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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 19/07/2024

Naquela noite, a residência dos Morgan estava tomada pela típica calmaria. Com a matriarca dedicada a mais uma noite de plantão no hospital local, e o patriarca fechado em seu escritório, como de costume, as duas jovens garotas possuíam opiniões diferentes quanto ao silêncio que reinava no ambiente.
, a mais velha, agradecia a paz e aproveitava o máximo enquanto podia. Já Luna, precisava de muita força de vontade para lidar com sua inquietude. Ela odiava ficar só, odiava o silêncio e torcia para que as horas passassem rápido, trazendo um novo dia.
A lua cheia brilhava intensa no céu, iluminando a pequena cidade de Serendipia e banhando o rosto pensativo de Luna quando a jovem parou por alguns segundos. Seus olhos estavam fixos na tela do computador à sua frente, onde um documento abrigava algumas linhas escritas.
Era gostoso derramar seus pensamentos agitados daquela forma, criar enredos, dar vida a personagens aventureiros e tão sonhadores quanto ela. Ao menos em sua imaginação podia fugir da vida monótona que levava e encontrar quem a compreendesse.
Quando não estava escrevendo, Luna se expressava através de desenhos e pinturas. Por esse motivo, seu quarto era repleto de cores e inspirações. Obras próprias cobriam as paredes, assim como pôsteres de seus artistas favoritos, sem falar em suas estantes repletas de livros. Seu quarto era seu pequeno refúgio e refletia cada pedacinho de sua personalidade.
Era verão, porém Luna escrevia sobre o inverno. Uma aventura no gelo, onde a heroína se via encurralada por uma alcateia. Cenas de luta eram um tanto desafiadoras para a jovem Morgan, então ela fazia algumas pausas durante a escrita para planejar com clareza quais seriam as próximas ações de sua personagem principal.
Um vento frio soprou pela janela aberta, as cortinas esvoaçaram e Luna suspirou antes de se levantar para fechá-la. Gostava da sensação fria, porém detestava a experiência de ter insetos nojentos voando pelo seu quarto. Há apenas duas noites, a casa inteira se apavorou com seus gritos quando uma barata decidiu visitá-la, e a jovem sabia que, se o ocorrido repetisse, seu pai não ficaria nada satisfeito. Ele odiava ser interrompido em seu interminável trabalho.
Luna levou as duas mãos até a janela e hesitou no movimento de fechá-las quando seus olhos foram de encontro à lua cheia. Não era nada incomum, porém uma sensação estranha tomou conta de si. Uma inquietação ainda maior do que o usual. Era como se algo estivesse prestes a acontecer, e Morgan não fazia ideia do quê.
Luna!
Em meio ao farfalhar das folhas, um murmúrio quase imperceptível se fez ouvir.
Com um franzir de cenho, a jovem negou com a cabeça. Talvez estivesse ficando com sono. Retomou o gesto de fechar a janela e…
Luna! — Um arrepio percorreu sua espinha. Claramente chamavam seu nome, porém era tarde da noite. Ninguém a visitava naquele horário.
— É o sono — repetiu em voz alta, em uma tentativa de convencer a si mesma.
Luna, aqui! — O murmúrio ficou urgente, e Morgan descobriu vir de trás de uma árvore em seu jardim.
Ela apertou os olhos, receosa, porém a sensação de alívio rapidamente tomou conta de si quando percebeu a quem pertencia a voz e isso a fez suspirar.
— Clara! — Riu por parecer uma garotinha medrosa, mas logo voltou a franzir o cenho. — O que você está fazendo aqui a essa hora?
— Você não disse que estava entediada? Eu descobri algo incrível, amiga. E tenho certeza de que você vai pirar quando ver. — A garota estava nitidamente empolgada.
Luna não precisava de muito, era uma curiosa nata.
— O quê? Fala logo, garota! — Quase pulou da janela. — E por que você não tocou a campainha como todo ser humano normal faz? — Riu novamente.
Clara Ravenswood revirou os olhos.
— Por que você acha? .
Ah, era verdade. A mais velha jamais deixaria Luna acompanhar Clara àquela hora da noite.
— Vai vir comigo ou não? — Ergueu uma sobrancelha para Luna, que hesitou, mas acabou deixando um sorrisinho travesso surgir em seus lábios.
— Lógico que eu vou. Me deixa só trocar essa roupa. — Apontou para o pijama de gatinhos que usava, e isso fez Ravenswood rir.
— Rápido. Do jeito que sua irmã é, daqui a pouco ela nos descobre.
Luna conhecia o suficiente para não duvidar das palavras da amiga, então pegou as primeiras peças de roupas que encontrou em seu armário.
Acostumada a pular a janela para escapar da monotonia de vez em quando, conseguiu fazê-lo sem emitir barulho algum, e logo corria para longe dali na companhia de Clara.
Dando risadinhas, as duas só pararam quando estavam diante de um bosque próximo.
Luna sempre achou aquele lugar mágico e um tanto assustador à noite, o farfalhar das árvores era intenso e era como se a qualquer momento uma criatura dos livros que lia fosse brotar de dentro dele.
— Não me diga que vamos entrar ali. — Tentou não demonstrar quando um arrepio percorreu sua espinha.
Clara abriu um sorriso malicioso.
— Nós vamos. — Então se aproximou da amiga e segurou em uma de suas mãos, entrelaçando seus dedos nos dela. — Confia em mim, você vai pirar quando ver o que eu descobri.
Os olhos de Luna brilharam de curiosidade e excitação. Ela se deixou levar e acompanhou Ravenswood para dentro do bosque.
O ambiente estava envolto em sombras, a lua se infiltrava pelas copas das árvores e o silêncio inquietante era interrompido apenas pelos sons dos passos das duas garotas.
Clara parecia saber exatamente para onde ia e, embora aquilo deixasse Luna intrigada, ela continuou seguindo a amiga.
Poucos minutos se passaram e uma exclamação escapou dos lábios de Morgan quando chegaram a uma clareira e uma estrutura antiga e misteriosa se tornou visível.
— Isso é… Isso é… — Luna estava fascinada e assustada ao mesmo tempo.
— Sim. É a entrada de um labirinto.
— Mas como isso é possível? Ele não estava aqui antes, estava? — A inquietação voltou a tomar conta de Morgan. Uma sensação crescente de perigo.
— Não faço ideia, amiga, mas não é incrível? — Os olhos de Ravenswood brilhavam.
— Eu não sei, Clara…
— Ah, fala sério! Você não está curiosa para descobrir o que tem dentro dele?
— Dentro dele? Você ficou maluca? Não podemos entrar aí! — Luna soltou a mão da amiga e fez menção de voltar pelo bosque.
— Você não disse que sempre quis viver as aventuras das suas personagens? Olha aí a oportunidade bem diante dos nossos olhos!
Sim, Ravenswood tinha razão.
— Mas…
— Eu vou de qualquer jeito, Luna. Por favor, não me deixe ir sozinha! — Seu olhar se tornou suplicante.
Morgan suspirou e seu olhar foi de Clara para a entrada do labirinto, então retornou para a amiga.
A quem queria enganar? Estava morrendo de medo, mas, ao mesmo tempo, a curiosidade não a deixaria dormir nunca mais.
— Não pense que a sua chantagem deu certo. Eu vou porque devo isso às minhas personagens. — Estreitou os olhos para Ravenswood, que riu baixinho.
— Também te amo. — Piscou quando Morgan lhe lançou uma careta.
Inspirada pelas aventuras que escrevia, Luna respirou fundo e deixou todo o medo de lado para dar um passo à frente, seguido por outro, e mais outro.
Podia sentir a presença da amiga lhe acompanhando quando cruzou a entrada do labirinto e imediatamente a atmosfera mudou.
Seu interior era repleto de sombras e ecos. As paredes eram altas e cobertas de musgos e um farfalhar deu a ela a impressão de que pareciam mudar.
Paredes se movendo, até parece!
Teria rido de seus próprios pensamentos se de repente não se sentisse tensa. Clara estava calada demais e ela não costumava ser assim.
Intrigada, Luna olhou para trás e, sentindo cada célula de seu corpo congelar, percebeu que a amiga havia desaparecido.
Estava sozinha.
— Não… — O medo tomou conta de si. Seus batimentos aceleraram, um nó se formou em sua garganta.
Onde estava Clara?
Abriu a boca para chamar seu nome, porém as palavras fugiram.
Sons estranhos se tornaram evidentes.
Sussurros, promessas, lamentos…
Seus olhos se encheram de lágrimas, suas mãos tremeram e, de repente, Luna teve a sensação horrível de ser observada.
Antes que pudesse reagir, uma figura surgiu diante dela, a envolvendo em sombras. E a mera visão de sua face foi o suficiente para fazer a garota desfalecer e se render à escuridão.
Segurando-a com suas mãos poderosas, a figura sorriu. Seus olhos exibiam um brilho sinistro ao encarar o rosto delicado.
— Agora você pertence ao labirinto, Luna Morgan.
E a carregou consigo, deixando para trás apenas um silêncio inquietante e o eco de seus passos desaparecendo na escuridão.
No céu de Serendipia, a lua continuava a brilhar intensa, sendo ela a única testemunha do desaparecimento da jovem Morgan.



Continua...


Nota da autora: Ai como eu amo esse início! Espero que vocês também gostem.
Comentem muuuito, vamos aproveitar o ambiente lindo que é o Ficsverse!
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Beijos e até a próxima,
Ste a.k.a. Saturno. ♥

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