Codificada por Aurora Boreal 💫
Atualizada em: 02/05/2025
— ! — Os dois se viraram em direção à voz feminina e doce que chamava por ele.
Instintivamente, soltou a mão de , seu olhar buscando a dona daquela voz familiar. Seus olhos vagaram pelo ambiente, atentos, até finalmente pousarem em uma jovem de cabelos longos e sorriso amigável que se aproximava.
, ao perceber o gesto, sentiu uma pontada de irritação e constrangimento. Com um movimento discreto e calculado, cruzou os braços abaixo dos seios, como se quisesse proteger a si mesma e, ao mesmo tempo, marcar sua presença. Seu olhar fixou-se em , penetrante, quase desafiador.
— Quem é ela? — perguntou, a voz baixa, mas carregada de um tom ácido que ele conhecia bem.
desviou os olhos da figura que se aproximava e voltou a encarar . Ele abriu a boca para responder, mas hesitou por um segundo que pareceu uma eternidade.
— É... uma ex colega do trabalho. — Ele finalmente disse, sua voz soando mais casual do que gostaria.
A jovem parou diante deles, seus olhos brilhando ao olhar para . não pôde deixar de reparar como a expressão dele suavizou ao vê-la mais de perto.
— Olá, ! Faz tanto tempo! — A garota exclamou, ignorando completamente a presença de .
respirou fundo, tentando conter o incômodo crescente. Ela sabia que não era o tipo de mulher que ficava em segundo plano, mas naquele momento, sentia-se exatamente assim.
— Sim, faz um bom tempo. — respondeu, agora claramente desconfortável, talvez percebendo o clima que se formava entre as duas mulheres.
deu um passo à frente, descruzando os braços e estendendo a mão para a desconhecida. Seu sorriso era tão educado quanto forçado.
— , esposa do . E você é...?
A garota pareceu hesitar por um instante antes de aceitar o cumprimento.
— Ah, claro! Prazer, sou Minah. Trabalhamos juntos no projeto do campus universitário no ano passado.
— Minah. — repetiu o nome, como se quisesse memorizá-lo. — Que bom que vocês se reencontraram, mas estamos no meio de algo importante.
Sua voz era cortês, mas a mensagem era clara. percebeu o olhar de e soube que a noite não terminaria bem para ele.
— Claro, claro! — Minah respondeu com um sorriso que parecia inofensivo, mas que interpretou como algo mais. — Me liga depois, ! Temos tanto para colocar em dia.
Antes de sair, Minah deu um passo à frente e, sem qualquer cerimônia, tocou de leve no ombro de , como se quisesse mostrar que havia notado sua presença apenas naquele momento.
— Foi um prazer conhecê-la, . — Ela disse, com uma entonação educada, mas ligeiramente condescendente, antes de lançar um último olhar para . — Cuide-se, ok?
Com isso, Minah virou-se e saiu, deixando para trás um perfume floral que parecia ter o único objetivo de irritar ainda mais.
permaneceu imóvel por um momento, tentando digerir o que havia acabado de acontecer. Quando Minah finalmente desapareceu de vista, ela voltou seu olhar para , que desviava o olhar como se procurasse um buraco para se esconder.
— Vai me dizer que isso foi normal? — perguntou, cruzando os braços novamente, desta vez com mais firmeza.
passou a mão pelos cabelos, claramente desconfortável.
— Ela é só uma conhecida, . Nada demais.
— Nada demais? — Ela riu sem humor. — Certo. Então me explica por que você largou minha mão como se ela fosse de vidro no segundo em que ouviu a voz dela?
— Não foi nada disso... — Ele começou, mas o olhar incisivo de o fez parar.
— Ah, então foi o quê, ? Estou ouvindo. — Ela se inclinou levemente, como se quisesse provocá-lo ainda mais.
Ele suspirou, derrotado, sem saber exatamente o que dizer. O clima entre eles, que já estava frágil, parecia desmoronar ainda mais, tijolo por tijolo.
— Foi apenas um reflexo. — começou, a voz mais firme, tentando manter a calma diante da tensão crescente. — Soltei sua mão porque me virei bruscamente justamente por não reconhecer de imediato a voz.
arqueou uma sobrancelha, claramente não convencida.
— Um reflexo? Certo. E agora eu sou obrigada a acreditar que você simplesmente larga a mão da sua esposa por reflexo ao ouvir a voz de qualquer mulher?
— ... — Ele passou a mão pelo rosto, frustrado. — Não transforme isso em algo maior do que realmente é. Minah é só uma conhecida, uma colega de profissão. Foi um encontro inesperado, só isso.
— Só isso? — Ela repetiu, dando um passo em direção a ele, os olhos estreitados. — Porque, para mim, parecia mais do que isso. Parecia intimidade, . E o pior, parecia que você queria me apagar daquela conversa.
— Isso não é verdade! — Ele rebateu, sua voz subindo um pouco. Mas ao ver a expressão magoada de , ele respirou fundo, tentando se controlar. — Eu jamais faria isso com você.
— Não é o que pareceu. — Ela respondeu, cruzando os braços novamente. Sua postura firme não escondia o tremor na voz, que revelava mais do que raiva: havia mágoa ali, misturada com a insegurança que ela odiava sentir.
deu um passo à frente, mas hesitou antes de tentar tocar no braço dela.
— ... eu sei que as coisas entre nós não estão fáceis, mas você precisa confiar em mim.
Ela desviou o olhar, como se não quisesse que ele visse as emoções que dançavam em seus olhos.
— Confiar? — Ela murmurou, quase para si mesma. — , você quer que eu confie, mas nem mesmo faz questão de me incluir quando essas situações acontecem. Você me deixou ali como se eu fosse uma estranha.
Ele ficou em silêncio, incapaz de encontrar uma resposta imediata. ergueu o olhar para ele, sua expressão desafiadora agora suavizada por uma tristeza evidente.
— Se é assim que será nosso casamento, talvez a Minah esteja certa. — Ela disse, sua voz baixa, mas cortante. — Vocês realmente têm muito o que colocar em dia.
Sem esperar por uma resposta, deu meia-volta e começou a caminhar, deixando sozinho com seus pensamentos e um peso no peito que ele não sabia como aliviar.
não conseguiu ficar parado enquanto se afastava. O peso das palavras dela ainda ressoava em sua mente, e ele sabia que deixá-la ir naquele estado só pioraria as coisas.
— , espera! — Ele chamou, apressando os passos para alcançá-la.
Ela parou, mas não se virou. Permaneceu imóvel, os braços ainda cruzados, como se aquilo pudesse proteger seu coração das palavras que ele talvez fosse dizer.
— O que foi, ? — Ela perguntou, sua voz baixa, mas carregada de cansaço.
Ele hesitou por um instante, escolhendo cuidadosamente suas palavras enquanto se aproximava.
— Não quero que terminemos essa conversa assim. Você sabe que eu não fiz nada com intenção de te magoar.
finalmente se virou para encará-lo, os olhos brilhando com um misto de lágrimas contidas e indignação.
— Eu sei que você não faz de propósito, . — Ela respondeu, sua voz mais firme. — Mas isso não significa que não magoa.
Ele deu mais um passo à frente, mas ela ergueu uma das mãos, como se pedisse distância.
— Por favor, me deixa ficar sozinha.
— ... — começou, mas parou ao ver a expressão dela.
Havia algo no olhar de que o fez perceber que insistir só a afastaria ainda mais. Ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos, sentindo-se impotente.
— Tudo bem. — Ele disse, sua voz agora mais baixa. — Se é o que você precisa.
apenas assentiu, sem dizer mais nada, antes de se virar e continuar andando. ficou parado, observando-a se afastar. Cada passo que ela dava parecia ecoar em seu peito, como um lembrete de que a distância entre eles, tanto física quanto emocional, crescia a cada dia.
Ele queria ir atrás dela de novo, insistir, mas algo dentro dele dizia que, desta vez, ela realmente precisava daquele espaço. O problema era que ele não tinha certeza se aquele espaço não acabaria se transformando em um abismo impossível de cruzar.
ficou parado por um longo momento, observando se afastar até que ela desaparecesse entre as ruas movimentadas. Um suspiro pesado escapou de seus lábios enquanto ele voltava para o carro, cada passo sentindo-se mais arrastado, como se o peso daquela discussão o puxasse para baixo.
Ele abriu a porta do motorista e entrou, deixando o silêncio do veículo envolvê-lo. Encostou a cabeça no volante por alguns segundos, os olhos fechados, tentando organizar os pensamentos que pareciam uma bagunça.
— O que estamos fazendo? — Ele murmurou para si mesmo, a voz quase inaudível no vazio do carro.
Ongseong sabia que as coisas entre ele e não estavam fáceis havia algum tempo. O casamento, que um dia parecia uma promessa de felicidade e parceria, agora mais se assemelhava a uma corda bamba: frágil e instável, a qualquer momento prestes a se romper.
Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. As brigas haviam se tornado mais frequentes e, para ele, cada discussão era como mais um tijolo erguido entre eles. E o pior de tudo? Ele não sabia como remover esses tijolos sem causar ainda mais danos.
— Eu a amo... — Ele admitiu em um sussurro, olhando para a aliança em seu dedo. — Mas será que isso é o suficiente?
sabia que era uma mulher intensa, apaixonada, alguém que colocava todo o coração em tudo que fazia. E ele... Ele era o oposto. Era metódico, racional, sempre tentando evitar conflitos. Só que essa abordagem não parecia estar funcionando mais, especialmente com .
As palavras dela ecoaram em sua mente: “Se é assim que será nosso casamento...” Ele fechou os olhos, tentando afastar a sensação sufocante que a frase trouxe. Será que ela realmente estava pensando em desistir? Será que eles haviam chegado a esse ponto?
Antes de dar partida no carro, olhou pela janela, na direção em que havia desaparecido. Parte dele queria ir atrás dela de novo, tentar consertar as coisas ali mesmo, mas a outra parte sabia que ela precisava de espaço. E, talvez, ele também precisasse.
Respirando fundo, ele ligou o carro e começou a dirigir de volta para casa. Mas, a cada quilômetro, a dúvida o acompanhava como um passageiro incômodo: será que havia algo que ele ainda pudesse fazer para salvar o que restava entre eles? Ou será que já era tarde demais?
largou o telefone sobre a mesa e passou a mão pelo rosto, frustrado. O silêncio ao seu redor parecia mais ensurdecedor do que qualquer briga que tivesse tido com . Ele odiava aquela sensação de não saber onde ela estava, o que estava fazendo, se estava bem.
Ele olhou pela janela da sala, tentando encontrar algum tipo de distração na vista da cidade, mas seus pensamentos continuavam presos nela. costumava responder rápido. Mesmo quando estavam brigados, ela não o deixava no escuro por muito tempo. Mas agora… agora era diferente.
“Será que ela está me evitando de propósito?”
A possibilidade apertou seu peito. Ele sabia que a discussão daquela noite havia sido intensa, mas não esperava que ela simplesmente sumisse. E se algo tivesse acontecido? E se ela estivesse sozinha, chateada, vulnerável?
Ele bufou, sentindo a impaciência crescer.
“Por que estamos sempre assim? Por que tudo virou um campo minado?”
não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto. Quando pediu em casamento, ele acreditava que tudo daria certo. Claro, sabia que casamentos tinham desafios, mas nunca imaginou que viveria em uma constante guerra fria.
“A gente se tornou isso? Duas pessoas que se machucam o tempo todo?”
O pensamento o fez fechar os olhos por um momento, tentando afastar a angústia. Ele não queria que fosse assim. Ele queria encontrar uma maneira de consertar tudo, mas a verdade era que não sabia como.
Pegou o telefone novamente, encarando o nome dela na tela. Respirou fundo antes de ligar mais uma vez.
— Por favor, … me atende.
largou o telefone sobre a mesa mais uma vez, mas a inquietação dentro dele não dava trégua. Ele não conseguia simplesmente esperar. A ideia de sozinha, talvez chorando em algum lugar ou pior, precisando dele e sem conseguir pedir ajuda, o deixava sufocado.
Ele pegou as chaves do carro e saiu de casa sem pensar duas vezes. Assim que se sentou no banco do motorista, respirou fundo e tentou organizar um plano.
“Por onde começar?”
não era do tipo que simplesmente sumia, mas quando ficava realmente magoada, tinha o hábito de buscar refúgio em algum lugar que a fizesse se sentir segura. Ele conhecia alguns desses lugares.
Primeiro, dirigiu até o café onde ela costumava ir quando precisava esfriar a cabeça. Estacionou rapidamente e entrou no local, o olhar percorrendo as mesas, mas não a encontrou.
— Boa noite — ele chamou uma das atendentes, que já o conhecia por sempre vir com . — Você viu minha esposa hoje? ?
A moça franziu o cenho e balançou a cabeça.
— Hoje, não. Está tudo bem?
— Sim… — Ele respondeu automaticamente, mesmo que soubesse que estava longe de estar tudo bem.
Agradeceu e saiu do café, voltando para o carro com um suspiro frustrado. Tentou pensar em outros lugares. O parque perto do centro da cidade? A livraria que ela adorava? O banco de madeira na beira do lago onde eles passaram tantas tardes juntos antes de casarem?
Ele girou a chave na ignição e voltou a dirigir, seu coração martelando no peito a cada local em que chegava e não a encontrava.
O tempo passava, a cidade ficava mais silenciosa, mas não desistia. A preocupação crescia a cada minuto, misturada com um medo que ele não queria admitir: e se ela estivesse realmente tentando se afastar dele para sempre?
Não. Ele não podia deixar que isso acontecesse. Acelerou o carro, decidido a continuar procurando.
passou horas dirigindo pela cidade, indo de um lugar a outro, tentando se lembrar de cada canto que gostava de frequentar. Ele esteve no parque, na livraria, no lago onde costumavam conversar até tarde… Mas ela não estava em nenhum desses lugares.
A cada minuto que passava, a inquietação dentro dele aumentava. Será que ela tinha voltado para casa sem ele perceber? Será que estava na casa de alguma amiga? Ou será que realmente queria desaparecer de sua vida?
Ele estava prestes a desistir, considerando que talvez devesse esperar até o dia seguinte para tentar de novo, quando, ao virar uma esquina, seu olhar foi atraído por uma silhueta familiar.
Lá estava ela.
Sentada sozinha em um banco de uma pequena praça quase deserta, os braços cruzados sobre o corpo como se tentasse se proteger do frio. O cabelo estava um pouco bagunçado pelo vento, e seu olhar estava perdido em algum ponto distante.
sentiu um aperto no peito ao vê-la assim. nunca foi do tipo que se encolhia diante dos problemas, mas naquele momento, ela parecia tão… frágil.
Ele estacionou o carro rapidamente e desceu, se aproximando dela com cautela. Não queria assustá-la, nem piorar ainda mais a situação.
— …
Ela ergueu o olhar lentamente ao ouvir sua voz, e ele notou o brilho de lágrimas em seus olhos. Por um momento, ninguém disse nada. Apenas o vento frio da noite soprava entre eles.
— Me deixa sozinha, — foi tudo o que ela disse, sua voz baixa, mas cheia de cansaço.
Mas ele não ia deixá-la. Não dessa vez.
se aproximou lentamente, sentindo o coração pesar no peito ao vê-la daquela forma.
— , você sumiu. Eu fiquei preocupado.
Ela soltou uma risada sem humor, balançando a cabeça.
— Você ficou preocupado? Agora você se preocupa? — Seus olhos brilharam com indignação. — Porque, sinceramente, não parece! Você sempre age como se estivesse me segurando por um fio, como se estivesse esperando o momento certo para me soltar!
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Eu não queria que chegássemos a esse ponto…
— Então por que estamos aqui?! — Ela se levantou de repente, cruzando os braços. — Eu estou cansada, ! Cansada de brigar, cansada de implorar por atenção, cansada de sentir que estou lutando sozinha por esse casamento!
Ele fechou os olhos por um momento antes de encará-la novamente.
— E você acha que eu não estou cansado também? , a gente não passa um dia sem discutir. Toda conversa vira uma briga, todo momento bom dura pouco antes de desmoronar! Isso é um casamento para você?
Ela abriu a boca para responder, mas fechou logo em seguida. Um silêncio pesado caiu entre eles.
Se encararam por longos segundos, os olhos cheios de coisas não ditas.
E então, ao mesmo tempo, falaram:
— Precisamos resolver isso. — disse .
— Vamos nos divorciar. — disse .
O silêncio voltou, ainda mais sufocante do que antes. piscou, como se tivesse sido atingida em cheio por aquelas palavras. Já sentiu seu próprio peito se apertar, mas não desviou o olhar.
Ali, naquele momento, os dois perceberam que haviam chegado ao limite.
— O que você disse, ?
piscou várias vezes, como se tentasse absorver aquelas palavras, mas a verdade era que nada poderia prepará-la para aquilo. A garganta se fechou, os olhos começaram a marejar pesadamente.
— Talvez seja o melhor, — repetiu, mais baixo dessa vez, como se, ao dizer de novo, a decisão se tornasse mais real.
— Você não quer mais? — A voz dela saiu trêmula, quase um sussurro, carregada de dor.
Ele apertou os punhos ao lado do corpo, desviando o olhar por um breve momento antes de encará-la de novo.
— Não é sobre querer ou não. É sobre o que é certo. A gente se machuca o tempo todo. Não vê? , eu não posso mais… Eu não posso continuar vendo você infeliz ao meu lado.
— Você acha que eu vou ser mais feliz longe de você?! — Ela quase gritou, sentindo o desespero crescer dentro dela. — , nós prometemos que íamos tentar, que íamos superar juntos!
— E quantas vezes nós tentamos? — Ele suspirou, exausto. — Quantas vezes dissemos que ia melhorar? Mas olha onde estamos… , eu te amo, mas amor não é suficiente quando tudo o que fazemos é nos destruir.
Ela balançou a cabeça rapidamente, como se recusasse a aceitar.
— Não… não pode acabar assim. Eu ainda te amo. Eu ainda quero tentar.
fechou os olhos por um segundo, como se aquelas palavras doessem mais do que ele esperava.
— Eu também te amo… Mas às vezes, amar alguém significa deixá-la ir.
sentiu o peito apertar como se ele tivesse arrancado o ar de seus pulmões. Ela o olhou, procurando qualquer sinal de dúvida, qualquer resquício do homem que, tempos atrás, prometeu que jamais desistiria deles.
Mas tudo o que viu foi a certeza nos olhos dele.
Ela mordeu o lábio para conter um soluço e desviou o olhar.
— Eu não quero me divorciar, …
— Eu sei. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Mas eu quero.
E foi naquele momento que sentiu o chão desaparecer sob seus pés ao se levantar.
sentiu o ar lhe faltar. A dor foi tão forte que, por um instante, ela pensou que fosse cair ali mesmo. Mas não caiu. Permaneceu de pé, mesmo com as pernas tremendo, mesmo sentindo o peito se despedaçar por dentro.
— Como… como você pode dizer isso? — Sua voz saiu trêmula, um fio de desespero misturado à incredulidade.
olhou para ela com uma expressão carregada de culpa, mas havia algo ainda mais forte em seu olhar: determinação.
— Porque eu te amo.
soltou uma risada amarga, incrédula.
— Você chama isso de amor?
Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos, visivelmente frustrado.
— Amor não deveria doer tanto, . Eu olho para nós dois e vejo duas pessoas que se perderam, que não sabem mais como voltar ao que eram antes. Eu não quero mais brigar com você, não quero mais te ver chorando por minha causa. Eu não quero ser o motivo do seu sofrimento.
— Mas você já é! — Ela deu um passo à frente, seus olhos cheios de lágrimas. — Se me deixar, você vai continuar sendo! Você acha que vai me libertar, mas só vai me prender em um sofrimento ainda maior!
fechou os olhos por um instante, como se estivesse se segurando para não desmoronar. Quando voltou a encará-la, sua expressão era triste, mas firme.
— Você merece ser feliz, .
— Eu sou feliz com você! — Ela quase gritou, sentindo as lágrimas rolarem quentes por seu rosto.
— Não, você se acostumou comigo. — A voz dele saiu baixa, mas carregada de dor. — E eu me acostumei com você. Mas isso não significa que estamos bem.
sentiu um soluço subir por sua garganta. Ela queria discutir, queria gritar, queria fazê-lo entender que desistir não era a resposta. Mas quando olhou nos olhos dele, viu que já era tarde demais.
Ele tinha tomado sua decisão.
se aproximou lentamente e ergueu a mão, hesitando antes de tocar o rosto dela. Quando finalmente o fez, seu polegar deslizou delicadamente pelo rosto de , enxugando uma lágrima solitária.
— Eu nunca quis te machucar.
Ela fechou os olhos, se inclinando involuntariamente contra o toque.
— Então não me machuque agora. Fique.
engoliu em seco, o olhar preso no rosto dela.
— Eu não posso, .
E antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele deu um passo para trás, deixando o frio ocupar o espaço entre eles. E então, virou-se e foi embora.
permaneceu ali, assistindo-o desaparecer, sentindo-se mais vazia do que nunca.
acordou com o rosto ainda úmido de lágrimas secas. A noite havia sido longa, e o sono, intermitente. Os olhos ardiam, e o coração pesava no peito como se estivesse sendo esmagado por dentro.
Ela ficou na casa dos pais depois da discussão com , incapaz de voltar para casa sozinha naquela noite. Mas agora, enquanto caminhava de volta para o apartamento que dividiram desde que se casaram, um frio percorria sua espinha.
Ao destrancar a porta e entrar, o silêncio foi a primeira coisa que a atingiu. Não era o silêncio normal de quando ainda estava dormindo ou no banho. Era um silêncio vazio. Um silêncio definitivo.
Seu olhar percorreu a sala, mas nada parecia diferente. No entanto, algo dentro dela sabia.
Com passos incertos, ela seguiu até o quarto. O cheiro dele ainda estava lá, misturado ao seu, mas ao abrir o closet, a confirmação veio como um golpe no peito.
Estava vazio.
As prateleiras que antes guardavam suas camisetas perfeitamente dobradas agora estavam limpas. Os cabides onde seus ternos ficavam pendurados estavam vazios. Os sapatos alinhados no canto do armário não estavam mais lá.
Ele tinha ido embora.
sentiu a respiração falhar, os olhos começando a marejar de novo. Ela deu um passo para trás, tentando assimilar o que via, até que algo chamou sua atenção.
No meio da prateleira, um pequeno pedaço de papel dobrado.
Com as mãos trêmulas, ela pegou o bilhete e o desdobrou devagar, sentindo o coração acelerar enquanto lia a caligrafia familiar:
"Me perdoe por não ter coragem de me despedir olhando nos seus olhos de novo. Eu te amo, , e por isso preciso ir. Cuide-se." — .
As lágrimas rolaram pelo seu rosto antes que pudesse impedi-las. apertou o bilhete contra o peito, deixando um soluço escapar.
Ele realmente tinha ido. E pela primeira vez, ela sentiu o peso da realidade desmoronar sobre ela.
As mãos de tremiam quando ela pegou o celular e procurou pelo contato de . O nome dele ainda estava ali, como se nada tivesse mudado. Como se ele ainda fosse atender do outro lado, com a voz rouca de sono ou com um suspiro cansado após um longo dia de trabalho.
Ela apertou o botão de discagem e levou o telefone ao ouvido, prendendo a respiração enquanto o tom de chamada soava.
Uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.
— Atende, … por favor… — ela sussurrou, sentindo a voz falhar.
O coração batia descompassado, e uma ansiedade crescente tomava conta dela a cada segundo que passava. Mas então, a chamada caiu direto na caixa postal.
"O número que você chamou está indisponível no momento. Por favor, tente novamente mais tarde."
sentiu o estômago revirar. Ele tinha desligado o telefone? Ou… tinha bloqueado o número dela?
Com o coração martelando contra o peito, ela tentou novamente.
Dessa vez, foi direto para a caixa postal.
— Não… não faz isso comigo… — ela murmurou, apertando o celular com força.
Tentou uma terceira vez. Mesma coisa.
O desespero a consumiu. Ele tinha ido embora e, agora, nem mesmo sua voz restava.
Sentindo as lágrimas retornarem, jogou o celular sobre a cama e levou as mãos ao rosto, soluçando baixinho.
realmente queria seguir em frente sem ela. Ele estava determinado a apagá-la da vida dele.
E isso… isso doía mais do que qualquer briga que já tinham tido.
se afundou no trabalho assim que chegou ao escritório naquela manhã. A pilha de documentos em sua mesa parecia maior do que o normal, mas ele não reclamou. Pelo contrário, queria aquilo. Precisava da distração.
Mantinha os olhos fixos no computador, digitando relatórios e respondendo e-mails sem realmente absorver o conteúdo. O telefone tocava, colegas passavam por ele, mas tudo parecia distante. Como se estivesse operando no automático.
Mas então, por um breve momento, a tela do computador ficou borrada. Ele piscou algumas vezes, tentando afastar a sensação estranha no peito. O silêncio do ambiente ao redor contrastava com o caos dentro dele.
Seu celular estava virado para baixo sobre a mesa, e ele se recusava a olhar para ele. Sabia que tentaria ligar. Sabia que, se atendesse, a voz dela poderia fazê-lo desmoronar.
Engolindo em seco, ele apertou os olhos e massageou as têmporas.
— Você está bem? — A voz de um colega soou ao seu lado, tirando-o de seus pensamentos.
ergueu os olhos e forçou um pequeno sorriso.
— Só uma dor de cabeça. Nada demais.
— Se precisar de um tempo, cara, ninguém vai te julgar.
Ele apenas balançou a cabeça, dispensando qualquer preocupação. Não podia se dar ao luxo de parar. Se parasse, pensaria nela. No jeito que ela o olhou na noite anterior. Na voz embargada perguntando se ele não queria mais.
Ele queria. Deus, como queria. Mas não podia.
Respirando fundo, endireitou-se na cadeira e voltou a digitar, ignorando o peso no peito que não o deixava em paz.
tamborilou os dedos sobre a mesa, tentando focar na tela do computador, mas sua mente insistia em vagar para longe dali.
Em um momento de descuido, baixou os olhos para a própria mão. A aliança dourada ainda estava ali, reluzindo sob a luz fria do escritório.
Ele engoliu em seco.
Levantou a mão lentamente, girando o anel no dedo com o polegar. Era um hábito que sempre notava. “Você só faz isso quando está ansioso”, ela costumava dizer, pegando sua mão entre as dela para acalmá-lo.
Mas agora, ela não estava ali para fazer isso.
Ele fechou os olhos por um instante, sentindo o peito apertar. Tudo o que queria era vê-la feliz. E, por mais que doesse admitir, tinha chegado à conclusão de que não era ao lado dele que isso aconteceria.
Quantas vezes eles tentaram? Quantas vezes brigaram, se magoaram, se afastaram… e mesmo assim voltavam, achando que o amor, sozinho, seria suficiente?
Mas amor não bastava quando tudo ao redor estava desmoronando.
respirou fundo, ainda girando a aliança no dedo. Ele não queria tirá-la. Não ainda. Talvez não, nunca.
Mas então, o telefone sobre a mesa vibrou. Ele se sobressaltou, o coração acelerando antes mesmo de ver quem era.
O nome na tela fez seu estômago revirar.
.
fechou a mão em punho e desviou o olhar. O telefone vibrou mais algumas vezes antes de silenciar novamente.
Ele sabia que deveria atendê-la. Mas também sabia que, se ouvisse sua voz, poderia perder a coragem de deixá-la partir.
fechou os olhos por um instante, sentindo o peito pesar enquanto o telefone voltava a vibrar sobre a mesa. O nome de piscava na tela, insistente, como se cada toque fosse um pedido silencioso para que ele não a ignorasse.
Ele estendeu a mão, hesitante, e pegou o aparelho. Por um segundo, seu polegar pairou sobre o botão de atender.
Só queria ouvir sua voz. Só queria saber se ela estava bem.
Mas ele sabia que, se atendesse, tudo ficaria ainda mais difícil.
Com um suspiro pesado, apertou o botão de desligar e virou o celular de tela para baixo.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
passou as mãos pelo rosto e se recostou na cadeira, olhando para o teto enquanto tentava convencer a si mesmo — mais uma vez — de que aquilo era o melhor para os dois.
Ele precisava seguir em frente.
Ela também.
ainda teria um futuro brilhante pela frente, um futuro sem tantas brigas, sem tantas dores. Um futuro onde ela pudesse ser verdadeiramente feliz.
Mesmo que essa felicidade não incluísse ele.
Engolindo em seco, fechou os olhos e repetiu para si mesmo, quase como um mantra:
— Isso é o certo.
Ele só não sabia se um dia conseguiria acreditar nisso de verdade.
As mensagens começaram tímidas, cheias de carinho, dúvidas e súplicas silenciosas:
"Ainda podemos consertar. Eu sei que podemos."
"Você realmente acha que vai me esquecer só porque está me evitando?"
", por favor, não desista da gente."
Ele respondia com gentileza, mas com a mesma frieza dolorosa que partia o coração dela cada vez mais:
"Eu sinto muito, ."
"Isso não está funcionando."
"Eu não quero mais te machucar."
Durante essa semana, mergulhou no trabalho e evitou ao máximo qualquer envolvimento emocional. Respondia às mensagens dela quando necessário, mas tentava manter a distância. Ainda assim, toda vez que o nome dela aparecia na tela do celular, o coração apertava, a culpa o consumia, e ele se perguntava, por breves segundos, se estava fazendo a coisa certa.
Enquanto isso, lutava contra a dor e a esperança que insistia em sobreviver dentro dela. Ela sabia que ainda o amava — e acreditava, com todo o coração, que ele também ainda a amava. Só estava perdido. Confuso.
Na sexta-feira, depois de passar horas encarando a última mensagem visualizada e ignorada, tomou uma decisão. Não podia continuar sendo apenas palavras numa tela. Precisava olhar nos olhos dele. Precisava tentar mais uma vez.
Vestiu algo simples, mas que ele gostava, e pegou um táxi até o prédio onde trabalhava. Esperou do lado de fora, no horário em que ele costumava sair. O coração batia tão forte que ela mal conseguia respirar.
E então, ela o viu.
saiu pelas portas de vidro com uma pasta debaixo do braço, os ombros levemente curvados como se carregasse o peso do mundo. Quando seus olhos encontraram os dela, ele parou abruptamente.
tentou sorrir, mas estava à beira do choro.
— Eu precisava te ver.
Ele ficou em silêncio, os olhos presos nos dela.
Aquela era a primeira vez, em uma semana, que estavam frente a frente. E nada mais parecia preparado para o que viria a seguir.
Ele olhou ao redor, constrangido com os olhares curiosos dos colegas que passavam por eles. E então, soltou um leve suspiro e assentiu.
— Vamos conversar... mas não aqui.
concordou em silêncio, o coração batendo tão rápido que parecia ecoar por todo o corpo.
Pouco tempo depois, estavam subindo o elevador do hotel onde estava hospedado desde que saíra de casa. O clima entre os dois era denso, cheio de coisas não ditas. mantinha as mãos cruzadas diante do corpo, como se aquilo a protegesse de desmoronar ali mesmo.
O quarto era simples, impessoal, e parecia pequeno demais para abrigar tanto sentimento inacabado.
largou a pasta sobre a mesa e passou a mão pelos cabelos, como sempre fazia quando estava nervoso.
— Você não devia ter vindo, .
— E você devia ter me deixado lutar sozinha? — ela retrucou, olhando em volta, notando as roupas dobradas na cadeira, a mala parcialmente aberta, o jeito desorganizado dele que ela conhecia tão bem. — É isso? Vai simplesmente desaparecer da minha vida como se a gente não tivesse construído nada juntos?
Ele sentou na beira da cama, os ombros caídos.
— Não estou tentando apagar você. Só estou tentando... seguir em frente.
— E você acha que isso está funcionando? — ela se aproximou um pouco, cautelosa. — Você parece cansado, . Perdido. Como eu.
Ele levantou os olhos e os dela estavam cheios de uma dor crua.
— Você ainda me ama? — perguntou, quase num sussurro.
Ele demorou a responder. Respirou fundo, olhou para as próprias mãos e, finalmente, encarou-a.
— Isso nunca deixou de ser verdade.
Ela deu um passo mais perto, a voz embargada:
— Então por que está me afastando?
— Porque amar você e não conseguir te fazer feliz... está me matando. — Ele disse, a voz embargada, sincera. — Você merecia mais. Merecia alguém que soubesse como lidar com você, com sua intensidade, seus sonhos, seu jeito direto. E eu… eu falhei.
sentou ao lado dele, mantendo uma distância segura, mas perto o bastante para que ele sentisse sua presença.
— Você não falhou. Nós falhamos. E talvez ainda possamos consertar.
balançou a cabeça, os olhos marejando pela primeira vez em dias.
— Eu não sei como.
— Eu também não. — ela respondeu, com um pequeno sorriso triste. — Mas eu sei o que eu sinto. E sei que ainda não estou pronta pra desistir da gente.
Ele a olhou por um longo tempo. Tinha tanta coisa nos olhos dela — dor, saudade, amor, esperança.
E então, pela primeira vez desde a separação, sentiu o muro dentro dele começar a rachar.
O silêncio se estendeu entre eles, pesado, mas não hostil.
respirou fundo.
— Me deixa tentar de novo.
não respondeu de imediato. Mas também não a mandou embora.
E isso… já era um começo.
O silêncio entre eles era denso, mas diferente do que costumava ser. Não havia raiva, nem acusação. Apenas emoção crua, suspensa entre duas pessoas quebradas que ainda se amavam demais.
virou o rosto lentamente para , seus olhos buscando os dele como se ainda houvesse tempo para salvá-lo — não apenas do fim do relacionamento, mas de si mesmo.
Ele a olhou de volta, e naquele instante, todo o mundo pareceu desaparecer. A distância física entre eles era mínima, mas a emocional parecia feita de quilômetros. Ainda assim, deu o primeiro passo.
— — ela sussurrou o apelido dele depois de tanto tempo, e foi o jeito como ela o disse, tão suave, tão íntimo, que quebrou o resto da resistência dele.
Ele não pensou. Só sentiu.
Com um gesto hesitante, quase inseguro, levou a mão até o rosto dela e a tocou com uma delicadeza que dizia tudo o que ele ainda não conseguia colocar em palavras. fechou os olhos ao sentir o toque, inclinando-se de leve para ele, como se estivesse voltando para casa.
E então ele a beijou.
O beijo não foi calmo, tampouco planejado. Foi intenso, urgente, como se ele estivesse se afogando e só ela pudesse salvá-lo. Havia dúvidas nos lábios de — dúvidas sobre o futuro, sobre merecê-la, sobre estar fazendo o certo —, mas beijava com a certeza de quem sabia exatamente onde queria estar.
Ela o puxou pela camisa, se aproximando ainda mais, e ele cedeu, com um suspiro quase desesperado, como se estivesse se rendendo a tudo o que tentou evitar a semana inteira.
Os lábios se encontraram de novo, agora com mais pressa. Era saudade, era amor, era tudo aquilo que ficou preso durante os dias separados. As mãos dele desceram pelas costas dela, puxando-a para mais perto, enquanto ela cravava os dedos em sua nuca, como se tivesse medo de soltá-lo e perdê-lo outra vez.
O beijo aprofundou-se, quente, trêmulo, carregado de lembranças. sussurrou contra os lábios dele:
— Eu senti tanto a sua falta...
a abraçou com força, como se aquilo pudesse compensar todos os dias que passou longe dela.
— Eu também. Mais do que você imagina.
A intensidade entre os dois crescia, quase incontrolável. As mãos de deslizavam pelo peito dele com familiaridade, e as de percorriam a cintura dela com reverência, como se a redescobrisse a cada toque.
Quando os corpos se deitaram sobre a cama, foi sem pressa, mas com a certeza de que não havia mais volta.
A boca dele encontrou o pescoço dela, depositando beijos entrecortados por respirações aceleradas. se arqueou ao encontrá-lo, os olhos fechados, entregue ao momento, aos sentimentos, a tudo o que ainda existia entre eles.
Não era só desejo — era necessidade. Era a vontade de se reconhecerem de novo, de se reconstruírem no toque, no beijo, na pele.
Quando os lábios de voltaram a encontrar os dela, suas mãos se embrenharam em seus cabelos pretos, puxando-os com força. Suas pernas logo se entrelaçaram aos quadris dele, pressionando sua intimidade já quente de desejo no membro dele, que reagiu instantaneamente ao toque.
arfou contra os lábios de , a respiração falha, o corpo inteiro estremecendo com a forma como ela o tocava.
— ... — ele murmurou com a voz rouca, como se apenas pronunciar o nome dela fosse um pedido de rendição.
Seus olhos se fecharam por um breve instante enquanto sentia o calor dela o envolver, o corpo dela se moldando perfeitamente ao seu, como sempre fora. Era como voltar para algo sagrado, algo que ele achou que havia perdido para sempre.
Ele apoiou uma das mãos na cintura dela, puxando-a com mais firmeza, colando os corpos de vez, sentindo a excitação pulsar com mais intensidade. A outra mão desceu para a coxa dela, segurando-a com firmeza, incentivando aquele contato provocante, desesperado.
— Você não faz ideia do quanto eu senti falta disso... de você. — ele sussurrou contra o pescoço dela, deixando beijos quentes por sua pele, descendo lentamente, como se precisasse provar que ela ainda era real.
gemeu baixinho ao sentir a língua dele percorrer sua pele com desejo contido. O corpo de já estava em chamas, mas era mais do que físico — era emocional.
Ele a queria. Sim. Mas acima de tudo, ele precisava se perder nela, como quem busca refúgio no único lugar onde ainda faz sentido existir.
Seu olhar encontrou o dela mais uma vez, os dois ofegantes, a respiração misturada, os olhos dizendo tudo o que a boca ainda não era capaz.
— Se eu tocar você de verdade agora… — ele murmurou, com os lábios roçando os dela — eu não vou conseguir parar, .
E ela, sem hesitar, respondeu com firmeza, segurando o rosto dele entre as mãos:
— Então não para.
E foi exatamente o que ele fez.
manteve os olhos fixos nos dela por um longo instante, como se quisesse ter certeza de que aquilo era real — de que ela ainda estava ali, ainda queria, ainda o sentia como ele a sentia.
não desviou o olhar. Havia firmeza em sua expressão, uma espécie de redenção silenciosa que dizia: "Você ainda é meu."
Com os lábios ainda entreabertos pela respiração acelerada, se afastou apenas o suficiente para se levantar da cama. Com movimentos lentos, quase reverentes, começou a despir-se diante dela.
Primeiro, desabotoou a camisa, um botão de cada vez, revelando a pele pálida sob a luz suave do abajur. o observava em silêncio, os olhos viajando por cada centímetro daquele corpo que conhecia tão bem — e que sentia falta de tocar. Quando a camisa caiu ao chão, ele ergueu os olhos para ela, como se esperasse alguma reação. apenas mordeu o lábio inferior, com a respiração presa, o desejo agora visível em cada curva de seu rosto.
Ele desfez o cinto, abriu o zíper da calça e a empurrou para baixo, até que ela escorregasse por suas pernas. Por fim, tirou a cueca, deixando-se completamente exposto diante dela.
Mas não havia vergonha entre eles. Não havia pudor. Só desejo, memória, saudade — e amor ainda pulsando embaixo da pele.
se aproximou novamente e, com delicadeza, levou as mãos até a barra da blusa de . Ela ergueu os braços em resposta silenciosa, permitindo que ele a despisse também. Sua pele se arrepiou ao sentir os dedos dele roçarem sua cintura, sua barriga, seus seios.
Depois, foi a vez da calça. Ele desabotoou lentamente, puxando o tecido por suas pernas, ajoelhando-se à frente dela como se aquilo fosse uma devoção. Por fim, tirou a calcinha com a mesma lentidão, os dedos deslizando por suas coxas como se a redescobrisse.
Quando os corpos finalmente se encontraram, pele contra pele, foi como se o tempo tivesse parado.
deitou-se por cima dela com cuidado, apoiando-se em um braço enquanto o outro traçava uma linha suave do ombro até a cintura.
— É tão estranho… — ela murmurou. — E, ao mesmo tempo, tão certo.
— Eu estava com saudade de sentir você assim… — ele respondeu, encostando a testa na dela.
Não era só aquela semana sem se tocarem. A verdade era que, desde que tudo começara a ruir, desde as primeiras discussões mais sérias, os dois já não se encontravam verdadeiramente daquele jeito. Sempre havia mágoa, distância, medo de tocar e não ser tocado de volta…
— Você é linda... sempre foi. — ele sussurrou, quase com reverência.
enterrou o rosto no pescoço dela, inalando seu cheiro, se permitindo afundar naquela sensação de pertencimento. envolveu-o com as pernas, pressionando-o contra si, e ele gemeu baixo, como se a dor de tudo o que perderam estivesse vindo à tona naquele exato momento.
— Eu senti tanta falta disso… — ela sussurrou, arqueando o corpo sob o dele.
— Eu também. Tanta… que me doía.
Os movimentos começaram lentos, como se ambos estivessem reaprendendo o ritmo um do outro. Cada toque era uma promessa não dita, cada beijo, uma confissão silenciosa.
Não havia pressa, apenas entrega.
E ali, entre os lençóis amassados e os corpos suados, e não estavam apenas fazendo amor. Estavam tentando se lembrar de quem eram — um com o outro, um no outro.
Porque mesmo com tantas dúvidas, mágoas e cicatrizes… naquele momento, tudo o que existia era aquele reencontro: quente, verdadeiro, profundo.
E nenhuma palavra seria capaz de traduzir o que os corpos diziam tão bem.
Os corpos se moviam devagar no início, como se temessem que o momento fosse frágil demais para ser apressado. arqueou as costas quando sentiu encaixar-se completamente nela, e o gemido que escapou de seus lábios era a mistura perfeita de prazer e alívio.
Era como voltar a respirar depois de muito tempo presa debaixo d’água.
— Meu Deus… — ela sussurrou, cravando os dedos nas costas dele.
fechou os olhos, pressionando a testa contra a dela, lutando para se manter no controle. Estar dentro dela de novo era mais do que físico. Era um retorno ao lugar que ele sempre chamou de lar.
— Eu senti tanto a sua falta... — ele murmurou, com a voz rouca de desejo e emoção.
puxou-o para um beijo profundo, a língua tocando a dele com fome e ternura. Beijava-o como se quisesse tatuá-lo em sua alma. Como se aquele beijo fosse a última chance de fazê-lo sentir que ainda havia amor ali.
Os movimentos dele começaram a se intensificar, as investidas mais firmes, mas ainda ritmadas. Cada estocada era seguida por um gemido baixo, abafado pelos lábios, pelos sussurros, pelos beijos quentes que não cessavam.
— Você é tudo o que eu quero… tudo. — ele sussurrou ao pé do ouvido dela, com a respiração falha.
segurou o rosto dele entre as mãos, forçando-o a encará-la.
— Então me mostra. Me mostra que ainda sou sua.
Os olhos dele brilharam com emoção, e ele a beijou com mais intensidade. Seu quadril acelerou, os movimentos ficando mais profundos, mais quentes, mais intensos. A cama rangia sob eles, mas nada parecia mais alto do que os sons entrecortados que escapavam de suas bocas: gemidos, sussurros, respirações aceleradas.
— ... — ele murmurava seu nome entre beijos, como uma oração. — Você ainda me enlouquece…
Ela envolveu-o mais forte com as pernas, sentindo o prazer crescer em ondas, se espalhando pelo corpo como calor líquido.
— Não para... — ela implorou, mordendo o lábio inferior enquanto as sensações a invadiam. — Me sente, … sente o quanto eu te amo.
Ele afundou o rosto em seu pescoço, a língua traçando um caminho pela pele úmida, enquanto seus corpos se chocavam em um ritmo intenso, cru, apaixonado. Era como se cada investida fosse uma forma de reconstruir tudo o que havia se partido entre eles.
E no auge do prazer, quando seus corpos tremiam juntos e os olhos se encontraram mais uma vez, a verdade veio à tona sem que nenhuma palavra precisasse ser dita:
Eles ainda pertenciam um ao outro.
E naquele momento, nada mais importava.
O quarto estava mergulhado em silêncio. Apenas o som leve da respiração dos dois preenchia o espaço. A luz do abajur, suave e amarelada, desenhava contornos suaves nas peles suadas e sensíveis, enquanto e permaneciam deitados, um ao lado do outro, envoltos pelos lençois amassados e por tudo o que haviam acabado de compartilhar.
Nenhum dos dois falou de imediato.
, com o rosto virado para ele, observava seu perfil em silêncio. O peito dele ainda subia e descia devagar, como se estivesse tentando encontrar algum tipo de equilíbrio interno. Ela queria dizer algo — algo bonito, esperançoso, reconfortante —, mas as palavras pareciam frágeis demais diante da intensidade do que haviam acabado de viver.
Já mantinha os olhos fixos no teto, como se buscasse alguma resposta ali. O corpo ainda sentia o dela, o calor, a entrega, a certeza que ela colocava em cada toque. Mas sua mente... sua mente não descansava.
"Isso muda tudo?"
"Ou só nos confunde mais?"
— Você está pensando demais — ela disse, com um leve sorriso cansado, a voz ainda rouca de emoção.
Ele se virou para encará-la, e naquele momento, viu. Os olhos dele estavam cheios — de amor, de saudade, mas também de conflito.
— Porque eu preciso pensar, . Isso… — ele gesticulou com a mão, apontando para eles. — Isso foi real. Mas e depois? A gente vai continuar fingindo que amor resolve tudo?
O sorriso dela desapareceu, substituído por um olhar mais sério.
— Você acha que eu estou fingindo?
— Eu acho que você quer se agarrar à ideia de nós dois. E eu entendo. Deus, eu também quero. Mas não é só isso.
Ela se sentou, puxando o lençol contra o peito, a expressão mudando.
— Você não pode simplesmente transar comigo como se ainda fôssemos um casal e, minutos depois, duvidar de tudo de novo, !
— Não é dúvida! — ele ergueu a voz, sentando também. — É realidade! A gente acabou de se entregar como se nada tivesse acontecido, como se as brigas, a dor, tudo tivesse desaparecido. Mas não desapareceu!
— Eu sei disso! — retrucou, os olhos marejando. — Eu só… eu só achei que isso significasse que ainda havia algo pra salvar!
— E talvez haja… mas não agora. Não assim. Toda vez que a gente tenta consertar as coisas, acaba quebrando mais ainda.
— Então por que me deixou vir aqui? Por que me beijou? Por que me fez sentir que ainda sou sua?! — ela disparou, a voz tremendo de emoção. — Se tudo o que você ia fazer era me lembrar que sou insuficiente?!
Ele desviou o olhar, respirando fundo.
— Você nunca foi insuficiente, . Eu é que não consigo ser o homem que você precisa.
Ela apertou os lábios, engolindo o choro. E ali, entre os lençóis que ainda guardavam o calor dos corpos, o clima voltou a esfriar.
A intimidade havia reacendido a chama… mas também iluminado as rachaduras.
E , olhando para o rosto dela, percebeu com pesar: talvez ele tivesse razão desde o início. Talvez o amor não fosse suficiente. E talvez, por mais doloroso que fosse, o divórcio ainda fosse o único caminho que impedisse os dois de continuarem se ferindo.
O silêncio que se instalou após a discussão era diferente de todos os outros. Não havia gritos, não havia portas batendo ou acusações. Era um silêncio denso, carregado, como se cada palavra não dita pesasse mais do que qualquer grito.
permaneceu sentado à beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto enterrado nas mãos. , do outro lado, sentia o lençol escorregar pela pele, frio, estranho… como se cobrisse alguém que ela já não reconhecia.
Ela o olhava, esperando que ele dissesse algo. Qualquer coisa. Um “fica”, um “me perdoa”, ou até mesmo um “eu não sei o que estou fazendo”. Mas ele não disse nada.
E aquilo doeu mais do que qualquer verdade cruel.
Porque o silêncio dele parecia uma confirmação.
se levantou sem dizer palavra. Caminhou até suas roupas espalhadas pelo chão e começou a vesti-las com gestos lentos, precisos. Cada peça colocada era como uma armadura.
ergueu o olhar ao ouvir o som das roupas sendo ajeitadas. Observou em silêncio enquanto ela arrumava a blusa, puxava a calça e calçava os sapatos com calma quase calculada.
— … — ele disse, finalmente, em um sussurro.
Ela ergueu o olhar, os olhos marejados, mas firmes.
— Não precisa dizer nada.
Ele abriu a boca, mas não soube o que dizer. Porque qualquer coisa que dissesse agora só a machucaria mais.
— Foi isso, né? — ela perguntou, a voz baixa, trêmula. — Você precisava de um último toque antes de me deixar de vez.
— Não foi assim... — ele tentou, levantando-se.
— Então como foi? — Ela riu, com amargura. — Você me deixou te amar de novo… e agora vai continuar seguindo em frente como se nada tivesse acontecido?
deu um passo, mas ela recuou.
— , eu nunca quis te usar. Eu só... me perdi por um instante.
— E eu me perdi por completo. — ela rebateu, a voz embargando. — A diferença é que pra mim isso ainda significava alguma coisa.
Ela pegou a bolsa, os olhos firmes nele, mesmo com o coração em pedaços.
— Obrigada por me lembrar por que você quis se divorciar.
E sem esperar mais, virou as costas e saiu do quarto.
não a impediu.
Não porque não quisesse. Mas porque não sabia mais se tinha o direito.
E quando a porta se fechou com um clique baixo e seco, ele sentiu o peso da solidão cair sobre seus ombros de vez.
O ar noturno parecia mais frio do que antes. caminhava apressadamente pela calçada, os braços cruzados sobre o peito como se tentasse conter não só o vento, mas o turbilhão de emoções dentro dela.
Cada passo doía. Não fisicamente — mas na alma.
Ela apertava os lábios para não chorar. Já havia derramado lágrimas demais por . No hotel, se entregou a ele com todo o coração. De novo. E o que recebeu em troca? Silêncio. Confusão. A constatação dolorosa de que, para ele, aquilo havia sido só um impulso. Uma fraqueza.
Não sabia se sentia raiva dele ou de si mesma. Talvez dos dois.
"Você me deixou te amar de novo..." — ela repetia em pensamento.
E como sempre, foi ela quem saiu machucada.
Chegando ao ponto de táxi, respirou fundo, finalmente permitindo que as lágrimas descessem silenciosamente pelas bochechas. O motorista perguntou para onde ela queria ir.
— Só… pra longe. — ela murmurou, e se encolheu no banco.
Naquela noite, não voltou para casa. Foi para a casa de uma amiga, onde passou horas acordada deitada no sofá, olhando o teto escuro. Pela primeira vez, começou a aceitar que talvez, por mais que doesse, o fim era real.
– nos dias seguintes
O quarto de hotel parecia ainda menor na manhã seguinte. E mais frio.
acordou sozinho, e quando esticou a mão no lençol ao lado, não encontrou nada além de vazio. O mesmo vazio que sentia por dentro.
O cheiro de ainda estava ali, misturado aos lençois, à pele dele, à memória do que haviam feito. Mas o que deveria ter sido um reencontro se transformou em mais uma lembrança dolorosa.
Ele se sentou na beira da cama e passou longos minutos com o rosto nas mãos. Queria ligar pra ela. Pedir desculpas. Dizer que sentia sua falta. Que a amava. Mas ele já tinha dito isso antes — e, ainda assim, a machucou.
Nos dias que se seguiram, tentou seguir a rotina. Trabalho, reuniões, papéis, e um sorriso educado que não chegava aos olhos. Dormia mal. Comia pouco. Evitava olhar o celular com medo de não encontrar mensagem alguma… ou pior, de encontrar uma e não saber como responder.
As palavras dela ainda ecoavam em sua mente:
"Obrigada por me lembrar por que você quis se divorciar."
E isso doía. Porque ele não a havia usado. Mas também não foi homem o bastante para segurar sua mão depois.
Na terceira noite, ele voltou a abrir a galeria do celular. Viu fotos antigas dos dois, viagens, aniversários, o sofá da sala deles coberto de mantas — e deitada, sorrindo pra ele como se ele fosse o mundo inteiro.
Agora, ele era só mais um estranho.
Ele queria acreditar que fez o certo. Mas a cada dia sem ela… a certeza parecia escorrer por entre os dedos.
Alguns meses depois
O som do relógio de parede marcava os minutos como uma contagem regressiva silenciosa. A sala era sóbria, com móveis de madeira escura, pastas empilhadas e um cheiro leve de papel e café velho.
estava sentada à esquerda da mesa, vestida de forma simples, elegante, mas com os ombros tensos e as mãos cruzadas no colo. Tinha os olhos fixos na janela, tentando não olhar para o homem sentado do outro lado.
.
Ele havia chegado pouco depois dela, e tudo entre os dois foi silêncio. Nenhum “oi”. Nenhum “como você está?”. Só um leve aceno de cabeça e olhares breves que se evitavam.
Ambos estavam ali para o fim.
O advogado, um senhor de meia-idade de fala tranquila, explicava os termos mais uma vez: divisão de bens já acordada, nenhum litígio, e um processo simples.
— Aqui estão os papeis. Precisamos apenas da assinatura de ambos para finalizar. — disse ele, deslizando as folhas sobre a mesa.
Antes de assinar, olhou para . Pela primeira vez em meses, seus olhos se encontraram por mais do que um segundo. E naquele olhar… havia tanto.
Saudade.
Dúvida.
Dor.
E amor. Ainda ali. Silencioso. Mas pulsando.
Ele também a observava. E quando viu sua hesitação, respirou fundo.
E amor. Ainda ali. Silencioso. Mas pulsando.
Ele também a observava. E quando viu sua hesitação, respirou fundo.
— Você ainda pensa naquela noite? — ele perguntou, quebrando o silêncio com uma voz baixa, rouca.
piscou, surpresa. A caneta parou a meio caminho do papel.
— Penso em muitas noites. — ela respondeu, sem desviar o olhar. — Algumas boas, outras... nem tanto.
— Eu penso naquela como a noite em que eu te perdi de vez.
— Você me perdeu muito antes, . Só não quis ver.
Ele assentiu, devagar.
— Eu achei que deixar você ir fosse o certo. Que era o que você precisava pra ser feliz. Mas…
— Mas? — ela perguntou, com a voz firme, mas trêmula.
— Eu só fiquei vazio.
O silêncio retornou. Só que dessa vez, estava cheio de tudo o que ainda não havia sido dito.
olhou para os papéis. Depois para ele.
— Por que está dizendo isso agora? Aqui?
— Porque é a última chance que eu tenho de ser sincero.
Ela sentiu um nó se formar na garganta, mas não chorou. Estava cansada de chorar.
— Você quer que eu não assine? É isso?
hesitou. O ar parecia mais denso agora.
— Eu quero... que você seja feliz. Mesmo que isso signifique que a gente acabe aqui.
o encarou. A caneta ainda entre os dedos, o coração aos pulos.
— Às vezes, o amor não basta.
— Eu sei. — ele disse, com tristeza no olhar. — Mas eu também sei que… tem amores que a gente nunca deixa de sentir.
Ela fechou os olhos por um instante. E quando os abriu, parecia diferente. Mais leve. Mais certa.
E então, finalmente, falou:
— Eu vou assinar.
não tentou impedir. Apenas a observou enquanto ela deixava o nome marcado na folha, junto à última parte da história deles.
Ela empurrou os papeis na direção dele.
— Sua vez.
Ele segurou a caneta por um momento, encarando o próprio nome, o espaço em branco. E então, lentamente, começou a assinar.
segurava a caneta, ainda com os olhos fixos no rosto dela. Sua pergunta pairava no ar:
— Se eu te convidasse pra um café… você aceitaria?
manteve o silêncio por um instante. Não havia mais hesitação em seu olhar, nem raiva, nem mágoa. Apenas uma espécie de serenidade que só quem já sofreu demais consegue carregar.
— Assina primeiro. — ela respondeu, sem desviar os olhos.
segurou o olhar dela por mais um segundo. Então baixou a cabeça e, com um traço firme, assinou o último documento.
Estava feito.
Eles estavam oficialmente divorciados.
O advogado se levantou, recolhendo as folhas com discrição. Murmurou algo sobre enviar cópias nos próximos dias e se retirou, deixando os dois sozinhos na sala.
levantou-se, pegou a bolsa e ajeitou a alça no ombro. Por um segundo, pareceu que simplesmente sairia dali, como se aquele momento fosse apenas mais um ponto final.
Mas então, antes de alcançar a porta, parou.
Virou-se lentamente, os olhos encontrando os dele mais uma vez.
— O café... pode ser amanhã. Às dez, na mesma cafeteria de sempre?
assentiu, surpreso, um pouco confuso.
— Eu estarei lá.
Ela apenas sorriu de leve, acenou com a cabeça e foi embora.
No dia seguinte — 10h00
O café era discreto, aconchegante, e o cheiro de pão fresco misturava-se ao aroma do café recém-passado. estava lá antes do horário. Sentado junto à janela, mãos entrelaçadas sobre a mesa, olhando para a porta a cada dois minutos.
chegou pontualmente.
Estava serena, os cabelos soltos, uma blusa clara e um brilho nos olhos que ele não via há muito tempo — um brilho que doía, porque ele não sabia mais se era por ele… ou apesar dele.
— Oi. — ela disse, sentando-se à sua frente.
— Oi. — ele respondeu, sorrindo de leve.
Fizeram o pedido, trocaram amenidades. Mas não demorou para o silêncio cair sobre a mesa. Aquele silêncio carregado de tudo o que já foi dito, sentido, e agora precisava ser deixado para trás.
foi a primeira a falar.
— Eu vou me mudar.
piscou, confuso.
— Como assim?
— Consegui uma transferência no trabalho. Estou indo para Busan. Daqui a uma semana.
Ele assentiu devagar, como se digerisse aquilo palavra por palavra.
— Vai ser bom pra você?
— Vai. — ela respondeu com convicção. — Eu preciso de um novo começo.
abaixou os olhos, engolindo a resposta que queria dar. “E se eu pedisse pra você ficar?” Mas não disse. Não tinha o direito.
— Fico feliz por você. De verdade.
Ela sorriu, e era sincero.
— Obrigada.
Tomaram o café em silêncio por alguns minutos. E quando ela terminou o último gole, levantou-se com calma.
— Adeus, .
Ele também se levantou.
— Adeus, .
Dessa vez, sem beijos. Sem lágrimas. Sem promessas.
Apenas um fim limpo.
Ou talvez… um novo começo. Só que agora, separados.
A rotina de havia se tornado uma repetição fria de gestos automáticos: acordar, café preto forte demais, horas intermináveis de trabalho, banho, cama. E silêncio. Muito silêncio.
O quarto do hotel parecia encolher a cada dia. Antes, era só um lugar provisório, uma ponte entre o fim e um futuro incerto. Agora, era um lembrete constante de que ele não tinha mais casa. Só paredes brancas e lençois lavados demais.
Naquela noite de sexta-feira, aceitou o convite de dois colegas para tomar uma bebida. Fingiu um sorriso, deu risada em momentos que não achou graça nenhuma, ouviu as histórias dos outros com a cabeça distante.
Sentado num bar iluminado por néons azulados, rodeado por conversas rasas e música alta, ele sentia o peso da ausência de como uma pedra no peito.
Enquanto os amigos falavam sobre relacionamentos passageiros e aplicativos de namoro, olhava para o copo de uísque como se ele pudesse oferecer respostas. Mas tudo o que sentia era um vazio impossível de preencher.
Na volta para o hotel, o carro desacelerou num sinal vermelho. Ele olhou pela janela e viu um casal andando de mãos dadas na calçada. Estavam rindo, os dedos entrelaçados, os ombros se encostando a cada passo.
E por um segundo, ele enxergou ali.
O cabelo preso de qualquer jeito, o jeito como ela encostava o queixo no ombro dele quando ria… a lembrança bateu forte. Forte o suficiente para que ele desviasse o olhar com um nó na garganta.
Ao chegar ao quarto, largou a jaqueta na cadeira e caiu sentado na cama, sem nem tirar os sapatos.
Pegou o celular.
Abriu a conversa com . Estava ali, no topo, como sempre. Nenhuma nova mensagem desde aquela noite. Nenhuma notificação. Nenhuma palavra.
O polegar hesitou sobre o teclado.
"Você chegou bem?"
"Me desculpa."
"Ainda penso em você."
"Ainda dá tempo?"
Apagou tudo. Um por um.
No fim, ficou olhando para a tela em branco, o cursor piscando como se zombasse dele.
Fechou o aplicativo. Jogou o celular longe da cama.
E então se deitou, encarando o teto escuro, ouvindo apenas a própria respiração e os ecos de uma escolha que, dia após dia, doía mais do que ele havia imaginado.
A luz da manhã invadia o quarto pelas frestas da cortina, mas continuava imóvel na cama. Não dormira mais do que duas horas. Passou a madrugada alternando entre olhar para o teto e fechar os olhos tentando esquecer.
Mas esquecer era impossível. Ela estava em tudo.
No travesseiro ao lado, ainda parecia haver o perfume dela. E o lençol que ele tentava ignorar era o mesmo onde os dois se reencontraram — e se perderam de vez.
Às 8h ele se levantou, tomou um banho demorado e ficou parado por alguns minutos em frente ao espelho, observando o próprio reflexo. Parecia mais velho. Cansado. O vazio dentro dele transbordava pelos olhos.
De volta ao quarto, vestiu-se de forma simples e sentou-se diante da escrivaninha. Havia um bloco de papel em branco e uma caneta preta esquecida ali, de brindes do hotel. Ele não sabia o que pretendia fazer. Só sabia que precisava tirar aquilo do peito.
Começou a escrever.
","
Parou.
Respirou fundo. E continuou.
"Acho que você não vai ler isso. Talvez eu nem tenha coragem de te entregar. Mas preciso escrever, nem que seja só pra mim."
As palavras começaram a sair como uma represa rompida.
"Eu achei que estava te libertando quando te deixei. Que o melhor era seguir caminhos separados. Mas a verdade é que não passei um só dia sem pensar em você. No seu jeito de franzir a testa quando está irritada. Em como o café só ficava certo quando era você quem fazia. No silêncio da casa que só parecia suportável porque você estava lá."
"Eu não sei se mereço te pedir perdão. E talvez você não queira mais ouvir nada de mim. Mas ainda assim, me pego imaginando como seria se a gente tivesse conseguido. Se eu tivesse sido menos covarde. Se eu tivesse lutado."
Ele parou por um momento, engolindo em seco, sentindo o peso de cada linha.
"A verdade é que eu ainda te amo. E a dor de ter deixado você ir me acompanha como sombra. Eu só queria que você soubesse disso. Mesmo que não mude nada."
"Com amor,
."
Ele terminou de escrever e ficou encarando o papel por alguns minutos.
Depois, dobrou a folha com cuidado, guardou na gaveta da escrivaninha… e a fechou.
Não estava pronto para entregá-la. Talvez nunca estivesse.
Mas, pela primeira vez em dias, chorou em silêncio. E foi esse choro que, de algum modo, o fez se sentir mais humano — e mais perdido — do que nunca.
Continua...
Nota da autora: Olá meu anjo! Se gostar, não se esqueça do comentário.
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