Revisada por: Saturno 🪐
Atualizada em: 19/04/2025.
Olhou de lado para o seu guarda pessoal, que ficava sempre perto de si, desde a morte de seu pai. Foi escolhido a dedo por Hiashi para cuidar de Hinata, no leito do antigo rei. Passou a observar a face austera e levemente arrogante de Neji Otsutsuki que apoiava-se com a mão direita na sua espada, a qual combinava perfeitamente com a roupa dourada, marca de sua guarda real. O selo do brasão da família Hyuuga, ostentado do lado direito do peito do homem rígido, era carregado com orgulho pelo moreno de longos cabelos castanhos e olhos tão parecidos com os da rainha.
Foi levada de volta à realidade por um dos homens desagradáveis que lhe perguntou algo pegando em seu pulso, fazendo Neji se mover rapidamente e tirar a mão do velho que apertava o local.
— Não toque em sua rainha. — Sem levantar a voz; frio e duro como era do seu costume. Fez o homem soltar o braço da Hyuuga e voltar ao seu lugar, pigarreando sem jeito e fazendo todos se calarem.
— Senhores, estou um pouco indisposta. — Hinata falou e levantou-se calmamente. — Peço que voltem outro dia para continuarmos esta reunião. — Não esperou resposta de nenhum deles, sua palavra era ordem, estava enfadada de tantas reclamações e pedidos absurdos, além da noite que já tinha começado a cair. Parou ao lado de uma serviçal, já na porta de saída do grande salão. — Avise as outras que quero ficar sozinha esta noite — dirigiu-se a sua criada.
— Sim, vossa alteza. — A moça se curvou reverenciando sua rainha e se recolhendo em seguida. A Hyuuga seguiu o caminho com o seu guarda pessoal em seu encalço.
— A minha companhia também está dispensada, majestade? — Neji perguntou já no corredor, agora a sós com a rainha.
— Preciso de alguém para me proteger, não? — Ela deu uma pequena olhada por cima do ombro para o seu subalterno que concordou com a cabeça.
Caminharam em silêncio até o quarto principal do palácio, Hinata parou na frente ao seu quarto e o guarda abriu as portas duplas para que ela pudesse passar, as fechando em seguida. A Hyuuga caminhou até a sua poltrona, que se encontrava próxima da sua penteadeira e ficou aguardando, Neji se aproximou devagar, ajoelhou-se ao seu lado e começou a remover as jóias da rainha com cuidado, os toques eram gentis, tirou os anéis, pulseiras e braceletes os guardando em seus devidos lugares.
O Otsutsuki levantou e foi para trás dela, a morena levou o braço até o pescoço e puxou o longo cabelo para a lateral, deixando seu pescoço exposto, os dedos grandes do guarda resvalaram na pele branca e Hinata sentiu um arrepio correr por sua espinha, ele continuou o seu trabalho e abriu o colar pesado de pedras o guardando. Levou as mãos para a coroa dourada, a retirando da cabeça da rainha com delicadeza para não bagunçar os fios negros. Com o simples gesto, o qual fazia algumas vezes durante a semana, lembrou-se de quando a coroou, como filha única e seu pai falecido, era sua a função como comandante da guarda real fazê-lo; sorriu com a lembrança passageira.
Hinata levantou e se manteve de costas para ele, que ajudou a folgar o espartilho do vestido que ela usava e virou-se para dar privacidade a mais nova, sentia-se nervoso ao estar presente quando ela trocava de roupa, no entanto, ela havia dispensado as criadas e ordenou a sua presença. Ao ouvir permissão para virar-se ela já se encontrava deitada na cama, embaixo das cobertas, Neji então recolheu suas roupas e as guardou.
— Precisa de mais alguma coisa, alteza?
— Não, pode se retirar. — Ele se curvou minimamente e deixou os aposentos da rainha encaminhando-se para o seu próprio do outro lado do castelo.
O sol entrava pelas grandes janelas do aposento real. As cortinas finas dançavam em todas as direções trazendo o cheiro das flores do jardim do castelo. Hinata sempre gostou de cuidar daquela parte de sua propriedade sozinha, usava o tempo que tinha entre as aulas de etiqueta e história de sua família para cuidar das flores do seu canteiro. Levantou-se sem pressa, deixando seus pés tocarem o chão de pedras frias e espreguiçou-se esticando seus braços. Sentia que seu dia seria novamente longo e desejou voltar ao tempo que poderia correr para suas flores e cuidá-las, como amava fazer.
Ouviu a porta atrás de si abrir assim que terminou de ser vestida pelas criadas e não precisou virar para saber quem era. Neji sempre aparecia em seu quarto assim que ela acordava, parecia ter sempre certeza de que não chegaria antes da rainha se levantar. Sentiu o olhar do moreno em suas costas e a familiaridade da queimação que vinha com ele, sempre em seu encalço, diariamente, ficou difícil não gostar de ser observada, mesmo que não da forma que ousou querer em seu íntimo, precisava dele para se sentir poderosa, firme e dona de algo a mais do que não um legado herdado. O Otsutsuki passava confiança para ela, era capaz de nem ele mesmo saber do poder que tinha sobre a rainha.
— Já está pronta para o café da manhã, majestade? — Hinata estava olhando a paisagem pela janela.
— Quero dar uma volta no jardim antes de comer, me acompanha? — Virou-se para o guarda e caminhou até a saída do quarto.
— É claro, alteza. Como quiser. — Curvou-se abrindo a porta para a sua rainha passar e seguiu atrás dela.
Ele sentiu um ar nostálgico na Hyuuga, a acompanhava caminhando bem atrás dela entre os labirintos de arbustos, ele lembrava bem que ela amava cuidar das flores desde a infância e talvez tenha acordado com essa lembrança. Neji andava em sua costumeira pose, apoiava-se em sua espada e a outra mão atrás das costas, admirava os cabelos longos a sua frente, eles brilhavam com o reflexo do sol e balançavam levemente como se o vento os acariciasse. Ela olhou por cima do ombro como se confirmasse que ele ainda estava ali, e o mais velho notou o pequeno sorriso no canto dos lábios.
— Por que não anda ao meu lado?
— Preciso proteger suas costas, majestade. Seria perigoso, alguém poderia nos atacar e eu não conseguiria protegê-la. — Ele explicou.
— Estamos no jardim do castelo, ninguém irá nos atacar, Neji.
— Mas…
— É uma ordem. — A morena o interrompeu fazendo com que ele se calasse e fosse para o seu lado, continuaram o caminho em meio às flores.
— Alteza, precisa se alimentar para ir para a sua aula de artes.
— Você pinta, Neji? — Hinata perguntou sem rodeios.
— Como? — O moreno ficou sem entender.
— Você tem alguma habilidade artística?
— Eu… Sim, às vezes eu faço uns esboços no meu tempo livre. — O guarda ficou sem graça com a pergunta repentina.
— O que acha de me pintar? — Os olhos lilás miraram os dele e então Neji sentiu seu coração palpitar.
— Com todo o respeito, majestade… — o moreno nem sabia de onde tinha tirado coragem para falar aquilo —, você por si só já é uma obra de arte. — Hinata sorriu ladino e deu a volta em direção a entrada do castelo.
— Vamos, preciso me alimentar.
O dia seria tranquilo, tinha aula de artes, após isso o almoço era servido e então um descanso no solário antes da aula de etiqueta. Hinata gostava das aulas por que a mantinham ocupada de uma forma proveitosa, sempre valorizou o aprendizado de uma forma geral. Neji a acompanhava em todos os seus compromissos e afazeres, não achava ruim o seu posto, muito pelo contrário, era uma honra proteger a rainha. Sua última aula do dia tinha acabado e a Hyuuga caminhou com o Otsutsuki até a sua sala de banho.
— Esperarei aqui fora, alteza. — O moreno se posicionou ao lado da porta.
— Quero que entre, Neji.
— Majestade, isso está fora da minha conduta. Sei que tenho que lhe acompanhar em todos os cômodos…
— Se sabe por que está me refutando? — O cortou o mirando séria. Ele então abaixou a cabeça, abriu a porta para Hinata passar e entrou, fechando a porta em seguida.
Hinata foi recebida por três criadas, duas preparavam o seu banho com alguns sais e a outra a acompanhou até a poltrona, que ficava próxima de um armário com roupas e toalhas, para tirar suas jóias. Era a primeira vez que Neji entrava no lugar, era tudo muito bonito, uma grande banheira em mármore no meio da sala com alguns degraus dentro e fora dela. Havia uma janela para que ela pudesse apreciar a vista enquanto se banhava e algumas esculturas contornavam a sala. A criada começou a ajudar a rainha a folgar o espartilho e então, o guarda virou-se de costas para a parede, a Hyuuga riu discretamente, achava afável o respeito que o moreno tinha por si.
A morena entrou na banheira para tomar o seu banho e então avisou ao Otsutsuki que podia se virar. Ele ficou de frente novamente e foi analisando cada detalhe daquela cena, a rainha estava sentada com apenas seu busto para fora da água. Os cabelos de Hinata estavam presos no topo de sua cabeça com alguns fios caindo em seu rosto, foi abaixando o olhar vendo o colo e ombros levemente molhados e então pôde ver a curvatura dos seus seios fartos; desviou os olhos com rapidez. Talvez se ele tivesse a admirado por mais tempo, veria a sua majestade mordendo o lábio por ver ele a olhando com tanto desejo.
Quando seu banho acabou, ela saiu da banheira sem ao menos avisar que iria fazer tal coisa, Neji viu de relance as curvas da mais nova e virou-se rapidamente respirando fundo. Agora teria uma imagem gravada na sua mente, fechou os olhos e ela estava lá, nua em sua frente; perfeita. Como uma obra de arte, como ele mesmo tinha falado, pois era a mais pura verdade. Hinata foi secada por suas criadas e depois vestida, saiu em direção a porta esperando que Neji a abrisse e foi o que ele fez. Saíram em direção a sala de jantar, a Hyuuga fez sua refeição e disse para ele fazer o mesmo, estaria segura com os outros guardas ali presentes.
Passou toda a refeição pensando se surtiu o efeito que desejou em Neji. Não pôde evitar de rir algumas vezes do olhar corrido e da face claramente sem graça, o que deixou Hinata bem mais feliz. Deixá-lo daquela forma era a confirmação que precisava para entender que seu subordinado não a via só como um trabalho, a enxergava também como mulher. Levantou-se assim que terminou sua refeição e foi seguida por Neji até seu quarto. Dispensou novamente as criadas antes de fazer o mesmo com o moreno.
— Já pode se deitar, não precisarei mais de seus serviços. — Sentou-se em sua cama de costas para ele, que a aguardava na porta e sem olhá-lo terminou. — Tenha uma boa noite, Neji.
— A senhorita também, vossa alteza. — Fez reverência mesmo que ele não tivesse em seu campo de visão.
Deixou o quarto fechando a porta atrás de si e deu instruções aos dois homens de sua confiança da guarda real a postos. Cada um de uma lado da porta, guardando a vida da Hyuuga. Seguiu a passos apressados até o outro lado do castelo, onde ficava os seus aposentos. Sentiu o sangue deixar seu rosto assim que pôs os pés em local seguro. Não aguentava mais fingir que não viu o que viu. Estava cravado em sua mente, como uma estaca, bem no meio do seu crânio, Hinata Hyuuga, sua rainha, nua como uma pintura e quisera ele ter uma naquele momento. Procurou em seu quarto o necessário para começar a dar vida a sua ideia. Um grafite, papel e sua imaginação dariam conta.
Não poderia fazer tal coisa e se xingava por isso, mas não via maneira mais satisfatória de sanar seus pensamentos que fazer deles algo que pudesse tocar. Começou com a linha dos seios, curvados e levemente arrebitados. O quadril se desenhou sozinho após a cintura e cada novo pedaço de sua rainha ia tomando o papel, até que toda a perfeição que era Hinata, estivesse clara, em cinza e preto, que contornava as partes mais marcantes do corpo bonito.
Suspirou pesado ao terminar, havia tirado um peso de sua consciência. Não fosse aquele papel, no dia seguinte poderia ele, facilmente, confundir aquela visão com um sonho, como muitos outros que já teve, entretanto nem de longe tão detalhado. A dor que vinha de sua ereção, desde a sala de banho, não deu sossego à mente sonhadora de Neji. Teria que dormir pensando em como encararia sua majestade na manhã seguinte, e antes fosse só por vê-la nua, em toda sua glória, mas sim pelos sonhos perturbadores que provavelmente viriam.
Banhou-se e se vestiu com a ajuda dos criados e desceu para seu desjejum, encontrando Sasuke já sentado à mesa e, próximo da porta que levava à cozinha, Shisui, com sua costumeira pose de guarda sério. Ele era um Uchiha peculiar, apesar da carranca, era divertido e audacioso, e Itachi gostava disso, mantinham uma amizade desde que se conheceram nos treinamentos do exército. O pai de Shisui era o comandante na época, morreu devido a uma doença que se alastrou pelo reino, os fazendo perder muitos de seus soldados e súditos.
Itachi que sugeriu ao seu pai que Shisui fosse o novo comandante da guarda real, olhando agora, não sabia ao certo se Madara tinha acatado seu conselho por querer agradá-lo ou por realmente acreditar no olho certeiro do filho. Sabia que ele seria um ótimo comandante, e não estava errado, havia se tornado seu braço direito muito antes do plano de tirar Madara do poder, mas, nesse plano, ele tinha sido a peça chave para os soldados ficarem ao lado de Itachi.
— Bom dia. — O rei sentou-se na cabeceira.
— Bom dia, alteza. Deveria estar usando sua coroa, não? — Shisui perguntou.
— Não vejo necessidade de usá-la dentro da minha casa.
— Deu muito trabalho consegui-la, irmão, deveria aprender a apreciar o peso da coroa — Sasuke comentou ácido, enquanto bebia seu café.
— Bom dia, alteza. — Inoichi surgiu na sala de refeições, fez uma breve reverência e se sentou ao lado esquerdo de Itachi.
— Bom dia. Espero que seus aposentos tenham sido satisfatórios, Inoichi.
— Sim, estou muito confortável. Obrigado, rei Itachi.
— Eu tenho uma reunião com o conselho logo após o desjejum, depois gostaria de conversar com você.
— Claro, estarei à disposição.
— Shisui lhe mostrará onde fica a biblioteca. — Apontou para o guarda, que assentiu.
Itachi se levantou assim que terminou sua refeição, pegou os pergaminhos que mais lhe interessavam e foi em direção à sala de reuniões do conselho. Assim que entrou, os homens se levantaram, o reverenciando, sentando de novo depois que o rei o fez. Respirou fundo e começou a falar sobre os acordos que havia achado, e pelas expressões assustadas de seus conselheiros, nem precisou perguntar se eles sabiam algo a respeito. Apertou os olhos com os dedos, pressionando a ponte do nariz. Tentava pensar de forma racional, porém a raiva que sentia de seu pai ainda corria por suas veias, e a cada descoberta parecia aumentar.
— Majestade, precisamos rever esses absurdos — o estrategista comentou.
— Acha que não sei? Preciso basicamente jogar tudo no lixo e começar do zero. — Os homens o olharam surpresos. — Meu pai, e talvez até meu avô, pegaram esse povo e esse reino para explorar, pra amaciar seus grandes egos. — Bufou e juntou os pergaminhos que trouxera. — A rainha Hinata me disponibilizou um de seus conselheiros para me ajudar, estamos em desfalque, temos apenas três. Nunca entendi por que meu pai dispensou Asahi, mas agora passo a entender um pouco mais.
— Infelizmente, alteza, tínhamos… medo do rei Madara. Quando Asahi foi contra os quereres de seu pai, ele o escorraçou daqui e disse que o próximo a discordar dele perderia a cabeça. — Itachi arregalou os olhos. Não imaginava que seu pai tinha virado um maldito imperador.
— Que os Deuses me ajudem… — Itachi se levantou, fazendo todos os outros se levantarem também.
— Se me permite, majestade. — O rei voltou seu olhar ao homem. — Gostaria de dizer que o apoiaremos nas medidas que queira implementar. — Sua face repleta de rugas indicava sua idade avançada, e em seus olhos a esperança de ver a melhora do reino depois de tantos anos. — Temos certeza de que fará um bom trabalho, rei Itachi.
— Obrigado, senhores, eu darei o meu melhor. Quero o nosso povo feliz e com uma vida digna. — Pegou seus pertences. — Agora me despeço, preciso falar com Inoichi, ele me ajudará em algumas questões. Avisarei quando será a próxima reunião.
Foi reverenciado antes de deixar a sala. Seus músculos estavam tensos, levou a mão ao pescoço, em busca de diminuir a dor que sentia nos ombros. Talvez o peso da coroa fosse mais simbólico do que físico. Caminhou lentamente pelos corredores. Tentava absorver todas as informações, eles confiavam nele, já era um grande passo para seus súditos não terem outra motivação para odiá-lo. Não entendia como alguém poderia apoiar Madara estando em tão precária situação. Foi até a sala dos arquivos e pediu a um dos servos para levar o livro de leis, ordens e restrições do reino e voltou, a passos lentos, a seguir o caminho que havia tomado.
Respirou fundo mais uma vez ao dobrar no corredor, onde já podia ver a porta da biblioteca. Entrou e notou Inoichi lendo um livro qualquer. Cumprimentou-o e tomou sua poltrona atrás da mesa sólida de madeira, juntou os pergaminhos espalhados e colocou todos de volta na caixa em que estavam. Logo ouviu batidas na porta e liberou a entrada, a porta se abriu devagar e o servo entrou com três livros grossos e pesados.
— O que pediu, majestade.
— Obrigado, pode se retirar. — O homem deixou a sala, fechando a porta.
— Em que posso ajudar? — O Yamanaka largou o livro e se levantou, ficando em frente à mesa, olhava com atenção o rei do Fogo.
— Esses são os livros onde contém as leis, restrições e ordens expedidas até hoje pelos reis que vieram antes de mim. Acredito que levaremos algumas semanas para analisar.
— O que exatamente quer mudar? — Inoichi respirou fundo, pensando no que exatamente Hinata tinha pensado colocando-o naquele caos, mas sabia exatamente o porquê dela fazer aquilo. Devia a vida do rei da Lua a Itachi, e ela jamais teria como pagá-lo por isso.
— Tudo.
Não seria fácil de qualquer maneira, sabia bem que reescrever leis e repensar em todo o modo de um reino agir era quase como começar um novo mundo do zero. Os cidadãos estavam acostumados, a corte estava ciente de tudo, até alguns decoraram as antigas leis, então aceitar novas, assim tão depressa como o Uchiha queria, não seria tarefa simples.
Bom, este não era seu trabalho ali, apenas colocar em prática o que fazia por anos no reino da Lua. Sua experiência realmente ajudaria Itachi em sua trajetória até a estabilidade daquelas terras, contudo, cada vez que se mudava um lado, outro ficaria chateado, pois as injustiças que via no papel facilitavam a vida de alguns, e no poder, que beneficiava os mais ricos, não se mexia tão levianamente como o filho mais velho de Madara achava.
Sua rainha o mandou como um gesto de confiança, ele seria a ponte entre o novo reino do Fogo e sua terra natal. Aquilo era inédito na história de seu país, ter os Uchihas tão próximos assim era algo apenas sonhado visando a paz e prosperidade de todos, contudo ainda o assustava, pois como os aldeões acostumados com certa monotonia, ele também estava por nunca ter pisado ali.
Bufou, fechando outro pergaminho e jogando na enorme pilha ao seu lado. Estava na biblioteca e as horas pareciam não correr. Sabia quando era as refeições por ser pessoalmente chamado pelo novo rei ou por seu guarda real, Shisui. Ele revisava cada linha e anotava o que seria pertinente apresentar ao rei, mas sua cabeça estava ali apenas pela metade.
A saudade de sua família queimava em sua mente. Deveriam estar preocupadas com a pouca quantidade de cartas que havia mandado, porém não havia tempo. Seu dia se esvaía naquele lugar com amplas prateleiras lotadas de livros antigos sobre a história daquela terra. Um dia teria o devido tempo para entender o porquê das leis tão injustas e, em sua maioria, inúteis, criadas somente para acobertar alguns esquemas.
E, naquele momento, lia boquiaberto um dos pergaminhos que parecia ter sido esquecido por ali, um acordo ilícito feito por Madara com o seu antigo companheiro de conselho. Ficou branco tentando entender como aquilo estava ali, junto a todos aqueles papéis, e ninguém achou. Foi em busca do novo rei, precisava compartilhar a informação com urgência.
— Rei Itachi, achei algo — falou, assim que avistou o Uchiha na sala de música, sentado ao piano. Caminhou até ele, entregando o pergaminho. Aguardou pacientemente que ele lesse, vendo as expressões incrédulas a cada linha percorrida com seus olhos. — Isso é prova de que seu pai...
— Estava tramando junto ao conselheiro da rainha Hinata. — Itachi suspirou, completando a frase e coçou a testa antes de dizer: — Obrigado, Inoichi, não sei o que faria sem você aqui. — O loiro fez uma pequena reverência e o Uchiha se levantou, indo em direção à porta.
— Majestade — chamou e o rei se virou —, posso pedir um favor? — Recebeu um aceno positivo e continuou: — Minha esposa e minha filha podem vir visitar? Já faz dois meses e...
— Mas é óbvio, mandarei os criados arrumarem um quarto para sua filha ao lado do seu.
— Muito obrigado, rei Itachi.
Itachi tinha acabado de acordar. Olhava pela janela o reino cercado pelas montanhas altas. Ao longe, podia ver o vilarejo principal, feiras precárias de quinquilharias que o povo achava nas minas. Não queria aquela vida para seus súditos, apesar da principal forma de trabalho no reino do Fogo ser o trabalho nas minas de estanho e pedras preciosas. Suspirou audível, era nítida a insatisfação no rosto do Uchiha, sempre quis que seu reino fosse mais como o da Lua. Olhou para baixo e viu uma carruagem se aproximando da entrada do castelo. Franziu o cenho, mas logo entendeu tudo.
Primeiro saiu uma mulher de longos cabelos castanhos e olhos verdes, usava um vestido pesado azul escuro e uma capa verde por cima. Viu Inoichi estender a mão para a mulher subir os degraus da entrada. Logo em seguida, viu apenas uma capa, com capuz, vermelho sangue por cima da mulher que descia, ignorando completamente a mão do soldado à sua direita para ajudá-la. Itachi nem ao menos piscava, olhava tudo atentamente. Viu a mulher puxar o capuz de sua cabeça, deixando os longos cabelos loiros à vista, era ela.
Ele terminou de se vestir e desceu para o café da manhã. Chegou até o salão principal de refeições, encontrando o casal e a filha sentados à mesa, e, assim que o viram, se levantaram para reverenciá-lo.
— Bom dia, alteza. O general Shisui permitiu que nós o esperássemos aqui.
— Bom dia. — Os olhos de Itachi correram pela mesa, focando na loira. Sentou-se na cabeceira e curvou os lábios. — Fizeram boa viagem?
— Sim, majestade. Obrigada — a senhora Yamanaka respondeu.
— Essa é minha esposa, Masumi, e essa é minha filha, Ino. — Apontou para cada uma ao falar seus nomes.
— Prazer em…
— Já nos conhecemos, papai — a loira interveio, mas logo ficou sem graça, olhando para o moreno. — Perdão, rei Itachi.
— Tudo bem. — Sorriu para a loira e direcionou sua atenção ao casal. — Dançamos no casamento da rainha Hinata e do rei Neji — explicou.
— Oh, você não falou que tinha dançado com um rei, minha filha. — As bochechas de Ino enrubesceram pela fala da mãe.
— Vamos comer, sim? — O Uchiha sorriu simpático, fazendo todos concordarem em silêncio.
Apenas os sons de talheres e sorrisos contidos do casal eram ouvidos. Longos momentos que Itachi imaginava o senhor conselheiro de Hinata querendo fugir para o quarto e matar devidamente a saudade de dois meses longe da própria esposa. Sorriu pequeno ao notar os olhos azuis rolando levemente enquanto observava seus pais.
Seria besteira negar que sentia certa nostalgia, embora seus pais não fossem apaixonados como os Yamanaka’s pareciam ser, queria ter visto mais cenas como aquela em seu café da manhã. Infelizmente, Madara só amava a si mesmo e sentia orgulho de não ceder aos desejos de uma mulher. De certa forma, Itachi não deveria ver um amor como aquele como algo real e possível, mas via e simplesmente desejava aquilo para si.
— Onde está seu irmão, alteza? — Ino o observou por alguns instantes e estranhou a mudez do mais velho, sorrindo em seguida. — É algo secreto? Se sim, pode responder então onde não está seu irmão.
— Ah, Sasuke costuma treinar cedo com parte do exército. Faz rondas com os lobos pelas estradas desde antes do nascer do sol e possivelmente está atormentando um guarda ou serviçal que fez algo errado.
— Interessante…
— O que, senhorita? — Parou imediatamente de comer e viu nos lábios vermelhos um sorriso brincalhão.
— O senhor tão pacífico e seu irmão tão diferente. São filhos da mesma mulher?
Nem ele saberia dizer com precisão se Madara havia tido ou não a indecência de trair sua mãe. Mal lembrava da mulher, pois, assim que deixou o seio da rainha, foi cuidado pelo pai, que não o queria perto da fraqueza da mãe. Itachi não soube responder à pergunta da loira, então apenas sorriu, negando. Suavizou a expressão incrédula e respondeu:
— Até onde sei, sim, mas nossos pais eram diferentes também. — Deu de ombros. — É normal que cada um tenha puxado um lado.
— Eu li coisas… — Ino parou no instante que o olhar escuro mirou o seu. — Coisas sobre os feitos de seu pai.
— Não posso negar que Madara pôs seu nome na história.
— Não de uma forma que dê orgulho… — Quis tapar a própria boca ao deixar escapar aquilo. Olhou para o pai que se perdia em uma conversa sussurrada com sua mãe. Soltou o ar, aliviada por não ter sido ouvida, ao menos por ele. — Desculpe.
— Não está errada. — Sorriu, tentando relaxar a Yamanaka. Aquilo não era mentira, contudo não era também de bom tom jogar em sua cara. — Mas estou aqui para reescrever algumas coisas e colocar meu sobrenome do lado certo.
Mais uma vez o silêncio passou a reinar a mesa. Itachi estava agora levemente incomodado com o que disse à loira. Ele não sabia se conseguiria limpar do nome a sujeira que por muitos anos acompanhou o legado Uchiha. Estava mesmo pronto para carregar aquele fardo, ou apto? Seus pensamentos se encarregaram de fazer o moreno duvidar de tudo que em dois meses parecia tão certo. Já não tocava mais em seu prato e sua mente vagava por todos os planos que fazia antes de dormir. Estava certo em tentar algo diferente do que seu sangue foi capaz por tanto tempo?
— Senhor — a voz doce da Yamanaka soou para si —, há algo aqui que eu possa fazer até aqueles dois — os olhos azuis correram até os pais — conversarem?
— Algo? — Estranhou a pergunta.
— Sim, ou acha que vim para fazer parte da mobília?
— Ino… — Dessa vez, não teve tanta sorte, seu pai a escutou. — Peça desculpas para o rei Itachi agora mesmo!
— Desculpe, majestade. — Itachi pareceu ser o único a notar o tom e o olhar nem um pouco arrependidos sobre o que tinha falado. Ela era mesmo uma mulher… peculiar.
— Já agradeceu por não ser uma mulher hoje? — Sorriu da careta que tomou o belo rosto.
— Faço isso todos os dias, alteza.
— Creio que essa armadura não seja a mais confortável, mas isso — apertou a mão que pousava em sua barriga — é desumano.
— Não precisa usar, majestade. — Não precisava mesmo. As belas curvas eram naturais e nada que Hinata vestisse durante seu dia chegaria aos pés da beleza da morena.
— A moda, infelizmente, está acima de mim. — Sentou em sua cama para se acostumar com o aperto antes de sair. — O que uma jovem princesa de outro reino diria se me visse com um vestido velho? Sairia por aí, correndo como vento, boatos de que o nosso reino está mal economicamente. Poderiam nos atacar de surpresa pensando que não temos mais uma moeda forte, ou, quem sabe, pensar que aceitaremos qualquer proposta de negócios, fazendo outros concorrentes trazerem propostas também absurdas, nos fazendo aceitar a menos pior delas.
— A moda diz tudo isso?
— Infelizmente… — Levantou, se aproximando do moreno, que abriu a porta do quarto para que a rainha passasse. — Minha mãe vestia os mais belos vestidos e se portava como a mais perfeita rainha. Sem tirar o mérito de meu pai, claro. Faziam o par perfeito, demonstrando força e poder para qualquer um que ousasse pisar nesta terra. — Sorriu, olhando para trás.
— Gostaria de ter aulas sobre moda. Quem sabe ajude nas batalhas que poderemos travar. — Não evitou sorrir com a brincadeira, mas estava verdadeiramente mais admirado com o trabalho que Hinata empenhava.
— Aulas seriam interessantes, mas estou aqui usando a moda para evitar mais batalhas. — Virou-se para ele, interrompendo o caminho até a sala de jantar, onde o café da manhã seria servido. — Não me custa muito perder um pouco de ar para manter meu reino em paz e feliz.
Após a refeição, Hinata queria fazer um passeio pelo reino, afinal, era importante estar sempre presente e ver seus súditos, isso fazia parte de ser uma ótima líder. Neji deu a mão para a Hyuuga subir na carruagem e, quando ela estava confortável, deu a volta e subiu do outro lado. Deu sinal para o boleeiro¹ para que pudesse ir. Foram aos poucos, deixando a propriedade do castelo. Além do Otsutsuki, quatro guardas reais a cavalo faziam a segurança da rainha. Conforme a grande carruagem branca com detalhes em dourado passava pelas ruas, os súditos acenavam e sorriam para Hinata. Todos a adoravam. Ela retribuía, ficava feliz de ver as pessoas trabalhando, vivendo uma vida digna e saudável em seu reino, onde ninguém passava fome ou dificuldades.
Andaram por toda a cidade e, ao chegar ao final do vilarejo, Neji deu ordem para que o criado voltasse ao castelo. No caminho de volta, a Hyuuga pareceu pensativa. Olhava os campos de girassóis e respirava fundo, puxando o ar puro para seus pulmões. O sol estava aquecendo a sua pele e aquilo estava tão bom que, por um momento, esqueceu de tudo, todos os seus deveres e preocupações. Virou, mirando o seu guarda pessoal, que estava sentado à sua frente. O moreno franziu o cenho, confuso com a expressão que ela fazia em seu rosto.
— Está tudo bem, majestade? — perguntou preocupado.
— Você já pensou em ser outra pessoa, Neji? — Tudo que ele conseguiu pensar foi que sua alteza sempre o fazia perguntas inusitadas, o deixando sem palavras, e ele gostava disso, apenas ela conseguia tal feito; era instigante.
— Como assim, alteza?
— Talvez ser da plebe para não ter tantos deveres, ou ser como um mero criado para não ter que tomar decisões tão importantes.
— Está cansada de ser rainha?
— Jamais estarei cansada de exercer o meu dever. É uma honra para mim dar continuidade ao legado que meu pai me deixou, mas me pergunto se eu fosse outra pessoa, quem eu seria e qual a liberdade que teria. — O moreno a encarou perplexo com seus questionamentos. Por qual motivo ela estaria pensando nisso?
— Chegamos, vossa alteza — um dos guardas a cavalo avisou. Neji desceu, deu a volta na carruagem e ajudou a rainha a descer.
— Obrigada, Neji.
— Estou fazendo a minha obrigação, majestade.
Hinata curvou levemente os lábios e seguiu a passos lentos até a entrada do castelo. Esperou a porta ser aberta pelos guardas e entrou, seguida de Neji, que recebeu a ordem de ir tirar a armadura, afinal, ele não a usava dentro do castelo. A Hyuuga foi até a sala de jantar, onde estaria segura com os outros guardas reais. Enquanto o Otsutsuki não voltava, almoçou, e assim que tinha sua companhia de todos os dias a postos, seguiu para a sua aula de etiqueta, uma das que ela mais odiava. A tarde passou rápida. Após o jantar, dispensou suas criadas. Hinata seguiu a passos lentos até a biblioteca, queria ler algum livro, pois estava sem sono. Sentou-se em uma das poltronas e se pôs a se entreter com a história escrita nas folhas amareladas.
Neji estava em pé ao lado da porta, apenas esperando ser liberado, afinal, não podia deixar a sua rainha sozinha enquanto não se recolhesse aos seus aposentos. O moreno encarava o rosto pálido concentrado na leitura. Hinata era linda de todas as formas, a boca carnuda entreaberta, respirando de forma calma. Às vezes, ela respirava fundo, ou se mexia incomodada quando acontecia algo mais emocionante na história. A rainha de repente mirou os olhos claros do mais alto e fechou o livro, deixando um dedo na página em que estava.
— Sente-se.
— Estou cumprindo minha obrigação, majestade.
— Não me sinto bem com você em pé todo esse tempo, por favor. — Ela apontou para a poltrona à sua frente.
— Mas eu…
— É uma ordem, Neji — ela o cortou, fazendo com que o moreno obedecesse e sentasse.
A morena abriu o livro novamente e seguiu a sua leitura. Estava sentindo os olhos claros sobre ela e estava gostando da sensação. Queria tê-lo mais perto, sentir o seu cheiro e quem sabe os lábios nos seus. Neji percebeu que Hinata estava há muito tempo na mesma página e franziu o cenho, mas, antes que ele pudesse perguntar se havia algo de errado, ela fechou o livro e se levantou, o que fez com que o seu guarda fizesse o mesmo. Ele a seguiu entre as grandes estantes cheias de livros que haviam na biblioteca, e, por mais que tivesse sonhado com algum dia olhar para ela tão de perto, não imaginou que conseguiria.
A Hyuuga virou de supetão, ficando frente a frente com o moreno. Ele arregalou os olhos em surpresa e, por mais que devesse recuar, não conseguiu. Suas pernas paralisaram, os olhos perolados não se deixavam. O peito de Hinata subia e descia com velocidade, ela estava nervosa, mas era um nervoso que acendia a sua alma. Ela deu mais um passo em direção ao mais velho, e Neji sentiu um calafrio correr pelo seu corpo. Até onde ela iria? Ele precisava sair dali, em respeito à sua rainha, contudo, seu corpo queria aquilo, por mais que a sua razão berrasse para que impedisse que algo mais acontecesse.
— Majestade? — Ouviram uma voz masculina no escritório da rainha.
Hinata virou o corpo de Neji e o encostou na estante atrás dele. Colocou o dedo indicador nos lábios com um pedido de silêncio mudo e virou a cabeça em direção à saleta da biblioteca. Não demorou para ouvirem passos e em seguida a porta se fechando. Hinata respirou aliviada e o Otsutsuki estava estático, sentia o cheiro de jasmim inebriar completamente os seus sentidos. A Hyuuga virou para ele novamente e subiu os olhos até encontrar os do moreno. Ela se levantou, se apoiando nele, ficando na ponta dos pés, encurtando cada vez mais a distância entre os lábios, que não tardaram a se encontrar. Sentiu cada célula do seu corpo vibrar com a carícia que nunca tinha experimentado. Ela fechou os olhos, aproveitando o momento e ele fez o mesmo. Sentia o calor que emanava dela, seu perfume, suas mãos em seu peito e a pele de Hinata roçando na sua. Tudo isso o deixou completamente extasiado.
Após o primeiro beijo da sua vida, correu para o seu quarto, deixando Neji um tanto desconcertado. Nenhum dos dois soube como reagir, a Hyuuga fez o que lhe deu vontade e o Otsutsuki apenas acatou, pois seu corpo não pedia por algo diferente daquilo. Caso tivesse sido um sonho, Hinata não queria acordar, pensava ela, já deitada em sua cama. Abraçou o travesseiro ao seu lado e tocou os seus lábios com as pontas dos dedos, o que fez com que sentisse algo novo em seu peito e adormeceu assim, pensando nele.
Hinata acordou com uma criada a chamando para a sua reunião com o conselho. Havia pego no sono com seu vestido e seu corpo estava todo marcado do espartilho que usava. Trocou para um vestido mais confortável e seguiu para os seus afazeres. Já na sala matinal, onde fazia seu desjejum, perguntou para um dos guardas onde estava o Otsutsuki. O homem respondeu que ele tinha saído bem cedo para resolver alguns assuntos e que voltaria para a reunião. A Hyuuga começou a se sentir culpada. Será que ele tinha a correspondido só por ser a sua rainha e se viu na obrigação de acatar os seus desejos? Não, ela não poderia estar enganada, ela viu o jeito que ele a olhou, contudo, ainda se questionava, pois não sabia nada sobre a relação entre um homem e uma mulher.
Um dos guardas a acompanhou até a sala de reuniões e, ao entrar, seus olhos foram direto ao seu guarda pessoal, que estava sentado em sua cadeira de costume, ao lado da sua própria. Todos levantaram para receber a rainha e se sentaram quando ela tomou o seu lugar. Começaram as discussões sobre os assuntos de praxe que tinham toda semana, Hinata mal conseguia prestar atenção, ainda sentia um certo nervosismo por ter feito o que tinha feito, e Neji não estava diferente. Caso alguém soubesse que tinha beijado a sua rainha, poderia até ser mandado à guilhotina por tirar proveito da sua posição, pois seria isso que iriam pensar, afinal, que rainha em sã consciência beijaria um comandante da guarda real?
— Está de acordo, minha rainha? — a voz do meistre ressoou na saleta, fazendo Hinata acordar de seus devaneios.
— Desculpe, você poderia repetir? — Neji, percebendo a expressão confusa da rainha, se prontificou a perguntar.
— O baile está previsto para o fim da semana — o velho Sarutobi repetiu.
— Claro, estou de acordo. — Após a resposta da rainha, a reunião se deu por finalizada, deixando apenas Hinata e Neji na sala. A Hyuuga respirou fundo e quando ia falar…
— Vamos, majestade. Você tem afazeres agora à tarde. — Neji passou por ela e ficou a esperando no corredor.
Saiu acompanhada de Neji em silêncio, começando sua caminhada até o próximo local do castelo. Ela entendia que, para o reino funcionar perfeitamente, precisavam de sua rainha disposta e atenta, mas haviam coisas que ela não poderia resolver naquele dia. O Sarutobi ainda estava com aquela ideia absurda de casá-la. Caso fosse um homem, não precisaria de tal matrimônio para mostrar suas habilidades em liderar, seu pai bem avisou que isso era algo que seu cargo não poderia evitar.
Como com as suas vestes, um homem ao seu lado para reinar também era apropriado para Hinata. Uma boa monarca infelizmente não era aquela que sabia agir, pensar e ter uma educação perfeita, era aquela que agarrava o melhor pretendente e segurasse um casamento infeliz por longos anos. Filhos, bailes para que os dois esfreguem na cara dos convidados que um laçaram um ao outro, e os antigos pretendentes sentissem inveja, achando mesmo que havia felicidade ali, desejando voltar no tempo e fazer algo diferente para conquistá-la.
— Me lembre, por favor, de chamar alguém para providenciar um novo vestido? — Interrompeu sua mente antes de enlouquecer. Neji apenas acenou. — Algo aconteceu para que sua rainha mereça este silêncio?
— Estou com alguns compromissos marcados para agora, majestade. Receio que outro guarda terá que acompanhá-la, caso não haja problemas.
Havia, mas qual justificativa usaria para mantê-lo a seu lado?
— Não há — respondeu.
Viu a referência apressada assim que chegou à porta da biblioteca e assistiu o homem caminhar até perdê-lo de vista.
¹BOLEEIRO — Aquele que dirige os cavalos de carruagem ou outro veículo hipomóvel.
— Majestade, bom dia, Neji está em outra tarefa hoje — o soldado da guarda disse rapidamente após a mensura, abrindo a porta para sua rainha.
— Muito obrigada. — Saiu, dando as costas ao quarto.
Não entendeu o afastamento do Otsutsuki e até se sentiu culpada por isso. Imaginou que o motivo para o sumiço de seu fiel guarda real era a sua falta de decoro na biblioteca. A reunião com o conselho, onde ele estava aéreo, foi o segundo aviso de que algo estaria ligeiramente errado, e a falta do moreno pela segunda manhã consecutiva dava a certeza de que Hinata havia ido longe demais.
Neji era um homem honrado e de moral impecável. Nunca ouvira rumores sobre mulheres nos aposentos do moreno, como de tantos outros guardas que não levavam tão a sério o voto de fidelidade à coroa. Não podiam procriar nem manter esposas, eram seus soldados, sem vínculos, sem legado; somente a dedicação total e suas vidas para que o reino e a rainha se mantivessem à altura de outros tantos que os rodeavam. Poder é poder, e a servidão cega aos ideais de seus antepassados.
Pareceu pedir demais que um homem tão bom e de coração tão leal abrisse mão de tudo isso para ser o que quer que Hinata pensasse. Ela não tentou confundi-lo ou usá-lo, somente deu voz ao desejo que sentia, e se ele se sentiu pressionado, e se não sentiu o mesmo e resolveu sumir para que não fosse grosseiro com a Hyuuga? Ela nunca pensaria em puni-lo caso não fosse correspondida. Será que ele tinha tais pensamentos?
Sentou-se na grande mesa posta com tudo que aquela terra abençoada produzia de melhor, mas faltava algo. Olhou para sua direita e viu que não era ele. Haru estava calmo como Neji, silencioso e muito solícito, contudo, não era ele. Não o via há três dias e os preparativos do baile consumiam seu tempo, a impedindo de ir procurar por ele, mesmo que sua vontade fosse de largar aquele banquete e ir de uma vez perguntar se um beijo era o suficiente para deixá-lo tão distante e cheio de obrigações que de uma hora para outra só poderiam ser resolvidas por ele, mesmo que isso a estivesse consumindo, ela nada poderia fazer por enquanto. Seus deveres antes de seus quereres, seu pai lembrava.
Respirou fundo, derrotada, terminou de fazer a sua refeição e começou os seus deveres. Incumbiu serviçais a arrumarem o grande salão do jeito que ela queria, não se importava em agradar os reinos vizinhos que vinham apenas com o intuito de disputar a atenção da rainha em busca de um tratado político. Aquilo com certeza a irritava, estava apenas cumprindo uma formalidade, pois, como já havia se decidido, não casaria por um acordo e jamais abriria mão disso. Gostaria de ser que nem os seus pais, casaram-se por amor. Claro que o destino deu uma ajuda pela sua mãe ser a princesa do Reino da Nuvem, no entanto, ela não se importava com títulos.
Seguiu suas atividades e, ao entrar na biblioteca, deu de cara com os olhos perolados tão parecidos com os seus. Hinata chegou até a se assustar com a presença repentina de Neji, não costumava ter ele à sua frente e, sim, guardando suas costas, como Haru o fazia agora.
— Estou de saída, majestade. — O Otsutsuki mirou a porta, mas foi impedido pelo braço ereto da Hyuuga à sua frente.
— Haru, nos dê licença.
— Como queira, majestade. — O guarda se retirou, fechando a porta grossa de madeira, e Neji sentiu seu coração errar uma batida.
— Sente-se. — Hinata caminhou até sua poltrona atrás da grande mesa de madeira.
— Eu preciso resolver…
— Seja lá o que for, a sua rainha é mais importante, não? — a morena o cortou, já estava irritada com o seu comportamento, e o Otsutsuki sentiu isso na voz dela. Parou e deu meia volta, ficando em posição de respeito à frente da rainha, que já estava sentada. — Ótima escolha. Agora me diga o porquê de estar tão evasivo?
— E-eu só estou resolvendo algumas coisas para o baile, majestade. — Praguejou-se mentalmente por ter gaguejando. Merda, ele pensava. — Acredito que esteja tão ocupada quanto eu, peço perdão por não estar…
— Agora é a parte que eu ignoro o que falou e você me diz a verdade — Hinata o interrompeu mais uma vez. Do mesmo jeito que Neji a conhecia melhor do que ninguém, ela também sabia cada expressão e cada tom usado em sua voz. Ele apenas abaixou a cabeça e suspirou, não podia falar o que pensava nos últimos dias. — Vai me fazer esperar até quando, Neji? — A rainha levantou e bateu na mesa, o deixando surpreso. Ela estava frustrada, sentia o amargo tomar conta da sua boca ao ver que nem ao menos olhar para ela Neji conseguia. — Se quiser deixar de ser meu guarda pessoal, me avise por escrito. Saia.
— Não é isso, alteza. — Os olhos dele finalmente encontraram os seus.
— Então me dê uma explicação! — O guarda nunca a viu daquela forma e estava realmente surpreso com a sua reação. — Você está me evitando por causa do beijo? — Ele desviou o olhar ao chão. — O quê? Acha que eu iria obrigar você a fazer algo por ser a sua rainha? Você me ofende dessa maneira.
— Jamais pensei isso. — Neji estava em um impasse. Falava o verdadeiro motivo por ter se afastado e corria o risco de acabar com sua cabeça rolando à frente da guilhotina, ou apenas dava uma desculpa que provavelmente a deixaria ainda mais irritada? — Nós… não podemos, majestade.
— Dispensado. — Ela se jogou na cadeira, cansada, assim que ele cruzou a porta. O que ele queria dizer com isso? Não podem o quê? Ele a queria tanto quanto ela o queria, por isso estava a evitando? O baile de amanhã seria uma ótima oportunidade para fazer um teste.
Hinata se apertava novamente na torturante rotina de se vestir para algo que não queria mesmo fazer. Dessa vez para uma ocasião que a única coisa que queria era o poder de sumir, como os magos dos livros que sua mãe lia quando era pequena e inocente. Não saberia dizer com certeza o que esperar de seus pretendentes e se sairia algo de todo aquele teatro bom o bastante para satisfazer o conselho e o velho Sarutobi.
Pecava mentalmente com a quantidade de xingamentos que conseguia pensar em um único segundo, voltados ao velho Hiruzen e alguns até para Neji, que só se afastou ainda mais depois da última conversa na biblioteca. A semana correu e, em um piscar de olhos, já estava pronta para uma guerra que não se lutava com espadas. Palavras eram suas armas e todo e qualquer movimento poderia colocá-la em uma posição desfavorável. Neji não era o maior de seus problemas, não naquela noite.
Respirou fundo quando sentiu o aperto incomodar seu estômago, aquela coisa foi puxada até o fim para dar um ar de mais saúde à rainha. Sentou em sua penteadeira, sentindo a leveza da seda vinho, perfeitamente cortada e ornada com fios dourados, dando um acabamento impecável ao que já era belo. A coroa pesada foi posta em sua cabeça, e ali, novamente, sentiu falta do Otsutsuki. Olhou para o espelho e finalmente notou que estava irresistível.
Daria início ao plano de saber o que seu guarda real queria de verdade. Sem o medo de falar com sua soberana, sem a pressão de estar perante sua superior. Só ele, ela e os sentimentos que confundiam ambos. Hoje, teria a certeza.
Parou na entrada do salão que seria a grande festa. Os guardas se colocaram em posição, um dos homens da guarda dentro do local chamou a atenção dos convidados, e o falatório animado, que podia ser ouvido anteriormente, foi tomado por um silêncio respeitoso.
— Sua alteza real, Hinata Hyuuga.
E assim as portas duplas foram abertas e a luz forte atingiu seus olhos. Hinata sorriu fraco apenas para saudar os visitantes. Caminhou sem pressa até o fundo do local bem decorado, chegando até seu trono, mas antes dela se sentar para começar a ouvir as ladainhas de homens querendo aumentar seu reino casando um de seus filhos mimados com ela, uniu as mãos cobertas pelas luvas brancas e começou seu discurso.
— Boa noite a todos. Muito bem-vindos ao baile de apresentação dos pretendentes a ter a minha mão. — Merecer, pensou. — Alguns de vocês já conheço por tratados, mas mesmo assim, peço que se façam novamente. Não por formalidade, mas para que nossos reinos não sejam mais desconhecidos.
Todos ouviram as palavras da Hyuuga com atenção, ela se sentou e então os representantes do primeiro reino fizeram-se presentes à sua frente. Hinata os olhava com atenção e carinho, gostaria de levantar para abraçá-los, mas tinha que manter a pose.
— Hashirama senju, rei do Reino das Folhas. — Reverenciou a rainha.
— Tsunade Senju, princesa e próxima sucessora do Reino das Folhas. — Fez o mesmo que seu pai, porém piscou para a amiga, recebendo um riso contido.
— É um prazer recebê-los em meu reino.
Hashirama estava ali apenas para presenciar quem seria escolhido, já que isso influenciava diretamente seus tratados com o Reino de Hinata. O reino da Lua sempre foi seu grande aliado, afinal, Hiashi era um grande amigo. O Senju admirava a força e a liderança da Hyuuga e gostaria que sua filha seguisse pelo mesmo caminho. Apresentados, saíram, dando lugar ao próximo. Hinata olhou com um certo desconforto e o Otsutsuki, que estava ao seu lado, percebeu. Pois, claro, após a discussão na biblioteca, Neji não deixaria de estar ao lado da sua rainha, cumprindo o seu dever. Lhe ofereceu uma taça de vinho, a qual a rainha pegou e deu um gole generoso discretamente.
— Madara Uchiha, rei do reino do Fogo. — Reverenciou a rainha com o sorriso presunçoso no rosto. Hinata odiava aquilo.
— Itachi Uchiha, primogênito e príncipe do reino do Fogo. — Também se abaixou em respeito. Itachi era bonito, a Hyuuga notava as nuances simpáticas que o moreno trazia consigo. Apesar do olhar amedrontador que todo Uchiha possuía, Itachi era o mais sereno de todos eles.
— Sasuke Uchiha, príncipe do reino do Fogo. — Esse a morena com certeza não gostaria de tê-lo, o sorriso convencido igual ao pai e os olhos tão aterrorizantes quanto os de Madara.
— É um prazer recebê-los. — Ela até tentou sorrir, mas o máximo que conseguiu foi um curvar de lábios. Os Uchihas nunca foram inimigos, mas com certeza nunca foram aliados, pensavam apenas em benefício próprio e passariam por cima de qualquer um que se colocasse em seu caminho. A Hyuuga não gostava disso. Saíram de sua frente e o próximo foi apresentado.
— Gaara No Sabaku, rei do Reino da Areia. — Curvou-se.
— Temari No Sabaku, princesa do Reino da Areia. — Fez o mesmo que o irmão mais novo, seguida do irmão do meio.
— Kankuru No Sabaku, príncipe do Reino da Areia.
Hinata os conhecia, não por serem um reino famoso, mas pela história que a família No Sabaku carregava. Quem deveria assumir o reino deveria ser Temari, já que era a mais velha, porém o Reino da Areia, como todos os outros, com exceção do das Folhas, tinha o pensamento arcaico que mulheres não podiam assumir o poder por serem muito… instáveis. Então, Kankuru deveria assumir, contudo, às vésperas da sua coroação, foi descoberto que ele era um bastardo. Gaara, o ruivo dos olhos verdes, cobiçado por metade das mulheres da alta classe, assumiu. Ele fazia um bom trabalho. Apesar da pouca idade, ele era inteligente e sempre consultava seus irmãos em qualquer decisão. Deixava claro que o reino era tão dele quanto deles. Hinata os admirava.
— Sejam bem-vindos. Creio que é a primeira vez que nos encontramos. É um prazer recebê-los em meu reino. — Sorriu, de certo queria um tratado com eles, mas não um que precisasse de casamento.
Por último, os Uzumaki's, que já haviam tentado a todo custo anos atrás prometer Hinata à Naruto, quando eram apenas crianças. Então ela esperava qualquer coisa do reino do Sol para tentar firmar esse casamento. O que eles não sabiam era que a Hyuuga o evitaria a todo custo. Os viu se aproximar e sorriu para o loiro. Ela sabia que ele era contra esse tipo de coisa, assim como ela, pelo pouco que conversaram em alguns eventos.
— Minato Uzumaki, rei do Reino do Sol.
— Kushina Uzumaki, rainha do Reino do Sol.
— Naruto Uzumaki, príncipe do Reino do Sol. — A família toda reverenciou a Hyuuga como todos os outros antes deles.
— Sejam bem-vindos. Espero que todos aproveitem o baile e bebam à vontade. — Pois era o que ela queria fazer. Aquele maldito circo armado pelo velho Hiruzen mal tinha começado e já estava lhe dando dor de cabeça. Virou o líquido carmim em sua taça e entregou a Neji em um pedido mudo por mais. Seria uma noite longa.
— Como você está, menina?
— Não sou mais uma menina, Hashirama. — A Hyuuga riu divertida.
— Eu sei, e isso me dói, pois quer dizer que a minha filha também não é mais uma. — Ele sorriu fraco, se lembrando das responsabilidades que vinham com a idade, ainda mais quando ele queria que ela assumisse seu lugar ao invés de casar novamente e ter um filho homem. — Seu pai estaria orgulhoso. — Hinata sorriu satisfeita e agradeceu, o adorava como se fosse seu tio e ouvir isso dele a aquecia o peito.
A Hyuuga seguiu de volta para a sua cadeira e pediu para que Neji trouxesse mais vinho. Bebeu algumas taças e apenas relaxou, olhando as pessoas dançarem, beberem, ou apenas conversarem em seu salão. Então viu o tímido Gaara se aproximar de si. Viu que seus olhos quase miravam o chão ao chamá-la para dançar, e então Hinata sorriu, aceitando. De certo, o ruivo contrastava com o cabelo azulado da rainha. Neji assistia tudo de longe, e, no momento que o No Sabaku sussurrou algo na orelha de Hinata, o Otsutsuki trincou os dentes. O que ele estava sentindo? Não podia deixar suas emoções o controlarem, e, com essa constatação, tentou se recompor.
Assim que a música acabou, Hinata chamou a atenção de todos, pedindo para que o guarda abrisse a sala de jantar. Então todos se direcionaram a ela e tomaram seus lugares que possuíam seus nomes sob o prato de porcelana. Neji esticou a mão para que a Hyuuga se apoiasse, ele a conduziu até a sala de jantar e, ao estar acomodada, deu início ao banquete. Todos se deliciaram com a comida excepcional que era servida, o Reino da Lua era conhecido pelas suas fartas colheitas e sua produção de tecido, mais especificamente a seda. Ao fim do jantar, os empregados retiraram as louças, o Otsutsuki conduziu sua rainha até o seu trono novamente, e então todos voltaram ao salão.
Seria educado esperar no mínimo umas duas horas antes de chamar a rainha para dançar, afinal, tinham acabado de fazer uma refeição. Então Itachi foi mais esperto, o gênio do clã Uchiha escolheu aquele momento, pois sabia que teria mais tempo com a Rainha. Aproximou-se de forma elegante e a chamou para uma volta no jardim. Hinata nem mesmo ligava o que faria com os pretendentes, queria apenas que aquela noite acabasse. Aceitou o convite e recebeu o olhar reprovador do seu guarda, que fez questão de dizer que os acompanhava de longe por questão de proteção.
Saíram os três pelo salão até sumir das vistas dos convidados, Hinata adorava caminhar pelo jardim e a companhia de Itachi estava agradável. Ele não parecia ser como os outros, não aparentava estar ali só para cumprir um dever, ele estava se divertindo, e isso a deixou animada. O Uchiha conversava abertamente sobre tudo com Hinata, e ela se sentia confortável com a sua presença, riu de algumas besteiras e isso fez Neji enrijecer todos os seus músculos. Respirou fundo, controlando as emoções que insistiam em deixá-lo de maneira irracional. Ao voltarem para o salão, Hinata viu a expressão descontente do seu guarda e então viu uma ótima oportunidade.
— Poderíamos dançar, não? — a Hyuuga propôs, e viu o semblante de Neji franzir ainda mais. Ela sorriu discretamente, poderia até estar sendo cruel, no entanto, queria sanar suas dúvidas.
— Claro, majestade. — Itachi a conduziu até a pista de dança como se exibisse um troféu, afinal, ela o tinha chamado para dançar e não o contrário. Seu ego masculino envaideceu.
Dançavam e conversavam como se já se conhecessem há tempos. Todos os pretendentes olharam como se já tivessem perdido a guerra sem nem ter finalizado a primeira batalha. O cortejo a uma rainha durava semanas, meses e às vezes até anos, e era com isso que Hinata contava. Ela distribuía sorrisos graciosos, e Itachi a rodopiava pelo salão, estavam realmente se divertindo. Neji fechou os punhos e mordeu o lábio, sentiu seu corpo esquentar pela raiva repentina, e então viu Tsunade se aproximar, sorrindo de um jeito que não o deixou muito contente. Ela o chamou para dançar e ficou indeciso se deveria aceitar, afinal, apesar de todos do reino da Folha serem amigos, ele era apenas o comandante da guarda real, mas ainda com um título alto, afinal, era um membro do conselho.
— Vamos, Neji, não tenho a noite toda. — A loira revirou os olhos, impaciente. O outro aceitou e a conduziu até o meio do salão. — Você está bem?
— Sim, por que a pergunta? — Arqueou a sobrancelha.
— Só percebi você meio… tenso, mais do que o normal. — Ela deu um sorriso confiante. — Sabe, acho que às vezes devemos esquecer de títulos
— Como? — ele perguntou confuso.
— Eu perdi alguém que amava, sabe? Nunca pude ficar com ele porque era da plebe. Acho isso tão injusto, não quero me casar por um mero tratado e acho que a Hina pensa o mesmo que eu.
— Se você pensa assim. — Nesse meio tempo, Neji viu a mão de Itachi descer para a cintura da Hyuuga, fazendo com que, em um espasmo, ele puxasse Tsunade para mais perto de si. — Me desculpe. — Afastou-se, mantendo uma distância respeitosa.
— Está tudo bem, Neji. Não esconda dela, apenas diga o que sente. — A música acabou naquele momento, e então Tsunade saiu, o deixando perplexo no meio do salão. Estava tão na cara assim? Ele pensou.
Depois daquele momento com a Senju, o comandante da guarda real se viu completamente desarmado e nem mesmo lutando estava. Voltou ao seu posto ao lado do trono da sua rainha, que logo voltou ao seu lugar. Deu uma olhada para Neji e fez sinal que se aproximasse, falando que queria mais vinho e que em breve encerraria aquilo, afinal, só faltava um para que concedesse a dança, e por mais que quisesse muito encerrar aquele circo, queria ser cordial com todos. O moreno levou a taça que fora pedida e em seguida se abaixou para lhe falar.
— Não acha que já bebeu o suficiente?
— Está querendo me controlar, Neji?
— Não, alteza, nunca faria isso. Foi só um comentário, já que até com um Uchiha você se divertiu. — O ponto que ela queria acertar. Hinata bebeu um pouco do líquido e sorriu satisfeita.
Sasuke Uchiha, ao contrário do irmão, não era elegante e simpático como ele, mas Hinata cedeu a dança. Nunca pediu tanto mentalmente para uma dança acabar. Sasuke também era bonito, lembrava Itachi, no entanto era mal humorado demais. Finalizada a dança e a música, Hinata quis se recolher. Obviamente, seus convidados dos reinos vizinhos seriam acolhidos na ala para convidados do castelo. Avisou a Neji que queria ir para o quarto, e ele se sentiu aliviado, poderia ir para o seu quarto e socar o travesseiro para extravasar a raiva que sentiu durante todo o baile. Era o máximo que poderia fazer naquela hora da noite, contudo, tinha um objetivo no dia seguinte, sair para treinar com seus soldados, talvez melhorasse seu humor. Caminhou pelos corredores, acompanhando Hinata até os seus aposentos, e então deu boa noite.
— Preciso de ajuda. — O moreno sentiu um calafrio correr pelo seu corpo, ao escutar a voz doce, quando já estava de costas. — Poderia entrar?
— Claro, majestade. — Abriu a porta para ela passar e se pôs para dentro, fechando a porta atrás de si.
Conhecia aquele ritual de cor e salteado, a seguiu até a poltrona próxima da penteadeira. A viu se sentar, esperando que ele tirasse as suas joias e assim o fez. Começou pelas pulseiras, colares, brincos e, por fim, a coroa. Engoliu em seco quando a viu levantar, puxar os cabelos para frente e virar de costas para si. Começou a puxar as cordas que amarravam o espartilho, viu o vestido ir cedendo, pouco a pouco, e fechou os olhos, respirando fundo. Ele rezava para todos os Deuses que lhe dessem forças. Caso ela tentasse algo, não se seguraria, não depois de sentir a raiva de ter todos aqueles homens em cima dela como abutres a vendo apenas como um acordo comercial.
O pior de tudo era que ele sabia que aquilo era necessário, mas seu coração falava mais alto em certos momentos. Não podia mais negar para si, estava fugindo por um motivo bem específico e que o assustava bastante. Ele não estava em posição de se apaixonar pela rainha e nem podia, era totalmente fora das regras da sua conduta, ou das leis da monarquia. O que ele tinha na cabeça? Precisava recobrar sua razão e voltar a exercer o seu ofício. Viu por cima do ombro da Hyuuga que o vestido basicamente era segurado pelos bicos dos seus seios e se virou para lhe dar privacidade.
— Pode virar, Neji — Hinata disse suave, e então Neji se assustou ao vê-la completamente nua.
— Majestade! — alarmou-se e virou rapidamente.
— Me diga que não quer me beijar novamente, me diga que não quer nada comigo e esquecemos de qualquer coisa que tenha acontecido. — O peito do Otsutsuki subia e descia em tamanho nervosismo que corria pelas suas veias. Sentia o seu coração socar sua caixa torácica e então, em um momento de lucidez, a voz de Tsunade ecoou por sua mente.
"Não esconda nada dela, apenas diga o que sente." Ele podia?
— Estou apaixonado por você, minha rainha — disse, de uma vez, ainda de costas, deixando Hinata completamente surpresa. — Talvez seja melhor trocar de guarda pessoal. — A mais nova franziu o cenho e o puxou pelo pulso para virar ele para si, que fechou os olhos no mesmo instante.
— Você está louco? — Neji engoliu em seco e a Hyuuga se aproveitou da sua falta de visão, ficou nas pontas dos pés e o beijou, sentiu os lábios quentes tocarem os seus e aquilo a aqueceu por completo. Agarrou a nuca do moreno e instintivamente entreabriu a boca, sentindo a língua macia circular a sua, a pele arrepiou inteira com o toque e seu coração bateu mais forte. Estavam em uma aura completamente deles, não pensavam em mais nada além da sensação de ter um ao outro. Quando o mais alto levou a mão à cintura de Hinata, percebendo, ou melhor, lembrando que ela estava nua, ele parou imediatamente.
— Majestade…
— Por Deus, Neji, me chame de Hinata — ela o cortou impaciente e voltou a beijá-lo.
O outro agarrou o quadril farto e sentiu as pernas dela enrolarem em si. Sua mente nublou completamente, suas mãos passeavam pelas costas desnudas, enquanto viajava naquele beijo envolvente. Desceu beijos pelo pescoço, colo. Caminhou até a cama, a colocando deitada, e se perdeu ao ver o rosto corado, os dentes mordendo o lábio inferior e o corpo escultural que Hinata possuía. Sua respiração estava pesada, ele realmente faria aquilo? Pelo que ele sabia, ela era virgem, e se ele fizesse o que estava prestes a fazer, seria um problema para ela se casar.
— Neji, vem… — Hinata deslizou a mão pelo próprio corpo de maneira sensual até chegar a sua intimidade, o barulho indecente que se seguiu revelou que ela estava completamente molhada e isso fez Neji jogar o resto da razão pela janela. A atacou como um leão ataca uma gazela. Beijou seus seios antes de lamber seus mamilos e os mordiscar de leve, ouvindo gemidos deixarem a boca dela. Desceu mais e beijou toda a extensão da sua barriga, chegando ao topo de vênus. Lambeu dali até a sua entrada, sem deixar de olhar em seus olhos. Hinata estava extremamente excitada, jamais tinha sentido tanto prazer em toda sua vida.
O moreno chupou seu clitóris inchado e o sentia vibrar na ponta da sua língua. Hinata era doce, e o seu cheiro de jasmim o deixava à mercê do seu tesão. Ao penetrar dois dedos na entrada molhada da Hyuuga, Neji sentiu o interior apertar seus dedos, seu ápice estava próximo. Continuou as estocadas, e ela gemia cada vez mais alto, puxando os lençóis de seda da sua cama, aquilo a estava enlouquecendo. Afundou as mãos entre os cabelos longos do Otsutsuki, gemendo o seu nome quando explodiu em sua boca. Ao perceber que ela se recuperara, se ajoelhou na cama, a encarou e uniu forças para buscar sua sanidade.
— Tem certeza disso? — perguntou receoso.
— Você está falando isso por causa da dor?
— Estou falando por causa de um casamento iminente.
— É sério, Neji? — Hinata ergueu-se, se apoiando nos cotovelos para olhá-lo incrédula. — Por que você está falando disso agora?
— Por que é o meu trabalho, alte… Hi-hinata. — Ela odiou. Ficou irritada por ele falar de trabalho ou de deveres em uma hora daquelas, no entanto, sorriu, pois ele tinha a chamado pelo nome pela primeira vez.
— Me ame, Neji. Me ame agora. — Ele apenas assentiu, levantou e tirou as roupas. A Hyuuga admirava o corpo esguio, mas bem definido devido aos anos de treinamento. Mordeu o lábio com a visão e viu ele se ajoelhar na cama novamente, se colocando entre as pernas dela.
— Vai doer um pouco… — Ela maneou a cabeça e segurou os ombros do maior. Neji pincelou seu pênis na entrada dela, o qual não teve nenhuma dificuldade para deslizar para dentro. Conforme ia entrando, sentia as unhas de Hinata massacrarem seus ombros, mas a dor se misturava ao prazer que sentia ao entrar nela. Entrou todo e esperou para que ela se acostumasse com o seu tamanho. — Está tudo bem?
— Sim — respondeu, em um fio de voz. Mantinha os olhos fechados, confiava nele cegamente e sabia que ele faria o possível para que não sentisse tanta dor.
Ele começou a se movimentar devagar e, conforme ia percebendo a expressão da Hyuuga mudar, ele acelerava o movimento do seu quadril. Segurou as coxas dela e levantou para que envolvesse em sua cintura, daquela forma iria ficar mais confortável para ela. Não demorou muito para Hinata começar a gemer em alto e bom som, agradecia as paredes grossas de pedra e as portas de madeira maciça. Uniu-se a ela em gemidos melodiosos, o prazer transbordava para os dois e, ao sentir as paredes de Hinata o mastigarem, levou o dedão ao clitóris, a estimulando. Em pouco tempo, ela se desfez em um segundo orgasmo que a deixou vibrando, e em seguida Neji se retirou dela e gozou. O moreno caiu ao lado dela na cama e a admirou, achando a mulher mais linda do mundo, inalcançável, porém a realidade era que só tinha olhos para ela.
Sentia-se o homem mais sortudo do mundo e ao mesmo tempo o mais azarado. Não poderia dar certo em hipótese alguma, e se arrependeu por ter ouvido Tsunade. Ele colocou sozinho, em uma noite, duas pessoas em risco e não se perdoaria caso alguém descobrisse e quisesse se voltar contra a sua rainha, mas o sorriso que não abandonava seu rosto ao lembrar dela, da noite, dos toques, o cheiro… céus, sua rainha era perfeita; sua Hinata era perfeita.
Tratou de se vestir para começar o seu dia de guarda. Passaria as horas ao lado dela, sentindo novamente a proximidade que na noite passada era imensa, ficaria de olho nos pretendentes e aproveitaria um pouco mais de sua companhia. Já pronto, seguiu para o quarto de Hinata e, ao entrar, viu a movimentação de criadas para todos os lados. Hoje seria um dia longo, os convidados tomariam o desjejum com a rainha e seguiriam o rumo para suas próprias terras — sorte a sua —, mas haveria o lado amargo que sempre acompanharia a vida de Neji. As propostas também seriam deixadas com o pequeno conselho que leria cada uma delas e escolheria o melhor partido para sua Rainha.
— Azar o meu — sussurrou, notando a aproximação da Hyuuga. Abriu a porta e fez sua reverência quando sua majestade passou.
Hinata passou à sua frente e seguiu para o local onde aconteceria sua execução, ou o café matinal de despedida dos seus ilustres convidados. Assim que entrou pelas portas, todos os presentes se levantaram, reverenciando a rainha. Sorriu contida para alguns e pediu para que se sentassem. Estranhamente, Itachi estava ao seu lado, e Tsunade Senju do outro, ao lado delas, de pé, um Neji um pouco diferente do normal.
— Bom dia, Tsu, dormiu bem? Espero que seus aposentos tenham a agradado. — A única ali com quem poderia ser ela mesma, tirando Neji, claro. Tinham anos de amizade e a distância não mudava nada entre as duas herdeiras.
— Dormi muito bem, Hina. Como sempre, me sinto em casa quando venho te visitar.
— Então é um dom seu, nos fazer sentir em casa? — O Uchiha era charmoso e curioso de uma forma agradável.
— Temo que seja culpa de minha mãe, senhor Uchiha.
— Itachi, ou, se quiser, me chame de Ita, majestade. — Pegou a mão da morena, deixando um beijo nas costas. Neji revirou os olhos automaticamente e foi pego pela Senju, que acabou tossindo na xícara de chá que bebia, chamando a atenção de todos.
— Desculpem meu descuido. — Tsunade queria rir como nunca riu na vida. Estava na cara do moreno que ele queria matar o Uchiha ali mesmo na mesa. Seu tio Tobirama o agradeceria mais tarde.
Hinata retirou sua mão das do moreno, agradecendo o cumprimento com um sorriso pequeno. Itachi era um cavalheiro e seria o rei perfeito ao seu lado, caso seu coração já não tivesse dono. Sorriu para a amiga, continuando os assuntos de sempre. Treinos, aulas, tratados e os velhos do conselho. Havia muitas coisas em comum; ser herdeira e mulher, em um mundo de homens velhos, de pensamentos ultrapassados e toda a história de legado, nome, futuro e herdeiros.
— Território! — Riram em seguida, lembrando de uma piada interna entre as duas. Toda vez que não soubessem o que expandir ou houvesse dúvidas para onde focar seus esforços, aprenderam que terras nunca são demais.
— Desculpe atrapalhar a reunião, mas, criança... — Madara falava com uma arrogância irritante. Chamá-la de criança em seu próprio reino era um absurdo, mas sempre tinha a desculpa de ser um velho retrógrado. — Temos uma proposta para você. Pense com carinho na força que possuímos, seria benéfico para ambos. Temos que ir, garotos.
Sasuke se levantou junto a ele, passando pela Hyuuga, a cumprimentando, por último Itachi, que beijou sua mão e saiu, seguindo seus familiares.
— Espero que não aceite, meu tio ficaria uma fera. — Tsunade olhou para o pai, que estava entretido com outro convidado. — Se bem acho, houve uma proposta ontem…
— Eu não soube… — Hinata apertou a mão sobre a mesa.
— Como não soube? Eu mesma falei com ele. — Neji arregalou os olhos ao entender.
— Falou? Eu não entendi, Tsu…
A Senju se aproximou da orelha da Hyuuga e disse baixo, mesmo sabendo que o Otsutsuki escutaria.
— Neji não fez uma proposta ontem? Espero que seja bem generosa… — O olhou de cima a baixo, com um sorriso sugestivo. — É, parece bem generoso…
Hinata pôs sua mão na boca, tapando o grito que queria sair. Tsunade sabia…
— Como?
— Te explico depois…
— Tsunade, agora.
— Vou ficar mais dois dias. Teremos muito para conversar, Hyuuga. — Olhou novamente para Neji, que já estava pensando em uma rota de fuga para sair debaixo do olhar cheio de duplo sentido da loira. — Guarde um pouco para mais tarde.
— Senhor… — Hinata olhou para o céu, pedindo que alguma intervenção divina a salvasse da amiga.
— Me agradeça depois. Estou tendo aulas com alguns curandeiros de outros reinos, faremos algo para evitar…
— Evitar?
— Herdeiros, Hinata. Ainda não acordou? — Poderia ser alguns meses mais velha que a rainha, mas sabia bem mais que ela, sem dúvidas. — Não quer que o reino saiba, não é?
Após a longa fila de agradecimentos de seus convidados, Hinata teve tempo um pouco antes do almoço ser servido e chamou Tsunade para as suas usuais voltas pelo jardim do palácio. Faziam aquilo para conversar com privacidade, sem nenhum serviçal por perto. Neji era o único que as seguia, e, mesmo assim, a uma distância a qual não conseguiria ouvir suas conversas. Tsunade contava como ia o seu treinamento e estudos para assumir o lugar do seu pai dali há alguns anos, se empolgava contando sobre isso, afinal, tinha a chance de mostrar o seu valor ao seu reino. A Hyuuga ficava feliz de ver a amiga daquele jeito, com certeza dariam grandes bailes juntas e se divertiriam bastante.
— Mas agora me conte… como soube? — Hinata perguntou, em um tom baixo.
— Não precisei me preocupar em descobrir, a irritação estava estampada na cara de Neji. — Tsunade riu alto, escandalosa como sempre. A rainha gostava da espontaneidade da amiga. — Pela sua cara no café da manhã, aconteceu. Foi seu primeiro?
— Não seja indiscreta, Tsu. — A morena corou.
— Desde quando tem segredos comigo? — A Senju arqueou a sobrancelha. — Me conte logo, estou ficando nervosa.
— Sim — respondeu simplista.
— Sim o quê? Aconteceu ou foi o primeiro?
— Os dois, Tsu. — Ela revirou os olhos, e a loira riu, se aproximando e colocando o braço ao redor do pescoço da amiga.
— Foi bom?
— Tsunade! — Hinata ralhou com ela, que saiu correndo na frente, rindo do constrangimento dela.
Após a Senju explicar os chás que deveria tomar durante todo o período que não estivesse sangrando, entraram para o almoço. A refeição seria servida no solário, afinal, ela tinha visitas importantes. Hashirama e Tsunade eram sua segunda família, se sentia bem como nunca quando estava com eles. Sentaram na mesa, aguardando os criados os servirem e os deixarem a sós, deixando apenas Neji presente. As conversas e risadas corriam soltas, pareciam realmente família. Toda vez que vinham visitá-la, Hinata se enchia de alegria. O almoço teve fim após a sobremesa, e o Otsutsuki os deixou na sala de música aos cuidados de Haru, seu guarda de confiança, para então ir de encontro ao conselho.
Assim que entrou na sala escura, viu os homens de confiança do reino já sentados. Aquela reunião não requeria a presença da rainha, pois era sobre o destino dela que decidiriam, o que fazia Neji pensar o quanto aquilo era errado. Deixaria Hinata ter um bom dia para que a noite pudessem atacá-la com uma enxurrada de propostas, tratados e cartas íntimas de seus pretendentes. Só em pensar que estaria com ela quando a notícia sobre as decisões que tomariam ali chegasse até ela, sentia um gosto amargo na boca.
— Boa tarde a todos. — Hiruzen deu início. — Estamos reunidos para resolver o futuro de nosso amado reino.
— E do casamento da rainha. — Shikaku fez a observação ainda de olhos fechados e braços cruzados no peito.
— As duas são a mesma coisa — o velho ralhou.
— Não são, Hiruzen — o Nara continuou. — O que importa um reino grandioso e próspero quando a felicidade da rainha não faz parte de toda essa realidade?
— O senhor acha que não quero a felicidade de nossa rainha? Herdeiros são necessários para a continuidade…
— Acho que a última coisa em que está pensando é na felicidade de nossa rainha, Meistre Sarutobi. — Neji não via verdade alguma naquele senhor. Não via verdade em seus votos de felicidade à rainha, não via nem nos cumprimentos que trocava com ela.
Ele era o homem que Hinata deveria derrotar, dia após dia. Aquele pensamento sobre herdeiros e terras o dava nos nervos. Ela não era procriadora, muito menos moeda de troca para mais alguns quilômetros de terra. A Hyuuga era forte, e todos aqueles homens deveriam saber o que ela estava disposta a conquistar sozinha, sem um casamento vantajoso, com suas mãos, diariamente.
— Há um meio termo para tudo isso. — O Sarutobi tossiu, tentando acabar com as discussões sem fundamento que estavam tirando o foco da reunião. — Creio que o Uchiha mais novo não precisará ser colocado em pauta. Além de não herdar o legado de Madara, ele não demonstrou interesse genuíno em nossa soberana. Mesmo tendo um acordo vantajoso.
Neji segurou a vontade de socar o velho. Acordos, era tudo que importava no final.
— Naruto? — o Nara voltou a falar, desta vez abrindo seus olhos escuros.
— Minato não se mostrou assim tão solícito. Houve uma proposta de uma princesa de um reino menor e mais perto das terras do sol. — Hiruzen deixou os pergaminhos com o selo do sol em cima do de Sasuke.
— Entendo — Inoichi finalizou. São dois a menos, o Otsutsuki pensou.
— Os No Sabaku também apresentaram duas propostas, mas uma é da princesa. — Os homens franziram o cenho. — O rei Gaara em casamento e a princesa… — O velho apertou os olhos para ler. — Temari, quer aulas com nossa rainha, pois, pelo que aqui consta, pretende ter um cargo ao lado do irmão rei. Absurdo.
— Coloque-a na pilha que será enviada à rainha. — Neji achou uma ótima ideia Hinata dar aulas para uma princesa que seria bem utilizada em um reino. Seria um jeito de ter mais mulheres fortes em altos cargos; mudança.
— O que os senhores acham? — Os presentes concordaram mudo e o Meistre teve que colocar o pergaminho do lado oposto aos de Naruto e Sasuke. Mesmo revirando os olhos, ele deveria aceitar. — O irmão também vai para a pilha de propostas pré-aceitas.
Neji respirou fundo ao ouvir tais palavras.
— Pelo que conheço, o senhor deixou o que mais lhe satisfaz por último, e, pelas minhas contas… — o Aburame considerou.
— Uchiha Itachi — Inochi Yamanaka terminou.
— Este belo jovem tem um acordo irrecusável. — Ou seja, o velho vai forçar até Hinata aceitar, pensou Neji. — Teremos grande parte da colheita do reino do Fogo, dois castelos na divisa de reinos, e o segundo herdeiro será nosso futuro governante. Eles só fazem questão do primeiro menino que nascer para que assuma a coroa do Fogo. Acho um acordo perfeito para o nosso reino.
Hinata não foi levada em consideração em nenhum momento da fala do velho, e isso Neji não poderia perdoar.
— E o que aconteceu no baile? — Inoichi pergunta.
— Eles conversaram e dançaram juntos, a rainha se agradou da presença do Uchiha. Melhor que Neji nos conte, não saiu do lado dos dois. — O velho sorriu debochado para o chefe da guarda real.
— Foi como disse... se deram bem e conversaram — terminou, com um bolo pesado na garganta. Teria de pensar no melhor para Hinata e infelizmente o Uchiha parecia realmente ser a solução mais plausível.
— A felicidade da rainha, um bom casamento e um bom tratado. Eu não poderia estar mais feliz. — Falso, Neji pensou. O velho colocou a proposta do Uchiha junto às cartas dos No Sabaku e continuou a reunião.
Nada daquilo faria Hinata feliz, ele sabia, mas estar entre tantas regras e em um cargo alto cobraria dela em algum momento. O pior deles seria agora, quando os dois se deixaram levar e estavam presos a este sentimento. Mesmo que não fosse nada real, ele não abandonaria a Hyuuga, mesmo que isso o matasse dia após dia, a vendo dormir, acordar e passar o seu dia com outro homem que não fosse ele. Finalmente, a reunião maçante tinha terminado, entretanto, agora viria a pior parte.
— Com licença, majestade. Preciso que me acompanhe para decidirmos aquelas questões. — Entrou na sala, atraindo os olhares dos Senju e da própria rainha.
— Se me dão licença, creio que volto em breve. — A Hyuuga piscou para Tsunade, que sorriu.
Caminharam até a biblioteca em silêncio. Neji sentia seu corpo inteiro rígido, como se estivesse se preparando para uma guerra. Segurava os papéis em sua mão com força, queria os jogar na fogueira, os queimar até virarem cinzas, no entanto, sua razão sempre o trazia de volta. Sua rainha precisava de um rei e contra esse fato não havia argumentos. Abriu a porta. a assistindo passar, e se pôs para dentro. Viu ela sentar calmamente na cadeira atrás da mesa e engoliu em seco, dando alguns passos para então colocar as cartas em cima da mesa.
— As cartas que foram pré-aprovadas pelo conselho, majestade.
— Você quis dizer os acordos aprovados pelo velho retrógrado. — Soltou uma risada anasalada, sem o mínimo de humor.
Pegou a primeira e a analisou com cautela. Neji franziu o cenho quando a viu sorrir animada.
— Diga para o reino da Areia que quero a Temari aqui. Ela vai morar comigo enquanto estiver dando aulas para ela. — O Otsutsuki então entendeu a felicidade dela e sorriu de canto, sabia que sua rainha adoraria a ideia. — A proposta do Gaara não é de todo mal… Ele também é bonito, apesar de ser calado. — Hinata viu Neji trincando o maxilar e se divertiu com a cena. — Algum problema? — O olhou de soslaio.
— Nenhum, alteza. — Hinata soltou o pergaminho e deu a volta na mesa, parou bem em frente ao Otsutsuki e sorriu.
— Você acha mesmo que considero algum deles?
— Você precisa, majestade.
— Não, eu não preciso de ninguém. Perdi meu pai, assumi o reino com 19 anos e aqui estou eu, liderando um reino próspero. Não preciso de um rei para me dizer o que fazer com o meu reino. — Sentou-se novamente e pegou o próximo pergaminho.
— Uchiha Itachi, o mais considerado pelo conselho — Neji falou com cautela, ele precisava separar suas emoções do seu dever como conselheiro e guarda pessoal.
— Realmente, entendo o porquê. Ótima proposta, caso eu estivesse interessada. — Jogou o pergaminho em cima da mesa. — Enrole, é o que pretendo fazer. Diga que vou pensar nas propostas. — Levantou irritada para voltar aos seus convidados com Neji em seu encalço. Virou-se de repente, ficando frente a frente com o seu guarda, que levou um susto com o movimento. — Afinal, eu já aceitei uma proposta. — Selou seus lábios nos dele rapidamente, o deixando estático. — Abra a porta, Neji. — Acordou do transe e abriu caminho para a Hyuuga.
— Impossível perder seu cargo de melhor amiga, Tsu… — Ainda em meio a risadas, Hinata garantiu o óbvio para a Senju.
— Espero mesmo, avise a Sabaku que tenho treinamento com espadas. — Cruzou os braços em frente aos seios e empinou o nariz.
Apesar de Hinata estar decidida a não aceitar nenhum rei ou príncipe, ela sabia do dever que tinha, estava com a cabeça cheia e precisava do seu tempo sozinha. Pediu licença a Tsunade e foi para biblioteca, Neji entendeu que naquele momento ela precisava do seu espaço e ficou ao lado de fora. A Hyuuga corria os olhos pelos pergaminhos já lidos anteriormente, suspirava várias vezes em busca de alguma resposta, no entanto, era sempre em vão. Não existiam caminhos para ela a não ser se casar, maldito mundo feito para homens. Ouviu uma leve batida na porta, a tirando dos seus pensamentos.
— Não preciso de nada, Neji — falou mais alto, mas a porta foi aberta.
— Sou eu, Hinata. — Hashirama entrou sorrindo, fechou a porta atrás de si e foi até a poltrona em frente a rainha para sentar-se. — Você está bem?
— Tentando não decidir o meu futuro por causa de meros acordos. — Ela suspirou derrotada.
— Você não precisa e sabe disso. — Ele sorriu solícito. — Seu pai não gostaria de lhe ver infeliz apenas por um pedaço de terra, ou um herdeiro.
— Mas eu não tenho o que fazer, o conselho vai me pressionar até o fim dos meus dias. — Revirou os olhos.
— Então os enrole o máximo que pode, até ter a certeza de conseguir se casar com quem ama. Eu cometi um erro com a Tsuna, você sabe. Jamais me perdoei por colocar o reino acima da felicidade da minha filha, não deixarei que aconteça o mesmo com você.
— Obrigada. — Ela sorriu aliviada e grata pelas palavras. — Enrolar é o que pretendo fazer. Recebi uma proposta do reino da Areia, ensinar a Temari No Sabaku sobre diplomacia e liderança, em troca do livre comércio entre os reinos.
— Uma ótima proposta, realmente.
— Fiquei feliz e animada pelas aulas, claro, mas também pensei que é uma ótima oportunidade para manter o conselho calado. — Ela sorriu confiante.
— Você herdou a inteligência e a articulação da sua mãe. — O Senju curvou os lábios, admirando a mais nova, que se parecia tanto com a mãe, grande amiga e rainha. — Bom — levantou-se para se retirar —, e quando terminar com a No Sabaku me avise, que mando a Tsunade. Acredito que vão se divertir juntas, além do aprendizado, é claro. Isso lhe dará mais tempo.
— Eu não tenho como lhe agradecer, Hashirama.
— Não precisa, Hinata. Você é como uma filha para mim, quero vê-la feliz. — Saiu da biblioteca, deixando a Hyuuga sorrindo boba. Era disso que ela precisava, tempo, e, com ajuda, ela teria.
À tarde, se despediu dos seus convidados. Hashirama precisava voltar, pois seus deveres o chamavam. Ela acenou sorridente, da porta do castelo, com Neji ao seu lado.
— Tenho uma ótima ideia — a Hyuuga falou, ainda vendo a carruagem deixar as suas vistas. O moreno sentiu um arrepio percorrer o seu corpo e, no momento seguinte, os dois estavam no fundo da biblioteca, aos beijos. — Neji… — gemeu seu nome, ao sentir os beijos molhados descerem seu pescoço.
— Majestade? — Ouviram a voz de Haru ecoar vindo da porta e se afastaram. Apesar de ele não conseguir os ver, foi quase que automático.
— Sim? — respondeu, arrumando suas vestes e cabelo.
— Chegou uma carta do reino da Areia.
— Deixe em minha mesa. — Ouviram alguns passos e em seguida a porta se fechando.
— Não podemos nos arriscar dessa forma, alteza — o guarda falou, em um tom preocupado.
— Está tudo bem — ela falou, como se não fosse nada, caminhando até a mesa, e Neji a seguiu. Pegou o papel timbrado e lacrado com a cera real, abriu e leu a resposta da No Sabaku aceitando morar no castelo para ter as suas aulas. — Ela vem, Neji! — Hinata virou para ele, animada.
— Teremos companhia, será trabalho dobrado para nos escondermos — falou em tom calmo, mesmo receoso, queria deixar claro para Hinata que era um risco que não queria correr.
— Você pensa demais… — Passou a mão na altura do peitoral do moreno, pela veste branca com detalhes dourados que ele vestia quando estava fazendo sua segurança dentro dos muros do castelo. Seguiu a linha do maxilar masculino, sentindo seu interior revirar, desejando novamente o proibido. — Deveríamos fazer algo para relaxá-lo.
— Não diga isso. — Pegou a cintura fina, a puxando um pouco mais para junto de si.
— Vai me repreender agora? — Mordeu de leve o queixo de Neji, roçando seus dentes na pele clara. — Aqui mesmo, ou nos meus aposentos, senhor comandante da guarda real? — Beijou-lhe a boca com pressa, desejando conseguir levá-lo novamente para seu quarto. Sentir o que sentiu antes, mas com menos pressa, mais tempo, e antes que a convidada pudesse atrapalhar algo.
Desfez o carinho por falta de ar, olhando diretamente nos olhos perolados, já com tons de lilás pelo desejo que sua rainha emanava. Voltou à sua pose séria de sempre e a puxou para que o acompanhasse.
Hinata entendeu, depois de alguns passos, que, a partir da porta, deveria tomar a frente, rumo aos seus aposentos. Mesmo a sós nos corredores, deveriam manter as aparências. Até que a porta foi aberta e ela pôde avistar seu quarto arrumado e completamente vazio. O baque surdo atrás de si veio acompanhado de duas mãos que imediatamente rodearam seu corpo, transitando livremente por suas curvas, deixando a pele em chamas.
Virou-a de frente para si, beijando a boca de sua rainha. Tirou sua túnica, revelando o abdômen trabalhado e colou ainda mais seu corpo no da morena. Sentiu a mão de Hinata passar por suas costelas, apertando cada pedaço dele. Sentia como se sua rainha estivesse sedenta e louca para devorá-lo. Desfez o laço que prendia o vestido de sua majestade e deixou que todos os metros de tecido que escondiam o belo corpo de si pousassem aos pés da Hyuuga e a pegou no colo, a caminho da cama.
A necessidade de sentir cada pedaço de pele rente ao seu corpo estava deixando Hinata mais ansiosa que na primeira noite que foi dele, e, pelos Deuses, seria quantas outras fossem necessárias para saciar sua fome de tê-lo. Foi colocada na cama com delicadeza e sorriu ao observar seu guarda retirar as peças que restavam no corpo. Seu homem, pensou.
Debruçou-se sobre a Hyuuga sem deixar seu peso sobre ela. Apoiando-se nos braços, olhava novamente a bela mulher abaixo de si, não conseguia imaginar homem de mais sorte que ele. Ela era bela, educada, gentil e sua. Posicionou-se com calma, beijando sua rainha, a deixando o mais relaxada possível. Desta vez, poderia ser um pouco mais duro, dando asas ao desejo que sentia e aos pensamentos que vieram de minuto em minuto após a primeira noite juntos.
Era leve, simples e muito prazeroso sentir Neji. Ele se movimentou devagar, mas preciso o bastante para lhe arrancar o primeiro gemido, seguido de um arrepio que atravessou todo seu corpo. Levou as suas pernas para a cintura do Otsutsuki e as sensações que se concentravam na pélvis espalharam por todo seu corpo. Apertou os dedos na pele quente de Neji e mordeu seus lábios para não gritar, tamanho era o prazer experimentado.
Seu corpo inteiro respondia a ela, pedia por ela. Ele necessitava de Hinata e não só para se satisfazer, sentia a necessidade de ter todos os gemidos, sensações e orgasmos de sua rainha tendo ele como único culpado. Não havia volta para a loucura que experimentaram após o baile. Estavam presos a esse vício dividido em segredo.
No limite entre a terra e o paraíso que experimentava com ele, sentiu uma nova onda de prazer lhe atingir. Mais forte, mais arrebatador. Liberou toda a vontade que havia em si em um gemido longo e alto, que seguiu após seu orgasmo.
Neji investiu com mais força, tentando alcançar Hinata. Deitou em seus seios, se derramando dentro de sua rainha. Sentia os músculos pulsarem por todo seu corpo, e a fina camada de suor que mantinha seus longos cabelos e os dela unidos espalhados ao redor dos dois corpos nus.
— Mais calmo agora? — Hinata sorriu logo após sua fala.
— Continuo… achando que... precisamos ter mais cuidado — falava entre suspiros.
— Por favor, Neji. — Hinata levantou e começou a se vestir novamente. — Esse castelo é enorme.
— E, mesmo assim, a Tsunade notou — o moreno falou, enquanto vestia suas calças.
A rainha virou para ele.
— A Tsu notou porque ela nos conhece há anos, me conhece há anos — ela disse, torcendo os lábios.
— Não, ela notou porque estava explícito, alteza. — Neji abotoava o último botão do uniforme de comandante. — Enquanto a No Sabaku estiver aqui, é melhor mantermos nossas... atividades em pausa. — A Hyuuga bufou em reclamação.
— Aceito termos mais cuidado, mas em pausa é demais. — Neji massageou as têmporas, concordando em seguida. — Não suportaria ficar longe tanto tempo. — Passou o braço em volta do pescoço do mais alto e selou os lábios, sorrindo em seguida.
Definitivamente ele também não conseguiria, mas não admitiria aquilo para Hinata, ele não admitia nem para si mesmo. Estar com ela era como estar em seus melhores sonhos, mas esse, ao invés de final feliz, poderia ter um fim trágico. O Otsutsuki sabia o que o aguardava se alguém descobrisse, além do que, iria levar aquilo até onde? Até o dia em que ela se casasse, ou até o dia que o novo rei descobrisse e mandasse o decapitar? Pelos deuses, passou a mão no seu pescoço como se sentisse a lâmina afiada passando por ele. O risco era enorme e, mesmo assim, se deixava levar porque a mais pura verdade era que estava apaixonado por sua rainha há longos anos.
Depois de mais um longo dia em seu cargo amado, porém que cobrava demais, Hinata estava terminando seu jantar com Neji ao seu lado e era difícil se concentrar até em seus pensamentos quando estava ao lado do moreno. Pensar em dar aulas para a No Sabaku pareceu perfeito até a ideia sem cabimento do guarda ser colocada em pauta. Absurdo era viciá-la e depois roubar-lhe a única parte de seu dia que era prazerosa.
Esperou que a criada tirasse seu prato, mas não se levantou, sendo questionada apenas pelo olhar de Neji. Esperou que ela voltasse com uma bandeja de chá quente. Ergueu a xícara fumegante para o moreno, sabendo bem que ele do que se tratava. O tal chá de ervas que Tsunade deixou para que a rainha não andasse pelo reino grávida e sem marido.
Terminou de beber a água escura e de gosto ruim com calma e se levantou após terminar todo o conteúdo da louça fina. Caminhou em direção ao seu quarto pensando em como faria para convidá-lo sem que ele arrumasse uma nova rodada de discussões sobre a futura visitante.
O que havia de tão mal em aproveitar o momento que Temari não estava? Pensar demais era uma das manias que mais odiava em Neji. Mesmo sendo seu trabalho, viver um pouco o agora e se divertir junto a si parecia melhor ideia que sofrer por antecipação. Viu o Otsutsuki abrir a porta de madeira e dar passagem para que a rainha entrasse. Sentiu um novo arrepio quando a porta fechou atrás de si, sabendo que só os dois estavam no quarto.
— Me ajude a despir, Neji — Hinata disse doce e baixinho, tentando fazer seu convite sem muitas palavras.
Ele imediatamente a ajudou a tirar as poucas joias que usava no dia que estava presa naquela fortaleza de pedra. A roupa não era a mais pesada, então foi simples se desfazer do vestido de seda. Soltou seu cabelo do coque que uma de suas serviçais fizera mais cedo após seu banho, quando Neji a deixou sozinha no quarto e um pouco amedrontada. Despiu sozinha a camisola que ainda restava.
Ele não se moveu.
— Devíamos começar a praticar a distância segura que manterá a princesa Sabaku alheia ao nosso segredo. — A vontade era de tocá-la e fazê-la sua novamente, pela segunda vez naquele dia, mas estava certo em manter suas mãos longe da rainha, por enquanto.
— Por favor, Neji… — Quase que um ronronar saiu dos lábios da Hyuuga. — Ela ainda não está aqui, para que essa distância?
— É o melhor para nós, só penso no melhor… — Para? Não lembrava mais. Assim que ela virou para si, viu os seios de Hinata e quis atacá-la. Sabia que a cada momento perto dela seria pior para si. Queria novamente, mas… Começou a caminhar de costas para a porta, fugir daquele pecado era a melhor ideia.
— Não dê as costas para mim!
— Tem que me perdoar alteza. — Engoliu seco o bolo que formava em sua garganta. Apenas o toque em sua mão quase o levou a deitar-se com ela mais uma vez.
— Eu não vou perdoá-lo. Durma comigo…
— Não posso.
— Não vou obrigá-lo. — Fechou o cenho e sentiu como se tivesse tomado um tapa em sua cara. Ele a negou. — Vá!
— Boa noite, majestade. — Curvou-se sem olhá-la, não poderia ver seu rosto raivoso sabendo que ele era o motivo para tal sentimento.
— Até. — Seca, com ódio e com uma vontade absurda de beijá-lo.
— Está bom. — Simples, dispensou as três criadas que a ajudavam aquela manhã.
Já sozinhos, a Hyuuga passou sua mão pelo cetim que contornava sua cintura por cima do belo vestido e olhou diretamente para Neji.
— Pode abrir.
— Eu quero conversar com sua alteza primeiro. — Estavam perto, mas o olhar da Hyuuga para si era arrogante como jamais foi. Sabia que estava pensando demais e atrapalhando o próprio… O que estava acontecendo entre os dois, por puro medo de algo que ainda de fato não aconteceu.
— Fale de uma vez. Tenho que organizar os estudos de Temari antes de sua chegada.
— Peço que me desculpe, majestade. — Respirou fundo para continuar. — Eu sei que me queria aqui ontem, mas meu dever é zelar por sua segurança. Ser cauteloso é o meu trabalho e agora o dobro, pois…
— Pois… — insistiu para que ele continuasse.
— Pois temos algo, e eu não quero perder isso. — Nem sua cabeça. — Não quero ter que me privar de tê-la e quero muito, todos os dias… — Tirou uma mecha de cabelo da face da Hyuuga, a levando para trás de sua orelha. — Eu queria muito ficar ontem, Hinata.
— Eu sei que está assustado. Minha posição não nos favorece, mas se não vivermos isso… — suspirou, deixando a frase morrer.
— Eu vou tentar ser menos paranoico, mas tente ser mais cautelosa, por nós. — Deu um passo para mais perto dela, tentando dar fim à distância que separava os dois, mesmo sabendo que ela poderia revidar de alguma forma o que ele fez na noite anterior.
Hinata só se colocou na ponta de seus pés e deixou que Neji findasse a distância de suas bocas. Sentiu a vontade dele pela necessidade de seu beijo, que começou calmo, mas foi ficando mais intenso, quando a mão grande do moreno segurou sua cabeça e agarrou seus fios negros azulados, a mantendo firme, enquanto sua língua dançava na sua boca. O ar lhes faltou e os obrigou a cessar as carícias.
— Estamos conversados? — Neji sorriu ao distribuir pequenos beijos na boca de Hinata.
— Estamos.
O sol estava forte no final da manhã. Temari chegaria na hora do almoço. Quando a Hyuuga ouviu o barulho dos cavalos, saiu de onde estava, cruzando o grande salão para chegar à frente do castelo. Estava ansiosa para a chegada da No Sabaku. Apesar de ser ela a dar aulas, queria fazer várias perguntas, queria saber o que ela viu em si para fazer um pedido tão inusitado. Os guardas abriram as portas pesadas, dando a visão da carruagem de cor bege e detalhes vermelhos, e dela saiu Temari No Sabaku. Hinata admirou a beleza exótica da mulher à sua frente. Todos daquele reino pareciam ser naturalmente belos. Temari possuía os olhos verdes, puxados, como uma felina. O corpo voluptuoso era marcado pelos tecidos mais pesados de linho. Quando viu a rainha, sorriu, subiu os degraus e a reverenciou.
— Muito obrigada, Majestade.
— Por favor, me chame de Hinata. Afinal, serei sua mentora. — A morena sorriu largo. — Venha, entre. Vou pedir aos meus criados para colocar suas malas em seus aposentos.
Hinata a conduziu até a sala de jantar e Neji as seguia, apenas observando, como de costume. Conversavam amenidades, em sua maioria como eram os dias no reino da No Sabaku e que papel a princesa esperava empenhar ao lado do irmão. Temari até fez piada da proposta de Gaara, dizendo que Hinata valia muito mais que o metal nobre abundante em sua terra árida. A Hyuuga observou o semblante fechado de seu guarda e quis rir, mas conteve, resolvendo que conversaria com o moreno ciumento mais tarde.
— Acha que devo estar ao lado do rei nas questões diplomáticas? Ele não leva muito jeito com as pessoas, mas o comércio me atrai de uma forma única.
— Se tem mais facilidade que ele com algumas questões, tome a frente e ajude seu irmão a conquistar mais, trabalhando em conjunto para o crescimento do reino. — A ajudaria na prática enquanto os dias fossem passando. — Terei reuniões com o conselho, onde aprenderá a ouvir ideias e quando as suas poderão entrar em pauta, mas nem em todos os assuntos você poderá me acompanhar. Temos casos sigilosos, verá como se estivesse no seu reino ao lado de Gaara. Ele é maior, mas a força que ele exerce depende de pessoas como você, que estudam e aconselham seu rei da melhor forma possível.
— Mal cheguei e já me sinto menos perdida — Temari brincou, arrancando um sorriso da rainha. — Creio que tem muito a me ensinar, Hinata. Aprenderei de bom grado e darei orgulho à majestade um dia.
Sabia que sim. Não era comum ensinar mulheres a ler e escrever, muito menos a tratar de assuntos políticos cruciais para o andamento e a prosperidade de um reino. Sentia-se feliz por seu pai ter depositado tanta confiança em si e lhe dado a coroa mesmo sem que ela fosse casada. Foi treinada para ser a melhor rainha que poderia e faria o mesmo pela No Sabaku. Por mais que ela não fosse a herdeira, seria um pilar necessário para o legado de Gaara.
As duas se encontravam debruçadas na mesa redonda da biblioteca, alguns mapas dos reinos próximos estavam espalhados pela mesa, assim como papel e penas. Hinata explicava como funcionava o comércio entre reinos e a importância que essa parte tinha em ter um reino próspero. Temari prestava atenção em cada palavra que era proferida pela rainha, a No Sabaku realmente gostava e queria ser a melhor no ramo, caso fosse possível. A Hyuuga se sentia importante e feliz em ajudar outra mulher a chegar ao poder, pois, claro, uma mulher no conselho seria uma novidade absurda para outros reinos, assim como quando Hinata foi coroada rainha. Apenas o Reino das Folhas apoiou seu reinado desde o começo, e, aos poucos, quando foram vendo a grande líder que a morena era, começaram a dar créditos a ela. No momento atual, muitos imploravam para fazer acordos com o Reino da Lua.
Com o passar das semanas, Temari se mostrava cada vez mais sábia. Ela absorvia tudo que Hinata lhe passava, fosse em livros ou de sua própria experiência como rainha. A Hyuuga estava orgulhosa da sua pupila.
— Me diga, Temari. Caso Suna estivesse passando por um momento de crise econômica, seria ideal fazer um acordo para a venda de ferro com metade dos impostos e esse reino compraria o minério apenas de Suna?
— Eu aceitaria o acordo caso eles também comprassem chumbo apenas do meu reino, pois assim Suna seria o único fornecedor de material para armas e armaduras.
Hinata ouviu as batidas na porta e apenas liberou a entrada.
— Boa tarde, majestade. — Shikamaru reverenciou a rainha. — Vim entregar o relatório semanal do meu pai.
— Obrigada, Shikamaru. — Hinata olhou para Temari, que encarava o rapaz com curiosidade, até uma certa malícia, diria. Voltou a encarar o moreno. — Quer… ficar e assistir a aula?
— Eu posso, majestade? — perguntou sem graça.
— Claro, Shikamaru. Já falei que a biblioteca está sempre aberta para você. — A Hyuuga sorriu e viu o moreno sentar na poltrona um pouco afastada, na intenção de não atrapalhar a sua rainha.
Hinata pediu para que a No Sabaku continuasse a sua defesa no caso econômico e ela corou, desviando os olhos para baixo, começou a mexer nos papéis à sua frente, pigarreando, como se procurasse as palavras, e a Hyuuga quis rir. Sabia que o Nara mais novo era bonito, contudo, não esperava que a durona Temari iria ficar tão perdida com a sua presença. Assim que a loira recobrou a sua postura de conselheira, ela deu uma solução inovadora a qual a própria rainha não havia pensado, e essa foi a melhor forma de finalizar aquela aula tão proveitosa. Após o jantar, Hinata acompanhou a No Sabaku até os seus aposentos e em seguida seguiu para o seu, com o Otsutsuki em seu encalço. Entraram no ambiente e assim que estavam a sós, podiam conversar.
— Como foi a aula de hoje, majestade?
— Ótima, Temari é incrível. Vai ser uma ótima conselheira para Gaara. — Hinata sentou em sua poltrona, e Neji se aproximou, se ajoelhando ao seu lado para retirar as suas joias. Dessa vez seria diferente. Beijou cada pedaço de pele que era envolto com ouro e pedras preciosas. Hinata fechava os olhos com os arrepios que sentia cada vez que os lábios do moreno tocavam a sua pele. Ao chegar ao pescoço alvo ela, suspirou. — Pare…
— O que houve? — O moreno franziu o cenho.
— Vou querer outra coisa se continuar.
— Me desculpe. — Pigarreou. — Como estava dizendo…
— Acredito que ela tem um ótimo espírito de liderança, daria uma ótima rainha na verdade.
— Também observei isso, ela é bem segura de si.
— Até o Nara aparecer. — A Hyuuga riu.
— Como? — Ele arqueou a sobrancelha.
— Você tinha que ver, ela realmente admirou Shikamaru. Bom, eu sempre o achei bonito, contudo, não sabia que ela ficaria tão envergonhada.
— Sempre o achou bonito ‘hum?
— Não seja ciumento, sim? E você, o que estava fazendo enquanto eu estava dando aulas?
— Treinei dois guardas hoje para assumirem a entrada do castelo e… fiquei de olho no que me pertence quando a vi no jardim. — Neji arrastou o nariz pelo seu pescoço.
— Por acaso se refere a mim? — A morena o olhou por cima do ombro, notando o sorriso no canto de seus lábios, denunciando a sua malícia. Virou-se para o mais alto. — Me mostre o quanto eu sou sua. — O Otsutsuki acompanhou com os olhos o vestido escorregar em câmera lenta pelo corpo até chegar ao chão. Sentiu seu coração bater mais forte, os olhos não se deixavam, pareciam estar hipnotizados um pelo outro. O Otsutsuki soltou a bainha de sua cintura, deixando sua espada cair no chão, pôs sua mão na nuca da sua rainha e apreciou seus traços antes de a puxar para um beijo calmo e apaixonado.
Neji queria aproveitar cada momento, cada toque, cada suspiro que arrancava dela. Deslizou a mão pelo ombro desnudo e sentiu a pele da mais nova arrepiar. A queria perto de si, queria sentir o calor que seu corpo emanava, e ela queria o mesmo. Levou as mãos até os botões da sua farda e desabotoou cada um, sem pressa. Os dois compartilhavam o sorriso um com o outro. Fazia semanas que não se tocavam, a saudade estava grande demais, porém queriam que o tempo passasse devagar. A parte que cobria o tronco do moreno deixou seu corpo, encontrando o chão. Hinata passou os dedos pelos ombros, peitoral, abdômen, como se decorasse cada parte do corpo de Neji. Ela queria experimentar algo novo, não sabia se seria boa em tal área, mas queria testar o seu potencial. Dessa vez, não seria ele a se ajoelhar.
Distribuiu beijos molhados pelo corpo de Neji, se ajoelhou à sua frente e começou a remover o tecido que cobria o seu objeto de desejo. Ela ficou ansiosa, porém relaxou ao ver o tesão que ele sentia por ela. Passou a língua pelos lábios e em seguida a desfilou por todo o comprimento do pênis do mais velho. Sentia-se como estivesse descobrindo um novo mundo. Ouviu gemidos roucos deixarem a garganta dele, e isso foi a sua confirmação para continuar. O colocou quase inteiro em sua boca, começou com movimentos de vai e vem, enquanto mexia sua língua como se estivesse encenando um beijo.
— Hina… — Ela ergueu o olhar até ele e sentiu seu interior se contorcer em excitação. Era a primeira vez que ele a chamava pelo apelido, e isso a esquentou por completo. A Hyuuga acelerou os movimentos e então sentiu a mão do moreno em meio aos seus fios longos, as puxadas que ele dava a deixavam em puro êxtase. Podia algo tão simples fazer tanto consigo? Neji sentiu um calor tomar conta do seu corpo até se concentrar em seu baixo ventre. Pelos Deuses, ele não podia gozar na boca dela, podia? — Eu vou…
— Tem problema? — Ela o tirou de sua boca e contornava a glande com a língua de forma obscena. Recebeu um aceno negativo, informando que estava tudo bem, e então voltou ao que estava fazendo com mais dedicação. Não demorou a sentir um jato forte no fundo da sua garganta e o sonoro gemido que Neji vociferou. — Seu gosto é... bom, Neji. — A Hyuuga levantou, lambendo os lábios. Ele pôde sentir todo o seu sangue tomar a sua face, tinha ficado com vergonha do ato que acabara de fazer, no entanto, sentiu um tesão que tomou conta dos seus atos. A puxou para um beijo intenso e os dois caminharam até a cama sem deixarem de explorar a boca um do outro. Beijavam-se com pressa e ao mesmo tempo queriam que todos os minutos passassem devagar para que a noite fosse cada vez mais longa.
Por mais que não fosse isso, ela queria tê-lo a hora que bem entendesse, sem medir seus movimentos ou os sons que queria proferir enquanto ele lhe dava prazer. A impressão era a de que tinha acordado terrivelmente melancólica depois de mais uma noite acordada.
Levantou-se, seguindo para a casa de banho anexa ao seu quarto. As criadas já a esperavam com o banho quente e perfumado que iniciaria seu dia, mesmo que esse não tenha começado tão bem. Quanto mais o tempo passava, mais presa a Neji se sentia. Parecia necessário tê-lo ali apenas para respirar, e isso a assustava.
Um bom reino não poderia ter um ponto fraco, e ele estava se tornando o seu. Não poderia impedir que ele fosse a alguma batalha ou missão diplomática em seu nome. Mesmo que um rei qualquer o fizesse de prisioneiro, teria que se manter calma e pensar primeiro no bem estar de todos, mas sabia que daria qualquer coisa para que ele voltasse, caso essa situação acontecesse.
A esponja foi às suas costas com leveza, lavando sua pele, a mesma que ele fazia questão de beijar cada pedaço com carinho. Sorriu, lembrando das diversas noites que passaram juntos. Saiu da água, sendo acompanhada por uma das mulheres que lhe serviam pela manhã, se vestiu e ouviu a porta bater às suas costas.
Depois de dispensadas, as mulheres se trancaram na casa de banho, e ela estava ali, sozinha em seu quarto, com o homem que secretamente possuía. Estava perdida em seus olhos, em seu sorriso mínimo arteiro, em suas roupas impecáveis…
Estava perdida; a rainha tinha um ponto fraco.
A Hyuuga tinha pedido no dia anterior para os criados organizarem o café da manhã no solário, afinal, era o último dia da estadia da No Sabaku em seu castelo. Então seguiu seu caminho até lá com Neji atrás de si, como de costume, encontrando Temari já sentada à mesa. Hinata deu bom dia e juntou-se a ela. As cozinheiras serviram o café da manhã farto para as duas, e elas não demoraram a se deliciar com o banquete oferecido. Conversavam sobre como Temari tinha sido uma ótima aluna, superando completamente as expectativas da rainha.
— Desculpe ser intrometida ou até mesmo insolente, mas gostaria de perguntar uma coisa. — A No Sabaku media suas palavras com cautela.
— Pode fazer a sua pergunta. — Hinata sorriu.
— Você pretende escolher meu irmão? — A loira acariciou as próprias mãos, em busca de diminuir o seu nervosismo.
— Temari, posso te confidenciar uma coisa? — A morena sorriu, e o Otsutsuki sentiu seu coração disparar só em pensar na hipótese de ela falar sobre eles.
— Claro, majestade. — Assentiu.
— Eu não vou escolher ninguém.
— Mas… — Temari arregalou os olhos, surpresa, e a Hyuuga soltou o ar.
— Meu amor não está à venda, não vou me casar por um mero acordo econômico. — A morena finalizou, com um sorriso nos lábios.
— Agora eu te admiro ainda mais, Hinata. — A No Sabaku sorriu largo e ela realmente falava com sinceridade.
Hinata se despediu com um abraço em Temari nas portas do castelo, sentiria falta da companhia dela. Quando viu a carruagem deixar o terreno do castelo, girou os calcanhares e foi para a biblioteca separar os papéis para a reunião com o conselho. Ela carregava um sorriso no rosto, não esperava a reação tão positiva da No Sabaku diante da sua alegação, isso a deixou confiante. Neji a analisava de longe, em silêncio. Estava ligeiramente preocupado com a felicidade repentina que ela esboçava. Não que ele não quisesse mais que tudo a felicidade dela, no entanto, confiança demais às vezes nos faz tomar decisões precipitadas.
— Achei que diria a ela sobre nós — o moreno falou baixo, atraindo o olhar da rainha, que repousava na sua poltrona.
— Claro que não, o conselho ainda nem sabe. — Neji focou no "ainda", e isso o deixou mais preocupado.
— Como assim... ainda? — Neji arqueou a sobrancelha.
— Eu quero me casar com você — disse, simplista.
— Como? Hinata, nós não podemos. Eu sou… apenas um conselheiro... um comandante da guarda real. — O Otsutsuki exaltou-se.
— Está dizendo que não quer casar comigo? — Ela franziu o cenho, encarando o mais velho.
— Eu não falei isso. — Ele deu dois passos em direção a ela, suspirando. — Mas entre querer e poder existe uma enorme diferença, majestade.
— Você tem razão. Eu posso, eu quero e eu vou. A não ser que você não queira.
— Alteza, você precisa escolher um dos pretendentes, isso não será benéfico para o reino.
— E escolher um dos pretendentes não será benéfico para mim! — gritou, batendo na mesa e se levantando em um único movimento. — E se a rainha não está bem, seu reino tampouco ficará.
— Por mais que me doa tudo isso, nosso casamento não será bem visto no conselho e muito menos nos outros reinos. Nós não podemos arriscar…
— Eu te amo, Neji. — Ela o interrompeu, fazendo com que ele ficasse surpreso com a revelação. — E eu não vou abrir mão de você.
Hinata deixou a biblioteca apressada, sentindo seu coração acelerado. Seu corpo estava quente, ela estava irritada. Ela esperava que tivesse o apoio dele mais do que ninguém, contudo, seu trabalho parecia ser mais importante. Bufou alto, tentando se recompor. Entrou em seu quarto e sentiu uma lágrima solitária deixar seu olho. A última vez que algo tinha lhe machucado tanto tinha sido há quatro anos, na morte de seu pai, entretanto, Neji a deixou chateada, magoada para ser mais exata. Ela sentou em sua cama e ficou com o olhar perdido, admirando a vista do vasto jardim do castelo que tinha da janela do seu quarto. Ela não aceitaria a negação do Otsutsuki, não apenas pelo simples fato de que os títulos os separavam, não aceitaria que uma hierarquia definisse mais o seu destino do que o amor que eles sentiam um pelo outro.
Assim que Neji recobrou os sentidos, ele foi atrás dela. Sentiu um peso em seu peito, ele foi insensível demais. Apenas pensou no reino, nos problemas, no quanto a rainha poderia ser prejudicada por uma escolha inconsequente. Contudo, não era inconsequência, ela o amava, assim como ele a amava, e isso fez um sorriso brotar em seus lábios. Caminhou a passos rápidos em busca da rainha, precisava a encontrar antes da reunião com o conselho. Chegou à frente dos aposentos reais e respirou fundo, bateu na porta e pediu permissão para entrar, sendo permitido logo em seguida. Ele não sabia o que falar, estava com medo, estava aterrorizado, ele podia perdê-la e podia parar na guilhotina. Fechou a porta e deu alguns passos em direção à cama, onde ela estava sentada de costas para si.
— Hinata… me desculpe.
— Não há o que desculpar, Neji. — Suspirou pesado, observando as folhas das árvores ao longe, balançando com a brisa fresca da tarde. — Sei de seus receios e os entendo muito bem, mas eu não vou negar a nossa felicidade por conta de um velho do conselho, ou por medo. Não vou nos privar de nada, e se eu tiver que lutar, eu vou lutar, o que temos vale a pena.
— Eu sei que vale, não duvido do que sentimos, mas...
— Mas não quer que eu coloque tudo a perder por inconsequência — ela completou sua frase antes que ele pudesse e olhou para trás, mirando os olhos claros, que pela primeira vez pareciam tão apreensivos. — Eu venho pensando com clareza há algum tempo... Se tomei essa decisão, fiz conscientemente.
— Espere apenas um tempo. — Aproximou-se da Hyuuga, mantendo suas mãos unidas.
— Farei o possível.
Há mais de meia hora seu reinado era colocado em pauta. O que um homem ao seu lado melhoraria verdadeiramente em sua administração? A mão ia da mesa até sua testa e tentava mesmo controlar seu revirar de olhos a cada minuto, mas Hiruzen testava a sua paciência a cada palavra que proferia. Evitava olhar para Neji para não pegar qualquer uma das espadas expostas na sala como decoração e enfiar no meio do peito do velho, ou pedir para que Neji o fizesse ou ela mesma faria sua primeira vítima fatal. Sorriu com seu pensamento.
— Algo que queira acrescentar, alteza? — o velho interrompeu o próprio discurso para trazer a rainha de volta à realidade. — Esperávamos que já tivesse escolhido, majestade.
— Não há pressa, senhor. — O sorriso de Hinata era pequeno e arrogante.
— Está achando que vai poder gerar herdeiros até quando, alteza? — Ele notou, ela soube, assim que a voz do Sarutobi subiu o tom.
— Na verdade, não sei.
— Mas eu sei. — Fechou a cara para a rainha. — É apenas uma criança, por isso não sabe. — Ousou usar um tom debochado e isso foi a gota d'água para tirar a Hyuuga completamente dos eixos.
— Sabe mais que sua rainha? — Uniu as mãos à frente de seu rosto, apoiando o queixo nelas. — Faria melhor trabalho do que eu? — Mirou fixamente nos olhos escuros do velho. — Governaria melhor?
— Sem dúvidas! — Hiruzen bateu na mesa, e todos os outros ocupantes ficaram tensos.
Um longo segundo tomou o local somente as respirações pesadas eram ouvidas em sincronia, até que a morena quebrou o silêncio.
— Por que é homem?
Neji levou a mão à testa, esperando uma discussão iniciar. Defenderia sua rainha contra quem fosse, e o velho merecia a partir do momento que duvidou minimamente da capacidade de Hinata.
— Não por isso. — O velho notou a tensão do cão de guarda real, sabia que era a hora de parar. Sua batalha ainda não era aquela.
— Então concorda que não preciso de um homem para manter meu reino?
— Majestade, eu e o conselho indicamos… — Nara e Yamanaka acordaram da letargia e encararam a rainha sem saber se negavam ou concordavam com o que Hiruzen dizia.
— Então espero que fique contente, já escolhi meu pretendente. — Interrompeu o seu discurso e se levantou sem deixar a mesa, encarando o olhar assustado do moreno à sua direita.
— O Uchiha? — Os olhos do meistre brilharam em expectativa.
— Vou me casar com Neji Otsutsuki.
— Não deveria ter feito isso, Hinata. — O guarda fechou a porta atrás de si assim que chegaram aos aposentos reais. Possesso, estava em pânico, como a Hyuuga, que mesmo prometendo antes da reunião que esperaria, soltou a novidade sem ao menos pestanejar.
— Ele queria uma resposta… eu dei. — Ela deu de ombros.
— Não acho que contar do nosso relacionamento ao conselho tenha sido uma boa resposta. — Encostou na parede ao lado da porta de madeira, respirando profundamente. Seria dispensado pelo velho, ou sumiriam com ele na calada da noite, talvez seus próprios guardas fizessem o serviço. Massageava suas têmporas, tentando raciocinar. Passou a mão pelo rosto consternado, pensando em como iria resolver o problema que se meteu.
— Você vai dormir comigo… a partir de hoje — Hinata praticamente ordenou, ela tinha medo, e desse medo os dois compartilhavam.
Em alguma sala do lado norte do castelo, onde moravam os conselheiros, uma carta era escrita e esta poderia acabar com os planos de Hinata, até mesmo com a vida de Neji, ou com o reino. Não saberia até as consequências da entrega dessa carta baterem à sua porta.
Meu senhor, acredito que as coisas não tenham saído como planejado. A rainha informou ao conselho que ela vai recusar todos os pretendentes e se casar com o comandante da guarda real. Espero que as notícias o ajudem a pensar em uma solução, precisamos urgentemente tomar medidas antes que seja tarde demais. Não concordo com tal conduta e espero ansioso por uma ajuda ou intervenção para que nossos reinos não sejam afetados e consigam de uma vez por todas unir suas forças.
Hiruzen Sarutobi.
Não conseguia mentir, estava verdadeiramente feliz pela coragem que teve ao enfrentar o velho que parecia ser o único a querer Itachi no lugar de Neji, e a Hyuuga imaginava que a sua infelicidade seria o prêmio que o Sarutobi almejava. Sorriu ao levar sua mão até o cabelo castanho que cobria as costas largas do Otsutsuki, que se moveu com o toque da rainha.
— Bom dia. — Apoiou-se em uma mão, mantendo a outra nos cabelos dele.
— Eu poderia me acostumar facilmente a acordar toda manhã desta forma. — Selou os lábios por cima da franja da morena. — Bom dia, Hina. Dormiu bem? — Pelo sorriso, já imaginava a resposta, mas gostaria de ouvir de sua rainha.
— Melhor impossível. — Abraçou o corpo de Neji, sentindo o aconchego que só ele lhe dava. — Estou pensando seriamente em te trancar aqui comigo e fingir que estamos em lua de mel.
— E seus compromissos?
— Meus compromissos poderiam viver sem mim por um dia... — Viu a cara que o moreno fez e soube que não poderia, por mais que seu corpo pedisse por um descanso mais que merecido, não poderia. — Vou me aprontar e você desfaça essa carranca. — Levantou-se sem ligar para sua nudez.
— Vista-se, as criadas…
— Dispensei todas para que nenhuma admirasse o que é meu. — Pegou um robe de seda salmão a caminho do banheiro.
— Acaso está com ciúmes, alteza?
— Eu? Está dormindo ainda, só pode. — Voltou para perto do moreno, com uma nova ideia. — Me acompanha?
Neji pulou da cama macia, deixando de lado a preguiça e seguindo sua rainha até a sala de banho. Hinata ligou a torneira para encher a grande banheira de pedras, puxou o laço do robe, fazendo com que ele deslizasse pelo seu corpo até chegar ao chão. Ela virou e admirou o moreno, que já estava completamente nu. Ele se prontificou na frente dos degraus e deu a mão para sua rainha se apoiar, a morena pegou na mão dele sorrindo e desceu, entrando na água levemente gelada. Sentou-se e assistiu Neji se juntar a ela, os olhos não se deixavam, estavam completamente perdidos um no outro, a paixão tinha se tornado amor e eles nem sequer haviam percebido.
O Otsutsuki a puxou pelos ombros e a colocou de costas no meio de suas pernas, pegou a esponja e começou a passar delicadamente pelos ombros, desceu para as costas e chegou à cintura, subindo novamente para fazer o mesmo caminho do outro lado. O único som na grande sala era de água e as respirações calmas e sincronizadas. Eles estavam confortáveis e felizes na presença um do outro. Hinata virou-se, ficando de frente a ele e tomou a esponja de sua mão para lavá-lo. Começou também pelos ombros largos, desceu para o peitoral e em seguida o abdômen. Acariciou o rosto de Neji com a ponta dos dedos, ela sempre tentava tomar nota de cada feição daquele rosto tão imponente que a seguia durante toda sua vida. Ao terminarem o banho, se vestiram nos aposentos reais e aquela era a rotina que Hinata queria ter todos os dias, ao lado dele.
Grande parte da manhã chegava ao fim, e seu desejo de ficar trancada em seus aposentos durante todo o dia, mantendo Neji como refém, parecia uma ideia melhor. Três grandes tratados com infinitos pergaminhos para ler e reler incontáveis vezes lhe tomava as horas e sua paciência. Detalhes eram calculados pela rainha, para evitar erros e possíveis puxões de orelha do conselho. Ela se dedicava muitas vezes mais que seu pai, para não cometer erros e munir quem conspirava contra si.
Não era tola em achar que não havia pessoas em seu reino, do mais simples plebeu a um nobre que frequentava o castelo, que não quisesse que Hinata estivesse no trono. "Os melhores reis também têm opositores, filha", seu pai repetia em meio às aulas sobre política, e ela sabia que não poderia se permitir errar.
Estava certa de que seus sentimentos pelo guarda real já seriam suficientes para uma provável ofensiva contra a coroa, mas seria somente isso que a Hyuuga permitiria que usassem contra ela. Deveria ser bem mais simples, caso fosse um homem e escolhesse uma plebeia para matrimônio, porém não era o caso. Então, se um golpe se armasse debaixo de seu nariz, contaria com sua eficiência e disciplina no comando do reino para lutarem a seu favor.
— Está franzindo a testa há muito tempo. — Neji interrompeu seu raciocínio com um mínimo sorriso em seus lábios. — Quer ajuda para resolver algo?
— Na verdade, estou lendo sem conseguir absorver nada. — Remexeu-se na poltrona da biblioteca, que, depois de horas, deixou de ser confortável. — Estava divagando sobre nossa situação.
— Então sou a causa dessa face preocupada?
— Seria a solução dela, se quisesse. — Sorriu, brincando com o moreno. Essa preocupação de Neji consigo a fascinava. — Caso aceitasse meu convite, eu estaria na cama relaxada neste exato momento, e não pensando em detalhes sobre tratados maçantes.
— Não sabe o quanto eu gostaria de acatar esta ordem, majestade. — Olhou ao redor, constatando que estavam a sós, e se aproximou da cadeira que Hinata ocupava. — Eu gostaria de tentar uma coisa ou duas para relaxá-la.
— O que fizeram com meu guarda zeloso e respeitador? — Levantou-se, encarando o moreno. — Gosto mais deste Neji.
— Fico feliz em saber que minha rainha aprova. — Encaixou a mão nos fios azulados, mantendo o polegar no queixo da Hyuuga, se aproximando levemente sua boca à da morena sem beijar-lhe os lábios.
— O que está esperando? — disse ofegante e apreensiva pelo toque do Otsutsuki.
— Permissão. — Sorriu ao notar que, mesmo de olhos fechados, a Hyuuga pareceu revirá-los. Selou os lábios aos de Hinata com a mesma vontade que a primeira vez que o fez. Parecia que sempre era melhor que da última vez. Tomou a cintura da morena, a puxando para perto de si, sentindo o corpo pequeno encaixando tão perfeitamente ao seu, e xingou por querer tomá-la ali mesmo. Estava longe do controle que sempre gostou de ter.
Neji estava ao lado da rainha, como sempre, mas Hinata sentia que algo a incomodava. Pediu que uma criada se aproximasse e pediu algo que só ela pudesse ouvir. A mulher deixou a sala de jantar e voltou com um conjunto de louças, que enfeitou o lugar da mesa ao lado da Hyuuga. Ela olhou por cima do ombro, mirando os olhos claros. O moreno franziu o cenho, pois só poderia estar ficando louco, ou talvez Hinata estivesse.
— Sente-se. — Definitivamente, ela tinha ficado louca.
— Majestade, eu não…
— Hinata, Neji. Você é meu pretendente e futuro marido agora — disse, sem pestanejar. Os seus criados mantinham-se sérios, esperando novas ordens. — Sente-se. — O Otsutsuki se sentou, à muito contragosto.
— Alteza, não devemos fazer isso. Você sabe que…
— Sei o quê? Que eu preciso de um contrato ao invés de um casamento? — Ela o mirou séria. — Não me venha com esses assuntos. — Neji permaneceu em silêncio, não sabia mais o que fazer para Hinata mudar de ideia. — Saiam todos. — Ela olhou para os criados em volta da grande sala, que deixaram os dois sozinhos.
— Hinata, você precisa pensar no reino. Eu a amo e você sabe. Já deixei isso bem claro, e é por isso que preciso pensar no seu bem.
— Meu bem é estar com você, então… Case-se comigo. — Hinata esticou a mão em direção a ele.
Neji suspirou, a encarando, pareceu ponderar suas opções, não poderia mentir, ele estava com medo. A amava, de incontáveis maneiras diferentes, Hinata era a melhor coisa que ele tinha em sua vida, a única mulher que tinha despertado o melhor de si, a única que conseguiu tirá-lo completamente do eixo. Ela era única, e ele sabia disso. Seu coração batia forte todas as vezes que a olhava, que chegava perto, que a tocava; era ela quem ele amava e isso nunca mudaria. Ele decidiu naquele momento que se juntaria à loucura dela, pois se ela estava disposta a enfrentar tudo por ele, Neji também estava disposto a enfrentar qualquer coisa por ela.
— Caso. — Pegou a mão dela e curvou os lábios.
Os corredores da parte subterrânea do castelo do reino da Lua não eram seus lugares favoritos para estar, mas ele não tinha escolha. Algo muito errado estava acontecendo naquele lugar, uma coisa que todo o resto fazia vista grossa, mas que outros, como ele, não permitiriam.
Passou longos anos ao lado do antigo rei, sendo seu braço direito, a quem Hiashi recorria com uma simples dúvida, ou algo de suma importância para o reinado do Hyuuga. Conheceu o pai do antigo rei e foi também seu amigo íntimo, mas Hiroshi estaria neste momento se revirando no túmulo de tamanha indecência vinda da neta.
Hinata até mesmo poderia escolher seu marido, as opções dadas foram formidáveis, no entanto, a garota rebelde se mostrou mais problemática que o imaginado por Hiruzen. Itachi era perfeito, um lord de berço pronto para fechar a união de dois reinos poderosos, mas a Hyuuga se mostrava cada vez mais teimosa e o acordo benéfico para ambos os lados estava em risco.
Segurou a manga de seu longo manto branco impecável, batendo o pé em uma pequena poça da ala esquecida do castelo, quando ouviu passos apressados ao longe. Uma moça muito jovem se aproximou e maneou a cabeça para cumprimentá-lo.
— Desculpe a demora, senhor. A rainha… — Torceu a boca.
— Diga de uma vez, criança.
— Convidou o Otsutsuki para jantar ao seu lado, no salão principal.
— Ela está mais corajosa do que prevíamos — ponderou. Esfregar seu relacionamento com o guarda para quem quisesse ver era audacioso e mostrava que Hinata não tinha o devido cuidado.
— Ela… — A mulher de longos cabelos castanhos espremeu os olhos e negou, deixando claro que não concordava com a informação que viria. — Dorme com ele todas as noites.
— Como pode ter certeza? — Sentia o tratado escorrer por suas mãos. Madara jamais aceitaria uma mulher mal falada pelos criados.
— A rainha não faz cerimônia ao deixar que eu e as outras criadas entremos em seus aposentos enquanto o senhor Neji ainda está lá.
— Isso é grave. — Pensou mais uma vez nas jogadas que lhe restavam e retirou de seu bolso um punhado de ouro, entregando à moça, que lhe deu as costas e voltou para a ala que trabalhava.
Tomou o caminho de volta aos seus aposentos e, decidido, trancou a porta e procurou por um pergaminho novo e pena. Por tudo que era certo e virtuoso no mundo, Neji e a Rainha deveriam ser separados.
"Está mais difícil que o esperado. A rainha não cede à vontade do conselho, e temo que nossa nobre causa seja perdida pelos caprichos de uma criança mimada, que, mais uma vez, se mostra uma líder fraca e com pouco juízo. Avise a quem interessar que temos que estar prontos para dias nebulosos e pouco felizes. Junte-se ao seu conselho e busque a melhor estratégia, sem deixar claro que estamos prestes a enfrentar uma dura batalha entre o certo e o errado. Peço que me perdoe por ter afirmado anteriormente que minha rainha aceitaria de bom grado Uchiha Itachi e não se deixe levar pelo capricho de uma mulher sem consciência. Mais que certo que Hinata não está em suas faculdades mentais, pois erros vêm sido cometidos dia após dia dentro dos muros deste castelo. O manterei informado a cada novo movimento, nosso tempo é curto, mas conto com o senhor, com anos de glória para dar fim à tormenta de meu amado reino.
Sarutobi Hiruzen.”
A Hyuuga não se vestiu da forma costumeira, pois, apesar de ser amiga de sua convidada, certas etiquetas tinham que ser cumpridas. Suas mãos pousavam um pouco à frente de seu corpo e o vestido pesado quase não lhe causava incômodo, pois se sentia verdadeiramente bem naquele dia. Seu sorriso só se desfez com mais uma respiração pesada do Otsutsuki ao seu lado, que parecia nervoso e impaciente. Tsunade estava demorando um pouco mais que o planejado, mesmo assim não era motivo para o bater constante de pés do seu guarda.
— Há algo que eu deva saber? — disse baixo para que só o moreno a escutasse.
— Ainda é cedo para conversarmos. — Observou a carruagem da Folha adentrando os portões do muro de pedra que guardavam o castelo.
— Espero que me conte tudo, mesmo que seja mínimo. — Deu dois passos para frente para receber a Senju que descia de sua carruagem. — Tsuna. — Tentou ser o mais formal possível, mas sua vontade era de pular na amiga como uma criança.
— Ora, vamos, majestade! — Agarrou os ombros de Hinata, a acolhendo em um abraço. — Não nos vemos há séculos.
— Exagerada. — Deixou o afago da amiga para convidá-la a entrar. — Temos uma refeição agora e depois nós…
— Sem agenda, Hina. Basta meu pai e meu tio controlando meus horários. Estou oficialmente de férias. — Bateu palmas animada.
— Não somos mais crianças, Tsuna. Veio para aprender a lidar com seu gênio complicado. — Observando a cara azeda da amiga, continuou: — O tio Hashirama disse que eu deveria te ensinar algumas coisas.
Os olhos castanhos claros da Senju miraram Neji pela primeira vez e o sorriso da amiga deixou claro para a rainha o que estava por vir.
— Me ensine então a colocar um sorriso nesse rosto lindo. — Passou os dedos pela blusa do guarda real, que corou no mesmo instante. — Ou não resolveram o que tinham, ou Neji andou vendo algo que lhe agrada profundamente. Está mais bonito.
— Tsuna! — Hinata agarrou a mão da amiga e seguiu para a sala em que seriam servidas. — Pegue leve e lhe contarei tudo. — A boca da loira fez um “o” perfeito e a Hyuuga continuou: — Se se comportar.
— Sou sempre comportada, Hinata. Até parece que não me conhece.
— Majestade, não poderei acompanhá-las no café da manhã, peço que me desculpem. — Reverenciou as duas sem jeito. Gostava da loira, mas temia por sua boca sem filtro.
— Ah, que pena! — Tsunade usou seu tom exagerado. — Gostaria dessa visão no café.
— Pode ir, Neji, mais tarde nos vemos. — O moreno saiu apressado, as deixando a sós. — Você não está se ajudando.
— Se o mais tarde for em seus aposentos, eu posso observar? Para fins de aprendizado, é claro!
— Tsunade! Tenha dó, mal chegou e já nos deixou constrangidos. — Sentou-se à mesa, sendo acompanhada pela amiga.
— Meu pai sempre diz que causo sempre uma impressão. Boa ou ruim, mas fico feliz que tenham se entendido. — Buscou a mão de Hinata. — Agora me conte tudo, estou mais curiosa que faminta.
Colocando os assuntos em dia, descobriu que a amiga andava aprontando de todas em seu reino e o pedido de estudar com Hinata foi quase instantaneamente atendido, pois Hashirama achava que a filha de cabeça avoada não queria responsabilidades com o reino da Folha. Hinata contou brevemente sobre Neji e como tudo aconteceu depois do baile dos pretendentes. Tsunade ficou muito feliz pela Hyuuga e se disponibilizou para ajudá-los no que fosse preciso.
Neji voltou para a sala calado, e Hinata notou na rigidez do semblante dele que algo preocupava o Otsutsuki. Pediu licença à convidada e foram para a biblioteca, algo estava errado. Hinata sentou em sua poltrona atrás da mesa maciça de madeira, e Neji se pôs a frente dela em posição de respeito.
— O que aconteceu? Está mais sério do que o normal. — Ela arqueou a sobrancelha.
— Um dos soldados da fronteira do norte voltou hoje com notícias que não me agradaram.
— Desembucha, homem! — Hinata reclamou ansiosa.
— Parece que algumas cargas de ferro foram vistas entrando no reino do Fogo.
— Ferro? Só pode ter vindo do reino…
— Da Areia — o moreno completou.
— O que Madara está planejando? — Ela mordeu o lábio, pareceu pensar em algo. — Uma guerra? E com a ajuda do reino da Areia? Contra quem, Neji?
— Nós? — Ele torceu os lábios, fazendo com que Hinata franzisse o cenho. — Pense comigo, majestade. E se ele ficou sabendo sobre… você sabe, nós.
— Apenas o conselho sabe sobre nós.
— E alguns empregados.
— Merda! — Ela bateu na mesa. — Alguém ousou trair sua rainha?
— Hinata, calma, precisamos pensar…
— Não! — Interrompeu seu guarda. — Não posso ter calma. Além de ter alguém me traindo embaixo do meu nariz, Temari foi minha aluna e vai me trair dessa forma?
— Se você não tiver calma e pensar racionalmente, vamos ter problemas, alteza.
Hinata então respirou fundo para se acalmar, fechou os olhos e tentou pensar na melhor estratégia para lidar com essa novidade nada agradável, contudo, seus pensamentos foram rudemente atrapalhados por batidas à porta. A Hyuuga maneou a cabeça para Neji abrir a porta, revelando Tsunade, que entrou sem cerimônias.
— As paredes são grossas, mas ouvi seus gritos quando estava passando no corredor. O que aconteceu? — Hinata mirou Neji de soslaio, e ele fechou a porta.
Ela explicou tudo a Tsunade, que aconselhou ela a enviar uma carta para Temari para saber o que estava acontecendo. Talvez fosse apenas um mal entendido, pelo que Hinata tinha contado para a Senju, ela e a Sabaku tinham se dado muito bem. Não haveria motivação para travar uma guerra com ela. A morena bufou, estava irritada. Neji, percebendo seu humor, já planejava uma solução para acalmá-la e algo lhe vinha à mente, sendo repreendido pela sua razão logo em seguida. Hinata estava o transformando em um devasso, não que ele não gostasse, mas, naquele momento, precisava ser racional.
— Marque uma reunião de urgência com o conselho. Quero todos aqui no fim da tarde.
— Você não acha que pode ser alguém do conselho? — a loira perguntou. — Sem ofensas, Neji.
— Claro que não, todos são confiáveis, trabalharam para o meu pai — Hinata afirmou com confiança. — Vou escrever uma carta para Temari e quero que seja levada imediatamente até o reino da Areia. Em absoluto sigilo.
— Sim, majestade.
— Também quero escrever uma carta para o meu pai.
— Claro, Tsuna.
Seus passos não eram vacilantes, contudo, havia certa ansiedade impedindo que Hinata fizesse aquele caminho conhecido facilmente, como de costume. O som das batidas dos pés sobre o chão de pedra polida era irritante, e mesmo que o medo de uma ameaça iminente de um ou mais reinos batesse à porta, havia coisas a resolver imediatamente.
Neji saiu de seu lado para abrir as portas duplas do local e sua entrada foi anunciada. Tsunade, mostrando que estava ao seu lado, lhe apertou a mão antes de acompanhá-la. Todos os homens se levantaram e reverenciaram a rainha, que respondeu com um aceno, contida.
— Senhores, agradeço o comparecimento de cada um. Devido à urgência dos assuntos, é de extrema importância que… — Foi impedida de continuar com um pigarro do velho.
— Não deveríamos tratar de assuntos delicados na presença de estrangeiros, majestade.
— Se houvesse paciência de sua parte — elevou a sobrancelha —, entenderia que Tsunade está aqui para aprender meu ofício, sendo a próxima rainha do reino da Folha.
— Perdão, alteza — reverenciou novamente —, mas receio que a princesa não deveria ouvir todo assunto que tratamos aqui.
— Quem decide isso sou eu, concorda? — indagou ao velho, que se calou. — Perfeito. Enviei duas cartas para os reinos da Areia e da Folha em busca de respostas para o que o chefe da guarda real me confidenciou. Há movimentações suspeitas em nossas fronteiras, então é de vital importância que tenhamos controle do material que é transportado, já que ele passa por nossas terras.
— Majestade, não podemos ter nota de toda madeira e linho que entra em territórios vizinhos — Shino, o mestre do comércio exterior, começou.
— Não há medidas ou leis como esta em vigor — Inoichi acrescentou.
— Não é momento para saber o número de cada pedaço de porcaria que os reinos estão transportando. — A paciência de Hinata com o Sarutobi estava no limite.
— Não é madeira, senhores, muito menos quinquilharia. — Direcionou um olhar repreensivo para Hiruzen e voltou a olhar para todos. — Temos informações preocupantes sobre o número de ferro que cruzou a fronteira em direção ao reino do Fogo pela manhã. Ou não confiam em mim, ou em Neji? — Todos pareceram perder os argumentos que planejavam. — Tenho meus temores e peço que compreendam minha busca por respostas. Temari já foi avisada e o senhor Hashirama também, por sua filha, em meu nome.
— Com o devido respeito, majestade, mas não está sendo precipitada?
No mesmo momento, Neji respondeu:
— O que acha que se faz com ferro, Sarutobi? Guerra. E não me lembro de ter visto o senhor em nenhuma frente de batalha, então não venha com pensamentos pacificadores quando não viveu um dia de sua existência lutando por sua vida.
— Entendi bem o que diz, jovem Otsutsuki, mas, por sermos precipitados, poderíamos colocar a paz a perder. Vivi muito, é certo, e aprendi que o melhor caminho é a paz.
— Não há paz se apenas um dos lados deseja verdadeiramente — Shikaku Nara disse, sem olhar para nenhum dos presentes. Fazia anotações em um pergaminho, provavelmente pensando em alguma estratégia. — Tenho que conversar com o comandante da guarda para pensar nas devidas providências.
Um deles já estava ao seu lado, faltavam os demais.
— Posso contar com o senhor Inoichi para pensar em novas normas que nos deixem mais seguros a respeito de cargas? — O homem, sempre calado, apenas concordou com a cabeça.
— Creio que está cometendo um erro, mas quero estar a par de todos os passos dessa força — Hiruzen comentou.
— Não acho necessário. O senhor nunca participou de uma guerra, não saberá como lidar com algumas questões. — O chefe da guarda real foi ríspido.
Hinata achou estranha aquela opinião de Neji, mas decidiu perguntar outra hora, pois se ele queria o Sarutobi afastado das estratégias de guerra, havia um motivo.
— Se estamos de acordo com a questão da ameaça, peço que respeitem meu próximo assunto. — Levantou-se, mantendo o seu lugar junto à mesa. — Me casarei daqui há alguns meses, e meu pretendente está nessa sala.
— Não pode fazer isso, minha jovem — falou, de modo exasperado.
— Silêncio, meistre Sarutobi. — A Hyuuga uniu as mãos à frente de seu corpo e continuou: — Não é novidade que Neji e eu temos sentimentos um pelo outro e quero oficializar tudo, comemorando o meu casamento. Não desejo palavras de nenhum dos senhores se não forem votos de felicidade.
— Os outros reinos não participarão desta… — O velho foi interrompido.
— Espero que o Meistre Sarutobi tenha gostado da escolha, já que se empenhou tanto em buscar longe algo que sempre esteve debaixo de seu nariz. — Sorriu amável, porém sua vontade era de esganar o ancião. — Não se preocupe com os demais reinos. Enviei cartas justamente para saber a posição da Areia e da Folha quanto a isso, e sua prioridade é a Lua, não esqueça.
— Meu pai apoiará toda decisão que eu tomar, e tenho um pergaminho do conselho me dando poderes para tal. Então declaro que o Reino da Folha está feliz com o casamento da Rainha Hinata. — Muito entusiasmada, Tsunade não levava mesmo jeito, mas tinha a força necessária para ser rainha. Trabalharia dobrado com a amiga para torná-la a melhor em tudo.
As considerações finais foram feitas por Shikaku, que ficou na sala do conselho a sós com Neji. Hinata e Tsunade partiram em direção aos aposentos da rainha para comentários óbvios sobre a reunião que tinha deixado Hinata fora de si. Quem Hiruzen estava pensando que era para questionar suas decisões daquela forma? Tinha perdido a noção do seu devido lugar? Caso fosse isso, ensinaria boas maneiras a ele novamente. A Senju a acompanhava com os olhos, enquanto ela andava de um lado para o outro. Aguardava ansiosamente Neji chegar ao seu quarto, queria saber o que o Nara tinha falado e o que tinha sido decidido para enfrentar a suposta guerra que tinham pela frente.
Temari No Sabaku.”
Hinata deveria estar feliz em saber que a amiga do reino da Areia e seu irmão não tinham ligação com os carregamentos de ferro para Madara, mas ter certeza só fez piorar seus pensamentos. Se nem Temari sabia, como seria ela capaz de entender o que se passa na mente do Uchiha quando procurou tratados para conquistar mais ferro? Sua mão foi imediatamente à testa. Buscava clareza em algo tão turvo quanto uma guerra não declarada e às escuras. Poderiam ser pegos de surpresa, o que acarretaria em um massacre como os contados em alguns pergaminhos antigos, tudo isso bem típico da família Uchiha.
Deixou a carta da amiga em sua mesa. Estava sozinha na biblioteca, novamente tentando colocar as coisas em seu devido lugar. Cada nova informação pequena em um emaranhado de outras informações que nem ao certo poderiam dizer serem verdadeiras. Cada reino sabia de si, mas nunca qual era a vontade de outros. O que Madara estava tramando ainda era segredo, entretanto, sentia que algo muito errado a cercava por todos os lados. Não podia confiar em ninguém, muito menos dar-se ao luxo de estar errada. Ser pega desprevenida não era uma opção, e Neji se encarregava de treinar mais os soldados disponíveis e deixar de sobreaviso alguns outros. Essa era a estratégia combinada na semana anterior.
Sabia viver sob pressão, sempre atenta a um inimigo declarado, mas quando esse inimigo não possuía rosto, se tornava difícil a tarefa de se preparar para um ataque, caso houvesse. Era tudo tão incerto e estar no meio dos preparativos para o grande discurso estava tirando a rainha do sério. Os dois na verdade. Há tempos não tinha um segundo de paz para aproveitar a companhia do futuro marido.
— Você está bem? — A voz rouca que ela tanto amava ouvir ecoou pelos seus pensamentos, a trazendo de volta à realidade.
— Estaria bem se não houvesse um perigo iminente batendo à minha porta e eu nem sequer sei que perigo é esse.
— Não se preocupe, vá ministrar a aula para Tsunade que eu me encarrego de proteger suas costas. — O moreno sorriu minimamente ao ver os olhos perolados a mirando de forma carinhosa. — O que foi, alteza?
— Estou admirando você… Às vezes você se esquece que o amo tanto quanto você me ama. — Ela levantou e foi em direção a ele, apoiando a mão em seu peito. Olhou nos olhos do Otsutsuki. — Eu também quero proteger suas costas, Neji. — Hinata sorriu e deu um beijo rápido em seu guarda. — Vou indo, Tsunade me aguarda. — O moreno ficou surpreso, mas feliz.
Ela saiu dali e foi em direção à sala de estudos. Quando Temari estava recebendo as lições, a Hyuuga pediu para ser feita uma sala especial para suas aulas. Entrou e viu a amiga sentada à sua espera. Antes de começar os estudos de fato, contou sobre a carta do reino da Areia e o quanto estava aliviada de não os ter contra si. Muito pelo contrário, Gaara e Temari a apoiavam tanto em seu casamento, quanto se uma guerra viesse a acontecer. Longas horas depois, as duas saíram de dentro da sala exaustas e foram em direção à sala de jantar, com Neji atrás delas. Sentaram-se à mesa e fizeram a refeição com calma, aproveitando cada sabor que tocava em suas línguas.
A Hyuuga estava contando os minutos para estar em seu quarto. Apesar de estar cansada, queria apenas mais uma coisa naquela noite: Neji. Despediu-se de Tsunade na porta do quarto dela e seguiu para o seu com o Otsutsuki em seu encalço, o sorriso depravado já brincava nos seus lábios em plenos corredores do castelo. Entraram nos aposentos reais e Hinata virou para Neji, que entendeu tudo apenas pelo olhar cheio de luxúria da rainha.
A buscou com as mãos e agarrou sua coxa e a nuca, beijou os lábios carnudos da morena com vontade. Sentiu o arfar dela próximo de seu ouvido quando beijou o pescoço alvo. As mãos pequenas da Hyuuga desfilavam pelo corpo escultural do guarda, tirando devagar as roupas pesadas que ele usava. O vestido foi o próximo a ir ao chão, as curvas delineadas de Hinata foram descobertas e completamente adoradas pelos lábios do moreno. Ela sentia seu corpo inteiro arrepiar a cada toque que sentia, cada beijo, lambida e os dedos deixando marcas em sua carne.
Neji a pegou no colo e caminhou até a cama, a colocou com delicadeza em cima dos lençóis e voltou a beijar seu corpo. Deslizou os dedos até a fenda de Hinata, que já estava encharcada, fez movimentos circulares no clitóris e desceu os dois dedos, a penetrando. Um gemido sôfrego deixou a garganta da Hyuuga e essa foi a deixa para ele descer sua língua até o meio das pernas dela. Chupou com desejo, lambia toda a extensão de sua intimidade, e a morena gemia alto, puxando os cabelos compridos do Otsutsuki.
— Ne-neji…
— Me diga o que quer, majestade… — A voz rouca surgiu entre os barulhos indecentes do sexo que faziam.
— Quero gozar… pra você. — O mais velho sorriu e começou a tirar as calças.
— Fica de quatro, Hina. — Era a primeira vez que Neji pedia para que ela fizesse algo, e ela fez com todo o prazer. Posicionou-se na cama e logo sentiu o pau de Neji entrando em si. A cada centímetro, ela revirava os olhos de prazer. — Está gostoso, alteza?
— Por Deus, Neji. — A Hyuuga quase gritou quando ele acelerou as estocadas. Ele levou a mão até a dela, a puxando.
— Se satisfaça… — Colocou a mão direita de Hinata sobre seu clitóris.
— Eu…
— Só faça, Hina — ele a cortou. — Não fique com vergonha de mim.
A Hyuuga começou a se estimular e não demorou nem três minutos para ela começar a sentir o calor tomando todo o seu corpo. Neji rosnava com o canal da morena mastigando seu pau de forma arrebatadora. Hinata, a cada segundo, gritava mais alto, e o moreno apertava ainda mais o quadril dela, tentando manter a sanidade. Contudo, o calor que dividiam foi cada vez mais tomando proporções exacerbadas, até transbordarem em orgasmos. Os dois deitaram na cama, exaustos. Ele beijou o ombro de Hinata e a apertou contra si para embarcarem em um merecido descanso.
Acordaram nus, enrolados nos lençóis. Para Hinata, essa era a melhor forma de acordar. Neji a abraçou assim que sentiu ela se mexer, se aconchegaram um no outro e, por eles, passariam o resto do dia ali.
— Hina! — Tsunade invadiu o quarto gritando. — Ah, meu Deus, perdão! — A loira virou-se de costas.
— Tsunade! — Hinata ralhou com a Senju, sentando na cama de forma brusca. — Você conhece as boas maneiras, não?
— Me perdoe, não sabia que estavam… — pigarreou — dormindo juntos.
— Agora que já invadiu meu quarto, o que houve?
— Itachi Uchiha está aqui.
— O quê?! — A Hyuuga saltou os olhos e olhou para Neji como se buscasse alguma resposta, mas o moreno apenas deu de ombros. — Saia, vou me vestir.
A loira deixou o quarto, e Hinata e Neji se arrumaram para receber a visita, no mínimo, inesperada. Hinata marchava pelos corredores do castelo com Neji atrás dela tentando a acalmar, ela não podia cometer nenhum deslize. O anúncio do casamento seria feito dali há duas semanas, pois esse seria o tempo de eles organizarem tudo e quem sabe descobrirem o que Madara pretendia. Quem sabe até a Hyuuga poderia arrancar algo do filho mais velho, ele sempre foi tão receptivo com a rainha, poderia ser uma boa estratégia, e Neji falava justamente sobre isso. A morena entrou na sala de jantar, notando a presença do Uchiha sentado à mesa e, do outro lado, Tsunade.
— Majestade. — Itachi se levantou e se curvou.
— Bom dia, Itachi. O que te traz ao meu reino tão cedo? — Hinata contornou a longa mesa de madeira e sentou em seu lugar de costume.
— Eu estava resolvendo algumas coisas e como iria passar por aqui, resolvi lhe fazer uma visita, caso você permita, claro. — O Uchiha sentou novamente.
— Fique à vontade, só não tanto… Estou um pouco ocupada dando aulas para a princesa Senju. — A Hyuuga apontou para a amiga ao seu lado, e ele sorriu.
— Jamais a perturbaria, alteza. Queria lhe dar esse presente — o Uchiha pegou a caixa que estava do outro lado da mesa e colocou a frente de Hinata — e, se possível, passar algum tempo com você.
A Senju olhou para Neji e jurou que ele quebraria os dentes caso forçasse mais o maxilar, os olhos dele pareciam estar vermelhos de raiva. Tsunade achava que um banho de sangue seria travado bem ali na mesa do café da manhã. Hinata colocou a mão no peito e fingiu surpresa, abrindo a caixa e notando a joia em forma de colar. Ela suspirou, sabia que não tinha avisado ao reino do Fogo que já tinha encontrado seu futuro marido e ela tinha um motivo para isso. Sentiu que aquela visita não era apenas um galanteio de um pretendente, parecia fazer parte do, seja lá qual for, plano de Madara. Contudo, caso fosse assim que ele queria ter a certeza, que fosse.
— Obrigada, Itachi, mas não posso aceitar. — Ela fechou a caixa novamente e a empurrou em direção a ele. Neji sentiu sua respiração pesar, o ar do ambiente tinha ficado tenso. A Senju engoliu em seco, prevendo as próximas palavras da amiga.
— É apenas um colar, majestade. Quando você aceitar minha proposta, lhe darei muitos outros. — Ele sorriu convencido. — Você bem sabe que o reino do Fogo é rico em pedras preciosas.
— Eu não vou aceitar a sua proposta — falou simplista.
— Outro reino fez uma melhor? — Itachi sentiu seu coração acelerar, não podia perder a rainha Hinata, ele a queria. — Eu posso refazer a oferta, posso oferecer mais.
— Eu não sou um tratado! — Hinata bateu o punho na mesa.
— Hina… — Tsunade tentou tocá-la, no entanto, foi em vão. Hinata estava cansada de se sentir um objeto, ou algo que servisse apenas para ligar um reino a outro através de um tratado.
— Meu coração não está à venda, muito menos meu reino — a Hyuuga falava com amargura, estava cansada daquilo tudo. — Eu já tenho um futuro marido, mas já que seu pai não pôde esperar meu comunicado oficial, eu vou mandar o aviso por você.
— Majestade, acho melhor… — A rainha ergueu a mão para Neji sem olhar.
— Eu vou casar com Neji Otsutsuki. — Itachi arregalou os olhos.
— Seu guarda? — Ele olhou para o moreno em pé atrás da rainha e voltou a encarar Hinata. — Isso é algum tipo de afronta?
— Como ousa falar isso dentro do meu reino? — Ela o mirou incrédula. — Está tentando estabelecer uma guerra entre nossos reinos, príncipe Itachi?
— Jamais faria isso, perdão, majestade. — Ele fez uma reverência com a cabeça. — Acredito que — ele levantou — seja melhor eu ir embora.
— Nada me parece melhor. — Olhou para o guarda que estava em sua lateral esquerda. — Haru, acompanhe o príncipe Itachi até a fronteira de seu reino.
Itachi a reverenciou mais uma vez e saiu dali, acompanhado pelo guarda real. Hinata fechou os olhos e respirou fundo três vezes, precisava se recompor. Sua vontade era de quebrar algo ou talvez gritar até Madara escutar do outro lado da fronteira. Contudo, o silêncio foi cortado pelos empregados — que acataram a ordem de Neji de poder servir o café da manhã — colocando os pratos em cima da grande mesa. A rainha começou a comer devagar, como se nada tivesse acontecido. Tsunade olhou para Neji, que parecia tão curioso quanto ela, os dois tentavam entender a irritação repentina com o Uchiha e a calmaria que se seguiu.
— Está tudo bem? — a loira perguntou, quase sussurrando.
— Sim, está — Hinata respondeu, deu um gole em seu suco e continuou cortando suas frutas. — Neji, o comunicado do casamento será feito ao fim dessa semana, organize tudo.
— Sim, majestade.
Itachi foi a viagem inteira confuso, queria saber o que tinha acontecido tão de repente para a rainha o tratar de forma hostil. Estava pensativo, pois foi realmente uma surpresa a reação de Hinata à sua presença, já que no baile eles se entenderam tão bem, e ele não deixaria que isso passasse despercebido, caso houvesse algo que ele não soubesse, ele queria ter o conhecimento. Algo o dizia que Madara tinha o mandado ao reino da Lua por um motivo maior. O Uchiha não sabia, mas ele não poderia estar mais certo, não era à toa que era o gênio da realeza. Desceu da carruagem e adentrou o castelo, pisando duro. Estava irritado pela vergonha que passou logo pela manhã com a Rainha que mexia com seu coração.
— Alteza — Itachi vociferou em voz alta, assim que entrou na sala do trono.
— Já voltou, Itachi? Esperava que fosse aproveitar mais o seu tempo com a Rainha Hinata — falou de forma desinteressada.
— Aproveitaria, caso ela já não estivesse noiva — o príncipe rosnou irritado.
— Não recebemos nenhum aviso formal da rainha recusando nossa oferta. — O rei sabia esconder bem suas artimanhas, mas não de seu filho mais velho.
— Tem certeza? — Ele franziu o cenho. — Ela parecia bem alterada com a minha presença.
— Alterada? — Madara arqueou uma sobrancelha. — O que realmente aconteceu?
O príncipe contou tudo que tinha acontecido e com quem ela iria se casar. Madara achou aquilo uma afronta, principalmente pelo fato dela ter tratado Itachi como tratou. Na concepção dele, a rainha só poderia estar fora de si, tinha perdido completamente seu juízo. Iria se casar com um guardinha com tantos príncipes à sua disposição para lhe dar a melhor das vidas. Na cabeça dele, não fazia sentido e iria escrever uma carta não só para a rainha Hyuuga, mas também para os outros reinos, afinal, ele tinha que impedir essa loucura.
— Gaara, você precisa ler esse absurdo! — Temari vinha a passos rápidos até o irmão, que conversava com Kankuro na mesa do café da manhã.
— O que houve, Temari? — Ela entregou o pergaminho contendo a carta de Madara, queria que todos os reinos se unissem para uma assembleia, afinal, era de interesse de todos que a rainha escolhesse um dos príncipes. — Mas que ultraje! A rainha Hyuuga pode escolher quem quiser para se casar, mesmo que não seja da coroa. Nós já demos nosso apoio a ela, não irei a esse circo que o Madara está tentando armar.
— Irmão, e o carregamento de ferro que a rainha Hinata falou?
— Já estamos averiguando o que está acontecendo dentro do meu reino — o ruivo falou confiante.
— Isso é algo grave, Gaara. É sinal de guerra — a loira disse preocupada.
— Eu sei. O que descobrimos até agora é que tem algum traidor roubando o ferro para levar para o reino do Fogo.
— Precisamos descobrir com urgência quem é esse traidor. — Kankuro franziu o cenho, preocupado.
— E saber se o Madara vai mesmo começar uma guerra por causa disso — Gaara concluiu.
— Posso avisar à rainha Hinata o que Madara está planejando? — Gaara assentiu e a loira foi a passos rápidos escrever uma carta para a rainha e amiga, Hinata Hyuuga.
Minato olhava a carta com as sobrancelhas juntas, Kushina esperava pacientemente que seu marido lhe desse algum sinal do que aquilo se tratava. Estava começando a ficar nervosa, e então ele pediu para que um guarda chamasse seu filho, Naruto. Quando o Uzumaki chegou ao escritório de seu pai, pôde constatar que o assunto pouco lhe importava, afinal, ele se casaria com a princesa de um reino menor, mas que seria de muita ajuda ao seu próprio reino.
— Não me sinto desonrado. A rainha Hinata sempre foi uma mulher forte e confiante da sua força. — Ele encarava o pai de forma séria. — Tenho certeza de que vai saber contornar tais problemas, mas se ela precisar, prefiro ficar ao lado dela.
Kushina olhou para seu filho e sentiu orgulho, estava se tornando um homem e tanto. Achava aquela atitude de Madara um tanto exacerbada, primeiro que não havia necessidade dele se intrometer na escolha da rainha, segundo que ela escolhe seu marido, seja por tratado, ou seja por amor, como ela escolheu Minato.
— Acredito que nosso filho esteja certo, Minato. A rainha Hyuuga se mostrou forte e uma boa aliada do nosso reino.
Minato olhou para seu filho e esposa parecendo ponderar as palavras dos dois. De fato, o reino da Lua sempre foi um grande aliado, fosse no livre comércio ou em batalhas. A rainha Hyuuga sempre se mostrou disposta a ajudá-los e era uma voz empoderada diante de tantos reinos com apenas homens no poder. Ele tinha que concordar, de nada serviria para ele entrar em discordância com o reino da Lua por um mero casamento, o qual ele nem mesmo fez uma proposta. Claro que Madara não sabia disso, mas, como eles estavam lá no baile, ele deve ter suposto.
— Estou sem acreditar que ele faria algo assim — Hashirama bradou irritado. — Se ele começar uma guerra por causa do casamento da Hinata, eu vou acabar com o reino do fogo, coisa que já devia ter feito há muitos anos.
— Falei isso diversas vezes, irmão. Uchihas são todos egocêntricos e de caráter duvidoso, não me espanta Madara tomar tal atitude — Tobirama disse com propriedade. — Ele acha que seu filho foi desonrado porque foi rejeitado. — O mais novo revirou os olhos. — Não esperaria menos de Uchiha's.
— Deixa seu ódio pelos Uchiha's fora disso, Tobirama. Precisamos pensar no que fazer, afinal, é bem capaz que ele trave uma guerra desnecessária por achar imoral ela casar com o Neji.
— Não é como se ele fosse um guarda qualquer. Ele é do conselho, é o comandante da guarda real, além de ser guarda pessoal da rainha. — O grisalho suspirou. — Faz tantos anos que não temos uma guerra, irmão. Pode até ser divertido cortar algumas cabeças.
— Por Deus, Tobirama. Ainda bem que não assumiu o trono. — Hashirama saiu pisando duro, precisava mandar uma carta para sua filha. Tsunade estava no reino da Lua e isso melhoraria sua comunicação, além dela ser seus olhos e ouvidos por lá.
Rainha Hinata,
Gostaria de falar sobre um assunto delicado. Meu filho ficou extremamente desolado de não ter recebido uma carta formal recusando o pedido de casamento, mas o que me deixou preocupado foi saber que pretende se casar com alguém da plebe. Nós, líderes, devemos seguir os princípios que fazem um reino ser rico e bem sucedido. Receio que com a informação de que pretende se casar com o seu guarda pessoal, me faz pensar que esteja sendo irresponsável na regência do seu cargo.
Além de que uma rainha deve casar-se com um príncipe ou um rei, para dar continuidade ao legado com alguém apto a tal feito. Quero lhe informar que convoquei uma assembleia com os outros reinos, já que acredito que é de interesse de todos essa sua atitude para com os acordos já firmados. Mesmo assim, reforçamos que nosso reino está feliz pela escolha da Rainha, mas muito preocupado com o que outros reinos achariam da jovem Hyuuga.
Tenho conhecimento do quão difícil é reger sendo uma dama. Mesmo tão destemida como a menina se mostra, não acho prudente que a jovem tenha que enfrentar futuros desatinos ao lado de um homem tão jovem e pouco treinado para os deveres de um rei, mas desejo-lhes toda a felicidade que puderem ter e paz, caso encontrem.
Uchiha Madara.
Respirou uma, duas, quantas vezes foram suficientes para estabilizar sua respiração. Ódio líquido circulava em suas veias naquele momento. O pergaminho mal chegara e a pressa da rainha a fez deixar tudo do lado de fora da biblioteca para ter certeza das intenções do reino do Fogo. Ele foi exatamente como o esperado. No meio de tantas palavras educadas, algumas ameaças veladas, como o veneno que saía da boca do rei Uchiha, sempre escorrendo pelos lados. Nada muito revelador, mas aquela paz a que Madara se referiu era um desafio.
Ele não daria paz, sem dúvidas estava armando algo grande e inesperado. Já imaginava que uma das jogadas do Uchiha poderia ter contado com outros reinos não lhe estendendo a mão, automaticamente os colocando ao seu lado, mas Hinata foi mais esperta nesta parte. Mal sabe o velho que a tal jovem rainha também tinha o que ensinar. Ouviu batidas na porta e imaginou quem seria. Permitiu que Neji entrasse e, sem explicações, estendeu o pergaminho recém chegado.
O moreno continuou de pé, perto da Hyuuga, e, quando terminou a leitura, sorriu para a morena.
— Um desafio? — Negou levemente com a cabeça, recebendo uma afirmação da morena.
— Madara nos desejou felicidades, agora sinto que minha vida valeu a pena — falou debochada e se levantou, encontrando o corpo do noivo. Sentiu as mãos ágeis em sua cintura e aproveitou o toque do moreno; seu pedaço de calmaria em um mar de possibilidades, potencialmente assustadoras; a escolha certa. — Temos que fazer valer votos tão sinceros.
— Farei de tudo para que Madara tenha exatamente o que desejou, Majestade. — Selou os lábios nos de Hinata, com um sorriso cúmplice e cheio de promessas que somente os dois compreendiam.
Naquela noite, se amaram como em tantas outras, dormiram abraçados, sentindo a pele quente. Eles estavam satisfeitos apenas por estar na companhia um do outro, era o que mais deixava-os felizes. Em breve, poderiam gritar ao mundo que se amavam. Estariam casados, afinal. Era tudo que Hinata queria, tudo que ela almejava, poder mostrar a todos o quanto o seu guarda pessoal era importante para si. Queria deixar claro que a partir do momento que trocassem alianças e que a coroa fosse colocada na cabeça de Neji, ele teria que ser respeitado e visto como seu marido e rei.
Acordaram com batidas insistentes na porta dos aposentos reais. A rainha forçou os olhos, enquanto Neji já estava em pé, com a espada em punho, mesmo que estivesse despido. Quando se tratava da segurança de Hinata, ele sempre estaria pronto, dormia com um olho aberto e outro fechado, não hesitaria em matar quem quer que entrasse ali sem permissão. A visão da Hyuuga foi desembaçando e viu o seu guarda — e noivo — em posição de ataque. Por Deus, ele não perdia a mania de pensar sempre o pior. Pensar demais era seu defeito.
— General Neji, precisamos de sua presença, e, se possível, da rainha também. — O Otsutsuki franziu o cenho e olhou para trás, encontrando Hinata tão confusa quanto ele.
— Já vamos, nos espere no salão do trono. — Neji virou para Hinata e ela tentava se orientar, olhou pela janela e via os primeiros raios de sol surgirem. — Não sei o que houve, mas para Haru vir nos chamar, algo grave há de ter acontecido.
— Vou me vestir. — A Hyuuga, agora mais desperta, se levantou depressa, colocou um vestido simples e pediu ajuda para Neji ajustar o tecido no seu corpo. O guarda fez o mesmo, colocando sua roupa de sempre. Ao chegarem ao salão, Hinata viu um homem de joelhos, preso e sendo segurado entre dois soldados. Arqueou a sobrancelha e reclamava mentalmente. Caso fosse um caso de um roubo no vilarejo, podia dar cabo do assunto pela manhã. Sentou-se no trono, sendo reverenciada por todos que ali estavam, e Neji ficou em pé, um pouco à frente da rainha para comandar seus soldados.
— O que significa isso? — bradou alto e em bom tom. — Algo importante, creio eu, para tirar sua majestade de seu sono.
— Perdão, alteza — o capitão do pelotão noturno do exército pediu, sem jeito. — Acredito que seja de extrema importância. Este homem estava carregando ferro até o reino do Fogo. — Hinata saltou os olhos. — Talvez ele possa nos dizer algo quanto a isso, já que não é de conhecimento do Rei No Sabaku. — Neji olhou de soslaio para Hinata, como se perguntasse se ela queria fazer as perguntas, mas ela assentiu para que ele continuasse.
— Bem, o que descobriram? — perguntou, de forma calma.
— Ele não quis falar.
O Otsutsuki ponderou suas próximas palavras, porém preferiu ir até a rainha e colou os lábios próximo ao seu ouvido. — Prefere mandar para Gaara? — A Hyuuga maneou a cabeça, concordando, e o general virou-se para o restante dos presentes. — Levem-no para o Rei Gaara e digam exatamente o que aconteceu.
Os soldados saíram dali levando o homem consigo. Neji virou para Hinata, que soltou o ar de seus pulmões e levantou, tendo a mão de seu noivo à sua disposição para apoiá-la. Seguiram pelo corredor e enfim estavam em seu quarto novamente. A rainha deixou o vestido escorregar pelo corpo até atingir o chão, se deitou entre os lençóis e o moreno sorriu. Sentou na beirada do colchão, acariciou o rosto pálido e beijou a testa.
— Acha que vamos conseguir resolver tudo isso sem uma guerra?
— Acredito que seria o melhor caminho, mas não sei se Madara nos deixará escolha. — Neji bufou, derrotado. — Esse carregamento antes do sol nascer é muito suspeito.
— Estou preocupada… — O olhar de Hinata vagava pelo quarto. Estava distante, pensando nas opções que teria. Precisava manter Neji seguro, pois ela tinha quase uma certeza de que seria onde Madara a atingiria, direto no coração. Caso o traidor dentro de seu próprio reino também estivesse em conluio com Madara, seria fácil para ele matar seu amado, no entanto, isso ela não permitiria, pois se Neji poderia empunhar a espada por si, ela também empunharia por ele, mesmo sabendo tão pouco sobre batalhar.
— Vai ficar tudo bem, nada vai acontecer com você. — Desceu os dedos pelos cabelos negros, deslizando entre os fios, a olhava com carinho e cuidado.
— Não estou preocupada comigo. Sei que Madara é louco, mas não burro. — Hinata atirou as palavras com certa brutalidade. Seu interior se contorcia só com a ideia de perdê-lo, não suportaria sua morte. Era capaz de matar qualquer um que se atrevesse a fazer algum mal a ele. Nunca se sentira desse jeito. Suas mãos deslizaram pelo peito dele em busca de acalmar a si mesma e se convencer de que ele sempre estaria ali. Sua garganta fechou-se e quase sentiu lágrimas em seus olhos pelos pensamentos que rondavam sua mente, deixando Neji um tanto desconfiado com o seu comportamento. Ele sabia que Hinata se preocupava e pensaria nele como algo a ser usado contra ela, principalmente se Madara declarasse guerra. — Não vou deixar nada acontecer com você.
As paredes escuras do pequeno cômodo escondido no castelo pareciam se fechar conforme o tempo passava ali. Sofria com o calor das terras secas, mas repletas de riqueza em minério. Tudo que quis até ali foi dar início à sua trajetória até algum lugar de prestígio no reino, em qualquer um deles, algo que pudesse levar sua família a festas requintadas. Queria mudar de vida, mesmo que fora da lei, sendo procurado futuramente por alguns reis, isso não vinha ao caso antes, não naquele dia.
Ele saiu de sua casa e encontrou o homem loiro, muito conhecido pelo reino dos Sabaku. Este homem o chamou para participar de um pequeno grupo que agiria de forma sorrateira, buscando unificar algumas terras. Ele não negou fazer parte, sabendo do nome de peso de ambos os participantes. O loiro lhe prometeu muito ouro e títulos, com a ajuda do parente do rei, quando tudo que o homem por trás do plano conseguisse conquistar fosse o primeiro reino. Seus planos eram esses; fazer sua parte e depois colher o apoio de quem o convidou para o trabalho.
O ex artesão fabricava armaduras simples para alguns soldados do exército real. Os que faziam a guarda das fronteiras, longe dos olhos da população, longe das exigências da realeza. Sem requinte, sem detalhes, um desperdício de suas habilidades, mas pagava as contas de sua família, e apesar de não ser casado ainda, o jovem já sustentava uma pequena casa modesta, com os pais velhos e doentes, que pouco ajudavam nas tarefas. Não queria reclamar, mas nada do que tinha era suficiente. Ele deveria fazer algo para mudar, para ter mais, para dar mais a seus pais e retribuir o que foi passado para si. O reino não fez bom uso de seus talentos e o jovem ferreiro de família humilde aceitou a missão.
Recebia o carregamento de sempre, para a manutenção e forja de novas armaduras, e, no meio de toda a tralha de armaduras gastas, um grande acréscimo que seria levado por ele até a divisa do reino do Fogo. O caminho era longo e deveria ser feito sem pressa, com uma pequena carroça antiga disfarçada como agregadora de porcos, cheias de ferro coberto com capim para tentar passar despercebido caso algum guarda o parasse.
Funcionou até alguns dias, ou semanas antes, quando um guarda da Lua pediu para inspecionar a carroça, dando fim à renda extra do ferreiro e longos dias de caminhada entre os reinos. A única porta do cômodo quente foi aberta, e o som do ranger das fechaduras característico de dobraduras velhas e pouco usadas há tempos.
Achava que nada poderia ser pior que o seu transporte até o Reino da Areia, mas o tempo que havia passado ali preso com algumas cordas içando-o pelas juntas de seu corpo piorou um pouco sua situação. Assim que chegou, foi para o ar, amarrado por nós apertados. Punhos, cotovelos, joelhos, pescoço; sendo movimentados por guardas quando bem queriam. O prisioneiro virou uma marionete e era maltratado para revelar quem o fez trair seu rei. Estava farto de esconder aquilo, tudo estava perdido mesmo.
A figura conhecida, que o visitava algumas vezes, mas nunca de fato o tocou, foi avistada. Apenas puxava as cordas e fazia a mesma pergunta. Chegou mais perto, sorriu de forma fria e, mais uma vez, perguntou:
— Quem fornecia o carregamento?
Não comia, não via a luz do dia. Não havia esperança. Estava morto ou preso para sempre. Perdeu de todas as maneiras, mas levaria consigo os homens que o levaram até ali.
— Sasori Akasuna tem contatos fora do reino, e um de seus capangas veio diretamente a mim, pedindo ajuda para retirar o material do reino e o levar até às terras Uchihas.
— Acaso saíam de sua cabana? — Kankuro passou a mão em uma das cordas, a puxando para mover o braço esquerdo do prisioneiro.
— Não, senhor, há um grande galpão de madeira escondido entre as formações rochosas afastadas do reino.
— As antigas minas? — Passou sua mão por uma corda e ergueu o outro braço do prisioneiro.
— Sim… — gemeu. A dor começava a incomodar seus ossos, e o vermelho da pele queimava a cada movimento do irmão do rei. — A antiga mina, senhor.
— Majestade, temos a localização do traidor! — Kankuro falou, adentrando a sala do trono.
O ruivo levantou em satisfação, afinal, era seu reino, o controle de suas terras, que era para ser totalmente seu, e tinha se esvaído de suas mãos sem ele nem ao menos perceber. Queria matá-lo em praça pública o mais rápido possível, não tolerava que sua autoridade fosse desrespeitada dessa forma, ainda mais roubando do seu povo e ajudando outro reino a se armar para uma possível guerra.
— Ache-o e o traga para mim.
— O que fará, Gaara? — Temari falou preocupada.
— Ora, o que mais faria? — Deu um sorriso presunçoso, coisa rara de se ver. Gaara era uma pessoa tímida, gostava da sua privacidade, era em sua maior parte do tempo centrado e mantinha sua pose séria. Contudo, seu reino e seu povo eram preciosos demais para si e virava uma fera quando esses eram passados para trás.
— Em público? — A loira arregalou os olhos.
— Príncipe Kankuro, a tropa está pronta. — Um dos guardas apareceu na porta, o avisando.
— Estou indo, acredito que volto em breve. — O general No Sabaku saiu em busca do seu alvo. Traria o traidor para receber o castigo que Gaara desejava.
A praça central do Reino da Areia estava repleta de cidadãos. Pessoas de todas as classes aguardavam amontoadas para ver algo que há muito não acontecia. Os reis aos poucos iam caminhando para o desenvolvimento, e, com isso, as formas de punições públicas estavam quase extintas, quase. Haviam exceções, e esta era uma que o jovem rei Gaara faria questão de estar presente.
Um membro da família real traindo a coroa e pior, seu sangue em troca de quase nada era motivo suficiente para a punição em meio aos súditos. Não estava nem um pouco feliz, na verdade o ódio o consumia, mas seu semblante sempre leve mostrava a calma que todos os moradores de seu reino precisavam para garantir que sua majestade tivesse o controle. Desgostoso por não compreender todo o plano de Madara e muito irritado por se sentir atacado por todos os lados, o rei deu início ao seu pronunciamento.
— Caros cidadãos da Areia, é com pesar que os tirei de suas casas, de suas rotinas, para presenciar a sentença de um homem. — Temari se mexeu desconfortável ao seu lado. — Nada é mais doloroso para um monarca, que ama tanto seu reino, saber que há uma traição. Entre toda a população, sempre haverá os descontentes com a coroa, e minhas portas estão abertas uma vez a cada quinzena para recebê-los. Como rei, aceito suas sugestões e pedidos, mas nada justifica uma armação orquestrada por este homem ocorrendo debaixo de nossos narizes. Roubando as riquezas que são de cada um de nó. E quando tal traição vem de um membro da família real, meu povo, seu rei não pode negar-lhes justiça.
Gritos e xingamentos foram proferidos, com muitos punhos para o alto em concordância com o No Sabaku.
— Meu irmão pessoalmente participou da captura deste traidor. — Fez sinal para que os guardas juntos a Kankuro atravessarem parte da multidão.
Assim que a população observou Sasori, primo do rei, um misto de raiva e incredulidade tomou os rostos que o rei conseguia observar. Mais um acenar de Gaara e o Akasuna estava em posição. O ruivo suplicava por sua vida, dizendo ter sido induzido ao ato, porém o rei seguia firme de sua decisão. Sentia um nojo imenso de Sasori. Sua família sempre teve tudo, porém apenas a coroa bastaria? O alçapão foi aberto e o barulho oco se fez presente no silêncio que seus súditos fizeram ao ver seu sinal ao carrasco. Gaara apenas deu as costas e foi em direção ao castelo, sendo seguido por Temari e Kankuro, e sentou em seu trono como se nada houvesse acontecido. Apesar de tudo, o rei tinha seus limites e aquele tinha sido o seu. Sentia um certo incômodo por depois de tanto tempo ter que fazer tal atrocidade, entretanto, sabia que tinha sido justo e, por enquanto, isso bastava.
— Temari, envie uma carta para Hinata, precisamos de uma reunião. Urgente — Gaara disse firme.
Rato, era isso que ele era. Estava nos fundos do lugar que Sasori usava para suas falcatruas. Ouviu quando os guardas reais chegaram, se escondeu muito bem e, assim que pôde, saiu atrás de seu tão sonhado protagonismo. Sabia que quem comandava era Sasori, porém queria mais, queria que ele fosse o mandante de toda a tramoia. Então foi direto para quem poderia lhe dar tal cargo, Madara Uchiha, o verdadeiro cabeça de toda a armação. Ele sabia, tinha descoberto em alguns documentos nas coisas do Akasuna. Correu como nunca, dias a fio pelo deserto, até entrar na vasta floresta do Reino da Lua, até chegar às montanhas do Reino do Fogo, ali era seu destino. Os guardas de Madara o prenderam, claro, estava invadindo uma terra a qual ele não fora convidado. Quando um guarda foi levar sua comida, pediu desesperado para ver o Rei, teria informações importantes de seu interesse.
O Uchiha pediu para que trouxessem o refém até ele, ouviu tudo atentamente e tentou não transparecer sua preocupação, poderia ser descoberto, afinal. Caso não tivessem matado Sasori ainda, ele com certeza daria com a língua nos dentes, era um fraco.
— Um dos nossos foi pego no caminho com o carregamento de ferro que pediu semana passada — Deidara explicava calmamente. — O general, irmão do rei, apareceu no nosso esconderijo, com guardas reais. Eu consegui me esconder e corri para cá quando tudo se apaziguou.
— 'hm — Madara apenas murmurava e acenava para que ele continuasse.
— Não sei como faremos agora, majestade.
— Não estou preocupado com isso, garoto. Tenho ferro o suficiente para armar todo o exército Uchiha e ainda haveria sobra. — O rei do Fogo sorriu de forma vitoriosa.
— Talvez eu pudesse ajudar em seus planos.
Respirou fundo, tentava se controlar para não matar Deidara com suas próprias mãos. Além de ser irritante, era só mais um peão em seu tabuleiro, ele serviria de algo? Raciocinou por alguns minutos, em silêncio, analisando a situação. Até que sim, ele não tinha sido descoberto pelo rei Gaara, poderia usá-lo em algum momento, talvez até para matar o guardinha insolente que a rainha Hinata escolheu para ser seu marido e a casar com Itachi. Enfim poderia ter os dois reinos mais fortes à sua disposição. Sorriu. Ele poderia ser útil.
Itachi ouviu tudo calado. Estava presente, porém escondido. Ele sabia que seu pai estava planejando algo grande, mas não que ele tinha feito acordos com um traficante de mercadorias ilegais. E qual seria seu plano com tudo isso? Aonde ele queria chegar comprando tanto ferro a ponto de seu carregamento ser interceptado? E por que estava falando de armar o exército? Aquilo tudo estava estranhíssimo, muitas perguntas sem resposta, e Itachi ficava nervoso quando não possuía respostas. Ele precisava delas e iria buscá-las.
Caminhou até seu quarto e se sentou em sua cama, pensativo. Tentava encaixar as poucas peças de quebra-cabeças que tinha, no entanto, os buracos eram mais presentes, então tudo se tornava um labirinto. Nem percebeu quando começou a andar de um lado para o outro em seu quarto, fazendo conjecturas das possibilidades. Apenas se deu conta, pois foi interrompido por Sasuke, que entrou de repente em seu quarto.
— Está passando por algum problema, irmão? — o Uchiha caçula perguntou.
O mais velho o mirou de soslaio, parando seu corpo de frente a ele. Será que seu irmão sabia de algo que ele não sabia? E caso ele perguntasse, ele diria? Sasuke nunca foi de mentir para si, mas ele era mais parecido com seu pai do que gostaria que fosse. Algo em sua mente gritou para que mantivesse a informação. Queria poder descobrir mais a fundo o que se passava dentro do castelo que ele morava e que, mesmo assim, não sabia de tudo.
— Estou bem, só tentando pensar. Gostaria de entender o que fez a Hyuuga desistir de mim — falou, decaindo os ombros.
Por um lado, ele estava falando sério. Desde que visitou o reino da lua pela primeira vez, quando era apenas uma criança, viu que a rainha era bonita, mas a achou muito infantil. Contudo, ela já era uma mulher agora. Encantou-se por Hinata logo que a viu no baile. Os olhos perolados, o jeito perfeito de se portar, os sorrisos que ganhou durante o passeio no jardim, além do pedido inusitado para que a acompanhasse em uma dança. A Hyuuga era realmente uma mulher que chamava atenção, era bonita, carregava o reino nas costas de forma graciosa, quase como se ser rainha não fosse nada. Ela era inteligente e astuta, igual a si. Isso o deixou completamente curioso ao seu respeito, queria conhecê-la melhor, quem sabe até realmente casaria por amor como sonhava em sua adolescência.
— Nem acredito que ela escolheu um guardinha qualquer… — O mais baixo bufou. — Você é um perfeito príncipe, Ita, vai ser ainda melhor quando se tornar rei. Não se preocupe com isso — Sasuke falou, já virando as costas e indo em direção à maçaneta.
— Quando eu me tornar? — Itachi arqueou a sobrancelha. — Ela recusou a proposta, Sasuke. Não me tornarei Rei até que nosso pai… Você sabe.
O irmão continuou de costas, com a mão na maçaneta.
— Talvez a rainha Hinata volte atrás. — Com essas palavras, Sasuke deixou o quarto, e Itachi confirmou suas suspeitas: ele sabia de algo.
— Bom dia, estou feliz que tenham chegado em segurança — Hinata falou sincera.
— Obrigado por nos receber tão de repente, alteza — Gaara agradeceu.
— Imagina, somos aliados. Algo me diz que o assunto é grave, pela sua carta. Contudo, vamos comer e depois seguir para a sala de reuniões, sim? Não gosto de falar sobre política na mesa de refeições — a rainha comentou, levando a mão para pegar um pão.
Comeram calmamente, apreciando a comida do reino da Lua que era sempre deliciosa. Quem conhecia, sabia que o reino da Hyuuga era farto, por isso tantos reis queriam uma aliança, comida era algo essencial. Não tardaram a irem em direção à sala de reuniões, que era utilizada pela rainha e o seu conselho, mas, dessa vez, só estariam os No Sabaku, a Senju, a rainha, e seu noivo, é claro. Apesar de ser parte do conselho, Neji era o futuro rei, além de ser o general do exército. Sentaram nas cadeiras, esperando que Hinata desse seu consentimento para começarem. Ela acenou levemente com a cabeça, olhando para Gaara, que respirou fundo antes de começar.
— O traidor era da coroa — disse, de forma direta, ele não era de enrolar. Agora Neji entendia seu ódio, um caso assim pedia uma execução em praça pública, há anos algo assim não acontecia, e, céus, dava para sentir o desconforto de Temari de onde estava. — Era um primo distante, mesmo assim, fui traído por minha própria família. Lamentável.
— Também temos um traidor entre os nossos — Hinata falou irritada. — Ainda não descobrimos quem é, mas Neji está cuidando disso.
— Peço que se atente, alteza. Não tem família, mas você tem um conselho antiquado.
— Tenho ciência disso, rei Gaara. Neji me alertou. — A rainha suspirou. — Temo que entremos em guerra por algo banal.
— Não acho que Madara esteja articulando uma guerra por causa de seu casamento, majestade. — Foi a vez do irmão do rei falar. Sua frase fez Neji arquear uma sobrancelha. — Acredito que isso faz parte de um plano bem maior. Arranquei informações de Sasori, ele já trabalhava com Madara há alguns anos.
— Isso me preocupou bastante. Não sei há quanto tempo perdi o controle do meu reino. — O ruivo bufou irritado. — Isso é…
— Está tudo bem — Temari sussurrou, próximo ao irmão, enquanto pegava na mão dele por baixo da mesa. Sabia que a pose de rei de Gaara estava prestes a ruir, saber que um familiar lhe traiu acabou consigo.
— Vamos planejar nossos passos a partir de agora, preciso responder a carta que Madara me enviou.
— Ele mandou uma carta para você? — Temari arregalou os olhos.
— Me desejando votos de felicidade, acreditam? — Hinata riu debochada. — Palavras tão falsas quanto ele.
— Inacreditável. — A No Sabaku balançou a cabeça negativamente. — Recebemos uma carta para uma assembleia, também não respondemos… ainda.
— Não sei se meus aliados irão me apoiar.
— O reino da Folha está ao seu lado, sabe disso. — Tsunade findou seu silêncio, olhando para a amiga de forma terna. — Meu pai, o Rei Hashirama, jamais permitirá que Madara lhe desrespeite dessa forma. É o seu reino, sua vida, faz o que bem entende com ela, alteza. — Hinata sorriu para a amiga, sabia que Hashirama jamais lhe deixaria à mercê de Madara, ele enfrentaria uma guerra por ela, sabia disso.
— Peço que se acomodem em seus quartos, já pedi para os criados levarem suas bagagens. Traçaremos estratégias nos próximos dias. — Foi a vez de Neji falar.
Aquele dia seria no mínimo longo, a cabeça de Hinata estava a mil. Gaara tinha razão, o traidor poderia estar ao seu lado e nem desconfiaria. Ela estava irritada, perdera toda a confiança que tinha em seus conselheiros. Não que fosse de toda confiança, mas o mínimo ela possuía. Entrou na biblioteca, sendo seguida de Neji, que fechou a porta e a trancou, a conversa que teriam ali não poderia ser ouvida por mais ninguém. A rainha sentou-se em sua poltrona, derrotada, eram muitas lacunas e não tinha a mínima ideia de por onde começar a preenchê-las. O Otsutsuki a mirou, parando em sua frente com uma expressão de seriedade. Hinata arqueou uma das sobrancelhas, sem entender, e esperou que ele falasse o que queria.
— Gaara está extremamente instável, não sei se percebeu, majestade.
— Também estaria, Neji, caso alguém da minha família tivesse ousado me trair. — Cuspiu as palavras com raiva.
— Penso que talvez ele não esteja pensando claramente, precisamos ter cautela. Lembre-se que não queremos uma guerra, mas ele parece estar pronto para uma — o moreno comentou.
— Entendo seu pensamento, mas acho que Temari é uma boa diplomata, além de ser irmã do rei. — Ela sorriu discretamente, afinal, ela tinha ensinado boa parte do que a No Sabaku sabia. — Ela não vai deixar que o temperamento dele influencie em uma decisão tão importante.
— Mesmo assim…
— Está pensando demais, de novo. — A Hyuuga o interrompeu. — Vamos por partes, preciso escrever uma carta para Madara.
— Antes que comece, alteza, caso me permita, gostaria de propor uma ideia. — Hinata acenou para ele continuar, enquanto buscava um pergaminho e sua pena. — Quero mandar um espião para o Reino do Fogo.
— O quê? — A Hyuuga franziu o cenho.
— Acredito que precisamos de respostas e não vamos tê-las caso pergunte. A melhor maneira seria conseguir colocar alguém no castelo dos Uchihas para descobrir o plano de Madara.
— Sim, concordo que não temos muitas opções. Ontem mal dormi pensando nas hipóteses. — Jogou a cabeça para trás, soltando o ar de seus pulmões.
— O que Gaara nos comunicou me preocupa. Somos o maior reino depois do Uchiha’s, e caso Madara esteja planejando algo contra nós, precisamos saber. — A rainha assentiu, sabia que Neji estava certo. Nunca tinha ido tão longe, nunca precisou se preocupar com um ataque ou guerra. Tudo era novo para si, mas seu guarda tinha experiência, lutou ao lado do pai em muitas batalhas. Sabia que ele tinha pensado tanto quanto ela em uma resolução para todos os problemas e que, claro, tinha escolhido a melhor delas. — Já tenho alguém em mente, um soldado que meu pai treinou pessoalmente há alguns anos. Ele é especialista em infiltração e espionagem.
— Você tem minha permissão. Ninguém mais saberá disso, apenas eu e você. É o único que confio dentro desse castelo, Neji. — Ele caminhou até o lado da rainha e depositou um beijo em sua cabeça, a fazendo fechar os olhos, aproveitando o carinho. — Já que trancou a porta… — Hinata sorria maliciosamente em direção ao moreno, que já entendia sua expressão — poderíamos aproveitar.
O Otsutsuki só agiu. O castelo estava cheio de visitas, mas para o inferno, eles sabiam que eles iam se casar. Ergueu Hinata, a colocando em cima da mesa em um único movimento, fazendo com que ela desse um gritinho de surpresa. Ele começou pelo pescoço, depositou beijos molhados, enquanto passeava suas palmas pelo corpo voluptuoso da rainha. Amava os seios, o quadril largo, a barriga branquinha com alguns sinais, os ombros imponentes e o colo com os ossos aparentes. Beijou tudo que pôde, tudo que estava exposto, antes de levantar o vestido de Hinata e descer até o meio de suas pernas.
— Ah, Ne-neji… — A Hyuuga agarrou os fios marrons, puxava e jogava a cabeça para trás, aproveitando cada onda de prazer que corria em seu corpo. A língua molhada, aveludada, percorrendo toda a extensão da sua intimidade. As mãos grandes do guarda apertavam as coxas grossas, que estavam cada vez mais abertas. Ela estava entregue.
O Otsutsuki era seu submisso na frente de todos, porém na cama quem comandava era ele, e Hinata adorava. Sentiu seu baixo ventre se contorcer em êxtase, até morder o lábio com força para não gritar. O moreno levantou, lambendo os lábios, enquanto a Hyuuga ainda tentava normalizar a respiração, de olhos fechados.
— Hina… — Neji falou baixo, de modo preocupado, estranhando. Ela abriu os olhos e franziu o cenho. Ele passou o dedo nos lábios dela e a mostrou o sangue que havia escorrido.
— Eu estou bem… — Ela o puxou pela nuca e o beijou, o gosto do ferro do sangue e de seu gozo se misturaram. Neji apertou sua bunda e ela abriu a calça dele com pressa, precisava senti-lo, seu corpo clamava por ele. Arrastou-se na madeira, ficando na beirada da mesa e o membro rijo a preencheu, arrancando dos dois gemidos em puro deleite. — Mais do que bem… — ela disse entre suspiros.
Neji investia mais forte a cada impulso do quadril. As unhas de Hinata entraram pelo uniforme do noivo, arranhando suas costas de maneira bruta. O Otsutsuki entrelaçou os dedos nos fios negros e puxou com uma certa força, fazendo a cabeça da rainha tombar para trás. Ele arrastou a língua pelo pescoço dela até o lóbulo, onde mordeu, ouvindo um gemido sôfrego escapar dela. As paredes da Hyuuga davam sinais de que ela estava perto, apertavam com tamanha força que o prazer para Neji triplicou.
— Ah, eu… Neji, mais… — Hinata falou manhosa, agarrando os ombros largos. Ele posicionou as mãos no quadril e à medida que a puxava para si, também levava seu corpo de encontro ao dela.
— Hina… Não. Vou. Aguentar. — Os corpos se chocavam, o som indecente ecoava pela biblioteca, os lábios voltaram a se encontrar, as línguas se procuravam em busca de cada vez mais contato. Os dois começaram a ficar quentes, os corpos suando, a franja de Hinata grudava na testa, e Neji chegou ao seu limite, se derramando dentro da rainha, assim como ela gritou ao ter seu segundo orgasmo.
Seguiam abraçados, respirando forte, sentindo o coração bater contra o peito de maneira acelerada. Hinata o abraçou mais forte e ele correspondeu. — Vou fazer o pronunciamento amanhã — ela disse, deixando Neji ciente de que aquilo realmente aconteceria; a ficha havia caído.
Neji estava em sua usual postura na porta do quarto. As criadas vestiam Hinata com um dos seus vestidos mais glamourosos. O Otsutsuki de vez em quando a olhava de relance, não podia negar que estava com medo e ninguém poderia julgá-lo, afinal, uma revolução em seu reino poderia começar. A rainha era bem vista por todos, nunca deixou faltar nada, nunca deixou ladrões saírem impunes, no entanto, sempre deu a eles julgamentos justos. Mesmo assim, alguns poderiam achar que a Hyuuga estava louca em se casar com um mero general, quando o príncipe Itachi, herdeiro de um dos maiores reinos, a cortejou.
Seu lado racional gritava para que ele impedisse aquela loucura, mas, por outro lado, ele queria mais que tudo estar ao lado dela como seu marido. Nada o faria mais feliz. As criadas terminavam de fazer um coque enfeitado com flores, ela estava linda, isso ele não podia negar, tanto que se permitiu direcionar um sorriso singelo a ela. Abriu a porta para que sua rainha passasse. Chegaram ao salão do trono, encontrando os No Sabaku, que a reverenciaram. Seguiram para a carruagem que os levaria até a praça central de seu reino, onde Hinata faria seu pronunciamento.
Desceu os degraus, se apoiando na mão de seu guarda pessoal, como sempre fez em todos os seus discursos que fez ali. Olhou seus súditos, que sorriam e acenavam para ela. Respirou fundo e pediu ao seu pai que olhasse por ela lá dos céus.
— Bom dia, agradeço pela presença de todos, que é muito importante para mim. Hoje eu vim comunicar a vocês uma decisão muito importante. — Hinata viu Tsunade sorrindo para ela, assim como Temari, porém, como nem tudo eram flores, olhou para o lugar do conselho e não se surpreendeu ao ver Hiruzen com uma expressão desgostosa. Contudo, nada atrapalharia aquele momento. Ela ia falar sobre seu casamento, era uma hora feliz.
Respirou fundo mais uma vez e continuou:
— Acredito que quase todos conheceram meus pais. Minha mãe foi uma mulher amada e que amou também. Esse amor deu fruto, a que vos fala agora. Eu acredito que o amor pode construir as melhores coisas dessa vida, e tudo que meus pais queriam era que eu tivesse o mesmo. — Sorriu com a lembrança e apertou o pingente que descansava em seu colo, um medalhão com o brasão da família Hyuuga. — Como todos sabem, tivemos o baile para receber meus pretendentes, no entanto, nem eu mesma sabia que o amor estava bem ao meu lado. Não precisei procurar em outros reinos, achei quem meu coração buscava e enfim terei o casamento que meus pais sempre sonharam para mim. Por amor.
Hinata buscou Neji com o olhar atrás de si e estendeu sua mão. Ele deu três passos para frente e segurou a mão da rainha. Estava encantado com as palavras da Hyuuga e, ao mesmo tempo, tremendo de nervosismo. Tinha medo, por si e por ela, com o que os súditos iriam pensar e reagir com essa informação. Era tão perigoso. Via no rosto do conselho sua desaprovação. Algo lhe parecia mais proeminente e preferiu guardar para si, por enquanto.
— Ele sempre esteve ao meu lado, deu seu sangue diversas vezes pelo meu pai, por mim, além de ser a melhor pessoa que eu já conheci. Eu escolhi Neji Otsutsuki para ser meu marido, e nada me faria mais feliz em ver que vocês o veem como eu vejo. Um ótimo general, soldado, conselheiro, amigo e, acima de tudo, um homem digno de ter a mão de sua rainha em casamento — Hinata concluiu, sorrindo.
Aconteceu o que Neji não estava imaginando, seus súditos aplaudiram e gritaram com o pronunciamento da rainha. Ele sentiu seu corpo relaxar como nunca, parecia que um peso deixava suas costas, suas mãos chegaram a formigar e o oxigênio invadiu seus pulmões com força; ele respirava aliviado. Hinata apertou a mão de seu noivo com força, mirou nos olhos dele e sorriu, a felicidade que ambos compartilhavam era tão genuína. Os No Sabaku aplaudiram, Temari sorriu junto a Tsunade, as duas estavam realmente felizes pela amiga ser apoiada por todos de seu reino.
Depois do grande anúncio, voltaram para o castelo. Hinata já tinha escrito cartas negando a aliança através do casamento, mas estava aberta a outras ofertas de tratados, afinal, precisava pensar em seu reino. Contudo, tinha uma carta em específico que ela não tinha respondido e que a estava deixando nervosa. Não foi preciso avisar Madara de sua decisão, ele descobriu porque ela praticamente expulsou Itachi de seu castelo, nunca se arrependeu tanto de uma atitude impulsiva. No entanto, a verdade era que ela estava cansada de cobranças, a pressão sobre seus ombros estava demais e ela tinha chegado no limite. Ouvir o Uchiha falando que poderia oferecer mais como se ela fosse uma mercadoria a ser trocada foi o estopim e, respirando fundo, ela começou a movimentar a pena sobre o papel.
— Nada dos Uchiha’s? — a loira perguntou à amiga.
— Esta é a preocupação de Neji. Não vejo motivos para que Madara negue apoio quando todos os outros reis são a favor. — Hinata bufou. — É tolice comprar briga com todos os reinos juntos.
— Esqueceu-se que o Uchiha é orgulhoso? — Tsunade nutria um certo ódio pelo rei das terras do Fogo. Seu pai diria que foi tempo demais na companhia de seu tio. — Tome muito cuidado ao lidar com aquele homem, Hina.
— Eu sei disso, não há um minuto sequer que eu não pense em que estratégia o Uchiha está tramando. — Sentou em sua cadeira assim que a porta foi aberta.
— Não está aproveitando seus momentos íntimos? Não houve uma comemoração real desde o anúncio? — Certa de que Neji já as ouvia, decidiu brincar com o casal. — Estava mais animada na clandestinidade, Hyuuga? Não sabia que era uma menina má. — Fez uma reverência exagerada e deixou a biblioteca rindo alto.
Neji se aproximou sem jeito com o comentário feito por Tsunade antes de deixá-los a sós, ele lia a carta mais recente, que havia chegado pela manhã. Passou os olhos claros atentamente por cada linha e respirou aliviado ao ver mais um reino contente em tê-lo como futuro rei.
— Não imaginei que seria assim tão calmo.
— Porque é pessimista ao extremo. — Sorriu ao constatar o óbvio. — Mas não esqueça que nosso amigo do Fogo está sumido. Onde estava?
Levantou, fazendo um pedido mudo para Neji sentar-se em sua cadeira, sentando em seu colo em seguida. Abraçou o pescoço do moreno, se aninhando no abraço que tanto amava.
— Pensei em uma nova estratégia para defender a fronteira ao norte. Soube por alguns guardas que haviam pontos desprotegidos e que era por um desses que o ladrão que capturamos e levamos a Gaara passava.
— Não havia homens suficientes? — A morena franziu o cenho.
— Sim, mas estavam mal posicionados. — Passou a mão pelo rosto de Hinata e selou os lábios nos da rainha, arrancando um sorriso tímido da Hyuuga. — Não se preocupe, cuidarei de tudo.
— Eu sei disso, mas a falta de resposta de Madara realmente me preocupa — sussurrou, rente ao peito do Otsutsuki. — Eu não deveria temer, não estamos fazendo nada de errado, e os reinos que nos aceitaram são a prova disso. O problema é que não sei o que esperar. Ele vai entender, atacar, armar?
Neji sabia bem o que a morena sentia, pois imaginava o mesmo. Todas as noites antes de dormir sua mente viajava ao norte do reino da Lua, tentando se pôr no lugar do Uchiha, que já lutou tantas batalhas que já escreveu seu nome a sangue na história de cada pedaço de terra que o reino do Fogo continha. Desde criança, antes de sonhar ser um guarda real, Neji ouvia dos feitos, estratégias e da crueldade que Madara mantinha quando necessário.
O medo de estar sendo cauteloso demais esperando diplomacia deste homem conhecido por ser sanguinário e implacável em batalha o assustava. Neji sentiu medo de perder a felicidade que tanto custou a encontrar. Olhou para baixo, notando a pequena. Sua noiva estava respirando leve e compassadamente em seu colo. Apertou a rainha em seu abraço, sentindo o aroma que só Hinata tinha, que o acalmava como nada mais poderia.
Hinata acordou assustada com uma explosão. Seu peito subia e descia com rapidez. Foi tudo em uma fração de segundos. Olhou para o lado, e Neji já estava de pé, colocando sua roupa. Ela sabia que seria sempre assim, pelo menos até eles se casarem, ele estaria sempre à postos. Ela ainda estava desorientada e então ouviu Neji falando:
— Fique aqui que eu vou ver o que está acontecendo. — Ele saiu do quarto, e a Hyuuga sentiu um aperto em seu peito, engoliu em seco e saiu às pressas atrás de um vestido que conseguisse colocar sozinha.
Deixou o quarto ainda amarrando o laço em volta da cintura, desceu a escada e viu Neji falando com um pelotão de homens da guarda real. O Otsutsuki olhou para trás e arregalou os olhos, virou para seus soldados e ditou ordens. Todos saíram dali para fora do castelo, o futuro rei virou e foi andando rápido até a rainha, que o abraçou com força, lhe deixando surpreso. Ele ficou sem entender o que estava acontecendo, apenas a envolveu em seus braços e esperou que ela se acalmasse para lhe explicar o que estava acontecendo.
— Hina, o que houve? Eu disse ‘pra você ficar no quarto.
— Eu precisava ver se você estava bem.
— Está tudo bem, vamos voltar para a cama. — Eles caminharam até os aposentos reais e se deitaram. A Hyuuga o abraçou forte, se deitando em seu peito. — Me diga, o que te preocupa?
— O que foi aquela explosão?
— Foi algo no vilarejo, mandei um pelotão para investigar. Não vamos nos preocupar com isso agora. — Neji deslizou os dedos pelos longos cabelos negros de Hinata, que olhou para ele com carinho antes de adormecer.
Acordar ao lado de sua rainha era o mais belo presente que ele poderia ter recebido. Agora era real, eles iam se casar e todos tinham aceitado bem até demais. Sabia da sua fama como um ótimo soldado e general da guarda real, mas não imaginava que seria tão bem aceito como rei do Reino da Lua. Esperou sua noiva se banhar e então foram em direção ao jardim de inverno para tomar café da manhã com Tsunade, que já estava lá quando o casal real chegou. A loira não estava com uma cara muito animada, como era de costume, então Hinata já achou aquilo esquisito. Ao se sentar, virou para a amiga, buscando alguma explicação da sua expressão.
— Melhor esperarmos Haru chegar. — Foi tudo que a Senju falou.
— O que aconteceu? — a rainha perguntou confusa.
— Bom dia, Majestade. — Haru adentrou o jardim, reverenciando Hinata.
— Fale logo — a rainha disse irritada.
— Um grupo atacou uma taverna e usou explosivos para destruí-la. Estamos interrogando as pessoas que estavam lá para descobrir quais eram as intenções desse grupo.
Hinata bufou e apoiou a cabeça em sua mão, fechando os olhos. Nunca nada parecido havia acontecido em seu reino, e logo depois do seu discurso algo do tipo acontece. Parecia até premeditado, ou talvez nem todos tinham aceitado de bom grado a decisão da rainha. Ela só conseguiu pensar que já não bastava ter que lidar com Madara, ainda precisaria lidar com pessoas contra ela em seu próprio reino.
Neji viu que a Hyuuga havia ficado abalada e apenas acenou para que Haru saísse e os deixasse, depois conversaria com seu guarda de confiança. O general acariciou a mão da rainha em um gesto de carinho para tentar acalmá-la, aquilo não era algo normal em seu reino, ele sabia bem. Hinata estava no limite, ele sabia, pois a conhecia melhor do que ninguém.
Após o café da manhã, seguiram para a biblioteca. Hinata se perguntava qual tinha sido a motivação para algo assim acontecer em seu reino. Ela seguiu mantendo a ordem como o seu pai fazia, ele governou durante mais de trinta anos e nada do gênero havia acontecido. Ela estava preocupada, e Neji via isso em seus olhos, porém ficou apenas esperando receber alguma ordem da rainha, afinal, estava sem informações, não podia falar algo que a acalmaria ou que respondesse seus questionamentos mentais.
— Você quer um chá, majestade?
— Eu quero respostas, Neji. — Ela cuspiu as palavras.
— Temos que aguardar a volta de Haru com mais informações.
— Não quero aguardar. Vá atrás dele e descubra! — Hinata gritou, e o Otsutsuki arregalou os olhos antes de se recompor, reverenciar a rainha e sair dali.
Dizer que estava nervosa era bem pouco, visto que suas mãos suavam frio e tremiam levemente, era a culpa que a corroía. Não estava errada em lutar para ser feliz, quebrar uma ou duas regras para estar ao lado de quem se ama não parecia tão grave, até que toda aquela história de feridos em seu reino teve início. Dois de seus maiores desejos na vida colidiam a cada nova informação que Neji tentava ocultar, mesmo falhando miseravelmente. O conhecia a ponto de entender que ele omitia alguns fatos, mas ainda não sabia se pela delicadeza do assunto ou por medo do que estava acontecendo agora.
Hinata mal respirava, sentia que o ar não era suficiente para encher seu peito. Faltava algo em si, talvez a certeza que teve assim que se entregou aos sentimentos de seu guarda. Estava duvidosa quanto ao tempo que levou para revelar a todos e não pensou que isso ocasionaria tantos problemas, afinal, era apenas o amor acontecendo.
Contudo, seu outro dever, o primeiro, aquele que aprendeu desde cedo, que deveria estar acima de toda a sua vontade, cobrava seu preço e pesava na consciência da rainha. Seu pai lhe disse várias vezes, e sendo tão boa fazendo seu papel de governante, não deu ouvidos, mas, em algum momento, a escolha mais difícil teria que ser feita, e ela sabia qual era a resposta certa depois de longos anos ao lado de Hiashi. Em algum momento em sua vida, ela teria que fazer uma escolha, entre a sua vontade e cumprir seu dever como defensora de seu povo e de seu reino.
Andava calmamente pelas ruas de pedras organizadas pelo chão. Sentia que poderia morar facilmente naquele reino, mesmo amando o seu próprio. Sabia que as terras da Lua eram abençoadas com uma paz única que flutuava no ar e tomava seus habitantes sem que ninguém se desse conta.
Sendo nobre e conhecendo a Rainha pessoalmente, tinha em mente que era mais uma sensação que uma verdade absoluta. A paz era uma coisa, infelizmente por enquanto, bem distante da vida de sua amiga.
Olhou de canto de olho para seu acompanhante. Não entendia muito bem a calma do homem ao lidar com toda a burocracia e o momento instável que o país enfrentava. Encontrou-o algumas vezes nos corredores do castelo de Hinata, e depois de muitos esbarrões entre suas aulas, se criou o que se poderia chamar amizade. Não demorou muito para Temari se ver encantada com o jeito preguiçoso e gentil do Nara, porém sua calma a tirava do sério, mas devia ser o mal do povo daquele lugar. Talvez o ar estivesse realmente repleto de paz, o que a irritava demais na companhia de Shikamaru.
— Não precisava mesmo me acompanhar — disse, revirando os olhos para um homem que quase trombou em si. Usava o vestido mais simples que possuía para se misturar à multidão. Amava fugir da fortaleza da Rainha para conhecer de perto os efeitos da sabedoria que a Hyuuga dividia consigo.
— Seria problemático deixá-la andar por aí sozinha e não havia mais compromissos esta tarde. Só agradeça, princesa.
— Eu não preciso te agradecer. — Deu dois passos e parou na esquina da praça central onde ficava o mercado principal e suas frutas favoritas. — Veio, pois é inconveniente e insistente.
— Sua alteza não está errada, mas gostaria de manter Neji e seus irmãos longe do meu pescoço. Imagina se algum deles descobre que eu sabia onde a princesa iria e não a acompanhei? Este reino é grande, facilmente se perderia.
— Já andei muitas vezes sozinha por aqui. — Fechou o cenho e recomeçou seu caminho até o mercado, dando as costas para o moreno, que a seguiu. — Sou mais inteligente do que pensa, Nara.
— Mas eu não disse que não é. — Olhou para os lados assim que Temari parou na primeira barraca para comprar sua fruta.
Observou os habitantes fazendo trocas de mercadorias frescas, comprando mantimentos para seus lares e todo tipo de coisa que não chamava sua atenção. Odiava lugares cheios e gente demais era o que fazia aquela praça famosa. Temari pechinchava com o vendedor em troca do melhor preço para seis de suas frutas, quando o Nara reconheceu o guarda real da rainha.
Haru praticamente corria pelo meio do povo, tão rápido suas pernas iam. Shikamaru percebeu algo errado imediatamente quando um homem que aparentemente não fazia nada de errado se escondeu do guarda da rainha, como se devesse algo ao protegido de Neji. O homem de aparência fechada, com cabelos desgrenhados, castanhos como os seus e malcuidados, voltou à multidão, deu mais dois passos e, como o guarda, correu, mas na direção contrária.
O moreno pegou a princesa sem pensar duas vezes quando notou que o homem de vestes escuras e maltrapilhas entrou em uma taverna. Jogou Temari no chão e pulou por cima da No Sabaku segundos antes de haver uma explosão. Gritos, choros e coisas espalhadas por toda parte. O Nara se sentia tonto, um zumbido invadiu seus tímpanos, o deixando completamente desorientado e sem sentidos. Olhava para as pessoas correndo e só conseguia ter muita vontade de vomitar, pois o cheiro, antes gostoso e suave, que convidava os visitantes a passear pela cidade, agora era sangue, fumaça e morte. Shikamaru olhou para a loira embaixo de si, buscando qualquer machucado ou expressão de dor, mas ela o encarou atordoada, estava confusa.
Na sala de reuniões, estavam apenas a rainha, seu noivo e os convidados de sua alteza. Estaria tudo em perfeita harmonia se não houvesse um atentado para desvendar e um rei impaciente com sua irmã.
— Inacreditável, Tamari! Não posso me descuidar dois segundos. Você é uma princesa! Aja como uma — Gaara gritava com a loira, estava nervoso e fora de si. A mais velha sempre foi de sair sozinha por Suna, já havia se metido em problemas suficientes, não achava que faria isso em outro reino. Ele soltou o ar de seus pulmões com força, olhou para a rainha Hinata e o futuro rei Neji e pediu perdão pela sua exaltação. — Me desculpe, majestade. — Hinata apenas acenou, constatando que tudo estava bem.
— Pelo menos não se feriram, é isso que importa — Neji, com toda a calma do mundo, comentou, em pé, ao lado da rainha, que estava sentada em seu trono.
— Algo poderia ter acontecido. E se reconhecessem você, Temari? — Foi a vez do outro irmão repreendê-la. — E você? Viu ela saindo e foi junto?
— Eu… — Shikamaru engoliu em seco. Por Deus, seu pescoço. — Eu a acompanhei para protegê-la.
— E fez muito bem esse papel, obrigada, Shikamaru. — A Sabaku lançou um olhar assassino para os dois irmãos mais novos e bufou.
— Se você não tivesse saído, não precisaria de alguém para protegê-la. — O ruivo sorriu debochado.
Neji pigarreou e olhou para seu soldado de confiança.
— Haru, o que aconteceu? — perguntou.
O guarda respirou fundo, reposicionando suas ideias, depois de colher informações de alguns aldeões no local e da própria princesa Sabaku. Reverenciou mais uma vez sua majestade e começou:
— Um homem de aparência comum foi visto pela primeira vez no amanhecer próximo à praça central. Quando os vendedores armavam suas tendas para começar suas vendas, o suspeito foi visto ao redor. Segundo alguns moradores, parecia estudar o local. Nada estranho até a minha chegada ao mercado — olhou para a Sabaku e para o Nara, que estava lado a lado —, onde a princesa Temari estava. Após minha passagem, o homem adentrou a taverna e explodiu. Temos vítimas.
— Alguma… — A rainha engoliu o nervosismo para perguntar ao guarda.
— Temos duas mortes, majestade. — Haru baixou a cabeça.
Hinata respirou fundo. Sentiu seus olhos arderem, mas não podia transparecer fraqueza, não ali. Neji a olhou e podia sentir que ela estava se segurando, dias obscuros estavam sendo vivenciados e aquilo era só o começo.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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