comandante havia se irritado com as palavras insolentes da garota. Detestava Rhaenyra, sim. Detestava-a por sua arrogância e insolência. Odiava o desrespeito que ela tivera pelos deveres e votos dele. Detestava também a si mesmo, por ter sido incapaz de controlar um desejo estúpido de uma única noite, por ter se deixado levar pela tentação arrasadora em um momento de fraqueza e ter traído tudo em que acreditava… Tudo por causa da maldita Princesa de Pedra do Dragão.
A maior ironia era os sentimentos inexplicáveis que passara a nutrir pela filha dela, que detinha uma arrogância tão grande quanto, e era tão teimosa quanto ele próprio. Com Velaryon era diferente, no entanto. Era muito mais que um desejo carnal, muito maior do que apenas atração — embora estas duas coisas obviamente existissem. A garota não era mais apenas uma princesinha petulante que gostava de aprontar com os príncipes pela Fortaleza Vermelha, enlouquecendo guardas e criados. Agora era uma mulher-feita, tão encantadora quanto teimosa, decidida e audaciosa. Fazia poucas horas que tinha posto os olhos nela — ao menos depois da passagem dos anos —, e ainda assim… Cerrou os punhos sobre a mesa, a tempestade inquieta em seu interior revelava a ele tudo o que tentava manter submerso.
Jamais havia se sentido assim a respeito de ninguém.
— Você não sabe nada sobre mim — murmurou.
— Parece que sei um pouquinho. — Ela encheu a outra taça e empurrou-a na direção dele. — Se não soubesse, você estaria fazendo um longo monólogo citando cada um dos meus erros. Mas não está.
Criston deixou seus olhos repousarem sobre o líquido dourado, brilhando à luz das velas. Era acostumado aos tintos dorneses e suas oportunidades de beber o dourado da Árvore eram escassas, já que costumava ser o melhor vinho do continente e, por isso, caro demais para gente como ele. Sua boca salivou, implorando por ser saciada, mas ele hesitou. Deveria recusar, manter uma parede bem construída entre e ele, ainda mais sabendo os efeitos que ela lhe causava. Aquela outra parte dele, a mais intensa, que se deixava levar por seus desejos mais ocultos, cedeu. Ele agarrou a taça de peltre e levou-a aos lábios, tomando um gole lento para saborear bem.
— Viu? Mais uma confirmação — soou vitoriosa. — Prefere tomar um bom vinho a se defender.
Sor Criston franziu o cenho. O vinho queimava em sua garganta, adoçando aquela noite incomum. A princesa era mesmo inteligente, astuta e esperta até demais. Ele reconhecia isso e não tinha resposta alguma para dar.
— Está abusando da sorte, princesa. — Pousou a taça sobre a mesa com um tilintar.
— Sorte? Bem, eu achei que não tinha mais sorte alguma. — Ela tomou um grande gole do vinho. — Olhe para mim — suspirou, apontando para si mesma. — Estava indo para casa depois de arranjar um bom acordo de casamento e fui capturada pelo maldito do príncipe Aemond.
Os olhos dele se estreitaram ao recordar-se daquele fato. Pensar que ela havia sido feita prisioneira por aquele pirralho… Seu sangue ferveu.
— O que ele fez com você? — Seus dedos se apertaram ao redor da taça, imaginando cenas que o massacravam por dentro.
— Exceto me capturar e acabar com as minhas chances de me casar com um Blackwood porque ele prefere me manter sob o controle dele? — citou. — Nada de mais.
Menos mal, pensou. Aquilo acalmara a tormenta dentro dele. Sabia que não deveria, mas sentia um pouco de simpatia pela menina. Havia decepção na voz dela e um tantinho de amargura que não combinava com o dourado da Árvore que estavam bebendo. Seu casamento com um Blackwood talvez não fosse a melhor coisa, mas com certeza era melhor do que se tornar uma refém.
— Bem, pelo menos está segura. — Ele tomou outro gole da bebida. — O Aemond… não é conhecido por sua ternura.
— Segura? Sim, mas trancada para sempre em meus novos aposentos que, nas masmorras ou não, são como uma prisão para mim. Exceto, é claro, que tudo se difere pela sua presença — hesitou por um momento. — Deuses, eu poderia não querer me casar por causa de alianças políticas, mas o casamento que arranjei era mesmo bom. E os Blackwood são… diferentes. Tive a impressão de que poderia usar a minha espada e o meu arco e flecha sem muito julgamento por lá. — Respirou fundo. — Pelos sete infernos! Ficar aqui para todo o sempre como uma refém… uma refém bem vigiada, ainda por cima. Eu jamais poderei estar com… — Ela parou repentinamente ao perceber que havia falado demais.
— É uma refém valiosa, sim, por isso é bem vigiada. Mas ainda é uma princesa — disse ele, ainda absorvendo e tentando entender a maneira como ela ansiava pela liberdade e pela vida que lhe fora negada. — Não deveria brandir uma espada e nem deveria precisar usar um arco. Esse não é um comportamento adequado para uma princesa como você.
— Foda-se!? — Ela revirou os olhos, não se importando nem um pouco com o linguajar. — Eu gosto de arco e flecha. Não, eu amo isso. Nunca me senti tão bem fazendo qualquer coisa na minha vida como eu me sinto segurando um arco em minhas mãos. — Sorriu sozinha, apegando-se à memória da sensação. — Espada é outra história. Daemon até me ensinou, mas minha verdadeira paixão é mesmo o arco.
Criston precisou reconhecer que a princesa era, de fato, uma Targaryen — por mais que seu sobrenome fosse Velaryon e que parte do seu sangue viesse de um Strong. tinha um fogo em si. E ela ardia. Ardia cada vez que deixava seus modos de lado para proferir xingamentos ou falar sobre o que gostava. Seu jeito desafiante era também… encantador. E o sorriso dançando em seus lábios quando falou sobre o arco… Formidável.
— Todo mundo tem sua arma favorita. Eu, por exemplo, sou um ótimo espadachim, mas prefiro a maça-estrela à espada. Mas isso não vem ao caso. — Bebericou seu vinho, divertindo-se com o assunto. — O príncipe Daemon te ensinou, então? Isso não me choca muito, sabe? Ele te ensinando algo tão impróprio para uma dama.
— Impróprio para uma dama, você diz. A rainha Visenya não concordaria com isso e, se bem me lembro, foi ela quem criou essa mesma Guarda Real da qual você agora participa. — Soltou um sorrisinho zombeteiro e bebeu um gole do vinho, mas ainda não tinha terminado. — Sabe de uma coisa, Sor Criston? Ter um pau não torna os homens capazes de… nada. A arte das espadas é sobre ensinar e aprender.
Criston riu da resposta atrevida dela. A garota era mesmo indomável, o que só a tornava mais cativante.
— E o que uma coisinha linda como você saberia sobre espadas? — provocou com um toque de escárnio.
— Me devolva a minha espada e eu te mostro, Senhor Comandante. — Lançou-lhe um olhar feroz e ameaçador. — E então você verá do que essa coisinha linda aqui é capaz.
— Isso é sério? — soou cético, mas não pôde evitar um pequeno sorriso. — Acha que conseguiria ganhar de mim em um duelo, é?
— Infelizmente para você, não sou tão boba assim. Eu perdi para o príncipe Aemond no bosque hoje, por isso vim parar aqui. Sei que jamais poderia vencer você — suspirou. — Deuses, o que foi que restou para mim? Sem espada, sem homem…
— Não é o fim do mundo, é? — disse ele. — Há coisas piores do que ser uma refém bem tratada na Fortaleza Vermelha.
— Sim, você está certo. — ergueu a cabeça para encará-lo. — Tem uma coisa pior: ser uma refém bem tratada na Fortaleza Vermelha que está presa com você.
Aquilo não causou o efeito que ela esperava. Um sorriso irônico desabrochou nos lábios do cavaleiro. As palavras desafiadoras apenas lhe trouxeram um pouco mais de diversão.
— É isso mesmo, princesa? — Arqueou a sobrancelha. — Não houve realmente nenhum momento minimamente agradável que compartilhamos? Não é possível que todas as suas memórias antigas sobre mim sejam tão ruins.
— Pois eu acho perfeitamente plausível, Sor. — Estreitou os olhos. — Você nem me deixava brincar de espadas com os meus irmãos e os outros príncipes quando éramos crianças.
— Era o meu dever manter um senso de ordem e disciplina entre os príncipes — falou como se fossem palavras decoradas. Seu rosto não tinha mais espaço para sorrisos. — Deixá-los correr e brincar de espadas com você não fazia parte disso. Você era uma princesa, afinal de contas, não um escudeiro.
— Pois é… Acho que não tenho memórias boas ao seu respeito. — O tom de voz amargo da princesa não combinava com a doçura do dourado da Árvore em sua boca. Criston franziu o cenho, aborrecido.
— Você ainda é tão teimosa quanto era anos e anos atrás. — Ele tomou mais um gole. — E tão irritante quanto.
— Porque eu era uma pirralha. Crianças são assim mesmo. — Ela deu de ombros, parando de comer. — E eu ainda posso ser bem teimosa, mas agora sou uma mulher-feita e tenho meus motivos.
— Uma mulher-feita, com certeza. — Olhou bem para a princesa. Não era a mesma garotinha, não mesmo. Era uma mulher adulta, com curvas pronunciadas. Permitiu que seus olhos vagassem sobre ela, observando cada característica como se quisesse memorizá-las. Seu cabelo castanho, seus olhos escuros, a curva desafiadora de sua mandíbula, seus lábios levemente umedecidos pelo vinho. Ela era deslumbrante, não havia como negar. Quase angelical. — Se tornou uma mulher muito bonita.
— Me tornei? — Ela soou surpresa, e ele apenas assentiu.
Ela olhou para baixo, para o corpo coberto apenas pelo robe e nada mais. Mexeu no tecido, inquieta, e levantou o olhar até o rosto dele, que ainda a observava. Não apenas observava, ele estava a admirando. E ela percebeu isso e desviou o olhar, suas bochechas coradas. Criston só conseguiu pensar em como a garota era capaz de continuar sendo incrivelmente encantadora até mesmo ao corar. Tão doce quanto o dourado da Árvore, refletiu ao tomar mais um gole, e então deixou escapar um longo suspiro.
Seria uma longa noite.





Continua...


Nota da autora: gente do céu, a bebida tá soltando ele, né kkkkkkkkkkkkk tá perdendo a vergonha, sos hahahah eu amo as interações deles, nao dá


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