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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 06/08/2024

956 d.C – O Nascimento
A chuva era muito forte do lado de fora daquela tenda no meio de um campo afastado do castelo. Alguns pingos passavam por buracos do tecido de lona que já estava pouco comprometido pelo seu uso frequente, mas o que estava deixando a cama molhada era o suor dela. Até onde se sabia, parir nunca fora algo de fácil compreensão masculina, porém o rei Hwan III estava ali ao seu lado, segurando sua mão e rezando para que nada de ruim acontecesse. Do lado de fora, a guarda era feita por muitos homens, mas isso não impediu que a rainha Catarina entrasse e estivesse os acompanhando, com seus olhos cortantes na direção do que estava acontecendo ali dentro.
— Como demoras! Não temos a vida toda para esperar que essa criança dê sua graça — vociferou para a humilde senhora que estava ajudando naquele parto.
— Não precisa ser delicada assim, Vossa Majestade.
A mulher na cama era como um nada para a rainha Catarina, e ela sabia. Contudo, para Mina, ignorar sua voz, mesmo que afetada pela dor que sentia e o cansaço de seu corpo, não era tão difícil. A rainha sabia de todo o caso que a camponesa teve por anos com o rei e muitas vezes pontuou a sua indiferença com aquele fato. O que provava os contos de que o casamento real fora realizado apenas pelo interesse político.
— Catarina, seja menos-
— Menos dura, Hwan? — Catarina riu fraco, erguendo o rosto para soar mais fria. — Eu não devo nenhuma simpatia a esta dama de companhia. Tamanha deve ser a vergonha de seu povo se descobrir sobre esse caso entre um rei e uma...
— Chega! — Hwan não a deixou finalizar, levantando-se e avançando em sua direção. — Saia daqui, nos espere lá fora, na carruagem. — Viu que ela permaneceu, o encarando, desafiadora. — Não estou lhe pedindo, Catarina.
A rainha apenas juntou sua saia e saiu, frustrada e completamente aborrecida. Tudo o que fizera por anos havia sido na intenção de proteger a saúde de seu casamento com o rei de Euwun para que o reino não sofresse mais com as fraquezas, deixando o caminho livre para o desbravamento dos estrangeiros que viviam para reivindicar as terras de seu povo. Mas, enquanto ela estava preocupada com aquilo, seu rei ia de vilarejo em vilarejo causar estragos para que ela tivesse de reparar todos eles.
Era cansativo e, se não fosse pelo amor ao seu povo, Catarina teria desistido. Principalmente ao saber que a camponesa estrangeira havia engravidado do seu marido. Mina daria à luz a um lindo bebê mestiço, enquanto Catarina era infértil e não poderia dar ao seu rei um herdeiro.
Que todos chamassem aquilo do que quisessem, ela tinha total noção de como estava sendo egoísta.
Mas ela também não deixava de sentir aquele ódio por Hwan e quanto a isso teria muito a fazer. Começando pelo plano de levar o bebê e Mina para o castelo, com a justificativa de que o filho do rei deveria ser criado junto ao pai e que para ela não haveria problemas, pois saberiam lidar muito bem com aquela história perante o povo de Euwun. Tolo seria quem acreditasse naquela narrativa lisa e rasa de uma rainha tão bem conhecida por seu poder de persuasão.
Enquanto ela esteve fazendo seu caminho para o lado de fora, embaixo daquela chuva e amparada por um súdito para subir na carruagem, dentro da tenda Hwan permanecia no mesmo estado nervoso, retornando a segurar a mão de Mina. E ele o fazia com carinho também, visto que aquela mulher deitada em sua frente fora por muito uma companhia que tanto lhe agradava — caso contrário, não teria colocado em risco sua coroa ao se deitar com uma estrangeira do reino inimigo.
Entre força e mais força, o choro estridente foi ouvido, misturando-se ao som dos trovões e da chuva que insistia em cair. Os olhos de Hwan logo se encheram de lágrimas, o deixando completamente cego para aquela situação. Diante de todos, ele não poderia se expor, não tinha como confiar em ninguém ali. Mas ele não se segurou e beijou os lábios de sua amada como se aquilo pudesse dar a ela toda a força necessária para continuar. Conseguia enxergar em Mina aquela exaustão.
— Tem mais um. — Ouviu a voz da parteira, enquanto se levantava para ir até o bebê.
— Mas… O quê?
A voz de Mina soou confusa até demais. Era o tipo de surpresa que ela não saberia lidar com. O que piorou quando notou a entrada repentina de Catarina na tenda, novamente. A rainha lhe encarava totalmente enfurecida, o rei estava perdido e a parteira mais uma vez lhe forçava a colocar um bebê para fora. Mas ela não tinha mais forças. Sentia que seu corpo estava pedindo socorro.
E o segundo choro veio, tão estridente quanto o primeiro. Porém, ela percebeu uma movimentação estranha enquanto estava deitada, sem forças para erguer qualquer músculo de seu corpo. Seus lábios se moviam lentamente, sem emitir nenhum som pelo extremo cansaço e esgotamento. Tinha noção de que parir poderia ser árduo, mas não fora ensinada na prática como seria sentir aquilo.
Conforme ouvia o que era dito, seu coração acelerava mais, batia tão rápido quanto o de Catarina, porém por razões diferentes.
— Mas como assim ela deu à luz a dois? — A voz da rainha era dura. — O acordo era sobre um só, Hwan!
— Fique quieta, Mina! Preciso pensar.
— Não há o que pensar! Olhe para esses dois meninos, eles possuem essa cicatriz. Estão marcados. — Novamente ela soava tão preocupada que não parecia medir seu tom, não que filtrar o que e como dizia fosse um forte dela.
O acordo feito com sua rainha incluía um bebê, levar dois para o castelo seria muito complicado para Hwan e Catarina sustentarem qualquer história, mesmo que fosse a real. E sabia que Catarina não gostava de fugir dos planos que sempre eram feitos previamente, causar mais discórdia com ela não era um objetivo e muito menos algo válido.
Catarina deu passos curtos até uma de suas damas de muita confiança que foi levada para ajudar a parteira e olhou o bebê em seu colo, sendo balançado e, agora, totalmente limpo. Ele não chorava mais e ela podia o olhar por aquele tempo sem a repulsa, sem qualquer indício de ódio ou desgosto. Por aquele momento, ela se lembrou de que se tratava de apenas uma criança indefesa, colocada no mundo por consequência de dois adultos irresponsáveis. Agora ela precisava agir para que aquilo não causasse a ruína de seu rei, porque se quanto a um bebê comentariam, outro levaria ele à perda de sua coroa.
A lei era bem explícita: o rei só poderia ter um filho homem. O que Catarina odiava, por incrível que pudesse parecer, aquilo fora constituído em cima de uma ideologia idiota tratada na sorte. Só porque Hwan I e o II tiveram a felicidade de o primogênito ser homem e não tiveram mais nenhum outro, inibindo as tentativas de outros filhos, não significava que o III seria da mesma forma. E ali estava a prova.
Portanto, levar dois filhos de Hwan III para o reino era uma cartada que somente um rei louco daria.
— Escutem com atenção — se dirigiu a todos, tomando sua postura mais séria. Tirou o bebê do colo de Soleil e o ajeitou no seu. — Iremos levar um e ao invés de Mina ir para o castelo conosco, ela será levada para qualquer terra afastada de Euwun.
— Catarina…
— Não há o que argumentar, Hwan! — Tentou não elevar tanto a voz para não incomodar o bebê que agora estava quieto em seu colo. — Você perde a sua coroa e nós não seremos aceitos em reino nenhum por ter traído uma lei idiota como a qual seu avô criou.
Ele não tinha o que argumentar, neste ponto ela estava certa. Mas não queria dividir seus dois filhos. Encarou Mina com todo seu pesar, ela estava distante e transparecia a exaustão. Ambos se encararam, sabendo que aquele seria o momento de dizerem adeus e que não teriam a menor chance segura de um dia se verem novamente.
Se aproximou da cama e a ajudou a se sentar lentamente.
— Eu vou cuidar muito bem dele.
— Me deixe escolher pelo menos os nomes… — ela o pediu e eles encararam Catarina.
— Desde que não carregue o seu, por mim não há problema — a rainha os respondeu.
— Ele irá se chamar August. — Olhou para o que estava no colo da parteira aos seus pés. — E aquele, .
— No futuro, rei Hwan IV — Hwan sorriu.
— Assim, quando eu ouvir o nome de um rei governando seu povo com tanta generosidade, saberei que é o nosso filho.
Catarina sentiu aquele incômodo novamente, mas desta vez se limitou a apenas sair de cena. Não permitiu que Mina se despedisse do filho; para ela, quanto menos contato, seria mais fácil — e humanamente ela pensou neste lado para a mãe que estava vendo seus dois filhos serem divididos e um deles indo para longe dela. Para Catarina, se aquele contato não existisse, o sofrimento para a outra seria menor.
Entretanto, a rainha não tinha noção do que era carregar uma vida em seu ventre e nada sobre o que diziam da ligação que isso trazia para uma mãe e seu filho. Como ela poderia saber se era infértil assim como a realidade da chuva que caía do lado de fora?
Dentro da carruagem, observou aquele serzinho em seu colo, tão pequeno que sobrava espaço em seus braços. Ela pôde visualizá-lo correndo pelo castelo, sendo amparado por seu colo quando sentisse medo e poderia até dormir entre ela e Hwan se tivesse algum pesadelo, e com certeza ele seria o par perfeito para a princesa , nascida poucos dias antes no reino de Minwoo — o que renderia aos dois reinos uma aliança única. Olhando para , Catarina criou muitos planos para o futuro do menino, a começar por chamá-lo de filho.
E ela bateria de frente com qualquer um que ousasse dizer o contrário.
— Garanta que ela estará bem, Catarina, e eu nunca mais a procuro.
Ouviu a voz de Hwan e o encarou pela primeira vez ali na carruagem, não notando que ele havia entrado. Logo o caminho começou a ser feito e ela suspirou, o encarando friamente novamente naquela noite. Estava exausta de sempre cuidar dos problemas causados por ele; estava cansada de ir dormir todos os dias e não ter o marido consigo, queria que tudo fosse melhor como nunca fora. Ela precisaria que ele estivesse com ela naquele caminho, afinal era um problema que ele causou que ela estava consertando.
— Eu te jurei lealdade em nosso casamento, Hwan. Pelo meu povo, pelo seu, pelo nosso. Mina terá uma boa vida e será aceita em algum vilarejo bem afastado, com uma carta assinada por meu nome. — Encarou o bebê novamente. — Mas agora, eu estou jurando lealdade ao meu filho. Ele será nosso, se você quiser que seja nosso, caso contrário, eu e você viveremos pelo resto de nossas vidas em guerra. Porque não pouparei esforços para proteger a ele e a sua coroa deve se tornar sua prioridade.
— Não se preocupe. Estaremos juntos nessa, minha rainha.
Catarina não se convenceu 100%, mas acreditou naquele momento que seu rei não estava mentindo. Hwan não teria motivos para duvidar da lealdade dela, mesmo que tivesse lhe dado inúmeras chances para o destruir.
A partir daquela noite, uma nova aliança entre o rei e a rainha de Euwun havia sido feita.



O vão da porta aberta foi deixado por alguém não muito atento, o que seria considerado uma falha absurda por parte de tal; se tratava da privacidade da família real, principalmente do rei de Euwun. Mas a correria dentro do quarto principal de todo o castelo estava tão intensa que ninguém chegou a notar aquele desleixo feito pela última pessoa a entrar no cômodo e aproveitou para cessar sua curiosidade e observar por aquela pequena fresta da porta a movimentação interna. A esposa do filho do rei euwano gostaria muito de saber como estavam as coisas ali dentro, era de seu interesse comum também ter conhecimento do estado de saúde de Hwan III.
Podia ver que estava parado aos pés da cama, com as mãos colocadas na grade e sua feição séria, a deixando estremecida. Pouco tinha em sua memória sobre as vezes em que o único filho de Catarina Di Frindor e Hwan III demonstrava seu lado sério, era sempre muito alegre e sorridente, de fácil acesso, completamente o oposto de seus pais. O que para ela, na posição de sua esposa, era um ponto muito positivo, já que poderia soar completamente insuportável conviver com alguém à imagem e semelhança de uma pessoa como Catarina, rainha de Euwun.
Já se fazia mais do que consideráveis anos desde que havia sido inserida na família real de Euwun por um tratado de interesse político em que ela fora prometida para o herdeiro do trono do reino de maior presença em todo o continente. Logo em seu nascimento, tal promessa fora feita a fim de unir toda a grandiosidade do capital de Euwun com a majestosidade da força do exército de Minwoo. Era uma união para fortalecer os lados, o grandioso dando respaldo para o majestoso e assim se tornarem duas potências da qual nenhum outro reino, sendo do continente ou não, teria coragem e cacife para bater de frente.
Mas era uma aliança furada e sabia que nenhum dos lados se preocupava de fato em manter aquela união de forma saudável; havia alguns interesses de um lado que sempre sobressaíam o outro, e sua preocupação, no fim, rondava apenas sobre seu povo minwano.
E ela faria de tudo para manter a integridade deles, pois, a partir do momento que seu pai faleceu em batalha e ela já estava casada com , se tornou rainha e representava todo o reino. Infelizmente, existia alguma lei criada por Hwan III de que seu filho não poderia sair de Euwun e ela governaria do castelo da família real euwana.
E, por isso, naquele momento em que todos estavam extremamente em pânico pelo estado de saúde do rei, ela queria saber muito mais além da vida e morte dele. Queria e especularia sobre tudo e os interesses daqueles que ficariam responsáveis na ausência dele. Sua preocupação, principalmente, rondava a rainha Catarina e os interesses dela que sempre se baseavam no poder e em seu medo de perder a coroa. Era a pessoa com quem mais precisava tomar cuidado.
Seus olhos estavam atentos no vão, porém, não só em como soava tão diferente do que ele normalmente aparentava com seu jeito mais jovial — apesar do futuro lhe reservar a posição de um rei e possuir muitas preocupações sobre seus ombros, ainda era tão… garoto? Ela diria e sinalizaria para qualquer um que ele era uma boa pessoa e um bom filho, além de fugir do padrão comum de sua época: não era frágil em seus preceitos e tratava bem toda e qualquer mulher, sendo sempre muito atencioso e solícito com . Ela manteve esse olhar surpresa e admirada nele, mas também estava tentando ler a encenação de Catarina.
A mulher parecia absorta em seu próprio mundo e não saberia dizer se houve alguma vez em que a viu derrubar a película de grandiosidade de si daquela forma, parecendo tão vulnerável. Com certeza não era sobre como Hwan III estava desfalecendo naquela cama de madeira maciça feita sob medida com os luxos da rainha. Quanto a isso, colocaria sua mão no fogo facilmente.
— O que você está olhando aí?
Teria gritado se não estivesse atenta a não fazer nenhum movimento que pudesse denunciar sua presença ali. Porém, apenas pulou no lugar pelo susto ao ouvir a voz de Fedora, sua criada.
— Como assim o que estou olhando aqui, Fedora? — disse com a mão no peito, acima do decote quadrado de seu vestido.
— Está aí há bastante tempo, senhora — a dama respondeu, vendo sua rainha virar-se para a direção em que estava, dando as costas para a porta.
— Estou preocupada, o rei não apresentou melhoras.
juntou a saia comprida e deu alguns passos, saindo dali, sendo seguida por sua dama até a primeira janela no extenso corredor, sempre iluminado à noite apenas por tochas de fogo.
— A senhora acha que ele… — Fedora parou ao lado dela, que estava parada de forma diagonal, olhando para a lua do lado de fora. Estava uma noite muito linda para pensarem sobre a morte.
— Não. Catarina tem Ceferes, com certeza alguma bruxaria o trará de volta — a rainha disse em seu tom comum de alento.
— Mas ele está naquela cama há dias, Vossa Majestade — insistiu.
A rainha apenas assentiu, ainda olhando para a lua do lado de fora. Ela sabia que Hwan III não resistiria, infelizmente ele havia sido desatento o suficiente no duelo com Janosh na semana dos soldados e acabou caindo do penhasco. Os ferimentos eram graves, infeccionaram e, mesmo que Ceferes tivesse todos os apetrechos e meios para tentar curar seu rei com feitiçaria, ele estava passando por um momento da cadeia natural dos fatos da vida.
Ela esperava que o Divino o tivesse.
E também esperava que seu povo não sofresse consequências maldosas após a sua morte.
— O rei está morto!
Ouviu a voz do general. Min estava na frente da porta do quarto quando ela se virou rapidamente, encarando-o. Seu corpo estremeceu e, ao fundo, dentro do cômodo, ela viu o olhar perdido de Catarina. Ainda não diria que a rainha estava de luto pela morte de seu marido, de seu companheiro de monarquia. tinha medo, receios e anseios, justamente por conhecer bem a família a qual dividia o castelo em que morava.
Sabia que ali, aquele luto da rainha, era sobre a coroa. Ao falecer, Hwan IV seria coroado rei de Euwun, automaticamente tornando sua esposa, , a rainha. E seria quase certo dizer que Catarina preocupava-se sobre seu posto, ela não tinha perspectivas quanto a um reino em que não governasse, que seu nome não fosse o principal.
Era como uma profecia: assinaria um atestado de caça à sua sogra por naturalmente assumir o trono de outro reino além do seu, por adquirir mais poder do que Catarina um dia sequer pensou em ter.
Por simplesmente cumprir com seu o seu propósito de vida.

🏰


O sol era forte, seus raios faziam com que os vestidos com decotes fechados, escuros por serem da cor preta, véus e chapéus esquentassem o corpo das senhoras que os usavam. Os homens com as várias camadas de peças sentiam que a qualquer momento poderiam desmaiar. Mas seria desrespeitoso reclamar, afinal, estavam velando o corpo do rei de Euwun — o que para muitos soava estranho. Uma situação daquelas, de despedida, deveria carregar o tom máximo de respeito e intimidade, mas acabou por se tornar um tipo de celebração.
Embaixo daquele sol escaldante, pessoas faziam fila no grande pátio do espaço aberto do castelo, organizados e com seus terços, deixando suas preces e orações em cima do corpo falecido e arrumado dentro do caixão fechado. Muitos choravam a morte do rei que tanto fez pelo povo, que a tanta gente supriu necessidades e que nunca deixou até a população dos vilarejos mais distantes padecer. Hwan III fora, em poucas palavras, um grande homem para os euwanos e tinha o respeito de todos eles.
Entretanto, o ponto alto daquilo tudo, principalmente sob o olhar dos mais curiosos e atentos aos dramas da corte, era a presença de Hwan IV no pátio aberto do castelo, causando imensurável comoção.
Desde que foi anunciado o nascimento de um filho, de uma rainha que a população sequer soube estar grávida, a curiosidade foi crescendo, justamente por praticamente nunca ter sido visto fora do castelo. A primeira vez que o viram foi em seu aniversário de dezesseis anos, uma data pontual para a família real apresentar a coroa ao herdeiro, sendo uma cerimônia que até mesmo os euwanos julgavam um pouco exagerada. Depois disso, foi visto pelo seu povo em seu casamento com aos dezoito anos e nunca mais saiu do castelo.
Para a população do reino, era estranho não saber sobre seu futuro rei, muito menos o motivo pelo qual ele era tão protegido pelas paredes daquela fortaleza. Houve até mesmo uma vez em que um soldado foi condenado à decapitação por contar para alguém que contou para outro alguém sobre a cicatriz do príncipe, acabando por fazer uma informação tomar proporções enormes. Uma cicatriz em seu olho direito que pegava de um ponto acima de sua sobrancelha e cortava a pálpebra até um pouco abaixo de seu olho, iniciando a bochecha.
Naquele ambiente, apesar do falecimento de Hwan III ser o motivo do encontro, muitos se faziam curiosos para observar seu filho, na posição de seu sucessor sentado ao lado de sua esposa. Claro que sabiam que o veriam novamente, pois teria a cerimônia de coroação dele, e certamente ninguém perderia o banquete real e a festa que aconteceria após ao evento oficial dos novos rei e rainha.
Quando ele se movimentou, levantando-se por se sentir desconfortável quanto aos olhares em si, foi seguido pelo olhar de sua mãe, sentada à sua direita, e sua esposa, do lado esquerdo.
— Você tem certeza de que não quer que eu o acompanhe, querido? — Catarina estava preocupada, de fato. Encarava o filho com o rosto inclinado para sua direção.
— Não, eu quero um tempo sozinho — ele respondeu, caminhando para a saída ao lado de sua esposa.
Antes de continuar o caminho, deixou um beijo na testa de sua rainha e autorizou pelo menos que dois guardas fossem em seu encalço por medida de segurança. Além dos olhares curiosos de camponeses, artesãos e demais habitantes de Euwun, sua mãe o olhava.
Catarina ficou por um tempo acompanhando a caminhada do filho, até ele sumir e em seu campo de visão ficar somente o perfil de . A nora estava ereta, na mesma posição que se colocou quando chegou àquele pátio, e se sentou sem dizer uma palavra sequer, podendo ser declarada morta se não fosse pelas suas bochechas levemente coradas.
— Confesso que, dentre todos os seus trejeitos, nunca diria que a veria tão quieta assim, princesa — disse, virando seu rosto para a frente, mantendo a mesma posição ereta da outra, com as mãos postadas no colo coberto pela saia.
Encarava o horizonte, o mar de pessoas em sua frente, de forma civilizada, caminhando em fila até o corpo de seu marido naquele caixão debaixo do sol, enquanto ela estava sentada em uma cadeira diferente de seu trono, com a estrutura do teto daquele extenso corredor, no qual fora montado o ambiente para a família real e seus membros de corte serem alocados, sob sua cabeça, protegendo-lhes do sol. Se sentia um tanto vazia com aquela ambientação, além de desrespeitada por não estar em seu assento correto, que era ocupado pela esposa de seu filho.
— Rainha — corrigiu, ainda com a mesma feição e posição. — Por mais que não goste de admitir, a esposa de seu filho já é rainha de um povo — completou.
Claramente ela se sentia ofendida, mas não diria diretamente. Sua intelectualidade, porém, ainda não tinha um nível tão impressionante para deixar que o tom provocativo e soberbo de Catarina não fosse respondido — era óbvio que ela sabia sobre a informação rebatida por , mas estava usando de seu perfil megera para iniciar aquele assunto, afinal era quem ela era de fato.
— Minwoo está bem longe daqui — Catarina não tardou em responder.
respirou fundo, mas não se moveu além do peito subindo e descendo controladamente para não transparecer sua irritação.
— Felizmente ou não, tenho dois tronos dos quais ocupar e Minwoo poderá ser governada desse mesmo, no qual estou sentada. Afinal, Euwun e Minwoo possuem uma aliança forte, sogra.
— Você acha que irá governar este povo tão cedo? — a mais velha virou o rosto para , perguntando grosseiramente, com um sorriso ladino.
— Por lei. É a ordem natural. — Mas ainda não a encarava.
— E o que você acha que neste reino segue sendo natural, minha criança? — Catarina se moveu em seu assento, ficando menos rígida. — Isso mesmo, nada. Acha que consegue governar? Que ele tem condições intelectuais para isso? — riu nasalado.
— Não confia no próprio filho, Catarina?
— E você? Confia? — Virou o rosto para a frente, voltando para a mesma posição que mantinha inicialmente. — Onde está essa confiança, então? — questionou mais uma vez, após o silêncio da nora. — A confiança traz herdeiros. Herdeiros unem povos. Fazem tronos se fortalecerem.
Foi como se a mãe de seu marido tivesse lhe apunhalado pelas costas ao citar um fato que tanto trazia cobrança para : ela não conseguia engravidar e vinha tentando há tempos. Seu casamento com já estava caminhando para alcançar o terceiro inverno e eles ainda não tinham um herdeiro. Não se tratava por falta de tentativas, eles se davam bem na cama e tentavam. E isso tudo dava aquele tom de incompetência para ela, porque o problema estava ali e não poderia ser no homem, ela quem deveria ser perfeita para entregar o que toda uma corte exigia.
Era cansativo, principalmente por todo o cenário de como lidava com as coisas. Para ele estava tranquilo, pois parecia mesmo gostar de e entender que o sexo entre eles funcionava, levando a outro motivo para não ter tido um filho ainda com ela. E o modo dele de lidar com isso não era tão agraciado pelos outros, por aqueles que esperavam que o castelo tivesse uma criança.
Quis jogar no colo de sua sogra o que tanto ouvia pelos corredores sobre a fidelidade de Hwan III, que levou ao nascimento de . Por mais que a decapitação de um soldado por passar informações para fora daquelas paredes tenha sido um bom aviso sobre o que aconteceria com quem propagasse os segredos reais ao povo, ainda existiam burburinhos protegidos por aquele concreto.
Ouvia muito que a motivação do aprisionamento de fora por conta de não ser filho legítimo de Catarina e que seus traços diferentes dos dela pudessem causar alguma massa de dúvida em seu povo ao colocar um bastardo abaixo de sua saia. Mas, por maior escândalo que a infidelidade de Hwan pudesse ser julgada, era claro que Catarina também não conseguiu devolver para a corte de sua época o que lhe era exigido.
— Então a senhora não confiava em Hwan — rebateu a última fala venenosa de Catarina, finalmente virando o rosto para a direção dela.
— Do que está falando? — O olhar correspondido lhe trazia um cinismo absoluto. Tão comum para quem o carregava, aliás.
— Herdeiros, sim? Estamos falando sobre herdeiros. — Conforme virava o rosto novamente para a frente, o seu sorriso deixou de existir.
Sentindo o peito subir e descer de forma presa, não pelo vestido tão apertado em seu busto, mas por querer controlar as próprias expressões e movimentos para não ser pega desprevenida, Catarina mordeu as bochechas por dentro, querendo praguejar as damas e serviçais de seu castelo que ficavam comentando sobre sua vida e assuntos dos quais eram proibidos. Continuou encarando o perfil de e, usando seu tom mais impassível possível, disse:
— Regra número um para ser uma rainha, princesa: não acredite no que se ouve, as paredes de um castelo são corrompidas por muita sujeira e nem sempre elas possuem certeza na ordem das fofocas. Crie sua própria informação, sua própria parede.
O peito de subiu e desceu em seu breve suspiro e Catarina teria visto o sorriso dela se alargar, se pudesse entrar na mente da outra. E também a ouviria comemorar ter deixado a rainha tão majestosa sem seu escudo, com todo seu caráter exposto.
— Aumente a velocidade, por gentileza.
A voz de Catarina novamente foi ouvida, ordenando para que o súdito que lhe abanava aumentasse a velocidade. O calor não era somente por conta do sol queimando sob suas cabeças, mesmo que protegidas pelo concreto, mas sim pelo medo de estar vulnerável.
Catarina não queria perder seu trono, seu poder, e estava assinando sua carta de briga. Se tivesse que entrar na disputa, fosse lá o que a outra tivesse em mente para a impedir de assumir o trono, ela o faria e não abaixaria a cabeça. Faria por Minwoo, por seu pai, por si.

🏰


As mãos de apertaram a cintura de , que estava por baixo do corpo dele, tão suada quanto, quando sentiu o ápice chegar. Era incrível como eles possuíam uma promessa silenciosa desde a infância sobre se respeitarem e apreciarem um ao outro, reconhecendo que deveriam aceitar o destino que fora traçado para suas vidas desde o início — de forma literal, inclusive. E, apesar do exemplo um pouco desrespeitoso de seu pai, banhado em infidelidades e algumas grosserias, era o oposto. O jeito dócil com a rainha de Minwoo e futura rainha de seu reino não se limitava apenas às quatro paredes da enorme suíte que dividiam no castelo. Pelo contrário, o rei, que estava prestes a ser oficializado, dava exemplos diariamente de como tratar uma mulher devidamente.
E todos os toques que recebia em diversos momentos a deixavam mais tranquila, menos assustada de estar longe de casa desde os doze anos por ser prometida em casamento dentro do seu cenário já conhecido. Ela sentia, principalmente ao dividir os lençóis com seu marido, que era respeitada e adorada; se sentia muito mulher desde a primeira vez que se uniram em prazer. poderia ser o homem mais confuso, menos adulto por muitas vezes e, ainda assim, a fazia bem.
Não era somente sobre o prazer dele, era em conjunto. Ele se satisfazia também a satisfazendo.
Por dividirem a vida de tal forma, com muita intimidade, podia dizer que havia algo muito estranho nele, que o fez virar-se para o lado e simplesmente, naquele silêncio sepulcral, dormir. Nem um beijo, nem um abraço, muito menos uma conversa banal com ela deitada em seu peito, traçando linhas imaginárias na pele nua dele, nada além das costas de iluminada pelas velas e tochas que estavam acesas. Ela suspirou, levantando-se por sentir a ausência do sono e aquela inquietude desde que Hwan havia sido declarado morto; puxou a camisola para baixo, que estava erguida e dobrada até seu busto, e depois de pegar o pequeno castiçal com duas velas em sua cabeceira, caminhou para fora do quarto.
Fechou a porta com cuidado para evitar o barulho, não queria ser notada e muito menos receber a presença repentina de Fedora em seu encalço, como sempre a dama de companhia fazia. Era admirável e assustador a forma como ela frequentemente aparecia do nada, silenciosamente, como se fosse um despertador natural para se lembrar de algo; normalmente eram situações as quais ela estava imersa em alguma coisa ou não queria ser incomodada. Estava Fedora pontualmente lá, preocupando-se e cumprindo com seu papel ao pé da letra e religiosamente.
Os passos que foram dados para fora do corredor a levaram para próximo da escada que levava para a área de serviços, o caminho usado apenas pelos serviçais do castelo justamente para não se misturarem com a realeza. Sua mente divagava na preocupação constante sobre o bem-estar minwano desde o falecimento de Hwan III, já que ele era o responsável por manter o pequeno reino que seu pai tanto batalhou para manter em pé antes de falecer na última guerra que garantiu aos dois reinos territórios e a paz como fortaleza.
Com ela morando em Euwun por ter se casado com , Minwoo era governado por Hwan III, mesmo que de longe, até ela ter se casado e ser coroada rainha, sucessora de seu pai. Entretanto, havia uma linha tênue sobre essa sucessão, só poderia assumir o seu trono nativo quando assumisse a coroa de Euwun também. Por isso o tom de Catarina ainda a preocupava, já que ela não sabia se poderia confiar que os interesses da rainha passavam além de possuir poder e uma coroa para ilustrar sua cabeça.
Parou bruscamente enquanto divagava ao ouvir a voz estridente de alguma serviçal. Se fosse notada, sofreria perguntas e tudo o que menos queria naquele momento era ter seu espaço pessoal sendo invadido.
— Você sabe que a rainha Catarina não deixará fácil para assumir o trono — ela dizia para uma outra pessoa. Os passos que deu a mais ajudaram-na a ver a cena: duas mulheres um pouco velhas paradas uma de frente para a outra segurando cestos com roupas.
— Mas eu não entendo, Rudith, como a rainha irá impedir? Existe a linha de sucessão e ela deve ser seguida — a outra rebateu.
— Mora há anos abaixo deste teto e ainda não conhece as tramoias da rainha? — Rudith riu, irônica, olhando para os lados antes de dizer: — A profecia… Ela não pode deixar que veja a luz fora do castelo enquanto o outro estiver vivo ou corre o risco de ele aparecer e reivindicar o trono. E não estamos falando apenas da lei.
— Ah, mas você acredita nisso? É besteira, Rudith.
— E você desacredita? Um não pode viver enquanto o outro estiver vivo, a cicatriz existe por um motivo, sabe disso. — Rudith parecia firme e fiel ao que dizia, também um tanto preocupada. — E mal sabe manusear uma espada, logo, será ele a cair.
Um breve silêncio se fez, tanto que podia sentir a confusão e preocupação evidente na outra que se fazia mais cética.
— Até faz um pouco de sentido essa sua loucura.
— Mas é claro que faz! — riu, apertando mais o cesto contra o corpo. — Ceferes não viveria por tanto tempo neste castelo se não fosse para proteger , principalmente debaixo da proteção do rei. — Rudith fez o sinal da cruz rapidamente, olhando para cima. — Que o Divino o tenha! — disse, suspirando e retornando o olhar para baixo. — E você reparou como ele está estranho desde que o pai adoeceu?
— Acho que reparei como ele tem estado menos… centrado?
— Ele está perdendo a sanidade. Depois do enterro do rei, o vi falando sozinho dentro do salão real. Parecia que estava brigando com alguém, mas não tinha ninguém além dele!
— Será que Catarina usará disso para impedir que ele suba ao trono? — a mulher que estava cética no início perguntou em tom de dúvida real.
— Não sei… O que eu sei é que tudo está se encaminhando de acordo com a profecia. A morte precoce do rei, não é mais o mesmo homem dócil e gentil, ele está distante. E Catarina não o deixará assumir, ela vai dar um jeito de se colocar entre ele e a coroa.
— E onde entra nisso tudo? Ela já é rainha de Minwoo e deve assumir Euwun com .
— Eu acho que ela é o menor dos problemas para Catarina. A rainha não vai deixar ninguém no caminho dela… Conhece Catarina há anos, sabe bem do que ela é capaz — Rudith finalizou, com pesar.
não notou que uma das velas em seu castiçal estava finalizando, causando uma cera quente cair em seu dedo. Se submergiu tanto ouvindo aquela conversa, matutando em sua cabeça sobre o que estavam falando, se realmente tinha alguma ligação extrema com o que já tinha escutado diversas vezes sobre Catarina não ser a mãe biológica de , que se perdeu, voltando à superfície quando sentiu o quente da cera batendo em seu dedo.
Sua exclamação pelo susto e a dor da queimadura leve acabou por chamar a atenção, e as duas senhoras viraram para sua direção, encarando-a com confusão. Àquela hora da noite, não era tão comum para um membro da corte estar vagando pelos corredores, ainda mais sendo a futura rainha de Euwun, e sendo naquele canto do castelo também se tornava extremamente curioso.
— Majestade… — as duas se curvaram, dizendo.
Ela assentiu ao cumprimento respeitoso das duas e, tentando debater dentro de si a seriedade do que ouviu, pensando que talvez estivesse enfeitando demais uma fofoca mal-ouvida, acabou por sucumbir à curiosidade.
A verdade era que estava realmente preocupada com todos os fatores de sua vida após a morte de Hwan III. Por mais estranho que pudesse parecer, o rei era um dos poucos homens dos quais ela sabia que podia confiar o reino que seu pai deixou em pé antes de morrer e a ideia de que ele não estaria mais ali para cuidar do pequeno pedaço de terra que possuía a deixava alarmada — sabia que Catarina tinha esse vislumbre por poder e que não se importaria em ter um olhar mais humano diante do povo, e se ela estava mesmo disposta a não deixar que subisse ao trono, então teria de ficar atenta.
faria qualquer coisa para proteger os seus. Estava decidida a investigar a história que fosse, começando pela tal profecia que ouviu as duas comentando com tanta certeza.
— De que profecia vocês estavam falando? — Deu alguns passos, chegando mais perto delas e tomando cuidado para não se queimar outra vez com a cera do castiçal.
As senhoras se entreolharam, parecendo um tanto medrosas.
— Não me façam perguntar outra vez — foi firme, chegando a odiar o próprio tom.
— Nenhuma, Majestade — Rudith disse, trocando um olhar árduo com a outra.
— Eu não estou louca, Rudith. Sei bem o que ouvi. — Deu mais dois longos passos, parando próxima a elas, seu rosto sendo melhor visualizado por conta da luz da tocha que tinha ao seu lado, fixada na parede.
Novamente, as serviçais se entreolharam.
— Bem, é um cântico, senhora — a outra, que ela não sabia o nome, disse, sob o olhar decepcionado de Rudith.
— Não me lembro de ouvir um cântico sobre isso em Euwun.
— Ceferes, ele é o criador dele, majestade — novamente disse, soando como uma tagarela.
— Não dê ouvidos a ela, Vossa Majestade. É só um cântico que temos nos vilarejos — Rudith começou, trêmula.
— Então me contem mais sobre este cântico — a rainha pediu, com um sorriso simples nos lábios. — Por gentileza — incentivou, vendo como as duas hesitaram com a troca de olhares.
— Ele conta que uma mulher acabou sendo amaldiçoada em seu ventre por ser usada como objeto de infidelidade para um…
— Um senhor muito rico — Rudith cortou a companheira, olhando diretamente para a rainha em sua frente. — E ela gerou dois filhos dele, porém ele não poderia criar dois filhos, já que só tinha lugar para um. Então as duas crianças nasceram com uma marca, já que, pelo destino, estava traçado que deveriam ser separados. Esta marca serviu para que fossem identificados quando se encontrassem.
— E nesse encontro saberiam que eram iguais. À imagem e semelhança. — Houve uma pausa e mais uma troca de olhares. — Com isso, na história cantada, fica claro que, para um estar vivo, o outro precisa morrer.
— O que é trágico para uma história cantada a crianças, não acha, Majestade? — Rudith tentou dar um tom diferente para aquilo, já medrosa por ter contado demais.
— Sim… Talvez eu fale com Ceferes para rever este cântico. — A voz de saiu em um alento, antes de pensar que talvez fosse o momento para voltar aos seus aposentos. — Podem ir, estão dispensadas.
Rudith e sua companheira se curvaram diante da rainha antes de saírem para os degraus que as levavam ao andar inferior, o de serviços. A rainha permaneceu parada no lugar, juntando pontos de todas as informações que já havia recebido, assuntos que tinha ouvido e supostos cânticos que sempre traçaram linhas diferentes para o mesmo final: a infidelidade de Hwan.
Teria Catarina usado Ceferes para amaldiçoar uma mulher grávida?
O pensamento a fez arrepiar todos os pelos do corpo, obrigatoriamente a fazendo assumir o medo. Talvez ela não estivesse tendo sorte para engravidar porque a própria sogra a colocara uma maldição, justamente para que sua vida continuasse infeliz e as cobranças da corte pesassem sobre seus ombros. Isso geraria em a desistência do trono e uma vitória para Catarina.
Fez o sinal da cruz antes de pressionar a mão em cima do ventre, suspirando com pesar.
Quando fez o caminho de volta, chegando ao corredor principal, se deparou com Fedora, mais pálida que a lua, caminhando para sua direção.
— A senhora precisa de alguma coisa? — perguntou, ofegante.
parou sua caminhada e ficou olhando para o rosto dela por alguns segundos, novamente debatendo dentro de si o que tinha ouvido, até, então, sucumbir-se mais uma vez e dizer:
— Sim. Preciso encontrar Ceferes.
Não disse mais nada ou esperou pela resposta, Fedora era inteligente e a conhecia muito bem para saber que aquilo era uma ordem para que a ajudasse com tal coisa. Continuou o caminho de volta para seu quarto, deixando a dama para trás com uma garganta fechada em um bolo. Não estava acostumada em ver sua rainha tão determinada e com uma postura menos passiva. Era preocupante.

🏰


— Onde está sua esposa, afinal?
O tom de Catarina foi exigente, além de carregar o ceticismo de sempre quanto ao comportamento e verdadeiro perfil de . Estavam no salão real, fechados, ela e , aguardando para uma reunião que colocaria em mesa as decisões sobre a coroação dele e da futura rainha euwana. Claro que os planos da mãe sondavam a possibilidade de poder intervir o máximo que podia no governo de seu filho, não confiava o suficiente no intelecto dele para ter segurança de que sua vida permaneceria com o mesmo padrão, as mesmas regalias da coroa, incluindo a paz que tinha em seu reino pelo nome forte e respeitado.
Ela estava inquieta, com certeza, mas ainda conseguia se manter blindada com o véu que tinha sobre si para não permitir que fosse possível observar de perto suas fraquezas e limitações. Nos últimos dias, tinha deixado que isso caísse facilmente, tanto que permitiu a um pouco de soberba no curto diálogo durante o tempo que velavam o corpo de Hwan, o que a deixou bem atenta, inclusive. Desde que a minwana havia ido para seu castelo, logo após o falecimento da mãe e que seu pai entrou de verdade em guerra por interesses políticos de seu povo e Euwun, Catarina notou o potencial de uma boa aliada que ela poderia ser. Entretanto, temia que poderia ter se enganado.
E recusava-se a acreditar que uma jovem como ela pudesse lhe passar a perna ou ser mais perspicaz; sendo rainha de Euwun, Catarina passou muitos anos aprendendo, antes mesmo de assumir seu papel desde a promessa de casamento com Hwan, e ela se preparou para tudo aquilo, para ser uma rainha que saberia mover seu próprio tabuleiro.
Catarina movia as próprias paredes em seu castelo de cartas e sua nora não seria difícil de manipular. Não deveria, na verdade.
Quando ia reclamar mais uma vez, porém, as portas da sala foram abertas e a jovem rainha entrou, acompanhada de sua dama e sob o olhar de todos. Era deslumbrante como flutuava pelos chãos do castelo de forma elegante e parecia ganhar uma confiança crescente com o passar do tempo — para o desgosto de sua sogra.
— Perdoem-me o atraso. — Fez o caminho e se aproximou do marido, que estava sentado na enorme cadeira atrás da mesa de madeira maciça. — Não acordei disposta hoje, deve ter sido o banho de sol excessivo de ontem — completou com sua justificativa, parando ao lado de .
— Devemos criar expectativas quanto a um herdeiro, então? — Catarina sorriu falsamente, gesticulando com suas mãos na altura de seu ventre e postadas sutilmente apoiadas ali.
O olhar que recebeu de poderia lhe cortar se fosse uma faca afiada. Contudo, ela não era uma presa fácil, apenas sustentou aquela tensão, mantendo seu sorriso falsamente fino nos lábios. Porém, mesmo que isso tenha durado segundos e soado como horas, foi quem as puxou de volta para a realidade. Seu tom abobado e esperançoso deu uma pontada em de desgosto.
— Será que finalmente seremos agraciados? — disse, virando-se e levando as mãos para a barriga da esposa. O olhar com a cabeça inclinada que foi direcionado a ela trazia toda sua ingenuidade do clima entre as duas mulheres presentes ali.
“Pobre , não reconhece a víbora que tem como mãe…”, pensou.
— Não vamos nos antecipar mais uma vez, querido. — Catarina manteve o sorriso, trazendo-o para o tom ladino ao ouvir a voz falhada de , que levou uma de suas mãos carinhosamente ao rosto do marido. — Me perdoe, Majestade… Sei que é um momento em que precisa de notícias boas e um pouco de felicidade para curar o tormento do luto em perder o grande amor de sua vida. — Direcionou o rosto novamente para a sogra, sendo ela agora a utilizar do sorriso falsamente fino, denotando uma falsa compreensão. — Sinto muito não poder lhe dar o mínimo de felicidade…
A mais velha travou a luta interna contra seu próprio inconsciente que queria trazer à superfície a impulsividade do desejo de cruzar o espaço entre elas e decapitar a princesa de língua solta, sem pensar em nada além do seu desejo. Criar para que ela fosse uma adulta à sua semelhança talvez tenha sido um péssimo negócio.
— Agradeço por suas condolências, princesa. — Catarina diminuiu o sorriso, mas ainda o mantendo no falso tom carismático.
— Você tem certeza de que está bem para estar aqui? — Rompendo o momento das duas, alheio ao que uma tentava acertar na outra, se levantou, preocupado com a palidez de sua esposa. — Podemos adiar ou depois eu te falo todos os detalhes…
— Não! — se esquivou do toque dele em seu rosto, arrastando a longa saia de seu vestido para o outro lado da mesa. — Vamos seguir com o protocolo e datas certas, quando seu pai adoeceu, muita coisa ficou pendente. Euwun está segura, mas ainda assim precisa de um rei e uma rainha.
— A rainha já temos, claro.
Virou para Catarina que estava logo atrás, respirando fundo, recebendo o sorrisinho ladino dela direcionado para si. revirou os olhos, voltando a encarar , que voltava a se sentar na enorme e robusta cadeira.
Sabia que aquela reunião era para que a mãe dele colocasse ideias em sua cabeça confusa, e que sua voz tampouco seria ouvida, visto todo o carinho e respeito que tinha por Catarina. Não à toa, apesar de seu jeito egocêntrico, fora uma boa mãe para ele, sempre o protegendo e ensinando. Curioso era que tinha a personalidade mais dócil, educado e um tanto humano do que a própria matriarca daquela família construída com o rei falecido. Em um panorama mais racional, se perguntava qual a origem de todo aquele amargor da rainha, se era algo em sua infância ou o casamento com Hwan III que encontrou um fracasso na infidelidade.
Mesmo que a jovem rainha minwana estivesse se sentindo indisposta naquela manhã, com o mal-estar crescente em seu corpo, acentuado em seu ventre, queria estar ali, no salão real, para discutir sobre qualquer que fosse o assunto da coroação. Sabia que, pela ordem comum, protocolar eram alguns detalhes pífios sobre cerimônia, convidados e os demais plebeus que tinham o direito, mas o desmembramento das pautas levaria a outros detalhes, dos quais ela não queria perder uma vírgula sequer. Não importava o tanto que tivesse de sair do seu papel ingênuo e se forçar a jogar no mesmo tabuleiro que Catarina, ela o faria, sem pestanejar, por seu povo.
Era a história e trajetória de seu pai a ser defendida.
— Bem, podemos prosseguir… — Ignorou o olhar da sogra, virando-se para , que as encarava alheio, como sempre. — Acredito que não sejam detalhes muito complicados de serem traçados, .
— O quê? Uma coroação? — Catarina riu anasalado. — Você acha que é simplesmente uma cerimônia de colocar uma coroa na cabeça de cada um e sentar-se no trono? — Deu curtos passos para poder observar o rosto de , parando um pouco mais à frente e entrando no campo de vista da outra. — Há muitas coisas que você ainda precisa aprender, criança.
umedeceu os lábios de forma serena, entediado com o que estava presenciando. Deslizou os braços no apoio da cadeira, um de cada lado, unindo as mãos à frente de seu tronco e entrelaçando-as.
— Se trata de todos os convidados, porque a tradição do nosso reino exige que ninguém seja deixado de fora — iniciou a explicação, vendo tensionando a mandíbula e a encarando, cética. A conhecia tão bem para saber que isso era um reflexo de seu mal-estar dos últimos dias.
— Entendo… — ela sibilou, assentindo levemente.
— Sabemos que, antes de meu pai falecer, Harthyiad estava exigindo a revisão de todos os tratados já feitos, o que para nós significa, hoje, uma ameaça. Então as medidas protocolares não são apenas para que tudo saia com o luxo de sempre, mas para o que iremos trazer na cerimônia.
O tom de voz de a fez se acalmar, como se não achasse possível encontrar nele tamanha intelectualidade. Era um tanto dificultoso de detalhar e traçar as linhas da personalidade do marido e, embora ela encontrasse algumas pedras neste caminho, pela instabilidade do intelecto dele, ainda se surpreendia com aquele mar de ondas que era seu casamento; hora tranquilo, hora traiçoeiro, hora agressivo… Diversificado em todos os níveis de maré.
— Por isso eu acredito que seja o momento para esperar a poeira diminuir e, então, realizar a cerimônia — Catarina interveio com seu tom ameno, o qual estava começando a saber interpretar. — Principalmente porque sua esposa ainda não te deu um herdeiro. — Espalmou as mãos na mesa, com os braços abertos e o corpo um tanto curvado, olhando diretamente nos olhos do filho.
— E o que isso interfere nas relações do meu reinado? Ainda somos jovens, um filho logo virá. Não se trata da vontade e tempo do divino? — ele rebateu.
deixaria o sorriso escapar, se não estivesse se sentindo pesada e como se uma faca rodasse dentro de seu estômago, descendo para seu ventre.
— A vontade dos homens sempre prevalece, meu filho. — A rainha voltou o corpo ereto, torcendo os lábios. — Vocês dois precisam entender muita coisa antes de querer assumir uma coroa, porque isso não é brincar de casinha.
— E você sabia de tudo antes de assumir, Catarina? — moveu apenas o olhar para a mais velha.
— Sim, porque fui ensinada desde que nasci a como ser uma rainha… Além de que — se virou para a nora, sorrindo abertamente — também se trata de berço, tem gente que nasce com o dom, seja um ventre fértil ou a capacidade para governar, vem daqui — apontou o próprio peito — e passa para cá — seguindo a cabeça, por fim.
Sob o olhar analítico de , totalmente profundo e carregado de palavras que ela poderia soltar de qualquer forma se não fosse por sua capacidade de compreender o próprio lugar e como uma monarquia funcionava, Catarina caminhou em volta da mesa, mantendo seu discurso.
Ela estava se sentindo voluptuosa de dentro para fora; se estivessem contando, seria mais uma vitória para ela contra a outra.
— Trazer outros monarcas para essa cerimônia, nesse momento, equivale a iniciar um jogo do qual ainda não temos condições de suportar.
— Me surpreende que sua confiança em seja tão frágil assim — riu fraco.
— Não é sobre confiança, querida, é noção do que vocês irão enfrentar ao assumir esse trono.
Imediatamente uma ideia bateu na cabeça da rainha mais nova: e sua criação totalmente reclusa, escondida atrás das paredes do castelo; teria Catarina e sua relutância algo a ver com isso? Para ela se fez tão certo quanto o nascer do dia e o cair da noite.
— Ou seria o medo de finalmente o povo e outros reinos conhecerem ? — sem pensar, porém, disse audivelmente. Ao forçar-se a proferir tais palavras, sentiu seu ventre vibrar, deixando-a fraca e se apoiou firmemente nos próprios calcanhares.
… — , vendo sua mãe estremecer a mandíbula, sibilou.
— O que foi? — o encarou, desafiadora. — Você não tem curiosidade de saber por que foi criado fechado dentro dessas paredes? Não há nada no mundo lá fora que possa ser tão assustador a ponto de o único herdeiro do trono euwano nunca ter visto a vida por outros ângulos.
— Você sabe muito bem que não posso com os raios solares, a minha cicatriz já é um bom lembrete disso — ele rebateu, sério.
tinha suas dúvidas; embora não fosse algo que a chamasse atenção. A partir do momento em que Hwan fora dado como morto, sabendo que Minwoo dependia do governo e supervisão majoritária dele, ela passou a ligar pontos. A conversa que ouviu das duas serviçais no corredor do castelo em uma noite tão confusa pelo comportamento distante de ainda rondava sua cabeça, mesmo após quase cinco dias passados. E, vendo a forma de agir de Catarina, parecendo como um urubu em cima de carniça, tudo parecia ter mais sentido.
Também notava a necessidade da rainha de se colocar de forma prioritária na situação, não só por sua inteligência e bagagem, com o conhecimento que tinha, mas pelo interesse individual que massageava o próprio ego. Tampouco conseguia notar que seu povo passava pelo radar de preocupações da mais velha; o desinteresse ainda só não se fazia tão óbvio porque, no ponto de vista cético de , a mãe de seu marido, de alguma forma, estava sendo cautelosa. Entretanto, qualquer um poderia perceber sua necessidade de impedir que o filho tomasse o lugar mais importante do reinado.
— Ah… Com certeza — resmungou, com um mínimo sorriso de lado.
Catarina estalou a língua no céu da boca, encarando a mesa com o pergaminho do mapa de toda Euwun e reinos subjacentes.
— Eu acho que está um pouco fora de si, talvez o banho de sol realmente tenha feito mal à nossa futura rainha. — Se afastou da mesa, indo para o lado do filho. — Claramente ela precisa de um descanso, querido. — Virou-se para , sorrindo de uma forma genuína, somente para ele.
— Mas…
, como se fosse em um sobressalto, ficou com o corpo ereto em sua cadeira, olhando estreitamente para ; de fato, ela estava pálida e parecia tentar se segurar nos próprios calcanhares para se manter em pé, o que ele se recordava ser um tanto comum em algumas épocas de suas vidas, principalmente depois do casamento cerca de dois anos antes. Era preocupante, se tratando de sua , a saudável e firme mulher que sempre o acompanhava.
Sim, sua mãe estava certa, ela não parecia bem e realmente deveria estar um tanto fora de seu normal, não se fazendo comum situações como aquela em que rebatia daquela forma, embora fosse sempre uma pessoa de opinião. Entretanto, estava soando bem diferente em sua percepção.
— Fedora, acompanhe a rainha até o nosso aposento e fique atenta, por gentileza. — Virou o rosto em direção à dama de companhia, vendo-a assentir.
— Não, eu estou bem! — rebateu, virando-se para Fedora e novamente para a direção da cadeira, visualizando sua sogra com o tom soberbo. se levantava, caminhando para se colocar em sua frente, e, quando o fez, encarou o olhar suplicante dela. — … Eu estou bem, por favor… Precisamos falar sobre a cerimônia, sobre os outros reinos aliados… Sobre Minwoo! — disse, ficando ofegante ao fim.
— Claramente sua maior preocupação passa por Minwoo… — Catarina soou impaciente, ainda do lugar que estava. Para , o tom era mais provocativo, porém. — Precisa escolher um lado, princesa. Com o falecimento de Hwan e seu pai, acha que ainda existe algum tratado?
— Mas eu estou viva, sou objeto deste tratado, inclusive. — Apesar de odiar o contexto, usou como justificativa para rebater a outra, olhando-a por cima do ombro de ; ele, imediatamente, levou as mãos à cintura dela.
— Agora você é de Euwun, pensar que os minwanos te observam e aceitam como uma rainha é muita ingenuidade.
Vendo a forma como o corpo de tremeu sob suas mãos, se virou para a mãe, com o cenho franzido e confuso, além de cansado.
— O quê? Não me olhe assim.
— Como não? — indignou-se. — A senhora demonstra total desinteresse para que seja coroada, mas agora diz que deve escolher um lado.
— Não se trata de coerências, , mas, sim, preocupações. Vocês dois ainda precisam de muito para se sentarem naquele trono com a plenitude que um reino exige de seus líderes, e o primeiro passo é ela escolher um lado. Pensar em qual força é maior, daqui ou de lá.
O peito de subia e descia rapidamente, ela ofegava, tendo sua comprovação de que Catarina realmente não se importava com o reino no qual passou sua infância antes de se mudar para Euwun e ser preparada para o casamento com . Sentia-se como uma moeda de troca inválida e inútil por não ter suas raízes respeitadas; seu pai fora o maior responsável pela fortaleza que o exército euwano se tornou, merecia que sua memória fosse válida e, mesmo se tornando um passado enterrado com ele e Hwan III, deveria ter maior reconhecimento na história do majestoso reino.
— Está vendo? Ela não parece bem… — Catarina apontou. — Fedora, leve-a imediatamente, irei pedir que façam um daqueles chás para ela tomar.
Com a visão turva e confusa, tomada pelo incômodo em seu ventre, se deixou ser guiada por sua dama, saindo do grande salão depois de ouvir um “logo te encontrarei” do marido e sentir o beijo em sua testa. Realmente, ainda se sentia mal, com seu corpo incomodado com algo, querendo o expelir a qualquer momento, sendo que ela sequer sabia com exatidão como estava se sentindo e o que eram todas aquelas sensações.
Até porque em seu corpo, além do mal-estar a fazendo sucumbir, tinha a mente trabalhando em toda a sequência de fatos, gerada por conversas, atitudes, lembranças antigas, dentre toda e qualquer situação que pudesse ser armazenada para alimentar o que vagava em seus pensamentos recentes. O turbilhão que a fez parar no corredor, apoiada no primeiro vão da janela, observando a luz do dia e, de forma firme, dentro do que ainda lhe cabia naquela fraqueza, dizer:
— Fedora, eu quero encontrar Ceferes.
— Mas, senhora-
— Não existe nem meio mas — se esforçou para dizer, sentindo-se cada vez mais fraca e incomodada. — Eu quero encontrá-lo o mais rápido possível e ninguém, absolutamente ninguém, deverá saber disso.
Fedora a apoiou fisicamente, não segurando sua curiosidade.
— Se me permite, o que a senhora pretende conversar com Ceferes?
— Tenho questões que somente ele poderá me ajudar a entender, Fedora. Para o bem de Minwoo, eu preciso começar a agir.



Continua...


Nota da autora: Olá! Espero que gostem.

Nota da beth: Eu não sei quem eu admiro mais: Catarina ou ! Tem que ter muito sangue frio e a cabeça no lugar pra não surtar de vez e colocar tudo a perder hahahahaha ansiosa por essa conversa com o Ceferes 💜

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