Revisada/Codificada por: Calisto
Última Atualização: 31/10/2024, a mais velha, agradecia a paz e aproveitava o máximo enquanto podia. Já Luna, precisava de muita força de vontade para lidar com sua inquietude. Ela odiava ficar só, odiava o silêncio e torcia para que as horas passassem rápido, trazendo um novo dia.
A lua cheia brilhava intensa no céu, iluminando a pequena cidade de Serendipia e banhando o rosto pensativo de Luna quando a jovem parou por alguns segundos. Seus olhos estavam fixos na tela do computador à sua frente, onde um documento abrigava algumas linhas escritas.
Era gostoso derramar seus pensamentos agitados daquela forma, criar enredos, dar vida a personagens aventureiros e tão sonhadores quanto ela. Ao menos em sua imaginação podia fugir da vida monótona que levava e encontrar quem a compreendesse.
Quando não estava escrevendo, Luna se expressava através de desenhos e pinturas. Por esse motivo, seu quarto era repleto de cores e inspirações. Obras próprias cobriam as paredes, assim como pôsteres de seus artistas favoritos, sem falar em suas estantes repletas de livros. Seu quarto era seu pequeno refúgio e refletia cada pedacinho de sua personalidade.
Era verão, porém Luna escrevia sobre o inverno. Uma aventura no gelo, onde a heroína se via encurralada por uma alcateia. Cenas de luta eram um tanto desafiadoras para a jovem Morgan, então ela fazia algumas pausas durante a escrita para planejar com clareza quais seriam as próximas ações de sua personagem principal.
Um vento frio soprou pela janela aberta, as cortinas esvoaçaram e Luna suspirou antes de se levantar para fechá-la. Gostava da sensação fria, porém detestava a experiência de ter insetos nojentos voando pelo seu quarto. Há apenas duas noites, a casa inteira se apavorou com seus gritos quando uma barata decidiu visitá-la, e a jovem sabia que, se o ocorrido repetisse, seu pai não ficaria nada satisfeito. Ele odiava ser interrompido em seu interminável trabalho.
Luna levou as duas mãos até a janela e hesitou no movimento de fechá-las quando seus olhos foram de encontro à lua cheia. Não era nada incomum, porém uma sensação estranha tomou conta de si. Uma inquietação ainda maior do que o usual. Era como se algo estivesse prestes a acontecer, e Morgan não fazia ideia do quê.
— Luna!
Em meio ao farfalhar das folhas, um murmúrio quase imperceptível se fez ouvir.
Com um franzir de cenho, a jovem negou com a cabeça. Talvez estivesse ficando com sono. Retomou o gesto de fechar a janela e…
— Luna! — Um arrepio percorreu sua espinha. Claramente chamavam seu nome, porém era tarde da noite. Ninguém a visitava naquele horário.
— É o sono — repetiu em voz alta, em uma tentativa de convencer a si mesma.
— Luna, aqui! — O murmúrio ficou urgente, e Morgan descobriu vir de trás de uma árvore em seu jardim.
Ela apertou os olhos, receosa, porém a sensação de alívio rapidamente tomou conta de si quando percebeu a quem pertencia a voz e isso a fez suspirar.
— Clara! — Riu por parecer uma garotinha medrosa, mas logo voltou a franzir o cenho. — O que você está fazendo aqui a essa hora?
— Você não disse que estava entediada? Eu descobri algo incrível, amiga. E tenho certeza de que você vai pirar quando ver. — A garota estava nitidamente empolgada.
Luna não precisava de muito, era uma curiosa nata.
— O quê? Fala logo, garota! — Quase pulou da janela. — E por que você não tocou a campainha como todo ser humano normal faz? — Riu novamente.
Clara Ravenswood revirou os olhos.
— Por que você acha? .
Ah, era verdade. A mais velha jamais deixaria Luna acompanhar Clara àquela hora da noite.
— Vai vir comigo ou não? — Ergueu uma sobrancelha para Luna, que hesitou, mas acabou deixando um sorrisinho travesso surgir em seus lábios.
— Lógico que eu vou. Me deixa só trocar essa roupa. — Apontou para o pijama de gatinhos que usava, e isso fez Ravenswood rir.
— Rápido. Do jeito que sua irmã é, daqui a pouco ela nos descobre.
Luna conhecia o suficiente para não duvidar das palavras da amiga, então pegou as primeiras peças de roupas que encontrou em seu armário.
Acostumada a pular a janela para escapar da monotonia de vez em quando, conseguiu fazê-lo sem emitir barulho algum, e logo corria para longe dali na companhia de Clara.
Dando risadinhas, as duas só pararam quando estavam diante de um bosque próximo.
Luna sempre achou aquele lugar mágico e um tanto assustador à noite, o farfalhar das árvores era intenso e era como se a qualquer momento uma criatura dos livros que lia fosse brotar de dentro dele.
— Não me diga que vamos entrar ali. — Tentou não demonstrar quando um arrepio percorreu sua espinha.
Clara abriu um sorriso malicioso.
— Nós vamos. — Então se aproximou da amiga e segurou em uma de suas mãos, entrelaçando seus dedos nos dela. — Confia em mim, você vai pirar quando ver o que eu descobri.
Os olhos de Luna brilharam de curiosidade e excitação. Ela se deixou levar e acompanhou Ravenswood para dentro do bosque.
O ambiente estava envolto em sombras, a lua se infiltrava pelas copas das árvores e o silêncio inquietante era interrompido apenas pelos sons dos passos das duas garotas.
Clara parecia saber exatamente para onde ia e, embora aquilo deixasse Luna intrigada, ela continuou seguindo a amiga.
Poucos minutos se passaram e uma exclamação escapou dos lábios de Morgan quando chegaram a uma clareira e uma estrutura antiga e misteriosa se tornou visível.
— Isso é… Isso é… — Luna estava fascinada e assustada ao mesmo tempo.
— Sim. É a entrada de um labirinto.
— Mas como isso é possível? Ele não estava aqui antes, estava? — A inquietação voltou a tomar conta de Morgan. Uma sensação crescente de perigo.
— Não faço ideia, amiga, mas não é incrível? — Os olhos de Ravenswood brilhavam.
— Eu não sei, Clara…
— Ah, fala sério! Você não está curiosa para descobrir o que tem dentro dele?
— Dentro dele? Você ficou maluca? Não podemos entrar aí! — Luna soltou a mão da amiga e fez menção de voltar pelo bosque.
— Você não disse que sempre quis viver as aventuras das suas personagens? Olha aí a oportunidade bem diante dos nossos olhos!
Sim, Ravenswood tinha razão.
— Mas…
— Eu vou de qualquer jeito, Luna. Por favor, não me deixe ir sozinha! — Seu olhar se tornou suplicante.
Morgan suspirou e seu olhar foi de Clara para a entrada do labirinto, então retornou para a amiga.
A quem queria enganar? Estava morrendo de medo, mas, ao mesmo tempo, a curiosidade não a deixaria dormir nunca mais.
— Não pense que a sua chantagem deu certo. Eu vou porque devo isso às minhas personagens. — Estreitou os olhos para Ravenswood, que riu baixinho.
— Também te amo. — Piscou quando Morgan lhe lançou uma careta.
Inspirada pelas aventuras que escrevia, Luna respirou fundo e deixou todo o medo de lado para dar um passo à frente, seguido por outro, e mais outro.
Podia sentir a presença da amiga lhe acompanhando quando cruzou a entrada do labirinto e imediatamente a atmosfera mudou.
Seu interior era repleto de sombras e ecos. As paredes eram altas e cobertas de musgos e um farfalhar deu a ela a impressão de que pareciam mudar.
Paredes se movendo, até parece!
Teria rido de seus próprios pensamentos se de repente não se sentisse tensa. Clara estava calada demais e ela não costumava ser assim.
Intrigada, Luna olhou para trás e, sentindo cada célula de seu corpo congelar, percebeu que a amiga havia desaparecido.
Estava sozinha.
— Não… — O medo tomou conta de si. Seus batimentos aceleraram, um nó se formou em sua garganta.
Onde estava Clara?
Abriu a boca para chamar seu nome, porém as palavras fugiram.
Sons estranhos se tornaram evidentes.
Sussurros, promessas, lamentos…
Seus olhos se encheram de lágrimas, suas mãos tremeram e, de repente, Luna teve a sensação horrível de ser observada.
Antes que pudesse reagir, uma figura surgiu diante dela, a envolvendo em sombras. E a mera visão de sua face foi o suficiente para fazer a garota desfalecer e se render à escuridão.
Segurando-a com suas mãos poderosas, a figura sorriu. Seus olhos exibiam um brilho sinistro ao encarar o rosto delicado.
— Agora você pertence ao labirinto, Luna Morgan.
E a carregou consigo, deixando para trás apenas um silêncio inquietante e o eco de seus passos desaparecendo na escuridão.
No céu de Serendipia, a lua continuava a brilhar intensa, sendo ela a única testemunha do desaparecimento da jovem Morgan.
O quarto da mais nova ficava ao lado do seu, então quando não ouviu música ou a própria voz dela entoando alguma nota desafinada, seu sexto sentido soou um alerta quase impossível de ser ignorado.
Com um franzir de cenho e um suspiro resignado, interrompeu sua leitura de Moby Dick para se levantar e ir até o quarto de Luna.
Talvez fosse exagero seu e a irmã poderia ter ido dormir mais cedo, porém a Morgan mais velha tinha certeza de que não conseguiria descansar antes de conferir se tudo estava bem.
Duas batidas à porta seriam o suficiente para obter algum resmungo de Luna, no entanto, quando foi respondida com o silêncio, sua testa se franziu ainda mais.
— Luna? — chamou baixinho, sem querer despertá-la caso estivesse dormindo.
Novamente, o silêncio foi tudo o que recebeu, então mordeu o canto da boca, girou a maçaneta e descobriu, com um solavanco em seu peito, que a irmã mais nova não estava ali.
Pelos deuses, para onde havia ido?
O olhar da jovem foi imediatamente até a janela e a notou aberta, com as cortinas esvoaçando devido ao vento frio da noite. Sua garganta se fechou e suas mãos tremeram.
Como diria aos seus pais que Luna havia fugido bem debaixo do seu nariz?
Droga, onde ela estava?
— Eu não acredito nisso. Não consigo acreditar! — resmungou e andou de um lado para o outro, como se aquele ato fosse capaz de fazer sua irmã brotar milagrosamente dentro do quarto outra vez.
Caminhou até a janela e estreitou seu olhar para o lado de fora, numa tentativa de identificar qualquer ponto que representasse sua irmã, porém, no fundo, sabia que não a encontraria daquela forma. Luna estava longe, e ela só esperava que estivesse ali no dia seguinte.
No entanto, será que conseguiria manter aquilo para si até a manhã surgir? Conseguiria controlar a angústia que fazia a bile voltar por sua garganta?
Suspirou alto e passou as mãos pela cabeça, ajeitando o rabo de cavalo porque alguns fios de seus cabelos haviam se soltado e a incomodavam. Suas mãos estavam trêmulas demais e ela sabia que precisava se acalmar.
Mas como poderia?
Tirou o celular do bolso do pijama e encarou a tela por alguns segundos, procurou um contato específico em sua agenda, porém desistiu de digitar a mensagem.
Talvez Luna só tivesse saído para dar uma volta noturna e logo retornaria. Não era de seu feitio, porém aquele poderia ser o caso. queria acreditar que sim.
Soltou o ar com força, deu mais uma volta pelo cômodo e notou um desenho incompleto na escrivaninha da irmã mais nova.
Também não era do feitio dela deixar seus trabalhos inacabados. Algo havia a interrompido.
Ou quem sabe alguém. Mas quem?
Um namorado?
Mas ela não tinha namorado, não que a mais velha soubesse.
— Droga, Luna — resmungou, antes de retornar com rapidez ao próprio quarto.
se sentou na beirada de sua cama e se balançou inconscientemente, enquanto tentava se convencer de que tudo estava bem.
O problema foi que as horas até o amanhecer custaram a passar e, quando enfim o sol nasceu, a Morgan mais nova ainda não havia voltado.
Como seria capaz de encarar os próprios pais? Luna podia muito bem ter sido sequestrada e ela esperou a noite inteira para contar a eles sobre o desaparecimento.
Nunca a perdoariam por aquilo!
A solução não era simples, porém era a única possível.
Precisava encontrar a mais nova antes que seus pais dessem falta dela.
Com as mãos trêmulas, trocou suas roupas pelas mais confortáveis que encontrou. Se precisasse se embrenhar no meio do mato para achar a irmã, ela o faria sem pestanejar. Colocou um casaco dentro da mochila que separava para emergências, vestiu um par de luvas e, da mesma forma que Luna havia feito, pulou pela janela de seu quarto.
Estava acostumada a escalar e pular de árvores, por isso, conseguiu ser o mais silenciosa possível e, ao correr pelas ruas de Serendipia, puxou o celular e mais uma vez buscou o contato da única pessoa com quem podia contar para algo daquele tipo.
— É bom você ter uma desculpa boa para me acordar a essa hora da madrugada, ! — a voz sonolenta de Nick Howler resmungou do outro lado da linha.
— Luna sumiu. — Morgan foi direta. Sem bom dia e sem rodeios, porque não tinha cabeça para aquilo.
— Quê? — Nick pensou ter imaginado as palavras da amiga.
— A Luna sumiu, Nick. Simplesmente sumiu. Não a encontrei no quarto e…
— Ei, calma! Espera um minuto, . Tem certeza? Será que ela não foi dar uma volta com alguém, ou…
— Eu também achei isso. Só que ela não voltou, Nick. E a janela dela estava aberta. A Luna não deixaria tudo escancarado daquele jeito e um desenho sem terminar. Alguma coisa aconteceu e eu tenho certeza de que foi algo ruim. — A voz da garota tremeu.
— , por favor, tente ficar calma, tá legal? Eu sei que é algo idiota de se pedir, mas a gente precisa pensar no que fazer. Onde você tá agora?
— Acabei de sair de casa. Não faço ideia de como vou falar uma coisa dessas para os meus pais. A mamãe vai ficar arrasada.
— Pode ser que ela tenha perdido a noção do tempo, Tess. Vamos tentar não pensar no pior. Me encontra ali na praça, pode ser? Já estou trocando de roupa aqui. Por favor, tente ficar calma!
— Está bem, eu vou tentar. Espero mesmo que ela só tenha sido irresponsável, Nick. Não vou me perdoar nunca se algo ruim aconteceu com ela debaixo do meu nariz.
— Não aconteceu nada ruim, . Te vejo em cinco minutos.
Morgan praticamente correu até a praça quando Nick encerrou a ligação.
Lágrimas ameaçavam descer de seus olhos, porém a garota as segurou, porque precisava ser forte e tentar se acalmar, como o amigo havia frisado. Dar ouvidos aos pensamentos horríveis que cruzavam sua mente só pioraria ainda mais as coisas.
À medida que se aproximava da praça que ficava no centro da cidade, no entanto, percebeu uma comoção se direcionando ao local, e seu coração acelerou ainda mais.
Por favor, que não fosse o pior. Por favor, que não fosse o pior.
Pessoas passavam por ela e cochichavam alarmadas entre si. Algumas chegavam até a correr, ansiosas.
— Mas foi do nada. Como algo assim pode aparecer do nada?
franziu o cenho e apertou os dedos contra seu aparelho celular antes de também apurar os passos.
Sentindo que seu coração estava prestes a saltar do peito, Morgan correu e seu queixo praticamente caiu quando descobriu o motivo de tanto alvoroço.
O alívio deveria atingir seu peito por não se tratar da irmã morta no meio da praça, como sua mente traiçoeira insistia em mostrar, porém o que viu não a tranquilizou nem um pouco.
No lugar onde antes havia uma praça praticamente vazia, paredes altas haviam brotado do chão e se erguiam imponentes e ameaçadoras. Os muros estavam cobertos por musgo e um portão de ferro envelhecido guardava sua entrada.
As pessoas se aglomeravam diante da estrutura e discutiam com espanto sobre o que diabos aquilo significava.
— Mas que porra é essa? — A voz de Nick fez pular de susto, e ela se virou para trás para encarar o amigo, que ofegava, enquanto olhava espantado para o lugar onde antes era a praça.
— Eu tenho um palpite, porém ele não faz sentido nenhum — Morgan murmurou e voltou a encarar os portões.
— E por acaso esse negócio surgir do nada no meio da praça faz sentido?
— As coisas brotando das profundezas me parece obra do seu pai, Nick.
Howler bufou. Não podia dizer que não estava acostumado àquele tipo de coisa. Ser um meio-sangue e filho de Hades o fazia ouvir coisas assim.
— Ele está muito ocupado com o Mundo Inferior para fazer muros brotarem do nada em Serendipia, Tess. É essa a sua teoria mesmo? — Arqueou uma sobrancelha, com ironia.
— Não, não é. Isso tem cara de labirinto. E se não foi o seu pai…
— Pode ter sido Atena. Mas por quê?
— É Atena, Nick. Talvez seja mais uma disputa idiota com Poseidon. — Revirou os olhos e, quando focou mais uma vez nos portões envelhecidos, um calafrio passou pelo corpo de e se instalou em seu peito.
Uma possibilidade passou por seus pensamentos e imediatamente seu coração se apertou com aquela ideia.
Não. Não podia ser. Tinha que estar enganada.
— E se… — Ela se calou porque, de repente, se recusava a dizer aquilo em voz alta. No entanto, seu cérebro rapidamente começou a ligar os pontos e era coincidência demais sua irmã sumir no mesmo dia em que um labirinto brotou no meio de Serendipia.
— O quê? — Nick insistiu e segundos antes da amiga respondê-lo, entendeu. — Não!
— E se a Luna entrou nesse labirinto? — proferiu as palavras ainda assim, e a mesma sensação de aperto tomou conta de Howler.
— …
— Nick, pensa bem! Isso não pode ser coincidência. A Luna entrou aí, eu tenho certeza disso. — Mais um calafrio percorreu seu corpo, como se confirmasse. — Consigo sentir.
— , você não vai fazer o que estou pensando.
— Eu preciso, Nick. Preciso ir atrás dela.
— Não, não, não. Você não vai entrar aí! Você vai voltar para casa e falar com seus pais, e…
— Não tenho tempo para isso. Esse labirinto não é seguro, seja obra de quem for. Luna está correndo perigo, não posso deixar minha irmã morrer.
— !
— Eu vou entrar, Nick. Já decidi. — E tomou impulso para caminhar em direção aos portões, porém Howler a segurou pelo braço. — Me deixe ir, Nicholas!
— Tá, tá bom, mas eu vou com você, droga!
Morgan teria dado risada se aquela situação não fosse tão desesperadora.
— Você não precisa ir comigo, Howler. Eu sei me cuidar.
— Não disse que não sabe, mas que tipo de amigo eu sou se te deixar entrar no labirinto da morte sozinha?
— Labirinto da morte? — franziu o cenho.
— É o que parece, não é? — Ele riu fraco. — Nós vamos mesmo fazer isso?
— Me mostre uma alternativa melhor, Nick, e eu desisto.
Howler não precisou de meio segundo para ponderar e assentir.
— Me diga que você está com a sua mochila também.
— Eu te conheço o bastante para saber que tentaria fazer uma busca ou se aventurar até o Mundo Inferior se a Luna tivesse se metido lá. — Nick mostrou a bolsa pendurada nas próprias costas.
teria se sentido envergonhada por não ter notado aquilo antes, no entanto, era totalmente compreensível em meio à situação em que se encontrava.
— A gente vai entrar assim, na frente de todo mundo? — Howler fez uma careta, porque odiava atrair atenção.
— E isso importa agora, Nicholas? Vem! — E puxou o amigo pela mão.
Exclamações soaram de todos os lados quando, como se sentissem a intenção dos dois jovens, os enormes portões se abriram. O interior do labirinto, no entanto, não era visível, e isso fez com que calafrios percorressem tanto , quanto Nick.
— Esperem, onde vocês pensam que vão? — Uma voz feminina ecoou do meio da multidão, numa tentativa de impedi-los.
— Agora! — E, ao fecharem os olhos com força, os dois amigos se lançaram para dentro do labirinto.
Por meio segundo, nada pareceu acontecer. No entanto, de repente, o silêncio os atingiu como um balde de água gelada.
A atmosfera dentro do labirinto era fria, e a fraca iluminação tornava tudo fantasmagórico demais até mesmo para o filho de Hades.
— Droga, Tess. O que eu não faço por vocês. — O rapaz havia caído e se levantava para limpar as calças empoeiradas.
O chão abaixo deles era feito de terra e folhas secas. Os muros cobertos por musgo pareciam se estreitar, e um farfalhar atrás deles denunciou o que já imaginava que aconteceria.
Os portões haviam sumido.
Morgan respirou fundo, numa tentativa de acalmar as batidas aceleradas de seu coração. O medo fez um nó se formar em sua garganta, porém não havia volta, e ela não recuaria de qualquer forma. Não sem Luna. Nunca sem Luna.
— Vamos, Nick. — Sua voz estava trêmula quando, mais uma vez, segurou na mão do amigo e eles começaram a andar, mesmo sem saberem para onde iriam.
O silêncio sepulcral era interrompido apenas pelos passos dos dois amigos, e os muros se moviam para confundi-los ainda mais.
Howler não queria dizer o que pensava, mas, a cada segundo, sentia que nunca mais retornariam à Serendipia. Estavam perdidos e enlouqueceriam dentro daquele labirinto.
De repente, parou de caminhar e olhou em volta, o que assustou Nicholas.
— O quê? — Ele imitou o gesto da garota, numa tentativa de procurar o que ela buscava.
— Tem alguém aqui, Nick. — Apertou a mão dele com força.
— Como assim, Tess? Não tem ninguém.
— Tem alguém aqui, sim. Consigo sentir alguém nos observando.
Howler abriu a boca mais uma vez para protestar, então também sentiu.
Foi como se algo soprasse em sua nuca e arrepiasse cada pelo de seu corpo.
Em um salto, ele se virou e encontrou o vazio atrás de si, então deu uma volta completa.
Nada.
— …
— Eu sei que você está aí. Não seja covarde e apareça, droga! — Morgan rosnou, irritada.
Por alguns segundos, nada aconteceu.
Então uma figura emergiu das sombras e entrou em seu campo de visão.