Revisada por: Nyx 🌙
Última Atualização: 12/04/2025De alguma forma a jovem tentava acalmar seu coração, repetindo que desde o início ela apenas estava cumprindo um combinado a muito tempo feito com sua mãe. A mãe de , Danika, sempre a alertou que quando chegasse a uma certa idade era o seu desejo que sua filha a encaminhasse para determinada instituição de longa permanência.
Porém , nunca se agradou com essa ideia, mas nunca iria contra um desejo de sua doce mãe. Ela encarava as inúmeras linhas, com pequenas perguntas, que pareciam apenas aumentar. A cada momento que passava sentada, encarando os papéis a sua frente, ela imaginava um cenário catastrófico, onde paparazzis encontrassem sua mãe, ou os enfermeiros a tratassem mal, ou até mesmo que em algum momento Danika mudasse de ideia e quisesse retornar a sua casa, porém não conseguisse comunicar isso a filha.
Então a jovem de cabelos escuros fechou por um breve momento os olhos, respirou fundo, tentando acalmar todos aqueles pensamentos insistentes. Ao abrir vagarosamente os olhos, teve a sensação de que alguém a encarava…e isso se confirmou. Alguém tocou seu ombro suavemente, na tentativa de chamar sua atenção.
— Hey… está tudo bem? — ela ficou por alguns segundos encarando o jovem ao seu lado, que tinha um cabelo perfeitamente penteado para trás com uma quantidade significativa de gel, e pequenos olhos, escuros e densos.
— Ah… acho que só são muitos papéis para assinar de uma vez. — desviou sua atenção para os papéis, os embaralhando em suas mãos.
— Sei como é. Quando vim aqui pela primeira vez com o meu pai, me senti meio desconfortável e confuso com tudo também. — Confessou de forma simples para ela, isso a fez relaxar. Deixando os ombros agora menos tensos, porque, afinal, ela não era única então com aquele sentimento estranho. — Prazer, me chamo … — estendeu sua mão para , que apertou e viu nos lábios dele um sorriso pequeno crescer.
— … pode me chamar de . — preferiu não falar seu sobrenome, porque temia ser descoberta ou reconhecida.
, ficou encantado com o nome da moça a sua frente, mas o que realmente chamou sua atenção foram os olhos castanhos e marcantes. Ele poderia escrever um poema só sobre como eles brilhavam naquela manhã nublada e aqueciam suas mãos geladas.
Ele não queria confessar, mas os 10 minutos que passou tentando tomar coragem para falar com , valeram a pena, só por renderem a visão de olhos tão bonitos.
— Pode parecer estranho, mas tenho a sensação de que te conheço de algum lugar. — tentava puxar em sua mente de onde aquele sorriso pequeno era familiar. Será de uma foto? Será que já foram colegas de sala? Será que era apenas sua ansiedade?
soltou um riso pelo nariz. Não imaginou que seria reconhecido, não que era famoso, mas era difícil depois de tanto tempo frequentando ali alguém ainda se surpreender com sua presença. Isso não o incomodou, mas fez o seu coração dar um pequeno salto, talvez, ela realmente o reconhecesse ou até acompanhasse seus campeonatos.
— Bom, você pode reconhecer a mim ou ao meu p… — foi cortado por uma voz que se fez mais alta naquele ambiente, chamando a atenção da jovem a sua frente.
— Espinosa — o homem trajado todo de branco a chamou. Nicolai viu a moça se levantar, porém nesse movimento rápido, ela acabou derrubando a papelada e ele logo se prontificou a ajudá-la.
— Merda... — disse se agachando para pegar os papéis que haviam caído e assim batendo sua cabeça com o seu novo conhecido. — Ai, meu Deus! Me desculpa. — levou a mão até a cabeça do jovem em sua frente, na tentativa de amenizar aquela situação.
— Relaxa, não foi nada. Aqui está, olha vai dar tudo certo. — ele disse essa última parte em um tom mais baixo para que só ela escutasse, e em forma de retribuição ela abriu um sorriso confiante.
— Ao se levantar e se recompor, o médico que a esperava, pegou os papéis de sua mão. — Pode me acompanhar, por favor.
Quando a figura da jovem de cabelos escuros sumiu de sua visão, rapidamente sacou seu celular em mãos e confirmou a hipótese, que de alguma forma ele tinha certeza, sobre .
Ao ouvir o médico chamar seu nome completo, ele teve certeza que também a conhecia… e dando uma pequena pesquisada, isso apenas se confirmou.
Ela era filha de Danika Espinosa, que por acaso, era uma ex-integrante da banda em que seu pai Alexandre Casillas fez parte durante toda sua adolescência e parte da vida adulta.
Ainda pesquisando sobre Danika, ele se lembrou dos rumores de romance entre seu pai e ela, e o fim abrupto do sexteto que era sucesso mundial.
Com essas informações em mãos, algumas recordações se fizeram nítidas em sua memória. Como por exemplo, quando era menor, e seu pai o levou em um jantar de “reencontro” do grupo, se lembrou também de interagir com os filhos dos outros integrantes, porém pouquíssimo com , já que seu pai preferia manter certa distância de Danika.
Agora ele se sentia mais confiante de certa forma, porque a mulher que tinha despertado o interesse dele, pelos olhos cativantes, não era uma completa estranha e, com isso, eles teriam muito o que conversar.
Ele não queria ser invasivo, mas resolveu esperar ela retornar e talvez a chamar para um café.
Quando retornou a recepção e percorreu rapidamente o seu olhar sobre ela, notou que ainda estava ali, lendo um pequeno livro. Então ela resolveu que não seria nada demais ir até ele se despedir e agradecer o apoio mais cedo.
— — ela o chamou. Ao olhar para ela, ele novamente abriu aquele pequeno sorriso. — Vim te agradecer pelo apoio hoje mais cedo, muito obrigada.
— Ah, que isso, não precisa agradecer. Para falar a verdade, eu fiquei te esperando — ele pareceu ficar envergonhado de repente, mas respirou fundo e continuou — Quem sabe a gente poderia tomar um café, aqui tem uma cafeteria ótima.
, de alguma forma, se sentiu feliz pelo convite, porque percebeu que o interesse que sentia pelo rapaz era recíproco.
— Claro, vamos. — então ele se levantou e ela apenas o seguiu.
Após os pedidos de ambos chegarem, o silêncio reinou entre eles, apenas se escutava o barulho da mastigação. E a jovem notou um leve tique que demonstrava, parecia estar ansioso? Ele estava piscando mais frequentemente do que quando conversavam mais cedo, e isso a intrigava.
— Tenho uma coisa para te contar — colocou sua xícara sobre a mesa.
— Esse é o momento que você diz que é um repórter e quer escrever a biografia da minha mãe, certo? — após ela dizer isso, ele acabou rindo e ela gostou muito de como a risada dele era de certa forma rouca.
— Ohh… você me descobriu — disse, levantando os braços para o alto em tom de “rendição”. — Lembra que hoje mais cedo você comentou que me reconhecia de algum lugar? — concordou com a cabeça enquanto dava mais uma golada de seu chocolate quente — No começo eu pensei que fosse por conta, de eu ser skatista profissional… — ele viu a testa dela se enrugar e percebeu que definitivamente ela não o acompanhava no esporte. — Aí o médico foi lá e te chamou e quando eu escutei o Espinosa, tudo fez sentido. — agora ele tinha total a atenção dela. — Não falei mais cedo, mas o meu pai é Alexandre Casillas Von. — sorriu ao final.
Ela demorou um pouco para conectar essa informação, mas quando percebeu de quem se tratava, tudo fez sentido. Era claro que ela o reconhecia, ainda mais aquele sorriso, havia fotos em todos os lugares da internet de seu pai com a sua mãe, e definitivamente tinha o mesmo sorriso de seu pai, era idêntico, as fotos e a forma como Danika descrevia.
— , não acredito que você é filho do Ale. —sem pensar, ela esticou seu corpo sobre a pequena mesa, e o abraçou.
O sentimento que tinha agora em seu peito era de ternura, porque neste momento ela recordou das inúmeras conversas que teve com a sua mãe e de como sempre Dan, elogiou cada integrante, principalmente o Ale. Sendo assim, de alguma forma, sentia esse apreço por ele e agora por seu filho também.
Fazia muito mais sentido ainda, ela talvez não estar atraída por ele, mas apenas estar o reconhecendo e vendo nele os inúmeros sentimentos que sua mãe relatava durante as histórias.
Após o pequeno abraço, se sentou novamente e agora havia um brilho em seu olhar ainda mais cintilante que antes.
— Sei que de todos os filhos dos integrantes, eu sou o que menos interage com o restante, mas é estranho como Madri realmente é pequena. Quem diria que eu iria te encontrar aqui…depois de sei lá 15 anos?
— É, acho que é… o último reencontro, eu ainda tinha minha naninha debaixo do braço — e novamente ambos riram — e agora eu estou me sentindo a pior filha do mundo por estar autorizando minha mãe a ficar em um asilo.
— No começo eu também me senti assim, mas como você retira uma promessa que fez para um Casillas?
— Sério? Também estou fazendo isso para cumprir uma promessa que fiz à minha mãe. Bom, vai entender esses dois. — retornou a petiscar um pão de queijo.
— Cara, é muito estranho eu estar aqui na sua frente. Porque foram anos, vendo montagens nossas bebês para edits dos nossos pais e isso era louco demais na minha cabeça. — ele confessou, porque, de alguma forma, sabia que ela entenderia o que ele sentia.
— Sim, eu ficava “gente, o meu pai é o Paco…deixem disso”, mas no fundo eu meio que entendia que nossos pais tinham certa química. — ela deu de ombros, depois de tanto conviver com os fãs de sua mãe, ela de alguma forma compreendeu a fissura deles. — E outra, minha mãe de fato nunca se importou com isso, ela dava todo o seu amor e carinho para meu pai e ponto.
— É, meu pai também, mas a minha mãe não soube lidar muito bem com isso. Eles sempre discutiam, não só pelos fãs, mas pela forma como a imprensa sempre distorcia os fatos e caía matando em cima dela. Isso a deixava mal, até que enfim…acabou — ao olhar de relance para , ela percebeu seus olhos um pouco vermelhos, mas rapidamente ele fez questão de passar a mão para disfarçar qualquer lágrima que fosse se formar ali. — E o seu pai? Como está?
— Meu pai…faleceu já faz 3 anos.
O coração dela ficou um pouco apertado, por mais que a dor da perda tenha cicatrizado, a da falta de seu pai no seu cotidiano ainda estava aberta e agora com essa mudança da sua mãe, ela temia se sentir ainda mais sozinha.
— Então, eu resolvi morar com a minha mãe quando isso aconteceu, e agora…agora estamos aqui. — ela sorriu fraco, e quando percebeu isso, tratou de confortá-la. Tocou sua mão, a fazendo o encarar.
— , você não está sozinha, agora eu estou aqui — ela concordou com a cabeça e deixou que uma lágrima solitária escorresse por sua bochecha. — A gente sabe que não é fácil passar por tudo isso e ainda ter um monte de urubu babaca fotografando a gente, mas agora eu estou aqui para o que você precisar. — Com isso ela apertou ainda mais a mão dele e esboçou um sorriso.
— Acho que a pior parte são os paparazzis, não quero ter que encontrar nenhum, mesmo sabendo que esse é um local distante e discreto, tenho medo de me deparar com eles e ter uma enxurrada de perguntas.
— Eu sei, eu sei, mas fica tranquila. Meu pai está aqui há mais de um ano e nunca descobriram nada. Confesso que no começo eu também tinha receio, mas aqui todo mundo é muito profissional. Nunca saiu nada na mídia sobre a doença do meu pai.
Essa última parte chamou a atenção de , nem ela e muito menos sua mãe sabiam que Alexandre estava passando por uma doença.
— Seu pai está doente? — uma pontada de preocupação se estabeleceu nela.
— Sim, há seis meses, acabamos descobrindo o início do Alzheimer — ele se recostou na sua cadeira e respirou fundo.
Eram poucos assuntos que não gostava de tocar e com certeza a doença e a forma avassaladora que ela estava tomando seu pai era um deles.
— No começo, não era muito evidente, mas agora tá cada dia pior, as crises de localização, o esquecimento…e hoje ele — seu olhar se abaixou para encarar seus pés, era difícil para ele lidar com o que ocorreu mais cedo. — Ele não se lembrou de mim.
Ela notou a mudança abrupta no semblante do seu novo amigo, a tristeza que estava nele logo também chegou a ela.
— Eu sinto muito... de verdade. Se eu puder ajudar em alguma coisa.
Ela gostaria de ter uma forma de reverter isso, mas sabia que não era possível. O que ela poderia oferecer a ele agora era apenas o conforto de sua amizade.
A conversa entre ambos continuou a fluir, porém optou por mudar o assunto principal, e focar mais em suas vidas particulares, por exemplo, contou a ele sobre as composições que ela estava trabalhando para o seu novo álbum, e como ela estava usando de referência a era pop/rock da sua mãe.
Ele detalhou um pouco mais sobre os treinos intensos que estava tendo e o quanto ele esperava chegar nas etapas finais do concurso. Contou também que quem o incentivou mais no esporte foi seu pai, e que ainda tinha esperança de ele poder assistir pelo menos uma última competição sua.
estava abalado após o pai não reconhecê-lo e por mais que médicos e especialistas o tivessem avisado sobre esse estágio, nada o preparou para isso. Alexander e ele sempre foram grudados, melhores amigos e confidentes. A prova disso foi que quando sua mãe resolveu se separar, sem pensar muito ele escolheu continuar morando com o pai.
Casillas foi um bom pai e, acima de tudo, um ótimo amigo. Sempre o apoiando em seus projetos e escolhas de vida. E agora com as competições finais se aproximando o jovem se sentia solitário, pois não havia com quem compartilhar seus medos.
Por mais que sua mãe quisesse preencher de alguma forma o papel que antes era desempenhado pelo seu pai, ainda assim, não era o suficiente.
— Se você quiser posso te levar para casa. — ele disse ao ver a jovem à sua frente colocar a bolsa sobre o ombro e se levantar.
— Ah, muito obrigada, mas eu vim de carro. — ela se aproximou de sua cadeira, se levantou e ambos se abraçaram por poucos segundos. — Obrigada pelas palavras de apoio, foi muito bom não ter que passar por tudo isso sozinha…
— Bom… enquanto eu estiver aqui, você não vai estar sozinha. — abaixou seu olhar rapidamente depois de se dar conta do quanto aquela fala parecia desesperada ou até mesmo emocionada demais. — Quan-quando você quiser conversar claro! — após gaguejar um pouco, o maldito tique dos olhos havia voltado.
— Tá bom, até! — se foi.
Toda sua trajetória de vida tinha sido completa e realizada, ela se sentia feliz com seu antigo marido e o amava. Porém, a mulher não poderia negar que em seu coração a promessa que ela havia feito ao seu colega de banda no auge dos seus 21 anos sempre cercou seus pensamentos.
Ela lembrava de como tudo tinha ocorrido…se lembrava que em meio às lágrimas ao saber da decisão do fim da banda e assim do afastamento forçado de ambos, ele propôs a Danika seu maior valor: a fidelidade do seu amor.
Então os dois jovens após comporem a música mais profundo e sincera, prometeram sobre uma paleta de violão, o que fez Danika sorrir um pouco com a inocência de ambos na época, que quando estivessem bem velhinhos e caso estivessem sozinhos, iriam deixar suas almas se reencontrarem e viverem aquilo que foi negado.
Ali estava ela no local combinado e em suas mãos a prova de uma promessa na adolescência. Ela amou outro, assim como ele também amou, mas ela não podia negar que o amor platônico existente entre ambos era algo maior do que ela podia explicar.
O amor de Danika e Alexander sempre foi uma brasa que nunca se apagou, se mantendo ali forte o suficiente para cortar o tempo e se fazer presente até esse momento. Mesmo sabendo disso, e tendo certeza desse sentimento, para ela Alexander ainda era uma incógnita, porque havia anos que não se falavam, se viam ou que ela tinha notícia sobre o homem e isso a deixava assustada.
Os pensamentos tomaram conta de sua cabeça o suficiente para que o sono chegasse, então ela apenas cedeu e seus olhos começaram a pesar e quando estava prestes a iniciar um bom sono… um barulho a retirou do estado de tranquilidade.
Ao se virar na cama pode constatar que vinha do corredor que agora tinha luzes acesas e havia sombras passando de forma rápida. De súbito a mulher se levantou, calçou seus chinelos macios e abriu a porta.
Observou que no final do corredor havia três enfermeiros parados em frente a uma porta aberta, ela caminhou de forma vagarosa até eles, não queria parecer enxerida, mas queria saber o que estava acontecendo ali e naquele horário.
Quando estava a poucos passos da porta, o seu coração veio a boca, ela acabara de ouvir a voz que por tantos anos apenas havia estado presente em seus íntimos sonhos. Era a voz dele, de Alexander Casillas, e agora sua voz estava mais rouca e mais clara do que nunca em seus ouvidos.
A mulher não viu o momento em que fez isso, mas só se deu conta que havia passado pelos enfermeiros na porta e se colocado na cena que chamou sua atenção. Ela pode observar dois enfermeiros perto dele, tentando o acalmar, enquanto o homem pedia a eles algo que eles não compreendiam.
Compreendeu que Alexander estava sem paciência, pela forma que ele passou a mão sobre os cabelos, da mesma forma que ele fazia a anos atrás.
— Eu já disse que quero a paleta do meu violão agora. — o homem disse de forma irritada.
— Senhor Casillas, esta é a única paleta que nós temos do senhor. — o enfermeiro disse, entregando nas mãos do homem mais velho o pequeno objeto preto. Porém, Casillas fez questão de arremessar o objeto longe. — Por favor, senhor, se controle, estamos tentando te ajudar.
— Ale… — Danika disse de forma suave e calma, a atenção de todos no local se voltaram a ela, inclusive de Alexander que agora tinha se virado para o local de onde vinha a voz.
Seus olhares se encontraram e a mulher teve certeza de que o seu coração se aqueceu depois de anos de um longo inverno. Ela resolveu não dizer nada, apenas estendeu a mão e mostrou para ele o que ele tanto procurava.
— Aqui está.
— Dan, eu disse a eles, disse que você viria para nosso ensaio. — ele pegou a paleta da mão dela e a abraçou.
Alexandre, ao olhar o rosto de Danika sentia que há muito tempo esteve longe de casa e agora junto dela, em um abraço, retornava ao seu verdadeiro “eu”. Ele se sentia cansado, mas perto dela estava disposto o suficiente para ensaiar a noite toda e iniciar uma turnê.
Amá-la permitia a ele fazer o extraordinário, sem perceber o feito. Danika era o combustível para seu coração e alma. Agora se sentia seguro, confiante. Desfez o abraço e foi até o canto de sua cama, retirou seu violão da capa e se sentou.
Olhar para a mulher que ele amava o fazia sentir que a vida valia a pena e que a música era a única forma de expressar seus sentimentos, e era isso que ele faria agora que Danika estava de volta a banda.
Depois daquele encontro, ele passou ainda alguns dias stalkeando cada publicação atentamente dela, escutou as músicas lançadas e depois que terminou todo o álbum, o colocou em um loop infinito.
Talvez os vizinhos reclamassem, mas ele não se importaria com isso, porque depois de muito tempo o coração dele batia de forma compassada junto a voz suave de . As visitas que fazia ao seu pai se tornaram mais longas e repetidas, toda vez que adentrava a clínica havia uma ponta de esperança de encontrá-la.
Mas em toda essa felicidade, havia um fato infeliz, ele gostaria de poder contar isso para o pai, sabia que se houvesse lucidez ele daria um belo conselho, indicaria uma forma de conquistá-la.
Nas suas últimas visitas as conversas não eram longas, porque além de não o reconhecer, Alexander havia voltado abruptamente ao tempo em que ainda fazia parte do sexteto. buscou se informar se o pai havia recebido ou entrado em contato com Danika. Talvez isso fosse um dos disparadores dessa regressão.
Mas, de certa forma, os profissionais da clínica ainda zelavam pela autonomia de Alexander e não deram muitas informações. então pediu de forma gentil para que eles não deixassem que isso acontecesse, permitir que o pai desenvolvesse uma relação com Danika a essa altura, era tudo o que ele menos queria.
Primeiro, que isso poderia vazar para a mídia e seria uma grande confusão. Segundo, que isso poderia respingar em sua amizade com e terceiro e mais importante, era que isso o afetava sentimentalmente, uma vez que se lembrava das inúmeras brigas entre seu pai e sua mãe por conta de rumores de traição. As manchetes eram nojentas: “O bom filho à casa torna: Alexander Casillas e Danika Espinosa estariam tendo um caso novamente”, “Há também rumores de que Danika e Alexander se envolveram nos bastidores da novela e também durante a banda.”, “Um relacionamento a três, seria o perfeito para Alexander Casillas agora que se casou, mas ainda troca mensagens com sua ex-parceira de banda via internet”
, tinha que confessar que a imagem de Danika Espinosa era um fantasma em sua vida, lembrar o nome dela fazia com que ele retornasse a um lugar de dor, sofrimento e ansiedade. E nesse momento ele não estava disposto a isso, já estava passando uma barra com seu pai, não queria mais “problemas”.
Não era nada contra a pessoa de Danika, mas o que ela representava para ele e sua mãe. Ele tentaria evitar a qualquer custo o contato dela com seu pai, mas não impediria de se envolver com ela ou com , não havia nada de errado em pensar assim, certo?
Porque o problema era apenas a interação entre seu pai, Danika, e o público. Fora isto, não havia nada naquela mulher que o incomodava. Seu pai nunca falava muito sobre ela, em específico, ele sabia disso, porque em relação aos outros companheiros de banda ele sempre comentava, contava histórias e até mantinha contato com alguns.
Mas sobre ela, nunca foi dito nada. E isso também não importava, não importava para se Casillas tinha tido ou não uma relação com Espinosa, porque tudo isso foi em um passado muito antes dele e de sua mãe. Um passado que não voltaria, que não tinha dado certo. E como seu pai dizia aos fãs “superem!” e era isso que ele queria para si também, superar tudo sobre essa história ou coisa relacionada.
Afinal, nessa altura de suas vidas, nada pior que tentar retornar a assuntos fracassados do passado.
Ela não via a hora de encontrá-la e contar sobre suas novas composições, ela queria saber sobre a opinião da mãe. Também gostaria de saber sua opinião sobre o encontro inusitado que teve no dia da internação de Danika.
não tinha comentado com ninguém, mas desejava poder falar mais uma vez com , porque, de alguma forma, se sentia à vontade com ele, era alguém que tinha uma história parecida com a dela, alguém em que ela pensava que poderia confiar, e em um futuro ser um amigo…ou algo a mais. Essa última parte ela não podia negar, ele era muito atraente, seus traços, seus olhos, a pinta abaixo do seu olho, tudo tinha chamado atenção dela.
Esse feito do rapaz sobre ela, “atrapalhou”, de certa forma, a produção de seu álbum, que tomou um rumo diferente, porque agora ela não gostaria mais de falar sobre assuntos tristes, gostaria de falar sobre paixão…havia até uma música que ela tinha começado a compor.
Ela escutava de forma atenta o que a mãe contava sobre seus dias na clínica, como tudo parecia harmonioso, Dan também fez questão de contar sobre as atividades extras, em que fez muitos amigos.
— Tudo parece muito bom, até melhor que em casa, mãe.
— Ah, lunita, não se sinta assim — deu um abraço de lado na filha. — Casa é onde nosso coração está, e o meu está meio aqui e meio com você. Falando nisso, filha, eu gostaria de conversar sobre algo com você — Danika nesse momento assumiu um tom de voz mais cauteloso, tinha receio de como a filha poderia reagir àquele assunto.
Gostaria de ter contado antes de vir para a clínica, mas não houve um momento que ela achou “adequado” para isso, ainda mais depois da morte de seu marido, momento no qual a filha ficou mais apegada a ela.
— Você sempre soube que eu tive um grande desejo de vir para cá. Fiz até você prometer que me traria…isso não foi planejado por agora, querida. — Houve uma pausa, como se ela quisesse decifrar qual seria a próxima reação da filha, com isso, decidiu prosseguir o assunto. — Filha, quando eu era jovem, na mesma idade que você agora, prometi a um amig…prometi ao Alexander, meu parceiro de banda e namorado da época, que se um dia estivéssemos bem velhinhos e sós, iríamos nos encontrar e tentar viver o que não pudemos naquela época.
Danika optou por não falar, a filha a encarava de forma firme, como se fosse um erro perder cada palavra da mãe. A idosa não sabia como prosseguir, tinha medo de magoar a filha e de certa forma a imagem do velho falecido marido.
Queria deixar claro que por toda vida amou o pai de ,o amou desde a primeira vez que o viu, se apaixonou ao primeiro beijo e teve certeza que era ele, quando as borboletas que viveram presas em seu estômago por tanto tempo, voaram e pousaram sobre os olhos de Paco e seu coração.
A filha tocou sua mãe de forma suave e esboçou um pequeno sorriso, como se desse permissão para continuar a história.
— Você sabe o quanto a mídia é podre, e quando se tem vinte anos isso se torna pior, porque, de alguma forma, você sente que o que as pessoas dizem sobre seu coração é a verdade, não aquilo que você é. Durante toda a banda, todos ouviram coisas horríveis, mas para mim a forma que ditavam sobre meu relacionamento com Alexander era o pior, era duro, frio…e com o tempo entendemos que a gente não iria conseguir suportar aquilo, que o amor que era bonito se transformaria em algo podre. Então decidimos colocar ele no casulo, o proteger, se firmar e aí sim…deixar ele voar. — Danika se ajeitou sobre a poltrona. — Quando seu pai morreu, foi como se eu entendesse que o casulo havia se aberto, eu poderia escolher para onde voar e eu escolhi estar aqui.
— Mãe, eu entendo o que quer dizer, é muito lindo e puro o que falou e independente de qualquer coisa, eu apoio você. Porque eu te amo, e sei que o meu pai também falaria para você seguir seu coração e se o seu coração está aqui com o Von, é onde eu quero estar com você então. — A jovem não se segurou e abraçou sua mãe.
Danika derramou lágrimas, porque se sentiu leve, agora que havia compartilhado o segredo com a filha. Também agradecia mentalmente pela forma que Paco e ela haviam criado , uma jovem doce e compreensiva.
— Sendo assim, filha, o que tenho para te dizer é que Alexander…
— Ele está aqui, não é? — Viu a mãe concordar com a cabeça com os olhos um pouco arregalados. — E eu sei que ele está com Alzheimer também.
Então sentiu que agora era o momento dela contar o que tanto ansiava, e assim o fez. No final sua mãe estava espantada. Como podia o mundo ter unido o filho dos dois em uma mesma recepção?
— Tem mais alguma coisa que queira me falar, lunita?
— Eu senti algo, senti algo por ele, mãe. Tive até vontade de compor por ele.
— Filha, isso é lindo, eu desejo muito ouvir o que você for compor.
— também sabe sobre essa história, mãe?
— Não sei ao certo, Alexander, está confuso e não comentou nada sobre nossa promessa. Então realmente não sei se ele falou disso para alguém. Agora é esperar… — disse isso e deu uma longa expirada.
— Fica tranquila, ele parece ser ótimo e compreensivo. Aposto que a gente vai se reunir ainda para almoçar. — Sorriu esperançosa.
Ela confessava que hoje estava mais complicado de se concentrar, do que costumava, havia algo em sua mente, uma melodia, da qual ela não conseguia esquecer. Longe dela querer esquecer aquela melodia, mas o que a incomodava é que não tinha nenhuma letra “digna” dela.
O namorado de Rod adentrou a cabine que ela estava e confirmou o que ela queria de almoço. Após isso, ela caminhou até uma sala de descanso que havia no estúdio, e lá ela encontrou seu produtor e também amigo.
Não era a primeira parceria musical de ela e Rod, ambos gostavam de criar juntos e isso acalentava o coração de , porque era incrível trabalhar com alguém tão apaixonado pelo seu trabalho como seu amigo, ele se jogava de cabeça junto dela em cada trabalho e estrofe.
tinha que confessar que hoje havia sido cansativo, mas o resultado final iria agradá-la com certeza, ela se sentou em um puff e fechou seus olhos, havia uma dor de cabeça querendo se iniciar.
— E aí, vai me contar o que tá rolando na sua cabeça?
A jovem abriu os olhos e encarou o rapaz a sua frente, era tão perceptível assim? Ela se endireitou e iniciou.
— Hoje de manhã, quando eu acordei, tinha uma melodia na minha cabeça, e eu não consigo parar de pensar nela…
— Me diz ai como é, podemos criar alguma coisa em cima.
— O problema é que ela vai totalmente contra a proposta deste álbum. O sin compromisso fala sobre desamor, se encontrar sozinha, despedidas…e ela me parece mais uma melodia romântica, sabe?
— Ué, isso é perfeito, . Se você criou todo esse álbum e essa estética para entregar para o seu público algo sin compromiso com eles, mas que seja fiel a você, faz total sentido se a gente tiver uma música de quebra dentro dele. — A jovem pode ver um brilho de paixão crescer nos olhos de Rod, a ideia tinha despertado a criatividade — Ele deve acompanhar seu coração.
— Uau, agora estou empolgada para criar. — Ela sorriu de forma confidente para o amigo.
— Tá, me conta o que tá rolando, quem é essa pessoa?
— Como você sabe que tem alguém?
— , você me ofende desse jeito. Eu te conheço há tempo suficiente para saber o quanto você é leal ao que sente, e se você está querendo falar sobre amor, eu sei que você deve estar apaixonada. — Havia certa satisfação na fala de Rod por saber que estava certo.
— Tá bom, você tem razão. Eu conheci ele quando fui levar a minha mãe, você sabe… — Houve uma troca de olhares de cumplicidade nesse momento. — E ele estava lá na recepção, a gente começou a conversar. — Soltou um longo suspiro. — Ele me entende, é gentil, e tenho que confessar que achei ele gostoso. — Ela corou após confessar isso ao amigo.
— E aí, vocês estão conversando? Como está sendo?
— Acabou que eu nem peguei o telefone dele, nem nada do tipo. Vai fazer umas duas semanas que eu não o encontro. Agora você nem desconfia de quem ele é filho…
Assim, a jovem explicou sua breve ligação com e pode observar a cara de espanto de Rod
— Como assim ele é filho de Alexander Casillas Von? Como vocês foram parar lá? Sério, se isso não é destino, eu não sei o que é.
— Mas eu nem sei se ele gostou de mim. Então não dá nem para saber no que isso vai dar, pode só ficar assim mesmo. — Deu de ombros.
— Me dá o seu celular, preciso pelo menos saber como é o rosto dele. — Um pouco relutante entregou o celular a ele.
Houve um momento de silêncio, enquanto encarava o amigo mexer no seu celular. Ele não dizia nada e isso a deixava um pouco ansiosa, por saber o que ele estava achando de , caso tivesse achado alguma rede social do rapaz.
— Pronto, agora vamos descobrir qual é a dele. — Esticou o braço devolvendo o celular para a amiga, e observou o semblante de dúvida dela. — Que foi? Eu apenas fui prático e comecei a seguir ele, .
— Meu Deus, Rod! — Se levantou e começou a caminhar de um lado para o outro. — Se alguma página de fofoca ver que eu comecei a seguir ele, podem criar teoria, manchetes…você não pensou nisso? — Falava em um tom raivoso.
— Claro que eu pensei nisso, , por isso comecei a seguir ele pelo seu perfil privado, o Lunita. Agora quando ele te seguir de volta, você posta um story e vamos ver no que dá — disse de forma simples.
Ela apenas encarava o amigo, pasma em como ele tinha feito de forma tão simples o que ela procrastinou por duas semanas: falar com . Quando o som de notificação do instagram invadiu o local, Rod correu para o lado da amiga e os dois encararam “ deseja te seguir.”
— Por nada — disse Rod dando um largo sorriso. — Vai, aceita logo. — Viu a amiga tocar a tela do celular. — Agora posta um story para ele saber que é você, né? Porque o nome Lunita e a foto de perfil de um quadro não ajuda, né.
, não sabia o que postar, queria interagir com ele, mas de forma simples, sem parecer proposital. Ela levantou o olhar para encarar Rod, e como em um passe de mágica, pareceu que ele havia entendido o que a amiga pensava.
— Tive uma ideia, vem cá. — Puxou ela pela mão até a cabine de gravação, colocou os headphones nela novamente. — Apenas não olhe para mim…pronto! Sei que você não quer ser óbvia, . Então posta essa foto falando que eu a tirei, com algo engraçadinho e assim ele pode interagir com você.
— Será? — Mordeu os lábios com certo nervosismo.
Estava feito, ela havia postado a foto que Rod tinha tirado, acompanhada de “trabalha y trabalha” era o melhor que ela conseguia, agora era esperar. O namorado de Rod havia chegado com as sacolas do almoço e os três estavam sentados no chão com suas pequenas embalagens de comida.
conferia de minuto em minuto as notificações do celular, mas nada de uma interação de , talvez ele poderia pensar que aquilo era um perfil qualquer, ou uma página de frases motivacionais, afinal não tinha nada que identificava que aquele perfil era dela. Apenas os mais próximos identificariam algo, por conta do nome “Lunita”, o apelido que Danika havia dado para ela desde pequena.
“, é você?” ela engoliu de uma vez só toda a garfada que tinha colocado na boca, ele respondeu seu story como esperado. Ela prontamente o respondeu com um áudio “para provar” que era ela.
Após concluir a mensagem de voz, percebeu o sorriso que estava nos lábios e os dois homens a encarando e os três apenas riram de forma cúmplice, por concluírem que estava tendo uma quedinha por Casillas.
Depois daquela mensagem, os dois jovens continuaram a conversar, sem demora para resposta de ambos os lados. Compartilharam durante a conversa, sobre seus trabalhos, contou como estava indo o seu próximo projeto, mas sem muito detalhe.
Enquanto contava como tinha sido seu último treino, e o que precisaria melhorar para as finais. Eles também compartilharam o quanto gostaram de se conhecer, e de certa forma ambos ficaram felizes com isso.
Quando a conversa estava prestes a terminar, se encheu de coragem e convidou para sua casa, pensou algum tempo antes de enviar a seguinte mensagem “sei que deve estar corrido para você, mas eu saio umas 21h do estúdio, Rod e o namorado dele vão lá para casa comer uma pizza, caso você queira ir, está convidado.”
Quando ela enviou aquilo, no mesmo instante se arrependeu, porque talvez ela poderia estar interpretando mal, talvez ele só estivesse sendo educado em respondê-la, talvez não gostasse desse tipo de interação. Sua ansiedade foi tão grande, que ela rapidamente entrou no chat da conversa enviou seu endereço e desligou o celular.
Não queria criar expectativa, e para isso, a ideia era esperar ele não ir. Caso ele fosse, seria uma surpresa para ela, uma vez que, ela não veria sua resposta.
Os três estavam abrindo uma taça de vinho para acompanhar a pizza que deveria estar a caminho. desprendeu o pensamento de , uma vez que, já passava das dez da noite e ele não tinha vindo ainda.
Bom, era isso, ele não vinha, não estava tão afim…
— Você quer que eu abra? — voltou a prestar atenção quando Miguel tocou seu braço. — O interfone tá tocando, você quer que eu abra?
— Não, pode deixar eu abro. — Sorriu e foi em direção a porta. — Nossa, essa pizza demorou, hein — comentou com os amigos, enquanto destrancou a fechadura.
Ele estava lá, com um casaco e um cachecol enrolado no pescoço, seu nariz estava um pouco vermelho, e em suas mãos tinham três caixas de pizza. Quando encarou seus olhos, ela pode perceber seu tique voltar, então ele começou a piscar copiosamente.
— Chegaram junto comigo, então seu porteiro já pediu para trazer. — falou de forma rápida.
Agora ele estava ali e a garota não conseguia disfarçar sua satisfação por isso.
A noite tinha sido agradável para todos, Miguel e Rod se deram bem com o novo rapaz a roda, e eles rapidamente se enturmaram e isso foi uma das coisas que mais gostou nele, esse jeito meigo que conquista as pessoas ao seu redor. Inclusive ela.
Os quatro devoraram as três pizzas e acabaram com duas garrafas de vinho, tudo estava mais leve, engraçado e fácil para todos. Era mais de 1h da manhã quando o casal de amigos de resolveu que era a hora de ir.
— Bom, vamos, Miguel, estou cansado e vou acabar dormindo aqui se a gente demorar mais 10 min. — Rod disse, recolhendo sua bolsa no sofá.
— Sim, amor, vamos. Já consegui achar um uber para gente. — disse enquanto conferia alguma coisa no celular e ambos se encaminharam para porta.
Foi nesse momento que de forma cúmplice e se entreolharam, o jovem coçou a cabeça um pouco sem graça, ele não queria deixar a companhia dela. Mas, ficar ali seria sem noção da sua parte. , iniciou uma caminhada para acompanhar os amigos até a porta, foi quando Rod disse em um tom de voz para que só ela ouvisse.
— Nós já conhecemos a saída, , agora acho que ele ali — Indicou com a cabeça. — Está meio perdido nesta casa, será que você não quer mostrar para ele? — Deu um pequeno riso para ela.
— Tá bom, tchau para vocês. — A jovem sorriu para o amigo e se virou para enquanto escutava à porta da frente se fechar.
— Bom, acho que já está na minha hora também, . —Começou a caminhar em direção a ela — Hoje foi muito bom, faz tempo que eu não me sentia bem como aqui. — confessou, agora a poucos centímetros da jovem.
— Que bom que gostou, eles são incríveis, eu os amo. — Sorriu ao lembrar da presença dos amigos mais cedo.
— Você também é, você me fez muito feliz hoje com o convite. — Ele se aproximou mais um pouco de .
— Eu te fiz?
Ela havia se aproximado mais, não havia distância entre eles, ela notou que olhava fixamente para sua boca e percebeu que os lábios dele estavam um pouco abertos, ao subir o seu olhar pode observar que agora ele piscava rapidamente.
Ela deu um longo suspiro, o que fez com que o ar quente de sua boca batesse contra a do jovem, ela se perguntava por que ele não a beijava? Será que ele não queria? Era cedo demais? Ela não queria pensar sobre essas coisas agora, não agora. Um formigamento surgiu no pé do seu estômago e uma corrente quente percorreu seu corpo.
Eles precisavam disso! Então vagarosamente ela se aproximou e colou seus lábios, foi o necessário para que chocassem seus corpos de forma abrupta, enroscou uma de suas mãos em seus cabelos, e ela abriu mais a boca para que a língua quente dele adentrasse.
O beijo de início foi lento e progressivamente aumentou a velocidade, as mãos dele pousaram sobre a bunda dela e as delas percorriam o abdômen dele. O momento em que desgrudaram seus lábios para respirar, foi o necessário para tomar coragem e fazer aquilo que tinha vontade.
Ele pegou com força a bunda de e a impulsionou para que ela subisse as pernas para sua cintura, as entrelaçando, então a garota retomou o beijo com ele. caminhou sem desgrudar seus lábios com os de , com ela ainda em seu colo apoiou a jovem no sofá.
Tudo estava indo rápido, percorreu seu abdômen e se encontrava com a mão no zíper da calça do jovem…então os seus pensamentos foram invadidos por uma vibração no cômodo. Quase sem fôlego, o jovem desgrudou seus lábios.
— Tá ouvindo? — Com os olhos fechados, acenou afirmando com a cabeça.
Então ambos se levantaram e procuraram pela vibração, até que encontraram o celular de tocando sobre a bancada, foi quando o jovem pegou o aparelho na mão que percebeu que sua ideia não seria executada.
quando soube que era seu celular que tocava, pensou em apenas desligá-lo e voltar para , mas essa decisão foi deixada para trás quando viu que havia três ligações da clínica de seu pai perdida, e essa era a quarta.
Quando retornou as ligações, o enfermeiro não deu nenhum detalhe apenas disse para ele ir para lá. Todo seu tesão evaporou, e agora seu coração estava apertado, o medo percorria seu corpo de forma incontrolável, o que poderia ter acontecido com seu pai?
— É o meu pai, . Eu tenho que ir.
— Claro.
A jovem percebeu que algo o tinha pegado repentinamente, ela gostaria de ir com ela, fazer companhia, mas como ele não detalhou nada, achou melhor dar o espaço dele. Ele recolheu seus pertences e eles caminharam até a porta em silêncio. Uma sensação estranha adentrou o coração da garota, ela se sentia desapontada, quase como traída?
Ela engoliu seco, gostaria muito que ele a levasse junto, e ela pudesse fazer companhia a ele. Era como se ela estivesse apaixonada? Não, era apenas tesão frustrado, só isso.
— Bom, espero que esteja tudo bem lá. Tchau. — falou de forma trêmula a última palavra.
— , tcha…ah, foda-se.
beijou a jovem de forma voraz, ele queria deixar claro que a estava deixando, mas que voltaria e terminaria da melhor forma o que começaram. Já para , aquilo apenas piorou, porque agora ela gostaria mais e mais que ele ficasse ali. Então de súbito ele apenas saiu e se despediu apenas quando estava a uma certa distância dela, tudo para garantir que ele conseguiria deixar sua morena.
O jovem respirava fundo, na tentativa de se acalmar, mas, o medo já havia pousado sobre as suas costas, era quase como se ele tivesse que se arrastar para conseguir dar um mísero passo que fosse. Mas, afinal, qual era o medo que ele sentia? Porque, afinal, ele já havia perdido seu pai.
Era cruel de se admitir em voz alta, mas sentiu uma parte sua indo embora quando a doença do seu pai começou a progredir, isso porque, por mais que Alexander estivesse lá, não era ele que estava lá. No seu olhar não havia mais aquele conforto que recorria, as palavras dele já não acalmavam o jovem e a presença era apenas a sombra de quem um dia estava de corpo, alma e mente.
Foi apenas quando ficaram frente a porta do quarto do seu pai, que os profissionais se pronunciaram.
— , sei que isso é incomum de acontecer, mas achamos necessário chamar você o quanto antes. Ultimamente, seu pai vem mostrando uma regressão no quadro demencial — Deu um pequeno sorriso e apenas acenou com a cabeça em surpresa — E isso realmente tem nos impressionado…até hoje. Ele se deitou como todos os dias, e agora de madrugada nos chamou, pedindo para que ligasse para o filho dele. Ele lembrou de você, , do seu número de telefone e nos implorou para falar com você.
— A boca do jovem ficou aberta em forma de “O” por alguns instantes. — Isso é sério? — Viu o enfermeiro a sua frente concordar com a cabeça. — Eu posso entrar? — disse colocando a mão sobre a fechadura da porta.
— Claro. — E observou o jovem adentrar o cômodo e fechar a porta.
Quando entrou no quarto a imagem que viu foi de seu pai, com seus cabelos quase todos brancos, sentado na cama de costas para a porta. O jovem apenas contemplou por um momento aquela cena serena do pai, até que foi interrompido.
Colocou o violão sobre a cama, ao perceber uma presença atrás de si. Com isso, se virou.
— Filho, — Se levantou de forma abrupta e foi até o filho dando um abraço apertado e demorado. — Quanta saudade eu senti de você.
— Pai. — O jovem sentiu certa dificuldade em pronunciar essa palavra, pois sua garganta estava seca e seus olhos encharcados demais. — Eu também estava com saudade de você, pai.
Se afastou um pouco do filho para observá-lo, colocou uma mão sobre seu rosto e outra em seu ombro.
— Está diferente, e isso que estou apenas há três dias nesse lugar. — Foi nesse momento que foi trazido para realidade novamente — mas, senti uma falta repentina e acabei pedindo para ligarem para você, filho. Me desculpe. Bom… mas me conte, como estão os treinos? Tem algum campeonato em vista? — Então sua atenção foi tomada por uma vermelhidão no pescoço de seu filho. — Pelo visto os treinos estão intensos, está até com hematomas.
riu pelo nariz, com a inocência do pai.
— É pai, os treinos estão. Vamos sentar e eu te conto tudo.
O coração do jovem estava transbordando de felicidade por poder vislumbrar um pouco da presença e alma de seu pai, por mais que ele achasse que estava ali por apenas três dias, ou que estava só treinando, anulando que o filho já tinha entrado para semifinais de um dos campeonatos mais prestigiados. Nada disso importava, porque tudo valia a pena por escutar a palavra “filho” sair dos lábios do pai. Novamente ele assumia seu papel, de apenas ser filho de alguém que ele amava e admirava tanto.
Um pensamento o levou rapidamente para , ela tinha feito um pequeno estrago em seu pescoço com suas unhas, mas ele não se importava de ser marcado por ela. Se ela quisesse poderia fazer isso em seu corpo todo, porque muito antes do pescoço ela marcou seu coração.
tentou sintetizar todos os acontecimentos dos últimos meses, era muita coisa para o pai assimilar e ele sabia que deveria ser realista e pé no chão em relação a isso. Uma vez que, ele poderia voltar amanhã a clínica e encontrar um completo desconhecido novamente.
Percebeu que Alexander, mais do que nunca, estava atento a cada palavra do filho. Quando resolveu mostrar uma manobra em seu celular, viu que os olhos do pai ficaram um pouco marejados.
— Eu te ensinei isso quando tinha 8 anos. — Encarou o filho. — Minha cabeça às vezes fica confusa, quando pensei em você hoje, só conseguia lembrar de quando era pequeno, de quando pedia para que eu tocasse violão para você dormir. De quando caia e se ralava e pedia para que eu fizesse curativos sem a sua mãe saber. — colocou a cabeça sobre o ombro do pai e Alexander passou seu braço no pescoço do filho. — Sabe, , a minha cabeça tem horas que me confunde, mas, meu coração não. Eu te amo, meu filho, e estou feliz que esteja fazendo algo que goste…eu me sinto em paz com isso, uma sensação de dever cumprido com você.
— Pode ter certeza, pai, estou fazendo o que amo e isso eu devo a você. E quanto a sua cabeça, não esquenta com isso, tá bom? Às vezes a gente se confunde mesmo. — O jovem sentiu a necessidade de dar algum consolo ao pai.
— Eu preciso te contar uma coisa, filho…
engoliu seco, por não fazer ideia do que viria.
— Pode me dizer, pai.
— A banda da qual eu fazia parte…ela vai retornar, um encontro de 20 anos. — Viu certa emoção dominar os olhos do pai novamente. — E eu quero voltar com eles, e queria que você fosse o primeiro a saber disso.
A realidade novamente exalava na sua frente, por mais que tentasse Alexander estava se movimentando em uma areia movediça para , quanto mais ele se movimentava para fora, mais ele estava sendo engolido pelas suas lembranças, emoções, sentimentos.
— Pai — O moreno respirou fundo buscando forças para isso — eu acho que isso não vai acontecer.
— Claro que vai, filho, comecei a ensaiar algumas músicas antigas, e…uau… isso me levou a tantos lugares. Me lembrei de tantas coisas…e Danika também está aqui... O estômago de se revirou e ele jurou que iria vomitar todo o vinho que tinha tomado.
— Danika? Você falou com ela, pai?
Foi apenas nesse momento que Alexander viu a feição do filho mudar. Aquele jovem a sua frente calmo e compreensivo, foi tomado por uma expressão de desconforto e ameaça. Com isso, o homem percebeu que talvez o filho não estivesse preparado para ouvir que sim, ele havia conversado com Danika, que ele havia reatado com ela, e que agora ele estava feliz e se sentia de certa forma mais vivo.
Sentia como se estivesse andando nas nuvens nesses últimos dias, a presença dela era o sol em um amanhecer, sereno, que aquece o corpo de forma igualitária, sem deixar nenhuma parte esfriar. Ele amava isso em Danika, ela era um grande sol que trazia luz, calor e esperança a todos a sua volta, amava seus olhos penetrantes e a sua risada, ele a amava, cada coisa que ela fazia e tudo aquilo que a rodeava.
A reação de lhe pareceu estranha, por que o filho não parecia confortável com essa notícia? Por que uma coisa que lhe fazia feliz poderia fazer seu filho triste? Como pai, ele sentia o dever de proporcionar certa felicidade ao filho, mas neste caso o que poderia ser feito?
— Pai? Pai...
— Ah, me desculpe, é…o que você falou mesmo.
— Você não acha melhor se deitar? Esta tarde e acho que conversamos o suficiente, amanhã eu posso voltar.
— Certo, isso é uma boa ideia. — Deu um sorriso de ternura para o filho.
— se levantou da cama.
— Deita, eu fico aqui até você dormir, tudo bem? — Viu o pai concordar e depois se aconchegar na cama.
se sentou em uma cadeira que havia ao lado, apagou as luzes, deixando apenas um abajur aceso. E viu o pai o encarar por um tempo, até seus olhos pesarem e ele ceder ao cansaço.
Quando já estava ao lado de fora da clínica, ele soltou um grito rouco. Foi a forma de demonstrar que estava realizado demais, que seu peito estava cheio, quase transbordando de felicidade. Estar com seu pai era único, e ele lutaria sempre por isso.
Mas, agora havia algo que ele queria mais do que tudo, pegou seu celular e fez aquilo que desejou:
“Eu sei que tá tarde, mas preciso que saiba. A noite foi incrível”
“Você é incrível, não posso negar. Queria te ligar, mas não me sentiria bem te acordando, só queria te dizer que meu pai se lembrou de mim. E isso é a segunda melhor coisa que me aconteceu hoje, porque a primeira foi te beijar. Descanse bem, minha ”
O que não sabia, é que depois de tudo que havia acontecido naquela madrugada, não tinha conseguido dormir mais, e resolveu que seria um ótimo momento para compor. Estava parada mais de meia hora em frente ao seu caderninho pensando em um título para aquela música até que recebeu uma notificação no seu celular.
— Minha . — Tocou os próprios lábios após ler a mensagem. — Puta merda, Casillas Von.
Então ela havia decidido, que aquela melodia que surgiu desde a primeira vez que o tinha visto, que a letra que surgiu após o primeiro beijo deles, seria dedicada aos dois. E que o título seria um segredo que apenas eles entenderiam, e assim nascia “Let me be”, se ele deixasse ela seria sua, seria de .