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Última Atualização: 14/04/2025.voltou a ajeitar o rabo de cavalo, prendendo-o com mais força, e então terminou de colocar o relógio no pulso, configurando-o conforme precisava. Inspirou fundo, sentindo o cheiro reconfortante de café recém-passado que preenchia a pequena cozinha.
Com passos leves, foi até o balcão, onde a sua caneca favorita – branca com pequenas flores desenhadas à mão – já estava à espera. Despejou o líquido quente e observou a fumaça subir, acompanhada pelo som do gotejar que ainda vinha da cafeteira.
Enquanto tomava o primeiro gole, deixou o olhar vagar pela janela. Lá fora, o céu matinal de inverno estava tingido de cinza claro, prometendo um dia frio, mas não o suficiente para impedir sua caminhada diária. Era seu momento favorito, quando a cidade ainda parecia acordar preguiçosamente.
Deu um pequeno sorriso ao perceber que o pássaro que sempre pousava no parapeito estava lá novamente, bicando uma migalha esquecida da noite anterior.
— Você é tão pontual quanto eu — murmurou, como se o pequeno visitante pudesse ouvir.
Depois do café, foi até o quarto e começou a se vestir. Escolheu uma blusa térmica de mangas compridas, preta, e uma calça de moletom confortável que não a impediria de se mover. Pegou o casaco pendurado no encosto da cadeira e verificou os bolsos para se certificar de que tinha tudo: os fones de ouvido, o celular e um pacote pequeno de lenços.
Na cozinha novamente, preparou uma garrafa com água e verificou o cronograma no celular – o alarme do relógio já estava ajustado para não se perder na caminhada. Com tudo pronto, amarrava os tênis com firmeza enquanto pensava no trajeto de hoje.
Antes de sair, olhou para o espelho na entrada. Era um hábito quase involuntário, uma última checagem. As bochechas estavam levemente rosadas pelo frio, e havia algo tranquilizador no reflexo simples, descomplicado. gostava dessa simplicidade nas manhãs.
Pegou as chaves e abriu a porta. A brisa fria a cumprimentou de imediato, arrepiando a nuca. Ajustou o volume da música nos fones e, enquanto descia os degraus do prédio, sorriu ao pensar no silêncio que a esperava nas ruas quase vazias.
Era a sua rotina, o momento onde tudo fazia sentido – a caminhada, o ar fresco e a promessa de um novo dia.
Do outro lado da cidade, desligou o despertador com um leve resmungo. A luz suave do sol da manhã já atravessava as cortinas parcialmente abertas do quarto, iluminando o espaço organizado e minimalista. Sentando-se na beira da cama, ele passou as mãos pelos cabelos bagunçados e respirou fundo, deixando o silêncio da manhã embalar seus pensamentos.
Antes de qualquer coisa, alcançou a pequena bolsa de couro que mantinha sempre ao lado da cama. Dentro dela, estavam o glicosímetro, as tiras de teste e a lanceta. Era um ritual que seguia religiosamente todas as manhãs – medir a glicose antes de começar o dia.
Preparou o glicosímetro com movimentos quase automáticos, fruto da prática diária. Limpou a ponta do dedo com o álcool, pressionou o dispositivo e sentiu o pequeno desconforto da picada. Uma gota de sangue preencheu a tira, e ele aguardou enquanto a tela carregava o resultado.
"112." Um número dentro da meta. Ele exalou aliviado, com um pequeno sorriso de satisfação. Ter a glicose controlada sempre o fazia começar o dia mais tranquilo. Guardou os materiais com cuidado, anotou o resultado no aplicativo do celular e seguiu para a cozinha.
No caminho, passou a mão pela nuca, tentando despertar de vez. A cozinha era compacta, mas bem iluminada, e o cheiro suave do chá que ele preparara na noite anterior ainda pairava no ar. encheu um copo de água e tomou calmamente, como sempre fazia para hidratar o corpo antes do café da manhã.
Depois, preparou algo leve: uma torrada integral com um pouco de abacate amassado, uma pitada de sal e limão. Era o suficiente para garantir energia antes da caminhada. O café, sempre descafeinado e com adoçante, foi servido na caneca azul que sua irmã lhe dera de presente.
Comendo devagar, observou a janela em frente à mesa. Apesar do dia frio, o céu estava claro, e o sol tentava tímido aquecer a cidade. Pensou brevemente no trajeto da caminhada de hoje. Gostava de explorar diferentes ruas, mas sempre retornava aos mesmos lugares familiares – havia uma paz especial em ver as mesmas árvores, os mesmos rostos de vez em quando.
Depois de comer, foi até o quarto para trocar de roupa. Escolheu uma camiseta de manga longa ajustada ao corpo e uma calça de moletom confortável. Colocou um gorro preto para proteger as orelhas do frio e conferiu no celular o nível de açúcar novamente, garantindo que estava pronto para começar o dia sem surpresas.
Pegou a mochila pequena onde sempre carregava água, um lanchinho de emergência e o medidor de glicose, caso precisasse no meio do caminho. Checou tudo mais uma vez antes de sair.
Ao abrir a porta do apartamento, sentiu o frio do inverno tocar seu rosto, e uma sensação de renovação o envolveu. Era isso que mais gostava nas caminhadas matinais – a liberdade, a tranquilidade e a promessa de um novo começo a cada dia.
Com os fones no ouvido e a música baixa o suficiente para ainda ouvir os sons da cidade, ele deu os primeiros passos, seguindo a mesma rota que conhecia bem. Mal sabia ele que, naquela manhã, o caminho seria diferente – porque estava prestes a cruzar com alguém que tornaria sua rotina ainda mais especial.
trancou a porta de casa e verificou duas vezes se estava bem fechada – um hábito que nunca conseguia evitar. Com a bolsa a tiracolo e os fones ainda no pescoço, desceu os degraus do prédio com passos apressados, já sentindo o frio da manhã tocar seu rosto.
Seu carro estava estacionado na vaga habitual, com uma fina camada de gelo cobrindo os vidros. Ela suspirou, pegando o raspador no porta-malas para remover o gelo antes de poder sair. Enquanto fazia o trabalho meticuloso, notou como o silêncio da manhã parecia mais denso, quase como se a cidade ainda estivesse preguiçosa para despertar.
Depois de terminar, entrou no carro, esfregando as mãos para aquecê-las antes de ligar o motor. O rádio ligou automaticamente, tocando uma música suave de fundo, mas rapidamente o desligou, preferindo o som do silêncio e o ronco do motor.
Conferiu o horário no painel – tinha tempo suficiente para chegar ao parque antes de os primeiros corredores matinais começarem a encher o lugar. Aquilo era parte do que mais amava na rotina de caminhar: o momento em que a cidade ainda estava tranquila, onde ela podia sentir como se o mundo fosse só dela.
O trajeto até o parque não era longo, mas ela gostava de observar a cidade pelo caminho. As lojas com suas fachadas coloridas ainda fechadas, as poucas pessoas andando apressadas pelas calçadas, talvez atrasadas para o trabalho ou escola. Havia algo quase poético em ver Busan despertar aos poucos.
Quando chegou ao parque, estacionou perto de uma das entradas principais e desligou o carro. Observou a paisagem à frente enquanto retirava as chaves da ignição. Mesmo em pleno inverno, o parque mantinha uma beleza única. As árvores estavam despidas de folhas, mas ainda assim erguiam-se com imponência, criando um cenário sereno e convidativo.
Pegou a garrafa de água e colocou os fones de ouvido, ajustando a música para algo leve e animador. sempre começava a caminhada ouvindo suas playlists favoritas, mas eventualmente acabava tirando os fones para se perder nos sons naturais do parque: os pássaros, os passos suaves de outros visitantes, o vento leve balançando os galhos das árvores.
Ao cruzar os portões do parque, inspirou profundamente o ar frio e sorriu para si mesma. Esse era o momento que ela mais esperava do dia – o instante em que o mundo parecia se alinhar perfeitamente. Ajustando o relógio novamente para monitorar os passos e a distância percorrida, ela começou sua caminhada, sem imaginar que, naquela manhã, algo – ou alguém – cruzaria seu caminho de forma inesperada.
ajeitou o gorro mais uma vez antes de sair do prédio. O ar frio da manhã o envolveu imediatamente, fazendo-o esfregar as mãos para se aquecer. Ele gostava dessa sensação – o contraste entre o ar gelado e o calor que seu corpo produzia conforme caminhava.
Sua rotina normalmente começava com um trajeto a pé até o parque da cidade. Embora pudesse pegar o ônibus ou até dirigir, ele preferia sentir o chão sob os pés, o som das ruas e o movimento gradual da cidade ao seu redor. A caminhada até o parque era como um aquecimento para o que viria depois.
O caminho era familiar. Passava por uma padaria que sempre exalava o cheiro de pães recém-assados, fazendo seu estômago roncar levemente, mesmo depois do café da manhã. Sorriu ao ver o dono da loja limpando a calçada, como fazia todas as manhãs.
– Bom dia! – cumprimentou, erguendo a mão.
– Bom dia, ! Caminhada de sempre? – o senhor respondeu com um aceno amigável.
– Sempre – disse ele, continuando seu trajeto.
Enquanto caminhava, sentiu o celular vibrar no bolso e o pegou para verificar. Era uma notificação do aplicativo de controle de glicose, lembrando-o de fazer outra medição após o exercício. Ele sorriu de leve, sabendo que já estava preparado. Aquele tipo de cuidado fazia parte de sua vida, mas nunca o incomodara. Pelo contrário, ele o via como um lembrete constante de cuidar de si mesmo.
Ao se aproximar do parque, o cenário começou a mudar. As ruas movimentadas deram lugar a árvores altas e caminhos de pedras que conduziam à entrada principal. O parque era um dos lugares favoritos de – um refúgio no meio da cidade, onde ele podia se desconectar de tudo e apenas estar presente.
Chegando à entrada, parou por um momento, respirando fundo e enchendo os pulmões com o ar fresco. Estava mais frio do que de costume, mas ele sabia que logo o exercício o aqueceria. Começou a caminhar pelo parque, passando pelas trilhas já familiares, mas apreciando cada detalhe como se fosse a primeira vez.
Enquanto seguia pelo caminho principal, ouviu o som leve de passos mais à frente, ritmados e firmes. Ele não prestou muita atenção no início – o parque sempre tinha outros caminhantes pela manhã. Mas, por alguma razão, aquele som pareceu se destacar. continuou andando, sem saber que, em poucos minutos, cruzaria o caminho de alguém que mudaria sua rotina – e talvez até mais do que isso.
estava em seu ritmo habitual, com passos firmes e regulares, sentindo o corpo aquecer conforme se movia. O parque estava tranquilo naquela manhã, com poucas pessoas passando pelas trilhas. O som suave da música nos fones a ajudava a se manter focada, mas, de repente, sentiu algo estranho no pé.
A cada passo, um leve desconforto a incomodava. "Deve ser uma pedra," pensou, suspirando. Reduziu a velocidade até parar próximo a um banco de madeira. Retirou um dos fones de ouvido e se apoiou no banco para olhar a sola do tênis.
– Ah, ótimo – murmurou ao ver a pedra firmemente presa em uma das ranhuras do solado.
Ela tentou puxá-la com os dedos, mas a pedra parecia ter decidido ficar ali para sempre. Frustrada, começou a cutucar o solado com a unha, mas não adiantou muito.
Enquanto estava distraída com seu tênis, vinha caminhando pelo mesmo caminho. Ele já estava imerso na trilha, os passos constantes e a respiração controlada. Quando avistou parada e inclinada sobre o tênis, ele diminuiu o ritmo, observando a cena por um momento.
Ela parecia estar realmente concentrada no que fazia, mas também claramente frustrada. hesitou por um segundo, se perguntando se deveria oferecer ajuda. Decidiu que não custava nada perguntar.
— Está tudo bem? — sua voz soou suave, mas o suficiente para chamar a atenção de .
Ela levantou o olhar, um pouco surpresa, vendo o rapaz parado a poucos passos dela. Ele usava roupas esportivas e parecia ser mais alto do que ela imaginava à primeira vista.
— Ah, sim, tudo bem — respondeu, meio sem jeito. — Só... tem uma pedra presa aqui, e eu não consigo tirar.
sorriu levemente e deu um passo à frente.
— Posso ajudar?
hesitou por um instante, mas acabou assentindo.
— Claro, se não for incomodar…
Ele se abaixou, ficando de joelhos à sua frente, e pegou o tênis dela com cuidado. Observou a pedra presa na sola e puxou um pequeno canivete do bolso do moletom.
— Sempre trago isso comigo. Nunca se sabe quando vai precisar — explicou, abrindo o canivete.
sorriu, surpresa com a praticidade dele.
— Parece que você estava preparado para salvar o dia.
— Talvez seja sorte sua que eu passei por aqui — disse ele, em um tom descontraído, enquanto trabalhava para remover a pedra.
Depois de alguns segundos, ele conseguiu soltá-la, segurando o pequeno pedaço de pedra na mão antes de jogá-lo para o lado da trilha.
— Pronto, problema resolvido — disse, levantando-se e sorrindo.
— Obrigada – respondeu , ajustando o tênis no pé. — Eu provavelmente teria ficado aqui tentando por um bom tempo.
— Bom, agora você pode continuar sua caminhada sem desconforto – disse, enfiando o canivete de volta no bolso.
sorriu, estendendo a mão.
— Sou , aliás. Obrigada novamente.
Ele apertou a mão dela, o sorriso no rosto aumentando levemente.
— . Foi um prazer ajudar, .
Eles ficaram ali por um momento, ambos em silêncio, até que puxou os fones de ouvido de volta.
— Bem, nos vemos por aí, .
— Com certeza. Boa caminhada – respondeu ele, enquanto ambos retomavam seus caminhos, ainda sem saber que aquele pequeno encontro seria o primeiro de muitos.
Após o breve encontro, voltou a caminhar, ajustando os fones de ouvido e retomando seu ritmo habitual. Seus passos eram rápidos e firmes, aproveitando o frescor do ar e o som suave da música que preenchia seus ouvidos. O desconforto da pedra havia desaparecido, e agora ela podia se concentrar completamente na trilha, apreciando a vegetação que cercava o caminho e o leve movimento do parque.
Enquanto isso, seguiu em um ritmo mais calmo, com as mãos nos bolsos e o olhar vagando pelas árvores e pelos caminhos ao seu redor. Ele gostava de absorver cada detalhe, observando as folhas caindo e os pequenos esquilos que passavam correndo. Embora estivesse acostumado com aquele cenário, algo naquela manhã parecia diferente. Ele percebeu que, de tempos em tempos, seus pensamentos voltavam para e o breve encontro que haviam compartilhado.
Os dois seguiram suas rotinas de forma independente. completou sua volta habitual pelo parque, passando pelo pequeno lago onde algumas crianças jogavam migalhas de pão para os patos. , por sua vez, seguiu por uma trilha lateral que o levava a um ponto alto, onde ele gostava de parar por alguns minutos para contemplar a vista da cidade ao longe.
Quando concluiu sua caminhada, ela caminhou tranquilamente em direção à saída do parque, sentindo os músculos relaxados e o corpo aquecido pelo exercício. Ao se aproximar da porta, tirou os fones de ouvido, deixando o som ambiente ocupar o lugar da música.
Foi quando ela o viu novamente. vinha descendo pela trilha principal, com os passos largos e o olhar tranquilo. Ele parecia não tê-la notado de imediato, mas quando seus olhos se encontraram, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, e ele deu um aceno discreto com a cabeça.
— Oi de novo — disse , parando perto do portão.
— Parece que terminamos ao mesmo tempo — respondeu , parando ao lado dela.
olhou ao redor, notando o movimento tranquilo do parque àquela hora da manhã.
— Você sempre vem a essa hora? — perguntou, mais por curiosidade do que qualquer outra coisa.
— Quase sempre. Gosto de caminhar antes que o dia fique muito corrido — respondeu ele. — E você?
— É meio novo para mim. Comecei há algumas semanas. Acho que estou pegando o jeito — disse, sorrindo levemente.
Por um momento, o silêncio entre eles foi preenchido pelo som dos pássaros e do vento balançando as árvores. Era confortável, sem a necessidade de palavras para preenchê-lo.
— Bom, talvez nos encontremos mais vezes por aqui — disse, finalmente quebrando o silêncio.
— Talvez — respondeu , com um tom leve e descontraído.
Ambos seguiram em direções opostas: em direção ao estacionamento, onde seu carro a aguardava, e , caminhando de volta para casa. Mas, mesmo enquanto se afastavam, ambos não puderam deixar de sentir que aquele encontro matinal tinha sido especial – o tipo de momento que talvez pudesse mudar a rotina de suas caminhadas para sempre.
tinha sido contratado recentemente por uma pequena startup de tecnologia, focada em desenvolver aplicativos móveis para melhorar a acessibilidade digital, especialmente para pessoas com necessidades especiais. Seu cargo era de desenvolvedor de software, o que envolvia principalmente a programação de interfaces de usuário e a criação de sistemas que tornassem o uso de aplicativos mais intuitivo e acessível.
Embora fosse formado na área da tecnologia , essa nova oportunidade representava uma mudança significativa na sua carreira. Antes, ele trabalhava como freelancer, fazendo projetos pequenos para clientes diversos, mas a perspectiva de trabalhar em um time com uma missão tão nobre o havia atraído. Ele acreditava profundamente no impacto que a tecnologia poderia ter na vida das pessoas, e o fato de seu trabalho ser voltado para ajudar aqueles que enfrentam dificuldades no mundo digital era algo que realmente lhe dava propósito.
gostava do desafio de criar algo inovador. No seu trabalho diário, ele passava horas programando, testando funcionalidades, ajustando códigos e buscando sempre formas de melhorar a experiência do usuário. Embora a programação fosse um campo solitário, ele gostava da sensação de estar contribuindo para algo maior. As reuniões com os outros membros da equipe eram produtivas e rápidas, sem perder a qualidade do trabalho. Ele sentia que, aos poucos, estava se encaixando na dinâmica do lugar.
Mesmo sendo novo na empresa, já demonstrava grande potencial, impressionando seus colegas com a habilidade de resolver problemas técnicos de forma criativa. Ele não era de falar muito, mas suas contribuições sempre foram valiosas. E, mesmo nos primeiros dias, percebeu que, com seu trabalho, poderia realmente fazer a diferença.
Com um último bocejo, ele se levantou da cama e se dirigiu ao banheiro. O café da manhã seria simples, como sempre. Ele preferia não perder muito tempo com isso, até porque o trabalho exigia que estivesse sempre focado e com energia. Enquanto se preparava para o dia, uma pequena parte de sua mente se voltou à caminhada matinal no parque. O encontro casual com ) estava fresco em sua memória, como algo que ele ainda não sabia bem o que significava, mas que de alguma forma mexeu com ele.
Após o café, vestiu-se rapidamente com sua roupa casual de trabalho – algo confortável, mas ainda profissional. Ele conferiu novamente seu celular, observando as mensagens do grupo de trabalho e algumas notificações mais pessoais, mas nada que pudesse atrasá-lo. O trabalho seria intenso naquele dia, com algumas reuniões e tarefas de programação, então ele precisava estar preparado para os desafios.
Com a mochila nas costas e um café térmico em mãos, saiu de casa, pronto para mais um dia que, ele imaginava, seria como tantos outros. No entanto, o pensamento sobre pairava em sua mente, curioso sobre se a vida dele tomaria um rumo diferente de alguma maneira – ou se aquela caminhada matinal seria apenas uma memória passageira.
acariciou rapidamente a cabeça do felino depois de finalmente conseguir lhe aplicar a injeção e então virou-se para a dona do mesmo que a encarava, agora com um olhar mais tranquilo.
Ela suspirou levemente, satisfeita por ter conseguido. Sabia que alguns animais não reagiam bem a injeções, e aquele gato em particular havia se mostrado um pouco arredio no início, mas com paciência e delicadeza, ela conseguiu acalmá-lo o suficiente para concluir o procedimento sem maiores dificuldades.
— Pronto, foi rápido, né? Ele se comportou bem no final. — disse, sorrindo de forma profissional, enquanto retirava as luvas descartáveis e as jogava no lixo ao lado da bancada.
A mulher assentiu, aliviada.
— Sim… Ah, muito obrigada, doutora! Eu sempre fico nervosa quando preciso trazer o Jongi para tomar injeção. Ele odeia veterinários, mas você foi tão paciente… Acho que até ele percebeu.
sorriu, pegando a ficha do gato para anotar os últimos detalhes do atendimento.
— Às vezes, eles só precisam sentir que não vamos machucá-los de verdade. Mas ele está bem, não precisa se preocupar. Só fique atenta nos próximos dias para garantir que ele não tenha nenhuma reação à medicação.
A senhora pegou o gato nos braços, acariciando-o com ternura.
— Você realmente tem um jeito especial com os animais. Estou feliz por ter trazido ele aqui.
apenas sorriu, sentindo-se genuinamente satisfeita. A parte técnica do seu trabalho como veterinária sempre foi importante, mas eram momentos como aquele – ver a confiança das pessoas e o alívio por saberem que seus bichinhos estavam em boas mãos – que faziam tudo valer a pena.
Depois de se despedir da cliente e ver a mulher sair com Jongi devidamente acomodado na caixa de transporte, soltou um suspiro leve e voltou para a bancada para organizar os materiais usados. O dia ainda estava apenas começando, e ela sabia que muitas consultas ainda viriam, mas momentos como esse sempre a lembravam do porquê de ter escolhido aquela profissão.
O escritório da Neosync Tech era moderno, iluminado por grandes janelas que deixavam a luz natural entrar. O espaço era organizado em estações de trabalho abertas, promovendo colaboração entre os funcionários. gostava do ambiente: era silencioso o suficiente para que ele pudesse se concentrar, mas também dinâmico, com colegas sempre discutindo ideias e soluções inovadoras.
Assim que chegou, colocou sua mochila ao lado da mesa e ligou o computador. A primeira coisa que fez foi conectar-se ao sistema interno da empresa e abrir a agenda do dia. Havia uma reunião com a equipe de design para alinhar algumas mudanças na interface do aplicativo que estavam desenvolvendo. Antes disso, porém, precisava revisar algumas linhas de código e testar uma nova funcionalidade que havia programado na noite anterior.
Enquanto esperava o ambiente de testes carregar, pegou sua caneca de café e tomou um gole, sentindo o líquido quente lhe dar a energia necessária para o dia.
08:30 - Revisão de código
ajustou os óculos e começou a revisar o código-fonte da aplicação. Seu trabalho principal envolvia desenvolver interfaces acessíveis para usuários com dificuldades visuais e motoras, garantindo que o aplicativo funcionasse bem para todos. O desafio era tornar a navegação mais intuitiva, com comandos por voz e botões adaptáveis.
Ele rodou alguns testes, observando atentamente os logs no terminal. Pequenos erros de compatibilidade surgiam aqui e ali, mas nada que ele não pudesse corrigir rapidamente. Programação era assim: tentativa e erro, ajuste e recomeço.
10:00 - Reunião com a equipe
Assim que o horário da reunião chegou, se dirigiu à sala de conferências. Havia cerca de sete pessoas ali, incluindo designers e outros desenvolvedores. No telão, os wireframes da nova versão do aplicativo estavam expostos, e cada um discutia sua parte no projeto.
— Precisamos otimizar os botões de navegação para telas menores. Alguns usuários relataram dificuldade em acessá-los em celulares mais antigos — disse um dos designers.
— Eu posso ajustar isso no código e aumentar o tamanho das áreas clicáveis — sugeriu , anotando mentalmente o que precisava ser feito.
A conversa seguiu produtiva, e, ao final, ele saiu com uma lista de ajustes para implementar nas próximas horas.
11:30 - Programação e ajustes
De volta à sua mesa, mergulhou novamente no código. Ele gostava da lógica por trás da programação, da maneira como cada linha escrita fazia parte de algo maior. A cada ajuste que fazia, testava imediatamente, garantindo que tudo estivesse funcionando perfeitamente.
Enquanto trabalhava, percebeu uma notificação piscando no canto da tela. Era uma mensagem de um colega da equipe:
", você pode revisar essa função? Tá dando erro em alguns dispositivos."
Ele abriu o arquivo compartilhado e começou a analisar o problema, imerso no desafio.
O tempo passou rapidamente. Ele só percebeu que estava sentado há tempo demais quando sentiu uma leve rigidez nas costas. Esticou os braços, tirou os óculos e esfregou os olhos por um instante. Seu dia ainda estava longe de terminar, mas ele gostava daquela rotina. Era cansativo, sim, mas no fundo, sabia que estava contribuindo para algo importante.
E, entre uma linha de código e outra, vez ou outra, sua mente voltava para aquela manhã no parque. Para a garota que conheceu. .
Ele ainda não sabia por que aquele encontro breve o marcou tanto, mas talvez descobrisse com o tempo.
A clínica veterinária onde trabalhava não era muito grande, mas era bem equipada e sempre movimentada. Logo que terminou o atendimento do gato siamês, ela foi até a pia para lavar as mãos e pegou sua prancheta para checar a agenda do dia. Consultas, vacinas, exames de rotina e até uma pequena cirurgia estavam programadas. Como sempre, não teria um minuto de descanso.
08:30 - Atendimento de rotina
A primeira consulta da manhã era com um golden retriever chamado Max. Ele estava ali para um check-up geral e, assim que entrou na sala, abanou o rabo animadamente. se abaixou para cumprimentá-lo, passando a mão pelo pelo dourado do cão.
— Bom dia, Max! Como você está hoje? — disse ela, enquanto o cachorro lambia sua mão.
O dono riu, segurando firme a coleira.
— Ele adora vir aqui. Acho que sabe que você sempre dá petiscos no final da consulta.
sorriu. Ela tinha esse hábito, e sabia que fazia diferença na experiência dos animais. Durante a consulta, verificou os olhos, os ouvidos, os dentes e auscultou o coração do golden, anotando tudo com atenção. Felizmente, Max estava saudável.
— Tudo certo com ele! Apenas continue com a alimentação balanceada e bastante exercício — explicou, anotando as últimas observações.
Depois de receber um petisco e um carinho extra, Max saiu da sala com o dono, animado como sempre.
10:00 - Exames em um gato idoso
O próximo paciente era um gato idoso chamado Oliver. Ele vinha apresentando fadiga e perda de apetite, então seria necessário fazer alguns exames.
— Ele tem dormido o dia todo e quase não quer comer — explicou a dona, preocupada.
pegou Oliver com cuidado, sentindo o corpinho magro nos braços.
— Vamos fazer um exame de sangue e um ultrassom, só para garantir que está tudo bem. Mas fique tranquila, vamos cuidar bem dele — disse com um tom tranquilizador.
Após colher o sangue e iniciar os exames, fez carinho no felino, tentando acalmá-lo. Enquanto esperava os primeiros resultados saírem, ela organizou os papéis e preparou os próximos atendimentos.
12:00 - Pequena cirurgia
No início da tarde, foi até a sala de cirurgia para um procedimento simples: a remoção de um pequeno tumor benigno em uma cadela idosa chamada Lua. O veterinário cirurgião da clínica conduziria o procedimento, mas ficaria responsável pelo monitoramento e pela aplicação da anestesia.
Com os equipamentos preparados e a cadela sedada, ela acompanhou cada detalhe, verificando os sinais vitais e garantindo que tudo ocorresse conforme o esperado. Após a retirada do tumor e a sutura, a cirurgia terminou sem complicações.
— Ela vai se recuperar bem. Só precisará de repouso e acompanhamento nos próximos dias — explicou à dona de Lua, que aguardava ansiosa.
A mulher sorriu aliviada, agradecendo várias vezes.
14:30 - Momento de pausa
Depois de várias horas seguidas de trabalho, finalmente conseguiu um tempinho para respirar. Foi até a sala dos funcionários, pegou uma garrafa de água e se sentou por alguns minutos.
Enquanto bebia, seu olhar vagou para o celular. Seu dia tinha sido tão corrido que ainda não tinha parado para pensar no encontro daquela manhã. .
Ele apareceu em sua mente por um instante – o jeito tranquilo, a forma como a ajudou com o tênis, a conversa breve, mas surpreendentemente natural. Ela se perguntou se voltaria a vê-lo.
Mas, antes que pudesse pensar muito sobre isso, ouviu seu nome ser chamado. Mais um paciente a aguardava, e ela sabia que ainda teria muito trabalho até o fim do dia.
Com um último gole de água, se levantou e seguiu para mais uma consulta, deixando a lembrança daquele encontro guardada em algum canto da mente, sem saber que, mais cedo do que imaginava, seus caminhos voltariam a se cruzar.
Fez um rabo de cavalo no alto da cabeça e sentou-se na beirada da cama para calçar o tênis. Assim que o fez, colocou o relógio no pulso e conferiu a pochete, tudo estava lá: as chaves do apartamento, o celular, documentos e o celular.
Fechou a janela do quarto e saiu dele logo em seguida. Adentrou a cozinha e pegou sua garrafa de água, logo em seguida pegou os fones sobre o balcão e terminou de fechar o lugar. Quando o fez, sentiu-se pronta para começar sua caminhada.
Durante o caminho para o parque, é claro que ela pensou em … Será que ele só fazia as caminhadas de manhã? Ou ele variava os horários, que nem ela?
O que será que ele fazia da vida? Ele tinha uma cara de ser tão novinho ainda… bom, ela também era considerada jovem. Vinte e quatro anos era jovem?
riu alto com próprio pensamento e então balançou a cabeça em negativa. Aquilo havia sido só uma bela coincidência, certo? Aquele encontro no parque, ela precisar de ajuda e ele estar preparado para ajudar…
ajeitou o volante com uma das mãos enquanto a outra aumentava um pouco o volume da música no carro. O pensamento ainda girava em torno de .
Coincidências aconteciam o tempo todo, certo? Mas… e se não fosse só coincidência?
Ela sempre acreditou que a vida era feita de encontros inesperados, que certas pessoas cruzavam nosso caminho por algum motivo, mesmo que a gente não soubesse qual. Talvez fosse só alguém que apareceu por acaso naquela manhã e pronto. Mas talvez, só talvez, havia algo a mais naquela coincidência.
Ele tinha aparecido justamente quando ela precisava de ajuda. Não que fosse algo grandioso, mas ainda assim… ela teria conseguido se livrar da pedra sozinha, eventualmente. No entanto, simplesmente apareceu, como se o universo tivesse decidido tornar aquele momento mais fácil para ela.
E não era só isso. A interação entre eles foi tão natural. Não parecia aquele tipo de conversa forçada entre estranhos, em que cada um tenta preencher o silêncio com palavras vazias. Tinha sido leve, fácil… até gostoso.
Ela riu baixo de novo.
— Eu tô mesmo pensando nisso como se fosse um sinal? — murmurou para si mesma, revirando os olhos.
Mas quem podia culpá-la? A vida era feita de encontros e desencontros. E ela não se importaria nem um pouco se o destino decidisse fazer com que os caminhos dela e de se cruzassem mais uma vez.
ajeitou o fone nos ouvidos assim que entrou no parque, e começou a procurar por alguma playlist interessante, já que estava cansado da própria.
Foi quando ele sentiu um leve toque em suas costas, o que fez com que ele girasse em volta do próprio corpo, para encarar a pessoa. Seus olhos se arregalaram levemente, surpreso por ver quem era. Mas era uma surpresa boa… ele queria vê-la de novo.
— Ah! Ainda bem que é você mesmo! Fiquei morrendo de medo de ter cutucado a pessoa errada. , não é?
tirou um dos fones, um sorriso surgindo automaticamente nos lábios ao reconhecer ali, de pé na sua frente, com a respiração um pouco acelerada, provavelmente por já ter começado sua caminhada.
— Sim, — confirmou, ainda um pouco surpreso. — E você é… , certo?
Ela assentiu com um sorriso satisfeito.
— Isso mesmo! — respondeu, cruzando os braços. — Eu te vi de longe e fiquei na dúvida se era você ou não, mas resolvi arriscar.
riu baixo.
— Bom, fico feliz que tenha arriscado.
ergueu uma sobrancelha, divertida.
— Ah, é?
Ele coçou a nuca, um tanto sem jeito, mas ainda sorrindo.
— Sim. Não esperava te encontrar aqui de novo, mas… que coincidência, não?
Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.
— Coincidência… ou destino?
piscou, surpreso com a pergunta.
— Você acredita nisso?
deu de ombros, olhando para o parque ao redor.
— Não sei. Mas sei que algumas coincidências parecem boas demais para serem só obra do acaso.
Ele a observou por um instante, absorvendo suas palavras. Era verdade. Algumas coincidências tinham um jeito engraçado de parecerem planejadas.
— Bom… se for destino, então acho que a gente devia aproveitar, né?
sorriu.
— Concordo.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas se encarando, até que apontou com a cabeça para a trilha que se estendia à frente.
— Quer caminhar comigo hoje?
hesitou por um instante, então sorriu e assentiu.
— Claro.
E então, lado a lado, os dois começaram a caminhar, sem pressa, sem expectativas, apenas deixando que aquela coincidência – ou destino – os guiasse para onde quer que fosse.
Nenhum dos dois parecia com pressa. A caminhada tinha perdido o propósito inicial de exercício físico e ganhado outro tom — o de descoberta.
— Você sempre vem nesse horário? — quebrou o silêncio, virando levemente o rosto para ele.
— Geralmente sim. É quando minha cabeça está mais limpa… antes do mundo começar a gritar. — Ele sorriu de canto. — E você?
— Na verdade, eu alterno bastante. Às vezes venho de manhã, às vezes no fim da tarde. Depende dos plantões.
— Plantões? — ele perguntou, curioso.
— Sou veterinária. Trabalho numa clínica perto do centro.
— Veterinária? — arqueou as sobrancelhas, genuinamente impressionado. — Nossa… é uma profissão linda, mas também bem difícil, né?
assentiu, com um olhar compreensivo.
— É. Tem dias que são bem puxados, especialmente quando os casos são mais delicados… mas, no fim, vale a pena. Eu não me vejo fazendo outra coisa.
— Imagino — disse ele, pensativo. — Deve ser emocionante ver a recuperação de um animal depois de cuidar dele… e também complicado quando não dá pra fazer muito.
— Exatamente — ela respondeu, tocando rapidamente o elástico do rabo de cavalo como quem reorganiza os pensamentos. — A gente se apega, sabe? Mesmo quando tenta manter uma certa distância profissional.
olhou para ela, admirado.
— Você parece realmente amar o que faz.
sorriu, sincera.
— Amo mesmo. E você? O que faz da vida? — perguntou, com o tom leve de quem realmente quer saber.
— Eu trabalho com tecnologia — respondeu ele, um pouco tímido. — Sou desenvolvedor de software numa startup. A gente cria aplicativos voltados pra acessibilidade, sabe? Pra ajudar pessoas com deficiência a navegar melhor no ambiente digital.
— Uau — disse, surpresa. — Isso é incrível. Sério. Nunca conheci ninguém que trabalhasse com algo assim.
deu um sorriso contido, meio envergonhado.
— Às vezes é complicado explicar o que faço, então fico feliz que você tenha entendido de primeira.
— Eu posso não saber programar, mas entendo quando algo é importante. E isso que você faz é.
a olhou de lado, e por um segundo, o silêncio entre eles disse mais do que qualquer palavra.
— Acho que a gente tem mais em comum do que parece — comentou ele, quase como um pensamento em voz alta.
sorriu, e pela primeira vez, sentiu que aquela caminhada estava realmente indo além do trajeto habitual.
Eles seguiram pelo caminho de pedras que contornava o lago, agora caminhando em um ritmo sincronizado, como se estivessem acostumados a andar juntos. chutava levemente as folhas secas que encontrava pelo chão, enquanto mantinha as mãos no bolso do moletom, os ombros relaxados.
— E o que você faz quando não está trabalhando ou caminhando por aí? — ela perguntou, lançando-lhe um olhar curioso.
— Hum… boa pergunta — ele respondeu, pensativo. — Eu gosto de fotografar. Não profissionalmente nem nada. É mais um hobby mesmo. Tenho uma câmera antiga que carrego de vez em quando. Gosto de capturar coisas do cotidiano. Momentos simples, sabe?
— Que coincidência — sorriu. — Eu também gosto de registrar momentos, mas com palavras. Tenho um caderno onde escrevo desde a adolescência. Às vezes é diário, às vezes são pensamentos soltos, ou histórias que invento.
a olhou com interesse renovado.
— Então você escreve?
— Escrevo, mas sem grandes pretensões. É mais como uma forma de aliviar a cabeça… colocar o que sinto pra fora quando as palavras não cabem só dentro de mim.
— Isso é muito legal. Acho que todo mundo devia ter um jeito de se expressar assim.
— Concordo — ela respondeu, sorrindo. — E fotografia é a mesma coisa, né? Um jeito de enxergar o mundo sob outra perspectiva.
— Exatamente — ele assentiu. — Acho que a gente tem isso em comum: observar.
franziu levemente os olhos, como se processasse aquilo.
— Pode ser… talvez a gente goste de ver beleza onde os outros só passam batido.
sorriu com a observação, e mais uma vez, o silêncio confortável entre eles se instalou.
Mais adiante, passaram por um casal de idosos sentados em um banco, de mãos dadas. olhou para a cena e sorriu com ternura.
— Tem algo de bonito em pessoas que escolhem ficar — comentou. — Que continuam caminhando lado a lado, mesmo depois de tanto tempo.
seguiu o olhar dela e concordou.
— Bonito e raro.
Ela o olhou rapidamente.
— Você é do tipo que acredita em relações duradouras?
Ele pensou por um segundo antes de responder, com honestidade.
— Sim. Acredito. Mas acho que elas só funcionam quando duas pessoas realmente se enxergam. Não só na parte boa, mas também nas dificuldades, nas manias, nas falhas.
mordeu o lábio, refletindo.
— Isso faz sentido. Acho que… só agora, aos poucos, estou aprendendo a me deixar enxergar de verdade.
Os olhos de encontraram os dela. E havia ali uma troca silenciosa, como se se reconhecessem nesse ponto. Como se aquele momento — tão simples e cotidiano — carregasse algo especial.
— Você é fácil de conversar — ele disse, quase sem pensar.
riu, um pouco tímida.
— Você também.
E assim, entre confidências leves e passos tranquilos, a caminhada continuou. E, com ela, crescia algo sutil — como uma semente sendo plantada sem pressa, mas com a promessa de florescer.
O céu já estava escuro quando chegaram perto da saída do parque. Os postes acesos lançavam uma luz amarelada e suave sobre o caminho de pedras, e o frio da noite começava a apertar, especialmente com o vento cortando entre as árvores. cruzou os braços, tentando conter o arrepio, mas com um sorriso no rosto.
— Foi uma boa caminhada — disse, parando perto do portão de saída. — Mais tranquila do que de manhã, mas ainda assim… boa companhia faz diferença.
sorriu de volta, mas havia algo em seu olhar. Ele parecia mais quieto do que antes, como se estivesse concentrado demais em manter o corpo estável. O sorriso não alcançava os olhos.
— É… foi sim — respondeu ele, com a voz um pouco baixa, rouca.
franziu o cenho, observando o modo como ele passou a mão pela testa, como se tentasse afastar uma tontura. E então, ela viu: o jeito como ele vacilou, um passo mais lento, os ombros caídos.
— ? — ela se aproximou, instintivamente — Tá tudo bem?
Ele hesitou por um instante, como se não quisesse causar alarde.
— Minha glicose… acho que caiu demais. Às vezes acontece quando passo do tempo… e com o frio — disse, parando e apoiando uma das mãos no tronco de uma árvore próxima.
não pensou duas vezes. Segurou ele com delicadeza pelo braço e o guiou até um banco mais próximo, debaixo da luz do poste.
— Você tem sua insulina? Algum doce? — perguntou, já abrindo a pequena mochila que ele carregava.
— Tem… tem um sachê de glicose e o medidor na parte da frente… — ele respondeu com esforço.
achou rapidamente o sachê e o abriu por ele, entregando em seguida.
— Aqui, toma. Devagar. Fica tranquilo, eu tô aqui.
Ele aceitou, bebendo o conteúdo docemente espesso enquanto respirava fundo, com os olhos fechados. Ela sentou ao lado dele, atenta a cada mínimo sinal de melhora.
— Foi só uma queda? — ela perguntou depois de um tempo, num tom calmo e sereno.
— Uhum… acontece às vezes quando deixo passar muito tempo entre as refeições… e quando me distraio, como hoje — murmurou, abrindo os olhos devagar.
— Distraído comigo? — ela brincou, sorrindo de leve, tentando aliviar o clima.
riu fraco, mas com sinceridade.
— Um pouco, talvez.
O silêncio se instalou por alguns minutos, mas era um silêncio confortável. Aos poucos, a respiração dele foi voltando ao normal e a cor de seu rosto também.
— Você quer que eu te leve pra casa? — ela perguntou, se levantando um pouco, ainda com o olhar preocupado.
— Não precisa — ele respondeu, se sentando com mais firmeza agora. — Já tô melhor. Prometo. Mas… posso te mandar uma mensagem quando eu chegar, só pra você saber que deu tudo certo?
— Eu ia te obrigar, de qualquer forma — ela respondeu, sorrindo com doçura.
Ele assentiu, os olhos agora mais calmos, e ficaram ali por mais um instante, apenas ouvindo o som leve das folhas sendo levadas pelo vento.
— Obrigado por ter ficado — ele disse, baixinho.
— Você teria feito o mesmo — respondeu ela, com convicção.
E então, quando finalmente se levantou, já com a cor mais viva no rosto e a respiração estabilizada, puxou o celular do bolso da pochete.
— Antes de você ir... me passa seu número? Para você me avisar que chegou bem — disse, tentando soar casual, mas com os olhos ainda cheios de cuidado.
sorriu, tirando o próprio celular do bolso.
— Claro. E assim fica mais fácil da gente combinar outras caminhadas também, né?
digitou o número dele e salvou com o nome " - parque". Ele fez o mesmo, sorrindo ao digitar “ (socorro do tênis e da glicose)” como contato, o que a fez rir.
— Criativo — comentou ela, balançando a cabeça.
— Memorável — ele piscou, brincalhão.
Já mais tranquilo, ele ajeitou o moletom e olhou para a saída do parque, onde a rua se estendia iluminada pelos postes amarelos. A brisa noturna ainda estava presente, mas menos cortante.
— Eu vou indo, então. Prometo mandar mensagem quando chegar, tá?
— Vou esperar — ela respondeu, sincera.
— Obrigado por hoje. Sério.
— Foi só uma coincidência — ela disse, sorrindo de canto — ou destino, lembra?
— Tô começando a achar que foi destino mesmo — murmurou ele, mais para si do que para ela.
Eles se olharam por mais um instante, como se quisessem gravar aquele momento, e então, finalmente, começou a caminhar devagar pela calçada, ainda sob o efeito da glicose recém-tomada, mas bem melhor.
ficou parada por alguns segundos, observando até que ele desaparecesse entre as luzes e as árvores ao longe. O coração ainda acelerado — não só pelo susto, mas pela sensação quase inegável de que aquele simples encontro… já começava a se transformar em algo que ela não sabia explicar, mas queria descobrir.
deixou o parque com passos lentos, o frio da noite envolvendo seu corpo enquanto ela puxava o zíper do casaco até o queixo. As ruas ao redor estavam tranquilas, como se a cidade também estivesse respirando devagar. Ela cruzou a entrada do bairro e seguiu pela calçada iluminada por postes amarelados, já conhecendo o caminho de cor — só alguns quarteirões até seu prédio.
O silêncio da volta permitia que os pensamentos ganhassem mais espaço. E, inevitavelmente, todos eles voltavam para .
Ela desviou de uma poça d’água e sorriu sozinha, lembrando da expressão surpresa dele quando ela o cutucou nas costas mais cedo. Tinha algo quase cômico na situação, e ao mesmo tempo… profundamente simbólico. Ela tinha ido até ele — sem saber exatamente por quê. Só sentiu vontade.
E agora, estava voltando para casa com o coração acelerado, não mais pela caminhada, mas pelo que tinha acontecido depois.
A queda de glicose, o susto, a forma como ele tentou se manter firme, e como, mesmo assim, permitiu que ela cuidasse dele. não sabia exatamente o que era aquilo, mas sentia que havia algo especial no modo como o olhar dele a procurou quando se sentou no banco, vulnerável. Não era comum se conectar com alguém assim, tão rápido.
Ela chegou na frente do prédio, digitou o código do portão e subiu as escadas devagar. Já no apartamento, tirou o casaco, prendeu o cabelo em um coque frouxo e foi até a cozinha no escuro, guiada apenas pela luz suave da rua que atravessava a cortina.
Abriu a geladeira, pegou uma garrafa de água e apoiou os cotovelos no balcão. O celular ainda estava no bolso da pochete, e ela o pegou quase sem pensar. Abriu a tela. Nenhuma nova notificação.
Mas ela sorriu mesmo assim.
Ia esperar. E pela primeira vez em muito tempo, não se importava em esperar por alguém.
Do outro lado da cidade, entrou em casa tirando os tênis com certa dificuldade — o corpo ainda sentia os efeitos da hipoglicemia, mas já estava estável. Jogou a mochila no sofá, deixou o casaco cair numa cadeira e foi direto à cozinha, onde pegou um copo d’água e bebeu de uma vez só.
Apoiou-se na pia por um momento, respirando fundo. O silêncio do apartamento era familiar, quase confortável, mas naquela noite… parecia vazio.
Ele pegou o celular, hesitou, mas acabou abrindo a conversa com o número recém-salvo.
“ (socorro do tênis e da glicose)”
Sorriu ao ler aquilo. A presença dela tinha sido inesperada, mas incrivelmente natural. Ela sabia o que fazer, agiu com calma, sem exagero. Foi rápida, presente. E ela ficou.
começou a digitar:
"Cheguei bem. Ainda meio zonzo, mas vivo. Obrigado por cuidar de mim."
Apagou.
Recomeçou.
"Oi. Já tô em casa. Tô bem agora. Obrigado por ter ficado."
Leu, releu… e enviou.
Sentou-se no sofá, apoiando a cabeça no encosto. Estava cansado, sim, mas o cansaço não era o centro dos seus pensamentos.
Era ela.
A forma como o olhou preocupada. O toque leve no braço. O sorriso antes da despedida. Tudo muito simples. Tudo muito inesperado.
Mas tudo nele dizia que aquilo — ela — não era só mais uma coincidência qualquer.