Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 10/11/2024— Se você cair, eu vou dar muita risada de você — disse , colocando a mão na testa, na tentativa de a luz solar não ofuscar completamente sua visão.
John B era a única família que restava para , seu primo, criados juntos desde sempre. Quando a mãe da garota morreu em um acidente de carro e Big John, pai de John B e tio de , era o único parente próximo e conhecido que poderia cuidar dela, os dois mais novos decidiram adotar o título de irmãos, fazendo questão de corrigir qualquer pessoa que falassem que eles eram primos.
Pope saiu de dentro da casa, brincando com uma parafusadeira que ele havia achado no chão, olhando para o amigo em cima do telhado.
— Isso dá o quê? Uma queda de três andares? — Pope disse, o observando. — Te dou 30% de chance de sobreviver.
John B colocou o dedo indicador na boca, o molhando e o estendendo, sentindo o vento bater contra sua pele, fazendo uma expressão dramática, como se estivesse calculando algo em sua cabeça. continuava encarando a cena com graça enquanto os outros dois garotos brincavam um com o outro.
— Então, eu devo pular?
— Isso, pula e eu atiro enquanto você cai — Pope pegou a furadeira, apontando para o amigo, fingindo mirar.
— Vai atirar em mim? — disse John B, fazendo arminhas com os dedos.
— Vou — afirmou Pope.
O garoto negro de olhos escuros era a pessoa mais inteligente que conhecia, a garota acreditava que ele era o único que conseguiria passar em uma faculdade boa e ter um bom futuro, ele merecia isso. Pope Heyward era o tipo de pessoa que, embora sabendo que tudo poderia dar errado, ainda estaria ao seu lado. Foi por causa dele que não havia reprovado em química e física, ele a tinha ajudado a estudar e passado algumas respostas durante a prova; mesmo que estivesse com medo de ser pego pelo professor, não poderia deixar sua amiga ir mal na prova.
John e Pope continuaram a brincadeira enquanto tentava espiar para dentro da casa, se esticando, ainda sentada no guarda-corpo de madeira, na tentativa de ver Kiara em algum lugar, já que haviam passado alguns minutos que a garota não havia aparecido. se perguntava o que sua amiga estaria fazendo, a casa ainda estava em reforma, então Kiara não teria como achar muita coisa além de muitos sacos de cimento, poeira e materiais de construções no geral. Após alguns segundos, pôde ver Kiara se aproximando com uma feição fechada enquanto passava a mão pela sua roupa, na tentativa de tirar a poeira acumulada.
Kiara (ou apenas Kie) era sua melhor amiga desde o ensino fundamental. Carrera experimentava o melhor dos dois mundos: sua família havia se mudado para o lado rico da ilha há alguns anos, aproveitando coisas que nem poderia sonhar em ter, mas, no tempo livre, Kiara continuava com os Pogues, na vida simples. As duas haviam se distanciado durante um pequeno período, quando Kiara se mudou. Inicialmente, Carrera tentou não se afastar dos amigos, principalmente de , sempre a convidando para uma festa com seus novos amigos, mas era inevitável não se afastarem, vivendo em mundos tão diferentes. Depois de alguns longos meses, sem muitas explicações, Kiara pediu desculpas por ter se afastado e tudo havia voltado ao normal entre o grupo.
— Aqui vai ter privadas japonesas com aquecedor de toalhas! — disse Kiara, andando em direção ao grupo de amigos.
— Claro, sem toalhas quentes não dá! — JJ ironizou, se apoiando no andaime.
JJ Maybank era o maior desafio que poderia enfrentar durante todos aqueles anos. O garoto de cabelos loiro queimados e olhos azuis foi seu primeiro amigo. O Maybank de 7 anos era o tipo de criança que puxava as tranças de , saía correndo e, meia hora depois, arrancava flores de um jardim para pedi-la em casamento em forma de se desculpar. O desafio começou quando eles tinham 14 anos e JJ começou a defender a garota de qualquer piada tosca que algum adolescente fazia. não sabia dizer quando JJ havia parado de ser um garotinho insuportável, que sempre a excluía das brincadeiras, para alguém que sempre estava do seu lado, apoiando e fazendo seu estômago encher de borboletas — claro que não queria que ele soubesse desta última parte.
— Aqui era um habitat natural de tartarugas, mas quem liga para as tartarugas, não é? — reclamou Kiara. — Dá para você não se matar, por favor? — Kiara perguntou, retoricamente, olhando para John B.
— Se você derrubar a cerveja eu não vou te dar outra — JJ disse, entregando uma lata de cerveja para John B, em cima do telhado.
No mesmo instante, a lata escorregou da mão de John B, caindo no chão e explodindo e vazando para os lados. Os outros adolescentes reclamaram em frustração, xingando o amigo, que passava a mão pelos cabelos, lamentando ter derrubado a bebida.
JJ resmungou, se movendo rapidamente para pegar uma nova lata para John B, ainda em meio aos xingamentos.
— Mas é claro que ele derrubou a cerveja — reclamou, em meio aos outros xingamentos dos amigos para o garoto. — Já é a segunda vez!
— A primeira estava quase vazia! — retrucou John B, se defendendo.
Pope se apoiou ao lado de enquanto o grupo voltava a conversar. O garoto lhe deu um breve sorriso, fingindo empurrar a garota para trás, a fazendo rir.
— Alerta de segurança! — avisou Pope, puxando a amiga pelo braço.
O grupo de adolescentes começou a correr enquanto riam por causa da adrenalina em seus corpos. olhou para trás, vendo JJ quase ser pego pelo segurança, que havia entrado pela porta da frente, enquanto os adolescentes tentavam fugir pelo jardim da casa. Gary, o guarda do pequeno e chique condomínio, parecia ter por volta de uns 45 anos, alguns cabelos brancos, e visivelmente não tinha físico para correr atrás de adolescentes. O homem gritava algo como "vou pegar vocês!" e "voltem aqui!". Não era a primeira vez que eles fugiam de Gary e, se dependesse deles, não seria a última.
Pope, e JJ ficaram para trás, e, quando dobraram a curva do jardim, avistaram a cerca de madeira que rodeava a casa em frente a eles. Pope foi o primeiro a pular, caindo de cara na grama, mas logo se levantou, voltando a correr. Na vez de , JJ agarrou a cintura dela, ajudando-a a pular, sem muita dificuldade. Maybank passou pela cerca segundos depois.
— Não queremos ficar para trás, não é, ? — o loiro disse, quase em um tom irônico, agarrando a mão de e voltando a correr em direção à Kombi que John B dirigia e o resto de seus amigos já estavam, pulando para dentro do automóvel rapidamente.
— Gary 'tá querendo mostrar serviço — comentou Pope, cansado.
JJ continuava a provocar o segurança, apenas se sentou no chão da Kombi, apoiando suas costas e cabeça na parte traseira do banco de John B, que dirigia, enquanto tentava recuperar o fôlego, se abanando com a mão. Sentindo que tinha corrido uma maratona intensa, Kiara ria do estado da amiga, ao mesmo tempo que xingava JJ por não ter parado de incomodar Gary ainda.
— Dê uma cerveja para ele, Jay — disse , entregando uma das latinhas para JJ. — Gary trabalhou bastante hoje, ele merece.
Assim que JJ jogou a cerveja para o segurança, Kiara o puxou para dentro enquanto Pope fechava a porta. John B acelerou a Twinkie — o apelido carinhoso que deram para a Kombi —, se afastando do bairro de casas enormes e bonitas. Eles ainda riam do que tinha acabado de acontecer, sobre a pequena perseguição, como Pope tinha caído e de como Gary era estúpido por conseguir achar que conseguiria alcançá-los somente correndo.
adorava tudo aquilo, simplesmente adorava o sentimento de liberdade e adrenalina que sentia, podendo apenas ser uma adolescente que fazia besteira como qualquer outra, sem se preocupar com as consequências. Talvez aquele sentimento de felicidade aumentasse porque amava estar com os Pogues, sua única família.
Pulou rapidamente para o banco do passageiro ao lado de John B, apoiando o braço na janela, olhando para a grande placa velha que ela conhecia tão bem, onde estava escrito:
O paraíso na Terra"
Outer Banks ou o paraíso na Terra, como você quiser chamar, era o típico lugar que a desigualdade social acontecia da forma mais comum possível.
Era o tipo de lugar onde havia dois empregos ou duas casas. Duas tribos, uma ilha. Não existia meio termo, ou você nascia um Kook no Figure Eight, rodeado de carrinhos de golfe, iates, roupas caras e fim de semanas no Country Club, ou você nascia no Cut, o lugar da classe trabalhadora que passa grande parte da sua vida servindo mesas, lavando os iates e trabalhando no Country Club até o fim de semana. O habitat natural dos Pogues. São a ralé, os peixes pequenos e descartáveis, os membros mais baixos da cadeia alimentar.
Claro que haviam pequenas brechas nesses mundos, Kiara era um bom exemplo. Viveu um bom tempo no Cut, até que o restaurante de seus pais começou a lucrar muito e eles se mudaram para o Figure Eight. Mas, no fim das contas, todos sabiam que, mesmo participando das festas e dos clubes, os “ricos de nascença” não os consideravam Kooks.
gostava de ver o lado bom das coisas. A desvantagem de ser um Pogue: eles eram ignorados e negligenciados. Mas o lado bom da vida Pogue? Por serem negligenciados, significava que poderiam fazer o que quisessem e quando quisessem.
Foi isso que foi ensinado à desde que se entendia por gente e ela partilhava do mesmo pensamento, aliás, a vida de um Pogue sempre foi a única realidade que ela pôde presenciar.
Na manhã seguinte, os raios de sol refletiam forte nos olhos de , que apenas os ignorou por um tempo, virando de costas para a janela e cobrindo seu rosto, na tentativa de voltar a dormir por mais algum tempo.
— Bom dia, — John B dizia, tirando os braços que cobriam os olhos da irmã.
O garoto sorriu, falso, cutucando as bochechas da irmã, que lhe lançou o dedo do meio ao mesmo tempo que murmurava um xingamento. bocejou, se sentando na cama e apoiando seus pés no chão. Seus olhos ainda lutavam para ficar abertos e seu celular brilhou, mostrando o horário que marcava, 10:30 da manhã, enquanto via John apoiado na porta do quarto, encarando a garota.
— Porra, Johnny, é muito cedo! — reclamou.
— Temos que falar com o conselho tutelar hoje, Bunny — avisou John B, fazendo reclamar novamente, jogando seu corpo para trás, batendo suas costas em seu colchão velho.
Bunny, o apelido que tinha ganhado de Big John quando era criança. John B era Bird, eles sempre eram os personagens principais das histórias que o homem inventava para as duas crianças dormirem. O motivo dos apelidos, de acordo com o próprio tio, era porque John B sempre foi independente e sempre vivia “voando” em novas encrencas quando era criança, já , sempre seguia John B, saltitando pelos cantos com uma carinha fofa, defendendo o garoto. Fazia 9 meses que, após uma noite chuvosa, Big John saiu de casa e algum tempo depois desapareceu. não gostava de pensar naquilo; toda vez que tocavam no assunto, a Routledge ficava quieta e apenas concordava com o que as pessoas falavam. Não gostava de afirmar que o homem estava morto, mas odiava pensar que Big John estava vivo e não tinha voltado para casa e nem mandado algum sinal para eles.
De acordo com a lei, os dois adolescentes deveriam estar morando com tio Ted, que havia se tornado o guardião legal deles após o desaparecimento de Big John, mas ele estava ocupado demais construindo cassinos em alguma parte do Mississipi, no lugar de cuidar dos sobrinhos.
assentiu com a cabeça, vendo o irmão se afastar em direção à sala. Ela se trocou rapidamente, jogando uma água em seu rosto, caminhando até a cozinha, tentando procurar qualquer coisa que ela pudesse comer rápido, mas, ao ouvir a buzina da Kombi, sua única opção foi uma caixa de cereal na metade. Olhando a data, notou que fazia exatamente uma semana que tinha passado da validade e, pensando por alguns segundos, considerando que aquele tempo não era muita coisa, apanhou um pouco na mão. Assim que John B buzinou mais uma vez, dessa vez mais alto e longo, correu até a Kombi, se sentando ao lado do garoto.
— Cereal puro? — John B perguntou, confuso, vendo a irmã comer como se fosse um pacote de salgadinho.
— Não compramos leite — ela deu de ombros. — Quer?
O irmão assentiu, tirando uma das mãos do volante, e pegando um punhado de cereais coloridos da caixa, sem ao menos tirar os olhos da estrada. repetiu o ato dele, aceitando que a comida não tinha nenhum gosto estranho, mesmo passando da validade. Minutos depois, eles estavam em frente à delegacia, onde haviam marcado de encontrar a assistente social. Normalmente, eles precisavam pegar uma balsa até o continente para falarem com o Serviço Social. Os dois respiraram fundo, deixou a caixa de cereal, agora vazia, no banco do carro, enquanto saíram a caminho do escritório. estava nervosa quando se sentou em frente à mulher. Cheryl tinha uma postura rígida, mesmo que tentasse passar uma imagem gentil e acolhedora. tremia sua perna direita involuntariamente, por causa do nervosismo e do medo. Se a assistência social descobrisse que eles estavam morando sozinhos, era um adeus à liberdade que tanto gostava, tinha arrepios só de imaginar que ficaria mudando de inúmeros lares adotivos, provavelmente separada de John B. Seu pior pesadelo era ser separada da única pessoa que era sua família que restava e se importava com ela.
— Ficamos sabendo que vocês são menores de idade, não emancipados, vivendo sozinhos — a assistente social dizia, calmamente, olhando para os dois.
beliscava o dorso de sua mão, olhando para John B rapidamente, esperando o garoto responder algo para Cheryl.
— Não, isso é mentira — John B negou com a cabeça.
— Precisam ser honestos para que possamos ajudá-los, é o que nós queremos, certo? — a mulher falou enquanto colocava alguns papéis sobre a mesa.
— Estamos sendo honestos — os dois falaram juntos.
— Certo, quando foi a última vez que falaram com o seu tio? — a assistente social perguntou, desconfiada.
— A uns 34 minutos atrás — ela falou, olhando o relógio de pulso imaginável que o irmão mostrava para ela.
Ambos trocaram olhares apreensivos ao perceberem que a assistente social havia começado a anotar algumas informações em uma prancheta. A mão de já começava a ficar avermelhada de tanto se beliscar pela ansiedade. John B segurou a mão da irmã, reparando o nervosismo da garota.
— Quando o viram pela última vez?
— Há 2 horas e uns 43 minutos. — Dessa vez foi John B que respondeu.
— John, , iremos amanhã falar com o tio de vocês e, se ele não estiver lá, irão para um lar adotivo — a mulher falou, anotando mais algumas coisas. — Garanto que encontraremos um lar seguro e amoroso para vocês.
— Esperamos por vocês lá! — se levantou juntamente com o irmão até a porta com um sorriso no rosto, tentando não demonstrar toda a ansiedade e medo que sentia. — Na verdade, John B, o tio T. não tem alguns exames marcados para amanhã?
John B assentiu, rapidamente.
— Um raio-X e alguns exames de sangue… — John B completou. — Tem como remarcar?
— Desculpem, mas realmente não podemos remarcar. — A mulher olhou para eles novamente. — Só queremos ajudar.
— Não precisamos de ajuda — John B falou, colocando suas mãos nas costas da irmã, a tirando do escritório.
Os dois ficaram em silêncio o caminho inteiro até chegarem à Kombi. passou as mãos pelo seu rosto enquanto John B apoiava a testa no volante, parecendo pensar em alguma solução. Seu coração estava apertado, odiava ficar tão preocupada com esse tipo de assunto, pois era o único que ela não conseguia reconfortar John B, muito menos pensar em como poderia resolver de uma forma fácil, igual acontecia normalmente. Sentia-se frustrada pela falta de opções em sua cabeça, se preocupava com John B mais do que com si mesma.
— Estamos ferrados — John B murmurou
— Eu sei — suspirou, apoiando a cabeça no banco, vendo o irmão voltar a dirigir em direção à casa.
As notícias sobre o Furacão Agatha se espalharam rapidamente pela ilhazinha da Carolina do Norte, interrompendo todas as programações da TV para o aviso de última hora no jornal. estava trabalhando na colônia de férias infantil do Country Club quando recebeu a notificação sobre a tempestade em seu celular. Seu corpo tremeu no mesmo instante, paralisada com o aviso em seu celular, ao ponto de receber uma pequena advertência de sua chefe por estar mexendo no celular durante o trabalho. Quando finalmente foi liberada, pegou seu skate e lutou contra o vento forte, na tentativa de chegar o mais rápido possível em casa. Grande parte de si fazia de tudo para ignorar os trovões fortes que ecoavam pelo céu, mas, toda vez que o som encontrava seus ouvidos, sentia seu corpo pular em susto. Assim que chegou em casa, percebeu o local vazio. Se preocupou com John B no mesmo instante, se perguntando onde o garoto poderia estar em meio ao início de uma tempestade. Não demorou muito para os pingos fortes começarem a cair e a única reação de foi correr em direção ao seu quarto, escondendo-se embaixo das cobertas enquanto torcia para que seu irmão chegasse logo em casa, ou que ela caísse logo no sono, o que, para sua sorte, aconteceu rapidamente.
Era tarde da noite, o furacão Agatha invadiu Outer Banks de mais forma intensa do que esperava, achava um tanto quanto assustador. apreciava a chuva e a calmaria de seu som, mas não gostava das tempestades, odiava o barulho do vento forte, da sensação que tudo estava prestes a ser destruído. Não gostava do sentimento de desespero que sentia quando havia tempestades e a preocupação que aparecia dentro de si, nem gostava de imaginar como poderia estar o resto do pessoal da ilha com o possível estrago, por isso tinha sido praticamente um milagre quando a garota dormiu com tanta facilidade assim que o furacão se iniciou.
sentiu as gotículas de água correrem sobre sua bochecha, deslizando para sua mandíbula. De início, achou que poderia ignorar os respingos de chuva, mas estava realmente ficando irritada, visto que não estava conseguindo dormir de jeito nenhum. Ela coçou os olhos e limpou seu rosto molhado, sem estar ainda completamente acordada, apanhando seu celular que estava embaixo de seu travesseiro. Ligando o visor, apertou os olhos por causa da luz forte da tela, vendo o horário marcar 2:20 da manhã. Limpando mais uma vez sua bochecha, se sentando sobre a cama, reparando a goteira que tinha se formado exatamente em cima de seu travesseiro, bufando, estressada, ainda meio dormindo, ela se levantou, empurrando a cama para o lado para garantir que não ficasse completamente encharcada durante o resto da noite.
O furacão Agatha parecia estar destruindo tudo lá fora. O vento forte fazia um enorme barulho, conseguia ver as gotas da chuva batendo em sua janela com agressividade e o vento arrastando algumas coisas, o que fez seu coração sofrer palpitações por causa do medo. Ela respirou fundo e caminhou o mais rápido possível até o quarto de John B, onde o garoto estava dormindo completamente sereno, ocupando todo o espaço da cama de solteiro. A garota se perguntou por alguns segundos se deveria acordar John para explicar a situação e dormir junto com ele, mas, assim que um raio brilhou pela casa, sendo seguido por um trovão, correu em direção à sala de estar, onde encontrou JJ dormindo no sofá-cama, com seus cabelos loiros grudados no rosto. Por alguns segundos, achou que estava delirando, pois não se lembrava de Maybank ter comentado sobre dormir em sua casa, e coçou seus olhos para ter certeza que estava vendo certo.
Para o azar da Routledge, um galho voou em direção à janela de vidro, e deu um pulo, assustada, o que a fez esbarrar com a pequena mesa de centro, onde havia algumas garrafas e latas de cerveja vazias. Em um pequeno efeito dominó, todas pararam no chão, fazendo culpar a si mesma por se assustar com algo tão bobo, como apenas um graveto.
— !? — JJ falou, assustado com o barulho, se sentando no sofá. Seus olhos estavam semiabertos e suas mãos o ajudavam a se apoiar sentado no sofá. — O que está fazendo? Você está bem?
— Vim deitar na sala, porque John B está ocupando a cama dele inteira, mas, já que você está aqui, vou voltar para o meu quarto — resmungou, desviando para a chuva do lado de fora.
— , se está com medo da chuva, é só me falar, não vou rir de você — o garoto falou, rindo nasalado.
— Não estou com medo da tempestade — o corrigiu, mentindo. — Tem uma goteira no meu quarto.
— Claro que tem — JJ Ironizou, sonolento, franzindo as sobrancelhas ao ver a garota dar as costas para ele. — Para onde você 'tá indo?
— Dormir com o John B — ela disse. — Você fala demais.
pôde ouvir JJ suspirando em frustração, a puxando para trás por sua camisa, a girando rapidamente. Os dois se olharam, mesmo que estivesse escuro demais para realmente verem a feição um do outro. A garota estava confusa e com muito sono para tentar colocar a cabeça no lugar e entender o que estava acontecendo. Vendo o loiro bocejar, cansado, sentiu o garoto a puxar em direção ao sofá, sem dizer nenhuma palavra sequer. De alguma forma que não compreendia, ele a colocou deitada ao lado dele, puxando o pequeno cobertor por cima deles antes de voltar a fechar seus olhos novamente.
— JJ, mas o que… — se debateu, tentando se levantar, mas foi puxada de volta pelo garoto.
— Cala a boca, , eu quero dormir — JJ resmungou. — Não aja como se nunca tivéssemos feito isso antes.
Routledge se manteve em silêncio por alguns segundos, sentindo o braço do garoto rodeando sua cintura, o que a fez sentir multidões de borboletas em seu estômago, além de se sentir burra por ficar tão nervosa apenas porque o braço de um de seus melhores amigos estava em sua cintura. Aliás, Maybank estava certo, quando eram crianças, dividiram o sofá-cama mais vezes do que poderiam contar, mas, após crescerem, a mania fofa e infantil havia se tornado algo estranho e constrangedor demais para dois amigos fazerem. Seria uma mentira enorme se dissesse que nunca reparou a forma como seu coração se descontrolava quando JJ Maybank ficava muito próximo ou falava algo que ele sabia como deixaria as bochechas dela avermelhadas. A garota o conhecia muito bem para saber que o loiro fazia isso propositalmente para envergonhá-la. O lado bom das borboletas em seu estômago que JJ causava foi que a ajudou a se distanciar do medo que a tempestade a estava fazendo sentir. A respiração do garoto estava mais pesada do que a de alguns segundos atrás, o que a fez imaginar que JJ estava dormindo. finalmente se aconchegou no sofá, tirando o braço do garoto de cima dela, simplesmente aceitando que não conseguiria dormir com aquele sentimento dentro dela mesma, mas, do mesmo jeito ficou próxima a JJ, não queria se afastar muito para não se sentir sozinha.
— Bom dia, — John B falou, ainda com voz de sono. — Já foram lá fora? — perguntou, passando por JJ, dando um leve tapa em suas costas para acordá-lo.
— Não dá, cara, tenho pólio, não consigo andar! — JJ murmurava, ainda deitado. passou por ele dando um peteleco em sua orelha, o fazendo resmungar alguns xingamentos.
— Ca-ra-lho — a menina exclamou pausadamente. — Limpamos isso essa semana! — choramingou, se apoiando no batente da porta.
A garota passou a mão pelo rosto, tentando acalmar a si mesma ao ver a situação do lado de fora de sua casa; sentia que poderia apenas sentar na grama molhada e chorar de frustração pelo trabalho de organização perdido de alguns dias atrás. O quintal estava destruído, algumas cadeiras, que ela ficou com muito medo de guardar quando a tempestade iniciou, haviam voado uma para cada canto, galhos quebrados pelo chão, lixo espalhado e até mesmo alguns pedaços de telha que ela não soube responder se era do telhado ou da casa de algum dos outros moradores do Cut. O pensamento de que algumas pessoas provavelmente não tiveram a sorte de ter a casa intacta como o Castelo fez o coração de apertar em preocupação.
— Isso não é bom... — John B murmurou.
— Agatha fez muito estrago, não é? — JJ falou, se colocando ao lado de , a assustando.
— Porra! Quer me matar de susto?
— Você tem que relaxar, — disse o loiro, massageando os ombros da garota. — E eu sei o que está te fazendo falta.
— Se você falar maconha, eu te afogo no pântano! — ela brincou enquanto os dois caminhavam até John B, que estava em cima do pequeno barco, apelidado de HMS Pogue, tirando alguns galhos que haviam caído.
— Precisa se acalmar, Routledge — pontuou novamente.
Qualquer pessoa que já tivesse visto JJ pelo menos uma vez saberia reconhecer quantos cigarros de maconha ele fumava. O loiro exalava o cheiro da planta queimada, Kiara também era vista fumando juntamente a Maybank — e, até algumas semanas atrás, antes da Routledge se comprometer a parar de fumar — com também.
decidiu que iria acabar com seu vício após ter uma crise de ansiedade após acender um cigarro depois de ter um dia ruim. Ela sabia que não era uma boa ideia fumar quando não se estava bem, mas lembrava-se de se sentir tão sozinha que nem se importou com aquela informação. Minutos depois, se encontrava deitada no chão de seu quarto, chorando descontroladamente enquanto tremia, sendo encontrada por Pope e Kiara, e, após uma conversa, decidiu que seria melhor dar um tempo do fumo.
— Eu acho que deveríamos aproveitar que a tempestade levou a maioria dos peixes para o pântano e ir pescar — John B falou, sorrindo, após encarar o barco por alguns segundos.
— O conselho tutelar não iria vir hoje? — JJ perguntou.
— Eles não vão entrar em uma lancha, Jay — passava o braço pelo ombro do loiro, sorrindo, divertida. — Poseidon está nos mandando pescar!
John B concordou com a irmã e, após colocar um biquíni por baixo de sua camiseta que cobria até a barra de seu short jeans velho, o trio empurrou o HMS Pogue de volta para a água, embarcando, começando a navegar enquanto observavam o estrago que a tempestade havia feito no Cut. John B pilotava, JJ estava ao lado do amigo, enquanto estava no convés mais à frente dos garotos. O lugar estava uma bagunça completa, fios elétricos caídos no chão, barcos naufragados, algumas casas quebradas e uma enorme sujeira espalhada por toda a parte.
— Cara, olha esse lugar — disse John B, olhando todo o estrago que o furacão havia feito na ilha.
— Agatha, o que você fez!? — JJ exclamou.
— Vamos limpar isso o verão inteiro — reclamou.
— Esse é o meu pesadelo — John B respondeu, dirigindo o barco sobre as águas, até conseguirem avistar o cais dos Heyward.
acenou animadamente assim que viu Pope, que limpava o deck da loja que pertencia aos seus pais. Ao perceber os amigos se aproximando, Heyward começou a balançar a cabeça de forma negativa inúmeras vezes, tentando afastar o trio, o que não deu certo, pois os sinais foram ignorados por John B, que diminuiu a velocidade ao passar ao lado do amigo, com um sorriso animado estampado em seu rosto.
— Olha o que temos aqui! — John B falou, colocando a mão no ombro imitando um walkie-talkie. — Temos uma reunião de segurança, presença obrigatória, câmbio. — Terminou com um barulho como se estivesse desligando o aparelho imaginário.
— Não dá, meu pai não me deixa sair — Pope explicou, JJ o zombou.
— Qual é, cara, seu pai é um covarde, câmbio — JJ falou, recebendo um tapa no braço de .
— Eu ouvi isso, seu pequeno bastardo. — O Sr.Heyward se aproximava do barco.
— Oi, Sr.Heyward — a garota acenou, sorrindo, como uma criança inocente.
— Olá, , já avisei para você e Pope que esses garotos não são boas companhias — o homem sorriu, docemente, aconselhando a garota, enquanto JJ fingia ficar ofendido com o comentário.
— Não é como se eu tivesse muita escolha — disse, dando de ombros.
— A gente precisa do seu filho! — John B falou, olhando para o homem.
— Regras da ilha, o dia do depois do furacão é livre — JJ sorriu, fazendo o mais velho franzir as sobrancelhas.
— Quem diabos inventou isso? — o homem falou, bravo. — Acha que eu sou burro?
— O Pentágono, nós fomos autorizados pela segurança — dizia JJ, brincando com a situação. — Eu tenho um cartão.
JJ iniciou uma pequena discussão com o Sr. Heyward, algo que acontecia com uma certa frequência engraçada. cutucou o garoto, que tentava negociar com o pai para poder sair com os amigos. Pope franziu as sobrancelhas para ela, que apenas sinalizou com a cabeça para ele entrar rapidamente, mas o garoto olhou nervosamente para o mais velho, ainda pensando nas suas atitudes.
— Pula, vem logo! — sussurrou, fazendo o amigo pular no barco enquanto o Sr. Heyward reclamava. — Vamos devolvê-lo inteiro, eu prometo!
— Não gosto dos seus amigos! — o pai de Pope gritou uma última vez em direção ao barco que se afastava, fazendo todos rirem.
John B acelerou, voltando a navegar pelas águas do pântano. Pope se sentou ao lado da garota, começando a explicar a história de um livro que havia lido na noite anterior antes da energia acabar. JJ ainda comentava sobre o estrago que havia acontecido na ilha. O grupo gritou em animação ao ver Kiara com um grande cooler em suas mãos. O barco diminuiu a velocidade novamente para a amiga entrar no HMS Pogue com a ajuda de JJ. Era perceptível como a parte mais privilegiada da ilha foi menos afetada com a tempestade, o máximo de evidências de um furacão que conseguiu perceber no terreno da casa de Kiara era alguns galhos e folhas espalhadas pelo jardim, que já eram tiradas com facilidade pelo Sr. Carrera, além das janelas bem protegidas da casa. tentou ignorar esse assunto, não querendo focar na grande desigualdade social, quando o principal motivo de estar com seus amigos era tentar esvaziar a cabeça após uma tempestade tão forte.
— Olá, querida! — falou, ao cumprimentar a amiga. — O que trouxe para a gente hoje?
— Suco de caixinha? — perguntou Pope.
— Só cerveja — Kiara respondeu. e Pope fingiram desânimo ao ouvir a sua resposta.
JJ foi o primeiro a agarrar a caixa térmica, distribuindo as cervejas entre os amigos, iniciando oficialmente o passeio de barco. JJ, e Kie estavam sentados na parte elevada do convés do HMS Pogue, Pope cuidava do volante e John B estava esparramado na parte traseira do barco. O grupo ria alto enquanto ouviam JJ contar uma história sem muito sentido sobre como quase perdeu sua vara de pesca para um pelicano na última vez que foi pescar. não se preocupava muito se aquela história era verdadeira ou não, preferindo rir do loiro, no lugar de questioná-lo.
— E eu juro, o bicho era enorme, quase me levou junto! — ele dizia, abrindo os braços ao máximo, quase de uma forma teatral. John B balançava a cabeça, tentando não rir, enquanto Kiara e já estavam gargalhando há um bom tempo.
Pope tentava fazer Maybank voltar para a realidade, explicando para o amigo que provavelmente a ave só parecia ser tão grande por estar perto dele, mas JJ não parecia prestar atenção em nada que Heyward falava.
adorava esses momentos. Sentindo a brisa suave do mar e ouvindo o som das risadas de seus amigos, ela se sentia em casa. Era nesses momentos, entre risadas e histórias absurdas, que ela encontrava um alívio para as preocupações que carregava. John B tentando argumentar, JJ fazendo suas imitações exageradas, Kiara revirando os olhos e Pope parecendo genuinamente preocupado com a veracidade das histórias — tudo isso criava um ambiente onde podia relaxar e ser ela mesma.
— Agora, prestem atenção, olhem esse truque — JJ disse, pegando sua cerveja, ficando em pé bem na ponta do barco. — Ei, Pope, pode acelerar um pouco?
— De novo não! — reclamou Kiara.
— Cara, já tentamos isso umas seiscentas vezes, não funciona — John B falou, olhando o amigo.
— Vai desperdiçar a cerveja! — pontuou .
Maybank não se importou com os protestos dos amigos e jogou a regata cinza em , que mostrou o dedo do meio, fazendo o loiro rir. Pope começou a acelerar o barco e sentiu o vento bater mais forte em seu rosto e o cabelo voar. Ela fixou a palma da mão na borda do convés. JJ colocou uma garrafa de cerveja em frente ao seu rosto, esperando que a bebida caísse na sua boca, mas o líquido apenas voou para todos os lados, se esparramando em gotinhas.
— Cara, tem cerveja no meu cabelo — Kiara falou, com nojo, enquanto colocava a mão sobre o rosto para tentar se esconder.
Um baque repentino fez o barco parar, JJ foi arremessado em direção à água com força, afundando. escorregou, caindo no chão e quase batendo a cabeça, mas sem se machucar, fechou os olhos com força, sentindo a dor se misturar com uma leve tontura, e se colocou de pé novamente com a ajuda de John B, que estendeu a mão para se levantar. Abriu os olhos, respirando fundo, seguindo até a borda do barco, vendo JJ flutuando sobre a água com uma cara péssima de dor enquanto uma de suas mãos estava mais levantada, segurando a garrafa de cerveja para fora da água.
— Pope! — exclamou John B, ajudando a irmã a se levantar.
— Qual foi, cara? — Kiara disse, ao se levantar.
— Jay, você está bem? — foi a primeira a perguntar.
— Acho que meus calcanhares bateram na minha nuca — ele falou, grunhindo, devido à dor. — Pope, o que você fez?
— Tem um banco de areia, o canal mudou pelo Agatha — Pope disse, olhando JJ nadar para perto do barco.
— Ei, , você viu? — JJ olhou a garota, que franzia as sobrancelhas, confusa. — Salvei a cerveja! — ele brincou em tom irônico, como uma criança animada, vendo o garoto virar a garrafa de vidro de cabeça para baixo, vendo somente água sair da garrafa, fazendo gargalhar.
— Ei, Pope — o loiro perguntou ao subir no barco novamente. — O que você está fazendo?
— Tem um barco ali? — Pope perguntou, olhando para o mar, fazendo se aproximar do amigo, forçando os olhos para olhar a figura também.
— Cala a boca — disse John B, zombando.
— Não, ele tá certo, tem realmente um barco ali — falou. Todos se aproximaram da borda do HMS, olhando a figura no fundo da água. Parecia ser apenas a silhueta de um barco, pois era difícil ver algo fora da água.
Os Pogues se encararam por alguns mínimos segundos, concordando silenciosamente em mergulhar. e Kiara começaram a tirar suas blusas e shorts jeans, ansiosas, e os garotos foram os primeiros a pular, sendo seguido pelas duas logo depois. Nunca haviam achado um barco naufragado, era extremamente incomum naufrágios acontecerem sem a guarda costeira ser a primeira a saber, principalmente durante um furacão, pois achava ilógico alguém querer navegar durante uma tempestade. Os cinco mergulharam juntos, nadando até o barco submerso da forma mais rápida possível, tentando analisar o local antes de voltar para a superfície rapidamente. Apoiando seus pés na base do barco, dando impulso para subir de volta para o HMS Pogue, sentiu seus pulmões encherem de ar novamente enquanto seus olhos ardiam por causa do contato com a água.
— Vocês viram aquilo? — Pope perguntou, abismado.
— A gente encontrou a porra de um barco — comentou, ainda em choque.
— Era um Grady White — JJ falou, olhando para os amigos.
nunca entendeu muitas coisas sobre barcos, conhecia somente o básico, pois John B, JJ e Big John adoravam falar sobre modelos, motores, acabamentos e todo esse tipo de coisa que ela não se dava o trabalho de entender, mas, após ouvir tantas conversas, era de seu conhecimento que um Grady White não era qualquer tipo de barco. Sabia que era uma marca de barcos de luxo, que custava muito dinheiro para poder comprar e manter por um longo tempo.
— Um Grady White custa 500 mil dólares fácil, mano — JJ comentou, surpreso, subindo no HMS Pogue juntamente com os amigos.
— Quem é o idiota que naufraga um barco de 500 mil dólares? — perguntou, subindo no barco e se sentando ao lado de Kiara.
— É o mesmo barco que eu e o Pope vimos quando surfamos na tempestade! — falou John B, chamando atenção de sua irmã.
— Você só pode estar de brincadeira, John Booker Routledge! — reclamou, colocando a mão na cintura. — Pope, eu achei que você pensava, cara!
estava furiosa, nem queria imaginar o que poderia ter acontecido com o irmão se tivesse vindo uma onda muito forte ao ponto de afogá-lo. Odiava quando John B agia de forma tão egoísta e sem pensar em como as consequências de suas ações afetariam a vida deles. Apenas em pensar que poderia ter perdido mais alguém da sua família durante uma tempestade, seu corpo estremecia. Heyward tinha uma feição culpada em seu rosto, como se tentasse se desculpar em silêncio com a amiga, que cruzou os braços em frente ao peito, encarando a dupla em sua frente, esperando a resposta de algum dos dois garotos.
— Vocês surfaram em uma tempestade? — Kiara falou, brava.
— Esses são meus garotos, estilo Pogue! — JJ falou, animado, fazendo um toque com John B. As garotas reviraram os olhos, bateu com o cotovelo nas costelas de Maybank, que exclamou de dor, olhando para a garota de olhos verdes ao seu lado que ainda tinha uma feição irritada em seu rosto.
— Espera, nós sabemos de quem é o barco? — perguntou Pope, desviando o assunto da conversa.
— Não, mas vamos descobrir! — John B falou, tirando a âncora do compartimento do barco.
— É muito fundo, cara, eu não vou te ressuscitar, eu não sei fazer boca-a-boca — JJ disse, observando o amigo desenrolar a corda da âncora.
suspirou. Procurando algum tipo de coragem dentro de si, tirou a camisa — a qual tinha acabado de vestir de volta —, ficando na ponta do barco, vendo os seus amigos a observarem, confusos.
— Sou eu que vou pular. — A garota esticou a mão, esperando John B entregar a âncora para ela.
Sabia que sua ação era mesquinha, estava fazendo aquilo apenas para provocar seu irmão e, pela feição de John B, havia funcionado. O garoto fechou sua expressão no mesmo instante, fazendo questão de segurar a âncora com mais força, levantando as sobrancelhas, como se dissesse: “você não tem essa coragem”.
— Eu definitivamente sei fazer boca-a-boca, fiz um curso de salva-vidas na quinta série! — Maybank falou, sorrindo, mostrando o polegar em sinal positivo, olhando para Routledge. Desta vez, foi a vez de John B socar o braço do loiro, encarando sério o amigo, que ignorou o ato. A única reação de foi olhar para a água o mais rápido possível, fingindo pensar na profundidade que o barco estava, quando, na verdade, era apenas uma forma de tentar esconder o rubor que se formou em suas bochechas e não quebrar toda a pose séria e brava que estava fazendo.
— Você não vai descer lá embaixo — John B falou, a encarando.
— Vou sim. Se não me der essa âncora, eu pulo sem ela — falou, decidida.
Os dois Routledge se encararam por alguns segundos, iniciando uma discussão silenciosa. Por fora pareciam batalhar para ver quem iria ceder primeiro à pequena competição de encarar um ao outro. O resto dos Pogues estava sem jeito, se encarando, esperando a pequena briga dos irmãos acabar para decidirem o que iriam fazer.
— Só pulem logo! — Pope falou, nervoso. — Odeio quando vocês fazem isso, é agoniante e me dá ansiedade.
John B e tinham a pequena mania de discutir em silêncio desde crianças, não gritavam e nem xingavam um ao outro quando estavam bravos, apenas entravam em um pequeno jogo de olhares para ver quem iria desistir primeiro. Não durava muito, pois um dos dois sempre cedia ou entravam em um acordo, mas compreendia quando os seus amigos ficavam nervosos vendo os dois fazerem aquilo sem saber o que estava acontecendo ou o que passava na cabeça deles. O Routledge mais velho pareceu recuar por alguns segundos, antes de ceder, apenas aceitando que a irmã fosse junto com ele. Os dois se colocaram na ponta do barco, segurando a âncora, juntos.
— A missão é de vocês, marujos — Pope falou, fazendo continência para os amigos, que repetiram o sinal.
— Tomem cuidado — disse Kiara, preocupada.
— Prontos? — JJ perguntou, vendo os dois assentiram. — Então, vão! — ele falou, empurrando os dois para a água.
puxou todo o ar possível para os seus pulmões, sentindo as suas costas colidirem com a água, ainda segurando na âncora que os ajudava a afundarem mais rápido. Ela e John B se encararam, parecendo verificar se ambos estavam bem. Quando estavam perto do barco, soltaram a âncora e nadaram rapidamente em direção ao Grady White naufragado, procurando por algo que poderia ajudá-los a descobrir de quem era o barco. A garota decidiu nadar em volta da lancha enquanto seu irmão procurava dentro, vendo se algo tinha caído em volta do barco, mas, para seu azar, não achou nada. Os pulmões de já tinham começado a implorar por um pouco de oxigênio, John B pareceu segurar algo, mas, assim que encarou a irmã, agarrou o braço dela com força. Ambos deram impulso com os pés, John B puxava o pulso de , nadando o mais rápido possível para conseguirem voltar para a superfície.
— Vocês demoraram demais! — A voz de preocupação de Kiara foi a primeira coisa que eles ouviram ao chegar à superfície.
sentiu um alivio enorme ao conseguir voltar a respirar, começando a nadar em direção ao HMS Pogue novamente. Subiu no barco logo atrás de seu irmão, sua respiração ainda estava desregulada e seus olhos irritados por causa do contato com a água. Sentiu Pope colocar a mão em seus ombros, em preocupação, ao perceber a situação da amiga.
— Acharam algum cadáver? — questionou Pope.
— Não, mas eu podia ter trazido o da — John B falou, estressado.
— Você é tão dramático! — exclamou. — Eu estou bem.
— Bem? Você quase desmaiou lá embaixo! — John B ironizou.
— Chega! Os dois! — Kiara chamou atenção dos amigos. — , você está bem? — perguntou, olhando para a amiga, que assentiu com a cabeça, murmurando um "uhum". — Ótimo, então o que vocês acharam lá embaixo?
John B mostrou a chave para os Pogues, que encararam o objeto, curiosos.
— Uma chave… — Pope falou, desanimado.
— A chave de um hotel? — Kiara falou, confusa, olhando a chave.
Uma pequena discussão se iniciou entre o grupo, sem saber o que fariam com a chave do hotel e com o barco naufragado. se sentou nos bancos do barco com a chave na mão, pensando no que deveriam fazer com aquilo, na verdade, a mente da Routledge estava borbulhando em curiosidade, queria saber que tipo de pessoa navegaria com uma lancha de um valor tão alto em meio a uma tempestade, gostaria de saber o motivo de precisar navegar durante um furacão, quem era essa pessoa, se ela a conhecia e se ela estava bem e viva. Seu olhar desviou para seu irmão mais velho, que estava de braços cruzados, com o corpo rígido. Ela sabia que John B provavelmente se perguntava as mesmas coisas e, mesmo que ambos ainda estivessem nervosos e estressados pela teimosia um do outro, o conhecia bem o suficiente para saber o que o garoto estava se questionando no momento, pois os dois sempre foram extremamente curiosos.
— Deveríamos entregar para a guarda costeira — Kiara comentou, parecendo não ter mais ideias.
— Talvez eles nos recompensem por isso — completou, fazendo os amigos concordarem.
Todos concordaram com a ideia das duas garotas. Pope voltou a pilotar o HMS Pogue pelas águas do pântano, curvando em direção à cidade, onde eles encontrariam o cais da guarda costeira, na esperança de ganharem algum tipo de recompensa por acharem um barco naufragado, mesmo que não estivesse empolgada com o possível dinheiro que eles poderiam ganhar, mas sim, se encontrariam o dono do barco. Ainda que o grupo estivesse ansioso por uma resposta, Heyward não se deu o trabalho de acelerar o barco para chegarem rápido, pois sabia que, independentemente de qualquer coisa, a cabine policial que foi posta de forma improvisada após o furacão Agatha estaria lotada de qualquer forma.
Kiara, John B e JJ ainda estavam no convés, conversando. Os dois garotos falavam o quanto eles achavam que poderiam ganhar por terem achado o barco, enquanto Carrera ouvia a conversa com um sorriso divertido no rosto. Após mais um pouco de conversa, JJ se afastou de Kiara e John B, caminhando em direção à parte traseira do barco onde estavam seus outros dois amigos.
— Você está bem? JB não parou de falar como você poderia ter desmaiado lá embaixo — Maybank falou enquanto se sentava ao lado de .
— Ficamos mais tempo que o normal em baixo da água e eu fiquei com falta de ar, John B é dramático — ela respondeu, dando de ombros.
— Sabe, , se quisesse mesmo o boca-a-boca, era só pedir, não precisava quase ter se afogado — brincou JJ.
Antes que ela pudesse responder alguma coisa para o loiro, ficou em choque com a quantidade de barcos e pessoas que preencheram todos os espaços da doca onde estava o posto da guarda costeira. Demoraria um longo tempo para conseguirem atracar o barco e serem atendidos por causa da quantidade de pessoas. JJ se levantou, se colocando ao lado de Pope, começando a programar o que poderiam fazer para não passarem horas na fila.
— Ei, estamos bem, certo? — A voz de John B chamou a atenção da garota, a fazendo sorrir.
— Sempre estamos, Bird — falou. Seu irmão sorriu, parecendo apenas precisar da confirmação antes de começar a falar com os amigos.
John B e não precisavam de pedidos de desculpas elaborados, nunca precisaram, se conheciam muito bem para saberem que passar por todo aquele processo constrangedor de se desculpar por ações bobas. Apenas precisavam acalmar as cabeças teimosas deles e logo sabiam que tudo ficaria bem. Depois que perderam toda a família que tinham ao seu redor, não teriam escolha a não ser perdoar um ao outro.
Demorou alguns longos minutos até Pope finalmente conseguir algum lugar para atracar o barco. John B e JJ não perderam tempo em ir falar com a guarda costeira, enquanto o trio observava com muita precisão o local. Havia uma grande movimentação de pessoas, algumas se voluntariando para ajudar, outras pedindo ajuda, até mesmo policiais andando para todos os lados, o que deixou assustada, já que dificilmente os policiais ajudavam o pessoal da periferia, então ela sabia que o estrago havia sido maior do que imaginava, ao ponto de até a equipe policial ajudar. O furacão Agatha tinha destruído muitas casas do Cut e ela sabia daquilo, o que a fez agradecer pelo Castelo ter aguentado firme durante toda a tempestade, apenas deixando algumas goteiras pela casa.
— Cara, tem policiais para todo lado — falou, assustada.
— Agatha acabou com tudo por aqui, devem estar tentando ajudar — Pope comentou, e Kiara assentiram em silêncio.
Em pouco tempo, eles avistaram JJ e John B voltando, com a chave ainda em mãos, o que fez se desanimar.
— Ignoraram a gente — JJ disse, batucando uma caneta nos dedos.
— E o que a gente faz agora? — Kiara perguntou.
Os dois irmãos se encararam, sorrindo. John B jogou a chave para a irmã, que a pegou no ar. tinha plena consciência de o que o jovem desejava fazer. Ela conhecia o sorriso curioso e divertido de John B e a expressão de JJ. O loiro também havia compreendido e gostado da ideia, enquanto caminhava animadamente de volta ao HMS Pogue.
precisou implorar para Kiara aceitar a ideia de irem até o hotel indicado no chaveiro. Segundo Kiara, não era certo eles se envolverem em algo desconhecido. No entanto, após ser a única a discordar da ideia e ouvir argumentar ao seu lado sobre como era importante garantir que o dono do barco estava bem, Kiara finalmente cedeu.
O hotel se localizava em uma área estranha e afastada da ilha, estava completamente sujo, velho e extremamente malcuidado. Aquilo não parecia ter sido causado apenas pelo furacão Aghata, aquele lugar aparentava ter aquela aparência há muito tempo. Mais uma dúvida surgiu na cabeça de : era impossível imaginar que alguém que tinha um Grady White se hospedaria ali. A garota tinha quase a certeza que, com o valor do barco, dava para quase comprar aquele local, que não deveria cobrar mais que 100 dólares a hospedagem.
— Hotel ou laboratório de metanfetamina? — Kiara falou, fazendo uma cara de nojo ao se aproximarem do local que parecia cair em pedaços.
— Tomara que a gente veja o Walter White aqui — JJ falou, fazendo referência à série que eles viram a primeira temporada algum tempo atrás, depois de Pope implorar por meses para eles assistirem.
— Eu ficaria bem feliz se eu esbarrasse com o Jesse Pinkman — falou, fazendo os amigos rirem.
— Não me parece o tipo de local onde alguém com um Grady White estaria — John B disse, fazendo concordar com ele.
— Me parece um local onde alguém com um Grady White seria morto — Pope pontuou.
Pope atracou o barco no lugar que eles suspeitavam ser o cais, já que o deque de madeira estava completamente quebrado. John B, JJ e pularam para fora do barco, com a chave em mãos em busca do quarto.
— , cuida deles! — Pope falou, apontando para ela.
— Eu posso tentar! — ela disse, olhando o amigo.
— Ei, John B, é sério, toma cuidado, ok? — Kiara disse, olhando para ele seriamente.
JJ e se encararam, confusos com a cena, parecendo esperar que Carrera falasse algo para eles, mas ela apenas sorriu para John B e voltou a se sentar no barco enquanto o trio começou a se afastar, seguindo em direção ao hotel, entrando no lugar que parecia estar vazio. As paredes do primeiro andar estavam cheias de infiltrações, algumas janelas quebradas e sujas.
— Eu sou a melhor amiga dela! — falou, assim que subiram as escadas. — Ela mal olhou para mim. — JJ riu, percebendo o drama falso da garota.
— Ai, John B, toma cuidado — JJ falou, tentando imitar a voz de Kiara, enquanto apertava os ombros de John B. — Me dá logo o seu John P. — gargalhou alto com a imitação, começando a andar de costas pelo corredor, olhando para os dois garotos.
— Me larga, cara! — John B disse, se soltando dos braços de JJ.
— Que palhaçada foi aquela? — JJ perguntou.
— Sei lá, JJ, ela só queria que a gente tomasse cuidado — John B deu de ombros.
riu, ironicamente, ao ouvir a resposta do irmão.
— Cara, você precisa fazer algo sobre isso — JJ falou, passando a mão na bochecha de John B.
assentiu com cabeça, concordando com JJ. Sabia que John B nutria sentimentos por Kiara há algum tempo, ela conseguia reparar como o garoto sempre queria ficar o mais próximo possível de Kie, às vezes parecia que até o modo de falar do garoto parecia mudar e, depois do que tinha acabado de acontecer, começou a suspeitar que talvez Kiara também gostasse dele, mas ela decidiu observar em silêncio por mais algum tempo ao invés de tomar alguma decisão precipitada antes da hora.
— Você conhece a regra, Pogue não pega Pogue — John B falou.
— Ela é gata, rica e anda com a gente! — JJ disse, ainda com os braços passados pelos ombros de John B. — Se fosse comigo, cara, eu não perderia tempo.
se virou de costas para os garotos no mesmo instante, voltando a andar normalmente pelo corredor, beliscando o dorso da mão ao perceber que nunca havia ouvido JJ falar assim de Kiara e como ele provavelmente não via da mesma forma. Claro que tinha todos os flertes bobos, mas a garota sabia que Maybank daria em cima até de uma pedra se estivesse sozinho. Se achava burra por toda vez se sentir tímida quando JJ flertava com ela, mesmo ele não levando a sério. Routledge platonizava demais as ações do loiro e ficava corada igual uma menina de 14 anos. Pensando naquilo, parecia uma ridícula ao perceber que ele sempre achou Kiara mais bonita que ela e não teve problemas em dizer aquilo em voz alta.
— Ei, é essa aqui! — estalou os dedos, apontando para o número da porta, chamando a atenção dos garotos, agradecendo por chegarem e finalmente poderem dar fim ao assunto.
— Será que ele tá aí? — JJ pensou alto. — Camareira! — falou, tentando fazer uma voz feminina.
— JJ? — falou, confusa, apontando para ela mesma como se fosse um "eu podia fazer isso".
Ficaram na frente da porta por alguns segundos, esperando alguma resposta. John B tentou olhar para a janela do quarto que dava ao corredor, mas, ao perceber que o quarto estava vazio, destrancou a porta, fazendo os três entrarem no quarto. foi a última a entrar, ela olhou para Kiara e Pope, que conversavam no barco, dando mais uma olhada para garantir que ninguém estava vendo os três entrarem no quarto, fechando a porta, com cuidado.
O quarto não era muito grande, tinha duas camas e um banheiro pequeno, carpete sujo pelo chão e papéis e bolsas espalhados, o que fez ficar cada vez mais curiosa, começando a investigar o local.
— Talvez tenha algo na bolsa, deem uma olhada — John B sinalizou.
— Achei um casaco — JJ falou, chamando atenção de . — Não tem nome, mas é maneiro.
— Ele deve ter uns 50 anos, usa sapato de velho — John B falou, fazendo uma careta.
caminhou pelo quarto escuro, tentando achar algo que fosse relevante para eles, mas a única coisa que achou foi alguns itens do hotel. As bolsas tinham apenas roupas e alguns objetos aleatórios de uso pessoal, que a garota não quis perder muito tempo analisando.
— Ei, olhem aqui, deve ser aqui que eles estavam pescando. — Maybank olhava para o mapa, mostrando para os irmãos Routledge.
— Não dá, JJ, isso fica fora da plataforma continental, tem muita onda, um barco de pesca não fica 5 minutos aí sem virar — explicou a garota e o loiro bufou, em frustração.
Os três voltaram a buscar algo, John B mexia em algumas gavetas, olhava alguns papéis e JJ estava ocupado demais roubando os produtos do banheiro. John B assobiou em animação ao ver o cofre, olhando para e JJ.
— Tenta qualquer coisa, logo deve abrir! — JJ falou, levando a mão até o cofre, mas a garota tirou a mão dele antes que pudesse se aproximar da parte manual da senha.
— Não mexe, pode travar o cofre — falou.
A garota caminhou até uma escrivaninha, onde ela tinha achado alguns papéis. Após ficar procurando por algum tempo, ela sorriu, animada, ao encontrar um pequeno pedaço de papel amassado que continha uma combinação de quatro números, levando em direção ao irmão, que ainda tentava abrir o cofre.
— Ei, Johnny! — a garota falou, se aproximando do irmão. — Tenta colocar 5 8 2 8.
John B assentiu, mexendo a parte giratória do cofre. Com rapidez, o garoto colocou o código, abrindo o compartimento de metal, que fez um pequeno barulho ao abrir. Os irmãos fizeram um pequeno hi-five em comemoração. Olhando dentro do cofre, os olhos de arregalaram. Havia uma quantidade enorme de dinheiro, uma arma e um monte de documentação velha. A garota colocou a mão sobre a boca, murmurando “puta merda”, em choque, sem saber o que fazer com as coisas que estavam ali dentro. JJ pegou a arma em um movimento tão rápido que demorou alguns segundos para perceber, segurando como se fosse uma arminha de brinquedo, apontando para os lados e fazendo pose de forma engraçada como se estivesse em um filme de ação.
— Mano, olha isso! — JJ falou, animado.
— JJ, solta essa merda! — falou e o xingou.
— É uma semiautomática, cara! — ele disse, ignorando as repreensões. — Ei, tira uma foto minha!
— JJ, solta essa arma, você não sabe de onde veio. Tem certeza de que quer uma foto com isso? — Foi a vez de John B repreender o garoto. — Não vamos levar isso.
se apressou em pegar um maço de dinheiro que tinha no cofre, enchendo os bolsos de seu short jeans, não se importando nem um pouco caso as notas ficassem amassadas, mas não foi muito prático, pois os bolsos de seu short eram pequenos, não tinha como colocar muito dinheiro. A sua única ideia foi enfiar as cédulas no bolso de JJ, que a encarou de forma estranha, mas logo depois sorriu. não era uma completa maníaca gananciosa, apenas entendia a realidade que vivia, ela e seu irmão precisavam de dinheiro, então ela achava uma enorme idiotice simplesmente ignorar dinheiro que estava parado em sua frente, implorando para que ela o pegasse, se sentindo menos culpada quando John B fez sinal de afirmação com a cabeça, apoiando a ideia, quando ela recuou em pegar o dinheiro. Antes que JJ pudesse falar algo sobre a garota enfiar dinheiro em seus bolsos como se ele fosse um stripper, o barulho vindo da janela chamou a atenção dos três, que viram Kiara e Pope pulando e agitando os braços de forma estranha.
— Polícia do condado de Kildare, — A voz apareceu juntamente com as batidas à porta. — Tem alguém aí dentro?
JJ abriu a janela rapidamente, passando para o parapeito do telhado, foi a segunda a passar, sendo agarrada pelo garoto, que a segurou ao lado dele, os prendendo contra a parede, enquanto viam John B fazer o mesmo do outro lado da janela.
A garota fechou os seus olhos com força, tentando regular a respiração que estava visivelmente agitada, ao tentar controlar o medo que estava sentindo, já que em sua cabeça só passava um filme com milhões de coisas que poderiam dar errado. fazia de tudo para se acalmar, não poderia surtar agora, não quando estava em um parapeito de um hotel de qualidade extremamente duvidável, com policiais a menos de um metro dela, enquanto ela tinha um dinheiro que ela não sabia de onde viera nos bolsos.
— Tá tudo bem, . Eles não vão ver a gente, eu prometo — JJ sussurrou em seu ouvido, na tentativa de acalmá-la, o que foi uma tentativa falha, pois a única coisa que fez sentir foi mais tensão. Nos primeiros segundos, ela havia esquecido que estava ao lado de JJ aquele tempo todo, se sentido uma enorme idiota por sentir as malditas borboletas inundarem seu estômago, mesmo estando na situação que estava e após Mayabank elogiar a melhor amiga dela. A Routledge realmente estava tentando não dar importância para JJ praticamente colado com ela, apoiando a cabeça contra a parede, tentando ficar o mais imóvel possível, pensando como tudo iria acabar rápido, se todos ficassem quietos.
Um barulho alto assustou , a fazendo dar um pulo, abrindo os olhos, pensando que seriam pegos. De relance, ela pôde ver a arma caída no chão, ficando raivosa ao perceber que JJ havia trazido a arma junto a ele.
— Me desculpe, me desculpe — JJ sussurrou, rapidamente. — Por favor, , não se mexa — ele falou, fazendo carinho na cintura dela.
nem sabia se estava com as bochechas rosadas de raiva ou timidez da situação, voltando a fechar os olhos, implorando para que tudo acabasse logo ou que ela apenas caísse daquele parapeito, batesse a cabeça e entrasse em coma por pelo menos uma semana. A garota não conseguia se mexer, falar e muito menos pensar, queria começar a berrar com JJ por ele ser tão idiota, ao mesmo tempo que queria xingar a si mesma por agir igual a uma estúpida perto do garoto que ela conhecia desde criança.
Quando finalmente conseguiram ouvir os policiais saindo do quarto, os três não perderam tempo em descer o mais rápido possível, voltando para o HMS Pogue, ainda com os corações acelerados e cheios de adrenalina e medo. Um alívio surgiu entre o grupo, após ninguém ter sido pego. respirou fundo, se apoiando em um dos bancos do barco enquanto olhava para Kiara e Pope de forma confusa.
— Podiam ter avisado antes — reclamou.
— Tentamos, mas o Pope era do grupo de matemática — Kiara ironizou. — Pelo menos acharam algo?
— Se achamos? Olhem isso. — JJ tirou a arma e o dinheiro de dentro de seu bolso, sorrindo, fazendo John B e sorrirem, juntamente a ele.
— Vocês tiraram evidência da cena de um crime? — Pope falou. — Eu não vou perder minha bolsa de estudos por causa de vocês.
Eles continuaram navegando pelo pântano, não querendo se encontrar com policiais tão cedo. queria apenas relaxar após todo o nervosismo que passou, que mesmo durando cinco minutos, parecia que havia ficado horas agonizando naquele parapeito do hotel. Pope e Kiara ainda estavam visivelmente bravos por eles terem pegado as coisas do cofre, eles deixavam isso bem claro, visto que não paravam de brigar e encarar com feições desapontadas para o trio por nem um mísero segundo. os entendia ou tentava, pelo menos. Não tinha sido a ideia mais lógica do mundo tirar uma arma e dinheiro de um quarto de hotel estranhamente suspeito, mas, em sua defesa, precisava muito daquele dinheiro e por nenhum momento imaginou que JJ realmente levaria aquela arma, aliás, John B havia visto os policiais guardando dinheiro para si mesmos e, se os bons policiais que supostamente eram para ser adultos responsáveis que deveriam os proteger e manter todo mundo seguro estavam pegando o dinheiro para benefício próprio, qual seria o motivo de adolescentes inconsequentes e sem boas condições financeiras não poderem fazer o mesmo?
Assim que perceberem a movimentação dos policiais, bombeiros e ambulância na doca, a curiosidade voltou a invadir a mente dos Pogues, que atracaram o HMS Pogue. Os cinco saíram do barco, andando em direção a um pequeno deck, onde encontraram Lilah. a conhecia por morar no Cut e sempre frequentar as festas da praia, além de terem algumas aulas juntas durante o ano. O local também estava cheio de pessoas curiosas, assim como o grupo. A Routledge encarou, confusa, todo o local, assim como seus amigos, imaginando que alguma casa provavelmente tinha desabado ou algo grave havia acontecido. Os olhos de se arregalaram assim que viram uma maca com um corpo, que estava sendo coberto com algo que parecia ser uma lona preta, fazendo-a sentir um calafrio.
— Quem é? — John B perguntou para a garota que estava com eles.
— Scooter Grubs — ela falou —, ele estava no mar durante a tempestade. Olhem a foto que eu tirei.
Assim que viu a imagem nojenta do cadáver, ela fez uma careta de contragosto, desviando o olhar para o corpo do homem. Ela viu o exato momento em que os paramédicos retiraram a lona, fazendo Lana Grubs, a esposa do falecido homem, chorar enquanto suplicava pelo homem.
— Qual era o barco dele? — JJ perguntou.
— Não sei como, mas aquele zé-ninguém tinha um Grady White novinho! — ela explicou, rindo ironicamente, dando ênfase no apelido pejorativo. — Todo mundo está procurando o barco.
respirou fundo, tentando não enlouquecer. Ela olhou para John B por alguns segundos, tentando ver se o garoto tinha alguma ideia do que fazer, e fez isso com todos os seus amigos, mas, ao reparar que nenhum deles estava tão perdido na situação tanto quanto ela, desviou seu olhar para Lana Grubs, que ainda chorava no corpo do marido.
A única reação dos Pogues foi voltar para a casa dos Routledge para tentarem pensar o que fazer naquela situação. No momento em que o corpo de Scooter Grubs foi levado pelo corpo de bombeiros, caminharam para o barco e seguiram em direção ao Castelo o mais rápido possível. O caminho foi agoniante e em silêncio, todos os adolescentes estavam nervosos e não tinham palavras para descrever a situação que se meteram.
— A porra de um cadáver! — exclamou, em choque, assim que pisou em casa.
, inicialmente, tentou não surtar, mas a foto do corpo de Sr. Grubs em decomposição e inchado por estar afundado na água por tanto tempo ainda estava gravada em sua cabeça, com todos os detalhes, deixando sua cabeça em completa ansiedade e nervosismo. Estava em completo surto, caminhava de um lado para o outro pela varanda de sua casa, já havia desistido de se acalmar, era uma tentativa inútil, principalmente quando percebeu que não era a única preocupada com a situação. Kiara roía as unhas, seguindo com um olhar preocupado para a sua amiga inquieta e Pope não parava de tagarelar sobre a situação.
— Não vimos nada, não sabemos de nada — Pope falou. — Precisamos ter uma amnésia coletiva.
JJ estava apoiado em uma parede, às vezes ele batia levemente com a cabeça contra a madeira na tentativa de fazer sua cabeça pensar menos em tantas coisas, já John B parecia estar fora de tudo aquilo, apenas assistindo tudo com uma expressão neutra sem saber exatamente o que falar ou fazer. Os olhos de se grudavam com o de deu irmão, mentalmente ela implorava para que John B falasse algo que a acalmasse, mas o garoto nem sequer olhava para a irmã novamente, perdido em seus próprios pensamentos.
— Pope está certo — JJ falou. — Nós negamos, negamos e negamos.
JJ caminhou até , que ainda não tinha parado de perambular de um lado para o outro. Maybank segurou os ombros dela, fazendo os dois se encararem, guiando a garota para trás em direção à parede em que ele estava apoiado a alguns segundos atrás. tinha uma expressão confusa estampada no rosto, olhou para seus amigos, mas nenhum deles pareceu dar importância para a cena. Assim que sentiu as suas costas tocarem a velha parede do castelo, viu JJ sorrir, aliviado.
— Assim está muito melhor, — Maybank sussurrou, se colocando ao lado dela, voltando a prestar atenção na conversa de seus amigos.
— Não podemos ficar com a grana! — Kiara comentou, fazendo voltar à realidade.
— Nem todo mundo pode bancar dados ilimitados, Kiara — JJ resmungou.
— Temos que entregar o dinheiro, se não dá carma negativo! — Kiara disse, ignorando o comentário de JJ.
precisou conter a vontade de revirar os olhos após ouvir a amiga falar. Amava Kiara, ela era sua melhor e única amiga, e sempre se sentia culpada quando ficava com raiva de Kie quando a garota começava a falar algo hipster que nunca entendia. Sempre se esforçava para entendê-la, mas toda vez Carrera parecia se esquecer que no fim do dia ela voltaria para sua mansão, para o Figure Eight, com geradores para continuar tendo eletricidade, sem goteiras e em sua cama quente, e não teria que se preocupar se seu salário daria para pagar as contas no fim do mês. Entendia que Kiara estava chateada com os amigos por terem pegado o dinheiro de uma possível cena de crime, mas aquela quantia não faria falta para Kiara como faria para o e o resto dos garotos.
— Também é carma negativo se envolver em um crime! — Pope disse, apreensivo. — Temos que ser discretos.
— Se ser discreto quer dizer ficar com a grana, então eu concordo — JJ falou.
— Isso é sério? — Kiara falou, incomodada. — Tenho certeza que concorda comigo, certo, ?
— Desculpe, Kie, mas eu acho que realmente deveríamos ficar com o dinheiro e nos manter fora disso — falou, recebendo um sorriso de JJ e uma revirada de olhos, seguido por um olhar feio de Kiara.
— Eu não concordo — John B finalmente disse algo, após passar tanto tempo calado, deixando e os garotos confusos. — Pensem um pouco! — exclamou. — Scooter Grubs é o cara que compra cigarro fiado. Eu o vi pedindo dinheiro no posto porque estava sem gasolina. Esse cara é um marinheiro que nunca teve mais que quarenta dólares no bolso e do nada ele aparece com um Grady White?
Todos ali sabiam que John B estava certo. Até mesmo se você fosse novo na ilha, em menos de uma semana, já teria visto Scooter Grubs pedindo esmola nos semáforos ou em qualquer outro canto da cidade. lembrava de como ela e John B sempre que podiam ajudavam Lana Grubs, a esposa de Scooter, oferecendo carona para a mulher e deixavam alguns trocados que tinham no bolso para o casal não passar fome durante aquele dia.
— Pope, como um cara desses compra um Grady White? — John B perguntou.
— Prostituição… — Pope falou, receoso.
encarou o amigo de forma confusa, negando com a cabeça, rindo, enquanto passava as mãos sobre o rosto, antes de voltar a olhar para o irmão.
— Maconha! — JJ e falaram juntos, sorrindo um para o outro, vendo John B concordar.
— Sem chamar atenção, sem fiscalização. Não tem como fiscalizar durante os furacões. — John B apontou para o JJ. — E o que isso significa, JJ?
— Contrabando! — JJ falou, animadamente, fazendo John B estalar os dedos, sorrindo.
— E eu garanto para vocês, tem muito contrabando naquele naufrágio — John B falou.
— Se tem contrabando no barco, é porque é de alguém — Pope disse, óbvio.
— Isso é só um detalhe — Kiara falou, sorrindo de forma divertida.
— Roubar um contrabandista seria burrice! — explicou Pope.
— Mas burrices dão certo o tempo todo — falou JJ, mostrando o dinheiro que havia pegado no hotel.
O grupo não conseguia ficar em silêncio nem por poucos segundos. Caminharam até a doca do castelo, todos se sentando no local. brincava de ir para frente e para trás em seu velho skate, se equilibrando para não cair por causa das tábuas soltas do antigo deck de madeira nunca reformado da casa. John B e Pope iniciaram uma pequena conversa sobre o possível contrabando que poderia estar no Grady White naufragado, Kiara explicava como deveriam agir de forma neutra diante toda a situação, sem levantar suspeitas de ninguém. JJ estava ocupado demais bolando um cigarro de maconha para prestar atenção na conversa de seus amigos, acendendo e dando a primeira tragada antes de oferecer para , que também não prestava atenção na conversa, ocupada demais em seu skate. O loiro ofereceu o beck para , que negou rapidamente.
— Você é tão sem graça! — JJ resmungou. — Você já foi mais divertida, .
— Eu sou divertida naturalmente, Jay, por isso não preciso mais de maconha — respondeu, sorrindo.
— Minha maconha também é natural — JJ respondeu, a fazendo rir.
— John B, como a gente vai entrar no barco? — perguntou, parando o seu skate e olhando para o irmão, tentando escapar do assunto.
— Eu não sei, mas, enquanto isso, precisamos ser discretos — John B falou, fazendo todos concordarem.
— Com um Kegger! — disse Kiara, animada.
não tinha problemas com festas, até gostava da maioria delas, mas seu maior problema era com socialização. Não via problema em conversar em pequenos grupos com pessoas que ela já conhecia, ao invés de um local cheio de adolescentes bêbados que a deixavam tímida e desconfortável, ao contrário de seus amigos, que sempre se divertiam durante as cervejadas na praia. Até mesmo Pope, que era mais fechado, sempre se encaixava em algum círculo diferente de pessoas para conversar, enquanto ficava sentada ao lado de Kiara, ouvindo todos conversarem, sentindo medo de falar algo em meio à todas aquelas pessoas. Às vezes, ultimamente, JJ fazia companhia para ela, porém se sentia mal ao pensar que Maybank provavelmente preferia estar se divertindo e conversando com o resto das pessoas ou até mesmo com alguma outra garota, mesmo que o loiro dissesse que preferia mil vezes do que todos aqueles adolescentes bêbados, o que a Routledge nunca conseguia acreditar de verdade.
— Vamos, , se anima! — disse Kiara, olhando para a amiga. — Você me disse que Marcus James estava curtindo todas as suas fotos e ele sempre vai nos Kegger.
— James é um idiota. — Foi a vez de JJ falar, recebendo um olhar repreensivo do resto de seus amigos.
— Ele sempre se oferece para limpar a praia e pagar o barril de cerveja no final — John B argumentou. — Aliás, se ele for um idiota, vai perceber.
— A gente pode parar de falar sobre isso? Eu estou meio constrangida agora — falou, rindo fraco, fazendo seus amigos rirem também.
Os Pogues se levantaram do cais com pressa, ansiosos para ajeitarem as coisas para a festa na praia. Em menos de uma hora, estava carregando o fardo de copos plásticos, em direção à praia. Sua camisa não estava mais cobrindo seu short jeans, agora a blusa estava presa em um nó, na parte das costas, a deixando justa e curta como um cropped. Pequenas trancinhas estavam na parte da frente do seu cabelo, as quais sempre ajudavam a diminuir a sua ansiedade. Kiara tinha o mesmo penteado, que também tinha sido feito pela Routledge. JJ e John carregavam o barril de cerveja em meio à praia, e Pope instalou a mangueira. Em alguns poucos minutos, o local estava cheio de adolescentes de todos os tipos, pedindo um copo de cerveja para o grupo que tomava conta do barril.
Os Keggers eram as festas mais populares de Outer Banks. A festa na praia consistia com barris de cerveja, música e uma fogueira, era o lugar onde Pogues, Kooks e Taurons se misturavam e faziam de tudo para se divertir, e, normalmente, era o momento em os grupos se misturavam e viviam em paz por algumas horas, sem muita encrenca além de uma discussão ou outra que sempre acabava rapidamente. Não dava para entender a pequena ilha e muito menos participar dos Keggers sem compreender o balneário, o lugar onde acontecia as festas com barris de cerveja.
gostava de pensar nas festas da praia como um pequeno oceano, havia os Pogues e seus amigos, moradores do Cut e proletariados, como pequenos peixes que moravam nos corais, iniciavam as festas, mas sempre precisavam ter cuidado com os Kooks, os maiores inimigos dos Pogues, herdeiros ricos e esnobes para caralho, como tubarões, orcas ou qualquer outro peixe predador. Por fim, os Taurons, os peixinhos migratórios, que você não se dá muito o trabalho de conhecer, pois já está acostumado com o ecossistema local, a maioria era uns idiotas que passavam uma semana de férias com a família em suas casas de verão, os famosos nem fede e nem cheira.
Como esperado por Kiara, Marcus James havia realmente aparecido na festa e, após um pequeno empurrão da Carrera, estava conversando com o garoto em um tronco de árvore, mais afastado do resto de seus amigos. James era gentil e caridoso, contava piadas que fazia a Routledge rir, a deixando menos envergonhada do que ela realmente esperava.
— Está trabalhando para os Thorntons agora? — perguntou, com uma feição triste, vendo o garoto concordar, rindo. — Cara, sinto muito, eles são piores que os Cameron.
Marcus riu da feição da garota, dando um último gole em sua cerveja, antes de voltarem a conversar sobre algum assunto aleatório. O garoto era um típico morador do Cut, então eles tinham o que conversar. Moravam no mesmo lugar, conheciam as mesmas pessoas e estudavam na mesma escola desde sempre. Por esse motivo, não ficava aquele silêncio constrangedor de quando conhecia alguém novo, o qual odiava.
O coração de parou por alguns segundos assim que viu JJ Maybank se aproximando, sua regata cinza larga voando, devido ao vento, segurando dois típicos copos de plástico vermelhos com cerveja. O loiro sorriu para os dois antes de se sentar ao lado de . Um clima tenso se instaurou pelos três adolescentes. Marcus e se encararam por alguns segundos antes de voltarem o olhar para Maybank, esperando o loiro falar algo.
— E aí, James? — JJ falou, passando os braços pelos ombros dela. não se incomodou, era acostumada com o pequeno ato protetor de JJ, principalmente durante as festas, como se Maybank sempre quisesse garantir que ela estivesse bem, mas não esperava que JJ iria fazer aquilo enquanto ela estava conversando com alguém.
— Tô bem, mano — Marcus disse, com um sorriso tímido. — Minha cerveja acabou, quer que eu pegue uma para você também? — James ofereceu, desconfortavelmente, levantando do tronco, olhando para .
— e eu já estamos de boa aqui, não é, ? — disse JJ, entregando um dos copos para , que se viu em dúvida entre o conforto e a agitação que Maybank causava dentro dela diante de toda aquela situação. — Eu trouxe uma cerveja para ela.
O garoto de olhos escuros e pele bronzeada se afastou, incomodado, caminhando em direção ao barril de cerveja, que ainda era comandado por John B. pôde perceber o olhar confuso até mesmo para ela e Maybank, ao ver que James havia se afastado. No mesmo instante, saiu dos braços de JJ, fazendo o loiro ficar confuso com o ato inesperado e que raramente acontecia.
— Quer parar de ser um completo babaca? — perguntou, fazendo as sobrancelhas de JJ franzirem. — Você não é meu namorado para atrapalhar a conversa que eu estou tendo com um cara! Eu nunca te incomodo quando você tá com alguma garota no quarto do lado no Castelo!
estava furiosa, como JJ ousava praticamente insinuar para aquele garoto que eles tinham algo? Sua mente estava confusa, brava e estressada, sentiu seu peito afundar ao ver a expressão de JJ, confuso e até meio triste com a explosão repentina da Routledge. Maybank não disse mais nada, apenas levantou as mãos em rendição, murmurando:
— Desculpa, , só vai com calma na bebida. — JJ se afastou, bufando, enquanto passava a mão sobre seu cabelo loiro, mostrando sua inquietude, deixando totalmente confusa, pois ela já estava pronta para começar uma discussão. A garota voltou a olhar para Marcus James, que se aproximava, voltando a sorrir ao perceber que JJ não estava mais ali. continuou a conversar com o garoto sobre qualquer assunto possível, mesmo que sempre desviasse sua atenção para JJ uma vez ou outra, ainda confusa sobre o que tinha acontecido minutos atrás. Maybank conversava com John B perto da fogueira e, assim que os olhos azuis dele encontraram os olhos verdes de , a garota desviou o olhar, sentindo Marcus colocando a mão em sua perna, cada vez se aproximando mais da garota. não teve muita reação além de sorrir, tímida, enquanto fingia não estar com a cabeça em outro lugar. Ao mesmo tempo que fingia continuar a conversa de Marcus, não queria ser indiferente com o garoto, mas era quase impossível, principalmente quando sua cabeça estava cada vez mais cheia de coisa.
Briga! Briga! Briga!
viu o exato momento que a multidão se formou e rodeou o local com rapidez, percebendo que nenhum de seus amigos estava em seu campo de visão. Sem precisar pensar, ela se levantou em um supetão, caminhando com pressa, se enfiando em meio aos adolescentes, torcendo que não fosse JJ e nem John B metido em alguma briga naquele momento, mas, assim que viu a cena de seu irmão e Topper Thornton brigando na beira da água, ficou tão aflita que nem havia percebido que o garoto a havia seguido, encarando a cena. Viu Kiara com uma feição tão preocupada quanto a dela e Sarah Cameron, a garota que era denominada na ilha como “princesa Kook” e namorada de Topper, gritava, pedindo para que o namorado parasse.
— Seus Pogues de merda — Topper falou.
Isso foi o suficiente para fazer John B se estressar. Ele empurrou Topper fortemente, a cena era doentia, para dizer o mínimo: socos, empurrões e chutes para os lados. Cameron e Carrera eram as únicas que gritavam na tentativa de parar a briga, ao contrário dos outros adolescentes, que torciam e incentivavam toda a confusão. estava paralisada, seus olhos fixos em John B, sem conseguir soltar um som de sua boca.
Topper acertou um soco no rosto de John B, o fazendo cair na água, e sentiu ar faltar em seus pulmões, ansiedade e medo começando a surgir, fazendo todo o seu corpo tremer inconscientemente. Ao perceber que seu irmão ainda não tinha levantado, quando tentou se mover e tirar alguma coragem para salvá-lo, foi segurada. Se tivesse forças para isso, gritaria com Marcus James, implorando para ele soltá-la, mas, ao olhar para os braços que rodeavam sua cintura, sem ela nem conseguir se mover centímetros do lugar, percebeu que não pertenciam ao garoto que ela conversava a minutos atrás, mas sim a JJ. parou de se mover no mesmo instante, se apoiando no corpo do loiro, enquanto todos os gritos inundavam seus ouvidos.
— Ei, John B, não me faça eu te afogar igual seu pai — Topper falou, fazendo todos os adolescentes se calarem, e a raiva apareceu em John B no mesmo instante.
sentiu o irmão a encarando e, em um movimento involuntário de seu corpo, ela assentiu com a cabeça.
— Acaba com ele, JB! — gritou, fazendo o irmão sorrir, pulando novamente para cima de Thornton.
não soube o porquê de falar aquilo, nunca foi a favor de brigas, pelo contrário, detestava, mas ouvir aquelas palavras de Topper a enfureceu no mesmo instante.
A briga parecia nunca ter fim, os gritos em incentivo também continuavam, a garota já estava começando a ficar com medo da proporção que aquilo estava se transformando. sentiu tudo ficar em câmera lenta, tendo que se segurar no garoto, vendo Topper tentando afogar John B no mar a alguns poucos metros de distância.
— Johnny! — A voz de nem sequer soou tão alta, o nó em sua garganta a impossibilitou de gritar. O único que poderia ouvir sua voz era JJ, que estava próximo dela.
Maybank a soltou no mesmo instante, ela se sentiu fraca, quase podendo cair no chão, tentando segurar o choro. Em um piscar de olhos, tudo mudou, JJ tinha a arma na têmpora de Topper, que soltou John B no mesmo instante, se levantando devagar, visivelmente com medo das ações do Pogue. se xingava internamente por estar agradecida que Maybank pegou a arma, mesmo sendo uma ação inconsequente.
— JJ, larga isso! — Sarah Cameron falou, assustada.
— Disse algo, princesa? — JJ falou, irônico.
Era nítido o tom de voz irritado de JJ, a Routledge percebeu que aquele ato de Maybank, não passava de uma ideia que ele teve no momento que sentiu medo e não pensou se seria sensata ou não.
— Agora todo mundo me escuta, quero todos fora do nosso lado da ilha! — Maybank disse, apontando a arma para cima e disparando três tiros em direção ao céu.
Os adolescentes que estavam na festa corriam para o mais longe possível, a multidão se dissipou rapidamente. Sarah correu, segurando a mão do namorado. Kiara e Pope gritavam para JJ, o xingando, e apenas ignorou toda a situação, correndo em direção a John B, que desmaiou assim que ela chegou perto, a fazendo gritar em desespero, chamando a atenção de seus amigos, que precisaram carregar o garoto até a Twinkie.
Os Pogues estavam na Kombi, John B estava no banco de trás com a cabeça apoiada no ombro de . Kiara e Pope continuavam xingando JJ, o qual, após um tempo, parou de se defender, apenas dirigindo em silêncio. Maybank e a Routledge apenas trocavam olhares pelo espelho retrovisor, os quais não conseguia desvendar o que realmente significavam. O veículo ficou em silêncio no momento em que JJ deixou Kiara em casa e logo depois Pope. O loiro seguiu em direção ao Castelo, Maybank parecia estar estressado e com medo, assim como a garota, sempre batendo os dedos contra o volante da Kombi e olhando para os lados nervosamente. Ambos conseguiam sentir o clima estranho entre eles dois, tinha quase certeza de que não era apenas devido à confusão que havia acontecido na praia, tinha algo diferente, mas nenhum dos dois sabia explicar exatamente o que era.
Assim que chegaram à casa dos Routledge, JJ ajudou a colocar John B no sofá, pois a garota não queria acordá-lo. e JJ estavam na varanda escura, pela queda de energia, sentados em silêncio. O garoto brincava com seu isqueiro, desviando seus olhos para , que tinha seus olhos vidrados na árvore na frente da casa.
— Você é um idiota por atirar no meio da praia — a Routledge quebrou o silêncio.
O loiro bufou, revirando os olhos, começando a resmungar uns xingamentos e algo como: “pelo menos eu o salvei”. se levantou silenciosamente, caminhando até o garoto, ficando em pé em frente a ele, fazendo JJ olhar para ela. Mesmo no escuro, conseguia ver os olhos azuis de Maybank refletirem, assim como a água do mar.
— JJ — falou, sorrindo. — Obrigada por ser um idiota e ter salvado John B.
Dessa vez, foi a vez de JJ sorrir, ficando de pé em frente à garota. Agora era ele que via os olhos verdes dela brilharem. Os dois ficaram na mesma posição por alguns segundos, em silêncio, sem falar nada, apenas observando levemente um ao outro entre a escuridão.
— Então, Marcus James é tão interessante ao ponto de você brigar comigo por uma cerveja? — Maybank mudou de assunto repentinamente, fazendo cruzar os braços.
— Pare de se fazer de inocente, Jay! — falou, rolando os olhos.
— Se passou na sua cabeça que eu deixaria alguém que mal conhecemos te levar bebida, a inocente aqui é você, — Maybank argumentou, sem tirar os olhos da garota.
— Eu realmente não entendo você! — a garota de olhos verdes murmurou em um sussurro para si, passando a mão pelo rosto, suspirando. — Ficou me cuidando o Kegger todo só porque eu estava com um garoto, mas encheu Kie de elogios para John B mais cedo no hotel!
nem precisou continuar o monólogo para se arrepender no instante em que as palavras saíram de sua boca, imaginou que poderia ser os copos a mais de cerveja que bebeu na festa para fazê-la falar suas frustrações em volta na frente de JJ. Assim que parou de falar, um sorriso divertido se estampou na feição de Maybank. gostaria de poder sair correndo e mandar JJ esquecer as últimas frases que saíram de sua boca, sentia seu corpo paralisado em frente ao loiro.
— Por que estamos falando de Kiara? — Maybank riu. — Quer que eu elogie você também, ?
— Vai à merda, JJ! — resmungou, agradecendo por estar escuro demais para JJ conseguir ver as bochechas coradas dela.
— , se eu elogiar você na frente do JB, eu acho que você nunca mais ouve minha voz — Maybank disse em um sussurro, após rir.
sabia que John B odiava quando ela e Maybank ficavam muito próximos. Já havia perdido as contas das vezes em que seu irmão teve pequenos ataques de ciúmes ao ver a garota se encolher um pouco por algo que o loiro havia dito. Sempre que percebia que ela e seu melhor amigo estavam se divertindo demais ou trocando muitas piadinhas, John B fazia questão de intervir, afastando os dois e reclamando que eles estavam “juntos demais”, como ele normalmente dizia, o que sempre fazia o resto dos Pogues rirem.
JJ se aproximou um pouco mais, voltando a olhar para a garota. Os dois se encararam, novamente, e ele ficou em silêncio por alguns segundos, deixando um beijo na testa de antes de se afastar.
— Boa noite, — JJ disse, se virando de costas para ela e saindo do Castelo.
pareceu paralisar por alguns segundos, não conseguindo raciocinar o que havia acabado de acontecer. Suspirou, frustrada, caminhando até o sofá-cama onde o irmão estava deitado, se jogando ao lado de John B, e caindo no sono rapidamente após um dia tão longo.
— Você me assustou — murmurou, preocupada.
— Bunny, não vou deixar você se livrar de mim tão fácil — John B falou, em um tom de brincadeira. — Já chega — riu, afastando a garota alguns segundos depois.
Uma batida à porta assustou John B e , que se olharam, confusos. Ao abrirem a porta, encontraram a xerife Peterkin. A mulher era a única oficial da polícia em que sentia que poderia confiar. A xerife sempre foi parcial, não era igual aos outros policiais que sempre priorizavam os Kooks ou aceitavam propina. Pelo que sabia, Peterkin havia nascido na periferia e demorou muito para ter um bom cargo na polícia.
— Xerife Peterkin, qual é o motivo de termos a honra da sua presença em nossa humilde moradia? — disse, ironicamente, olhando a xerife.
— Desculpem me atrapalhar, mas recebi uma ligação do Conselho Tutelar — a mulher falou, entrando na casa. — Belo olho roxo… — a xerife apontou para John B. — Como estão?
— Estamos bem, trabalhando, surfando e aproveitando o verão — sorriu, se levantando do sofá.
John B e olharam ao redor da casa, percebendo a bagunça que estava. O garoto se apressou a pegar um saco de lixo, começando a juntar algumas latinhas de cerveja e alguns lixos que estavam na sala, enquanto colocava algumas almofadas no lugar e tirava as louças sujas que estavam espalhadas pelo local.
— Fico feliz que estejam bem. — Peterkin deu uma pausa, olhando John B. — Mas ouvi algumas coisas que me preocuparam. Uma das coisas é que o tio de vocês, Teddy, saiu do estado há três meses. — estava pronta para dizer que aquilo era uma mentira (mesmo que não fosse), mas foi interrompida pela xerife. — Não precisa dizer nada, sei que é verdade. — Ela suspirou, se encostando na parede. — Liguei para a escola de vocês, disseram que eram bons alunos, mas agora… está a ponto de reprovar de ano pelas suas faltas. John B, você já está praticamente reprovado.
era uma boa aluna, nunca foi a primeira da turma, mas também não estava perto de uma das piores, sempre foi a aluna mediana, apenas meio preguiçosa, e não fazia uma lição ou outra, nada que a fizesse reprovar de ano. Mas, desde o desaparecimento do pai, não sentia vontade de ir à escola, nunca gostou muito do colégio, na verdade, mas no ensino médio tudo foi muito pior, se sentia julgada, ansiosa, não conseguia se concentrar na matéria, isso quando não dormia durante alguma aula e acabava indo para a detenção.
— Não, só reprovei em história, o professor é um babaca, aquele cara me persegue! — John B falou, se defendendo.
— Soube que teve uma briga na praia ontem e tinha uma arma envolvida — Peterkin disse, ignorando o garoto.
— Eu me meti em uma briga? Sim, mas havia uma arma? Não, de jeito nenhum — John B falou, dando alguns tapinhas nas costas da xerife.
— Tudo bem, eu sei quem era, vou chegar nele — disse, olhando para , que se movia até a cozinha. — Só quero ter certeza de que estão em um lar seguro.
— Mais seguro que aqui? — falou, dando soquinhos na parede.
— Seguro e resistente — John B completou, olhando para . — O tio Teddy vai voltar, então não precisa se preocupar.
— Foi ele que disse isso? — a mulher perguntou.
— Sim — os irmãos responderam juntos.
— Então, se ele vai voltar, acho melhor deixar vocês ficarem — os dois adolescentes sorriram —, mas, se eu me arriscar por vocês, vocês precisam me ajudar. Uma mão lava a outra, concordam? — John B e assentiram. — Encontraram um corpo no pântano ontem. Vocês foram ao pântano ontem?
John B e se encararam, nervosos, mas aquela foi a única comunicação necessária para eles saberem que deveriam manter a calma e seguir o plano que fizeram com os amigos.
— Sim, estávamos pescando — John B falou, enquanto a xerife o encarava.
— Pegaram algo? — Dessa vez, ela encarou a garota.
— Não — ela respondeu, olhando a mulher. — Desistimos de pescar e ficamos dando voltas para ver se alguém precisava de ajuda por causa do Agatha.
A xerife Peterkin não pareceu acreditar em nenhum dos adolescentes. Ela suspirou, voltando a se apoiar em uma parede, encarando o retrato de Big John com as duas crianças que estava pendurado, logo voltando o olhar para os dois.
— Viram algum barco naufragado?
— Não — eles responderam juntos.
— Vocês estão na beira do precipício. Embaixo, fica o lar adotivo e o reformatório — a xerife simbolizava com as mãos. — Uma queda e tanto para pessoas espertas como vocês. Aqui em cima estão vocês e seus amiguinhos fazendo o que querem. Outer Banks ou lar adotivo no continente, onde, pelo que eu saiba pela lei, vão ficar separados até acharem uma família que aceite vocês dois e tenho certeza de que não querem que isso aconteça. Estão a centímetros do precipício, se fosse vocês, eu começaria a recuar. — Fez uma pausa. — Vocês têm certeza de que não viram um barco naufragado ontem?
— Temos certeza — respondeu, firme.
— Melhor não terem visto mesmo. Vou fazer vista grossa, se ficarem fora do pântano — Peterkin disse, firme, antes de sair da casa, deixando os adolescentes para trás.
pressionou os olhos com força, apoiando a cabeça na parede. John B sentou-se no sofá, segurando o rosto entre as mãos. Os dois estavam perdidos, sem saber o que fazer. A ideia de abandonar a busca do barco naufragado não era uma opção que agradaria aos seus amigos; ir para um lar adotivo no continente era impensável. A única alternativa deles era confiar no que Peterkin dizia e evitar o pântano por um tempo.
No dia anterior, eles combinaram com os Pogues de se encontrarem no Castelo. Antes da chegada dos amigos, John B e decidiram abandonar o plano, preferindo desistir da aventura do que enfrentar um futuro incerto em um lar adotivo. Quando os Pogues chegaram, prometeu a si mesma que deixaria John B falar e concordaria com seu irmão, mantendo-se em silêncio.
— Estamos pulando fora. — Foi a primeira coisa que John B falou, olhando para todos. — Peterkin falou que iria nos ajudar com o Conselho Tutelar, se a gente ficar fora do pântano.
— Você acreditou nela? — JJ ironizou.
— Só precisamos ficar longe do pântano por uns dias e ela irá nos ajudar! — John B falou. — Você sair atirando não ajudou muito
— Eu deveria ter deixado Topper te afogar! — JJ disse, irritado, caminhando para longe. — Eles sempre vencem! Kooks contra Pogues, eles sempre vencem!
— Nos desculpem se eu e não queremos acabar em um orfanato no continente! — John B falou, ironicamente.
— Ok, tá tudo bem! — Kie falou, tentando acalmar os dois.
— Não está tudo bem! John B, já viu seu rosto? — JJ estava cada vez mais alterado. — Se não nos querem no pântano, é porque tem algo lá e você sabe disso. Entendo eles não quererem, você é um garoto de ouro, tem muito a perder — ele apontou para Pope. — E você já é rica para caralho — apontou para Kiara —, mas John B, o que eu, você e temos a perder? — Ele olhou para John B, que permaneceu em silêncio. — Isso mesmo, nada!
desviou o olhar da discussão, odiava quando JJ falava que eles nunca tinham nada a perder. Talvez Maybank pensasse em termos mais materiais, como o dinheiro de Kiara ou as oportunidades de futuro que Pope teria por ser inteligente. Mas sabia que eles tinham algo a perder: seus amigos e seu irmão. Preferia perder a si do que alguém ao seu redor.
— Não quero mais falar sobre isso — John B disse, estressado.
— Tenho um plano! — JJ falou. — Você tem a chave do barco dos Cameron, não é? Tem equipamento de mergulho lá. Você vai lá e pega, depois vamos até o barco à tarde.
Pope, Kiara e trocaram alguns olhares, os três sabiam que o plano tinha enormes chances de dar errado. Pela primeira vez, durante todo aquele tempo que estavam ali, os olhos de finalmente encontraram os de JJ. Ela decidiu ignorar o assunto deles dois que ocorreu na noite anterior, achando que seria a melhor forma de ela não se iludir e não machucar a si mesma por uma paixãozinha pelo seu melhor amigo.
— Já viu garotos ricos em lares adotivos? — JJ falou, John B olhou para a irmã.
Foi naquele instante que soube que John B tinha aceitado participar do provavelmente falho plano de JJ. não sabia se ficava feliz ou não, pelo fato de John ter quebrado o combinado que eles haviam feito mais cedo. Embora soubesse que nenhum dos dois garotos faria algo que prejudicasse algum dos Pogues, a garota não pôde deixar de sentir a ansiedade tomar conta do seu corpo devido ao plano.
O sol quente em contato com sua pele fazia seu rosto ficar vermelho. e os Pogues esperavam na doca do Castelo, vendo John B se aproximar com o HMS Pogue e alguns cilindros de oxigênio que ele tinha pegado — sem autorização — de Ward Cameron. JJ ergueu os braços em animação ao perceber que metade do seu plano havia dado certo. Os adolescentes entraram no barco, o loiro segurou a mão de para ajudá-la a entrar. Pope começou a pilotar, navegando em direção ao meio do pântano, onde encontraram o Grady White naufragado. O grupo discutia o que poderia haver no naufrágio, mas estava muito mais preocupada com a possibilidade de a polícia os ver ali.
Assim que chegaram ao pântano, atracaram o barco e Kiara começou a olhar os cilindros de oxigênio, mas a maioria parecia estar completamente vazia.
— Certo, esse tem um pouco. É o bastante para um de nós — Kiara falou, olhando o último tanque.
— Adoro quando o plano dá certo — Pope ironizou.
— Alguém sabe mergulhar? — Kiara perguntou, olhando para os Pogues.
— Eu posso tentar — falou, recebendo um olhar severo de John B.
— Eu já li a respeito — Pope falou, descrente.
— Ótimo, Pope já leu a respeito, então alguém vai morrer! — Kiara riu, irônica.
— É só colocar a paradinha na boca e respirar, qual é a dificuldade? — JJ falou, olhando para os tanques.
— Se você subir muito rápido, o nitrogênio vai para o sangue e dá descompressão — Pope explicou.
— Então você fica doidão? — ele perguntou, animado, fazendo uma pose estranha.
— Não, Jay, você morre — riu, passando os braços pelo pescoço do garoto que fazia uma careta.
— Eu mergulho — John B falou.
John B não sabia mergulhar. olhou com preocupação para o irmão, na tentativa falha de ele mudar de ideia. O garoto foi até o lado de Pope, que começou a explicar para John B como deveria respirar com o aparelho enquanto parecia fazer algumas contas. Pela feição do garoto, tinha a completa certeza de que John B não estava entendendo uma única palavra do que o Heyward estava falando.
Na tentativa de não deixar seu irmão morrer por descompressão ou falta de oxigênio embaixo d’água, ela tirou sua camisa e short, pulando na água e nadando até a corrente de metal, em uma altura que ela imaginou estar pelo menos uns três metros de profundidade, amarrando a camisa no local, servindo como um guia para John B saber onde parar quando estivesse mergulhando.
— Eu gostei muito — JJ falou, recebendo um soco de John B.
Foi essa exata cena que presenciou quando saiu debaixo da água. Kiara ria dos garotos enquanto chamava Maybank de babaca, deixando cada vez mais confusa enquanto subia no barco.
— Amarrei minha camiseta na âncora a uns três metros, é onde você precisa parar para não acabar morto — explicou, olhando para o irmão.
— Tente respirar o mínimo possível — explicou Pope. John B assentiu com a cabeça.
— Não morra, por favor — falou. O irmão mostrou o polegar para ela, murmurando um “afirmativo” enquanto colocava o equipamento.
John B se aproximou da borda do barco, como se estivesse se preparando para pular. Kiara se aproximou dele, deixando um beijo em sua bochecha, pedindo para ele ficar seguro. não conseguiu conter o sorriso ao ver as bochechas do seu irmão ficarem vermelhas. Ela e JJ trocaram alguns olhares cúmplices. Rapidamente, John B afundou na água, sem falar nada. se sentou na beirada do barco, olhando para a água, esperando que seu irmão não demorasse muito.
— Pessoal, polícia! — Pope falou. arregalou os olhos enquanto se levantava apressadamente.
— , mergulha! — Kiara falou, com pressa.
A Routledge concordou, pulando na água, tentando puxar todo o ar possível para seus pulmões antes de submergir por completo. Nadou um pouco para o fundo, com medo de que os policiais a vissem se ela estivesse muito perto da superfície. Ela se segurou na âncora, olhando para os lados em busca de seu irmão, começando a ficar preocupada pelo garoto ainda não ter aparecido. Segundos depois, assustou-se quando sentiu algo tocando seu ombro. Olhando para o lado, deu de frente com John B, que a encarava com uma feição confusa. apenas apontou para cima, com a cabeça, mostrando o barco da polícia que estava ao lado do HMS Pogue.
Se forçava a controlar a respiração embaixo da água, seus pulmões imploravam por oxigênio. Nunca havia mergulhado por tanto tempo e a conversa abafada dos policiais com os seus amigos na superfície parecia estar durando horas. Enquanto cada vez mais queria estar fora da água, esperava que os policiais fossem embora logo, pois não era apenas ela que iria se afogar, mas seu irmão também.
Ao ouvir o motor do barco ser ligado e se afastar do HMS Pogue, os dois não perderam tempo em subir o mais rápido possível até a superfície. A respiração de ficou descontrolada ao poder respirar novamente, tossindo algumas vezes por inalar um pouco de água no momento que voltou para a superfície. JJ e John B ajudaram a subir no barco. A garota apoiou as mãos em seus próprios joelhos, tentando acalmar a respiração. Sentiu um breve arrepio quando uma mão quente repousou sobre suas costas, acariciando o local. Quando ela olhou para trás, viu JJ com uma feição preocupada. Assim que ele olhou para , lhe deu um pequeno sorriso, falando para ela se acalmar e respirar devagar.
— Vocês dois estão bem? — Kiara perguntou, olhando para John B e , recebendo respostas positivas de ambos.
— Encontrou alguma coisa? — Pope perguntou, olhando John B.
se sentou no convés e JJ se aproximou, se sentando ao lado dela, parecendo querer garantir para si que a garota estava bem.
— Se eu encontrei? — John B falou, retoricamente, sorrindo, levantando uma bolsa preta e a colocando no chão do barco.
— Esse é o meu garoto! — JJ falou, animadamente.
— Tem um barco ali — falou, baixo, avisando os amigos.
Os Pogue olharam em direção ao barco, que nenhum deles reconheceu, mas, assim que viu os dois homens se aproximando, olhou para os amigos, assustada.
— O que fazem aqui, se o pântano está fechado? — Pope pensou, alto. — Devemos esperar?
— Não mesmo — falou. — Bird, acelera!
— Não estou gostando disso — John B falou, ligando o barco, começando a pilotá-lo.
— Pessoal, eles estão nos seguindo! — Kiara falou, fazendo John B acelerar o barco. — Se abaixem!
arregalou os olhos ao ver os homens armados se aproximando rapidamente, suas armas reluzindo sob a luz do sol. As mãos dela começaram a tremer involuntariamente. Ela não entendia muito de armas, mas aquelas pareciam muito mais letais do que a pistola que JJ tinha encontrado no hotel. Eram rifles longos, sinistros e intimidadores, com miras ópticas que pareciam apontar diretamente para o HMS Pogue como se fosse um alvo preciso.
O coração de disparou enquanto ela se encolhia atrás do banco de John B, buscando qualquer cobertura possível. A adrenalina impulsionava sua mente, misturando medo e ansiedade. Ela sentiu Kiara segurar sua mão com força, ambas se protegendo, enquanto a tensão no ar se tornava quase palpável.
— Toma cuidado, JB! — falou, olhando para John B, que se abaixou um pouco no banco do condutor, enquanto continuava pilotando.
A Routledge olhou para a rede de pesca, fazendo um sinal para Kiara ajudar, o que foi entendido pela amiga, que assentiu com a cabeça, concordando com a ideia. As duas rapidamente se levantaram, agarrando a rede e a desenrolando. Mais um disparo foi ouvido e o corpo de tremeu por completo. Assim que Kiara sinalizou, as duas jogaram a rede na água, e o barco de trás travou, após ter as hélices estragadas pela rede, ficando parado em meio ao pântano. Kiara e sorriram, aliviadas, uma para a outra, felizes pelo plano ter dado certo. Carrera abraçou os ombros da amiga, fazendo rir.
John B continuou navegando até o cais do Castelo, agora ele podia pilotar o barco com mais calma. Assim que estacionaram o HMS Pogue, o grupo de amigos subiu no deque do Castelo, esperando ansiosamente para que John B abrisse logo a bolsa preta.
— O que vocês acham que é? — Kiara perguntou.
— Deve ser dinheiro — John B comentou.
— Ou alguns quilos de drogas valendo alguns milhões! — JJ falou, animadamente.
— Dá para abrir logo? — Pope disse, ansioso, fazendo todos olharem para ele.
— Pope está certo, abram logo, tô ansiosa! — falou, olhando para a bolsa.
John B fez mais um pouco de suspense antes de abrir a mala preta, tirando um único recipiente metálico e cilíndrico, fazendo todos encararem o objeto de forma estranha. Assim que ele abriu, uma bússola caiu nas mãos do garoto. Os irmãos se olharam, desacreditados, com os olhos arregalados. Já fazia muito tempo desde que eles não viam aquela bússola.
— Bom trabalho, achamos uma bússola! — Pope ironizou.
— Cara, isso não vale nada — JJ falou, desanimado.
Kiara pareceu ser a única a reparar os olhos marejados dos dois, ela passou a mão pelos ombros da amiga.
— Isso era do nosso pai — falou com a voz falha.
Todos encararam os dois irmãos, confusos, esperando alguma explicação, então John B decidiu que tentaria explicar um pouco da bússola para os Pogues. Ao entrarem no Castelo, John B começou a falar algo sobre como ele e tinham certeza de que o objeto era de seu pai.
decidiu ficar em silêncio durante o tempo todo, ficando um pouco mais afastada de seus amigos, apenas concordando com a cabeça uma vez ou outra.
Depois de algumas explicações, Kiara e Pope foram para casa. foi até seu quarto, se sentando na cama, não conseguindo entender o motivo daquela bússola, que estava na sua família há tanto tempo, estar no barco que pertencia a Scooter Grubs.
Demorou meses para superar o desaparecimento de Big John, não sabia se ele estava morto, desaparecido ou havia fugido para algum lugar, mas, quando sua vida parecia estar se ajeitando e após meses sofrendo pelo homem que desapareceu após uma briga com os mais novos, tudo parecia estar voltando como um tsunami inesperado. Ficou frustrada ao perceber que iria voltar a passar o dia pensando em Big John, mas uma de suas preocupações era como seu irmão reagiria a tudo aquilo novamente. Ao contrário de John B, nunca comentava sobre seu pai, fazia de tudo para não pensar no assunto, aquela havia sido a forma mais fácil que ela tinha achado de simplesmente aceitar que nunca mais o veria. Ignorar o assunto de todas as formas possíveis foi o único jeito de ela se proteger e conseguir cuidar de John B, que nunca conseguia raciocinar direito quando o assunto era Big John. Agora, tudo estava voltando à tona: as memórias de Big John e a briga que eles tiveram eram as últimas lembranças do homem que a cuidou como uma legítima filha. O peito de doía só de lembrar que as últimas palavras que Big John ouviu dela e de John B foram gritos sobre ele ser um pai de merda, o arrependimento era doloroso e cruel.
Quando se deu conta, já estava encolhida em sua própria cama, com seus olhos no joelho, abraçando as próprias pernas, soluçando baixinho, perdida em seus próprios pensamentos, fazendo sua respiração ficar desregulada e sua visão embaçada pelas lágrimas, torcendo para que John B não estivesse ouvindo, sem querer preocupar o seu irmão, que também devia estar com a cabeça cheia.
— ? — A voz baixa de JJ saiu como um sussurro.
A garota o encarou, os olhos de não estavam brilhantes iguais à noite anterior, agora os seus olhos estavam vermelhos e tristes. A garota secou as lágrimas rapidamente, com o dorso da sua mão. JJ praticamente correu até , se sentando ao lado dela, passando os braços ao redor do corpo da garota, a trazendo para perto, sem dizer nada, apenas acariciando o cabelo dela. O único barulho no local era de fungando uma vez ou outra.
— Fala comigo — JJ murmurou. confiava em JJ mais do que confiava em si mesma. Ainda que as atitudes impulsivas do loiro fossem muitas vezes questionáveis, sua lealdade e coragem nunca deixavam dúvidas em seu coração. Havia uma conexão silenciosa entre os dois, sabiam que estariam sempre lá um para o outro, não importava o que acontecesse. Ela olhou para JJ, vendo o carinho em seus olhos, e sentiu um calor reconfortante em seu peito. sabia que, apesar de suas próprias inseguranças e dúvidas, podia se apoiar nele.
— Eu só não estava pronta para que todas as lembranças de Big John voltassem do nada — murmurou, se agarrando nos braços do loiro. — Quando John B mostrou a bússola, a única coisa que passou na minha cabeça foi aquela briga que tivemos antes de ele ir embora.
— Big John era tão teimoso quanto você e o John B juntos, ele iria de qualquer jeito. Não é sua culpa.
ficou em silêncio, limpando suas lágrimas com o dorso das suas mãos. Sabia que não precisava falar nada, nem pedir para JJ ficar, porque ela tinha a completa certeza de que o garoto não iria sair de seu lado tão cedo.
Maybank não conseguia ficar em silêncio por muito tempo, o que o fazia falar qualquer baboseira que aparecia em sua cabeça. JJ contava uma história tosca ou falava algo que a fazia rir, tirando um pouco do clima melancólico em que ela estava.
— Eu e John B vamos ver Lana Grubs amanhã — ele falou —, se quiser ir junto, podemos esperar você sair do trabalho.
— A esposa de Scooter? Por quê? — perguntou, confusa.
— John B acha que, como a bússola estava no barco dele, ela pode saber de algo — JJ falou.
— Eu vou sair mais tarde amanhã — ela explicou, com uma feição cansada.
— A gente te espera — Maybank afirmou.
Voltaram a conversar por mais um tempo. JJ sempre contornava o assunto da bússola, sabendo que a garota ainda não estava cem por cento confortável para continuar falando sobre ele. Agora, estavam deitados de forma mais confortável. A garota estava deitada ao lado de JJ, e os dois adormeceram rapidamente um ao lado do outro, mesmo que, no meio da noite, Maybank se levantou da cama, indo dormir na sala, não querendo arrumar encrenca com John B.
O Country Club era o clube dominado pelos Kooks, esportes de gente rica como tênis e golfe, restaurantes com comidas mais caras do que ela sequer poderia pagar e muitos carrinhos de golfe para todos os lados. Como uma boa moradora do lado ruim de Outer Banks, somente conseguia entrar no local por um único motivo: trabalho. A garota nunca se imaginou trabalhando com crianças, ainda mais porque nunca soube lidar com elas. Normalmente, durante o verão, ela trabalhava em uma lojinha de surfe que tinha perto da praia, mas, após a loja ser fechada, ela se obrigou a fazer alguns turnos na Colônia de Férias cuidando das crianças ricas do Figure Eight. No começo, ela achou que iria ser demitida durante a primeira semana, mas foi mais fácil do que ela imaginou. Ela apenas assistiu às crianças brincarem, desenhava com elas e torcia para nenhuma se machucar. terminava de se despedir das crianças, mesmo não gostando de admitir que gostava de seu trabalho. Tinha algumas crianças com quem ela sentia um carinho especial, a maioria não deixava de ser Kook, mimados e insuportáveis, mas, no final das contas, algumas delas eram apenas crianças fofas.
Saindo do Country Club, caminhou um pouco até ver a Kombi de John B, que buzinou, a fazendo rir, se aproximando do veículo, entrando e olhando para John B e JJ que estavam sentados no banco da frente.
— Como foi o trabalho? — John B perguntou.
— Fiquei com as crianças mais novas, foi divertido — ela respondeu, dando de ombros.
— Voltando ao assunto — JJ olhou para John B —, não sei por que você não tenta nada com a Kiara, ela gosta claramente de você.
— Eu concordo — comentou, olhando para o irmão. — Ela te beijou.
— Foi na bochecha, não foi nada de mais — John B riu, nervosamente.
— Você ficou vermelho — JJ falou, fazendo concordar.
— Eu fiquei vermelho? — John B olhou para a irmã.
— Sim, foi engraçado — ela falou, sorrindo.
O caminho até a casa de Lana Grubs continuou normalmente. já estava muito melhor do que a noite anterior. Claro que a bússola de seu pai ainda a fazia se sentir confusa e com vários questionamentos em sua cabeça.
Assim que chegaram ao local, observou um pouco em volta, era uma casa de madeira velha e colorida, o local parecia estar vazio pelo silêncio, o jardim estava malcuidado, alguns resquícios da tempestade ainda estavam lá, como se ninguém morasse lá. Para tirar as coisas, algumas telhas e lixo no chão.
— Sabe a impressão que essa casa passa? — JJ perguntou, olhando para os Routledge. — De que quem mora aqui fuma muita maconha.
— , fica para trás — John B falou, receoso —, espera um pouco.
O silêncio acabou com os gritos de Lana Grubs, que foram ouvidos pelo trio, fazendo-os se assustarem. JJ agarrou a mão de , puxando-a para perto da casa. Os três se apoiaram na parede, assustados com o barulho.
— Vamos voltar depois… — sussurrou JJ.
John B mandou ficarem em silêncio, colocando o dedo indicador sobre a boca. Os homens pareciam furiosos, gritando com a Sra. Grubs e jogando algumas coisas para um lado e para o outro. A mulher chorava, fazendo olhar para os garotos, preocupada com Lana, enquanto sentia a parede atrás deles tremer e soltar inúmeras serragens e pedaços de tinta seca. A garota ainda segurava a mão de JJ e os sustos a faziam apertar a mão dele forte.
viu os homens se afastarem da casa, reclamando por não acharem a bússola. O trio os reconheceu do dia anterior, quando eles tentaram atirar no HMS Pogue.
JJ, John B e adentraram a casa da Sra. Lana, ela estava completamente destruída e desorganizada, com móveis quebrados e várias coisas jogadas no chão. Os homens desconhecidos estavam realmente empenhados em descobrir onde estava a bússola. soltou a mão de JJ ao ver a mulher jogada no chão do banheiro, correndo até ela.
Lana Grubs estava completamente machucada, tinha sangue em seu rosto e alguns outros machucados pelo seu corpo, enquanto se encolhia no banheiro, assustada.
— Sra. Lana! Está tudo bem, sou só eu, John B e JJ — falou, se sentando ao seu lado. — Chame a polícia.
— Não, por favor, sem polícia — a mulher implorava. — Não deveriam estar aqui.
— Vamos embora. Para mim, já chega — JJ falou, saindo, nervoso, antes de John B puxá-lo de volta.
— O que sabe sobre esses caras? — John B perguntou.
— Eles estavam procurando algo — a mulher falou, assustada.
John B tirou a bússola do bolso calmamente, mostrando para Lana Grubs, falando que estava com Scooter. A mulher começou a chorar em desespero, o objeto parecia ser um gatilho para a Sra. Grubs, que começou a gritar, dizendo que aquilo nunca esteve com o falecido marido, enquanto os mandava embora.
— Sra. Lana, por favor, você quer que eu busque uma água? — falou, assustada. — Podemos conversar com calma, eles não vão voltar.
— , vamos — JJ falou, puxando-a.
— Jay, ela precisa de ajuda — teimou, preocupada.
— Não é da nossa ajuda que ela quer, — disse JJ.
deu uma última olhada para Lana Grubs, que continuava a chorar no banheiro, antes de ser completamente puxada para fora da casa por JJ, que parecia eufórico.
A viagem de volta ao Castelo havia sido estranhamente silenciosa. podia sentir o olhar de JJ pelo retrovisor, o garoto não conseguia nem formar frases direito devido ao nervosismo. A voz de Lana Grubs ecoava pela cabeça de , que se sentia péssima por não fazer nada para ajudar e ter deixado a mulher lá, sozinha e assustada. Pensar naquilo a fazia querer mandar John B dar meia volta e ir ajudá-la.
Assim que estacionaram a Kombi, viram Kie e Pope sentados na varanda, esperando notícias dos três. JJ saiu do veículo, abrindo a porta para , que caminhou até a varanda de sua casa, sentando-se um pouco afastada dos seus amigos, ainda um pouco conturbada com os acontecimentos de alguns minutos atrás. Sua cabeça se esforçava para tentar entender o motivo de os homens que os perseguiram no pântano estarem tão envolvidos com a bússola de Big John. queria entender o porquê daquele simples objeto velho importar tanto que eles precisaram fazer o que fizeram com Lana Grubs.
JJ foi o primeiro a começar a falar, explicando de forma eufórica tudo o que aconteceu. John B interferia uma vez ou outra, o que não mudava muito, pois Pope e Kiara sempre pareciam falar como se os dois Routledge precisassem de uma sessão de terapia. Talvez realmente fosse necessário, não tinha dúvida daquilo, mas não era o ponto principal, não naquele momento.
— Então, vocês viram os caras que atiraram na gente? — Pope perguntou.
— Sim — JJ assentiu.
— Conseguiu vê-los? — Pope voltou a perguntar.
— Como eles eram? — Kiara perguntou.
— Fortes… — JJ comentou, agitado.
— Fortes? — Kiara e Pope falaram, confusos, deixando JJ mais nervoso.
— Calma! — falou, após minutos de conversa sem ter falado absolutamente nada, o que chamou a atenção de todos. — O deixem respirar! — Olhou para JJ, que acendia um cigarro. — Eles eram altos e fortes, igual JJ falou, ambos tinham barba, é isso, eu acho — falou, fazendo Pope revirar os olhos.
— A gente não conseguiu tirar fotos mentais dos caras, beleza? — JJ disse, tragando o cigarro. — Estávamos sob pressão, os gritos da Sra. Lana não ajudavam muito.
— Por que eles queriam a bússola? Aquilo não vale nem cinco dólares! — Pope falou. — Sem ofensas, e John B.
— O escritório! — John B disse, olhando para a irmã, e ambos se levantaram rapidamente. — Ele sempre deixou trancado com medo de roubarem as coisas do Royal Merchant.
John B pegou a chave, destrancando a porta do escritório, e os cinco entraram no cômodo. sentiu um arrepio estranho percorrer o seu corpo, era uma sensação estranha estar dentro do escritório de Big John, nunca entrava lá quando ele estava por perto, então era algo esquisito estar ali depois que ele havia ido embora, parecia não fazer sentido, nem sequer certo estar ali dentro.
— Eu já dormi aqui umas seiscentas vezes e nunca vi essa porta aberta — Pope comentou.
— Aqui, olhem! — John B falou, mostrando a foto de um antigo parente. — Esse foi o dono original.
— Robert Q. Routledge, 1890 a 1920 — Kiara falou, olhando para alguns documentos que estavam com a foto. — Olha a bússola da sorte aqui.
— Na verdade, ele morreu logo depois que comprou a bússola — John B explicou, fazendo Kiara arregalar os olhos.
John B e continuaram a explicar toda a árvore genealógica de sua família, juntamente com cada dono da bússola, o que fez a garota perceber que, após ganhar o objeto, a pessoa morria.
— Legal, vocês têm uma bússola da morte — Pope falou, sarcasticamente.
— Não temos uma bússola da morte! — John B o repreendeu.
— Vocês têm sim — Kiara, Pope e JJ falaram, juntos.
ainda analisava a bússola, passando os dedos pelo metal velho e meio enferrujado. Ela se lembrava de ouvir Big John falando algumas vezes sobre um compartimento secreto, que se localizava atrás da bússola, e ficou alguns segundos tentando descobrir como abrir a parte de trás. Ela ouviu um pequeno barulho, sorrindo, orgulhosa, por conseguir abrir o compartimento secreto, analisando uma escrita no local, a qual ela tinha certeza que não estava ali antes de seu pai desaparecer no mar.
— O que está fazendo? — Pope perguntou.
— Nosso pai falava de um compartimento secreto, onde você podia deixar recados — ela disse, mostrando a parte de trás aberta.
— Isso não estava aí antes, é a letra dele! — John B falou, animado.
— Como pode ter certeza disso? — Pope perguntou.
— Ele fazia esse R estranho — falou, passando os dedos pela letra.
— O que está escrito? Red… isso é um a? — JJ virava a sua cabeça, tentando ler.
— É Redfield! — Kiara falou. — Mas o que é Redfield?
— Além do nome mais comum do condado? — Pope respondeu.
conhecia aquele olhar de John B, os olhos dele brilhavam em esperança de que tudo iria dar certo. Tentou evitar se alegrar com a ideia, se mantendo no mundo real, mas como ela podia deixar de imaginar que aquilo era um sinal para eles? Quando tudo parecia estar tão óbvio em sua frente? Mesmo que uma parte de si estivesse com medo de John B se frustrar e acabar se machucando.
Por três meses, se sentiu completamente sozinha, após o desaparecimento de Big John. John B parecia ter sumido com o seu pai, ele não falava com a irmã, estava ocupado demais tentando provar para todo mundo que o homem não estava morto. Durante os três meses, se esforçou para continuar forte e apoiar o irmão, o fazendo aceitar tudo o que tinha acontecido. Ela o entendia, tinha perdido sua mãe e agora o seu tio, que tinha se tornado o seu pai.
— Talvez seja uma pista de onde ele esteja escondido — John B comentou.
— Uma pista? É sério, cara? — Pope falou. — Talvez um anagrama.
John B agarrou um pequeno pedaço de papel, tentando desvendar o possível anagrama de Redfield, com ajuda de Kiara e Pope. não sabia o que fazer, então apenas continuava explorando algumas gavetas, enquanto começava a se perguntar o motivo do galo no seu quintal estar fazendo tanto barulho.
— Alguém faz esse galo calar a boca! — Pope falou, estressado.
— Cuidado com o jeito que você fala do meu galo! — falou, dando um tapa no braço de Pope.
— JJ e amam esse galo — Kiara falou, rindo.
— Ele é nosso galo — JJ falou.
decidiu verificar o motivo de o galo estar gritando tanto, normalmente ele gritava ao tentar comer algum galho ou latinha de cerveja e não conseguia, fazendo a garota rir pelo animal ser burro, mas a sua atenção para o galo sumiu no momento em que ela viu um grande carro preto desconhecido sendo estacionado em frente ao Castelo. Assim que avistou o primeiro homem praticamente pular do veículo segurando uma arma, reconheceu que eram os mesmos caras que invadiram a casa de Lana Grubs.
— John B, são eles — falou, o que fez o irmão e seus amigos se aproximarem da janela. — Os caras que nos seguiram.
— JJ, cadê a arma? — John B perguntou.
— A arma? Eu não sei, talvez… eu sei lá! — JJ disse, nervoso.
— Quando a gente precisa da arma, você não traz? — Kiara perguntou, indignada, enquanto o garoto caminhava de um lado para o outro de forma agitada, tentando se lembrar onde ele tinha deixado a arma.
— JJ, pare de caminhar e pense um pouco! — falou, nervosa, vendo o garoto parar de andar e olhar para ela.
— Está na minha mochila — JJ disse. — Minha mochila tá na…
— Varanda? — John B perguntou.
— Na varanda — JJ afirmou, assentindo com a cabeça, se apressando em sair do escritório. O garoto nem sequer saiu do corredor antes de correr de volta para o cômodo, fechando a porta com força.
— JOHN E ROUTLEDGE! — Os dois homens gritaram, entrando na casa. — Cadê a bússola?
Os homens gritavam por toda a casa na procura dos irmãos. JJ, Pope e Kiara tentavam abrir a janela, a qual Big John lacrou, pois um dos maiores medos do homem era que alguém roubasse suas coisas sobre o Royal Merchant, e John B e seguravam a porta.
A madeira pressionada contra as suas costas deu um baque, fazendo o medo de aumentar mil vezes mais, suas mãos tremiam em preocupação, enquanto seus olhos ardiam. Sentiu John B tocando seu ombro, na tentativa de acalmá-la, o que foi algo falho, pois, segundos depois, os homens empurraram a porta com força, novamente.
Assim que a janela foi aberta, JJ foi o primeiro a agarrar a mão de , a tirando o mais rápido possível. O loiro analisou o local por alguns segundos, tentando achar algum lugar para eles se esconderem, a puxando para o galinheiro, sendo seguidos pelos Pogues que estavam logo atrás deles. Kiara chorava baixo, entre as poucas galinhas e o galo que estava ainda mais barulhento, provavelmente pelo motivo dos cinco adolescentes escondidos ali.
— Faz esse galo ficar quieto! — Pope sussurrou, reclamando.
— Como eu vou fazer isso? — JJ perguntou.
— Faz carinho nele — Kiara sugeriu.
JJ olhou para por alguns segundos antes de segurar o pescoço do galo contra o chão, fazendo pressionar os olhos com força. “JJ, por favor” ela murmurou com a voz falha, escondendo o rosto em seu próprio ombro. Um crec foi ouvido, o que fez Kiara soluçar baixo. percebeu que a ave não fazia mais barulho, a fazendo suspirar pesado. Ela realmente gostava do galo. JJ puxou a Routledge para perto, voltando a segurar a mão dela forte. Agora, a cabeça de estava apoiada no ombro do garoto, enquanto ela passava os olhos pelo animal, com o pescoço quebrado, morto no chão.
— Me perdoa pelo nosso galo — JJ murmurou.
Minutos depois, estava com a cabeça apoiada na janela da Kombi, John B dirigia para o farol Redfield, o lugar favorito de Big John, em busca de alguma pista sobre seu pai. O garoto explicava alguma teoria sobre como tudo poderia estar interligado, mas a cabeça de estava tão cheia que nem sequer conseguiu se dar ao trabalho de ouvir algo que seu irmão falou. JJ estava sentado no chão da Kombi, não trocaram nenhuma palavra desde que eles saíram do galinheiro. Não foi uma experiência agradável ter que se esconder daqueles homens misteriosos pela segunda vez em um curto período. O garoto estava abalado por ter matado o galo. reparou o quanto aquilo mexeu com JJ, mas, no final das contas, era a única opção deles.
Após chegarem ao farol, todos desceram da Twinkie. John B respirou fundo, olhando para o farol, e logo depois olhou para a irmã, que tentou sorrir para ele, tentando demonstrar algum tipo de apoio.
— , quer ir com a gente? — John B perguntou, na tentativa de animar a irmã, que ainda parecia atordoada com tudo o que havia acontecido.
— Eu não vou pisar naquele farol, já viu a altura daquilo? Eu tenho medo de altura — disse , olhando para a torre, o que fez John B rir.
— JJ vai ficar aqui, vigiando — John B falou.
— Por que eu? — JJ falou, confuso.
— Porque você não vai — Pope falou, óbvio. — Olha, há várias dependentes e independentes, você, JJ, é uma independente.
Uma discussão entre os três garotos se iniciou. e Kiara trocaram olhares, cansadas, enquanto observavam a cena.
— Você está bem? — Kiara perguntou para a amiga, que apenas suspirou.
— Eu só estou preocupada — falou, olhando o irmão. — Não quero que John B volte àquele transe em que ele estava até alguns meses atrás, acredito que Big John tenha deixado algo para nós, ele gostava desses enigmas bobos, apenas estou com medo de que Johnny torne isso algo maior do que realmente é e acabe se frustrando.
Kiara lançou um sorriso triste para a amiga, abraçando-a de lado, apoiando a cabeça das duas em forma de apoio. sabia que Carrera também estava preocupada com John B, sempre via a morena olhando para o garoto de uma forma apreensiva.
— Tá bom, chega! — John B falou, chamando a atenção de todos. — JJ, você vai ficar aqui com a e Pope, nos encontramos mais tarde.
Após mais algumas reclamações, JJ finalmente assentiu. voltou a se sentar dentro da Kombi, vendo seu irmão e Kiara pularam a grade que cobria o farol, seguindo o caminho até a torre. Pope se sentou debaixo de uma árvore, começando a estudar sobre algo. JJ brincava de fazer embaixadinha com uma laranja que ele achou caída no chão, até que a fruta se desfez ao cair, por estar um pouco estragada. Maybank se aproximou da Kombi e revirou o porta-luvas, frustrado por não encontrar nada. Então, ele procurou no bolso e ficou aliviado ao encontrar o cigarro que tinha enrolado mais cedo.
— Quer? — JJ ofereceu o cigarro de maconha, antes de acender.
— Na verdade, eu quero sim — ela sorriu, pegando o baseado, colocando em sua boca e acendendo com o isqueiro que estava na mão de JJ, dando a primeira tragada ao acender. JJ estava a encarando em animação, como se estivesse fazendo algo divino e inesperado, o que fez a garota rir. — Por Deus, John B vai me matar se descobrir.
— Minha garota está de volta! — ele disse, animado.
Maybank se apressou, se sentando no chão da Kombi ao lado da garota, pegando o beck de sua mão, começando a fumar junto a ela. Fazia um bom tempo que eles não dividiam um cigarro, devido a pausa da garota, mas, após ter dias tão estressantes seguidamente, não achou motivos para se recusar a compartilhar um baseado com JJ, que parecia estar realmente feliz por estar fumando com ela novamente. também estava feliz, sentindo que finalmente estava tendo um tempo para esquecer o resto de seus problemas e tudo que estava acontecendo e apenas aproveitar o momento.
— Me sinto tão leve quanto o dia em que fumamos pela primeira vez — JJ disse, relembrando quando eles experimentaram pela primeira vez, fazendo a garota rir.
— JJ, aquela vez a gente fumou um prensado tão ruim, que nem sei como a gente teve alguma brisa — disse , fazendo o loiro concordar.
— Relaxa, princesa. Agora é somente da flor, apenas do melhor para você! — JJ argumentou, passando o beck de volta para a garota, apoiando a cabeça no ombro dela.
agradeceu por JJ não estar prestando muita atenção nas coisas, não percebendo o quanto as bochechas dela ficaram vermelhas com o comentário. Odiava quando, sempre que estava somente ela e JJ, uma hora ou outra, acabava corada, envergonhada ou com borboletas em seu estômago — quando não sentia tudo isso ao mesmo tempo.
Sirenes da polícia foram ouvidas na distância, fazendo JJ e apagarem o cigarro. Com rapidez, os três se encararam, concordando em sair dali o mais rápido possível. Pope ligou a Kombi, dirigindo para longe, de volta para a cidade.
— E o que a gente faz agora? — perguntou, olhando para os garotos.
— Eu vou para casa, tô cansado — JJ falou, deitando-se nas pernas de , a fazendo sorrir, ainda com o efeito do baseado em seus organismos.
Os dois se encaram por alguns segundos. começou a tentar fazer mini trancinhas no cabelo loiro do garoto, e os dois riram enquanto ainda se encaravam, sem saber exatamente como agir ou o que fazer, provavelmente ainda afetados pelo efeito da maconha.
— Ei, Pope, quer ir lá em casa? — perguntou, olhando o amigo pelo retrovisor.
— Pode ser, eu tento ajudar a arrumar as coisas — Pope falou. Com um aceno de cabeça, Pope prosseguiu, dirigindo a Kombi em direção à casa de JJ. As risadas suaves do trio, entre algumas conversas bobas e o som do motor, preenchiam o silêncio. JJ, de olhos fechados, suspirou, relaxando enquanto continuava brincando com seu cabelo. Quando chegaram à casa de JJ, ele se despediu com um sorriso sonoro, se levantando e saindo do veículo, se afastando dos dois amigos. A Kombi voltou a roncar, desta vez em direção ao Castelo.
Assim que chegaram, entrou em sua casa, olhando para o redor, vendo o local completamente bagunçado. Havia inúmeras coisas espalhadas pelo chão, papéis, almofadas, os quadros de fotos em família e mais algumas bagunças que a garota não tinha certeza se quem fez foram os homens ou os próprios Pogues. e Pope tentaram arrumar um pouco a sala, jogaram algumas coisas no lixo, organizaram as coisas caídas no chão, concordando que grande parte daquela enorme bagunça havia sido os Pogues que haviam feito.
suspirou, cansada, se jogando no sofá, não querendo olhar os outros cômodos, ficando exausta apenas de pensar. Pope dava uma volta pela casa, analisando o resto do local. Ele parou em frente à porta do quarto da garota, antes de chamá-la, o que a fez se levantar às pressas, indo em direção ao amigo. O quarto de parecia estar apenas um pouco mais bagunçado do que o comum, a única diferença era que daquela vez as suas gavetas estavam abertas, desviradas e até mesmo jogadas no chão. A garota suspirou em desânimo, se ajoelhando no assoalho ao perceber a sua velha caixa de madeira e suas fotos espalhadas pelo chão, agarrando a caixa com rapidez, garantindo que não estava quebrado. Aquilo pertencia à sua mãe, lembrava brevemente de como Harley Routledge guardava fotografias ou qualquer coisa manual, como cartões mal feitos, que fazia quando estava na pré-escola. Entre a tinta desgastada e borrada, ainda era possível ler embaixo da caixa “memórias da minha ”, a fazendo sorrir, nostálgica, pela caligrafia de sua falecida mãe.
— Lembra desse dia? — Pope disse, mostrando a foto, que era mal centralizada, pois não conseguiam ver como estavam posicionados. O grupo de amigos ria em direção à câmera que segurava, com a cerveja em mãos. sabia que Heyward havia chamado sua atenção para a imagem na tentativa de amenizar a preocupação da amiga, pois aquela foto havia sido tirada há algumas semanas. — Você passou mal e eu tive que segurar seu cabelo enquanto John B ria de você.
— Você sempre foi um bom amigo, Pope — disse, e o garoto sorriu, colocando a mão no peito, fingindo emoção pelo que a garota falou.
— Cadê sua câmera, aliás? — Heyward perguntou, guardando as fotografias de volta na caixa.
— Esqueci na casa da Kie — a Routledge falou, dando de ombros, voltando a guardar as polaroides na caixa.
sempre gostou de tirar fotos, Big John sempre dizia que o maior erro dele havia sido comprar uma câmera polaroide barata em uma lojinha de usados para ela em seu aniversário de treze anos. A garota adorava tirar fotos de seus amigos, da praia e de qualquer coisa que ela achasse fotografável, e, quando começou a trabalhar, sempre guardava um pouco de dinheiro para comprar mais filmes para sua velha câmera.
— Sua mãe era amiga de Charles Thornton? — Pope perguntou, curioso. desviou o olhar, vendo a foto rasgada e estragada nas mãos do amigo, confusa com a pergunta de seu amigo.
— Não que eu saiba, pelo menos — falou, dando de ombros. — Esse é o cara que eu deveria chamar de pai. — Pope continuava confuso, esperando uma explicação. — Quando minha mãe morreu, Big John tentou achar meu pai para que ele nos ajudasse de alguma forma, porque ter que sustentar eu e JB seria muito difícil sozinho. Reviramos a casa em busca de algo e tudo que ele achou foi essa foto, ele me entregou e disse que meu pai era um merda e nunca mais falou no assunto — ela explicou, não dando muita importância para o assunto, até olhar para a cara de Pope, vendo a expressão do amigo. — Espera, você realmente acha que esse cara na foto é o pai de Topper?
Pope suspirou, segurando o ombro da amiga como se estivesse tentado confortá-la, ao mesmo tempo que tentava se acalmar.
— , eu fui fazer entrega na casa dele semana passada e a única diferença é que agora ele tem cabelo branco. — Pope tentava manter a calma com a descoberta, ele engoliu em seco, tentando organizar seus pensamentos. — Topper é mais velho que a gente, isso quer dizer que Charles Thornton e sua mãe tiveram um caso enquanto ele já era casado.
sentiu um peso estranho no peito. A revelação era um soco direto no estômago, mas era a sensação de traição que a machucava ainda mais. A raiva e o desapontamento se misturavam em sua mente tumultuada. Ela não sabia se estava mais irritada por saber que sua mãe tinha se envolvido com um homem casado ou pelo fato de que nunca teve a chance de confrontá-la sobre isso. A lembrança de sua mãe, que sempre parecia ser a pessoa mais gentil e adorável que poderia conhecer, estava agora manchada com uma realidade dolorosa que ela nunca havia imaginado.
respirou fundo, seu olhar se fixando na foto rasgada novamente. Uma ideia desesperada se formou em sua mente, e um pequeno sorriso se formou em seus lábios, enquanto tudo ainda se juntava em sua cabeça.
— O que você está pensando, ? — Pope olhava para a amiga, preocupado.
— Vou até ele — falou, decidida. — Vou encontrar Charles Thornton e falar que sei do antigo caso dele com minha mãe, que ele é meu pai e que preciso de dinheiro, e, se ele não me ajudar, digo que contarei tudo que sei para a mulher dele.
Pope franziu a testa, surpreso com o plano irresponsável e até um tanto sem nexo. Ele sabia que ela estava agindo por impulso e que isso poderia causar problemas para a amiga, mas também entendia a dor e a frustração dela, principalmente após tudo que havia acontecido nos últimos dias.
— , você não está pensando direito! — Pope falou. — Nem sabemos como ele pode reagir a tudo isso. Deve estar meio chapada ainda para achar que isso é uma boa ideia.
A porta da casa foi aberta, a voz de John B invadiu o local enquanto chamava pelo nome da irmã, verificando se ela estava em casa. respondeu ao irmão, avisando que estava em seu quarto, guardando a velha foto com pressa de volta na caixa.
— Irei pensar melhor, tá bom? — ela cochichou para Pope. — Mas não pode contar para ninguém sobre isso.
Pope assentiu, ajudando a garota a guardar as últimas fotos no chão, vendo John B parar na porta do quarto, encarando os dois. Heyward se levantou, ficando ao lado de John B, fazendo um toque elaborado com o garoto. Olhou para , que ainda estava sentada no chão, e fez um gesto com suas mãos, fingindo trancar a boca com uma chave e depois jogou a chave imaginária para longe, o que fez sorrir, antes de o garoto se despedir, dizendo que seus pais iriam matá-lo por demorar para voltar para casa logo.
Assim que Pope saiu, escondeu a sua caixa de madeira no fundo de seu guarda-roupa, caminhando até a sala de estar, encontrando o irmão esparramado no sofá, parecendo estar perdido em seus pensamentos. A garota se sentou ao lado de John B, respirando fundo, pensando no que fazer.
— Se alguém que você admira muito te decepcionasse, o que você faria com essa admiração? — perguntou, olhando para os pequenos quadros em família na parede. John B pareceu meio confuso de início, mas logo entendeu a pergunta.
— Bem, minha mãe decidiu se mudar para o Colorado para ter uma nova família e eu gostava dela… — ele ficou alguns segundos em silêncio. — O pai nos xingou, pegou o resto do dinheiro e foi em busca de um barco que ele era obcecado… então, Bunny, eu não sei para onde vai a admiração.
esperava que a conversa fosse para algo triste, mas, assim que percebeu que John B a encarava com um sorriso divertido, ela sorriu, ao perceber que seu irmão iria rir dos problemas. Gostava quando podiam encarar tudo aquilo de uma forma mais leve e sem muitas angústias.
— Está falando sobre Big John, não é? — o garoto perguntou.
não queria contar a verdade, não naquela hora, pelo menos. Claro que, quando percebeu que Big John provavelmente havia se enfiado em uma enorme confusão com aqueles caras fortes com o dobro do tamanho dela, que agora estavam atrás deles, não poderia ficar aflita por causa daquilo, a garota apenas concordou com a cabeça. Seu irmão se levantou com rapidez, fazendo sinal para ela ir atrás dele, o que foi feito por , que caminhou pelo curto corredor da casa ao lado de John B até o escritório do tio.
— Acho que está na hora de seguirmos em frente — John B disse.
A cabeça de virou para o lado, de forma tão rápida que pôde ouvi-la estralando. Ela encarou John B, um tanto quanto surpresa e ainda confusa, se apoiando no batente da porta, enquanto suspirava. O garoto continuava a recolher os documentos velhos de pesquisa de Big John, colocando tudo em algumas caixas que estavam ali por perto.
— Não precisamos fazer isso agora, podemos ir apenas para a sala, assistir TV, beber um refrigerante e conversar sobre o assunto — sugeriu.
— Primeiro, estamos sem luz, não tem como assistir nada na TV — John B falou. — Segundo, não temos o que falar sobre isso, não preciso de uma sessão de terapia.
não sabia se ela estava pronta para jogar tudo fora, eram as coisas de Big John, do homem que a acolheu e cuidou como uma filha, não era nada fácil de se fazer, aquilo pertencia ao seu pai. Talvez, ela pudesse se afundar na fantasia de John B e aguardar o homem voltar, e se seu irmão estivesse certo? E se o pai deles não estivesse morto? Quando Big John voltasse, ele iria ficar furioso ao saber que eles jogaram fora todas as coisas do escritório dele.
O coração de acelerou, um nó em sua garganta se formou, a fazendo pressionar os olhos com força. Era muita coisa para ela lidar em apenas um curto período, ela achou um barco naufragado, fugiu de contrabandistas e agora teria que jogar as coisas de Big John fora, tudo isso em menos de uma semana. Ela não estava preparada para tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, sua cabeça estava tão confusa e eufórica quanto o resto de seu corpo.
— Vamos fazer uma fogueira lá fora. Queimar tudo — disse John B.
— Não — falou, firme, colocando o braço pela porta, impedindo o irmão de passar. — Ainda está muito cedo para jogarmos isso fora…
Dessa vez, foi John B que encarou a irmã confusamente.
— Não sei se estou pronta — ela murmurou, baixo.
John B suspirou, parecendo estar preocupado, ficando em silêncio por alguns segundos. olhava para o irmão, como se pedisse desculpa com os olhos, sentindo-se mal por não conseguir seguir em frente. Algumas horas atrás, contava para Kiara como estava preocupada com John B, falando como estava com medo de seu irmão não seguir em frente. Agora, se sentia culpada por John estar pronto e ela não.
— , vamos fazer isso juntos, tudo bem? — John B falou, tentando reconfortá-la. — Eu queimo as coisas do escritório e você joga fora os lixos espalhados, vai fazer bem.
John B passou os braços pelos ombros da irmã, a abraçando de lado, demonstrando apoio, brincando de forma boba com a garota, na tentativa de diminuir o clima tenso. riu, concordando em ajudar a queimar as coisas.
Não demorou muito para a pilha de lixo no jardim ficar enorme, John B estava certo, fazer aquilo juntos tinha se tornado algo muito mais fácil e libertador do que achava. Assim que as últimas caixas foram jogadas na pilha, o garoto começou a jogar gasolina por toda a parte do monte de lixo. a acendeu e jogou o fósforo, fazendo o fogo emergir por todo o lixo em pouquíssimos segundos, assistindo às chamas se formarem.
pode ver um pedaço de cortiça onde estavam penduradas algumas fotos de seus familiares que agora estavam sendo queimadas pelo fogo. Em um movimento rápido, ela puxou o painel, que já estava metade em chamas. A garota tentava apagar o fogo com os pés, pisando na cortiça. John B encarou a irmã como se ela fosse louca, a puxando para trás assim que ela apagou o fogo do painel. apenas pegou o pedaço de papel queimado, que estava pendurado na cortiça, mostrando para o irmão.
— Olivia R. Routledge — falou, olhando para o garoto. — Sabe o que isso significa, não é?
John B sorriu para ela no mesmo instante enquanto dizia o quanto a garota era genial. Eles se apressaram a pegar as chaves da Twinkie para buscarem seus amigos.
Em poucos minutos, John B e estavam dentro da Kombi, juntamente com JJ e Pope, que tinham acabado de buscar, alegando ser uma “reunião de extrema importância”. A garota olhou o irmão estacionar em frente ao The Wreak, o restaurante do pai de Kiara. Os quatro se encararam, se perguntando quem iria chamar a garota, mas, antes de qualquer um poder dizer algo, Pope suspirou, avisando que iria. se ajeitou no banco do passageiro, apoiando seus pés no painel da Kombi, olhando para seus Vans vermelho vinho, que agora pareciam marrons, mais sujos que o normal.
Quando Pope voltou, desacompanhado de Kiara, os amigos se encararam, confusos.
— Ela disse que não vem — Pope falou, se apoiando na janela de John B.
— O que você fez, cara? — JJ perguntou para John B.
— Vou falar com ela — disse.
— Não, deixa que eu resolvo — John B falou, saindo da Kombi.
brincava com as pulseiras em seus braços. Assim que seu irmão entrou no restaurante, a garota olhou para os dois garotos no banco de trás, com um sorriso divertido em seu rosto.
— Querem apostar quanto que eles se beijaram?
— Você acha? — Pope perguntou, a garota assentiu com a cabeça. — E o lance de Pogue não pega Pogue?
— Eu já falei, deveríamos acabar com isso, cara, essa regra nem faz sentido — JJ murmurou.
— John B te falou algo? — Pope perguntou, curioso.
— Não, apenas intuição — deu de ombros. — Por qual outro motivo Kie não iria querer fugir do trabalho? E por que será que John B quis ir falar com ela? Pense um pouco, Pope.
Assim que terminou a frase, os três conseguiram ver John B e Kiara se aproximando da Twinkie. Carrera entrou no veículo, sorrindo, cumprimentando os amigos. John B apenas deu partida, começando a dirigir rapidamente em direção ao cemitério.
— Sei que errei sobre o farol! E sobre quase todo o resto — John B falou, dirigindo —, mas dessa vez quem está certa é a , meu pai está tentando nos dizer algo.
Um vinco surgiu entre as sobrancelhas de Kiara enquanto ela assistia à sua amiga sorrir, animada. Os três adolescentes no banco de trás se olharam, confusos, assim que John B estacionou o veículo no cemitério e logo todos começaram a seguir os dois irmãos.
— John B, esse lugar é assustador — Kiara falou, apontando a lanterna para conseguir ver por onde andava. — Para onde estamos indo?
O caminho para o cemitério estava escuro, sem nenhuma iluminação aparente, a única fonte de luz eram as lanternas que os Pogues tinham.
— Sabe quando você quer se lembrar de uma música, mas não se lembra de quem canta? — John B falou, fazendo os amigos concordarem. — Esse tempo todo, eu achei que Redfield era um lugar, até eu e descobrirmos… — ele apontou para a irmã, esperando-a completar a frase.
— Que Redfield não é um lugar, é uma pessoa — ela completou, animada, John B sorriu.
— Espera, desde quando também acredita nisso? — Pope falou, confuso, olhando a amiga.
— Johnny está certo, Big John quer falar algo para a gente — a garota disse, olhando para os amigos atrás deles.
JJ, Pope e Kiara soltaram suspiros, preocupados. O loiro passou a mão pelo cabelo, se culpando por oferecer a maconha para a garota mais cedo, mesmo, no fundo, sabendo que o efeito de toda a erva já teria passado àquele ponto. JJ sabia que algo deveria ter acontecido para a garota simplesmente começar a acreditar em John B de uma hora para outra.
Os cinco pararam em frente ao grande túmulo, escrito com letras enormes.
— Apresento a vocês a nossa tataravó, Olivia Redfield — falou, parando em frente ao túmulo, apontando com a sua lanterna para o sobrenome gravado em cima da lápide.
— Redfield é o sobrenome de solteira dela! — John B explicou. — Me ajudem aqui com essa porta!
Os três garotos foram em direção à lápide, tentando empurrar sua porta, o que era obviamente uma tentativa falha, enquanto Kiara e assistiam aos garotos.
— Está falando sério? — Kiara olhou para a amiga. — Acredita nisso tudo mesmo?
— Eu acredito que ele não iria embora sem deixar nada, não é? — sorriu, fraco. — Não sei se ele morreu ou não, mas sei que ele quer nos falar algo, Kie, ele sabia que só eu e John B conseguiríamos descobrir sobre nossa avó e…
Antes de conseguir concluir seu pequeno monólogo, se assustaram ao ouvir JJ latindo em direção à parede da lápide. As duas se encararam e caminharam até a direção do loiro. puxou Kiara para trás, assim que avistou uma cobra passar por elas, indo em direção ao mato.
— Que porra você está fazendo? — perguntou, puxando para longe da lápide.
— É um mocassim d'água, são venenosas e todos sabem que elas têm medo de cachorros — ele falou, como se fosse óbvio —, e, se tem uma, provavelmente tem mais! — JJ disse, antes de voltar a latir.
— Para, você vai acordar os mortos — Pope ironizou.
— Você quer parar? Está me assustando — Kiara reclamou, apreensiva, ignorada pelo garoto.
Kiara e avistaram uma pequena passagem em cima da porta. Ao avisarem os meninos sobre o buraco na lápide, os Pogues começaram a discutir sobre como e quem deveria passar por ali. A Routledge analisava a estrutura, beliscando o dorso de sua mão, na tentativa de conter seu medo e ansiedade de entrar no túmulo. Ela respirou fundo, olhando o lugar mais uma vez, antes de dar um passo à frente, olhando para os amigos.
— Eu posso entrar — disse, olhando os garotos.
— O quê? Não! — JJ e John B falavam ao mesmo tempo.
— É pelo nosso pai, eu posso fazer isso — falou, decidida.
— Eu posso ir com ela! — Kiara disse, tentando acalmar os garotos, fazendo sorrir.
— Agora as duas podem morrer! — Pope falou, estressado.
— A única pessoa morta lá dentro vai ser a minha avó — brincou, fazendo todos ficarem em silêncio.
Depois de mais algumas breves discussões entre o grupo, decidiram que as duas garotas iriam entrar no túmulo em busca de algo deixado por Big John. JJ respirou fundo, olhando para por alguns segundos. “John B não vai te culpar se você não quiser entrar” murmurou o loiro, mas apenas decidiu ignorá-lo, vendo-o apoiar as costas na pedra do túmulo, juntando as duas mãos em sua frente, fazendo um apoio para as garotas subirem.
— Você coloca o pé aqui, eu te dou impulso, você sobe e Kiara vai atrás de você — JJ explicou. — , toma cuidado.
sorriu, assentindo com a cabeça. Ela respirou fundo, tentando buscar um pouco mais de coragem dentro de si mesma, pulando e entrando no túmulo escuro. Ao ligar a lanterna, ela conseguiu ver, ainda com bastante dificuldade, que o local estava repleto de poeira, teias de aranhas e alguns insetos, o que a fazia ter arrepios. Kiara pulou atrás dela segundos depois, exatamente como JJ tinha avisado. Mesmo com a lanterna, a visão era difícil de enxergar.
— A gente precisa de mais luz! — Kiara falou.
Os meninos apontaram uma lanterna para dentro, melhorando a visualização do local. Kiara e começaram a procurar por algo, não sabiam exatamente o que, mas Routledge sentia que elas deveriam achar algo ali.
— , olha isso aqui — Kiara falou, entregou um envelope para a amiga.
O envelope empoeirado fez sorrir, orgulhosa, o seu coração começou a bater forte, como se ele se enchesse de esperança, algo que fazia tempo que ela não sentia, não quando se tratava de seu pai. Pelo menos, limpando um pouco a sujeira do papel, na tentativa de achar alguma escrita que afirmasse que aquilo fosse de Big John, mas estava tão escuro e sua cabeça estava tão eufórica, que nem sequer conseguia raciocinar as coisas direito. Ao sentir Kiara segurando a sua mão, ela olhou para a amiga, que fez sinal para as duas saírem do local escuro.
apoiou os pés nas paredes, dando impulso com os pés para conseguir pular até o buraco e sair do túmulo, olhando para John B, que olhava, ansioso, para as garotas. Ela passou as mãos pela roupa, na tentativa de tirar um pouco da sujeira, e andou com um envelope em mãos até John B, que sorriu, a abraçando.
Só naquela hora que conseguiu ver a escrita na parte de trás do envelope que dizia “para Bird e Bunny”.
— Estávamos certos, Bird — ela sorriu.
— Código vermelho! Traficantes! — JJ falou, chamando a atenção de todos.
Os cinco correram para algum lugar onde pudessem se esconder, indo para trás de um pequeno muro que dividia o cemitério, se apressando em apagar as lanternas. tentou espiar os homens, mas a única coisa que conseguiu ver foi o carrinho de golfe que os homens usavam, pois JJ a puxou de volta rapidamente, a olhando com um olhar repreensivo. Não que a garota conseguisse ver muito no escuro, mas mesmo assim conseguiu entender a feição do loiro.
— Será que são os caras que invadiram o castelo? — Kiara sussurrou.
— Aquele ali está armado — JJ pontuou.
— Quer saber? Foda-se — Kiara falou, se levantando e correndo em direção ao portão do cemitério, seguida pelo resto de seus amigos.
John B escalou o muro logo atrás de Kiara, se pendurando em cima, estendendo o braço para , a ajudando a pular. Logo atrás deles foi JJ, que sacou uma arma, apontando para dentro do cemitério. Pope, que tentava escalar o portão, enroscou seu calção na grade, fazendo ter uma grande crise de riso. Com a ajuda de Maybank, Pope saiu do portão, apenas com uma cueca boxer, correndo em direção à Kombi.
John B dirigia enquanto todos ainda gargalhavam, com exceção de Pope, que estava constrangido. Durante aqueles minutos, os Routledge simplesmente esqueceram de que tinham um envelope com possíveis informações sobre seu pai.
— Bela cuequinha, Pope — falou, rindo.
— A minha é mais bonita, você quer ver? — JJ provocou, fazendo-a rir, revirando os olhos, reparando os olhares confusos de John B pelo retrovisor.
— Cara, por que pular pela grade? — falou, mudando de assunto rapidamente.
— Fiquei nervoso, não pensei direito — falou, apressado.
O caminho de volta para o Castelo foi calmo e animador, continuavam com as piadas sobre Pope e teorizaram sobre o que poderia ter no envelope.
A garota estava nervosa, tinha medo de quebrar suas expectativas, de que não tivesse nenhuma mensagem de seu pai, de John B se afundar solitariamente igual quando Big John foi dado como morto, não sabia se conseguiria passar por tudo aquilo sozinha de novo.
Mas uma parte dela tentava ser positiva, gostava de pensar que uma simples carta com uma explicação sobre tudo que aconteceu aliviaria seu coração da perturbação de achar que tinha sido culpa deles a possível morte de Big John, pois a noite na qual ela viu seu pai pela última vez havia sido tão confusa e dolorosa, que as memórias se confundiam na cabeça de . Tudo foi muito estranho, a única coisa que a garota se lembrava com clareza era de trovões, seu pai os abandonando, chuva forte, John B indo para seu quarto e fechando a porta com força, o vento e ela chorando no canto da sala de estar, encarando a entrada da casa durante a noite toda, na esperança de que Big John voltasse.
Lembrava de ser exatas cinco horas da manhã quando JJ entrou na casa, seu lábio machucado, mostrando que ele havia provavelmente fugido de uma briga com o pai bêbado. se recordava bem dessa parte. Quando Maybank entrou, ela o olhou, preocupada, mas mesmo que ele estivesse machucado, sem pedir nada, pareceu entender tudo. Ajudou-a a se levantar, a levou para o quarto e se sentou no chão, em silêncio, segurando a mão de .
Depois daquele acontecimento, sentiu que eles ficaram mais próximos que antes, como se, naquela noite, JJ houvesse visto de uma forma tão sensível, que a protegeria de todo o resto. Bem, era aquilo que Maybank estava tentando fazer desde aquela noite.
No Castelo, o grupo se amontoou na sala, em volta da pequena mesa. buscou mais algumas velas no seu quarto, para terem mais clareza ao tentar ver as coisas do envelope.
— Esse pão mofou há uns três dias! — falou, se aproximando da cozinha.
— Vou tirar as partes mofadas e ele fica bom, além disso, o mofo é um organismo natural, deve fazer bem — Maybank falou, se concentrando em tirar algumas partes mofadas do pão.
— Uau, a maconha realmente está acabando com seu cérebro — ela riu.
— Quer falar sobre fumar maconha, ? — JJ perguntou, ironicamente.
— Shhh — colocou o dedo indicador sobre sua própria boca, sorrindo, travessa, saindo da cozinha, ouvindo a risada de JJ.
ficou ao lado de seu irmão e Kiara, Pope e JJ chegaram alguns segundos depois. Todos os cinco adolescentes rodeavam a mesa, olhando para o envelope ao centro.
— Pronta? — John B perguntou, olhando para a irmã.
Assim que a garota assentiu com a cabeça, John B pegou o envelope, o rasgando e tirando as coisas que tinham dentro, espalhando-as sobre a mesa.
Eram apenas algumas anotações em mapas sobre o Royal Merchant naufragado, coisas que e John B já tinham ouvido Big John mencionar um bilhão de vezes, mais algumas anotações soltas e uma espécie de gravador velho.
— O x marca o local — Pope falou, apontando para o desenho de x no mapa.
— Longitude, latitude… — John B murmurou, olhando o mapa.
Enquanto os garotos estavam observando os mapas e as suas anotações, olhava o gravador curiosamente, não se lembrava de ter visto seu pai usando um daqueles. Ela assoprou o objeto, na tentativa de tirar um pouco da poeira que tinha sobre o gravador. Esperou a afirmação do irmão e, no momento em que John B colocou de lado os documentos e anotações, centralizou o gravador na mesa, clicando no botão para ouvirem a gravação.
“Bird e Bunny. Odeio dizer que avisei vocês, mas avisei, e vocês duvidaram do seu velho. Conhecendo vocês, acredito que estejam cheios de dúvidas e raiva de vocês mesmos por causa da nossa última briga. Mas não se matem ainda, crianças. Eu também não esperava achar o Merchant. Vocês tinham razão em jogar tudo na minha cara, eu mereci a bronca, não fui o melhor pai do mundo. Mas o que eu posso fazer? Senti cheiro de ouro! Espero que a gente esteja ouvindo isso no nosso casarão na Costa Rica, vivendo de rendimentos passivos e investindo em imóveis. Se não for o caso e vocês encontrarem isso por razões ruins, é para isso que serve o mapa. Lá está ele, o Merchant naufragado. Se algo acontecer comigo, crianças, façam a melhor aventura que Bird e Bunny poderiam ter, façam isso juntos e terminem o que comecei, peguem o ouro. Amo vocês, mesmo sem demonstrar, cuidem um do outro. Vejo vocês no fim da estrada!”
não soube quando começou a chorar, quando suas pernas se enfraqueceram ao ponto de não conseguirem sustentá-la de pé, sua cabeça abafava todo o som ao seu redor, ouvia seus amigos perguntando se ela estava bem, mas sua voz não saía da boca. Tudo que sentiu foi o corpo de JJ a abraçando, mesmo que ela não tivesse forças para abraçá-lo de volta, apenas mantendo seu rosto pressionado contra o corpo dele, se escondendo de toda a dor que estava sentindo.
não sabia se gostava daquilo, de não ter trocado nenhuma palavra com seu irmão, ela implorava internamente para que ele não se fechasse como tinha se fechado há nove meses, mas uma parte pequena de si sabia que não haveria muito o que falarem um com o outro, apenas a companhia e um sorriso que dissesse: “ei, vamos ficar bem”, provavelmente já estaria de bom tamanho para os dois.
Também não havia falado com JJ, chorou abraçada com o garoto por um bom tempo. Depois que ela se acalmou, não trocaram nenhuma palavra, mas percebia os olhares preocupados que ele lançava para a garota após alguns minutos, verificando se ela estava bem. Era uma mania de JJ, toda vez que estava mais frágil, por qualquer motivo que fosse, o garoto ficava de olho nela igual a um cachorro protegendo a casa de seus donos e, se sentisse que ela estava pior que antes ou que algo havia acontecido, JJ aparecia, perguntando o que aconteceu e garantindo que ficasse bem.
— Quanto era mesmo? — JJ perguntou, cortando o silêncio. — Quatro milhões?
— Quatrocentos milhões — Pope o corrigiu.
— Certo, antes que falem para a gente dividir por igual, devo lembrar que sou o único que pode nos defender daqueles traficantes — JJ falou, erguendo a arma. — E proteção custa caro.
— Você nem tem treinamento! — Pope argumentou.
— Internet, cara! Mereço pelo menos uns 5% a mais, alguma objeção? — JJ falou, , Pope e Kiara levantaram as mãos, mas ele ignorou. — Acho que não!
— O que vai fazer com seus 80 milhões, Pope? — Kiara perguntou, olhando o garoto em sua frente.
— Pagar a faculdade adiantada e os livros, que são muito caros — Pope explicou.
— E você, Kiara? — JJ perguntou.
— É, o que uma socialista faz quando fica rica? — perguntou Pope, fazendo rir, fraco.
— Quero gravar um álbum. Sobre Outer Banks, Pogues… — ela sorriu. — No meu estúdio, o Peter Tosh vai produzir.
— Peter Tosh não morreu? — perguntou, confusa.
— A alma de Tosh nunca morre — Kiara falou. — E você, JJ?
— Vou comprar uma casa enorme no Figure 8, com uma estátua minha na frente! Vou virar um Kook! — ele disse, animado.
— Eu não vou te visitar — Kiara comentou.
— E você, ? — JJ perguntou, olhando a garota.
poderia fazer tantas coisas com 80 milhões de dólares, que mal conseguia pensar, poderia viajar o mundo, conhecer pessoas novas, viver uma vida nova e nunca mais pensar em voltar para Outer Banks, esse era seu maior sonho desde que Big John morreu, poder ir para o mais longe possível daquela cidadezinha, mas, por algum motivo, não conseguia se imaginar totalmente feliz morando fora da ilha. Aquele lugar parecia às vezes amaldiçoar a sua vida em todos os momentos e, mesmo assim, Outer Banks continuava parecendo um paraíso na terra para a garota.
Sentia que uma parte de si sempre pertenceria à Outer Banks, ao Cut, com os sábados de pescaria, festas na praia, à vizinhança que ela conhecia desde sempre. Mesmo que os Kooks fossem insuportáveis, a pequena ilha sempre soava como lar para , embora achasse que, se realmente tivesse alguma oportunidade, sairia da cidade com um peso dentro de si.
— Quero me mudar para o México ou para o Brasil, quem sabe eu consiga abrir o meu próprio bar, andar de skate todo dia, só eu e o Sirius — fantasiou. — Uma vida calma e simples.
— Sirius? — Pope perguntou, confuso.
— Meu futuro cachorro — ela explicou, os amigos riram. — E você, Johnny? O que irá fazer com a sua parte?
— Um brinde a virar Kook! — John B falou, erguendo sua latinha de cerveja, fazendo todos os amigos gritarem animados.
sorriu para o irmão, que sorria para ela, sentindo um alívio enorme em seu corpo ao perceber que John B estava bem, ele estava sorrindo e visivelmente animado com a ideia de todo aquele dinheiro. Bem, todo mundo estava feliz e fantasiando uma vida com todo aquele possível dinheiro.
Continuaram assim por algum tempo, conversando sobre como poderiam gastar toda aquela quantia. ficou em silêncio o tempo todo, ouvia seus amigos com atenção e até ria de alguma baboseira que JJ falava, mas, no fundo, a garota se perguntava se aquele ouro todo que seu pai comentou na gravação realmente existia e onde ele estaria, pois, se realmente estivesse naufragado com um barco, eles não poderiam apenas nadar até lá e pegar o ouro, não era tão fácil assim. Pelo que a garota ouvia seu pai falar, o Royal Merchant estava a vários metros embaixo da água.
John B já tinha um plano por completo, iriam entrar no Hotel do Country Club, onde JJ já tinha trabalhado, pois eles tinham geradores de energia e internet, ao contrário do Cut, que estava em completa escuridão desde o Aghata. Com isso, eles conseguiram pesquisar as coordenadas que Big John havia deixado nas anotações.
— , nós vamos dormir, você vem? — perguntou Kiara.
assentiu com a cabeça, virando sua latinha de refrigerante, antes de começar a seguir seus amigos para dentro do castelo, passando pelas velas espalhadas pela casa que estavam derretendo lentamente. Kiara se ajeitava no sofá-cama, Pope se aconchegou em uma das poltronas, apenas continuou seu caminho em direção ao seu quarto, pegando uma antiga lanterna de querosene, levando com ela, enquanto se despedia dos Pogues, com um leve resmungo, desejando boa noite para todos seus amigos.
Encarando seu quarto por alguns segundos, viu a bagunça casual de seu quarto, nada comparada com o que estava mais cedo, antes de ela e John B terem feito uma pequena faxina na casa, mas ainda havia uma enorme bagunça, a qual fazia a garota se sentir estranhamente confortável. praticamente se jogou em sua própria cama, encarando o teto. Ela estava exausta, as últimas horas haviam sido estressantes, turbulentas e tão tristes, que ela nem sequer conseguia acreditar que tudo aquilo havia acontecido em apenas um único dia. Sentiu suas costas descansarem, como se um peso enorme saísse de cima delas, um alívio rodeou seu corpo por completo, a fazendo se perguntar se o motivo de tudo aquilo era por ter a resposta completa sobre seu pai que ela esperava desde que ele havia desaparecido no mar. Agora ela tinha a certeza que Big John estava morto, eram sentimentos confusos que nem mesmo ela entendia, e se sentia péssima por sentir esse alívio, por ter uma resposta verdadeira sobre seu pai e não ficar apenas vivendo em base de alguns e se… Ela se sentia culpada, pois tinha certeza que John B preferia viver apenas com as ideias de sua imaginação.
Avistando os porta-retratos em sua mesa de cabeceira, um deles tinha uma foto dela com os Pogues e a outra moldura, que era visivelmente mais velha, tinha uma foto dela juntamente com sua mãe, John B e Big John. sorria com um buraco entre os dentes, John B passava o braço pelo ombro dela, enquanto ambos os adultos sorriam para a foto. Não se lembrava exatamente do dia em que aquela foto havia sido tirada, mas, pelo que Big John contava, foi em um dia em que foram pescar juntos.
Foi então que se lembrou de Charles Thornton, seu dia foi tão cheio que nem sequer se lembrou da possibilidade de ser filha do homem. Na verdade, a garota não sabia se realmente queria ser a filha dele. Claro que a ideia de que um dos homens mais ricos da ilha poderia ser seu pai a animava, esse era o único motivo de ela querer ir atrás do homem, apenas pelo seu dinheiro.
— , está tudo bem? — A voz de JJ a assustou, ela avistou o garoto apoiado na batente da porta, a encarando, o que fez se perguntar há quanto tempo ele estava ali.
— Apenas um dia meio longo demais — sorriu fraco.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, sem saber o que falar um para o outro. JJ assentiu com a cabeça, lentamente, se virando de costas, pronto para voltar para seguir pelo corredor. o chamou:
— JJ, deita aqui — ela disse, dando batidinhas no colchão ao lado de onde ela estava deitada, com a voz tão baixa que, se a casa não estivesse em completo silêncio, o garoto provavelmente nem ouviria.
Para a surpresa da garota, JJ não negou, como ela havia imaginado, pelo contrário, ele apenas sorriu levemente, se aproximando da cama de , se deitando ao lado dela, assim como ela tinha pedido. Estavam deitados um de frente para o outro, em completo silêncio, conseguiam ver apenas um pouco do rosto um do outro, devido à iluminação baixa da antiga lâmpada de querosene. JJ sentia que havia algo diferente, parecia tão calma, o dia tinha sido estranho e até alguns minutos atrás no deque, a garota estava tão quieta, que até ele mesmo ficou ansioso por vê-la daquele jeito, mas agora ela parecia estar bem, ele conseguia perceber um pequeno brilho no olhar dela e um sorriso se formando no canto de sua boca. Antes de ao menos perceberem, ambos estavam dormindo, um ao lado do outro, de uma forma tímida, como eles nunca haviam feito.
— Estamos em território inimigo — explicou, olhando para os amigos.
— Guarde essa porcaria! — reclamou, passando as mãos pelo rosto.
— Cuidado nunca é demais — disse JJ.
Uma breve discussão entre John B e JJ se iniciou, era óbvio que, se eles fossem vistos dentro do Hotel com uma arma, eles iriam acabar extremamente encrencados e uma das últimas coisas de que os irmãos Routledge precisavam naquele momento era a polícia indo atrás deles. JJ afirmava que precisava levar o revólver, argumentando que, se encontrassem Kooks ou os traficantes novamente, poderiam ao menos ter uma tentativa de se defender. Em um movimento rápido, John B arrancou a arma de JJ, guardando no porta-luvas. Maybank começou a reclamar baixo, pegando seu crachá de funcionário. Pulando para fora de Twinkie, o garoto caminhou em frente aos amigos, os guiando.
— Para onde estamos indo? — Pope perguntou, curioso.
— Vamos usar a internet, porque só os ricos têm eletricidade — explicou JJ.
Os Pogues continuavam a seguir Maybank, que os levava para um pequeno escritório, na tentativa de conseguir internet para procurarem informações, de como acharem o Royal Merchant, mas tinha outra coisa em mente, que era descobrir o máximo de informações possível sobre Charles Thornton. Queria estar preparada para não cometer nenhum equívoco quando se encontrasse com o homem, também precisava pesquisar um pouco sobre as leis, não querendo parecer sem conhecimento em frente a Thornton, ficando com cara de tonta, para seu plano não ir por água abaixo.
Quando se aproximou do hotel, seu celular apitou com as notificações pendentes, conectando automaticamente com a internet do local. Arrancando seu celular do bolso, ela entrou em todas as redes sociais possíveis a procura de alguma imagem do homem mais novo que fosse compatível com a que ela tinha em casa, estava sendo um pouco mais difícil do que ela imaginava, já que as redes sociais de Thornton, na maioria das vezes, era sobre sua empresa, mas rolando um pouco o Instagram de sua esposa, ela achou a foto que ela poderia considerar premiada, a qual mostrava Charles Thornton igualzinho ao homem que estava com sua mãe. Rodeou o Google em busca das leis mais básicas sobre pensão para filhos, mesmo que não fosse registrado legalmente.
estava tão focada em stalkear o seu suposto progenitor que nem reparou quando já estavam na sala dos computadores, onde os seus amigos estavam procurando sobre as coordenadas do Royal Merchant naufragado. A garota apenas se apoiou na parede em um canto da sala, focada em seu celular.
— ! — Kiara a chamou. — Vamos!
desligou o celular e caminhou até os amigos de volta para a Kombi, onde eles comentavam algo sobre um drone, ficando confusa sobre todo o assunto, até tentou entender toda a conversa, mas desistiu no meio do caminho.
Pope teve que explicar todo o plano separadamente para a garota, a fazendo entender que o drone aquático, que estava no ferro-velho, seria para encontrar o barco naufragado e a única coisa que e Kiara precisavam fazer era tentar distrair o segurança do local para os garotos entrarem e conseguirem pegar o equipamento.
— Os humanos são os únicos animais que não diferenciam a fantasia da realidade — Pope murmurou.
— Você inventou isso, Pope? — perguntou John B.
— Albert Bernstein falou isso, mas se aplica direitinho à nossa caça ao tesouro — disse Pope. — Então, fantasia ou realidade?
— Fantasia, mas provavelmente realidade — Kiara falou, sorrindo.
— Pope, por que você é tão estranho, cara? — JJ disse, terminando de enrolar o baseado de maconha.
— Realidade — John B concluiu, sorrindo para a irmã, que sorriu de volta.
— Não perde o foco — Pope falou, jogando o baseado do loiro para longe. — Realidade? É sério? — o garoto reclamou.
— De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de lidar — falou , sorrindo, enquanto olhava para o amigo.
— Você acabou de citar Sócrates para mim? — Pope disse, incrédulo.
— Desde quando você sabe algo sobre Sócrates? — Kiara perguntou, confusa.
— O quê? Eu gostava das aulas de filosofia. — deu de ombros.
— O professor fumava muita maconha — comentou John B, rindo.
Minutos depois, as garotas desceram da Kombi, repassando o plano e o que cada uma falaria. John B e JJ ainda não pareciam gostar muito da ideia, mas era a única chance que tinham para pegarem o drone. Maybank falou mais uma vez para as garotas tomarem cuidado. As duas assentiram, começando a caminhar em direção à entrada do ferro-velho, e os meninos correram para se esconder.
— Olá, pode nos ajudar? — Kiara perguntou, para o segurança que se aproximava delas, as encarando do outro lado da grade.
— Claro, o que precisam? — perguntou o homem.
— Bem, a gente acha que o pneu do carro furou, mas não sabemos trocar — disse, fingindo estar tímida.
— Claro, garotas, eu ajudo vocês — o segurança falou, Kiara e fingiram um sorriso meigo enquanto ele voltava para buscar uma caixa de ferramentas.
— Foi facinho — falou, baixo, sorrindo para a amiga.
— Que otário — sussurrou Kiara, fazendo rir, desviando o olhar para onde os seus amigos estavam escondidos.
— Roubar um drone me deixa com fome — comentou Kiara, entrando no restaurante.
Os Pogues entraram no The Wreak, o restaurante estava totalmente vazio, visto que já estava tarde e provavelmente os pais de Kiara já estavam arrumando as coisas para fechar o estabelecimento. A Carrera foi em direção aos pais, enquanto os quatro esperavam apoiados na janela, recebendo um olhar não muito gentil dos pais da amiga. Eles apenas acenaram para o casal, encarando como quatro cachorrinhos perdidos que não comiam há dias.
— Vão sentar! — Kiara disse, fazendo os Pogues comemorarem.
se sentou entre John B e JJ, não demorou muito tempo para ganhar um pote de batatas-fritas, que ela devorourapidamente, juntamente com os garotos que também receberam suas próprias comidas.
— , presta atenção! — John B a chamou, mostrando que iria jogar uma batata frita. Ela acenou com a cabeça, fazendo o irmão jogar em sua direção e ela pegar com a boca, fazendo os dois gritarem, animados.
— Consegui! — falou, fazendo um high-five com o irmão por cima da mesa.
— Não brinquem com a comida! — Kiara os repreendeu.
Kiara terminou de servir os amigos, deixando a jarra de suco em cima da mesa. Ela ligou o rádio, que estava em cima da bancada do restaurante. A morena começou a dançar ao som de It's Never Enough do Audiodub, puxando John B para dançar junto a ela de forma engraçada no meio do restaurante, o que fez rir. A Routledge reparou no olhar estranho de Pope para os dois que dançavam. guardou isso em sua cabeça para questionar o motivo para o amigo no momento certo, não querendo questioná-lo sobre aquilo na frente de todo mundo.
— Está bem, ? — JJ perguntou, a garota assentiu, deitando a cabeça no ombro dele — O que aconteceu no hotel? Você não saiu do celular.
— Saudades da internet — mentiu , JJ também apoiou a cabeça nela.
JJ e perceberam os olhares de John B para eles, fazendo a garota franzir as sobrancelhas, confusa. O olhar visivelmente protetivo de seu irmão fez sentir um leve rubor em suas bochechas. Ela conhecia esse olhar de John B, ele sempre fazia isso quando a garota conversava com algum garoto que ele considerava “inadequado” em suas próprias palavras. O rubor em seu rosto se misturou com uma sensação de confusão ao perceber que seu irmão parecia não confiar em um de seus melhores amigos. Na tentativa de escapar da vergonha, se levantou da cadeira, deixando JJ para trás, e se aproximou de Pope.
— Ei, Pope? Dança comigo? — perguntou, sorrindo. O garoto fez uma careta em negação enquanto continuava comendo sua comida.
— Eu recuso sua oferta gentilmente — Pope disse, enquanto a garota fazia biquinho, dramaticamente.
sentiu JJ segurar a sua mão e arrastá-la para perto de onde John B e Kiara estavam.
— Estou te salvando dessa, cara! — JJ disse para Pope.
— O que seria da minha vida sem você? Te devo uma — Pope dramatizou, fazendo lhe enviar o dedo do meio.
O loiro começou a mexer os ombros de forma engraçada, dublando a letra da música, fazendo rir. A garota começou a se movimentar de um lado para o outro, dançando juntos. JJ rodopiou , e a garota copiou o ato, fazendo o loiro rir enquanto girava.
— Você nunca dança comigo — disse.
— Bem, eu estou aqui — disse o garoto. — Me senti ofendido por não ser convidado — dramatizou.
Os olhos de se encontraram com os azuis intensos de JJ. Ela sentiu o tempo parar, apenas com ele a olhando com aquele tom específico de azul, que ela podia jurar ser único no mundo. A música ainda tocava ao fundo, os sorrisos ainda estampados em seus rostos, enquanto dançavam desajeitadamente no restaurante, como se somente eles estivessem ali.
— Afasta — John B disse, empurrando levemente o loiro para trás, fazendo rir, tímida. se aproximou de Pope, sentando ao lado do garoto, que ainda encarava Kiara e John B conversando. A única coisa que o tirou do transe foi pegando uma das batatas fritas dele, o que a fez rir.
Os Pogues começaram a ajeitar o restaurante. lavava a louça, Kiara limpava o balcão, enquanto os garotos ajeitavam as cadeiras e mesas, ainda rindo, e às vezes dançando ao som das músicas que continuavam a tocar na rádio.
Uma das muitas coisas que JJ já havia aconselhado foi como mentir, o garoto sempre dizia para manter a confiança e acreditar na própria mentira, não que ela precisasse mentir para Charles Thornton, mas precisava pensar rápido.
Assim que ela parou em frente à grande mansão dos Thornton, ela respirou fundo, pensando se realmente deveria fazer aquilo, ainda dava tempo de dar meia volta e ir para casa, mas, quando se deparou, já tinha batido à porta da casa, que foi atendida rapidamente por uma mulher de cabelos escuros, olhos castanhos, vestindo uma roupa de marca chique. reconhecia a mulher, Cynthia Thornton era esposa de Charles e mãe de Topper.
— Os filhos dos funcionários devem entrar pela porta dos fundos — ela falou, grosseiramente. teve que segurar a sua vontade de revirar os olhos.
— Não sou filha de nenhum funcionário, na verdade… — começou a falar, mas foi interrompida.
— Não. Não estamos fazendo doações no momento, desculpe — Cynthia cortou a frase da garota.
— Com licença, senhora Thornton. Mas não vim pedir nenhuma doação — falou, olhando para a mulher. — Tenho assuntos pendentes com o senhor Thornton.
— O que você quer com o meu marido? — Cynthia perguntou, curiosa.
— Como eu disse, meus assuntos são somente com Charles Thornton — reparou que a mulher a encarava, confusa. — Se tiver alguma dúvida, fale para ele que Routledge está aqui, ele saberá com quem irá falar — a garota falou, convencida.
— Está bem, entre, ele está no escritório — a mulher falou, finalmente dando passagem para a menina entrar, guiando-a para o escritório do homem, ainda visivelmente confusa.
A casa era enorme, tão grande quanto a casa de Kiara. olhava para todos os lados, analisava os vasos, quadros e o lustre enorme pendurado no teto. A mulher encarava a garota como se ela fosse roubar algo, mas não parecia ligar para isso.
Passando pela sala de estar, viu Topper a observando, confuso, ao ver a Routledge sendo guiada pela mãe dele, o que fez a garota engolir seco, com medo de ser enfrentada pelo garoto futuramente.
bateu à porta do escritório ouvindo um "pode entrar". Assim que adentrou o cômodo, ela fechou a porta, encarando o homem que nem a olhou, ele estava ocupado demais assinando alguns papeis.
— Charles Thornton, acho que temos alguns assuntos para tratar — ela falou, suas mãos nervosamente passando pelo seu calção jeans.
Charles Thornton encarou a garota de cima a baixo, analisando suas roupas e principalmente o seu rosto, o homem parecia estar paralisado, não conseguia nem ao menos raciocinar a figura da garota em sua frente. No rosto do homem surgiu um pequeno sorriso nostálgico, mas sua feição se fechou novamente.
— … — ele falou, parecendo ainda estar em transe. — Está igual a ela — o homem falou. — Sinto muito pela sua mãe e pelo seu tio também.
— Um pouco atrasado para isso, mas obrigada. — A menina suspirou, tentando não pensar muito em sua mãe ou em Big John.
— Sabe, sempre achei que esse dia chegaria, mas eu jurava que iria demorar mais um pouco mais… — ele divagou.
O queixo de quase caiu, não imaginando que seria tão fácil. Um arrepio percorreu seu corpo ao perceber que o homem já sabia de seu nome e de toda a sua existência e nunca nem sequer se preocupou com ela, todas as argumentações sumiram de sua mente por alguns segundos, apenas sentando na cadeira em frente à mesa do homem, ainda tentando raciocinar que ela não precisaria provar nada e nem ao menos usar tudo que ela procurou.
— Preciso de dinheiro — disse, sem devaneios, tentando não soar tímida.
O homem sorriu, parecendo achar graça da forma como ela falava. tremia sua perna nervosamente, já estando arrependida por aparecer ali sem consultar Pope antes.
— Para quem passou dezesseis anos sem saber da minha existência, você é bem rápida — ele riu.
— A gente pode apenas ignorar todo esse lance de pai e filha? Aliás, quem foi abandonada fui eu — falou, ansiosa. — Vamos, Sr. Thornton, uns mil dólares por mês?
se xingou internamente por não estar conseguindo ser tão firme como gostaria, mas o homem a deixava intimidada por algum motivo.
— Para que todo esse dinheiro? — perguntou, confuso.
— Eu e meu irmão, somos órfãos, nosso guardião legal ignora nossa existência, o conselho tutelar está atrás da gente, a conta de água está atrasada e, antes de vir para cá, a única coisa que eu tinha para comer era um pacote de bolacha velha. Você realmente me pergunta: o que eu vou fazer com mil dólares? Por Deus! Para um homem tão rico, você é um mão de vaca — reclamou a garota.
O homem a encarou com pena, o que fez a garota revirar os olhos, estava estressada, sentindo o nó se formar em sua garganta, se arrependendo amargamente por aparecer na casa do homem. Queria pedir para Charles esquecer da existência dela e deixá-la ir embora, mas, embora quisesse fazer aquilo, ela precisava do dinheiro, mais do que qualquer coisa.
— Não consegui tudo que tenho gastando meu dinheiro com qualquer coisa — explicou o homem.
— Você gastou 200 mil dólares em um Malibu-24 para o Topper! E não quer me dar mil pratas? — disse, incrédula.
— Entende de lanchas, ? — Thornton perguntou, mudando de assunto.
— Você adora fugir do assunto, não é? — a garota falou, começando a ficar estressada pelo nervosismo.
— O que você acha de fazermos um acordo diferente? — o homem perguntou, a garota assentiu, esperando-o falar. — Você pode vir aqui uma vez por semana e me pedir um valor até duzentos dólares.
— Mas, se eu vier aqui toda semana e pedir duzentos dólares por semana, vai dar mil no final do mês — concluiu a garota. — Não é mais fácil você só me dar os mil dólares?
— , eu não ando com muito dinheiro na carteira e eu tenho quase certeza de que você não tem uma conta no banco para eu te transferir essa quantia — o homem explicou calmamente.
ficou em silêncio, vendo Charles abrir a carteira e lhe entregando os duzentos dólares, fazendo a garota tentar reprimir o sorriso. Ela realmente não achou que seria tão fácil, tinha sido algo confuso, imaginava o homem de outra forma, achou que ele a expulsaria e seria extremamente grosseiro, mas ele tinha sido estranhamente gentil. Agora, tinha certeza de que iria economizar esse dinheiro, e talvez assim, de alguma forma, conseguiria fazer ela e seu irmão não serem enviados para lares adotivos.
— Foi um prazer fazer negócios com você, senhor Thornton — disse, pegando o dinheiro em cima da mesa, caminhando até a porta.
— ? — Thornton a chamou. — Talvez, se você quiser, podemos jantar só eu e você. Seria bom eu saber um pouco como você está, se você estiver se sentindo meio sozinha… — Não se preocupe, Charles, eu já tenho minha própria família — disse —, mas quem sabe um dia, uma comida Kook de graça não seria nada ruim — falou, saindo do escritório.
A garota estava sentada ao lado de Pope, na loja da família do garoto, foi a única coisa que conseguiu pensar após sair da casa de Thornton. Ela foi até Heyward contar tudo que havia feito e falado. A expressão de Pope não era nada boa, ele não havia gostado do que a amiga tinha feito, ele tinha lhe dado um sermão enorme sobre como aquilo tinha sido uma ideia burra. demorou alguns bons minutos para contar tudo que aconteceu, pois Pope nunca a deixava terminar de falar.
— Mas deu certo — pontuou.
— Certo? — ironizou o amigo. — Mil dólares por mês para ele não é nada, !
— Eu só queria uma quantia boa para mim e John B ficarmos mais tranquilos — falou. — Você acredita que ele até me chamou para jantar?
— Quem te convidou para jantar? — JJ falou, se aproximando dos dois.
A voz de JJ fez a garota paralisar, ela encarou o amigo em busca de uma resposta rápida, não estava nos planos da garota comentar sobre ela ser filha de Charles Thornton para ninguém que não fosse Pope. Ela confiava em todos seus amigos, com a sua vida, mas aquilo era tão confuso para si mesma, que não saberia como contar toda aquela confusão para os Pogues e, conhecendo toda a ambição de John B, ele iria fazer de tudo para arrancar qualquer moeda do homem e não tinha certeza que queria passar por tudo aquilo naquele momento.
— O cara do Kegger — Pope disse, de forma rápida.
— Não pode sair com James! — protestou JJ.
— Eu não vou sair com ele — afirmou , olhando para o Heyward.
Pope foi rápido em desviar todo o assunto, começando a explicar para a garota sobre o drone ou ROV — como Pope preferia chamar —, fazendo-os mudar de assunto. e os dois garotos explicaram todo o plano de John B e o motivo de eles precisarem de um advogado ou algo do tipo, mas a garota ainda pensava demais sobre Charles Thornton, que mal se deu o trabalho de prestar atenção no assunto dos garotos.
se apoiou no balcão da loja dos Heyward, ouvindo os dois falarem sem parar sobre o drone. Assim que o pai de Pope apareceu no local, eles ficaram em silêncio, encarando o homem, que os olhava com um olhar que dizia: "o que vocês estão aprontando?". O silêncio continuou, até JJ começar a falar sobre gaivotas para contornar a situação, mas o Sr. Heyward não pareceu acreditar nem um pouco no assunto do loiro, o homem apenas colocou algumas sacolas sobre a bancada, em frente à , ordenando Pope a fazer as entregas. e JJ se encararam por alguns segundos até concordarem silenciosamente em ajudar Heyward.
Os três navegavam sobre as águas em direção ao Figure Eight para fazer as entregas da loja do Sr.Heyward. Pope dirigia o barco de seu pai, JJ e estavam do lado do amigo, conversando sobre como o lado rico da ilha estava mil vezes melhor do que o Cut. nem sequer tinha reparado como o lugar estava limpo e com pouquíssimas coisas destruídas, havia energia e tudo estava funcionando normalmente, até o ar daquele lugar parecia estar diferente do que a periferia. Quando foi para casa dos Thornton, estava tão nervosa que nem reparou nas coisas em sua volta.
— Nem parece que teve uma tempestade aqui — comentou Pope, observando o Figure Eight.
— Eles têm geradores, cara, é sempre assim, já deveria estar acostumado — falou JJ. — Dizem que no Cut vamos ficar sem luz o verão inteiro.
— Ser um Kook deve ser legal — falou Pope.
— Babacas de sorte — disse JJ.
— Se eu fosse uma Kook, eu atropelaria vocês com o meu carrinho de golfe — brincou , fazendo os garotos rirem.
Navegavam por mais um curto tempo, antes de Pope atracar o barco no porto do Figure Eight, os adolescentes decidiram que se separar seria a melhor alternativa para terminarem as entregas de forma mais rápida. Pope e iriam juntos por um lado e JJ sozinho para fazer outra entrega, seguindo pelo caminho oposto, que levava para o campo de golfe do Country Club, ou Kooklândia, como havia apelidado.
Pope e estavam caminhando com as sacolas em mãos enquanto conversavam durante o caminho. O sol forte batia em seus rostos, os fazendo ficar mais cansados, por isso concordaram em caminhar sem muita pressa.
— E aí, cara, quer quanto por algumas cervejas? — Rafe falou, com o taco de golfe em mãos.
— Não estão à venda, se quiser, pode encomendar outras — disse, se colocando centímetros à frente do amigo.
— Se eu encomendar, você vem entregar as minhas cervejas também? — Rafe falou, arrogante.
— Mas vocês têm tantas e nós não temos nenhuma. — Foi a vez do Topper falar, em um tom ameaçador.
— Já foram vendidas — Pope falou. — Agora nos deixem em paz!
— Já foram vendidas? — Rafe perguntou, ironicamente, rindo. — Vocês devem ter roubado isso aí! — O garoto pegou o taco de golfe, rasgando a sacola.
— Que merda! — Pope gritou. — Está me devendo agora!
— Não estou te devendo nada, Pogue imundo — Rafe falou, dando um soco no rosto dele, o empurrando no chão. Logo em seguida, ao tentar se levantar, Pope foi acertado com o taco de golfe.
demorou alguns segundos para agir, parecendo não estar preparada para tal situação. Claro que já tinha visto seus amigos se metendo em briga, mas ela nunca havia brigado de verdade, muito menos acharia que teria que defender Pope. A garota se colocou em frente a Rafe, o empurrando fortemente para trás, o garoto deu um soco perto de sua boca.
— A princesinha Pogue quer brigar? — Rafe perguntou, retoricamente. — Você sabia, , que você até que é bem bonitinha para uma Pogue?
não pensou duas vezes antes de dar um chute no estômago de Cameron, não gostava muito de brigas, muito menos as que a envolviam, porque sempre soube que não era forte o suficiente para se meter em uma, mas, quando viu o garoto batendo em Pope, soube que iria criar problemas, não se importou nem um pouco com o que o Cameron disse. não se importava muito com o que alguém como Rafe Cameron pensaria e falaria sobre ela, mas nunca permitiria que ele tratasse Pope ou qualquer um de seus amigos do jeito que estava o tratando. Em resposta ao soco, Rafe a empurrou contra o chão, ela apertou os olhos com força, sentindo a dor causada pela colisão. Se não fosse por Topper intervindo na briga, sentia que ela e Pope poderiam estar mortos, vendo Rafe sendo puxado dali pelo Thornton.
se sentou no chão, respirando fundo, sentindo o gosto metálico de sangue em sua boca. A garota passou as mãos trêmulas no local em que Rafe a atingiu com um soco, vendo sangue em seus dedos. Se sentiu inútil por não conseguir fazer nada para defender Pope, que ajudou-a a se levantar devagar, sacudindo a terra de suas pernas e roupas.
— Você está bem? — murmurou, preocupada.
— Meu pai vai me matar — grunhiu Pope.
— Ei, relaxa, eu pago por isso, não se preocupe — falou, tentando não demonstrar a dor em sua voz.
— Merda, , sua boca — Pope disse, nervoso, olhando para a amiga.
— Vamos apenas voltar para o barco, depois resolvemos isso. — A garota suspirou, andando de volta para o porto.
Os dois caminharam até o barco em silêncio, esperando JJ voltar. estava no convés do barco, sentindo a pequena brisa bater em seu rosto, olhando seu reflexo na água. A calmaria ajudava a amenizar a dor que estava sentindo.
Quando JJ chegou, se apressou em jogar seu cabelo em frente ao seu rosto, na tentativa de esconder a pequena lesão.
— Cara, foram os melhores cem dólares que eu já recebi! — JJ disse, animado, parando de falar, ao reparar o clima estranho que se alastrava no barco. — O que aconteceu? — O loiro se aproximou de Pope, tirando o boné de sua cabeça e vendo o machucado no rosto do amigo. — Caralho! O que aconteceu com o seu rosto? Quem fez isso?
— Rafe e Topper — respondeu Pope.
JJ ficou em silêncio por alguns nanosegundos, passando os olhos pelo barco, vendo a garota, encarando a água, caminhando até ela, preocupado.
— ? — JJ caminhou até a , que se negava a olhar para ele.
A garota sempre virava o rosto e continuava olhando a maré, pois sabia que, se olhasse para JJ, ela iria se afundar em lágrimas de raiva e isso era uma das últimas coisas que ela queria fazer em frente do loiro. Conhecia Maybank o suficiente para saber que ele nunca a julgaria por chorar em sua frente, após ter chorado na frente de JJ pelo menos umas três vezes nos últimos cinco dias, e não estava a fim de chorar mais uma vez.
JJ segurou o queixo de com cuidado, fazendo o rosto da garota se virar para ele, afastando o cabelo do rosto da garota. Maybank encarou os olhos dela por alguns segundos antes de passar o dedo suavemente sob o pequeno corte em baixo da boca da garota, a mais nova não levou seu olhar até JJ, apenas olhava para baixo, esperando alguma palavra do loiro.
— Vamos acabar com eles, eu prometo — JJ disse, firme, com o punho e maxilar cerrados.
— Podem me deixar em casa, por favor? — murmurou.
JJ assentiu no mesmo instante, deixando um beijo no topo da cabeça de , enquanto caminhava em direção ao volante do barco, começando a navegar até o Castelo.
fazia de tudo para tentar engolir o nó em sua garganta, mas toda vez que o olhar de JJ se repousava sobre ela, sentia aquilo voltar mil vezes mais forte, enquanto ansiava cada vez mais apenas poder voltar para casa o mais rápido possível.
— , tem certeza de que está tudo bem? — Pope perguntou, se sentando ao lado dela.
— Muita coisa aconteceu hoje, Pope. — Ela suspirou. — Acho que preciso de um tempo sozinha.
Heyward passou o braço pelos ombros da amiga, a abraçando de lado, de forma reconfortante, a fazendo sorrir. Ela já conseguia ver o deque do Castelo, suspirando, aliviada, por estar em casa e podendo tentar se acalmar e colocar sua cabeça no lugar.
Pulando para fora do barco e se despedindo dos amigos, se apressou em correr em direção ao seu quarto, fechando a porta e deitando em sua cama, abraçada com um travesseiro, tentando fazer uma contagem que tinha visto na internet uma vez, que alegava ajudar a pessoa se acalmar. As lágrimas escorriam sobre seu rosto, pela frustração, pois era óbvio que e Pope nunca teriam uma chance contra Rafe, mas, do mesmo jeito, aquilo a deixava magoada, mas estava fazendo de tudo para apenas deixar para lá aquele sentimento ruim que a incomodava tanto. Ter visitado Charles Thornton mais cedo também não estava ajudando muito, pois por algum motivo ela não imaginava que o homem seria tão gentil, o imaginava a negligenciando, a expulsando do local e sendo um completo babaca igual o filho, mas ainda não entendia porque a incomodava tanto o fato de o homem ser estranhamente gentil.
Respirou fundo mais uma vez, ela enxugou algumas lágrimas que caíram sobre seu rosto, as últimas lágrimas em seu rosto. Ela se perguntava se deveria esconder o corte com maquiagem, mas, como seus dons não eram ótimos, apenas decidiu dizer que tinha caído de skate, algo que era bem comum na rotina da garota, pois não estava nos planos contar o que havia acontecido para John B.
saiu de seu quarto. Após alguns minutos trancada no cômodo, ela procurou o irmão em todos os cantos da casa, e, olhando para o jardim, ela assistiu Sarah Cameron conversando sobre algo com John B. Um vinco se formou na testa de , queria poder ouvir o que os dois conversavam, pois nunca imaginou que a garota intitulada Princesa Kook estaria pisando em sua casa. A Cameron jogou um pacote de salgadinho para ele e saiu andando passando pela loira.
— Oi, ! — Sarah disse, sorridente.
— Oi — acenou, levemente, com a cabeça.
— Trouxe isso para você — disse a garota, tirando um pacote de balas de gelatina da sua bolsa, jogando para .
— Ah, obrigada — ela sorriu, confusa, vendo a garota sorrir de volta, se afastando.
Olhou para seu irmão, procurando algum tipo de resposta, se perguntando o motivo de Sarah Cameron estar em sua casa, mas John B apenas sorriu, dando de ombros caminhando para dentro da casa como se nada tivesse acontecido.
acreditava no tesouro, achava que realmente poderiam encontrar algo, mas ela não estava lá pelo possível ouro, a garota tinha aceitado participar daquilo pelo pedido de Big John e pela esperança de John B. Gostava de fantasiar que, talvez, eles pudessem realmente encontrar algo, mesmo sabendo que aquilo era praticamente impossível de acontecer, então tentava não deixar suas expectativas ficarem muito altas.
Os Pogues estavam em mar aberto, em meio ao oceano, com o barco do Sr. Heyward em busca do Royal Merchant naufragado. Pope controlava o ROV, John B estava olhando a câmera do drone, JJ dirigia o barco e Kiara e estavam encarregadas de cuidar do cabo que segurava o drone.
— JJ, para aqui — falou John B.
— Beleza, X marca o local — disse JJ, controlando o barco.
— Senhoras e senhores, vamos todos virar Kooks! — John B sorriu, animado, olhou para irmã que sorriu de volta. — Certo, JJ, estamos bem em cima, dez segundos, noroeste.
— 30 metros! — Kiara falou, logo após ela e virem a marcação no cabo do drone, a Routledge fez a marcação com giz.
A maré já tinha começado a mudar, e cada vez mais a ansiedade aumentava entre o grupo de amigos, dava para sentir facilmente o clima tenso e um pouco caótico no barco, a corda do drone estava começando a descer com muita rapidez, dificultando um pouco as marcações das duas garotas. Pope e John B não tinham visto nada na câmera do aparelho e já estava começando a se preocupar com a tempestade que estava começando a aparecer em alto mar, fazendo seu coração bater aceleradamente.
As nuvens escuras estavam pousadas sobre os céus, deixando-a cada vez mais tensa. Sabia que não iria chover, nem trovejar ou algo tipo, mas o balanço forte do barco, combinado com o vento, fazia seu cérebro não pensar direito. Quando o barco começou a balançar violentamente, se segurou forte, fechando os olhos enquanto respirava fundo, e um toque reconfortante surgiu em cima de sua mão, a fazendo abrir os olhos, dando de frente com Kiara, que sorria gentilmente.
— Pode entrar, , eu me viro — disse Carrera.
— Não, eu estou… — Antes de a garota conseguir terminar a frase, o barco balançou novamente, fazendo a garota segurar o metal força. — Você consegue mesmo?
Kie assentiu. correu para dentro da cabine, onde JJ estava pilotando. A garota se encolheu em cima de um banco, abraçando os joelhos, assistindo o loiro manuseando o barco. Ele olhou para trás, vendo a garota encolhida, e esticou uma de suas mãos, fazendo sinal para ela se aproximar. Assim que segurou a mão de Maybank, ele a puxou, a colocando entre o volante do barco e ele, repousando o queixo no topo da cabeça da garota, como forma reconfortante, tentando acalmá-la do medo.
— Acha que vai demorar muito ? — murmurou.
— Para acharmos o ouro ou para a gente passar por essas nuvens? — perguntou JJ.
— Os dois, eu acho — ela riu, fraco.
— Éramos para estar bem em cima do ponto marcado — disse JJ, ainda seguindo as instruções de John B, que gritava do lado de fora da cabine. — É apenas uma ventania, estamos meio longe da costa.
Eles ficaram assim por mais alguns segundos, JJ sempre deixava seus braços mais firmes quando sentia que o barco iria balançar, passando segurança para , que estava ficando mais calma aos poucos, mas, mesmo assim, nervosa por não terem encontrado nada ainda.
— ! Você precisa ver isso! — gritou John B, fazendo JJ dar espaço para a garota passar, indo em direção ao irmão, que olhava para a tela do drone.
Os olhos da garota brilharam ao ver o Royal Merchant submerso a água, ela nem sequer conseguia acreditar que aquele barco realmente estava ali, até mesmo a tempestade estava começando a ir embora.
— Ai, meu Deus! — disse .
— Vocês estão vendo alguma coisa? — A voz curiosa de JJ foi ouvida.
— É o Royal Merchant! — falou John B, sorrindo.
Não demorou muito para toda aquela animação ir por água abaixo, não havia nada naquele barco, conferiu a imagem do drone umas cinco vezes para ter certeza que eles não tinham deixado de ver algo, mas nunca conseguia ver nada diferente. O irmão olhou para ela e apenas bufou, Pope tentava animar John B, dizendo que eles deveriam carregar o drone e tentar de novo mais tarde, mas ele não parecia querer fazer o que o amigo o aconselhava.
também ficou um pouco deprimida, não porque ela tinha muitas esperanças, mas se sentia mal por saber o quanto John B iria se afetar com aquilo. Da última vez que deu tudo errado, ele queimou todas as coisas de seu pai e estava assustada com o que o irmão poderia fazer agora. Kiara tentava consolar John B, o que não parecia funcionar muito. Pope estava arrumando alguma maneira de ajustar o drone e estava juntamente com JJ na cabine, sentada nos bancos, o assistindo pilotar o barco.
— Não tinha nada lá? — JJ perguntou. — Nem um restinho de ouro?
— Nada, Jay, totalmente vazio — suspirou, desanimada.
— E o que o John B falou sobre o seu… — JJ mudou de assunto, apontando para sua própria boca, tentando falar sobre o machucado da garota.
— Ah, eu apenas disse que caí de skate, ele acreditou numa boa — ela deu de ombros.
Não demoraram muito para chegarem ao deque da loja do pai de Pope, onde o HMS Pogue estava. Os Pogues se despediram e os irmãos Routledge seguiram para casa, em silêncio. não sabia o que falar para o irmão, ela mesmo havia fantasiado aquilo por um tempo e tinha certeza que, se era frustrante para ela, para John B estava sendo mil vezes mais.
— Que merda, Johnny, parece que a gente não acerta nenhuma! — reclamou , abrindo a porta de casa.
— Olá, crianças — disse a assistente social. teve certeza que sua cabeça começou a doer só pela voz da mulher.
— Sabe, Cheryl, é uma péssima hora para visitas — falou John B, sentado na mesa da cozinha.
— Não estamos aqui para visita, vamos levar vocês — disse a mulher.
— Hoje? Sério? — perguntou . — Já esperou um tempão, espera mais uma semana, não vai mudar nada — falou, se sentando na cadeira ao lado do irmão.
— Serão só umas semanas, até a audiência de vocês — explicou Cheryl.
— Não, Cheryl, não vamos para um lar adotivo, não iremos participar desse sistema de vocês — falou John B, batendo a mão na mesa. Os dois se levantaram, assustados, dando a volta na mesa após verem um policial se aproximando deles.
— John, , esse é o policial Thomas, ele trabalha com os casos de menores para o departamento da xerife — explicou Cheryl, se levantando do sofá, olhando para os dois adolescentes. — Eu sei que o tio de vocês está no Mississipi, trabalhando em um cassino.
— Olha, isso é meu pesadelo! — falou John B. — É isso, eu quero emancipação, vou cuidar da , sempre cuidei.
— Emancipação de quem? Não há ninguém além de vocês dois aqui! — a mulher respondeu.
— Queremos asilo, então! — falou , rapidamente e o garoto assentiu com a cabeça.
— Com base em quê? — a assistente social perguntou, irônica.
— Com base civil, religiosa, sei lá! — John B disse, revoltado. — Estou me sentindo perseguido pelo Sr. Cabeçudo, ali — John B apontou para o guarda.
— Tá me olhando por que, cara? Vai fazer o quê? Me dar um choque com a sua pistolinha de taser? — perguntou , após ela se mover e o policial a seguir.
Os irmãos se encararam por alguns, tentando decidir o que fazer, ela sabia que John B faria algum sinal para ela correr o mais longe possível dali, mas não aceitaria deixar seu irmão ali, sozinho. Sentiu seu corpo tremer ao reparar a assistente social se aproximando, provavelmente ela estava estranhando o silêncio dos dois adolescentes. Quando John B deu o sinal, correu e o garoto tampou a passagem do guarda.
— Te encontro no final da estrada, Bird! — gritou , se afastando.
— Pode deixar, Bear! — John B gritou de volta.
A frase era apenas uma referência às histórias que Big John contava para os dois quando eles eram mais novos, Bear e Bird sempre se encontravam no fim de uma estrada quando se perdiam. sabia que John B ficaria bem, por isso agarrou o seu skate, se afastando da casa enquanto o guarda e a assistente social tentavam ir atrás dela, sem perder John B de vista.
— Ei, Cheryl e Thomas! Vão se foder! — falou, fazendo os dois olharem para ela, então apontou o dedo do meio para os dois, subindo no skate e saindo de lá o mais rápido possível para que não fosse pega.
A Routledge teve certeza para onde iria. Mesmo que a casa de JJ fosse um pouco mais longe do que o The Wreak ou da loja dos Heywards, simplesmente parecia certo ir até a casa de Maybank, ela não ia muito para lá, sabia que Luke, pai de JJ, era um idiota, mas imaginou que ele não estaria em casa, ja que normalmente ele nunca estava. Demorou alguns minutos para chegar à casa do loiro, além do nervosismo de não saber como estava seu irmão, também estava com medo de Cheryl achá-la. Quando se aproximou da casa, conseguiu ver JJ atirando em um ursinho de pelúcia, provavelmente com o propósito de treinar a pontaria.
— JJ, que merda você tá fazendo? — perguntou, saindo de cima do skate e se aproximando do garoto, que parou de atirar.
— ! O que você está fazendo aqui? — ele perguntou.
— Fugindo do conselho tutelar — ela explicou, dando de ombros. — Já disse para você não usar essa arma!
— Princesa, se eu não treinar, não vou poder defender a gente — disse JJ, como se fosse óbvio, revirou os olhos.
JJ estava tenso, ela não entendia o porquê de ele estar daquele jeito. Normalmente, quando o garoto se metia em encrenca, não demorava dez minutos para toda a ilha ficar sabendo, mas até agora ela não sabia de nada, ele também não aparentava ter brigado com o pai.
JJ agarrou a arma para poder voltar a atirar, mas. antes que ele pudesse fazer algo, estapeou sua mão, o repreendendo pelo uso do objeto, enquanto JJ reclamava sobre ela estar xingando-o, mas a garota parou o seu monólogo ao ver Pope correndo em direção a eles, nervoso.
— JJ! — Pope falou, fazendo o garoto parar de reclamar do sermão de e olhar para o amigo. — Eles sabem!
— Quem sabe o quê? — perguntou, confusa.
— Não, cara, eles não sabem — afirmou JJ.
— O que tá acontecendo? — reclamou, chamando a atenção dos dois garotos.
— A gente fez merda. Eu fiz, a ideia foi totalmente minha — falou Pope, nervoso, apenas franziu as sobrancelhas, fazendo sinal com a cabeça para o garoto começar a falar. não conseguia acreditar em cinco por cento das palavras que saíam da boca de Pope, estava se sentindo em uma espécie de universo paralelo, pois ela nunca imaginaria que Pope poderia ser capaz de fazer algo parecido. Ter afundado um barco por pura vingança não soava como algo que Pope Heyward poderia fazer, até cogitou a ideia ter sido de JJ e Pope ter levado a culpa, mas conhecia o loiro o suficiente para saber que ele nunca deixaria um de seus amigos fazer algo por ele.
— É simples, se eles encontrarem a gente, o que nós fazemos? — perguntou JJ.
— Negamos a porra toda — Pope falou, e os olharam para . — Então, ?
— O quê? Topper afundou a própria lancha? — se fingiu de desentendida, os garotos sorriram.
— Nós vamos negar, negar, negar — afirmou JJ, olhando para os dois.
e seus amigos caminharam entre as pessoas, que se acomodavam em lençóis estendidos no chão e em cadeiras de plástico. Kiara não parava de falar sobre como estava aliviada pelo evento não ter sido cancelado, apesar dos estragos causados pelo furacão. Porém mal conseguia prestar atenção. Havia a preocupação com o seu irmão, que não havia dado notícias desde a visita do conselho tutelar, e, para piorar, tinha JJ e Pope, que provavelmente estavam sendo caçados por Topper, Rafe e Kelce, após afundarem a lancha de Thornton.
— De volta à vida normal em Outer Banks, não estão felizes que eu trouxe vocês aqui? — disse Kiara, animada.
— Em êxtase — ironizou Pope.
— Meu sofá estava bem confortável, para ser sincero — JJ falou, entediado.
Os garotos e começaram arrumar o lençol e as cadeiras na grama enquanto Kiara se afastava para comprar refrigerante. Conseguia sentir o nervosismo de Pope, o garoto olhava para os lados, desconfiado, o que apenas deixava a garota mais agitada com a situação.
— Cara, você precisa relaxar — disse, tentando acalmar Pope.
— A gente está praticamente na Kooklândia, esse é o último lugar que eu quero estar — Pope falou, ansiosamente.
— Calado — disse JJ, rapidamente, enquanto os três assistiam Kiara voltar com as latinhas de refrigerante em suas mãos.
— Acabei de falar com o Rafe — Kiara falou, entregando uma das latinhas de refrigerante para — e ele disse: "fala para seu amigo que a gente sabe o que ele fez".
Kiara fez aspas com as mãos, sua expressão confusa se direcionou diretamente para os dois garotos que olharam em sua volta, inquietos. Uma preocupação percorreu o corpo de , juntamente com a mão de JJ apertando levemente seu ombro, tentando confortar a ela e a si mesmo ao mesmo tempo. Maybank suspirou pesado, ajeitando o boné em sua cabeça antes de sentar ao lado de no lençol esticado no chão, enquanto Kiara ainda parecia estar alheia de toda a situação.
— Onde eles estão? — perguntou JJ, tentando demonstrar calma. Kiara apontou com a cabeça para trás, fazendo os quatro se virarem rapidamente, encarando Kelce, Rafe e Topper, que deu um sorriso meio sádico, fazendo o estômago de embrulhar.
— Ótimo, o esquadrão da morte — comentou Pope.
— Parem de encarar — JJ falou, virando a cabeça de e Pope para a frente. — Só para avisar, se eles me encurralaram, eu vou mandar ver, vou meter a porrada. Eu estou nervoso hoje — Pope assentiu, nervosamente, enquanto o loiro falava. — Se isso não resolver, eu tenho isso aqui — ele levantou a mochila.
— Você só pode estar brincando! — falou, incrédula.
— Não vamos mais andar sem isso — JJ disse firmemente para seus amigos. — Não vou deixá-los machucar vocês de novo — sussurrou, nervoso, olhando para .
— Por favor, JJ, me fala que você não trouxe uma arma para cá. Tem criança aqui — Kiara disse.
— Eu não trouxe uma arma, tá? — disse JJ, falhando em sua mentira.
— Uau, JJ, obrigada, que convincente. Eu adorei! — Kiara debochou. — Vocês esqueceram da regra principal? Sem segredos entre Pogues! Do que Rafe estava falando?
engoliu seco, trocando alguns olhares com os dois garotos antes de Pope começar a falar. Ela desviou olhar para o trio de Kooks atrás dela, encontrando Rafe os encarando, ele sorriu falsamente para garota, passando a mão no próprio rosto, justo no lugar onde ela tinha se ferido durante a briga da última vez. se virou rapidamente, encarando o telão onde passaria o filme, tentando não ficar muito preocupada com a situação, mesmo sendo impossível com toda aquela preocupação dentro de si que fazia seu corpo estremecer. No momento que Pope comentou a forma que foi machucada pelos Kooks, abaixou a cabeça rapidamente, fingindo não escutar o assunto, sentindo o olhar de pena de Kiara sendo dirigido a si.
Minutos depois, todos estavam ocupados demais assistindo ao filme em preto e branco, a noite já tinha caído e a única iluminação mais marcante no lugar era a do enorme telão onde se passava o filme. tinha sua cabeça apoiada na coxa de JJ, que estava sentado em uma cadeira de praia, às vezes ele brincava de fazer mini tranças em algumas mechas no cabelo da garota, mas ele sempre falhava em uma certa parte do penteado. Ela murmurou em reclamação quando sentiu JJ se movendo para se levantar da cadeira.
— Para onde vocês vão? — perguntou, olhando para JJ e Pope, que estavam de pé.
— Precisamos ir ao banheiro — explicou JJ.
— Vão segurar um para o outro? — Kiara debochou, fazendo a amiga rir, enquanto os garotos se afastaram, ignorando o comentário irônico.
O filme continuava, já fazia alguns minutos que os garotos tinham saído. olhou para os lados e sentiu um frio percorrer sua espinha ao perceber que Rafe, Topper e Kelce não estavam mais em seus lugares. As duas garotas trocaram um pequeno olhar de preocupação antes de se levantarem rapidamente, em busca de seus amigos.
A cena atrás do telão era assustadora, se perguntou em que momento a "guerra" entre Kooks e Pogues parou de ser apenas provocações e, no máximo, uma ou outra briga durante festas na praia, para algo que parecia que a qualquer momento alguém poderia parar no hospital. De repente, sem saber como, se viu no meio da confusão. O som do filme abafava os gritos e a troca de insultos ao redor. Tudo parecia passar em câmera lenta enquanto se via contra Rafe, o rosto dele com um sorriso ameaçador. Sem pensar, ela agarrou a mochila de JJ e a arremessou em direção a Rafe, tentando ao menos ganhar alguns segundos de vantagem para seus amigos.
— Está gostando de se meter em brigas ultimamente, não é, Pogue? — Rafe riu, irônico.
Antes que Cameron pudesse fazer algo, lhe deu um chute entre as pernas, e ela conseguiu ouvir o riso de JJ no fundo antes de receber uma rasteira de Topper, a fazendo cair no chão. Ela sentiu sua visão turva, devido à pequena queda, e Kiara se ajoelhou do lado da amiga, a puxando para longe da confusão. Carrera foi rápida em tirar um isqueiro de um dos bolsos da mochila de JJ e, segundos depois, o telão onde se passava o filme estava em chamas. Rafe, Topper e Kelce soltaram JJ e Pope, correndo para longe.
— Você tá bem? — JJ perguntou, vendo a garota se levantar do chão.
— JJ, você tá todo ferrado, eu que deveria te perguntar isso — ela riu, olhando para o loiro. — Vamos sair daqui.
Os Pogues correram de volta para o carro de Kiara, um completo silêncio se estendeu durante toda a viagem. Pope parecia mais frustrado que nunca, JJ estava nitidamente com muita raiva. Às vezes, as duas garotas, que estavam no banco da frente, olhavam para eles, tentando começar algum assunto que não remetesse à briga, mas eles não pareciam prestar muita atenção. Kiara estacionou o seu Jeep em frente ao Castelo, se despedindo de e JJ, enquanto a morena dava um sorriso confortante para os dois. A Routledge suspirou, preocupada, ao reparar que seu irmão ainda não estava em casa. Rodeou os quartos, escritório e até a pequena despensa que ficava no jardim da casa, tentou ligar para o garoto, mas apenas caiu na caixa postal.
— Ei, , você precisa relaxar — JJ falou, se jogando no sofá, apoiando a vela sobre a mesa de centro. — John B fugiu, ele deve estar escondido em algum canto sem bateria.
— Você deve estar certo… — a Routledge sorriu, pegando o kit de primeiros socorros, sentando em frente ao garoto. — Agora fica quieto, deixa eu pelo menos passar uma pomada no seu rosto para não ficar roxo.
JJ apenas suspirou, aceitando, sabendo que não o deixaria sair de lá sem terminar.
JJ podia jurar que, se se aproximasse mais, ela ouviria seu coração batendo acelerado, ela estava tão concentrada, que JJ não conseguia parar de reparar a forma que ela mordia o interior de sua própria bochecha e como ela pressionava os olhos pela iluminação ruim. A única luz no cômodo vinha de uma vela sobre a pequena mesa de centro, já que no Cut a energia ainda não havia voltado. Maybank não sabia explicar o que estava acontecendo em sua cabeça, se havia sido os dias corridos, como ele não conseguia parar de sentir que precisava proteger desde que toda aquela ideia de tesouro começou a aparecer ou a forma que ela estava segurando seu rosto tão gentilmente em meio à escuridão. Mesmo assim, JJ conseguia ver os olhos e brilhantes de olhando para ele.
— Jay? — disse, estralando os dedos na frente do garoto. — Alô? Terra chamando JJ! — O loiro piscou algumas vezes saindo do pequeno transe fazendo a garota rir. — O que foi? Topper bateu na sua cabeça com muita força?
Antes que pudesse falar mais alguma coisa, JJ puxou a nuca dela, selando os lábios deles contra o outro. O coração um do outro parecia batalhar para ver qual batia mais forte, JJ não soube dizer o que aconteceu, sabia que, se John B descobrisse, ele ouviria seu melhor amigo falar por inúmeras horas sem parar, além de com certeza receber alguns socos também. Não soube quando o seu desejo por beijar começou da noite para o dia ela não era mais a garotinha que ele poderia puxar o cabelo e sair correndo ou a qual ele defenderia dos alunos mais velhos por quererem roubar seu lanche na hora do recreio, apenas começou a reparar como ele não conseguia tirar os olhos dela durante as festas.
Ele sentiu a mão da garota em seu peito o empurrando para trás, os olhos de pareciam estarem perdidos, ela se levantou rapidamente, se afastando dele. Naquele momento, JJ soube que tinha ferrado com tudo.
— Jay, me desculpa. — engoliu seco, olhando o garoto em sua frente. — Merda, eu… não é certo, não deveríamos… você sabe, é a regra.
JJ assentiu com a cabeça, levemente murmurando algo como "me desculpe, ", caminhando para fora do Castelo, indo em direção à sua própria casa. Chutou uma pedrinha, amaldiçoando-se por ter beijado , não soube dizer o que deu em sua cabeça — normalmente, JJ nunca entendia o que passava em sua própria mente —, apenas pareceu certo, mesmo que não fosse por causa daquela regra ridícula. "Pogue não pega Pogue", Maybank achava aquilo uma idiotice, mas não mudaria nada naquele momento, pois não o queria. Em menos de cinco segundos, ele havia provavelmente estragado a sua amizade com , agora, a única coisa que ele poderia fazer era esperar que John B não o matasse.
Como ele poderia ser tão idiota?
Uma parte de si queria culpar Pope por isso, o garoto estava há semanas enchendo a cabeça de JJ com comentários sobre , até mesmo fez John B fazer toda aquela cena no The Wreak quando viu JJ e dançando juntos, apenas porque Pope havia dito para eles no ferro-velho que amigos não deveriam agir como e JJ agiam, deixando John B puto, e sempre ficando de olho em JJ quando ele estava perto de Aya. Mas, mesmo assim, sabia que Heyward nunca havia afirmado ou o mandado beijar a garota.
Suas bochechas estavam vermelhas, não apenas pela raiva que estava sentindo de si, mas também pelo constrangimento de ouvir o recusando a minutos atrás. No que ele estava pensando? Em que mundo ele imaginou que estava vivendo para que quisesse beijá-lo também? JJ queria ir até a praia, cavar um buraco na areia e se esconder lá para o resto de sua vida ou se jogar no oceano e esperar o mar levá-lo para o mais longe possível.
No momento em que JJ a beijou, por um instante, tudo pareceu tão certo. Mas, no segundo seguinte, um mar de dúvidas a fez se afastar. E se ele a tivesse beijado por impulso? Não queria ser apenas mais uma das garotas que JJ já beijou e nem se importava no dia seguinte, sentia medo de se machucar, de não ser tão importante para ele quanto ele era para ela. Além disso, ela se preocupava com seus amigos e não queria que nada entre ela e JJ complicasse as coisas com seus amigos. Tentava convencer a si mesma de que fez o certo ao interromper o beijo, mesmo que uma parte dela desejasse voltar atrás.
O clima entre eles era tão estranho que ela sentia vontade de fugir dali e deixar tudo para trás. Desde que entraram na loja, ficaram em silêncio, longe um do outro, fingindo que nada havia acontecido, mas, para a sorte dos dois, Kiara e Pope não pareciam ter percebido o afastamento.
— Não fica chateado, eram três contra dois, isso é bem típico dos Kooks — JJ falou, fazendo Kiara concordar e tirando de seus pensamentos. — Como teve a ideia de usar a cabeça?
— Não sei, meio que agi por instinto, sabe, eu era um animal encurralado — Pope explicou, fazendo rir fraco.
— , você não ia trabalhar hoje? — Kiara perguntou, olhando para a garota.
— Meu horário só começa daqui a meia-hora. — A garota deu de ombros. — Sabe, os pais querem dar um jeito nos filhos enquanto estão preocupados em se arrumar para a festa do Solstício.
ajeitou sua postura quando viu o Sr. Heyward se aproximando deles, franzindo as sobrancelhas ao ver o policial Shoupe atrás do homem. Engoliu em seco, sentindo o medo percorrer por todo seu corpo, ela realmente esperava que não fosse nada relacionado à assistência social querendo mandá-la para um lar temporário ou dizendo que John B havia sido pego.
— Ei, Pope, tem alguém querendo falar com você — Heyward falou, olhando para o filho.
— Bom dia, oficial — Pope disse, nervosamente.
— Tenho um mandado de prisão por destruição de propriedade — Shoupe falou, tirando as algemas do bolso. — Mantenha as mãos onde eu possa ver.
— Vai prender meu filho? Por qual motivo? — Sr. Heyward perguntou, preocupado.
— Leia o mandado, Heyward — o policial falou, rude.
Kiara gritou com o policial enquanto toda a cena desesperadora acontecia. Pope era levado para fora da loja em direção à viatura, o garoto não expressava muita coisa enquanto era guiado por Shoupe, parecendo estar completamente paralisado com a situação. Quando viu o amigo se aproximando da viatura, ela ignorou tudo que havia acontecido no dia anterior com JJ, agarrou a mão do garoto, escondendo o rosto em seu braço, não querendo assistir a cena de um de seus melhores amigos sendo preso.
— Confia em mim — JJ murmurou, para a garota. — Não foi ele! Fui eu — falou, soltando a mão de .
— JJ, por favor — a voz de saiu como um sussurro, o qual provavelmente não foi ouvido por ninguém.
Não queria que Pope fosse preso, nunca desejaria isso para seu amigo, na verdade, tinha a completa certeza que Heyward surtaria em menos de cinco minutos após ser colocado em uma cela, mas não significava que ela quisesse ver JJ indo no lugar dele. sabia que o loiro defenderia seus amigos até o último segundo e a Routledge odiava amar esse tipo de atitude de Maybank. Quando JJ tomava uma decisão, nada poderia pará-lo, nem se fosse uma das escolhas mais burras que ele fizesse em toda sua vida. Não adiantava, a teimosia do garoto nunca o faria voltar atrás, principalmente quando envolvia seus amigos. JJ poderia ser uma bomba quando se tratava dos Pogues, pois, para Maybank, seus amigos eram sua família, mesmo que nunca admitisse em voz alta. Na verdade, ele não precisava, tinha a completa certeza que seus amigos já sabiam.
— Ele foi contra, mas eu estava com raiva porque bateram nele e machucaram a — JJ falou, se aproximando do policial. — Eu estava tão cansado daqueles babacas do Figure Eight que perdi a cabeça. Não posso deixar você levar a culpa por algo que eu fiz, você tem muito a perder.
sentiu Kiara segurando sua mão, em uma forma de reconforto para ambas, já que a cena era angustiante como o inferno. A Routledge queria gritar com o loiro e, ao mesmo tempo, abraçá-lo por simplesmente ser ele. Amava ver como JJ era corajoso ao ponto de se ferrar para ajudar seus amigos, mesmo ele sabendo que provavelmente aquilo resultaria em uma briga com seu pai depois. não conseguia sequer colocar em palavras como ela queria ignorar a noite anterior e todas as regras Pogues que existiam e beijar JJ ali mesmo.
Talvez o motivo de ela gostar tanto daquela pequena parte da personalidade do garoto fosse porque ela nunca conseguiria ser tão corajosa àquele ponto. amava seus amigos e faria tudo que estivesse em seu alcance para ajudá-los quando eles precisassem, aliás, ela que pagou para Pope pelas cervejas e as outras coisas que Topper e Rafe roubaram deles, mas também sabia que JJ se sentia totalmente culpado por ter colocado Pope naquela situação, mesmo que não tivesse sido ele que afundou a lancha. Maybank provavelmente sentia que havia influenciado o amigo de alguma forma.
— JJ, o que você tá fazendo? — Pope indagou, encarando o amigo de forma confusa.
— Estou falando a verdade, pela primeira vez na vida eu vou dizer a verdade! — JJ exclamou, sem exitar por nenhum segundo. — Eu peguei o barco do coroa também — ele disse, se referindo ao pai de Pope, na tentativa de se incriminar mais para o policial. — Ele é um bom garoto, você sabe de onde eu vim.
— Eu sei — Shoupe murmurou, levando o olhar para Pope. — Essa é toda a verdade?
— É, sim, eu juro por Deus — JJ falou, rapidamente, mas se calou com o olhar do policial sobre ele.
— Eu sei o que você pensa — Shoupe falou, grosseiro. — Estou perguntando para o Pope.
Era facilmente visível o jeito que Pope olhava para JJ, era um olhar cheio de culpa, arrependimento e medo. Para , foi fácil perceber como ambos os garotos culpavam a si mesmos pelo que estava acontecendo no momento, o que era uma grande mentira, porque os únicos culpados eram os Kooks. Claro que afundar o barco de Topper não tinha sido a decisão mais racional de ser feita, mas foram eles que tinham começado a guerra.
— Sim, isso é tudo — Pope falou.
JJ olhou para e sorriu para a garota, como se quisesse afirmar que iria ficar bem, o que era difícil de ela confiar. Ela assistiu ao loiro ser algemado e colocado dentro da viatura enquanto seus olhos queimavam pelas lágrimas as quais se forçava a segurar, pois ela sabia que, se começasse a chorar, não pararia tão cedo. Os três viram a viatura se afastar da loja dos Heywards. suspirou pesadamente, pegando o skate apoiado na porta, começando a se afastar dos amigos.
— ! Para onde você vai? — Kiara gritou, chamando a garota.
— Eu ainda preciso ir trabalhar — Routledge disse, sentindo um grande nó se formar em sua garganta.
seguiu o caminho até o trabalho, tentando fugir do que havia acabado de acontecer. Faltavam uns quinze minutos até seu turno começar, mas não se importava, precisava ocupar sua cabeça com algo antes que acabasse explodindo. Remando seus pés no skate, conseguiu chegar ao Country Club mais rápido que o esperado. Ela entrou na sala com uma porta lilás e algumas crianças correram para abraçar a adolescente, que era cumprimentada por algumas colegas de trabalho. apenas se sentou no tapete colorido no chão, sorrindo falsamente para algumas crianças, fingindo animação quando alguma delas falava com ela.
Sua mente estava uma complicação, fazia de tudo para o tempo passar e parar de se preocupar com seu irmão e com seus amigos. Tantas perguntas em sua cabeça que não conseguia responder e tantos pensamentos que faziam sua ansiedade explodir. Parecia que as horas estavam passando muito mais devagar do que o comum, não importava o quanto ela se esforçasse para não olhar o relógio e ocupar sua mente o máximo possível, não conseguia parar e encher sua cabeça com os vários pensamentos paranoicos e preocupados.
Quando finalmente foi liberada, era fim da tarde. se assustou ao ver John B a esperando de braços abertos, com um sorriso no rosto. A garota correu em direção ao irmão, o abraçando animadamente, sentindo um grande alívio percorrer pelo seu corpo por saber que o irmão estava bem.
— Se eu não estivesse tão preocupada, você apanharia muito agora — ela falou, se soltando do abraço, encarando o garoto que riu fraco. — Estou falando sério, John B! Poderia ter deixado um bilhete ou ter pedido para alguém me avisar que tinha escapado! Eu já estava começando a achar que estava morto.
— Me desculpe, tá legal? Vacilei — o garoto falou, tentando acalmar a irmã. — Mas eu descobri uma coisa que você vai gostar, mas precisamos falar sobre isso no Castelo.
franziu as sobrancelhas, confusa, mas logo assentiu, seguindo o irmão até a casa. A garota não poderia negar que o assunto a deixou curiosa, porque mesmo eles não achando o ouro no naufrágio, ela sabia que seu irmão ainda estava empenhado em terminar o que Big John não havia conseguido. Os dois já conseguiam ver o Castelo à distância enquanto caminhavam calmamente até a casa. Eles estavam próximos do galinheiro quando ambos sentiram ser puxados para trás com as bocas cobertas por uma mão.
— Estão vigiando a gente — JJ sussurrou, apontando para o carro preto, estacionado, escondido entre as árvores, soltando eles.
— Mas quem? — John B perguntou.
— Eu não sei, me sigam, vamos pelo píer — JJ falou, caminhando ainda meio abaixado. — John B, você tá com a chave do Pogue? — o loiro perguntou, vendo o amigo assentir.
Eles nadaram pelo manguezal com as mochilas em cima de suas cabeças, em direção ao cais onde o barco estava. foi a primeira a subir no barco, tentando desamarrar a corda que prendia o barco no cais. John B ligou o motor HMS Pogue, levando-os para longe do Castelo. continuava a se perguntar quem estaria os espionando. Durante o caminho de barco, manteve seu foco na água, no céu ou em qualquer coisa que não fosse JJ, com medo de John B perceber o clima estranho entre eles dois. Assim que atracaram o barco, em um lugar calmo e vazio, eles se sentaram em algumas pedras grandes, e, somente naquele momento, conseguiu colocar a sua cabeça no lugar para reparar os novos machucados no rosto de JJ. Ele tinha o canto inferior do lábio cortado, assim como sua bochecha que tinha uma grande marca roxa, fazendo seu estômago revirar e seus olhos se encherem de preocupação toda vez que ela o olhava.
— Primeiro, eu quase fui estrangulado pelos Kooks e agora eu tô devendo 30 mil em um maldito barco! — falou JJ. — Nós deveríamos fugir para Yucatán. Eu estou falando sério — JJ disse, ajeitando o boné. — Surfar e viver das lagostas que pegarmos.
— Quer fugir porque levou uma surra? — John B riu, fraco.
— Johnny! — o repreendeu.
— Você não viu as fotos que Peterkin me mostrou — JJ murmurou.
JJ havia explicado sobre as fotos dos cadáveres dos traficantes que perseguiram eles, o loiro disse como as fotos eram nojentas, e até conseguiria imaginar como eles estavam, mas se perguntava quem teria feito aquilo com os homens.
— Se estão matando pelo ouro, é porque ainda estão por aí! — John B disse, pulando da pedra que ele estava sentado.
— Você perdeu a cabeça? — JJ gritou, tirando o boné e se aproximando de John B, enquanto assistia à discussão, assustada, abraçando os próprios joelhos, sem saber o que fazer. — Faz cem anos, cara! Cem anos que tentam achar o ouro do Royal Merchant e ninguém conseguiu! Se você continuar desse jeito, vai acabar como seu pai. — arregalou os olhos ao ver John B empurrando JJ.
— Eu não posso desistir, JJ! — John B falou, agarrando a blusa do loiro. — Na última vez que o vi, nós brigamos, depois ele pegou o nosso dinheiro e foi atrás do Royal Merchant — John B falou, levando o olhar para . — Eu disse que ele era um pai de merda e o resto você já sabe.
— Não é nossa culpa, Johnny — murmurou. — Ele iria ir de qualquer jeito.
— Não importa de quem é a culpa, — ele falou, com a voz começando a falhar. — Não podemos desistir, temos que ir atrás disso, ele é nosso velho. — Ele riu, fraco. — Precisamos fazer isso.
suspirou, tentando manter a calma, mas sentia o coração acelerando. Ela olhava para o chão, inquieta, buscando algum jeito de convencer John B a não seguir com o plano. A ideia de ir atrás do ouro a deixava nervosa, mas nada do que pensava parecia ser um bom argumento. E, mesmo com a sua ansiedade aumentando, ela sabia que ele tinha razão — talvez fosse mesmo algo que deviam ao pai. Sem querer demonstrar tanto nervosismo, forçou um pequeno sorriso para John B, que, animado, interpretou aquilo como um “sim” imediato. Quando os dois se viraram para JJ, ela notou que ele estava em silêncio, encarando o mangue.
— Eu tenho um plano, você vem ou não, JJ? Quatrocentos milhões, quanto você deve de indenização? — John B perguntou, fazendo o loiro bufar enquanto pegava a mochila.
— Não temos nada a perder, não é? — JJ falou, caminhando em direção ao barco, enquanto os Routledge faziam um high-five.
Os três voltaram para HMS Pogue, sentada no convés, sentindo a leve brisa bater em seu rosto, enquanto John B pilotava o barco e JJ conversava com o amigo sobre algo que ela não quis prestar atenção, nervosa demais com tudo o que havia acontecido. Sabia que alguma hora teria que falar com JJ sobre o que havia acontecido, mas não achava que seria a melhor hora para aquela conversa, não quando o rosto dele estava todo machucado por causa da visível briga que teve com Luke Maybank.
John B atracou o barco nas docas do Figure Eight, já estava anoitecendo, o que fazia as luzes da grande casa onde acontecia a festa do solstício brilharem muito mais. achava aquilo injusto, para dizer o mínimo, o Cut estava completamente sem energia e um completo caos, enquanto os Kooks vestiam vestidos bonitos e faziam festas caras.
— Dá para acreditar nessa merda de solstício? — John B falou, olhando para a festa.
— Claro. Acontece todo ano, não importa se o resto da ilha está ferrada — JJ falou, descendo do barco.
— Será que ter empatia pelo resto das pessoas é muito difícil para eles? — murmurou, segurando a própria mochila. — Então, qual é o plano, Johnny?
— JJ tem que entregar isso para Sarah — o garoto falou, entregando um pequeno papelzinho dobrado para o loiro. — E vocês não podem ler.
— Sarah Cameron? — encarou o irmão, confusa, se aproximando do loiro, que abria o papel.
— Quem é Vlad? — JJ perguntou.
— Você nunca me ouve? — John B reclamou.
— Você está afim da Sarah? — olhou para o irmão, com cara de contragosto. — Como vai falar isso para a Kiara?
— Escutem! Eu tô fazendo isso pela gente, beleza? — John B falou, entregando um uniforme de garçonete. — , o seu trabalho é não deixar a Kiara ver JJ entregando o papel para Sarah.
— Quando a Kie descobrir, é melhor me deixar fora dessa — falou, antes de se afastar dos dois garotos para se vestir.
tentou se ajustar no conjunto preto do uniforme, ainda imaginando como John B tinha se metido com Sarah Cameron. Não estava com uma boa sensação sobre tudo aquilo, se aproximar dos Kooks era praticamente cavar sua própria cova, tinha sido o próprio John B que tinha ensinado aquilo para ela, além do fato de Kiara odiar a Cameron, mesmo que ninguém soubesse o verdadeiro motivo por trás disso.
— Vamos, ! — JJ falou, chamando a atenção da garota.
riu, vendo o loiro usando uma camiseta social branca, uma bandeja entre os braços e uma gravata borboleta, que estava toda torta, começando a andar em direção à festa. JJ parecia estar nervoso, mesmo não querendo demonstrar muito, mas a Routledge não conseguia parar de reparar como ele sempre estava ajeitando o cabelo de forma nervosa, secando as mãos suadas em suas próprias roupas ou até mesmo ficando muito em silêncio, o que não era algo muito comum de Maybank. parou em sua frente, sem olhar para o rosto dele, fazendo o garoto franzir as sobrancelhas enquanto ela começava a tentar ajeitar a gravata borboleta em um completo silêncio angustiante.
— Você está bem? — perguntou, olhando nos olhos de JJ pela primeira vez desde que ele foi levado por Shoupe, no início da tarde.
— Não é como se eu nunca tivesse apanhado antes — JJ comentou sem olhar para ela.
Antes que pudesse falar algo, JJ apenas seguiu em direção à festa, fazendo a garota suspirar, preocupada, o seguindo. Entrar tinha sido mais fácil do que imaginou, mas rapidamente ambos se separaram, a garota foi em direção à Kiara e JJ se colocou entre as pessoas em busca de Sarah Cameron.
— Como você veio parar aqui? — Kiara perguntou, sorrindo animadamente para a amiga.
Kiara parecia estar mil vezes mais feliz e aliviada por encontrar outra pessoa conhecida ali. sabia que sua amiga odiava aquele tipo de coisa e como Kiara não se dava bem com nenhum Kook, ela gostava de ver seus amigos por ali, mesmo que eles estivessem trabalhando.
— Senhorita, aceitaria uma bebida? — brincou, esticando a bandeja vazia para a amiga.
— Claro, a mais cara que você tiver — Kiara riu, entrando na brincadeira da garota, mas ambas pararam de sorrir quando ouviram alguém tossir atrás delas, tentando chamar a atenção de ambas.
— Kiara, pode vir comigo, por favor? — o Sr.Carrera falou, fazendo a filha resmungar em descontentamento, olhando para a amiga como um pedido silencioso de desculpas, antes de se virar, seguindo o pai.
olhou para os lados à procura de JJ. Sua atenção se desviou, a fazendo olhar para todos os lados: as comidas caras que serviam, os lustres brilhosos e enormes, como as pessoas estavam muito bem vestidas e que aquelas roupas poderiam pagar o aluguel de sua casa. Ela tomou um leve susto quando sentiu alguém segurando seu pulso. Olhando para trás, ela encarou Charles Thornton. O homem usava um terno bege, juntamente de uma camisa branca. Ele encarava a mais nova de forma confusa, o que fez o encarar da mesma forma.
— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, sério.
— Trabalhando. Eu sou pobre, lembra? — respondeu, mentindo em tom irônico. — Aliás, se quiser pagar meus duzentos dólares adiantado, eu agradeceria.
— Claro, vou dar seu dinheiro adiantado, quem sabe assim você ajuda a pagar a fiança do seu amigo — Thornton ironizou.
sentiu seu coração disparar assim que viu Rafe, Kelce e mais alguns garotos que ela apenas sabia que eram tão mimados quanto os outros correrem para o banheiro atrás de JJ. Seu corpo se estremeceu, ela olhou para os lados, pensando no que fazer enquanto Sr.Thornton parecia estar confuso com a mudança de humor repentina da garota.
— Charles, chame um segurança — ela disse, apressada.
O homem franziu suas sobrancelhas, confuso, mas ao reparar o desespero da garota, ele apenas fez sinal para um segurança que circulava pelo local seguir em direção ao banheiro masculino, deixando o segurança entrar primeiro. Rafe e Kelce soltaram JJ no mesmo instante, JJ apenas começou a explicar para o segurança que deveria ser expulso por invasão de propriedade, fazendo assentir com a cabeça e afirmar que invadiu a festa junto. O segurança não pareceu entender o que estava acontecendo inicialmente, mas logo agarrou os dois pelo braço, os puxando.
— Ei, , já pensou em ir me visitar com essa roupinha hoje à noite? — Rafe falou, sorrindo maliciosamente. — Você está bem gostosa para uma Pogue.
sentiu o rosto esquentar de raiva e, em um piscar de olhos, JJ se soltou e partiu para cima de Rafe, xingando-o, até que o segurança o segurou novamente e continuou a puxá-los para fora do banheiro. , desconfortável com o comentário, puxou a barra da saia, tentando ignorar as palavras de Rafe. Enquanto eram arrastados para fora da festa, os olhares dos convidados recaíam sobre eles com expressões de desagrado. JJ não pareceu se importar muito, roubando a bebida e um aperitivo de uma mesa, atraindo ainda mais atenção.
— Ei, Rose! Você está igualzinha à Estátua da Liberdade — comentou, rindo, ao passar por ela, embora sentisse o braço doer com a força que o segurança usava para puxá-los.
— A gente sabe andar sozinho! — reclamou JJ, se soltando do segurança com um puxão.
— Não pode fazer isso! Não pode expulsá-los. Eu os convidei — Kiara gritou, fazendo o segurança se virar em direção a ela. conseguia ouvir os murmúrios da mãe de Kiara, a xingando e a mandando não falar nada, mas a garota parecia ignorá-la. — Eu sou membro desse clube! — JJ empurrou o segurança, fazendo o homem esbarrar em uma mesa, derrubando vários copos no chão. O loiro agarrou a mão de e o coração da Routledge disparou com o toque. Um sorriso calmo surgiu no rosto de JJ ao olhar para ela, que sorriu de volta, parecendo totalmente alheio ao clima estranho que estava há algumas horas.
— Kie, nós vamos para o Rixon's, Pope, você também! — JJ falou, animadamente, puxando em direção à saída.
— Trabalhadores do mundo. Tirem suas correntes! — chamou os amigos, encarando principalmente Kiara como se motivasse a amiga a segui-los.
JJ e correram em direção a John B, que os esperava na parte de fora da festa com os braços abertos e um sorriso animado. A garota sorriu de volta para o irmão, vendo o garoto fazer um sinal de contingência para os dois em sua frente, que ajeitaram a postura, imitando o ato do garoto.
— Coronel! — JJ e disseram, juntos.
— Capitã e capitão.
— Missão comprida, senhor — JJ falou.
Novamente, sentiu sua mão sendo puxada por JJ, que a rodou como se eles estivessem em uma dança. A garota olhou para trás, vendo Pope e Kiara se aproximarem deles, correndo, sorridentes. Kie abraçou a amiga com uma risada contagiante. encarou Topper e Rafe e apontou o dedo do médio para os dois, não se importou com mais nada, apenas voltou a correr junto aos seus amigos.
Com o seu corpo repleto de adrenalina, ainda corria ao lado dos Pogues, sentindo-se totalmente viva. Eram esses momentos que ela adorava — fugir de festas chatas, discutir com os Kooks e virar o centro das atenções, deixando as senhoras ricas irritadas. Ser uma Pogue era isso, e ela amava cada segundo. O caminho na Kombi era divertido e leve, estava no banco da frente enquanto John B dirigia, JJ contava animadamente como ele e invadiram a festa — claro que ele pulou a parte de Sarah e as coisas que Rafe falou no banheiro —, aumentando a história, fazendo seus amigos rirem. Assim que chegaram ao Rixon’s, os Pogues desceram da Kombi, deixando se trocar dentro da van, sentindo nojo das palavras de Rafe assim que tirou a saia e colocou seus shorts e sua camiseta novamente. Os Pogues estavam sentados em troncos em volta da fogueira, todos tinham uma feição ansiosa com a reunião de emergência convocada por John B. JJ estava sentado ao seu lado, ainda olhava nervosamente para o loiro, estava tentando ignorar e fingir que nada aconteceu, igual JJ estava fazendo, mas era mil vezes mais difícil do que ela imaginava, ainda mais por sentir seu coração acelerar quando se lembrava de JJ a girando, em meio à festa Kook. John B bagunçou o cabelo da irmã, e, mesmo sabendo das inúmeras coisas que poderia dar errado no plano de seu irmão, aquilo soava como algum tipo de esperança. Para , era como se ela tivesse a chance de orgulhar Big John pela última vez, além do fato de achar importante apoiar o seu irmão.
— Meu pai vai me matar, podem explicar direito o motivo dessa reunião obrigatória? — Pope perguntou.
John B fez uma pausa dramática, intercalando o olhar entre sua irmã e JJ, provavelmente buscando alguma aprovação ou um incentivo para começar sua explicação. assentiu com a cabeça, animadamente, na tentativa de apoiá-lo a dar a sua explicação.
— Conte antes que nos matem! — JJ disse.
— Estão prontos? — John B falou, dramaticamente, ficando de pé, chamando a atenção de seus amigos. Kiara assentiu, curiosa. — Então, o ouro nunca naufragou com o Royal Merchant.
— Meu Deus! Lá vamos nós, de novo — Pope disse, visivelmente desapontado.
O rosto de Kiara também não estava mais com uma expressão tão animada, era compressível, tinha sido extremamente frustrante das últimas vezes que eles foram atrás do ouro, então era meio óbvio que não teriam a mesma animação que antes e, mesmo não gostando de admitir isso em voz alta, JJ estava certo, Kiara e Pope tinham família, tinham algo a perder e pessoas para voltarem no fim do dia, eles três não.
— Por favor, escutem ele — falou, recebendo olhares receosos de Kiara e Pope.
— Esteve aqui o tempo todo. — John B sorria, chutando um pouco da grama, fazendo todos prestarem atenção nele. — Está na Ilha, sempre esteve.
— Você está falando sério? — Kiara tinha um sorriso enorme no rosto, ela exalava empolgação. — Ai, meu Deus.
— Gostaria de expressar meu ceticismo — comentou Pope.
— Tem todo o direito. Mas antes, posso mostrar minhas provas, senhor? — John B se sentou, colocando a mochila sobre o colo, pegando um papel velho. — Isso é uma carta de Denmark Tanny.
— Quem é esse? — Kiara perguntou.
— Ele foi um escravo que sobreviveu ao naufrágio do Royal Merchant. Olhem — John B passou o papel para Kiara. — Os escravos não foram citados como tripulantes, mas meu pai achou o manifesto completo. Foi a grande descoberta dele — ele disse enquanto Pope parecia analisar o papel, que Kiara passou. — Tanny usou o ouro do Merchant para comprar a sua própria liberdade. — se esquivou ao lado de Heyward, tentando ver o papel juntamente com o amigo. — Depois disso, ele comprou a fazenda. Rufem os tambores, por favor! — A loira sorriu, animada, tirando os olhos do papel, começando a bater em suas próprias coxas como se fossem tambores, acompanhada pelos seus amigos. — Porque a fazenda dele é Tannyhill Plantation.
— Tannyhill? — Kiara perguntou, surpresa igual a Pope. e JJ sorriam, entusiasmados, para John B.
— Sim. Ele usou o dinheiro para libertar os escravos e vender uma tonelada de arroz, os fazendeiros brancos ficaram putos e decidiram linchá-lo — John B completou, Kiara revirou os olhos, fez uma pequena careta de desgosto. — Então, no dia que foram buscá-lo, ele escreveu uma carta de despedida para o filho e, na última frase, ele deixou uma mensagem codificada sobre onde encontrar o ouro. — fez sinal para o irmão continuar. — "Colha o trigo na Parcela 9." Só que não tem trigo, porque é apenas um código para ouro.
— Puta merda — Pope falou, sem reação. Kiara ria alto em animação enquanto tinha um sorriso orgulhoso em seu rosto.
— Só precisamos do mapa original da propriedade e vamos encontrar o ouro — falou John B, animado.
— Certo, isso pode ter uma pequena chance de ser verdade — Pope falou, levemente convencido. JJ, que estava sentado, se levantou rapidamente e caminhou em direção a John B, o abraçando forte.
— Cara, é tipo o Rei Tut! — Kiara riu, animadamente.
— Eu sou um gênio! — John B falou enquanto JJ o erguia no ar, o abraçando.
— Eu tô tão orgulhoso de você — Maybank falou, colocando o amigo no chão, indo se sentar ao lado de .
— Valeu. É muita gentileza sua — John B disse, sorridente.
— Então… qual é o plano? — perguntou, curiosa, visto que John B não tinha explicado essa parte para ela e JJ.
— Boa pergunta. Sarah Cameron vem hoje. Ela vai trazer o mapa… — falou John B. Kiara franziu as sobrancelhas, no mesmo instante encarando o amigo de forma brava.
— Sarah? Por que a Sarah tá incluída nisso? — Kie o encarava, não o deixando terminar de falar. Pope olhava para o amigo também.
— Isso vai ser bom — JJ falou baixo, recebendo uma cotovelada de .
— Sarah me levou ontem à biblioteca de Chapel Hill, e foi onde consegui a carta.
— Você foi à Chapel Hill com Sarah Cameron? Por isso passou o dia inteiro fora? — Kiara disse, estressada. — Saiu com Sarah Cameron enquanto estava preocupada achando que tinham pegado você?
A Routledge se manteve em silêncio, seria uma mentira se dissesse que não ficou brava quando descobriu que John B sumiu por um dia inteiro com Sarah Cameron, sem ao menos ter tentado avisá-la. Nunca teve uma opinião concreta sobre a Cameron, as únicas coisas que sabia sobre a loira era o que sua amiga falava dela. Kiara sempre evitava contar o real motivo de não gostar de Sarah, mas sempre deixava nítido seu ódio pela garota. confiava em sua amiga, realmente acreditava que Kiara tinha motivos para não gostar da Kook, mas mesmo assim não via motivos para odiar uma pessoa que sequer conhecia por causa de algo que aconteceu entre Carrera e Cameron, mas também não via muitos motivos para confiar na Princesa Kook.
Se lembrou de Sarah lhe entregando as balas de gelatina, no dia em que ela apareceu no Castelo, falando com John B, o que fez se sentir burra por não ter desconfiado dos dois desde aquele dia.
— Sim… — John B respondeu, um tanto quanto cauteloso.
— Eles se pegaram — JJ falou. John B o encarou, furioso, ganhando outra cotovelada de .
— Não fiquei com ela, só a usei para obter acesso — John B tentou se explicar.
— Você está orgulhoso disso? — perguntou , julgando o irmão pelo que ele havia falado. John B bufou ao ouvir a fala da irmã.
— Contou para ela sobre o ouro? — Kiara perguntou, ofendida. John B passou as mãos pelos cabelos, coçando a nuca, parecendo formular uma resposta.
— Eu só estava tentando acessar os arquivos…
— Isso é um sim? — Kiara perguntou, visivelmente magoada.
Aquela discussão estava deixando ansiosa, sua perna direita tremia enquanto estalava os próprios dedos, na tentativa de desviar sua atenção para longe das vozes de John B e Kiara, fixando seus olhos no fogo que queimava os gravetos que os garotos haviam pegado quando haviam chegado ao Rixon’s. Em meio à discussão de John B e Kiara, sentiu a mão de JJ repousar sobre a sua, dando um aperto forte. fechou os olhos por alguns segundos, respirando profundamente, se sentindo cada vez mais confusa em relação a ela e JJ, mas esse não era seu maior problema no momento, pois a única coisa que queria era poder ir para casa ou apenas mandar Kiara e John B calarem a boca e apenas tentar resolver aquilo de outra maneira. Já conseguia prever o quão estressante aquilo iria se tornar, conhecia bem os dois, sabia que seu irmão era teimoso e até meio egoísta o suficiente para fazer tudo que pudesse para chegar até o ouro, não se importando com o que aconteceria. Já Kiara, poderia cortar John B em pedaços, se ele agisse daquela forma com ela ou com o restante dos Pogues.
Quando a discussão finalmente cessou, voltaram para a Kombi. não perdeu tempo antes de deitar a cabeça contra o vidro da janela e cochilar, após ter passado grande parte da sua noite anterior pensando no beijo de JJ e preocupada com o seu irmão, além de ser uma ótima forma de ignorar os comentários ácidos de Kiara para John B. Mesmo dormindo, conseguia ouvir a voz dos dois abafadas em sua cabeça. sabia que era uma situação difícil, que Kiara estava certa em partes e que John B era um mentiroso que dizia não estar gostando de Sarah Cameron. Não soube quanto tempo dormiu, mas, pelo seu cansaço, soube que não havia durado nem dez minutos ao abrir os olhos de forma preguiçosa assim que sentiu o veículo sendo estacionado. Viu Pope sentado em sua frente enquanto John B saía da Twinkie, eles estavam parados em frente a uma espécie de farol de madeira extremamente velho. JJ fez menção de abrir a porta para que todos saíssem. John B olhou para os Pogues por alguns segundos antes de suspirar, nervoso.
— Acho melhor eu fazer isso sozinho — John B disse, fazendo Kiara revirar os olhos.
— Está falando sério? — murmurou, ainda meio sonolenta.
— Eu só não quero assustar Sarah com uma gangue em peso — John B explicou.
— Só não entendo porque ela vai participar! — Kiara disse.
jogou sua cabeça para trás, cansada de ouvir a mesma discussão se repetindo, várias e várias vezes.
— Kie, ela não vai participar, tá? É apenas uma reunião de negócios — afirmou John B. — Assim que conseguirmos o que precisamos, largamos ela. A gente precisa do mapa.
— Isso não tem nada a ver com você nem com a gente. O lance é ela. Cara, ela vai te manipular. Promete que não tem nada entre vocês — Kiara disse, olhando para o amigo.
— Eu prometo — John B disse. teve vontade de rir, pois a mentira estava estampada na feição do irmão.
— Muito convincente — ironizou JJ.
— 100% convincente — completou Pope.
John B sumiu do seu campo de visão, caminhando para longe. JJ começou a enrolar um baseado, Pope reclamava de JJ fumar dentro da Kombi e Kiara se mantinha em silêncio. cutucou o ombro de Maybank, dando sinal para eles ficarem lá fora, na tentativa de fazer Pope parar de reclamar da fumaça. Os dois saíram do veículo, pulando para fora e se afastando um pouco. A garota se sentou embaixo de uma árvore, encostando as costas no tronco, sentindo a brisa bater em seu rosto suavemente. JJ se aproximou, se sentando ao lado dela, tragando a fumaça e logo depois entregando o cigarro para .
— Você realmente acha que tem ouro nessa ilha? — perguntou, olhando para o garoto.
— , se tem ouro em algum lugar, é nessa ilha — ele riu.
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, sentindo o vento bater em seus corpos enquanto a fumaça queimava a sua garganta e suas narinas devido ao cheiro forte.
— JJ? — o chamou, mas o garoto continuou olhando para a frente, sem desviar o olhar para a garota. — Até quando vamos fingir que aquilo não aconteceu?
— Aquilo? — Maybank riu, sem humor. — Não consegue nem ao menos dizer que a gente se beijou?
— Por que está falando desse jeito? — franziu as sobrancelhas. — Estávamos bem a segundos atrás!
— Porque você quer ficar me lembrando do meu maior erro! — disse JJ, finalmente olhando para a garota.
sentiu como se o seu coração tivesse sido pisoteado em mil e um pedaços, ouvir aquilo tinha doído de uma forma que ela mal conseguia descrever. Sentia seus olhos queimarem pelas lágrimas acumuladas, a voz de Maybank ainda ecoava pela sua cabeça, gritando como aquilo tinha sido o maior erro dele. Se sentia tão burra por cogitar durante aquela noite que JJ poderia gostar dela, mais do que uma amiga. Agora, exatamente 24 horas depois, ela ouvia JJ dizer que aquilo havia sido um erro.
Estava escuro, a única fonte de luz era o fogo na ponta do cigarro que ele tragava, mas, ainda assim, tinha certeza que viu uma lágrima escorrer pela bochecha de JJ.
— Não precisa ficar me lembrando que você não queria me beijar, — murmurou JJ, se levantando da grama.
— Quem disse que eu não queria beijar você? — disse, rapidamente, sem ao menos pensar em suas palavras. JJ a olhou, surpreso, as sobrancelhas franzidas de confusão. — Por Deus, JJ! Era tão óbvio que eu queria também.
— Então, por que parou? — JJ perguntou, firme, olhando para ela com urgência em sua voz.
abriu a boca, sentindo um nó das palavras presas em sua garganta. Tentava formar uma resposta, mas nada saiu, ficando em silêncio. Ela mesma não sabia ao certo o motivo de não ter correspondido ao beijo, de ter hesitado naquele instante que parecia o mais esperado. JJ continuava olhando para ela, com uma mistura de expectativa e até mesmo vulnerabilidade, algo que raramente se via no rosto dele. A intensidade nos olhos azuis dele imploravam por uma explicação. No fundo, sabia que havia algo que a impediu, a maldita regra Pogue, o medo de como seu irmão e amigos reagiriam. O que aquele beijo realmente significaria para ela e JJ? Iria arruinar a amizade deles? O que eles se tornariam? E se não desse certo? Como conviveriam um com o outro após tudo aquilo? O que o resto de seus amigos falariam?
JJ manteve o olhar, mas agora parecia se fechar aos poucos, como se a falta de resposta fosse para ele uma confirmação. Para ele, o silêncio de soava como mais uma rejeição ou como uma prova de que o que sentiu foi realmente um erro. pôde ver o brilho nos olhos dele diminuir, fazendo seu coração doer. Queria dizer algo — qualquer coisa que pudesse aliviar o peso daquele momento, que pudesse apagar as palavras duras e quebrar a tensão. Mas as palavras ainda não saíam, nada, não conseguia expressar nenhum de seus sentimentos e a decepção nos olhos de JJ doía nela fisicamente.
O silêncio dos dois foi interrompido por Pope, que correu, apressado, em direção ao dois, com um olhar apressado e voz ofegante. Ele os encarou por alguns segundos, ignorando a nítida cena confusa entre os dois, encarando .
— É o John B — Pope disse, preocupado e assustado.
não precisou de mais nada além da voz de Pope para fazer seu coração disparar e o pânico tomar conta dela. O medo tomou conta de todo o seu corpo, juntamente com um frio em sua espinha, os mil cenários em sua cabeça imaginando o que poderia ter acontecido para Heyward estar tão nervoso com a situação. Sem pensar duas vezes, ela correu atrás de Pope, seguida por JJ, suas pernas movendo-se rapidamente, mas sua mente apenas pensava em uma coisa: "por favor, que ele esteja bem." A ideia de que John B tivesse se metido em mais alguma confusão era estressante, mas algo em meio ao clima do local indicava que não era apenas algo bobo.
Assim que ouviu os gritos de Kiara e Sarah, correu à frente de Pope. Seu corpo congelou assim que viu a pior cena que poderia imaginar: John B estava inconsciente, esticado no chão, com Sarah Cameron em cima dele, o rosto inundado de lágrimas enquanto gritava por socorro. sentiu sua respiração descontrolada, seu corpo tremia, nem sequer existia um chão onde ela pudesse pisar, apenas com os gritos das garotas abafados em seus ouvidos. Tudo estava girando e, quando se deparou, havia empurrado Sarah para longe de seu irmão abruptamente, segurando a cabeça dele entre suas mãos com medo de movê-lo e algo acontecer.
— Eu to aqui… — ela sussurrou. — Vamos ficar bem, Bird.
Mesmo que sentisse a respiração fraca dele e o seu coração batendo, ainda parecia paralisada, seus olhos grudados em seu irmão inconsciente, sentindo a ventania bater contra seu rosto. Ele era seu irmão e sua única família.
O cérebro de parecia estar completamente desligado, paralisado pelo horror, enquanto seu coração acelerava freneticamente, como se quisesse sair de seu peito.
Tudo aconteceu como um borrão: em um minuto, estava sentada no chão da Kombi, JJ dirigindo desesperadamente em direção ao hospital e ela sendo acalmada por Pope, no outro, estava na sala de espera, com médicos aparecendo e dizendo um nome estranho sobre algum exame que seu irmão deveria fazer, segundo depois sumindo pelo corredor. Uma assistente social tentou falar com a garota, mas ficou em um silêncio profundo enquanto a mulher perguntava as coisas de sempre "há quanto tempo você não fala com o seu tio?", "qual foi a última vez que você falou com ele?", "o seu tio ajuda vocês de alguma maneira financeira?", mas, assim que a mulher percebeu que não conseguiria retirar informação nenhuma da garota, que estava paralisada, esperando alguma notícia boa de John B, pareceu desistir, parando o pequeno interrogatório.
O medo a envolveu como uma tempestade súbita, um frio gelado percorrendo sua espinha enquanto ela imaginava o que poderia ter acontecido com John B. Ele era tudo o que lhe restava, seu porto seguro em meio ao caos, e a ideia de que ele pudesse estar em perigo era insuportável.
Na sala de espera, tudo era muito estranho. Kiara ficou como ela por algum tempo, antes de ser obrigada a voltar para casa por seus pais. Pope e seu pai foram uma boa companhia, Sr. Heyward foi o motivo de não ter sido levada para um abrigo, alegando que ela precisava ver seu irmão acordado antes de tomarem alguma providência sobre isso e, por fim, tinha JJ, que não saiu de lá por um instante. O loiro ficava encarando a garota, não se sentou ao lado dela nenhuma vez, nem ao menos tentou falar com , apenas a observava com preocupação. ficou furiosa ao saber que Sarah tinha sido a primeira a entrar no quarto quando John B acordou, apenas disseram a que, como tinha sido a primeira vez durante a noite toda que ela havia dormido, não quiseram acordá-la. Tinha a cabeça apoiada no ombro de Pope, esperando a Cameron sair para ela poder ver o seu irmão. Ela franziu as sobrancelhas ao ver Ward Cameron, o pai da garota, saindo juntamente com ela do quarto. Eles deram um sorriso gentil para , o qual foi ignorado pela garota, que se levantou rapidamente, caminhando até o quarto do irmão.
— Você realmente achou que iria conseguir se livrar de mim tão cedo? — brincou John B, ao ver parada na porta do quarto.
A garota abraçou o irmão fortemente enquanto ele ria. Um alívio enorme percorreu o corpo da garota, ver seu irmão bem, rindo e fazendo piadas tinha sido um ótimo sentimento. Ela se sentou sobre a maca hospitalar, olhando para o garoto. — Tenho boas notícias… — John B disse, animado. — Sarah me contou que uma assistente social queria levar você, então ela falou com o Ward e ele concordou em ser nosso guardião legal. Vamos ter um lugar para morar, ele vai cuidar da conta do hospital, não vamos precisar fugir de ninguém e não temos chance de ser separados.
não entendia porque Ward Cameron gostaria de ser o guardião legal de dois adolescentes só porque a filha dele estava brincando de se encontrar às escondidas com John B, não parecia fazer o mínimo sentido na cabeça da . Claro que Ward sempre teve um rótulo de um homem bondoso que fazia doações para a caridade, mas por algum motivo a garota tinha uma sensação ruim sobre tudo aquilo.
— Não precisamos de Ward — disse , rapidamente. — Eu vou dar um jeito de pagar o hospital.
— Claro, , com o seu salário de 10 dólares a hora? — ironizou John B. — É só por um tempo.
— Eu não vou viver debaixo do mesmo teto que Ward e Rafe Cameron só porque você está obcecado com a Sarah! — disse, estressada.
— Vá para um lar adotivo, é o único lugar que eles vão te deixar ir — John respondeu —, ou você realmente acredita que qualquer outra pessoa dessa ilha iria gostar de ter dois adolescentes dentro de sua casa?
— Talvez os pais de Kiara… — murmurou.
— Os pais da Kie não gostam da gente — afirmou John B, e, mesmo não querendo admitir naquele momento, sabia que era verdade. — Qual é o problema, ?
não gostava de imaginar uma mudança tão estranha como a que iria acontecer, odiava pensar que estaria debaixo do mesmo teto que Rafe Cameron. Sabia que um dos únicos motivos de John B estar realmente animado para aquilo era por causa de Sarah, já que, àquela altura, ele não poderia mais dizer que estava usando Sarah apenas para "obter informações", pois era uma mentira praticamente palpável. Era óbvio que ela também queria parar de fugir da assistência social, mas apenas imaginar que iria viver com os Cameron soava muito estranho.
— Eu não confio neles, Johnny — ela admitiu, olhando para o irmão.
— Você nunca confia em nada que se refere a mim!
— De que merda está falando? — perguntou, confusa.
— Eu estou garantindo para você que vamos ficar seguros, podemos ficar só até eu melhorar, se você achar melhor, e você não consegue confiar em nada que eu falo.
— Cale a boca! — ela gritou. — Não diga que eu não consigo confiar em você quando nós dois só estamos aqui porque eu te apoiei em cada maldita decisão sua! Confiei tanto em você que agora você está em um hospital. Eu apoiei você quando disse que estava certo sobre o ouro, fiz todo mundo acreditar um pouco mais em você, então, John Booker Routledge, não ouse dizer que eu não consigo confiar em você!
Um silêncio doloroso se alastrou pelo quarto, suspirou, se levantando da maca hospitalar, olhando para seu irmão por alguns segundos antes de dar alguns passos para trás. John B parecia estar sem muita reação, não era o tipo de pessoa que surtava e jogava tudo na cara dos outros, ele precisou de alguns minutos para entender o que estava acontecendo com sua irmã.
A verdade era que estava exausta, não havia conseguido dormir durante a noite, estava chovendo demais e sua preocupação não a deixava nem ao menos piscar direito. A discussão mal terminada entre ela e JJ a deixava confusa, parecia que tudo acontecia ao mesmo tempo e não conseguia nem ao menos respirar, queria conseguir ser emancipada e esquecer a assistência social, seu tio irresponsável e simplesmente esquecer aquele maldito ouro e aproveitar o resto do verão em paz. Mas parecia que, quanto mais ela queria se afastar daquilo, aquela aventura a chamava com cada vez mais força, como se o destino a chamasse e dissesse que aquilo era algo que ela deveria fazer. Talvez John B sentisse o mesmo, por isso não tinha desistido daquilo ainda.
se sentiu culpada por pensar tão rapidamente em uma forma de não morar com os Cameron, ela acenou para John B em despedida antes de sair do quarto, passando reto por JJ que ainda estava na sala de espera. O loiro segurou seu braço, a encarando por alguns segundos.
— JJ, tenho coisas para resolver agora — disse, firme, se soltando do garoto, saindo do hospital sem olhar para trás.
Ela caminhou em direção ao Figure Eight, ignorando tudo o que acontecia em sua volta. Ela sabia que não era uma das melhores ideias no momento, mas como morar com Rafe Cameron, o garoto com que ela teve uma briga e acabou apanhando duas vezes em menos de uma semana, não era uma opção, ela preferia implorar pela compaixão de Charles Thornton. ainda considerava Topper um pouco maluco, igual a Rafe, mas era perceptível a diferença entre os dois garotos, Thornton parecia ter um pouco mais de sanidade mental do que Cameron, era isso que esperava, pelo menos.
Ao bater à porta da mansão dos Thornton, para seu enorme desagrado, Topper atendeu a porta, com as sobrancelhas franzidas, encarando a garota de cima a baixo com uma expressão assustada.
— O que você está fazendo aqui, Pogue? — Topper perguntou.
— Pode chamar seu pai? — perguntou. — Por favor.
— O que você quer com… — Antes que Topper pudesse falar, Charles Thornton apareceu na porta, como se fosse uma salvação para a paciência e ansiedade de . O homem murmurou algo para o filho antes de fazer sinal para a garota segui-lo pela casa grande e bonita.
Após James fechar a porta do escritório, se encolheu na cadeira, tímida, em busca de coragem dentro de si mesma para pedir que o homem fosse seu guardião legal.
— O que está fazendo aqui, ? — o homem perguntou, sério.
— Preciso de ajuda — ela disse, rapidamente.
— Precisa de ajuda para pagar a fiança de seu amigo? — Thornton falou, grosseiramente, se sentando atrás da mesa do escritório.
— Não — disse, estressada daquele assunto. — Preciso de ajuda porque seu filho empurrou meu irmão da torre de Hawk's Nest, ontem à noite. Pergunte a ele.
O homem franziu as sobrancelhas, encarando a garota como se ela fosse a maior mentirosa daquela ilha, parecendo estar confuso com a situação. brincava com os próprios dedos com ansiedade antes de voltar a falar.
— John B está no hospital — ela murmurou. — O conselho tutelar foi atrás da gente e Ward Cameron se ofereceu para ser nosso guardião legal… mas eu não quero morar com os Cameron.
— , se você está cogitando me pedir para que eu me torne seu guardião legal… — Charles parecia estar procurando cada palavra com cuidado, sendo minucioso em falar com a garota em sua frente.
— Por favor, Charles — encarou o homem. — Eu não vou incomodar, vou passar o dia fora, não preciso nem dormir aqui se precisar, eu tenho minha própria casa, eu só preciso do conselho tutelar parando de me perseguir.
O homem encarou a garota por alguns segundos, tinha uma feição triste estampada no rosto e sua perna tremia em ansiedade.
— Tudo bem, eu vou dar um jeito nisso — ele suspirou, vendo a garota sorrir —, mas você irá morar aqui, sem chegar depois das onze da noite, sem trazer seus amigos e sem se meter em brigas com Topper, e sem falar com Cynthia. Na dúvida, fale comigo — a garota assentiu com a cabeça, rapidamente. — E seus 200 dólares acabaram — ele falou, fazendo revirar os olhos.