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Última Atualização: 12/06/25

29 de maio de 2025


— Obrigada por estarem conosco essa noite, prometo que seremos breves — disse a diretora Lurdes, uma senhora de cinquenta anos rígida e simpática. — O assunto em questão é a festa junina da escola.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Luiz Carlos, o professor de Educação Física, sussurrou para , mas ela ignorou. Festas juninas eram suas paixões e uma das razões de ter escolhido o ramo da psicologia escolar.
Aos 26 anos, tinha muita sorte de estar conseguindo seu segundo emprego da forma que sempre quis: com um bom salário, exercendo o que sua formação dizia. A faculdade e a pós tinham valido a pena para poder chegar ali.
— Teremos a presença de alguns representantes da Empresa Conexões, inclusive iremos conhecer o representante que irá se mudar para cá caso o contrato seja fechado — a diretora continuou, e isso gerou mais burburinhos.
Muitos funcionários eram contra um contrato com uma empresa que não entendia de escolas, enquanto outros estavam empolgados com os benefícios financeiros que poderiam ser trazidos.
— Para isso — a diretora continuou —, precisamos mostrar boa integração entre os alunos e o corpo de funcionários da escola. Portanto, conversei com os coordenadores e achamos que seria muito interessante se cada um se responsabilizasse por coordenar uma tarefa ou barraca da festa, que será dia 12 de junho.
Ali a confusão realmente começou e ninguém mais tentou esconder sua opinião. Em segundos, a sala dos professores tinha se tornado um caos completo.
— Dia 12?! Vocês não podem nos obrigar a trabalhar em um sábado dessa forma! — Karla, a professora de Química, reclamou.
— E dia dos Namorados? Muitos de nós já temos planos agendados há séculos! – exclamou o professor de Física.
— Nos convidar para a festa, tudo bem, mas nos obrigar a trabalhar? — O professor de História sacudiu a cabeça em desaprovação.
— Acalmem-se, por favor! — a diretora Lurdes pediu. — Sabemos que, pela data e pela proximidade do evento, não podemos obrigar a presença de todos. — A mulher já parecia ter pensado bastante no assunto. — Por isso, iremos propor que, na segunda semana de férias escolar de julho em que os funcionários devem fazer formação, aqueles que escolherem trabalhar na festa junina sejam liberados para as férias.
Rapidamente, assim como se iniciou, o caos se acalmou, os professores e demais funcionários voltaram a se sentar, a se calar, e muitos passaram a sorrir.
A diretora suspirou, aliviada, antes de projetar um slide.
— Essas são as funções que cada um pode assumir. Se pronunciem caso desejem ficar em uma delas. Bom, vamos começar: barraca de cachorro quente.
— Eu! — exclamou o professor de Física, se levantando e indo para o fundo da sala, perto de , onde pôde escutá-lo mandar um áudio "amor, mudança de planos…" antes da diretora retomar a fala.
— Certo. Pescaria?
Um a um, os funcionários foram pegando suas tarefas, mas os olhos de estavam fixos em uma linha específica do slide, uma linha que fez seu coração acelerar e fez ela se sentir como se tivesse dezesseis anos novamente.
— Então Luiz Carlos ficará responsável por narrar a quadrilha. — A diretora pigarreou, assinalando mais uma tabela. — Próximo… Correio do amor?
Uma mão ágil se levantou no fundo da sala, atraindo até alguns olhares risonhos. A diretora acenou com a cabeça.
— Então será a responsável.
Quando voltou para casa naquela noite, sentia o coração contente e apertado, tomado por aqueles sentimentos tão conflituosos: nostalgia e saudade.
Uma festa junina no Dia dos Namorados. Em que ela trabalharia com o Correio do Amor. Parecia uma brincadeira do destino.
Uma das coisas boas de morar sozinha era que podia ouvir uma música alta sem incomodar ninguém (a não ser os vizinhos). E poderia se submeter a passar vergonha.
Entrou no Instagram e digitou o nome dele. Na verdade, nem precisou: na primeira letra, o site já sugeria o perfil. Ela encarou aquela foto de perfil. Ela conhecia aquele rosto tão bem. A mão levantada na qual apenas olhos atentos poderiam identificar a cicatriz no dedo causada por uma de suas tolas apostas.
Suspirando, ela fechou o aplicativo. Não tinha motivos para ficar tentada a ver o perfil de . Afinal, eles tinham terminado há 8 anos.
Foi natural. Quando passou para a faculdade em São Paulo de Gestão Comercial e Empresarial, eles, jovens, acharam que tudo se resolveria porque o amor deles era mais forte que tudo.
Mas eles não conheciam a dor de um relacionamento à distância. Em um momento, as coisas simplesmente não estavam funcionando mais e estavam gerando muito mais tristeza do que felicidade para os dois. Um dia, em uma vídeo chamada regada a lágrimas, perceberam que o melhor seria terminarem. E, pelo bem dos dois corações partidos pela perda do amor e da amizade, se afastaram, para ajudar na superação.
Era claro que, desde então, já havia se apaixonado por outras pessoas, tido outros namorados e sabia que tinha sido o melhor para os dois. Ela tinha superado . Mas havia algo no seu primeiro amor que nunca poderia ser apagado. Afinal, tinha sido seu primeiro em tudo. Até seu primeiro marido, ela pensou, rindo, ao se lembrar da surpresa adorável que ele havia montado para o aniversário de namoro deles.
Mas agora eles tinham vidas diferentes. Ele, em São Paulo, trabalhando com comércio, até onde ela sabia, e namorando, de acordo com sua última checagem. E ela estava feliz, com seu próprio apartamento no Rio e seu emprego dos sonhos. Não queria namorar no momento, mesmo que tivesse certeza de que o professor de Educação Física estava dando em cima dela, porque queria aproveitar suas conquistas profissionais. E porque ele não era o certo.
abriu seu armário para pegar o pijama e se deparou com um grave problema: falta de peças quadriculadas no seu guarda roupa. Mas já eram meia noite e tudo o que ela pôde fazer foi resmungar:
— Problema pra de outro dia.

04 de junho de 2025


Graças a Deus é sexta-feira
, pensou enquanto escutava as duas crianças do Fundamental 1 chorarem na sua sala, discutindo por uma brincadeira de queimado.
Não que não gostasse das crianças ou reclamasse de atendê-las. Odiava quando adultos menosprezavam seus problemas e não as tratavam como seres humanos, quando eles mesmos, na mesma idade, sentiam-se solitários e zombados de suas dores.
Não, só estava animada para encontrar Maria, sua melhor amiga da faculdade, depois do trabalho. Depois de meses sem se encontrarem, tinham marcado uma saída no bar regada a álcool, música e sentimentos estranhos que cercavam sobre o dia 12 de junho. E esperava que a amiga aceitasse seu convite para ir na festa da escola com ela.
Mas primeiro tinha que cuidar das crianças. Sorrindo, já não era mais , e sim a tia .
— Valentina, acho que sua amiga está tentando dizer que, apesar de você ter feito o que fez para ajudá-la, ela gostaria que você contasse para ela antes. Algumas pessoas não gostam muito de surpresas, por mais que a gente faça com muita gentileza.
A pequena Valentina de sete anos cruzou os braços e baixou a cabeça, tentando não encarar a amiga enquanto tinha que processar que nem todos gostavam das mesmas coisas que ela.
O dia seguiu da mesma forma como todos os outros. Alguns atendimentos, algumas janelas vagas. Muitas crianças que queriam abraçá-la. Pré-adolescentes que queriam fofocar sobre suas aulas. Adolescentes que ainda tinham suas dúvidas sobre falar com ela, muitos obrigados pelos outros funcionários.
Ao final do expediente, trocou de roupa na escola mesmo, trocando sua calça de alfaiataria e sua blusa de botão por um macacão preto que tinha um decote bonito e discreto nos seios.
Na portaria, Maria já buzinava de dentro do seu Fiat igual uma louca, chamando a atenção de pais assustados.
— Eu vou acabar sendo demitida assim! — reclamou, mas a bronca perdeu forças quando foi acompanhada por um sorriso.
— Entra no carro, otária, e vamos beber! — Maria exclamou, junto com uma buzinada intensa.
entrou no carro, percebendo a saudade que tinha sentido de Maria, a louca e intensa Maria. Era engraçado pensar que tinham se aproximado quando era do tipo mais caseira, mas talvez, por serem tão diferentes, acabassem se complementando.
— Uau, tá gostosa hoje! — Maria comentou, olhando de canto do olho antes de fixar o olhar para frente. — E aí? Quantas crianças choraram hoje?
— Umas sete.
— E como Freud explica esse choro?
— Sei lá, não lembro dessa matéria – brincou, e Maria riu.
— Esse é o espírito!
Elas chegaram em um bar de esquina bem baratinho e agradável que as duas adoravam. Ainda por cima, para a felicidade de , estava cheio de decoração de festa junina. Mas aquilo também te trouxe outras memórias.
— Vou ser responsável pelo Correio do Amor na festa junina da escola. Que, por acaso, vai ser no Dia dos Namorados. — As palavras saíram sem controle.
— 'Cê tá de sacanagem comigo! , meu Deus! Garçom, traz duas caipivodkas de limão com urgência!
— Não é tão urgente — falou pro garçom, que parecia achar graça da situação.
— Ah, mas é sim! Como aconteceu isso? Que azar do caralho.
— Eu sei, eu sei. Tipo, de todos os dias, justo esse?
— E sendo colocada para trabalhar no correio do amor? Que merda…
não quis corrigir a amiga, porque sabia que levaria uma bronca gigantesca por aumentar ainda mais aquela nostalgia invasiva. Ela tinha sido uma das responsáveis por conviver diariamente com quando ela estava na fossa, e não estava disposta a fazê-lo de novo.
— Enfim — quis mudar de assunto —, como está Paulinha?
— Ah, muito bem — respondeu Maria, falando um "obrigada" para o garçom quando ele chegou com as bebidas. — Ela vai expor o novo projeto dela no dia 12 também, disse que é inspirado no nosso amor, e vai cair bem no Dia dos Namorados. Muito brega, né?
Apesar de dizer isso, sabia que Maria estava na verdade completamente derretida pela atitude da noiva. Era romântico demais ter um presente como esses.
— Dia 12? Droga, queria te chamar pra festa da escola.
— Pra que se você sabe que eu sou mulher de carnaval? Festa junina é fria demais e eu só sei dançar funk, o que não serve muito.
— Mesmo depois de todos esses anos de amizade, ainda não consigo engolir essa resposta — retrucou, sorrindo, tomando um gole da bebida. Estava forte. — Tá, vou ter que chamar outra pessoa.
A noite correu bem para as duas amigas, lembrando das piadas da faculdade, reclamando de seus respectivos trabalhos, fuxicando a vida de pessoas que estudaram com elas. Mas, no final, ainda precisava achar uma companhia pra festa.
E tinha uma ideia de quem.

06 de junho de 2025


— Não consegui achar nada nessa loja também — reclamou.
— Você cismou que quer uma blusa quadriculada rosa, se não for na seção infantil, vai ser impossível de achar! — Amanda reclamou.
As duas amigas rodavam o centro, em busca da roupa para a festa das duas. Por sorte, sua amiga da época da escola tinha aceitado o convite.
— Eu tive uma visão — respondeu, teimosa. Uma vez que tinha uma ideia na cabeça, nada era capaz de tirá-la.
— E essa visão vai custar minhas pernas — Amanda reclamou, checando o celular. — Três horas da tarde! E a gente ainda nem almoçou!
— Eu tenho fé que a blusa vai estar na próxima loja.
— Você falou isso nas últimas quinze!
— Que exagero! Eu só falei nas últimas 3. Mas agora é verdade.
olhou para a entrada de mais uma loja, mas decidiu passar direto. Como era frustrante fazer compras quando a única coisa que você quer não se encontra em lugar nenhum.
Então ela travou, no meio da calçada, olhando para o manequim da loja da frente. Este usava uma linda blusa quadriculada rosa clara e branca, com um bolso na frente com um coração bordado. Ainda por cima, tinha um tom clássico de nostalgia com a parte de baixo terminando em um nó.
— É essa! — exclamou.
— Aleluia!
A mulher experimentou o modelo, que serviu perfeitamente, e logo o comprou. Em seguida, levou a amiga para almoçar da forma prometida.
— Ah, como eu amo um churrasco! — Amanda exclamou. Ela mordeu um pedaço da carne mal passada e fechou os olhos, suspirando de alegria.
— Sabe quem eu vi ontem? O João — contou.
— Mentira! Como o bonitão está?
— Bem, prometeu nos encontrar na festa junina. Te contei que o Miguelzinho estuda lá, né?
— Sim, embora eu ache tão estranho ele ter a mesma idade que a gente e já ser pai — Amanda contou. — Eu mal consigo cuidar da Lua!
— E uma gata é mais fácil que uma criança — concordou. — A Lívia apareceu por lá também. Tá com mó barrigão. O João acha que agora vem uma menina.
— Se vier, ele vai ter que chamar de Amanda.
— Ou de .
As duas riram, saboreando a comida, mas Amanda percebeu que a amiga não estava bem.
— Desembucha logo, . Eu não te conheço há 14 anos pra você se fazer de misteriosa agora.
suspirou, mexendo a comida no prato, embora não sentisse tanta fome.
— É estranho, não é? Estarmos juntos sem ele.
Amanda concordou, sem precisar perguntar quem era ele.
— É estranho, parece que voltamos para aquela época, mas sem voltar.
— Até porque, se voltasse, eu não seria uma solteirona — riu.
— Só porque você quer! Da última vez, João me contou que tem certeza que o professor de Educação Física tava dando em cima de você.
— Ele estava — foi forçada a concordar.
Amanda sorriu, nostálgica.
— Quem diria que hoje em dia você já não seria mais cega sobre quem dá em cima de você? Antes, você jurava que podia ser um plano da CIA antes de ser alguém realmente interessado.
— As inseguranças da adolescência. — deu de ombros. — Um tema que eu vejo muito no meu dia a dia de trabalho.
Mas foi impossível que o comentário da amiga não a lembrasse de uma vez em que ela recebeu uma declaração e achou que era uma piada de mau gosto. suspirou. Aquela festa junina precisava passar logo, antes que ela perdesse a cabeça.

12 de junho de 2025


se olhou no espelho uma última vez e decidiu retocar o batom vermelho mate. Sorriu para si mesma, se sentindo bonita, mas ainda dentro do profissional.
Usava uma calça jeans skinny que deixava seu corpo bem bonito, assim como o coturno branco de salto pequeno que ressaltava suas pernas. A blusa quadriculada mágica que havia comprado combinava perfeitamente com o tema e os primeiros botões abertos mostravam a insinuação dos seios, mas nada que pudesse ser considerado sedutor ou inapropriado. Os cabelos soltos em ondas estavam complementados por uma tiara artesanal com corações rosas que Amanda a ajudara a fazer. Usava uma maquiagem leve. Queria se sentir bonita para a vergonha de vender cartões do Correio do Amor depois de oito anos.
Foi até a escola antes da festa começar para ajudar na organização do seu setor. A escola disse que providenciaria as cestas, e os cartões em formato de coração foram recortados pelos alunos, mas ela quis fazer algo de especial: também com ajuda de sua amiga, confeccionou botons de EVA em formato de coração com os dizeres "ajudante do Cupido". Maria teria achado uma breguice, mas, para as duas, era algo encantador e especial.
A quadra da escola estava caótica com barracas montadas pela metade, embora as decorações já estivessem prontas. A caixa de som era testada e caixas eram carregadas de um lado para o outro. Quando encontrou todos os adereços do correio, foi abordada por Karla.
, que bom que chegou! Você sabe cozinhar? Estamos com um problema urgente no setor dos caldos.
Enquanto corria para o socorro dos colegas, só conseguia pensar que a festa era muito mais mágica quando já estava inteiramente montada sem sua ajuda.
Uma hora depois, os primeiros convidados entravam na festa, que com muito esforço tinha ficado linda e o mais próxima de perfeita. Embora fosse estranho estar em uma festa junina escolar que não fosse de sua própria escola. Mesmo depois de tantos anos, seu coração se recordava.
ajudou os alunos que chegavam a colocar suas cestas, seus cartões e os botons, que a maioria adorou. O trabalho seria realizado em escalas e ela teria uma pequena pausa no almoço. Tudo pelas festas juninas. E pelas férias de julho.
viu Amanda entrar na festa segurando Miguel, de apenas dois anos, no colo, com Lívia e João ao lado, rindo de alguma coisa que a criança falava para a tia. O coração de se aqueceu e se partiu ao mesmo tempo, mas ela focou na primeira sensação quando se aproximou dos amigos.
— Estou tão feliz que vocês estão aqui!
— Tia ! — Miguelzinho disse, se jogando do colo de Amanda para o colo de , gerando uma exclamação surpresa da parte da mãe da criança quando esta agarrou o cabelo de para se apoiar.
, me desculpa!
— Tudo bem, Lívia — respondeu, rindo. — Esse aqui eu perdoo.
— Você está ótima, querida, adorei a blusa — Lívia comentou.
— Ainda bem que adorou, porque só São João sabe quanto eu sofri pra acompanhar essa aí nas compras — Amanda implicou.
— Como o faz falta nessas horas — João implicou, gerando uma risada geral.
Amanda deu uma olhadela rápida na direção da amiga, como se quisesse sondar como ela estava se sentindo com a menção do nome do ex. Mas ela só sorriu, acostumada com esses 8 anos a esconder as pequenas saudades que passavam em seu coração. Até porque já tinha passado da época de sofrer por ele. Tinha outros namorados mais recentes para sofrer se quisesse, embora com nenhum o amor tivesse sido igual, o que não os tornava menos especiais, apenas… diferentes.
conversou mais um pouco com eles antes de se despedir por hora para vender alguns cartões. O horário tranquilo teve poucas demandas, até porque ela tentava deixar com que os alunos tivessem mais chances de fazer as vendas, chegando até mesmo a incentivar os convidados a comprarem destes.
Tudo tomava um ritmo tranquilo quando a estagiária do setor gráfico se aproximou de .
, me ajuda, pela graça de São João!
Betina era extremamente simpática, mas também extremamente dramática e com uma pitada de exagero. Mal tinha completado 20 anos, embora às vezes se comportasse de forma muito parecida com as adolescentes da escola.
— O que foi, Betina?
Ela se abanava, num gesto dramático.
— Eu preciso de um cartão do correio do amor. Agora!
— Compra das crianças, elas vão ficar super felizes.
— Não, elas vão me sacanear! E eu não posso pedir pras crianças escreverem o que eu achei sobre o empresário super gostoso que vai ficar na escola se o contrato for aceito.
congelou, se voltando para Betina.
— Você conheceu os empresários?
— Alguns. E a maioria é velha como eu esperava. Mas tem um boyzinho lá que, meu Deus, me faz pensar em todas as fanfics de CEO que eu já li.
— E eles falaram algo sobre o contrato? Realmente vai ser fechado?
— Eu sei lá! Agora escreve aí: me chama de princesa e deixa eu sentar no seu trono.
— Ainda bem que você não falou com as crianças — disse, fazendo uma careta enquanto escrevia a cantada ridícula.
— Eu sei, eu tenho senso.
Não muito, ela pensou, mas continuou escrevendo.
— Pronto. 3 reais.
— Achei que o cartão custava 1 real.
— É, mas o seu pedido tem uma taxa especial de vergonha.
Betina fez uma careta e pegou o celular, lendo o QRCode que exibia.
— Pronto, tá aqui sua fortuna.
— Obrigadinha! Onde posso encontrar seu CEO gostosão?
Betina nem ligou para a provocação, só olhou em volta até seus olhos brilharem.
Ali! É o que tá de azul, de costas, cabelo onduladinho castanho.
— Achei.
começou a andar na direção do homem alto e claramente bonito que, apesar de estar de costas para ela, passava uma familiaridade forte demais. Com gentileza, ela cutucou as costas dele.
— Com licença, senhor, mas o correio do amor chegou!
Mas, quando ele se virou, o sorriso dela congelou e o cartão caiu no chão.
Ela não estava pronta para aquilo. Achava que nunca estaria.
Ele estava bonito demais para seu próprio bem. Não era mais um garoto, era um homem, embora conservasse o sorriso provocador de menino. Seus cabelos estavam mais curtos e uma barba agora cobria seu rosto, como nas fotos que ela tinha investigado. O corpo parecia mais largo e forte, e ela precisava tentar conter seus olhos de se fixarem nos braços dele. Ele estava lindo, lindo demais.
E estava ali, na sua frente.
— Acho que não consigo acreditar no que tô vendo. Parece um déjà vu — ele disse, sorrindo, enquanto a olhava de cima a baixo. — Olá, .
Nesse momento, ela não se aguentou. Correu para seus braços e o abraçou apertado. Pela primeira vez em muito tempo, seu coração parecia em casa. Ela queria falar tantas e tantas coisas. Mas acabou falando:
! Ai, meu Deus, o João vai ficar louco!
Ele riu, apertando-a nos braços.
— Estava com saudades suas.
Alguém pigarreou e os dois se soltaram, levemente constrangidos.
, deixe eu te apresentar o meu chefe, o senhor João Carlos.
— É um prazer, senhor.
olhou do rosto de seu ex namorado para o rosto do homem velho e meio carrancudo que também era levemente familiar. Então, sua cabeça se ligou ao que Betina tinha dito.
— Espera aí. Vocês são a empresa Conexões. A empresa que vai fechar um contrato com a nossa escola!
— Talvez — João Carlos disse, ao mesmo tempo que perguntou:
— Nossa?
— Eu sou a psicóloga daqui — ela começou a explicar, talvez um pouco rápido demais. — É um projeto novo que eles começaram. A ideia é que contratem outros como eu no futuro — ela concluiu, hipnotizada pela voz grossa dele. Uma voz muito diferente do que ela tinha escutado há 8 anos.
— Caramba, , isso é fantástico! Você sempre adorou a escola e conseguiu aliar as suas duas paixões. Bom, três, se considerarmos que você está agora numa festa junina escolar.
Ela sorriu mais largamente do que talvez devesse. Ele a conhecia bem demais. E isso fazia seu coração vibrar e sofrer ao mesmo tempo.
Então, ela olhou para baixo, se lembrando do cartão caído.
— Me desculpa, esqueci do seu cartão.
— Não me diga que escreveu algo para mim, — ele a provocou, como se o tempo nunca tivesse passado, ignorando seu chefe que mexia no celular sem parar.
— Que nada, esse hábito é seu — ela provocou de volta, e podia sentir que ele sentia a intensidade daquela provocação e daquela volta ao passado. Tanto quanto ela.
— Então, a que devo a visita do correio do amor? — Ele sorriu. O sorriso mais lindo que ela havia visto na vida, que fez o seu coração errar uma batida.
Porque ele é muito bonito, e não porque estou apaixonada, ela pensou.
— Parece que você voltou para cidade e já está conquistando corações — ela disse, estendendo o cartão.
Ele pegou o papel e leu com interesse, rindo em seguida.
— Por essa eu não esperava. Tem certeza de que não foi você?
— Eu nunca seria tão brega! — colocou a mão no peito, ofendida. — E isso porque você não teve que escutá-la falar de como você é um gostosão.
— Isso não dá pra negar — ele disse e ela riu, revirando os olhos. Não dá mesmo, pensou.
Na mesma hora, Amanda e João se aproximaram deles, com caras incrédulas.
— Estava comprando cachorro quente e achei que tinha alucinado. Eu estou mesmo vendo o aqui? — Amanda brincou, o queixo caído, antes de abraçar o amigo.
— Em carne e osso!
— Acho que invoquei sua presença, cara, tava falando de você hoje pras meninas! — João exclamou, antes de abraçar o amigo. — O que que você faz aqui?
— A empresa que eu trabalho está pensando em fechar um contrato com essa escola.
— Pera, a escola da ? — Amanda perguntou.
— Sim. E quando o contrato for fechado, eu vou trabalhar aqui.
ignorou o olhar intenso que lhe oferecia e como isso alterava seu estômago, além do olhar trocado entre os amigos, para poder corrigi-lo.
Se for fechado.
— Ele vai ser.
— Seu chefe não parecia tão certo disso.
— Ele só estava bancando o durão.
— Ah, não, voltamos para a escola — João reclamou, negando com a cabeça.
A menção da escola fez uma faísca se acender entre os dois. O antigo casal se entreolhou, um sorriso nostálgico tomando o rosto de ambos.
— O que acha? Pelos velhos tempos?
— Se você está com tanta saudade de perder, conta comigo — ela replicou.
— Então temos uma aposta. Eu aposto que o contrato será fechado.
— Eu aposto que não. Vamos escrever as consequências?
— Não preciso escrever a minha, já está clara: você vai ter que trabalhar comigo — ele disse e piscou.
Antes que ela pudesse replicar, questionar, corar ou fazer qualquer coisa, uma voz os interrompeu.
!
— Eu tenho que ir — ele disse, dando uma olhada de esguelha para o chefe dele. — Teremos a resposta hoje. E eu sei que vou ganhar.
Ela observou o garoto se afastar, sentindo o peso da realidade aos poucos se abater sobre ela: ela não tinha superado completamente . Mesmo que ele parecesse mudado, até a parte que ela não conhecia parecia chamá-la para conhecer. Ele estava extremamente tentador e atraente.
E poderia trabalhar todo dia no mesmo ambiente que ela. Ela soltou um lamento.
— Eu preciso ganhar. Senão, eu tô ferrada.
Amanda a olhou compreensiva, como se conseguisse ler na sua cara "ainda estou apaixonada pelo meu ex!", e João só não a olhava dessa forma porque seu olhar estava ainda maravilhado com a volta do melhor amigo de escola.
— Preciso encontrar a Lívia. Quero que o Miguelzinho veja o , eles não se veem desde que o Miguel tinha um ano. — E saiu, um pouco perdido em pensamentos.
Naquele momento, uma das crianças do sexto ano que estava participando do correio do amor se aproximou dela.
— Tia ! Tia !
sorriu, enquanto a menina se aproximava quase correndo.
— O que foi, meu amor?
— Eu vendi meu primeiro cartão!
— Que máximo! Você já entregou?
— Vou entregar agora! — ela disse, pegando o coração vermelho de papel. — É pra você!
abriu a boca em um pequeno "o" ao receber o cartão, seu coração palpitando em expectativa. Isso não acontecia há 8 anos.

""Ainda me lembro do seu caminhar
Seu jeito de olhar eu me lembro bem
Fico querendo sentir o seu cheiro, é
Daquele jeito que ela tem
Gilberto Gil - Esperando na Janela"

Fiquei feliz de te ver de novo. Espero que sejamos bons amigos aqui no trabalho"


O cartão não tinha assinatura, mas o olhar de percorreu o salão na hora à procura do autor, porque ela já sabia quem tinha sido. Reconhecia aquela letra. Reconhecia aquele padrão.
— Que diz aí, tia ? Não olhei porque você disse que é feio mexer nas coisas dos outros. — Mesmo tendo dito isso, a menina ficava na ponta dos pés, tentando olhar.
tentou sorrir sem graça, por mais que seu corpo inteiro estivesse vivendo um turbilhão de emoções.
— É um bilhete gentil de um velho amigo.
— É seu namorado? O moço que escreveu era muito bonito.
Antes que tivesse que responder, a criança saiu correndo ao avistar duas amigas. se virou pra Amanda, que acompanhava tudo como se visse uma novela intensa.
— Eu já tô muito ferrada, Amanda! Ele não pode trabalhar comigo, simplesmente não pode! E se ele só estiver sendo gentil e eu comprometer meu coração de novo? E se não der certo e a gente estragar de novo nossa amizade e convivência?
— Ele não parece só querer amizade — disse Amanda, lendo o cartão.
— Ele literalmente escreveu "bons amigos".
— Mas também colocou uma música de amor.
— Mas ele namora!
— Namora nada! Ele terminou há meses.
— Argh! Minha cabeça não tá funcionando direito. Nada funciona direito com ele perto!
Naquele momento, a diretora Lurdes passou perto dela e uma ideia se acendeu em sua cabeça. Uma ideia burra, arriscada, mas ela estava emocionalmente mexida e não pensou nas consequências.
— Um segundo — ela murmurou para a amiga, os olhos fixos na chefe.
A diretora parecia olhar em volta para garantir que tudo estava na mais perfeita ordem e levou um pequeno susto ao ser abordada por .
— Oi, senhora Lurdes! A festa está incrível, com certeza um sucesso!
— Ah, . Que bom que está de seu agrado.
Ela ia se afastar, mas se colocou à frente dela de novo.
— Lurdes, sei que sou nova aqui e não devo me meter nos assuntos burocráticos, mas sinto que estaria fugindo do meu dever se não honrasse meus colegas e lhe passasse o que muitos deles me procuraram para dizer.
A diretora ergueu uma sobrancelha, visivelmente curiosa.
— Continue.
engoliu em seco. Não ia mentir. O que ia contar era uma verdade. Só um pouquinho aumentada.
— Muitos colegas meus estão insatisfeitos com a ideia da ligação da nossa escola com uma empresa que não compreende o que é a educação. Por isso, antes do fechamento do contrato, eu preciso avisá-la sobre o que foi comentado por eles.
A diretora ergueu as sobrancelhas, analisando a psicóloga. Então suspirou.
— Agradeço sua preocupação e posso prometê-la que levo esse pensamento em consideração. Mas, , eu devo lhe dizer que isso foi muito ousado. Sabe que por menos alguns diretores poderiam demiti-la alegando que você está passando boatos?
A mulher gelou, negando com a cabeça veementemente.
— Não era minha intenção de forma alguma! Eu só quis ser honesta e…
— Eu sei. — A senhora abriu um sorriso. — Você é gentil, , fico feliz por tê-la na equipe.
E saiu andando, deixando-a ali sem entender se sua estratégia havia sido uma perda completa ou um passo feliz.
— Maluca! O que você falou para sua chefe? — Amanda se aproximou, cochichando.
— Uma insanidade. Meu Deus, durante todo esse ano eu fui a funcionária perfeita, é só o aparecer e isso tudo já muda? Não, eu não posso permitir isso. — sacudiu a cabeça, envergonhada. — Eu vou trabalhar e torcer pelo meu instinto. Aquele João Carlos não parecia nem um pouco favorável a fechar o contrato.
— Isso aí, amiga. Sem mais humilhações por hoje. Já basta esse arco de corações.
— Ei!
voltou a rodar a festa, oferecendo sorrisos para todos os pais que encontrava e para todas as crianças que apareciam e a abraçavam. Ela adorava aquele carinho, era o que dava sentido para o seu dia a dia. Até no seu curto intervalo de almoço, os alunos a seguiam para apresentar aos pais.
Conseguiu vender alguns cartões a mais, e tentou evitar que seus pensamentos vagasse muito para e seu chefe. Bom, a maior parte do tempo.
— Amanda, como ele ousa me mandar isso?!
estendeu o cartão para que a amiga pudesse ler com clareza:

“”Moreninha linda, do meu bem-querer
É triste a saudade longe de você”
Moreninha Linda - Tonico e Tinoco

, ainda estou em choque com essa coincidência e felicidade. Quem diria que eu poderia voltar a te ver todo dia?”


Amanda arregalou os olhos, então se virou para a amiga.
— Oito anos e as abordagens dele não mudaram mesmo.
tentou fingir que aquilo não a deixou perturbada.
— Se ele fosse virar meu colega de trabalho, o que ele não vai virar, como ele espera me tratar assim? Isso é de um desrespeito, menina…
Então, ela viu o chefe de passando e uma ideia se formou em sua cabeça.
Amanda olhou de para o homem, parecendo entender.
— Ah, não. , a gente não tinha chegado em um acordo de que não valia a pena passar vergonha e arriscar seu emprego?
— É, mas meu emprego não vai estar em risco dessa vez. Ele não pode me demitir.
Ao menos, ela esperava que não.
andou em direção a João Carlos, arrastando Amanda pelo braço, parando perto do homem, embora de lado, como se não o estivesse vendo.
— Sabe, amiga — praticamente gritou para se fazer ouvida —, ainda bem que a escola vai fechar esse negócio. A escola anda tão ruinzinha, sabe? Caidinha, poucas matrículas, e o corpo docente, Deus me livre!
Ela se virou para trás, esperando a reação do homem. Mas ele continuava olhando fixamente para o celular, sem nenhuma reação. bufou, extremamente irritada.
— Curioso, soubemos que a situação estava bem diferente. Parece quase uma sabotagem, sabe?
O coração de deu um salto com o susto de escutar a voz dele. sorria, convencido, mas ela nem ficou muito irritada, porque ele trazia um tesouro em mãos.
Ele estendeu o milho verde para ela.
— Espero que ainda seja o seu favorito.
Maldito homem delicioso, gentil e incrível. Maldito fosse!
— É sim — ela respondeu, sorrindo, porque como poderia não sorrir com um milho verde?
Ela pegou o milho da mão dele, sentindo alguns dedos se encostarem de leve, fazendo um choque delicioso percorrer seu corpo. Delicioso e perigoso. Ela afastou a mão rapidamente.
— Eu percebi que você é muito querida aqui na escola. As crianças ficam todas felizes quando perguntamos de você.
— As crianças são boas demais para esse mundo — ela respondeu. — Tudo é tão verdadeiro e intenso com elas, sabe?
— Nem todas. O Miguel tá viciado em mentir desde que descobriu que é possível — Amanda comentou, sacudindo a cabeça.
— Ele é a melhor criança do mundo — disse, sorrindo, e as duas concordaram, felizes. Então, ele fez uma expressão preocupada. — Licença, preciso resolver uma coisa.
Ele se afastou na direção de João Carlos, e acabou presa em uma conversa com uma mãe que parecia não entender que ela não estava em horário de trabalho, e precisou contar todos os hábitos de alimentação de seu filho.
Quando ela finalmente se retirou, desmontou sua pose tranquila e arrastou Amanda para longe.
— Ele vai me matar, Amanda. Vai me matar.
— Ok, eu admito que o milho foi golpe baixo.
— Ele não pode dar em cima de mim. Ele mora em São Paulo!
— Na verdade, acho que ele vai morar aqui. E trabalhar do seu lado.
Antes que pudesse, mais uma vez, declarar que aquilo não ia acontecer, a voz de Luiz Carlos preencheu o auditório.
— A quadrilha geral começará em vinte minutos! Convidamos os alunos, pais, funcionários e convidados a participarem dessa festa. A concentração é ao lado da barraca de cachorro quente.
Amanda olhou para o palco, parecendo subitamente interessada.
— Esse é o professor que dá em cima de você? Nada mau, ele é um gatinho.
— Mas não é o meu tipo — cortou aquilo antes que a situação ficasse feia.
— Até parece que não é! Ele é todo bonitão, como ele não seria seu tipo?
— Não sendo.
Mas a conversa pareceu atrair o tópico, porque logo Luiz Carlos estava andando em direção à psicóloga com um grande sorriso no rosto.
— Ei, ! Linda como sempre.
— Oi, Luiz — ela respondeu, abrindo um sorriso amarelo. — Essa é Amanda, minha amiga.
— Prazer.
— O prazer é meu.
— Cansativo isso aqui, não? Mas vale as férias — ele comentou, se virando totalmente para .
— Claro, claro.
— Vai dançar agora? Sabe, se eu não tivesse que narrar a quadrilha, eu adoraria dançar com você.
E, como se não fosse a coisa mais estranha do mundo, ele estendeu a mão para a dela. Sem pensar direito (seu cérebro tinha parado de funcionar com o convite tão explícito), ela colocou a mão por cima da dele, onde ele depositou um beijo (meio babado, valia destacar).
Ela ficou completamente sem palavras.
— Eu…
— Tia !
Ela afastou a mão do professor de Educação Física, se virando para Fernandinha, sua aluna do sétimo ano.
— Oi, querida!
— Seu namorado mandou um correio do amor para você!
arregalou os olhos, Luiz arregalou os olhos e Amanda arregalou os olhos. Enquanto isso, Fernandinha sorria, animada.
— Eu não namoro, querida.
— Que namorado? — Luiz perguntou ao mesmo tempo.
— Amiga, olha lá — Amanda murmurou em seu ouvido, apontando discretamente com a cabeça.
A poucos metros deles, estava perto de um grupo da sua empresa. Porém, diferente dos outros que conversavam entre si, estava olhando fixamente para eles. E não parecia nem um pouco contente com a presença de Luiz Carlos ali.
E o professor de Educação Física também pareceu reparar a presença do ex namorado de ali.
— Obrigada, Fernandinha, de verdade, viu? — agradeceu, tentando se livrar da aluna antes que aquela cena se tornasse alguma coisa.
— De nada, tia ! Seu namorado é tão bonito…
E saiu correndo, deixando o cartão em formato de coração nas mãos da psicóloga. O professor pigarreou.
— Bem, a quadrilha é daqui a alguns minutos. Melhor eu comprar uma água ou não vai dar tempo.
E se afastou dali como um gato fugindo da água. bufou, frustrada.
— Eu não acredito! acabou de arruinar minhas chances com o Luiz Carlos!
— Ué, amiga, eu achei que você nem quisesse ficar com ele.
— E daí? Só eu posso rejeitar minhas opções, ele não pode fazer isso por mim!
— Ai, deixa disso! O que que tem no cartão? — Amanda perguntou, completamente curiosa.
baixou os olhos para o papel em sua mão, quase se esquecendo de sua existência.

““Esse teu fungado quente
Bem no pé do meu pescoço
Arrepia o corpo da gente
Faz o velho ficar moço
E o coração de repente
Bota o sangue em alvoroço
Vem, morena, pros meus braços
Vem, morena, vem dançar”
Vem Morena - Rastapé, Baião de Quatro

Pelos velhos tempos, você me daria a honra de dançar essa quadrilha?”


O calor subiu pelo pescoço de , e ela não sabia se era de raiva ou de… outra coisa.
— Nossa, quem diria que o , que antes se jogaria na frente de um carro antes de dançar, é quem está te convidando. Ele gosta mesmo de você, amiga.
Nem teve coragem de replicar. Mesmo no namoro deles, ela precisou fazer um esforço para que eles dançassem juntos. Um convite daqueles… era o mundo sendo oferecido para ela.
— Voce vai aceitar, né? — Amanda perguntou, mais ansiosa que a própria amiga.
— Vou ter que aceitar! Olha isso, Amanda. Isso é totalmente golpe baixo, é meu fraco e ele sabe…
se despediu da amiga rapidamente, que foi procurar João e Lívia, enquanto ia deixar a cesta de cartões na barraca de caldos, onde havia deixado sua bolsa também, ficando apenas com as chaves e o celular no bolso. Deu um aceno para Karla, antes de se aproximar da barraca de cachorro quente, que já estava lotada por pessoas de todo tipo.
E, no meio, com aquele azul que o deixava lindo, estava , as mãos no bolso demonstrando relaxamento enquanto sorria com a aproximação dela.
Os dois se encararam, e nem mesmo o salto da bota a deixava na mesma altura da dele.
— Achei que fosse me dar um bolo — ele admitiu.
— E perder uma dança de quadrilha? Você sabe que tocou no meu ponto fraco.
— Eu sei — ele disse, conduzindo a mão dela para o braço dele. O coração de deu piruetas. — Espero não ter incomodado seu namoradinho.
Ele indicou Luiz Carlos com a cabeça, e ela sentiu as bochechas corarem.
— Ele não é meu namorado.
— Ah, mas ele queria ser. Não o culpo.
o ignorou e acenou para uma aluna que se aproximava junto com a amiga para dançar. Não conseguiu, ao observar todo o movimento, deixar de abrir um sorriso.
— Senti falta do seu sorriso — ele confessou, baixo, no ouvido dela.
O coração de se revirou. Ela estava cercada de crianças, como ousava fazer com que ela se sentisse de uma forma nada apropriada para o trabalho no meio de vários alunos de 11 anos?!
Antes que ela pensasse em como replicar aquilo, os primeiros acordes de “O Sanfoneiro Só Tocava Isso” preencheu a escola. Pelo menos teve um motivo para olhar para frente, e não para o rosto atraente de .
Isso até os movimentos da quadrilha os obrigarem a se tocar. No caso, ela fazia obrigada, resetada, enquanto percebia, trêmula, que ele a segurava com vontade. Quando a mão dele pousou na sua lombar, pouco acima da bunda, de forma tão possessiva, achou que seria capaz de gritar.
Então, no meio do túnel, enquanto ela precisava forçar sua coluna para passar por baixo do braço de várias crianças de 1,40m, “Isso Aqui Tá Bom Demais” chegou aos seus ouvidos. Não conseguiu se segurar e relanceou , que a encarava profundamente.
E, simples assim, ela era novamente uma adolescente tentando esconder que estava apaixonada por seu melhor amigo.
Quando a quadrilha acabou, saiu correndo para o banheiro, descontrolada. Entrou em uma cabine e sentou no vaso, apoiando o rosto entre as mãos.
26 anos na cara, mas sentia que tinha 16 novamente. Como poderia conviver com ele todos os dias se ele começasse a trabalhar lá? Ela teria que conviver com todas as suas piadinhas, flertes que claramente não eram sérios já que, como uma pessoa normal (diferente dela), ele havia superado um relacionamento que acabara há 8 anos.
Parou e tentou respirar fundo. Por mais bagunçada que se sentisse, ainda era uma adulta. E como uma adulta, ela poderia racionalizar:
1 - Não tinha certeza de que sequer trabalharia com ela.
2 - Se trabalhasse, talvez nem se encontrassem, com ela o dia todo em sua sala.
3 - Caso se encontrassem, ela teria que fazer como sugeria para todos os alunos: se comunicar. E ela era boa naquilo, não era?
4 - Qualquer um desses resultados era algo que apenas a do futuro precisaria lidar. A festa estava acabando. Ela poderia ir para casa e depois lidar com isso.
É, aquela parecia uma boa decisão. Para se recuperar, era só ir para casa. Parte de seu coração se apertava ao pensar em se afastar de , mas sabia que era a mesma coisa que uma criança sentia ao não poder enfiar o dedo na tomada. Simplesmente queria algo que não seria bom. Ela iria para casa e pronto.
Mais calma, saiu da cabine e lavou as mãos com calma, bem devagar, para dar tempo para o seu corpo respirar fundo antes de ir embora. Havia quase estragado a própria carreira, já estava suficiente pelo dia. Nossa, Maria iria matá-la se soubesse de tudo aquilo.
saiu do banheiro e levou um susto ao encontrar Fernandinha, mais uma vez, esperando-a.
— Que susto! — falou, a mão no peito, mas um sorriso tranquilo no rosto. As crianças nunca mereciam ver seu pior lado.
— Você não saía nunca desse banheiro, seu namorado ficou preocupado e mandou mais um recadinho. — Ela deu uma risadinha.
— Nós não namoramos, Fernandinha — replicou, mas replicou rindo, como se não fosse nada demais, e não como se fosse algo que estava angustiando seu peito.
— Não importa, eu vou escrever uma fanfic sobre vocês! Ele não é um coreano sarado, mas ele vale a pena! Toma, pega seu cartão.
deu uma risada genuína enquanto pegava o coração vermelho de cartolina e trazia para mais perto de seu rosto.

“”Eu vou com tudo
Hoje eu não fico de fora
Se a saudade apertar
Eu chego o relho e meto a espora
Nada derruba um peão apaixonado
Que deixou em outro estado
A mulher que mais adora
Peão Apaixonado - Rionegro e Solimões”

Podemos conversar? Me encontra perto da secretaria, por favor. Não suporto te ver mal.”


O coração dela acelerou. Ok, não sendo mais uma adolescente insegura, precisava admitir: nem mesmo teria um humor tão sombrio. Ele estava dando em cima dela. O que havia sido aquela letra?! Mais específica, impossível.
Então talvez precisassem mesmo conversar. Entender o que era aquilo. Colocar limites. Respeitar barreiras. É, talvez aquilo fizesse bem.
passou por vários pais e alunos, evitando ao máximo se demorar enquanto fugia da quadra, indo para a entrada da escola, mais para perto da secretaria.
Quanto mais se afastava da quadra, mais vazio tudo se encontrava. Estava perto da própria sala quando avistou no fim do corredor vazio, esperando com as mãos no bolso. Ele escutou o barulho que as botas dela faziam no chão, ecoando por todo o ambiente, e se virou rapidamente, encarando-a com aqueles olhos castanhos intensos que ela sentira tanta falta. Ela os encarava e via sua vida passar diante daqueles olhos.
se aproximou lentamente, quase como se estivesse com medo de assustá-la.
— Oi — ela disse simplesmente.
— Oi. — Os dois se encararam e a temperatura pareceu aumentar no corredor. — Obrigado por aceitar conversar.
— Obrigada por me convidar — ela respondeu.
— Me desculpa se passei de algum limite. Você me passa um conforto que me fez esquecer da minha boa educação.
— E você tem uma boa educação? — ela provocou, arrancando um sorriso dele. — Tudo bem, eu…
Os dois ouviram um barulho no fim do corredor e se viraram, um pouco assustados. segurou na mão dele.
— Vem. Vamos pra minha sala.
Ela o arrastou para a porta da esquerda e, com rapidez, pegou a chave, destrancando-a. Logo os empurrou para dentro da sala e a trancou.
— Pronto, agora não seremos interrompidos. — Ela apoiou o celular e as chaves na sua mesa, junto com aquele arco que já começava a pressionar sua cabeça já dolorida. Que ideia horrível.
Quando se virou de volta para , ele observava a sala com atenção. Com aquela camisa polo, ela conseguia imaginá-lo batendo em sua sala para ver se estava ocupada, com um sorriso no rosto, pronto para tirá-la do sério. A imagem pareceu muito, muito boa.
Ela afastou aqueles pensamentos.
— Como eu tava dizendo, você não passou dos limites, eu… também me sinto confortável com você. Talvez mais do que deveria — ela confessou, olhando-o nos olhos. — Então eu que peço desculpas pelo meu comportamento hoje, acho que… eu fui pega de surpresa.
— É muito justo. Acho que ainda não sei dizer se estou sonhando ou acordado — ele falou, com um sorriso de lado.
— Acho que, depois de dançar uma quadrilha, é mais um pesadelo — ela provocou, mas ele ficou sério.
— Nada envolvendo você poderia ser um pesadelo.
E ali estava. Como ela deveria agir normalmente depois de escutar aquilo?!
Ela pigarreou e, mesmo tentando manter a compostura, ela sentiu o rosto ficar vermelho. O olhar de se prendeu nas bochechas coradas dela, e ele passou uma mão no cabelo, nervoso.
— Desculpa.
— Não, não, tá tudo bem! Eu só… — Ela respirou fundo. Era hora de eles conversarem. Era só o , o mesmo tinha confessado para ela o seu medo de palhaços por causa de uma experiência frustrada no circo, que tinha chorado na câmera quando eles se separaram, que conhecia seus segredos, mas que também tinha exposto os próprios. — Eu sei que deveria estar agindo de forma mais madura, mas eu estou me sentindo estranha, quase como se… eu não tivesse superado tudo entre a gente. Eu juro que tinha superado! Mas… hoje eu estou me sentindo… estranha.
Ela o encarou, tímida, mas sentindo-se vitoriosa pela honestidade.
ficou em silêncio por alguns segundos, que pareceram longas e tortuosas horas. Ele havia flertado com ela, não estava maluca, mas não conseguia dizer o que se passava na cabeça dele. Talvez achasse aquilo tudo demais.
Então, ele o encarou como um cachorrinho abandonado.
— Eu também achei que tinha te superado, mas te ver hoje vestida desse jeito, com um cartão do correio do amor nas mãos, mexeu com mais coisas dentro de mim do que eu sabia que existia. Eu senti coisas que eu não sentia há… porra, há oito anos. Que eu só sentia com você. — Ele se aproximou, e ela deu um passo inconsciente para trás, esbarrando na mesa da sala. — Não conseguia ver uma festa junina sem lembrar de você, nem ir em uma pizzaria sem pensar nas nossas apostas, nem assistir a um anime sem te imaginar perguntando pela sexta vez como que pronuncia as palavras em japonês. Eu achei que tinha te superado, mas, na verdade, você sempre assombrou minha vida.
— Eu entendo — ela falou, meio rindo, meio ofegante, como se aquelas palavras não estivessem deixando-a tonta. — Eu não conseguia ver um filme de romance sem te imaginar criticando as ações da protagonista, nem ver um jogo do Vasco sem te imaginar gritando desesperado, nem escutar os problemas dos alunos pensando que você adoraria comentar cada caso, como se fossem fofocas de revista. — Ela respirou fundo, o coração disparando no peito. — É complicado, né? Quando nosso primeiro amor é tão bom assim, fica difícil competir.
— Fica impossível — ele confessou, os olhos brilhando.
Desnorteada, ainda tomada da sua onda de euforia, ela continuou:
— Então me desculpa se eu não soube como agir. Você despertou muitas coisas em mim e eu fiquei com medo. E se você for embora de novo? E se você ficar aqui? E se a gente só for amigos?
— Amigos? — Ele franziu a testa. — É sério que você leu meus cartões e achou que eu estava falando de amizade?
— Bom, eu não tinha certeza — ela começou a falar, nervosa —, podia ser um flerte, mas podia ser uma piadinha sua ou sua forma de dizer “que engraçado, a gente namorava”.
— Por que que, toda vez, você precisa duvidar das minhas investidas? — ele perguntou, quase chateado.
— Desculpa! É que eu sinto muito medo quando se trata de você. Uma coisa é dar uma chance pra alguém que eu não ligo, mas com você…
Ele deu um passo para frente, prensando-a contra a mesa. Aquilo deixou a cabeça dela tonta.
— Comigo? — ele perguntou, encarando-a intensamente.
lambeu os lábios, nervosa, e o olhar de desceu para sua boca. Ela sentia seu corpo prestes a explodir. Ou prestes a se jogar em cima dele.
— Com você… — ela se forçou a continuar, a voz saindo em um sussurro. — Com você, eu não posso fingir que isso é nada.
A mão dele alcançou o quadril dela e um dedo encostou de leve em uma parte da pele que estava à mostra, na barra da camisa. E, simples assim, ela derreteu.
— Que bom — ele disse, os lábios a milésimos dos dela. — Porque isso aqui é tudo.
não conseguia se lembrar quem havia beijado quem. Talvez fossem os dois corações, desesperados, que haviam se lançado um para o outro ao mesmo tempo.
Ela estava explodindo. Tinha certeza, até o momento, que havia amado e sentido amor com seus antigos namorados, mas agora essa certeza vacilava. Porque, em hipótese alguma, ela havia sentido aquilo. A felicidade de sentir que ele também a queria, o desespero de colocar a saudade em dia, a familiaridade do toque, ao mesmo tempo em que tudo era uma novidade boa demais.
Quando o dedo de que encostava na sua pele nua começou a se aventurar por baixo da blusa, ela soltou um gemido vergonhoso, mas escutou um eco vindo dele quando mordeu o lábio inferior do homem. Ele ergueu o corpo dela e a colocou sentada sobre a mesa do escritório, e as pernas de o puxaram de forma que seus quadris se encaixassem.
Os dois gemeram ao mesmo tempo.
— Sabe… — ele começou a falar enquanto mordiscava o pescoço dela. — Acho que nunca vi nada tão sexy quanto você me arrastando até a sua sala e me trancando dentro dela. Quem diria que eu teria uma queda por mulheres mandonas.
soltou uma gargalhada gostosa, se interrompendo com um gritinho quando lambeu perto de sua orelha.
— Eu desesperada em esclarecer as coisas e você com suas fantasias sexuais. , você não presta!
— E é por isso que você me ama.
Ela não negou, porque os dedos dele começaram a abrir os botões restantes da camisa quadriculada dela, revelando um sutiã branco de renda que ela usava por baixo. O olhar dele se prendeu ali, faminto.
— Gostosa demais.
E se abaixou logo em seguida, lambendo a pele macia exposta enquanto os dedos brincavam por cima do sutiã, deixando a psicóloga maluca por mais. Ela podia sentir que ele também estava excitado, e como estava, e isso só a deixava mais maluca. Quando ele estava prestes a baixar o sutiã dela, percebeu que estava quase permitindo que ele a comesse bem ali, na sua sala, há poucos metros de várias crianças.
Aquele homem acabava com o seu bom senso.
… — ela disse, tentando soar como um alerta, mas parecendo mais um suplicar.
— Hm?
— Nós… — ela gemeu quando ele a lambeu por cima do sutiã — temos que parar. Agora.
— Por quê? Você não trancou a porta?
— Tranquei, mas… vamos com calma — ela disse, embora sua mão direita estivesse repousando bem em cima do volume generoso dele.
Ele olhou para baixo, para onde a mão dela estava, antes que ela a retirasse, completamente vermelha. então lançou um olhar fervente para sua lingerie e para o corpo completamente entregue de , antes de começar a lentamente abotoar a blusa dela, depositando um beijo na testa da mulher.
— Tudo bem, eu sempre vou esperar por você.
O coração de acelerou e ela teve que conter a vontade de chorar. Ele havia dito exatamente aquilo há nove anos, quando ela ainda não estava pronta para sua primeira vez.
Não o via há oito anos e mal haviam se reencontrado há horas. No entanto, como poderia sentir com tanta certeza no coração que o amava?
Quando ele terminou de abotoar a blusa de , passou a arrumar o cabelo dela, antes de começar a desamarrotar as próprias roupas. E ela só conseguia sorrir, orgulhosa de ser o motivo de tamanho caos.
pulou de cima da mesa, as bochechas ainda coradas de desejo e vergonha, antes de caminhar até a porta para abri-la, sendo surpreendida com um tapa na bunda. Ela se virou, incrédula.
!
— Não resisti — ele falou, com a maior cara de coitado possível, tirando uma risada dela.
Fora da sala, estendeu a mão, procurando a dela e entrelaçando os dedos dos dois. Ela se sentia um pouco envergonhada de voltar assim para a festa (com certeza os demais professores iam ter muito o que fofocar), mas não conseguia encontrar forças em si para romper aquele contato.
Quando chegaram na entrada da quadra, no entanto, depositou um beijo nas costas da mão dela, antes de soltá-la.
— Preciso procurar meu chefe. Ele disse que daria a resposta hoje.
O choque tomou conta de . Era verdade. Talvez nem fosse ficar.
O homem pareceu ler exatamente o que se passava na cabeça dela, porque depositou um beijo na bochecha dela.
— Não se preocupe, você não vai se livrar de mim. Eu vou ganhar essa aposta e trabalhar todos os dias ao seu lado.
— Mas e se não ganhar? — perguntou, sentindo o coração diminuir no peito.
— Eu vou ganhar.
, é sério. E se eles não fecharem o contrato?
O homem suspirou, então puxou para dentro de um abraço apertado.
— Se eu não ganhar — ele sussurrou perto da orelha dele —, então eu vou vir para o Rio todo fim de semana e nós vamos sair todo dia, ou ficar em casa, porque eu bem que queria um dia inteiro só pra te beijar. — Ele depositou um beijo na orelha dela. — Ou então eu peço demissão e me mudo para cá.
— Eu não poderia de forma alguma te pedir pra estragar sua carreira!
— Mas não estragaria. Eu já recebi várias propostas de emprego pra vir pra cá, eu só precisava de um bom motivo para vir. E você — ele se afastou dela, segurando o rosto de entre as mãos — é o melhor motivo de todos.
não se importou que ainda pudessem ter professores, alunos ou pais ali ao redor. Ela teve que dar um selinho demorado em . E pensar que estava se contentando com caras que pediam o Pix do Uber!
— Sabe, eu estava completamente contra uma empresa interferir numa escola. Mas agora estou quase contra os meus princípios só pra trabalharmos lado a lado — ela confessou.
abriu um sorriso de lado, erguendo as sobrancelhas.
— Vamos continuar as nossas fantasias em que você me tranca na sua sala?
soltou uma gargalhada alta.
— Pensando bem, isso vai ser um perigo. Melhor não fecharmos o contrato.
— Medo de não resistir a mim, ? — ele perguntou, com cara de deboche.
— Medo de ser demitida e perder meu réu primário, isso sim! — ela respondeu, e os dois riram como os dois adolescentes que já haviam sido.
As risadas foram interrompidas quando Amanda apareceu perto dos dois.
— Aí estão vocês! Onde vocês estavam? — Amanda olhou para quão próximos os dois estavam e estreitou os olhos. — Quer saber? Melhor eu não saber. , o seu chefe tá que nem um louco te procurando!
O homem empalideceu um pouco, antes de sorrir. Ele se virou pra e deixou um selinho na boca dela.
— Eu já volto.
Assim que ele se afastou, Amanda a encarou, os olhos parecendo estar do triplo do tamanho normal.
— Eu tenho medo de perguntar o que aconteceu, já que a última coisa que eu vi foi você saindo correndo da quadrilha. O João e a Lívia até foram embora de tão cansados que ficaram de esperar vocês voltarem… disso.
— Larga de ser boba! A gente só conversou.
— Aham. Esse chupão no seu pescoço é resultado só de conversa.
— O quê?! — exclamou, assustando três crianças que passavam perto. — Onde? — ela sussurrou.
— Em lugar nenhum, mas isso prova que poderia ter um chupão. Na escola, , que vergonha! Onde foi?
— Cala a boca.
— Eu tô brincando, eu fico feliz por vocês, amiga. Mas você tá bem? Vocês conversaram sobre o que vai ser isso? Uma ficada? Algo mais sério?
— Falamos mais ou menos — disse, olhando para o teto. — Mas acho que é sério. Ele disse que se demitiria e mudaria pro Rio se o contrato não for aceito. Disse que eu sou o melhor motivo de todos para vir pro Rio.
O queixo de Amanda caiu enquanto as bochechas de queimavam.
— Ele disse isso?
— E mais — ela respondeu, sem conseguir conter um sorriso.
Amanda replicou o sorriso da amiga, antes de puxá-la para um abraço.
— Então acho que vai ficar tudo bem. Uma pena, eu estava esperançosa de precisar dar um tapa na cara do pra ele se tocar.
— Fica tranquila, ele vai te dar outros motivos.
As duas riram, mas o celular de Amanda começou a tocar. Ela revirou os olhos.
— É o hospital. Tava bom demais pra ser verdade eles não terem ligado até agora.
— Obrigada demais por ter vindo, você me salvou hoje.
— Eu sempre te salvo. — A mulher piscou, antes de atender o telefone. — Dra. Amanda, pois não?
observou a amiga se afastar, ao mesmo tempo que observava que a festa já estava bem vazia. A barraca de cachorro quente já estava fechada e alguns funcionários começavam a desmontar as barracas. Mesmo assim, ela conseguiu identificar o grupo do Correio de Amor e se aproximou deles. O grupo de dez alunos conversava animado enquanto a psicóloga se aproximava. Todos sorriram para ela enquanto ela procurava suas coisas.
— Tia ! Nós arrecadamos 54 reais! Não é incrível? — Mariah, do nono ano, disse.
— Vocês são demais!
— Mas ainda não entregamos o nosso último cartão — Fernandinha disse, antes que Bento estendesse um último cartão em formato de coração.
Para ela.

““Eu ganho um beijo
Num cantinho escondidinho
E ela fala bem baixinho
Seu desejo de mulher
Suor pingando
Feito tampa de panela
Xonado, gamado nela
E é isso que ela quer
Eu me amarrei - João Paulo & Daniel”

, acho que em breve vamos ter que repetir a cena de hoje. Afinal, meu escritório vai ser ao lado do seu.
Sempre seu,


O coração de disparou. A empresa tinha fechado contrato? Então… ia ficar? Com ela?
Antes que pudesse pensar mais a fundo, percebeu que havia outra mensagem escrita no verso do cartão, com uma letra bem diferente, mais feminina e infantil.

“Tia , descobrimos seu segredo: você é um espírito, porque é impossível alguém tão legal quanto você existir.
Te amamos!”


E, ao redor, as assinaturas de diversos alunos da escola se encontravam. Os olhos de marejaram e logo ela foi sufocada por uma onda de abraços infantis.
— Obrigada, crianças. Eu amo vocês.
— Nós também te amamos, tia !
— Deixa eu abraçar ela agora!
— Mas eu já tenho que ir embora, você vai ficar!
não conseguiu deixar de rir. Nunca havia tido tanta certeza de sua vida: no emprego dos seus sonhos, com os melhores amigos que poderia ter e a possibilidade de um amor verdadeiro. E ainda tinha perdido uma aposta, mas tinha sido a melhor derrota de toda a sua vida.
Por isso, assim que as crianças foram embora, pegou um último coração vazio que tinha consigo e, junto da caneta, se colocou a escrever.
Geralmente, esse era o jeito de de agir, mas ela soube que tinha feito a coisa certa quando se aproximou do grupo da Empresa Conexões.
— Com licença, senhor João Carlos? Só queria entregar isto para um dos seus funcionários — falou, entregando o coração para , que o encarou, curioso.
Não demorou muito para que ele lesse e suas sobrancelhas se erguessem, enquanto um sorriso largo se abria no rosto dele.
Ela se despediu de todos da empresa e se encaminhou para a saída, indo esperar o ônibus para voltar pra casa. Quando seu celular vibrou, sorriu, se lembrando do cartão que havia enviado e sabendo quem lhe enviara uma mensagem.

““Cê parece um anjo, eh
Só que não tem asas aiai
Por favor, quando asas tiver
Fosse lá em casa

E ao sair, pras estrelas eu vou te levar
Com ajuda da brisa do mar te mostrar aonde ir
E ao chegar, apresento-lhe a lua e o sol
E no céu vai ter mais um farol que a luz do teu olhar
Asas - Falamansa”

Meu endereço e meu celular estão na parte de trás. Passa lá em casa hoje, temos muito o que colocar em dia.
Sempre sua,



FIM!


Nota da autora: >E chegamos ao fim dessa jornada linda! Eu comecei a escrever essa história em maio de 2023, continuei em maio de 2024 e finalmente finalizei em maio de 2025! Mas essa espera foi muito boa porque, assim como a , eu amadureci e comecei a trabalhar numa escola, de forma que consegui colocar um pouquinho da minha experiência aqui.
Por isso, começo agradecendo aos meus alunos e em especial a algumas alunas minhas de sétimo ano que eu citei nessa história com suas palavras reais de “coreano sarado” e “espírito porque você é boa demais pra existir”. Espero que vocês nunca leiam essa história, vocês não têm idade!
Queria agradecer a Lulu e Pati, como sempre, porque elas motivam MUITO a minha escrita e foram responsáveis pelo início dessa trilogia que me enche o coração de alegria!
Obrigada ao Ficsverse por abrigar minhas histórias com tanto cuidado e carinho. Obrigada a cada um que chegou até aqui e leu as três histórias! Elas são tão especiais para mim e espero que vocês tenham se apaixonado por esse casal como eu!

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