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Atualizada em: 03/04/25

Seven Hills, Sydney - Austrália. Ano: 2018

O som suave dos pássaros misturava-se ao ruído distante dos carros enquanto e caminhavam lado a lado, as mãos entrelaçadas como se fosse a coisa mais natural do mundo. Para qualquer um que passasse por eles, aquilo poderia parecer o gesto carinhoso de um casal apaixonado, mas para e , era apenas uma extensão de quem eles eram.
Eles haviam crescido assim: conectados de maneira única e indissolúvel. Desde que se entendiam por gente, os dois eram inseparáveis. O fato de morarem lado a lado facilitava tudo. A casa dos e a casa dos compartilhavam uma cerca baixa no quintal, que as crianças logo aprenderam a pular. era o aventureiro; , a estrategista. Juntos, formavam a dupla perfeita.
— Você acha que o professor Bennett vai passar aquele teste surpresa hoje? — perguntou, quebrando o silêncio. Sua voz tinha um tom casual, mas ele apertou um pouco mais a mão dela, como sempre fazia quando estava ansioso.
— Se passar, estamos ferrados — respondeu com um sorriso. — Mas, vamos combinar: não seria nada que não pudéssemos superar.
Ela o olhou de soslaio e riu ao ver sua expressão de falsa indignação. sempre reagia assim, um pouco dramático, mas era exatamente isso que ela adorava nele.
Caminhar juntos até a escola fazia parte da rotina desde os tempos de primário. Naquele bairro tranquilo, os dois se sentiam como donos das ruas. Tinham um atalho secreto pelos fundos das casas, onde conversavam sobre tudo: os planos do dia, as séries que assistiam, e os sonhos que um dia esperavam realizar.
Para , era a constante que equilibrava sua vida. Ele sabia exatamente como fazê-la rir quando o mundo parecia pesado. Já para , era sua bússola moral, alguém que sempre o incentivava a dar o seu melhor, mesmo quando ele duvidava de si mesmo.
Eles eram mais que melhores amigos; eram partes inseparáveis de um todo. Assim, enquanto atravessavam o portão da escola de mãos dadas, nem pararam para pensar no quanto aquilo poderia parecer incomum para outras pessoas. Para eles, era apenas mais um dia sendo e .

❣️❣️❣️

O portão do colégio particular brilhava ao sol da manhã, ostentando o brasão dourado da instituição com um ar de imponência que só os melhores colégios de Sydney conseguiam exibir. St. Andrew’s Academy era um lugar de tradição, disciplina e excelência – exatamente o tipo de escola que combinava com herdeiros de famílias ricas como e .
Enquanto caminhavam pelo pátio impecavelmente limpo, os olhares se voltavam para os dois, como sempre acontecia. Não era apenas porque e formavam um duo naturalmente atraente, mas também porque seus nomes carregavam peso. Os e os eram famílias influentes no cenário empresarial australiano, e todos sabiam disso.
— Você percebe como eles nos olham? — comentou, soltando um riso discreto, enquanto ajeitava a alça de sua mochila de couro, que provavelmente custava mais do que o salário mensal de alguns professores.
— Claro que percebo… — respondeu, exibindo um sorriso confiante. — Sou irresistível.
revirou os olhos, mas não conseguiu conter a risada. Ele sempre sabia como transformar qualquer situação em algo leve.
Enquanto avançavam pelo corredor principal, cumprimentavam colegas com acenos educados, mas sem parar para longas conversas. Não era por arrogância, mas porque os dois preferiam a companhia um do outro. O corredor, adornado com quadros de ex-alunos ilustres, era quase como uma linha do tempo para ambos. Ali, eles tinham vivido momentos inesquecíveis – bons e ruins – desde os primeiros anos de ensino.
— Ei, ! ! — Uma voz familiar os chamou. Era Charlotte, a melhor amiga de , que se aproximava com passos apressados, o rabo de cavalo balançando atrás dela.
— Oi, Lottie! — disse com um sorriso, soltando a mão de para abraçá-la rapidamente.
— Vocês chegaram juntos, de novo — Charlotte observou com um olhar sugestivo, que já era habitual. — Precisam admitir logo que são um casal!
— Sim, nós somos um casal perfeito! — respondeu, piscando para Charlotte de maneira teatral.
— Ele está sendo sarcástico… — esclareceu, dando um leve tapa no braço de .
Charlotte apenas riu, mas, no fundo, ela parecia realmente acreditar no que dizia. A verdade é que para todos ao redor, e eram o exemplo perfeito de amizade inseparável, quase como se estivessem destinados a algo mais.
— Se vocês não terminarem juntos no futuro, acho que o universo estará cometendo um erro…
Charlotte comentou, cruzando os braços enquanto os analisava com um olhar astuto.
— Bom, se isso acontecer, culpe o universo, não a gente. — respondeu com um sorriso de canto, claramente acostumado a esses comentários.
, por outro lado, apenas balançou a cabeça, desviando o olhar. Ela estava tão acostumada a ouvir aquilo que nem se dava ao trabalho de responder mais. A ideia de que eles poderiam ser algo além de melhores amigos parecia absurda. Afinal, o que eles tinham era diferente – sólido, confortável. Não havia motivos para mudar.
Não é?
— Vocês não se cansam disso, não é? — finalmente disse, ajeitando a mochila nos ombros. — e eu somos amigos. Sempre fomos, sempre seremos. Fim da história.
— É isso aí… — reforçou, levantando a mão para um “high five” que bateu sem hesitar.
Mesmo com a resposta, Charlotte deu de ombros, claramente não convencida. Ela sabia que, apesar da negação, havia algo ali, algo que talvez nem mesmo e tivessem percebido.
Antes que pudessem continuar a conversa, o sinal tocou, ecoando pelos corredores e apressando os alunos para as salas. e trocaram um olhar rápido e seguiram juntos, como sempre, para a sala de aula.
Eles se sentaram lado a lado, em seus lugares habituais no fundo da sala. Enquanto o professor começava a explicar o conteúdo do dia, puxou o caderno e começou a escrever, mas não conseguiu evitar um pensamento. E se Charlotte estivesse certa? Ela olhou de relance para , que estava distraído, rabiscando algo no canto da folha.
Aquela ideia foi afastada tão rápido quanto surgiu. Para , era mais fácil acreditar que o que tinham era insubstituível exatamente porque era amizade. Tudo além disso parecia arriscado demais. E, no fundo, ela tinha certeza de que pensava o mesmo. Ou será que não?

❣️❣️❣️

O sol do meio-dia iluminava o pátio do colégio, onde grupos de alunos se espalhavam em mesas de piquenique ou na grama bem cuidada. e estavam sentados no canto de sempre, debaixo de uma grande árvore que oferecia uma sombra agradável. Aquele era o ponto deles desde o primeiro ano no St. Andrew’s Academy.
, com um pacote de batatas fritas na mão, contava uma história animada sobre como havia convencido seu irmão mais velho a emprestar o carro no fim de semana. ouvia enquanto mordia a maçã que havia trazido de casa, mas seus olhos dançavam pelo rosto dele.
— E então, ele disse: ‘Só se você lavar o carro e me comprar café por uma semana inteira.’ Pode acreditar nisso? Eu não dirijo tão mal assim — concluiu, rindo enquanto jogava uma batata na boca.
— Bom, considerando a última vez que você dirigiu, acho que ele foi generoso. — retrucou com um sorriso, mas o riso saiu mais curto do que o normal.
Ela tentou disfarçar, mas o comentário de Charlotte daquela manhã ainda ecoava em sua mente. Não era como se ela nunca tivesse ouvido aquelas insinuações antes – todos ao redor pareciam determinados a empurrá-los como um casal. Porém, por algum motivo, naquele dia específico, a ideia parecia ter se alojado em algum canto incômodo de seus pensamentos.
? — chamou, inclinando-se um pouco mais para perto.
— Hm? — Ela piscou, percebendo que havia perdido a última parte do que ele dizia.
— Você está esquisita hoje. Tudo bem?
— Claro! — respondeu rápido demais, desviando os olhos.
franziu o cenho, estreitando os olhos como se quisesse decifrá-la. Ele conhecia bem o suficiente para perceber quando algo estava fora do lugar, mas antes que pudesse insistir, ela soltou:
— Então, você vai mesmo lavar o carro do Chris? Quero só ver isso acontecer.
Ele revirou os olhos, deixando o assunto de lado.
— Eu sou capaz de muito mais, . Não duvide de mim.
O apelido, dito com tanta naturalidade, fez sorrir, mas também trouxe uma pontada de desconforto. A maneira como ele falava com ela, o jeito como seu sorriso iluminava o rosto... Era estranho. Por que ela estava reparando nisso agora?
Enquanto se inclinava para pegar outra batata no pacote, cruzou os braços e olhou para o céu por um momento. Talvez ela estivesse mesmo exagerando. era , e eles eram amigos – era assim que tinha que ser.
Mas então, sem querer, seus olhos voltaram para ele, e por um instante que pareceu durar mais do que deveria, ela se perguntou: E se Charlotte estiver certa?
❣️❣️❣️

O dia escolar finalmente terminou, e e caminhavam lado a lado em direção ao bairro onde moravam. Era uma rotina tão familiar que eles nem precisavam discutir quem levaria a conversa adiante; ela fluía naturalmente.
— Você viu o jeito que o professor ficou quando o Henry respondeu errado aquela questão? — perguntou, rindo enquanto jogava a mochila de um ombro para o outro.
— Coitado, ele parecia que ia afundar na cadeira — respondeu, sorrindo.
Os dois riram juntos, o som ecoando pelas ruas tranquilas e arborizadas do bairro de Seven Hills. Mesmo que fossem diferentes em muitos aspectos, havia algo na amizade deles que sempre funcionava. era o mais extrovertido, sempre pronto para animar qualquer situação, enquanto tendia a ser mais ponderada e prática.
Enquanto andavam, o vento balançava suavemente as folhas das árvores, e o céu começava a ganhar tons alaranjados do final de tarde. chutava uma pequena pedra pela calçada, enquanto tentava ignorar os pensamentos intrusivos que insistiam em rondar sua mente desde a manhã.
No entanto, ao virarem uma esquina, um estalo seco os fez parar. Uma bicicleta vinha em alta velocidade pela calçada, e antes que percebesse, segurou seu braço, puxando-a para perto dele para evitar a colisão.
— Ei! Olha por onde anda! — gritou para o ciclista, que passou apressado sem se desculpar.
sentiu seu coração disparar, mas não era só pelo susto. ainda segurava seu braço, e ela percebeu que ele havia puxado-a tão rápido que os dois agora estavam muito próximos. Perto demais…
— Você está bem? — perguntou, os olhos escuros fixos nos dela, cheios de preocupação
— Estou… — ela respondeu, a voz quase um sussurro. Mas o problema era que ela não estava, não de verdade.
Ela sentiu o calor da mão dele em sua pele, o toque firme mas gentil, como se ele sempre soubesse exatamente o que fazer para protegê-la. O olhar de parecia mais intenso naquele momento, como se houvesse algo ali que ela nunca tinha notado antes.
Ele franziu a testa ligeiramente, como se quisesse dizer algo, mas desistiu e soltou o braço dela devagar.
— Desculpa, acho que apertei forte demais.
— Não, está tudo bem…— respondeu rápido, quase ansiosa para que ele não percebesse o turbilhão de emoções que ela mal conseguia entender.
O silêncio entre eles durou um pouco mais do que o habitual enquanto continuavam a caminhar. parecia distraído, chutando a mesma pedra pela calçada, mas não conseguia parar de pensar no que havia acabado de acontecer. O toque dele, o olhar, o jeito que ele a puxou como se fosse a coisa mais natural do mundo…
— Você está estranha de novo… — comentou, quebrando o silêncio.
— Não estou… — retrucou, tentando soar convincente.
Ele parou de andar e virou-se para ela, cruzando os braços com um sorriso de canto.
— Está sim. O que foi? Me conta.
Ela balançou a cabeça, desviando o olhar.
— Nada. Só... acho que ainda estou um pouco assustada com a bicicleta.
— Bom, se é isso, você pode respirar aliviada. Estou aqui para te salvar de ciclistas descontrolados. — brincou, colocando a mão no peito de maneira exagerada.
Apesar da tentativa de aliviar o clima, sentiu que algo entre eles havia mudado naquele instante. Ela não sabia exatamente o que era, mas a sensação a acompanhou até chegarem à entrada de suas casas.
— Até amanhã, ! — disse, acenando enquanto caminhava em direção à própria casa.
— Até amanhã! — ela respondeu, observando-o se afastar antes de entrar na sua.
Ao fechar a porta atrás de si, encostou-se à parede e soltou um longo suspiro. O que estava acontecendo com ela? Por que , seu melhor amigo de infância, de repente parecia tão diferente?
Ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Mas, no fundo, sabia que não seria tão fácil assim.

❣️❣️❣️



Seven Hills, Sydney - Austrália. Ano: 2018

— Você está me dizendo que nunca beijou ninguém? — piscou os olhos várias vezes enquanto fazia um biquinho.
, mesmo vermelho como um pimentão, gargalhou da reação da melhor amiga. Não, ele nunca havia beijado na boca no auge dos seus quase dezesseis anos, e esperava no fundo no fundo, que também não. Mas, por mais que estivesse rindo, ele sentia uma estranha mistura de vergonha e algo mais. Algo que ele não sabia como definir, muito menos como dizer.
No fundo, a verdade era que nunca beijara ninguém porque, de alguma forma, ele sempre quis que o primeiro beijo dele fosse com . Não era apenas o desejo comum que todo garoto da sua idade sentia. Era mais do que isso. Ele confiava nela, sabia que ela nunca o julgaria, mesmo que o beijo fosse uma tragédia completa. Eles sempre foram melhores amigos, e ele acreditava que isso nunca mudaria. Se fosse com ela, ele acreditava que nada ficaria estranho, que a amizade continuaria a mesma, intacta, sem interferências. Era como se o beijo fosse apenas mais uma coisa a ser compartilhada entre eles, sem o peso que teria com qualquer outra pessoa.
— Eu... bem, não é que eu não quisesse… — disse, um pouco mais baixo, enquanto olhava para o chão, tentando disfarçar a vergonha — Eu só acho que, sei lá... nunca foi o momento certo. Além disso, você sabe que eu confio em você, . Se fosse com alguém, eu preferiria que fosse com você.
Ele olhou de relance para ela, tentando observar a reação dela. Ele sabia que isso soava estranho. Ele sabia que, com o tempo, eles seriam apenas amigos, e a ideia de algo mais nunca foi uma opção. Mas naquele momento, com ela ali, era difícil não se perguntar se a amizade deles poderia, de alguma forma, se transformar em algo mais.
, que estava mordendo o lábio inferior enquanto pensava, não sabia exatamente o que dizer. Ela nunca tinha parado para pensar sobre isso antes, mas, ao ouvir falar com tanta sinceridade, uma sensação estranha a invadiu. Aquele momento – tão simples, mas tão cheio de significados não ditos – parecia quase como uma linha tênue entre o que eles eram e o que poderiam ser.
— Eu também… — começou, mas a palavra morrendo na ponta da língua. Ela queria dizer que também confiava nele, mas o que ela realmente queria dizer era mais complexo do que isso. Era uma confusão de sentimentos que ela ainda não sabia como lidar.
O silêncio pairou entre eles, e o simples ato de se olharem no fundo dos olhos fez o clima mudar sutilmente. desconfortável, confusa. Ambos estavam cientes de algo que até então nunca haviam notado: aquela amizade tinha algo mais. Algo que talvez eles não soubessem como administrar.
— Vamos, , não vai me deixar no vácuo! — tentou quebrar o silêncio com uma risada nervosa, tentando voltar à normalidade.
Mas, mesmo com a risada, algo ali dentro de permanecia incomodada, e ela sabia que aquela conversa não acabaria tão fácil assim.
— O que você quer que eu diga? — voltou a morder o lábio, claramente nervosa. O clima entre os dois agora estava estranhamente carregado, e ela não sabia como continuar a conversa sem se sentir desconfortável.
— Você já beijou? — perguntou, erguendo ainda mais o olhar, encarando-a diretamente nos olhos de novo, como se tentasse descobrir a verdade não só através das palavras, mas daquilo que ela transmitia em silêncio.
fez que não com a cabeça, e, por um momento, tudo ficou quieto entre eles. O vento suave da tarde parecia não alcançar o pequeno espaço entre eles, onde o ar estava denso e carregado de algo não dito.
não conseguiu esconder um leve sorriso que se formou no canto dos lábios, mas ele não sabia por que estava sorrindo. Era uma reação espontânea, quase involuntária, mas ele sentia uma estranha sensação de alívio. Ela também não havia beijado ninguém.
— Você... você nunca teve vontade? — perguntou, o tom mais suave agora, como se a conversa tivesse mudado para algo mais pessoal, mais íntimo.
— Não sei… — balançou a cabeça, ainda sem saber como lidar com a situação — Eu acho que sempre estive tão ocupada... com a escola, com tudo... Nunca realmente pensei muito sobre isso.
A verdade era que ela nunca pensara sobre beijar alguém, até que aquela conversa tivesse começado. Ela estava tão acostumada à ideia de ter apenas amigos e a ver todos ao seu redor assim, especialmente , que o simples pensamento de algo mais entre eles parecia... estranho. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar o fato de que, naquele momento, sentia uma tensão no ar. Algo que não havia entre eles antes.
, por sua vez, estava tentando esconder o conflito interno que se formava dentro dele. Havia uma parte de si que desejava mais, que queria que as coisas entre eles fossem diferentes. Mas ele sabia que se fosse assim, se ele e passassem a se ver de uma maneira diferente, as coisas poderiam mudar — e nem ele nem ela queriam que isso acontecesse.
— Eu acho que... acho que é por isso que é tão estranho falar sobre isso com você — continuou, olhando para ele com um sorriso tenso — Porque, você sabe, sempre fomos... nós dois. Apenas nós dois.
assentiu, seu olhar suavizando um pouco, mas ainda carregando aquele mistério não resolvido. Ele queria dizer algo mais, mas as palavras pareciam se perder na garganta. Afinal, o que ele diria? Que queria que o primeiro beijo deles fosse juntos? Que, no fundo, ele se preocupava com mais do que apenas amizade?
Ele não sabia como expressar isso sem fazer as coisas parecerem diferentes. Então, ele apenas sorriu, tentando tornar o momento mais leve.
— É, eu sei. Mas... você não acha que talvez um dia a gente tenha que sair dessa nossa zona de conforto? — perguntou, rindo nervosamente — Eu quero dizer, não sei... Talvez seja hora de... sair um pouco mais da rotina?
o olhou, ainda tentando entender se ele estava brincando ou se havia algo mais por trás das palavras dele. Mas, naquele momento, ela percebeu que não havia como voltar atrás. Algo havia mudado. E ela não sabia como lidar com isso, mas estava começando a sentir que, talvez, a verdadeira pergunta fosse: até onde eles estavam dispostos a ir um pelo outro?
— Você quer me beijar então, é isso? Seja mais específico !
ficou parado por um momento, o coração batendo forte no peito, e ele sentiu um nó na garganta. Ele olhou para , que o encarava com uma expressão que ele não conseguia decifrar completamente, mas algo na forma como ela o desafiava o fazia querer responder de uma forma que jamais imaginara.
Ele respirou fundo, sentindo que aquele momento estava se estendendo além do que ele jamais poderia controlar. Estava difícil encontrar as palavras, mas a verdade estava ali, clara e irrefutável, bem diante dele.
— Eu... — Ele começou, a voz um pouco trêmula, mas, mesmo assim, tentando manter a calma. — Sim, eu quero. Não sei... é só que nunca soube como dizer isso, . Eu... Eu não quero que as coisas entre a gente mudem, mas ao mesmo tempo... eu não consigo mais ignorar o que estou sentindo.
o observava com um olhar intenso, seu coração acelerando com as palavras dele. Ela estava tão confusa quanto ele, mas também sabia que não havia mais como voltar atrás. Ela sentia uma estranha curiosidade, uma vontade inexplicável de saber o que aquele beijo significaria. De saber o que eles seriam, se fosse real, se fosse verdadeiro.
, se a gente fizer isso, e se as coisas ficarem diferentes? E se... — não conseguiu terminar a frase. Ela queria dizer algo mais, algo que fizesse sentido, mas as palavras fugiam dela, porque a verdade era que, no fundo, ela queria isso. Queria muito mais do que qualquer coisa.
, percebendo o conflito dela, se aproximou lentamente, um passo de cada vez, até que estavam a poucos centímetros de distância. O ar entre eles estava pesado com as emoções não ditas. Ele não podia mais esperar.
— Eu não sei o que vai acontecer, . Mas eu sei que, com você, nunca me sentiria inseguro, nunca teria medo. — Ele sussurrou, olhando fundo nos olhos dela, como se tentasse transmitir toda a sinceridade de seu coração.
olhou para ele, o peito apertado, e por um momento, ela não pensou mais em nada. Só sentiu. Sentiu o calor dele, o cheiro familiar, o toque suave de sua presença. Quando ela sentiu que não podia mais adiar, ela deu o último passo em direção a ele.
Sem mais palavras, seus lábios se encontraram. No início, foi suave, hesitante, como se ambos estivessem descobrindo algo completamente novo, algo frágil e precioso. Aquele beijo não foi explosivo, mas carregava uma ternura silenciosa, algo que eles dois já haviam construído ao longo dos anos. Era um toque gentil, um carinho sem pressa, como se estivessem se dizendo, em silêncio, que podiam confiar um no outro, não importa o que acontecesse.
Quando os lábios se separaram, ambos ficaram ali, um pouco atônitos, o mundo ao redor sumindo por um momento. O silêncio tomou conta do espaço entre eles, mas agora, era um silêncio confortável, recheado de algo novo, algo que eles não precisavam mais entender de imediato. Era apenas o começo de algo que, de alguma forma, já havia sido escrito nas estrelas.
olhou para , o olhar um pouco perdido, mas também aliviado, como se finalmente tivesse feito algo que deveria ter feito muito tempo atrás.
— Então... foi assim? — Ele perguntou, com um sorriso tímido, ainda sem saber o que pensar, mas feliz por ter dado esse passo.
não conseguiu deixar de sorrir, sentindo-se mais confusa do que nunca, mas também sentindo uma conexão com ele que nunca tinha sentido antes.
— Eu... eu não sei o que isso significa, , mas eu acho que... — Ela hesitou, mas então olhou para ele com um sorriso genuíno. — Eu acho que significa que a gente acabou de mudar tudo.

❣️❣️❣️
Seven Hills, Sydney - Austrália. Ano: 2019

Depois daquele primeiro beijo, tudo mudou. O que antes era uma amizade profunda e sólida, agora se transformava em algo mais. e não precisaram de muitas palavras para entender o que estavam sentindo. O sentimento estava ali, crescendo silenciosamente dentro deles, até que, finalmente, se tornaram um casal.
Nos meses seguintes, eles descobriram que o amor entre eles não era algo novo, mas algo que sempre esteve ali, esperando para ser reconhecido. O que antes era amizade, confiança mútua e companheirismo, agora se entrelaçava com a paixão e a ternura que ambos estavam descobrindo. Eles passavam ainda mais tempo juntos, compartilhando sonhos, medos e planos para o futuro.
O pedido de namoro de foi simples, mas significativo. Em uma tarde de primavera, após a última prova do ensino médio, ele a levou até o jardim da escola, onde tudo havia começado. Sem palavras pomposas, apenas com um olhar sincero, ele segurou sua mão e disse:
— Não importa o que o futuro nos reserve, eu quero que a gente esteja nele, juntos.
sorriu e, sem hesitar, respondeu:
— Eu também.
Não houve necessidade de mais nada, o pedido estava feito, e o coração deles sabia o que aquilo significava.
Os pais de ambos, que sempre foram próximos e melhores amigos, estavam radiantes. Eles sempre souberam que e tinham algo especial, e agora viam esse laço de amizade se transformar em algo ainda mais bonito. Eles celebraram com jantares em família, viagens e muitas risadas. Era claro para todos que, mais do que nunca, os dois haviam sido feitos um para o outro.
A formatura do ensino médio foi marcada por muita emoção. e estavam radiantes, de mãos dadas, com sorrisos que não conseguiam esconder. Era o fim de uma fase importante de suas vidas, mas o começo de algo ainda maior. Eles estavam prontos para enfrentar o que o futuro lhes reservasse, com confiança no amor que haviam cultivado e nas escolhas que fariam juntos.
Eles sabiam que a faculdade estava chegando e com ela, novos desafios e novas experiências, mas o que realmente importava era que estavam prontos para caminhar lado a lado, prontos para a vida e para o que viria, sempre como melhores amigos e agora, como namorados.
O futuro não era mais um mistério. Eles já tinham tudo o que precisavam: um ao outro. E assim, ao lado de suas famílias e amigos, eles partiram para o futuro, não com medo, mas com a certeza de que tudo o que haviam vivido até aquele momento os havia preparado para os próximos passos que dariam, juntos.
Pelo menos era o que achavam ali, naquele momento, depois de jogarem seus chapéus após a colação.
Mas será que seria isso mesmo?
e se afastaram um pouco da multidão, procurando um lugar mais tranquilo no jardim da escola. O clima era festivo, mas havia algo ainda mais especial ali, naquele momento. Ambos se sentaram sob a grande árvore que sempre foi parte do cenário das suas conversas, das risadas e dos planos para o futuro. A árvore onde, um ano antes, eles haviam marcado suas iniciais na casca, como um símbolo de sua amizade eterna.
O sol da tarde filtrava-se pelas folhas, criando uma luz suave que parecia abraçar os dois. Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas apreciando a paz que havia entre eles.
— Eu não posso acreditar que a gente conseguiu... — disse, sorrindo enquanto olhava para o tronco da árvore, as iniciais deles ainda visíveis. — Parece que foi ontem que a gente estava sonhando com esse dia, e agora ele chegou.
sorriu, olhando para ela com tanto carinho que parecia que o tempo havia parado. Ele estendeu a mão e tocou a ponta de seu cabelo, acariciando suavemente.
— Nós sempre conseguimos, . Sempre conseguimos tudo juntos. E eu... — Ele hesitou por um segundo, antes de completar, com a voz suave e cheia de sinceridade. — E eu prometo que vou estar aqui, do seu lado, não importa o que aconteça.
sorriu, o coração aquecido pelas palavras dele. Ela se aproximou e segurou sua mão, entrelaçando os dedos com firmeza, como se quisesse que aquele momento fosse eternizado.
— Eu também prometo, . Eu não sei o que o futuro vai trazer, mas o que eu sei é que eu quero viver isso tudo com você. Seja qual for o caminho, seja qual for o desafio, eu quero estar com você. Sempre.
Eles ficaram ali, por alguns minutos, em um silêncio confortável, sentindo-se mais seguros do que nunca. A leve brisa tocava seus rostos, e o som das risadas distantes dos colegas parecia um eco distante, enquanto eles estavam concentrados um no outro.
Quando se afastaram da árvore, suas mãos ainda entrelaçadas, os pais de ambos se aproximaram, sorrindo e com as câmeras em mãos. e posaram para as fotos, um sorriso sincero estampado nos rostos, agora com um novo significado. Era o fim de uma etapa, mas, ao mesmo tempo, o início de uma nova jornada.
Aquele dia, a formatura, o beijo sob a árvore, tudo aquilo ficaria guardado para sempre nas memórias deles.
a abraçou de lado, sentindo o calor de seu corpo próximo ao seu, e sussurrou:
— Só você e eu, sempre.
se aninhou contra ele, sorrindo e respondendo baixinho:
— Sempre, . Para sempre.
E, assim, com o apoio dos pais e a felicidade no coração, eles começaram a entender que, embora o futuro fosse imprevisível, o mais importante era o que estavam vivendo naquele momento: juntos.
Quando a última foto foi tirada, um som de risadas se espalhou pelo ar, e o som das promessas feitas ecoava no coração de ambos.
Porque, naqueles segundos, eles já sabiam: não importava o que viesse, o amor deles nunca seria um mistério.
Não é?


Melbourne, Austrália – 2020

As últimas caixas foram empilhadas ao lado da porta, e o apartamento recém-alugado finalmente começava a se parecer com um lar. deu uma volta pelo espaço, segurando uma xícara de café com as duas mãos, os olhos brilhando de empolgação.
— Eu ainda não acredito que conseguimos! — ela exclamou, girando sobre os próprios pés na sala vazia, a voz ecoando levemente pelas paredes ainda nuas.
, agachado no chão, fechava com fita adesiva a última caixa que trazia escrito à mão coisas frágeis. Ele ergueu os olhos para ela e sorriu daquele jeito fácil, leve, que sempre parecia dizer que tudo daria certo.
— Eu falei que a gente ia conseguir. Agora oficialmente somos adultos, dividindo um apê em Melbourne! — disse, levantando-se e erguendo a mão para um "high five" no ar.
bateu a mão na dele com força exagerada, e os dois riram.
Melbourne era tudo o que eles haviam sonhado: uma cidade grande, moderna, cheia de cafés charmosos, parques verdejantes e, acima de tudo, algumas das melhores universidades da Austrália. Para , seria o início da sua jornada para se tornar cirurgião na University of Melbourne. Para , a Monash University seria o cenário perfeito para sua graduação em Direito. Era a primeira vez que saíam oficialmente de Seven Hills, e a ideia de conquistarem o próprio espaço os deixava animados de um jeito quase infantil.
— Mal posso esperar pra gente montar os móveis amanhã — disse, passando o braço pelos ombros dela de maneira automática. — Eu tenho certeza de que vou ganhar de você montando aquela estante.
— Nos seus sonhos, retrucou, inclinando-se contra ele com um sorriso provocador. — Quem aqui passou horas assistindo tutorial de montagem de móveis no YouTube fui eu, não você.
gargalhou, puxando-a para mais perto em um abraço apertado, daqueles que só eles sabiam dar. Um abraço que dizia "estamos juntos nessa", sem que nenhuma palavra precisasse ser dita.
Eles se soltaram devagar, sorrindo um para o outro, cientes de que aquela era uma nova fase — a primeira grande aventura longe das famílias, longe do bairro onde tudo havia começado.
O futuro parecia tão cheio de promessas que era impossível não se sentir eufórico. Tudo estava prestes a mudar, mas de alguma maneira, ali, entre caixas e sonhos, e tinham certeza de que estavam exatamente onde deveriam estar: lado a lado.

❣️❣️❣️

O sol da manhã seguinte invadia o apartamento ainda vazio, tingindo o chão de um dourado suave. , com o cabelo preso de qualquer jeito em um coque torto, ajeitava as peças da futura estante no chão da sala enquanto lia atentamente o manual de instruções.
— Certo, primeiro passo: separar as peças pequenas — ela anunciou, com uma caneta presa atrás da orelha, como se fosse uma engenheira de móveis altamente qualificada.
, sentado de pernas cruzadas no meio das caixas abertas, segurava duas tábuas e franzia o cenho.
— Isso aqui tá parecendo mais uma prova de lógica do que montagem de estante. Quem desenha esses manuais? Gênios do mal? — reclamou, arrancando uma risada alta de .
Ela se arrastou até ele, ainda rindo, e tomou uma das peças de sua mão.
— Você está segurando o lado errado, gênio. — apontou, batendo de leve na tábua. — Isso aqui é a base, não a lateral.
olhou para a peça, depois para ela, e sorriu de canto, sem nem tentar esconder a diversão nos olhos.
— Bom, é pra isso que eu trouxe você comigo pra Melbourne. Precisava de alguém pra me salvar dos manuais assassinos.
revirou os olhos, mas o sorriso teimoso não saía de seu rosto.
Passaram a manhã entre peças, martelos, parafusos e muito mais risadas do que produtividade real. A cada cinco minutos, um deles errava alguma coisa, desmontava o que já estava pronto ou simplesmente parava para brincar — como quando colocou uma caixa de papelão na cabeça e saiu andando pela sala, imitando um robô atrapalhado.
— Atenção, senhorita , sua estante está sob ataque! — ele dizia, em um tom robótico desengonçado, enquanto trombava de propósito em tudo que via pela frente.
caiu na gargalhada, largando a prancheta improvisada que usava para organizar os parafusos.
— Você é insuportável! — gritou entre risos, jogando uma almofada nele.
— E você me ama mesmo assim — ele respondeu, tirando a caixa da cabeça e lançando um sorriso travesso na direção dela.
E ela sabia que era verdade. Amava. Mesmo nas pequenas coisas, mesmo nas bagunças, mesmo quando ele errava o lado de uma prateleira.
No fim da tarde, finalmente conseguiram montar a estante — meio torta, é verdade, mas de pé. Eles se jogaram exaustos no chão da sala, lado a lado, olhando para o teto.
— Sabe, ... — começou, a voz suave, — eu sempre sonhei com essa nova fase da nossa vida, mas eu achava que ia ser assustador. Só que agora... estando aqui com você... não parece tão difícil.
virou o rosto para ele, encontrando seus olhos castanhos brilhando com uma sinceridade tranquila.
— Eu também achava que ia ser assustador — ela admitiu. — Mas com você... parece que tudo fica mais fácil.
Eles ficaram ali, dividindo aquele momento de silêncio confortável, onde o mundo parecia exatamente como deveria ser.
O apartamento ainda precisava de móveis, organização e mil outros detalhes. Mas o que importava já estava ali: eles, juntos, começando mais um capítulo da história que vinham escrevendo lado a lado há tanto tempo.

❣️❣️❣️

A noite caiu sobre Melbourne, espalhando um brilho dourado pelas janelas do novo apartamento. As luzes da cidade piscavam lá fora, enquanto dentro, o clima era de conquista — mesmo que tudo ainda estivesse espalhado pelo chão.
Sem móveis, sem pratos decentes, e com a geladeira praticamente vazia, e decidiram que a primeira refeição oficial no novo lar seria especial... do jeito deles.
— Eu declarei oficialmente que hoje é noite da pizza improvisada — anunciou, jogando uma toalha de mesa estendida no chão da sala, criando um "piquenique" em pleno apartamento vazio.
riu enquanto abria a caixa da pizza que haviam pedido, o cheiro de queijo e molho invadindo o ambiente.
— Eu aceito — ela disse, se sentando no chão com as pernas cruzadas. — Desde que você prometa que a gente vai comprar pratos de verdade amanhã.
— Promessa solene. — ergueu três dedos como num juramento, arrancando outra risada dela.
Sentaram-se ali, comendo direto da caixa, os rostos iluminados apenas pela luz fraca de um abajur improvisado.
Entre uma mordida e outra, a conversa deslizou naturalmente para o que os esperava.
— Você acha que vai ser difícil? — perguntou, apoiando o queixo nas mãos, olhando para ele com curiosidade. — A faculdade, a vida de verdade, longe de tudo que a gente conhece...
mastigou devagar antes de responder, pensativo.
— Claro que vai ser difícil. Mas... — ele sorriu, aquele sorriso lento e tranquilo que ela tanto conhecia. — Eu acho que as coisas boas geralmente são. Se fosse fácil, não teria graça.
mordeu o lábio, pensativa.
— Eu tô assustada. Mais do que achei que estaria.
Ele se aproximou, encostando o ombro no dela, como sempre fazia quando queria passar conforto sem dizer nada.
— A gente vai se assustar muito ainda, . Mas a gente vai se encontrar no meio do medo. Igual agora.
Ela fechou os olhos por um instante, absorvendo aquelas palavras. Era isso que fazia — ele tornava tudo mais suportável.
— Você promete que, mesmo que tudo mude... a gente não vai mudar? — ela perguntou, a voz quase um sussurro, como se temesse quebrar a magia da noite.
virou o rosto para ela, sério pela primeira vez em horas.
— Eu prometo — ele disse, firme, como quem fazia um voto eterno. — Você e eu, . Sempre.
Ela sorriu, sentindo o coração bater um pouco mais forte, do jeito que só conseguia fazer.
— Sempre — repetiu, encostando a testa na dele por um breve segundo.
O momento foi quebrado pelo som do celular vibrando — o entregador de supermercado avisando que os primeiros mantimentos haviam chegado.
— Hora de sermos adultos de verdade — brincou, levantando-se e estendendo a mão para ela.
pegou a mão dele, se levantando com um impulso, e ambos riram, como se o mundo inteiro estivesse ao alcance deles.
E, de certa forma, estava.
Porque naquela noite, no meio das caixas, da pizza e das promessas sussurradas no escuro, eles sabiam que, apesar de todo o desconhecido, haviam começado a construir algo sólido. Algo que não se mediria em móveis novos, diplomas ou conquistas futuras.
Algo que sempre, de alguma forma, começaria e terminaria entre eles.

❣️❣️❣️

O sol da manhã seguinte atravessava as janelas do apartamento ainda meio vazio, anunciando o início de mais um dia cheio de caixas para desfazer e móveis para montar.
acordou primeiro, espreguiçando-se no colchão improvisado no chão da sala — o único "móvel" em funcionamento até o momento. Ela olhou para o lado e sorriu ao ver ainda dormindo, o rosto parcialmente coberto pela manta fina, a expressão relaxada como a de uma criança.
Não querendo acordá-lo, ela se levantou silenciosamente e foi até a pequena cozinha improvisada, tentando organizar o que podiam chamar de café da manhã: torradas, suco e algumas frutas.
Pouco tempo depois, apareceu, o cabelo bagunçado e os olhos semicerrados, usando uma camiseta amarrotada.
— Isso é cheiro de torrada ou de queimado? — ele perguntou com a voz rouca de sono, fazendo rir.
— Depende da sua perspectiva — ela respondeu, servindo um copo de suco para ele. — Digamos que é... torrada com personalidade.
aceitou o copo com um sorriso preguiçoso e se sentou em uma das caixas abertas, como se fosse a cadeira mais confortável do mundo.
— Sabe o que a gente deveria fazer depois de comer? — ele perguntou, mordendo uma fatia de torrada. — Arrumar nossos quartos. Oficialmente. Hoje é o último dia de liberdade antes da faculdade. Amanhã começa a tortura.
revirou os olhos, mas o sorriso não saía do rosto. A sensação de estar construindo algo novo — mesmo que fosse só um quarto desarrumado em um apartamento quase vazio — fazia seu peito se encher de empolgação.
— Eu pensei que você estivesse animado para virar cirurgião. — ela provocou, cruzando os braços.
— Eu tô animado. Tô animado pra terminar a faculdade. Não pra começar — ele rebateu, piscando para ela.
O dia foi preenchido por música alta tocando no celular de , caixas abertas espalhadas pelo corredor e muita discussão sobre decoração. queria pôsteres de bandas de rock nas paredes; queria quadros minimalistas. No final, fizeram um acordo típico deles: metade do apartamento refletiria o caos organizado de e a outra metade, a elegância discreta de .
Cada escolha, cada riso, cada pequena disputa, parecia cimentar ainda mais aquela sensação de pertencimento entre eles. Era o primeiro lar deles — e era perfeitamente imperfeito.
Já no fim da tarde, os quartos estavam montados do jeito que dava para aquela primeira semana, e eles se jogaram no sofá novo — finalmente entregue naquele dia —, exaustos, mas felizes.
olhou para o teto, respirando fundo.
— Amanhã é o começo de tudo, né? Faculdade, novos amigos, novas responsabilidades... — ela disse, a voz baixa, como se ainda estivesse se convencendo disso.
virou o rosto para ela, o olhar cheio daquela firmeza tranquila que tanto a acalmava.
— A gente vai descobrir como fazer isso dar certo. Do nosso jeito.
sorriu, sentindo o nervosismo no estômago ser, pelo menos por um instante, substituído pela certeza de que ela não estaria sozinha nessa jornada.
E naquele sofá novo, em meio ao cheiro de móveis recém-montados e caixas ainda espalhadas, e adormeceram lado a lado, prontos para enfrentar o que o futuro lhes reservasse.
Juntos.

❣️❣️❣️

O despertador tocou cedo naquela manhã, ecoando alto no silêncio do apartamento. foi o primeiro a se levantar, ainda meio zonzo, arrastando os pés pela sala até a cozinha. apareceu logo depois, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo apressado, vestindo jeans e uma blusa simples.
— Pronta para mudar o mundo? — brincou, servindo duas canecas de café preto.
— Pronta para não me perder no campus, já é um bom começo — respondeu, pegando a caneca com um sorriso nervoso.
Era o primeiro dia deles como universitários. ingressaria no curso de Direito na Monash University, enquanto iniciaria Medicina na University of Melbourne. Mesmo estando em instituições diferentes, suas rotinas ainda estariam entrelaçadas — moravam juntos, dividiam a vida, as alegrias e, agora, os medos também.
— A gente vai se ver depois da aula, né? — ela perguntou enquanto calçava os tênis.
— Claro. Vou buscar você na saída — prometeu, passando o braço pelos ombros dela de maneira protetora. — Sem chance de você se perder por aí sem mim.
sorriu, sentindo o coração aquecer com aquele gesto tão típico dele. Era impressionante como, mesmo em meio às mudanças, algumas coisas continuavam as mesmas.
No caminho para a universidade, o metrô estava lotado de jovens igualmente nervosos, mochilas nas costas, olhares atentos e expectativas nas mãos.
segurava firme na alça da mochila, o estômago revirando de ansiedade. , ao seu lado, mantinha uma expressão despreocupada, mas ela sabia que ele também estava nervoso. Só que sempre foi bom em disfarçar — ou em tornar as coisas mais leves, para si mesmo e para ela.
Ao chegarem à estação onde teriam que se separar, eles pararam diante da escadaria que levava para a Monash.
— Vai dar tudo certo, disse, segurando suas mãos por um instante. — Você nasceu pra isso.
Ela sorriu, tentando absorver aquela confiança emprestada dele.
— E você nasceu pra cuidar de gente. Vai ser o melhor médico que esse país já viu. — Ela apertou suas mãos de volta, os olhos brilhando com orgulho.
inclinou-se e, sem pensar muito, deu um beijo rápido na testa dela, como um gesto automático — mas que deixou imóvel por um segundo a mais do que o normal.
— Me manda mensagem quando terminar, tá? — ele pediu, já recuando em direção à própria saída.
— Pode deixar, — ela respondeu, com a voz embargada de emoção.
Enquanto cada um seguia seu caminho, havia uma sensação nova ali — uma pontinha de distância que nunca haviam sentido antes. Não era ruim, mas era diferente.

❣️❣️❣️

Horas depois…
O campus era gigantesco. lutava para se localizar entre tantos corredores e prédios parecidos. Ela já havia conhecido algumas colegas novas — garotas animadas e extrovertidas que pareciam se enturmar com facilidade —, mas tudo parecia barulhento, intenso demais.
No intervalo entre uma aula e outra, ela se sentou em um banco perto do jardim principal, mandando uma mensagem para :
“Sobrevivi ao primeiro turno. Você também?”
A resposta veio quase instantaneamente:
“Sobrevivi. Com saudades de você brigando comigo pra eu prestar atenção nas coisas.”
sorriu sozinha, o peito aquecendo com a simplicidade daquela mensagem. Como era possível sentir falta dele depois de apenas algumas horas?

❣️❣️❣️

Mais tarde, na saída…
a esperava do lado de fora, encostado em uma árvore, com a mochila jogada no chão e um sorriso preguiçoso no rosto. Ao vê-la, ele abriu os braços, exagerando no drama.
— Achei que você ia me abandonar para sempre na cidade grande! — gritou, atraindo olhares curiosos.
soltou uma risada, correndo até ele e batendo em seu ombro.
— Drama queen! — ela brincou, mas a verdade é que vê-lo ali, esperando por ela, a fez sentir como se tudo estivesse exatamente no lugar certo.
Sem pensar, jogou o braço sobre os ombros dela enquanto caminhavam de volta para o metrô, como tantas vezes fizeram antes. Só que agora, havia algo diferente. Um peso bom. Uma certeza silenciosa de que, mesmo com todo o novo ao redor, eles continuariam sendo eles — talvez até algo ainda mais forte.
A cidade era enorme, as possibilidades eram infinitas, o futuro era incerto. Mas naquela tarde de verão, atravessando as ruas movimentadas de Melbourne, e sabiam de uma coisa: juntos, eles podiam enfrentar qualquer coisa.
Juntos, sempre.


Continua...


Nota da autora: Olá, chuchus! Sei que a história não tá contando ainda o que a sinopse propõe, não é? Mas eu optei por começarmos com um overview da vida deles na infância, como eles se tornaram um casal, e claro, a vida deles como casal, antes da relação se desgastar e tudo mais, espero que estejam gostando mesmo assim! Beijos da titia :*


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