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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 12/08/2024

encarava seu singelo lar pela última vez por um tempo indeterminado. Durante anos, sonhara em se mudar para a casa da tia avó Lucila, que havia visitado algumas vezes quando criança para eventos de família, mas não naquelas condições. Ainda não conseguia acreditar nas palavras do médico de que, após retornarem de uma visita feita a antigos amigos, seus pais, Mary e Paul , contraíram uma doença contagiosa. E muito pior: por prevenção, e sua irmã mais velha, , iriam para a casa de Lady Pency, sua tia avó.
Doeu não poder se despedir de seus pais, deixando apenas cartas apressadas com o médico da família, que se comprometeu em entregá-las. Não conseguia desprender os olhos de sua querida casa e não estava colaborando nem um pouco com o ajudante de sua tia que viera buscá-las. segurou em seu ombro:
, querida, temos que ir agora. Eles vão ficar bem.
Mas a irmã mais nova não se mexia. repetiu, mais dura dessa vez, apertando seu ombro de forma mais firme.
, vamos. Agora.
A jovem finalmente se mexeu e entrou na carruagem. Achava tão injusto que todos os seus sonhos estivessem se realizando em um momento como aquele. Em outro momento, estaria vibrando e tagarelando sobre tudo que visse no caminho, e faria seu máximo para tentar acompanhá-la. Mas, agora, estava desesperada pensando em seus pais.
, sempre responsável, tentava tranquilizá-la —, lembre-se que o doutor Plínio nos comunicou de que o pai e a mãe estão com sintomas muito primários, e que isso é mais por nós do que por eles. A chance de recuperação é enorme.
— Mas não 100% — colocou, quebrando seu silêncio, mas se arrependeu na hora.
Das duas, era a mais apegada aos pais e sabia que era quem estava sofrendo mais, só não era tão expressiva. Podia ver que a mais velha das segurava o choro, e abaixou a cabeça, se sentindo culpada por magoá-la.
O resto da viagem foi poupada de novas conversas, e apenas ficou vagando de pensamento em pensamento, lembrando de seus pais, martirizando-se pela fala mal humorada que soltou para a irmã e sentindo uma pequena euforia enterrada no coração ao pensar na mansão Louborne. Todavia, esse último desejo era afogado pela culpa e pela tristeza, fazendo-a se sentir extremamente egoísta.
Depois de algumas horas na carruagem, com Summerside já muito distante, fizeram uma rápida parada em Charlottetown, uma cidade muito maior que a de onde haviam vindo. Mais tarde, pararam em Carmody, uma pequena cidade, já perto de seu destino. Por orientação do médico, ambas tiveram diversas vestimentas queimadas para impedir a contaminação da patologia e tinham agora que encomendar novas. Uma parte de até se sentia empolgada de poder ter tantas roupas novas, mas ainda sentia falta enorme de seu lindo vestido azul de dezoito anos. Preferia não ter nenhuma roupa nova e poder estar em seu lar, com suas coisas e seus pais. Pelo menos, Lucila, mais do que generosa, cobriria todos os gastos.
A porta fez o sino se mexer, e o tilintar anunciou que as irmãs adentraram a loja da sra. Jeannie Pippett, costureira de renome da região.
— Boa tarde. Em que posso ajudá-las? — Uma senhora já de idade e com olhos gentis apareceu para receber as jovens. presumiu corretamente que fosse a sra. Pippett.
Depois de todas as encomendas e algumas dicas sobre a região, as irmãs partiram. Apesar de terem adorado Jeannie, ambas estavam cansadas depois da viagem e só pensavam em parar um pouco.
Finalmente, quando Linus, o ajudante que Lucila mandara com a carruagem, conduziu-as para fora do veículo, elas se depararam com a casa da tia avó, a mansão Louborne, e um medo misturado com êxtase invadiu o coração de .
A mansão, que ficava ao nordeste de Canvedish, possuía um grande jardim a sua frente, com uma fonte e a entrada da casa enorme. Parecia um palácio de contos de fadas. Enormes e coloridas janelas com sacadas estavam distribuídas pela casa bege de três andares. Com o céu azul de fundo, a vida da mais jovem parecia um pouco mais com um conto de fadas, embora a tragédia assombrasse seus destinos.
A governanta da casa instalou as irmãs em quartos individuais, cada um deles enorme, com penteadeiras, espelhos, quadros e camas grandes e confortáveis, além das lindas sacadas. Essa era, sem dúvida, a melhor parte para , que sempre reclamava da falta destas em sua casa. Além, claro, dos quartos individuais, tão diferentes daquele compartilhado que a esperava em casa.
De volta ao enorme hall da casa, as jovens esperaram a chegada de Lady Lucila Pency. A energia da sala mudou completamente quando a tia apareceu no alto da escada, descendo com elegância que apenas a nobreza conseguia sustentar. A senhora, já com seus 70 anos, não aparentava mais de 50, com distinta beleza, porém certa dureza no olhar.
— Mas que adoráveis jovens as duas se tornaram. — A voz da tia avó ecoou pelo aposento. Ambas fizeram uma leve reverência respeitosa para a tia, na qual já cometeu o primeiro erro e tropeçou de leve. O olhar de Lady Pency se tornou mais duro e ela acrescentou, sem dó: — Talvez não tão adoráveis.
Se fosse dessas jovens que enrubescem, estaria completamente vermelha naquele momento. Por sorte, seu constrangimento não transpareceu e apenas , muito observadora e a pessoa que mais a conhecia em todo o mundo, percebeu.
— Pedimos perdão, tia Lucila. Nos encontramos abaladas com os acontecimentos recentes e, por tal razão, não nos portamos perfeitamente. Rogamos sua compreensão.
Os olhos da sra. Pency, antes tão simpáticos quanto rochas, brilharam ao ouvir as palavras de . Aquela jovem era bonita, jovem, perfeitamente educada e, talvez, uma esperança para sua família e sua herança, contudo, pensaria naquilo mais tarde.
— Acredito que seja , a mais velha. Quantos anos você tem?
— 21, querida tia. E minha jovem irmã completará os seus 19 anos daqui a breves dias.
— Sim, sim, recordo-me que uma das duas aniversariava em maio junto com o meu falecido marido. Acredito que futuramente devemos tomar providências sobre as comemorações.
discretamente cutucou , que ainda estava ofendida. Esta suspirou baixinho e se pronunciou.
— É extrema gentileza sua, tia, oferecer algo assim.
Lucila olhou novamente para , tendo esquecido que ela também falava, tão encantada estava com a sobrinha mais velha.
— Refira-se a mim como Lady Pency, não te ensinaram nada na sociedade de Summerside? — Ela não esperou de fato uma resposta de . — A sra. Taylor, nossa governanta, as convocará para o jantar às seis, portanto, estejam prontas, eu aprecio a pontualidade. Caso desejem banhar-se, chamem algum criado. Não façam muito barulho e não entrem na biblioteca às quatro, pois faço minha meditação nesses momentos — disse, em um tom que claramente dispensava as duas.
, que era considerada barulhenta, atrasada e esquecida, estava logo percebendo que ia se tornar tudo o que a tia não desejava e Lucila, caso irritada, poderia revidar. Sua estadia dos sonhos já não parecia mais tão perfeita.

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Um pouco a oeste da desolada , encontrava-se o povoado de Avonlea. Eram poucos moradores, mas todos se conheciam. No entanto, por causa disso, a fofoca era muito constante. E a notícia que todos não paravam de compartilhar era o esperadíssimo noivado de Anne Shirley e Roy Gardner. Todos os moradores estavam felizes. Ou quase todos.
Em uma fazenda dos arredores, encontrava-se o solitário Gilbert Blythe. Seu melhor amigo, considerado seu irmão, Sebastian Lacroix (carinhosamente chamado de Bash) estava viajando na sua lua de mel com a antiga professora de Gilbert, a senhorita Stacy.
Ou melhor, senhora Muriel Lacroix, o nome adquirido depois que os dois se permitiram amar de novo, visto que ambos eram viúvos. A bebê Delphine estava com a mãe de Bash, que aparecia todo fim de semana para visitá-lo, pois insistiu que permanecer ali seria um incômodo. E, quando Blythe mais estava precisando de amigos e de sua família, todos estavam longe.
Ele sabia que aquele dia iria chegar. Afinal, sua Anne que, na verdade, era de outro, havia recusado seu pedido de casamento. Então, havia namorado com Roy Gardner por dois anos e, para espanto de ninguém, agora estava noiva dele.
Era óbvio que esse era o curso natural do relacionamento de Anne e Roy. Mas, por tantos anos, Gilbert acreditara que ele e Anne ficariam juntos, algo dentro de si não o permitiu desistir. Então, quando todas as suas esperanças foram despedaçadas e ela escolheu outro, foi difícil vê-la partir.
Nos primeiros dias, não conseguiu apresentar-se no consultório para trabalhar, visto que cada pessoa na rua vinha lhe contar as tão belas notícias. Em uma cidade pequena, duvidava que não soubessem de seu envolvimento com a garota, mas não fez diferença. Ficou surpreso, no entanto, que justamente Rachel Lynde tentou afastá-lo dessas fofocas. Se sentiu grato pelo bondoso gesto, pois sabia do carinho da senhora pela jovem Anne.
Gilbert firmemente tentava, a cada dia, superar aquela que um dia ele achara ser seu amor. Era difícil responder às cartas raras, mas entusiasmadas de Anne. Afinal, ainda era seu amigo e não iria deixar nenhum sentimento egoísta afastar a boa amizade que tinham.
Mesmo um mês tendo passado do ocorrido, cada dia uma notícia nova do casal chegava.
— O arranjo escolhido foi de lírios selvagens! Imagino se a sra. Gardner concordaria. — Ouviu um dia a Sra. Allan contar à sra. Barry.
—Dizem que a irmã dele não usará rosa porque qualquer coisa dessa cor perto da menina ruiva pode desfavorecê-la — cochichou a sra. Monroe para sua cunhada.
— Não há estação mais bonita que a primavera para um casamento! Me pergunto se vão realizar logo a cerimônia porque as flores estão para desabrochar — comentou a avó de Moody Spurgeon.
Por isso, foi uma grande surpresa para ele quando a fofoca da cidade mudou seu foco.
Era um dia de maio e Gilbert estava no consultório, atendendo a sra. Pippett, uma das poucas da região que confiavam já em suas habilidades médicas. Era muito difícil ganhar seu espaço no mercado quando ninguém da sua família tinha essa formação. Ele tinha poucos clientes, mas a sra. Pippett estava entre eles.
— Você soube da nova notícia, doutor Blythe?
Gilbert adorava quando o chamavam assim, porém, nem o adorado título poderia distraí-lo da pontada de dor, o preparando para ouvir mais sobre Anne Shirley.
— Não, sra. Pippett, não soube. Foi a escolha do bolo de casamento de Gardner e Shirley dessa vez? — ele indagou, um pouco impaciente, ao mesmo tempo que tentava se mostrar tranquilo, mas não querendo descontar naquela pobre senhora a sua dor.
— Oh, não, menino bobinho. Essa notícia é passado.
Gilbert ficou perplexo com isso. Uma sensação de alívio, mas também de perda passaram por seu corpo. Jeannie continuou falando.
— Duas jovens se mudaram para a casa de Lady Pency dois dias atrás. Não sou do tipo fofoqueira, mas posso falar disso, pois fui a primeira a ter contato com elas. Moças bonitas e educadas, mas não parecem ser tão ricas quanto Lady Pency. A sra. Lynde me disse que são sobrinhas netas da Lady. Parece que os pais estão doentes e elas tiveram que sair de casa, pois era uma patologia muito contagiosa, pobrezinhas. Talvez o senhor devesse visitá-las, doutor. Talvez lhes dar esperança.
— Vamos esperar um pouco, sra. Pippett. Não sabemos se querem visitas e nem se esses boatos são reais.
— Ah, por mais que eu odeie admitir isso, Rachel Lynde nunca erra, sr. Blythe. Nunca!
Contudo, Gilbert se lembrava de uma vez em que ela havia errado. Uma vez em que Rachel teve certeza absoluta de que ele e Anne logo estariam noivos.
Mas ela disse não.
— Muito bem, senhora, realmente a sua tendinite está mais estável. Mas procure diminuir o ritmo da costura para evitar sentir essas dores muito constantemente. Em casos muito extremos, retorne aqui que eu vejo a necessidade de tomar um pouco de ópio.
— Ah, Gilbert, muito obrigada, querido! Quero dizer, doutor Blythe — ela se corrigiu com uma risadinha, fazendo-o corar. Sentia-se como uma criança. — Boa tarde, meu bem, se quiser um chá ou um café, sabe que pode me procurar!
— Cuide-se, Jeannie, e, ahn, obrigada pelo convite — ele disse, ainda meio constrangido. Era difícil conquistar respeito em uma posição tão prestigiada com apenas 20 anos e com todos de Avonlea e Carmody tendo o visto crescer.
Depois que a sra. Pippett saiu, deixando o consultório vazio, Gilbert se apropriou daqueles instantes para refletir sobre aquele novo boato. Será que todas as notícias de Anne iriam diminuir agora? Isso era bom, certo? Por que, então, sentia que era mais um choque de realidade e que sua querida amiga estava muito mais do que estabelecida com aquele a quem amava?
Não deveria ficar feliz por ela?
Sua cabeça voltou-se um pouco para a notícia das duas jovens, sobrinhas netas da Lady Pency. Aquela mulher estava sempre sozinha. E com muito dinheiro. O que a chegada daquelas duas jovens ia significar?
“Provavelmente, nada” pensou, e, em seguida, a sra. Jeannie retornou para novas dúvidas, como sempre.




Os primeiros dias na casa de Lady Pency foram melhores do que esperava.
Ajudou bastante que sua tia só tivesse olhos para sua irmã.
Durante a vida das duas irmãs, algo sempre fora claro. Enquanto era mais cativante e enérgica, era como uma princesa. Linda, educada, sabia o seu lugar e como encantar a todos ao seu redor. sempre quis ser igual a ela, porém um dia ela simplesmente percebeu que nunca seria possível.
Mais de uma vez, a caçula havia sentido inveja de sua irmã por ser o perfeito exemplo de como uma moça deveria se portar. Mas, naqueles dias, apesar de claramente querer que a tia também gostasse dela, pelo menos havia conseguido uma liberdade provisória.
Rodou a casa umas três vezes, tentando ver do que se lembrava, do que não se lembrava e o que havia mudado. Visitou os cavalos da propriedade que, quando pequena, sonhava em montar. Sentou-se na fonte e refrescou o rosto no jardim. Avistou um antigo balanço de madeira, que o pai implorara à tia para montar para elas. Para alguém que foi tão resistente a isso, se surpreendeu que Lucila tivesse mantido aquele brinquedo.
Os jantares, por sua vez, não eram muito interessantes. Se resumiam em:
, você por acaso tem algum pretendente em Summerside?
— Não, Lady Pency, tive um pedido, porém não achei o jovem muito adequado nem muito de meu interesse.
, querida, me chame de tia Lucila. E, para você, o que seria um jovem adequado?
— Um jovem que pensa no futuro, na família e, principalmente, sabe aproveitar oportunidades. Que saiba ser gentil em casa e firme no trabalho. Um homem por quem sua mulher de tudo faria.
— a tia às vezes lhe dirigia a palavra, quebrando a esperança de uma noite de paz —, a comida não irá fugir de seu prato. Poderia, por favor, se comportar?
Não bastassem os jantares, depois de uma semana na casa, Lady Pency lhes informou que elas iriam à Carmody buscar os vestidos que haviam encomendado.
tinha que controlar sua cara sempre que Lucila ia apresentar aos novos vizinhos e se esquecia dela, causando desconforto entre os outros que não sabiam se deviam perguntar da terceira pessoa no canto. Por sorte, ou por azar, não esquecia da irmã, a apresentando com todo carinho, quebrando um pouco sua irritação. Todavia, isso sempre acabava com todos elogiando a doçura e a educação da mais velha.
Chegando à loja, o humor de piorou quando a tia começou a reclamar dos lindos trabalhos da sra. Pippett.
— Estão muito simples. Como espera que Charlottetown, Carmody e Canvedish vejam minha querida sobrinha? Ela precisa estar apresentável.
— Acho que a senhora quis dizer sobrinhas, madame — Jeannie colocou, constrangida, ao perceber as caretas de .
— Mais alguma correção? — A Lady mandou um olhar frio para a costureira. — Muito bem. O que realmente precisamos acertar são esses vestidos. Elas podem levar um do jeito que está para caso precisem de algo muito simples. Mas precisamos da moda atual estampada em cada um deles.
— Tudo bem, Lady Pency. Acredito que esses ajustes levarão mais uma semana.
— Uma semana?! E estará vestindo trapos até lá?
— Sinto muito, Lady Pency, porém minha ajudante está ocupada com outros projetos e eu estou debilitada, não posso trabalhar muito tempo por dia.
estava já de saco cheio e sussurrou para :
— Vou procurar alguns selos, para podermos escrever para papai e mamãe.
A irmã mais velha, compreensiva, assentiu e, enquanto a caçula saía, assumiu a discussão e convenceu a tia a esperar aquele prazo.
estava furiosa. Mesmo com todas as diferenças entre ela e sua irmã perfeita, nunca fora tratada tão mal em sua vida. Seus pais, às vezes, deixavam escapar comparações que a magoavam, mas sempre evitavam fazer isso e a tratavam com muito amor, fazendo-a se sentir especial do jeito que era. Estava com tantas saudades deles, tão irritada com o jeito que estava sendo tratada e com a cena que a sra. Pippett fora submetida que, sem perceber, algumas lágrimas começaram a rolar em seu rosto.
Distraída pelas lágrimas que a pegaram de surpresa e pela angústia que a abatia, a jovem não percebeu que uma carruagem estava vindo em sua direção. E não teria percebido se alguém não a tivesse puxado no último segundo.
— Cuidado!
ficou assustada e caiu no chão, ao lado de seu salvador. De repente, estava cercada de pessoas.
— É aquela menina de hoje mais cedo? A outra sobrinha de Lady Pency?
— Será que nunca esteve em uma cidade? Que sorte ela teve de o jovem Blythe estar atento.
— Ei, menina, tome mais cuidado, se minha carruagem quebrasse, já era para você! Isso se não morresse no acidente.
Morrer?, pensou, engolindo em seco.
— Com licença a todos, eu vou levar a jovem comigo para ser examinada.
, que parecia prestes a desmaiar, tentou focar o olhar na voz abafada que ouviu, mas tudo estava turvo.
— Eu... — ela se esforçou para dizer — não posso... ir com estranhos... Minha irmã...
Porém, sem mais forças, desmaiou nos braços do estranho de quem queria fugir.

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Gilbert Blythe estava intrigado com aquela menina. Deitada inconsciente no seu consultório há quinze minutos desde o acidente, ele começava a se preocupar. Tirá-la da rua foi um transtorno, pois, além de ter que carregá-la (por sorte, estava perto do trabalho), as pessoas não saíam de cima. Aparentemente, além de quase ter sofrido um acidente e ter desmaiado, a jovem dama era sobrinha de Lady Pency.
Desde que Mary, antiga esposa de Bash, morreu aos seus cuidados, Gilbert tinha medo de não ser um bom médico. Então, mesmo que tudo indicasse apenas uma queda de pressão por susto, Blythe estava apavorado. Por causa disso, observava a estranha deitada no seu consultório a seus cuidados.
Cabelos castanhos caíam em ondas pela almofada do sofá e seu vestido verde claro se estendia pelo móvel. Tinha um rosto adorável e poderia até ser considerada atraente, se não estivesse com a boca ligeiramente aberta e babando.
A cada minuto, ansioso, ele analisava as três pintas no lado direito do rosto da jovem. Estava tão absorto, que levou um pequeno susto quando a jovem abriu os olhos, mas logo já estava analisando o estado da moça, que tentou se levantar rápido, de modo que ficou tonta novamente.
— Senhorita Pency, sente-se, por gentileza. Gostaria de conferir sua pressão.
—Não.
Gilbert franziu as sobrancelhas.
— Mas eu sou médico. Preciso fazer isso. É o procedimento padrão.
— Não. Não sou Pency, sou . Sou . Mas também “não” aos procedimentos. Devo me retirar. Minha irmã deve estar preocupada. — Ela tentou novamente se levantar e, novamente, as pernas fraquejaram. — Droga. Que fique claro que eu não desmaio nunca. E eu estou perfeitamente bem.
— Senhorita...
— O quê? Vai me informar de que eu fui uma completa desatenta e tola, doutor? Esse diagnóstico é extremamente óbvio.
O jovem médico se assustou um pouco com a reação da dama, no entanto, distraiu-se com uma pequena mecha de cabelo que ficou grudada na baba do canto de sua boca. Automaticamente, afastou aqueles fios, roçando de leve no rosto de . Só então percebeu a sua invasão e seu desleixo, corando violentamente e tentando disfarçar. Ambos ficaram sem reação, o que tornou o momento excelente para a entrada de .
! ! Você está bem? — A irmã estava realmente preocupada, uma pequena quebra da sua geral calma e perfeita compostura.
Gilbert se afastou, enquanto as duas se abraçavam.
— Estou, . Era justamente isso que eu estava explicando ao doutor... Ahn, perdão, e o seu nome seria...?
— Doutor Blythe. Gilbert Blythe.
— Pois bem, ao doutor Blythe que eu estava perfeitamente bem.
— Sem querer soar arrogante, senhorita, mas depois de afirmar isso, a senhorita já quase desmaiou mais duas vezes e continua fraca. Permita-me garantir que você está bem, senhorita .
— Ela não está colaborando? — lançou à um olhar que o jovem médico presumiu ser bem comum. — Vamos, faça logo. Tia Lucila já foi embora de carruagem com os vestidos, então devemos alugar uma carruagem, não podemos voltar tarde. Ah, e creio que não fomos apresentados. Sou , irmã mais velha de , que vai fazer os exames agora.
— Está bem — disse, finalmente rendida.
Após alguns momentos de análise, Gilbert pôde conferir que realmente houve uma baixa na pressão, que logo se normalizou. Enquanto isso, a jovem contava à irmã sobre o quase acidente, embora nem , nem Gilbert, tivessem acreditado na desculpa de que ela se distraiu com um pássaro. Afinal, marcas de lágrimas ainda residiam em seu rosto. Porém, depois de se comportar tão mal, ele não comentou nada sobre o assunto.
— Procure ficar de repouso o resto do dia, beber bastante líquido e comer bem, especialmente algo mais salgado. Caso sinta algum mal-estar, pode retornar ou mandar alguém de sua casa me chamar.
— Casa de Lady Pency — ela corrigiu, muito formal.
— Exato. Peço perdão se lhe ofendi em algum momento de nossa consulta e espero encarecidamente que preste maior atenção às ruas. — Ele levantou uma sobrancelha, avaliando aquela nova jovem que estava quebrando suas expectativas como sobrinha-neta de uma Lady bem afortunada.
Eles trocaram um breve olhar, antes que a mais velha o agradecesse e se despedisse, alegando que logo o sol iria se pôr.
— Tenha uma excelente tarde, doutor Blythe. Sou profundamente grata por salvar a vida da minha irmã e providenciar-lhe conforto durante um momento frágil, além de atendê-la.
— Não há de quê, senhorita . Este é apenas o meu trabalho. E digo apenas que foi um prazer conhecê-las e espero vê-las mais pela região, mas, de preferência, não em meu consultório, sem ofensas.
riu e esboçou um sorriso perante aquela cortesia.
— Obrigada mais uma vez por tudo, embora eu já estivesse bem desde o início, e entenda: eu não desmaio. Mas, de qualquer jeito, obrigada por não me deixar ser esmagada por uma carruagem — ela desatou a falar, forçando uma risada no final e saindo apressada, sem dar ao Gilbert tempo de processar aquilo.
Na carruagem, no colo da irmã, , enfim, chorou todo o medo que sentiu naquela tarde, na qual algo sério poderia ter acontecido. Mas ela nunca admitiria a ninguém, afinal, nunca chorava.
No consultório, Gilbert estava estupefato com o jeito daquela nova moça, um pouco preocupado e curioso. E, pela primeira vez em alguns meses, lembrando cada olhar furioso, petulante e teimoso, ele permitiu-se sorrir sem forçar.


A segunda semana na casa da tia estava se aproximando do fim, e estava angustiada de saudades dos pais. Não era do tipo que sentia muita saudade, conseguia viver afastada por um tempo sem desesperar-se com a ausência dos outros, mas o estado de Mary e Paul, junto com a falta de notícias, lhe deixavam com um gelo no estômago e a garganta apertada.
Além disso, as atitudes de Lady Pency se mantinham as mesmas. Colocara para meditar com ela todas as tardes. Já de manhã, ficavam meia hora no jardim conversando, e depois ia estudar com um tutor contratado às pressas. Teoricamente, ele era para ambas as irmãs, mas nem nem a própria tia davam a mínima para sua presença na aula, de modo que a jovem só comparecera uma vez, escutara o tutor dizer que as pernas dela deveriam se cruzar de forma mais delicada e não retornara. Com isso, cada vez menos ela conseguia ver a irmã.
Elas só saíam de casa para ir à Igreja nos domingos, no entanto, poucos se dirigiam a elas, visto à posição de respeito de Lucila. No segundo dia, falaram com uma vizinha rapidamente, que se encantou com , mas logo depois teve sua companhia dispensada pela Lady.
Apesar de adorar a liberdade que tinha pela casa, já não via mais novidades ali. Gostava de ir para o jardim (apenas quando a tia lá não se encontrava), ficar um pouco no balanço, olhar os equinos de vez em quando (mas ainda sem coragem para cavalgar) e, longe dos horários de meditação da tia ou das aulas de , passava na biblioteca e contemplava suas enormes prateleiras, mas sempre confusa sobre que obra escolher. Depois de dois dias apenas contemplando, escolhera o romance Emma.
— Emma, Emma, você não está ajudando ninguém assim! — comentou o livro em voz alta para si própria.
A solidão acarretava hábitos no mínimo estranhos. Falar sozinha estava virando um deles, e pegava de surpresa alguns funcionários da mansão.
— Uma flor, para mim?! Que gentil da sua parte, minha cara . E ainda por cima, ofereceste-me uma singela margarida, uma de minhas preferidas — falou uma vez com si própria no jardim.
Claro que as notícias chegaram aos ouvidos de Lady Pency, que ficou horrorizada com a sobrinha delirante. Afastou-a ainda mais da irmã e passou a olhá-la de forma aterrorizada em cada jantar.
, distraída, não percebera o quanto a tia estava assustava com ela e, na verdade, só descobriu sobre os horrores de Lucila conversando um dia com a governanta.
— Bom dia, senhora Taylor — a jovem disse em uma manhã, descendo as escadarias correndo.
— Meu bom Deus, milady! Que susto você me deu! — A governanta, beirando os seus cinquenta anos, ficou pálida com aquela aparição.
— Desculpe-me! Fiquei animada para terminar logo esse livro. Que romance! Vou sentar no balanço para ler agora.
— Atenha-se a guardar seus pensamentos para si, senhorita. — A sra. Taylor não pôde deixar de colocar, apreensiva.
parou por um momento, confusa.
— E qual seria o objetivo desse conselho, senhora?
A governanta ficou envergonhada, porém não podia mais esconder nada.
— Lady Pency anda apreensiva com a senhorita pensando alto por estes cômodos. Preocupada com... sua saúde mental — completou, quase em um sussurro, trêmula.
A jovem parou para refletir. Então aquela brincadeira inocente estava atormentando verdadeiramente sua tia avó? Soltou um risinho ao imaginar o que Lucila faria se ela começasse a falar sozinha no jantar.
— Não há graça nenhuma nisso, milady. Ontem mesmo, ela estava considerando chamar um médico.
O sorriso de se apagou e ela entendeu a seriedade do assunto. No resto do dia, ela se conteve para acabar com qualquer brincadeira, não queria ter que envolver nenhum doutor em um pequeno passatempo bobo. Ainda mais quando, na última vez que encontrara um, estava tão atordoada que havia sido uma completa ignorante.
À noite, Lady Pency estava bem menos tensa, embora ainda atenta para qualquer esquisitice da sobrinha. , então, trouxe um assunto que, algumas poucas vezes, rondara a cabeça de .
— Querida tia, acredito que deveríamos contar à que oficializamos o seu baile de aniversário. — se virou para a irmã, sorrindo delicadamente com genuína alegria. — Será na próxima quarta e nós duas já escrevemos alguns convites que demorariam a chegar aos seus destinatários. Por que não escreve os restantes destinados à vizinhança, irmã?
ficou surpresa com aquilo e um pouco entusiasmada. A irmã sabia que ela adorava escrever cartas, embora de preferência não modelos prontos. Mas sabia que aquilo seria uma boa distração. Sem contar que nunca havia tido um baile de aniversário.
— Essa será uma ótima oportunidade — a tia falou, surpreendendo . — Vocês precisam de uma apresentação digna à sociedade, e poderemos receber ilustres convidados. — Lucila lançou alguns olhares para que a mais jovem irmã não compreendeu.
No dia seguinte, levantou cedo e começou a escrever convites à toda Carmody, Canvedish, Avonlea e Charlottetown. Não conhecia quase nenhum dos nomes, tendo reconhecido apenas a sra. Jeannie Pippett e o doutor Gilbert Blythe.
Ainda se envergonhava toda vez que pensava no jovem médico, mesmo que, com a visão embaçada e os sentidos embaralhados do acidente, nem se lembrasse muito de seu rosto. Ficou indagando como ele realmente seria. Se ele viria. E, principalmente, bom Deus, que ele tivesse esquecido seu comportamento lastimável naquele consultório.

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Depois de passar a semana inteira revezando-se entre o consultório e trabalhar na fazenda com Elijah — filho da antiga esposa de Bash, Mary —, Gilbert precisava de um descanso. Elijah estava morando com sua esposa desde que se casaram, há dois meses, e ia passar o fim de semana com ela, de modo que ficar em casa significaria o mesmo que ficar sozinho.
Decidiu, então, aceitar um convite muito antigo de Moody Spurgeon, seu antigo colega da escola. Por meses, Moody chamou Blythe para um encontro semanal em uma taverna próxima. Apesar de não ser muito seu estilo, sabia que estava afastando os garotos há um tempo e que, apesar de não serem melhores amigos, era uma afinidade que valia a pena manter.
E foi assim que, na noite de sábado, Gilbert acabou encontrando Moody, Charlie Sloane e até mesmo Billy Andrews, em pura sorte, pois nem sabia dizer se eles ali estariam.
O médico entrou na taverna escura e a surpresa foi tão grande que Moody derrubou a própria bebida no chão.
— A bebida está me fazendo alucinar ou eu realmente estou vendo Blythe aqui?!
Todos os jovens foram cumprimentar o antigo colega com abraços calorosos, já estando levemente alterados pelo álcool. Gilbert aceitou apenas um gole, nunca tendo sido muito fã.
— E como anda a vida, doutor Blythe? — zombou Charlie.
— Pelo menos alguém aqui terminou a faculdade — retrucou Gilbert, com humor, sabendo que Charlie nunca tivera o menor interesse nisso e não se importava com essa questão, já que ia administrar a fazenda de seu pai no futuro.
— E as moças de Carmody? Fingindo muito desmaio apenas para te verem? — caçoou Billy.
— Segura a onda aí, Andrews. — Moody o empurrou de leve, tropeçando nos próprios pés no caminho. Se sóbrio já era um desastre, bêbado então...
— O quê? — perguntou Gilbert, confuso, levantando uma sobrancelha.
— Ora, Avonlea só comenta das sobrinhas de Lady Pency e de como você socorreu a mais tola delas. Pelo menos era bonita? — continuou Andrews.
— Billy, você tá forçando a barra — falou Charlie, embora um pouco patético, já com um ar bêbado.
— Mas isso não foi semana passada? — Gilbert estava um pouco apreensivo.
— E daí? Você tá fugindo do ponto principal, Blythe. Era bonita?
— Era uma paciente.
— Ah, tenho certeza que era bonita. Pena que ainda não a encontrei. Ainda. — Andrews colocou com uma risada que deixou Gilbert um pouco desconfortável. — Ah, se eu fosse você, tendo uma moça assim inconsciente aos meus cuidados...
— Billy, é melhor você parar de falar antes que alguém te soque — falou Blythe, com um humor fingido apenas para não estragar a conversa.
— Ele tá certo, Billy. E por isso precisamos de mais uma rodada! A Gilbert Blythe! — Moody tinha ido de animado para completamente bêbado durante aquela conversa.
Gilbert sentira falta da convivência, mas também não podia dizer que sentia uma profunda amizade por eles, em especial por Billy. Lembrou de todas as vezes que trocaram pequenas farpas na escola, relembrando a leve irritação que sentia com sua presença.
Mais tarde, Gilbert chegou exausto em casa. Prometera a todos que se esforçaria mais para aparecer, porém não sabia dizer se aquela era uma vontade real. Às vezes, era difícil lidar com o fato de que amizades mudavam.
No dia seguinte, voltando da Igreja, o médico percebeu que havia recebido algumas cartas.
A primeira, trazia notícias de Bash.

Caro Gilbert,
Quando essa carta chegar até você, já devo estar no meu caminho de volta. E espero não encontrar a casa incendiada. Espero que os vizinhos tenham se compadecido e te alimentado, porque, sem a minha mãe, te resta apenas comer maçã todo dia, já que elas nascem prontas.
Você reclamou de falta de notícias na última carta. Você queria que eu passasse a Lua de Mel trocando cartas com um garoto? Você vai matar sua futura esposa de tédio.
Não, não vou escrever mais.
Se cuide,
Sebastian


Gilbert ria e revirava os olhos lendo a carta. Quantas saudades...
Ele dobrou o papel automaticamente e passou para a próxima, paralisando no processo. A segunda carta trazia um nome que lhe dava alguns arrepios. Piscou algumas vezes para ter certeza que não estava alucinando e, quando confirmou que aquele era mesmo o nome, não soube o que fazer. Parte de si queria rasgar o envelope o mais rápido possível, enquanto a outra parte queria lançá-lo na lareira.
Certamente, ele acabou lendo a carta.

“Querido Gilbert,
Como tudo está aí em Avonlea? Como vão os pacientes? Espero que não estejam te dando trabalho. Ou talvez eu deva desejar que estejam, já que você precisa trabalhar, mas me parece simplesmente cruel o menor ato de imaginar este desejo.
Hoje, Dorothy, irmã de Roy (creio que deve se recordar dela de minhas cartas regressas), veio me perguntar o significado de algésico, minha palavra da semana. Recordei de seu presente precioso de anos atrás, aquele singelo dicionário de bolso, e procurei para lhe mostrar que significava sofrimento. Para um tamanho tão questionável, ele é esplêndido!
Sinto saudades da época de escola, embora você fosse mais irritante lá. Que reviravolta hoje em dia cultivar tão singular amizade.
Não devo me demorar, pois estou muito cansada. Quem diria que planejar um casamento pudesse ser tão exaustivo. Uma linda expressão de amor nascida de uma tragédia, porque minha mente está tão cansada que já prevejo que farei alguma grande besteira.
Um abraço,
Anne
P.S.: Que fique claro que eu já sabia o significado da palavra. Só usei o dicionário para parecer mais formal.”

Gilbert não sabia dizer quanto tempo ficou ali lendo e relendo aquela carta. Todas as emoções possíveis passaram por seu peito ao analisar aquela caligrafia. Anne... por que, mesmo depois de tantos anos, não podia simplesmente esquecê-la? Sabia que estava aos poucos melhorando e seguindo em frente, afinal, só nos últimos meses estava realmente se forçando a acreditar que tinha perdido aquela que jurava ser seu amor. No entanto, apesar dos seus progressos, havia dias em que a dor da lembrança era tanta que nada parecia haver mudado.
Dias como aquele.
Atordoado e tomado por lembranças dolorosas, passou para a terceira e última carta, com uma caligrafia que lhe era nova e que teve que reler três vezes para, enfim, prestar atenção na escrita.

Para o doutor Gilbert Blythe:
Convido o senhor para celebrar o meu baile e jantar de aniversário na mansão Louborne, no dia 25 de maio, às 19 horas. Será uma honra contar com sua presença.
Respeitosamente,


Gilbert piscou, reconhecendo o nome e associando ao rosto adorável. Olhando para a carta de Anne ao lado da carta da jovem , ele soube: precisava de uma distração. Não uma taverna com perguntas idiotas. E nem mais trabalho que seu corpo não aguentasse. Precisava de uma distração verdadeiramente boa, e só havia comparecido a um baile uma vez, na época da faculdade. Não seria a oportunidade perfeita de aproveitar o tempo? Aliás, desde que Billy fizera suas perguntas desrespeitosas, aquela estranha paciente às vezes lhe vinha em mente. E isso era melhor do que ter uma jovem noiva em seus pensamentos.
Estava mais do que decidido. Não adiantava ficar pensando em Anne. Ele tinha que se ocupar.
Mas era claro que pensou nela algumas vezes, afinal, no mínimo, tinha que escrever uma carta de volta.
— Malditas convenções sociais — murmurou para si mesmo.


adorava bailes. Quando era criança, sempre que podia, acompanhava os eventos com sua família, mas, conforme ela foi crescendo, foi entendendo que as pessoas não podiam nem queriam ficar gastando seu dinheiro em festas como essas, de modo que poucos ainda aderiam essa tradição.
A vida para nunca fora muito difícil, então ela era do tipo que apoiava esses gastos que, para ela, apenas serviam para deixar todos felizes.
A mansão Louborne estava deslumbrante. A sra. Taylor passara o dia todo de um lado para o outro, recebendo bebes e comes, ordenando a limpeza do grande salão e posicionando mesas e adereços. A jovem só parou de olhar tudo quando foi forçada a se arrumar.
Ela e provaram os vestidos novos, animadas como duas crianças na noite de Natal. O vestido de era lilás com detalhes de renda branca contornando os seios e os braços. Já o de era creme, justo até a cintura, onde pairava uma fita preta de seda amarrada em um laço. Ambas fizeram o cabelo e passaram um pouco de maquiagem, ficando então satisfeitas com o resultado.
Foi um momento feliz. As irmãs ajudaram uma a outra, relembraram de outros bailes, rodopiaram no quarto com seus vestidos e gargalharam quando escorregou em uma chemise e caiu na cama, desmanchando parcialmente o cabelo recém feito.
Elas desceram as escadas para se juntarem aos convidados, se sentindo quase como princesas. estava encantada com o salão, que parecia ainda maior e mais brilhante com aquela decoração. Uma banda tocava no fundo um som extremamente agradável que fazia seus pés descerem a escada com mais velocidade.
, querida, venha receber os convidados — chamou a tia da entrada, de maneira até gentil e carinhosa. Muito diferente do tom usado para a outra sobrinha.
— Aproveite a noite e o seu aniversário, irmãzinha — disse , amavelmente.
logo estava sozinha e um pouco da magia acabou. Achou que, pelo menos no seu aniversário, estaria na presença de sua irmã, mas até isso ela perdeu. Como poderia aproveitar a festa se a única pessoa que conhecia e amava estaria distante?
Ela sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos ao dar uma nova olhada para o salão. Aquilo ainda era um sonho, e ela estava determinada a não deixar sua tia estragar tudo. Desceu para encontrar alguns convidados no salão, mesmo com um frio na barriga de não conhecer ninguém.
— Boa noite, como vão? — Ela se aproximou de um casal que parecia estar nos seus 50 anos. — Espero que tudo esteja agradável. É um prazer recebê-los aqui.
— E você deve ser a jovem . — Os olhos da senhora brilharam quando confirmou. — Meus parabéns! Eu sou Eliza Barry, de Avonlea, e esse é meu marido.
Após uma pequena conversa educada, estava prestes a se retirar para falar com outros convidados, quando a sra. Barry falou.
— Sabe, eu tenho uma filha da sua idade. Diana é uma ótima menina, acredito que vocês iriam se dar muito bem. Ela está por aí com seu noivo, Fred Wright. Mais tarde, eu gostaria de apresentá-las.
— Seria um prazer — respondeu, educadamente, e foi para o próximo convidado.
Passou os primeiros 40 minutos conhecendo vários daqueles que seriam seus vizinhos por tempo indeterminado, moradores de toda a região. Eram todos educados, curiosos e gentis, mas já estava ficando exausta, quando uma apresentação em particular lhe chamou a atenção.
Monroe — apresentou-se a jovem, que parecia ter a mesma idade de . Algo nela lhe chamou a atenção e, por isso, a convidou para caminhar pelo salão.
Conversaram brevemente sobre a festa, um pouco sobre a estadia de , seus pais e outros assuntos.
— Esses doces de chocolate estão uma perdição — falou , enfiando mais um na boca, mas não conseguiu responder, pois ambas foram abordadas por duas figuras loiras.
, quem é esta com você? Por acaso seria a deslumbrante aniversariante? — falou a mais velha das moças, com um sorriso um tanto forçado demais para o gosto da jovem .
— Era só o que me faltava... — murmurou a srta. Monroe. — Josie, querida, sim, essa é . , essas são Josie e Gertie Pye.
— Prazer — respondeu.
— Ah, o prazer é nosso. — agora não tinha dúvidas. Aqueles dentes mostravam a mais falsa simpatia, e ela nem entendia o porquê. — Embora, devo admitir, você não é... Como posso dizer? Tudo aquilo que dizem de você. Mas você me entende, não é, ?
— Josie, o que é isso no seu rosto? —disse , genuinamente preocupada, de modo que até ficou procurando algo fora do comum. — Você está verde porque está enjoada ou é apenas a inveja? — ela completou com um sorriso doce, mas fingido.
As irmãs Pye fecharam os olhos com raiva, tão simultaneamente que deixaram as outras meninas com nervoso, e depois, para alívio de todos, se retiraram.
soltou a respiração que nem percebeu que estava prendendo. Aquela presença realmente fora pertubadora.
— Acho que devo te agradecer, , embora esteja preocupada com o que elas podem falar de você.
— Ah, , você vai aprender que, com a família Pye, você pode ser o ser mais agradável que já pisou em Canvedish e, mesmo assim, eles vão te criticar. E não há de que. Confrontar uma Pye é até divertido. Inclusive, pode me chamar de .
— E você pode me chamar de , —respondeu, sorrindo. Esperava ter feito sua primeira amiga.
Depois de mais algumas palavras trocadas, elas tiveram que se separar para cumprimentar mais pessoas, prometendo manter contato. foi para perto de sua irmã na entrada, porém parou ao ver que ela estava acompanhada.
— Ah, — falou Lady Pency, avistando-a. Mais sorrisos forçados. — Devo lhe apresentar ao Conde Travis Phillips, que veio da Inglaterra a nosso convite. Eu e o pai dele somos velhos amigos.
— Encantado, senhorita . E devo dizer, que linda festa. — Ele, no entanto, olhava para , que estava corada.
fez uma reverência enquanto entendia o porquê de sua tia ter aceitado fazer o baile. O motivo de elas terem escrito cartas para convidados distantes. A necessidade de um ótimo vestido. Ela entendeu, enfim, que sua tia estava tentando arranjar um casamento para a irmã. E, para desgosto de , não parecia muito contrariada.
Enquanto assimilava tudo aquilo ainda, ouviu alguém dizer:
— Doutor Blythe, que ótimo te ver essa noite!
A jovem olhou em direção à porta de entrada e seu olhar parou ali. Diversas palavras inapropriadas vieram a sua cabeça quando ela olhou Gilbert Blythe. Como, em sã consciência, ela havia conseguido esquecer alguém com aquela aparência?
Seus cabelos pretos e encaracolados estavam muito bem ajeitados, embora com alguns fios rebeldes. Ele estava lindo com paletó. E seu rosto... tudo parecia simplesmente combinar. Seu maxilar, sua boca e seus olhos... Olhos cor de avelã...
Olhos cor de avelã que estavam a encarando, confusos, com uma sobrancelha arqueada.
se recompôs rapidamente.
— Boa noite, doutor Blythe. — E saiu para se esconder entre os convidados, tentando esconder seu constrangimento.
Como pôde ficar encarando o homem sem nenhum pudor?! Embora não fosse culpa dela Gilbert ser tão atraente... Ah, se sentia tão envergonhada! Mais uma vez, agradeceu aos céus por não corar.
Ainda intrigada com o doutor, esbarrou, sem querer, em um convidado, derramando metade do conteúdo de seu copo. Clamou milhares de desculpas e se afastou, sem saber se a situação poderia piorar.
Aquela seria uma longa noite.

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Era preciso compreender um fator importante sobre corações partidos e superações. Assim como existiam dias que a dor parecia infinita, o amor parecia inesquecível e rogava-se aos céus por um milagre — esquecimento ou retorno da pessoa amada —, existiam também os dias médios. Os dias médios eram aqueles que se lembrava da pessoa, mas, uma vez ou outra, conseguia se desprender e viver além daquilo.
E, ainda mais, existiam os dias bons. Os dias bons eram os dias que se pensava que os anjos haviam ouvido os pedidos e a superação havia chegado. Quase não se pensava no antigo amado e não sentia nada ao pensar. Claro que, no dia seguinte, já era possível estar de novo em um dia ruim.
Mas, o que importava, era que Gilbert Blythe estava em um dia bom. Sabia que toda a Avonlea estaria no baile, assim como outras vizinhanças, mas aquilo não o assustou. Uma hora ou outra, tinha que encarar as pessoas, e estava determinado àquilo.
— Boa noite, sr. e sra. Sloane. Como vão? — Gilbert se aproximou para cumprimentá-los, surpreendendo os vizinhos com seu bem-estar.
— Gilbert, que prazer te ver essa noite — falou O sr. Sloane. — Charlie estava me contando que esteve com você esses dias. Bom garoto, o meu Charlie. Vai nos deixar ricos administrando a fazenda comigo.
— Certamente, senhor — disse Gilbert, um pouco arrependido de ter se aproximado e começado a conversa. Esquecia que os Sloane podiam ser bem falantes sobre eles mesmos. — Espero que os senhores tenham uma noite muito agradável. — E se retirou, tentando não desanimar com aquele primeiro encontro. Festas eram assim. Exigiam educação e conversas fiadas.
Quando finalmente adentrou a mansão, ficou encantado. O grande salão estava preenchido com uma melodia incrível, rodeado de pessoas conversando, bebendo e dançando. Tudo parecia brilhar naquela imensidão. Então, alguém o tirou de sua admiração:
— Doutor Blythe, que ótimo te ver essa noite! — Era Prissy Andrews, irmã mais velha de Billy. Ao seu lado, estava Jane, irmã mais nova que estudara com Gilbert.
— Prissy, Jane, boa noite! Como estão as duas? Aproveitando a noite, senhoritas? — disse, educadamente. Continuaram uma conversa curta, até que Gilbert se despediu, sentindo sua nuca arrepiar com uma sensação esquisita.
Quando se virou para trás, encontrou ninguém menos que a própria anfitriã. Ela estava ainda mais bonita que no dia do acidente, com o bônus de que não babava. Porém, a jovem definitivamente o estava encarando.
E ela não parava.
Ele olhou curioso para ela, arqueando uma sobrancelha. Ela pareceu ter levado um susto e falou:
— Boa noite, doutor Blythe. — E se perdeu no meio dos convidados.
Gilbert ficou um pouco confuso e transtornado, mas compreendeu que a jovem, ao olhar para ele, devia ter se recordado do acidente traumatizante. Suspirou, esperando que aquela impressão passasse. Começou a andar pelo salão para cumprimentar a todos e se servir.
— Gilbert! — Moody se aproximou do jovem. — Que bom te ver aqui!
— Bom te ver também, Moody — disse Blythe, sorrindo, sincero. Apesar da sensação que havia tido no bar, de que a amizade não era mais a mesma, Gilbert sentiu também que estava exagerando, pelo menos com Spurgeon. O velho amigo, mesmo com seu afastamento, insistiu na amizade deles, e perceber as pessoas que o consideravam até nas horas ruins havia sido muito importante.
— Esses dias, estava vendo alguns tacos de hóquei à venda. Modelos novinhos! Lembra-se, Gilbert, de quando jogávamos entre as aulas? — comentou, se apoiando em uma mesa e quase derrubando tudo que estava em cima. Gilbert levou um susto e o ajudou a colocar tudo de volta no lugar. Aquilo tudo era muito caro para se manter perto daquele garoto desastrado. — Enfim, bons tempos. Afinal, por que não marcamos um dia para jogarmos uma partida?
— Sabe, Moody, estou um pouco atolado com o trabalho na fazenda. — Ele viu o amigo suspirar e sentiu-se mal. — Mas uma tarde jogando não faria mal, certo?
— Esse é o bom e velho Gilbert Blythe! — falou Moody, erguendo sua taça. Gilbert entrou no clima, erguendo um copo e comemorando também, depois caindo na gargalhada.
Naquele momento, Ruby Gillis passou, rodeando com suas bochechas rosadas combinando com um vestido de mesma cor, e o amigo de Blythe começou a se ajeitar no lugar.
— Depois de todos esses anos, ainda é o velho Moody, com medo de agir — provocou Gilbert, vendo o outro ficar vermelho.
— Eu não tenho medo de falar com uma garota! — exclamou Spurgeon, envergonhado e irritado.
— Então convide-a para dançar — falou o jovem médico, empurrando Moody, que estava quase tropeçando nos próprios pés. Ali perto, Ruby olhava corada para o garoto desastrado, achando tudo encantador.
— Tá bom, tá bom, tô indo! — falou Moody, ficando cada vez mais vermelho ao se aproximar de Gillis e lhe chamar para dançar. Os dois saíram dali como se fossem os únicos na festa. Mesmo que isso tivesse feito o doutor ficar solitário, Blythe só conseguia sorrir diante da cena.
Gilbert já devia estar há mais de uma hora na festa, quando Rachel Lynde se aproximou.
— Ora, bem, veja se não é Gilbert Blythe. Como você está, garoto? Está mais forte, mas continua magro. Anda trabalhando na fazenda? Está comendo direito?
— Boa noite, sra. Lynde. — Ainda estava digerindo todas as perguntas dirigidas a ele. — Estou bem, obrigada, e bem alimentado também. — Teve que rir perante aquela situação. — O trabalho na fazenda está puxado, mas acho que temos que agradecer por isso. Como está Thomas?
— Aquele velho já está andando por aí e bebendo como se fosse vinte anos mais novo. Não duvido nada que amanhã vai passar a manhã inteira reclamando para mim de dores nas costas. E ele acha que vou escutá-lo? Bom Deus sabe que só o faço por ser uma boa mulher. — Os olhos dela se estreitaram, como um falcão partindo para o ataque. — E as novas meninas? Avonlea não recebe um morador de fora há tempos, desde de... Bom, soube que você e Jeannie foram os primeiros a conhecê-las. Vi a mais nova hoje. Jovem bonita, mas precisa engordar; educada, mas parece um pouco atrevida. A irmã parece um excelente partido, mas já parece estar rendida pelo Conde. Esses malditos ingleses, Deus me perdoe, roubam nossas terras e, mais tarde, voltam para roubar nossas meninas.
— Se a senhora diz... — colocou Gilbert, embora soubesse que aquilo era mais um monólogo. Ouvia tudo intrigado, uma das sobrancelhas levantadas, e ria de vez em quando.
— Mas, oh, céus, esqueci do mais importante! Eu vi que Billy Andrews já dançou com ela uma vez, parecia um cachorro velho marcando território. Mesmo assim, ela recusou outro convite. Garota esperta, evitando escândalos. Diferente daquela garota Ruby Gillis, dançando por aí com Spurgeon três vezes. Três vezes! — Mesmo com o jovem claramente perdido, Rachel não parava de tagarelar. — De qualquer jeito, a mais jovem pode não parecer perfeita, mas não é bem dispensável.
— Perdoe-me, mas não compreendo o que quer dizer, sra. Lynde —admitiu Gilbert, um pouco incomodado com o jeito que a menina estava sendo avaliada.
— Estou falando, meu bom Deus, que você deve chamá-la para dançar, Gilbert Blythe! Não desperdice boas chances, menino! — Ele continuou a encarando, em choque. — Garoto, eu não tenho que fazer tudo! Vá logo!
Rachel saiu em seguida, indo conversar com outros convidados, embora ainda estivesse lançando olhares assustadores a Gilbert, movimentando a cabeça em direção à menina. Ele engoliu em seco e foi em direção à , sabendo que não estaria livre disso se não o fizesse logo. Assim, bem envergonhado, ele se aproximou da jovem, que estava conversando justamente com uma das últimas pessoas que queria ver: Diana Barry.
— Boa noite, srta. . — Então olhou para o lado e completou, tentando ser simpático e não desanimar. —Diana. — Respirou fundo e continuou. — Meus parabéns, senhorita. E que bela festa você está nos proporcionando. Não temos algo assim há muito tempo.
— Era o que eu estava contando para ela, Gilbert — falou Diana, e lá estava aquele olhar que ele mais do que nunca queria evitar. O olhar de pena. — Bom, eu vou pegar uma bebida. Vejo vocês mais tarde. Foi um prazer conhecê-la, .
— O prazer foi meu, Diana. — sorriu, mas parecia notar que algo estava errado. No entanto, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, ele ouviu os primeiros acordes de uma música e se apressou:
— Me daria a honra dessa dança?
Ela pareceu um tanto surpresa, mas logo assentiu e sorriu, colocando a mão sob a do rapaz. Ele a conduziu gentilmente até a parte do salão onde todos estavam dançando.
— Então, Gilbert Blythe, apesar de ser um menino de fazenda, o senhor sabe dançar? — colocou , com humor, enquanto se posicionavam para a próxima dança.
— Pode ser que as faculdades não te ensinem a dançar, mas certamente estar em uma te faz aprender — respondeu, começando a se mover com a música que começara. Logo, estavam um pouco distantes para conversar.
— Soube que, além de médico, você tem as melhores maçãs — falou quando voltaram a se encontrar na dança. Gilbert não respondeu de imediato, pois os pares haviam sido trocados.
— Soube que a senhorita está perguntando muito sobre mim — disse, enfim, quando voltaram a dançar juntos. Ela congelou sob aquela afirmação, constrangida, mas se recompôs para continuar dançando, sem olhá-lo diretamente. “Droga”, ele pensou. Tentando quebrar o constrangimento que causara, completou: — E falando pouco de si mesma. Está gostando da região?
Ela sorriu, parecendo aliviada.
— É tudo muito lindo. As flores da primavera são excepcionais. O único problema é que é um pouco frio. E que eu saio pouco. — Ela fez uma careta, depois riu, enquanto rodava ao seu redor batendo palmas. — Sempre adorei a região. Só queria que as circunstâncias fossem diferentes... — Ela suspirou, depois sorriu tristemente.
— Sinto muito pela situação dos seus pais. Não sei se te conforta, mas pela situação que eu soube, eles bem provavelmente irão se recuperar logo e você e sua irmã poderão retornar — disse, seguro.
— O problema é que são sempre altas probabilidades, porém não certezas, se o senhor me entende.
— Entendo mais do que imagina. — Ele suspirou sob o olhar curioso dela. — Eu perdi meu pai com 14 anos. Minha mãe faleceu no parto. E, há três anos, perdi uma amiga para uma doença. Eu sei como é. O medo e o desespero. — Ele engoliu em seco, desviando o olhar do dela, que parecia surpreso. Ele abriu um sorriso tranquilo. — Mas sabe o que todos eles não tiveram que seus pais têm? Um diagnóstico imediato e inicial. Eles vão se recuperar.
parecia tocada com aquela informação e ele percebeu que, com todos aqueles sentimentos sinceros expostos, ela estava linda. Aquele vestido certamente ajudava, ela estava parecendo uma Lady. Na verdade, não estava longe disso, visto sua árvore genealógica.
— Sabe, doutor Blythe...
— Pode me chamar de Gilbert — interrompeu-a, fazendo-a sorrir.
— Sabe, Gilbert — ela se corrigiu —, você parece um bom rapaz que vai me compreender. Espero não estar presumindo uma falsa amizade, mas sinto certa... confiança em você. Não sei explicar. — Ela sacudiu a cabeça, balançando algumas ondas que escapavam do penteado. — Mas, enfim. Eu estou... meio confusa. Como... — Sua voz foi diminuindo e certo pânico se estampava no seu rosto. — Algo está me perturbando. Entalado na garganta.
— Pode continuar — incentivou-a, mesmo que estivesse um pouco perdido sobre o que fazer.
— Eu sinto que é errado eu estar aqui comemorando quando meus dois pais podem estar morrendo agora — desabafou , a voz firme, depois pequenas lágrimas se formaram no canto de seus olhos.
— A senhorita precisa de um lenço? — ofereceu Gilbert, desconfortável. Não sabia como agir com meninas chorando.
— Não! — respondeu , um pouco alto demais. — Eu não estou chorando. – E depois de fungar, ela completou, em um sussurro: — Eu não choro.
Um silêncio um pouco desconfortável se estabeleceu, e Blythe sabia que devia falar algo depois da maneira com que ela se abrira.
— Sabe, posso não ser, nem de longe, a melhor pessoa para falar isso, mas, pelo pouco que a conheci, você parece ser do tipo... como dizer? — Ele encarou os olhos dela, sorrindo levemente. — Espirituosa. E, se eu consigo ver isso, seus pais com certeza enxergam e admiram essa qualidade. Não acredito que eles iriam querer acabar com ela te trancando em uma casa para sofrer o dia inteiro em nome deles. Na verdade, nesse momento, os dois devem estar esperando muito que você esteja comemorando. Não é errado se divertir nessa situação, na verdade, acho que é necessário.
Assim que terminou, se calou. Ele encarou a garota a sua frente, lutando através de seus pensamentos para conduzi-la na dança. E se tivesse falado a coisa errada? Desde quando era tão tagarela? “Imbecil”, pensou consigo mesmo.
Até que viu abrir um sincero sorriso.
— Obrigada. — Foi tudo o que ela falou. E foi suficiente.
Quando se deram conta, a dança já havia se encerrado e eles se cumprimentaram, antes de se separarem.
— Gilbert! — Ele a ouviu chamar, e quando olhou para trás, viu que ela erguia o vestido e corria atrás dele. — Eu esqueci. Se eu posso te chamar pelo seu nome, por favor, me chame de . Ou .
— Tudo bem, . — Ambos sorriram e se separaram, se esbarrando, às vezes, durante a noite.
Gilbert foi embora duas horas depois. Afinal, tinha que trabalhar no dia seguinte. Mas só pensava que não conseguira se despedir de , que parecia ter ocupado um espaço na sua cabeça aquela noite. Mal sabia ele o quanto Rachel Lynde estava rezando por isso.


O baile de aniversário de parecia ter acontecido em um universo paralelo. Depois que deixou de sentir culpa e se permitiu aproveitar, deixou todos os seus problemas escorrerem da cabeça e teve uma das melhores noites de sua vida. Realmente adorara , ou melhor, , amara os docinhos, se divertira muito dançando com Billy e Gilbert. Até mesmo havia conseguido tolerar o tal Conde Phillips que não desgrudara de a noite inteira.
Mas o dia seguinte ao seu aniversário foi um completo balde de água fria. Todas as preocupações com os pais voltaram redobradas. Escreveu mais uma carta naquele dia mesmo para o médico, os pais, os criados, qualquer um que lhe pudesse dar alguma resposta.
Durante os próximos dias, ficou dividida novamente entre ler, escrever aos pais (inutilmente, ao que parecia), ouvir as reclamações da tia e raramente ver . Nessas horas, sentia imensas saudades de suas aulas de piano, mas não havia sinal do instrumento na casa, e isso ela podia afirmar. Pois, a cada dia, descobria um novo cantinho preferido na enorme propriedade, de tanto que ficava rodando seus corredores (Lady Pency uma vez berrara durante seu horário de meditação por causa de seus passos ansiosos), mas, nos últimos dias, um lugar em especial chamava muito a sua atenção.
No primeiro piso, nos fundos do grande salão, escondido, havia uma porta que levava a um pequeno corredor, onde a jovem encontrou duas portas: uma, dava acesso à uma sala apenas com muitas fotos de um casal jovem desconhecido, e, ao seu lado, uma porta trancada. Diferente das outras portas da casa, era apenas de madeira e parecia muito velha (talvez mais velha que Lucila).
Por dias, ficou lendo naquele corredor, escrevendo para seus pais e, quando a dor apertava muito, imaginava o que poderia estar escondido por aquela porta. Mais fotos? Algo muito secreto? A fortuna da tia? Uma sala de fotografia?
Um dia, porém, ao acordar e descer para o café da manhã, viu a sra. Taylor se espreitar por aquele pequeno corredor. Seu coração palpitou de ansiedade. Será que a governanta iria abrir a misteriosa porta? Mil ideias se passaram pela sua cabeça naqueles milésimos de segundos. Poderia se esconder na sala ao lado e pelo menos espiar quando ela entrasse... Será que conseguiria ser furtiva o suficiente?
Todos os seus pensamentos e planos foram interrompidos por batidas na porta principal e, logo, a sra. Taylor parecia ter se teletransportado para a porta, já anunciando:
— Lady Pency, é o Conde Travis Phillips!
Antes que seu cérebro pudesse processar, estava descendo as escadas perfeitamente arrumada, como sempre, seguida de Lady Pency, mais ansiosa do que jamais a vira. O olhar da tia se prendeu em e seu nariz se franziu.
— Ajeite-se, menina — a tia a repreendeu, a voz baixa, mas dura, antes de se virar para o Conde. — Ah, Conde Travis, que agradável surpresa o ter conosco em minha humilde casa!
Humilde seria a última palavra que usaria, mas tinha amor próprio o suficiente para não corrigir a tia avó.
— A honra é toda minha, Lucila — Conde Phillips colocou com um sorriso educado. — Jovem , que prazer revê-la. — fez uma pequena referência na menção de seu nome. — E... ... — Sua voz estava repleta de admiração e, constatou com horror, paixão. — Acredito que não sei como pude acreditar que qualquer outro dia fora bom, se não tive o prazer de ser alegrado por sua doce presença.
estremeceu diante de tanto flerte exagerado. Se manteve o mais educada e quieta possível, até poder ser dispensada, quando o jovem casal saiu para passear pelo jardim. Vendo-se livre, foi correndo para aquele corredor que estava se tornando seu maior conforto.
Como aquilo era possível?! Um homem chegava e logo a irmã não conseguia nem se lembrar dela! Ela, que estivera com a irmã por 19 anos, nas horas boas e ruins, trocada por um cara que ela via pela segunda vez. Isso era ridículo!
Sabia que, se a mãe estivesse ali, ela riria, como se entendesse de coisas que não conseguia nem imaginar, e diria algo como:
— Um dia, você vai entender. Um dia, você vai agir igualzinho.
Já seu pai, provavelmente do outro lado da sala, lendo jornal, iria, talvez, resmungar, indignado.
Mas não conseguia se imaginar agindo igual uma idiota por ninguém. Uma vez, estivera apaixonada por um amigo seu da escola, mas não ficava corando e rindo por qualquer elogio bobo.
Pensando bem, ela provavelmente nunca fora elogiada assim.
“Ainda bem”, ela pensou, imaginando que provavelmente sentiria vontade de rir — ou ânsia de vômito. Seria ridículo.
Mesmo assim, apoiada naquela porta de madeira, talvez por estar meio sonolenta, começou a imaginar alguém a elogiando assim.
— Meus dias não parecem o mesmo sem ver o seu belo rosto — disse a voz imaginária da sua cabeça. — Sortudo será aquele que puder ouvir o som de sua risada todos os dias — ela continuava, delirante. Ela realmente estava adormecendo...
— A senhorita está muito bonita, . — Ela ouviu o doutor Gilbert Blythe dizer.
acordou com um susto. O que diabos estava sonhando?
Envergonhada demais, ela tentou tirar aquela cena da sua cabeça. Primeiro, ficara a noite do seu baile pensando em Gilbert, tão bonito (ainda se envergonhava de lembrar como o havia encarado!) e tão gentil. Mas, então, o problema com os pais o tirara da cabeça, justamente. O que faria agora que ele parecia estar voltando?
Durante todo o jantar (no qual o Conde se recusou a ficar pelo horário, e nunca agradeceu tanto às regras de etiqueta), com Lucila muito distraída com para lhe dirigir comentários sarcásticos, os pensamentos da jovem ficaram se voltando para aqueles cabelos negros e os olhos de avelã. Nunca se sentira tão boba na vida, mas percebia que uma parte dela parecia gostar daquilo, chocando-a.
Em uma situação normal, naturalmente falaria com a mãe ou, melhor ainda, com . Mas, com a mãe distante e sempre sob os olhares atentos da tia e tomada por suas longas tarefas, estava sem ninguém. Com quem poderia falar sobre isso?
Já estava deitada na cama, se desviando de pensamentos com Gilbert Blythe, quando uma súbita ideia a invadiu.

“Cara Monroe,
Espero que a senhorita se recorde de mim! Apesar de nosso breve contato, senti uma imediata confiança, da qual espero desenvolver uma amizade.
Recorro a você e espero não a assustar com assuntos tão estranhos para uma primeira carta, mas...”

achou muito arriscado se abrir completamente com , por mais que gostasse dela, então decidiu contar uma pequena mentira:

“... minha irmã, , se encontra em uma situação delicada. Ficar pensando constantemente em um garoto, especialmente pensamentos bobos, significa amor, paixão ou coisas do tipo? Ou poderia ser simples consequência de uma rotina tediosa?
Grata por sua atenção,


Na manhã seguinte, ela buscou o endereço para o qual tinha mandado o convite do seu baile de aniversário e mandou a carta, ansiosa. Durante a noite, se revirou de um lado para o outro, se arrependendo amargamente da decisão. Quatro dias depois de pensamentos constantes e nervosismo crescente, sua resposta chegava, afinal.

“Querida ,
Fico imensamente feliz que tenha me escrito! Acredito, igualmente, que podemos ter uma futura amizade muito boa!
Sobre o outro assunto, avise a ‘sua irmã’ que é possível tais pensamentos acontecerem sem compromisso, mas é preciso avaliar muitos outros fatores, então eu lhe trago uma sugestão. Por que você não aparece aqui em casa no sábado às 15 horas para você me trazer notícias mais detalhadas?
Aguardo sua resposta.
Carinhosamente,

P.S.: Você é muito ‘educadinha’ em suas cartas!”

Rindo, aliviada de sua não-paixão e de não ter sido idiotice escrever a bendita carta, foi procurar a tia avó para confirmar sua ida.

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Era plena quarta-feira e o assunto mais interessante que se passara no dia inteiro de Gilbert foi, novamente, as dores da sra. Pippett e seus convites para um chá, mas, dessa vez, ele preferiu recusar, alegando que precisava trabalhar na fazenda. Não era exatamente verdade, mas certamente precisava descansar para trabalhar na fazenda cedo no dia seguinte.
Mas, chegando à sua casa, ele encontrou todas as luzes acessas. Seu coração paralisou. Era Elijah? Ele ainda estaria lá até aquela hora? Ou poderiam ser ladrões? Ficou sério e olhou ao redor, procurando como se aproximar sem chamar atenção e, sem muitas opções, pegou um machado que estava próximo das árvores. Se espreitou silenciosamente até a casa, porém percebeu que sua melhor chance seria assustá-los. Assim, respirou fundo e fez a cara mais raivosa que podia, chutando a porta entreaberta em seguida para entrar.
No entanto, ao ver quem estava lá dentro, Gilbert congelou. Depois, soltou o machado e correu, sorrindo, para abraçar Sebastian, que estava sentado na mesa da cozinha.
— Meu Deus, Blythe, não se pode nem fazer uma surpresa para você sem correr risco de morte? — Bash riu, com seu sotaque carregado.
— Talvez, na próxima surpresa, você possa tentar não invadir minha casa, certeza que será melhor sucedido — Gilbert falou, sarcástico, mas não conseguia tirar o sorriso do rosto. Logo depois, viu uma outra figura ali no canto, observando tudo com muito carinho.
— Senhorita Stacy! Quer dizer... Senhora Lacroix... Como você está?
— Gilbert, eu sei que isso pode ser esquisito a princípio, mas, por favor, me chame de Muriel — ela disse, rindo, antes de eles se abraçarem. Gilbert tinha um grande carinho por ela. Ela sempre o incentivara, o havia ajudado a conseguir uma vaga na Universidade de Toronto e, depois, ainda fizera o seu melhor amigo e irmão feliz novamente.
— Então, como foi a Lua de Mel? — Gilbert falou, sentando-se à mesa.
— Você provavelmente não quer saber — Bash provocou, colocando os pés na mesa.
— Sebastian! Ele só quer saber sobre os lugares que passamos — Muriel disse enquanto servia um chá que tinha acabado de fazer. — Ah, Gilbert, foi incrível! A praia, o lago de pesca... Eu peguei um peixe desse tamanho! — Ela separou bem os braços. — Claro que esse aqui — ela cutucou Bash — mal conseguiu pegar o menor de todos.
— Eu estava distraído com outras coisas — Sebastian sorriu, atrevido. — Tá olhando o que, Blythe? Tem mais o que fazer não?
— Certamente tenho, achei só que você poderia ter sentido saudades, e por isso estou me forçando a ficar nessa cozinha.
— Saudades de um garoto magrelo e folgado? Certamente que não. — Mas seu olhar era carinhoso.
Os três continuaram conversando, Bash e Gilbert se provocando, enquanto Muriel contava mais detalhes de cada lugar lindo pelo qual haviam passado. Blythe também contou algumas histórias de Delphine, as quais Bash escutou encantado, estava claro em seu olhar as saudades que ele sentia.
Muriel decidiu ajudar Gilbert no assado que o garoto estava preparando para o jantar.
— É só colocar um boi dentro do forno. Não é tão difícil assim, Blythe.
— Só que esse boi está mais teimoso que você.
— Não falta muito, logo a carne fica no ponto — Muriel os acalmou.
Bash resmungou, impaciente, batucando os dedos na mesa. Então, seu olhar se desviou para a pilha de papéis e cartas das últimas semanas.
— Vamos ver o que temos aqui que eu perdi. Jornal, jornal... Pobre senhor Carter, perdeu um dos burros. Mais jornal... Ah, minha carta! O que mais? Jeannie reclamando de dor... Ainda é sua única paciente? — Gilbert desviou o olhar do forno para lançar-lhe um olhar feio, então tentou tirar as cartas das mãos do amigo, que apenas desviou. — Que foi? Você ainda vai conquistar mais pacientes, relaxa, e... — Mas Bash congelou ao olhar para uma carta específica, arregalando os olhos. — Muriel, querida, por que não pega todas as conchinhas que você colecionou na praia pra mostrar pra ele?
— Não são “conchinhas”, são fósseis de animais marinhos como mariscos e... — Ela percebeu o olhar de Sebastian. — Claro, vou pegar.
— Que porcaria é essa? — Sebastian jogou a carta na frente para Gilbert e ele nem precisou olhar a caligrafia caprichada para reconhecer a carta de Anne. — Eu adoro aquela menina, mas para alguém tão inteligente... Como você está?
— Não sei — Gilbert respondeu sinceramente. — E não chame de porcaria, é só uma carta de... uma amiga.
— Uma amiga que te beijou e depois começou a namorar outro? Me poupe, Blythe, isso não é só uma carta.
— Olha, é o que é. Somos amigos. Eu só tenho que me acostumar com isso e isso é um bom choque de realidade.
— Um bom choque de realidade? Isso só te faz pensar mais nela, e certeza que depois você já ficou cheio de vontade de enviar outra carta e ter mais notícias dela. — Gilbert ficou envergonhado ao perceber que quase fizera aquilo mesmo. Levou um belo tapa na cabeça de Bash.
— Ei!
— Isso é para você pensar melhor em como você tem que esquecer a Anne.
Os dois ficaram quietos em seguida. Bash não tinha a intenção de magoar Gilbert, só queria ajudá-lo, mas era inevitável que ele não sofresse no processo. Os dois ficaram em silêncio, apenas o barulho das chamas do forno, até que Sebastian pegou a última carta. Ele levantou uma sobrancelha.
? Eu saio e você já arruma convite para festas de desconhecidos? — O tom de voz era mais leve, como se tentasse melhorar o ânimo do amigo. — Talvez você esteja melhor do que eu pensei.
— Para, Bash, não fala besteira. É só uma moradora nova. É sobrinha neta daquela ricaça Lady Pency. Ela e a irmã se mudaram para cá logo depois que você viajou.
— E aí? Conta mais!
— Cuidado para não tirar o cargo de Rachel Lynde de maior fofoqueir... ai! — Levara mais um tapa, agora na nuca. — Tá bom, tá bom, eu só as vi duas vezes! Os pais delas estão doentes, então tiveram que se mudar para cá. — Ele coçou a cabeça, sabendo que isso não era suficiente para Bash. — A mais nova acabou de fazer 19 e quase foi atropelada, eu a atendi e nesse dia eu conheci a mais velha também, que parece ter pouca diferença de idade para mim, talvez um ano a mais. Depois, as encontrei de novo nesse baile, mas só falei com a mais nova, que é a .
— Então, você tá tendo bastante contato com essa . — O sotaque de Sebastian parecia deixar a ironia muito pior.
— Para de achar que tudo tem segundas intenções! Além disso, não sei se ela realmente gosta de mim, ela meio que... brigou comigo por ajudá-la. Mas depois foi simpática comigo quando dançamos.
— Vocês dançaram?! E eu entendo a coitada, quem não quer brigar com você? E isso é mais ponto para ela, né? — Ele ergueu as sobrancelhas, sorrindo. — Só falta ela te bater e logo você vai estar caidinho.
Sebastian teve que se desviar de um biscoito que voou em sua direção.
— Tá precisando praticar mais a mira, Blythe. Achei que, sendo um doutor, você ia saber ser mais certeiro.
Logo, uma pequena guerra se estabeleceu na cozinha e só parou quando Muriel voltou com sua coleção de conchas. O resto da noite foi extremamente agradável e o coração de Gilbert se apertou quando eles se retiraram, já de noite, para dormirem na casa deles. O seu ânimo melhorara muito de uma forma que só Sebastian conseguia. Porém, não conseguia tirar da sua cabeça toda aquela conversa sobre Anne e sua necessidade de realmente esquecê-la. E sabia que não seria a única vez que Bash ia zombar dele por causa da nova garota, mas apenas a primeira. Aquele era Sebastian: sempre o perturbando. Mas Gilbert sabia. Por trás de todas aquelas implicâncias, ele encontrava ali o amor de um irmão.


Continua...


Nota da autora: Eu sempre tive o sonho de escrever. Eu já inventava histórias antes de conhecer as letras que poderiam transportá-las para o mundo. Depois de Anne foi a primeira história que saiu do meu computador e alcançou outras pessoas. O mundo das fanfics me transformou e essa história em específico me fez conhecer dezenas de pessoas maravilhosas!
É claro que eu não poderia deixar de mandar essa como minha primeira fanfic no site, representando a primeira história que eu escrevi, que eu comecei a 4 anos atrás.
Pelo tempo que tem, eu irei reescrever a história para corrigir algumas partes do português e melhorar outras de escrita.
MAS NÃO ME MATEM!! Justamente por ter muita coisa pronta, eu pretendo atualizar rápido até chegar no ponto da história que estava antes! E aí... cenas dos próximos capítulos.
Obrigada a cada um que me acompanhou até aqui, obrigada a cada um que confiou em mim e no meu trabalho. Vocês tornam isso tudo muito mais especial <3

Nota da beth: Elena, você voltou no tempo e viveu 1900 e algo para escrever essa fic? É tudo tão natural e gostosinho que cada vez mais eu acredito nisso kkkkkkkkkk
e o Gilbert novamente emocionando sem precisar de muitas interações, e a tia dela novamente me irritando, que mulher chata! Ansiosa por mais 💜

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