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— Argh, mas que caralho! — Bufei jogando as mãos para o alto. — Motorista filho da puta, não é porque já tem quatro ônibus no ponto que você não precisa parar.
Sabe que eu posso resolver, não sabe? — perguntou, achando graça na minha situação.
Não quero, cala a boca, . Ainda dá tempo de pegar o metrô — respondi, andando irritada até a ladeira que levava à estação. apenas observou, se divertindo com a minha desgraça, como sempre.
Cheguei no trabalho faltando exatamente um minuto para o meu horário, ofegando por ter subido as escadas correndo. se apoiou no batente, cruzando os braços sobre o peito largo e rindo da minha cara. Tinha se tornado uma ocorrência comum desde a entrada dele na minha vida.
— Mulher, calma, tá tudo bem? — perguntou uma das minhas colegas de trabalho.
— Motorista não parou. Tive que correr pro metrô — expliquei, já indo em direção à escada. — Algum deles já chegou?
— Só a Laura.
— Beleza.
Subi até a sala de aula, pegando o livro no caminho e ignorando vindo atrás de mim.
— Bom dia, Laurinha.
— Bom dia, teacher!
Bom dia, teacher imitou, fazendo voz fina para tirar sarro da criança. Resisti a vontade de revirar os olhos para ele.
— Hoje a gente tem projeto, tá animada?
— Não vem mais ninguém?
— Eles já devem estar chegando.
Comecei a aula, o resto dos alunos chegando aos poucos. Não tive nenhum outro problema até uma das aulas da tarde, mesmo com ali tentando de todas as formas me irritar.
— Bora Bill! — exclamou um dos adolescentes, e os quatro explodiram em gargalhadas.
Respirei fundo, tentando conter a irritação por ter sido interrompida.
— Como eu tava falando…
Nossa, como você adora essa turma. Eu podia resolver…
, cala a boca e para de me distrair — retruquei. — … a estrutura do first conditional é essa aqui. Vocês entenderam?
Você tá se distraindo sozinha com o seu amor por esses adolescentes. Eu só to oferecendo uma solução. — Ele deu de ombros, apoiando os pés na cadeira ao lado da que estava sentado.
Não preciso que você se meta, preciso que fique quieto.
— Se você diz…
Maldito dia que resolvi fazer aquele ritual.

Três semanas antes…

Suspirei exausta, encarando a pilha de lições de casa a corrigir de um lado e a de boletos do outro, e apoiei a testa nos braços. Eu só queria jogar tudo pra cima.
, eu vi esse ritual de manifestação aqui no TikTok. Os comentários tem um monte de gente falando que deu certo, olha. Mal não vai fazer.
Lembrei da minha amiga comentando. Suspirei.
— Ah, foda-se.
Abri o celular, pegando o vídeo salvo, e comecei a buscar os ingredientes pela casa. Velas, ervas, sal, giz pra desenhar na mesa… assim que juntei tudo, apaguei as luzes da casa e fui até meu quarto, limpando tudo da minha escrivaninha e começando a posicionar tudo seguindo as instruções do vídeo.
Uma vez que tudo estava no lugar, comecei a acender as velas, cantarolando um ritmo qualquer e mentalizando meus problemas se resolvendo. Respirei fundo, continuando a cantarolar e mentalizar, até um vento vir do nada – todas as janelas e portas estavam fechadas – e varrer o quarto, mas não apagou nenhuma das velas. Franzi o cenho confusa, e olhei ao redor. Quando meus olhos pousaram outra vez no ritual, havia uma fumaça escura dentro do símbolo que eu havia desenhado com sal. Ela flutuou ao meu redor, bloqueando a minha visão, e, quando sumiu, as velas estavam apagadas.
— Mas ué?
Ué mesmo — respondeu uma voz grossa atrás de mim.
Me virei rápido, dando de cara com um demônio. Literalmente, um demônio. Chifres, uma cauda, olhos inteiros pretos…
Ele me ofereceu um sorriso de canto.
Prazer, meu nome é . Agora, o que você tem a me pedir em troca da sua alma?


Meses. Fazia meses que eu não conseguia me livrar de . Eu tinha invocado ele sem querer lá no começo de novembro, sobrevivido a ele do meu lado durante o fim do semestre, as festas de fim de ano e o recomeço das aulas.
Minha habilidade de fazer tudo enquanto ignorava os comentários sarcásticos dele tinha se tornado impressionante, a maior dificuldade era saber que ele estava lá o tempo todo. Isso significava que a minha vida amorosa, que já era quase inexistente antes, simplesmente tinha evaporado. Não tinha como eu cogitar fazer qualquer coisa sabendo que estaria assistindo. Não só assistindo, mas comentando e tentando me tirar do sério.
Ele meio que tinha desistido de me convencer a vender a alma para ele. Acho que percebeu que não ia acontecer.

Por que você só não vai embora? Segue pra próxima venda ou sei lá, volta pro lugar de onde veio? — perguntei um dia.
— Não posso. — Ele deu de ombros. — Você me invocou, eu só posso ir embora quando houver uma troca. Sem contrato, você continua sendo agraciada com a minha presença, princesa. — ofereceu o sorrisinho que sabia que mais me irritava, passando os dedos em um carinho na minha bochecha e ganhando um revirar de olhos e um empurrão.


Então é, ele tinha desistido de conseguir a minha alma e eu tinha desistido de me livrar dele. Pelo menos até eu pensar em alguma troca alternativa.
Mas a convivência estava mais "fácil" também, a gente tinha encontrado uma rotina e um certo nível de limite. E eu tinha aprendido a manter uma conversa mental com ao mesmo tempo que uma conversa em voz alta com outras pessoas. E a gente conseguiu descobrir que não, o ritual do TikTok não era uma invocação, mas eu tinha errado os símbolos que desenhei e sai cantarolando, então a culpa disso era toda minha. Era tudo bem frustrante.
— Não me surpreende que você tenha me invocado — comentou, se jogando no sofá ao meu lado.
Era sexta à noite, pré-carnaval, e eu estava assistindo um filme qualquer. Revirei os olhos e deixei a cabeça pender para trás.
— Pensei que a gente já tinha estabelecido que eu não fiz de propósito.
— Não fez, mas se a sua energia não estivesse tão desesperada, eu teria dado com a cara na porta. — Cutucou ele, divertido. Suspirei.
— Ta, me conta então, . Por que não te surpreende?
— Bom, a sua vida não é exatamente boa, né? — Arqueei uma sobrancelha, esperando os insultos. Eu ainda estava tentando decidir o que era pior: ou alguns dos meus alunos adolescentes. — Você tem um salário ridículo por um emprego que, no mínimo, te estressa pra caralho, mesmo que goste do que faz. — Começou a listar, erguendo dois dedos. — Não tem tempo direito pra manter um hobby. Seus poucos amigos, você quase não consegue ver. Eu não te vi nem mencionar nenhum tipo de relacionamento desde que me invocou, e a última vez que chegou perto de qualquer prazer foi na minha primeira semana aqui, quando ainda não tinha entendido que eu não ia embora mesmo que estivesse fora da sua vista e foi se masturbar.
A essa altura, ele tinha seis dedos erguidos e um sorriso que deixava à mostra os dentes um pouco mais afiados que o normal, puro deboche. Revirei os olhos outra vez, sentindo as bochechas esquentarem de leve com a última parte.
— Puta que pariu, . Vai dizer que eu sou feia e burra também? — retruquei.
Metade do meu incômodo era que ele estava certo. Sobre tudo que tinha mencionado. Me levantei do sofá, seguindo para o quarto para dormir.
— Por que eu diria isso? — perguntou me seguindo, o tom genuinamente curioso.
— É só o que falta você pisotear, minha auto-estima. — Me virei, pronta para bater à porta do quarto na cara dele. — Amanhã eu vou pra um bloco com as minhas amigas. Me deixa aproveitar, já que a minha vida é tão patética.
… — se inclinou na minha direção, franzindo o cenho por um instante antes de abrir um sorriso provocante e torcer uma mecha do meu cabelo entre os dedos, seu olhar percorrendo o meu rosto. Encarei de volta com raiva, sem me abalar com a proximidade, mesmo quando ele chegou ainda mais perto e pude sentir sua respiração na minha pele. — Por que eu mentiria? — sussurrou, mas, antes que eu pudesse sequer absorver suas palavras, ele se afastou e saiu andando de volta para a sala. — Divirta-se amanhã.
Fechei a porta e fui pisando duro até a cama. Eu já estava trocada e debaixo das cobertas quando entendi o que a pergunta dele significava: por que eu mentiria dizendo que você é feia e burra? Aquilo me deixou ainda mais incomodada do que todo o resto. Desde quando me elogiava?

***

Ele não estava lá na manhã seguinte quando eu saí do quarto depois de uma noite bem mal-dormida. Na verdade, ele só apareceu quando eu estava quase saindo de casa.
— Bom dia.
Ignorei seu olhar me percorrendo de cima a baixo.
— Por favor, , só me deixa curtir o meu carnaval. Um dia, é só o que eu to pedindo.
— Eu disse ontem pra você aproveitar — respondeu erguendo as mãos em rendição. — Só vim dar bom dia antes de você sair, calma. Vou ficar fora do seu caminho.
Eu não esperava que fosse tão fácil assim. Passei uns dois segundos tentando processar.
— Ah. Ta, então. Valeu. Até mais tarde.
Só peguei seu sorrisinho por meio segundo enquanto me virava para sair.
— Mas essa fantasia? Sério? Assim você me ofende, princesa.
Eu estava com um body branco e uma saia de tule combinando, mas tinha um par de asas nas costas e uma tiara com uma auréola, o que completava a fantasia de anjo. Revirei os olhos e ergui o dedo do meio para ele sem nem me virar, fechando a porta atrás de mim ao som da sua risada.

***

Eu sabia que ele ia aparecer em algum momento. havia explicado que, por mais que adorasse sim me atormentar, não era por isso que não me deixava sozinha. Ele literalmente não podia ficar mais longe que alguns metros de mim por mais que uma hora, mais ou menos, até que fechássemos o contrato. Eu só não achava que não seria a única pra quem ele ia aparecer.
— Nossa!
— Que foi? — perguntei, vendo a expressão surpresa de Mari, uma das amigas que tinha vindo para o bloco comigo.
Àquela altura, algumas latas de cerveja e bebidas de qualidade duvidosa depois, nenhuma de nós estava mais sóbria, mas estávamos nos divertindo, dançando, e até flertando com algumas pessoas ao nosso redor. Era exatamente o que eu precisava, algumas horas para esquecer os problemas, o trabalho, e .
— Tem um cara lindo encarando você ali atrás. Alto, cabelo escuro, blusa preta, parece que ta sozinho. — Descreveu, apontando de forma discreta. Virei um pouco a cabeça, vendo na direção que ela indicava e ignorando, até as próximas palavras saírem da boca dela: — Aquele ali com os chifres de demônio e lente preta.
Eu travei. Juro que travei. Meu olhar passou por toda a multidão ao nosso redor, mas não tinha mais ninguém com chifres por perto. encontrou meu olhar e me lançou o mesmo sorrisinho provocante de sempre.
, que porra é essa? — perguntei mentalmente, torcendo muito pra ter entendido errado.
Você parecia tão animada pra isso aqui, eu quis me divertir também.
— ESSE TEMPO TODO VOCÊ PODIA TER FICADO VISÍVEL PROS OUTROS?!

O sorriso dele se alargou e ele me lançou uma piscadinha antes de virar e sair andando pelo meio da multidão.
Podia, mas não consigo mudar minha aparência. Ia causar problemas pra mim.
— Aah, ele ta indo embora!
— Deixa, quem vem pro bloquinho de lente? — respondi, dando de ombros. Na verdade, saber que esse tempo todo eu podia ter explicado para alguém, qualquer um, a verdade sobre e ter provas, eu estava puta com ele. Mas respirei fundo e me forcei a ignorar por enquanto, porque eu não ia deixá-lo estragar meu dia.
Exceto que não sumiu. Na verdade, ele continuava aparecendo a cada poucos minutos em algum lugar ao nosso redor. Não só isso, claro que não.
Algum tempo depois, acho que uma hora ou coisa assim, um cara chegou em mim. Ele era bonitinho, estava vestido de deus grego, e ficou me olhando uns bons minutos antes de se aproximar. Disse oi, perguntou meu nome, me elogiou… e aí, quando ele ia me beijar, esbarrou “sem querer” nele com tanta força que quase derrubou o cara no chão. E aí fez alguma coisa, eu tenho certeza que fez, mesmo que eu não saiba o que foi, que assustou tanto o coitado que ele praticamente saiu correndo sem nem dizer mais nada pra mim. E eu só consegui encarar em choque.
Então ele foi embora de novo, como se nada tivesse acontecido. E continuou assustando todos os caras que chegaram em mim. Eu tentei chegar em alguns também, flertar com algumas pessoas, e conseguiu assustar todos eles. Tentei até flertar com algumas mulheres que estavam ali, e ele deu um jeito de afastá-las também. Ele ignorou todas as vezes que tentei falar com ele por telepatia, como fazia quando ele não estava visível, e sumiu na multidão quando tentei ir até ele. Chegou um ponto em que eu tava tão, mas tão puta – e levemente alcoolizada – que eu simplesmente fui embora. Voltei para casa com a intenção de gritar com até o dia seguinte, e depois achar um jeito de exorcizar aquele merda.
Sentei no sofá e fiquei esperando de braços cruzados. O caminho de volta no metrô e a espera foram o bastante para a maior parte do álcool ir embora, mas minha irritação só aumentou.
Quando ele surgiu outra vez – do nada, como sempre –, me levantei em um salto, apontando o dedo na cara dele.
— Que porra foi essa, ?! — gritei. — Pra que toda aquela cena ontem e hoje de manhã, dizendo pra eu aproveitar, se você ia junto pra estragar o meu rolê?! E aliás, o que que você queria com isso, hein?
— Perguntas erradas, princesa — respondeu, me oferecendo o mesmo sorrisinho que eu agora só queria arrancar do rosto dele com as unhas. Sua mão se fechou ao redor da minha, me puxando mais para perto. — Mas vou responder mesmo assim. Eu não tinha intenção de ficar no seu caminho hoje, mas mudei de ideia.
Puxei meu braço de volta, mas não me afastei.
— Mudou de ideia? Mudou de ideia?! E vai pelo menos me dizer por quê?!
Em vez de responder, sua expressão se fechou por um instante. Seu olhar correu pelo meu rosto e, num movimento rápido demais para eu reagir, seu rabo se enrolou na minha cintura e sua mão alcançou minha nuca, me puxando contra ele. Soltei uma exclamação, mas qualquer protesto que eu pudesse fazer morreu nos lábios dele, agora pressionados com força contra os meus.
Meus olhos se arregalaram e eu travei, chocada demais para processar. estava me beijando. . Me beijando. Quando minha consciência e meus movimentos se encontraram outra vez, o empurrei.
— Que merda você ta fazendo? — perguntei meio sem fôlego, ignorando a rapidez que meu coração estava batendo.
me ofereceu aquele sorrisinho outra vez, mas continuou me segurando perto de si.
— Respondendo a sua pergunta. — Ele lambeu os lábios e precisei me forçar a manter meus olhos nos dele. Talvez eu devesse redirecionar a pergunta pra mim mesma. — Mudei de ideia porque eu percebi que não queria ver você beijando algum humano patético que não ia nem se dar ao trabalho de lembrar seu nome. — Seus dedos deslizaram da minha nuca para se enterrar no meu cabelo, o toque firme fazendo um arrepio descer pela minha espinha. — Se você quer alguém pra te dar prazer, eu to bem aqui, .
— O que… do que você ta falando, seu maluco? — Gaguejei, empurrando seu peito outra vez, mas ele nem pareceu sentir. Ta bom que eu também não fiz tanta força assim. — Me larga, .
Seu abraço se estreitou por um instante, e em seguida seus braços caíram para as laterais do corpo, mas seu rabo continuou ao meu redor.
— Eu to falando que quero você, — disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, mas também parecendo saborear dizer meu nome. — Me acostumei a nem cogitar te ver com outra pessoa até aquele cara dar em cima de você mais cedo, então não notei que ia me incomodar. — Senti a cauda se apertar possessivamente ao redor da minha cintura, apesar do tom leve. — Mas incomodou. — Seus olhos se estreitaram e se inclinou para perto outra vez. — Eu não gosto de dividir, princesa.
Arqueei as sobrancelhas, tentando com muita força ignorar a forma que suas palavras me afetaram, e cruzei os braços.
— Você pirou de vez. Bebeu alguma coisa no bloco? Eu não sou um brinquedo pra você dividir com alguém, e mais importante, eu não sou sua, . Não sei nem de onde você tirou que eu ia querer ficar com você.
— Agora repete isso. — Seu sorriso cresceu e ele se aproximou ainda mais. — E tenta fazer parecer que acredita dessa vez — sussurrou, seu olhar se fixando nos meus lábios.
Engoli em seco. Ok, talvez eu não estivesse com tanta convicção assim pra mandá-lo pra puta que pariu por ter estragado o meu bloco de carnaval, depois me agarrado e dito aquelas coisas. E talvez isso tivesse a ver com eu estar carente depois de tanto tempo sozinha, ou com eu ainda estar um tiquinho bêbada, ou talvez fosse porque tinha conseguido com um mísero beijo me fazer sentir coisas que a maioria não tinha conseguido com bem mais que isso. E, sabe, não é como se eu fosse cega e nunca tivesse percebido que ele era atraente, eu só ignorei por conta da situação toda e ele ser literalmente um demônio. Acho que eu que surtei de vez.
E aquela pareceu ser exatamente a reação que ele queria, pois logo em seguida estava me puxando contra si em outro beijo, ambas as mãos no meu rosto. Ainda tentei manter um pouco de racionalidade e empurrar seu peito, mas de novo não fez nem cócegas, a distância que se criou sendo deliberadamente permitida por , mesmo que pequena. Só o suficiente pra eu olhar nos olhos dele outra vez e resolver jogar o pouco de senso que me sobrava pela janela. Subi minhas mãos para o seu pescoço e, dessa vez, fui eu que o puxei para perto. Senti seu sorriso convencido contra minha boca, mas ignorei.
Uma de suas mãos se enroscou no meu cabelo, puxando de leve, e a outra desceu pelas minhas costas, me segurando contra seu corpo enquanto mordiscava meus lábios e aprofundava o beijo. Não consegui conter o gemido fraco que escapou da minha garganta, o que só pareceu lhe incentivar mais. Meu coração acelerou quando, praticamente sem esforço, me levantou. Agarrei seu pescoço com mais força e abracei seu quadril com as pernas, mesmo que não houvesse nenhum indício de que ele iria me derrubar, e senti mais que ouvi sua risada em resposta conforme fui carregada até a cozinha. me colocou em cima da mesa e partiu o beijo, descendo os lábios em uma trilha de mordidinhas pelo meu pescoço que estavam me deixando com os joelhos fracos.
— Que foi, princesa? — murmurou contra a minha pele, o tom divertido. — Acabaram os xingamentos e as respostas espertinhas?
Sem me dar tempo de pensar no que dizer, ele puxou meu cabelo de novo, com mais força, o que me obrigou a inclinar a cabeça para trás e lhe deu melhor acesso ao meu pescoço. Mordi o lábio. Meus pensamentos estavam divididos entre “eu realmente não devia estar deixando isso acontecer” e “eu devia ter feito isso há muito tempo”, e eu era incapaz de decidir qual lado estava certo.
! — exclamei quando ele mordeu com força o suficiente para deixar marca, e enterrei as unhas na sua nuca.
— Hmm, isso era pra ser uma reclamação? Porque pareceu que você tava pedindo mais. — Seu tom era pura provocação, e sua mão desceu das minhas costas para a minha coxa. Foi a minha vez de puxar seu cabelo, e ele apertou minha perna com força em resposta. — … — soltou em um aviso.
— O quê? — respondi com falsa inocência, subindo meu toque devagar em direção aos seus chifres.
Ele soltou minha coxa e agarrou meus pulsos, afastando minhas mãos de si. Com a outra mão, puxou meu cabelo outra vez, seu rabo soltou minha cintura, e ele colocou distância o suficiente entre nós para encontrar meu olhar. Ah, isso tudo com certeza foi uma péssima ideia, daquelas que viram um problema pro resto da vida, mas que cada segundo vale a pena.
— Vai mesmo fazer isso? — perguntou, a voz agora baixa e perigosa me causando arrepios de antecipação. Engoli em seco quando seus olhos caíram para a minha boca e ele lambeu os lábios. — Vou ter que te ensinar o que acontece quando um demônio é provocado, princesa?
— Quem foi que começou as provocações? — Devolvi e apertei as pernas ao seu redor. — Isso aqui nunca nem tinha passado pela minha cabeça até você resolver ter um mini ataque de ciúmes, .
Soltou um risinho de canto.
— Você — começou. Seu rabo se enrolou em volta dos meus pulsos, prendendo as minhas mãos e liberando a dele, que subiu outra vez pela minha coxa — precisa aprender — seu toque deu a volta até minha bunda, me puxando ainda mais para perto, e ele ergueu meus braços acima da cabeça — a não se meter — suas mãos me apertaram mais, até quase doer. Deixei escapar um suspiro trêmulo e mordi o lábio — em situações que não entende o perigo. — correu a ponta do nariz pelo meu pescoço, respirando fundo.
— Então me explica — respondi com bem mais firmeza do que achava que ia conseguir. — Porque você já destruiu minhas chances no bloquinho, agora ficou me provocando... Mais uma e eu juro que descubro como te exorcizar.
Aquilo lhe arrancou uma gargalhada.
Eu sabia que provavelmente podia me quebrar no meio com um estalar de dedos. Não precisava ser nenhum gênio pra concluir que um demônio era bem mais forte e perigoso que um humano, e que ele escolhia ser só irritante, mas ele também estava do meu lado há meses e nunca tinha machucado ninguém. Eu não achava que agora ele ia mudar isso, não de propósito pelo menos. Um som parecido com um rosnado chegou aos meus ouvidos e demorei um instante para perceber que vinha da garganta de . Quando ele falou de novo, sua voz estava misturada àquele som:
— Eu não sou delicado nem carinhoso — murmurou contra a minha pele. A mão que estava no meu cabelo desceu, as pontas dos seus dedos correram pela minha garganta, meu ombro, depois pela lateral do meu seio, parando na cintura e deixando pelo caminho uma trilha de fogo. — Sou um demônio.
— Ainda to esperando a parte que eu não entendo — retruquei.
Nada daquilo parecia novidade pra mim, ou algo que eu não fosse capaz de deduzir entre o que já sabia e o que ele estava fazendo agora – quer dizer, ele essencialmente amarrou os meus pulsos e deixou meu pescoço com no mínimo umas três marcas de mordida, e a gente tava “só” se pegando, não parecia difícil concluir que aquilo era um padrão e ia aumentar de intensidade pra acompanhar o que quer que fizéssemos agora.
Seu rabo se apertou ao redor dos meus pulsos, ele prendeu meu lábio inferior entre os dentes e puxou, arranhando minha pele.
— Tem certeza disso? Última chance de desistir, princesa.
, — me afastei o bastante para encontrar seu olhar — você vai ficar de papinho ou vai me comer?
Aquilo lhe arrancou outro rosnado, e soltei uma exclamação quando me senti sendo puxada para deitar na mesa. se inclinou sobre mim, tomou meus lábios com ferocidade por um momento, então se afastou outra vez e começou a descer as mãos pelo meu corpo. Quando chegou às minhas pernas, ele as afastou e se abaixou, subindo uma trilha de beijos e mordidas da lateral do meu joelho subindo pela minha coxa, me tirando suspiros.
Arqueei as costas ao sentir passar a boca pela minha boceta por cima do tecido do body, o toque leve servindo como mais uma provocação.
— Eu quero você gritando, — murmurou, puxando a roupa para o lado. — Vai gritar o meu nome até entender que é minha.
Puta que pariu. — Ta, talvez eu estivesse achando aquela atitude e o papo possessivo um pouco mais excitantes do que devia. Só talvez.
Ele sorriu antes de passar a língua por mim em um movimento deliberado e lento, e repetiu aquilo sem nunca aumentar a pressão ou a velocidade até eu estar ofegante e me contorcendo sob suas mãos, que só me seguraram mais forte.

— Ainda não, princesa — respondeu, ficando em pé outra vez e se inclinando sobre mim. Seus olhos faiscaram de prazer quando ele lambeu os lábios.
Suas mãos subiram pelo meu corpo outra vez, subiram até meus ombros e rasgaram as alças do body.
— Ei!
— Tava no meu caminho — respondeu divertido, puxando a peça junto com o resto das minhas roupas e jogando no chão de qualquer jeito.
— Você não precisava ter rasgado.
Ele deu de ombros e cobriu meus seios com as mãos, me fazendo morder o lábio.
— Assim era mais rápido. E eu não precisei soltar você. — se aproximou mais, mordiscou meu lóbulo e apertou meus seios. — Gosto de ter você assim, à minha mercê — murmurou, em seguida desceu novas mordidas pelo meu pescoço e clavícula.
Arqueei as costas quando seus dentes passaram a provocar meu mamilo. Ele seguiu mordendo, chupando e lambendo, me provocando outra vez até eu estar à beira de um orgasmo, meus gemidos enchendo o ar… e se afastou de novo. Choraminguei, mas apenas sorriu e voltou as mãos para o meu quadril, me segurando no lugar.
Ele ficou só me olhando e segurando por vários minutos, até eu me acalmar e lhe lançar um olhar irritado.
— Isso é crueldade — reclamei. Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, torcendo-a entre os dedos como fazia sempre que queria me irritar.
— Não, crueldade seria se eu continuasse a fazer isso sem a intenção de te deixar gozar hoje. E pode ter certeza que não é o caso. — Seu sorrisinho estava de volta, e se abaixou para enterrar o rosto entre as minhas pernas outra vez. Gemi alto e meus olhos reviraram quando ele me penetrou com a língua. — Hmm, não, você é deliciosa demais pra isso.
Pela terceira vez, ele me provocou até o limite, alternando entre me foder com a língua e chupar meu clítoris, e se afastou quando eu estava quase gozando. Me debati numa tentativa fútil de libertar minhas mãos, mas ele só enrolou o rabo com mais força.
— Por favor, … — choraminguei. — Por favor…
— Hmm. — Um beijo na parte interna da minha coxa. — Gosto de você implorando também. E já que pediu com jeitinho…
Deu uma mordida forte onde tinha beijado e ficou em pé. Abri os olhos a tempo de vê-lo tirando a blusa e o shorts que usava e engoli em seco. Uma de suas mãos sumiu da minha pele e logo eu senti seu pau me invadindo, o que me arrancou um gemido sôfrego. Tentei ondular os quadros em busca de mais, mas ele me segurou no lugar com mais força e a outra mão voltou a surgiu como um tapa forte na minha coxa.
— Como você é impaciente… — sussurrou antes de se abaixar para me roubar outro beijo, mesmo que eu estivesse sem fôlego demais para isso. Terminou com mais uma mordida no meu lábio inferior, e saiu quase completamente de dentro de mim, depois estocou com força de volta.
Ele estabeleceu um ritmo rápido e forte, e eu só conseguia sentir e gemer. Não demorou para que meu orgasmo se aproximasse outra vez, e eu quase comecei a chorar de verdade quando ele diminuiu a velocidade.
— Por favor, , por favor, por favor…
— Olha pra mim, princesa — exigiu naquela voz meio animalesca de antes, e precisou de cada fibra de controle que eu ainda tinha pra conseguir abrir os olhos. — Quero você vendo quem tá te fazendo sentir tanto prazer. Se fechar os olhos, eu paro. Entendeu? — Pisquei umas duas vezes, focando no seu rosto, e me forcei a assentir. Aquilo lhe tirou um sorriso e lambeu os lábios. — Boa garota.
Ele voltou a acelerar as estocadas e levou uma das mãos ao meu clítoris.
! — Exatamente como ele tinha dito que queria, gritei seu nome, provavelmente alto o bastante para os meus vizinhos escutarem, quando finalmente pude gozar.
Meu corpo todo convulsionou, minha mente esvaziando de tudo que não era o prazer. Quando voltei a conseguir processar o que estava acontecendo, tinha erguido o meu tronco, de forma que eu agora estava sentada na beira da mesa e meus braços estavam ao redor do seu pescoço. Ele não tinha parado as estocadas, na verdade só estava indo mais forte, e seu rabo não prendia mais os meus pulsos, estava enrolado na minha cintura.
— Isso mesmo. Grita o meu nome até ninguém ter dúvida de quem você pertence, princesa.
Ele enterrou o rosto no meu pescoço, correndo os lábios e dentes pela minha pele, agarrou um dos meus seios, apertou minha bunda. Enterrei as unhas nas suas costas, precisando me segurar em algo, o que lhe arrancou um gemido e me fez ganhar outro tapa.
— É isso que você quer, ? Quer que eu seja bruto com você? — Outro tapa, um gemido alto meu. Agora com as mãos livres, subi por seu cabelo até seus chifres e os envolvi com os dedos. me mordeu em resposta, ainda mais forte que antes, e arqueei minhas costas. Seu rabo se apertou ao meu redor e a ponta deslizou até estar firmemente pressionada contra meu clítoris. — Gosta de saber que é um demônio te comendo?
… — gemi, sentindo o segundo orgasmo crescendo rápido.
Sua mão subiu do meu peito para puxar meu cabelo outra vez. Seus movimentos foram ficando mais fortes e menos controlados, gemidos e grunhidos escapando da sua garganta.
— Goza pra mim outra vez, princesa. Deixa eu sentir essa boceta gostosa me apertar de novo.
Apenas algumas estocadas depois e eu estava fazendo exatamente o que ele pediu, outro grito escapando da minha garganta, e me agarrei aos seus chifres como se minha vida dependesse disso. Logo em seguida, gozou também.
Levou vários minutos para eu recuperar o fôlego e para de tremer com as ondas de prazer reverberando pelo meu corpo.
— Hmm… — murmurou contra o meu pescoço antes de se afastar para encontrar meu olhar outra vez, seu sorriso convencido de volta ao seu rosto. Senti minhas bochechas esquentando. — Isso foi um bom começo.
Arqueei uma sobrancelha, arregalando os olhos de leve.
Começo?
Ele lambeu os lábios e seu sorriso aumentou.
— É, princesa. O que a gente começou aqui — ambas as mãos dele voltaram para o meu quadril e ele me pegou no colo, começando a andar na direção do quarto — tá longe de acabar.




Fim.


Nota da autora: Surto em duas partes, surto em dois especiais (e me garantindo dois selos) hahahahha começamos no Halloween pra terminar no Carnaval, quem amou? Espero que tenham gostado de conhecer nossa teacher e nosso querido/insuportável demônio. Menção especial à Gaby por me dar inspiração em forma de Sarax 🧛 kkkk
Não esqueçam de comentar!
Bjs

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